19 - Relações Públicas e Comunicação Organizacional

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    As dimenses humana, instrumental e estratgica

    da Comunicao Organizacional: recorte de um

    estudo aplicado no segmento corporativo*

    Margarida M. Krohling Kunsch**

    ResumoNa perspectiva de que a Comunicao que ocorre no dia a dia nas organizaesassume, entre outras, trs principais dimenses (humana, instrumental e estra-tgica), o principal objetivo desta pesquisa emprica foi verificar, junto a umaamostra representativa de empresas atuantes no territrio brasileiro, como essasdimenses esto presentes nas prticas cotidianas de Comunicao. Aplicou-sequestionrio junto a 36 empresas a partir de uma a mostra de 258. Os dadosobtidos mostram que a Comunicao vem sendo praticada nessas trs dimenses.As organizaes evoluram gradativamente dos modelos mecnicos da transmissounilateral de informaes para a implantao de processos comunicativos maisinterativos. No entanto, ainda falta uma Comunicao que permita a abertura

    de canais dialgicos de fato e que possibilite maior valorizao das pessoas.Palavras chave: Comunicao. Organizaes. Dimenses. Humanizao. Pesquisa

    * Este estudo integra o projeto As dimenses humana, instrumental e estratgica daComunicao Organizacional: um estudo terico e aplicado, vinculado ECA-USP e aoCNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico e contoucom a participao dos bolsistas de Iniciao Cientfica: lvaro Marinho Marquese Nathlia Pereira Guerra Simes e a colaborao de Anna Paula Muniz Costa deAndrade. Originalmente este artigo foi apresentado no VI Congresso Abrapcorp 2012.** Professora doutora titular do Programa de Ps-Graduao em ComunicaoSocial, Escola de Comunicaes e Artes da Universidade -ECA, Universidadede So Paulo. Autora e organizadora coletneas de Comunicao, Comuni-cao Organizacional e Relaes Pblicas. Foi presidente, em duas gestes, daSociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao (Intercom),da Asociacin Latinoamericana de Investigadores de la Comunicacin (Alaic) eda Associao Brasileira de Pesquisadores de Comunicao Organizacional e deRelaes Pblicas (Abrapcorp). Ex-presidente da Confederao Ibero-Americanadas Associaes Cientficas e Acadmicas de Comunicao (Confibercom). presidente da Federao Brasileira das Associaes Cientficas e Acadmicas deComunicao (Socicom) e vice presidente da AssIbercom associao Iberoa--Americana da Comunicao. So Paulo-SP, Brasil. E-mail: [email protected].

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    MARGARIDA M. KROHLING KUNSCH

    The human, the instrumental and the strategic dimensions of

    organizational communication: empirical study in corporations

    AbstractCommunication that occurs routinely in organizations can happen in three maindimensions: human, instrumental and strategic. The main goal of this paper wasto verify how these dimensions are present in communicational daily practicesin a representative sample of Brazilian corporations. We applied a questionnaireto 36 companies from a sample of the 258. The data collected showed thatcommunication happens in the three mentioned dimensions. Organizations haveslowly evolved from mechanical practices of unilateral communication to moreinteractive processes. However, they still need practices of communication thatallow for truly dialogical relationships and that focus on peoples worth.

    Keywords: Communication. Organizations. Dimensions. Humanization. Research.

    Las dimensiones humana, instrumental y estratgica de la

    comunicacin organizacional: recorte de un estudio aplicado

    en el segmento corporativo

    ResumenBajo la perspectiva de que la comunicacin en/de las organizaciones asume,entre otras, tres dimensiones esenciales (humana, instrumental y estratgica), elprincipal objetivo de esta investigacin emprica ha sido verificar, en una muestrarepresentativa de empresas que actan en el territorio brasileo, si y como tales

    dimensiones estn presentes en las prcticas cotidianas de comunicacin. Seaplic un cuestionario a 36 empresas a partir de una muestra de 258. Los datosobtenidos revelan que la comunicacin es practicada en esas tres dimensiones.Las organizaciones han evoluido progresivamente de los modelos mecnicos dela transmisin unilateral de informaciones hacia la implantacin de procesoscomunicativos ms interactivos. Todava aun hace falta una comunicacin quepermita abrir canales dialgicos realmente efectivos y que posibilite una valori-zacin mayor de las personas.Palabras clave: Comunicacin. Oorganizaciones. Dimensiones. Humanizacin.Investigacin.

    Introduo

    Ademanda crescente da sociedade por uma Comunicaotransparente, comportamento tico e aes que visematender s necessidades da comunidade no entorno, tendoem vista a manuteno de uma boa imagem perante a opiniopblica, culminam na necessidade de uma Comunicao profis-sionalizada e competente por parte das empresas.

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    AS DIMENSES HUMANA, INSTRUMENTAL E ESTRATGICA DA COMUNICAO...

    A Comunicao e a humanizao nos contextos organizacio-nais constituem um grande desafio para os executivos e gestores.As organizaes evoluram gradativamente dos modelos mecnicosda transmisso unilateral de informaes para a implantao deprocessos comunicativos mais interativos e simtricos. No entan-to, acreditamos que ainda falta uma Comunicao que permitaa abertura de canais dialgicos de fato e que possibilite maiorvalorizao das pessoas.

    H todo um caminho a percorrer frente s incertezas da so-ciedade contempornea e o mercado altamente competitivo queprovocam angstias, ansiedades e presses sobre as pessoas noambiente organizacional. Como a Comunicao poder contribuirpara amenizar esta realidade?

    Os gestores de Comunicao esto conscientes da dimensohumana da Comunicao Organizacional ou esto mais preocu-pados com a instrumentalidade e viso estratgica de resultadosdessa Comunicao? So questes que nos tm motivado aestudar e refletir.

    O principal objetivo desta pesquisa emprica foi verificar,junto a uma amostra representativa de organizaes atuantes noterritrio brasileiro, como as dimenses humana, instrumental eestratgica esto presentes nas prticas cotidianas de Comunicaoe quais so predominantes, a fim de manter o relacionamento comseus pblicos estratgicos. A pesquisa foi realizada com base naaplicao de questionrio junto a amostra de 36 empresas, confor-me ser explicitado mais adiante. Entendendo que a Comunicaoque ocorre no dia a dia das organizaes assume entre outras trsprincipais dimenses (humana, instrumental e estratgica), o

    objetivo principal foi verificar como essas mesmas dimenses socontempladas nas empresas estudadas.

    1. Dimenses da Comunicao Organizacional: reflexes e aportes

    tericos

    Alm de todos os conceitos j trabalhados e explorados porinmeros autores sobre o significado e a abrangncia da Comuni-cao Organizacional, temos tentado buscar novos olhares para

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    compreender como essa Comunicao est configurada hoje equais so suas dinmicas nas prticas organizacionais. Para tanto,propomos analis-la em trs dimenses: humana, instrumental eestratgica. Em estudos anteriores (Kunsch, 2006, 2009 e 2010)1esta temtica j foi desenvolvida, tendo-se procurado tambm funda-ment-la teoricamente.

    A principal fonte de inspirao da presente anlise vem de umareflexo sobre o livro Pensar a Comunicao, de Dominique Wolton(2004), quando o autor analisa a dimenso normativa e humanistada Comunicao, comparando-a com a viso instrumental dominadapela tcnica e por interesses econmicos. Em sntese, Wolton enalteceo poder que a Comunicao e a mdia exercem na sociedade con-tempornea como uma realidade incontestvel, quando afirma: AComunicao um dos mais brilhantes smbolos do sculo XX; seuideal de aproximar os homens, os valores e as culturas compensa oshorrores e as barbaridades de nossa poca (WOLTON, 2004, p.27).Por outro lado, chama a ateno para as discrepncias e os problemasdecorrentes do triunfo tcnico e econmico dessa mesma Comunicaoem relao sociedade. Assim, o autor questiona:

    Como salvar a dimenso soberba da Comunicao, uma das mais belas dohomem, aquela que o faz desejar entrar em relao com os outros, interagircom os outros, quando tudo est ao contrrio, voltado para o sentido dosinteresses? Como salvar a dimenso humanistada Comunicao, quando

    triunfa sua dimenso instrumental? Que relao existe entre o ideal da Co-municao, que atravessa os tempos e as civilizaes transformando-a emum dos smbolos mais fortes da humanidade, e os interesses e ideologias domesmo nome (WOLTON, 2004, p.28)? (Grifos nossos).

    Se direcionarmos essas reflexes para a Comunicao Orga-nizacional, veremos que essa ambiguidade tambm est presentena Comunicao nas e das organizaes. H todo um discursoinstitucional enaltecendo o valor e os ideais da Comunicao

    1Para maiores detlahes sobre a questo da Comunicao e humanizao dasorganizaes sugere-se consultar: KUNSCH, Margarida M. Krohling (Org.). AComunicao como fator de humanizao das organizaes. So Caetano do Sul,SP: Difuso Editora, 2010.

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    humana. No entanto, nota-se no cotidiano das organizaes emgeral, ainda que nas entrelinhas, uma predominncia da Comuni-cao tcnica e da busca da eficcia das mensagens e aes comu-nicativas. Afirma Wolton (2004, p.37) que possvel racionalizara Comunicao humana como se pode racionalizar a Comunicaotcnica. Mas se a racionalidade das tcnicas de Comunicao muito superior racionalidade da Comunicao humana, ela aomesmo tempo muito mais pobre.

    Com base nesse autor, o grande risco quanto a essas duas formasde Comunicao querer limitar esse abismo insupervel entre asduas e procurar racionalizar a Comunicao intersubjetiva paratorn-la mais eficaz. Ou, em outras palavras, acreditar que a Comu-nicao funcional, desmultiplicada pelas tcnicas, a aproximaria daComunicao normativa (WOLTON, 2004, p.39).

    A seguir procuraremos descrever e fundamentar alguns pontosque possam permitir caracterizar o significado de cada uma dessastrs dimenses instrumental, estratgica e humana da Comuni-cao Organizacional.

    A dimenso instrumental a predominante nas organizaesem geral. Caracteriza-se como funcional e tcnica. aquela que considerada mais como transmisso de informaes e comoinstrumento para viabilizar os processos e permitir o pleno fun-cionamento de uma organizao para o alcance dos seus objetivosglobais. Trata-se da viso linear da Comunicao e que ignoracontextos e outros aspectos mais subjetivos. Evidentemente necessria e sempre existir.

    A dimenso estratgica da Comunicao Organizacional seassemelha muito com a instrumental. Est relacionada com a viso

    pragmtica da Comunicao, como as aescomunicativas propria-mente ditas e com vistas eficcia e aos resultados. consideradaum fator que agrega valor organizao e aos negcios. Alinha--se, estrategicamente, por meio do planejamento e da gesto, aosobjetivos globais da organizao e aos princpios estabelecidos emrelao a sua misso, sua viso e seus valores.

    No possvel desconsiderar a Comunicao humana e asmltiplas perspectivas que permeiam o ato comunicativo no inte-rior das organizaes. Da a importncia da dimenso humana. Em

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    primeiro lugar, temos que pensar na Comunicao entre as pessoase que os seres humanos no vivem sem se comunicar.

    O ambiente organizacional uma realidade social vivenciadapor pessoas que nela convivem. Estas necessitam ser consideradase valorizadas no fazer comunicativo dirio, sem ser sufocadas peloexcesso de Comunicao tcnica e instrumental, focada somentenos resultados e nos interesses dos negcios das empresas. Entende--se que iniciativas como a abertura de canais diretos de dilogoentre a alta direo e os trabalhadores possam ser um caminho paravalorizao das pessoas nas organizaes. Nosso grande interesse,no momento, exatamente aprofundar os estudos sobre como aComunicao poder contribuir para a humanizao das organiza-es em um mundo complexo onde as pessoas sofrem presses detodos os lados, no sendo diferente no mbito das organizaes.

    Atentar para a humanizao das organizaes nunca foi tonecessrio como no mundo globalizado e desigual de hoje, no qualo emprego privilgio de poucos e esses poucos precisam, muitasvezes, trabalhar para muitos se quiserem continuar empregados.Essa dicotomia muito problemtica para a vida do indivduo notrabalho. Conforme Odair Furtado (2003, p.321), existe,

    para o trabalhador que mantm o emprego, o risco constante da demisso epara o desempregado, a pouca esperana de voltar ao mercado de trabalho.[So] fontes de tenso que [...] desorganizam a vida do trabalhador e desua famlia. Neste momento, estamos tratando do desemprego como fatoremergente central para o sofrimento psquico do trabalhador, mas os quepermanecem empregados tambm sofrem presses que representam umfator forte de risco que vem sendo estudado pelos pesquisadores que usama referncia da psicopatologia do trabalho.

    Essa realidade crucial muito presente nos dias de hoje pe emcheque tudo aquilo que se defende como humanizao, qualidadede vida no trabalho e as apologias da valorizao das pessoas, dagesto de talentos, de Comunicao interna participativa etc.

    Selma Lancman (2009), professora da Faculdade de Medi-cina da Universidade de So Paulo, ao abordar as novas formasde trabalho na sociedade globalizada e da era digital bem comoas implicaes entre o mundo externo e o mundo interno do

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    trabalhador, chama ateno para os inmeros suicdios que vemocorrendo em grandes empresas e cita o caso da France Tlcomque registrava cerca de 24 nos ltimos 18 meses em fins de 2009.Para esta pesquisadora o alerta francs evidencia a necessidadede repensarmos o trabalho na atualidade e, sobretudo seu impactona sade mental das pessoas (p.69).

    Acreditamos que a questo da Comunicao humana nasorganizaes deva em futuro prximo vir a ocupar novos espaostanto no meio acadmico como tambm nas prticas cotidianasface urgncia das novas demandas sociais dos trabalhadores e anecessidade de se buscar novos aportes tericos para reflexo de umaproblemtica muito presente na atualidade no ambiente empresarial.

    2. Pesquisa aplicada junto aos departamentos de Comunicao

    das organizaes

    2.1. Procedimentos metodolgicos

    A pesquisa emprica foi realizada junto a uma amostra deempresas eleitas pelo Guia Exame Maiores e Melhores 2009, querene as 1,000 maiores empresas privadas ou estatais do Brasil,com faturamento anual superior a 125,6 milhes de dlares.Quanto amostra optou-se pela no-probabilstica por cotas emfuno dos setores da economia.

    A aplicao da pesquisa emprica junto aos profissionais deComunicao das 258 empresas selecionadas se deu por meiodeum questionrio semiestruturado, que foi elaborado a partir de re-ferncias tericas, resgatando elementos como possveis indicadoresdas dimenses humana, instrumental e estratgica da Comunica-

    o. Optou-se pela elaborao desse instrumento em aplicativo doGoogle forms, em funo da gratuidade e da praticidade no envio,no recebimento e na tabulao dos dados obtidos.

    A primeira parte do questionrio solicitava dados geraisda empresa, como nome, endereo completo, segmento (pbli-ca ou privada), ramo de atuao, ano de fundao, nome doentrevistado(a), cargo ou funo, e h quanto tempo ocupavatal posio. Na segunda parte, as perguntas eram sobre a rea deComunicao na empresa, seu posicionamento e sua importncia

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    e estrutura organizacional, com questes de mltipla escolha. Aterceira parte se referia s dimenses da Comunicao, divididaem trs grupos dimenso estratgica (nove questes), dimensoinstrumental (duas questes) e dimenso humana (seis questes).

    2.2. Retorno e principais resultados

    Procurou-se estabelecer contato visando aplicao do ques-tionrio s 258 empresas, das quais 36 enviaram, efetivamente,as respostas e 26 avisaram que no responderiam ao formulrio.Dentre as demais, 176 no deram qualquer retorno consulta,apesar de muita insistncia via correio eletrnico e por telefone. Porfim, 20 das empresas selecionadas se mostraram incomunicveis, medida que no foi conseguido nenhum contato.

    Se considerarmos como participantes da pesquisa as empresasque se manifestaram e, destas, aquelas que responderam pesqui-sa, tivemos um total de 24% das empresas. O ndice de 14% dequestionrios respondidos, baseados no nmero total de empresas,mostra como difcil o acesso rea de Comunicao das orga-nizaes, sobretudo quando se trata da obteno de informaespara uma pesquisa acadmica. Os motivos alegados foram, porvia de regra, a falta de tempo de seus funcionrios e a poltica daempresa de no fornecer informaes.

    O nmero total de empresas que responderam ao questionriofoi 36, das quais 78% so empresas privadas; 11%, pblicas; e 11%no declinaram essa identificao. De fato, nota-se a ausncia deuma categoria em que fossem encaixadas as empresas de capitalmisto parte de capital pblico e parte de capital privado.

    3. Anlise dos dados obtidos

    3.1. Dados gerais

    Tabela 1: Segmentos das empresas

    Segmento n

    Empresa Pblica 4

    Empresa Privada 28

    Sem resposta 4

    Total 36

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    Dividindo as empresas respondentes pelos setores identificadosna revista Exame, observamos que 19% delas so do setor de bens deconsumo; 14%, de qumica/petrleo; 11%, do setor de construo; 8%,de bens de capital; 8%, de minerao; 6%, da indstria automotiva;6%, da construo; 6%, de servios; 6%, de transportes. Por fim, dosramos: atacado, farmacutico, indstria digital, papel e celulose, txteise varejo cada um responde por 3% dos participantes. Nenhuma em-presa do setor de telecomunicaes respondeu ao questionrio talvezo motivo principal tenha sido o fato de que o setor na poca passavapor fuses, mas, mesmo assim, questionvel sua ausncia. Por outrolado h um nmero expressivo de respostas obtidas no setor de bensde consumo, minerao, qumica e siderurgia, talvez por existir nelasuma preocupao maior com os relacioamentos com seus pblicos.

    Tabela 2: Setores respondentes da pesquisa

    Setor n

    Atacado 1Indstria autmotiva 2Bens de capital 3

    Bens de consumo 7Farmacutico 1Construo 2Indstria digital 1Minerao 3Papel e celulose 1Quimica/ Petrolfera 5

    Servios 2

    Siderurgia 4

    Telecom 0Txteis 1

    Transporte 2

    Varejo 1

    Total 36

    Dos profissionais que responderam pesquisa, 89% trabalhamcom Comunicao; 5,5%, com recursos humanos, e 5,5%, emoutras reas.

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    Tabela 3: Respondentes por cargo

    Cargo e funo n

    Profissional de Comunicao 32

    Profissional de recursos humanos 2

    Outros 2

    Total 36

    3.2. Setor/departamento de Comunicao na estrutura organizacional

    A anlise das respostas da segunda parte do questionrio (se-

    tor ou rea de Comunicao) indica que, em 61% das empresas,as atividades referentes Comunicao so executadas por umdepartamento; em 14% delas, ficam a cargo de um profissional;e em 8% dos casos, cabem a um setor. No responderam a essaquesto 14% das empresas. Uma das empresas afirmou que aComunicao desenvolvida por uma gerncia. Nos casos emque as empresas afirmaram que possuem um departamento ou umsetor especfico, as referidas reas parecem ser mais estruturadas,contando com diversos profissionais de Comunicao.

    Tabela 4: Localizao da Comunicao no organograma da empresa

    Nome da rea n

    Departamento 22

    Setor 3

    Profissional 5

    Outros 1

    No responderam 5

    Total 36

    A terminologia adotada para designar tais reas Comunica-o corporativa em 31% das empresas; seguida de Comunicao,em 14% delas; e assuntos institucionais, em 3% dos casos. Em33% das companhias so utilizadas outras terminologias, enquantoque 19% das empresas no responderam questo.

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    Tabela 5: Terminologias utilizadas para a rea de Comunicao

    Terminologia nComunicao 5Comunicao social 0Comunicao corporativa 11Assuntos corporativos 0Assuntos institucionais 1

    Relaes pblicas 0Outros 12No responderam 7Total 36

    3.3. Dimenses estratgica, instrumental e humana da Comunicao

    Organizacional

    O fato de a Comunicao ocupar um lugar como staffe junto presidncia pressupe que considerada como estratgica. Noentanto, isto no se deu na prtica com as empresas pesquisadas.Chama-se a ateno (tabela 6, a seguir) de que em 28% das empre-sas, as atividades de Comunicao so realizadas junto diretoria

    de recursos humanos; em 14% dos casos, o setor se subordinadiretamente presidncia; enquanto que em 5% das companhias a diretoria de assuntos corporativos a responsvel pela rea deComunicao. Por fim, em 3% das respondentes a Comunicao ligada diretoria comercial e em outros 3%, de marketing. Ou-tras respostas totalizaram 36% e 11% no deram resposta alguma.

    Tabela 6: Posio que a Comunicao ocupa na organizao

    Posio n

    Presidncia 5

    Diretoria comercial 1

    Diretoria de assuntos corporativos 2

    Diretoria de marketing 1

    Diretoria de recursos humanos 10

    Outros 13

    No responderam 4

    Total 36

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    Conforme tabela 7, do total das empresas participantes, 41%afirmaram que a Comunicao Organizacional considerada pelosseus dirigentes principais como estratgica, contribuindo para osobjetivos centrais das atividades empresariais. Em 47% das com-panhias, a alta administrao considera a Comunicao estratgicaem parte, enquanto que 11% no responderam pergunta. Nohouve resposta negativa.

    Tabela 7: Gestores que consideram a Comunicao como uma reaestratgica

    Resposta n %

    Sim 15 41,67

    No 0 0

    Em parte 17 47,62

    No responderam 4 11,11

    Total 36 100,00

    Dentre as respondentes, 25% afirmaram que o setor de Comu-

    nicao sempre consultado quando se define uma deciso estra-tgica da empresa; em 39% das companhias, tal consulta acontecede vez em quando; j em 7% dos casos, quase nunca se consulta; e3% afirmaram que a Comunicao nunca consultada. Finalmen-te, 11% no responderam questo e 5% deram outras respostas.

    Tabela 8: Frequncia com que a rea de Comunicao consultadapara tomada de deciso

    Frequncia n

    Sempre 9De vez em quando 14Quase nunca 6Nunca 1Outros 2No responderam 4Total 36

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    Conforme mostra a tabela 9, os respondentes da pesquisaindicaram que a filosofia da empresa tende a privilegiar a Co-municao institucional e a Comunicao interna, diante daComunicao mercadolgica e da Comunicao administrativa.

    Tabela 9: Modalidades de Comunicao privilegiadas pela filosofia daempresa

    Quesito n %

    Comunicao institucional 24 68,50Comunicao administrativa 13 37,00

    Comunicao interna 27 77,00Comunicao mercadolgica 13 37,00

    No. Apenas fazemos propaganda e divulgamosnossos produtos e servios e nos valemos daComunicao administrativa para o plenofuncionamento da organizao

    2 5,70

    No sei 1 2,85No responderam 5 14,20

    Total 85 100,00

    De acordo com a tabela 10, 44,5% das empresas responderamque tm uma poltica de Comunicao e a mesma quantidade,que no; 11% no deram resposta alguma. Esse resultado mostraque no h ainda uma poltica de Comunicao na maioria dasempresas. Parte delas muito provavelmente ainda possui umamentalidade que no reconhece a diferena que a Comunicaopode fazer em sua reputao institucional e corporativa, bem comonos seus negcios.

    Tabela 10: Empresas que possuem poltica de Comunicao

    Resposta nSim 16No 16No responderan 4Total 36

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    A tabela 11 apresenta o nmero de profissionais de Comuni-cao trabalhando nesse setor. Dos respondentes, 89% deram umaresposta afirmativa e 11% no responderam questo. Ningumrespondeu negativamente. Essa resposta aponta que, no mbito dasempresas, o setor vem assistindo a uma crescente especializao,com a contratao de profissionais formados em Comunicao.

    Tabela 11: Profissionais especializados em Comunicao

    Resposta nSim 31No 0No responderam 4Total 35

    A graduao mais frequente entre os profissionais de Comu-nicao atuantes nos departamentos ou reas das empresas ade jornalismo (25 empresas), seguida por relaes pblicas (23empresas) e publicidade e propaganda (21 empresas). Os respon-

    dentes declararam, ainda, haver profissionais com outras formaesatuando na rea (16 empresas). A formao em marketing amenos recorrente (14 empresas).

    Tabela 12: Formao dos profissionais na rea de Comunicao dasempresas respondentes

    Quantidade/Profissionais 0 1 2 3 Mais de 3

    Norespon-deram

    Total

    Jornalistas 3 8 7 1 9 7 35Publicitrios 4 10 3 5 3 10 35

    Relaes pblicas 2 8 7 1 7 10 35

    Marketing 4 2 3 2 3 21 35

    Outros profissoinais 6 7 3 2 4 13 35

    Servios terceirizados so contratados por 89% das empresas.Como mostra a tabela 13, quatro empresas (11%) no respon-deram questo e no foi obtida nenhuma resposta negativa.

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    Estima-se que o fato de quase a totalidade das empresas contrata-rem servios terceirizados demonstra que h estruturas pequenasde Comunicao e, portanto, toda a parte operacional feitapor terceiros. Observa-se ainda que a prioridade que dada sagncias de Comunicao, o que se justifica por elas possuremestrutura e experincias adquiridas em funo da grande demandapor empresas e agncias especializadas nos negcios da Comuni-cao corporativa.

    Tabela 13: Empresas que terceirizam aes de Comunicao

    Resposta n

    Terceirizam 32

    No terceirizam 0

    No responderam 4

    Total 36

    Observando a tabela 14, conclui-se que os canais mais utiliza-dos para a Comunicao nas empresas so os meios online. De fato,elas vm adotando com mais frequncia as novas mdias e os meios

    digitais para difundir suas mensagens, tanto internas como externas.

    Tabela 14: Canais de Comunicao utilizados

    Quesito n %

    Cartas circulares 5 14,30

    Quadro de avisos 26 74,20

    Mensagens escritas no holerite 1 2,85

    Mensagens escritas espalhadas

    no ambiente organizacional13 37,00

    E-mail correio eletrnico 27 77,00

    Intranet 31 88,57

    Memorando 3 8,50

    Reunies 18 51,40

    Encontros especiais 18 51,40

    Outros 10 28,50

    No responderam 5 14,30

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    Dentre as respondentes, 78% apontaram como verdadeira aafirmativa a Comunicao utilizada para transmisso de metas eobjetivos organizacionais, enquanto que 8% a consideraram falsa.J a segunda afirmativa (a Comunicao que vem sendo produzidapode ser considerada eficiente) foi apontada como verdadeira por83% das empresas e falsa por 3%. A terceira sentena (a Comu-nicao que vem sendo produzida pode ser considerada eficaz)foi reputada verdadeira por 53% das respostas e falsa por 33%delas. Por fim, a frase H um volume excessivo de informaesdivulgadas por diferentes meios foi julgada verdadeira por 39%das empresas pesquisadas e falsa por 47% delas. As empresas queno responderam a essa questo totalizaram 14%.

    Sobre as redes de relacionamento informal, 44% disseramvaloriz-las, 39% afirmaram que a valorizam em parte e 6% no avalorizam. No responderam questo 11% das empresas.

    Tabela 15: Valorizao das redes de relacionamento informal

    Respostas nSim 16No 2Em parte 14

    No responderam 4

    Total 36

    Acerca da existncia de espaos fsicos, dentro da empresa,que contribuem para o relacionamento interpessoal entre fun-

    cionrios, 72% das respondentes afirmaram possuir tais espaos,enquanto 14% no os possuem. Dentre os respondentes, 14%deixaram de responder questo. O fato de a grande maioriadas empresas destinar um espao fsico para interao entre seusfuncionrios indica novamente a penetrao, nas corporaes, deprticas voltadas valorizao das pessoas e a um convvio maisfraterno e descontrado dos empregados. Em princpio, isto sinalizaalgum indicador de qualidade de vida no trabalho.

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    Tabela 16: Empresas que possuem espaos fsicos de interao

    Respostas nPossuem 26No possuem 5No responderam 5Total 36

    Para 41% das respondentes, a rede informal de relaes entreos empregados contribui para um bom clima organizacional. Para

    3%, no contribui e 39% afirmam que em parte contribui. Dentreelas, 17% das empresas deixaram de responder a pergunta, comomostra a tabela 17. Vale observar que o dilogo informal entre osfuncionrios, antes ignorado por todas as empresas, hoje pode servisto como fato positivo ou negativo, dependendo das circunstn-cias e dos contextos.

    Tabela 17: Contribuio das redes informais

    Respostas n

    Contribuem 15No contribuem 1Contribuem em parte 14No responderam 6Total 36

    Ainda com foco na dimenso humana, questionou-se sobrea Comunicao participativa e sobre o fluxo de Comunicaohorizontal das empresas estudadas. Entre as respondentes, 28,5%

    afirmaram que o funcionrio pode enviar suas sugestes por meiode vrios fluxos comunicacionais; 5,7% responderam que h gruposintermedirios entre os empregados e a alta administrao; 11,4%promovem encontros e reunies especiais, destinadas a ouvir oque o funcionrio tem a dizer; 17,1% consideram que, a partir domomento em que as normas so transmitidas, cabe ao funcionriosegui-las. Finalmente, 22,8% das empresas afirmam manter dilogoconstante entre gestores e funcionrios. Das empresas pesquisadas,14,2% no responderam e 2,85% deram outras respostas.

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    Tabela 18: Comunicao participativa nas organizaes

    Quesito n %O empregado pode se manifestar e enviar suassugestes por meio de vrios canais de Comunicao 10 28,50

    Existem comits formados para intermediar as relaese interesses entre os empregados e a alta administrao 2 5,70

    Frequentemente so feitas reunies e/ou encontrosespeciais abertos a ouvir o que o empregado tem adizer

    4 11,40

    As orientaes e as normas so transmitidas e cabe aosempregados segui-las 6 17,10

    H trocas de informaes com frequncia entregestores e gerentes ... 8 22,80

    Outros 1 2,85Vazio 5 14,20Total 36 100,00

    A gesto de Comunicao promove aes diretamente rela-cionadas qualidade de vida no trabalho em 64% das empresaspesquisadas. Tal no acontece em 22% delas e 14% no respon-

    deram questo. Pode-se concluir, pois, que a maior parte dasempresas se preocupa com a qualidade de vida de seus traba-lhadores, considerando que o bem estar de cada um influenciapositivamente seu rendimento no trabalho, a demonstrar que, emprincpio, a viso humanstica veio tomar o lugar da perspectiva dotrabalhador mquina, existente na primeira revoluo industrial.Segundo esse entendimento, o funcionrio no apenas uma peada engrenagem empresarial, mas um capital humano que precisaser considerado sob novos olhares.

    Tabela 19: Aes de qualidade de vida no trabalho

    Respostas nPossui 23No possui 5No respondeu 5Outros 3Total 36

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    Dentro dessa viso humana de tratamento do funcionrio,que revela a dimenso humana da Comunicao, perguntou-sequais os instrumentos mais usados pelas empresas para promovero dilogo entre gestores e funcionrios. A essa questo, 43% dasrespondentes apontaram os programas face-a-face com presi-dente; 65,7% realizam reunies entre superiores e subordinados;60% utilizam um espao na intranet; 25,7% faz uso da caixa desugestes; 20% afirmam que h um e-mail direto ao presi-dente; 45,7% indicam as conversas informais e 43% promovemeventos peridicos para manter um dilogo com os funcionrios.No responderam questo 14,2% das empresas e 22,8% deramoutras respostas.

    A alta porcentagem no uso de intranet para dilogo comfuncionrios corrobora a percepo de grande insero da so-ciedade nos meios digitais, da Internet e seus recursos de redessociais e relacionamentos, refletida tambm nas empresas. Umgrande nmero de empresas faz uso de um espao na Internetapenas para funcionrios. J a caixa de sugestes, por ser ummtodo mais formal e impessoal, pouco usada entre as empresasestudadas, sendo adotada por apenas 25,7% delas. Os programasespeciais face-a-face com o presidente e o e-mail ao presidenteso exemplos de uma estratgia voltada a que o funcionrio sesinta parte da empresa e participante de suas atividades, tendo,inclusive, a chance de conversar com a alta administrao paratransmitir suas idias.

    Entre as outras respostas dadas questo, obtiveram-se comomtodos o Canal Aberto destinado a denncias; a bolsa deideias que capta sugestes dos trabalhadores; a ouvidoria; o jornal

    interno; os treinamentos; as reunies entre reas de negcios; areunio mensal e os veculos impressos.

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    Tabela 20: Meios para promover o dilogo entre gestores e funcionrios

    Meios n %Programa especial face-a-face - Fala do presidente 15 43,00

    Reunies entre superior subordinado 23 65,70Espao na Intranet 21 60,00Caixa de sugestes 9 25,70E-mail direto ao presidente 7 20,00Dilogos informais 16 45,70Eventos especficos e peridicos para discusso de temasde interesse de todos 15 43,00

    Outros 8 22,80Vazio 5 14,20

    Total 116 100,00

    Concluses gerais

    A pesquisa realizada nos permite tirar algumas concluses queso destacadas a seguir.

    Primeiro a dificuldade encontrada pelos pesquisadores para

    estabelecer os contatos e para conseguir realizar estudos dessanatureza. Essas constataes expressam que no h uma coernciaentre o discurso das empresas quando se dizem abertas aos pblicose opinio publica em relao aos seus comportamentos institu-cionais. Outra constatao, j observada em pesquisas acadmi-cas anteriores por esta autora e de seus orientandos em nvel demestrado e doutorado, a falta de uma cultura de valorizao dapesquisa emprica na rea de Comunicao por parte das empresas.

    Em relao aos segmentos da economia que comps a amos-

    tra, chama ateno do fato das telecomunicaes no terem res-pondido, mesmo que algumas delas se encontravam em momentosde fuso com outras empresas do mesmo setor. O grande nmerode respostas obtidas no setor de bens de consumo, minerao,qumica e siderurgia pode ser explicado pela grande ateno quecada um desses setores precisa dedicar ao consumidor, aos pblicosenvolvidos e sociedade, pois suas atividades so diretamenteligadas a riscos socioambientais.

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    Quanto ao setor ou departamento de Comunicao existentenas empresas pesquisadas, nota-se uma frequncia acentuada ebastante positiva, na medida em que as atividades so executa-das predominantemente pelos departamentos especficos e porprofissionais formados em Comunicao. Outro fato positivo foique dos profissionais responderam a pesquisa 89 % trabalham comComunicao. Pode-se deduzir que para muitas das empresas queresponderam a Comunicao essa se mostra relevante para seusgestores. Outra constatao positiva foi ver que os profissionaisde Relaes Pblicas esto muito presentes nesses setores/depar-tamentos, perfazendo um total de 23 em relao aos jornalistasque somam 25. Desmestifica-se assim aquela percepo do sensocomum de que a rea de Relaes Pblicas perde espao paraoutras profisses.

    A variedade de terminologias utilizadas para nomear os de-partamentos indica que ainda falta no mercado uma maior clarezado real significado das funes profissionais e atividades gerais eespecficas da rea de Comunicao, quando aplicada ao mundocorporativo. Chama a ateno ainda que, em um bom nmerode empresas (10), o setor de Comunicao esteja vinculado diretoria de recursos humanos e apenas cinco presidncia. Essavariedade de denominaes e vinculaes pode ser atribuda aofato de que a Comunicao e as relaes pblicas so reas aindarecentes nas empresas em geral.

    Ao se confrontar os dados obtidos da terceira parte da pesqui-sa relativos s possveis configuraes da existncia das dimensesestratgica, instrumental e humana da Comunicao Organizacio-nal pode-se concluir que no to simples aferir, por meio de um

    questionrio, se de fato essas dimenses esto contempladas. Asquestes levantadas tiveram com referncia possveis indicadoresconceituais que de alguma forma poderiam expressar tais dimen-ses. Entretanto bom esclarecer que essas no ocorrem de formaisolada, mas de forma simultnea e complementar.

    Em relao dimenso estratgica pelas respostas obtidasobserva-se que, para grande maioria das empresas consultadas,ela s existe em parte. Pois, falta uma poltica de Comunicaomais definida e integrada, poucos departamentos respondem

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    diretamente alta gesto, a rea no consultada para decisesestratgicas de forma constante, entre outros aspectos que possamcaracterizar a Comunicao na estrutura organizacional como fatorestratgico de resultados. Em todo esse contexto chama ateno ofato da maioria das empresas consultadas privilegiarem muito maisa Comunicao interna e institucional do que a mercadolgica.

    A transmisso de informaes com a utilizao de todos osmeios possveis para o alcance de objetivos e metas organizacionaisde forma eficiente e eficaz foi bastante acentuada pela maioriadas empresas que responderam a pesquisa, o que atesta como adimenso instrumental est presente na vida das organizaes.

    Em relao dimenso humana, embora reconhecendo aslimitaes de se aplicar um questionrio para identificar possveiscaractersticas de sua presena, considera-se que pelos dados obti-dos as percepes so positivas na maioria das empresas estudadas.H valorizao da rede informal, espaos fsicos de convivnciapara os trabalhadores, programas voltados para qualidade de vidano trabalho e existem vrios meios de Comunicao que so uti-lizados para promover uma Comunicao participativa, por meiodo dilogo entre a cpula dirigente e os funcionrios, entre outrospontos indicativos. Essa questo aponta para uma quebra de para-digma. Se antes se pensava que a Comunicao da empresa possuaapenas fluxos verticais, fortemente hierarquizados, hoje cresce apercepo de que as empresas adotam fluxos diferenciados, comoo horizontal, transversal e circular. Evidentemente, para uma cer-tificao mais segura de que a questo humana constitui de fatouma filosofia por parte da direo exigiria, sobretudo, a realizaode uma pesquisa-ao e participante do pesquisador.

    O presente estudo realizado nos possibilitou a ver a Comunica-o nas organizaes com novos olhares e capazes de dimensionara questo humana como algo que precisa ser melhor resgatado evalorizado. Prope-se a pensar essa Comunicao e suas principaisdimenses numa perspectiva crtica e interpretativa, superando aviso meramente mecanicista e instrumental to presente no dia-a--dia do ambiente organizacional.Apesar de uma evoluo gradativados modelos mecnicos da transmisso unilateral de informaespara a implantao de processos comunicativos mais interativos

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    graa sobretudo s mdias sociais, ainda falta em grande parte dasempresas em geral uma Comunicao que permita a abertura decanais dialgicos de fato e que as pessoas sejam consideradas emprimeiro lugar.

    Referncias

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    _________. Comunicao Organizacional: conceitos e dimenses dos estudos

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    WOLTON, Dominique. Pensar a Comunicao.Trad. de Zlia Leal Adghirni.Braslia: Editora UnB, 2004.

    Recebido: 30.08.2012Aceito: 28.11.2012

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