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1 ! • ESTUDO DA NATUREZA DO TRABALHO
DO PROFESSOR: PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS
Mestrando : Carlos Roberto Alexandre Orientador: Gaudêncio Frigotto
-1-
ESTUDO DA NATUREZA DO TRABALHO. DO PROFESSOR: PRESSUPOSTOS
METODOLÓGICOS
Carlos Roberto Alexandre
Orientador: Gaudêncio Frigotto
Rio de Janeiro Fundação Getúlio Vargas
Dissertação submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de mestre em EDUCAÇÃO.
Instituto de Estudos Avançados em Educação - 1993-
-11-
..
"Uma parte de mim é todo mundo outra parte de mim é ninguém fundo sem fundo
( ... ) uma parte de mim é só vertigem outra parte linguagem traduzir uma parte noutra parte
( ... ) será arte? será arte?
-ID-
BIBLIOTECA fUNDAÇÃO GETOUO VARGAI
FagnerlFerreira Goulart
..
"
AGRADECIMENTOS
A Gaudêncio Frigotto, mestre-irmão, que me orientou para o término deste trabalho com sabedoria, demonstrando uma imensa sensibilidade com o que é hmnano .
A Marilena, que foi capaz de me impulsionar em momentos importantes: a elaboração final desta dissertação traz a marca de sua presença.
-IV-
RESUME
Cette dissertation analyse et présente des catégories qui rendent possible la
eompréhension du procédé de travail développé à I'école par le professeur.
D'abord, elle définit les bases dont on peut classer les fondements théoriques de ce travail
connne marxistes; ensuite elle établit une polémique avec des auteurs qui utilisent indúment des
définitions données par Marx à quelques catégories, pour aboutir à la comprébension du theme
en questiono
Aprés I'exclusion de ces catégories, elle circonscrit le travatl du professeur à I'ensemble
des travaux sociaux utiles, c'est-à-dire, à la division social e du travail. En outre elle constate que
sous I'optique du procédé de travail, I'activité productrice du professeur, selon les conditions
actuel1es, eut sa genene en ville comme une corporation professionnelle de plus.
- VI-
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO ............................................ 01
2. ÂMBITO DO TRABALHO DO PROFESSOR .................... 14
O TRABALHO ÚTIL DOS PROFESSORES ...................... 23
3. DESMONTANDO ARMADILHAS ............. ~ ....•..• ~ ..• ~ ~ .27
4. PEÇAS AUXILIARES DE UM MOSAICO mSTÓRICO ............ 49
S. (In)CONCLUSÃO .......................................... 63
6. BffiLIOGRAFIA ........................................... 6S
-Vll-
A ruptura com o entender-se o educativo apenai no Umlte da Institulçio e situA-lo
nas mais diversas prAticas, movimentos e lutas sociais ~, pois, expressio de uma mudanp,
qualitativa que brota nas pr6prlas relações sodals.
Vale dizer, tamb~m, que a redefiniçio da relaçio entre Estado e
socledade(verlficada atravá dos novos movimentos sociais, de um sindicalismo de um
novo tipo, de partidos com novas configurações. •• )i componente Importante para aqueles
que têm como preocupaçlo o que esü acontecendo com a edncaçlo no Brasil.
Na teoria edncaclonal parte tomou como roteiro apreender no tecido das relações
sociais as múltiplas determinações que constituem o educativo.
Surge um contexto em que o debate educacional produz uma gama de pensamentos
que foi capaz de superar as concepções tecnlclstas, positivistas, IdeaHstas, reprodutivistas
da educaçio e da prática pedag6g1ca.
Neste caminhar vai se constituindo uma espkIe de acerto de contas que permanece
em curso e alguns temas vio ganhando relevlncla.
Uma das expressões do processo de compleDflcaçlo da sociedade brasUelra ~ a
pr6prla redefinlçio do trabalho dos educadores e de sua articulaçlo com as lutas e
Interesses em Jogo na sociedade em geral e com os demais trabalhadores assalariados em
especIaL
Podemos encontrar uma tentativa de sfntese desta redefinlçio, que esü em
andamento, no titulo dado a um editorial elaborado por Franco e Frigotto(1993):
"Professor: de profissional da burguesia a trabalhador da educaçio. "
Tentando traduzir este titulo, os seus autores, valendo-se de uma anáUse de
Florestan Femandes(1992), assim se expressam:
-2-
"É, efetivamente, no bojo das lutai pela
democratizaçio da sociedade brasUelra, a partir dOI
anos 70, que nio 56 se faz um acerto de contas com as
teorias educacionais, como se expUcita nitidamente a
vinculaçio das lutas pela democratizaçio da educaçio
e pela organizaçio dos professores com as lutas dOI
trabalhadores. O que pode ser caracterizado como um
movimento catArtico, complexo e difieU de
transformaçio da consciência de sua identidade no
exercicio do magistério.
Sua traJet6ria, ( ••• ) de funcionArio da burguesia a
trabalhador da educaçio, reBete a mudança orglnica
desses profissionais pari passu com o movimento de
sua slndicalizaçio e organizaçio poHtica."
O encaminhamento de análise, assim apresentado, direciona para a necessidade do
entendimento da constituiçio do grupo social professor, DO pr6prio movimento de
constitulçio das classes fundamentais e das moclificaç3es ocorridas nas relaç3es entre eles
no decorrer da hist6ria.
Além disto, tomando por referência a mesma análise feita por Fernandes, somos
Instigados a estudar, além do surgimeDto e deseDvolvimento da categoria destes
profissionais da educaçio(os professores), o seu auto reconhecimento como trabalhadores
e as consequ@ncias deste fato, pois como ele afirma:
-3-
( ... ) a representaçio sodal, o valor do professor caiu. O
professor sofreu um desnlvelamento social Ele perdeu
em prestigio, ( ••. ) em dignidade, ( .•• ) tomou-se um
trabalbador intelectual Foi. relativamente duro para
os professores amadurecerem a consd@nda do que
estava acontecendo (e vem sendo).
( ••• ) em 1945 o professor nio ganbava salário, ganhava
proventos. (idem:5)
Este esforço, por divenos camlnbos, vem sendo empreendido. Parece-me, no
entanto, que as tentativas para compreender a especifidade do trabalho do professor fica
mais no imbito da pseudo-concretiddade que do concreto(2).
No presente trabalbo, deHmltado por vúios constrangimentos - tempo, condiç6es
profissionais de seu autor, produzido sob efeito de uma Hmlnar contra atos autoritúiol
FGVe os próprios Hmites em que o debate estj se processando - nio pretendo dar conta do
amplo imbito desta problemAtica. Busco apenas oferecer algumas Indicaç6es
metodológicas dentro dos quais possamos apreender a "natureza" espedfica do trabalho
do professor.
O meu mergulho neste embate teórico nio se ti por acaso: h' todo um vivenciar
entrelaçado de alegrias, sofrimentos, conquistas, frustrações que me conduzem a este
estudo. O que aqui esboço nio ê um simples desejo eItrafdo do vazio.
Eu, enquanto ser bistórico carregado de desejos e exig@ncias pessoais, e este
trabalbo, enquanto necessidade que se impõe a este ser, viemos nos constituindo como
partes organicamente vinculadas, elementos de uma mesma tessitura.
Na busca de uma sfntese , na qual reconheço a provisloriedade, do conhecimento de
como se forma a realidade humano-social que me permitisse uma nova inserçãC)
prático-educativa, a relação entre educação e trabalho pôs-se no Imago da questio.
O entendimento da realidade do trabalho é predicado para a compreendo de toda
organização do educativo, inclusive do escolar.
E por que Isto?
Todas as vezes que nos referimos à educaçio, estamos falando a respeito do homem:
analisar qualquer fenômeno social é verificar a realidade em que se insere e Isto, em última
instinda, é ter como fundamento os seus atores sociais: homens produzindo em
determinadas relações sodais e materiais.
Para que esta questio nio perca susbstlnda, nio se esvazie de um significado mais
profundo, devemos nos colocar, anteriormente, uma outra questio: o que é o homem? ou
melhor, como o homem se produz sócio-individualmente?
Para além disso, como afirma Kosik (1976:178-9):
"A IDosofia nio oferece uma anjJise dos processos de
trabalho na sua totalidade e desenvolvimento
histórico: trata de um único problema: o que é o
trabalho? ( ••• )
A problemática da 'IDosofia do trabalho' manifesta-se
como um corolário que acompanha a indagaçio: que é
o homem?"
Podemos distinguir o trabalho de duas formas: mosofteamente, enquanto criador
da realidade humano-soclal; economicamente, como produtor da riqueza de uma formA;
espedftca, sócio-hlstórlca. Fixemo-nos na primeira.
O pressuposto de toda a existência humana ê que o homem precisa estar "vivo"
culturalmente para poder fazer a sua história e para tanto ele precisa atender ts 8UU
necessidades, que num primeiro momento do materiais. Satisfeitas as necessidades
iniciais, novas necessidades (materiais, imateriais, objetivas, subjetivas) do criadas,
portanto os homens têm que estar em continuo processo de produçlo a fim de satisfazer a.
suas exigências que do históricas e culturais.
Em sfDtese, o homem vai se constituindo como tal na medida em que precisa
produzir, continuamente, a sua existência. Essencialmente, portanto, o homem ê um ser
pr'tico-produtor e a realidade bumana se revela atravá do processo de (re)produçlo do
homem.
A autocriaçlo humana ocorre quando se cU o transcurso de transformaçlo da
realidade objetiva por um ser operaote consciente e racional E a açlo produtora principal
ê o trabalho.
Trabalhar nlo ê outra coisa senlo agir sobre a natureza e transform'-Ia a fim de
alcançar objetivos fixados anteriormente. Portanto, atravá do trabalho o homem vai
produzindo as condições de sua existência humana, vai criando a cultura, o mundo
bumano.
Promove assim a
"dessacralizaçlo da natureza e o descobrimento da
natureza como conglomerado de forças mednicas, como
-7-
objeto de exploração e domfnio, acompanha 'pari passu' a
dessacrallzação do homem, no qual se descobre um ser que
é possível modelar e formar ( •.. ). "(Kosik, idem: 200).
o homem elabora, entlo, um processo de trabalho especffico cuja matéria prima é o
pr6prio homem, cria um lugar cuja organização tem por objetivo educar homens.
Recentemente, vem crescendo em nossa literatura a quantidade de tenos que
representam tentativas de explicar esse processo de trabalho e a especlfiddade do trabalho
destes seres: os professores.
Percebo, contudo, que, no mfnimo, estas buscas vêm tomando descaminhos que
impedem um tratamento adequado ao tema. Algumal publicações, como por exemplo, a
revista Contexto" Educaçio (31), embora tenha um titulo que insinue uma anAlise
hist6rica do processo de trabalho escolar desenvolvido pelol professores, somente
apresenta uma tênue exposlçlo sobre a sltuaçio no Brasil em seu editorial ( citado por n61
anteriormente); OI demais artigos nem sequer a tangenclam.
Uma outra publicaçio que se propõe a tratar do mesmo assunto é a Revista Teoria
" Educação (4); nesta podemos perceber que h' uma preoeupaçlo em se ater 1
problem'tic:a que se propõe a analisar sob o titulo: "DOSSJt: INTERPRETANDO O
TRABALHO DOCENTE".
Logo no primeiro artigo Hyp6lito (1991) procura mostrar algumas vial por onde o
debate sobre o trabalho do professor vem circulando.
-8-
Após apresentar um "quadro negro" da atual situaçio (será tio atual assim?) do
ensino no BrasU mostra-nos alguns lugares onde vem se dando o embate teórico e que
categorias nele vêm se destacando.
De inicio, destaca as anAlises que utilizam o par de categorias trabalho produtivo -
trabalho improdutivo para analisar o processo de trabalho do professor. O autor conclui
que para a escola privada este debate "nlo parece conduzir a lugares frutíferos, mas que,
nlo obstante, para a escola privada há necessidade de aprofundá-lo".
Reportando-se a um texto de Savianl (1984) apresentado durante um debate
organizado pela APROPUC-SP, traz 1 tona a discusslo da natureza do "trabalho
pedagógico" a partir dos conceitos marxistas de trabalho material e trabalho
nlo-material", procurando averiguar, em última Instincla se há ou nlo "uma
especlficidade de educaçio que nio permite a penetraçio das relaçies capitaUstas no
interior da escola". Recorrendo aos escritos do próprio Savianl (1984), o que se apreende ,
que ele tenta explicar quais do os danos causados pela Introduçio "1 força"e
Inadequadamente da Pectuom tecnicista nas escolas brasUelras, sendo que o que ocasiona
esse erro , a tentativa de entender a natureza do trabalho do professor a partir do
confronto entre as categorias trabalho produtivo e trabalho improdutivo.
"Portanto, a polarizaçlo entre trabalho produtivo e
trabalho improdutivo' Inadequada para compreendo
da natureza do trabalho em educaçlo. Parece-me que a
eontraposiçio correta seria entre trabalho material e
trabalho nio material. No caso desta distlnçlo o que se
pode constatar ê que a produçio nio material nio está
-9-
diretamente vinculada ao modo de pnclaçio
capitalista" (p 80).
Esta substitulçio de categorias i tomada por Hypólito (1991) e levada para fazer
um paralelo entre o processo de trabalho na fAbrica e o processo de trabalho escolar,
fazendo com que ele conclua que:
"O processo de trabalho fabril se apresenta nDlD gran
muItO maior de domlDaçio e a aúlise do procaso de
trabalho escolar do pode ser feita com emprego
absoluto das mesmu categorias. É predso eBcontrar a
particularidade, e nio a espedfiddade, do
desenvolvimento do processo de trabalho na escola".
(p.IO-ll)
Outras categorias que poderiam parecer como positivas 810 apresentadas por este
autor, porém a elas nio me ative por nio serem Inerentes aos estudos feitos por mim nesta
tese de mestrado, que na sua singeleza nlo tem a Impossível pretensio de esgotar o assunto.
Um outro autor que se propõe ao estudo da natureza peculiar do trabalho é SUva
Júnior (1990). Este parte do princípio de que é InvlAvel falar-se em escola em geral, pois
escola pública e escola partkular do Instituições que devem ser caracterizadas como
dlsdntas a fim de nio se Incorrer em erros de anJUises:
" ••• atou Convencido da inviabilidade das generosas
tentativas que educadores brasUeirol vem
desenvolvendo em aDOS recentes no sentido de constituir
uma teoria 'da escola' ou mais limitadamente, de
-lO-
definir critérios espedficos para a orgaJÚZapo do
trabalho 'na escola'. Tais tentativas, em sua
generalidade, esbarram em uma dificuldade de origem:
a nlo distinçlo escola púbHca e escola privada; a nlo
expHdtaçlo da. peculiaridades que envolvem um e
outro tipo de escola na. condições de escola na.
condições da realidade brasileira atual". (p. 13).
Partindo dai, a que outros elementos do trabalho do professor deve ser atribuída
especial atençlo? SOva Júnior nos responde: 1 "jornada de trabalho" e ao "local de
trabalho"
Esta sua fê ê decorrente do seguinte fato:
"O que o cotidiano de nossas escolas púbHcas nos
apresenta ê a sua desfiguraçlo como local de trabalho,
uma vez que seus trabalhadores freqfientemente
distribuem sua jornada de trabalho por diferentes
locais, reduzindo, conseqfientemente, seu tempo de
permanência diúio em cada locaL Essa disperslo dos
locais de trabalho, ( ••• ), impUca desde logo a
InviabiUzaçlo de qualquer projeto organizadonal ou
poHtico-pedag6gico. ( ••• ) Para que as pessoas 'se
organizem' ou 'sejam organizadas' ê preciso, antes de
mais nada, que elas se encontrem em seu cotidiano de
trabalho. Sem a presença fisica do trabalhador
-11-
Individual, o 'trabalhador coletivo' nlo se constitui, ma
também o projeto poUtico nio se elabora (sle)" (p. 17).
Ao trazer os exemplos acima de alguma formas de tratamento dado ao problema
do processo de trabalho do professor, creio ter explicitado que nos colocarmos no contexto
desse debate nlo é irrelevante.
Para nOI circunscrevermos no estudo da natureza do trabalho do professor,
apresentando alguns pressupostos metodológicos, essa dissertaçio se comp6e em trh
capftuloL
No primeiro Intitulado "Âmbito do Trabalho do Professor", além de afirmar de
Infcio que me baseio numa penpectiva marxista, procuro apresentar a escola como um
local organizado para que se possa desenvolver um tipo espedfico de trabalho útil que se
Insere na divisio social do trabalho.
O capftulo seguinte, como diz seu tftulo - "Desmontando Armadilhas" - é uma
tentativa de mostrar o equivoco do uso de algumas categOrial para anAlise da
especificidade do trabalho do professor.
A partir, principalmente. de um ensaio de Le Goff, no último apftulo apresento de
que maneira o surgimento e desenvolvimento de uma instituiçlo que tenha a seu cargo a
funçlo educativa (escolar) estA historicamente vinculado I divisio de trabalho na cidade,
quando o capitaUsmo JA se pronuncia superador da antiga sociedade feudal
-12-
NOTAS
(I) "Segundo Hegel, o processo do pensamento, que ele converte, inclusive sob o
nome de Idéia, em sujeito com vida pr6pria é o demiurgo do real, e o real a
simples forma fenomenal da idéia. Para mim, ao contrúio, o ideal nio é senio o
material transposto e traduzido no cérebro do homem" (Marx, sld:l6)
(2) "( ••• ) a práxis utilitária imediata e o senso comum a ela correspondente
colocam o homem em condições de orientar-se no mundo, de famUiarlzar-se
com as coisas e manejá-Ias, mas nio propordonam a compreendo das coisas e
da realidade. ( ••• ) • A pseudoconuetiddade é Justamente a existência aut8noma
dos produtos do homem e a reduçio do homem ao nível da prixil utilitária. A
destruiçio da pseudoconuetiddade é o processo de crfaçio da realidade
concreta e a visio da realidade, da sua concretiddade. (Kosik, 1976: 10-19).
(3) "Pela pr6pria concepçio de mundo pertence-se sempre a um determinado
grupo, precisamente àquele de todos os elementos sodais que compartilham o
mesmo modo de pensar e de agir. É-se sempre conformista de um
confarmismo, &-se sempre homem-massa ou homem-coletivo. A questio é esta:
de que tipo hist6r1co é o conformismo, o homem-massa de que se faz parte ?
(Gramsd, 1974:26).
-13-
ÂMBITO DO TRABALHO DO PROFESSOR
Este estudo, como indica o seu titulo, pretende trazer uma contribuiçio para o
entendimento do processo de trabalho que se Instala na escola, destacando a açio de
determinados seres humanos - os professores - que aí desenvolvem parte de suas pr4ticas
sociais. É um equivoco imaginar que eles poderio ser reduzidos ao ser-professor, embora
isto lhes seja entranhado nos seus corpos e espfritOs. Assim podemos desde j4 apresentar
uma de-lImitaçio desta nossa tentativL
Para que tal estudo seja possível h4 a necessidade de utilizaçlo de Instrumentos de
an4lise que, de uma forma ou outra, estario vinculados a uma penpeetiva metodol6giea (I)
• O método de trabalho utilizado nlo pode desvincular-se de uma penpeetiva teórica, que,
em última insdnda, representa um modo pr6prio de posicionar-se frente aos problemas
expostos pela realidade vivendada direta ou indiretamente.
. O processo de recorte e an4lise do real, para o seu conheeimento(2) , para sua
reproduçio a nível do pensamento é mediado por hip6teses anteriormente definidas. Da
Interaçlo entre estas e os novos conhecimentos produzidos surge a eonstruçio de uma
teoria como "sfntese de múltiplas determinações". O ponto de partida se entrelaça com os
elementos novos recém-construidos dando forma a um ponto de chegada que o supera.
Assim toda produçio de conhecimento traz consigo a necessidade de clarificaçlo
dos vínculos iniciais, dos instrumentos mentais a serem utilizados pelo sujeito que conhece
-14-
na Interaçlo com o objeto de conhedmento: h' de se explidtar o seu, comprometimento
teórico (3) que é em última instlncia uma proposta s6do-indlvlduaL
Impõe-se, portanto, desde jA, a declaraçlo de que as anAlises e os comentArlos aqui
apresentados procurarlo fundar-se numa penpectiva marxista.
Definir-se pelo marxismo é antecipar algumas penpectivas de interpretaçlo e
teorlzaçlo do concreto que estarlo presentes na tentativa de capturar, através do processo
de conhecimento, parte de uma realidade indom'vel; é firmar posições frente a ações
sociais (estando inclufda nestas a pr6prla forma de pensA-ias, de compreendê-Ias, de
processar seu auto-conhecimento); é crer na validade prjtica das formulações te6r1caL
A escolha de um modelo teórico, embora seja fundamental para se evitar o equivoco
de ecletismo que serve como caldo para a chamada "sopa metodol6gica", nio hj de ser
transformada numa camisa de força que Impeça o movimento do ato de conhecer.
O pr6prlo marxismo traz em si a negaçlo de qualquer tentativa de enrijecimento,
de Imobilizaçlo das categorlaL
Rj que se observar que ao afirmar uma definiçlo pelo marxismo, simultaneamente,
alija-se qualquer possibilidade de se assumir uma posiçlo dogmjtica: o marxismo 6
antitético a qualquer tentativa de a-historlddade. O anti-dogmatismo marxista 6
sustentado pela sua exlgencia de se ter sempre como referenda o movimento concreto do
real
Creio ser possível afirmar que qualquer tentativa de se dogmatizar o marxismo 6
um desvirtuamento, ou melhor dizendo, nio passa de um falseamento vulgar de
pressupostos apresentados por Marx.
-15-
AfInaI, quando Marx e Engels (1984: 21) apresentam como uma das concepções
básicas de seu materialismo histórico a necessidade de partir-se sempre dos homens "como,
eles slo realmente., ou seja, como agem, como produzem ( ... ), portanto, em determinados
Umltes, premissas e condições materiais que nlo dependem de sua vontade" nlo estario
assumindo uma contraposlçio a qualqner dogmatismo? Além disto, ao constatar que "a.
revoluções proletArlas ( ••• ) se criticam constantemente a si próprias, Interrompem
continuamente seu curso, voltam ao que parecia resolvido, para recomeçA-lo outra vez,
escarnecem com impiedosa consci@ncla as deficl@nclas, fraquezas e misérias de seus
primeiros esforços", Marx (sld(a) : 206) nio esü a exigir um coustante repensar das
práticas soclals a ruo de que estas possam Ir cada vez mais alcançando uma consistente
adequação a um projeto revolucionário (4) ?
Em critica feita a Proudhon, Marx (1982 : 210) expliclta claramente a sua rejelçio a
qualquer dogmatismo:
"O Sr. Proudhon s6 pode fazer uma critica dogmitica, pois 010 concebe nossas
instituições como produtos históricos e nio compreende nem a sua origem nem o seu
desenvolvimento".
que:
Creio ser dlspenúvellnslstir nesta questio ji que esti suficientemente constatado
"O que é distintivo no tipo de critica representada em principio pelo
materiallsmo histórico é que ele inclui, indivisível e
ininterruptamente, umcritica. Isto é, o marxismo é uma teoria da
-16-
história que, ao mesmo tempo, reivindica proporcionar uma
história da teoria. Um marxismo do marxismo está inscrito em sua
constltuiçio desde o Início ••• " (Anderson; 1984 : 13-4)
Em síntese, o materlaUsmo dialético histórico é a consciência que procura Uvrar-se
de "qualquer elemento Ideológico unDateral e ranAtlco, é consciência cheia de
contradiç6es" (Gramscl; 1974 : 140).
A partir dai creio ser possível declarar que a minha opçio pelo marxismo nio pode
ser entendida como um enquadramento incondicional que o Isente de uma anAlise critica.
Assim penso tornar clara a minha Intençlo de estar atento para o risco, sobretudo, de "nlo
alcançar a saturaçio histórica do concreto", ou seja, de nlo tomar as categorias de rorma
abstrata, aprlorlsticamente, abandonando toda a compleIidade das relações sociais que
historicamente tecem uma totalidade repleta de mediaçeies e contradições.
o afastamento deste compromisso é desconsiderar que para Marx (1982 : 212):
"OI homens, que produzem as relações socials segundo a sua
produçio material, criam também a Idéias. a cat.orlaL Isto é, as
express6es abstratas Ideais destas mesma relaçeies sociais. Portanto,
estas categorias do pouco eternas quanto ls relaçeies que expressam.
Slo produtos histórico I e transitórios. "
-17-
Tomando por base as Idéias até aqnl apresentadas, para o desenvolvimento de
nossos estudos, procuraremos apresentar nma forma própria de se entender a escola.
Parto do pressuposto de que a escola é um "Iocus" onde ocorrem dois processos
somente abstratamente dissodJvels: um processo em que homens se organizam para
desenvolver um tipo especffico de trabalho e um outro processo cuja fnfase esÜ centrada
na melhor forma de transmitir valores, saberes, idéias, etc.
A grande maioria das an611ses tem se voltado para o segundo, desprezando a escola
como um lugar que se organiza para possibilitar o ingresso de trabalhadores dentro de
certas condições.
Por ai, as atenções do centradas na relaçlo "direta" entre professor e aluno, no
processo de transmlsdo-asslmilaçlo que se cH em "células", em "mkro-espaços".
Partindo de uma vido idealista, o que se considera do os valores, os pensamentos, as
idéias, o saber, independentemente de ser em um lugar de trabalho em que eles do
apresentados.
É preciso notar, também, que nesta dlreçlo, geralmente, é reforçada a primazia do
"ser" sobre o "ter". Trabalho, por este caminho, diria respeito 1 busca de "bens
materiais". O trabalhador, enquanto tal, teria por mlsslo Udar com o "profano" enio
com as questões do "espfrito". Esta trilha ideaHsta nos leva a conceber o "espiritual" como
algo que transcende o material, sendo dotado apenas de "razio" e "emoçio (5)", sendo o
que distingue o homem do resto da realidade e em particular dos outros animais
superiores: é o que determina o "ser" •
E para cnldar desta coisa tio sagrada hi necessidade de haver pessoas
vocaclonadas, que, mesmo exigindo iabirlos, sejam capazes de se dedicar a isto que é o que
-18-
hA de mais venerAvel, mais sacro no homem: assim define-se o carAter sacerdotal da açio
do professor.
"A afirmaçio do primado do ser ê essencial em toda profissio que
faz apelo 1 vocaçio, isto ê, que se concebe a si mesma como
nascida de um chamado s6 acessível aos indivíduos dotados de
aptidões particulares e prontos a engajar a totalidade de seu ser."
(Verdês - LeroUI; 1986: 80)
Sem querer aprofundar-me na questio do aspecto sacerdotal do professor, gostaria
de destacar que a configuraçio de prAticas soclais em sacerdotais (ou nlo) tem por
referência a oposiçio que ganha significado quando a sodedade capitalista começa a se
impor no seio da "velha" sodedade feudal
"Numa anüise diacrônica e retrospectiva das culturas arcaicas que
precedem a formaçlo da mentalidade dentffica entre os sêculos XVI e
xvn, no Oddente, seria possível ressaltar uma atitude totaUzadora
em relaçio ao real, que excluiria a cesura sagradolprofano" (Nota,
1987:106)
Esta diferenciaçio toma por base a classificaçlo do agir humano em
economicamente útil (profano) ou nlo economicamente útil (sagrado).
-19-
Assim, com o estabelecimento da "epistemologia cientifica, da tecnologia", em
consonAncla com o sistema capitaUsta, algumas práticas do excluídas do campo do,
sagrado enqunto que outras do a ele confinadas.
Ao discutir o vínculo entre sagrado e reUgfio, feito nas sociedades ocidentais cristis,
Nola (idem: 107-10) constata que ela ocorre apenas nestas culturas e que
.. A palavra reIJ&Io. que acabou por designar o conjunto das relações
do homem com o nlo-visfvel, ( ••• ) representa um deter-se, um
hesitar inquieto perante uma manifestaçlo que precisa de ser
compreendida, para a ela nos adaptarmos". (Nola, idem:l08)
Após estas consideraç6es, creio nlo ser difidl constatar por que caminho a pr'tica
do professor foi cunhada como sacerdotal Esta vinculaçlo nlo resulta apenas do
auto-reconheclmento desta categoria de profissionais, é um produto histórico, é parte de
uma consciência sodal, esÜ consoHdada na crença popular.
Portanto, o professor tem, segundo esta concepçlo, uma das mais nobres pr'ticu
humanas porque sendo ela meramente do mundo do espírito nio se impregna com as
tarefas servis da vida terrestre. O que lhe cabe é apHcar-se para atravá do ensino, da
palavra, reduzir a desordem, os acidentes da vida cotidiana resultantes de "espíritos" mal
preparados, mal educados.
Por este enviesamento, o professor é visto principalmente como "educador", enio
como trabalhador (agente de um processo de trabalho). A visio de trabalhador nesta
concepçlo esÜ mais vinculada a "atividades dos braços e das mlos" do que as do
pensamento, das idéias. Realçar o professor enquanto trabalhador ê, conseqtlentemente,
um desvio de sua" causa nobre", de sua missio.
-20-
o professor, visto como o pedagogo, é entendido também como aquele que conduz
para uma "verdadeira" prática da "cidadania", pois prevalece a lenda de que quanto
maior a escolaridade maior e melhor será a consdencia do ddadio.
É preciso notar também que a concepçio de Estado do bem comum se Integra 1
visio que se tem do professor até aqui apresentada. Ao critld-la, MIguel Arroyo afirma:
"Falar em professor funcionário público ainda comporta.
Professor entre os servidores públicos do bem comum. Uma
prolongaçio do Estado do bem comum, regido por relações
espedals, estatutos pr6prios, nunca pela Consolldaçio das Leis do
Trabalho. O Estado nio emprega trabalhadores, apenai
administra servidores do público. Nem ele é patrio, nem o
servidor trabalhador."
Aqui cabe destacar um outro aspecto existente na maioria dOI estudos dos Uvrol
sobre o campo da educaçio: a exdusio (ou a apariçio de forma anemlca) daquele ao qual
o professor é obrigado a vender a sua força de trabalho, colocando o professor como
"lIvre"para "dirigir" o seu trabalho.
Contudo, hi professores que rompem com estas concepções e passam a se
reconhecer como trabalhadores. A escola passa a ser vista como lugar de trabalho e até o
pr6prio Estado como patrio, como comprador de sua força de trabalho,
autodenominam-se trabalhadores, criam os seus sindicatos. Porém nio adianta dar tom
idillco aos recuos e avanços que ocorrem nas relações contradit6rias que existem na busca
-21-
das alianças entre as categorias intelectuais e as demais classes operirlas. As dificuldades
objetivas e subjetivas acumulam-se e diluem-se constantemente, podendo ser perceptíveis a,
olho nu.
Além da dificuldade resultante do princípio de que cada forma de dominaçio do
capital sobre o trabalho corresponde a uma forma especfflca de luta de classes, a maioria
dos professores ainda Imagina que, por ser a "matéria prima" de seu trabalho o espfrlto
humano, constituem-se em uma casta muito distinta onde a quaUdade de seus movimentos
nio pode ser confundida com a dos demais componentes da classe operúia. Assim a luta
por melhores salúios e possibilidades de trabalho é incapaz de destruir os elementos que
estio na base da auto-retrataçlo de sua pritica como sacerdotal
Embora discordando desta penpeetlva, nio penso que os professores nio tenham
uma maneira própria de existir que em parte se intersecdona com os demais trabalhadores
e em parte destes se diferencia.
Por certo as bases materiais, concretas, das relações e valores que "ldeaUzam" o
trabalho do professor como sacerdódo expressam ao mesmo tempo os Omites da sode4ade
e do próprio processo de ruptura desta situaçlo. A presença dos movimentos sindicais e o
próprio movimento dos docentes sio sinais Importantes do surgimento de uma nova
representaçio; todavia eles Dlo sio sofidentes: Impae-se "que a sociedade seja educada
poUtlcamente", que se faça portadora de uma nova mentalidade tanto quanto de novo
relações sodais.
-22-
o TRABALHO ÚTIL DOS PROFESSORES
A escola é um local de trabalho onde ocorre um processo de trabalho desenvolvido
por um tipo de trabalhador que pode ser Identificado com os demais trabalhadores bem
como deles dlstingildo.
A existência do professor enquanto profissional, a presença do magistério enquanto
um ramo "Independente" do conjunto da profissões, o surgimento e permanência
hlst6r1ca dos profissionais da educaçlo devem-se 1 concretude sodaI do seu trabalho, Isto
é, llua possibilidade de produzir algo socialmente útil, algo que nio tenha valor exclusivo
para si, mas algo que tenha valor de uso sociaL ('>
O magistério assume o seu caráter hlst6r1co e social ao ser um trabalho que cria um
produto de qualidade distinta dos produzidos por outros trabalhadores e que é necesúrio
(objetiva e/ou subjetivamente, medlata e/ou imediatamente) a um grupo humano.
Definido por sua utilidade, ao satisfazer necessidades sociais, o trabalho do
professor se dá e se firma como uma da partes componentes da "totalidade das forma
heterogêneas de trabalhos úteis, que diferem em ordem, gênero, espécie e variedade", ou
seja, se Instala e se Impõe como um dos trabalhos particulares constituintes da divlsio
social do trabalho. Divlsio esta que possui a propriedade de evidenciar a dlstinçlo entre OI
diversos produtores e, ao mesmo tempo, de vinculá-los num sistema unificado, num
"organismo" produtivo onde se relacionam e se condicionam mutuamente.
A constataçlo de que o trabalho do professor, como os demais, é dispêndio de força
de trabalho e, simultaneamente, dispêndio sob uma forma espedf1ca para um determinado
-23-
fim, é imprescindível para o estudo de sua natureza, pois, como afirma Marx, se importa
saber como é e o que é um determinado tipo de trabalho, deve-se consider'-Io na qualidad~
de criador de valor-de-uso, ou seja, como trabalho socialmente útil
Estudar a "natureza" de um tipo de trabalho nio é verlflcar a sua generalidade
abstrata, mas buscar entender a sua forma concreta, sua particularidade no conjunto do
trabalho social, na totaUdade dos diferentes trabalhos úteis, como elemento dlveno na
divisio social do trabalho.
Ao circunscrever o trabalho do professor ao Imbito da divlsio social do trabalho, a
partir de sua utiUdade concreta, penso ter me esquivado do erro metodol6gico de
ntillzaçlo de categorias Inadequadas para caracteriz6-lo.
-24-
BIUl..l(Ji t";A
fUNDAÇÃO GerOUO VAftGAI
NOTAS
( 1 ) "Se, por processo de conhecimento entendemos uma interaçlo
especifica do sujeito que conhece e do objeto de conhecimento, tendo
por resultado os produtos mentais que chamamos conhecimento, a
interpretaçlo desta relaçio é concebfvel no enquadramento de alguns
modelos te6riCOs. Esta tipologia nlo é de maneira nenhuma
especulativa, pois que cada um destes modelol encontrou a lU
Dustraçlo concreta em correntes mosóflcas historicamente existentes."
(Schaff, 1986:73)
(2 ) "O homem nlo pode conhecer ~ contexto do real a nlo ser arrancando
os fatos do contexto, isolando-os, tomando-os relativamente
independentes. Eis aqui o fundamento de todo conhecimento: a cislo do
todo." (Koslk, 1976:48)
(3 ) "O estudiolO das disdplinu IOdais que se Julga orgulhosamente
'obJetivo', neutro, 'fora da briga' f, na realidade, um penonagem
patético porque é vitima inconsciente de uma Ideologia, sem
• possibilidade de opor-se a suas press6es. n{Lablnl, 1983:15)
( 4 ) Nlo h' marxismo desvinculado da crença e da proposta revolucionúia.
"A verdadeira revoluçlo só pode ocorrer naqueles períodos em que
-25-
esses dois fatora, as modernas forças produtivas e as formas buquesas
de produçlo entram em conruto uma com a outra. (m) Só ~ possfvel
uma nova revoluçlo em conseqftênda de uma nova crise. Mas uma t
tio certa Quanto a outrL"(Marx, IId(·):189)
A1~m do mais as condiçaes em que se darlo esta revoluçlo dependem
prindpalmente da forma de organlzaçio e relaçio entre as classes
sociais em confronto. O processo revoludon'rlo assumir' "formas mais
brutais ou mais humanas, conforme o grau de desenvolvimento da
classe trabalbadorL "(Marx, IId:6)
( 5 ) "A rulo Impessoal, nlo tendo fora de si nem terreno sobre o qual
possa par-se, nem objeto no qual possa opor-se, v&-se forçada a uma
cambalhota, pondo-se, opondo-se, e compondo-se - posiçlo, oposiçio,
composlçio. ( ••• ) trata-se de uma linguagem desta rulo tio pura
Independente do Indivfduo." (Marx, 1982:103)
( 6 ) Para que um determinado trabalho seja componente da divislo lOdaI
do trabalho pouco Importa que venha atender ou nlo a necessidades
materiais. Rj apenas que se considerar "que satisfaz necessidades
humanas, seja qnal for a natureza, a origem delas, provenham do
est8mago ou da fantasiL Nio Importa a maneira como a coisa satisfaz".
(Marx, IId:41)
-26-
DESMONTANDO ARMADILHAS
Na busca de entendimento da natureza do trabalho do professor encontramos
presentes na nossa Uteratura aqueles qu.e tomam como elementos centrais as categorias
trabalho produtivo e Improdutivo, Isto ê, procuram tomar a dlstinçio entre estes tipos de
trabalho o ponto de partida para os seus estudos, apoiando-se nos conceitos a eles dados
porMan.
Ao seguir-se, mesmo que esquematicamente, os passos do próprio Marx, poder-se-'
condulr que por este caminho nlo chegaremos multo longe, ou melhor, a nenhum lugar
Desta pretendo.
Nlo posso deixar de ressaltar que u rassagenl seguintes serlo uma interpretaçio
slmpHficacia, principalmente, do complexo "O Capital: critica da economia poUtica".
AI_ disto, por mais que tente manter-me fiei As idéias ai expostas, por tratar de apenu
algunl de seus aspectos, h' de se ter consciência dos própriollimJtes dessa interpretaçlo.
Após reunir dados que em sua inteireza permitiram o entendimento da forma de
ser do modo de produçlo capitaUsta, Man inicia a sua exposiçio crftieo-expUeativa a
partir do que ele considera a dIuIa mais elementar e representativa: a mercadoria. (I)
Este elemento, 1 primeira vista simples, é a unidade de duas propriedades
Impresdndfvels: ser possuidor de valor-de-uso e portador de valor-de-troea (sendo esta,
como h' de se ver, a forma fenomêniea do valor).
-27-
o valor-de-uso, conteúdo da riqueza de qualquer forma social, se expressa por sual.
propriedades, através das quais vai atender a necessidades humanas, pouco Importando ~
estai devam ser atendidas imediata ou mediatamente, se sio exigências do corpo ou da
fantasia. Assim OI valores-de-uso sio determinados e se diferenciam por suas qualidades e
s6 se realizam quando se d' o seu consumo ou utOizaçio.
Um produto para ser considerado como mercadoria deve ter o seu valor-de-uso
necessitado por outro que nio seja seu possuidor iniciaI, portanto, para ser considerado
como mercadoria J' deve ter um objetivo primeiro: ser necesdrio a outros e nio a seu
proprietirio iniciaL A produçio da mercadoria se origina de um valor-de-uso lOdaL
Quando A e B se confrontam no "mercado" como proprietiriol de valores-de-uso
distintos, os produtos de A 56 lhe Importam pela possibilidade de troca por uma
determinada QJIIntidade de produtos de B e vice-versa; conseq6entemente as mercadorial
devem ser portadoras de um valor-de-troca; as mercadorias, em principio, devem ter um
valor-de-uso para o futuro usuirio e um valor-de-troca para os seul proprietiriol
originais.
Pode-se portanto, sinteticamente, concluir que:
"Como valores-de-uso ai mercadorias sio antes de mais nada, de qualidade
. diferente; como valor-de-troca, 56 podem diferir na quantidade, nlo
contendo nenhum 'tomo de valor-de-uso" (Marx, IId: 44).
Rompendo com a feticbJzaçio, dando continuidade 11 suas reOexõel, Marx mostra
que as mercadorias ganham propriedades, adquirem caracterfsticas pr6prias através de
-28-
uma participaçio social especial: o trabalho. Como a mercadoria encerra um duplo
aspecto, o trabalho que a produz também apresenta um duplicidade de caráter.
Em primeiro lugar, o trabalho "sob uma forma especial, para um determinado
fim", "trabalho útil e concreto"cria o valor-d&-uso. Como produtores de valores-d&-uso, OI
trabalhos concretos diferenciam-se QgaUtativamente , constituem-se como elementos de
uma cada vez mais complexa dlylslo social do trabalho. E somente sob este aspecto os
trabalhos podem ser classificados, diferenciados e entendidos em suas especificidades.
"No conjunto formado pelos valores-d&-uso diferentes ou pelai
mercadorias distintas, manifesta-se um conjunto
correspondente de trabalhos úteis divenos - classifidveis por
ordem, gênero, espécie, subespécie e variedades - a divisio
social do trabalho. " (idem: 29)
Apenas enquanto útil, concreto, é que o trabalho se apresenta com o seu conteúdo
particular.
Por outro lado, para que a troca possa ser efetivada hi a necessidade de existir um
parlmetro comum que possibllite que as coisas distintas possam ter as suas proporções
quantitativas determinadas; impii&-se a fiuçio de uma unidade que permita que
elementos distintol possam ser quantitativamente comparivets. Quando valores-d&-uso
diferentes se op6em para a troca, tem de ji haver uma unidade, num duplo sentido: como
algo comum a todos os elementos do conjunto dos valores-d&-uso e como algo que sirva
como parimetro para comparações quantitativas (unidade de medida).
-29-
E o que é comum a todas as mercadorias é serem elas resultantes de dispêndio de
força de trabalho em abstrato, ou seja, terem em si o trabalho como simplesment~
capacidade de trabalho em açlo Independentemente de sua característica especffica que di
forma diferendada aos diversos produtos. O trabalho, como uma abstraçlo, que se
cristaliza nas diversas mercadorias dota-as de uma substlnda comum, de um ponto de
Interseçio. As mercadorias como portadoras de trabalhos Indiferendados do reduzidas a
uma abstraçlo denominada DIm:.
O trabalho, abstratamente entendido, Incorpora la mercadorias um elemento
Idêntico (valor) que as homogeneiza, permitindo assim que valores-de-uso .
quaUtatlvamente diferenciados possam ser corpos, meios atravá dos quais se expressam
um termo de unificaçio.
Depois da convenio de duas mercadorias distintas 1 expressA0 de uma mesma
coisa, hj a necessidade de se verificar a forma de visualizar esse valor.
Nio podemos esquecer que o carjter abstrato do trabalho que Incorpora valor
impossibilita qne este se manifeste de imediato, por si mesmo, ao se entrar em contato
com a mercadoria.
"Em contraste direto com a palpAvel materialidade da
mercadoria, nenhum 'tomo de mat&la se encerra no sen
valor. Vlre-se e revire-se, 1 vontade, uma mercadoria: a
coisa-valor se mantém imperceptfvelaos sentidos" .(ibid: 55)
-30-
Após homogenelzarmol as mercadorias como valores, como resultantes de uma
açio social apreendida em sua generaUdade (trabalho abstrato), fica pendente a questio dç
lua visibilidade: como o valor pode se manifestar em sua abstraçio?
O valor se manifesta quando da relaçlo entre duas mercadorias, torna-se aparente
quando uma quantidade I de mercadoria é trocada por uma quantidade y de outra
mercadoria. Portanto, a forma aparente do valor é o valor-de-troca.
Assim sendo, em lua ess8ncia, as mercadorias 810 simultaneamente valor-de-u80 e
valor (nlo valor-de-troca).
Em síntese: a mercadoria apresenta uma dupUcidade de caráter (valor-de-u80 e
valor) resultante de um duplo aspecto do trabalho (trabalho concreto e trabalho abstrato).
Além disto, o valor é, em dois sentidos, uma expressio sodaI por ser a representaçlo do
trabalho humano em geral e por manifestar-se apenas no momento em que ocorre a
relaçio aociaI para troca de mercadorias.
Retornando ao valor ainda fica pendente uma questlo: a forma de valor nio
exprime apenas valor em gerai, trabalho sem qualiflcaçlo, mas, também, valor em uma
determinada quantidade, em certa magnitude. As mercadorias nlo 810 comparadas apenas
pelas suas quaHdades (como valores-de-uso) mas também quantitativamente quando
expressam a forma do valor (como valores-de-troca).
O trabalho, qualquer que seja, ele ocorre durante um determinado tempo, e em
cada sociedade há um tempo médio para a produçlo das diversas mercadorias, há um
tempo de trabalho lOciabnente necessário.
-31-
"Tempo de trabalho socialmente necesdrlo i o tempo de
trabalho requerido para produzir-se um valor-de-~
qualquer, nas condições de produçio sodabnente normais,
existentes, e com grau social mMio de destreza e intensidade
do trabalho. ( ••• ) O que determina a grandeza do valor i a
quantidade de trabalho socialmente necessirlo para a
produçlo de um valor-cle-uso. Cada mercadoria Individual i
considerada aqui exemplar mMio de sua espide. " (ibid.: 46)
Assim o problema da busca de unidade, em seu duplo sentido, se desfaz. O trabalho
abstrato (mais especificamente: o socialmente necessúio) i substlncla comum ls divenas
mercadorias, possibilitando que os diferentes valores-de-uso sejam portadores de um
elemento comum: o valor. A exisdnda deste, por sua vez, permite que a unidade tempo de
trabalho sodaImente necessúio seja tamWm o parAmetro para fluçio das bases
quantitativas para as trocas das divenas mercadorias. (2) Desta forma, estio criadas u
condições para que u mercadorias sejam comparadas tanto qualitativa quanto
quantitativamente.
Da mesma forma que as mercadorias representam a unidade de valor-cle-uso e de
valor, resultantes do trabalho concreto e do trabalho abstrato, o processo de produçlo de
mercadorias i a unidade dialitica de dois processos: o processo de trabalho e o processo de
valorizaçlo.
O processo de trabalho em geral i aquele em que o trabalho concreto se objetiva em
um valor-cle-uso. Nele a apo da força de trabalho humana imprime uma determinada
-32-
forma 1 "matéria " sobre a qual atua, para um certo fim, de uma maneira especffica. ~
o ponto de vista do processo de trabalho, todo trabalho realizado é produtivo.
A isto podemos acrescentar que a divisio de trabalho na sociedade scS pode ser
realizada tendo-se por base o processo de trabalho que, ao produzir distintos
vJllores-de-uso, sustenta a troca entre diferentes mercadorias.
"A divislo de trabalho na sociedade se processa através de
compra e venda dos produtos dos diferentes ramos de trabalho
( ••• ) " (ibid.: 407).
Recordando e acrescentando: a espedfiddade de um determinado tipo de trabalho
scS pode ser verificada através do estudo da forma em que (enquanto útH, concreto) se
desenvolve como criador de valor-de-uso no processo de trabalho. "Do ponto de vista de
processo de trabalhO em praL apresenta-se como produtivo aquele que se rea6za num
produto, mais concretamente numa mercadoria, "(MARX, 1985: 109)
Se nos fiunnos no processo de trabalho, genericamente (quando se dA uma açio
objetiva do homem, quando "objetos" sio humanizados , quando se cria a reaHdade
humano-soclal, quando se constrói a riqueza sodal), vemos que ele tem por finaUdade
atender a necessidades naturais e 1Odais, e que, portanto, ser' útil para Ubertaçio de
certas necessidades humanas, produtivo no sentido mais amplo do termo.
Porém o processo de trabalho em geral é apenas o pressuposto necesdrio para o
entendimento da forma em que se dA de uma maneira própria, histórica e social a
produçio da riqneza de uma sociedade.
-33-
•
o processo de produçlo capitalista ê de um determinado tipo em que o processo de
trabalho está estreitamente vinculado ao processo de valorlzaçio (o trabalho está dotad~
da dupla natureza concreto-abstrato).
Embora o processo de trabalho possa ser considerado "o coraçlo real da
economia", ê err8neo o estudo do sistema capitalista de produçlo sem entrelaçá-lo com o
processo de valorlzaçio.
O trabalho ê uma categoria geral e, simultaneamente, uma categoria com
características hlstórlco-sodais.
Isto permite que Marx afirme desde logo que "conceituaçlo de trabalho produtivo
derivada apenas do processo de trabalho nio ê de modo algum adequada ao processo de
produçio capitalista. "
Voltemo-nos agora para o processo de valorlzaçio.
Durante o processo de produçio, ao mesmo tempo em que se di uma nova forma ao
objeto sobre o qual se trabalha, se acrescenta 1 matêrla tempo de trabalho, ou seja, a esse
objeto vai sendo acrescido valor: a Isto chama-se processo de valorizaçio.
O trabalhador adiciona valor nio pela característica espedfica de seu trabalho, ma
atravá de sua capacidade de dispender trabalho abstrato (geral) por um determinado
tempo. O processo de valorizaçio, em geral, diz respeito a trabalho abstrato, porêm a sua
existência exige que o trabalhador durante o tempo de aplicaçlo de sua capacidade de
trabalho dê uma forma particular 1 matêrla sobre a qual atua, que produza um novo
valor-de-uso. A Integraçio do processo de trabalho ao modo de produçio capitalista ocorre
tomando como imprescindível a criaçio de valor; o desenvolvimento do processo de
-34-
trabalho no sistema capitalista pode ser compreendido se vinc .. lado ao processo de
produção de valores. Fixemo-nos nesta afirmativL
A organização do processo de produção capitalista tem como uma das suas bases
materiais a forma de propriedade dos meios de produção e dos meios de subsistência. A
;!"!vatização destes ocorre com a separação entre as condições objetivas de trabalho ( meios
de produção) e as forças subjetivas de trabalho (capacidade de trabalho), com a criação de
homens duplamente "livres".
O capitaDsta, em prindpio, é apenas aquele que adquiriu a posse dos meios de
produção, porém apenas isto nio basta: a finalidade com que ele os utiliza é que define a
sua posição de classe. Os homens possuidores dos meios de produção do apenas
capitalistas em potencial A premissa fuDdameDtal para que estes homenl possam ser
classificados como capitalistas é que seus "beDS " teDham para eles o sentido de
mercadorias, ou mais amiúde, de valoreHle-troca que tem por finalidade gerar mais
valores-de-troca.
Como OI valores-de-troca Dada mais do do que a expressio feDomênica do valor,
Da essência os meios de produção (ou capital inicial) do apeDas uma quaDtidade de valores
1 qual deve ser acrescido mais valor, do apeDal berços DOS quais deve ser embalados o
crescimeDto de DOVOS valores (mais-valia).
Porém, para que os meios de produção possam cumprir a sua função predpua de
meios para criação de valor excedeDte, é Decessérlo que haja a preseDça da única eDtidade
capaz de fazê-Io: a força do trabalho humaDo.
Assim, impõe-se ao capitalista a posse de trabalho vivo que ser' acrescido ao
trabalho j' objetivado (morto) existeDte Das matérias primas de sua propriedade. Mas
-35-
para que isso ocorra devem estar disponfveis na sociedade homens que nlo tenham como
conduzir por si próprios a aplicaçlo de sua capacidade de trabalho, homens qu~
expropriados dos meios de prodnçlo e sem as condições de subsistência sejam obrigados a
vender a sua força de trabalho para poderem sobreviver (dentro das chamadas condições
!!9rmais). Estes seres humanos devem se apresentar como portadores desta mercadoria
que para eles nlo tem nenhnma importinda como valor-de-uso, o que lhes vale i o seu
valor-de-troca. Assim, expõe-se num mercado muito especial, o mercado de trabalho, onde
o capitalista irá comprá-lo como valor-de-uso para produçlo de um produto bem definido
(valor), em uma quantidade que nunca poderá ser inferior a um tanto determinado.
Quando da produçlo, a capacidade de trabalho só interessa ao capitalista como
criador de valor, o processo de trabalho só tem importinda como condutor e meio de
valorizaçlo; o processo de valorizaçlo subordina o processo de produçlo de valor-de-uso.
O processo de produçlo capitalista i aquele no qual o processo de trabalho
"nlo conta como atividade produtiva que possui um
valor útil determinado, mas como substlncia criadora
de valor, como trabalho social em geral, que se
objetiva e no qual unicamente interesssa um elemento:
a sua Quantidade." (Marx, 1985: 79)
Para o capitalista a capacidade de trabalho comprada no mercado só se tornará
trabalho produtivo se durante a IDa utiUzaçlo criar mais-valia, independentemente do seu
conteúdo. Assim sendo, i atravá do trabalho abstrato, do trabalho socialmente necessário
que podemos verificar, sob a ótica do capital, se um trabalho i produtivo ou nio.
-36-
Por esta linha de pensamento, podemos concluir que a classificaçio de um trabalho
em produtivo ou nio em nada nos aJudad quanto ao entendimento da especificidade d~
um trabalho.
"Do que se viu infere-se que trabalho produtivo é uma quaUftcaçio
que, de início, absolutamente nada tem a ver de com o conteúdo
característico do traballio, com sua utilidade particular ou com o
valor de uso peculiar em que ele apresenta." ( Marx, 1987: 395)
Penso que, assim, podemol voltar ao ponto Inidal verificando que a classificaçio do
trabalho do professor em produtivo ( ou nio ) nada nOI esclarecer' quanto 1 sua natureza:
"um trabalho idêntico em conteúdo pode ser produtivo ou improdutivo." (Marx, 1987:
395)
Uma outra vertente metodol6gica a ser evitada é aquela que procura caracterizar o
trabalho Intelectual e trabalho manual.
Ao se referir ls tentativas feitas para distiguir a atividade dos "Intelectuais"
(Incluídos aí OI professores) das atividades dos demais trabalhadores, GRAMSCI (1979:
6-7) ressalta que:
"O erro metodol6gico mais difundido, ao que me parece, consiste em
se ter buscado este critério de distinçio no que é Intrinseco ls
atividades Intelectuais, ao invés de busc4-lo no conjunto dos sistemas
de relações no qual estas atividades (e, portanto os grupos que os
-37-
personificam) se encontram, no conjunto geral das relações sociais.
Na verdade o operário ou proletário, por exemplo, nio se caracteriza
especificamente pelo trabalho manual on instrumental, mas por este
trabalho em determinadas condições e em determinadas relações
sociais ( sem falar no fato de que nio existe trabalho fislco ( ••• ): em
qualquer trabalho fisico, mesmo no mais mednico e degradado,
existe um mfnimo de qualificaçio técnica, isto ê, um mínimo de
atividade criadora) ( ••• ). Nio existe atividade humana da qual se possa -
excluir toda intervençio Intelectual, nio se pode separar o homo
~ do homo Slplens.
Ao circunscrever o trabalho do professor no imbito da divisio social do trabalho,
Imagino ter me esquivado da tentaçio do erro metodológico de procurar definir sua
espeficidade a partir da distinçio entre o trabalho manual e o trabalho intelectual As
existentes tentativas de caracterizar o trabalho do professor partindo desta divisio,
geralmente, estão tomadas de falso entendimento de tal separaçio que, ao se afastar das
condições sociais, qne a engendram, se fixa na dsio do esforço "cerebral "e esforço
"muscular-nervoso" do trabalhador individual
Aos que crêem nesta perspectiva está Imposta a nescessidade de utilizar um método
de quantlficaçio que possibilite mensurar o quanto cada esforço está presente em cada ato
produtivo. Por este caminho, o que se busca, em última Instinda, é verificar se o "homo
faber" se Impõe ao "homo saplens", se o "animalesco" se sobrepõe ao "humano", se o
-38-
"secundário" predomina o "principal", ou vice-versa: Isto é negar que o bomem é o ser de
praxis.
"A praxis, na sua essência e universaUdade, é a revelaçlo do segredo do
bomem como ser ontocriativo, como ser que gja a. reaUdade
(bumano-sodaI), e que, portanto, compreende a reaUdade (bumana ou nlo
bumana, a realidade na S08 totalidade). A praxls do bomem nlo , a
atividade prática contraposta 1 teoria; é determinaçlo da existência bumana
como e1aboraçlo bumana como e1aboraçlo da reaUdade • ( ••• ) A pruis
compreende - além do momento laborativo - também o momento
existenciaL
( ••. ) A consciência bumana é atividade do sujeito que cria a reaUdade
bumano-social como unidade de existente e de significados, de reaUdade e de
sentido." (Kosik, 1976: 202-24)
Além disto, quando se procura definir a espeflddade do trabalho do professor a
partir da diferenciaçlo entre trabalbo manual e trabalho intelectual nio se leva em conta
como este ator sodal com sua atividade produtiva se coloca no complexo das relaçaes
sociais. Assim, percorrendo o caminbo do genérico, os defensores desta tese
fundamentam-se num falso entendimento do significado que esta separaçio vem
adquirindo historicamente.
Ao se referir especificamente 1 dsio entre trabalho manual (flsico-materiaI) e
trabalbo intelectual (espiritual), sem que se busque o entendimento dos determinantes
bist6ricos que a construfram, KOSIK (idem: 186-191 ) mostra que Isto ocorre, também,
por tomar-se por base a vinculaçio do agir bumano a duas esferas distintas: o momento da
-39-
necessidade e o momento da liberdade. É evidente que, por esta trilha, o trabalho
Intelectual estA vinculado 1 esfera da liberdade e o trabalho manual ao da necessidade,\
Contudo a partir desta dlferenclaçJo nio se é capaz de constatar, como jA foi dito, que o
trabalho é sempre determinado por uma necessidade natural ou por uma exigência social e
que qualquer que seja buscarA a superaçJo desta neKessidade. Portanto, nlo há que se
fragmentar no trabalho momentos tio imbricadoL O agir humano produtivo busca,
enraizado em necessidades históricas, a liberdade humana, sob determinados aspectoL
Por ai, Kosik destaca que a separaçJo entre trabalho manual e trabalho intelectual
deve buscar o seu entendimento nos elementos que o formalizam em determinadas
condições sócio-históricas, e nlo na forma genérica de ser do homem. Nlo há nada que
possibilite afirmar que o trabalho espiritual é do reino da liberdade e do trabalho manual
do reino da profana necessidade bumana.
A compreendo do que consiste a dAssica distinçJo entre trabalho manual e
trabalho intelectual, na sociedade capitalista, pode0 mostrar de forma inequfvoca a
inadequaçJo da tendência de se basear o estudo da "natureza" do trabalho do professor na
diferenclaçJo dos dois tipos de trabalho, tendência que se afasta da real signiOcaçJo deste
par dialético.
Os homens ao colocarem em açJo a sua força de trabalho utilizam as suas
capacidades físicas e mentais, sendo que a caracterlstica essencial é a unidade entre a
capacidade de executar e a sua capacidade de conceber com antecedência o processo de
execuçJo: unidade esta que também pode ser rompida. Esta é a condiçJo prévia para a
existência e compreendo do que difere o trabalho manual do trabalho intelectual na
sociedade capitalista.
-40-
Com a Implantaçio e o desenvolvimento do capitalismo, a distinçio entre trabalho
intelectual e trabalho manual assume um significado pr6prio, tomando como quadro d~
referência a progressiva subordinaçlo do trabalho ao capital A sua definição se di no bojo
da divisio do trabalho entre trabalhadores que ocorre no processo de produçio. Esta
concepçio toma-se possível a partir da evoluçio do trabalho individual para o trabalho
coletivo (Marx, sld, p. 584). A combinaçio de trabalhadores (o trabalhador coletivo) traz
consigo uma distinçio fundamental no sistema produtivo, isto" no modo de organizaçio
da produçio: a alguns trabalhadores ê destinada a tarefa de manipular diretamente os
meios de produçio; a outros se designa o papel de efetivar a subordinaçio do "trabalho
vivo" ao "trabalho morto". Aos primeiros cabe a execuçio; aos segundos a coordenaçio, o
planejamento e o controle do trabalho a ser executado pelos primeiros. Estes, ditos
trabalhadores manuais, perdem o controle sobre o ato da criaçio: a sua liberdade para
produzir está comprometida pela subsunçio do seu trabalho aos interesses do capital. Os
segundos nada mais representam do que o interesse do capital; cabe-Ihes "Uvremente"
conceber, dar uma radonaUdade ao sistema produtivo de modo que o processo de
valorizaçio assuma sua prioridade sobre o processo de trabalho. Sio os que tendem a ter a
posse do "saber" sobre "todo" o processo produtivo. Tomando como referendal o
processo de separaçio entre o trabalho de concepçio e o trabalho de execuçio (divisio de
trabalho na produçio), distingue-se o trabalho manual do trabalho intelectual.
A organizaçio do processo de produçio capitalista tem como uma de suas bases
materiais a forma de propriedade dos meios de produçio e dos meios de subsistência. A
privatizaçio destes ocorre com a separaçio entre as condições objetivas de trabalho (ou
seja, tanto a terra quanto o conjunto dos meios de produçio e de subsistência) e as forças
-41-
subjetivas do trabalho, com a criaçlo de homens duplamente "Uvres", de trabalhadores
assalariados que necessitam vender a sua força de trabalho no mercado "púbUco" o~
privado. A partir dai, é possível se organizar o trabalho de uma forma fragmentada e
hierarquizada. Portanto, para que a escola pudesse se organizar de acordo com a 16gica
capitaUsta, que se estende A totaUdade das relações sociais, é necesdrla a organizaçlo de
trabalhadores como assalariados; portanto, é impresclndível se buscar o conhecimento da
gênese e do desenvolvimento do professor como trabalhador assalariado. Neste estudo
deve-se ter como presuposto que o trabalhador assalariado só é capaz de se definir e se
constituir como tal com o reconhecimento do seu contrúio, isto é, daquele a quem ele
vende a sua força de trabalho ( e vlce-versa ). A luta contra as condições hist6ricas de
exploraçlo depende do grau de consci@ncla das contradições inerentes As relações sociais de
produçio.
Um outro elemento que constitui a base material da poUtica do modo de produçio
capitaUsta (isto é, uma expressio de dominaçlo do capital sobre o trabalho) é a forma de
controle sobre o processo de trabalho. A relaçio entre homens e os meios de produçio, na
sociedade capitaUsta, é mediada por relações entre homens. Ai a relaçio entre os operúios
e os meios de produçlo é mediada pelos proprietúios ( ou seus representantes) desses
meios. O primeiros ao venderem a sua força de trabalho aos segundos, vendem uma
mercadoria com valor-de-uso espedfico. De posse desta mercadoria especial, o capitaUsta a
incorpora ao conjunto dos meios de produçlo • Neste momento a separaçio entre o
trabalhador e os meios de produçio (necessária para o surgimento da força de trabalho
como mercadoria) desaparece; no processo de trabalho eles se unem novamente. Só que
esta junçio tem que atender aos interesses espedficos do capital; como ela pode acontecer
-42-
de modo a nio atender a objetivos que permitam o fluxo contínuo de renovaçio do
processo de produçio capitalista, o grupo exproprlador nio pode abrir mio do controle d~
processo de trabalho. Este controle deve ocorrer de modo a impor a subordlnaçio do
trabalhador ao processo de trabalho. No capitalismo, o trabalhador ê uma mercadoria
que, ao se Incorporar ao processo de trabalho, adquire o seu sJgnificado ao criar o seu
"mUagre" da valorizaçio (momento em que a força de trabalho ê empregada pelos meios
de produçio) , quando ê evidenciada a subordlnaçio do trabalho ao capital
É preciso notar que as próprias escolas, Inclusive as públicas, se transformam em
verdadeiras "empresas capitalistas", onde os professores subordinaram-se ao processo de
trabalho como outros operúios. Isto ê constatado por WEBER ( 1985: 19-20), ao afirmar
que:
"Os grandes Institutos de ciência e de medicina se transformaram em
empresas de 'capitalismo estatal'. (_.) E nota-se o surgimento, como
aliás em todos os lugares em que se implanta uma empresa
capitalista, do fen8meno espedfico do capitalismo, que ê o de 'privar
o trabalhador dos HUS meios de produçio'. O trabalhador - o
assistente - nio dispõe de outros recunos que nio os Instrumentos de
trabalho que o Estado coloca ao seu alcance; conseqüentemente, ele
depende do diretor do instituto tanto quanto o empregado de uma
fábrica depende de seu patrio ( .•• ). Assim, a poslçio do assistente ê,
com freqfiênda, nesses institutos, tio precária quanto a de qualquer
outra existência 'proletaróide' ( ••• ). A antiga organizaçio universitária
-43-
tornou-se uma ficçio, tanto no que se refere ao espírito, como no que
diz respeito A estruturL"
Porém nio hi de se considerar que a escola púbUca seja uma empresa do mesmo
tipo que uma indústria capitaUsta "stricto senso". Para o capital ela nio é diretamente,
Imediatamente produtivL
Considerando-se, todavia, o ensino como negódo particular, mesmo sendo uma
atividade imateriaL por se inscrever diretamente nas relações capital I trabalho o processo
de exploraçio é aqui produtivo. O professor, ai, produz mais-valia para o proprietário da
escola como o faz qualquer proletário para o proprietário de uma indústria:
"( ••• ) um mestre-escola que é contratado com outros para valorizar,
mediante o seu trabalho, o dinheiro do empresúio da instituiçio que
trafica com o conhecimento é um trabalhador produtivo."
(Marx, 1985: 115)
O principio da divisio' do trabalho e fragmentaçio das tarefas, o principio da
espedalizaçio, dentro do sistema capitaUsta, estendeu-se' a todas as atividades sociais. O
trabalho escolar, portanto, ni~ esti alheio a esta lógica que se contrapõe 1 lógica da
"totalidade" concreta.
"É f'dI Imaginar o ensino como um trabalho relativamente
integrado, nio-aUenado. O professor esti em direto contato com seu
material, e tem ao menos alguma dose de controle sobre o seu
-44-
trabalho •.• Entretanto, o trabalho do professor tem sofrido mudanças
sutis. A febre da eficiência educacional dos anos 20 levou 1 apllcaçio
de métodos de adminlstraçio empresarialls escolas de segundo grau.
A concentraçio do processo de tomada de dedsio nas mios dos
administradores e a busca da racioDalizaçio ecGD8mica teve as
mesmas desastrosas conseqOêndas para os professores que a
burocracia e a racionalizaçio da produçio teve sobre a maioria dos
trabalhadores. No interesse da adminlstraçio cleDtffica, o controle do
currfculo, a avaHaçio, o aconselhamento e a orientaçio, a seleçio de
textos e os métodos de ensino foram colocados nu mios de
especialistas. Uma gama de especialistas apareceu para Udar ·'com
fragmeDtos cUminutos do trabalho de eDsinar. As tarefas de pensar,
tomar decls6es e entender os objetivos da educação foram postas nas
mios de administradores colocados Dum nfvel superior.
OsteDsivamente para facilitar a eficiêDcla administrativa, as escolas
tornaram-se grandes e impessoais. A possibilidade de relações
próximas e simples na sala de aula deu lugar a relações sociais da
linha de produção". ( Bowles & Gintis ).
OS "DOVOS " tipos de profissionais "surgidos", DO Brasil, Da dkada de 70, a serem
"preparados" pelo curso de pedagogia, em suas habilitações ( supervlsio, orientaçio,
administração), serio algo diferentes da tentativa de traDsposiçio e solidifIcação da divisio
de trabalho presente na organização da produçio capitalista para o interior da escola ?
-45-
Por aí, pode-Ie perceber claramente que a organizaçio do trabalho escolar nio ficou
imune A distinçio entre trabalho fislco-material (a cargo dos professores ) e trabalho
espiritual ( forma de agir espedfica dos espedaUstas).
SCHAFF preve que a própria distinçio entre trabalho manual e trabalho
intelectual tende a desaparecer com o que ele denomina da segunda revoluçio industrial,
que vem ocorrendo nos pafses capitaUstas "centrais".
"A segunda revoluçio (técnico-industrial), que estamos assistindo
agora, consiste em que as capacidades intelectuais do homem do
ampliadas e inclusive substitufdas por autamatos, que eliminam com
exito crescente o trabalho humano na produçio e nos serviços. ( ••• ) A
eliminaçio· das diferenças entre trabalho manual e trabalho
intelectual, que pressupunha ( _.) também a eliminaçio das
diferenças de status social entre estes dois grupos de trabalhadores
( ••• ) se tomou realista apenas hoje, na sociedade informjtica. Esta
assistirj ao desaparecimento do trabalho manual; o que restar do
antigo trabalho ( como ainda o enteudemos hoje) assumirj o carjter
de ocupações intelectuais, de natureza criativa ( ... )." ( Schaff, 1990:
22-46)
Se penistfssemos na definiçio do trabalho do professor tendo por base a distinçio
entre trabalho manual e trabalho intelectual, a partir da conclusões de Schaff, uma
pergunta se imporia: com a segunda revoluçio industrial cómo o trabalho do professor se
distinguiria dos demais ?
Creio que o exposto até aqui é suficiente para se constatar o quanto b' de
equivocado ao se fundar o estudo da natureza do trabalho do professor na diferenciaçi!)
entre trabalho manual e trabalho intelectual
-47-
NOTAS
( 1 ) "Do ponto de vista metodol6gico isto significa o descobrimento de
uma cone.l.io dialética entre um elemento e a totaUdade, entre um
embriio nio desenvolvido e o sistema desenvolvido e em
funcionamento." ( Kosik, ibid.:l64)
( 2 ) Embora nio seja importante para o estudo aqui desenvolvido nio se
deve confudir o valor com o preço da mercadoria.
-48-
PEÇAS AUXILIARES DE UM MOSAICO HISTÓRICO
Acabo de assinalar, em sfntese, que o agir objetivo do professor ê um trabalho útil
(conseqfientemente, produtivo no sentido genêrico que o termo assume quando alusivo ao
processo de trabalho), cuja natureza, especificidade, nlo pode ser verificada em simples
cisões do tipo trabalho manual/trabalho intelectual; trabalho produtivo/trabalho
Improdutivo •••
Abro espaço Deste momeDto para uma digressio que de certa forma possa DOS
auxiliar Da compreeDdo teórica deste trabalho.
Este estudo pode ser inserido DO campo do trabalho e da educaçio, seDdo que estes
Dlo estio referidos aos seus aspectos mais gerais, aos seus deseDvolvimeDtos históricos
conjuDturais ( Dlo se trata de uma pesquisa histórica "stricto seDSU", mas sim de suas
formas mais gerais Da sociedade capitalista). Embora Dlo seja, fundamentalmeDte, de
meu interesse o estudo do trabalho e da educaçio DOS seus processos de deseDvolvimeDto
nas mais diversas formaçles sodals, Dlo posso deixar de eDteDde-los como resultado de
todo o passado. (1) Se assim Dlo o fosse eles se tomariam meras eDtidades abstratas e Dio
poderiam ser compreeDdidos como fen8meDos sociais, como fatos históricos produzidos
(pelos homeDs). POrtaDtO, Dlo podemos perder de vista as suas gêDeses, deseDvolvimeDtos
e leis, isto ê, as bases materiais e cODtraditórias em que se estruturam.
Após este breve parêDtese, voltemos ao DOSSO temL
-49-
As mlnha~ preocupações nio estio referidas A educaçio em geral, Imprescindível a
toda e qualquer sociedade. Os homens, ao produzirem e reproduzirem a sua vid~
material, constroem, simutaneamente, um conjunto de valores, representações, idéias,
hábitos, conhecimentos que passam a constituir parte dos elementos definidores de um
tipo de sociedade. A educaçio, neste contexto, torna-se Imperativa por ser condiçio
Inconteste à organizaçio (e reorganizaçio) da sociedade. (2) A reproduçio da vida social
exige condições objetivas e subjetivas, Incluindo nestas a transmlssio de hábitos, atitudes,
idéias, a socializaçio e ampliaçio de conhecimentos. Assim a educaçio vai se relacionando
organicamente com o trabalho social. A prática educativa que ocorre no interior de uma
sociedade historicamente estruturada (sendo por ela condicionada e, simultaneamente,
dela condicionante) assume historicamente as mais diversas formas. No bojo destas
modificações dá-se o surgimento do trabalho do professor: a atividade professoral, a que
se destinam alguns homens, se produz no tecido da produçio humana: nio é arbitrária. A
existência de grupos humanos que têm por tarefa espedfica a educaçio de homens é uma
"resposta" ativa a necessidades históricas concretas, "postas" pela produçio material da
vidahumanL
A estreita relaçio entre o sDlgimento de um subconjunto social que tem a seu
cargo a funçio educativa e a divisio do trabalho está presente na Hteratura a que temos
acesso. ENGELS (1984), por exemplo, nos mostra que nas chamadas sociedades
primitivas, nas quais ocorre uma divisio espontAnea do trabalho, onde ainda nio esti
presente uma expU cita diferença entre direitos e deveres, a educaçio Dio era confiada a
ninguém em especial, e ocorria de uma forma difusa no interior do próprio ambiente
vicenciado por jovens e adultos. Nesta mesma direçio aponta PONCE (1986: 19)
-50-
BIBUOTECA I=UNDAÇAo GETOUO VARQM
"Estamos tio acostumados a identificar a Escola
com a Educaçlo, e esta com a noçio individualista
de lUIl educador e lUIl educando, que nos custa um
pouco reconhecer que a educaçio na comunidade
primitiva era uma funçlo espontlnea da sociedade
em conjunto. da mesma forma Que a Hnpuem e a
moral"
o mesmo PONCE (p. 67) Informa a existência, em Roma, em 449 a. C., de um tipo
espedal de comerciante, o ludima&llter, que vendia um tipo especifico de mercadoria: o
conhecimento. Esse artedo (antigo escravo, velho soldado ou proprietúio arruinado)
Instalava a sua loja de Instruçlo em um compartimento alugado, a JHnUIII, entre as
diversas tendas identiftcando-se com os demais comerciantes. Esse professor primirio,
homem que precisava vender a sua força de trabalho para sua sobrevivência, era
discriminado como todos os demais que recebiam uma remuneraçlo por seu trabalho.
Sendo o salário uma prova de Inferioridade, os professores nio eram considerados
ddadios e a sua atividade profissional - bem como as dos escultores e pintores - nio
constava do rol das profissões liberais. Os nio escravos que tinham que trabalhar para
viver enfretavam uma situaçlo bastante adversa: se por um lado eram discriminados
socialmente, por outro tinham a concorrência dos escravos, que produziam por um preço
mais baixo do que o seu.
-51-
LE GOFF (1988) é um outro autor que vincula, de forma exemplar, o surgimento
e o desenvolvimento dos professores enquanto profISsionais com a divisio do trabalho na?
cidades. Indo além, ele reladona, também, este processo com a grande divisio social do
trabalho ddade-campo. Este tipo de intelectual nio é nada mais do que um mestre de
oficio cuja origem se dA no bojo do cresdmento das ddades, ocorrido a partir do skulo
XI com o desenvolvimento dai forças produtivas agrícolas. (3) O pressuposto para o
aparecimento dOI professores como uma categoria profissional ê a divisio social do
trabalho urbano; o surgimento de um ambiente, de um espaço ffsico para o desempenho
de luas atividades - a univenidade - pressup6e um espaço cultural comum que se
contrapõe 1 fragmentaçio rural. As ddades nlo slo simples emptSrios onde se acumulam
mercadorias para o comérdo: slo centros de convergêndas, de contato de homens tio
carregados de mercadorias quanto de idéias, valores, hAbitos, sentimentos; "lugares de
trocas, mercados e encruzilhadas do comérdo intelectual". Para comercializar este
especmco produto humano, hi a necessidade, de acordo com as condições da época, de
existir uma corporaçio que dela cuide: a corporaçio de profissionais e a1unOL Esta
corporaçio é mais uma que vem se Juntar ls divenas univenidades J' existentes e que se
distinguem pelo que produzem. As corporações de offdo, na Idade Média, eram
chamadas de "universidades": a "univenidade" dos ferreiros, a "universidade" dOi
alfaiates, a "univenidade" dos mestres e estndantes. A expressio Universidade de Paris ê
uma forma simptificada de dizer Universidade de Mestres e Estndantes de Paris.
As ddades, centros de organizaçio e difusio cultural, passam, entio, a contar com
uma institniçio de porte que assegura instrnçio sistemAtica, onde h' uma tentativa de
sfntese e assimilaçio da "pagi" mosofia grega por cristios.
-52-
Como a origem e a evoluçlo dessa escola "moderna" se inscrevem no crescimento
da Importincia s6cio-poUtico-econ6mlca das cidades, que se interrelaciona com o declínl!l
rural, para o seu entendimento h' a necessidade de cUvagem entre o ensino mon'stlco e a
escola urbana. Os clérigos, repondvels pelo ensino nos monastérios, tem neste apenas
;~ma entre tantas outras atividades ( o entesouramento e aumento de riquezas, a
adminlstraçlo de seus feudos. •• ) presentes no seu constante "servir a Deus". (É evidente
que nesta açlo eram auxiliados por e outros homens a quem destinavam as tarefas mais
penosas). O aparecimento de homens cuja »rofiulo é ensinar a fazer leituras e escrever se
Ü em cidades. É DO conjunto dos trabalhos urbanos que este tipo de atividade se impõe e
passa a ser alvo de atenções poUtlcas, de disputa dos poderes eclecHstlcos e comunals (o
movimento comunal, que também é citadino, subverte a ordem poUtles medieval ao
manifestar o crescimento e a organlzaçlo do poder burguh).
A contradiçlo entre razio e fé, entre cienela e reUgiio, entre a razlo tradicional
(eminentemente verbal) e a razio que parte 1 busca da conquista do mundo terreno e
entende o homem como passível de modelaçlo e formaçlo estA posta para os mestre de
ensino. Como artedos, 810 simultaneamente produtores e mercadores; tem conscienela
da llgaçlo necesdria entre denela e ensino; do portadores do espfrito racional e cultivam
a curiosidade; 810 de uma época em que a relaçlo entre o conhecimento e a produçlo
artesanal exige uma especlalizaçlo mais complexa, para a qual o observar e o imitar nio
810 suficlentementes; nio estio justapostos 1 burguesia urbana, 810 eles mesmos
burgueses (na acepçio original do termo). Porém 810 também homens medievais que
estio sujeitos a costumes e a tradições predominantes em sua época, estio acuados por
-53-
um sistema de Idéias e crenças mistlflcadoras da reaUdade material, onde impera o
dogmatismo "a priorl".
Neste período, o poder do controle Ideológico é principalmente da Igreja, a ela
cabe autorizar o ensino. Por sua vez, os mestres de ensino se organizam em corporações
próprias quando h' a fase Institucional do desenvolvimento urbano. As corporações
materializam posições adquiridas na dIvIsIo social do trabalho e as comunas a Uberdade
poUtica. É evidente que OI "artedos do espfrlto" terio de se haver com o poder
eclesüstico, que procurar' manter o seu monopóUo. Ao Invés de procurar destruir essas
universidades, o papado lutar' para subJugi-las, perseguindo, por aí, dois Intentos:
dividir a gestio das cidades, quase exduslva dascomUD8I, e ter sob o seu controle
excelentes celeiros de "altos funcionklos" <no sentido gramsdaDo do termo). Ao tr~1as
para o seu domiDIo, o papado tenta transformA-ias em coooraá eçlesJjstica.
buscando assegurar assim o seu monop6Uo em uma Area da produçio citadinL Embora
nascido de um movimento laico, essas universidades do "Iocls" onde atuam dois tipos de
homens: os mestres seculares e os reUgiosos. A submissio dos artedos de ensino ls ordens
reUgiosas nio ocorre sem conmto. No ensaio de LE GOFF, podemos percebê-Io
claramente em dois momentos.
Os mestres do homens que precisam ser remUDerados para sobreviver; para eles,
definir a fonte dessa remUDeraçio é Importante para dar contornos fundamentais lsua
forma de particlpaçio social: receber diretamente dos alUDos ou ser assalariado pela
Igreja é uma questio central para esses profissionais de ensino. A primeira lhes parece ser
a escolha natural, que os afirma deUberadamente como artedos, produtores e
comerciantes; essa determlnaçio estA mais de acordo com a tradlçio trabalhista deste
-54-
tempo, na área urbana, da qual do parte; a sua denela e o seu ensino pretendem vender,.
da mesma maneira que os demais artesios comercializam o produto de seu trabalho. Po~
este mesmo caminho, desejam impedir que o seu trabalho se subordine ao poder temporal
que venha promover o seu assalariamento.
O papado, porém, se opõe a esta posiçio, nlo prescinde do controle de tio
importante e estratégica Instituiçlo, luta para nlo perder o domínio sobre parcela
significativa do trabalho educativo - formativo. Um par de argumentos é utilizado pelos
religiosos contra a posiçlo dos professores. Em primeiro lugar, defendem a gratuidade do
ensino, a mais legitima das razões (nos dizeres de Le Goff), pois assim "asseguravam o
ensino aos estudantes pobres". A segunda delas classifica a pretendo dos professores
como simonia: como dádiva de Deus, a dênela nlo podia ser vendidL
Contudo está aberto, Inexoravelmente, o caminho para um tipo novo de
profissional, que ainda vicenda uma situaçio bastante ambígua ao estar colocado no
centro do emergente conDito na ddade entre duas forças: a laica-burguesa e a eclesiástiCL
AmbigiUdade e conDito que se instalam, como nlo poderia deixar de ser, Das
universidades, que, controladas pelo papado, tem DO seu interior dois distinguíveis
grupos: o dos seculares (de tendencia llaicidade; que possuem um espfrito corporativo,
anticlerical, questionado) e o dos religiosos das Ordem Medicantes (dos contumazes
dominicanos da "prédica" e da luta contra a heresia; dos romlnticos franciscanos que
consideravam a denela como "um obstáculo 1 pobreza, ao despoJameDto e 1 fraternidade
com os humUdes").
O inevitável confronto entre estas duas facções, que teve ampla repercusslo DO
século XIII e princípio do XIV, apresenta, de infdo, aspectos meramente corporativos e
-55-
salariais. Os religiosos rompem com a tradiçio corporativa ao serem "licenciados" para
lecionar sem nenhuma formaçio prévia no interior das corporações. A Isto se acresce ,
fato de negarem a solidariedade profissional ao nio partidparem das greves, ministrando
aulas durante os períodos de parallsaçio das atividades da categoria. A acusaçio feita
pelos seculares aos religiosos é sintetizada no seguinte excerto da obra de LE GOFF:
"Intelectuais que nio receberam a formaçio de base -
dada pela faculdade de Artes, para quem nio se coloca o
problema da subsistência e para quem o direito de greve
nada significa, nio do verdadeiros intelectuais. Nlo do
trabalhadores dentfflcos, pois nio vivem de seu ensino."
(p.83)
Enquanto a Ordem dos Medleantes tenta transpor para o interior das
univenidades dtadinas o ideal monútico, os mestres de ofido do a revelaçio de um
processo, de uma série de transformações sodais e econ6mieas, inclusive de seeularizaçio
de algumas funções da 19reJL Ao definirem o trabalho como única forma Justa de
sobrevivência, os mestres seculares nio estio apenas procurando definir a sua espefiddade
como trabalhador, defendem um principio fundamental de um modo de produçio
emergente. A luta corporativa e salarial é apenas uma ponta do iceberg que, na sua
-56-
essência, manifesta a Incompatibilidade, que se tornar' cada vez mais aguda, entre dois
tipos de sociedade, dois tipos de "natureza humana".
Esses mestres do citadinos por prlndplo, simultaneamente constitufdos e
constituldores de um ambiente em que a vida comerdal-ruldosa e dlnimlca- e a criativa
atividade laboral do as suas caracterfsticas mais evidentes. A dencia como força
"progressista", capaz de tornar maior o poder do homem sobre a natureza e sobre o seu
destino, imprescindível para o desenvolvimento das forças produtivas, assume um poder
nos centros urbanos que nlo pode ser descartada pela simples vontade dogm'tica
reUglosa. A linguagem que convence nlo é mais apenas a que provém dos rellgfosos
medievais; um inovado conjunto de oplnlles se torna coletivo, um elemento e uma força
social; começam a se conjugar de forma irresistivel ls possibilidades de uma classe, com
seus interesses, com suas necesidades hist6ricas ( a burguesia, assim , vai se constituindo
como classe revoluclon4rla). A beligerenda entre os novos mestres de ofido e os
eclesijsticos (organicamente ligados 1 aristocracia fundiúia) j' anuncia o surgimento de
uma sociedade de tipo novo que resulta da superaçlo daquela onde predominam os
poderes poUtlcos e econ8m1cos dos senhores de terras e da Igreja reudals.
A ddade é um espaço sodaI onde j' do engendradas relaçles sodals em que se
questiona o privilégio de nascimento e j' se realça o mérito; aí o homem é um ser que
trasforma e cria, que se entende como parte da natureza que pode por ele ser
compreendida (pela razio) e transformada (pelo trabalho). Produz -se e difunde-se uma
dupla forma de perceber a natureza: por um lado é vista como uma ronte inesgotável de
recursos, como uma "força fecundante"; por outro lado, nio é entendida como um todo
desconexo, mas sim ordenada racionalmente pelo Criador. O homem se coloca como
-57-
centro dessa criaçio, como um ente que, por ser racional, ê superior aos demais seres
vivos (4) e que tem uma natureza externa a servi-lo; constata que no processo de trabalh~
pode ser auxiliado pelas forças naturais e busca conbece-las; auto-denomlna-se
colaborador de Deus no ato de criaçio; desta forma, reabilita o trabalho e promove uma
transformaçio na Imagem da sociedade, na qual do destacados os trabalhadores.
Embora o trabalho e os seus executores tenbam assumido um novo significado
social, nio podemos deixar de destacar que o capital se sustenta no tripé exploraçio,
expropriaçio e allenaçio dos trabalhadores.
Nesse contexto, as escolas do oficinas que produzem, organizam e difundem
idéias, valores e bAbitos, melhor dizendo, procuram auxiliar na produçio de homens com
certos bAbitos, valores, ideais, conhecimentos e pnticas, que se transformario em forças
materiais quando de suas ações. O professor ê reconhecido como um artesio e, como tal,
autorizado a obter remuneraçio pelo desempenho de sua profissio, graças 1 utilidade
social de seu trabalho concreto; como comerciante, se opõe ao entesouramento do
conhecimento, da ciencia; como produtor, com a dessacralizaçio do homem (que
acompanha a dessacralizaçio da natureza da qual ê parte), descobre que ê possivel
modelar e formar outros homens e procura fad-Io. O seu objeto de trabalho, percebido e
tomado do todo da natureza, ê a natureza humanL (5)
Ao destacar fragmentos da história da educaçio, procurei pistas que pudessem
evidenciar que o pressuposto histórico para que o professor seja entendido enquanto
trabalhador ê a divlsio social do trabalho urbano ('); que pudessem expUdtar que o
professor é mais um produtor, cujo trabalho é aceito e remunerado graças ao valor de uso
social que produz.
-58-
Nio considerar a divisio social do trabalho como o Imbito de atuaçlo dos
professores ê deserdi-Ios.
SMITH (1988), ao defender a tese de que a diferença de talento e habilidade entre
pessoas ê muito mais resultante da divido do trabalho do que das características pessoais,
afirma, categoricamente, que é nesta divisio que se deve buscar os fundamentos para se
entender da diferença entre o carregador e o mósofo. Essa posiçio é ratificada por MARX
(1982:122) na seguinte passagem:
"No principio, um carregador difere menos de um filósofo que um motim de
um galgo. A divisio do trabalho é que introduziu um abismo entre ambos."
Após ser verificada que a via que se impõe historicamente para o estudo da
natureza do trabalho do professor é considerA-lo como parte da divisio social do trabalho,
ou seja como um trabalho útH diverso, independente dos demais trabalhos ( mas em
interdependência com eles ), cabe caracterizar esse tipo especifico de trabalho.
As "substAncias particulares" resultantes de trabalho bumano do,
empiricamente, num primeiro instante, caracterizadas pelo seus valores de uso social, pela
sua utilidade; porém, como produtos, como resultados do insufidentes para definir a
natureza dos trabalhos que a produzem.
A natureza de um trabalho deve ser expllcada pelo procedimento especifico para a
produçlo deste valor-de-uso, como processo prAtico de produçlo, através do processo que
se desenvolve para atingir um objetivo especifico.
Como visto anteriomente, a pergunta: o Que é ? para assumir a sua radicalidade
deve ser expressio de uma outra: como é socialmente produzido ?
-59-
Portanto, a definipo da natureza do trabalho do professor deve ser feita pelo
entendimento do processo de trabalho que ele desenvolve no interior da escola, e que ~
relaciona, historicamente, com os diversos trabalhos com que convive.
-60-
NOTAS
(1) "(m) a realidade humana não é apenas produÁo do novo, mas também
re.produÁo (critica e dialética) do passado. A totalização é um processo de
produção e reprodução, de reavivamento e rejuvenescimento." (Kosik, K.
ibid.: 136)
(2) "O cariter social do homem ( ••. ) consiste antes de tudo em que ele demonstra a
própria realidade em uma atividade objetiva. Na produção e reprodução da
vida social, isto é, na criação de si mesmo como ser histórico-sodal, o homem
produz: (1) os bens materiais, o mundo materialmente sensível, cujo
fundamento é o trabalho; (2) as relações e as instituições sociais, o complexo
das condições sociais; (3) e, sobre a base disto, as idéias, as concepções, as
emoções, as qualidades humanas e os sentidos humanos correspondentes. Sem
o sujeito, estes produtos sociais do homem ficam privados de sentido,
enquanto o sujeito sem pressupostos materiais e sem produtos objetivos é uma
miragem vazia. A essIncia do homem é a unidade da objetividllde e di
subjeUyldade." (Kosik, ibid: 1976, p.113)
(3) Hunt (1987:23-5) apresenta a implantação na agricultura do "sistema de trh
campos"- que tem como conseqtiência a transformação nos meios de
transporte, maior produção agrícola e aumento populacional - como principal
-61-
responsável pelo crescimento das cidades e vilas, que por sua vez, levou ao
aprofundamento do confronto ddade-campo.
(4) " ••• o ideal do predomínio humano também repercutia no relacionamento dos
homens entre si, nio apenas no modo de tratarem o mundo natural. Alguns
homens eram visto como animais úteis, a serem refreados, domesticados e
tomados dóceis, outros eram daninhos e predadores, a serem eliminados."
(TIIOMAS, 1988: 56)
Creio ser desnecessário dizer a que homens-animais este autor estA se
referindo.
(5) "A fim de modificar a natureza humana é mister educaçio ou treino."
(MARX, sld: 192)
(6) Nio é por acaso que vemos a educaçio rural constantemente 1 busca de uma
identidade dentro do conteIto da educaçio escolar atual: este tem um cunho
eminentemente urbano.
-62-
(lN)CONCLUSÃO
Enfim gostaria de salientar que o tema desta dissertaçio é por demais complexo e
estA a exigir uma reOexio cada vez maior que venha a romper com outros senso-comuns
que vem norteando certos textos, e, principalmente, fundamentando algumas práticas
sódo - poUtico - econ8micas, e que nio foram aqui questionadas.
Tomei como ponto de partida que o educativo da escola nio estA restrito aos
conteúdos, ao espaço da sala de aula, a uma pretensa livre relaçio entre aluno e professor:
hi todo um educativo na própria organizaçio da escola, no conjunto das relações sociais
que aí ocorrem. A escola nio é um simples veículo para transmissio e circulaçio de idéias,
é também um cenário onde se apresenta uma série articulada de práticas IOdaIs. Através
dessas relações, das diversas normas que as regulamentam, as organizam, homens 810
levados a aceitar, a adaptar-se a relações de identico teor do campo do trabalho permeado
pela lógica capitalista. Nio há nenhuma instituiçio educativa em nossa sociedade capaz de
disciplinar, em quantidade e qualidade, corpos para o mundo produtivo do trabalho como
a escola. Desde cedo, as crianças, os Jovens, os homens que aí ingressam 810 levados a
obedecer a indispensáveis normas rígidas, a hierarquias , a distinções bem marcada de
papéis, a momentos da quietude e a momentos de fala, 1 determinaçio de horários, ao
simbólico do sinaI._
Ouso afirmar que isto tudo é mais importante para o capital do que muitos dos
conteúdos ultrapassados, corroídos, encardidos, encarquilhados,. •• que os diversos graus de
ensino teimam em ensinar a nossos alunos, e que estes, por questio de bom senso, insistem
em esquecer em curto prazo de tempo (quando isto nio ocorre com o próprio professor). A
"educação para o trabalho" é bem efetiva na escola independentemente de existir uma
disciplina que trate especificamente deste tema. Esta é uma problemática que nio foi aq",
estudada, mas creio ser Importante analisar.
Além disto, os demais trabalhadores que atuam na escola para que ela possa
desenvolver sua prática educativa nio sio alvo de atençio na quase totaUdade de nossa
bibUografia. Se há alguma pretendo de uma anáUse mais aprofundada do processo de
trabalho escolar (que alguns penistem em Identificar com o processo de trabalho do
pedagogo), estes homens nio podem ter o seu trabalho útU desconsiderado.
Apresentamos, assim, alguns aspectos do tema desta dissertação que ainda estio a
exfgfr um melhor estudo. Imagino que muitos outros poderio se apresentar Aqueles que
seguiram os nossos passos; se por ai algumas dúvidas foram desfeitas e outras inquiteaçôel
surgiram, o nosso trabalho nio foi em vio, apesar de suas Umltações.
I,BUOTECA FUNDACAo GETIlLlO VARGAS
Dissertação apresentada aos Srs.:
Nome dos
Componentes da
Banca Examinadora
"
Visto e permitida a impressão
Rio de Janeiro, ~/ ~/ _1_9_9_3 __ __
Coordenador Geral do IESAE
~ .. $ INSTITUTO DE ESTUDOS AVANCADOS EM EDUCACAO ~ FUNDAÇAO Praia de Bota fogo, 184 e 186 • ZC· 05
GETULIO VARGAS
PARECER
A Comissão de Exame, designada pela Resolução n9
19/1993, do Coordenador Geral do IESAE/FGV, para julga~ a
dissertação intitulada: "ESTUDO DA NATUREZA DO TRABALHO DO
PROFESSOR: PRESSUPOSTOS METODOLOGICOS", de autoria do aluno
CARLOS ROBERTO ALEXANDRE e composta pelos abaixo ássinados,
após a apresentação pública da mesma pelo candidato e de
ter este respondido às argüições que por seus membros foram
feitas, concorda em que a referida dissertação merece ser
aprovada com louvor, sendo sugerida a sua publicação.
iro, 30 de setembro de 1993.