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 A HISTÓRIA DE UM PLANETA H. P. BLAVATSKY  Nenhuma estrela, entre miríades que cintilam no céu escuro do espaço sideral, brilha tanto quanto o planeta Vênus -- nem mesmo Sírio-Sothis, a estrela-cão, amada por Ísis. Vênus é a rainha dos planetas, a jóia da coroa de nosso sistema solar. É a inspiração do poeta, guardiã e companheira do cão pastor solitário, a encantadora estrela da manhã e a estrela vespertina. Pois, "estrelas ensinam, tanto quanto brilham", embora seus segredos ainda não tenham sido contados e revelados à maioria dos homens, inclusive os astrônomos. São realmente "beleza e mistério". Mas"onde há mistério, supõe-se haver também o mal", diz Byron. O mal, portanto, foi detectado pela fantasia humana inclinada para o mal, até mesmo nos olhos luminosos que espreitam nosso perverso mundo através do véu de éter. Dessa forma, assim como homens e mulheres, passaram a existir também estrelas e planetas difamados. Com muita freqüência, a reputação e a sorte de um homem ou grupo são sacrificadas para beneficiar outro homem ou grupo. Assim como é na terra, embaixo, é no céu, em cima, e Vênus, o planeta-irmã de nossa Terra,1 foi sacrificada pela ambição de nosso pequeno globo para mostrar este como o planeta "escolhido" do Senhor. Ela tornou-se o bode expiatório, Azaziel do domo estrelado, dos pecados da Terra ou melhor para os que pertencem a uma certa classe da família humana -- o clero -- que caluniou a orbe brilhante a fim de provar o que sua ambição lhe sugeria como o melhor meio de alcançar poder e exercitá-lo resolutamente sobre as massas supersticiosas e ignaras. Isto ocorreu durante a Idade Média. E agora o pecado devolve a mentira na porta dos cristãos e seus inspiradores, os cientistas, apesar de o erro ter sido com sucesso elevado à sublime posição de um dogma religioso, como o foram tantas outras ficções e invenções. De fato, todo o mundo sideral, os planetas e seus regentes -- os deuses antigos do paganismo poético -- o sol, a lua, os elementos e toda a hoste de mundos incalculáveis -- pelo menos os que eram conhecidos pelos Pais da Igreja -- compartilharam a mesma sorte. Todos foram difamados e endemoniados pelo insaciável desejo de provar um insignificante sistema teológico -- construído a partir de antigos materiais pagãos -- como sendo o único correto e sagrado, estando todos os que o precederam ou seguiram completamente errados. Nos pedem para acreditar que o sol, as estrelas e o próprio ar tornaram-se puros e "redimidos" do pecado original e do elemento satânico do paganismo somente após o ano I d.C. A escolástica e os escoliastas,cujo espírito "desdenha a investigação laboriosa e a dedução morosa", mostraram, para a satisfação da infalível Igreja, que todo o Cosmos encontrava-se sob o poder de Satã -- um esfarrapado elogio a Deus -- antes do ano da natividade; e os cristãos tiveram de acreditar ou ser condenados. Entretanto, nunca o sofisma e o casuísmo sutil mostraram-se de forma tão evidente, em sua verdadeira luz, como nas questões do ex-satanismo e, mais tarde, na redenção dos vários corpos celestes. A pobre e bela Vênus levou a pior nessa guerra dita divina de provas, e de forma mais intensa que qualquer um de seus colegas siderais. Enquanto a história dos outros seis planetas e sua gradual transformação de deuses greco-arianos em demônios semíticos e, finalmente, em "atributos divinos dos sete olhos do Senhor", é conhecida apenas pelas pessoas educadas, a de Vênus-Lúcifer tornou-se

16204 - A HISTÓRIA DE UM PLANETA - HELENA PETROVNA BLAVATSKY

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A HISTRIA DE UM PLANETAH. P. BLAVATSKY Nenhuma estrela, entre mirades que cintilam no cu escuro do espao sideral, brilha tanto quanto o planeta Vnus -- nem mesmo Srio-Sothis, a estrela-co, amada por sis. Vnus a rainha dos planetas, a jia da coroa de nosso sistema solar. a inspirao do poeta, guardi e companheira do co pastor solitrio, a encantadora estrela da manh e a estrela vespertina. Pois, "estrelas ensinam, tanto quanto brilham", embora seus segredos ainda no tenham sido contados e revelados maioria dos homens, inclusive os astrnomos. So realmente "beleza e mistrio". Mas"onde h mistrio, supe-se haver tambm o mal", diz Byron. O mal, portanto, foi detectado pela fantasia humana inclinada para o mal, at mesmo nos olhos luminosos que espreitam nosso perverso mundo atravs do vu de ter. Dessa forma, assim como homens e mulheres, passaram a existir tambm estrelas e planetas difamados. Com muita freqncia, a reputao e a sorte de um homem ou grupo so sacrificadas para beneficiar outro homem ou grupo. Assim como na terra, embaixo, no cu, em cima, e Vnus, o planeta-irm de nossa Terra,1 foi sacrificada pela ambio de nosso pequeno globo para mostrar este como o planeta "escolhido" do Senhor. Ela tornou-se o bode expiatrio, Azaziel do domo estrelado, dos pecados da Terra ou melhor para os que pertencem a uma certa classe da famlia humana -- o clero -- que caluniou a orbe brilhante a fim de provar o que sua ambio lhe sugeria como o melhor meio de alcanar poder e exercit-lo resolutamente sobre as massas supersticiosas e ignaras. Isto ocorreu durante a Idade Mdia. E agora o pecado devolve a porta dos cristos e seus inspiradores, os cientistas, apesar ter sido com sucesso elevado sublime posio de religioso, como o foram tantas outras fices e mentira na de o erro um dogma invenes.

De fato, todo o mundo sideral, os planetas e seus regentes -- os deuses antigos do paganismo potico -- o sol, a lua, os elementos e toda a hoste de mundos incalculveis -- pelo menos os que eram conhecidos pelos Pais da Igreja -compartilharam a mesma sorte. Todos foram difamados e endemoniados pelo insacivel desejo de provar um insignificante sistema teolgico -- construdo a partir de antigos materiais pagos -- como sendo o nico correto e sagrado, estando todos os que o precederam ou seguiram completamente errados. Nos pedem para acreditar que o sol, as estrelas e o prprio ar tornaram-se puros e "redimidos" do pecado original e do elemento satnico do paganismo somente aps o ano I d.C. A escolstica e os escoliastas,cujo esprito "desdenha a investigao laboriosa e a deduo morosa", mostraram, para a satisfao da infalvel Igreja, que todo o Cosmos encontrava-se sob o poder de Sat -um esfarrapado elogio a Deus -antes do ano da natividade; e os cristos tiveram de acreditar ou ser condenados. Entretanto, nunca o sofisma e o casusmo sutil mostraram-se de forma to evidente, em sua verdadeira luz, como nas questes do ex-satanismo e, mais tarde, na redeno dos vrios corpos celestes. A pobre e bela Vnus levou a pior nessa guerra dita divina de provas, e de forma mais intensa que qualquer um de seus colegas siderais. Enquanto a histria dos outros seis planetas e sua gradual transformao de deuses greco-arianos em demnios semticos e, finalmente, em "atributos divinos dos sete olhos do Senhor", conhecida apenas pelas pessoas educadas, a de Vnus-Lcifer tornou-se

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Esta histria deve agora ser contada em favor dos que negligenciaram sua mitologia astral. Vnus, caracterizada por Pitgoras como lter sol, um segundo Sol, em virtude de sua magnfica radincia -- no igualada por nenhum outro planeta -- foi a primeira a chamar a ateno dos antigos teogonistas. Antes de comear a ser chamada de Vnus, era conhecida na teogonia prhesiodiana como Esforo (ou Fsforo) e Hspero, a filha da aurora e do crepsculo. Em Hesodo, alm disso, o planeta decomposto em dois seres divinos, dois irmos -- Esforo (Lcifer dos latinos) a manh, e Hspero, a estrela vespertina. So filhos de Astreu e Eos, o cu estrelado e a aurora, e tambm de Cfalo e Eos (Teog: 381, Hyg. Poet. Astron. 11, 42). Preller, citado por Decharme, mostra Faetonte idntico a Fsforo ou Lcifer (Grech. Mythol: I, 365). E, invocando a autoridade de Hesodo, tambm transforma Faetonte em filho das duas ltimas divindades -Cfalo e Eos. Ora Faetonte ou Fsforo, a "orbe luminosa da manh", levado fora na juventude por Afrodite (Vnus) que faz dele o guardio noturno de seu santurio (Teog: 987991). Ele a "brilhante estrela da manh" (ver Apocalipse de Joo, XXII, 16) amado por sua luz radiante pela Deusa do Amanhecer, Aurora, que, apesar de gradualmente eclipsar a luz de seu amado, parecendo assim causar sua aniquilao, o faz reaparecer noite no horizonte, onde ele toma conta dos portes do cu. De manh , Fsforo "surgido das guas do Oceano, eleva no cu sua sagrada cabea para anunciar a aproximao da luz divina" (Iliad, XXIII, 226; Odiss: XIII, 93; Virg: Eneida, VIII, 589; Mythol. de la Grce Antique: 247). Ele tem uma tocha na mo e voa pelo espao, uma vez que precede o carro de Aurora. Ao entardecer torna-se Hspero "a mais esplndida das estrelas que brilham na abboda celeste" (Ilad, XXII. 317). Ele o pai das Hesprides, as guardis das mas de ouro, juntamente com o Drago; o belo gnio dos cachos dourados, cantado e glorificado em todo antigo epitalmio (cantos nupciais dos primeiros cristos e dos gregos pagos); ele que, ao cair da noite, conduz o cortge nupcial e entrega a noiva nos braos do noivo. (Carmen Nuptiale. Ver Mythol. de 1a Grce Antique, Decharme). At aqui no parece haver uma possvel analogia conciliatria entre esta personificao potica da estrela, um mito puramente astronmico, e o Satanismo da teologia Crist. De fato, a ntima conexo entre o planeta enquanto Hspero, a estrela vespertina, e o Jardim do den grego com seu Drago e mas de ouro pode, com uma certa imaginao, sugerir algumas dolorosas comparaes com o tercerio captulo de Gnesis. Mas isto insuficiente para justificar a construo de um muro teolgico de defesa contra o paganismo, feito de difamao e m interpretao. Mas de todos os evemerismos gregos, Lcifer-Esforo , talvez, o mais complicado. O planeta tornou-se, com os latinos, Vnus ou AfroditeAnadimene, a Deusa nascida da espuma, a "Me Divina", idntica a Astartia fencia ou a Astarot judia. Eram todas chamadas "Estrela da Manh" e Virgens do Mar (da Maria), o grande Abismo, ttulos dados hoje pela Igreja Romana sua Virgem Maria. Todas estavam ligadas lua e fase crescente, ao Drago e ao planeta Vnus, uma vez que a

me de Cristo estava relacionada a todos estes atributos. Se os marinheiros fencios carregavam fixa na proa de seus navios a imagem da deusa Astartia (ou Afrodite, Vnus Ericina) e observavam a estrela vespertina e da manh como sua estrela guia, "o olho de sua Deusa me", o mesmo fazem os velejadores da Igreja Catlica Romana at hoje. Eles prendem uma Madona na proa de sua nave e a Virgem Maria abenoada chamada "Virgem do Mar". A patrona aceita dos marinheiros cristos, sua estrela, "Estrela do Mar" etc. surge na lua crescente. Como as Deusas pags antigas, a "Rainha do Cu" e a "Estrela da Manh", exatamente como elas o eram. Se isso explica algo, deixado sagacidade do leitor decidir. No entanto, Lcifer-Vnus nada tem a ver com escurido e tudo com luz. Quando chamado Lcifer, o "portador da luz", o primeiro raio radiante que destri a escurido letal da noite. Quando chamado Vnus, o planetaestrela torna-se smbolo do amanhecer, a casta Aurora. O professor Max Mller acertadamente conjetura que Afrodite, nascida no mar, a personificao do Raiar do Dia, e o mais encantador signo na Natureza ("Cincia da Linguagem") pois, antes de sua naturalizao pelos gregos, Afrodite era a Natureza personificada, a vida e a luz do mundo pago, como prova a bela invocao Vnus de Lucrcio, citada por Decharme. Ela a divina Natureza em sua inteireza, Aditi-Prakriti antes de tornar-se Lakshmi. a Natureza diante de cujo rosto magestoso e belo "os ventos sopram, o silencioso cu derrama torrentes de luz e as ondas do mar sorriem" (Lucrcio). Quando referida como a deusa sria Astartia, a Astarot de Hieropolis, o radiante planeta foi personificado como uma magestosa mulher, segurando em uma das mos uma tocha, em outra, um instrumento curvo na forma de cruz. (Vide De Dea Syri, de Lucian e De Nat. Deorum, de Cicero, 3 c. 23). Finalmente, o planeta representado astronomicamente como um globo equilibrado sobre a cruz -- um smbolo ao qual diabo algum gostaria de ser associado -- enquanto o planeta Terra um globo com uma cruz sobre ele. Mas, ento, estas cruzes no so smbolos do Cristianismo, mas a crux ansata egpcia, atributo de sis (que Vnus e Afrodite, e tambm Natureza) ou o planeta; o fato de a Terra ter a crux ansata revertida tem grande significado oculto, no havendo necessidade de tratar disso no momento. Ora, o que diz a Igreja e como ela explica a "terrvel associao"? A Igreja acredita no diabo, naturalmente, e no pode dar-se ao luxo de perd-lo. "O Diabo o principal pilar da Igreja" confessa despudoradamente um defensor2 da Ecclesia Militans. "Todos os gnsticos Alexandrinos falam-nos da queda dos Eons e seus Pleromas (plenitude), e todos atribuem esta queda ao desejo de conhecer", escreve outro voluntrio do mesmo exrcito, caluniando os Gnsticos, como sempre, e identificando o desejo de conhecer ou ocultismo, magia, com o Satanismo.3 E ento, imediatamente, ele cita a Philosophie de l'Histoire de Schlegel para mostrar que os sete reitores (planetas) de Pymander, "designados por Deus para conter o mundo fenomenal em seus sete crculos, perdidos de amor por sua prpria beleza4, passaram a admirar a si mesmos com tamanha intensidade que, por causa desta autoadulao orgulhosa, finalmente caram". Tendo a perversidade aberto caminho entre os anjos, a mais bela criatura de Deus "rebelou-se contra seu Criador". Esta criatura na fantasia

teolgica Vnus-Lcifer ou melhor o Esprito ou Regente informante daquele planeta. Este ensinamento baseia-se na seguinte especulao. Os trs heris principais da grande catstrofe sideral mencionada em Apocalipse so, segundo testemunho dos padres da Igreja -"o Verbo, Lcifer seu usurpador (ver editorial) e o grande Arcanjo que o conquistou", cujos "palcios" (as "casas" como as denominam a astrologia) so o Sol, Vnus-Lcifer e Mercrio. Isso bastante evidente, uma vez que a posio destas orbes no sistema Solar corresponde em sua ordem hierrquica a dos "heris" no Captulo xii de Apocalipse "seus nomes e destinos(?) sendo intimamente relacionados no sistema teolgico (exotrico) com estes trs grandes nomes metafsicos". (Memoir, Mirville, para a Academia da Frana, sobre golpes de Espritos e Demnios). O resultado disso foi que a lenda teolgica tornou Vnus-Lcifer a esfera e o domnio do cado Arcanjo ou Sat diante de sua apostasia. Convocados a reconciliar esta afirmao com outro fato, o de que a metfora da "estrela da manh" aplicada a Jesus e sua Virgem me e que o planeta Vnus-Lcifer includo, alm disso, entre as "estrelas"dos sete espritos planetrios reverenciados pelos Catlicos Romanos5 sob novos nomes, os defensores dos dogmas e crenas latinas respondem da seguinte maneira: "Lcifer, o ciumento vizinho do Sol (Cristo) disse a si mesmo com grande orgulho: 'Eu subirei to alto quanto ele!' Ele foi frustrado em seu plano por Mercrio, embora o brilho deste [que So Miguel] tambm tenha se perdido no fogo fulgurante da grande orbe Solar como o seu prprio e embora, como Lcifer, Mercrio seja apenas assessor e guarda de honra do Sol." (Ibid.) Guardas de "desonra" agora, caso os ensinamentos teolgicos cristos forem verdadeiros. Mas aqui entra o casco fendido dos Jesutas. O ardente defensor da Demonolatria Catlica Romana, ao mesmo tempo adorador dos sete espritos planetrios, finge grande espanto diante das coincidncias entre as antigas lendas pags e crists, entre a fbula sobre Mercrio e Vnus e as verdades histricas contadas sobre So Miguel -- o "anjo da face" --, a cpia terrestre ou ferouer de Cristo. Ele os aponta dizendo: "...como Mercrio, o arcanjo Miguel, o amigo do Sol, seu ferouer, seu Mitra, talvez, pois Miguel um gnio psicopompo, que leva as almas separadas at suas designadas moradas e, como Mitra, o conhecido adversrio dos demnios." Isto demonstrado pelo livro dos nabateus recentemente descoberto (por Chwolson), no qual o Mitra zoroastriano chamado o "grande inimigo do planeta Vnus"6. (Ibid p. 160.) H algo nisso. Uma cndida confisso, desta vez, da perfeita identidade das personagens celestiais e do emprstimo de todas fontes pags. curioso, seno descarado. Enquanto nas mais antigas alegorias mazdestas Mitra conquista o planeta Vnus, na tradio crist Miguel derrota Lcifer, e ambos recebem, como esplio de guerra, o planeta da deidade subjugada. Mitra [diz Dollinger], possua, nos dias de antanho, a estrela de

Mercrio, situada ente o sol e a lua, mas recebeu o planeta do conquistado, e desde sua vitria ele identificado com Vnus". ("Judaisme and Paganisme," Vol. II., p. 109. trad. franc.) "Na tradio crist", acrescenta o erudito marqus, "a St. Miguel conferido, no Ce, o trono e o palcio do inimigo que subjugou. Alm disso, como Mercrio, durante os prsperos dias do paganismo, que transformaram em sagrado para este deus [demnio] todos os promontrios da terra, o Arcanjo o patrono do mesmo em nossa religio". Isto significa, se que significa algo, que agora pelo menos LciferVnus um planeta sagrado e no sinnimo de Sat, j que So Miguel tornou-se seu herdeiro legal. As consideraes anteriores so concludas com a seguinte fria reflexo: " evidente que o paganismo utilizou antes, e de forma maravilhosa, todos os recursos e caractersticas do prncipe da face do Senhor (Miguel) ao aplic-los a este Mercrio, ao Hermes-Anubis egpcio e a Hermes-Christos dos Gnsticos. Cada um destes foi representado como o primeiro dentre os conselheiros divinos e o deus mais prximo do sol, quis ut Deus". Estes ttulos, com todos seus atributos, tornaram-se os de Miguel. Os bons Padres, os Mestres Maons do templo da Igreja do Cristianismo, realmente sabiam como utilizar material pago em seus novos dogmas. O fato que basta examinar certos cartuchos egpcios, mencionados por Rossellini (Egypte, Vol. I., p. 289), para descobrir que Mercrio (a rplica de Srio em nosso sistema solar) Sothis, precedido pelas palavras "sole" e "solis custode, sostegnon dei dominanti, il forte grande dei vigilanti", "vigia do sol, sustentculo dos domnios e o mais forte de todos os vigilantes". Todos estes ttulos e atributos so agora do Arcanjo Miguel, que os herdou dos demnios do paganismo. Alm disso, viajantes em Roma podem testemunhar a maravilhosa presena na esttua de Mitra, no Vaticano, dos smbolos cristos mais conhecidos. Os msticos vangloriam-se disso. Eles identificam "na cabea do leo e nas asas da guia, o smbolo do corajoso Serafim, o mestre do espao (Miguel); em seu caduceu, a lana; nas duas serpentes enroladas em torno do corpo, a luta entre os princpios do bem e do mal e, sobretudo, nas duas chaves que Mitra segura, como So Pedro, as chaves com que este patrono-Serafim do ltimo abre e fecha os portes do Cu, astra cludit et recludit". (Mem. p. 162.) Resumindo, o que foi dito acima mostra que o romance teolgico de Lcifer foi construdo com base nos vrios mitos e alegorias do mundo pago, no se tratando de dogma revelado, mas simplesmente de um dogma inventado para sustentar a superstio. Mercrio sendo um dos assessores do Sol ou o cinocfalo dos egpcios e o co-guia do Sol, literalmente, o outro era Esfero, o mais brilhante dos planetas, "qui mane oriebaris", que se levanta cedo, ou o grego. Foi identificado com Amon-ra, o portador da luz do Egito, chamado por todas as naes de "o segundo nascimento da luz" (o primeiro sendo Mercrio), o incio de suas (do Sol) formas de sabedoria, o Arcanjo Miguel sendo tambm referido como principium viarum Domini.

Assim, uma personificao puramente astronmica, construda a partir de um significado oculto que ningum at aqui parece ter resolvido fora da sabedoria oriental, tornou-se agora um dogma, parte integral da revelao crist. Uma canhestra transferncia de personagens no adequada tarefa de fazer pessoas que raciocinam aceitarem em um e mesmo grupo trinitrio o "Verbo" ou Jesus, Deus e Miguel (com a Virgem ocasionalmente o completando) por um lado, e Mitra, Sat e Apolo-Abaddon por outro: tudo ao capricho e sabor dos Escoliastas Catlicos Romanos. Se Mercrio e Vnus (Lcifer) so (astronomicamente em sua revoluo em torno do Sol) os smbolos de Deus Pai, Filho e de seu Vigrio, Miguel, o "Drago-Conquistador", na lenda crist, por que deveriam ao serem chamados de Apolo-Abaddon, o "Rei do Abismo", Lcifer, Sat ou Vnus -- tornar-se imediatamente diabos e demnios? Se nos dito que ao "conquistador" ou "Mercrio-Sol" ou novamente a So Miguel do Apocalipse, foram dados os esplios do anjo conquistado, a saber, seu planeta, por que deveria o oprbrio continuar a ser associado a uma constelao to pura? Lcifer agora o "Anjo da Face do Senhor"7 porque "esta face est espelhada nele". Pensamos, ao contrrio, que porque o Sol reflete seus raios em Mercrio com intensidade sete vezes maior do que o faz sobre a Terra e duas vezes em Lcifer-Vnus: o smbolo cristo prova novamente sua origem astronmica. Mas seja pelo aspecto astronmico, mstico ou simblico, Lcifer to bom quanto qualquer outro planeta. Apresentar como prova de seu carter demonaco e identidade com Sat a configurao de Vnus que, em sua fase crescente, tem a aparncia de um corno cortado no faz o menor sentido. Mas relacionar isto com os cornos do "Drago Mstico" do Apocalipse -- "um dos quais foi quebrado"8 -- como os dois demonlogos franceses, o Marqus Mirville e o Cavalheiro Mousseaux, defensores da Igreja militante, querem que seus leitores acreditem na segunda metade de nosso presente sculo -- simplesmente um insulto ao pblico. Alm disso, o Diabo no foi dotado de cornos seno no quarto sculo da era crsit. uma inveno puramente patrstica que surgiu de seu desejo de relacionar o deus P e os pagos Fauno e Stiro sua lenda satnica. Os demnios do Paganismo no tinham cornos e eram to destitudos de cauda quanto o Arcanjo Miguel na imginao de seus adoradores. Os "cornos" eram no simbolismo pago um emblema do poder divino, da criao e da fertilidade na natureza. Da os cornos da cabra de Amon, de Baco e de Moiss nas medalhas antigas, e os cornos da vaca de sis e Diana etc., etc., e do Senhor Deus dos Profetas de Israel. Pois Habacuque fornece provas de que este simbolismo era aceito pelo "povo escolhido" e pelos gentios. No captulo III este profeta fala do "Santo do monte Par, do Senhor Deus que "vem de Tem e cujo resplendor como a luz", e que tinha "cornos saindo de suas mos". Quando l-se, alm disso, o texto hebreu de Isaas e descobre-se que Lcifer no mencionado em todo o Captulo XIV., v. 12, mas simplesmente Hilel, "uma estrela brilhante", dificilmente podemos deixar de nos perguntar por que pessoas educadas ainda so ignorante o bastante no final de nosso sculo para associar um radiante planeta -ou qualquer outra coisa na natureza -ao DIABO!9 ---------------------------------------------------------------------1 Vnus uma segunda Terra", afirma Reynaud em Terre et Ciel (p. 74), "tanto assim que h ali todas as comunicaes possveis entre os dois planetas, seus habitantes podem tomar suas respectivas terras pelos

dois hemisfrios do mesmo mundo,... Eles parecem no cu duas irms. Semelhantes em conformao, estes dois mundos so tambm semlhantes no carter atribudo a eles no Universo". 2 Assim falou Mousseaux. "Murs et Pratiques des Demons." p. X -corroborado pelo Cardeal Ventura. O Diabo, diz ele, " um dos grandes personagens cuja vida est intimamente ligada Igreja; e sem ele. . . a queda do homem no poderia ter ocorrido. No fora por ele (o Diabo), o Salvador, o Redentor, o Cruxificado seria nada mais que um ridculo supernumerrio e a Cruz um insulto ao bom senso". E se assim for, teremos que agradecer ao pobre Diabo. 3 Mirville. "Nem Diabo nem Cristo", ele exclama.

4 Esta apenas outra verso de Narciso, a vtima grega de sua prpria bela aparncia. 5 O famoso templo dedicado aos Sete Anjos em Roma e construdo por Michelangelo em 1561, ainda se encontra l, e chamado agora de "Igreja de Santa Maria dos Anjos". Nos missais antigos romanos impressos em 1563 -um ou dois dos quais pode ser visto no Palazzo Barberini -- pode-se encontrar o servio religioso (ofcio) dos sete anjos e seus antigos e ocultos nomes. Que os "anjos" so os Reitores pagos sob diferentes nomes -- tendo os judeus substitudo os nomes gregos e latinos -- dos sete planetas est provado pelo que o Papa Pio V afirmou em sua Bula ao Clero Espanhol, permitindo e incentivando a adorao dos sete espritos das estrelas. "No se pode exaltar suficientemente estes sete reitores do mundo, representados pelos sete planetas, uma vez que confortante para nosso sculo testemunhar pela graa de Deus o culto destas sete luzes ardentes e destas sete estrelas reassumindo todo o seu lustro na repblica crist". (Les Sept Esprits et l'Histoire de leur Culte; Mirville, 2a dissertao academia. Vol. II. p. 358.) 6 Herdoto mostrando a identidade de Mitra e Vnus, a frase em Nabathean Agriculture foi evidentemente mal interpretada. 7 "Tanto na teologia bblica quanto na pag", afirma Mirville, "o Sol tem seu deus, seu defensor, e seu usurpador sacrlego, em outras palavras, seu Ormuzd, seu planeta Mercrio (Mitra) e seu Lcifer, Vnus (ou Ahriman), tomados de seu antigo mestre e agora dado a seu conquistador". (P. 164.) Portanto, Lcifer-Vnus agora santo. 8 No Apocalipse no h "corno quebrado", mas dito simplesmente no Captulo XIII, 3, que Joo viu "uma de suas cabeas como golpeada de morte". Joo nada sabia em sua gerao de um diabo "sem cornos". 9 As palavras literais usadas e sua traduo so: "Ak Naphelta MiShamayim Hillel Ben-Shachar Negdangta La-Aretz Cholesch El-Gom" ou "Como pode cair dos cus, Hilel, Filho da Manh, como pode ser lanado terra, tu que abates as naes". Aqui a palavra, traduzida Lcifer", , Hilel, e seu significado "brilho resplandescente ou glorioso". Tambm verdade que devido a um trocadilho, a que se prestam facilmente as palavras hebraicas, o verbo hillel pode ter assumido o significado de "howl" (uivar), da, por uma fcil derivao, hillel pode ser transformado em "howler" (uivador) ou diabo, uma criatura que, entretanto, raramente ouve-se, se que alguma vez, "uivar". Em seu

Lxico Hebraico e Ingls, Art. John Parkhurst afirma: "A traduo siraca desta passagem a interpreta como , 'howl'; e at Jernimo observa que ela literalmetne significa 'to howl' (uivar). 'Portanto', diz Michaelis, 'eu traduzo, 'Howl, Filho da Manh, isto , tu estrela de primeira magnitude'.". Mas, de qualquer maneira, Hilel, o grande sbio e reformador judeu, tambm pode ser chamado de "howler" (uivador) e ligado ao diabo!