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Curso de Fisiologia 2007 Ciclo de Neurofisiologia Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 107 FUNÇÕES CORTICAIS SUPERIORES Introdução Em Neurofisiologia, denominamos atividade nervosa superior comportamentos complexos que recrutam áreas corticais associativas e que exibimos quando estamos acordados. Estar acordado significa apresentar um determinado estado de consciência. E o que é consciencia? De maneira bastante geral, a consciência se refere à capacidade de reconhecer a realidade externa e interna e de responder aos estímulos externos. O nosso estado de consciêcia não é constante, ela varia ao longo de um dia: há período em que estamos acordados, atentos e prontos para perceber, interpretar os estimulos ambientais e para executar inúmeras tarefas motoras voluntárias (conversar, escrever uma carta, tocar violao, estudar e preparar um seminário, etc). Já em outro periodo, durante o sono, perdemos temporariamente o nosso estado consciente e ignoramos os acontecimentos do ambiente externo. Apesar de inconcientes podemos ser facilmente despertados para o estado vigil através de estímulos táteis, sonoros ou visuais. O coma já é uma condicâo patológica em que a consciecia é perdida e até mesmo os estimulos mais dolorosos não despertam o paciente. É importante saber que as funções do psiquismo humano (segundo a Psiquiatria) consciência, atenção, sensopercepção, orientação, memória, inteligência, afeto, pensamento, juízo crítico, conduta e linguagem se manifestam quando estamos vigís, ou seja, acordados. É de grande importancia saber diferenciar os estados de consciência de um paciente. No entanto não existem métodos padronizados para caracterizar os diferentes estados normais da consciência. Espera-se que uma pessoa sã apresente percepção consciente de si proprio e dos estimulos ambientais e deve apresentar respostas coerentes e esperadas. Clinicamente são reconhecidos os seguintes estados alterados da consciência: a. sonolência/obnubilação : a capacidade de pensar claramente, perceber, responder e recordar os estímulos comuns está diferente da habitual. O paciente tende a cair no sono quando não estimulado. Às vezes é necessário falar bem alto ou tocá-lo para que compreenda uma pergunta. b. confusão : o paciente apresenta embotamento sensorial, tem dificuldade de compreensão, desorientação, distúrbios das funções associativas, demora para responder aos estímulos e tem interesse diminuído para o ambiente. c. estupor : estado caracterizado pela ausência ou profunda diminuição de movimentos espontâneos, mutismo, responde a estímulos vigorosos, após os quais retorna ao estupor. d. coma : há abolição completa da consciência; o paciente não responde aos estímulos externos (mesmo dolorosos) e internos (fome, frio, necessidades fisiológicas, outros). e. hiperalerta : o paciente encontra-se ansioso, com hiperatividade autonômica e respostas exageradas. Pode ser por causa do uso de drogas (anfetaminas, cocaína), abstinência (benzodiazepínicos), ou estresse pós-traumático. Além dos exames clinicos há outros métodos complementares que permitem confirmar as hipoteses preliminares: o eletroencefalograma, a ressonancia magnetica, tomografia, etc. Apesar do córtex ser funcionalmente hierarquico em relação a outras estruturas subcorticais e desempenhar as funções superiores, o tronco encefálico e o tálamo são indispensáveis. Formação Reticular O tronco encefálico é formado pelo bulbo, ponte e mesencéfalo, e situa-se entre a medula e o diencéfalo. O tronco possui núcleos bem definidos (os núcleos sensitivos e motores dos nervos cranianos), feixes de fibras nervosas descendentes e ascendentes (tratos, fascículos e lemniscos) e uma formação especial que preenche o resto do tronco denominada de formação reticular (FOR). Os principais núcleos presentes na FOR são: Núcleos da Rafe: neurônios ricos em serotonina; Lócus Cerúleo: neurônios ricos em noradrenalina; Substância Cinzenta Periaquedutal: regulação da analgesia; Área tegmental ventral: neurônios ricos em dopamina.

10 Funcao Cortical Superior

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FUNÇÕES CORTICAIS SUPERIORES

Introdução Em Neurofisiologia, denominamos atividade nervosa superior comportamentos complexos que recrutam áreas corticais associativas e que exibimos quando estamos acordados. Estar acordado significa apresentar um determinado estado de consciência. E o que é consciencia? De maneira bastante geral, a consciência se refere à capacidade de reconhecer a realidade externa e interna e de responder aos estímulos externos. O nosso estado de consciêcia não é constante, ela varia ao longo de um dia: há período em que estamos acordados, atentos e prontos para perceber, interpretar os estimulos ambientais e para executar inúmeras tarefas motoras voluntárias (conversar, escrever uma carta, tocar violao, estudar e preparar um seminário, etc). Já em outro periodo, durante o sono, perdemos temporariamente o nosso estado consciente e ignoramos os acontecimentos do ambiente externo. Apesar de inconcientes podemos ser facilmente despertados para o estado vigil através de estímulos táteis, sonoros ou visuais. O coma já é uma condicâo patológica em que a consciecia é perdida e até mesmo os estimulos mais dolorosos não despertam o paciente. É importante saber que as funções do psiquismo humano (segundo a Psiquiatria) consciência, atenção, sensopercepção, orientação, memória, inteligência, afeto, pensamento, juízo crítico, conduta e linguagem se manifestam quando estamos vigís, ou seja, acordados. É de grande importancia saber diferenciar os estados de consciência de um paciente. No entanto não existem métodos padronizados para caracterizar os diferentes estados normais da consciência. Espera-se que uma pessoa sã apresente percepção consciente de si proprio e dos estimulos ambientais e deve apresentar respostas coerentes e esperadas. Clinicamente são reconhecidos os seguintes estados alterados da consciência: a. sonolência/obnubilação: a capacidade de pensar claramente, perceber, responder e recordar os estímulos comuns está diferente da habitual. O paciente tende a cair no sono quando não estimulado. Às vezes é necessário falar bem alto ou tocá-lo para que compreenda uma pergunta. b. confusão: o paciente apresenta embotamento sensorial, tem dificuldade de compreensão, desorientação, distúrbios das funções associativas, demora para responder aos estímulos e tem interesse diminuído para o ambiente. c. estupor: estado caracterizado pela ausência ou profunda diminuição de movimentos espontâneos, mutismo, responde a estímulos vigorosos, após os quais retorna ao estupor. d. coma: há abolição completa da consciência; o paciente não responde aos estímulos externos (mesmo dolorosos) e internos (fome, frio, necessidades fisiológicas, outros). e. hiperalerta: o paciente encontra-se ansioso, com hiperatividade autonômica e respostas exageradas. Pode ser por causa do uso de drogas (anfetaminas, cocaína), abstinência (benzodiazepínicos), ou estresse pós-traumático.

Além dos exames clinicos há outros métodos complementares que permitem confirmar as hipoteses preliminares: o eletroencefalograma, a ressonancia magnetica, tomografia, etc.

Apesar do córtex ser funcionalmente hierarquico em relação a outras estruturas subcorticais e desempenhar as funções superiores, o tronco encefálico e o tálamo são indispensáveis.

Formação Reticular O tronco encefálico é formado pelo bulbo, ponte e mesencéfalo, e situa-se entre a medula e o diencéfalo. O tronco possui núcleos bem definidos (os núcleos sensitivos e motores dos nervos cranianos), feixes de fibras nervosas descendentes e ascendentes (tratos, fascículos e lemniscos) e uma formação especial que preenche o resto do tronco denominada de formação reticular (FOR).

Os principais núcleos presentes na FOR são: Núcleos da Rafe: neurônios ricos em serotonina; Lócus Cerúleo: neurônios ricos em noradrenalina; Substância Cinzenta Periaquedutal: regulação da analgesia; Área tegmental ventral: neurônios ricos em dopamina.

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A FOR tem uma organização intermediária entre as substâncias cinzenta e branca, cujos neurônios de diferentes tamanhos realizam complexas conexões. O neurônio reticular tem axônios longos com inúmeros ramos colaterais e que se dividem em ramos ascendentes e descendentes, influenciando tanto porções mais craniais como mais caudais. É filogeneticamente primitiva, mas é de fundamental importância, pois dele dependemos a manutenção do ciclo vigília/sono e o controle de funções vitais como a respiração, a regulação do ciclo cardíaco e da pressão sanguínea. Sob o ponto de vista citoarquitetônico, a FOR pode ser dividida em uma zona magnocelular (2/3medial) e parvocelular (1/3 lateral). A zona magnocelular dá origem a fibras ascendentes e descendentes, podendo ser considerada como a parte efetuadora do FOR. Conexões da FOR A FOR possui amplas conexões e bastante variadas: recebe impulsos que penetram pelos nervos cranianos, estabelece conexões recíprocas com a medula, com o córtex, tálamo e com o cerebelo estabelecendo amplas conexões com o resto do SNC. A seguir a descrição de algumas funções integrativas que a FOR desempenha: 1) Sistema Ativador Reticular Ascendente (SARA): Vigília e atenção dirigida

Nos capítulos anteriores estudamos o trajeto das vias sensoriais somestésicas e dos sentidos especiais e vimos que cada uma tem projeção em regiões especificas do córtex sensorial primário e as áreas corticais associativas garantem tenhamos a percepção consciente e discriminada das diferentes modalidades. Mas para que tudo isso aconteça é necessário que o córtex esteja ativado, isto é, devemos estar acordados.

Das vias sensoriais especificas que estudamos, parte dos impulsos sensoriais seguem para a formação reticular do tronco encefálico através de vias colaterais. Nestes circuitos colaterais, as informações sensoriais perdem a especificidade. É que os neurônios reticulares são

polimodais e podem ser ativados com muita facilidade por qualquer informação aferente. Os neurônios reticulares, especialmente do mesencéfalo, projetam-se para centros mais elevados via tálamo (núcleos intralaminares) e deste para o neocórtex. Essa projeção cortical, ao contrário da via especifica, não causa percepção consciente das coisas, porém causa um estado de alerta ou de atenção geral, isto é, tem um efeito ativante, sem função cognitiva. Experimentalmente, simples estimulação de neurônios reticulares pode despertar animais que estavam dormindo!! Atribui-se a esta região da FOR a função de ativação do córtex e a manutenção do estado de vigília e, por isso, denominamos de Sistema Ativador Reticular Ascendente (SARA).

O SARA é assim responsável pelo nosso estado de alerta ou de vigília. Então eis um fato muito importante: não basta possuirmos uma via sensorial especifica e áreas associativas para percebermos as coisas que vemos ou ouvimos, interpretamos ou analisamos; é necessário que possuamos um certo estado de ativação do córtex. Só estando acordado e atento podemos aprender, raciocinar, experimentar as emoções planejar movimentos complexos voluntários (cantar, dançar, correr, escrever, falar, etc.).

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O SARA e o córtex cerebral possuem conexões recíprocas: é por isso que até certo ponto, podemos controlar voluntariamente a indução do sono, tentando nos manter acordados. Espero que não seja o seu caso agora.... Espero que esteja com o neocórtex totalmente ativado, motivado em aprender e se surpreender. A redução da atividade do SARA induz um estado oposto e reversível da perda de consciência em que as funções corticais não podem ser desempenhadas: o sono. Como será visto mais tarde, o sono não é um fenômeno passivo, mas ativamente induzido pelo próprio SARA!! Já as lesões que comprometem o SARA causam o estado de coma. Esse sistema de modulação do estado de consciência será melhor estudado no capitulo Ritmos Biológicos.

2) Controle eferente da Sensibilidade: todos já repararam que ao assistirmos um filme, passamos a ignorar outros estímulos do ambiente e mantemos a atenção dirigida para a seqüência dos acontecimentos da tela. Isso acontece porque mecanismos ativos operaram ao nível do FOR, recrutando fibras eferentes e centrífugos, modulando a passagem das informações sensoriais pelas vias aferentes especificas. É bastante conhecido o mecanismo eferente do controle da analgesia, envolvendo a substancia cinzenta periaquedutal, o núcleo magno da Rafe e as fibras reticulo-espinhais que já destacamos anteriormente. 3) Controle da Motricidade Somática: Neurônios reticulares exercem controles excitatório e inibitório sobre os motoneurônios medulares, conforme a localização no FOR (ponte ou bulbo): Parte das funções motoras depende das aferências corticais e cerebelares sobre a FOR. A via córtico-reticulo-espinhal controla a motricidade voluntária dos músculos axiais e apendiculares proximais e a via cerebelo-retículo-espinhais, regula os reflexos relacionados à manutenção do equilíbrio, postura e tônus muscular, agindo sobre estes mesmos grupos musculares. 4) Controle do SNA: Tanto o hipotálamo como o Sistema Límbico tem projeções para o FOR, influenciando os neurônios pré-ganglionares do SNA. Assim as atividades reguladas por estas estruturas podem afetar a expressão das funções viscerais. 5) Controle Neuroendócrino: os neurônios monoaminérgicos da FOR influenciam os neurônios hipotalâmicos que atuam regulando a liberação de hormônios da adenohipófise e neurohipófise. 6) Integração de reflexos motores somáticos e viscerais: na FOR estão localizados vários circuitos relacionados ao à expressão motora somática e visceral, entre eles, o reflexo do vômito, deglutição, mastigação, locomoção e movimentos oculares. Supõe-se que há circuitos geradores de padrão para atividades motoras rítmicas cujas atividades são ativados externamente por estímulos químicos, comandos centrais (corticais e hipotalâmicos) e aferentes sensoriais. 7) “Centros” respiratório e Vasomotor: Esses circuitos também localizados na FOR no bulbo, são do tipo oscilatório, cuja atividade é espontânea, não dependendo de estímulos sensoriais, mas podem ser regulados por vários estímulos. Serão estudados nos respectivos ciclos desta disciplina. 8) Regulação do Ciclo Sono-Vigilia (a ser estudado em capitulo a parte) TÁLAMO No diencéfalo está a principal estação de retransmissão dos impulsos nervosos para o córtex: o tálamo. Já mencionamos que córtex estabelece com o tálamo intensas conexões recíprocas e ambos funcionam como uma unidade funcional por meio das radiações talâmicas. O tálamo é formado de duas grandes massas ovóides, com uma extremidade anterior pontuda (o tubérculo anterior do tálamo) e uma posterior bem proeminente (pulvinar do tálamo). O tálamo possui numerosos grupos de núcleos e nem sempre a denominação anatômica corresponde ao plano de constituição do corpo...Adotaremos a seguinte subdivisão para uma descrição sucinta: núcleos do grupo anterior, posterior, mediano, medial e lateral. Funções do tálamo

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Com a sensibilidade: apenas a sensibilidade olfativa não passa pelo tálamo antes de se projetar para o córtex sensorial. O tálamo não só retransmite e distribui as informações sensoriais, mas atua também modulando previamente as informações. A sensibilidade dolorosa e térmica e tato protopático são interpretados pelo tálamo. Com a motricidade: através da participação do tálamo no circuito pálido-corticais e cerebelo-corticais. Com o comportamento emocional: integrando o Sistema Límbico através dos núcleos do grupo anterior e do núcleo dorsomedial.

Com a ativação do córtex: integrado ao SARA, estabelece o nível de atividade cortical, ou seja, garante o estado de consciência.

TELENCÉFALO

O Telencéfalo compreende dois hemisférios cerebrais que estão incompletamente separados pela fissura longitudinal do cérebro, cujo assoalho é formado pelo corpo caloso (a maior comissura que interliga as áreas simétricas de cada hemisfério).

A superfície sulcada do cérebro forma relevos topográficos conhecidos como giros ou circunvoluções cerebrais. Esses sulcos proporcionam um grande

aumento da superfície e cerca de 2/3 estão “escondidos” nestas depressões. Baseada na identificação dos sulcos, cada hemisfério pode ser delimitada em lobos conforme os ossos do crânio que os recobrem: Lobo Frontal; Lobo Parietal; Lobo Temporal e Lobo Occipital. Existe ainda o Lobo da insula, profundamente localizado no interior do sulco lateral e o Lobo Límbico, que só é observado em cortes sagitais do cérebro.

Em cada hemisfério uma camada de substância cinzenta, córtex cerebral, reveste uma massa central de substância branca (=centro branco medular do cérebro). Na base dos dois hemisférios há uma massa compacta de substancia cinzenta conhecidos como núcleos da base. Sob o ponto de vista funcional, os núcleos da base incluem não só núcleos do telencéfalo como núcleos do diencéfalo e do mesencéfalo.

Córtex Cerebral

O que há de comum e diferente entre o encéfalo do rato e o do ser humano? Parece uma pergunta fora de contexto no nosso curso, mas, o que torna diferente um primata dos demais mamíferos é justamente a organização morfo-funcional do córtex cerebral.

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Ao compararmos as superfícies dos cérebros de um rato e um ser humano notaremos uma grande diferença: o córtex humano é profundamente sulcado e o do rato é praticamente liso. Assim, para mantermos a mesma quantidade de neurônios no cérebro com uma superfície cortical lisa teríamos que ter uma cabeça enorme, o que não seria nada vantajoso para uma postura bípede. Uma grande diferença entre os dois córtices é justamente o tremendo aumento no número de neurônios do córtex cerebral humano que foram alocados num volume relativamente pequeno por causa dos sulcos e giros. No córtex chegam os impulsos provenientes de todas as vias da sensibilidade e graças às áreas associativas podemos perceber o mundo exterior, reconhecer objetos, pessoas, lugares, a si mesmo e conferir-lhes afetividade. Alem disso graças ao córtex podemos raciocinar, idealizar e planejar os movimentos complexos. O córtex cerebral é de três tipos

Veja na figura a comparação dos córtices de um réptil e um mamífero. Na mesma posição topográfica do hemisfério cerebral esquerdo do réptil observamos que o número de camadas corticais é menor do que no rato. Na mesma região, o rato possui um córtex de seis camadas (neocortex), enquanto o réptil o córtex é de três camadas córtex (paleocortex). Os vertebrados possuem três filogeneticamente distintos: o arquicórtex e páleocortex são os mais antigos, mas no rato (e demais mamíferos) foram conservados mas por causa da expansão do neocórtex, mudaram de lugar. O paleocórtex sempre associado à função olfativa foi empurrado lateral e ventralmente até ficar confinado como o lobo piriforme (úncus e giro parahipocampal). Já o arquicortex foi empurrado medialmente para dentro da fissura central dando origem ao hipocampo. O neocortex então ocupa praticamente toda a superfície cortical telencefálica (90%) nos mamíferos (compare novamente a superfície lisa do telencéfalo do rato com a do humano).

Mas como o córtex está organizado?

A camada cortical humana possui 100 bilhões de neurônios, varia de 2 a 5mm e compreende 0,25m2. O neocórtex pode ser diferenciado sob o ponto de vista funcional (sensorial, motor e associativo) e citoarquitetônico. Brodmann dividiu o córtex em 52 áreas corticais identificando com números.

Outra maneira de chamar o neocórtex é de isocótex e o arqui e paleo de alocórtex porque possuem menos de seis camadas.

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As seis camadas neocorticais são: I. Molecular (fibras de projeção horizontal, só as células de Cajal) II. Granular externa (células granulares)

III. Piramidal externa (células piramidais) IV. Granular interna (células granulares) V. Piramidal interna (células piramidais)

VI. Células fusiformes (células fusiformes)

• Células granulares (=estreladas): que possuem ramificações dendríticas próximas ao corpo e um axônio que só se comunicam com as células vizinhas. É o principal interneurônio cortical, recebe as projeções que chegam no córtex e estão principalmente na camada granular interna e externa. São as células que principalmente aumentaram durante a filogênese.

• Células piramidais: variam muito de tamanho (pequenas, medias, grandes e gigantes) e as maiores são conhecidas como células de Betz e ocorrem apenas em áreas motoras. Possuem dois tipos de dendritos: apicais (dirige-se para as camadas mais superficiais onde termina) e as basais (bem curtos, distribui-se próximo ao corpo celular). Os axônios geralmente ganham a substância branca e constituem a via eferente das células corticais (como o trato córtico-espinhal). Predominam nas camadas piramidais externas e internas.

• Células fusiformes: possuem axônios descendentes (portanto efetuadoras) que ganha a substância branca e concentram-se na camada fusiforme.

• Células de Martinotti: possuem dendritos que se ramificam próximo ao corpo e um axônio ascendente que se ramifica na camada mais superficial.

• Células horizontais (de Cajal): de forma fusiforme, possuem dendritos e axônios na posição horizontal e são as células intercorticais de associação e se encontram exclusivamente na camada molecular.

As fibras que entram e saem do córtex necessariamente passam pelo centro branco medular. Essas fibras são de dois tipos: projeção (que chegam ou partem do cortex) ou de associação (que interligam diferentes áreas do córtex no mesmo lado ou entre os córtex dos dois hemisférios). Os neurônios de associação intercorticais partem das camadas II e III (NT excitatório, o glutamato) e de projeção partem das camadas V e VI (NT inibitório, o GABA). Levando-se em consideração a importância da atividade cortical para desempenhar as funções superiores, devemos perguntar: que mecanismos nos mantem acordados e conscientes? Como experientamos conscientemente as diferentes impressões sensoriais e emocionais? Como dormimos? A neuroanatomia das atividades mentais superiores: Gnosia e Praxia

O neocórtex possui duas áreas de projeção:

uma sensorial (onde recebe os impulsos aferentes que se originam da periferia) e outra motora (de onde emitem axônios longos para o tronco encefálico e para a medula). Todo o restante do córtex são áreas associativas. Segundo Luria, um grande neuropsicólogo, as áreas de projeção são denominadas primárias (podendo ser motoras ou sensoriais) e as de associação, conforme o nível de processamento, secundário e terciário. As áreas secundárias como as primárias são unimodais, pois neste nível o processamento é de uma única modalidade (sensorial

ou motora). As áreas terciárias são supramodais, pois neste nível o processamento envolve atividades mentais que já não são só sensoriais ou motoras, mas de nível superior envolvendo memória, processos simbólicos, raciocínio, planejamento e o pensamento.

As lesões nas áreas de projeção causam paralisias ou alterações de sensibilidade o que

não acontece coma as áreas associativas, cujas lesões apresentam conotações predominantemente de ordem psíquica.

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O cérebro usa os conceitos que já havia na memória e verifica se é capaz ou não de identificar a sensação percebida. A propriedade de interpretar as informações que chegam as áreas sensoriais associativas denomina-se gnosia (ou conhecimento). Mais precisamente, percepção é a capacidade de associar informações sensoriais à memória e à cognição de modo a formar conceitos sobre o mundo e nos orientar o nosso comportamento. Assim temos áreas gnósicas para os objetos vistos ou tateados e para os sons ouvidos. Se uma pessoa estiver de olhos fechados, ouvindo os sons de um instrumento musical poderá identificar qual é o instrumento e a musica que está tocando. As lesões nas áreas associativas auditivas causam sintomas conhecidos como agnosia auditiva, isto é, a incapacidade de interpretar o significado dos sons. Conforme a extensão da lesão, a agnosia estará associada a uma determinada modalidade sensorial (agnosia visual, agnosia auditiva, etc.). As lesões podem ser tão especificas que resultam em amusia (incapacidade de reconhecer sons musicais) ou prosopagnosia (incapacidade de reconhecer faces), a afasia de percepção (incapacidade de compreender a linguagem falada), a agnosia somestésica ou síndrome de negligencia (não reconhece partes do seu próprio corpo) etc.

Analogamente, lesões nas áreas associativas motoras (córtex pré-motor) causam as apraxias. Neste caso, o paciente será capaz de iniciar os movimentos voluntários, mas como há comprometimento nas áreas de planejamento da motricidade, a organização do movimento fica comprometida: os pacientes não conseguem realizar tarefas motoras simples, mas que foram aprendidas como abotoar a camisa, calçar sapatos, pentear, digitar, etc. Ele se esquece de como realizar as seqüências motoras adequadas.

As lesões dos pacientes com agnosias situam-se geralmente em áreas do córtex parietal posterior e córtex ínfero-temporal ou na face lateral do córtex occipital. Essas áreas situam-se na confluência entre as áreas sensoriais primarias ou áreas associativas.

Áreas Primárias do Córtex Por definição, área sensorial primária é a região do neocórtex que recebe as projeção talâmica dos vários sentidos somáticos gerais. A área motora primária é a região onde os movimentos voluntários somáticos são iniciados e cujos axônios corticais projetam-se para as porções mais caudais do SNC a fim de recrutar os motoneurônios que inervam os grupos de músculos necessários para realizar o movimento intencionado. Todo o restante do córtex correspondem a áreas de associação. Área Cortical Secundária

Nos primatas, ao lado de cada área sensorial primária existe uma área sensorial secundária correspondente àquela modalidade. Depois que uma determinada via sensorial projetou as informações periféricas em sua respectiva área de projeção cortical, tornando o individuo consciente sobre a natureza e origem do estimulo sensorial, segue-se o processo de análise e interpretação. Áreas de Associação Corticais Terciárias

Entre as áreas associativas secundárias, estão as áreas associativas terciárias que

integram diferentes modalidades sensoriais que ganham riqueza tanto de percepção como na interpretação. Essas áreas estão intimamente associadas com funções complexas e exclusivas da nossa espécie. As áreas corticais são divididas em três principais áreas.

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a) Córtex Pré-Frontal: situada no lobo frontal na região não-motora, corresponde a 1/4 de toda área cortical associativa, incluindo o lobo orbitário. Lesões nestas áreas causam predominantemente distúrbios comportamentais psíquicos. Recebe conexões de todas as áreas de associação cortical. Recebe informações pré-processadas sobre as coordenadas espaciais do corpo e deste com relação ao meio ambiente externo o que vai contribuir com o planejamento da motricidade voluntária e processos mentais complexos (como o pensamento) e serve para operacionalizar a “memória de trabalho” de curto prazo, utilizadas na analise de cada nova idéia. Relaciona-se com o sistema límbico através de conexões com o núcleo dorso-medial do tálamo. Enquanto o lobo orbitário está relacionado com o controle do comportamento social e do caráter, o restante da área associativa pré-frontal, está relacionado com a iniciativa (escolha de opções e estratégias comportamentais) e a manutenção da atenção e sequenciamento lógico do raciocínio. Ambos exercem efeitos controladores sobre o Sistema Límbico que está relacionado à experiência e a expressão das emoções. b) Córtex Parieto-Occipito-Temporal: as parietais posteriores recebem informações somestésicas primaria e secundaria e também informações visuais proporcionando a percepção espacial extracorpórea. Lesões nessas áreas não causam cegueira, surdez ou insensibilidade para o tato, mas alterações na capacidade de perceber o espaço que o cerca, integração visual-motora e dificuldades de manter a atenção dirigida. Além disso, ele ignora a existência da parte do corpo que esta área representa e todo o espaço extracorporal correspondente. c) Áreas de Associação Límbicas: Inclui o pólo anterior do lobo temporal, na porção ventral do lobo frontal e no giro do cíngulo. O giro do cíngulo, giro para-hipocampal e hipocampo e outras estruturas subcorticais fazem parte do Sistema Límbico (veja em capitulo a parte). Como é realizada a integração funcional dos dois hemisférios?

As funções dos dois hemisférios são integradas

por várias comissuras transversais, entre eles o corpo caloso. A maioria das projeções sensoriais aferentes projeta-se no lado oposto do córtex primário, sendo que poucas projetam-se bilateralmente. Numerosos sistemas de feixes transferem as informações ao longo do eixo rostro-caudal sendo o corpo caloso, a principal conexão entre os dois neocórtices.

As lesões do corpo caloso levam a um distúrbio bem típico: se colocado um objeto na mão direita, ele poderá dizer o que é claramente, mas se colocado na mão esquerda, a informação sensorial que se projeta no córtex sensorial direito não atinge o lado esquerdo para que possa expressar do que se trata, ainda que possa reconhecê-lo. Fibras de Associação Intra-Hemisféricas Áreas corticais do próprio hemisfério são

integradas por meio de vários fascículos: Fascículo do cíngulo: lobo frontal ao temporal Fascículo longitudinal superior (=arqueado): interliga os lobos frontal, parietal e occipital Fascículo longitudinal inferior: occipital ao temporal Fascículo unciforme: frontal ao temporal Fibras de Associação Inter- Hemisférica

Já as associações entre os dois hemisférios são realizadas por comissuras:

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Corpo caloso: entre áreas corticais simétricas dos dois hemisférios, garantindo a integração funcional as duas áreas neocorticais. Comissura anterior: entre os lobos temporais e a porção olfatória que interliga os bulbos e tratos olfatórios Comissura do fórnix: entre os dois hipocampos Fibras que saem do Córtex A grande maioria das fibras corticais se origina na camada V (piramidal interna) da área motora onde concentram uma grande população destas células. Entre as principais eferências corticais destacamos:

�� Fibras córtico-espinhais (para os núcleos motores da medula) �� Fibras córtico-nucleares ou cortico-bulbares (para os núcleos motores do tronco) �� Fibras córtico-pontinas (para núcleos motores da ponte que daí se dirigem ao cerebelo) �� Fibras córtico-estriadas (para os núcleos da base) �� Fibras córtico-reticulares (para a FOR) �� Fibras córtico-rubrais (para o núcleo rubro) �� Fibras córtico-talâmicas (para o talamo)

Fibras que chegam ao Córtex a) Originadas no tálamo. São as principais projeções que chegam ao córtex cerebral através da radiação talâmica (coroa radiata). Partem de duas regiões do tálamo:

��Núcleos específicos: para a camada granular interna ��Núcleos inespecíficos que integram o SARA, projetam-se difusamente para todo o córtex

em todas as camadas, principalmente nas três superficiais. b) Extra-talâmicas. Originam-se da Formação Reticular (Sistema Difuso de Projeção) e radiam-se amplamente para o córtex. Estas fibras têm funções moduladoras da atividade cortical e muitas delas também se projetam descendentemente para a medula (veja em capitulo a parte).

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Reconhecimento das coisas no espaço Hoje sabemos que há áreas corticais muito especializadas para construir a percepção das coisas. Primeiro as submodalidades sensoriais chegam ao córtex sensorial primário. Depois as diferentes partes das informações são juntadas e o objeto como um todo é reconstruído. Assim podemos reconhecê-lo, memorizá-lo ou iniciamos uma relação com ele.

Para o ser humano o sistema visual é um dos mais importantes em termos de sua relação com o espaço extra-corpóreo e o mais bem estudado. O córtex visual primário recebe as projeções da retina, outras áreas corticais estão envolvidas com a interpretação sobre o “ o que é”

A informação visual que chega ao córtex visual primário diverge ventral (córtex do lobo temporal inferior) e dorsalmente (córtex do lobo parietal posterior). A via dorsal está relacionada com a identificação das relações espaciais dos objetos em relação ao observador e a via ventral garante o reconhecimento dos objetos atribuindo-lhes nomes e os significados funcional e contextual.

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Linguagem Falar é uma forma bastante peculiar de comunicação da espécie humana. Num simples discurso falamos 180 palavras em um minuto. A capacidade de expressar a linguagem verbal está intimamente ligada à capacidade de compreendê-la. Estes dois processos ocorrem em áreas distintas do SNC. A linguagem é distinta de outras formas de comunicação devido ao seu processo criativo, forma, conteúdo e uso. Particularmente, não se trata apenas de uma forma de expressar-se socialmente sobre os fatos objetivos, mas ela nos capacita expressar a organização da nossa experiência sensorial, identidade individual, pensamentos, sentimentos e expectativas. A linguagem é uma capacidade inata, mas para usá-la precisamos aprendê-la. O balbucio dos bebês expressa os rudimentos da linguagem e corresponde a etapa em que estão tentando imitar ou aprender a linguagem. A nossa forma de comunicação por meio da linguagem falada é única em sua capacidade de simbolizar o pensamento. Ao produzirmos os sons da fala (comunicação oral) a sua compreensão se dará pela audição e ao comunicarmo-nos através de gestos ou pela escrita, seremos compreendidos pela visão. Se a comunicação ocorre por meio do Braille então a compreensão será por via somestésica. A espécie humana já acumulou cerca de 10.000 idiomas e dialetos!! Obviamente todas elas usam a comunicação verbal, mas são poucos os que possuem correspondente escrito.

Neurobiologia da linguagem

O estabelecimento da comunicação através da linguagem envolve processos de expressão e compreensão. Quando expressamo-nos através da fala a compreensão se dará naturalmente pela audição. Durante a fala são produzidos sons vocais numa seqüência rápida pelo aparelho fonador. Nesse processo os fonemas são associados e transformados em palavras (idéias das coisas), estas em frases.

Durante a fala separamos as palavras em entonações especificas modulando a nossa voz.

Quando falamos estamos expressando o nosso pensamento. Os neurolinguistas

acreditam que no cérebro há um dicionário interno onde escolhemos os termos adequados cujos conteúdos semânticos, sintáticos e fonológicos são consultados para podemos expressar o pensamento. A esse dicionário chamaram de lexicon mental. Num adulto educado podem estar guardados 50.000 palavras e expressões idiomáticas. Esses conteúdos estariam organizados por assunto segundo uma rede semântica de categorias de animais, plantas, musicas, pessoas, etc. Os fonemas não têm necessariamente significados, mas todas as palavras têm. Tudo indica que há regiões específicas do cérebro onde a linguagem é processada. Por exemplo, pacientes com lesão do lobo temporal anterior esquerdo não conseguem reconhecer as pessoas!! Assim quando desejamos falar (ou estamos ouvindo alguém) consultamos o lexicon mental da linguagem. Para falar devemos articular, ou seja, planejar a seqüência do movimento necessário para emitir a voz com a modulação apropriada. Para isso as áreas corticais motoras deverão enviar comandos nervosos até os núcleos motores do tronco encefálico que acionam os músculos faciais, da língua, as cordas vocais, a faringe e os músculos respiratórios. Toda essa tarefa envolve a área pré-motora (área de Broca) do córtex pré-frontal esquerdo e as áreas motoras primárias da face do giro pré-central. A compreensão da fala envolve uma etapa inversa da produção da fala: identificação fonológica (reconhecimento dos sons do idioma falado)�identificação léxica (da palavra) �compreensão sintática (da frase)�compreensão semântica (entendimento contextual da frase).

O cérebro prefere sempre mensagens claras e simples. O que você acha da frase: “ O bandido atacou o policiam com uma arma” ?

Veja o resultado da atividade cortical em diferentes condições experimentais:

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Condição experimental Atividade cortical

Historia numa língua desconhecida

Lista de palavras na língua francesa

Frases com palavras inexistentes

Frases sem sentido

Historia em francês

AFASIAS

Há pessoas que apresentam distúrbios da fala. Veja esse que está tentado contar ao médico porque veio parar no hospital: Ah..Segunda feira...ah...Papai e Paulo..e..papai...hospital. Dois...ah...médicos..., e ah...meia hora..e sim..ah...hospital.

Esse paciente possui uma lesão

no lobo frontal esquerdo, na região lateral inferior e apresenta uma afasia de expressão (ou de Broca). Conforme a lesão pode ficar incapaz de falar ou apresentar essa enorme dificuldade de expressar o pensamento.

Uma outra lesão na região lateral

do lobo temporal esquerdo, em torno da ponta do sulco lateral causa a afasia de compreensão (ou de Wernicke). Ao falarmos com esse paciente ele parece não compreender e emite respostas verbais sem sentido apesar de ser

fluente. Uma paciente respondendo sobre o trabalho: Queria dizer que isso aconteceu quando ele alugou. Seu... seu boné cai aqui e fica...ele alu alguma coisa. Aconteceu. Em tese os mais gelatinosos ....

Na afasia de condução ou no feixe arqueado o paciente não consegue repetir o que está

sendo-lhe falado. Se pedir para repetir “O tanque de gasolina do carro vazou e sujou a estrada”, ele vai dizer: A rua ficou toda suja com o vazamento do tanque do carro. OUTROS DISTURBIOS DA FALA

Além disso, precisamos esclarecer que existem desordens motoras relacionadas com os órgãos fonadores como as dificuldades na articulação da fala (disartria) ou distúrbio de vocalização (disfonia). Nestes casos, o paciente compreende perfeitamente a linguagem e se tratado, poderá expressar-se adequadamente, pois a área motora associativa não está comprometida.

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Quando o hemisfério esquerdo é o dominante, os desempenhos de raciocínio lógico como os algébricos, também parecem ser mais bem desempenhados por este lado, enquanto o outro seria responsável pelos processos geométricos. Adicionalmente, o hemisfério direito está mais bem associado com as habilidades artísticas, auditivas e visuais, reconhecimento de fisionomias, percepção espacial, processos intuitivos e emocionais. A LINGUA JAPONESA

A língua japonesa revela um processo interessante de aprendizado da linguagem escrita: ela possui uma forma de representação gráfica das silabas chamada kana e uma outra, onde as palavras são representados por meio de ideogramas chamados kanji. Em outras palavras na escrita japonesa uma palavra pode ser escrita de duas maneiras: assim arvore é “ki” e pode ser escrita de duas maneiras:

Kana: (fonético) Ideograma: (símbolo; repare como o ideograma lembra mesmo uma árvore) No cérebro de um japonês o hemisfério dominante lê e compreende os kana e o direito, os kanji. Isso mostra que, apesar de ocorrer assimetria para os processos associativos, o resultado final que personifica no individuo é a sua unidade funcional. A Neurobiologia da leitura e escrita Segundo o modelo neurolinguistico, uma pessoa ouve os sons da linguagem falada no lobo temporal, ativa as áreas auditivas primaria e secundaria assim coma a área de compreensão (de Wernicke). Depois a atividade cortical passa para o lobo frontal na área de expressão de Broca e área motora primaria responsável pela articulação. Já o individuo que lê em voz alta teria a área de Wernicke ativada pelas áreas visuais primarias e secundárias. A escrita resulta da aprendizagem motora que possibilita a inscrição de símbolos chamados de letras os quais codificam os fonemas (=grafemas). Os grafemas são associados para formar as palavras e essas, as frases. Compreendemos muito, mas muito rapidamente a escrita por meio da leitura. A percepção visual da palavra, sua identificação ortográfica e fenologica, sintática e semântica ocorre numa fração de segundos. Distúrbios da escrita e da leitura Agrafias: não conseguem escrever, mas lêem corretamente. Alexias: não conseguem ler, mas conseguem escrever.

Dislexias: não conseguem associar os grafemas com fonemas e pronunciam as palavras erradas: “menos” são lidas como “menus” ou erros semânticos: ao ler “reflexo”, dizem espelho (dislexia). Os dois hemisférios são simétricos ?

Nas pessoas destras, em 95%, a área cortical relacionada com a linguagem situa-se no hemisfério esquerdo e convencionou-se que este é o hemisfério cerebral funcionalmente dominante. Isso significa que os dois hemisférios devem ser morfológica e funcionalmente assimétricos. De fato, ao nascimento, o plano temporal direito é maior do que o esquerdo e durante o desenvolvimento a dominância hemisférica se manifesta quando a criança começa a falar. Assim, somos programados inatamente para falar, mas em que língua, vai depender da experiência, ou seja, de aprendizagem