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Ministério da Justiça Comissão Nacional de Política Indigenista 17 a . Reunião Ordinária da CNPI Comissão Nacional de Política Indigenista - CNPI - Data: 16 de junho de 2011 Local: Centro de Formação Indigenista da FUNAI – Sobradinho/Brasília/DF

17 a. Reunião Ordinária da CNPI Comissão Nacional de ... · de hoje e do dia de amanhã. A pauta que todos devem ter recebido, é uma ... chegamos a um entendimento que, dá forma

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Ministério da Justiça

Comissão Nacional de Política Indigenista

17a. Reunião Ordinária da CNPI

Comissão Nacional de Política Indigenista

- CNPI -

Data: 16 de junho de 2011

Local: Centro de Formação Indigenista da FUNAI – Sobradinho/Brasília/DF

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ATA/DEGRAVAÇÃO 17ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA

COMISSÃO NACIONAL DE POLÍTICA INDIGENISTA- CNPI

No dia 16 de junho de 2011, reuniram-se nas dependências do Centro de Formação em Política Indigenista da Funai, situado em Sobradinho/Brasília/DF os integrantes da Comissão Nacional de Política Indigenista, juntamente com assessores e convidados, em sua 17ª Reunião Ordinária.

Para esta Plenária Geral, contamos com a presença do Sr. Aloysio Guapindaia,

Presidente Substituto da CNPI, que presidiu a sessão, assim como os titulares, alguns suplentes tanto indígenas quanto governamentais na vaga de seu titular, representantes das ONGs, representantes do Povo Indígenas Awá Canoeiro e convidados.

Nesse sentido, conforme lista de presença, estavam presentes na 17ª Reunião

Ordinária: - Representantes de governo:

Aloysio Antonio Castelo Guapindaia – Presidente Substituto/CNPI/Funai-MJ Maria Augusta B. Assirati – Ministério da Justiça; Cel. Antonio Fernando Cecchi – Ministério da Defesa; Maria Paula de Freitas Vanucci– Ministério do Meio Ambiente; Silvia Ferrari – Ministério do Desenvolvimento Agrário; Myron Moraes Pires – Gabinete de Segurança Institucional

- Representantes indígenas: Francisca Navantino - Pareci; Lindomar Santos Rodrigues - Xocó; Marcos Luidson de Araújo – Xukurú; Ak’Jabour Kayapó; Deoclides de Paula - Kaingang; Brasílio Priprá – Xokleng; Sandro Emanuel C. dos Santos-Tuxá; Anastácio Peralta – Guarani Kaiowá Dilson Ingaricó; Kohalue Karajá; Elcio Manchineri Dodô Reginaldo Terena Rosa da Silva Sousa José Arão Marizê Guajajara

- Representantes da sociedade civil: Saulo Feitosa – CIMI;

- Assessor da Bancada Indígena Paulino Montejo Convidados permanentes:

Márcia Leporace - SEPM; Marcelo Manzati – Ministério da Cultura Joana Arari Bindi Boton – Ministério da Cultura

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- Convidados Especiais: Jocsley Pego Ramos – representantes dos povos de Minas Gerais e Espírito Santo Suelen Sales – CONASP/MJ Anita Monteiro – CONASP/MJ

- Awá Canoeiros: Angélica Avá Canoeiro com mais 10 lideranças - Funai/Assessoria – Paulo Celso de Oliveira; Frederico Magalhães; Fabiana Vaz

Mello; José Maria Silva Almeida, José Fernando Bogéa, Kiara/ouvidoria, Melissa Cury/ouvidoria e Patrícia de Mendonça Rodrigues.

- Secretaria-Executiva: Teresinha Gasparin Maglia - Secretária Gracioneide M. Rodrigues, Karla Bento de Carvalho e Leia Bezerra do Vale

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17ª Reunião Ordinária Comissão Nacional de Política Indigenista – CNPI

Brasília, 16 de junho de 2011

Dia 16/06/11 – Manhã

Aloysio Antonio Castelo Guapindaia - Bom dia a todos. Nós vamos dar início à sessão. Solicito aos que estão fora, se alguém puder chamar, ainda tem pessoas fora, representantes... para darmos início à plenária.

Já estamos atrasados, apesar de a pauta não ser extensa agora pela manhã.

Conversas paralelas e fora do microfone. Teresinha vê se o pessoal entra para iniciarmos. Bom, mais uma vez, bom dia a todos, vamos dar início à sessão da

nossa CNPI, inicialmente eu quero justificar a ausência do Presidente Márcio Meira porque ele está de férias, e eu estarei, então, como substituto presidindo a CNPI no dia de hoje e no dia de amanhã.

Quero também dar as boas vindas, além dos membros representantes, tanto da bancada indígena quanto da bancada governamental, mais uma saudação especial aos Avá-Canoeiros que estão hoje no nosso plenário, e nós teremos uma intervenção por parte deles aqui na nossa plenária no dia de hoje, como já estava programado.

Quero submeter à aprovação da ata degravada da 16a. Reunião da CNPI consultando os senhores se há algum tipo de observação. Ok. Não tendo manifestação ela está aprovada.

Nós vamos passar para discussão, inicialmente, da nossa pauta do dia de hoje e do dia de amanhã. A pauta que todos devem ter recebido, é uma pauta conjunta entre as duas bancadas, a bancada indígena e governamental.

Então, a proposta é que agora, na seqüência, iniciamos com uma apresentação do novo PPA 2012/2015, em que o Artur está aqui para fazer essa apresentação, logo mais nós teremos a presença do novo diretor, que todos terão oportunidade de conhecer, de Administração e Gestão da FUNAI, em que ele vai, também... ele coordena junto com o Artur o novo PPA na FUNAI e ele vai contribuir nesse debate, isso pela parte da manhã. À tarde, nós teremos, então uma discussão sobre a situação dos Avá-Canoeiros.

Temos uma proposta de inclusão da bancada indígena, que é a Portaria conjunta 951/2011, AGU, MJ e FUNAI, justamente que cria o Grupo de Trabalho Interinstitucional para elaborar ato que discipline a forma como os entes federados poderão participar do procedimento administrativo de identificação e demarcação de terras indígenas Isso é decorrência de uma das condicionantes, a de número 17 da decisão do STF, por volta do julgamento Raposa Serra do Sol.

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No dia 17, teremos uma apresentação da Secretaria Nacional sobre Drogas, que a Dra. Carla Dalbosco, fará essa apresentação sobre o álcool e demais drogas. Esse é um tema importantíssimo para todos nós.

Às 11 horas, avanços e dificuldades para autonomias dos Dseis, que é uma pauta que o Dr. Antônio Alves pediu para incluir. Ele virá, então, fazer essa discussão conosco e às 14 horas, Programas do Ministério da Cultura, em que a Secretária Marta Porto também estará conosco para que possa apresentar os Programas.

Houve também uma solicitação de inclusão do Ministério de Minas e Energia, da Dra. Márcia Camargo, sobre um projeto de estudo às diretrizes para relacionamento do setor elétrico na questão indígena, o MME elaborou um estudo em que estabeleça, em que tenha essas diretrizes dessa relação entre o setor elétrico e a questão indígena. Então, ela solicitou para que faça uma apresentação de 15 minutos sobre esse estudo para que todos possam conhecer aquilo que está sendo elaborado.

E, encaminhamentos e proposições das subcomissões. Na parte de informes temos o Decreto PNGATI, andamento do PL do Conselho Nacional de Política Indigenista, reestruturação da FUNAI, continuidade da agenda com o Ministro da Justiça e Estatuto dos Povos Indígenas.

Foi suprimido da pauta a questão da Cooperação Técnica da Segurança Pública com o Mato Grosso do Sul, que é um processo ainda muito no início de discussão, então, não era conveniente nesse momento fazer a discussão porque não tendo os elementos necessários... e, tem uma sugestão de pauta para a próxima reunião que é “Construção de Agenda Política da CNPI”. Essa discussão da agenda política é uma discussão que a FUNAI quer trazer para a CNPI para que nesse ano de 2011 possamos ter uma agenda de discussão mais política ou de uma visão mais estratégica da política indigenista que precisamos estar discutindo e debatendo, ok?

É esse o relato da pauta, então, eu quero consultar os senhores se existe alguma manifestação em contrário ou novas sugestões para que possamos fechar essa pauta.

Marcelo, do Ministério da Cultura. Podia falar no Microfone, porque é gravado.

Marcelo Manzati – Marcelo, Ministério da Cultura. Estávamos

pedindo para ver se podia ser feita uma inversão da participação do Ministério da Cultura da parte da tarde para a parte da manhã por uma impossibilidade de agenda da Secretária e minha também, então, esse é o nosso pedido.

Aloysio Antonio Castelo Guapindaia – Aí é... qual é a sua proposta

de horário? 11 horas? Marcelo – É... pode ser...

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Aloysio Antonio Castelo Guapindaia – Então nós teremos que ver com o Dr. Antonio Alves, não é Teresinha, se é possível ele fazer sua participação à tarde. Não terá nenhuma dificuldade na medida que o Dr. Antonio Alves também... tá certo? Possa nos ajudar nisso... o próximo inscrito é Arão.

Arão – Bom dia a todos, aos parentes, sou José Arão Marizê Lopes

etnia Guajajara do Estado do Maranhão, membro da CNPI. Senhor Presidente, apesar de ter sido esclarecido sobre a ausência do

Presidente da FUNAI, temos observado e observa, com essa situação de hoje que temos situações que deveríamos ter decisão direcionado com a presença do Presidente Márcio Meira, e eu me sinto desrespeitado com essa atitude do Presidente. Se estava agendado as férias dele, por quê ele não avisou os membros da CNPI, principalmente nós indígenas? Porque temos situações encaminhadas, temos proposições em situações, e esses encaminhamentos, essas consultas, principalmente para as bases indígenas não tem sido repassadas de forma coerente, de forma clara.

Há uma insatisfação por nossa parte da forma como está sendo encaminhado os encaminhamentos, os direcionamentos dados pela CNPI. É uma insatisfação com o Governo, faço aqui uma crítica em relação à situação atual. Observávamos que o Presidente Lula tinha mais respeito com a CNPI do que a atual Presidente. Então, diante dessa situação, Presidente, acredito que a bancada indígena tenha uma proposta relacionada a isso.

Aloysio Antonio Castelo Guapindaia – Obrigado. Arão. Intervenções fora do microfone. O próximo então é o Sandro. Sandro Tuxá – Sandro Hawaty Tuxá, representante pelo nordeste e

leste, representando o Estado da Bahia. Antes de mais nada eu queria muito parabenizar a articulação feita

pela CNPI em trazer os nossos índios Avá-Canoeiros, essa casa aqui está a serviço de vocês, nós vemos debatendo muito sobre a importância que é o que representa para o Estado Brasileiro, fazer um trabalho e demarcar a terra de vocês e reconhecer um direito que é de vocês, agradecer muito a oportunidade vocês estarem aqui, e lamentar, por mais uma vez, que pela terceira ou quarta vez que deliberamos em reuniões de plenário a vinda dos parentes Cinta Larga, do Estado de Rondônia, para debatermos sobre o problema que afeta aquela população, em especial Cinta Larga e algumas comunidades Suruí, Estado esse que estamos sabendo que os parentes não querem nem receber os integrantes indígenas da CNPI.

Mas eu queria começar a minha fala, compartilhando com a fala do meu Guerreiro Arão Guajajara, que nós estamos reavaliando nossa

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participação enquanto dirigentes de movimento indígena nessa comissão tão nobremente constituída, criada pelo nosso então Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva, em 2006, fruto de uma articulação política muito forte que vem sendo demandada pelo movimento organizado e com seus apoiadores, que culminou nesta Comissão, que é o espaço que nós temos hoje legítimo de interlocução com a bancada governista. Chegando um dia a termos o nosso tão sonhado Conselho Nacional de Política Indigenista.

Infelizmente, Presidente Aloysio Guapindaia, nós estávamos esperando que estivesse aqui presente o nosso Presidente da FUNAI, causou um certo desconforto, descontentamento por parte da bancada indígena, nós estávamos avaliando agora a pouco porque não vimos Márcio chegar, porque há uma situação muito grande de legitimação de lideranças indígenas e isso não queremos para o nosso movimento, sobretudo nas regiões onde nós estamos localizados, um descontentamento muito forte por parte de nossas representações de organização indigenísta e que na nossa leitura entendemos como um grande retrocesso em alguns aspectos da política oficial do Estado Brasileiro, para com respeito com essa Comissão, uma vez que já se encaminhou coisas contundentes, importantes nessa Comissão, questões importantíssimas que a CNPI através da bancada indígena entendeu como prioritárias e os encaminhamentos que aqui são feitos, na sua maioria, não são concretizados, não são efetivados, ou vem sendo deixado a desejar, apesar dos intentos da própria Presidência da CNPI, que algumas vezes conseguimos dialogar, e, sobretudo sentimos o comprometimento pela Secretaria Executiva, a qual nós temos estabelecido um grande diálogo, parabenizamos pela sua ação, em termos de gestão dentro da CNPI, por estar sempre dialogando com a bancada indígena, tentando trazer o equilíbrio para que nós nos façamos presentes aqui porque, de algum modo, muitos dos dirigentes que aqui estão já pensaram em não vim mais, eu sou um deles, que aqui me encontro.

Eu queria dizer que nós estivemos, agora a pouco, em reunião e chegamos a um entendimento que, dá forma que está não tem sentido continuarmos participando da CNPI. E, quero aqui elencar alguns pontos de grande relevância para o movimento indígena, pontos esses que são fruto de lutas e lutas, anos e anos de luta do movimento indígena, por sua vez foi constituído na década de 70, e de lá pra cá nós viemos arrastando, querendo garantir esses principais temas, que hora estão em debate do governo, e que nós entendemos que esses temas estariam claros, consolidados com apoio governista, montamos aqui, querendo direcionar questionamentos enfatizando a pessoa da Presidência da FUNAI, mas a questão de governo, porque se o governo diz que a demanda indígena é prioritária, ela é pontual, ela é emergente, não estamos sentindo traduzir na sua prática, na sua essência.

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Isso se cogita até, mais recentemente, o fato de nós estarmos meses tentando sentar com a nossa Presidente da República, e ela não conseguiu até hoje casar uma agenda para receber o Movimento Indígena, e eu acho que, talvez, seja o único Movimento Indígena, que ainda não foi ouvido e recebido pela nossa Presidenta Dilma Rousseff.

Mas o que nos causou muita estranheza, apesar de nosso Presidente em exercício aqui na CNPI ter confirmado que se deve à questão das condicionantes, estabelecida pelo Supremo Tribunal Federal, foi essa Portaria Conjunta, de regularização de demarcação de terra, porque nós tínhamos aqui nessa casa aqui, nesse mesmo local, demandado com o nosso Ministro Eduardo Cardozo, através de trabalho conjunto com ele próprio que seria criado um Grupo de Trabalho conjunto com CNPI, Movimento Indígena Organizado, através de nossa instância maior que é APIB, APOINME, COIAB, enfim, as nossas organizações representativas para fazermos encaminhamento com dois temas cruciais:

1 – Estatuto dos Povos Indígenas; 2 – Estudo sobre Decreto 1775. Foi um trabalho feito, inclusive,

tivemos em primeiro momento, para no segundo momento reafirmar essa questão do Decreto, e agora vem uma Portaria conjunta, que nos causa um temor, um pavor, até porque não foi transitado em julgado, procedente as condicionantes do Supremo Tribunal Federal. Em sua vez, o próprio Movimento Indígena entrou com embargo contra essas condicionantes e não pode ser levado em conta como medida normativa de lei, isso o próprio Supremo anunciou e causou muito estranhamento para nós. Ações conjuntas e chamar o Decreto 1775/96 já comprovou que o Decreto 1775 não retira participação daqueles que estão afetados, até porque tem no próprio Decreto assegurado o tempo hábil para a pessoa entrar com contra-argumentação, com o tal do contraditório.

Então, Presidente, nós entendemos que a nossa CNPI, e eu falo aqui com o coração bastante sentido, que é um fruto de trabalho muito árduo, ela está perdendo propósito, que é para efetivar a garantia dos direitos dos Povos Indígenas, para ser um espaço de interlocução com o Governo, para criar um marco regulatório nas leis vigentes no nosso país, nós precisamos entender que há um anseio muito forte por parte do Movimento Indígena Oficial, das nossas lideranças, que essa casa, essa Comissão, venha traduzir o nosso direito na sua prática e isso não está acontecendo.

Então, por conta disso, nós tomamos por decisão, aqui nessa Comissão, dizer que nós estamos nos retirando da Comissão Nacional de Política Indigenista, para que nossa reunião venha ocorrer em outro momento, para que o governo defina como será abordada a tramitação do Estatuto, para que haja o chamamento, para que a nossa Presidenta Dilma possa nos receber, para definir estratégia de trabalho. Estamos querendo fazer a nossa parte, que é defender a agenda do governo, queremos debater sobre, queremos que seja tramitado o Estatuto dos Povos Indígenas,

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queremos que venha a ser debatido sobre a tramitação do nosso Conselho, efetivação da criação do Conselho, queremos que seja, que é um clamor, porque estava acertado no Acampamento Terra Livre, se a nossa Presidente Dilma dá uma resposta aos anseios do Movimento Indígena, da assinatura do Decreto da PNGATI, queremos que seja trabalhado com mais seriedade. Eu sei que tem uma equipe que vem atuando de forma muito comprometida na FUNAI que é da DAF, mas essas coisas não são traduzidas na sua prática, a exemplo do que está acontecendo com o Povo Indígena Xavante Marawatsede, a exemplo, a forma desrespeitosa e vergonhosa que o Estado Brasileiro vem atuando em relação aos Guarani-Kaiowá, a respeito dos problemas que vem ocorrendo no sul, extremo sul da Bahia, em especial o Povo Tupinambá e Pataxó Hã-Hã-Hãe.

E uma coisa que está nos deixando muito a desejar, é uma definição clara de qual é o instrumento de consulta, qual é o instrumento que nós vamos adotar se a convenção realmente, a Convenção 69 da OIT, ela é respeitada no nosso país, e qual será o instrumento que dará o norte do consentimento livre prévio informado sobre os grandes empreendimentos que nos afetam, a exemplo de alguns empreendimentos que foram liberados recentemente pela FUNAI e que nos causou um certo descontentamento e uma revolta conjunta por parte do Movimento Indígena e sem tirar, que aí eu digo muito particularmente, nós entendemos do problema do Estado Brasileiro, mas nós sabemos que política pública é dispendiosa. Por menor que seja, política pública é dispendiosa, e como o Estado Brasileiro em um ano se compromete em efetivar uma SESAI, uma Secretaria Especial de Saúde Indígena, para atender a saúde do índio, e no outro ano ela cai, como em todos os Ministérios, no corte do orçamento... como se debate, depois de 10 anos de militância do Movimento Indígena e vem se articular com a FUNAI, a reestruturação da FUNAI, do órgão indigenista oficial, e se corta o orçamento da FUNAI e os seminários que eram pra acontecer, já eram pra ter acontecido, até hoje não foram efetivados. Efetivação da criação dos comitês gestores.

Então, é com esse meu pronunciamento que eu passo a palavra para um dos meus parentes, mas isso é uma decisão que quero dizer, que é uma decisão do consulto, que será melhor aclarada pelos outros parentes que vão falar em seguida.

Muito obrigado. Aloysio Antonio Castelo Guapindaia – Ok, Sandro. Obrigado.

Lindomar. Lindomar Xocó – Lindomar, região nordeste e leste. Senhor

Presidente, eu estou de acordo com a fala dos companheiros que me antecederam, mas eu gostaria aqui também de listar algumas coisas que vem acontecendo, que isso atinge diretamente a nós que somos liderança da

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base, estamos lá no dia-a-dia, e a comunidade vê a nossa vinda e volta à Brasília na esperança de melhorar a situação dos povos indígenas, e quero aqui linkar algumas coisas, como por exemplo, eu gostaria aqui de registrar a ausência da bancada do governo. Isso tem sido constantemente, a nossa reunião, e quando às vezes vem, quando é no finalzinho da tarde já está esvaziado, com exceção de alguns, desculpe aí a bancada do governo, alguns são pontuais, mas que isso tem... Se a Comissão é paritária por quê não esse cumprimento de horário, de compromisso?

Outro ponto que o governo, principalmente nós do Nordeste, é a retirada dos Procuradores das Administrações, sem consultar as populações indígenas, isso ocasionou e vem ocasionando, e todos dizem é a CNPI, é a bancada dos povos indígenas que estão aprovando tudo isso.

A questão da Secretaria Especial de Saúde Indígena, que o governo determinou a criação e nós apoiamos, mas não foi da forma que queríamos que tivesse acontecido, por exemplo, a nossa briga é contra terceirização e municipalização, e isso vem existindo.

O Ministério do Planejamento não quer que a saúde seja executada diretamente pela SESAI, porque não tem interesse de fazer a contratação dos nossos trabalhadores da ponta através da SESAI. Então, fazendo com que se faça corte nos recursos da SESAI, nascida agora a um ano, praticamente, seis meses, não é? Seis meses de criação, e nós estamos conscientes que se não houver excepcionalidade na Secretaria nós não vamos ter saúde indígena, nós teremos uma saúde diferenciada. Outro exemplo, a um ano já do Decreto que reestrutura a FUNAI e hoje nós não vemos nada andando, nada, nada mesmo, e isso acarreta na nossa credibilidade. A credibilidade se constrói, pra se perder é rápido, e isso está acontecendo com as nossas lideranças da CNPI, nós estamos perdendo a credibilidade.

Então, eu não estou aqui a fim de ganhar diária, sou do movimento de 89, e não vou aqui me submeter a uma situação dessa, estou de acordo com o encaminhamento da bancada indígena, não estou aqui a fim de ganhar ajuda de custo, estou aqui para defender os direitos dos meus filhos e dos meus netos no futuro. Muito obrigado.

Aloysio Antonio Castelo Guapindaia – Obrigado, Lindomar.

Marcos. Marcos Xucurú – Marcos Xucuru, da região nordeste e leste. Eu

concordo com as falas dos nossos companheiros, mas gostaria também de enfatizar o seguinte, quando nós, o Movimento Indígena, que tanto lutou para que tivéssemos uma instância como esta, um colegiado como este, para podermos discutir e avançar na política indigenista no nosso país, e que no início da sua instalação, nós tivemos bastante êxito, onde houve efetivamente a participação da bancada indígena e a bancada governista,

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onde trabalhamos na construção de alguns projetos importantes, como Estatuto dos Povos Indígenas, quanto da criação do Conselho Nacional de Política Indigenista, onde houve consulta, onde tivemos efetivamente uma participação coletiva, conjunta, na construção de uma política definida e passada por este colegiado.

Senhor Presidente, o que nós temos observado é uma quebra de confiança por parte do governo em relação às lideranças indígenas, ao Movimento Indígena, e, principalmente da bancada indígena na CNPI. Todas as reuniões que nós temos vindo aqui em Brasília, da CNPI, nós somos pegos de surpresa em situações extremamente preocupantes para o Movimento Indígena, para a política indigenista do país, é tanto que nessa reunião atual, essa Portaria conjunta, por exemplo, que nós nos deparamos com ela. Então, o que temos observado é que, a política indigenista está sendo esfacelada e sem a participação da bancada indígena na CNPI, do Movimento Indígena, e nós não queremos compactuar com essa situação porque hoje o que acontece de bom, é o Governo Federal, é a FUNAI que faz, que consegue fazer; quando acontece algo de ruim, como temos recebido bastante críticas, como já foi dito aqui, é a bancada indígena, é a CNPI que está acabando com a questão indígena no país.

Então, temos sofrido bastante em relação a isso, e por conta disso há essa quebra de confiança, isso mostra na ausência do Presidente da FUNAI aqui presidindo essa Comissão, porque nós queríamos, inclusive, resposta do Presidente da FUNAI, fazer algo... Essa Portaria em conjunto, e nós queríamos debater com ele a situação. Essa quebra de relação, ele sabe dessa agenda da CNPI, que desde o início desse ano foi estabelecida uma agenda das reuniões da CNPI, e como é que ele vai tirar férias justamente no período em que nós estamos reunidos? Então, como é que eu posso dizer? Que importância, realmente, efetivamente o Presidente da FUNAI, que tem a sua responsabilidade constitucionalmente em relação à política indigenista, o órgão responsável de estar acompanhando, de estar executando a política indigenista. Então, que respeito é esse com essa Comissão?

Nós temos observado ao longo desses anos, que nós sempre temos cobrado, e temos registrado em ata o esvaziamento... Quando é algo de importância para o governo, nós temos observado bastante pessoas do governo na bancada governista, quando é algo que interessa aos povos indígenas, há um esvaziamento. Então, isso nós temos observado. Então, para nós não dá para continuar brincando, fazendo de conta, em uma Comissão como essa.

Todos os movimentos praticamente, já foram recebidos pela Dilma, nós temos exemplo do companheiro do MST, esqueci o nome dele agora, alguém pode... intervenções fora do microfone... Como? João Pedro esteve conversando com a Dilma, ficou lá quase duas horas em uma conversa particular, pessoal, mais de duas horas conversando com a Presidenta

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Dilma, enquanto o Movimento Indígena tem buscado um diálogo para efetivamente conversarmos sobre a política indigenista no país, porque nós temos observado que na educação estão tentando juntar tudo como se fosse uma questão só, e a questão da especificidade? E a questão da política própria que a Constituição, que nós conseguimos garantir na Constituição Brasileira, e que hoje percebemos que está querendo haver um retrocesso... Está havendo um retrocesso diante das conquistas que nós tivemos constitucionalmente.

Então, não dá para que nós possamos legitimar essa situação. Por isso a decisão da bancada indígena em protesto a essa situação, nos retirarmos dessa reunião. E que só voltaremos a nos encontrar, nos reunir, com a presença da Dilma e seus Ministros, assim como Lula fez em várias reuniões que nós tivemos no passado, para que nós possamos colocar, cara-a-cara para o governo... Qual é a decisão do governo em relação à política indigenista no país? Nós temos assuntos importantes que foram levados ao Congresso Nacional, e que, me parece, não está dando a importância que é, e o compromisso que o nosso Presidente, à época, Lula, se comprometeu com o Estatuto dos Povos Indígenas, com Conselho Nacional, onde nós temos observado a movimentação, não há movimentação, não há interesse da bancada governista no Congresso Nacional, não há essa movimentação, essa articulação para efetivamente nós conquistarmos e aprovarmos esses direitos que nós temos buscado há mais de 15 anos, 20 anos aí, quem sabe, nessa luta que nós temos tido.

Então, não dá para nós brincarmos e ficarmos aqui cada reunião, trazendo coisas novas, tentando misturar as coisas, enquanto o foco principal do Movimento Indígena, da luta dos Povos Indígenas está lá paralisado e que nós não temos nenhum avanço efetivamente. Então, não valeu a pena se isso não aconteceu, o esforço que nós tivemos de consultar as populações indígenas sobre a questão do Estatuto, o movimento que nós conseguimos aqui nessa Comissão, o esforço de garantir a construção do projeto de lei da criação do Conselho Nacional, coisa simples, que se diz simples, imagina um tema tão importante que é o Estatuto dos Povos Indígenas, que percebemos a cada momento os interesses da bancada ruralista tentando esvaziar, tentando aprovar questões à parte, e que ficamos de camarote assistindo essa situação.

Então, não podemos deixar isso acontecer, de forma alguma, essa Comissão tem a sua responsabilidade, nós temos a nossa responsabilidade com a política indigenista no país, e não podemos compactuar com a situação que vem acontecendo na política indigenista no nosso país.

Então, é essa a nossa indignação, a nossa proposta enquanto bancada indígena, é nos retirarmos e assim podemos voltar sim a sentar, a conversar, na medida em que a nossa Presidente venha para aqui, conversar conosco, trazer os seus Ministros, e mostrar claramente... Porque nós tínhamos esse governo como um governo aliado, porque nós também

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construímos esse governo. Então, nós ficarmos naquela questão do diálogo, da conversa, esperando, ver se haviam algumas mudanças efetivamente, uma sinalização, mas estamos percebendo que foi rompido isso aí.

Então, o Movimento Indígena vai reavaliar, vamos conversar de modo que vamos ver qual é a estratégia do enfrentamento que vamos ter perante esse governo porque nós não vamos mais ficar nesse aguardo, esperando que as coisas aconteçam, que chamem, realmente, os Povos Indígenas para conversar.

Então, se vai à ONU, se vai a outros espaços dizer que foi criado, o governo criou um espaço de interlocução com o Movimento Indígena, mas que nós, na prática, não temos esses espaços de interlocução, de conversa, porque as questões estão sendo tratoradas, muitas vezes sem a consulta nossa, sem passar por essa bancada aqui, e pelo Movimento Indígena. Então, é essa a minha fala em protesto a essa situação.

Aloysio Antonio Castelo Guapindaia – Dílson. Dílson Ingaricó – Bom dia. Quero cumprimentar aqui os Povos

Indígenas do Brasil, bancada do governo. Meu nome é Dílson, sou representante do Estado de Roraima na CNPI como suplente, sou do Povo Ingaricó, da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

É muito triste quando a gente vem reivindicar nosso espaço, e, de fato, política pública específica diferenciada para questão indígena, e cada vez esse espaço se restringindo. É revoltante e triste para a luta dos povos indígenas.

O que diz respeito ao meio ambiente, que é um assunto do mundo inteiro, hoje não tem mais respeito. Eu choro, inclusive, pela alma dos nossos ancestrais que, defenderam o meio ambiente para garantir a vida, seja para indígena ou não que estivesse presente, que depende dela. E hoje, por mais que lutemos, dizemos que não pode, exageradamente, investir nas terras indígenas, as usinas hidrelétricas... Nas terras indígenas estão sendo implantadas. É um desrespeito pela decisão das populações, dos movimentos indígenas.

Isso significa, não acabar com miséria extrema, que é o Programa do Governo hoje, isso significa multiplicar problemas para as questões indígenas. As terras indígenas sendo afetadas pelos grandes projetos significa que os índios viverão de migalhas nas suas terras. Aqueles que não agüentarão, por falta de espaço para pescar, para descansar sua memória, sairão para a cidade e se tornarão marginais e passarão à fome. Será que é esse o Programa que nós queremos?

O que diz respeito à educação escolar indígena, ao longo dos anos, durante a luta do Movimento Indígena, se busca a questão de sistema próprio de educação escolar indígena, não significando a retirada da responsabilidade dos estados e dos municípios. Isso, na nossa concepção,

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favorece o fortalecimento dos estados e dos municípios. Aí sim, o estado e o município têm o diálogo com as comunidades indígenas, respeita os direitos humanos. E não está sendo feito.

Na saúde indígena, os povos Yanomami estão lutando, reivindicando aquelas pessoas que eles tem confiança nessas pessoas. A gestão política está desrespeitando essa decisão dos Yanomami. Até hoje estão reivindicando a pessoa que eles conhecem, que confiam, que tem diálogo com essa pessoa, mas essa pessoa não pode ser líder, o coordenador dentro de um DSEI e que autonomia esse que os Povos Indígenas criaram a SESAI, em busca da autonomia e fortalecimento da sua concepção, da sua identidade, e isso não está sendo respeitado.

Terras indígenas - durante um julgamento da Raposa Serra do Sol, se coloca não ampliação das terras indígenas demarcadas. Os índios não estão preparados, no mundo de hoje, para viver em uma gaiola. Muitos lutam pelo emprego. O índio não tem formação para estar vivendo em uma gaiola. Tem que ter respeito, e cada vez mais a população indígena aumentando e por quê a terra indígena não pode ser aumentada?

Em nome dos povos lá do Pará, Avá-Canoeiros, tivemos oportunidade de participar o lançamento do livro que fala sobre esta realidade triste, na qual 20 pessoas foram transferidas da sua terra para outra terra indígena. Achando que são indígenas, que não tem problema nenhum, todo mundo é igual. Será que se formos trazer o espanhol no terreno brasileiro, eles terão um entendimento bom? Não vai. Por mais que tenha conhecimento tecnológico, mesmo meio de transporte, de comunicação, vestimentas, não significa que somos iguais. Merecemos ter os nossos espaços próprios, o que não aconteceu com nossos parentes Avá-Canoeiros.

E aqui, busco solidariedade para que tenham espaço próprio para esse povo.

Além do mais, os projetos... Lutamos contra poluição do meio ambiente. Se discute no Congresso Nacional atividade de mineração nas terras indígenas. Isso não é uma política específica para questão indígena. Isso favorece aqueles grandes empresários. Mais uma vez a questão indígena vai sofrer com esse processo.

Descontento com esses processos da gestão política do governo, nós, da bancada indígena decidimos que vamos retirar desta reunião, não com o objetivo de extinguir a CNPI, pelo contrário, queremos fortalecer.

Pelo que estamos percebendo nas nossas comunidades, onde participamos para nossas lideranças, estamos sendo desvalorizados, e não queremos. Queremos ser representantes e somos representantes. Tudo o que falamos aqui é realidade. Tudo o que encaminhamos através de subcomissões, ninguém sabe como está, em cada Ministério a discussão das propostas, ditas, aprovadas aqui no plenário.

Com todo respeito, senhor Presidente, não desvalorizando a sua potencialidade como presidente de dirigir a CNPI nesse momento, mas

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estamos fazendo a leitura da política indigenista como um todo, ação do Governo Federal. Obrigado.

Aloysio Antonio Castelo Guapindaia – O próximo... Élcio. Élcio Manchinery – Bom dia, senhor Presidente, bancada governista

e bancada indígena. Neste momento, com a presença dos parentes Avá-Canoeiros, é um momento bastante interessante para que eles possam divulgar a questão da situação que eles estão vivendo há décadas, mas o mais interessante seria nesse momento, se fosse a participação deles para o Estado devolver a terra deles, né? Seria bastante interessante a presença deles.

E, senhor Presidente, concordo com as falas dos outros parentes e só lembrar um pouco a história que aconteceu nos Estados Unidos com os parentes lá, e me parece que o processo aqui dá início com os Panará, onde eles são retirados de suas terras, o segundo seria o próprio Avá-Canoeiro. Nos Estados Unidos se fizeram vários acordos com os parentes de lá e que todas as vezes o governo não cumpriu com as metas.

E o que percebemos no nosso Estado Brasileiro, está se encaminhando para essa questão, quando tem propostas no Sul de retirar comunidades de suas terras tradicionais para transferir para outra área. Então, nós devemos observar isso com bastante atenção, como falou nosso parente de Roraima. Vai ser um processo bastante doloroso, que exterminará mais ainda com os Povos Indígenas. E, penso que o órgão indigenista oficial, a Fundação Nacional do Índio, se ela não trabalhar para impedir essa situação, vai ser bastante complicado.

É bastante estranho, como foi colocado por todos, é a questão do debate que é feito aqui e muitas vezes não é encaminhado pela presidência. E como o senhor mesmo utilizou o termo aqui, conveniente, por exemplo, que foi suprimida aqui a cooperação técnica de segurança pública com o Mato Grosso do Sul.

Eu acho que nós não temos que trabalhar aqui a conveniência, mas nós temos que colocar na mesa, todas as situações porque esse é o local de debate, de consensuar os trabalhos entre governo e movimento indígena. Então, esse é o espaço... Esse é um espaço bastante importante de debate e de consenso.

Não a conveniência, porque a conveniência não é boa para os indígenas, só é bom para o governo. E como falaram nossos parentes anteriores, nós ajudamos o estado a construir o partido que hoje está no poder, que é o Partido dos Trabalhadores, nós ajudamos a eleger governadores, prefeitos, e com poucos votos que nós temos, ajudamos a eleger também a Presidenta.

Agora, nos envergonha muito quando se coloca os direitos indígenas em um bolo porque, nós não podemos competir com quem tem dinheiro, é

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o caso da 6ª câmara, é um espaço onde realmente é trabalhada a questão dos direitos indígenas, está tentando levá-la para uma coisa muito genérica. Só quem tem a perder, Presidente, são os Povos Indígenas. Então queremos realmente uma política indigenista que trabalhe em conjunto com os Povos Indígenas, que veja o projeto de vida dos Povos Indígenas, e que respeite.

Isso que nós queremos, não queremos impor, queremos continuar vivendo do jeito que cada sociedade indígena pensa o desenvolvimento, mas também queremos respeito, um país que se chama pluriétnico mega diverso, que é o Estado Brasileiro, não se está aplicando nas políticas tudo isso que se fala no exterior, na ONU, não se está aplicando, muito pelo contrário, está reduzindo, a cada ano que passa, se reduz direitos indígenas.

É o caso, por exemplo, da criminalização com relação as lideranças indígenas que estão brigando pelo seu território, e aí o pessoal criminaliza uma liderança porque se for um único indivíduo, o órgão oficial, que deveria lutar pelo direito desse cidadão, ele não pode porque é único indivíduo, não é a comunidade. Então, temos que rever tudo isso.

Concordo com tudo o que nossos parentes falaram, e concluo dizendo que meu nome é Toya Manchinery, sou da região norte, e aqui nessa Comissão representando a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, a COIAB.

Obrigado. Aloysio Antonio Castelo Guapindaia – Anastácio. Anastácio Peralta – Bom dia, meu nome é Anastácio Peralta, sou

Guarani-Kaiowá, de Mato Grosso do Sul. Acho que a conversa está bastante importante, eu quero agradecer à

bancada indígena, bancada governista, a bancada não-governista, e, principalmente aos Avá-Canoeiros, que faz parte do meu tronco lingüístico Tupi, e os demais que estão aqui.

Eu tenho uma grande preocupação não com uma questão indígena, mas como índio e brasileiro também, que eu acho que tivemos avanço na Constituição de 88, foi um grande avanço, e tivemos avanço no governo Lula nos últimos quatro anos.

O Lula conseguiu levar 17 Ministros na CNPI, inclusive levou a Presidente Dilma, nós nos lamentamos lá, choramos, acho que até o Lula chorou junto também, e se fizermos uma avaliação depois que a Dilma entrou nós estamos voltando pra trás, um país que volta para trás, não tem progresso, então, precisa dar uma avaliada nisso.

Precisamos profundamente avaliar. Eu vejo que meus parentes não estão preocupados com direitos, mas com seu próprio país, que país é esse? Que rumo que vamos levar? País da cana, país do boi, país da soja, dos banqueiros. Então, nós como brasileiros, eu acho que temos que nos preocupar com isso, não é a mulher que vai nos fazer parar, mas nós temos

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que enfrentar esses problemas. Acho que está claro isso, né? Nós temos que ter coragem como brasileiros e principalmente nós indígenas porque aqui é a nossa terra, é aqui que nós moramos. Está certo que os colonizadores mandaram os pais embora, mas os filhos ficaram, ficaram conosco aqui... Diz que brasileiro é filho enjeitado, mas não é, nós recebemos vocês como parentes também, parente brasileiro.

Eu vejo assim que é um Brasil que fala da independência, mas que independência é essa se nós ainda não somos respeitados e não é respeitado nossos direitos? Nós precisamos mudar essa situação.

Eu sempre tenho falado que a questão indígena não é mais a constituição federal, é a política. A FUNAI está lá embaixo, é o último escalão quase. Você vem do governo, vem descendo, vem descendo e você é comandado também e se não fizer o que o governo quer, você está fora do governo. Então eu acho que nós temos que ter esse esclarecimento de que nós somos mandados. O povo indígena tem que enfrentar esse problema, por quê? A Dilma não fez antropologia, decerto; não conhece indígena. Ou, talvez, não fez direito.

Então, eu acho que a coisa é tão grave que eu... e a inteligência dos nossos povos indígenas estamos percebendo o que está acontecendo na política. Então, a política é dos grandes e não dos pequenos. Nós servimos, talvez, para morrer ou trabalhar muito e dar lucro para quem sempre lucrou.

Com essas portarias, de portaria em portaria nós vamos só voltando para trás. Em outros países, que se dizem atrasados, as constituições estão avançando como a Bolívia e outros países aí. Mas nós estamos voltando para trás.

Precisa ter um estudo, presidente, mais aprofundado nessa situação política das questões sociais e principalmente indígenas. Hoje o que querem? Englobar todo mundo, apanhar todo mundo em uma caixa só. As questões sociais, por exemplo, índio, negro, branco, pobre é tudo junto. Não respeitam a diferença, não respeitam a Constituição Federal. A Constituição fala que tem que respeitar as diferenças e o que faz o Brasil ser o Brasil são essas diferenças, as línguas, as formas do branco, negro, índio. Isso que faz o Brasil ser bonito, ser famoso, mas talvez as pessoas não conseguem pensar assim. Elas só conseguem pensar no econômico do que nas pessoas.

Eu estou bastante preocupado também com a Condicionante 17, que fala das terras, porque nós somos os maiores prejudicados, principalmente os Kaiowá-guarani. Eu não sei se a instituição tem força de lei ou tem força, porque ela está caminhando para fortalecer uma condicionante que saiu lá do STF. Parece que estamos caminhando para fortalecer essa coisa. Eu também reclamo dos parlamentares, porque quando os outros fazem lei é porque o parlamento não tem condições de construir lei, então, acaba parando lá. Então, eu fico bastante preocupado com o 17 e o 19 também,

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que nós estamos fortalecendo uma coisa que não existe ainda. Pode até existir.

Eu vou falar uma coisa, isso é igual a você bater no potranco antes de criar a roça, comprar a égua e criar o potranco. Então, já estamos batendo no potranco antes de ter tudo isso, nem gerou ainda e já estamos tentando fortalecer esse potranco. Então, eu fico bastante preocupado.

Presidente, eu acho assim, nós que estamos aqui, estamos todos interessados em resolver o problema da comunidade indígena e o problema social do povo brasileiro. Eu quero concordar com o meu pessoal, mas assim, nós temos que ter um compromisso com o nosso país. Eu acho que esse é o rumo que nós devemos tomar, porque não está certo o que está sendo conduzido aí. Englobando todo mundo em uma situação só.

Outra coisa, cortar recurso. A FUNAI já não tinha recurso e agora corta o que tem. Como é que vai andar? Não vão sair essas estruturações nunca. Nós avançamos na Constituição Federal, avançamos com o Lula nesses últimos quatro anos, discutimos estatuto, fizemos todos aqueles encontros, tentando fazer a estruturação da FUNAI, mas agora parou, ficou pior, e quem paga o pato somos nós da CNPI que estamos lá na base.

Nós também não participamos muito dessa estruturação. Mas só para termos um alerta. Eu acho que nós precisamos sentar e discutir melhor a situação, o rumo do nosso país. Não é nem o rumo e a situação dos indígenas, mas o rumo do nosso país. Era isso e muito obrigado.

Aloysio Antônio Castelo – O próximo é Ak’Jaboro. Ak’Jaboro – Bom dia a todos. Meu nome é Ak’Jaboro, Kayapó,

região Amazônia. Já que os parentes levantaram uma proposta de levantar uma idéia, eu quero reforçar. Bom, Presidente, é isso que está acontecendo e nós estamos passando para vocês ouvirem e levar nessa fala, nessa proposta para a Presidente ou Ministro para marcar uma audiência conosco.

A Presidente me procurou quando estava em campanha, agora eu estou procurando ela. Ela já está no poder. Se e senhor puder falar com o Ministro para convidá-la para a CNPI, com a fala dela. Porque nós fizemos uma reunião com ela na campanha, conversamos com ela a respeito dos índios. Mesma coisa com o Lula, que eu estou ajudando ele.

Agora mesmo, como a parente falou sobre a restruturação da FUNAI. Nós estamos sofrendo muito com os nossos parentes que estão na base. Eu mesmo, que todo mundo conhece, já aprecei na Veja e tudo mais...luto para reestruturar a FUNAI, para ver se melhora, mas piorou. Disseram na minha frente: ‘Tá vendo, agora piorou e os culpados são vocês da CNPI e, principalmente, você. Porque você mesmo brigou com o Presidente Lula para reestruturar a FUNAI e acabou piorando’. Sempre que o pessoal foi lá para pedir gasolina, principalmente aposentadoria, que vai e a FUNAI não

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tem dinheiro, não tem comida para dar aos aposentados, não tem transporte para ir buscar.

Então, tá acontecendo isso, eu mesmo que tenho que falar, pedir, eu mesmo já falei com o Ministro, aqui mesmo, para ajudar a FUNAI. Então, sempre que o pessoal de Tucumã, dizendo que não tem dinheiro. É por isso que eu quero perguntar à Dilma, se realmente não tem dinheiro para a FUNAI, isso que eu quero saber. Quero perguntar a ela.

Hoje em dia, a FUNAI, os funcionários da FUNAI, lá na base, não respeitam os parentes e nem a liderança. Teve um cara que foi à minha sala, sobre a questão dos meus parentes e ainda bem que eu estava desarmado, porque se eu estivesse armado o cara estaria morto na minha frente. Eu estava aqui na reunião do CNPI. Quando eu estava aqui, o meu povo, fizeram uma reunião e foram lá para tirar esses cara e colocar outras pessoas para melhorar a saúde. O pessoal está correndo atrás de direitos. Na hora que eles afastaram um pouco, pensaram que eu que estava fazendo isso. Então ele foi lá e ameaçou. É um Edimilson, da FUNASA.

Então, é o seguinte senhor Presidente, por isso que o Marcio, nós viajamos juntos e fomos para Novo Progresso e ele falou para mim: ‘Cacique, eu já te falei que eu quero que vocês botem a sua confiança lá em São Felix do Xingu, da FUNAI’. Eu falei: ‘Presidente, eu não vou falar com você agora não. Eu quero que o Odenildo esteja aqui na minha frente, com você e eu aqui. Aí eu vou falar, porque eu não quero falar mal dele pelas costas. Eu tenho que falar na frente dele e ele tem que ouvir que eu estou falando dele para você.

A própria FUNAI, pessoal que mandou a polícia para defender as terras lá, aquela Força Nacional que foi para lá. Chegou lá na FUNAI e ela falou: ‘Não, espera aí. Vamos falar com a liderança primeiro, perguntar para eles se é verdade que vai quebrar a casa’. Não vai quebrar a casa. Esse cara é muito mentiroso e foi lá na FUNAI. Aí a FUNAI não nos ajuda e ele manda a polícia para ficar lá. Eles foram para defender as terras indígenas e ficaram contra os índios. Ainda bem que eu cheguei logo, porque senão as coisas iam ficar muito feias para a própria polícia.

Senhor Presidente, eu quero que o senhor verifique isso, converse com o pessoal de lá da base, não só da minha base, mas de todas do Brasil que estão com esse problema. Então, eu tenho um problema sério que os guerreiros querem ir lá na casa dos caras, mas os próprios – a Salete falou para mim, me explicou e eu segurei até eu ir para as aldeias entregar na mão da polícia. A Polícia Federal foi lá e não sei o que fizeram com eles. Os caras estão lá mexendo com arraia.

Presidente, por isso que pedimos para você. Nós queremos falar..., porque o Cacique Raoni, agora mesmo, fala mal de nós, de mim e do Presidente, porque ele sempre é contra o Presidente. E perguntaram por que o presidente fica tanto tempo na FUNAI, porque eu tinha que estar do lado dele. É por isso que queremos fazer manifestação contra ele e ainda

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lembrávamos que não, queremos lutar com eles. É por isso que fica muito tempo na FUNAI, porque o Presidente da FUNAI mesmo, que assinou o Decreto de Belo Monte, ele mesmo que está acabando. Então, eles falam que eu mandei o pessoal para gravar a conversa deles. Ele foi, gravou tudo e mandou para mim.

Então, por isso que eu, que sou Kayapó aqui, pedi a ida do Presidente lá na minha aldeia. Estou convidando o Presidente para ir lá, porque a liderança lá quer me ajudar a renovar o meu trabalho como líder da nação Kayapó. Então, eu estou convidando o Presidente a ir lá na minha aldeia e ouvir a conversa da liderança que está lá. Isso que estou levantando e apoiando os parentes que estão falando isso.

Era isso que eu queria dizer. Obrigado. Aloysio Antônio Castelo – Obrigado, Ak’Jaboro. O próximo é o

Saulo. Você quer ficar por ultimo? Tem mais inscritos sim, tem liderança indígena. O próximo então é a Francisca.

Francisca Pareci – Bom dia a todos. Eu quero também manifestar o

meu descontentamento, o meu protesto, na qualidade de representante do estado do Mato Grosso, da região Amazônica, desta CNPI. Manifestar o nosso descontentamento por tudo que vem acontecendo nesse país ao longo desses anos. Eu quero protestar contra todas as formas de praticas que vem acontecendo, de ações do próprio governo contra os direitos dos povos indígenas.

Diante de tudo isso, que os nossos parentes colocaram aqui, apesar de termos ainda algumas ações positivas que foram realizadas, nós temos varias ações que foram realizadas, inclusive dentro da própria FUNAI e em outras instituições como o MMA, o MDA e outras instituições que realizaram ações pontuais, mas de política nós não temos nada. Estamos em um retrocesso total da Constituição Federal. A FUNAI, para nós e para mim, pessoalmente, pela análise que fizemos, a FUNAI abandonou a sua prática de política indigenista de luta em favor dos direitos indígenas. Não se tem mais essa política dentro da FUNAI. Nós estamos assistindo outro tipo de política ali dentro. Então, eu considero que nós da CNPI, é uma situação insustentável nós virmos aqui nas reuniões da CNPI, sentarmos, pautarmos ações, discussões, debates, questões de direitos e não temos resultado na prática.

Nós retornamos e assistimos de camarote todo o tipo de violação em relação aos direitos humanos e principalmente as ações contra os povos indígenas mesmo. O mais agravante de tudo isso é ficarmos perplexos e sermos acusados, como CNPI, de sermos coniventes com todas essas ações. Então, isso para mim é insustentável. Não tem condições de discutirmos dentro da CNPI nenhuma pauta, a não ser uma conversa com a nossa Presidente Dilma e seus ministros. A conversa tem que ser com eles.

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Isso é uma obrigação da presidência ir atrás e marcar e pautar essa reunião. Porque aí sim nós teremos uma conversa e vamos ver. Como os parentes já disseram, já recebeu todos os movimentos sociais, mas não pautou com o movimento indígena. E essa reunião não é somente da bancada indígena, não é só da CNPI, mas principalmente com o movimento organizado, porque o que nos sustenta nessa CNPI, presidente, e o senhor sabe muito bem, é exatamente o movimento indígena organizado.

Então, nesse sentido, eu quero manifestar aqui o meu protesto também pela perseguição de pessoas que são os nossos aliados. Pessoas que são indigenista, que tem experiência com a nossa causa, são perseguidos dentro do próprio governo. São perseguidos, são tirados de seu lugar e com a maior falta de respeito. Isso está acontecendo também, quero dizer, sofremos nós indígenas e sofrem os nossos aliados, que são os nossos aliados e quem milita no nosso campo de direito. Então, isso daí é insustentável, inadmissível. No momento em que estamos vivendo, aceitar uma situação dessas.

Eu quero compartilhar com os meus companheiros, que nós vamos nos retirar, de fato, e só retornaremos a partir do momento em que tivermos essa audiência com ela. Aí sim a conversa será outra. Nós vamos sentar a partir disso. Do contrario eu não venho mais a CNPI para servirmos de palhaço, de bode expiatório de nenhuma instituição. Então, eu quero protestar aqui por tudo isso que está acontecendo e me manifestar para que possamos ter o direito de conversar com a autoridade máxima desse país, para discutirmos os nossos direitos. Era isso. Obrigada.

Aloysio Antônio Castelo – O próximo é o Brasílio. Brasílio Priprá – Bom dia a todos. Eu quero aqui também agradecer

aos nossos companheiros, os Avá-Canoeiros e também me deixa muito triste a situação que os trazem aqui.

Eu como indígena, é muito triste quando se tira um povo de suas terras e isso só quem é indígena pode sentir. Eu fico muito triste em assistir o lançamento do livro sobre a história do Avá-Canoeiro e lembrei de meus avós e chorei dentro da 6ª Câmara. Eu quero deixar aqui a minha preocupação e o que traz para nós, povos indígenas do país. Até porque somos brasileiros e gostaríamos de crescer junto com esse país, não ficar atrás, como indígenas. Isso me traz preocupação na área de saúde, na área da educação e principalmente do Estatuto do Índio, que ainda se arrasta e nós gostaríamos de ter uma participação maior, ter a oportunidade de discutir e avançar no Estatuto do Índio.

Então, não somos contra o desenvolvimento do país, mas gostaríamos de participar dele, porque somos brasileiros, somos afetados e por isso gostaríamos de participar desse desenvolvimento do país. Falo em nome do povo do sul e do povo brasileiro de todo o país. Então, eu gostaria de

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deixar a minha preocupação nesse sentido. A CNPI está aberta para discutir. Não estamos fechando as portas para negociação, mas estamos aqui sim, para ter uma negociação maior, para trazermos maior apoio a nós da CNPI, para discutir aquilo que interessa sim aos povos indígenas, que são os verdadeiros brasileiros e que sofrem nesse país.

Agradecendo essa oportunidade, que deu o nosso Presidente Lula, de abrir a CNPI como uma janela de discussão. Avançamos, estamos avançando, mas a nossa preocupação é que muitas coisas contra os povos indígenas estão avançando com mais rapidez. Então, eu gostaria de deixar aqui a minha preocupação e eu sei que a preocupação de todos, não é fechar a negociação, mas sim para nós termos mais avanço e buscar coisas que ainda nos preocupam na área de educação e principalmente na área de saúde. Se fala tanto e tanto, brigamos há dez anos e me parece que ainda não é realidade para o nosso povo.

Muito obrigado. Aloysio Antônio Castelo – O próximo é o Kohalue. Kohalue Karajá – Bom dia a todos. Senhor Presidente. sou Kohalue

Karajá, representante Amazônia legal brasileiro, especificamente de Tocantins.

Eu gostaria de fazer uma explanação em relação à criação da CNPI. É como o próprio ex-presidente Lula que criou juntamente com a bancada indígena e que na época fomos escolhidos pelas bases indígenas, no sentido de representar eles juntamente com os governantes.

De fato, houve um avanço, no sentido de discutir as questões dos direitos indígenas, porém com a chegada da nova Presidente parece que a coisa está começando a andar para trás. Está havendo um retrocesso em relação aos direitos indígenas.

Eu estava meditando esses dias sobre a questão de os direitos indígenas estarem garantidos dentro da Constituição Federal de 1988. Foi graças a isso – foi muita luta dos nossos parentes indígenas naquela época, assim como estamos aqui também tentando garantir os nossos direitos como está na Constituição.

O governo brasileiro não está respeitando isso. Infelizmente está visivelmente no contexto da política indigenista, por outro lado, nós temos as convenções internacionais. São nove convenções internacionais que também garantem os nossos direitos e isso está sendo desrespeitado também.

O órgão indigenista, que é a FUNAI, deveria estar olhando carinhosamente a questão indígena, mas infelizmente não é assim mais. A bancada indígena que está na CNPI, está sendo acusada. Por onde eu ando, onde eu participo das reuniões das bases, das lideranças indígenas, a CNPI é bombardeada mesmo. A CNPI é culpada disso, restruturação da FUNAI,

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grandes projetos que estão chegando aí, por exemplo, Belo Monte. A CNPI que ajudou a acontecer. Realmente, de fato, não aconteceu isso, mas a CNPI não tem culpa disso não. A CNPI foi criada justamente para existir uma interlocução entre o governo e a bancada indígena, para que pudessem trabalhar juntos, construir juntos e informar às bases o que está acontecendo no âmbito da política brasileira. Mas não é isso que está acontecendo.

Então, eu acho louvável a decisão dos meus parentes que estão aqui, porque realmente é insuportável levarmos isso para frente. Não é que estamos querendo nos desfazer dos componentes que estão aqui, dos participantes, propriamente do representante da FUNAI. Em si, é o governo brasileiro que não está conseguindo enxergar os direitos indígenas, que realmente estão garantidos.

Com isso, eu concordo com a decisão dos nossos parentes da bancada indígena. Infelizmente, nós vamos ter que esperar outra oportunidade. A próxima reunião poderia acontecer com a presença da Presidente Dilma Rousseff, porque realmente não dá para continuar, do jeito que está aqui não. Estou com meus parentes, com a bancada indígena na decisão. Eu vou acompanhar eles.

Muito obrigado. Aloysio Antônio Castelo – O próximo então é o Saulo, não tendo

mais ninguém da bancada indígena inscrito. Saulo Feitosa – Bom dia. Hoje eu sou o único representante não-

indígena da representação não-governamental presente. Já agradeço aos representantes indígenas, porque logo que cheguei eu fui convidado para uma sala ali, onde eles me comunicaram que estaria tomando essa decisão. Eu agradeço por terem me comunicado com antecedência, porque de fato nós, os indigenistas, sempre nos posicionamos junto, enquanto representação não-governamental.

Essas questões que todos vocês colocaram, eu por ser membro de uma entidade que atua muito próximo às comunidades indígenas, nós sentimos, de fato isso no dia a dia, esse desgaste respinga na própria entidade. No mês de maio eu estive em um encontro que tinha mais de 200 indígenas e houve muito questionamento pelo fato de pertencermos à CNPI. Tinha duas subprocuradoras gerais da república, a Doutora Débora, que abriu espaço para explicar o que era a CNPI e que nós que estávamos ali, não éramos os responsáveis. Falar que a CNPI é um espaço importante, uma conquista dos indígenas no Brasil, mas por isso eu entendo que esses acontecimentos, que vocês fizeram referência, têm provocado um desgaste na representação indígena e indigenista também.

Reconheço que muitos encaminhamentos que são feitos aqui, inclusive, já tive oportunidade em reuniões anteriores de fazer referência às

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decisões de plenário que não são levadas em consideração. Inclusive algumas referências ao próprio processo de restruturação da FUNAI, que eu entendo ter começado ali o esvaziamento da CNPI, quando o governo, de maneira autoritária, se recusou a fazer qualquer consulta.

E mais grave ainda, quando, quinze dias antes da publicação do decreto, nós nos reunimos na CNPI, havia boatos de que a restruturação ocorreria, o presidente da CNPI foi interpelado, respondeu que isso iria acontecer em um futuro bem distante e, quinze dias depois, entre o natal e o ano novo, todos foram surpreendidos. Começou ali esse desgaste, até porque os membros da CNPI não sabiam responder quando a informação chegou às aldeias. Confesso que quando fui comunicado hoje, a primeira reação minha foi de tristeza, porque lutamos muito para trazer os Avá-Canoeiros.

Eu achava que seria uma reunião onde teríamos um espaço para discutir a questão dos Avá-Canoeiros. Quero dizer para vocês que a questão já foi colocada em uma reunião do ano passado e, inclusive, foi muito bem recepcionado pelo presidente da CNPI, o Márcio Meira, que já abriu espaço para se pautar em outra reunião. Ele mesmo fez menção aos Avá-Canoeiros e em função do trabalho feito pela antropóloga Patrícia Mendonça, que se encontra aqui, nós também distribuímos naquela oportunidade um relatório sobre a situação de vocês e a reivindicação de demarcação de terras. Mas acredito que vocês, por serem também vitimas da historia do nosso país, que vem sofrendo tanto, são capazes de entender também esse momento histórico que está acontecendo aqui hoje, essa discussão. Nós lamentamos que tenha acontecido hoje.

Quero também fazer referência à importância da CNPI. Eu acredito no contexto de 500 anos de invasão dessas terras, ocupadas por vocês, os povos originários. E no contexto de 100 anos de indigenismo estatal, eu acredito que a Comissão Nacional de Política Indigenista se constitui em um espaço privilegiado de relação de poder. Isso que vocês estão fazendo aqui eu entendo nesse contexto. Foi criado um campo, quer dizer, o estado brasileiro, graças à luta de vocês, evidentemente, conseguiu 500 anos depois criar um espaço onde fosse possível as relações de poder serem estabelecidas entre povos indígenas e representantes do estado, em uma situação mais aproximada de uma realidade equânime. Então, historicamente é uma conquista importantíssima e entendo que quando vocês fazem essas afirmações da necessidade do dialogo com a Presidente Dilma, é corretíssimo, é justo.

Eu não entendo porque até agora ela não o fez, porque ela se recusou a receber o movimento indígena. Porque no mesmo dia, ou na mesma semana em que o acampamento estava livre, acontecia na Esplanada, a assessoria dela informava que não era possível receber os índios por motivo de doença, mas pôde receber delegação do governo alemão e outras

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delegações. Então, mais uma vez priorizando o estado colonizador e não os colonizados, as vítimas do processo.

Então, eu acho que esse posicionamento de vocês demonstra a capacidade da analise crítica, que vocês têm. Quero parabenizar pelas falas. Eu estou surpreso, embora eu já conheça a capacidade de todos vocês, mas as falas foram muito bem fundamentadas e enquanto vocês falavam, eu estava lendo o Decreto, que criou a CNPI. Inclusive, nos incisos deixa clara a exigência de que toda definição na política, na administração pública, deveria passar pela CNPI, além da questão, que foi muito bem lembrado, da consulta prévia, livre e informada. Eu espero que esse momento de hoje nos ajude a abrirmos nossos olhos para a importância de se abrir a consulta. Eu não sei por que o governo não tem isso como prioridade. Porque até agora, desde 2004, o governo aprovou a Convenção 169 e nós não temos ainda um ou vários mecanismos de consulta aos povos indígenas.

Não entendo porque nós não temos, até agora, uma regulamentação da Constituição, uma definição em lei do que é “relevante e de interesse público da União”, porque muitos desses conflitos em relação às hidrelétricas e empreendimentos que impactam as terras indígenas acontecem porque não há uma lei que defina o que é isso. Porque a Constituição ressalva, no caso de comprovado o interesse público da União, não precisaria desse desgaste todo. Eu não sei por que não aprova, pois é uma lei simples de ser aprovada.

Enfim, eu acho que esse acontecimento de hoje, eu entendo como um processo de amadurecimento, eu entendo como um evento histórico localizado dentro desse processo iniciado há quinze anos e muito bem lembrado pelo Anastácio, que os países ditos atrasados, e os que se acham avançados, estão inovando. A Constituição do Equador, da Bolívia, no reconhecimento para uma participação em condições de fato de conquista dos povos indígenas naqueles países. E foram ampliados, inclusive, com os direitos de proteção da mãe terra, da mãe natureza.

Eu quero dizer que eu também saio junto com vocês, como sempre estivemos ao lado de vocês, esperando que a Presidenta da República encontre espaço na sua agenda para dialogar com o movimento indígena e parabenizo vocês pela decisão.

Aloysio Antônio Castelo – Sandro. Sandro Tuxá – Eu queria voltar às ordens das inscrições, em nome da

bancada indígena, como nós temos um grupo de pessoas que vem nos assessorando e nós gostaríamos que o senhor pudesse conceder, para encerramento das falas de nossas lideranças, a fala do nosso companheiro Paulino, que é muito pontual e muito rápida.

Aloysio Antônio Castelo – Concedo.

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Sandro Tuxá – Muito obrigado. Paulino. Paulino Montejo – Obrigado, senhor Presidente. Enquanto assessor

eu também fico bastante triste, mas ao mesmo tempo esperançoso, porque a dificuldade com que foi construído esse espaço de diálogo, de interlocução com o governo, todos nós sabemos.

O governo Lula passou um mandato inteiro sem apontar por onde iria a política indígena no estado brasileiro, mas na persistência do movimento indígena e eu estive na época, nós dizíamos, procurando interagir com o núcleo duro do governo, foi possível inserir uma representação de 16 lideranças no GT interministerial da época, onde foi negociar e pautar, quase que como única prioridade a criação do Conselho Nacional de Política Indigenista. Eu quero testemunhar esse processo, fui parte desse processo, eu peregrinei todos os ministérios com algumas lideranças, fazendo o trabalho que chamamos de convencimento e nós recebemos, inclusive, recusas, como se isso fosse um trabalho inútil, como se fosse melhor não insistir. Mas nós teimamos e conseguimos arrancar o Decreto, em 22 de março de 2006, e mesmo com o pleito demorou um ano para se instalar a comissão. Aí já se foram cinco anos de débito em um governo democrático popular inaugurado pelo Presidente Lula. Agora estamos a um passo de chegar a sete anos.

Eu só queria registar que eu lamento, porque de fato o que poderia ser – embora seja uma instância construtiva – poderia ser um caso exemplar, na pratica, na comunidade internacional como foi a Constituição Federal com um texto referencial muito importante para a Constituição do estado Colombiano, do estado Venezuelano e outras reformas que vieram depois no México, no Peru, na Bolívia. Lamentavelmente na prática está difícil efetivar um *palavra não compreendida. Só para não dizer que vocês estão chorando, mas o Acampamento Terra Livre foi recebido por quatro ministérios. Eu queria testemunhar mais uma vez que a saída, o dialogo com os ministros foi uma saída de consolação. Eu quero deixar esse testemunho. Eu participei na articulação e ainda chegamos lá com uma pressão danada da Secretaria Geral da Presidência da República, para que em vinte minutos, as 25 lideranças dessem o recado e o governo desse a sua resposta. Isso é um absurdo.

- Pede para as lideranças cortarem a fala. Tira essa aqui da lista. Desculpem, mas não á assim. Dialogo não se faz dessa forma. As

lideranças tinham uma pauta, que, inclusive, era resultado de um parto difícil. Exatamente por todas as situações relatadas pelas lideranças aqui, o Acampamento Terra Livre foi um processo desgastante, mas as sabedorias de todos os caciques tradicionais e espirituais, que estavam lá, ajudaram a desnortear a conversa e acabou-se fazendo um acampamento de construção difícil na unidade e na diversidade. E saiu uma proposta do governo. Eu não vou citar tanta coisa, mas o que eu dizia na FUNAI outro dia, no dia do

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Meio Ambiente, que eu acho que o esforço, o exercício de consulta, que foi feito tanto no Estatuto quanto com a PNGATI, foi desvirtuado. Primeiro porque não se efetivou, não se deu sequencia ao trabalho de tramitação do Estatuto e com relação à PNGATI, travou. Inclusive passou por um processo de desvirtuação do texto, mesmo dentro do Ministério do Meio Ambiente. É só ler o artigo 14.

Eu disse: - Não, o foco não são as terras indígenas e sim as unidades de

conservação. É como se fosse uma legislação para a questão ambiental e não para

os direitos indígenas. E não sairia a assinatura da PNGATI, no artigo 26, porque lá diz que será garantida a participação dos povos indígenas nos processos de licenciamento. Tinha que sair o Belo Monte antes. E o medo das lideranças é que não saia nunca a PNGATI, por conta que o PAC está aí!

E tem que pegar uma fila grande de licenciamento. Então, é uma pena, como as lideranças falaram aqui, o desgaste, o gasto quase que à toa de recursos públicos, a não ser que o governo queira se redimir e retomar. Eu acho que a próxima conversa no âmbito da CNPI, com a bancada das lideranças do movimento indígena organizado terá que ser a partir de uma pauta da agenda de trabalho lá do governo, porque pauta e demanda de reivindicações de agenda existe. Não faz pauta, inclusive, a ultima foi para a construção do programa indígena, da temática indígena, que foi o PPA. Até o ultimo momento a APIB reivindicou participação nas oficinas. Não saiu, porque o governo, dizem que por culpa do Ministério do Planejamento, fechou as portas para as instituições. Aí vai ser feito, literalmente, na ótica do governo e sem a participação do movimento indígena.

Está claro que as lideranças não querem o fechamento ou acabar com a CNPI e sim por acordo, só poderá ser extinta depois que sair o Conselho Nacional de Política Indigenista. Ou seja, eu acho que o primeiro compromisso do governo, dentro dessa agenda de trabalho, é pautar, é mover a sua bancada, como na tramitação do Código Florestal, para aprovar o conselho. Eu acho que a primeira agenda de trabalho deveria ser: ‘Olha, tem um prazo para começar a transição para o Conselho Nacional de Política Indigenista’. Se o governo se mobiliza – inclusive, nos lamentamos por isso, mas votaram a favor do Código Florestal dos ruralistas, mas acho que é possível chegar na próxima reunião com uma agenda de trabalho. Nós temos visto novas metas nessa outra direção.

Eu só queria apoiar, porque estou a 24 anos junto com os parentes nesse processo. Desde o período construímos, no tempo do Conselho de Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, passando pelas construções da COIAB, da APOEMI, da ARPINSUL. Sou testemunha de todo esse processo e nós todos sabemos politicamente que é o momento dos

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indígenas darem um salto, passarem do protesto às propostas, a um movimento indígena propositivo.

E foi nesse contexto que surgiu a CNPI e seria lamentável se não se consumisse o proposito dessa comissão convertendo-se em conselho e com a implementação e a criação do Estatuto, da PNGATI e outras necessidades e demandas que, literalmente, venham a se repetir dentro dessa comissão. Eu acho que temos que agradecer, evidentemente, aos assíduos participantes não governamentais, como os senhores do Gabinete de Segurança Institucional, MDA, MMA, mas é lamentável a ausência da maioria da representação governamental. Eu queria testemunhar nesse sentido.

Então, não houve uma reunião de trabalho com a Presidência da República até o momento. Aquela reunião de 5 de maio foi só um prêmio de consolação, parecia que havia um recebimento. A reunião foi pautada pelo próprio Ministro da Justiça, que não deu sequência. Inclusive, grave preocupação nós temos com a composição e o posicionamento da *palavra não compreendida a respeito de projetos que estão no Congresso. Ela não ideia sobre o que está a favor ou contra das questões indígenas no Congresso Nacional.

Eu agradeço a palavra. Desculpe por qualquer equivoco na minha fala. Aloysio Antônio Castelo – Bom, não tem mais ninguém inscrito. A

bancada indígena assumiu um posicionamento aqui na CNPI de uma forma muito clara, entendida por todos nós. Creio também que pela representação do governo. Antes de encerrar a reunião, em respeito ao posicionamento da bancada indígena, quero apenas afirmar que foi uma surpresa para todos nós, o posicionamento. Eu não vou questionar. Eu acho que a bancada do governo, nós, governo, não podemos questionar nesse momento o posicionamento de vocês em função da forma como foi colocada, de uma maneira muito clara e, como diz o Saulo, muito bem entendido o posicionamento. Então, nesse momento não cabe, e quero pedir a compreensão dos representantes de governo nesse sentido, não cabe abrir debate.

Eu entendi que vocês colocaram uma posição, não foi para o debate, uma vez que vocês comunicaram que vocês estariam se retirando da CNPI e voltariam, então, a reunir somente com a presença da Presidenta Dilma e os ministros. Então, nesse sentido, só nos resta encerrar a reunião e encaminhar essa posição de vocês, ou seja, encaminhar ao Ministro da Justiça, que a próxima reunião da CNPI, a partir do posicionamento de vocês, deverá acontecer com a presença dos ministros e da própria Presidenta da República.

Então, dito isso, eu encerro a reunião da CNPI, os trabalhos da CNPI. Quero pedir desculpa, e quero que essa desculpa seja traduzida aos Avá-Canoeiros, que estão aqui presente, por esse imprevisto, porque havíamos

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agendado uma apresentação deles. Então, eu peço que seja traduzido pelo intérprete esse pedido de desculpa da presidência.

Eu vou passar a palavra para um representante deles. Angélica Avá-Canoeiro – Eu sou Angélica Avá-Canoeiro e estamos

aqui para reivindicar nosso direito na nossa terra, que foi o governo que nos tirou de lá. A FUNAI fez meu avô ser igual a um cachorro e tirou ele da terra dele e colocou em outra terra. Então, nós queremos isso. nós queremos que vocês ouçam e vocês não vão terminar essa reunião sem nos ouvir. Então, nós queremos que vocês ouçam e que vocês tomem uma providência sobre isso.

Nós estamos cansados de sermos humilhados, esquecidos. Então, vocês nunca ouviram falar de nós, mas agora vocês vão ouvir sempre. Nós nunca viemos em nenhuma reunião, mas agora queremos vir sempre. E é isso que queríamos falar para vocês. Então, tomem alguma providencia sobre nós. Nós queremos voltar para as nossas terras, queremos ver nossos filhos crescerem nas nossas terras. Que país é esse que maltrata seu próprio povo, discrimina? Não queremos isso. Não estou falando só sobre os Avá-Canoeiros, como todos os índios. Os índios todos são discriminados pelo Brasil.

Eu queria que o Presidente da FUNAI estivesse aqui para ouvir isso. A FUNAI nos trata como cachorro, nós não somos cachorros. Ele vai morrer? Vai. Nós também? Vamos. Nós vamos feder todos iguais porque somos pessoas, não somos bichos. Eu já ouvi falar “os Avá-Canoeiros estão em extinção”, para mim, quem fica em extinção é bicho, nós não somos macaco, nem onça, nem esses tipos de bichos não, somos pessoas. Então, eu quero que vocês tomem alguma providência sobre isso.

A FUNAI... vai um representando da FUNAI em algum lugar, dorme em hotel bom, almoça em restaurante bom, enquanto quando a gente vem reivindicar nossos direitos, nos colocam em qualquer pensão, manda uma marmita qualquer..., Nós não somos cachorros, nem porcos, não... É isso que eu vim falar. Então, tomem alguma providência sobre isso. É essa a minha fala.

Francisca Pareci – Diante do depoimento da parente, em relação à

situação deles, como estamos propondo que a próxima reunião tenha que ser com a Presidência da República, que venha uma representante desse povo conversar também com a Presidente, ela precisa ouvir um caso para ter noção do que está acontecendo nesse país. Então, eu proponho isso aqui para vocês para que um dos representantes dos Avá-Canoeiros possa vir na reunião que a Presidente Dilma estará presente. Era isso. Obrigada.

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Aloysio Antonio Castelo Guapindaia – Bom, então, o encaminhamento com o adendo da professora Francisca será nesse sentido, certo?

A próxima reunião da CNPI acontecerá com a presença da Presidenta Dilma e seus Ministros das áreas correspondentes, com a presença dos Avá-Canoeiros que estão aqui presentes, eu acho que não tem que ser só um representante está certo? Eu acho que eles foram convidados, houve, então, um imprevisto aqui que eles não sabiam que ia ser dessa forma, está certo? Então, até em respeito a eles que estiveram aqui, que vieram, que a próxima reunião possa ser com a presença das mesmas pessoas que estão aqui nos assistindo, que possam, então, se apresentar diante da Presidenta da República.

Dito isso, eu dou por encerrada a reunião da CNPI e agradeço a todos. Antes, eu quero chamar os representantes de governo para uma

reunião na sala aqui ao lado para que possamos conversar entre nós. Sandro Tuxá - Senhor Presidente, antes do capitão, eu só queria

anunciar também para a bancada indígena, como já foi comentado, também vamos ter que nos reunirmos no primeiro horário da tarde lá no Plano.

Teresinha - Só uma questão de ordem, por favor, quem não assinou a

lista de presença, nós precisamos que assinem. Sandro Tuxá – Desculpe, Teresinha. Antes de oficialmente encerrar,

eu já sei que o Presidente já finalizou, mas tem uma carta que os Yanomamis endereçaram através de um representante lá de Roraima para ser dirigida ao senhor Presidente, queria entregar.

_________________________________________________________FIM