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BULLYNG EM SEGREDO1: O PROBLEMA DE EVASÃO NAS ESCOLAS DE FOZ DO JORDÃO - PARANÁ

ROSELI DE ARAÚJO SEIBEL2 FRANCISCO FERREIRA JÚNIOR3

RESUMO

O objetivo deste artigo é mostrar o resultado do projeto idealizado e implantado nas escolas do município de Foz do Jordão, fazendo uma breve análise dos tipos de violências que as escolas vêm enfrentando ao longo da História da chegada dos primeiros habitantes na região. Essa violência sob a forma de preconceito e discriminação que não é vista somente nas referidas escolas, vêm sendo tema de estudos por todo o Brasil e pelo mundo. Inicialmente esse artigo contará brevemente como os primeiros habitantes chegaram à região e posteriormente apresentará os dados levantados durante a execução do projeto contra o bullying cometido, principalmente contra esses habitantes. Para finalizar, serão apontados alguns fatores que precisam ser considerados para que as consequências do bullying sejam conhecidas por todos os envolvidos no processo de ensino/aprendizagem nas escolas de Foz do Jordão. Foi em busca de tentar sanar – ao menos em parte – essa discriminação que esse projeto foi idealizado, implantado, executado e esse artigo visa mostrar os resultados alcançados. PALAVRAS-CHAVE: Preconceito; Bullying; Evasão.

ABSTRACT

The aim of this paper is to show the result of the project designed and implemented in schools in the city of Foz do Jordão, a brief analysis of the types of violence that schools have faced throughout history the arrival of the first inhabitants in the region. This violence in the form of prejudice and discrimination that is not only seen in those schools have been the subjects of studies throughout Brazil and the world. Initially, this article will briefly how the first inhabitants arrived in the region and then present the data collected during the execution of the project against bullying committed, especially against these people. Finally, be pointed out some factors that need to be considered for the consequences of bullying are known to everyone involved in the teaching / learning in schools in Foz do Jordão. It was in search of trying to remedy - at least partly - the discrimination that this project was conceived, implemented, executed and this article aims to show the results achieved.

KEYWORDS: Prejudice; Bullying; Evasion

1 Segredo era o antigo nome do que é hoje o município de Foz do Jordão - PR, onde o projeto foi executado. O Colégio Estadual da cidade leva esse nome. (Nota da Autora). 2 Professora PDE. 3 Professor Orientador

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INTRODUÇÃO

O Brasil está em seu pleno desenvolvimento, porém sua realidade reflete a

discriminação social, onde poucos desfrutam de riquezas e tudo o que o dinheiro

pode comprar, e muitos vivem com dificuldades, sem moradia digna, educação,

saúde, trabalho e motivações para crescerem, gerando uma desigualdade social

alarmante.

Através de pesquisas realizadas no município de Foz do Jordão, nos

deparamos com a discriminação na comunidade de Xaxim (interior deste município),

onde várias famílias possuem poucas condições econômicas e, em decorrência

disto, observa-se entre outros problemas, um alto índice de evasão escolar, um dos

focos principais dessa pesquisa.

A comunidade de Xaxim situa-se no município de Foz do Jordão no estado

do Paraná, anteriormente distrito de Candói, quando era conhecido como Segredo.

Sua população é formada por remanescentes dos índios Kaigang4 que chegaram à

região com os padres em missões jesuíticas. A atual cidade de Foz do Jordão têm

diversas histórias e lendas sobre sua origem. As histórias são muitas, mas

Conta uma delas, que na época dessas missões, os religiosos que estavam em Guaíra-PR, catequizando os índios, tinham acesso a locais de onde estes retiravam pedras preciosas, e mais tarde com a chegada de bandeirantes nessa região, os jesuítas acabaram sendo expulsos e levaram consigo muitas dessas pedras preciosas. Em seu caminho de volta para o litoral, os jesuítas, exaustos pela longa viagem, pararam na região do "encanelado" do Iguaçu - área próxima a atual Foz do Jordão - e ali deixaram várias dessas pedras preciosas escondidas no local. Com o tempo muitas pessoas procuraram o Segredo dos Jesuítas. Sendo uma das prováveis origens do nome Segredo, no qual seria por muito e muito tempo conhecida, a Atual Foz do Jordão5.

Conforme se observa no texto supracitado, a região foi formada por vários

tipos de pessoas, desde religiosos até os índios. Uns que já habitavam a região e

4 Os contatos “amistosos” de grupos Kaingang com a sociedade luso-brasileira iniciam-se por volta de 1812 na região de Guarapuava, no centro do Paraná. Acesso em 29 de janeiro de 2012. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/57037642/Habitacao-e-Acampamentos-Kaingang-hoje-e-no-passado 5 http://www.fozdojordao.pr.gov.br/dadoshistoricos.php - acesso em 30 de dezembro de 2011.

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outros que vieram junto com os missionários jesuítas e acabaram ficando para trás

quando os jesuítas foram expulsos da região com a chegada dos bandeirantes.

Segundo pode se perceber historicamente, esse abandono dos índios pelos jesuítas

têm reflexos que ainda hoje são fortemente sentidos nessa comunidade.

A comunidade de Xaxim pode ser entendida em um primeiro momento,

como uma comunidade “fechada6”, pois eles sentem dificuldade em confiar em

pessoas de fora dos seus círculos de relações, por motivos já citados anteriormente,

ou seja, quando foram deixados para trás pelos jesuítas. Mas o maior problema

enfrentado pela comunidade é com as suas crianças e adolescentes, quando esses,

deixam suas casas para frequentar a escola.

Por sua cultura ser diferente da cultura dos outros alunos da escola, as

crianças e adolescentes da comunidade de Xaxim, acabam por se tornarem alvos de

outros alunos, que os atacam, tanto física, quanto verbalmente, deixando os

educadores, por muitas das vezes, sem saber como agir para resolver a situação de

uma maneira satisfatória para ambos os lados. Essa prática vem sendo abordada

por vários canais midiáticos e é mundialmente conhecido como Bullying que

é uma das formas de violência que mais cresce no mundo", afirma Cléo Fante, educadora e autora do livro Fenômeno Bullying: Como Prevenir a Violência nas Escolas e Educar para a Paz (224 págs., Ed. Verus, tel. (19) 4009-6868). Segundo a especialista, o bullying pode ocorrer em qualquer contexto social, como escolas, universidades, famílias, vizinhança e locais de trabalho. O que, à primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa7.

Para explicar um desses reflexos sentidos na comunidade de Xaxim nos

dias de hoje, que o projeto foi idealizado, implementado e executado nas duas

escolas existentes no município, sendo a Escola Municipal Emílio Barbiere e Colégio

Estadual de Segredo – Ensino Fundamental e Médio, conforme estabelecido no

projeto,

6 Entenda-se para fins desse artigo que a palavra fechada, designa uma comunidade que prioriza as relações com os seus, evitando contatos maiores com pessoas de fora. (Nota da autora). 7 http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/bullying-escola-494973.shtml - Acesso em 23 de janeiro de 2012.

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os alunos da Comunidade de Xaxim sempre sofreram preconceito, por serem baixinhos. Por isso acabam desistindo da escola, por que sempre sofreram preconceito dos colegas e comunidade em geral. Meu projeto será trabalhado com professores da rede municipal e estadual para que em cada área de atuação os professores realizem um trabalho contra o Preconceito, Discriminação, Bullying em sala de aula. Procurar principalmente elevar a autoestima dos alunos em questão.

Conforme pode ser observado na idealização do projeto, o foco desse artigo

girará em torno dos habitantes da comunidade de Xaxim que sofrem com o

preconceito e discriminação, resumindo-os na palavra Bullying, que foi definida

como:

uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas. O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como ameaça, tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato8.

Por atitudes como essa, percebeu-se que os alunos provenientes dessa

região do município de Foz do Jordão, não conseguem concluir o Ensino Médio,

consequentemente, não ingressam no Ensino Superior, ficando assim excluídos das

atividades oferecidas para os que já cursam uma faculdade, por exemplo, estágios

remunerados e até mesmo cargos efetivos que necessitem de diploma.

O preconceito e a discriminação racial ainda são temas difíceis de serem

abordados pelos professores nas salas de aula. Quando surge algum caso de

racismo entre os alunos, a maior parte dos docentes tem dificuldade para controlar a

situação e muitas vezes, acaba – mesmo sem querer ou perceber - por reforçar o

preconceito.

Durante a pesquisa para elaboração do projeto que foi implantado na escola,

detectou-se dificuldades na aprendizagem, notas baixas, pouca participação nas

aulas e muitas desistências de alunos, que na maioria das vezes, não retornam à

escola no ano seguinte. A consequência decorrente dessa decisão torna-os

dependentes de uma sociedade excludente, pois sua condição deixa-os vulneráveis

e sujeitos à marginalização.

8 Idem.

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Na escola, os educadores muitas das vezes sem conhecer o perfil desses

alunos e o contexto familiar e cultural a que estão inseridos, acabam por não saber

como trabalhar com esses alunos de uma forma que desenvolva seu potencial

socioeducativo.

Fatores externos e internos que envolvem os alunos influenciam diretamente

na sua aprendizagem sem poderem vencer essas barreiras, eles desistem da escola

sem mesmo lutarem contra essas situações herdadas há décadas e talvez há

séculos.

Foi com o objetivo de entender a real situação das escolas de Foz do

Jordão, que esse projeto foi desenvolvido e esse artigo objetiva mostrar essa

realidade ao mesmo tempo em que busca uma forma de ajudar a sanar esse

problema.

DESENVOLVIMENTO

Para saber melhor a situação do bullyng nas escolas do município de Foz do

Jordão, e que providências poderiam ser tomadas para resolver esse problema, o

projeto foi implantado pelos professores, executado e buscado os resultados através

de questionários respondidos por esses mesmos professores.

A primeira indagação aos professores que participaram do projeto, diz

respeito à agressão dentro das suas salas de aula. Foi perguntado: “Já aconteceu

de, em sua sala de aula, atos agressivos praticados por alunos contra os colegas de

turma?”. Cerca de 90% (noventa por cento) dos professores responderam que sim e

somente 10% (dez por cento) responderam que não.

Desses 90% que afirmaram que presenciaram agressões aos colegas em

suas salas de aula, alguns descreveram a forma de agressão:

Um aluno chamou a colega de cabelo de Bombril, percebi quando a vi com o cabelo pranchado e perguntei: seus cachinhos são lindos, prefiro sem prancha! Aí os colegas me contaram o motivo; começam com brincadeiras, mas estas se tornam repetitivas e de mau gosto; agressão física (leve); alguns colegas realizaram agressões verbais a uma determinada aluna denominando-a Bombril, neguinha encardida, etc.. (A aluna e os agressores foram encaminhados à

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equipe pedagógica e a situação foi resolvida); já aconteceram atos de violências físicas (socos e empurrões) e verbais (palavrões)9.

Os demais professores (as) que afirmaram terem presenciado atos

agressivos em suas salas de aula, não especificaram quais foram esses atos. Mas,

segundo Almeida (2007: p. 108),

os maus tratos se distinguem de outras formas de agressão por seu caráter repetitivo ou sistemático, pela intenção de causar danos ou prejudicar alguém; que é habitualmente percebido/a como mais fraco/a ou está em uma posição fragilizada e dificilmente pode se defender. A recorrência, a intencionalidade e a assimetria caracterizam as situações de agressão como abuso de poder, no entanto, também pode acrescentar-se que estes comportamentos e atitudes não são necessariamente provocados pelas vítimas10.

Conforme Almeida (2007), o bullying está geralmente direcionado àquelas

pessoas que se encontram ou se sentem mais fragilizados e que não tem condições

de se defender das situações de abusos e agressões, deixando claro que – por

muitas das vezes – esse comportamento não é provocado pela vítima.

A segunda indagação realizada aos professores (as) foi a respeito da

participação dos pais na vida dos filhos na escola. “E os pais estão atentos na

mudança de comportamento de seus filhos e procuraram você professor (a) para

tratar do assunto? Dos professores (as) que participaram do projeto, 50% (cinquenta

por cento) responderam que não, ou seja, que os pais não procuram a escola ou um

dos professores para tentar resolver o problema e, 50% (cinquenta por cento)

responderam que somente as vezes isso acontece.

Observa-se nesse aspecto, que alguns dos pais, não sabem o que acontece

com seus filhos na escola, pois as respostas dos professores (as) a esse

questionamento foram relativamente diferentes conforme se observa:

Os pais geralmente não sabem o que acontece no colégio, às crianças não contam, na maioria das vezes ficam com vergonha; a participação dos pais na escola ainda é pequena; nunca procuraram

9 Arquivo Pessoal da Autora (APA). 10 ALMEIDA, A. C. & CAURCEL, M. J. ¿Por qué ocurren los malos tratos entre iguales? Explicaciones causales de adolescentes portugueses y brasileños. Lisboa: Revista Interamericana de Psicologia, 2007. p. 107-118.

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por esse motivo; até o presente momento nenhum pai procurou-me para relatar esse tipo de reclamação, pois não houve até o presente, violência de forma grave; são raros os casos, mas já aconteceu de pais virem à escola para tratar deste assunto; cada vez mais estão vindo. Porém ainda é raro os pais procurarem nós professores; alguns pais sim, mas os alunos problemas os pais nem aparecem; raramente, em geral os assuntos relacionados a comportamento escolar são provocados pela equipe pedagógica, caso contrário os pais sequer observam o comportamento dos filhos no dia-a-dia da escola; é bastante comum à visita de pais que demonstram preocupações sobre o envolvimento de seus filhos em discussões, ou até mesmo sobre determinados apelidos recebidos11.

Conforme a resposta dos professores observa-se que na maioria das vezes,

os pais não participam da vida escolar de seus filhos e não procuram os professores

e/ou a equipe pedagógica para entender e procurar resolver a violência física e

verbal que acontece com seus filhos, isso talvez por acreditarem, como muitos pais

acreditam que é obrigação da escola educar e ensinar também os valores morais

que tem as suas bases socialmente construídas, intrinsicamente no seio familiar.

A terceira indagação feita aos professores objetivava saber formas de

identificar os alunos vitimados pelo bullying nas escolas, por isso perguntou-se aos

professores “Como suspeitar que um aluno está sofrendo bullying na escola?”. As

respostas a esse questionamento foram diversas, tais como:

por atos repetidos; a primeira coisa é a mudança de comportamento, o isolamento no colégio, ficam sozinhos e se afastam dos colegas; quando ele começa a se retrair, ficar mais calado, não se envolve com os outros; agressão, timidez, apático; o professor deve estar atento na sala de aula e perceber se algum aluno está recebendo apelidos ou agressões repetidas, pois o aluno demonstra-se calado e muitas vezes não participa das atividades realizadas; quando percebe que ele está muito apático ou agressivo; quando este apresenta-se de maneira tímida e assustada12.

Pelas respostas dadas pelos professores que participaram do projeto, nota-

se que de uma forma geral a maioria dos professores sabem como identificar os

alunos vítimas do bullying em sala de aula. Mas identificar é só o primeiro passo no

caminho ao combate a essa prática.

11 APA. 12 APA.

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Há um ponto, então, que merece atenção: aqueles que sofrem bullying e não falam com ninguém, apesar de terem sido maltratados. Isso vem confirmar as dificuldades que muitas crianças e adolescentes têm para lidar ou enfrentar a violência que sofrem no interior da escola13.

Já, no que concerne o combate ao bullying pela escola foi indagado: “o

bullying está sendo combatido amplamente em sua escola?”. As respostas a essa

questão foram impressionantes. Dos participantes, 60% (sessenta por cento)

responderam que sim, 30% (trinta por cento) responderam que não e, 10% (dez por

cento) responderam que às vezes. Alguns dos professores acrescentaram

explicações às respostas, tais como

os professores não estão preparados didaticamente para lidar com determinadas situações; esse tema está sendo trabalhado pelos professores, mas precisa ser combatido por todos; quando acontece esse tipo de ato, a direção chama os alunos para conversar e tenta da melhor maneira possível controlar a situação; os alunos trabalham nas disciplinas o tema e se aparece algum caso o professor e a equipe pedagógica conversa com o agressor e o aluno que sofre as agressões para solucionar o caso; é orientado a todos os professores para trabalharem em sala de aula; se conversar é combater, nesse sentido está sendo; na escola não é permitido, quando acontece é conversado; a prática às vezes é aceita como acontecimento normal14.

Nota-se a partir dos posicionamentos dos (as) professores (as) que o

assunto bullying nas escolas e salas de aula ainda é confuso e,

quando não há intervenções efetivas contra o Bullying, o ambiente escolar torna-se totalmente contaminado. Todas as crianças, sem exceção, são afetadas negativamente, passando a experimentar sentimentos de ansiedade e medo. Alguns alunos, que testemunham as situações de Bullying, quando percebem que o comportamento agressivo não trás nenhuma consequência a quem o pratica, poderão achar por bem adotá-lo15.

13 FRANCISCO, Marcos Vinicius. & LIBÓRIOA, Renata Maria Coimbra. Um Estudo sobre Bullying entre Escolares do Ensino Fundamental. Presidente Prudente: UNESP, 2009. p. 206. 14 APA. 15

LOBATO. Gerciene de Jesus Miranda. et. al. A Interferência do Bullying na Permanência do Aluno Negro em Sala de Aula. p. 08 e 09.

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Levando em conta que o município de Foz do Jordão, conta somente com

duas escolas, sendo uma municipal, encarregada dos anos iniciais do ensino

fundamental e uma estadual que é encarregada dos anos finais do ensino

fundamental e do ensino médio, e que o projeto foi realizado nas duas escolas, as

respostas mostram discrepâncias que nos levam a questionar como o bullying é

entendido entre os professores.

Agredir física e verbalmente outra pessoa é passível de punição nos termos

das leis do nosso país, mas a maioria dos nossos estudantes não sabe, ou não se

interessam em saber quais são os seus direitos e deveres como alunos, como filhos,

como cidadãos.

Para averiguar até que ponto os alunos estão cientes disso, questionou-se

aos professores: “Você tem trabalhado em sala de aula as diferenças e os direitos

dos alunos? Como eles se comportaram diante do assunto exposto?”. Como

resposta a esse questionamento, 90% dos professores alegaram que trabalham

esses temas com os alunos em suas aulas e 10% afirmaram que é complicado, pois

professores alegaram que

os alunos reagem com espanto, mas na maioria das vezes com indiferença”; citam algumas situações ocorridas por eles; muitas vezes ficam estarrecidos com as consequências do bullying nas exposições feitas; os aluno reagem de forma positiva; esse assunto é amplamente trabalhado, porém alguns alunos repetem a falta de respeito com os colegas. Mas, a maioria dos alunos sabe o que é bullying e como devem agir perante a situação; sempre e conversando com eles; é complicado porque tem criança (aluno) que não tem limite e na visão dele tudo na maioria das vezes é brincadeira; mais eles só querem os direitos e levam na brincadeira; o assunto já fora abordado com os alunos por diversas vezes.

Nota-se que por mais que seja abordado o assunto bullying com os alunos,

os professores ainda sentem dificuldade para tomar alguma atitude visando coibir tal

prática em sala de aula. Os alunos sabem o que é o bullying, mas quando se trata

de justificar as suas ações, usam o argumento de que estavam apenas fazendo uma

brincadeira.

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Em Martins (2005) 16, pode-se observar que os jovens gostariam de poder

contar com a ajuda dos professores para coibir o bullying, mas na maioria das

vezes, os professores não sabem como agir, por falta de um preparo mais

direcionado, mesmo os professores demonstrando preocupação com o que vem

acontecendo em suas salas de aula.

Outro ponto passível de discussão foi o ato do bullying – mesmo que

disfarçado – cometido pelos próprios professores. O questionamento levantando foi:

“Professor você já menosprezou a capacidade intelectual de algum aluno em sala de

aula?”. Apesar de muitos professores realmente menosprezarem a capacidade

intelectual de alguns alunos, se recusam a admitir publicamente que o fazem.

Dos professores que participaram do desenvolvimento do projeto nas duas

escolas de Foz do Jordão, 20% deles afirmaram que já duvidaram da capacidade de

seus alunos, 60% negaram que em algum momento tenham menosprezado o

intelecto dos alunos e apenas 10% responderam de forma vaga conforme se

observa a seguir:

Acredito que cada aluno é único, sendo assim sua capacidade de anexar conteúdo difere de aluno para aluno. Respeito o limite de cada um, ninguém é bom em tudo; nosso papel não é esse. Pelo contrário devemos fazer com que ele se sinta capaz; sempre digo que eles são capazes de produzir mais; ainda não aconteceu isso em minhas aulas; cada aluno é único. E o professor deve sempre trabalhar a individualidade de seu aluno, pois alguns alunos tendem a melhorar. E os que são bons, podem muitas vezes regredir; sempre incentivo os alunos que eles são capazes; teve momento que achei que determinado aluno não conseguiria realizar a contento determinada atividade; capacidade todos possuem, embora muitos não sabem aproveitá-la.

Percebe-se que alguns dos professores entendem que cada aluno possui a

sua individualidade, o seu tempo e, que isso não significa que ele é mais ou menos

capaz do que seus colegas de classe. Ele é apenas único, reunido a outros que

também são únicos e, é com essa individualidade de cada um dentro de uma sala

da aula que o professor precisa trabalhar. Por isso, é comum – mesmo sem

16 MARTINS, M. J. D. Agressão e vitimação entre adolescentes em contexto escolar: Um estudo empírico. Porto Alegre: Análise Psicológica, 2005. p. 401-425. Disponível em http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aps/v23n4/v23n4a05.pdf - Acesso em 30 de junho de 2012.

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admitirem – que os professores acabem por estereotipar os alunos com menor

rendimento.

A próxima indagação feita aos professores objetivava saber sobre a reação

dos professores ao presenciarem atos de bullying. Foi questionado: “Como deve ser

a reação do professor diante de casos de bullying em sala de aula?”. A

predominância nas respostas, ou seja, 60%, diz que é necessário conversar com

ambos os alunos, o que sofreu e o que cometeu o bullying, tentando resolver o caso

dentro da sala de aula, caso haja reincidência, procurar a equipe pedagógica e

posteriormente os responsáveis por esses alunos. No entanto, 30% dos professores

que participaram do projeto dizem que se deve imediatamente comunicar a equipe

pedagógica e/ou a direção da escola, se abstendo assim do problema e, 10%

responderam de forma mais agressiva, dizendo que o bullying é um ato criminoso e

que a pessoa que o praticou deverá arcar com as consequências.

No que tange a saúde emocional e o bem-estar de discentes e docentes na esfera escolar, Palácios e Rego (2006) fizeram uma análise da literatura, com o objetivo de apontar o bullying não como um mero problema estudantil, mas como um fenômeno no qual a relação entre professores e alunos deve ser considerada17.

Para procurar compreender quais atitudes as escolas de Foz do Jordão

devem tomar para combater o bullying, era necessário saber os tipos de agressões

que existem nas duas escolas e, portanto, foi questionado: “Que tipo de bullying são

mais cometidos na sua escola?”. As respostas foram impressionantes, tais como

“apelidos, exclusão social; discriminação; brigas; contra raça (cor) ou obesidade;

secos, pobres, negros, brancos, burros etc.; apelidos constantes e taxação de gordo,

relacionados mais com o perfil físico; racismo, situação econômica principalmente”.

Em estudos a respeito do Bullying, notou-se um padão, ou seja,

a vítima costuma ser a pessoa mais frágil, com algum traço destoante do “modelinho” culturalmente imposto pelos seus pares, traço este que pode ser físico (uso de óculos, obesidade, alguma deficiência, muitas espinhas), emocional (timidez, introversão) ou relacionada a outros aspectos culturais, étnicos ou religiosos. A

17 FRANCISCO, Marcos Vinicius. & LIBÓRIOA, Renata Maria Coimbra. Um Estudo sobre Bullying entre Escolares do Ensino Fundamental. Presidente Prudente: UNESP, 2009. P. 2001. Disponível em: www.scielo.br/prc - Acesso em 22 de junho de 2012.

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origem pode estar num apelido de mau gosto, em ameaças de agressão ou simplesmente em atitudes de desprezo, onde a escola, um importante agente socializador para o adolescente, pode vir a tornar-se um “campo inimigo” para o mesmo, e levá-lo a ser ridicularizado pelo grupo e consequentemente torná-lo mais frágil18.

Esses alunos são os que mais sofrem as consequências dessas práticas

que podem refletir em seu desempenho escolar, na sua relação com a família e com

a sociedade, podendo também causar problemas em seu futuro. Focando apenas

nos problemas que o Bullying possa gerar na escola, pode-se destacar

além de um possível isolamento ou queda do rendimento escolar, crianças e adolescentes que passam por humilhações racistas, difamatórias ou separatistas podem apresentar doenças psicossomáticas e sofrer de algum tipo de trauma que influencie traços da personalidade. Em alguns casos extremos, o bullying chega a afetar o estado emocional do jovem de tal maneira que ele opte por soluções trágicas, como o suicídio19.

Observa-se que a predominância das situações de bullying em Foz do

Jordão são mais verbais do que físicas, mas isso não significa no entanto que elas

sejam menos grave e,

quando não há intervenções efetivas contra o Bullying, o ambiente escolar torna-se totalmente contaminado. Todas as crianças, sem exceção, são afetadas negativamente, passando a experimentar sentimentos de ansiedade e medo. Alguns alunos, que testemunham as situações de Bullying, quando percebem que o comportamento agressivo não trás nenhuma consequência a quem o pratica, poderão achar por bem adotá-lo20.

Uma das possibilidades para tentar preparar os professores para

enfrentarem situações de bullying em sala de aula, é a formação. Com relação a

isso foi questionado: “Já assistiu ou participou de palestras antibullying? Obteve

resultados concretos”? Todos os professores que participaram do projeto, falaram

18 LOBATO. Gerciene de Jesus Miranda. et. al. A Interferência do Bullying na Permanência do Aluno Negro em Sala de Aula. Pará, 2009. 19 http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/bullying-escola-494973.shtml - Acesso em 23 de janeiro de 2012. 20 LOBATO (p. 08 e 09).

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que já participaram de palestram que contemplam o tema, mas desses, 50% apenas

afirmaram que obtiveram resultados e, dentre os participantes as respostas foram

Eu já participei, vi que pessoas já participaram, porém não colocam em prática tais ensinamentos; já participei de palestras sim, pois procuro dialogar com os alunos e estar sempre explicando que não se deve; já fiz um curso. Os resultados quando necessário concretizo-os; os resultados foram os melhores possíveis pois a palestra fez com que os alunos e professores aprendessem mais sobre o assunto e os casos se tornaram menores; com a patrulha escolar, ótimos resultados; nem sempre; já assisti e participei. Isso ajuda a separarmos o que é bullying e o que não é; bullying é tudo o que não faz bem ao outro; alguns21.

Nota-se pelas respostas dadas pelos professores que alguns tentar coibir o

bullying até mesmo com a ajuda da patrulha escolar, mostrando a que ponto a nossa

sociedade chegou ao precisar da interferência da polícia militar para resolver os

problemas dentro das escolas. Isso faz com que levantemos o questionamento de

que como família estamos fazendo por nossas crianças e como a sociedade está

respondendo a isso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como resultado da execução desse projeto nas escolas do município de Foz

do Jordão, percebe-se que o bullying é vivido de todas as formas nesses ambientes.

Ele é praticado com agressões verbais, físicas, brincadeiras de mau gosto

repetitivas, que chegam por muitas vezes a necessitar da intervenção da equipe

pedagógica. Mas identificar os focos do problema na escola, não é resolvê-lo. A

equipe pedagógica não pode resolver tudo sozinha e facilitaria na resolução desse

tipo de problema, se os pais se inteirassem mais sobre a vida escolar de seus filhos.

Procurar a escola somente quando algo de muito grave acontece, não é

participar da vida escolar dos filhos. As escolas e os pais não podem esperar que

algo extremo aconteça para com os seus filhos e alunos para intervir. Cabe aos pais

em casa, observar mudanças de comportamento nos filhos que geralmente ficam

agressivos e irritadiços ou quietos, tristes e isolados, e cabem aos professores e à

21 APA.

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equipe pedagógica, ficarem atentos para os alunos que não conseguem trabalhar

em grupos, que têm notas baixas e se isolam, pois esses são geralmente sinais de

alerta de que alguma coisa está errada com os alunos que se encaixam nesse perfil.

A participação dos pais na escola de forma voluntária e não por convocação

da equipe pedagógica, traz um nível de confiança aos alunos e aos professores que

perceberão que com esses pais, eles podem contar para ajudar a resolver os

problemas dessas crianças e/ou adolescentes, dando a eles a segurança de que

precisam para se abrirem com os pais e professores quando necessário.

Mas saber identificar os alunos que sofrem com isso não basta, pois não traz

soluções efetivas e, a escola incentivar o combate ao bullying não significa que ela

está preparando os professores para isso, pois a alegação de alguns, é de não

estarem preparados didaticamente para determinadas situações, mesmo recebendo

orientações para que se trabalhe esse tema em suas aulas. Mas para que esse

trabalho de resultado, a escola não deve ter uma posição paternalista, encarando

essa prática como acontecimento normal, pois esse posicionamento como esse por

parte da escola - por muitas vezes - acaba por reafirmar esse tipo de atitude.

Durante a execução e levantamento de dados após o desenvolvimento do

projeto, observou-se que os professores ainda não entendem completamente como

trabalhar com essa questão nas salas de aula. Essa constatação traz a tona o

comprometimento da Instituição Escola22, ao combate real ao bullying e não

somente como uma forma de dizer que está fazendo alguma coisa para combater tal

prática discriminatória e excludente.

Não basta também falar com os alunos em direitos e deveres, sem colocar

em prática o que é bonito no papel. Muitos dos nossos alunos não conhecem os

seus direitos e deveres e poucos dos que conhecem, só querem garantir os seus

direitos, ignorando que junto com os direitos, estão os deveres e, por muitas vezes

utilizam-se desses direitos de forma distorcida, não levando em conta que o seu

direito acaba quando começa o direito do outro. São em ocasiões como essa, que o

bullying acontece.

22 Seguindo a linha de pensamento de Durkheim, a escola, assim como as demais instituições sociais, tem a função de imprimir sobre as novas gerações valores morais e disciplinares que visam à perpetuação da sociedade tal como ela está organizada quanto à ordem e no respeito aos poderem dominantes. MARÇAL. Jairo. et. al. Sociologia / vários autores. Curitiba: SEED-PR, 2006. p. 75.

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O que os alunos, os professores, a escola como instituição social e a

sociedade precisam entender, é que quanto mais se aumenta os direitos de alguém,

juntamente com esses direitos, aumenta também a responsabilidade de cada

pessoa.

É necessário levar às escolas uma forma eficiente de coibir o bullying. Os

alunos, professores e a escola sabem o que é o bullying e admitem que encontram

alguns problemas em suas salas de aula. Mas abordar o tema – levando na

brincadeira como alguns alunos fazem - somente quando alguma coisa acontece,

não é trabalhar para evitar que tal prática aconteça.

Para um resultado eficiente, o bullying deve ser combatido, diariamente,

tanto dentro quanto fora da sala de aula, até mesmo entre os professores que por

vezes, quando alguns alunos não alcançam a nota mínima, começam a duvidar da

capacidade intelectual desses alunos, ao invés de encontrar uma nova abordagem

que desperte o interesse do aluno para o tema proposto.

A alegação de que os alunos não sabem aproveitar a capacidade que tem,

pode se voltar contra os próprios professores se analisarmos a alegação com outros

olhos. Será que é aluno que não sabe aproveitar a capacidade que tem, ou o

professor que não está interessado em enxergar essa capacidade, pois poderia

acabar por aumentar a sua já extensa carga de trabalho? Saber respeitar o tempo e

a individualidade de cada aluno é um fator determinante na relação professor/aluno

no processo de ensino/aprendizagem.

Não resolve os problemas de bullying na escola quando os professores, em

suas salas de aula se abstêm do problema, passando os envolvidos para a equipe

pedagógica. A linguagem utilizada pela escola deve ser única para que as ações

tomadas deem resultado.

Somente conversar com alunos como forma punitiva, só faz com que os

alunos se rebelem cada vez mais. As conversas deverão acontecer com o intuito de

conscientizar os envolvidos de que tal prática pode afetar psicologicamente o colega

pelo resto de sua vida e, que também é punida nos termos das leis que regem o

país.

Não adianta a equipe escolar e os pais só se preocuparem em tomar as

devidas providências para combater o bullying quando ele chegar às agressões

físicas. Quando chega as agressões físicas, significa que o problema já pode ser

considerado grave, pois teve suas origens nas agressões verbais. Se as agressões

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verbais forem combatidas no início, é possível resolver o problema, ou ao menos

amenizá-lo, ao invés de esperar que algo de extremos aconteça, ou seja, quando as

agressões passam a serem físicas.

A questão racial no contexto escolar se baseia numa visão eurocêntrica, monocultural, discriminatória, de caráter racista e excludente, e sendo assim a escola reproduz o racismo presente na sociedade brasileira, visto que na escola estão todas as contradições presentes na sociedade23.

O bullying existe, e faz parte da realidade de todas as escolas e da

sociedade e, as dificuldades que surgem na hora de combatê-lo, estão

intrinsicamente ligada à falta de recursos e informações sobre como lidar com os

vários tipos de violência que acontecem dentro do ambiente escolar. Uma das

possibilidades para preparar os professores para o combate ao bullying é levar esse

questionamento para as universidades, para as escolas e para todas as esferas da

sociedade, visando elaborar e executar uma ação que realmente seja definitiva

contra o bullying.

Um ponto que é importante levantar, mesmo que não tenha sido abordado

na presente pesquisa, mas que futuramente poderá ser o tema de mais um estudo

contra o bullying, é o fato de que quando existe violência física ou verbal nas

escolas, ambos são alvos deles, ou seja, tanto os meninos, quanto as meninas.

Gomes et. al. (2007), em seus estudos contra o bullying, concluiu que os

meninos na maioria das vezes, são agredidos só por meninos, ao passo de que as

meninas são agredidas tanto pelas meninas quanto pelos meninos. Apesar de as

meninas terem formas mais sutis de expressar o bullying, os meninos tem a

sociedade como molde para expressar suas formas de violência24.

Percebeu-se através de depoimentos de muitos alunos e professores

durante a intervenção do projeto na escola, que as manifestações do fenômeno

bullying entre eles faz com que vários alunos se sintam intimidados diante dos

demais, evitando a oralidade, esquivando-se das apresentações de atividades ou

23 LOBATO. Gerciene de Jesus Miranda. et. al. A Interferência do Bullying na Permanência do Aluno Negro em Sala de Aula. p. 10. Disponível em: http://www.foxitsoftware.com. Acesso em 01 de julho de 2012. 24 Informações adicionais, consultar: Gomes, A. et al. El bullying y otras formas de violencia adolescente. Cuadernos de Medicina Forense, 2007. 165-177.

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qualquer outro tipo de exposição nas aulas com receio de serem vítimas de

comentários maldosos.

O professor deve estar atento a qualquer ato que impeça a manutenção de

um ambiente amistoso em sala de aula, garantindo as condições de uma

participação ativa entre os alunos. O papel de observação não é somente dos

professores diante do problema que envolve preconceito sobre os alunos, mas

também da direção, pedagogos e agentes educacionais I e II.

Todos na escola devem estar preparados para identificar as mudanças de

comportamento dos alunos no ambiente escolar conversando com os pais e

professores e mantendo o diálogo constante com os alunos sobre dúvidas, queixas

e dificuldades. Também é importante interesse em resolver o problema e, caso haja

necessidade, encaminhá-los para psicólogos.

É importante que todos que estão envolvidos no processo educacional

trabalhem abordando constantemente os valores como o respeito, amor,

companheirismo e cidadania, tanto entre os alunos, quanto professores e

funcionários da escola, pois nota-se que o comportamento agressivo dos alunos não

está limitado apenas aos colegas. O desrespeito e humilhação vêm atingindo os

próprios educadores.

A experiência adquirida na intervenção do projeto foi válida e extremamente

enriquecedora, pois aprendi muitas coisas que eu sempre tive curiosidade em saber,

mas não tinha tempo para pesquisar. Tive oportunidades para aplicar meus

conhecimentos adquiridos durante as décadas de trabalho no Colégio Estadual de

Segredo, onde surgiram problemas desafiadores que permitiram o aprendizado de

coisas novas. Surgiu também a oportunidade de visitar as famílias da vila Xaxim

para conhecer os anseios e dificuldades que sempre esteve presente em suas vidas.

A experiência mostra que é necessário educarmos para a esperança, para a

felicidade, para que consigamos cooperar enquanto educadores que somos com o

objetivo de que a humanidade consiga superar a brutal exclusão social que marca

nosso tempo.

Para isso, a educação tem um papel primordial e, devemos acreditar e

apostar em uma educação que abra horizontes de esperança e que seja capaz de

articular competências e habilidades sociais em todos àqueles que estiverem

inseridos nesse processo de humanização dos sujeitos, estabelecendo

competências, envolvendo a comunidade escolar e conscientizando todos das

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consequências desse tipo de violência, é possível evitar e prevenir o Bullying nas

escolas.

Os educadores deveriam procurar eliminar as formas agressivas de

resolução de tensões que provocam as diferenças individuais, valorizando os

comportamentos de empatia, a negociação verbal, o intercâmbio de ideias, a

cedência de ambas as partes na procura da justiça, no direito à igualdade de

oportunidades para todos e no direito às diferenças de cada um. Assim, se a escola

ensinar seus alunos a respeitar as diferenças, trabalhando a prática de valores, será

possível criar um ambiente sadio aos educandos. Dessa forma, a instituição de

ensino amenizará os conflitos que podem resultar na prática do Bullying25.

É oportuno ressaltar que esse estudo é limitado a realidade do município de

Foz do Jordão, e não é o objetivo dar soluções para o problema do Bullying. A

prioridade do desenvolvimento desse projeto foi identificar como surge e se

desenvolve o bullying nas duas escolas de Foz do Jordão e averiguar como os

professores dessas escolas estão ou não preparados para lidar com a situação.

Mas não só os professores que precisam saber como agir perante atos de

bullying. As ações que visam coibir tal prática devem envolver professores,

funcionários, pais e alunos, com o objetivo de juntos, criarem leis internas que

garantam uma vivência saudável dentro do ambiente escolar para que o objetivo

maior das escolas seja alcançado, ou seja, acesso pleno ao conhecimento e, a

oportunidade de ser um cidadão consciente dos seus direitos e deveres.

Esse projeto pode auxiliar outras escolas de outros municípios em casos de

problemas de bullying nas escolas, mas é preciso ter a consciência de que essas

informações são referentes unicamente as duas escolas de Foz do Jordão onde os

alunos provenientes da Vila de Xaxim enfrentam problemas como evasão escolar

decorrentes das atitudes relacionadas ao bullying que precisam enfrentar no seu dia

a dia dentro do ambiente escolar.

Espera-se que com os resultados desse projeto, sejam tomadas ações

significativas e definitivas no combate ao bullying para que essas pessoas possam

se sentir inseridas em uma sociedade que se diz multiculturalista e inclusiva.

25 Consultar: http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_5826/artigo_sobre_bullying para maiores informações – Acesso em 05 de julho de 2012.

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REFERÊNCIAS

ALMEIDA, A. C. & CAURCEL, M. J. ¿Por qué ocurren los malos tratos entre iguales? Explicaciones causales de adolescentes portugueses y brasileños. Lisboa: Revista Interamericana de Psicologia, 2007. FRANCISCO, Marcos Vinicius. & LIBÓRIOA, Renata Maria Coimbra. Um Estudo sobre Bullying entre Escolares do Ensino Fundamental. Presidente Prudente: UNESP, 2009. P. 201. MARÇAL. Jairo. et. al. Sociologia / vários autores. Curitiba: SEED-PR, 2006. p. 75. MARTINS, M. J. D. Agressão e vitimação entre adolescentes em contexto escolar: Um estudo empírico. Porto Alegre: Análise Psicológica, 2005. http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/bullying-escola-494973.shtml - acesso em 23 de janeiro de 2012.

http://pt.scribd.com/doc/57037642/Habitacao-e-Acampamentos-Kaingang-hoje-e-no-passado - Acesso em 29 de janeiro de 2012. http://www.scielo.br/prc - Acesso em 22 de junho de 2012. http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aps/v23n4/v23n4a05.pdf. Acesso em 30 de junho de 2012.

http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_5826/artigo_sobre_bullying - Acesso

em 05 de julho de 2012.

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