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  Do “cemitério dos vivos” ao “Canto dos malditos”: Retratos do hospício em Lima Barreto e Austregésilo Carrano Bueno William Vaz de Oliveira  Resumo: O objetivo deste trabalho é estabelecer uma relação entre os espaços, imagens e retratos do hospício, desenhados por Lima Barreto em seu “Diário do Hospício” ou “Cemitério dos Vivos”, e por Austregésilo Carrano Bueno em seu livro “Cantos dos Malditos”, buscando evidenciar as diferenças e semelhanças, rupturas e continuidades, sofridas pelos espaços de tratamento da loucura no Brasil nestes diferentes momentos históricos. Plavras-chave: Hospício, Memórias e Representaçõe s. Abstract: The objective of this study is to establish a relationship between the spaces, images and pictures of the hospice, designed by Lima Barreto in his "Journal of Hospice" or "Graveyard of the Living," and Austregésilo Carrano Bueno in his book "Songs of the Damned" attempt to clarify the differences and similarities, continuities and ruptures, suffered by the treatment spaces of madness in Brazil in the different historical moments. Keywords: Hospice, Memories and Representations. O espetáculo da loucura, não só no indivíduo isolado mas,e sobretudo, numa  população de manicômio, é dos mais dolorosos e tristes espetáculos que se pode oferecer a quem ligeiramente meditar sobre os destinos, sobre ele (…). (  Lima  Barreto – “O Cemitério dos Viv os”). Seqüelas não acabam com o tempo. Amenizam. Quando passam em minha mente as horas de espera, sinceramente, tenho dó de mim. Nó na garganta, choro estagnado, revolta acompanhada de longo suspiro. Ainda hoje, anos depois, a espera é por demais agonizante. Horas, minutos, segundos são eternidades martirizantes. Não começam hoje, adormeceram, a muito custo... Comigo. Esta espera, oh Deus! É como nunca pagar o pecado original. É ser condenado à morte várias vezes. Quem disse que só se morre uma vez? Sentidos se misturam, batidas cardíacas invadem a audição. Aspirada a respiração não é... é introchada. Os nervos já não tremem...  Doutorando pela Universidade Federal Fluminense – UFF. Bolsista CAPES.

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  • Do cemitrio dos vivos ao Canto dos malditos: Retratos do hospcio em Lima Barreto e Austregsilo Carrano Bueno

    William Vaz de Oliveira

    Resumo: O objetivo deste trabalho estabelecer uma relao entre os espaos, imagens e retratos do hospcio, desenhados por Lima Barreto em seu Dirio do Hospcio ou Cemitrio dos Vivos, e por Austregsilo Carrano Bueno em seu livro Cantos dos Malditos, buscando evidenciar as diferenas e semelhanas, rupturas e continuidades, sofridas pelos espaos de tratamento da loucura no Brasil nestes diferentes momentos histricos.

    Plavras-chave: Hospcio, Memrias e Representaes.

    Abstract: The objective of this study is to establish a relationship between the spaces, images and pictures of the hospice, designed by Lima Barreto in his "Journal of Hospice" or "Graveyard of the Living," and Austregsilo Carrano Bueno in his book "Songs of the Damned" attempt to clarify the differences and similarities, continuities and ruptures, suffered by the treatment spaces of madness in Brazil in the different historical moments.

    Keywords: Hospice, Memories and Representations.

    O espetculo da loucura, no s no indivduo isolado mas,e sobretudo, numa populao de manicmio, dos mais dolorosos e tristes espetculos que se pode oferecer a quem ligeiramente meditar sobre os destinos, sobre ele (). (Lima Barreto O Cemitrio dos Vivos).

    Seqelas no acabam com o tempo. Amenizam. Quando passam em minha mente as horas de espera, sinceramente, tenho d de mim. N na garganta, choro estagnado, revolta acompanhada de longo suspiro. Ainda hoje, anos depois, a espera por demais agonizante. Horas, minutos, segundos so eternidades martirizantes. No comeam hoje, adormeceram, a muito custo... Comigo. Esta espera, oh Deus! como nunca pagar o pecado original. ser condenado morte vrias vezes. Quem disse que s se morre uma vez? Sentidos se misturam, batidas cardacas invadem a audio. Aspirada a respirao no ... introchada. Os nervos j no tremem...

    Doutorando pela Universidade Federal Fluminense UFF. Bolsista CAPES.

  • Do solavancos. A espera est acabando. Ouo barulho de rodinhas. A todo custo, quero entrar na parede. Esconder-me, fazer parte do cimento do quarto. Olhos na abertura da portas rodam a fechadura. J no sei quem e o que sou. Acuado tento fuga alucinante. Agarrado, imobilizado... Escuto parte do meu gemido. Quem disse que s se morre uma vez? (Austregsilo Carrano Bueno Canto dos Malditos).

    No dia 18 de agosto de 1914, o poeta Lima Barreto dava entrada , pelas mos da polcia, no Pavilho de Observaes (PO) do Hospital Nacional de Alienados (HNA), aps ser preso em situao de embriaguez nas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Aps nove dias de observao no Pavilho, ficou constatado que Lima Barreto era alcolatra e, por este motivo, foi transferido para o HNA onde permaneceu internado por alguns dias. Cinco anos depois, aps ser preso novamente pela polcia, por fazer uso abusivo de bebidas alcolicas, Barreto foi readmitido no PO e depois de ser analisado foi novamente transferido para o HNA. Na ocasio de sua segunda internao, o poeta escreveu uma espcie de Dirio do Hospcio, onde narra as suas vivncias e experincias com a loucura, desenhando um retrato do hospcio como um Cemitrio dos Vivos.

    Decorridos mais de 50 anos, em meados de outubro de 1974, Austregsilo Carrano Bueno era internado pela primeira vez em um hospital psiquitrico na cidade de Curitiba, iniciando as suas aventuras e desventuras pelos recnditos espaos da loucura. Assim como Lima Barreto, suas vivncias e experincias foram narradas em seu livro Canto dos malditos, publicado pela primeira vez em 1990. O objetivo deste trabalho estabelecer uma relao entre os espaos, imagens e retratos do hospcio, desenhados por estes dois atores sociais, buscando evidenciar as diferenas e semelhanas, rupturas e continuidades, sofridas pelos espaos de tratamento da loucura no Brasil nestes diferentes momentos histricos.

    O Cemitrio dos Vivos

    A primeira passagem de Lima Barreto pelo HNA, se deu no dia 18 de agosto de 1914, quando deu entrada no estabelecimento aps ser trazido pela polcia em situao de embriaguez. Naquela ocasio, o escritor era ainda funcionrio pblico e encontrava-se na poca com 33 anos de idade. Aps nove dias de observao no PO, ficou constatado que Lima Barreto era alcolatra e, por este motivo, deveria ser transferido para o HNA para receber tratamento

  • adequado. Assim, foi feito. Sua transferncia se deu no dia 27 de Agosto de 1914. Quanto ao perodo em que permaneceu no Hospcio no se sabe, pois os documentos encontrados no revelam esta informao. O que se tem noticia que cinco anos depois, aps ser preso pela polcia por fazer uso abusivo de bebidas alcolicas, ele foi readmitido no Pavilho de observaes e depois de ser analisado foi novamente transferido para o Hospital Nacional de Alienados. Sobre esta segunda internao de Lima Barreto se tem maiores informaes, pois durante os dias que permaneceu no Hospcio, do dia 25 de dezembro de 1919 a 2 de fevereiro de 1920, ele relatou suas experincias atravs de manuscritos que, posteriormente, foram publicados em forma de dirio. Em seu Dirio do Hospcio, o escritor faz seus apontamentos, sem perder nenhum detalhe acerca das imediaes do hospcio atendo-se s emoes mais contraditrias que tomaram conta de si no momento em que ali permaneceu.

    Conta-nos, Barreto que ao chegar no PO, estabelecimento que, segundo ele, era a pior etapa de quem entra pelas mos da polcia, tiraram-lhe as roupas e lhe deram outra s capaz de cobrir a nudez. Conta ainda que lhe deram uma caneca de mate e logo em seguida, atiraram-no sobre um colcho de capim com uma manta pobre e miservel (Cf. BARRETO, 1993, p. 23). Atravs de seu discurso o hospcio vai tomando suas formas. Uma imagem degradante que se forma na retina causando certo arrepio. No obstante, como Lima mesmo conta, o que mais o incomodava no eram as condies do hospcio, mas a intromisso da policia em sua vida. Afinal de contas, no era a primeira vez que tinha sido recolhido pela polcia e direcionado ao hospcio. Sabia da sua lucidez, tinha conscincia de que no era louco, mas a bebida era sua companheira de sempre, e era justamente por isto que a polcia esteve sempre presente em sua vida, pois o combate ao alcoolismo era uma das principais misses da medicina higienista, que contava com o apoio da policia nessa poca. Escreve ele:

    No me incomodo muito com o hospcio, mas o que me aborrece essa intromisso da policia na minha vida. De mim para mim, tenho certeza que no sou louco; mas devido ao lcool, misturado com toda a espcie de apreenses que as dificuldades de minha vida material, h seis anos, me assoberbam de quando em quando dou sinais de loucura: deliro (BARRETO, 1993, p. 23).

  • Funcionrio pblico, Lima Barreto nunca se mostrou muito satisfeito com o trabalho que exercia no ministrio da Guerra, talvez a sua dificuldade no fosse tanta em relao ao trabalho, mas s diferenas que tinha com alguns colegas. s vezes passava dias, talvez meses, sem comparecer ao trabalho e nem sequer dava satisfao de sua ausncia. A perda da me, somada relao no muito rica e satisfatria com o pai, contribui, de certa forma, para a sua tendncia ao alcoolismo. Mostrava-se s vezes com um humor embotado, rosto sem expresso, talvez mais prximo da tristeza ou indiferena. Tinha a constante sensao de perigo eminente, sentia que, a qualquer momento, aconteceria uma catstrofe em sua vida o que lhe tiraria pra sempre o sossego. Como ele mesmo conta:

    (...) Muitas causas influram para que viesse a beber; mas, de todas elas, foi um sentimento ou pressentimento, um medo, sem razo nem explicao, de uma catstrofe domstica sempre presente. Adivinhava a morte de meu pai e eu sem dinheiro para enterr-lo; previa molstias com tratamento caro e eu sem recursos; amedrontava-me com uma demisso e eu sem fortes conhecimentos que me arranjassem colocao condigna com a minha instruo; e eu me aborrecia e procurava distrair-me, ficar na cidade, avanar pela noite adentro; e assim conheci o chopp, o whisky, as noitadas, amanhecendo na casa deste ou daquele (BARRETO, 1993, p. 35).

    A presso social sempre foi um martrio. s vezes no suportava e pirava. No foi apenas uma vez que foi internado por apresentar alguma crise. Em 1916, por exemplo, na ocasio de sua passagem pela cidade de Ouro Fino, foi atingido por uma crise, com sinais de delrios, por esse motivo foi levado Santa Casa daquela cidade, e no ano seguinte aps um novo surto foi recolhido ao Hospital Central do Exrcito. Conta ele que antes de ser recolhido no ltimo dia 24 de Dezembro de 1919, passou a noite em claro errando pelos subrbios da capital, em pleno delrio. Na tentativa de evitar este desprazer constante, marcado pela sensao de desamparo, varava noites nas ruas, bebendo imoderadamente. Encontrava na bebida a segurana que no tinha no dia a dia e nos seus companheiros de copo uma forma de preencher o vazio e a solido. No tinha grandes sucessos em seus relacionamentos, o pai doente transformava-se em um fardo, alm disso, tinha horror vizinhana, em suma, sentia um enorme vazio no fundo da alma. Assim, a bebida aparecia mesmo como a grande sada desta situao opressora. Dessa forma, como ele mesmo diz: A cachaa ficou sendo o nosso forte; e eu a

  • bebia desbragadamente, a ponto de estar completamente bbado s nove ou dez horas da noite (BARRETO, 1993, p. 36). No se preocupava com o corpo, permanecendo dias sem tomar banho, deixava crescer o cabelo e a barba. Todo o dinheiro que ganhava gastava com a bebida. Delirava de desespero e desesperana. Enfim, no apresentava perspectivas sobre a vida, apenas alimentava expectativas de teor pessimista e mantinha grande ansiedade pelo desfecho de eventos catastrficos. Faltava repartio durante semanas e meses ocupando todo o seu tempo com a bebida. Quando no ia ao centro da cidade, bebia aos redores de sua casa mesmo. Embriagava-se antes e depois do almoo, at o jantar, e aps a janta ainda bebia at a hora de dormir, quando no passava as noites errando pela rua, sem dormir. As alucinaes causadas pelo excesso de bebida alcolica foram as principais responsveis pela sua ida para o hospcio. Fantasiava e imaginava coisas a seu respeito, acreditava que havia uma conspirao contra sua pessoa. Ficava agitado e falava coisas desconexas. Foi assim que chegou ao hospcio. Dotado de uma conscincia poltica e social, as condies fsicas e estruturais do hospcio, bem como as formas de tratamento e condutas dos alienistas no ficaram livres dos olhos crticos do escritor, que em seu Dirio escreve:

    Tinha que ser examinado pelo Henrique Roxo. H quatro anos, ns nos conhecemos. bem curioso esse Roxo. Ele me parece desses mdicos brasileiros imbudos de um ar de certeza de sua arte, desdenhando inteiramente toda a outra atividade intelectual que no a sua e pouco capaz de examinar o fato por si. Acho-o muito livresco e pouco interessado em descobrir, em levantar um pouco o vu do mistrio que mistrio! que h na especialidade de que professa. L os livros da Europa, dos Estados Unidos, talvez; mas no l a natureza. No tenho por ele antipatia; mas nada me atrai a ele (BARRETO, 1993, p. 24-25).

    Nesta passagem, ele critica a conduta do Dr. Henrique Roxo, que era o diretor do Hospital Nacional naquela ocasio. Condena as suas atitudes de implantar modelos estrangeiros sem se ater s peculiaridades do Brasil. Com suas caractersticas prprias, sua natureza e organizao poltica e social. Mais a frente, na ocasio de sua passagem pela Seo de Pensionistas, Seo Calmeil, onde permaneceu do dia 12 de dezembro de 1919 ao dia 4 de janeiro de 1920, ele lana novamente a sua crtica ao modelo de assistncia mdico-psiquitrica no hospcio, mostrando que a prtica alienista imbuda de preconceitos, em que os alienistas ocupam seu lugar incontestvel de senhores da verdade e do saber, mas aplicam

  • mtodos importados sem ao menos lanar crticas sobre sua real validade. Referindo-se ao Dr. Antonio Austregsilo, alienista da seo Pinel do HNA, ele escreve:

    No lhe tenho nenhuma antipatia, mas julgue-o mais nevrosado e avoado do que eu. capaz de ler qualquer novidade de cirurgia aplicada psiquiatria em uma revista norueguesa e aplicar, sem nenhuma reflexo preliminar num doente qualquer. muito amante de novidades, do vient di paratre; das ltimas criaes cientificas ou que outro nome tenham (Idem, p. 30-31).

    No que diz respeito s imediaes e estruturas do HNA, bem como aos internos, Lima Barreto faz as seguintes consideraes:

    O mobilirio, o vesturio das camas, tudo de uma pobreza sem par. Sem fazer monoplio, os loucos so da provenincia mais diversa, originando-se em geral das camadas mais pobres da nossa gente pobre. So de imigrantes italianos, portugueses e outros mais exticos, so os negros roceiros, que teimam em dormir pelos desvos das janelas sobre uma esteira esmolambada e uma manta srdida; so copeiros, cocheiros, moos de cavalaria, trabalhadores braais. No meio disto, muitos com educao, mas que a falta de recursos e proteo atira naquela geena social (Idem, p. 25).

    sua volta desfilava os tipos mais exticos. Indivduos provenientes das camadas mais pobres da sociedade, de origens as mais diversas. Tipos diversos unidos por um denominador comum: representavam perigo para uma sociedade pretensamente civilizada, unicamente pelo fato de flanarem pela rua. Trancados no hospcio exibiam suas particularidades. Como observa Barreto, alguns eram furiosos, outros calados, no falavam nada com ningum. Alm disso: Alguns no suportam roupa no corpo, s vezes totalmente, outras vezes em parte. Na seo Pinel, num ptio que ficavam os mais insuportveis, dez por cento deles andava nu ou seminu () (Cf. BARRETO, 1993, p. 147). Barreto ainda lembra que esse ptio era horrvel devido pigmentao negra de uma grande parte dos doentes a recolhidos, a imagem que fica dele, que tudo negro. O negro a cor mais cortante (); e contemplando uma poro de corpos negros nus, faz ela que as outras se ofusquem no nosso pensamento (Idem). De forma geral a viso que Barreto nos fornece do Hospcio tem dimenses dantescas. A superlotao levava promiscuidade entre os doentes, sem contar que muitos se degradam no sexo (BARRETO, 1956, p. 147). Uma instituio mais voltada para a recluso dos indesejveis que propriamente para a cura da loucura. Neste sentido, no haveria uma melhor analogia que ao Cemitrio dos Vivos de Canto.

  • O Canto dos Malditos

    Como os jovens adeptos da Contracultura, Austregsilo Carrano Bueno levava uma vida calcada na ideologia do drop out, do cair fora, de uma sociedade que controla e aprisiona o indivduo. Na tentativa de alcanar a liberdade e exercer a sua autonomia, o jovem tenta reinventar a sua existncia fora desse sistema, na companhia dos amigos e sobre os efeitos das drogas. Fazia parte de um grupo diferente, um grupo que, segundo ele, caracterizava-se pela rebeldia, usava roupas exticas, cabelos compridos e se comunicava atravs de uma fala estranha. De maneira peculiar, no Brasil militar dos anos 1970, este grupo tentava abrir um espao para novas possibilidades de pensamento e expanso da mente. Aos olhos do Estado, certamente, representavam um perigo, uma vez que questionava o exerccio do poder. Comportando-se na contramo do sistema, negando suas normas e suas ordens, no lhes faltaram sanes atravs da fora moral, fsica e psquica.

    Jamais sonharia aonde os caminhos da minha adolescncia me levariam. Como fica evidente nas palavras de Carrano seus comportamentos da adolescncia o levaram a caminhos tortuosos e difceis, foi justamente por se comportar contrariamente s normas vigentes que ele foi experimentar a vivncia dos hospcios. No obstante, embora tivesse essa conscincia, no esperava que aquilo fosse lhe acontecer. Pego de surpresa, ele compara sua vida a um filme de terror. Sua primeira internao ocorreu em meados de outubro de 1974, quando tinha ainda seus dezessete anos. Seu pai o convidara para ir visitar um amigo que se encontrava internado em um hospital. O convite do pai acabou surpreendendo Carrano, pois, segundo este, eles no tinham o hbito de sarem juntos. Todavia, acabou aceitando o convite do pai, desde que pudesse dirigir o carro at o hospital. Ela era louco por carros, assim como o jovem astro de cinema norte-americano, James Jeam, Carrano mantinha vivo o esprito do jovem rebelde, da Juventude transviada, louca pela velocidade e pela liberdade.

    a partir da que a cruel aventura de Carrano pelos hospitais psiquitricos brasileiros comea. Carrano sabia e afirmava veementemente que no estava doente, mas a sua persistncia no convenceu os enfermeiros que o internaram base da fora. Deixando o pai

  • no pronto-socorro, os enfermeiros caminharam com Austregsilo por um corredor at entrarem em uma sala que funcionava como enfermaria. Neste momento, vendo o desespero de Carrano que no sabia exatamente o que estava acontecendo, um dos enfermeiros lhe explica que ela estava ali para fazer um tratamento pelo uso de drogas. Seu pai encontrou maconha numa jaqueta sua. Ele acha que voc viciado e trouxe-o aqui para fazer tratamento, esclarece um dos enfermeiros. Carrano no acreditava que o pai tivesse feito aquilo sem ao menos ter falado com ele. Em desespero se lamentava pela tragdia tentando, sem sucessos, provar a sua inocncia. Enquanto isso, sem que fosse feito nenhum tipo de exame, lhe aplicaram uma injeo para que pudesse dormir. Austry, como era chamado, foi acometido por uma sensao sbita de dor, medo e pavor. Ele sabia que aquilo estava errado, que era um engano, tentava de todas as formas convenc-los disso, mas a sua voz no tinha eco. Foi assim que, aos poucos, foi adentrando aos espaos daquele mundo impensvel, um mundo de horror e misria, como afirma o autor, onde um bando de personalidades estranhas convive com os mais assustadores de seus fantasmas.

    O universo da loucura um universo triste e solitrio. muito sofrida a experincia do desamparo. E no Canto dos Malditos a situao era ainda mais catica. Excludos da sociedade e, na maioria das vezes, abandonados por seus familiares, aqueles internos pareciam mais animais que seres humanos. Suas condies eram deplorveis. Viviam ali, como uma espcie de cadveres de almas frias. Vivos, mas sem nenhuma perspectiva. Num ambiente que parecia uma priso, com um muro de cinco metros de altura. Um set parecido com um filme de terror, por onde aqueles corpos e almas mal cuidados andavam sujos, cagados e mijados. Carrano nos fornece a seguinte imagem desse espao:

    Sa para um ptio de uns 20 por 20 metros, cercado por um muro de uns 5 metros de altura. Vi outros internos, que no estavam s mesas, em frente ao meu quarto. Mais pareciam mendigos maltrapilhos. Ficavam isolados dos outros num canto prximo aos banheiros do ptio. Nesse canto havia um telhadinho, parecendo uma churrasqueira de parque. Aquele grupo estranho ali ficava. No meio do ptio havia um pouco de grama, onde alguns deitavam-se. Encostei num canto do muro branco, observando aquele cenrio de filme de terror. O que mais me chamava a ateno era aquele grupo, no canto coberto... tinha um sujeito enorme, forte, meio gordo, ou inchado, com um corte de cabelo estilo militar. No parava de balanar a mo direita e virava a cabea de um lado para outro. Era uma figura assustadora. Outro sujeito corria de um canto para outro, soltando um tipo de grunhido. Havia alguns com as calas molhadas e sujas, devia ser urina e fezes. Um outro escorregava

  • andando com o corpo e o rosto encostados na parede, parecendo querer entrar, fazer parte daquela parede, esconder-se de todo, misturar-se com o concreto. Era uma viso triste: aquelas pessoas reduzidas quilo. Eram pessoas sim, seres humanos, mas pareciam feras torturadas, agoniadas, com alguma coisa mordendo seus corpos e rasgando-lhes tambm a alma. Os que haviam tomado caf comigo pareciam normais e no estavam em farrapos, como aqueles l do canto. Havia outros malvestidos ou sujos, esparramados na pouca grama. Mas os daquele canto eram diferentes, pareciam a degradao de uma raa sobrevivente de uma guerra nuclear. O desespero em seus olhares, o medo em seus atos... a individualidade em suas fantasias, apenas quebradas por algum ato de violncia de um para com o outro. Aquele canto era qualquer coisa diablica. Como se o demnio tivesse comando de suas mentes, nelas derramando sua ira e divertindo-se em atorment-los. Aquilo era satnico: pessoas urinadas, defecadas, revirando os olhos, cabeas, querendo entrar dentro do concreto. Todo aquele tormento s podia ser comparado ao inferno. Se ele realmente existe, sem dvida eu estava vendo um pedacinho dele, ali naquele canto, o canto dos malditos (BUENO, 2001, p. 54).

    Ao ver aqueles internos ali largados, parados no tempo, com uma enorme indiferena no olhar, o desespero brotou violentamente em seus olhos, meu Deus, como acreditar que seres humanos poderiam ser reduzidos quilo. Estou preso ao canto dos loucos cagados, que merda! Tenho dezessete anos e estou num hospcio, lamenta.. Queria de todas as formas sair daquele lugar, reivindicava pelo seu direito de ser examinado pelo mdico, de fazer a sua autodefesa, de explicar que no era louco, mas os enfermeiros diziam que o mdico quem decidia o momento que fosse preciso fazer algum comunicado. Ele j havia conversado com o pai anteriormente e ele j tinha passado para o mdico todas as informaes necessrias acerca do estado mental de Carrano. A internao involuntria muito violenta, A antipsiquiatria faz uma crtica contundente a essa prtica defendendo que ela anula o indivduo com sofrimento psquico no lhe dando ouvidos. Da o carter perverso da Psiquiatria e da Psicologia tradicionais que reservam para si o direito de dizer a verdade sobre a loucura incorporando ao seu discurso o poder e o saber acerca do assunto

    No interior dessas instituies psiquitricas so utilizadas todas as formas para que o controle seja mantido a todo o custo. Seja de carter coercitivo ou corretivo, essas prticas visam a manuteno da disciplina em todos os setores. Dentre essas prticas, algumas se fazem muito presentes no livro de Carrano, como o eletrochoque, e o uso imoderado de medicamentos. Prticas constantemente criticadas pelos antipsiquiatras, pelos adeptos da reforma psiquitrica e da desinstitucionalizao da loucura, justamente por apresentarem um carter mais punitivo e disciplinador que curativo. Em uma passagem do livro, por exemplo, Austry e Rogrio, outro interno, falam do uso da Tortulina ou Haloperidol, neurolptico muito

  • utilizado em caso de transtorno bipolar. Mostrando que a ao desse medicamento no organismo no deixa de ser violenta. Di pra diabo essa droga do capeta! Eles aplicam nos pacientes que esto exaltados, uma forma de control-los, pois ficam completamente sem ao fsica. O carter punitivo do medicamento fica evidente nessas palavras de Rogrio, amigo de Austry. Eles fazem uma grande crtica ao uso demasiado de medicamentos. Isto se torna muito claro nas palavras de Rogrio:

    [...] Cara, isto aqui pior que uma priso de verdade. , em muitos sentidos, to ou mais perigoso. Essas drogas que somos obrigados a tomar so um veneno que nos mata em poucos anos [...] Cara, teu velho um mal informado. Se ele queria evitar que voc tomasse realmente drogas, ele te trouxe ao lugar mais errado do mundo, pois aqui dentro ns somos drogados diariamente. A sedao aqui feita em massa. Tomamos mais de vinte comprimidos dirios [...] mas no fique impaciente, aqui voc come comprimidos. Ns acordamos tomando essas drogas e dormimos tomando essas drogas... (BUENO, 2001, pp.58-59).

    Numa outra passagem, eles falam do eletrochoque:

    - Cara, voc f dessa figura... o que queimar os chifres? - Eletrochoque. Choque meu irmo! - J ouvi falar nesse troo, mas isso pra louco... - E o que voc acha que somos? Esse filho de uma cadela pesteada (Esto falando do Dr. Al Guimares) vive com uma maquininha de eletrochoque na mo. Acho que ele at dorme com ela. - Mas eu no sou louco. - Ta aqui dentro! Para todo mundo l fora voc no passa de um louco... Isto aqui um hospcio, cara! E comea com esses interesseiros que dizem tratar da gente... (BUENO, 2001, p. 59-60).

    Assim como recebeu a injeo no momento de sua admisso, Carrano tambm comeou a ser medicalizado sem antes ter consultado com o mdico. Tambm foi privado de receber visita de seus parentes durante quinze dias porque essa privao faz parte do tratamento e acredita-se que ela seja bastante importante para que o paciente aceite o fato de que ele se encontra em tratamento. Portanto um contato com um ente querido neste momento no muito aconselhvel.

    Dentro daquele lugar o maior dos fantasmas no era a tortura fsica, mas a psicolgica. Personalidades em constantes mutaes, marcadas pela dolorosa experincia do eletrochoque e dos aoites dirios. S de pensar j dava um n na garganta e uma dor imensa no corao. Tendo passado por essa experincia, Carrano d o seu testemunho:

  • Estava paralisado de medo. Uma reao eu no conseguiria, estava completamente sem ao. Minhas pernas mal me agentavam em p. Marcelo se aproximou, apanhou meu brao. O Dr. Al para na porta com um tubo branco em cada mo, sorriso nos lbios. Marcelo, lentamente, deitou-me. Eu estava em choque de tanto medo. Via tudo em no tinha como reagir. Mesmo que quisesse, no tinha foras. Fui deitado de barriga para cima, com a cabea em direo porta. Marcelo colocou uma de suas pernas dobradas em cima do meu trax. Uma das mos em cada brao meu, perto dos ombros, forando tudo para baixo. O outro enfermeiro pediu que abrisse a boca, e por ela enfiou um pequeno tubo preto oco, de borracha. Disse que mordesse com fora. Em seguida, juntou minhas pernas e comeou a for-las para baixo. Antes, porm, passou alguma coisa gordurosa em minhas tmporas. Eu no conseguia mais raciocinar estava paralisado. O pavor devia estar explodindo meus olhos. Meu corpo todo era pressionado para baixo. Eles faziam fora alm do peso dos seus corpos. Meu Deus, o que era aquilo? Eu mordia com fora aquele tubo em minha boca. No podia ver o mdico. Eles apertavam demais o meu corpo contra o colcho. Vi o mdico se aproximar da minha cabea, por trs, seu rosto perto do meu. No tinha mais aquele sorriso falso. Olhou em volta, examinou as minhas tmporas. Suas mos tocaram meu cabelo, limpando-as. Em seguida, recuou um pouco. S escutei parte do meu gemido. Perdi os sentidos (Idem, p. 89-90).

    O tratamento de choque mostra-se muito doloroso e desumano nestas palavras de Carrano. Criado por Ugo Cerletti em 1928, o eletrochoque foi muito utilizado no tratamento de pessoas acometidas pela Esquizofrenia. Cerletti admitia a incompatibilidade entre a esquizofrenia e a epilepsia. Mas pretendia conseguir que um esquizofrnico apresentasse crises epilpticas. A luz se fez para Cerletti quando ele visitou um matadouro de porcos em Roma. Ali ele verificou que os porcos submetidos a choques eltricos antes de serem abatidos apresentavam crises convulsivas. Segundo Nise da Silveira Foi ima iluminao s avessas! Cerletti conclui que se poderia tambm provocar no homem uma convulso, por corrente transcerebral, sem mat-lo. Assim nasceu em 1928 o eletrochoque, que ainda hoje utilizado, mesmo depois da reforma psiquitrica que vem sendo paulatinamente implantada no pas. No, outra vez! horrvel. Segundo Nise da Silveira, estas foram as palavras pronunciadas pela primeira vtima da eletrochoque. O terror do eletrochoque acompanhou Carrano durante todo o perodo que permaneceu internado no Hospital Bom Retiro. S de pensar naquilo era acometido por um grande calafrio que lhe subia pela coluna atravessava a nuca indo parar novamente nos ps. Domingo depois que se findavam as visitas comeavam o seu pesadelo, sabia que no outro dia j era segunda-feira, dia de tomar o maldito choque. Neste momento, acuado, ele caia em desespero:

  • Sentia-me um animal ferido e acuado, preso naquele quarto. Um garoto de dezessete anos, espinha na cara, barba nem pronunciada. Preso, esperando o choque! Um lugar que jamais sonhara conhecer. Preso! Esperando o choque. Passando por pesadelos que fariam qualquer macho adulto ficar temeroso. Preso. Esperando o choque. Dizem que h trinta anos no usam mais eletrochoque na Psiquiatria intitulada moderna. Preso. Esperando. O choque. O que que eu estou fazendo aqui dentro, ento? Preso, esperando o eletrochoque! Esse eletrochoque um terror, meu Deus! por que fazem isso? Preso, esperando o choque. Sua aplicao a seco, unha nos agarram e aplicam essa porra. Por que permitem que faam isso comigo? Preso, esperando o eletrochoque. O que eles dizem para os nossos familiares uma coisa queria ver meu pai aqui dentro: preso, esperando o eletrochoque (BUENO, 2001, p. 102).

    Os dias foram passando, o tratamento recebido era acompanhado por uma grande revolta. Diante das circunstncias no parecia ser possvel vislumbrar alguma sada. Nervoso e mal-humorado pela situao, Carrano foi tornando-se um homem impaciente e agressivo. Brigava por pouca coisa e como castigo recebia doses imensas de medicamentos e eletrochoques. Aos poucos, Carrano foi se assemelhando aos crnicos, fazia as refeies do dia com dificuldades, babava e deixava a comida cair sobre a roupa. Os dias foram passando... Comprimidos e mais comprimidos... At ficar altamente sedado. Com o tempo foi tornando indiferente situao, j no mais reagia e perdia aos poucos as perspectivas para o futuro. Como ele mostra:

    Nunca havia tomado tantos comprimidos em minha vida. Fiquei to impregnado que no conseguia desabotoar um boto de camisa. Os choques foram se sucedendo. Sem saber quando ia sair. Visitas nos dia de visitas. Meu pai no falava. Minha me no vinha no suportava me ver l dentro. Indiferena tomando conta do meu ser. Sedado, eu no tinha mais vontade prpria. No ptio, sentava e olhava para um ponto qualquer, por horas e horas. Sentia-me leve, flutuando. Os dias passando... Os comprimidos... eu os tomava. Os choques eu os supria automaticamente. No me perturbavam mais. Nada ali dentro me perturbava mais. Engordava forte e bonito... (BUENO, 2001, p. 116).

    Passavam-se os dias, internos saindo e outros chegando e Carrano continuava indiferente. No se importava mais com os choques. interessante como esses estabelecimentos automatizam os comportamentos e atitudes das pessoas. Carrano j era chamado de crnico pelos novatos. A famlia comeou a se preocupar com a sua situao at que finalmente exigiu a sua alta daquele hospital. Mas suas passagens pelo hospcio no se encerraram por a. Depois do Bom Retiro em Curitiba, passou pelo Hospital Psiquitrico Pinel no Rio de Janeiro, onde permaneceu por

  • quinze dias at ser retirado pelo seu pai que o levou de volta para Curritiba, onde foi internado no Hospital San Julia, onde permaneceu por mais alguns meses at ser retirado pelo pai. Foi internado ainda no Hospital Psiquitrico Glria, onde permaneceu uma semana e depois fugiu. Ser que tem eletrochoque? Era a primeira preocupao dentro dessas instituies pelas quais passou. No hospcio da Glria usavam os eletrochoques como castigo, nos cubculos que eram iguais s celas de cadeia (Idem, p. 140). Carrano encontrava-se, nesse momento, com dezenove anos. Desde a primeira internao j fazia quase trs anos que entrava e saa de instituies psiquitricas. Fez os seus vinte anos dentro do hospcio. A revolta brotava cada vez mais em seus olhos. Sentia que no tinha mais nada a perder, pois a sua verdadeira identidade j havia sido roubada. No hospital ele brigava, no respeitava mais os ditos homens de branco e vivia metido em confuses. E foi justamente em virtude de uma dessas confuses que sua aventura pelos manicmios da vida teve um fim.

    Certo dia, aps se envolver uma briga, como castigo, ele foi parar num cubculo que tinha efeito moral. J ia para o quinto dia a sua permanncia naquele cubculo imundo, cansado da situao ele ateou fogo no colcho, aps ter sido socorrido ele foi retirado do hospital. Foi o meu passaporte para a liberdade. Naquela mesma semana, meus pais me tiraram, conta.

    Consideraes Finais:

    As memrias de Lima Barreto e Austregsilo Carrano Bueno possuem um intervalo de cerca de 50 anos. No entanto, revelam que o hospcio no Brasil dos anos 1910-20 no apresenta uma distncia to grande do hospcio dos anos 1960-70. A forma de classificao da loucura, atrelada aos comportamentos desviantes dos anos da ditadura, tem grande proximidade com a classificao da loucura pelo critrio da anormalidade, de uma psiquiatria preventiva e higienista do incio do sculo XX. Parece, neste sentido, que o que mais importava era manter os indivduos indesejveis longe da esfera social, mantida pelos preceitos da normalidade. No que diz respeito ao asilamento e tratamento dos alienados configura-se novamente uma grande proximidade. Tanto Barreto quanto Carrano mostram as situaes deplorveis em

  • que os asilados se encontravam, em pssimas condies de higiene e salubridade, submetidos a tratamentos desumanos, quase sempre importados sem grandes cuidados da Europa, sobretudo da Frana. Se nos anos 1910, de Barreto, o pacientes eram submetidos s sangrias, purgantes, opiceos, contidos por camisas-de-fora e imersos em banheiras de gua morna ou fria onde permaneciam por longas horas, nos anos 1960 e 1970 de Carrano, os pacientes eram submetidos ao tratamento a base de choque e, principalmente, s verdadeiras camisas-de-foras qumicas, com dose cavalares dirias de medicamentos. claro que ocorreram diversas mudanas, mas as memrias de Barreto e Carrano mostram muito mais semelhanas do que diferenas. O hospcio, estabelecimento que deveria promover a cura ou ao menos a reabilitao dos alienados, serviu, ao longo desses anos, mais como um local de recluso, punio, controle e disciplina dos indesejveis sociais do que propriamente sua cura. Essa situao s+o comearia a mudar mesmo a partir dos anos 1990, quando o Movimento da Luta Antimanicomial brasileiro comea a reivindicar um cuidado mais digno e humanitrio aos pacientes com transtornos psiquitricos e a criao de uma lei que garantisse no apenas um tratamento adequado, mas, sobretudo, uma desinstitucionalizao da doena mental, atravs de uma descentralizao do tratamento, o que culminaria na lei de 2002, aprovada pelo Governo de Luiz Incio da Silva, com a criao dos Centros de Ateno Psicossocial (CAPS). A reforma psiquitrica significa um grande passo na humanizao do tratamento aos doentes mentais no Brasil, mas ainda preciso caminhar muito.

    Bibliografia:

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  • FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Histria da Violncia nas Prises. Petrpolis: Vozes, 1977. GINSBERG, Allen. Uivo; Kaddish e outros Poemas. Porto Alegre: L&PM, 1984. HOLLANDA, H. B. Impresses de Viagem: CPC, Vanguarda e Desbunde (1960-1970). So Paulo: Brasiliense, 1980. SILVEIRA, Nise da. O Mundo das Imagens. So Paulo: tica, 1992. VENTURA, Zuenir. 1968: O Ano que no Terminou. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.