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Anais

1o Simpósio Paranaense de Design Sustentável

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Anais

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1Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

1o Simpósio Paranaense de Design Sustentável

Local: Universidade Federal do Paraná Rua General Carneiro, 480 Edifício Dom Pedro I Auditório Anfi 100 1o andar

Data: 24/04/2009, das 8:30 às 21:00h

Comissão Organizadora:Conteúdo científico - Prof. Dr. Aguinaldo dos Santos, PhD, UFPROrganização - Prof. Cláudio Pereira de Sampaio, MsC, Universidade Positivo

Site: www.design.ufpr.br/spds

Contato: [email protected]

Organização e edição:Núcleo de Design e Sustentabilidade da Universidade Federal do Paraná

Projeto gráfico:Cláudio Pereira de Sampaio

ISSN:2176-4093

*O CONTEÚDO DOS ARTIGOS É DE INTEIRA E EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES.

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3Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

SumárioEstado da pesquisa em design sustentável no Brasil 5Aguinaldo dos Santos

Educação ambiental nos cursos de Design 9Alexandre L. Marinho

Ricardo H. M. Godoi

A inserção do design sustentável em um modelo de referência para a gestão do desenvolvimento de produtos 17Américo Guelere Filho

Henrique Rozenfeld

Daniela C. A. Pigosso

A Educação através do Design como estratégia para um futuro sustentável 25Antônio Martiniano Fontoura

Design de embalagens em papelão ondulado movimentadas entre empresas com base em siste-mas produto-serviço 33Cláudio Pereira de Sampaio

Tecnologia para uma Sustentabilidade: o caso da Madeira Moldada 43Prof. Dr. Dalton Luiz Razera

Inovação em Sistemas de Consumo por meio do Design: o Caso do Caixa Ecológico 49Dulce de Meira Albach

Avanços no Design de Produtos a base de Resíduos de Vidro Reciclado 59Dulce Maria de Paiva Fernandes

Panorama do design para a sustentabilidade 67Liliane iten Chaves

Validação de uma bula de medicamentos em Braille direcionada ao usuário cego 77Maria Olinda Lopes

Desafios do design na mudança da cultura de consumo 87Maristela Mitsuko Ono

Diretrizes para utilização de dispositivos poka-yoke no design de mobiliário popular: uma estraté-gia para o design sustentável 93Priscilla Ramalho Lepre

O Paradoxo do Design Sustentável na Moda: Diretrizes para sustentabilidade em produtos de moda e vestuário 99Suzana Barreto Martins

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Estado da pesquisa em design sustentável no BrasilState of the research on sustainable design in Brazil

Aguinaldo dos SantosUniversidade Federal do Paraná, [email protected]

design sustentável, agenda de pesquisa, inovação

Um princípio subliminar ao design sustentável é a busca pelo desenvolvimento de soluções de forma cooperada. Paradoxalmente, observa-se pouca sinergia entre os grupos de pesquisa em design sustentável no Brasil, resultando em replicação de pesquisas, lacunas de investigação e menor velocidade na disseminação dos princípios e práticas norteadoras da sustentabilidade. Com o propósito de estimular esta maior aproximação dos grupos de pesquisa o presente artigo reporta survey realizada pelo autor em 2008 junto aos programas de pós-graduação em Design no país buscando identificar justamente a agenda temática e a distribuição da pesquisa na área. Com base nesta survey o artigo aponta aspectos chave para maior efetividade da pesquisa em design sustentável no país.

Sustainable design, research agenda, innovation An underlying principle in the field of sustainable design is the development of solutions on a cooperative fashion. In Brazil, paradoxically, there is reduced synergy among the research groups on the field resulting in the overlap of research activities, gaps of investigation and, furthermost, reduction on the dissemination speed of sustainability theory and practice. With the purpose of stimulating higher proximity among these research groups the present paper reports survey carried out by the author in 2008 within Design postgraduate programs in Brazil, attempting to identify the existing research agenda and the geographic distribution of research on the field. Based on the results of this survey the article then points to key aspects to increase design research effectiveness on the country.

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1. Introdução

A demanda da sociedade por soluções mais sustentáveis para produtos e servi-ços demanda alterações radicais nos sistemas de consumo e produção, exigindo do design novas competências e novo escopo de atuação. A formação destes novos designers para a sustentabilidade e a inclusão de novas competências nos profissionais já atuantes no mercado implica na revisão da visão ortodoxa quanto ao escopo de atuação do designer, ou seja, na revisão epistemológica do que vem a ser Design. O Internacional Council of Society of Industrial Design ICSID, entidade maior da área, já reconhece esta nova realidade e propõe que o conceito de design seja definido como “...uma atividade criativa que signifi-ca estabelecer qualidades multifacetadas a objetos, processos, serviços e seus sistemas em todo o ciclo de vida”. O design de sistemas sustentáveis não ne-cessariamente resulta em bens físicos, o que é um contraste significativo com a visão convencional do propósito da atividade de Design.

A pesquisa em design pode contribuir para a aceleração do desenvolvimento de competências em sustentabilidade nas gerações presentes e futuras de De-signers. No 7º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design organizado em Curitiba pelo Núcleo de Design & Sustentabilidade da UFPR em 2006, “Design Sustentável” foi um dos três temas mais publicados entre os mais de 650 papers publicados nos anais do evento. Uma das conclusões resul-tantes dessa conferência foi a clara necessidade de dedicar maiores esforços para desenvolver estratégias que realmente promovam mudanças de estilo de vida em nossa sociedade.

Para articular as ações na área foi implementado em 2007 a Rede Brasil de Design Sustentável (RBDS), a qual tem como missão a promoção da sinergia e foco estratégico dos grupos de pesquisa em design sustentável no país. Neste contexto, o presente artigo reporta survey realizada pelo autor para apoiar as ações da RBDS. Esta survey procura traçar um panorama temático da pesquisa em Design no Brasil a partir da análise das dissertações e teses em andamento nos Programas de Pós-Graduação em Design. O propósito é fundamentalmen-te aumentar a transparência, permitindo a identificação de lacunas e áreas de potencial sinergia entre grupos de pesquisa.

Durante a elaboração do Plano Estratégico para a Pesquisa & Desenvolvimento

em Design no Brasil, como o apoio do CNPq em 2005 (disponível no site AEND-BR) ficou claro a pouca transparência sobre o estado da pesquisa no Brasil, levando em conta o crescimento constante do número de doutores e pesquisa-dores atuantes na área. Esta falta de transparência não só afeta a definição de políticas de fomento efetivamente adequadas à área mas, muito importante, afeta a própria efetividade da pesquisa na medida que esta passa a não perce-ber as lacunas de pesquisa nas fronteiras de inovação.Desta forma, com o objetivo de alcançar esta transparência e com a meta su-bliminar de aproximar pós-graduandos de pós-graduandos foi realizada uma consulta a todos os coordenadores de pós-graduação no Brasil, ao qual fomos atendidos de forma muito gentil e com presteza. Para aqueles que os dados não nos foram fornecidos diretamente utilizamos o Lattes como fonte de con-sulta ou a própria página do respectivo programa.

A classificação dos temas utilizou a Tabela de Áreas do Conhecimento do CNPq. A análise de cluster de pesquisa realizada aqui se restringiu ao Design Sustentável (linha de pesquisa do autor). A planilha geral com todos os dados está a disposição na página de discussão da Rede Brasil de Design Sustentável (groups.google.com/group/rede-brasil-de-design-sustentavel) ou através de solicitação direta ao e-mail [email protected].

2. Demografia da Pesquisa em Design Sustentável em Pro-gramas de Pós-Graduação

Ao todo foi identificado nesta survey um total de 318 pós-graduandos em de-sign em todo o país realizando suas dissertações/teses em 2008. Portanto, levando-se em consideração a existência de dez programas de pós-graduação, tem-se que há uma distribuição deste montante de forma bastante desequili-brada, sendo que três instituições apenas (UFRGS, ANHEMBI e PUC) hospedam mais da metade dos pós-graduandos na área.

Não era pertinente aos propósitos desta survey a avaliação da eficiência do processo de orientação nestas instituições, ou seja, a relação do número de orientandos em relação aos prazos de conclusão das dissertações/teses. Para a avaliação dos temas em cada pesquisa foi dado o valor 2 para a espe-cialidade da Tabela de Áreas do Conhecimento mais próxima ao tema e valor 1

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para o tema também conectado ao tema mas com menor relevância.

1. Distribuição da Pesquisa em Design no BrasilFigura

Os dados da Survey mostram que “Design Gráfico”, “Design de Interfaces Digi-tais”, “Design e Gestão”, “Design da Informação”, “Design, Ergonomia e Usabili-dade” e “Design e Cultura” são os temas mais freqüentes na pesquisa realizada no ambiente da pós-graduação na área do Design. Importante notar que temas emergentes na sociedade como o “Design & Jogos” e “Design & Sustentabilida-de” ainda recebem relativamente pouca atenção da comunidade.

2. Temas de Pesquisas de Pós-Graduandos em Design em 2008Figura

Foram identificados nesta survey um total de 51 dissertações/teses em desen-volvimento no país em 2008 com pertinência diretamente ligada à questão da sustentabilidade (16 % do total). Aqui novamente verifica-se uma excessiva concentração das pesquisas na área. Somente a PUC e UFPR respondem por

quase 70% dos pós-graduandos nesta temática.

3. Distribuição da Pesquisa em Design Sustentável no BrasilFigura

Obviamente, o volume pequeno de pesquisas na área reflete o estado da pes-quisa na área de Design no país. De fato, em um período de apenas quinze anos o país saiu da ausência de programas de pós-graduação na área para dez programas de pós-graduação em Design em 2008. Pesquisa em design no Brazil é, portanto, uma atividade recente e ainda pouco estruturada e consolidada. No caso das pesquisas em Design Sustentável a survey realizada permite con-cluir quanto a urgente necessidade de ampliar o estímulo aos outros progra-mas de pós-graduação para inclusão do tema design sustentável seja como linha de pesquisa, seja como filosofia básica a ser utilizada nas linhas de pes-quisa de forma horizontal.

3. Demografia dos Grupos de Pesquisa no Brasil

O desenvolvimento e disseminação do conhecimento em design sustentável no âmbito da pesquisa no Brasil têm como desafio central o aumento quantita-tivo e ampliação da abrangência geográfica dos grupos de pesquisa. Em 2008 a maioria dos grupos de pesquisa nesta temática concentrava-se nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Áreas de grande importân-cia ambiental ou com severos problemas sociais no país não tem a presença de grupos de pesquisa nesta temática, demandando ações estratégicas de caráter nacional para a indução da implantação de novos grupos e, por conseqüência, a formação de recursos humanos locais de alto nível.

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4. Distribuição dos Grupos de Pesquisa em Design Sustentável no BrasilFigura

A mudança dos padrões de consumo e produção no Brasil passa necessaria-mente pela aceleração na formação de designers com competência em design sustentável. Apesar disto, pesquisa realizada pelo autor na base de dados da CAPES utilizando as palavras chave design sustentável, eco-design e design so-cial revelaram apenas seis teses de doutorado e 34 dissertações de mestrado desenvolvidas nestes temas no período de 2000 até maio de 2008. Levando-se em consideração que o país tem cerca e 150 escolas de design, fica claro que este volume de especialistas formados via mestrados e doutorados está mui-to abaixo do requerido para a formação dos futuros designers na questão da sustentabilidade.

A aceleração do desenvolvimento e disseminação do conhecimento em de-sign sustentável torna-se ainda mais urgente quando levado em consideração a crescente demanda de empresas, governo e organizações do terceiro setor por profissionais com competência em design sustentável.

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Educação ambiental nos cursos de DesignEnvironmental education in Design courses

Alexandre L. Marinho Universidade Positivo, Brasil [email protected]

Ricardo H. M. Godoi Universidade Federal do Paraná, [email protected]

design, educação ambiental, sustentabilidade

Este trabalho contribui para a integração da sustentabilidade na idealização de um curso de graduação em De-sign. O objetivo deste trabalho é o de fornecer uma visão global para qualquer professor e / ou coordenador que pretenda integrar a sustentabilidade no desenvolvimento dos cursos de Design baseado em levantamentos e ex-periências de campo. A fim de estimular a preocupação ambiental dos acadêmicos do curso de Design da Univer-sidade Positivo, foi oferecido aos alunos um curso resumido de dez horas de Química Ambiental. A assimilação e a posterior utilização dos conceitos básicos absorvidos no curso pelos estudantes foi avaliada de forma qualitativa e quantitativa, por meio de questionário aplicado aos alunos concluintes (2007). Apesar da prática realizada, poucos alunos apresentaram projetos de conclusão de curso com propostas de desenvolvimento de produtos com a preo-cupação sólida de integrar a sustentabilidade no processo metodológico, porém se mostraram bastante receptivo para a inserção de discussões sobre as relações ambientais e o design.

design; environmental education; sustainability

This work was designed to contribute to the knowledge and experience on how integration of sustainability issues in regular design course can be accomplished. As an overview of Brazilian design courses, it was recognized the lack of environmental subjects in the majority of the design undergraduate courses program, especially in product development. The main objective of this work was to provide a useful overview for any teacher and/or curricu-lum developer wishing to integrate sustainability into design programs. In order to encourage the environmental concern of the Positivo University students of Design department, an environmental chemistry short course of ten hours was offered to some students. The assimilation of environmental concepts of the course was accessed by qualitative and quantitative questionnaire applied to the participants. The results were pointing out that this isolate action does not incorporate the environmental responsibility to the students but they want to discuss about environmental education and design.

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1 Introdução

Os valores legitimados no mundo ocidental, teorias, ideologias, bem como a economia e os meios científicos e tecnológicos, externalizaram os processos naturais e culturais, evidenciando a ´maximização de benefícios em curto pra-zo’ (LEFF 2001:146), o que parece determinar a exaustão de todo o sistema com o modelo atual de desenvolvimento econômico de exploração dos recur-sos naturais.

A conscientização quanto à urgência de alterar o rumo deste processo e a ne-cessidade para regular condutas sociais que evitem efeitos negativos sobre o meio ambiente reforçam a necessidade imediata da inserção da discussão e da participação ativa do ensino superior na educação ambiental.

O momento atual exige posicionar os Projetos Políticos Pedagógicos ( PPP) dos cursos de design para que as instituições de ensino sejam responsáveis por iniciativas e sugestões de projetos que proporcionem aos seus alunos a capaci-dade de tomadas de decisão, cujos valores busquem a melhoria da sociedade e não apenas o atendimento de uma demanda do mercado.

Este estudo se propôe a contribuir para a integração da sustentabilidade na concepção de um curso de graduação em design. Para isso serão abordadas relações entre a educação ambiental e os cursos de graduação em Design com ênfase em projetos de produto. Na sequência será apresentada uma ação re-alizada para incentivar a preocupação ambiental dos estudantes de design da Universidade Positivo e de que maneira esta atividade pôde ajudar a diagnosti-car os interesses dos alunos na relação entre o design e o meio ambiente.

A necessidade se mostra evidente quando se reconhece que o primeiro objeti-vo para a educação ambiental (EA) é a conscientização de que o modelo atual de desenvolvimento econômico com a exploração dos recursos naturais está fadado à exaustão de todo o sistema.

O momento atual é sem dúvida um período de transição entre a emergência da saturação ambiental e a necessária mudança na sociedade (economia, cul-tura e política). É difícil conjeturar uma sociedade moderna sem implicar em mudanças comportamentais, no qual caberá às instituições de ensino contri-

buir na capacitação do indivíduo, permitindo-o recriar, fortalecer e promover esta mudança.

Diante deste cenário crítico, há a hipótese de que a revisão da formação aca-dêmica do designer no Brasil, por meio da reformulação da grade curricular, pode potencializar mudanças conceituais no desenvolvimento de projetos de produtos e serviços minimizando a exploração dos recursos naturais.

2 Universidade e a Educação Ambiental

Na sua origem, o ensino superior brasileiro foi elitista e sob influência da aris-tocracia colonial. Em outros tempos, as influências sofridas nos governos e na sociedade também provocaram mudanças significativas nas linhas de trabalho das instituições educacionais. Forças dominantes como a igreja e os militares, por exemplo, já determinaram os conteúdos e os métodos de ensino.

Atualmente a força de um mercado de trabalho globalizado influencia e até determina conteúdos curriculares, colaborando com outra discussão sobre o quanto a educação superior deve responder a este tipo de necessidade e quanto este tipo de influência pode ´imprimir à empresa educativa um sentido empresarial, utilitário e de mero adestramento da força de trabalho´ (TEDESCO 2005:27).

Segundo Freire (2001), a educação é reconhecida como a mola propulsora da transformação social e política, exigindo uma nova reflexão sobre a eterna fase de transição entre o real e o ideal. Reflexão crítica para compreender uma sociedade, capaz, para a busca de novos entendimentos e comportamentos, sobretudo as relações entre o homem e a natureza. Neste contexto, cabe à universidade propor discussões para a conscientização e a busca de soluções para as novas e necessárias mudanças, de modo que venha a integrar-se no seu meio.

Para isso é necessário identificar os seus problemas e de fato influenciar na transformação da sociedade através da modernização dos seus métodos de ensino, seus projetos político-pedagógicos (PPP) e principalmente com a atua-lização das grades curriculares dos cursos (BORDENAVE; PEREIRA : 2002). ,

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De forma simplista, os projetos de mudanças no ensino superior podem ser apoiados em dois pilares complementares que são: A educação tecnológica que busca soluções na produção de bens e serviços que diminuam o alto custo para os recursos naturais. E a educação sociocultural que promove o esclareci-mento e o exercício de valores capazes de provocar o aluno a percepção do seu ambiente, capacitando-o a interpretar as relações, conflitos e os problemas existentes que afetam a vida cotidiana.

Sobre este, o da educação sociocultural, a EA apoia-se com conhecimentos teóricos e práticos orientada para a rearticulação das relações econômicas e culturais entre a sociedade e a natureza (LEFF 2001).

Para a Comissão Interministerial, reunida em 1972, no Rio de Janeiro, para pre-parar a conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvi-mento, Dias (1998, apud GIL 2005:578) aponta que a educação ambiental:

“Caracteriza-se por incorporar as dimensões socioeconômi-cas, política, cultural e histórica, não podendo basear-se em pautas rígidas e de aplicação universal, devendo consi-derar as condições e estágios de cada país, região e comu-nidade sob uma perspectiva histórica. Assim sendo, a edu-cação ambiental deve permitir a compreensão da natureza complexa do meio ambiente e interpretar a independência entre diversos elementos que conformam o ambiente com vistas a utilizar racionalmente os recursos do meio na satis-fação material e espiritual da sociedade no presente e no futuro.”

Segundo Luzzi (2005), a EA tem um sentido fundamentalmente político, já que visa à transformação da sociedade em busca de um presente e de um futuro melhor. Contudo, é preciso que a EA seja efetivada em todos os níveis de ensi-no, mesmo reconhecendo a falta de estruturação suficiente para permear os paradigmas científicos e as estruturas acadêmicas, sobretudo a partir da pers-pectiva histórica, política, geográfica e cultural dos países do 3° mundo. Sobre isto, Manzini (2002) atenta para uma difícil convergência entre a racio-nalidade econômica e a racionalidade ecológica, a qual aponta para a necessi-

dade da educação ambiental como uma perspectiva de educação que permeie todas as disciplinas.

Não apenas como um treinamento ou uma instrução para a proteção ao meio ambiente, onde as atividades de transmissão de conhecimento se baseiam na conscientização para a conservação da natureza, as quais têm sua importância, a educação ambiental deve, necessariamente, abordar aspectos políticos, eco-nômicos, culturais e sociais.

3 Design e a Educação Ambiental

O modelo industrial atual, que se fortaleceu após a II Guerra Mundial, onde a estratégia das empresas deixou de ser estabelecida pela capacidade produtiva e passou a ser orientada pelas expectativas do mercado, tem no consumismo desenfreado a delineação do mercado.Este modelo tornou o marketing uma das ferramentas chaves, que acelera ´a renovação incessante da oferta de ob-jetos e opções inúteis [...] não essenciais, sempre anunciando uma revolução permanente para disfarçar a saturação crescente´. (KAZAZIAN 2005:40 e 67).

Muito mais no desejo do que na necessidade do consumidor, atualmente o design tem no seu papel o objetivo de transformar números, identificados pelos setores de marketing, em produtos e encaminhar as especificações à produção, que por fim, encaminha ao consumidor, que novamente iniciará o processo em função de um novo desejo ou necessidade.

A idéia central deste modelo é a produção de um maior número de produtos em menor tempo e custos possíveis, e de forma implícita, na rentabilidade imediata de exploração dos recursos materiais da terra (KAZAZIAN 2005). Além de requerer cada vez mais quantidade de recursos naturais, o modelo provoca um aumento de emissões e dos resíduos, contribuindo para o aumento da degradação ambiental.

Portanto, o design, sendo o elo entre a identificação de uma “necessidade”, o fabricante e o consumidor, é uma ferramenta que pode reorganizar os sistemas de produção e de consumo através, por exemplo, de uma geração de produ-tos, processos ou serviços que causem o mínimo de impacto adverso ao meio ambiente.

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A preocupação com o desenvolvimento de produtos com desempenho efeti-vo também na relação com o meio ambiente é conhecida pelas concepções projetuais, adotadas a partir da década de 1990, denominada DfE (Design for environment), considerada sinônimo do conceito Ecodesign, que aponta a ne-cessidade de uma ´ligação entre eficiência dos recursos (que leva a produtvi-dade e lucratividade) e responsabilidade ambiental´(JÚNIOR; DEMAJOROVIC 2006:288).

Júnior e Demajorovic (2006:289) acrescentam, ainda, que além da satisfação às necessidades dos consumidores com produtos e serviços ambientalmente adequados, é possível integrar as relações sociais, culturais tanto dos consumi-dores como da região onde será produzido o determinado produto.

Dentro do escopo da EA surge, então, a necessidade de desenvolver produtos e serviços orientados ao atendimento da sociedade, com o respeito aos recur-sos naturais, e a credibilidade do desenvolvimento econômico, contribuindo assim para o entendimento do conceito de desenvolvimento sustentável.

Diante deste cenário a escola de design pode ser um espaço valioso para a EA, proporcionando aos alunos reflexões sobre a importância do design e sua in-fluência nas demandas sociais e na sua relação com o meio ambiente.

Para propor o desenvolvimento sustentável no design é importante entender que o desenvolvimento deve ser do design para a sustentabilidade, que signifi-ca ainda segundo Manzini (2002), promover a capacidade do sistema produtivo de responder à procura social de bem-estar utilizando uma quantidade de re-cursos ambientais drasticamente inferiores aos níveis atualmente praticados.

Para esta proposta, Fletcher e Dewberry (2002) esclarecem sobre dois extre-mos para o uso da sustentabilidade nos currículos. O primeiro, onde o design é o contexto, os temas relacionados a um projeto sustentável são partes de uma metodologia de desenvolvimento de produto, onde o resultado serão bens de consumo para o mercado. São atualmente praticados nas poucas instituições de ensino que se preocupam com o assunto, obedecendo ao modelo industrial atual. A preocupação é fazer com que os alunos desenvolvam o produto e por fim lembre-se da possibilidade de inserir pequenas interferências “verdes”.

No outro extremo, que tem a sustentabilidade como contexto, o desenvolvi-mento de produtos busca priorizar as expectativas e saídas para toda a socieda-de, inserindo a metodologia projetual dentro do conceito da sustentabilidade. A possibilidade de a sustentabilidade ser o contexto para o desenvolvimento de um produto provoca mudança no modelo industrial atual, proporcionando uma nova cadeia de prioridades.

Assim, as propostas não serão baseadas no desejo e na necessidade do consu-midor, mas deverão reconhecer quais são as expectativas do consumidor para repensar quais as possibilidades de oferta, além de priorizar constantes ava-liações dos possíveis impactos ambientais, confrontando-os com as condições econômicas e sociais entendidas para aquele produto e seu ciclo de vida.

O design como uma ferramenta dentro do contexto maior, que é a sustenta-bilidade, reforça o seu escopo de reorganizar os sistemas de produção e de consumo, motivando a existência de novos processos ecologicamente mais fa-voráveis em relação aos existentes.

4 Proposta de aplicação

Baseado na pesquisa realizada na Delft University of Technology (TU Delft), Ho-landa e seus resultados relacionados à melhora no aproveitamento dos assun-tos que interagem o tema sustentabilidade e o desenvolvimento de projetos, além da hipótese deste estudo que há a necessidade de repensar a estrutura curricular dos cursos de design, de maneira a atender as contínuas mudanças de mercado e a necessidade da conscientização ambiental, este estudo propôs a inclusão de um curso de extensão em química ambiental, de 10 horas. Além de provocar um presumível interesse do acadêmico, o curso também propor-cionaria a discussão de temas ligados ao meio ambiente e suas relações com o desenvolvimento de produtos fora do local tradicional de sala de aula.

O curso de extensão, denominado Planeta no Século XXI (PS21), foi ofertado para os alunos do 2° semestre do 3° ano da graduação em design da Univer-sidade Positivo (UP), promovendo uma ação concreta que permitiria maiores discussões para a integração da sustentabilidade no design. O curso teve como objetivo principal estimular a consciência ambiental resgatando conceitos por

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meio da abordagem de relevantes indicadores que são considerados em docu-mentos sobre desenvolvimento sustentável. A partir do proposto, mediu-se a efetividade desta ação, ou seja, possíveis in-fluências do curso, com as demais disciplinas responsáveis pelo assunto, nas apresentações das propostas de projetos de pesquisa do trabalho final de gra-duação (TFG) que seriam realizados durante próximo ano letivo.

Para a realização do curso, houve a participação de quatro professores do pro-grama de Mestrado Profissional em Gestão Ambiental da UP, que dividiram as relações do homem e o meio ambiente em quatro temas. Os assuntos minis-trados foram: solo, resíduos e poluição, água e ar. Cada um deles apresentados como aula expositiva, em semanas subseqüentes, com duração de 2,5 horas/aula, no contra turno (tarde) dos alunos.

Apresentada esta formatação a todos os 49 alunos da turma, denominados como “turma base”, 23 tinham disponibilidade de tempo no contra turno e manifestaram interesse na participação do curso que foi realizado entre os dias 24 de outubro e 14 de novembro de 2006, na UP. No ano letivo de 2007, a turma base, no 4° ano, se organizou, de forma espontânea, em duplas ou in-dividualmente, para redação e apresentação dos projetos de pesquisa para o desenvolvimento de projetos de produtos como TFG durante o ano letivo.

Para reconhecer e quantificar as influências do curso proposto PS21 foram re-colhidos todos os 26 projetos de pesquisa apresentados como propostas para o desenvolvimento do TFG, totalizando os 49 alunos participantes. Com a entrega dos projetos de pesquisa, realizou-se uma pesquisa quantitativa para analisar os indícios de relações entre o design e o meio ambiente apresenta-dos, ou a falta deles, sob influências específicas do curso PS21.

Buscou-se palavras que identificassem indícios, preocupações e implementa-ções de aspectos ambientais contidos nos temas, nos objetivos gerais e nos objetivos específicos. Para tanto foram consideradas palavras e expressões como: Re-uso; Ciclo de vida do produto; Preservação do meio ambiente; Uso de novas tecnologias; Qualidade de vida; Preocupação ambiental; Resíduos; Ecodesign; Sustentabilidade; Ecologia; Energia; Água; Descartável; Coleta se-letiva; E metodologia específica para o desenvolvimento de produto-serviço como o PSS (product-service system).

No início do ano letivo de 2007 com o início do desenvolvimento de projetos de produtos como trabalho final de graduação, buscou-se um novo momento de coleta de dados com a turma base, por meio de uma pesquisa quantitativa e qualitativa a fim de possibilitar confrontos entre as respostas evidenciadas nos projetos de pesquisa apresentados e o início da pesquisa para desenvolvi-mento dos produtos.

A coleta de dados foi realizada utilizando como ferramenta um questionário que exigia respostas dissertativas e de múltipla escolha. Para evitar qualquer tipo de influência do autor da pesquisa, o questionário foi entregue, apresen-tado e recolhido, ao final do preenchimento, por outro professor que não par-ticipou do curso intensivo.

As respostas foram compiladas utilizando-se a ferramenta computacional Sta-tistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 13.0, para análise, trata-mento de dados estatísticos e cruzamentos de variáveis para a confirmação dos dados obtidos.

5 Resultados e Discussões

Dos 26 projetos apresentados pelos alunos, 24 eram formados por duplas e dois individuais. Entre as duplas seis projetos foram propostos por alunos que fizeram o curso PS21, nove foram formados por alunos onde um fez o curso e nove foram formados por alunos que não fizeram o curso. Nos individuais, ambos realizaram o curso.

Um dos alunos não fazia parte da turma base (aluno transferido de outra ins-tituição) e, portanto foi desconsiderado da pesquisa. Dentre os oito projetos onde os autores participaram do curso PS21, sejam eles em duplas ou indivi-dualmente, apenas três apresentaram algum tipo de influência, apontada em dois temas e em um objetivo específico, e cinco não apontaram qualquer tipo de indício de influência.

Os projetos onde apenas um dos autores participou do curso PS21 apresen-taram um resultado diferente do grupo de projetos onde ambos os autores participaram. O resultado de não influência é menor do que os números de

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indicadores obtidos nos tema ou nos objetivos específicos. Enquanto quatro projetos não demonstraram nenhum indício que pudesse relacioná-lo com o PS21, cinco projetos apresentam assuntos ligados ao meio ambiente, sendo um no tema e quatro nos objetivos dos projetos de pesquisa.

Nos projetos cujos autores não participaram do curso PS21, o resultado foi similar ao grupo de projetos onde apenas um dos autores participou. Assuntos relacionados ao meio ambiente foram retratados em cinco ocasiões sendo três temas e dois objetivos específicos.

A proposta de ação para medir uma possível influência sobre os alunos permi-tiu perceber que há o interesse do aluno com temas ligados ao meio ambiente, mesmo com os resultados de influência do PS21 sendo considerados abaixo da expectativa. Os projetos onde os dois alunos realizaram o curso não refletiram estímulos propostos pelo curso capazes de influenciar nos temas ou nos obje-tivos dos respectivos projetos finais.

Porém, acredita-se que este fato comprovou que os temas voltados para a educação ambiental, mesmo acontecendo em propostas de disciplinas curri-culares ou em formatos de extensão como o PS21, não devem ser tratados de forma isolada sem um projeto que contemple objetivos como a inserção de um novo valor, como a sustentabilidade deveria ser tratada.

Outro fator que pode ter influenciado no resultado é a não relação dos temas abordados com o papel do designer neste processo. Este pode ter ocorrido por dificuldades na relação ensino-aprendizado causadas pela diferença entre a formação acadêmica dos professores, com o respectivo vocabulário, e a expec-tativa do aluno em relação aos temas propostos, dificultando a percepção da necessidade dos assuntos e conseqüentemente serem contemplados dentro da pesquisa para o desenvolvimento de produtos.

Além destas possibilidades, os resultados quando um dos alunos participou do curso deve considerar, ainda, a dificuldade do aluno que fez o curso PS21 em influenciar aquele que não fez, seja pela falta de argumentação capaz de con-vencimento ou pela dificuldade de promover um processo de mudança que exigiria a formulação e apresentação de um novo projeto de pesquisa.

Entrevista com os alunos

Para a validação e análise dos resultados, optou-se por entrevistar os alunos da “turma base”, uma vez que o interesse da pesquisa era conhecer as possíveis diferenças entre os projetos de pesquisa apresentados e o início da pesquisa para desenvolvimento dos produtos, além de possíveis interferências ocorri-das. Foram entrevistados 45 dos 49 alunos da turma.

Além do objetivo primeiro do curso PS21, que era estimular a consciência am-biental através de abordagem de temas complementares e distintos daqueles supostamente referenciados no curso de design, os resultados obtidos da en-trevista com os alunos também possibilitaria perceber o interesse dos alunos com os temas voltados às relações com o meio ambiente.

Quando questionados sobre a relevância dos temas ambientais permearem o curso de design, 17,8% dos alunos conferem à disciplina de Gestão Ambiental o entendimento e a aplicabilidade desta inclusão, enquanto outros 33,3% en-tendem que estes devem ser abordados em diversas disciplinas do curso.

Nenhum aluno se opôs quanto à responsabilidade do curso em promover dis-cussões abordando temas ambientais, apontando a interdisciplinaridade, seja ela entre a disciplina de Gestão Ambiental e outras do curso de design, com 13,3%, ou entre a disciplina de Gestão Ambiental somada a outras “fora” da grade curricular como, por exemplo, o curso PS21 com 6,7%, ou ainda a soma-tória da disciplina de Gestão Ambiental com as demais disciplinas do curso e o PS21, com outros 17,8%, deve ser praticada na universidade.

Apenas 6,7% dos entrevistados entendem que cursos como o PS21 deve ser uma opção para a implementação de temas ambientais no curso de design.Dos alunos, 33,3% entendem que há relevância dos temas ambientais perme-arem o curso de design e estes devem ser abordados em diversas disciplinas do curso.

Estas respostas contribuem para a possibilidade da inserção de temas que re-lacionem a preocupação com o desenvolvimento de produtos e sua implicação no meio ambiente, de forma transversal, possibilitando tratar o tema como um valor.

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15Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

A pesquisa apontou que o curso PS21 despertou algum interesse do aluno para discussões sobre a possibilidade dos temas ambientais permearem diversas disciplinas no curso da graduação. Entre eles 33,3% responderam estar inte-ressados e reconhecem a importância e suas relações com outros assuntos estudados no curso de design.

Porém, este percentual não se mostrou tão eficiente quando comparado com o número de temas e objetivos propostos nos TFG`s.

Entende-se que mesmo mostrando interesse e reconhecendo a necessidade das relações entre o design e o Meio Ambiente (quando questionado se o alu-no irá abordar questões que envolvam o meio ambiente no TFG, 68,9% res-pondem afirmativamente), o resultado pretendido junto ao trabalho final de graduação, não se deu, também, porque 20% dos alunos entrevistados apon-taram, categoricamente, desconhecer como inserir este assunto no próprio trabalho.

Outros 6,7% não admitem a dificuldade de como abordar o assunto meio am-biente, justificando que não pretendem abordar discussões desta natureza porque entendem que o trabalho em desenvolvimento não tem nenhuma re-lação com o meio ambiente.

Como também não sabem, 4,4% disseram que só irão abordar o tema caso o orientador do trabalho ou a instrução normativa do TFG exija.Outro indicativo que reforçou a falta de temas e objetivos nos TFG`s relacio-nados à educação ambiental na UP, esta associado com o não entendimento exato do significado de preocupações ambientais e como este deve ser abor-dado.

Quando perguntado sobre quais os possíveis temas que seriam abordados ao longo do TFG, as respostas têm concentração “apenas” nos itens relacionados a matéria prima, processos de produção e reciclagem do produto.Esta limitação quanto aos possíveis temas ambientais que poderiam ser abor-dados no desenvolvimento de um TFG no curso de design pode estar relacio-nada principalmente com o fato de os alunos obedecerem a um currículo que tratou os temas ambientais como etapas projetuais dentro do contexto design

. Isto demonstra uma intenção do aluno em abordar preocupações ambientais, apenas como uma das etapas projetuais e não como tema principal ou um objetivo a atingir de fato.

Esta visão estreita foi reforçada quando as respostas de 64,4% dos alunos apontaram que há uma etapa para inclusão de premissas ambientais entre outras etapas de caráter projetual dentro da metodologia de desenvolvimento de produtos. Destes, 15,6% reforçaram que esta etapa deu-se pelos temas es-tudados na própria disciplina de Gestão Ambiental do 6° período do curso .

Evidencia-se, ainda, que os alunos perceberam as relações ambientais apenas quando o assunto é matéria prima, processos de fabricação e reciclagem. Entre eles, 37,8% creditaram ao próprio entendimento e 46,7% ao entendimento da equipe sobre a relevância dos temas ambientais e sua inserção no TFG.

Dentre os entrevistados, 13,3% apontaram o curso PS21 como principal influ-ência para a inclusão de temas ambientais no TFG. Este número reforça os resultados apresentados, onde apenas três projetos sofreram algum tipo de influência e cinco não apresentaram quaisquer indícios.

Mesmo, ainda, sem mostrar resultados que comprovem quanto o aluno con-segue relacionar o design e o meio ambiente, a pesquisa indicou que os alunos reconheceram que há assuntos ligados a este tema nas disciplinas do curso, sendo que 71% apontaram que o curso de design tem oportunizado este tipo de discussão.

Por meio do levantamento de dados até o momento da pesquisa, pôde-se ob-servar que a educação ambiental e suas relações com a formação acadêmica do designer na UP encontravam-se em um momento inicial, evidenciando que o curso não objetivava esta interação tanto no seu projeto pedagógico como na formação dos professores, porém foi possível perceber que os números su-gerem um cenário bastante interessante , percebido pela motivação dos alu-nos e os espaços para a discussão do tema.

6 Considerações finais Este trabalho abordou o ensino superior, com foco nos cursos de graduação

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16 Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

de design com habilitação em projeto de produto, e a necessidade da inclusão da educação ambiental. Esta inclusão é uma das exigências para a busca de soluções sustentáveis, imprescindíveis para a manutenção das relações entre o homem e o meio ambiente.

A proposta de ação, para estimular o aluno a pensar em outros indicadores além daqueles que o curso de design já lhe proporciona, permitiu a percepção que há o interesse do acadêmico em temas ligados ao meio ambiente. Porém, mesmo executando algumas ações concretas, as relações que ele (aluno) fez com o meio ambiente foram estreitas, limitadas a alguns pontos como a esco-lha da matéria prima e o seu processo de produção.

Entendendo que é inegável à Universidade a função de melhorar a sociedade através do pensamento estratégico para formar cidadãos capazes de provocar mudanças necessárias, sejam elas de ordem econômica, social, política ou tec-nológica, é preciso, também, assumir que todo processo que objetiva a inser-ção de um novo valor, como a sustentabilidade, e seus respectivos resultados dentro de cada curso e da própria instituição, dependem de constantes reor-ganizações de todos os envolvidos.

Portanto, há a necessidade de incluir a educação ambiental nos projetos peda-gógicos dos cursos de design, acreditando que a revisão das estratégias educa-cionais pode ser uma das várias ações necessárias para evitar-se o colapso de recursos naturais. Além da preocupação principal que é a formação de valores dentro da educação, é inegável reconhecer que os mercados estão incluindo critérios ambientais nas suas transações comerciais e, portanto, o Brasil ne-cessita estar preparado para responder a esta demanda, o que só acontecerá principalmente por meio da formação acadêmica dos profissionais.

Reconhece-se também que são necessários outros projetos que contemplem, além do que foi proposto por este, todo o processo educativo de formação am-biental, ou seja, os objetivos, os conteúdos, os métodos e material pedagógico, a formação e capacitação de professores, a pesquisa e a avaliação, além das relações de convênios entre as empresas e as universidades.

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17Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

A inserção do design sustentável em um modelo de referência para a gestão do desenvolvimento de produtosSustainable design insertion into a reference model for product development management

Américo Guelere FilhoUniversidade de São Paulo [email protected]

Henrique RozenfeldDaniela C. A. Pigosso

Ecodesign, modelo de referência, processo de desenvolvimento de produtos

A menos que os produtos ecológicos (menos prejudiciais aos seres humanos e seu ambiente quando comparados aos produtos tradicionais) obtenham êxito no mercado, não haverá diminuição dos impactos ambientais causados ao longo do seu ciclo de vida. No universo das empresas cujos produtos são bem sucedidos comercialmente, é comum a adoção de um processo padrão de desenvolvimento de produtos (DP) o qual guia todos os projetos de desenvolvimento, estabele-cendo, assim, uma linguagem comum a todos os envolvidos e a garantia de que certas práticas, métodos e ferramentas serão utilizados no desenvolvimento de todos os produtos. Os principais benefícios associados ao uso de um processo padrão estão relacionados à estruturação do DP, o que viabiliza sua gestão e aumen-ta as chances de que os produtos desenvolvidos a partir desse padrão obtenham sucesso no mercado. Dentro do contexto do Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP), o ecodesign pode ser definido como uma abordagem que visa desenvolver produtos ecológicos sem comprometer critérios como desempenho, funcionalidade, tempo de desenvolvimento, segurança, estética, qualidade e custo, critérios esses essenciais ao êxito comercial de qualquer produto. No entanto, o que se observa atualmente é que o uso de métodos e ferramentas de ecodesign não figura ainda entre as melhores práticas de DP, caracterizando uma lacuna na integração do ecodesign ao PDP. Uma maneira de suprimir essa lacuna é garantir que métodos e ferramentas de ecodesign integrem o processo padrão de DP das empresas. Essa integração, por sua vez, pode ser feita com o auxilio de um modelo de referência para o desenvolvimento de produtos ecológicos, ou seja, um modelo de referencia que tenham entre seus métodos e ferramentas aqueles relacionados ao ecodesign. O objetivo desse artigo é apresentar os passos empre-endidos no desenvolvimento de uma referência dessa natureza, a qual está sendo construída a partir da integração de métodos e ferramentas de ecodesign ao modelo de referencia para a gestão do desenvolvimento de produtos proposto por Rozenfeld et al, 2006 (Modelo Unificado).

Ecodesign, reference model, product development process

Unless the green products (less harmful to humans and their environment when compared to traditional products) get success in the market, there will be no re-duction of environmental impacts caused throughout its life cycle. In the universe of companies whose products are commercially successful, it is common to adopt a standard process for product development (DP) which guide all development projects, establishing thus a common language for all those involved and ensuring that certain practices, methods and tools will be used in the development of all products. The main benefits associated with the use of a standard process are rela-ted to the structure of DP, which enables the management and increases the chances that the products developed from the standard to obtain success in the ma-rket. Within the context of the Product Development Process (PDP), the ecodesign can be defined as an approach that aims to develop ecological products without compromising criteria such as performance, functionality, development time, safety, aesthetics, quality and cost, the traditional criteria essential to commercial success of any product. However, what is observed today is that the use of ecodesign methods and tools not even figure among the best practices of DP, showing a gap in the integration of ecodesign into PDP. One way to eliminate this gap and ensure that ecodesign methods and tools integrates the standard DP businesses process. This integration, in turn, can be made with the aid of a reference model for the development of green products, ie, a type of reference that have also a set of ecodesign methods and tools. The aim of this paper is to present the steps undertaken in the development of such a reference, which is being built from the integration of ecodesign methods and tools into the reference model for product development management proposed by Rozenfeld et al, 2006 (Unified Model).

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18 Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

1 Introdução

Devido ao caráter sistêmico do conceito de sustentabilidade (que está apoiado na consideração integrada das questões ambientais, sociais e econômicas), o esforço conjunto das áreas da empresa e a sua integração aos diversos proces-sos de negócio (conjunto de atividades destinadas à produção de um produto ou serviço para um tipo específico de cliente (interno ou externo à empresa) se torna necessário.

O processo de desenvolvimento de produtos é considerado um processo de negócio crítico para aumentar a competitividade das empresas e para reduzir os impactos ambientais associados a produtos ao longo de todo o seu ciclo de vida, principalmente por meio da consideração das questões ambientais.

O ecodesign, uma abordagem de gestão ambiental pró-ativa, trata da consi-deração das questões ambientais nas fases iniciais do processo de desenvolvi-mento de produtos, onde estão as maiores oportunidades de melhoria, com o objetivo de minimizar os impactos ambientais dos produtos ao longo de todo o seu ciclo de vida, sem comprometer, entretanto, outros critérios essenciais do produtos, com qualidade, custo e estética.

Apesar das inúmeras vantagens competitivas e ambientais associadas ao eco-design, o conceito ainda é pouco aplicado pelas empresas. Um dos fatores que contribuem para essa situação é a falta de integração das práticas, métodos e ferramentas de ecodesign aos processos de negócio das empresas, que é po-tencializado pelo intenso desenvolvimento de novos métodos e ferramentas em detrimento do estudo e aprimoramento dos existentes.

Nesse contexto, uma alternativa para aumentar as chances de êxito comercial dos produtos ecológicos é integrar o ecodesign ao processo de desenvolvimen-to padrão das empresas, o que garantiria que a introdução dos aspectos am-bientais fosse feita de forma sistemática por meio da aplicação de métodos e ferramentas de ecodesign em todos os projetos de desenvolvimento.

O objetivo desse artigo é apresentar os passos empreendidos no desenvolvi-mento de um processo padrão (modelo de referência) para o desenvolvimento

de produtos ecológicos, mais especificamente, para bens de consumo duráveis e de capital. Esse modelo está sendo construído a partir da integração de prá-ticas de ecodesign ao modelo de referencia para a gestão do desenvolvimento de produtos proposto por Rozenfeld et al, 2006 (Modelo Unificado).

Este trabalho está sendo desenvolvido no âmbito do doutorado do autor junto ao Grupo de Engenharia Integrada e de Integração (GI2) do Núcleo de Manufa-tura Avançada (NUMA) e se insere na linha de pesquisa “Gestão de Projetos e Desenvolvimento de Produtos” do Departamento de Engenharia de Produção da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (SEP/EESC/USP).

2 Contextualização

Esse capítulo apresenta a contextualização do processo de desenvolvimento de produtos e a sua relação com o ecodesign, além de apresentar o modelo de referência unificado para o processo de desenvolvimento de produtos.

O processo de desenvolvimento de produtos e o ecodesign

De acordo com a Comissão das Comunidades Européias (2001), a relação en-tre produtos e impactos ambientais é estabelecida pelas crescentes taxas de consumo e produção dos produtos, que estão na origem da maior parte da poluição e esgotamento dos recursos naturais causados pela humanidade.

Produtos com melhor desempenho ambiental são também conhecidos como produtos ecológicos ou “verdes” que, segundo NIMSE et al (2007), são produ-tos menos prejudiciais aos seres humanos e seu ambiente quando compara-dos aos produtos tradicionais em uso. Como o desempenho ambiental de um produto é determinado pela soma de todos os impactos ambientais observa-dos ao longo do seu ciclo de vida (NIELSEN; WENZEL, 2001), e uma vez que tais impactos são, em sua grande maioria, determinados nas fases iniciais de seu desenvolvimento (GRAEDEL; ALLENBY, 1995), o desafio envolvido no de-senvolvimento de produtos ecológicos passa pela consideração e minimização dos impactos ambientais do ciclo de vida dos produtos ainda durante as fases iniciais de processo de desenvolvimento.

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19Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

O processo de desenvolvimento de produtos é considerado um processo de negócio crítico para aumentar a competitividade das empresas, principalmen-te porque leva a uma maior diversidade de produtos e a uma contínua redução do ciclo de vida do produto. O desenvolvimento sustentável pode ser integra-do numa completa estratégia de gestão do desenvolvimento do produto como uma abordagem complementar, uma nova área de conhecimento (GUELERE FILHO; ROZENFELD, 2006).

Clark e Fujimoto (1991) definem o processo de desenvolvimento de produtos (PDP) como o processo organizacional responsável pela transformação deda-dos de mercado e de tecnologia em produtos comerciais.

As maiores oportunidades de melhorias ambientais de um produto estão nas primeiras fases do seu processo de desenvolvimento, em que os graus de li-berdade no estabelecimento das características do produto e o potencial para melhorias ambientais são grandes. Estimativas apontam que de 60 a 80% do impacto ambiental total de um produto é estabelecido nestas fases (BYGGE-TH; HOCHSCHORNER, 2006; LUTTROPP; LAGERSTEDT, 2006; MANZINI; VEZZO-LI, 1998; NIELSEN; WENZEL, 2001; JESWIET; HAUSCHILD, 2005; JOHANSSON, 2002; SIMON ET AL, 1999).

O conceito do ecodesign trata justamente do desenvolvimento de produtos ecológicos e pode ser visto como uma abordagem de desenvolvimento de pro-dutos cujo maior objetivo é minimizar os impactos ambientais gerados pelos produtos, sem comprometer, no entanto, outros critérios essenciais ao seu su-cesso comercial, tais como desempenho, funcionalidade, tempo de desenvol-vimento, segurança, estética, qualidade e custo (BYGGETH; HOCHSCHORNER, 2006; LUTTROPP; LAGERSTEDT, 2006; JESWIET; HAUSCHILD, 2005). No início dos anos 2000 era grande o otimismo existente em torno das vanta-gens competitivas associadas ao ecodesign (tanto entre acadêmicos como en-tre representantes do mundo corporativo), apresentado à época como o con-ceito emblemático do paradigma ganha-ganha. No entanto, o que se observa atualmente é que a adoção desse conceito encontra-se restrito a grandes e poucas empresas e que os produtos produzidos e consumidos em larga escala não são ainda ofertados em sua versão ecológicos (BOKS, 2005; KARLSSON;

LUTTROPP, 2006; LUTTROPP; LAGERSTEDT, 2006).

Segundo Baumann; Boons e Bragd (2002), uma das principais causas da baixa integração do ecodesign com o PDP é a deficiência daqueles envolvidos com o ecodesign em enxergar o PDP como um processo de negócio somado ao intenso desenvolvimento de novos métodos e ferramentas em detrimento ao aperfeiçoamento dos existentes. Como conseqüência, o uso de seus métodos e ferramentas de ecodesign, não figura, ainda, entre as melhores práticas de DP, caracterizando, assim, uma lacuna na integração do ecodesign ao PDP.

Johansson (2002), afirma que os fatores de sucesso para a integração do eco-design ao PDP são, em sua grande maioria, os mesmos fatores de sucesso do PDP como um todo. Dessa forma, empresas que gerenciam bem o seu PDP têm maiores chances de serem bem sucedidas na integração do ecodesign.

Na área de processos de negócios (do qual o PDP é um exemplo), modelos de referência têm sido utilizados na sua estruturação, viabilizando, assim, a ges-tão de todo o processo. No caso do desenvolvimento de produtos, ao fazer uso de um modelo de referência, uma empresa define seu processo padrão, o qual guiará todos os seus projetos de desenvolvimentos de produtos. Isso conduz a uma visão única desse processo de negócio, nivelando os conhecimentos entre os atores que participam de um desenvolvimento específico, construindo, uma linguagem comum e a garantindo que certas práticas, métodos e ferramentas, serão aplicados em todos os projetos de desenvolvimento (ROZENFELD et al, 2006).

2.1 O modelo unificado para o processo de desenvolvimento de produ-tos (pdp)

O modelo de referência para a gestão do desenvolvimento de produtos, ou modelo unificado, proposto por Rozenfeld et al, (2006) foi construído com o intuito de disseminar conceitos e melhores práticas de desenvolvimento de produtos nas empresas nacionais, incorporando experiências e conhecimentos acumulados pelos autores em suas atividades acadêmicas (pesquisa e ensi-no) e empresariais. É fruto de ação conjunta de grupos de pesquisa brasileiros com destacada atuação na área de DP (desenvolvimento de produto) os quais

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20 Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

somaram esforços no âmbito de um Programa Nacional de Cooperação Acadê-mica (PROCAD) financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

A visão do PDP que fundamenta o Modelo Unificado é a de um processo de negócio (Business Process BP), que segundo Rozenfeld (2002), é um fenôme-no que ocorre dentro das empresas e que contém um conjunto de atividades, associadas às informações manipuladas, utilizando os recursos e a organiza-ção da empresa. Forma uma unidade coesa e deve ser focalizado em um tipo de negócio, que normalmente está direcionado a um determinado mercado/cliente, com fornecedores bem definidos.

Todo processo de negócio pode ser representado por meio de um modelo, que representa todos os seus elementos. Para Vernadat (1996), um modelo dessa natureza serve para “harmonizar os fluxos de informação, controle e material dentro da organização, para aprimorar a comunicação, cooperação e coorde-nação dentro da empresa tal que seja atingido uma maior produtividade, flexi-bilidade, capacidade de reação e um melhor gerenciamento de mudança”.

Dessa forma, o PDP como um processo de negócio pode ser representado por meio de um modelo que oriente a estruturação de seus elementos visando sua gestão. A função básica dos modelos para gestão do PDP é uniformizar os conceitos para que todos consigam ver de forma semelhante o produto sendo desenvolvido, sendo o processo de desenvolvimento do produto padrão sobre o qual o desenvolvimento de projetos está baseado normalmente representa-do por um modelo de referência.

Um modelo de referência descreve as atividades, os resultados esperados, os responsáveis, os recursos disponíveis, as ferramentas de suporte e as informa-ções necessárias ou geradas no processo e consiste de uma coleção das melho-res práticas no desenvolvimento de produtos, sendo usualmente representado em visões parciais.

Ao fazer uso de um modelo de referência, uma empresa define um padrão para os projetos de desenvolvimento de seus produtos, obtendo, assim, uma visão única desse processo de negócio, nivelando os conhecimentos entre os atores que participam de um desenvolvimento específico, e construindo, uma

linguagem comum para garantir que certas práticas, métodos e ferramentas, serão aplicados em todos os projetos de desenvolvimento (ROZENFELD et al, 2006). A Figura 1 mostra o modelo de referência proposto por Rozenfeld et al (2006) e conhecido como Modelo Unificado.

1. Modelo unificado (ROZENFELD et al, 2006)Figura

Este modelo organiza o PDP em macro-fases, subdivididas em fases, ativida-des e tarefas. As macro-fases deste modelo são: Pré-desenvolvimento (garante que as estratégias da empresa sejam seguidas no momento da definição do portfólio de produtos, além de incluir a atividade onde ocorre o detalhamento dos projetos escolhidos no portfólio), Desenvolvimento (corresponde ao pro-jeto do produto, iniciado na declaração de escopo e no planejamento vindo da macro-fase anterior e finalizado com o lançamento do produto no mercado.

Nesta macro-fase estão inclusas as fases de Projeto Informacional, Projeto Con-ceitual, Projeto Detalhado, Preparação da Produção e Lançamento do Produto) e Pós-desenvolvimento (responde pelo acompanhamento do produto após seu lançamento, até a sua retirada do mercado, avaliando todo o seu ciclo de vida e coletando informações para referência nos próximos desenvolvimentos).

As macro-fases de pré e pós-desenvolvimento são gerais, assim como o projeto

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21Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

informacional, a preparação da produção e o lançamento do produto dentro da macro-fase de desenvolvimento. As fases de desenvolvimento conceitual e detalhado consideram as particularidades dos produtos e os seus correspon-dentes processos de manufatura.

3 Metodologia

O método hipotético dedutivo está sendo utilizado como abordagem metodo-lógica para o desenvolvimento da pesquisa, que compreende ainda o uso da metodologia de revisão bibliográfica sistemática e a elaboração de estudos de caso para a validação da integração proposta.

A hipótese defendida é que a obtenção das vantagens competitivas e ambien-tais do ecodesign pode ser obtida por meio da integração das questões am-bientais de forma sistemática do processo de negócio de desenvolvimento de produtos das empresas.

4 Integração do ecodesign ao modelo unificado

Uma vez que o modelo de referência para o desenvolvimento de produtos ecológicos de que trata esse trabalho encontra-se em desenvolvimento, serão aqui apresentados os passos empreendidos na sua construção e o exemplo da integração na fase de Projeto Conceitual do Modelo de Referência Unificado.

4.1 Levantamento dos métodos e ferramentas de ecodesign

A metodologia da Revisão Bibliográfica Sistemática foi utilizada para o levanta-mento dos métodos e ferramentas do ecodesign a serem integrados ao mode-lo de referência para o processo de desenvolvimento de produtos.

A revisão sistemática é uma metodologia de pesquisa específica, desenvolvida formalmente, para levantamento e avaliação de evidências pertencentes a um determinado foco de pesquisa. O processo de condução da pesquisa em uma revisão sistemática segue uma seqüência bem definida de passos metodoló-gicos, de acordo com um protocolo desenvolvido previamente (BRERETON et

al, 2007). Este instrumento é construído ao redor de uma questão central, que representa a razão da investigação, e é expressa por meio da utilização de con-ceitos e termos específicos.

Esse procedimento levantou 105 métodos e ferramentas de ecodesign, dentre os quais alguns bem conhecidos, como as 10 Regras de Ouro do Ecodesign e aqueles conhecidos como métodos simplificados de avaliação de ciclo de vida (Simplified LCA methods), tai como a Design for Environment Matrix (DfE Ma-trix) e a matriz MECO (Materials, Energy, Chemicals and Others).

4.2 Classificação e sistematização dos métodos e ferramentas de eco-design

No segundo passo, os métodos e ferramentas levantados foram cadastrados e classificados, de acordo com critérios estabelecidos. Os critérios de classi-ficação foram o objetivo principal do método ou ferramenta e a natureza dos dados demandados para seu uso (dados de entrada) bem como a natureza dos dados gerados pelo seu uso (dados de saída).

- Natureza dos dados de entrada e saída: os dados de entrada neces-sários para um determinado método/ferramenta e aqueles gerados por eles podem ser qualitativos, quantitativos ou ambos. - Qualitativos; - Quantitativos; - Qualitativos e quantitativos.

- Natureza do objetivo principal do método/ferramenta - Prescritivo (métodos/ferramentas que apresentam sugestões genéricas (oriundas de um conjunto pré-estabelecido de melhores práticas de redução de impactos ambientais) para a melhoria do desempenho ambiental de produtos considerando impactos ambientais recorrentes a produtos indus-triais); - Comparativos (métodos/ferramentas que visam comparar o desempenho ambiental de diferentes produtos, conceitos ou alternativas de projetos para um mesmo produto); - Analíticos (métodos/ferramentas que visam identificar po-

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22 Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

tenciais de melhorias no desempenho ambiental de produtos por meio da de-terminação de seus impactos ambientais).

4.3 Integração dos métodos e ferramentas de ecodesign ao modelo de referência

A integração propriamente dita se deu no terceiro passo e foi feita relacionan-do o objetivo e natureza dos dados dos métodos e ferramentas de ecodesign com os objetivos e natureza dos dados (entradas e saídas) das fases previstas no Modelo Unificado.

Nesse processo, especial atenção foi dada ao alinhamento dos resultados das fases do modelo unificado com os dados de saída dos métodos e ferramentas, de tal sorte a garantir que aqueles resultados refletissem de fato a busca pela redução dos impactos ambientais do produto em desenvolvimento.

No caso do modelo proposto, a integração do ecodesign implicou fundamen-talmente na alteração de atividades pré-existentes no Modelo Unificado, em-bora tenham sido propostas também novas atividades am alguns casos.

Como as maiores oportunidades para melhoria do desempenho ambiental de um produto estão na fase de geração de conceito (GRAEDEL; ALLENBY, 1995), especial atenção foi dada a essa fase, a qual será utilizada nesse artigo para ilustrar como foi feita a integração de ecodesign ao Modelo Unificado.

4.4 Exemplo de integração no Projeto Conceitual

Na fase do Projeto Conceitual, as atividades da equipe de projeto relacionam-se com a busca, criação, representação e seleção de soluções para o problema de projeto. A Figura 2 mostra as atividades previstas no Modelo Unificado para a fase do Projeto Conceitual.

2: Informações principais e dependências entre as atividades da fase de Projeto Concei-Figuratual (ROZENFELD et al, 2006)

A partir da análise das especificações-meta do produto advindas da fase de Projeto Informacional, elabora-se a descrição total ou global desse produto (modelo funcional global), que deve ser um resumo do que se deve esperar do produto funcionalmente. Em seguida, são realizados desdobramentos su-cessivos (decomposição) dos sistemas em subsistemas e em componentes por meio de um processo top down (do produto final para os componentes) defi-nido assim a modelagem funcional do produto. Isso feito, inicia-se o desenvolvimento de princípios de solução, onde inicial-mente o efeito físico (ou químico, ou biológico...) desejado é definido e em seguida define-se o portador desse efeito definindo assim o princípio de solu-ção (solução individual). As combinações dos princípios de soluções individuais formam os princípios de solução totais para o produto, sendo a matriz morfo-lógica uma importante ferramenta utilizada nessa atividade.

Os princípios de solução totais definem as diferentes partes que compõem o produto, ou seja, definem a sua arquitetura, onde as alternativas de soluções são desdobradas em Sistemas, Subsistemas e Componentes (SSC). A atividade seguinte (Analisar SSC) pode ser vista como sendo um refinamento da defi-nição da arquitetura do produto, onde são identificados e analisados fatores críticos do produto, observados em seu ciclo de vida, como questões de fun-

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23Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

cionamento, fabricação, montagem, desempenho, qualidade, custos, uso, des-carte e outros.

Na atividade seguinte, define-se a ergonomia e estética do produto e então o processo de seleção da concepção do produto se inicia, marcando a ultima atividade específica dessa fase. Assim, para garantir que o produto em desen-volvimento seja ecológico, aspectos ambientais devem ser levados em con-sideração tanto na escolha das alternativas de solução quanto na seleção da concepção do produto.

Dessa forma, as atividades “Desenvolver as alternativas de soluções”, “Anali-sar SSCs” e “Selecionar concepções alternativas” devem considerar o uso de métodos e ferramentas de ecodesign. A definição do método ou ferramen-ta de ecodesign a ser utilizado depende fundamentalmente da quantidade e qualidade das informações referentes ao produto em desenvolvimento. Por exemplo, para o caso do desenvolvimento de novos produtos, durante essa fase as informações sobre o produto são ainda escassas, não permitindo, por exemplo, o uso de ferramentas quantitativas (como a Avaliação do Ciclo de Vida ACV). No entanto, métodos qualitativos como as 10 Regras de Ouro do Ecodesign, por exemplo, podem ser utilizadas para guiar as atividades da equi-pe de desenvolvimento de alternativas de solução para o projeto do produto.

Quanto à escolha dos diferentes princípios de soluções, bem como das diferen-tes concepções para o produto, pode utilizar métodos de ecodesign conheci-dos como métodos simplificados de avaliação de ciclo de vida (simplified LCA methods), como a Design for Environment Matrix (DfE Matrix) e a matriz co-nhecida como MECO (Materials, Energy, Chemicals and Others), os quais po-deriam estabelecer um processo de trade off entre o que é funcionalmente necessário ao produto com o que é ambientalmente desejado.

5 Conclusões Modelos de referência têm sido utilizados para gerenciar o PDP aumentando a probabilidade de êxito comercial dos produtos. Para que os produtos ecoló-gicos se tornem uma opção de consumo, é preciso que o ecodesign faça parte das melhores práticas de desenvolvimento de produto constando do processo padrão das empresas.

Um modelo genérico para o desenvolvimento de produtos ecológicos pode servir de referência no estabelecimento de modelos específicos em empresas aumentando, dessa forma, a chance de produtos que causem menos impacto ambiental cheguem ao mercado e sejam de fato consumidos pela população.

A integração dos métodos e ferramentas de ecodesign ao processo de desen-volvimento de produtos pode se dar pela alteração de atividades e tarefas exis-tentes ou, ainda, pela criação de novas tarefas e atividades que considerem es-pecificamente as questões ambientais durante o processo de desenvolvimento de produtos.

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25Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

A Educação através do Design como estratégia para um futuro sustentávelEducation by Design as a strategy for a sustainable future

Dr. Antônio Martiniano FontouraUFPR, PUCPR, UTFPR, [email protected]

Educação através do Design, Educação para o Desenvolvimento Sustentável, Educação para a Sustentabilidade

A EdaDe é uma abreviatura da expressão Educação através do Design. Teve sua origem num trabalho de pesquisa cuja proposta era investigar o potencial pedagógico das atividades de design (FONTOURA, 2002). O estudo inicial-mente voltou-se para a educação de crianças e jovens, mas sua abrangência pode ser estendida à todos os níveis de ensino. O presente trabalho tem como objetivos identificar e expor algumas relações da EdaDe com o que se tem chamado de EDS Educação para o Desenvolvimento Sustentável ou EpS Educação para a Sustentabilidade e posicionar a EdaDe como um recurso para a promoção de um futuro mais sustentável.

Education by Design, Education for Sustainable Development , Education for Sustainability

EdaDe is an abbreviation of the Portuguese expression Educação através do Design [Education by Design]. Its ori-gins is in a research work that investigated the pedagogical potential of design activities (FONTOURA, 2002). The study aimed children’s and youngster’s education but it can be extended to all teaching levels. The main objectives of this paper are: to identify and show the relationships between EdaDe and what has been called ESD - Education for Sustainable Development or EfS Education for Sustainability and to position the EdaDe proposal as a resource to promote a more sustainable future.

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1 Introdução

Aspectos culturais, sociais e econômicos determinam o modus de projetar, pro-duzir, distribuir e consumir os bens e serviços no ambiente artificial construído pelo ser humano. É evidente e endógeno ao ciclo projetar, produzir, distribuir, consumir, como atividade humana, a geração de impactos ambientais con-sumo de energia + consumo de matéria prima = geração de resíduos sólidos, efluentes líquidos e gases em cada uma das suas principais etapas. Os mode-los econômicos adotados nas últimas décadas promoveram uma aceleração no giro do ciclo em prol do que se denominou “desenvolvimento”. A aceleração trouxe consigo um agravamento dos problemas ambientais e paradoxalmente, o desenvolvimento econômico e social de alguns promoveu uma degradação econômica e social de outros, além do agravamento dos problemas ambientais de todo o planeta.

O agravamento desses problemas e as evidências de que eles são decorrentes do modo de vida adotado pela humanidade fez emergir, em escala mundial, o discurso da sustentabilidade. Organizações governamentais e civis, nacionais e internacionais, passaram a valorizar em suas discussões temas ligados ao meio ambiente, ao desenvolvimento sustentável e ao desenvolvimento social. Os resultados desses debates influenciaram diversas áreas, entre elas, notada-mente, a educação.

Nessa perspectiva surge a proposta de EDS - Educação para o Desenvolvimento Sustentável ou EpS - Educação para a Sustentabilidade, que ganha cada vez mais espaço no panorama político educacional global. O tema está presente em publicações, acordos legais, compromissos e propostas resultantes de En-contros, Conferências e Congressos locais, regionais e mundiais. Observa-se que por algum motivo não muito bem explicado, mas muito discutido, a aten-ção que antes era dada á EA - Educação Ambiental voltou-se ao DS - Desenvol-vimento Sustentável ou Educação para a Sustentabilidade (SAUVÉ, 1997). Para alguns educadores a Educação Ambiental vem antes e o desenvolvimento sus-tentável e a sustentabilidade deveriam ser temas de estudo desta disciplina, entre outros como a Justiça Ambiental, a Carta da Terra, a Agenda 21.

O valor da educação foi reconhecido como meio de se promover o suposto desenvolvimento sustentável com o lançamento da DEDS 2005-2014 - Década

da Educação para o Desenvolvimento Sustentável promovida pela ONU - Orga-nização das Nações Unidas e liderada pela UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Porém, foram atribuídas diversas conotações aos termos desenvolvimento e sustentabilidade, o que torna difícil a compreensão das verdadeiras intenções e ideologias atreladas às propostas educacionais. A escola como instituição social encarregada pela formação in-telectual das novas gerações, deve ser crítica quanto aos seus próprios propó-sitos e finalidades diante das novas realidades sociais e econômicas.

2 Tentando esclarecer melhor os termos

Desenvolvimento

O termo desenvolvimento per se, já é carregado de um caráter ideológico, não é neutro (GADOTTI, 2002). O termo refere-se ao nível de industrialização, padrão de consumo e capacidade de acumulação de bens materiais de uma determinada sociedade que a partir destes, se diz desenvolvida, em vias de desenvolvimento ou é, por outras, considerada subdesenvolvida.

O padrão de desenvolvimento e bem estar social contemporâneo é baseado no consumo material e isto é um problema quando se constata que o cres-cimento populacional aumenta e os recursos físicos do planeta se tornaram cada vez mais limitados (MANZINI e JEGOU, 2003). Essa situação pressiona a humanidade a se reorganizar em direção a um futuro sustentável, buscando soluções para se adequar a uma realidade de recursos limitados.

O que muitas vezes se questiona é o modelo econômico adotado. O economis-ta Thomas R. Malthus (1766-1834) no final do século XVIII, já indicava a escas-sez de recursos como fator limitante do crescimento, perante a evidência de problemas como o desemprego, a pobreza e doenças, associados à revolução industrial.

Em 1972, seguindo indiretamente os passos de Malthus, o Clube de Roma pu-blica, por meio de uma equipe do MIT - Massachusetts Institute of Technology, um relatório denominado “Os Limites do Crescimento” [The Limits of Growth] (MEADOWS, 1972). O documento concluía que se fossem mantidas as tendên-

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cias atuais de crescimento da população, industrialização, poluição, produção de alimentos e utilização de recursos, atingir-se-iam os limites de crescimentos dentro dos cem anos seguintes. Sendo assim, quanto antes se investisse na mu-dança destas tendências, maiores seriam as probabilidades de criar condições de estabilidade ecológica e econômica, numa perspectiva de longo prazo.

O relatório promoveu muitas repercussões na época de sua publicação, mas poucas mudanças significativas no modelo econômico e industrial produtivo vigente. Talvez um dos maiores equívocos associados a sustentabilidade é pensar que seja possível manter o ritmo de crescimento (e desenvolvimento), como se não fosse haver um limite. O Clube de Roma deixou isto bem claro e evidente.

Por vezes se questiona o processo de globalização da economia. Assim, para o economista Enrique Leff:

“a degradação ambiental emerge do crescimento e da glo-balização da economia. Esta escassez generalizada se ma-nifesta não só na degradação das bases da sustentabilidade ecológica do processo econômico, mas como uma crise de civilização que questiona a racionalidade do sistema social, os valores, os modos de produção e os conhecimentos que o sustentam.” (LEFF, 2002, p. 56)

Numa visão crítica e alternativa, Max-Neef (in: REVISTA BRASIL SUSTENTÁVEL, 2007) distingue crescimento e desenvolvimento. Para ele uma economia pode parar de crescer e continuar se desenvolvendo. Em todas as sociedades, há um período em que o crescimento econômico leva a uma melhoria da qualidade de vida bem estar social, mas só até certo ponto. A partir daí, se houver mais crescimento, a qualidade de vida tende a se deteriorar. E é, segundo ele, o que se tem observado com as economias atuais. Tornaram-se insustentáveis, degradantes e desumanas. Faz-se necessário uma nova maneira de pensar as relações econômicas, sociais e ambientais.

Assim, propõe um novo tipo de economia, baseada em cinco alicerces:1- A economia está para servir as pessoas e não as pessoas estão para servir a economia;

2- O desenvolvimento se refere às pessoas e não aos objetos;3- Crescimento não é a mesma coisa que desenvolvimento, e o desenvolvi-mento não precisa necessariamente do crescimento;4- A economia não deve desvalorizar o ecossistema;5- A economia é um subsistema de um sistema maior e finito que é a biosfera, logo o crescimento permanente é impossível.

Sustentabilidade

O termo sustentabilidade refere-se à qualidade do que se pode manter em equilíbrio por longo período. Do ponto de vista ambiental, pode ser definida como:“[...] condições sistêmicas segundo as quais em nível regional e planetário, as atividades humanas não devem interferir nos ciclos naturais me que se baseia tudo o que a resiliência do planeta permite e, ao mesmo tempo, não devem empobrecer seu capital natural, que será transmitido às gerações futuras.” (MANZINI e VEZZOLI, 2002, p.27)

Para Fritjof Capra:

“o que é sustentado numa comunidade sustentável não é o crescimento econômico, o desenvolvimento, a quota de mercado ou a vantagem competitiva, mas a totalidade da rede da vida da qual a nossa sobrevivência a longo prazo depende. Em outras palavras, uma comunidade sustentável é concebida de uma forma onde o comércio, a economia, as estruturas físicas e as tecnologias não interferem com a capacidade inata da natureza para sustentar as formas de vida.” (CAPRA, 1999, p.1)

O termo sustentabilidade parece ter sido concebido para alertar o ser humano, independente de suas crenças, do perigo que ele mesmo representa para o planeta. Em função do comprometimento da biodiversidade, quase todas as atenções da sustentabilidade têm se voltado para o meio ambiente porém, ela possui infindáveis vertentes e estas a transformaram num tema complexo. Torna-se quase impossível limitá-la á um único conceito pois este serviria mui-to mais para acomodar interesses do que para compreendê-la.

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Desenvolvimento sustentável

A associação dos termos desenvolvimento e sustentabilidade deu origem à ex-pressão desenvolvimento sustentável. A expressão aparece oficialmente num documento de 1980, denominado “World Conservation Strategy”, publicado pela IUCN - International Union for Conservation of Nature em parceria com o UNEP - United Nations Environment Programme [Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente] e com o WWF - Worldwide Fund for Nature. Mas foi em 1987, com a publicação do relatório da WCED - World Commission on Environment and Development [Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento], denominado “Our Common Future” [Nosso Futuro Co-mum] ou “Relatório Brutland”, como também ficou conhecido, que a expres-são desenvolvimento sustentável popularizou-se. Para a Comissão o desenvolvimento sustentável é aquele que: “satisfaz as ne-cessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.” […that meets the needs of the present without compromising the ability of future generations to meet their own ne-eds] (WCED,1887, p.43). O relatório apresenta uma visão complexa das causas dos problemas sócio-econômicos e ecológicos da sociedade e as inter-relações entre a economia, tecnologia, sociedade e política.

São várias as acepções dadas ao conceito de desenvolvimento sustentável e, freqüentemente, inspiradas mais por interesses econômicos do que por ques-tões sociais ou ecológicas. Uma possível definição foi dada por Lester Brown, do Worldwatch Institute: “Uma sociedade sustentável é a que satisfaz as ne-cessidades sem diminuir as perspectivas das gerações futuras” (BROWN, 1981, apud CAPRA, 1996, p. 24).

Mas as críticas continuam. Por vezes o discurso do desenvolvimento sustentá-vel e da sustentabilidade é entendido como uma operação político-normativa e diplomática, empenhada em sanar um conjunto de contradições expostas e não respondidas pelos modelos de desenvolvimento adotados até então. Dian-te dos efeitos da degradação ambiental e da necessidade de dar continuidade ao sistema produtor de mercadorias, fazia-se necessário achar um mecanismo para gerenciar a reprodução econômica do capital, além de tentar responder

de alguma maneira os questionamentos sobre os limites do crescimento inicia-dos na década de 70. (LIMA, 2003).

Percebe-se que o tema é complexo. Pode-se dizer o mesmo em relação à edu-cação voltada ao desenvolvimento sustentável, pois as relações entre ela e a sustentabilidade reúne diferentes pontos de vista.

3 Na educação

Freqüentemente afirma-se que os sistemas educacionais atuais não conse-guem dar conta dos desafios apresentados pelas rápidas transformações so-ciais, econômicas e ambientais (ecológicas) que se apresentam e assim, a di-reção para a qual a educação deve seguir ainda é tema de grande divergência entre os pesquisadores.

As denominações Educação para o Desenvolvimento Sustentável ou Educação para a Sustentabilidade, geram algumas discussões conceituais. As críticas de-correm do fato já mencionado mais acima, de que os conceitos de desenvolvi-mento e de sustentabilidade não serem imparciais e estarem sujeitos a várias interpretações (LIMA, 2003; GADOTTI, 2002).

Para Bob Jickling (1994) a educação enquanto prática de liberdade, não pode ser dirigida para um fim específico e assim, questiona a educação “para” a sustentabilidade a partir da sua instrumentalidade. Para ele a educação pres-supõe autonomia e pensamento crítico. Ela não deve orientar os estudantes a uma finalidade pré-determinada. A educação com finalidade pré-determinada sugere mais um treinamento para a aquisição de habilidades do que um apren-dizado comprometido com o entendimento e a compreensão. Uma educação “para” sugere uma forma de pensar à qual se deve apenas obedecer. Jickling publicou suas idéias a mais de uma década, mas o debate sobre o que significa desenvolvimento sustentável e como atingi-lo ainda persiste, permeado por valores, interesses e forças antagônicas (LIMA, 2003).Lucie Sauvé (1997) também tem contribuído para o debate. Analisou como podem ser estabelecidas as relações e interações entre a EA Educação Am-biental e o desenvolvimento sustentável. Sauvé demonstra que as diferentes concepções de desenvolvimento sustentável correspondem a diferentes pers-

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pectivas educacionais. Para ela, fica evidente que as abordagens educativas trazem implícitas determinadas concepções de desenvolvimento sustentável e que a maneira como se entende o desenvolvimento sustentável também inter-fere na adoção de abordagens educativas específicas. Portanto ter claro o que se entende por desenvolvimento sustentável e sustentabilidade parece ser de extrema importância.

Para Gustavo Lima (2003), sob um ponto de vista bastante crítico, os problemas atuais da educação decorrem da inadequação entre o paradigma dominante (cartesiano-mecanicista) na sociedade e ciências ocidentais e que tais proble-mas demandam uma nova abordagem mais holística e integradora.

Pode afirmar, de maneira bastante objetiva que uma educação voltada à sus-tentabilidade demanda o fomento do espírito colaborativo, o desenvolvimento da capacidade crítica, da autonomia e da criatividade. Deve promover o en-tendimento e a discussão sobre as crises, o julgamento de valores e o posicio-namento ético. Os modelos tradicionais, baseados na transmissão de conhe-cimentos, na competição e no individualismo, não atendem estes requisitos. São necessárias concepções educacionais criativas e dinâmicas, centradas na conscientização, na mudança de comportamento, na capacidade de avaliação, no desenvolvimento de competências e na participação de todos.

4 E a EdaDe?

A EdaDe como proposta pedagógica tem seus fundamentos no ensino ativo, no construtivismo e na interdisciplinaridade. A EdaDe entende o design como uma forma de pensar ou de conduzir o pensamento e como tal e pode ser en-sinado, aprendido e praticado no dia-a-dia por qualquer pessoa. Para Ken Baynes (1996) os seres humanos usam certas habilidades mentais, físicas e sociais no design:

1- Habilidade de imaginar um mundo diferente;2- Habilidade de externar as idéias e partilhar com os demais; e3- Habilidade de usar ferramentas e recursos para transformar as idéias em realidades.De certa maneira, todas as pessoas fazem uso das suas habilidades de fazer e

usar o design no dia-a-dia.

A EdaDe faz uso de atividades de design como meio para a promoção das aprendizagens e estas visam interar o pensamento com a ação, o corpo com a mente, o cérebro com as mãos, o fazer com o pensar, a teoria com a prática e o abstrato com o concreto.

As atividades de design na escola, implicam no desenvolvimento da capaci-dade ativa de buscar e acessar informações, de fazer e construir coisas; da capacidade reflexiva de pensar sobre o que será ou sobre o que foi feito ou construído; e da capacidade criativa de imaginar, conceber, adaptar e inventar coisas e maneiras novas de realizá-las. Estudar sobre o design e suas manifes-tações é criar a oportunidade às crianças e jovens, de manterem contato com a cultura material, com o universo simbólico e com a realidade objetiva de sua sociedade.

A EdaDe emprega basicamente três tipos de atividades de design (FONTOURA, 2002), são elas:

1- AIAs - Atividades de investigação e Análise como o próprio nome diz, os aprendizes desenvolvem estudos e investigações sobre temas relacionados ao design, materiais, tecnologias, processos de fabricação, etc.2- TPDs - Tarefas Práticas de Design por meio delas, os aprendizes realizam pequenas construções, exploram sistemas construtivos, aprendem a utilizar ferramentas e equipamentos, etc.3- ADCs - Atividades de Design e Construção nestas os aprendizes realizam pequenos projetos de design, aplicando princípios metodológicos e criativos para a solução de problemas.

A Edade abre espaço para a reflexão sobre as questões ambientais e sobre a sustentabilidade ao colocar em prática as atividades de design. Dentre os três tipos básicos de atividades apresentados, as que mais permitem a reflexão so-bre as questões ambientais, desenvolvimento sustentável e sustentabilidade, são as AIAs. Nelas podem ser desenvolvidos pequenos trabalhos sobre:

- a maneira de projetar, produzir, distribuir e consumir os bens e serviços (ques-tões sociais, econômicas e ambientais);

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- o ciclo de vida de um produto (do berço ao berço); - os processos de fabricação de produtos e seus impactos ambientais (produ-ção de resíduos);- o uso de matérias primas e seus impactos ambientais (degradação e renova-ção);- o uso de materiais recicláveis e reciclados na produção de novos produtos;- o consumo energético na produção dos produtos;- o consumo energético no uso dos produtos;- as necessidades e desejos dos consumidores (persuasão nos meios de comu-nicação, indução e incentivos ao consumo, o consumo conspícuo);- o consumo e descarte de produtos (estratégias de desperdício e obsolescên-cia programada); - as conseqüências do hiper-consumismo (limites da produção e do consu-mo);- o consumo sustentável, etc.

Deve-se salientar que a adequação de linguagem e vocabulário, a abrangência e o aprofundamento nos estudos, investigações e análises sobre os temas de-penderão naturalmente da faixa etária com que se trabalha porém, as ativida-des devem sempre visar a promoção do pensamento crítico no aprendiz.

Durante a execução das TPDs também é possível promover algumas reflexões interessantes, entre elas:

- como realizar construções que permitam a separação de materiais para uma futura reciclagem ou reutilização dos mesmos;- como unir dois ou mais materiais com o menor uso de energia (uso de encai-xes, uniões, articulações, etc.);- como obter estruturas mais rígidas, leves e estáveis com o menor uso de ma-teriais (empilhamento, justaposição, treliças, geodésicas, etc); - como reusar, reciclar e reutilizar materiais e produtos (uso de lixo que não é lixo, sobras de confecções, etc.);- como desenvolver sistemas mais eficientes; etc.

Deve-se lembrar que as TPDs referem-se a atividades nas quais as crianças e jovens “colocam as mãos na massa”, em outras palavras, experimentam coisas, constroem e montam pequenos sistemas ou produtos, tentam dar forma aos

pensamentos. E é durante estas construções e experimentos que as reflexões são promovidas.

As ADCs exigem uma visão mais holística do processo de design, são mais abrangentes e envolvem AIAs, TPDs e a solução criativa de problemas nas suas aplicações. Assim, costumam ser muito ricas em termos de experiências e re-flexões. As AIAs são utilizadas nas fases de problematização, análise e definição do problema a ser resolvido e as TPDs nas fases de solução do problema pro-priamente dito geração de alternativas, desenvolvimento e comunicação da solução. As ADCs promovem as habilidades de imaginar, de externar as idéias e partilhar com os demais; e de usar ferramentas e recursos para transformar as idéias em realidades.

Assim, numa ADC voltada à Educação para a Sustentabilidade, o aprendiz pode identificar uma necessidade contextualizada contexto social, econômico e am-biental , definir o problema de design a ser resolvido, estabelecer critérios e re-quisitos que levem em consideração questões relacionadas à sustentabilidade, desenvolver alternativas de solução “sustentáveis”, escolher uma alternativa com base nos parâmetros definidos, desenvolvê-la, construí-la e finalmente comunicá-la.

5 Enfim...

Em termos estratégicos, as atividades de design, quando bem empregadas e conduzidas na educação das crianças e jovens, permitem, como já tem sido demonstrado em outros contextos educacionais vide caso do D&T - Design and Technology curricular britânico (DfEE/QCA. 1999) a construção de no-vos conhecimentos e compreensões, proporcionam o ensino e o aprendizado ativos, desenvolvem habilidades mentais e físicas, promovem o julgamento de valores e a exploração do pensamento criativo. Através delas, o educando usa, desenvolve e fomenta uma série de habilidades essenciais; e integra conheci-mentos de diversas áreas do currículo escolar.

A prática da EdaDe, enriquece as experiências dos estudantes e os prepara para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo, entender as influências passadas, presentes e futuras das freqüentes mudanças no universo da arte, da tecnologia e da ciência e interferir de forma ativa, responsável e consciente

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neste contexto de mudanças.

Pode ainda contribuir de forma ativa com a educação ambiental, quando pro-move os devidos debates e reflexões criticas sobre as conseqüências ambien-tais decorrentes da construção do mundo artificial. Como bem lembra Jickling (1994, p.7): “em um mundo de mudanças rápidas, devemos habilitar os es-tudantes a debater, avaliar e julgar por eles mesmos os relativos méritos de contestar posições”. AgradecimentoGostaria de agradecer minha orientanda no Programa de Pós-Graduação em Design da UFPR, Liziane Regina Gomes, pela colaboração e pelo acesso às fon-tes de informações da sua pesquisa sobre a EdaDe e o consumo sustentável.

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33Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

Design de embalagens em papelão ondulado movimentadas entre empresas com base em sistemas produto-serviço Design of B2B corrugated cardboard packages based on product-service systems

Cláudio Pereira de SampaioUniversidade PositivoUniversidade Federal do Paraná, [email protected]

Embalagens, papelão ondulado, design sustentável, sistemas produto serviço

Este artigo tem por objetivo apresentar os resultados finais de dissertação de mestrado desenvolvida no período 2007-2008, no Programa de Pós Graduação em Design da Universidade Federal do Paraná. Este trabalho considera o Design como elemento que possa favorecer a sustentabilidade ambiental de embalagens em papelão ondulado movimentadas entre empresas (B2B), e propõe o uso de diretrizes de projeto baseadas em sistemas produto-serviço (PSS). Além da revisão bibliográfica sobre o tema, utilizou-se como estratégia de pesquisa o estudo de caso em uma indústria automotiva da região metropolitana de Curitiba/PR. Este estudo foi complementado com uma metodologia específica para o design de sistemas produto-serviço PSS, chamada MEPSS. O estudo de caso envol-veu a realização de pesquisa de campo junto à indústria estudada, e abrangeu as fases de diagnóstico da situação existente, análise do diagnóstico, intervenção, análise da intervenção e validação. A abordagem de Design baseada no ciclo de vida da embalagem (life cycle design) foi utilizada ao longo do estudo de caso, e complementada pelo uso de ferramentas de avaliação qualitativa e quantitativa, como o SDO-MEPSS e a Análise do Ciclo de vida. O artigo é finalizado com a proposição de diretrizes de Design baseadas em PSS para embalagens B2B em papelão ondulado.

Packages, corrugated cardboard, sustainable design, product service systems

This article aims to present the final results of the master dissertation developed during the 2007-2008 period, in the Federal University of Paraná - UFPR Design Post-Graduation Program. This work consider design as element that favours environmental sustainability of B2B corrugated cardboard packages, and proposes the use of design guidelines based on product service systems (PSS). Moreover literature review, it was used, as research strategy, a case study in an automotive company of metropolitan region of Curitiba/PR. This study was complemented with a specific methodology for product service systems, called MEPSS. The case study included a field research in the company, and covered the phases of diagnosis of the current situation, intervention, intervention analysis and va-lidation. The design approach based on the packaging life cycle (life cycle design) was used in the study, and it was complemented by using qualitative and quantitative analysis tools, as SDO-MEPSS and Life Cycle Analysis LCA. The article is concluded by proposing design guidelines based on PSS for B2B corrugated cardboard packages.

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1 Introdução

A presente dissertação foi desenvolvida dentro de um projeto de pesquisa in-titulado “Desenvolvimento de Embalagens e Produtos para Exportação Utili-zando a Tecnologia CFG para o Papelão Ondulado”, desenvolvido no Núcleo de Design e Sustentabilidade da Universidade Federal do Paraná UFPR. Este projeto teve duração de dois anos (agosto de 2005 a agosto de 2007), e foi financiado pelo CNPq Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento e FINEP Agência Financiadora de Estudos e Pesquisas. Foram concedidas três bolsas de pesquisa, sendo duas para Iniciação Científica (IC) e uma para Desen-volvimento Tecnológico Industrial (DTI).

Além disso, o projeto foi apoiado com acesso a materiais de consumo e a in-formações de produção e mercado pelas duas empresas que são objeto desta dissertação, sendo uma montadora de veículos (Volkswagen do Brasil) e uma indústria de embalagens em papelão ondulado (Embrart). O projeto de pesqui-sa supra descrito abrangeu três estudos de caso, e esta dissertação refere-se especificamente ao primeiro, destinado ao desenvolvimento de embalagens retornáveis para o transporte de componentes automotivos.

A partir da tentativa de se responder à questão “Como tornar mais sustentável o uso da embalagem em papelão ondulado movimentada entre empresas?”, o autor partiu da hipótese de que “a estratégia de utilização de sistemas pro-duto-serviço (PSS) pode minimizar o impacto ambiental do uso de embalagens movimentadas entre empresas”. Desta forma, a dissertação teve como propos-ta principal a elaboração de “diretrizes para o Design de sistemas produto-ser-viço (PSS) voltadas a embalagens em papelão ondulado movimentadas entre empresas de modo a reduzir o impacto ambiental das mesmas”.

2 Contexto da pesquisa

Sustentabilidade

Embora o objetivo principal deste trabalho seja a redução de impactos am-bientais, buscou-se, num primeiro momento, contextualizar a pesquisa tam-bém em relação aos aspectos econômicos e sociais, para, em seguida, se fazer

o recorte necessário ao estudo.

No que diz respeito aos aspectos ambientais, os mais significativos referem-se à:

- Representatividade alta das embalagens no volume global de resíduos, cerca de 65% (Brody; Marsh,1997);- Crescimento no consumo de matéria-prima para embalagens;- Reciclagem como estratégia importante, mas insuficiente para enfrentar os problemas ambientais causados pelo aumento do consumo;- Problemas ambientais decorrentes da reciclagem (alto consumo de água e energia) e da incineração (liberação de CO² e outros gases);- Alta produção de rejeitos (o que não se aproveita na triagem do papelão on-dulado e que acaba sendo destinado à incineração ou aterros sanitários), em média, de 42% (Grimberg; Blauth, 1998);- Exigências legais cada vez mais rígidas quanto à destinação de resíduos, como por exemplo, o Projeto de Lei dos Resíduos (PL 203/91), de 2002, e as Leis de Resíduos estaduais;- Aumento na exigência por certificações ambientais, especialmente pelas em-presas já certificadas quanto aos seus fornecedores;- Necessidade de alinhamento com o Plano Plurianual (PPA) 2004-2007 do Governo Federal, Mega Objetivo II, que busca o “Crescimento com geração de trabalho, emprego e renda (...) ambientalmente sustentável e redutor das desigualdades sociais”, especialmente no item 21, que se propõe a “melhorar a gestão e a qualidade ambiental e promover a conservação e uso sustentável dos recursos naturais, com ênfase na promoção da educação ambiental” (Pla-noBrasil, 2004);- Necessidade de alinhamento com a Agenda21 brasileira, especialmente com as diretrizes do capítulo 21 (manejo ambientalmente saudável dos resíduos só-lidos) e capítulos 29 e 30 (fortalecimento do papel do comércio e da indústria (Agenda21 Nacional, 2007). Neste último, este trabalho está ligado diretamen-te à promoção de uma produção mais limpa e da responsabilidade empresa-rial;- Busca de alinhamento com os Objetivos do Milênio e com a iniciativa da UNESCO/ONU em promover, no período entre 2005 e 2014, a Década da Edu-cação para o Desenvolvimento Sustentável, que consiste de amplos esforços voltados à educação para a sustentabilidade envolvendo os vários segmentos

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da sociedade, inclusive as empresas.

Quanto aos aspectos econômicos, pode-se destacar os seguintes:

- O mercado de embalagens de papelão ondulado responde por cerca de 38% do mercado mundial de embalagem, com previsão de crescimento de 4,2% ao ano (Embalagemmarca, 2005);- Apesar da participação inferior à de asiáticos, norte-americanos e europeus, é significativo o crescimento do mercado latino-americano, de quase 10% en-tre os anos de 2003 e 2004, o mais alto entre todos os mercados produtores;- O Brasil produz cerca de 3,9 milhões dos pouco mais de oito milhões de m2 de papelão ondulado produzidos pela América Central e do Sul, quase metade da produção da América Latina;- A indústria alimentícia é a grande consumidora do papelão ondulado, absor-vendo mais de um terço de toda a produção (ABPO, 2005). Uma distribuição mista ocupa o segundo lugar, e a produção de chapas fica na terceira posição;- Conforme diferentes autores, a embalagem pode representar no preço final do produto de 9 (Lazlò, 1990) até 50% (Rauch Associates, 2002; Harckham, 1989; Briston and Neill, 1972);- Os três componentes principais do custo da embalagem são a mão-de-obra, o equipamento e o material (Lee e Lye (2003). Apenas cerca de 10% do custo da embalagem deve-se ao material de que ela é feita, sendo o restante relaciona-do ao processo produtivo e logistico (Stern, 1981);- O setor logístico é, na maior parte das empresas, o que mais consome recur-sos financeiros (Morabito; Morales; Widmer, 2000).

Finalmente, os aspectos sociais foram considerados no presente estudo:

- No âmbito das empresas brasileiras, é crescente o número de ações ligadas à responsabilidade social. No entanto, a eqüidade e justiça entre os stakeholders ainda representam um desafio, pois a maior parte das relações empresariais é fortemente baseada em relações custo-benefício de curto prazo;- Muitas empresas brasileiras já implantaram sistemas de gestão ambiental (SGA’s), e obtiveram a certificação ISO14001 (EPELBAUM, 2004), mas ainda é pequeno o número de organizações buscando a certificação social. Já existem iniciativas neste sentido, como a Social Accountability 8000 (SA8000), volta-da à certificação, e a norma ABNT NBR 16001, sobre requisitos para sistemas

de gestão em responsabilidade social (ABNT, 2004). Há também o uso de in-dicadores sócio-ambientais do Instituto Ethos (Ethos, 2006), que permite às empresas fazer uma auto-análise do desempenho sócio-ambiental que pode ser transformado em um relatório para posterior comparação (benchmarking) com a concorrência;- Com relação ao bem estar e à geração de trabalho e renda, é relevante o fato de que, no Brasil, muitas das pessoas de baixa renda trabalham na atividade de coletar, separar, vender e reciclar resíduos. O papelão ondulado é um dos materiais mais presentes devido ao grande uso em embalagens. A atividade de “catar papel” emprega ao redor de 25.000 pessoas nas unidades de separação de lixo. Há também os chamados catadores de rua e carroceiros, cuja ativida-de informal envolve cerca de 200 mil pessoas no Brasil (ANAP, 2005). Nesse contexto, uma estratégia que implique na redução da geração de resíduos de papelão ondulado nas empresas deve também levar em conta o impacto so-cial nesta atividade, uma vez que os maiores afetados seriam das classes mais pobres.

Sistemas Produto-serviço

Sistemas Produto-Serviço (Product Service Systems, ou PSS) têm como premis-sa básica a desmaterialização do consumo, buscando a substituição do bene-fício pela posse de produtos para o benefício pelo acesso aos benefícios finais esperados.

Segundo UNEP (2002), PSS podem ser definidos como “o resultado de uma inovação estratégica, com mudança no foco dos negócios do planejamento e venda de produtos físicos tão somente, para a comercialização de sistemas de produtos e serviços que, em conjunto, que são capazes de atender a demandas específicas dos clientes”. Brezet et al (2001) ressalta ainda a dimensão ambien-tal dos PSS, afirmando que “serviços eco-eficientes são sistemas de produtos e serviços que são desenvolvidos para causar um mínimo impacto ambiental com o máximo de valor agregado”.

Com base nestas definições, percebe-se o potencial destes sistemas para a sus-tentabilidade tanto econômica quanto ambiental, o que justifica a defesa do uso da estratégia de PSS nesta dissertação.

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3 Método de pesquisa

O método de pesquisa adotado foi o estudo de caso, realizado em uma in-dústria montadora de automóveis da região metropolitana de Curitiba/PR. A fundamentação teórica para este trabalho foi feita a partir de revisão de lite-ratura relacionada à sustentabilidade, com um recorte teórico para o Design sustentável, embalagens B2B e o papelão ondulado neste contexto.

A pesquisa de campo foi realizada em cinco etapas: diagnóstico, avaliação da situação inicial, intervenção, análise da nova proposta e validação da proposta de intervenção. Devido ao fato desta dissertação relacionar-se à abordagem de sistemas produto-serviço (PSS), a pesquisa foi feita utilizando algumas eta-pas e ferramentas de um método específico para o desenvolvimento de PSS, o MEPSS (Halen, Vezzoli, Wimmer, 2005).

O protocolo de coleta de dados é relativo à etapa de diagnóstico, e envolveu o uso de ferramentas verbais e visuais, para a obtenção de dados tanto quantita-tivos quanto qualitativos (Laurel, 2003), pois, nas fases seguintes de avaliação (tanto da proposta inicial quanto da intervenção) buscou-se avaliar de forma quantitativa e qualitativa os dados obtidos. O diagnóstico incluiu entrevistas semi-estruturadas, observação direta, registro fotográfico, e a coleta de dados quantitativos da embalagem no sistema logístico-produtivo da empresa, como quantidade, composição e peso das matérias-primas e insumos, tempo e dis-tância de transporte e operações internas. Foram coletadas também amostras de componentes utilizados da empresa.

A análise dos dados foi feita de forma quantitativa e qualitativa tanto para a situação inicialmente encontrada quanto para a proposta de intervenção, e envolveu o uso das ferramentas ACV Análise do Ciclo de vida (análise quanti-tativa), com o uso do Software Simapro7 na versão educacional, e SDO-MEPSS (análise qualitativa). A visualização tanto do sistema atual quanto do proposto foi feita com o uso da ferramenta System Map, do MEPSS. Para a análise, foi realizado também um workshop com especialistas da indústria estudada e de um fornecedor de embalagens.

Para a intervenção, foram utilizadas ferramentas de criação também presen-tes no MEPSS, como as diretrizes de Design sustentável (MANZINI e VEZZOLI,

2002) e os storyboards para proposição de cenários futuros, além do brainstor-ming clássico com uso de analogias.

A validação do estudo foi feita a partir da comparação com os resultados ob-tidos em um meta estudo de caso formado por três estudos de caso, em três outras empresas que utilizam embalagens retornáveis em seus respectivos processos logísticos.

4 Resultados

A indústria Volkswagen foi escolhida para a pesquisa, por atender aos critérios pré-definidos de porte (emprega mais de dois mil funcionários e produz cerca de 18.000 automóveis/mês), localização geográfica (cerca de 30 quilômetros do NDS/UFPR) e por ter um Sistema de Gestão Ambiental implantado e certi-ficado (ISO14000). Além disso, a empresa gerava mensalmente grande quanti-dade de resíduos sólidos, que eram coletados por empresas próximas.

Com base no volume de resíduo de embalagens produzido, foi escolhido o pro-cesso de pintura porque, segundo dados fornecidos pela Volkswagen, são ge-rados quase 600 Kg de papelão ondulado oriundo de caixas de papelão ondu-lado descartáveis, que são usadas no transporte de componentes (que serão chamadas de “chapelonas” no decorrer desta dissertação). Além destas caixas, a Volkswagen utiliza cerca de 50 kg por mês de filme plástico para manter as caixas fixas no palete, após o descarregamento na empresa.

Problemas encontrados

Os problemas mais significativos encontrados na pesquisa de campo foram divididos em duas categorias: problemas sistêmicos e problemas no produto (embalagem). Com relação ao sistemas, foram encontrados problemas como: - Remuneração dos fornecedores em função do volume de componen-tes entregue, e não da função desejada (proteção do veículo para pintura); - Estimativa de retorno de investimento (payback) da empresa de ape-nas três meses; - Excesso de etapas (transporte, estoque-espera e inspeção-controle) que não agregam valor ao produto final. Isto tem implicações também ambien-tais, principalmente no caso do transporte, com maior consumo de combustí-

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vel e emissão de poluentes; - Distância (cerca de 500km) entre os produtores dos componentes e a Volkswagen;Foram detectados diversos problemas ligados à embalagem, como: - Baixa qualidade, sem padrão dimensional, adquiridas apenas com base no custo financeiro da compra; - Variedade de tamanhos, modelos e quantidades dos componentes plásticos a serem transportados; - Falta eventual de componentes na produção; - Uso, no processo, de caixas que eram destinadas a outra função.

O uso da ferramenta ACV foi particularmente importante, pois permitiu verifi-car que os impactos ambientais mais significativos estavam ligados à etapa de transporte, devido às distâncias percorridas e ao uso de combustível fossil, que provocam impactos como a emissão de gases tóxicos e o aquecimento global.

Soluções propostas

Assim como a detecção e análise dos problemas, também a proposição de so-luções foi dividida em soluções sistêmicas e soluções para a embalagem em si. Com relação ao sistema, foram propostos novos cenários logistico-produtivos considerando duas possibilidades: soluções aplicáveis de forma imediata e so-luções considerando um horizonte temporal de dez anos, considerando ainda a possibilidade do componente plastic transportado existir ou não. Ao todo, foram gerados seis diferentes cenários, com o uso de ferramentas como o sys-tem map e os storyboards.

Com relação às embalagens, foram propostos dois conceitos: embalagem re-tornável individual, para cada componente em separado, e embalagem retor-nável tipo kit, que conteria todos os modelos e quantidades de componentes necessários para a montagem de um veículo completo. Tanto as soluções de cenários quanto de embalagem foram apresentadas à equipe da empresa em um workshop, e a alternativa de embalagem tipo kit foi considerada a mais promissora em termos operacionais.

Resultados do meta-estudo de caso

Com o propósito de aumentar a validade externa do estudo, os estudos com-plementares foram realizados de forma semelhante ao estudo de caso prin-cipal. O meta-estudo de caso consistiu na pesquisa e avaliação qualitativa de outros três estudos de caso em empresas situadas em território brasileiro: Fiat, Embrart/Correios, e em uma indústria de cabeçotes.

Iniciou-se com um diagnóstico da situação, e em seguida, a análise das inte-rações entre os atores e dos problemas ambientais e econômicos. No entanto, a questão ambiental foi analisada apenas de forma qualitativa, pois não foi possível a realização de uma Análise do Ciclo de vida de cada um dos sistemas, por limitações técnicas e cronológicas.

A análise qualitativa foi feita com o uso do checklist do SDO-MEPSS, e os re-sultados comparados com o estudo de caso principal. Assim como no estudo de caso principal, os problemas encontrados foram analisados com foco no sistema e na embalagem, e posteriormente comparados. No caso da Fiat, segundo Maia (2001), o sistema era composto de embalagens retornáveis para o transporte de componentes automotivos, as quais eram mo-vimentadas por distâncias de mais de dois mil quilômetros, entre Minas Gerais e a cidade de Córdoba, na Argentina. O sistema envolvia diversos fornecedores, pois eram utilizados, além de madeira e aço, vários materiais complementares, como pregos, fitas, parafusos, lonas plásticas e espumas. Foram relatados nes-te estudo reduções no descarte de embalagens (600 em oito meses), e ganhos econômicos entre 11 e 32%, dependendo da embalagem avaliada.

No estudo feito junto à indústria de embalagens Embrart, verificou-se a subs-tituição do uso de racks metálicos, usados na logística interna da empresa Correios, por embalagens compactáveis mistas de papelão ondulado e poli-propileno. As embalagens deveriam suportar até três toneladas, e ter como características principais a redução de peso, volume e facilidade de compac-tação.

Entre os principais aspectos a serem destacados neste sistema estão: a viabili-dade no uso de materiais alternativos (papelão em vez de aço), e o papel ativo da fornecedora de embalagens como fornecedora também de serviços de ma-nutenção, reparo, substituição e destinação final da embalagem. No entanto,

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verificou-se que, também neste caso, as embalagens eram transportadas por grandes distâncias, por vezes similares às do estudo feito na Fiat.

Finalmente, no estudo feito por Maier e Sellitos (2007), é relatado o sistema de embalagens retornáveis utilizado por uma indústria fabricante de cabeçotes automotivos localizada em Canoas, no Rio Grande do Sul. Esta empresa produz e exporta cabeçotes para uma fabricante de automóveis situada em Melrose Park, nos Estados Unidos. O sistema utilizado consistia no embalamento dos cabeçotes em paletes retornáveis feitos de plástico termoformado pelo pro-cesso twinsheet (duas chapas prensadas a quente, criando vazios internos), em conjuntos de doze peças.

Um dos aspectos principais relatados sobre o sistema é a minimização no descarte final de embalagens, pois as anteriores eram descartáveis, de pape-lão ondulado. Esse descarte apresenta dificuldades econômicas e ambientais quando é feito nos países de destino, neste caso os Estados Unidos. No entan-to, verificou-se que, embora as embalagens retornáveis evitassem o descarte precoce, as mesmas eram transportadas por distâncias que ultrapassavam os dez mil quilômetros, e que retornavam vazias, embora fossem compactáveis.

Resumo das questões ambientais no meta-estudo de caso

Em todos os estudos de caso verificou-se que o critério de decisão era essen-cialmente econômico, e as preocupações ambientais ainda eram no sentido de atender às legislações ambientais, e restritas às embalagens (tipo de material, forma de descarte), e não aos sistemas. Caso houvesse foco sistêmico, deveria haver uma preocupação maior com o transporte, etapa de maior impacto ambiental, pois todas as empresas estuda-das localizavam-se distantes ou muito distantes dos clientes finais e utilizavam o modal rodoviário com caminhões a diesel. Isso era agravado pelo fato das embalagens retornarem vazias, algo comum nos estudos realizados. O impacto do transporte torna-se ainda mais relevante porque, devido ao modal rodoviá-rio, pode-se deduzir que todas as empresas estudadas apresentavam emissão de gases tóxicos durante a etapa de distribuição, e uma utilizava também mo-dal naval.

Os resultados indicaram também que a gestão do ciclo de vida das embalagens era feita pela de forma parcial empresa em todos os estudos de caso, e que a manutenção e reparo das embalagens é algo comum na maioria das empresas. No entanto, este aspecto poderia ser aprimorado com o uso de um PSS no qual houvesse uma empresa responsável e especializada para tal. Da mesma forma, esta empresa faria a destinação adequada dos resíduos, que já era terceirizada pelas empresas estudadas.

De forma geral, observou-se que as empresas apresentavam atenção quanto aos aspectos ambientais das embalagens utilizadas, pois apenas uma empre-sa (FIAT) utilizava grande quantidade de materiais consumíveis (pregos, fitas, parafusos, lonas plásticas e espumas) nas embalagens retornáveis. Da mesma forma, apenas esta empresa utilizava materiais tóxicos ou potencialmente tóxi-cos na produção das embalagens, devido ao tratamento da madeira por fumi-gação (feito com brometo de metila) ou no fim de vida (incineração).

Proposição de diretrizes para PSS em embalagens retornáveis

A partir dos resultados obtidos no estudo de caso principal, bem como da com-paração com o meta-estudo de caso, foram propostas diretrizes de Design para PSS em embalagens retornáveis. Desta forma, as diretrizes para o desenvolvi-mento de sistemas produto-serviço (PSS) voltado a embalagens em papelão ondulado movimentadas entre empresas de modo a reduzir o impacto am-biental são apresentadas a seguir, divididas em diretrizes com foco no sistema e diretrizes com foco na embalagem.

Entre as diretrizes para PSS com foco no sistema estão:

- Suprir a falta de conhecimento e experiência em PSS na empresa por meio da realização de eventos como workshops e palestras sobre PSS, com apresenta-ção de conceitos, princípios, metodologias e ferramentas, com participação de especialistas externos à empresa;- Elevar o nível de maturidade em PSS com a incorporação dos conceitos de PSS ao sistema de gestão da empresa (ex.: foco na diferenciação, codesign com os fornecedores, relações de longo prazo, etc.), para que a empresa assuma uma postura mais pró-ativa quanto às questões ambientais;- Criar um histórico de codesign em serviços por meio de projetos-piloto em

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pontos específicos do processo, para então expandir a abordagem para outras partes do sistema onde o PSS fosse aplicável;- Terceirizar a gestão do ciclo de vida do sistema de proteção e transporte para uma empresa especializada em PSS voltado a esta necessidade;- Buscar, sempre que possível, fornecedores próximos à indústria para produtos de baixo valor agregado, como parte de um possível PSS a ser implementado;- Evitar o excesso de operações de transporte, espera e verificação com o uso de PSS que incorporem sistemas de identificação como o RFID, que permitem automatizar etapas do processo e obter um nível de controle mais efetivo e confiável;- Optar por sistemas de transporte ambientalmente menos impactantes (hi-droviário, ferroviário) e baseados em fontes energéticas renováveis, ao invés do modal rodoviário. Este modal normalmente utiliza caminhões a diesel, de alto impacto ambiental devido ao uso de combustíveis fósseis e à emissão de gases tóxicos. Caso seja necessário utilizar este modal, reduzir o número de viagens;- Elevar a densidade de transporte, por meio do transporte a granel, que ocupa melhor o espaço de carga no caminhão;- Evitar o uso de embalagens, ou prever o reuso, reparo, remanufatura e atua-lização destas, caso sejam retornáveis;- Evitar o uso de embalagens retornáveis em cadeias logísticas que exijam gran-des distâncias de retorno, pois alguns especialistas (ex. Vezzoli, 2006) defen-dem que nesta situação os impactos ambientais aumentam consideravelmen-te devido à matriz fóssil usada no Brasil. Neste caso pode ser mais interessante prever embalagens de uso único que possam ser facilmente desmontadas e recicladas, caso o local de destino disponha de um sistema de coleta e reci-clagem adequado, ou mesmo reutilizadas para novas aplicações nos locais de destino. Neste caso, projetar a embalagem considerando a possibilidade de reciclagem em cascata no destino é fundamental;- Otimizar o uso de energia por meio de dispositivos de economia, e da redu-ção do número de etapas no processo logístico.

As diretrizes para PSS com foco na embalagem foram estruturadas com base nas etapas do ciclo de vida, da extração da matéria-prima até o descarte, e nas estratégias de life cycle Design propostas por Manzini e Vezzoli (2002) e por CfD/RMIT (2001).

Etapas de Pré-produção e produção:

- Considerar, na fabricação da embalagem, a possibilidade de se utilizar pape-lão ondulado com certificação FSC (ex. Klabin), cujo processo produtivo busca considerar o manejo sustentável de florestas manejadas e o uso de parte da matéria-prima reciclada (ondas internas das chapas);- Considerar, dentro do possível e sem afetar a resistência estrutural da emba-lagem, a possibilidade do uso de papelão ondulado reciclado, o que minimiza o uso de novos recursos florestais e estimula a geração de renda em empresas de reciclagem e cooperativas de coleta e separação de resíduos;- Evitar o uso de tintas e vernizes que utilizem em sua composição metais pe-sados, bem como materiais e processos de clareamento agressivos ao meio ambiente e aos funcionários envolvidos na produção, como o cloro.

Etapa de transporte/uso:

- Otimizar o uso dos caminhões, por meio de embalagens dimensionadas a partir de medidas-padrão de paletização, especialmente a do PBR - palete bra-sileiro, com medidas de 1200x1000mm;- Reduzir o peso das embalagens, o que contribui para a redução do consumo de combustível dos caminhões;- Reduzir o volume das embalagens, o que contribui para um melhor aprovei-tamento do espaço nos caminhões;- Evitar o superdimensionamento das embalagens, analisando cuidadosamen-te o tipo de produto a ser transportado e a capacidade máxima de empilha-mento, e com isso definindo o tipo de chapa ideal para a embalagem;- Permitir a máxima compactação das embalagens quando retornarem vazias;- Possibilitar a incorporação de suportes nas embalagens, e com isso dispensar o uso de paletes;- Possibilitar a montagem e desmontagem rápida da embalagem, otimizando o tempo e a eficiência de operação. Para isso, evitar o uso de dispositivos e componentes muito complicados (podem causar erros de manuseio), avulsos (podem perder-se), ou de fechamento permanente. Dar preferência a disposi-tivos de encaixe rápido, como o “fundo mágico”;- No caso de peças com alto peso (ex. motores, caixas de câmbio), prever a utilização de calços internos. É desejável que estes calços sejam feitos em um único material para facilitar a separação e a reciclagem (ex.: papelão ondulado

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com uso da técnica CFG);- Considerar a possibilidade de se utilizar materiais diferentes na embalagem retornável conforme o nível de esforço exigido em cada parte da mesma (ex. base e tampa em termoplástico resistente, laterais em papelão ondulado);- Desenvolver a embalagem considerando a finalidade de uso do produto nela transportado, e a possibilidade de agregar à embalagem funções adicionais que maximizem esta finalidade (ex.: embalagem retornável que serve como organizador e dispenser na produção);- Dependendo da função, tamanho e peso da embalagem retornável, projetar aberturas para o encaixe das mãos dos operadores, a fim de proporcionar con-forto e segurança no manuseio;- No caso de peças com superfícies sensíveis, considerar o uso de materiais complementares que evitem o contato direto com o papelão ondulado devido à sua abrasividade;- Nas laterais, divisões internas e outros planos da embalagem posicionados verticalmente, considerar sempre o uso do papelão ondulado com as ondas na vertical, pois neste sentido o material apresenta máxima resistência;- Considerar a possibilidade de utilizar tecnologias que permitam o controle e identificação da embalagem ao longo do ciclo de vida, como o RFID (Radio Frequency Identification ou Identificação por Radio-frequência) aplicado na embalagem por meio de etiquetas adesivas. Com isto pode-se, por exemplo, reduzir custos com controle de inventário, tempos de operação e problemas de falta de material na produção.

Etapa de fim de vida

- Possibilitar a manutenção, reparo e até mesmo a remanufatura das emba-lagens retornáveis por meio de materiais compatíveis (ex. fitas adesivas em kraft), evitando grampos ou colas não-compatíveis. Com isso, estende-se a vida útil da embalagem sem comprometer a separação e a reciclagem;- Evitar o uso de impermeabilizantes na embalagem (ceras, vernizes, tintas) que inviabilizem a reciclagem;- Possibilitar a aplicação, na embalagem, de mensagens visuais e textuais re-lacionadas à matéria-prima utilizada, forma de uso, transporte, manutenção e descarte, incentivando a adoção de atitudes ambientalmente corretas. Inserir simbologia adequada de reciclagem;- Dar preferência, na impressão, a tintas compatíveis que não inviabilizem a

reciclagem, e evitar áreas de impressão muito chapadas.

5 Conclusão e recomendações de estudo

Pode-se concluir que as principais contribuições deste estudo referem-se à constatação de que os problemas ambientais mais relevantes nos sistemas es-tudados decorrem, sobretudo, da falta de abordagem sistêmica. Os resultados dos estudos indicaram que o impacto ambiental nos processos logísticos das empresas estudadas é tratado focando-se a embalagem em si, e não o sistema como um todo. Com isso, ocorrem erros em termos de ações de redução de impacto ambiental, pois se prioriza ações como a reciclagem em situações em que seria melhor o reuso da embalagem, ou o reuso em situações em que seria mais adequado o descarte no destino final.

A abordagem de PSS pode minimizar este tipo de erro, na medida em que con-sidera o impacto ambiental de todo o sistema, e não apenas da embalagem. Com isso, pode haver situações em que a embalagem nem mesmo seja neces-sária, substituindo-se o seu uso por outros sistemas de proteção e transporte. No estudo de caso principal desenvolvido nesta dissertação, percebeu-se que a etapa ambientalmente mais impactante era o transporte, o que foi compro-vado pela análise quantitativa (análise do ciclo de vida, ou ACV).

Este resultado, cuja validade pôde ser ampliada com a realização do meta-estudo de caso, influenciou diretamente na proposição das diretrizes apresen-tadas no capítulo anterior. Se, no estudo de caso da Volkswagen, a etapa de transporte era a ambientalmente mais impactante, isto possivelmente ocorre-ria também nas outras três empresas do meta-estudo de caso, pois nestas as distâncias de transporte eram ainda maiores.

No estudo na Volkswagen, se verificou também que a metodologia Mepss foi adequada à pesquisa e ao desenvolvimento de novos conceitos pelos desig-ners, seja pela possibilidade de planejamento, pelas ferramentas utilizadas, ou pela modularidade de etapas da metodologia. Particularmente, foram úteis as ferramentas qualitativas como o System Map (visão do sistema), os Story-boards (visão das propostas) e o checklist (ocorrência ou não de fatos), e as quantitativas, como a ACV (identificação das etapas críticas e tipos de impac-to). O uso de um meta-caso mostrou-se bastante produtivo para buscar-se a

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confirmação de aspectos comuns para geração de diretrizes.

Uma das maiores dificuldades para a realização do estudo refere-se à falta de sincronia entre os tempos da empresa e os da equipe de pesquisa, o que exigiu várias adaptações e mudanças de cronograma ao longo do trabalho. Isto é par-ticularmente significativo no caso de empresas de grande porte, que possuem sistemas de acesso mais burocráticos tanto aos profissionais internos, quanto às informações sobre processos e produtos. Isso exige uma flexibilidade maior da equipe de pesquisa, a fim de que não haja desperdício de trabalho, tempo e recursos.

Entre as recomendações possíveis para futuros estudos nesta área, sugere-se que sejam ampliados os estudos sobre o impacto social do uso de embalagens retornáveis, e sobre o limite de distância para a adoção de PSS com base em embalagens retornáveis. Finalmente, sugere-se também que sejam feitas tam-bém comparações do nível de sustentabilidade entre diferentes PSS em emba-lagens retornáveis (caixas, latões, bigbags) com diferentes materiais (plásticos, madeira, papelão ondulado, metal, lonas).

Referências

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Halen C. van, Vezzoli, C. & Wimmer, R., 2005. Methodology for product service system innova-tion: How to implement clean, clever and competitive strategies in European industries. Assen: Royal Van Gorcum.

Manzini, E., Vezzoli, C., 2002. O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis: os requisitos am-bientais dos produtos industriais. São Paulo: Edusp, Editora da Universidade de São Paulo.

Sampaio, C. P. 2008. Diretrizes para o design de embalagens em papelão ondulado movimenta-das entre empresas com base em sistemas produto-serviço. Dissertação de Mestrado do Progra-ma de Pós-Graduação em Design da Universidade Federal do Paraná. Curitiba: Editora da UFPR.

UNEP United Nations Enviroment Programme, 2004. Product-Service Systems and Sustainabili-ty. Milão: INDACO Department, Politecnico di Milano.

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Tecnologia para uma Sustentabilidade: o caso da Madeira MoldadaTechnology for Sustainability: the case of Molded Wood

Prof. Dr. Dalton Luiz RazeraUniversidade Federal do Paraná, [email protected]

Palavras Chave: produtos moldados, resíduos de madeira de serraria, design sustentável.

O propósito deste documento é apresentar uma tecnologia que vem a diminuir os impactos ambientais em alguns processos de fabricação que utilizamos em nossa forma de viver. Normalmente com as crises mundiais e locais é que as mudanças ocorrem com maior intensidade, e para melhor, é uma forma de repensar os conceitos de consu-mo. Nestes casos a economia de mercado que dita as regras do jogo, quando estão mais vulneráveis, permeando assim as mudanças. Esta tecnologia não é inteiramente nova, tem seus princípios na década de 70 do século pas-sado. Porém se torna contemporânea na forma de implantação e avanços. A fabricação de produtos moldados, a partir de resíduos de serragem de madeira denominada “farinha de madeira”. Com partículas de madeira e adesivo obtém-se o compósito, que em molde e prensado a quente, moldam-se os produtos. Pode-se obter produtos moldados por compressão a quente e a frio , por extrusão e injeção, utilizando polímeros termorrígido ou termo-plástico. A pesquisa apresenta dois métodos obtidos pelo processo de compressão a quente.

Keywords: molded products, wood waste from sawmill, sustainable design.

The purpose of this paper is to present a technology that has to reduce environmental impacts in some manufac-turing processes we use in our way of living. Normally with the crisis is global and local changes that occur with greater intensity, and for the better, is a way of rethinking the concepts of consumption. In these cases the market economy that dictates the rules of the game, when they are most vulnerable, thus permeating the changes. This technology is not entirely new, has its principles in the 70s of last century. But it is contemporary in the way of im-plementation and progress. The manufacture of molded products from waste wood sawdust called “wood flour”. With particles of wood and adhesive is obtained by the composite, which in the hot mold and pressed, is shaping the product. You can get products molded by the hot and cold compress, by extrusion and injection, using thermoplastic or thermosetting polymers. The study presents two methods obtained by the hot compression process.

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1 Introdução

Embora o tema da sutentabilidade, dos processos limpos e do aproveitamento de resíduos tenha tomado grande dimensão nos últimos anos devido à cons-tatação de que o planeta já não possa continuar a ser explorado como antes, o Brasil ainda apresenta graves problemas quanto à questão de resíduos, e pou-cas soluções adequadas . A produção de madeira de reflorestamento no sul do Brasil abrange grandes áreas anteriormente florestais, e a geração de resíduos no corte desta madeira em serrarias ainda é um problema.

Transformar este problema (resíduo) em oportunidade de negócio, principal-mente em época de crise (processo industrial de transformação) é o foco bási-co desta proposta, com reflexos possíveis no aspecto ambiental, econômico e inclusive social, pela possibilidade de se criar pequenas indústrias para a pro-dução de objetos moldados em partícula de madeira. Desta forma, o presente projeto deverá realizar contribuição à cadeia produtiva através da geração de conhecimento para subsidiar o projeto de produtos que utilizam resíduos do setor florestal.

Os compósitos são desenvolvidos com o intuito de formar novos materiais que aproveitem do sinergismo entre as propriedades mais interessantes de outros dois ou mais materiais. Os compósitos tem sido muito usados nas indústrias de autopeças para fabricação de uma enorme gama de produtos e em crescente expansão, desde painéis, bancos, laterais e outras partes dos automóveis e ca-minhões. Os compósitos são ideais por aliarem leveza e bom desempenho em serviço, além do baixo custo e facilidade de reciclagem no fim do ciclo de vida dos veículos ou de suas peças.

A produção de compósitos com fibras naturais têm vantagens sobre os demais materiais de reforço tradicionalmente usados como as fibras de vidro, partícu-las de sílica, alumina, e óxidos em geral. A primeira vantagem é o baixo custo dos materiais lignocelulósicos comparados aos seus concorrentes orgânicos ou inorgânicos. Como o material natural usado como reforço nos compósitos apresenta preços menores que a própria matriz polimérica, o preço final do produto pode ser menor que o do polímero separadamente.

Outra vantagem é a sua baixa densidade que permite a confecção de compósi-

tos com menor densidade comparadas àqueles produzidos com materiais inor-gânicos. Outra característica vantajosa é a pequena abrasão que os materiais lignocelulósicos causam durante o seu processamento, permitindo um maior tempo de vida útil dos equipamentos usados na fabricação dos compósitos.

O material lignocelulósico tem grande disponibilidade, é originário de fonte renovável, sendo ambientalmente muito mais amigável do que outros mate-riais, outra vantagem é que o consumo de energia para a sua produção é muito menor quando comparado a materiais cerâmicos, como tijolo e cimento; me-tálicos, como o aço e o alumínio.

Os restos de colheitas de ciclo curto como o milho, o arroz, a soja, a cana-de-açúcar, entre outros, são um grande potencial de suprimento de material lig-nocelulósico, mas as culturas perenes também são excelentes fontes, como as plantações florestais de um modo geral. A produção de palmitos comestíveis gera um volume de resíduos que é cinco vezes superior, sendo que atualmente ao menos existe preço para sua comercialização. A produção de compósitos a partir desses materiais pode agregar valor e mitigar possíveis problemas com sua destinação final e poluição ambiental.

Os polímeros termoplásticos permitem a reciclagem dos objetos produzidos sendo cada vez mais preferidos pelas indústrias que se vêem obrigados a reco-lher e responsabilizar-se pela destinação final de seus produtos após o término do tempo de vida útil.

Em geral os polímeros termofixos apresentam maior compatibilidade com a superfície dos materiais lignocelulósicos, sendo os mais usados as resinas fe-nólicas, uretânicas e epóxi. Todavia, não são recicláveis e o processo produtivo é mais caro não podendo ser fabricados pelo processo de extrusão e injeção que permite alta produção e baixos custos. As propriedades mecânicas tam-bém são diferentes, as resinas termofixas são normalmente menos elásticas que as resinas termoplásticas.

Prensagem a Quente ou a Frio

A opção por este processo deve-se principalmente a dois aspectos ligados à sustentabilidade: um de natureza energética e outro de natureza econômica.

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No aspecto ambiental, a questão da economia de energia apresenta-se como um aspecto cada vez mais decisivo para a opção ou descarte de determinados processos.

No caso aqui apresentado, embora a prensagem a quente seja a mais usada para a produção de chapas MDF devido à alta produtividade que permite, foi utilizada a prensagem a frio. Por exigir equipamentos mais simples e baratos e evitar o uso de energia elétrica, este processo pode ser especialmente útil para pequenos produtores, que geralmente têm baixa disponibilidade de capi-tal para investir e uma demanda não tão grande de pedidos quanto as grandes indústrias.

Metodologia de Fabricação dos Produtos

No experimento para moldagem dos produtos foram utilizados o molde 1 fa-bricado em alumínio fundido e o molde 2 em alumínio naval usinado.

Método de Prensagem Molde 1

As partículas de madeira encoladas com adesivo (polímero termofixo), depo-sitadas em uma caixa formadora com dimensões próximas às do molde, sobre um filme plástico (celofane) medindo 55 x 40 cm, e uma chapa de alumínio de 1mm de espessura. Posteriormente uma pré-compressão, a frio, com limitado-res de espessura de 20 mm.

Após esta densificação, o colchão formado é aplicado no molde. Retira-se a chapa de alumínio, e o colchão de partículas se acomoda sobre o molde (ma-cho). Na seqüência, acrescenta-se a outra parte do molde (fêmea) sobre o col-chão para posterior compressão a quente e consolidação do produto moldado, conforme pode ser visualizado na figura.

1. Esquema do método de prensagem do molde 1 Figura

Método de Prensagem Molde 2

As partículas de madeira encoladas com adesivo (polímero termofixo), depo-sitadas na cavidade do molde, este na posição vertical, com uma distância de 3 cm, (razão de compactação de 1 para 6). Para se obter uma distribuição uni-forme do compósito, é preenchida a cavidade entre as partes do molde por gravidade sem compressão. Posteriormente feita a compressão a quente para consolidação do produto moldado, conforme pode ser visualizado na figura.

2. Esquema do método de prensagem do molde 2Figura

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Moldes

Molde 1

Em alumínio fundido confeccionado especialmente para a moldagem das pe-ças, elaborado com desenho de uma gaveta com dimensões de 48cm x 35cm x 9cm, com 32kg, apresentando ângulos de 60º e curva de raio de 100mm. O molde foi confeccionado com algumas linhas de perfuração com diâmetro de 2mm em pontos estrategicamente definidos para possibilitar a evaporação dos gases durante a compressão.

O molde 2, confeccionado em alumínio tipo naval, usinado por prototipagem rápida, utilizando dois tipos de tratamento superficial, sendo uma face da peça do molde macho polida e outra peça do molde fêmea texturizada para verifi-cação do acabamento superficial da peça moldada para conformação a frio e a quente.

Este molde apresenta as características de uma peça tridimensional côncava com cavidade de aproximadamente 50mm de profundidade com ângulos pró-ximos de 90º e curvas de concordância, gerando uma peça com dimensões de 150 x 100 x 50mm, com espessura de 5 mm, e possibilitando o corte dimensio-nal da peça pelo próprio molde.

Características dos Produtos Moldados

Produto Moldado 1 (Gaveta)

A moldagem por compressão a quente do produto moldado 1 (gaveta) mol-dada através do molde 1 de alumínio fundido com dimensões de 350 x 450 x 50 mm e com espessuras variando de 8 a 16 mm (conforme as dimensões do molde).

A peça apresenta a superfície com brilho em função do filme de celofane ser aplicado antes da compressão. O molde não prevê acabamento na borda do produto.

A densidade média distribuída ao longo dos eixos médios do produto moldado 1 (gaveta) pode ser levantada, para verificação se a formação do colchão teve uniformidade quando da compressão da moldagem.

Como a espessura tem variações conforme o desenho que o molde apresenta, deve ser interpretada levando em consideração essas espessuras e suas den-sidades diferentes.

Produto Moldado 2 (Caixa)

O produto moldado 2 por compressão a quente (caixa) moldado através do molde 2 de alumínio usinado por prototipagem rápida com dimensões de 102 x 152 x 45 mm, com espessuras variando de 3 a 4 mm.

A peça apresenta a superfície lisa na parte interna e texturizada na externa.O molde prevê acabamento na borda do produto, porque executa a moldagem e corte, gerando uma geometria definida na borda.O produto moldado 2 copia com fidelidade as características geométricas do molde. O acabamento superficial é esperado em função da geometria das par-tículas utilizadas, podendo-se até observar a superfície lisa na parte interna do produto e texturizada na externa.

Na fabricação dos produtos a partir de moldes de alumínio, observa-se a con-solidação de duas formas diferentes de formação do colchão para a compres-são dos produtos moldados. O resultado é satisfatório, com as duas maneiras se obtiveram produtos com boa aparência superficial, copiando os detalhes dos moldes. Através das amostras para medição da densidade média na forma-ção do colchão é constatada a distribuição do material moldado nas superfícies planas, inclinadas e curvas.

Conclusões

Os produtos moldados (gaveta) copiaram todas as características do molde, apresentam superfície brilhante em uma das superfícies em função do filme de celofane e na parte do fundo apresentam compatibilidade com o tamanho das partículas. Os produtos moldados (caixa) copiaram com propriedade as características do

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molde com detalhes e cortes dimensionais. A qualidade superficial contou com uma parte interna lisa e a superfície externa texturizada.O molde deve permitir a eliminação da umidade liberada durante a prensagem, através das laterais e perfurações em pontos determinados predefinidos.O tempo de prensagem nas peças moldado deve ser considerado, com um acréscimo, para que o molde de alumínio obtenha a temperatura ideal de cura do adesivo nas várias partes da peça.

Referências

ALVES, Marcus Vinicius da Silva. Novas tecnologias para utilização e aproveitamento de resíduos. In: 1º CONGRESSO BRASILEIRO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DA MADEIRA E PRODUTOS DE BASE FLO-RESTAL-, Curitiba. IBAMA, 2003. p. 10 30. CD-ROM.

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FROLLINI, E., ed. Natural polymers and agrofibers based composites: propriesties and aplications / Editores: Elisabete Frollini, Alcides L.Leão and Luiz Henrique Capparelli Mattoso São Carlos: USP-IQSC / Embrapa Instrumentação Agropecuária / Botucatu: UNESP, 2000.

FUAD LUKE, Alastair. Manual de diseño ecológico. Barcelona: Gustavo Gili, 2002.

IWAKIRI, S. Painéis de madeira reconstituída. FUPEF, Curitiba, 2005.

MANZINI, E.; VEZZOLI, C. O desenvolvimento de produtos sustentáveis. São Paulo: USP, 2002.

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Inovação em Sistemas de Consumo por meio do Design: o Caso do Caixa Ecoló-gicoInnovation in Consumption Systems through Design: the Ecological Check-out Case

Dulce de Meira Albach Mestre, Universidade [email protected]

Palavras-chave: embalagens, resíduos sólidos, impacto ambiental, sistema de consumo

O Caixa Ecológico se caracteriza por uma proposta de mudança de hábito de consumo por meio do gerenciamento de resíduos de embalagens - identificados atualmente como elementos de grande destaque na composição dos resíduos sólidos urbanos – visando à minimização de impactos ambientais. Configura-se por um check-out diferen-ciado em um supermercado na cidade de Curitiba-PR, onde os consumidores podem fazer, conforme sua própria escolha, o descarte antecipado de embalagens de plástico e/ou papel ali adquiridas e que não há necessidade de serem levadas com o produto. A destinação destas para reciclagem reduz o volume de resíduos sólidos de embala-gens sem destino planejado. Associa-se também a proposta, o incentivo para que sacolas próprias sejam utilizadas, reduzindo o consumo das atuais sacolas plásticas. Desta forma, os principais envolvidos (ponto de venda e consu-midores) podem praticar ações que contribuem com a proteção e educação ambiental, evidenciando a importância da participação ativa e consciente da sociedade. A avaliação do comportamento dos envolvidos possibilita detectar novos procedimentos que permitam a intensificação da iniciativa.

Keywords: packages, solid waste, environmental impact, consumption system

The Ecological Check-out is characterized by a proposal to change consumption habit through the management of packing residues – currently identified as elements of great importance in the composition of urban solid was-te – aiming at the minimization of environmental impact. It is characterized by a different check-out located in a supermarket in the city of Curitiba-PR, where consumers may – if willing to – readily discard unnecessary plastic or paper packs purchased at the supermarket. By sending these packs to recycling, the volume of solid waste com-posed of packs without a planned destination can be reduced. Along with the same approach, it is encouraged the use of proper bags, reducing the use of the current plastic bags. By doing this, the main subjects involved (retailer and consumers) can practice actions that will contribute to environmental protection and education, highlighting the importance of the society’s active and conscious participation. The evaluation of the behavior of the subjects involved allows the detection of new procedures that will permit the intensification of the initiative.

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1 Introdução

A geração de resíduos sólidos urbanos, desde o início das civilizações, é uma situação complexa e muitas vezes ignorada. Associada ao crescimento das ci-dades, a intensificação da industrialização e às mudanças culturais e sociais, está a produção e destinação do lixo que inevitavelmente é gerado neste pro-cesso e que assume volumes desproporcionais à capacidade de assimilação dos ecossistemas (Dias, 2002, p. 145). Neste crescimento, um dos elementos de destaque que compõem os resíduos sólidos urbanos atualmente são as embalagens que contém plástico em sua composição (ALGAR, 2005; CEMPRE, 2000; Mestriner, 2001) – associados ou não a outros materiais, procedentes de residências, estabelecimentos comerciais e escritórios.

As embalagens se apresentam na forma de: frascos, potes, garrafas, saches, tubos, sacos, filmes, além de tampas, lacres e adesivos, bem como embala-gens de papel plastificadas, parafinadas e impressas. Exercem suas funções de oferecer conforto para os consumidores, como na facilidade de transporte ou na conservação de um produto, além de representarem significativas estraté-gias de comercialização que desenvolvem o setor (Mestriner, 2001, p. 3). No entanto, a organização e gerenciamento da produção e do descarte dos resí-duos destas embalagens revelam-se comprometidos em relação à proteção ambiental.

Segundo Mancini et al. (2005, p. 9) se os resíduos plásticos gerados no Brasil tivessem a devida atenção em relação aos processos de reciclagem, a partici-pação do ramo petroquímico no setor seria diminuída e conseqüentemente haveria economia dos recursos naturais. Por outro lado, afirmam os mesmos autores, que a economia nacional também seria beneficiada, pois estes resídu-os plásticos seriam suficientes para anular as importações brasileiras e incre-mentar as exportações.

No ciclo de vida das embalagens, os principais envolvidos são: o fabricante, o ponto de venda e o consumidor. Nesta análise, destaca-se que um ponto de venda que se caracteriza pela grande concentração de embalagens é o super-mercado, local este que pode exercer uma forte influência na forma de desti-nação das embalagens que são por eles adquiridas dos fabricantes e oferecidas - juntamente com os produtos contidos - aos seus clientes e/ou consumidores.

Estes por sua vez farão o descarte.

Assim sendo e em observação ao grave quadro atual dos resíduos sólidos urba-nos enquanto embalagens, o projeto do “Caixa Ecológico” propõe um sistema de descarte antecipado destas em um supermercado na cidade de Curitiba, por meio da implantação de um check-out diferenciado que estimule uma mu-dança de comportamento e conscientização do consumidor quanto as ques-tões ambientais. Observa-se desta forma que um consumidor informado e consciente e um ponto de venda que proporciona condições efetivas podem protagonizar movimentos de mudanças comportamentais e conseqüentemen-te podem atingir metas de melhoria de qualidade ambiental e social.

Este projeto avalia a aceitação dos agentes participantes do processo quanto a mudanças de hábitos e os caminhos que podem ser tomados para a minimi-zação de impactos associados aos resíduos sólidos urbanos caracterizados por embalagens.

2 Geração de resíduo sólido urbano

Nas sociedades primitivas a natureza era a fonte de recursos na vida do ho-mem e a maior parte do lixo era composta de matéria orgânica. A humanidade passou um longo período de sua história acreditando que os recursos naturais, como água e ar, eram infinitos e que a natureza absorveria o lixo produzido (GORE, 1993, p.162). No entanto, a necessidade de tratar e destinar adequadamente o lixo para evitar a proliferação das epidemias tornou-se inegável (MELOSI, 2005, p. 22). Com o início da 1ª Revolução Industrial (1780-1850) as atividades conside-radas “naturais” como: a agricultura, a pecuária, a pesca e a mineração, foram suplantadas pela produção industrial e pelo capitalismo, e a poluição passou a figurar como um fator de destaque no processo chamado de “desenvolvimen-to”.

Neste contexto, com a evolução do comércio e da sociedade de consumo, as embalagens foram se tornando cada vez mais importantes, principalmente após o surgimento dos estabelecimentos de venda a varejo, chamados de su-permercados. A venda de produtos no sistema de auto-serviço obrigou a uma completa reformulação na função das embalagens, que se transformou em

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ícone da cultura de massa. À embalagem moderna foram atribuídas as tare-fas de: conter, proteger, identificar, expor, comunicar e auto-vender o produto, dentro de um cenário cada vez mais competitivo (MESTRINER, 2001, p.17).

Por outro lado, os requisitos operacionais relacionados aos materiais utilizados pela indústria exigiram características específicas de metais, plásticos, vidros, borrachas, fibras, etc. para ultrapassar limites de produção e/ou viabilizar um processo produtivo e conquistar a preferência de algum determinado público consumidor em adquirir diversos tipos de produtos.

As primeiras descobertas dos polímeros sintéticos (com início em meados do séc. XIX), em substituição aos naturais, logo se configuraram como revolucio-nárias, principalmente pela habilidade de transformação do novo material. Os polímeros, mais especificamente os plásticos, passaram a ser amplamente utilizados nas mais diferentes áreas: higiene, médica (próteses, órgãos artifi-ciais), eletroeletrônica, esportiva, tintas, pigmentos e embalagens. O plástico começou a fazer parte da vida das pessoas, envolvendo seus sentidos (táteis, olfativos, visuais, gustativos) (LEFTERY, 2001).

Impulsionou-se assim, a mudança do material de embalagens “tradicionais”, feitas em vidro ou papel, para plástico, além do surgimento de modelos no-vos, agregando funções e características técnicas. Este processo de desenvol-vimento tecnológico não atentou, porém, às conseqüências ambientais que a geração destes “materiais artificiais”, muitas vezes rapidamente descartáveis, provocaria na biosfera, afetando a vida do homem e do planeta como um todo, e contribuindo para a escassez de seu recurso natural básico: o petróleo (KA-ZAZIAN, 2005, p.23).

O imenso volume de embalagens descartadas provoca atualmente sérias dis-cussões sobre degradabilidade, reciclagem e reutilização. Um exemplo se ca-racteriza pelos estudos em torno dos bioplásticos (Pradella, 2006), materiais que podem vir a substituir os polímeros convencionais advindos do petróleo, apresentando propriedades mecânicas semelhantes, porém com o diferencial de serem biodegradáveis.

Segundo a Algar (2005), 31% da composição dos resíduos sólidos municipais no Brasil são embalagens. Neste segmento, o plástico é o segundo material

mais utilizado, precedido apenas da celulose (Mestriner, 2001, p. 5). Quanto a composição, Dias (2002, p. 150) descreve que 60% dos plásticos utilizados em embalagens são Polietilenos (PE), que podem ser utilizados em embala-gens rígidas (ex.: frascos) ou filmes (ex.: saches); 11% são Poliestirenos (PS) ou styrofoam, utilizados em estofamentos, isolamento térmico, etc.; 10% são Po-lipropilenos (PP), utilizados em fraldas descartáveis, embalagens de alimentos e outros, além dos polímeros utilizados em tintas e acabamentos superficiais encontrados também em embalagens de papel. Todos compõem um grupo de materiais de alta persistência no ambiente, com tempo de vida variando de 50 a 200 anos.

Em pesquisa sobre a composição do lixo gerado pelos municípios brasileiros, foi evidenciado que em Curitiba, o plástico é o material encontrado em maior quantidade, depois de matéria orgânica (CEMPRE, 2000, p.39). Este estudo também destaca que no Brasil são produzidas 241.000 toneladas de lixo, den-tre as quais, 90.000 têm origem domiciliar (cada pessoa produz em média de 600g a 1 kg de lixo por dia). E, embora o principal componente do lixo urbano seja o resíduo orgânico, a embalagem aparece como o item de maior visibilida-de, pois tem forma definida e marcas dos produtos agregados.

Portanto, a produção de resíduos domésticos, bem como o envolvimento dos seus geradores (consumidores), desempenha importante papel dentro do ci-clo de vida de uma simples embalagem de consumo. Manzini e Vezzoli (2005, p. 100) analisam que produtos ambientalmente corretos devem se basear no conceito de ciclo de vida. O objetivo do denominado Life Cycle Design (LCD) é criar uma idéia sistêmica de produto ou serviço, em que os inputs de mate-riais e de energia bem como o impacto de todas as emissões e refugos sejam reduzidos ao mínimo possível, seja em termos quantitativos ou qualitativos, ponderando-se assim a nocividade de seus efeitos.

Caracteriza-se por um processo bastante abrangente e com variabilidades em função do tamanho da empresa fabricante, as legislações em vigor, tipo de produto entre outras. Este conceito pode ser associado ao princípio da respon-sabilidade teorizado em meados de 1979 e que apresentava reflexões sobre um “agir irresponsável”, abordando a necessidade do indivíduo e da coletivida-de assumir as conseqüências de seus atos (KAZAZIAN, 2005, p. 32).

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Santos et al. (2004) aborda as responsabilidades no processo de fabricação das embalagens plásticas no Brasil e analisa o sistema de coleta seletiva, como um primeiro passo para viabilizar as atividades recicladoras, tornando o setor produtivo responsável por seus resíduos e evitando, assim, onerar o setor pú-blico.

Em pesquisa realizada pela Market Analysis Brasil (2006), em cinco capitais brasileiras (Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Salvador e São Paulo) sobre a consciência ambiental associada à coleta seletiva de lixo, constatou-se que 78% das pessoas entrevistadas têm acesso à coleta seletiva, porém somente 23% conhecem o destino dado ao lixo após a coleta. Estes dados alertam para uma possível separação inadequada dos resíduos devido ao desconhecimento sobre o seu destino final.

No entanto, atitudes práticas que efetivamente contribuem com a correta des-tinação de resíduos sólidos enquanto embalagens podem ser observadas em várias partes do mundo, despertando a consciência das populações para o gra-ve problema que estes resíduos representam nas sociedades.

No Brasil, uma rede de supermercados oferece aos seus consumidores e à co-munidade um programa que se caracteriza por postos de coleta seletiva de embalagens pós-consumo, de papel, vidro, plástico e metal. Este material é direcionado as cooperativas de catadores de recicláveis cadastradas pelo pro-jeto (Pão de Açúcar, 2007). Este grupo possui, também, a instalação de centros automatizados de venda reversa no qual máquinas emitem cupons quando recebem a deposição de embalagens de PET e latas de alumínio. Estes cupons equivalem a descontos para compras no hipermercado, ou se o cliente preferir pode doá-los ao projeto “Fome Zero” do Governo Federal.

Em Cuiabá, no Mato Grosso, o Governo do Estado, juntamente com a empre-sa responsável pelo fornecimento de energia elétrica ao Estado do MT, uma empresa de reciclagem e uma rede de supermercados, firmaram um convênio que pretende reduzir o impacto poluente dos resíduos sólidos, principalmente em rios e córregos, e ao mesmo tempo agregar valor econômico às famílias de baixa renda. Nesta proposta, a população pode trocar latinhas de alumínio e garrafas PET por bônus a serem descontados na fatura de energia elétrica (CEPROMAT, 2007).

Em Boston, o Massachusetts Department of Environmental Protection (Mas-sDEP) em conjunto com o Massachusetts Food Association (MFA), criaram o “Supermarket Recycling Program Certification” (SRPC) para incentivar os su-permercados a desenvolverem programas de reciclagem e/ou reuso de ma-teriais (BioCycle, 2006). “Save Money and the Environment Too” é o nome da campanha criada em 1995, em San Francisco Bay Area na Califórnia que visa conscientizar os consumidores de como suas atitudes impactam no meio am-biente (CIWMB, 2002).

Na Califórnia a campanha do “America Recycles Day” é realizada todo ano no dia 15 de Novembro. No mês de Outubro, acontece a campanha denominada de “Second Chance Week” para promover o reuso, o reparo, a revenda ou a doação de itens que, sem esta iniciativa, provavelmente seriam dispostos no lixo (CIWMB, 2002). Referindo-se aos problemas ambientais nos Estados Uni-dos, a Revista Newsweek (Ramirez, 2007) publicou artigo induzindo à reflexão sobre formas de comportamento que podem modificar a vida em sociedade e que dependem de cada cidadão.

Na Malásia, a magazine XL-SHOP.COM, especializada em bonecos de brinque-do convida o consumidor a participar dos 3 R’s (reduzir, reutilizar, reciclar) e oferece desconto aos clientes que fizerem suas compras utilizando suas pró-prias sacolas (XL-SHOP, 2007).

O governo da Noruega financia os projetos do “Cleaner Production”, programa que há mais de 15 anos estimula, por meio das empresas participantes, utiliza-ção racional de material, redução de consumo de energia e de emissões no ar, na água e no solo (KJAERHEIM, 2005). Na Inglaterra, o “Waste and Resources Action Programme” propõe debates com a comunidade dos designers visando a orientação dos projetos de embalagens para a racionalização de materiais, para o reuso e a reciclagem.

Segundo a instituição, o setor de design é o principal promotor da minimização de resíduos de embalagens, que inicia com a sua própria criação. Segundo esta análise, atualmente percebe-se que os consumidores ingleses estão dispostos a pagar mais por produtos embalados de forma ambientalmente responsável e por marcas éticas a este princípio (WOODS, 2007).

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3 Caixa Ecológico

Este sistema se caracteriza por um conjunto de ações que promovem o geren-ciamento do descarte de embalagens visando à conscientização e educação ambiental, envolvendo os agentes de grande importância na geração de resí-duos sólidos urbanos que são: o ponto de venda e o consumidor. Numa relei-tura de modelos semelhantes observados fora do Brasil e em alguns poucos casos observados no país, este modelo pretende evidenciar a importância da participação ativa da comunidade nas questões ambientais e, também, avaliar a aceitação quanto a mudanças de hábitos. O supermercado foi selecionado para a implantação do sistema por ser um local de grande concentração de embalagens com destino, principalmente, às residências dos consumidores.

No caso específico deste projeto, e em análise aos perfis dos supermercados instalados na cidade de Curitiba, observou-se que uma rede, considerada de médio porte, se diferenciava também por ter um trabalho de inclusão social. Neste, emprega jovens com deficiência auditiva ou deficiências mentais leves para auxiliar nas atividades de empacotamento e transporte de compras, além de outras atividades consideradas condizentes com suas possibilidades. Nes-te contexto, julgou-se que um supermercado que se interessa pelas questões sociais, poderia estar interessado a discutir também as questões ambientais. O pressuposto foi confirmado e o supermercado aprovou a iniciativa se predis-pondo a ser parceiro do projeto.

Sendo assim, foi definido que a nova proposta seria implantada no novo su-permercado da rede, que estava ainda sendo construído. Além da campanha publicitária desenvolvida pela agência de publicidade desta rede de supermer-cados, envolvendo folders e divulgação na mídia, outras estratégias foram tra-çadas para garantir a eficácia do sistema. Quinze dias antes da inauguração, os funcionários começaram a ser treinados para a ação ter a maior abrangência de entendimento e apoio possível.

Três grupos de funcionários foram organizados, envolvendo diferentes setores: operação e fiscalização de caixa, empacotamento, segurança, CPD (Central de Processamento de Dados), padaria, frutas, legumes e verduras, frios, confei-taria, açougue, cancelista e zeladoria. Nestes treinamentos, os funcionários obtiveram informações sobre os graves problemas ambientais da nossa socie-

dade, com destaque às questões ligadas à geração e descarte de resíduos de embalagens. Posteriormente, conheceram os propósitos do projeto do Caixa Ecológico e seu sistema de funcionamento.

Visando facilitar o atendimento ao consumidor, foi elaborado um material im-presso para ser entregue às operadoras de caixa, indicando os procedimentos operacionais para o atendimento e sugestões de algumas embalagens para descarte.

Na instalação, o check-out destinado ao funcionamento do Caixa Ecológico foi diferenciado dos demais pela cor verde onde então, o consumidor é convidado a participar da iniciativa, por meio de duas ações: 1 - trazer de casa sua própria sacola para colocar algumas de suas compras, visando à diminuição de saco-las plásticas enquanto resíduos em aterros sanitários, reduzindo a poluição. O Caixa Ecológico possui uma sacola plástica diferenciada quanto à cor e a informação gráfica, o que distingue a participação do cliente em relação aos demais check-outs.

No entanto, a intenção é que cada consumidor utilize o mínimo de sacolas necessárias; e 2 – descartar, nos containers apropriados ao lado do caixa e conforme sua própria escolha, embalagens que não há necessidade de serem levadas com o produto, como: invólucros, pacotes com mais de uma emba-lagem, embalagens tipo blister, entre outras. Esta ação diminui o volume de resíduos sólidos gerados nas residências e nos estabelecimentos comerciais, sem destino planejado.

Uma estratégia considerada de grande importância foi o esclarecimento ao cliente de que as embalagens são destinadas à reciclagem e o valor arrecadado é revertido para uma instituição filantrópica, selecionada a cada três meses. Este procedimento visa esclarecer que o supermercado não tem lucro com as embalagens deixadas nos containers e pelas quais ele, cliente, acabara de pa-gar. Sendo assim, após o encerramento da passagem das compras é visualizado na tela do check-out o número de embalagens de plástico e de papel deixado pelo cliente e o nome da instituição filantrópica que será beneficiada pelo va-lor do montante das embalagens arrecadadas e encaminhadas à reciclagem.

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Pesquisa com os consumidores

Para a avaliação do sistema foi aplicado um questionário padrão junto aos con-sumidores que utilizam o check-out para constatar a aceitação ou não da ini-ciativa. Os procedimentos de campo foram realizados no período de 10 a 31 de outubro de 2006 onde foram entrevistados 350 consumidores, que registraram suas compras no Caixa Ecológico, em diferentes horários de visitação à loja.

A pesquisa constatou a aceitação do consumidor, que pelo ineditismo da inicia-tiva, não conhecia o Caixa Ecológico, porém se predispõe a participar e apoiar a idéia. Dos clientes entrevistados, a maioria, ou seja, 57% fazem compras em supermercado uma vez por semana e destes, 50% costumam fazer suas com-pras neste supermercado. 83% afirmaram que dariam preferência a este su-permercado pela iniciativa do Caixa Ecológico. Pelo fato da recém inauguração e os sistemas de divulgação estar em processo de implantação na época da realização da pesquisa, 97% dos entrevistados souberam do Caixa Ecológico na própria loja. 100% dos entrevistados afirmaram que voltariam a utilizar o caixa e 51% realizaram algum tipo de contribuição, conforme o Gráfico 1.

Gráfico 1 – Porcentagem das contribuições realizadas no Caixa Ecológico

Quanto ao perfil dos consumidores, a maioria dos entrevistados (60%) é do sexo feminino, com média de idade entre 41 a 50 anos e grau de escolaridade superior (Gráfico 2).

Gráfico 2 – Porcentagem do grau de instrução dos consumidores entrevistados

A renda familiar é na faixa de 9 a 13 salários mínimos (sendo 1 salário mínimo correspondente à U$ 870) demonstrando que os freqüentadores do supermer-cado são de classe média alta. As ocupações são bastante diversificadas, ha-vendo um pequeno destaque para aposentados(as) e donas de casa. A maioria reside no bairro da loja ou em bairros próximos.

Em pergunta aos entrevistados quanto a sugestões sobre o Caixa Ecológico, os resultados foram os seguintes: a) 3 pessoas fizeram referência à sacolas, com as seguintes observações: “O supermercado deveria vender sacolas de trans-porte com a logomarca da rede”; “As sacolas plásticas deveriam ser biodegra-dáveis” e “O supermercado deveria ter sacolas de tecido reutilizáveis”; b) 2 pessoas afirmaram que realizam a separação de resíduos em casa; c) 1 pessoa sugeriu que todos os caixas deveriam ser ecológicos; d) 1 pessoa declarou que o supermercado deveria instalar local próprio para resíduos especiais; local para colocar resíduos trazidos de casa.

Diante destes resultados, decidiu-se por realizar uma pesquisa qualitativa com as operadoras de caixa, ou seja, funcionárias que entraram diretamente em contato com os consumidores, e assim poder checar a veracidade das infor-mações, bem como detectar necessidades de mudanças e/ou adaptações. A

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pesquisa foi realizada com dois grupos: o grupo das operadoras que trabalham no primeiro turno (09h00 às 15h30) e o grupo das operadoras do segundo turno (15h30 às 10h00).

Averiguou-se que o grupo do segundo turno é mais pessimista em relação ao Caixa, alegando que muitas pessoas não estão dispostas a deixar suas emba-lagens. Segundo as operadoras, estes clientes afirmam já participar da coleta seletiva em casa ou informam que preferem trazer as embalagens vazias numa próxima vez. O grupo do primeiro turno também recebe respostas negativas quanto à colaboração do cliente, no entanto, não considera que esta atitude é da maioria. Algumas informam ter clientes “fiéis” e que quando chegam ao Caixa Ecológico já estão familiarizados com a participação.

Uma das hipóteses levantadas para este fato ocorrer é que, segundo observa-ção na loja, os clientes que freqüentam os horários do segundo turno, geral-mente estão com mais pressa – são normalmente clientes que estão saindo do trabalho e indo para a casa - do que os clientes que fazem suas compras em horários correspondentes ao primeiro turno, e bem por isso não estão dis-postos a perder o mínimo tempo ouvindo explicações ou descartando suas embalagens. Na opinião das operadoras, os clientes se sentem constrangidos em responder que não querem usar o Caixa ou que não trarão suas próprias sacolas e assim, respondem positivamente às questões da pesquisa. Porém, na prática, a atitude nem sempre corresponde a estas respostas.

Pode-se observar que o consumidor não está familiarizado com iniciativas des-ta natureza, evidenciando a necessidade de se ampliar o processo de infor-mação e divulgação da proposta, bem como desenvolver mecanismos que o estimulem a mudar seus hábitos.

Estes resultados podem ser comparados aos de outra pesquisa realizada por Chaves e Batalha (2006), que analisou a relevância dos Centros de Coleta de embalagens recicláveis como fator de atração de clientes em supermercados. Esta pesquisa observou as atitudes dos consumidores em uma rede de hiper-mercados com lojas em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Esta rede estabeleceu uma parceria com uma recicladora de alumínio, para juntos reco-lherem embalagens descartadas e associarem a imagem das empresas com a proteção do meio ambiente, aumentando conseqüentemente o fluxo de

pessoas nas lojas. Nos resultados da pesquisa constatou-se que a existência de Centros de Coleta não foi um fator que influenciou a escolha do local de compra pelos consumidores. Os fatores considerados influenciadores foram: a proximidade ao local de trabalho e os fatores preço e variedade. Alguns entre-vistados alegaram que não utilizaram o Centro de Coleta do hipermercado por-que fazem a coleta seletiva em seus condomínios e outros doam seus resíduos às cooperativas de catadores, pois alegam estar fazendo também uma contri-buição social. Esta pesquisa também ressalta a importância de campanhas de incentivo que ampliem o processo de divulgação e motivação dos clientes.

4 Resultados e discussões

O levantamento dos resíduos descartados foi realizado por meio do sistema de controle instalado pela equipe da CPD – Central de Processamento de Dados do supermercado. A Tabela 1 apresenta a quantidade média de embalagens descartadas no período de 10 de outubro a 30 de novembro de 2006.

Tabela 1 – Quantidade de embalagens descartadas

Fonte: Dulce AlbachNota: As pesagens foram realizadas conforme a disponibilidade do supermercado.

Na primeira semana foram descartadas 1547 embalagens. Nos 30 dias subse-qüentes o volume caiu para 1268. Embora o volume de embalagens descarta-das no Caixa Ecológico, tenha diminuído, o número de freqüência de clientes permaneceu constante, segundo dados do supermercado. O número total de embalagens descartadas nestes 52 dias analisados é de 3212, sendo 1747 em-

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balagens de plástico e 1455 de papel. A quantidade de cupons de compras registrados em toda a loja foi de 62.842 sendo que destes, 8.954 são do Caixa Ecológico, que se evidencia como o mais utilizado pelos clientes, independen-temente de realizarem alguma contribuição no momento da compra. Isto se dá em função do posicionamento do caixa no lay-out da loja, estando situado em local de fácil acesso e circulação.

Diante deste quadro de valores, e embasados na importância que todos os envolvidos neste projeto acreditam que ele signifique, concluiu-se que é ne-cessário se estabelecer outras atitudes que, associadas ao Caixa Ecológico via-bilizem a somatória de um valor mais significativo para ser doado à instituição filantrópica. Sabe-se que a maior preocupação desta proposta são as questões ambientais, no entanto, medidas de convencimento do consumidor são impor-tantes para conquistar a participação.

A primeira alternativa definida foi a instalação de lixeiras destinadas à coleta seletiva, tanto internas como externas, nos supermercados da rede em ques-tão. Por isto, novas ações de informação estão sendo planejadas para cons-cientização e colaboração dos envolvidos, como palestras e acompanhamento de atitudes no local.

O volume interno de resíduos gerado em todas as lojas da rede é significativo e não possuía até aquele momento um sistema de coleta planejado (A rede tem um sistema de gerenciamento de resíduos apenas para seus resíduos rela-cionados às mercadorias). As lixeiras foram instaladas nas quatro lojas da rede situadas em Curitiba. Com esta iniciativa, o total dos resíduos gerados pelas lojas terá um destino ambientalmente correto além de se somar aos resíduos do Caixa Ecológico.

Como já abordado anteriormente, o valor arrecadado com as embalagens re-cicladas deve ser revertido a instituições filantrópicas. O critério estabelecido é que o local seja cadastrado na Receita Federal e na Fundação de Ação Social (FAS), comprovando assim prestar os serviços de assistência a que se propõe e também que necessite de recursos financeiros.

Processo avaliativo

Neste período de funcionamento do Caixa Ecológico e em análise qualitati-va ao comportamento tanto dos funcionários do supermercado, dos clientes como da comunidade entorno, pôde–se concluir que um fator a ser melhor desenvolvido é a divulgação. Para isto, uma hipótese seria a elaboração de uma Campanha de Incentivo ao Caixa Ecológico envolvendo promotores para auxiliar no processo de esclarecimento e convencimento da população, em as-sociação ao fornecimento de brindes promocionais.

Outra media que favoreceria a divulgação e adesão seria a instalação de um Caixa Ecológico nas demais lojas da rede em Curitiba. Desta forma, todos os clientes, independentemente de qual loja fizessem suas compras, teriam a possibilidade de descartar suas embalagens e conseqüentemente conhecer a proposta. Este procedimento também promoveria o aumento da quantidade de embalagens descartadas diariamente.

Observou-se que além destas, outras ações também agregariam qualidade e ampliação do sistema:

- Aquisição de sacolas em tecido para serem comercializadas na loja e/ou oferecidas aos clientes como prêmio a uma determinada quantidade de cupons do Caixa Ecológico, para que esta sacola seja utilizada nas compras substituindo as sacolas plásticas; - Instalação de um sistema de embalagens retornáveis de produtos de limpeza com desconto em troca da embalagem vazia; - Desenvolvimento de novos displays para as prateleiras expondo ade-quadamente embalagens unitárias, reduzindo a quantidade de embalagens coletivas; - Parcerias com os fornecedores do supermercado, ampliando a par-ticipação e efetivando a viabilidade econômica do projeto. Por exemplo, por meio de apelos próprios para distinguir seus produtos e suas embalagens em associação ao Caixa Ecológico.

Numa abordagem mais abrangente, o sistema pode se expandir no sentido de sensibilizar os fabricantes em relação aos projetos de design de suas emba-lagens, revendo materiais e processos de forma mais aprofundada enquanto análise de ciclo de vida.

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5 Considerações finais

Os resíduos sólidos urbanos compostos por embalagens representam uma grande ameaça a proteção ambiental se não forem adequadamente observa-dos e inseridos nas análises do ciclo de vida destas embalagens. Estas análises acompanham o projeto da embalagem, desde a especificação de seus mate-riais de fabricação, os processos utilizados, sistemas de distribuição, aquisição pelo consumidor, uso, descarte e processos de destinação e/ou tratamento. Trabalha-se assim num círculo fechado onde todas as etapas visam a sustenta-bilidade e a mínima agressão ao meio ambiente.

Porém, para que este ciclo seja eficiente, há necessidade de se estabelecer responsabilidades e comprometimento dos envolvidos neste processo. Desde o responsável pela extração da matéria-prima, passando por todas as demais etapas até o responsável em organizar um destino correto no final do percurso. Pode-se perceber que se configura por um trabalho em equipe e/ou uma ação de coletividade onde a soma dos esforços se complementam.

Este projeto pretende, com a instalação do Caixa Ecológico, representar uma parcela de colaboração no final do ciclo de vida das embalagens domésticas e assim atingir o maior número possível de envolvidos para o questionamento de suas atitudes e o comprometimento com as mesmas em relação a proteção ambiental.

O ponto de venda supermercado, local de grande concentração de embalagens, fornece um local próprio para o descarte de embalagens para a reciclagem. Este procedimento confere ao estabelecimento o caráter de ser ecologicamen-te comprometido. Envolve os consumidores (responsáveis pelo descarte das embalagens) que se vêem instigados a repensar suas atitudes e seus hábitos. Envolve as recicladoras que vislumbram mais uma fonte de matéria-prima. En-volve os supermercados concorrentes que observam com atenção a iniciativa e analisam a possibilidade de também aderi-la.

Envolve instituições filantrópicas que podem associar as análises de suas ações sociais também às ambientais. Envolve o setor público que vê com simpatia atitudes que deleguem aos empresários e a comunidade, responsabilidades que até então são atribuídas apenas ao estado. Envolve os fabricantes de em-

balagens que precisam acompanhar os anseios de seu público alvo e que, se suas atitudes mudarem terão que ser satisfeitas.

O ciclo é amplo e está num processo inicial. Muitos não colaboram, ou por preguiça, descaso, dificuldade de modificar hábitos, desinteresse ou por sim-ples desinformação. No entanto, o Caixa Ecológico, não é mais considerado experimental e a rede de supermercado está analisando a expansão do con-ceito para as demais lojas. O prazo para a consolidação de mudanças quanto ao destino ambientalmente correto e ideal para os resíduos de embalagens domésticas é incerto, porém uma parcela de contribuição está lançada com o Caixa Ecológico.

Referências

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LEFTERY, Chris. Plastic: Materials for Inspirational Design. Mies (Switzerland): Rotovision, 2001.

MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis. Os requisitos

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MESTRINER, Fabio. Design de Embalagem – Curso Básico. São Paulo: Makron Books, 2001.

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Avanços no Design de Produtos a base de Resíduos de Vidro Reciclado

Dulce Maria de Paiva FernandesUniversidade Federal do Paraná, [email protected]@ufpr.br

Palavras-chave: design para sustentabilidade,reciclagem em vidro

Este artigo apresenta parte dos resultados obtidos em pesquisas desenvolvidas ao longo dos últimos 10 anos cujo objetivo foi contribuir para o desenvolvimento de tecnologias simples e de baixo custo, utilizando resíduos descar-tados de vidro e visando a participação de designers frente as constantes demandas relacionadas à sustentabilida-de ambiental, tecnológica, social e econômica.

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1 Introdução

A abordagem dada ao que se chama de desenvolvimento sustentável local, versa sobre as questões sociais, econômicas e culturais, tecnológicas e de de-sign, envolvendo o uso de matérias primas recicladas, seu processamento (com as implicações energéticas e de resíduos que apresenta), os produtos gerados, sua distribuição, seu uso e sua re-utilização após descarte.

Também apresenta uma abordagem em construção, que propõem a criação de uma rede cooperativa da qual participam: pesquisadores de tecnologias apro-priadas, através de instituições de pesquisa; cooperativas de produção, atra-vés de redes solidárias comunitárias; designers, com know how e competência projetual na área dos objetos a serem produzidos e que, com isto estimulam sua comercialização em canais eficazes (“que vendem”); marketing e comercia-lização com comprovada promoção dos produtos e da rede cooperativa como um todo (voltada aos públicos-alvo que comprovadamente buscam este tipo de produto com selo social e ambiental). Esta rede, ainda não implantada, trabalharia inicialmente com tecnologia desenvolvida pelo Laboratório de Ce-râmicos da UFPR, com vidros reciclados.

A titulo de exemplificação também são apresentados alguns produtos desen-volvidos pela autora e por alunos do curso de Design de Produtos da UFPR, realizados a partir da técnica desenvolvida. Trata-se ainda de uma pesquisa experimental que precisa ser testada em unidade piloto, visando verificar sua viabilidade econômica em escala de produção para averiguar uma possível im-plantação industrial.

2 Sustentabilidade e a Reciclagem de Resíduos

O desenvolvimento econômico vem estimulando o consumo e promovendo o crescimento do descarte de produtos e conseqüentemente de resíduos. A reciclagem torna-se necessária, por implicações ambientais (poupar recursos naturais e minimizar a geração de agentes poluentes), questões de espaço (áreas disponíveis para aterros), e também pela vantagem de produção de no-vos produtos com um menor custo (sejam energéticos ou de matéria-prima, entre outros).

O projeto dos produtos utilizando sucata, como, por exemplo, a de vidro, se insere no conceito sustentável por buscar desenvolver e produzir novos pro-dutos reciclando parte dos resíduos descartados pela sociedade utilizando téc-nicas de produção simples, repensando todo o ciclo de vida do produto, não agredindo o meio ambiente, e procurando o bem estar social.

Na proposta de um fluxo eco industrial fechado, uma determinada empresa controla a totalidade de um ciclo de vida de um produto. Segundo Kazazian (2005) uma vez descartado pelos produtores ou usuários, este produto é “re-manufaturado”, atualizado, para ser de novo colocado no mercado ou desmon-tado para a reutilização de algumas peças em novos produtos. Esta abordagem industrial já é praticada em diversos setores.

O esquema apresentado acima pode ser do tipo linear ou circular. A proposta circular de Ademe (1999, aput Kazazian, 2005), é muito mais ampla que a do tipo linear tendo em vista que a vida do produto e de seu futuro é abordada de forma articulada e os atores tornam-se mais co-participes. Cabe destacar que, neste modelo, idealmente todos os elementos de um produto circulam indefinidamente [seja à re-utilização, recuperação e geração de energia, inci-neração, reciclagem, ou compostagem (abrangendo só os orgânicos, não os inertes como o vidro e outros materiais)], a Figura 1, mostra um modelo intitu-lado “Roda da Eco-concepção”, proposto pelo Manual Promise do Pruma, O2 (1996, aput Kazazian, 2005).

Reciclar assemelha-se ao processo da cadeia alimentar que possui uma lógica bastante sustentável, assim, para validar as ações relacionadas ao ciclo de vida de um produto, deve-se realizar uma análise ampla já que, em certos casos, determinadas propostas de reutilização ou reciclagem podem criar um impac-to muito mais pesado ambientalmente, por exemplo, com consumo de energia muito mais elevado. Neste sentido, criar produtos reciclados com elevado va-lor formal, de estima e perenidade de uso pode garantir uma maior permanên-cia do mesmo no mercado e junto ao consumidor, e ampliar substancialmente a vida das matérias-primas utilizadas.

Por outro lado cabe destacar que grande parte dos consumidores são cada vez mais sensíveis à aquisição de produtos que economizem matérias-primas e energia, permitindo uma melhor gestão dos resíduos. Estes consumidores

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também utilizam e mantém produtos consigo por mais tempo, ampliando sua utilidade ou vida útil. Geralmente são produtos com valores formais, sociais e culturais mais perenes.

No panorama internacional, percebe-se que houve um grande avanço na reci-clagem de resíduos. Em países da Europa e no Japão a reciclagem tem aumen-tado a cada ano e isso é justificado não só pela escassez de espaço, que eleva o custo do armazenamento, como pela escassez de matéria-prima. No Brasil, discussões de logística e viabilidade econômica permeiam o setor. É preciso haver um programa educacional intenso para que os resíduos sejam separados de forma a não sofrerem contaminação logo no descarte, sendo esta medida fundamental para a primeira etapa do processo da reciclagem.

O CEMPRE (2004), que realizou um estudo em 16 capitais brasileiras, atesta que a cidade de Curitiba, em 2004, coletou 1.770 toneladas/mês com o pro-grama de coleta seletiva, atendendo a 99,5% da população. Segundo esta ins-tituição, o custo que a coleta seletiva representa é de US$76,00* a tonelada (* US$1,00 = R$2,95 na época da pesquisa). Esse valor é seis vezes maior do que o praticado pela coleta convencional.

Dentre os materiais que compõem a coleta seletiva das cidades analisadas, segundo esta organização, os resíduos mais encontrados em porcentagem de peso foram: 35% de papel e papelão; 18% de rejeitos; 16% de vidro; 15% de plástico; 8% de metais; 4% diversos (pilhas, baterias, borracha, madeira, etc.); 2% de alumínio e 2% de longa vida.

Figura

1. Roda da Ecoconcepção (Fonte: Manual Promise do Pruma 1996, O2 France in: KAZA-FiguraZIAN, 2005)

Estes dados são questionáveis comparados com a Pesquisa Nacional de Sa-neamento Básico (IBGE, 2000), que mostrou o seguinte perfil qualitativo do lixo gerado no Brasil: 52% matéria orgânica, 25% de papel e papelão; 16% de outros; 3% de plástico; 25 de metal e 2% de vidro. Desconsiderando a matéria orgânica temos 53 % de papel e papelão, 33 de outros materiais, 6 % de plásti-cos, 4 % de metal e 4% de vidro.

Assim, pode-se dizer que frente a desigualdade sócio-econômica e a grande variabilidade na densidade populacional dos diversos municípios brasileiros, surgem dúvidas, quanto à tonelagem de lixo gerada diariamente pela popula-ção no Brasil, já que muitas vezes estes dados visam atender interesses públi-cos ou privados alem de imediatistas.

O investimento em coleta seletiva pode justificar-se na medida que gere retor-no econômico ou mesmo monetário, isto quando o valor do resíduo superar os investimentos em lixões e aterros sanitários, mesmo que contrários a interes-ses ambientais e sociais mais amplos.

3 Reciclagem de vidro

Segundo a ABRE - Associação Brasileira de Embalagens (2006), e o CEMPRE - Compromisso Empresarial para a Reciclagem (2006), nos EUA 40% de vidro é reciclado, o equivalente a 2,5 milhões de toneladas; na Alemanha, em 2001, 87%, o equivalente a 2,6 milhões de toneladas; na Suíça, 92%; Finlândia 91% e Noruega e Bélgica, 88%. Segundo dados da ABIVIDRO (2006), em 1991, a por-centagem de vidro reciclada no Brasil em 2001 era de apenas 15% e a partir de 2003, esse número subiu para 45%, significando 423 mil toneladas, este per-centual manteve-se estável até o ano de 2005 e avançou para 47% em 2007.

Sabe-se que o vidro é um material 100% reciclável. No entanto, o mesmo não é biodegradável, não é absorvido pela natureza, criando um problema ambiental quando simplesmente descartado, pois seu acúmulo representa um exponen-cial crescimento de lixões e aterros sanitários.

O país “produz em média 890 mil toneladas de embalagens de vidro por ano e utiliza apenas cerca de 45% de matéria reciclada na forma de cacos (390 mil

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toneladas por ano). Parte deles foi gerado como refugo nas fábricas e parte retornou por meio de coleta”. (CEMPRE, 2006). Conforme a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB, 2000), na coleta de cerca de 228.413 toneladas de resíduos sólidos diários, 125.258 toneladas referem-se aos resíduos domici-liares, dos quais apenas 2% referem-se a vidros em geral.

Segundo CHAVES (2000), em relação à utilização de matérias primas virgens, o vidro reciclado apresenta uma economia de energia que pode variar de 4% a 32%; 20% na redução da poluição do ar; 80% na redução do volume de rejeitos de mineração; e 50% na redução do consumo de água. As usinas de reciclagem adquirem o vidro a ser reciclado comprando-o de sucateiros ou “catadores” na forma de cacos separados previamente por cores ou o recebem diretamente de campanhas de reciclagem.

Em pesquisa realizada junto a catadores da comunidade da Vila Zumbi, em Curitiba, no ano de 2008, pode-se constatar que hoje não há interesse em cole-tar vidros descartados, em virtude do valor irrisório pago pelo mesmo, do risco de ferimentos e do grande volume ocupado pelo vidro coletado (nos carrinhos e nos depósitos comunitários).

Segundo dados do CEMPRE (2006), o preço médio pago pela tonelada de vidro incolor limpo variava de 65 a 224 reais. E o preço da tonelada do vidro colorido variava, em média, de 45 a 120 reais. Observa-se que este valor caiu para o vidro incolor e subiu para o colorido CEMPRE (2009), de qualquer forma ainda continua pouco atrativo aos catadores em comparação com o alumínio, por exemplo, tendo em vista o valor inferior aos demais materiais coletados para reciclagem, conforme tabela 1.

Segundo Souza (1998), o custo do vidro produzido com matéria-prima virgem é praticamente o mesmo do feito com mistura de cacos. “O ideal seria que a usina de beneficiamento pudesse fornecer uma sucata de vidro com padrões de qualidade exigidos pelo comprador final, por um valor compatível, para que o produto final acabado também tivesse seu custo barateado.”(ibid).

TABELA 1 - Cotação de Preços de Recicláveis no Mercado Nacional

Fonte: CEMPRE - www.cempre.org.br, Acesso em: 26 de janeiro de 2006 e Acesso em: 20 de abril de 2009.

4 Reciclagem de vidro automotivo, de garrafas e vidraças

A grande maioria das usinas de reciclagem e processamento de vidro não re-aproveitam vidros planos automotivos. Porém, como já mencionado, a reci-clagem desse tipo de vidro é necessária devido ao grande número de peças descartadas em aterros sanitários anualmente.

Com a reciclagem do vidro automotivo, há uma diminuição do consumo ener-gético em 70% (o ponto de fusão do vidro reciclado é mais baixo nos fornos, o que também prolonga a durabilidade do mesmo), e uma diminuição da emis-são de dióxido de carbono para o ambiente. Também poupam matérias-primas naturais, como areia, barrilha (material importado) e calcário. Os veículos au-tomotivos utilizam dois tipos de vidros: vidro laminado (utilizado nos vidros de pára-brisas), e vidro temperado (utilizados nos vidros laterais e traseiros). A coleta de vidro automotivo se dá através de empresas reparadoras e/ou em-presas que compram esse material para revendê-lo em usinas de reciclagem de vidro. O preço médio pago, atualmente, pela tonelada de vidro automotivo é de apenas dez reais (Böhler, 2008). Em Curitiba, a maioria das empresas re-paradoras descarta os vidros automotivos e estes acabam tendo como destino final os aterros sanitários da cidade ou empresas de reciclagem em São Paulo.

Em 2006, incorporando técnicas de casting a procedimentos de queima utiliza-dos em técnicas de fusing, desenvolvidas com finalidade artística por Damo & Saparolli (2004), o material, obtido através de resíduos provenientes de vidros

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de garrafas de bebidas, vidraças e vidros automotivos “temperados”, apresen-tou resultados satisfatórios em testes científicos preliminares, realizados com re-fusão entre 810-850º C (Vasques, Rocha e Fernandes, 2006). Esta técnica permitiu incorporar uma maior redução do consumo energético necessário para prepará-lo e produzi-lo, permitindo sua produção por cooperativas, em escala semi-industrial, com baixo investimento inicial.

Explorando as características do material como texturas, cor, forma, tempe-ratura, entre outras, obtidas neste processo de reciclagem, diversos produtos vem sendo desenvolvidos visando mercados cujo público-alvo comprovada-mente busca e valoriza este tipo de produto com selo social e ambiental. Al-guns produtos desenvolvidos são podem ser visualizados nas figuras 2, 3 e 4.

2. Jóias utilizando materiais alternativos associados a materiais tradicionais - Barbara FiguraFórmica e Kelly Wazur TCC Curso de Design de Produto - Fabricação própria em Centro de

Pesquisa Laboratório de Cerâmicos - UFPR, 2008 ( foto: arquivo das autoras)

3. Luminária Navie em Vidro de Garrafas Reciclado - Bruno Vinicius Kutelak Dias, Melina FiguraIleana Osik Silveira e Paola Azevedo de Andrade e Luminária com componentes modulares em Vidro Reciclado Alan Coelho e Guilherme de Mattos Alunos do curso de Design UFPR -

Fabricação própria em Centro de Pesquisa Laboratório de Cerâmicos - UFPR, 2008 ( foto: dos autores)

4. Releitura de lustre tradicional com prato e pendentes em Vidro Reciclado Bruno FiguraFernandes, Casemiro Grabias e Fernanda Suzuki Alunos do curso de Design UFPR - Fabricação

própria em Centro de Pesquisa Laboratório de Cerâmicos - UFPR, 2008 ( imagens e foto: dos autores)

Os resultados apontam possibilidades inovadoras de aplicação deste material com base em ensaios físicos, químicos e mecânicos realizados em 2006 e 2007, com corpos de prova. Os resultados positivos comparados aos de corpos de prova de vidros planos, produzidos por processos de flutuação (vidro float, de-senvolvido em 1952, por Pilkington), podem vir a garantir a certificação deste novo material.

5 Unidades Piloto em vidro reciclado

As empresas reparadoras de vidro automotivo, bem como redes de restauran-tes (fornecendo garrafas de bebidas vazias) ou ainda montadoras (vidro auto-motivo descartado por crash test), poderão associar-se ao projeto, entregando o vidro nas unidades produtivas, tendo em vista que a legislação vigente as torna co-responsáveis da sucata gerada. O capital inicial para instalação e ma-nutenção da estrutura necessária para o funcionamento das cooperativas pro-dutivas populares poderá advir de empresas e/ou seus empregados, apoiados em leis sócio-ambientais vigentes, que permitem descontos de impostos.

Instituições governamentais como Prefeituras poderão auxiliar com consigna-ção de terrenos e pessoal técnico especializado (contabilidade, secretaria, en-tre outros) para a constituição e manutenção das cooperativas. Orgãos como SEBRAE, poderão oferecer treinamento e linhas de crédito especiais, a exem-plo do que já ocorre para micro e pequenas empresas.

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Designers, neste primeiro momento, participam desenvolvendo produtos com foco nas demandas de mercados potenciais e emergentes, reconhecendo a importância da concepção de produtos com preços que valorizem o trabalho dos produtores (cooperados), bem como integrando suas competências junto a toda a rede. Salientamos que a postura de “coordenador” muitas vezes assu-mida por designers em outros modelos, deve ser abandonada, tendo em vista que este profissional não possui formação adequada para isto. Existem exce-ções, mas estas podem ser atribuídas a “indivíduos” que possuem a caracterís-tica de coordenação e liderança em si, já que a formação brasileira do designer como bacharel, não contempla conteúdos que o habilitem em pedagogia, psi-cologia, administração, sociologia, entre outros, que poderiam qualificar este profissional para a função de líder ou mediador devidamente preparado.

Finalmente, cabe destacar que os canais de comercialização são parte funda-mental da rede. Profissionais de marketing e vendas deverão estar sempre presentes, ou junto as Instituições de Pesquisa, ou através de ONGs, ou ainda na própria empresa responsável pela comercialização. Como exemplo, as lu-minárias “línea Gracie”, criadas por Dulce Fernandez, em 2006, as peças foram montadas em bases fabricadas e comercializadas pela empresa Plano de Luz, que atua e participa de feiras e rodadas de negócios no mercado nacional e internacional desde 1990.

6 Conclusão

O desenvolvimento sustentável no contexto brasileiro passa diretamente pela inclusão social, já que uma sociedade para que possa se denominar sustentá-vel não pode conviver com níveis de desigualdades tão evidentes como o que nos deparamos atualmente. Esta urgência social muitas vezes coloca determi-nados “atores”, públicos e/ou privados, como protagonistas principais de um processo complexo e que deveria ser mais articulado. Para contribuir além das questões ambientais e da viabilidade econômica, o desenvolvimento sustentá-vel inclusivo deve desenvolver novos modelos de relação produtiva, social, cul-tural e organizacional/administrativo. Neste sentido, o trabalho cooperado em rede pressupõe uma construção mais abrangente da qual participem diversas competências complementares (Figura 7), (ABBONIZIO & FERNANDES, 2007).

7. Modelo circular de rede cooperativa proposto por ABBONIZIO & FERNANDES, 2007Figura

Com relação a reutilização de resíduos, caso do vidro reciclado, aqui apresen-tado sob a ótica da sustentabilidade, preservação de reservas naturais e re-dução da emissão de poluentes e dos recursos energéticos, associada a pro-moção de produtos que tenham maior longevidade ocasionando a redução de descartes, aponta uma ação concreta, factível e necessária. Esta proposta, integrada a real possibilidade de geração de oportunidade de renda deverá ser devidamente avaliada e monitorada a curto e médio prazo após sua completa implementação através de uma unidade piloto.

Para isto também foram realizados estudos em 2008, visando possíveis auto-mações e redução de custo no processamento do vidro automotivo tempe-rado, da recepção do vidro quebrado ao acabamento das peças. Também a inclusão da separação magnética no processo de limpeza do vidro para melho-rar sua qualidade e transparência e ensaios de reutilização dos objetos confec-cionados com esta técnica e que se partiram após o uso, obtendo resultados satisfatórios.

Além disto, estudos complementares para implantação de Unidades Piloto de Produção Cooperativa, como: plantas piloto; pesquisa de equipamentos mais adequados e de menor custo dentre os existentes no mercado; levantamen-to de fornecedores; diretrizes de gestão de resíduo dentro das unidades pi-loto; estudos de métodos e tempo para processamento do vidro e produção de peças; processamento controlado (limpeza, moagem, separação por gra-nulometria, lavagem, secagem) para levantamento do tempo necessário para

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o processamento e medição de porcentagens de vidro aproveitado; análise quantitativa de peças geradas para complementação dos dados sobre tempo e aproveitamento, já foram realizados.

O estudo de aplicação do vidro reciclado em novos produtos aponta para a viabilidade da utilização da técnica em unidades piloto de pequeno porte, situ-adas próximas dos locais de coleta e do mercado consumidor das peças produ-zidas, propiciando melhoria de renda e de qualidade de vida aos cooperados. Isto permitirá verificar os modelos da rede e tecnológicos propostos. A implan-tação de uma unidade piloto também deverá oportunizar o avanço constante de novas tecnologias apropriadas pelos Centros de Pesquisa e demais “atores”, visando o crescimento de suas reais contribuições sociais e econômicas.

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Panorama do design para a sustentabilidadeAn overview of design for sustainability

Liliane iten Chaves, PhDUniversidade Federal do Paraná, [email protected]

design para a sustentabilidade, inovações radicais, inovações incrementais

O presente artigo apresenta um breve panorama da evolução do design para a sustentabilidade. Inicia apresentando dois percursos possíveis para esta disciplina: através de inovações radicais ou de inovações incrementais. A partir de um reexame sobre os rumos do desenvolvimento sustentável, o artigo questiona o papel atual do designer, apresen-tando na terceira secção uma breve evolução da seleção dos materiais para o design do ciclo-de-vida do produto. As abordagens relacionadas ao design estratégico são o tema das últimas secções, onde é descrito os Sistemas Produto-Serviços e novas abordagens para o design para a sustentabilidade.

design for sustainability, radical innovations, incremental innovations

The present paper presents a brief overview of the design for sustainability evolution. Initially it presents two pos-sible rotes for this discipline: through radical or incremental innovations. Moving from a review of the routes of the sustainable development, the paper argue about the current role of designer, presenting in the third section one brief evolution from the selection of materials to the Life Cycle Design approach. The approaches related to strategic design are the subjects of the last two sections, where it is described the Product-Service System and new approaches of design for sustainability.

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1 Introdução

O papel do designer, com relação às questões ambientais, tem se tornado mais e mais importante. Este fato tem ocorrido de forma paralela à evolução sistêmica que as abordagens das questões ambientais estão assumindo nas empresas. Inicialmente, nas empresas, a introdução de requisitos ambientais era focada em algumas ações para reparar danos realizados com o processo produtivo. Em inglês usa-se o termo “end-of-pipe” para definir estes tipos de ações ao final do ciclo produtivo.

Progressivamente, compreendeu-se que resultados mais eficientes seriam al-cançados se as ações ambientais fossem incorporadas no processo produti-vo e, finalmente, observou-se que ao inserir requisitos ambientais na fase de planejamento do produto, os resultados em termos ambientais seriam mais eficazes. Em outras palavras, as ações deixaram de ser de reparo para se trans-formarem em ações de prevenção.

Assim, no momento em que o planejamento do produto passou a ser foco das ações para a busca de um menor impacto ambiental, o papel do designer assumiu uma relevância ainda maior neste processo.Hoje em dia, observa-se que o design para a sustentabilidade assumiu dois distintos percursos para res-ponder aos desafios da busca por um desenvolvimento sustentável: o caminho das inovações incrementais e o das inovações radicais.

No primeiro, o design para a sustentabilidade está se movendo no sentido de tornar mais “aplicáveis” os seus métodos e ferramentas. Isto é, as ferramentas e métodos do design para a sustentabilidade já possuem um conhecimento fundamentado e consolidado na academia e em alguns setores produtivos. Po-rém, estes métodos e ferramentas foram desenvolvidos para uso geral, o que demanda tempo para serem aplicadas em um setor ou produto específico.

O designer, neste caso, tem que interpretar e especificar seus usos para o pro-duto que está desenvolvendo. Assim, para alcançar resultados mais eficientes estes métodos e ferramentas estão sendo focados em um determinado setor, produto ou contexto. A vantagem desta especialização é a de tornar estes mé-todos e estratégias próprios para uma realidade produtiva, contemplando o inteiro ciclo-de-vida de um determinado produto. Como resultado prático, eles

serão mais facilmente inseridos, consumirão um menor tempo para sua apli-cação, uma vez que focalizarão problemas pontuais próprios da área, determi-nando com isto um menor custo para sua aplicação. Este último é um atributo bastante interessante para a aceitação dos requisitos ambientais nas empresas (Vezzoli & Chaves 2006).

O outro percurso que o design para a sustentabilidade tem assumido é o de inovações radicais, como a desmaterialização de produtos, a oferta de solu-ções através de serviços e a busca por alternativas para um consumo mais responsável.

O presente artigo apresenta algumas linhas de ação que estão sendo realiza-das nestes dois sentidos, fazendo uma breve descrição sobre a evolução do design para a sustentabilidade.

2 Desenvolvimento sustentável

Entender as razões da evolução do design para a sustentabilidade requer uma prévia e breve consideração com relação ao desenvolvimento sustentável, tema diretamente vinculado à proposta da disciplina. Tal consideração tem por finalidade compreender o novo e amplo papel do designer em relação a esta temática.

A crise do petróleo dos anos 60 fomentou as discussões sobre os problemas ambientais. Limites do crescimento, uma das primeiras pesquisas relacionadas com o problema ambiental, acordou o mundo para estas questões. Ele foi o relatório do Clube de Roma, no qual são ilustrados os três principais fatores que levaram a estes problemas ambientais: a explosão demográfica, principal-mente concentrada nos países do sul do planeta, o consumo exagerado, princi-palmente dos países do norte do planeta e a ineficiência das atuais tecnologias aplicadas (MEADOWS; et al. 1978).

Com relação ao consumo, sabe-se que 20% da população mundial consomem 80% dos recursos naturais e, portanto, os 80% restantes da população conso-mem apenas 20% dos recursos (SACHS; et al 2002).

Em 1992, a ECO-92 World Commission for Environmental and Development

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(WDED), discutiu os problemas ambientais e as possibilidades de desenvolvi-mento. Esta conferência foi uma resposta para o relatório final da Comissão Bruntland Nosso futuro Comum que teve seus trabalhos desenvolvidos entre 1983 e 1987. Nele, foi apresentado o mais usado conceito de desenvolvimento sustentável: “...é aquele que atende às necessidades do presente sem com-prometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades” (CNUMAD 1991: 46).

Desde lá, a maioria dos países criou ações para a implementação e análise de projetos de cunho ambiental. Além disto, acordos e convenções internacionais foram assinados. Mas o confronto para um desenvolvimento sustentável ainda é um desafio complexo, interligado por diversos fatores.

Também em número de três são os fatores apontados como causadores do atual problema ambiental: a explosão demográfica, o consumo ilimitado e a não eficácia das tecnologias no uso de recursos (Sachs 1994). Enquanto a ex-plosão demográfica e o consumo são fatores difíceis de sofrerem intervenção, o melhor uso de recursos tem sido gradualmente incorporado nas atividades em geral. No entanto, pontuar sobre um destes fatores tem demonstrado não ser suficiente, afinal, são argumentos inter-relacionados como mostraremos brevemente a seguir.

Para manter e permitir aos países de industrialização recente ou os não indus-trializados o mesmo padrão existente de consumo dos países ditos industriali-zados, prevê-se que será necessário multiplicar por 10 a quantidade de recur-sos atualmente existentes, em um tempo estimado de 50 anos. Esta estimativa é chamada por alguns pesquisadores de Fator 10 e representa o maior desafio para um desenvolvimento sustentável.

Em outras palavras, para se manter o padrão atual dos países, de forma sim-plória, ditos do “norte” e democratizar o consumo para os países do “sul”, de-veria ocorrer uma diminuição de 90% do consumo atual de recursos naturais, sendo que estes 10% de recursos deveriam ser distribuídos de forma igual para todos no planeta (SACHS et al 2002; Manzini 2003).

Estes números não são exatos e são suscetíveis de discussão, apesar disto, eles são importantes para evidenciar qual é a dimensão da mudança necessária

para a continuação do planeta e revelam a fragilidade do argumento sobre o direito a recursos e melhor distribuição dos bens. A partir destas reflexões é possível entender que para um desenvolvimento ser sustentável há a demanda de uma mudança radical nos modelos atuais de consumo e distribuição.

Em 2002, o Encontro Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, em Johan-nesburg (SACHS; et al 2002) introduz questões como a da sustentabilidade so-cial e ética. No evento, a sustentabilidade começa afrontar argumentos como consumo responsável e justiça social mundial. Foram incorporadas novas questões para a sustentabilidade como: direitos humanos, liberdade, paz, se-gurança, disponibilidade de recursos, direito ao emprego, educação, respeito à diversidade cultural, etc. (Vezzoli 2006a).

Assim, sustentabilidade não é mais resumida a argumentos ambientais afron-tados de forma pontual, mas é uma questão sistêmica, na qual todos os ele-mentos estão interligados. Desenvolvimento sustentável é um tema inerente a três dimensões que podem ser resumidos nos três pilares da sustentabilidade as dimensões econômica, ambiental e social (FIKSEL 2001):

- Ambiental: desenvolvimento que não excede os limites de resililência da biosfera e da geosfera (Vezzoli & Manzini 1998). - Social: desenvolvimento que permite a mesmo nível de “satisfação” para as gerações futuras e uma igual distribuição de satisfação para todos no mundo. - Econômica: desenvolvimento com soluções passíveis de serem prati-cadas e aplicadas.

Muitos são os percursos que possibilitam a transição para a sustentabilidade. Alguns estão apoiados em soluções técnico e tecnológico, outros se baseiam em soluções sócio-éticas. Claro está que a mudança necessária demanda ino-vações. Estas inovações podem ser incrementais ou radicais.

Por inovações incrementais compreendem-se aquelas formadas por pequenas mudanças no processo e nos produtos. Elas acontecem de forma contínua no setor produtivo e dependem de uma soma de combinações como, por exem-plo, da demanda destas inovações e das possibilidades tecnológicas (Tischner, U. & Verkuijl M. 2006). As inovações radicais não são contínuas, elas rompem

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padrões, e estão, geralmente, ligadas a novas descobertas feitas em empresas, universidades ou centros de pesquisa. Elas aparecem e propiciam uma profun-da transformação nos comportamentos, na sociedade e na tecnologia. Para ilustrar melhor, um exemplo de inovação radical foi a criação da Internet.

Esta breve e superficial descrição sobre os rumos do desenvolvimento sus-tentável buscam sustentar o artigo nas conseqüentes derivações que o design para a sustentabilidade tem assumido, impelindo o leitor a pensar sobre os possíveis papéis que o designer pode assumir para auxiliar nesta necessária transição.

3 Design para a sustentabilidade

Por design para a sustentabilidade compreende-se a atividade de design (seja em relação à prática, à educação ou à pesquisa), que dá uma contribuição para o desenvolvimento sustentável (Manzini & Vezzoli 1998).

Após o que foi descrito na secção anterior, pode-se vislumbrar dois níveis de interferência do designer para ajudar na transformação para um desenvolvi-mento sustentável: no redesign do existente, quando se trata de produtos/processos, ou em uma abordagem que contemple mudanças radicais, consi-derando a desmaterialização, como por exemplo, com o projeto de Sistemas Produto-Serviço ou mudanças dos padrões atuais de consumo. Com relação a estas duas possibilidades, Hemel (1998: 18), em sua tese de doutorado, deno-mina estes dois extremos de posicionamento do designer perante o desenvol-vimento sustentável de “evolucionário” e “revolucionário”.

Seguindo este “mapa” traçado por Hemel, os pesquisadores que se dedicam ao extremo evolucionário estão trabalhando para melhorar o modelo corren-te de produção. Para estes pesquisadores e profissionais uma interrupção no atual modelo não seria possível e aceito. A mudança necessária deverá, então, ser alcançada através de um incremento do modelo existente, sem grandes rupturas, numa “evolução” do existente.

Para isto, estes pesquisadores e profissionais estão melhorando os métodos e ferramentas do design para a sustentabilidade existentes, para que estas pos-sam atingir resultados mais eficientes e eficazes. Este âmbito do design para

a sustentabilidade tem sido chamado de diversos nomes, com pequenas va-riações nas abordagens: ecodesign (Charter & Tischner 2001; Brezet & Hemel 1997; Hemel 1998; Lofthouse 2001), ecoredesign, design for environmental ou DfE (Lewis; et al. 2002), Life Cycle Design (Vezzoli & Manzini 1998; EPA 1993), cradle-to-grave design (McDonought & Braumgart 2002).

A mudança evolucionária já é bastante presente em nosso dia-a-dia. A mídia, assim como as empresas, o comércio compreenderam sua importância e estão incorporando ações pequenas, mas favoráveis a uma diminuição do impacto ambiental. É, portanto, uma possibilidade já sendo implementada e bastante corrente. Ela acontece, principalmente, porque não faz grandes rupturas com os padrões atuais. Mas, exatamente por isto, não cria mudanças radicalmente significantes, nem relacionadas aos impactos ambientais causados pelos pro-dutos, menos ainda com relação às mudanças sócio-éticas.

Voltando ao discurso de Hemel (1998), a posição revolucionária afirma que a continuação dos modelos de produção, mesmo considerando-se em uma abordagem sistêmica, não é eficaz o suficiente para o tipo de mudança neces-sária para a sustentabilidade. Apenas uma forma revolucionária poderia atingir este objetivo, onde devem ser contempladas além da dimensão ambiental, as dimensões econômica e social da sustentabilidade.

Vários autores estão trabalhando neste sentido usando nomenclaturas diver-sas: design for sustainability (Manzini & Vezzoli 1998), sustainable product design e sustainable design (Tischner & Charter 2001), sustainable projection (Lewis; et al 2002). Esta posição revolucionária pode ser considerada como uma abordagem estratégica do design, no qual são consideradas questões do desenvolvimento sustentável. Manzini (2003: 231) tem assumido uma posição claramente revolucionária. Para ele design para a sustentabilidade é “...uma atividade de design que tem por objetivo encorajar inovações radicais orientadas para a sustentabilidade, dirigindo o desenvolvimento de sistemas socio-técnicos para serem de baixa intensidade material e energética e com elevado potencial regenerativo”.

Ainda para este autor, o design para a sustentabilidade, “exige sempre de nós a consideração do inteiro sistema em sua complexidade social, tecnológico e na-

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71Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

tural” . Para ele, considerar uma dimensão simplesmente técnica, não possibi-litaria o alcance da sustentabilidade. Seria fundamental considerar a dimensão social, porém, com maior profundidade do que como vem sendo considerada nos projetos atuais de inovação e design.

Outros autores, anteriores a Manzini, já alertavam sobre a importância destas considerações sociais, de comportamento e sobre cultura, na atividade do de-signer, tais como: Papaneck (1985), Whiteley (1993) ou mesmo Schumacher (1983) que, apesar de não ser designer, propunha novos modelos para a apro-priação da tecnologia. Estes autores já clamavam a responsabilidade social do designer, mostrando uma visão crítica em relação aos seus papéis no futuro da vida do planeta.

Apesar destas posições descritas serem antagônicas, alguns autores como Charter & Tischner (2001) e Vezzoli (Manzini & Vezzoli 1998) acreditam que as duas posições não são antagônicas. Esta mesma é a posição assumida para a autora deste artigo. Existem múltiplas e diferentes abordagens para se chegar a um desenvolvimento sustentável, entre os extremos da abordagem “evolu-cionária” e “revolucionária”. É clara a necessidade de uma mudança drástica, mas ao mesmo tempo, esta mudança não pode excluir uma continuidade do presente modelo de produção. Assim, todos os esforços, sejam na área técnica ou relacionados com mudanças sociais e de comportamento, são aceitos como possibilidades viáveis.

A seguir, o artigo descreve algumas abordagens do design para a sustentabili-dade, tendo como fio condutor à evolução desta disciplina:

- seleção dos materiais, - abordagem do Life Cycle Design, - Sistema produto-serviço, - outras abordagens

4 Da escolha de materiais para a abordagem do Life Cycle Design

Quando o designer iniciou a introduzir requisitos ambientais em sua ativida-

de projetual, ele se concentrou na seleção de materiais e energia com baixo impacto ambiental, ou seja, no uso de materiais não tóxicos, não nocivos, na-turais, reciclados, recicláveis, renováveis e biodegradáveis. Ainda hoje é este o nível de inserção de requisitos ambientais mais percebido no mercado. No en-tanto, algumas perguntas passaram a confrontar a real eficácia de se focar ape-nas na escolha dos recursos de baixo impacto ambiental. Estas questões são levantadas, em geral, quando o designer se confronta com duas possibilidades projetuais na busca de um menor impacto ambiental no desenvolvimento de seu produto, como por exemplo: é mais interessante à escolha de um material mais durável ou de um material com menor impacto ambiental, porém com menor durabilidade?

O argumento da durabilidade de um material, e, por conseguinte do próprio produto, é bastante interessante. A princípio, e para um profissional menos informado, poderia ser claro que um material com menor impacto ambiental, porém com menor durabilidade, seria a melhor escolha. Porém, ao se con-frontar o impacto ambiental causado pelo produto não apenas na sua fase de pré-produção e produção, mas em todo o seu ciclo-de-vida (pré-produção, produção, uso, transporte e descarte), percebe-se que a durabilidade pode vir a ser um fator prioritário no projeto de um produto com menor impacto am-biental.

Comparando duas cadeiras com relação ao impacto ambiental, uma feita de plástico e outra de papelão reciclado (Vezzoli 2006b), poderá ficar mais claro este argumento. Em um primeiro momento, considerando-se apenas o impac-to das fases de pré-produção e de produção, pode-se acreditar que a cadei-ra de papelão possui um menor impacto ambiental com relação à cadeira de plástico, afinal prolongar a vida de um material descartado é altamente louvá-vel. Porém, ao ser considerado os impactos das outras fases do ciclo-de-vida do produto (pré-produção, produção, uso, transporte e descarte), é possível observar que a cadeira de plástico possui um tempo de uso maior do que a cadeira de papelão.

Considerando-se a necessidade de uso da cadeira durante um determinado tempo, estimando, por exemplo, uma vida de 12 anos, quantas cadeiras de pa-pelão teriam de ser produzidas para cumprirem esta mesma função da cadeira de plástico ao longo deste tempo estimado? Em comparação, quantas cadeiras

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de plástico seriam necessárias para cumprir a mesma função durante estes mesmos 12 anos de uso?Ou seja, para a cadeira de papelão reciclado cumprir a mesma unidade funcio-nal (12 anos de uso) da cadeira de plástico, teria que ser produzida N vezes e a cada nova produção acumularia um impacto ambiental.

Por isso, a redução do consumo de material é somente uma das estratégias a serem consideradas pelo designer que quer introduzir requisitos ambientais no desenvolvimento de seus produtos. Neste artigo, não se quer afirmar que a escolha de materiais com menor impacto ambiental é uma estratégia menos importante que a durabilidade. O que se propõe aqui é questionar a priorida-de de escolha do designer quando confronta duas estratégias que levam a um menor impacto ambiental.

Projetar considerando todo o ciclo-de-vida do produto implica em passar de um projeto de produto a um projeto de um sistema-produto, observando to-dos os elementos envolvidos na produção do produto, ou seja, todos os inputs e outputs gerados durante todo o ciclo-de-vida. A este tipo de abordagem de-nomina-se Life Cycle Design (Manzini & Vezzoli 1998).

O termo Life Cycle Design foi utilizado pela EPA (1993), em seu Life Cycle De-sign Guidance Manual: environmental requirements and the product system. Por ciclo de vida compreende-se o completo ciclo de vida do produto, ou seja, desde a pré-produçao, a produção, o uso, o transporte e o descarte do produto, o seu reuso e reciclagem de parte ou do produto total. O ciclo de vida também é conhecido pelo termo do berço à tumba, em inglês cradle-to-grave, ou do berço ao berço (cradle-to-cradle), se for considerado um ciclo fechado onde, os resíduos entram novamente no sistema como matéria prima (EPA 1993).

A abordagem do Life Cycle Design leva em consideração algumas diretrizes, em especial a Unidade de Pesquisa DIS (Design e Inovação de sistemas para a Sustentabilidade) do prof. Carlo Vezzoli adota as seguintes:

- Redução do consumo de material - Redução do consumo de energia - Redução da toxidade e periculosidade - Bio-compatibilidade e conservação

- Extensão da vida do produto - Extensão da vida do material - Design para a desmontagem

Para alguns pesquisadores, tais como Dewberry (1998), o termo Life Cycle De-sign está diretamente vinculado ao uso de uma Análise do Ciclo de Vida do produto, mais conhecida pelas iniciais em inglês LCA (Life Cycle Assessment). Esta não é uma imposição, mas, em geral, uma LCA é bastante útil, uma vez que apresenta dados quantitativos sobre qual a fase do ciclo-de-vida do pro-duto que é mais ambientalmente impactante. Sendo assim, este método pode esclarecer qual é a fase prioritária de intervenção do designer para alcançar resultados mais efetivos.

Muitas vezes as estratégias acima citadas podem entrar em conflito entre si e desta forma o designer deverá tomar a decisão sobre qual a estratégia mais importante a ser adotada em seu produto para se obter melhores resultados. É neste sentido que ferramentas e métodos específicos para um determinado setor/produto, deveriam ser desenvolvidos para auxiliar na tomada de decisão do designer (Vezzoli & Sciama 2006).

5 Sistema produto-serviço

É um exemplo de ação revolucionária, o projeto de sistemas eco-eficientes, onde a idéia principal é satisfazer as necessidades do cliente oferecendo solu-ções inovadoras, que promovam a desmaterialização dos padrões de consumo. Esta é uma abordagem relacionada ao design estratégico. Portanto, neste nível de design para a sustentabilidade a busca de soluções menos impactantes não são mais focadas em produtos, mas sim a busca da satisfação do cliente através de soluções sistêmicas de um conjunto formado por produtos e serviços, que venham a cumprir a mesma função, ou seja, um sistema eco-eficiente. (Vezzoli, 2006b).

Projetar um Sistema Produto Serviço, mais conhecido pelas iniciais PSS (Pro-duct Service System) é, muito superficialmente, projetar a interação entre di-versos atores. Abaixo está uma tabela comparando alguns tipos de serviços com a tradicional venda de produtos (Manzini & Vezzoli 2002: 4).

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Tabela 1: Comparação entre a venda tradicional de produtos e alternativas inovadoras

Fonte: Manzini & Vezzoli 2002, p. 4

Na primeira coluna é apresentado o modelo atual de lavagem de roupa, isto é, o consumidor adquiri uma lavadora, cuida de sua utilização, de sua manuten-ção e de seu descarte. Na coluna do meio, apresenta-se um serviço de aluguel de lavadoras. Neste caso, o consumidor é responsável pelo uso e pela ‘qualida-de’ da limpeza. Existe, neste tipo de serviço, uma grande participação, ainda, do consumidor. Já na última coluna, o serviço apresentado é o de entrega de roupa lavada. Neste caso, praticamente não existe a participação do consumi-dor no serviço prestado. Ele entrega a sua roupa suja na ‘lavanderia’ e recebe a roupa limpa após um determinado período de tempo.

Na última linha da tabela anterior, verifica-se que, em um Sistema Produto-Serviço, a própria empresa responsável pelo serviço é incentivada a tornar o produto mais durável, ou pelo reuso dos componentes e/ou pela reciclagem do material. Isto é, num Sistema Produto-Serviço à durabilidade do produto é um fator preponderante e de interesse do próprio fornecedor do serviço.

Além deste incentivo, o fornecedor do serviço, procurará economizar os ma-teriais suplementares utilizados, como por exemplo, a quantidade de água, de sabão, de alvejante, etc. No caso da última coluna, o fornecedor do serviço irá otimizar o uso da lavadora, isto é, irá se organizar lavando uma maior quanti-dade de peças claras e peças escuras com a mesma quantidade de água, sabão, etc.

Desta forma, as empresas fornecedoras do serviço são impelidas em adquirir produtos mais duráveis, que exijam uma menor manutenção e consumam me-nor quantidade e energia, pois só assim poderão ter lucro. A isto, chamamos de soluções win-win, onde o interesse econômico e competitivo da empresa resulta em inovações que levem, também, à redução de impacto ambiental.

Até agora, não está comprovado que um Sistema Produto-Serviço possa real-mente levar a uma solução mais sustentável. O ponto mais criticado, em rela-ção a resultados sustentáveis, é o do transporte. Por exemplo, na última colu-na, onde a lavanderia oferece o serviço de lavagem da roupa, o transporte feito pelos clientes para entrega e busca de suas roupas é altamente impactante. No entanto, o que se pode afirmar é que Sistemas Produto-Serviços possuem um alto potencial para serem mais sustentáveis. Para Manzini & Vezzoli (2002) um Sistema Produto Serviço só pode, realmente, ser considerado sustentável quando ele auxilia a reorientar os padrões atuais de consumo e produção.

6 Novas abordagens do design para a sustentabilidade

Nesta secção serão delineadas algumas iniciativas, bastante recentes, tomadas pelo design para a sustentabilidade. Em particular, serão focados alguns temas de pesquisas realizadas pela unidade de pesquisa DIS (Design e Inovação de sistemas para a Sustentabilidade), na figura do prof. Manzini.

Como já apresentado anteriormente, Manzini tem trabalhado principalmente com o âmbito do design estratégico. Para ele, os designers são importantes neste novo confronto da sustentabilidade, porque são os atores que interagem com os seres humanos e os artefatos …’seu papel específico na transição que nos aguarda é oferecer novas soluções a problemas sejam velhos ou novos, e propor seus cenários como tema em processos de discussão social, colaboran-do na construção de visões compartilhadas sobre futuros possíveis e sustentá-

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veis (Manzini 2008: 16)’.

Dois são os argumentos que permeiam este novo fronte de pesquisa: estilos de vida e inovações sociais que orientem para a sustentabilidade. Claramente, ambos os argumentos estão baseados em mudanças de comportamentos, ou seja, na dimensão social da sustentabilidade. O autor se foca no fato de que uma ruptura nos padrões atuais exige uma descontinuidade sistêmica, onde os seres humanos terão que aprender a “viver bem, consumindo menos recur-sos ambientais e regenerando os contextos onde vivem” (Manzini 2008: 17). Conseqüentemente, através da criação de novas formações sociais colabora-tivas, com grande probabilidade de nascerem em contextos locais. Trata-se de inovações sociais sustentáveis nascidas da necessidade do dia-a-dia, as quais são denominadas pelo autor de ‘Comunidades Criativas’.A proposta do autor, é que tais inovações sociais sustentáveis podem ser estudadas, reprojetadas e replicadas.

Já em 2003, Manzini e Jégou (2003) escrevem o livro ‘Sustainable everyday: scenarios of urban life’, resultado de uma exposição promovida pela UNEP, pela Triennale di Milano e pela Faculdade de design do Politecnico di Mila-no. Em tal exposição são apresentados 72 propostas de cenários e alternativas para inovações sociais orientados para a sustentabilidade aplicadas no contex-to urbano e no cotidiano das pessoas. Os cenários são criados por estudantes e levantados em 15 escolas ao redor do mundo: China, Coréia, Japão, Canadá, USA, Brasil, Índia, França, Finlândia e Itália. Recentemente, o autor tem voltado seus estudos para as inovações sociais em países de industrialização recente como China, Índia e Brasil. Estes são verda-deiros laboratórios de inovação social, nascidos da emergência da sobrevivên-cia e não, simplesmente, da escolha voluntária de um novo estilo de vida com rupturas ao padrão de consumo.

Concluindo, é preciso ressaltar que no Brasil, os pesquisadores ainda não se acordaram para este novo papel do designer, enquanto promotor de inovações

sociais que portem ao bem estar. Quais seriam os caminhos para se projetar o bem estar no contexto brasileiro?

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Whiteley, N. 1993. Design for society. London: Reaktion Books.

____________________________

II Sobre este argumento ver os trabalhos desenvolvidos pelo: 1. Wuppertal Institut fur Klima, Umwelt, Energie; 2. Advisory Council for Research on Nature and Environment (em particular: The Ecocapacity as a challenge to technological development, um estudo financiado por um grupo de Ministérios Holandeses); 3. Working group on eco-efficiency que foi promovido pelo World Business Council for Sustainable Development (particularmente o relatório final Eco-effi-cient Leadership, WBCSD, 1996).

III “A resiliência é a capacidade que o ecossistema tem de sofrer uma ação negativa e sem sair de sua condição de equilíbrio” (Manzini & Vezzoli 1998: 27).

IV Não cabe neste artigo argumentar sobre a integridade destas ações, com relação a busca real de um desenvolvimento sustentável.

V No prefácio do último livro de Manzini escrito no Brasil, Cipolla apresenta um depoimento deste autor confronto seus dois livros publicados no Brasil, o primeiro que trata do desenvolvi-mento de produtos sustentáveis e o último que trata de design para a inovação social e sustenta-bilidade. Neste depoimento o autor afirma que seus interesses hoje não estão mais voltados ao produto, mas que são aspectos distintos que portam a uma ruptura nos padrões e a necessária mudança (Cipolla 2008: 12).

VI Tradução feita pela autora do artigo.

VII Este termo causa alguma confusão no que se refere a pratica projetual, porque o termo é adotado, também, para a vida comercial do produto, compreendendo desde o nascimento do produto, através do seu projeto, até sua morte comercial, isto é, sua retirada do mercado. Neste último âmbito, o designer trabalha juntamente com o marketing buscando revitalizar as vendas, e portanto o produto, prolongando sua aceitação no mercado

VIII Considera-se fase de pré-produção a fase anterior à produção, ou seja, a extração, a manu-fatura, o transporte, etc. das matérias primas necessárias para a produção do produto.

IX Unidade funcional é a unidade de medida utilizada em uma Análise do Ciclo de Vida do pro-duto. Ou seja, não é necessariamente o produto físico, mas, também, a função que este produto cumpre ao longo de um certo período.

X Existem algumas críticas com relação ao método LCA. Este artigo não tem por finalidade entrar neste mérito da questão. Pode-se afirmar que, apesar de todas as críticas a LCA, este é, ainda, um dos métodos mais confiáveis para se medir o impacto ambiental.

XI Traduzido pelo próprio autor do artigo.

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77Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

Validação de uma bula de medicamentos em Braille direcionada ao usuário cegoValidation of medicine package insert in Braille to blind user

Maria Olinda Lopes Mestre em Design, [email protected]

Design da Informação, medicamentos, Sistema Braille, usuário cego, acessibilidade

Nesse artigo é descrita a validação de uma bula de medicamentos em Braille realizado com usuários portadores de cegueira. Para tanto foi desenvolvido uma entrevista com a aplicação do modelo de apresentação gráfica de Karel van der Waarde. O objetivo deste foi o de validar a bula em suas características gráficas e informacionais para o usuário cego.

Information Design, medicines, Braille System, blind user, accessibility

This paper pretends the description of a validation realized with blind users. For that reading did develop an inter-view with the Karel van der Waarde framework of graphic presentation application. The objective is the validation of the medicine package insert in to the graphic and informational characteristics for blind people users.

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78 Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

1 Introdução Aqui é exposta a validação de uma bula de medicamentos em Braille. Para tanto foi aplicado um modelo descritivo desenvolvido para o design de bulas, com a intenção de avaliar a bula desenvolvida no que se refere a sua estrutura gráfica e informacional a fim de promover a qualidade do documento do pon-to de vista do design da informação. Isto se deu a partir da leitura da bula por quatro usuários.

O Sistema Braille de escrita em relevo, ou Código Braille, foi criado em 1824 por Louis Braille, na França (Venturini e Rossi 1995), que permite aos cegos lerem através do tato. A partir desta matriz chamada de cela, ou célula, constituíram-se 64 (sessenta e quatro) sinais. A bula foi impressa em Braille respeitando a legislação vigente sobre este tipo de documento. Tal legislação refere-se ao texto das bulas, o qual deve respeitar uma ordem das informações e conteúdo especificado e regulamentado, no Brasil, pela ANVISA1 – Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Visando a eficácia comunicacional em bulas de medicamentos, Van der Wa-arde (1999) desenvolveu um modelo analítico para este tipo de documento informativo. Entretanto, o modelo analítico proposto é voltado para bulas des-tinadas a videntes. Portanto, bulas em Braille carecem de instrumentos des-critivos e avaliativos de sua eficácia comunicacional. A Lei de Acessibilidade2 regulamenta o acesso dos cegos e deficientes visuais a qualquer meio impres-so e/ou eletrônico, garantindo o pleno acesso as informações disponíveis. Se-gundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)3 , até o ano 2000 havia 148 mil pessoas portadoras de cegueira no Brasil e 2,4 milhões com baixa visão. Portanto, a promoção de um design eficaz de documentos para deficientes visuais e cegos é uma questão não apenas de comunicação/design da informação, mas, também, de direito e cidadania.

Com a intenção de auxiliar no acesso eficaz e averiguar as melhorias realizadas no documento, neste artigo é apresentada a validação de uma bula de medi-

1 http://www.anvisa.gov.br2 Decreto 5.296, de 2 de dezembro de 2004, capítulo VI, do acesso a informação e a comunicação, artigos 47 a 603 www.ibge.gov.br

camentos impressa neste sistema de escrita empregando o modelo proposto por Van der Waarde (1999).

2 O design de documentos para bulas

A área do design de documentos tem explorado como, a escrita de documen-tos e uma boa comunicação visual podem melhorar a sua leitura efetiva.

Sobre a escrita de documentos técnicos, Wright (1999) enfatiza que esta de-manda habilidade verbal e de retórica de comunicação, destacando ainda ele-mentos que influenciam sua eficácia comunicacional, a ver: o design tipográ-fico e de layout da página, entre outros. O design inclusivo – que considera usuários com necessidades especiais – também deve ser uma preocupação do designer, que deve estar cada vez mais atento à necessidade de auxiliar pessoas com deficiências sensórias e cognitivas no entendimento das informa-ções (Wright, 2003), o que foi essencial neste estudo, dadas as necessidades especiais do usuário.

No Brasil o conteúdo das bulas é regulamentado pelo Ministério da Saúde, através da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) pela portaria nº 110. Mas, segundo Fujita e Spinillo (2006):

‘é omissa no que se refere à apresentação gráfica das informações obrigató-rias, assim, aspectos como legibilidade, clareza nas instruções visuais, layout do documento são desconsiderados, apesar da relevância destes aspectos na leitura e compreensão da mensagem’ (Fujita & Spinillo 2006).

No que tange a leitura de bulas por usuários deficientes visuais ou cegos, Jones (2005) destaca que a impossibilidade de ler bula de medicamentos é um sério risco para a saúde dos mesmos. Segundo a autora o acesso a informação sobre os medicamentos é um direito básico e particularmente importante para as pessoas com deficiência visual. Neste sentido, Lei de Acessibilidade4 brasileira estipula que: “(...) a indústria de medicamentos deve disponibilizar, median-te solicitação, exemplares das bulas dos medicamentos em meio magnético, Braille, ou em fonte ampliada”5. Assim, o acesso à bula em Braille é um direito

4 Decreto 5.296, de dezembro de 2004, capítulo VI, artigo 58, parágrafo 1º5 www.acessobrasil.org.br

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79Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

garantido por lei no Brasil.

O modelo de Karel van der Waarde

Waarde (1999) apresenta três níveis de análise em seu modelo: 1. Componen-tes gráficos, 2. Relações entre componentes gráficos, e 3. Apresentação gráfica global (figura 1).

Tabela 1: Modelo descritivo de Waarde (1999)

Nível 1. Componentes gráficos

A. Componentes verbais

B. Componentes pictóricos

C. Componentes esquemáticos

D. Componente composto

Nível 2. Relações entre componen-tes gráficos

A. Relação de proximidade

B. Relação de similaridade

C. Relação de proeminência

D. Relação de sequencialidade

Nível 3. Apresentação gráfica global

A. Consistência

B. Características físicas

C. Estética

Os componentes verbais são definidos como marcas significativas que podem ser pronunciadas. Na bula em Braille deste estudo somente o componente ver-bal está presente.

Sobre as relações entre componentes, em um segundo nível, a proximidade refere-se à distância entre os componentes gráficos. A segunda relação entre os componentes gráficos é a relação de similaridade. Os componentes gráficos visualmente diferentes apresentam diferentes elementos informacionais com

status diferentes. A terceira relação pode ser descrita como uma relação de proeminência. A proeminência entre diferentes componentes gráficos é uma indicação de um conjunto de diferenças no status hierárquico entre os elemen-tos informacionais. A quarta relação é a de seqüencialidade. A seqüência de componentes gráficos indica a sucessão de elementos informacionais.As características da apresentação gráfica global são importantes segundo Wa-arde (1999) porque provêem o leitor com a primeira impressão do conteúdo informacional de uma bula. A primeira característica é a consistência da apli-cação das variáveis gráficas em um documento. Um uso consistente dos com-ponentes gráficos e as relações entre os componentes em toda a bula podem fazer com que a informação seja mais fácil de reter. Uma segunda característica é a estrutura física do documento. Por exemplo, as dimensões do documento, a qualidade do papel, tintas de impressão, a transparência, e reflexos. A última característica relatada sobre a apresentação é sobre o aspecto gráfico das bu-las. Estes aspectos são os mais difíceis de descrever, mas eles são mencionados com maior freqüência em relação à apresentação gráfica.

Os componentes pictóricos, esquemáticos e compostos não fizeram parte do design desta bula, pois, não constam da bula transcrita. Portanto, estes não foram mencionados aqui.

Mesmo sendo direcionado a bulas para videntes, o modelo de Waarde, foi considerado o mais apropriado para o estudo, pois, trata o tema do design de bulas de forma completa e sistematizada. É importante lembrar que o modelo foi desenvolvido para o design de bulas, mas, pode perfeitamente ser utilizado no design de outros materiais.

Para uma melhor compreensão das características de documentos em Braille, no tópico a seguir, serão descritas, em linhas gerais, as normas para a aplicação do Sistema no Brasil.

3 O sistema Braille: conceituação, normas e exemplos de uso O Sistema Braille é composto por matrizes constituídas de seis pontos, dispos-tos em duas colunas de três pontos. A partir desta matriz chamada de cela,

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80 Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

constituíram-se sessenta e quatro sinais (figura 2). A numeração da cela Braille, também chamado de sinal fundamental, se faz de cima para baixo, da esquer-da para a direita (figura 3).

Na figura 4 se pode verificar o alfabeto Braille:

1: Sinal fundamental do Braille(a) e cela vazia(b) em tamanho realFigura

2: Pontos do Braille e a direção de leitura na transcrição para a escrita convencionalFigura

3: Alfabeto BrailleFigura

A leitura do Braille se dá da esquerda para a direita e o leitor deve prestar mui-ta atenção para não saltar linhas, o reconhecimento geral dos símbolos Braille é feito com a mão direita, e a compreensão e leitura com a mão esquerda (Grifin e Gerber, 2003).

4 Descrição da bula em Braille – estrutura informacional e gráfica

O conteúdo da nova bula em Braille é o mesmo da anterior, não foi alterado, pois, este conteúdo foi selecionado a partir de texto aprovado pela ANVISA/Ministério da Saúde, com sua última atualização em 12/07/2004, e Copyright

de 2005 (anexo 01) anexo do documento em tinta.

Portanto, todos os itens e conteúdo que compõem a bula são regulamentados por lei6 e qualquer alteração deve ser formalizada e enviada pela fabricante do medicamento para sua atualização. É importante ressaltar que, pelo mes-mo motivo, não foi realizada a revisão ortográfica do texto da bula, portanto, podem ocorrer erros gramaticais e de ortografia. Nos quadros abaixo (01 e 02) é possível visualizar resumidamente a estrutura gráfica e informacional da bula em Braille antes e após re-design.

Quadro 1: síntese comparativa entre as bulas (antes e após re-design)

6 Portaria nº 110, de março de 1997.

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81Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

Quadro 02: Síntese da estrutura gráfica e informacional da capa e do sumário (vide página seguinte)

Assim, foi realizada a validação da nova bula em Braille com a participação dos usuários.

5 Validação da nova bula em Braille

A validação da nova bula em Braille foi feita para verificar a sua eficácia junto a leitores experientes de Braille, assim como no estudo com a bula corrente, a fim de comparar os resultados entre os estudos. Os participantes, procedimen-tos, materiais, e os resultados deste estudo são expostos a seguir.

Participantes

Quatro adultos portadores de cegueira participaram deste estudo sendo que têm pós-graduação completa, faixa etária entre 36 e 65 anos, são do sexo mas-culino, e de razoável a muita fluência em Braille. O gênero não foi considera-do relevante neste estudo, portanto, não houve a preocupação em um misto entre pessoas de sexo masculino e feminino. No estudo anterior participaram

duas pessoas que voltaram a participar na validação para averiguar se os pro-blemas detectados haviam sido solucionados. Os dois novos participantes fo-ram convidados com a intenção de se detectar problemas que pudessem ter sido despercebidos na primeira leitura.

Neste artigo somente serão expostos os resultados do participante 02 para exemplificação.

- Participante 02: Sexo masculino, faixa etária entre 36 e 45 anos, pós-gradua-ção completa em Educação Especial, e com muita fluência em Braille. Material teste

Foi analisada a nova bula do medicamento hidroclorotiazida. O conteúdo infor-macional foi o mesmo da bula transcrita a partir do texto que consta no bulário eletrônico da ANVISA. O texto foi salvo em formato “txt”. A bula em “txt” resul-tou em treze páginas no formato A4 (210 X 297 mm) com margens: esquerda e direita de 30 mm, superior e inferior de 25 mm. Esta bula foi impressa em papel sulfite com gramatura de 75 gramas.

Na impressão em Braille foi usado formulário contínuo (260 X 305 mm) com papel na gramatura de 150 gramas. Assim, o documento em Braille é compos-to por 42 páginas em papel liso com a impressão somente na frente da folha.

Procedimentos

Para os participantes 02 e 03 a leitura da bula foi dividida em três partes:

Preenchimento de dados pessoais;Parte 1- Participante sem a bula de medicamentos em Braille;Parte 2- Participante com a bula de medicamentos em Braille em mãos;Parte 3- Solicitar que o participante encontre as informações indicadas.

Na parte 1 os leitores responderam questões sobre sua experiência com bulas de medicamentos. Como exemplo: onde buscam informações sobre um medi-camento prescrito; de que forma recebem estas informações; quais informa-ções mais lhes interessam; se já tiveram contato com bulas; se conhecem bulas

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82 Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

em áudio. Aqui foi solicitado que os participantes lessem as quatro primeiras páginas da bula, referentes à capa e ao sumário, para que se inteirassem de seu conteúdo.

Na parte 2 os participantes responderam questões específicas à estrutura grá-fica da bula em Braille, com relação aos seus componentes gráficos, as relações entre esses componentes e sobre as características físicas da bula.

Na parte 3 os participantes fecharam a bula e foi solicitado que encontrassem informações específicas como, contra-indicações, reações adversas, interações medicamentosas, advertência e as indicações de armazenagem.

Ainda, foi solicitado que ambos classificassem a bula com relação à busca de informação, numa escala de 1 a 4, em que 1= fácil, 2= a regular, 3= difícil, e, 4= a muito difícil. Também foi solicitado se teriam algo a acrescentar que lhes parecesse relevante para o estudo e qual sua opinião sobre a bula que haviam acabado de ler, como satisfatória, regular ou ruim (ver formulário de entrevista em apêndice B).

As entrevistas foram filmadas e gravadas em áudio para posterior transcrição. Assim, foram transcritas para a compilação dos resultados.

Alguns resultados e discussão

- Participante 02:

Parte 1 | Participante sem a bula de medicamentos em Braille | Questões preliminares sobre a experiência do participante com bulas

Segundo o participante ele recebe informações sobre um medicamento pres-crito com o médico e oralmente. Quando questionado sobre quais as infor-mações ele deseja saber de acordo com o seu interesse, este citou as con-tra-indicações e as reações adversas. O único acesso que este teve a bulas de medicamentos foi oralmente.

Quando questionado sobre a possibilidade de acesso a uma bula em Braille, o participante diz ser importante que haja o acesso. Que o paciente não deve

ater-se somente às informações vindas do médico, porque, segundo ele, isto pode acarretar-lhe alguma reação adversa. Também comentou que se as pes-soas não lêem a bula pode ser por uma questão cultural, mas, no caso dos cegos, é a impossibilidade que os impede. Com a oferta da bula em Braille não haverá motivo para não ler a bula. Parte 2 | Participante com a bula de medicamentos em Braille em mãos

Os primeiros comentários do participante foram sobre o seu grande volume. Ainda, que a bula foi impressa somente de um dos lados da folha e que com a impressão frente e verso o volume do documento seria reduzido na metade.

O participante expôs que para pessoas com boa fluência em Braille não há pro-blemas em ler documentos extensos, porém, os que adquiriram cegueira após terem sido alfabetizados, há dificuldades e que estes geralmente preferem tex-tos em áudio. Porém, para ele, entre os que têm fluência em Braille geralmente há a preferência pela leitura de textos impressos.

- estrutura gráfica da bula em Braille | Componente Gráficos | verbais

Para o participante o fato dos títulos estarem numerados e com salto de linha antes e depois, isenta da necessidade de estar toda a frase em caixa-alta, mas, somente as iniciais. O mesmo foi observado com relação aos subtítulos ante-cedidos por letras (a, b, c). Comentou sobre um ganho de espaço e de papel neste caso, mesmo sendo um ganho mínimo. Ainda, segundo o participante, ao adicionar hífens, números e letras, não se faz necessária a abertura de pará-grafos. O participante comentou sobre a presença de muitos termos de difícil compreensão, ou, técnicos.

- Relações entre componentes gráficos Proximidade

Ao ler o item c da bula, o participante comentou que se o título (contra-indica-ções) fosse composto por uma frase curta, a falta de parágrafo poderia causar confusão na leitura tátil e o usuário poderia acreditar ser a continuação do texto. Portanto, quando há títulos longos, que preenchem a linha quase intei-

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ra, para a leitura tátil, é necessário a abertura de parágrafo na linha seguinte (Figura 05).

5: Trecho lido pelo participanteFigura

Segundo ele, quando há a numeração em seqüência dos títulos e a abertura de parágrafo, não há a necessidade de saltar linhas.

similaridadeAo ler um trecho da bula (figura 06), o participante comentou que, neste caso, não há a necessidade de letras maiúsculas e nem de paragrafação, pois o título sem ponto final indica início de texto na próxima linha.

6: trecho lido pelo participanteFigura

proeminência

Para o participante, a leitura é mais lenta com o acréscimo de caixa-alta em to-das as palavras. Comentou que nos títulos em pontuação não há prejuízo pela falta de paragrafação. Porém, para ele, quando a intenção for proporcionar ênfase ao trecho de texto o uso de caixa-alta é válido.

Segundo ele, não é necessário saltar linha entre títulos e subtítulos, pois, a presença de letras ou hífens, já demonstra que é texto com outra função. Além disso, o hífen dobrado já diferencia subtítulos de outros itens presentes no texto corrido. A intenção de destacar textos em grandes blocos através do salto de uma linha foi satisfatória.

SeqüenciamentoA convenção de que dois hífens significam itens e um hífen se refere a títulos foi satisfatória, pois, já é uma convenção utilizada no Braille. Os hífens utiliza-dos como separadores de números ou letras não interferiram na interpretação dos títulos hifenizados.

- Apresentação gráfica global

ConsistênciaPara o participante o fato de títulos, subtítulos, serem representados em caixa-alta e com numeração, ou seqüência de letras e hífens, proporciona consistên-cia gráfica na bula. Os saltos de uma linha antes e/ou depois destes títulos e subtítulos, também foi satisfatório, pois, assim facilita, segundo ele, a leitura da bula.

Características físicasO formato foi tido como o ideal em suas dimensões (formulário contínuo, 260 X 305 mm). As margens e o comprimento das linhas foram tidos como satisfa-tórios, assim como o tipo de encadernação em espiral com relação ao manu-seio.

A impressão do documento foi tida como satisfatória, tanto na legibilidade do relevo dos pontos, quanto ao que se refere ao tipo de papel utilizado. O parti-cipante observou que é importante imprimir em frente e verso das folhas, para um melhor aproveitamento de papel.

Parte 3 – Solicitação que o participante encontre informações na bula

O participante procurou informações no sumário e comentou não haver di-ficuldade para encontrá-las, sendo que o número de página indicado estava

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correto.

Ao buscar a informação na bula, comentou que os saltos de linhas antes e/ou depois de títulos e subtítulos ajudou a encontrar a informação na página. Con-siderou a bula como fácil no que se refere à busca de informações.

Ao solicitar se o participante teria algo a acrescentar que lhe parecesse rele-vante ao estudo, este comentou novamente sobre a presença de termos de difícil compreensão, ou técnicos, e também sobre a possibilidade de imprimir a bula em frente e verso.

6 Conclusão e considerações

A partir da validação foi possível concluir que a participação do usuário duran-te o processo de design da bula, em estudos experimentais é válido e essencial para detectar problemas que podem ser imperceptíveis ao designer, para ava-liar aspectos da estrutura gráfica e informacional da bula em Braille.

Os participantes expuseram que recebem informações sobre o medicamento oralmente e um deles comentou sobre a presença de informações impressas em Braille na embalagem de alguns medicamentos. Também disseram que o acesso à bula em Braille pode ser por solicitação, ou cadastramento, e um de-les disse que gostaria de ter o acesso em farmácias, ou, com o médico, ou junto com o medicamento no momento da aquisição. Um dos participantes comentou que a bula solicitada, pelo médico, poderia chegar ao paciente em sua residência, via correio.

Os participantes comentaram sobre a presença de termos técnicos e conside-raram que estes são de difícil compreensão. Também encontraram erros de grafia na bula.

Os recursos de ênfase em advertências e observações, como o uso de paragra-fação de três caracteres e o uso de caixa alta, foram tidos como satisfatórios pelos participantes, pois assim, foram solucionados problemas de similaridade e proximidade informacional-gráficas. A paragrafação foi considerada desne-cessária após títulos curtos.

O uso de caixa-alta foi considerado uma forma eficaz de proporcionar ênfase nas informações, pois, assim é possível proporcionar proeminência e/ou simi-laridade às informações.

A respeito da consistência gráfica e informacional o uso de caixa-alta para tí-tulos e subtítulos foi considerado eficaz, pois facilitou o encontro das infor-mações. O mesmo sobre saltos de linha, que também foi considerado eficaz no auxílio do encontro das informações no interior da bula, porém, foi con-siderado desnecessário para separar títulos e subtítulos no sumário, pois, a inserção de numeração, letras e hifenização já proporcionou esta separação entre informações. O uso de hifenização dupla em itens no interior de textos foi considerado satisfatório, pois, é usado com freqüência e, portanto, de fácil reconhecimento pelo leitor do Braille.

A inserção de sumário e numeração de páginas foi confirmada como eficaz na função de orientadores na bula, assim como, a numeração, adição de letras e hifenização de títulos e subtítulos. O destaque proporcionado às advertências e observações proporcionou, segundo os participantes, a definição da hierar-quia informacional na bula.

Pode-se afirmar que a avaliação da bula em Braille através do modelo de es-truturação gráfica e dos participantes foi eficaz para solucionar problemas estruturais gráficos e informacionais no documento ocorridos na transcrição, minimizando assim, os problemas e fornecendo um documento de maior qua-lidade ao usuário cego.

A validação do documento com a participação de usuários é fundamental em pesquisas para a observação da influência dos fatores gráficos mencionados na eficácia da leitura de bulas de medicamentos em Braille e na busca de soluções de problemas percebidos somente pela percepção tátil, e assim, para a otimi-zação do documento.

Três dos participantes comentaram que o uso da impressão em frente e verso das folhas não prejudicaria a qualidade do documento e reduziria o seu volu-me, reduzindo assim na metade a quantidade de papel gasto na sua produ-ção.

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Sobre as características físicas do documento, a bula foi considerada muito volumosa em número de páginas. No entanto, o manuseio do documento, no que se refere às dimensões, comprimento de linhas e margens, foi considerado satisfatório. Quando questionados sobre a sua opinião sobre a bula lida, os participantes disseram ser importante o acesso a bulas em Braille e que a bula lida está sa-tisfatória sendo que apresenta todas as informações sobre o medicamento a qual se refere.

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87Anais do 1º Simpósio Paranaense de Design Sustentável (I SPDS)

Desafios do design na mudança da cultura de consumoDesign challenges for changing the consumption culture

Maristela Mitsuko Ono IUniversidade Tecnológica Federal do Paraná, [email protected]

Palavras-chave: Design, Cultura, Consumo.

Resumo

Este artigo traz considerações acerca de desafios, no âmbito do design, para a promoção de mudanças na cultura de consumo, abrangendo estilos de vida e comportamentos de consumo, com vistas ao desenvolvimento susten-tável. Com base em uma abordagem interpretativa, não reducionista e não determinista das diversas culturas e do mundo, entende-se o consumo como um processo que vai além da passiva absorção, apropriação de bens e satis-fação de necessidades e desejos, emergindo da relação das pessoas com os artefatos e a sociedade, no contexto da dinâmica cultural, social, econômica, política e ambiental. Sob este prisma, destaca-se a relevância da adoção de abordagens interdisciplinares no design de sistemas de produtos e serviços para a sociedade e do aprofundamento de pesquisas de prospecção de cenários, visando à sustentabilidade, em suas múltiplas dimensões ambientais, culturais, econômicas, políticas e sociais.

Key-words: Design, Culture, Consumption.

Abstract

This paper presents some considerations about design challenges for promoting changes in the consumption cultu-re, which is related to lifestyles and consumption behaviors, aiming at reaching a sustainable development. Based on an interpretive, non reductive and non deterministic approach of the diverse cultures and the world, consump-tion is here understood as a process that goes beyond a passive absorption, appropriation of goods, and needs and yearnings satisfaction. Consumption emerges from the relationship between people, artifacts and society, within the context of the cultural, social, economic, political and environmental dynamics. In this sense, the relevance of adopting interdisciplinary approaches in designing products and services systems is emphasized, as well as of deve-loping deeper researches on prospective sceneries, aiming at sustainability, considering its environmental, cultural, economic, political and social multiple dimensions.

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1 Introdução

Este artigo tece considerações acerca dos desafios do design para a promoção de mudanças de modos de vida e comportamentos de consumo na sociedade, em prol do desenvolvimento sustentável, que compreende, além da sustenta-bilidade ambiental, a sustentabilidade nas esferas sociocultural, econômica e política, dentre outras. A questão da sustentabilidade tem sido discutida e pesquisada mais ampla e profundamente nas esferas ambientais e do ciclo-de-vida de produtos. No en-tanto, há lacunas expressivas, em termos de pesquisas sobre as dimensões socioculturais no desenvolvimento e consumo de produtos e serviços, apesar de estarem estreitamente inter-relacionados aos estilos de vida e referenciais socioculturais, nos processos que envolvem produção, distribuição, regulação, representação, comunicação e consumo.

A cultura é aqui compreendida como uma teia de significados tecida pelas pes-soas ao longo de suas vidas, e a partir da qual desenvolvem seus pensamentos, análises, valores, condutas, e significam a própria existência (Geertz,1989).

Entende-se que o consumo, por sua vez, vai além do processo passivo de ab-sorção, apropriação de bens e satisfação de necessidades e desejos, trazendo em si o caráter ativo da relação das pessoas com os artefatos e a sociedade, no contexto da dinâmica cultural, social, econômica, política e ambiental.

E o desenvolvimento sustentável é visto antes como uma condição sistêmica que se almeja alcançar, que uma direção na qual se deva conduzir. A condi-ção sistêmica, por sua vez, compreende uma teia de inter-relações, interações e interdependências dinâmicas (Bertalanffy, 1968; Capra, 1994; Laszlo, 1972; Laszlo, 1996), a partir de uma visão não reducionista e não determinista do mundo e da vida.

2 Estilos de Vida e Consumo Dos tempos mais remotos, quando os humanos desenvolveram os primeiros artefatos, até os dias de hoje, uma crescente e complexa gama de necessida-

des, desejos e significados tem se desenvolvido, materializando-se em artefa-tos de variadas funções e graus de complexidade.

Os artefatos, ainda que produzidos industrialmente com modelos padroniza-dos, são continuamente significados e re-significados, na medida em que as pessoas se relacionam, interagem com eles e os utilizam. Eles, por si só, não têm sentido. E, na construção desses significados, múltiplas e complexas rela-ções se desenvolvem, envolvendo as esferas de produção, distribuição, comu-nicação, consumo e acesso aos bens, além das dimensões subjetivas e socio-culturais.

E, apesar das estratégias e lógicas mercadológicas não raro desfocalizarem a pessoa em sua individualidade e subjetividade, as culturas não estão se tor-nando homogêneas (Lorenz, 1992; Hall, 2005; Ono, 2006; Ono, 2004; dentre outros), a despeito de certos discursos com esta perspectiva, como o de Theo-dore Levitt (1990), dentre outros, no contexto de uma globalização “imagina-da”, segundo Néstor García Canclini (2003), em que persistem contradições, conflitos, desigualdades e condutas discriminatórias e excludentes.

Há diversas abordagens sobre consumo, sendo que a sociologia do consumo busca compreender a ideologia do consumo (Bourdieu, 1983; Baudrillard, 1993; dentre outros), enquanto que a antropologia cultural trata de como se desenvolvem as relações entre as pessoas e os artefatos, e o papel destes nas relações sociais, na esfera simbólica e nos usos (Mccraken, 2003; Douglas & Isherwood, 2006; dentre outros).

O consumo pode ser compreendido como “uma atividade de manipulação sis-temática de signos”, e um objeto de consumo, por sua vez, como um “signo”, cujo significado é arbitrário e polissêmico. Assim, um objeto ganha sentido me-diante sua relação com outros signos, e se “personaliza” mediante a diferença, conforme Baudrillard (1993 : 149-206). Cabe lembrar que isto se dá na relação entre sujeitos e objetos, sempre social e culturalmente contextualizados.

O consumo não consiste em um fenômeno unidirecional e homogêneo, reve-lando-se com uma miríade de facetas, que emergem desde de uma necessida-de básica, como a alimentar ou de abrigo, até de um desejo efêmero, como o de explodir fogos de artifício em algum festejo, ou de vestir-se de certo modo,

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seguindo modismos (Lipovetsky, 1989). Há consumos resultantes de modelos normativos de comportamento, a exemplo do uso de terno e gravata por ho-mens, em determinadas situações. E outros ditos compulsivos, resultantes de impulsos “descontrolados” de compra, sem justificativas plausíveis, ao menos em termos de função prática. É bastante comum adquirem-se novos produ-tos sem que haja necessidade de substituição dos existentes, em termos de adequação aos usos, por uma questão de distinção social, de status, como se observa no caso de automóveis que se revestem de valores de status, hierar-quizados de acordo com marcas e modelos (Ono, 2004).

A disposição estética, o gosto, as preferências e as opções estéticas distin-guem-se entre as diferentes classes sociais e estão estreitamente vinculadas ao capital cultural das mesmas, reproduzindo certas relações de poder que se estabelecem na esfera social. Mediante “marcas de distinção”, segundo Bour-dieu (2007), os sujeitos sociais constituem e exprimem, para si mesmos e para os outros, sua posição na estrutura social.

Deste modo, os estilos de vida e o consumo de produtos revestem-se de um caráter simbólico de distinção na estrutura social, representando a posição so-cial dos indivíduos, que, por sua vez, é determinada pelo “capital econômico e cultural” que possuem. As relações entre os sujeitos envolvem “relações de poder”, e a sociedade apresenta inúmeras manifestações de “estratificação do poder”, o que se reflete, de acordo com Bourdieu (1974) na percepção estética e nos estilos de vida.

Os estilos de vida podem ser entendidos como manifestações resultantes das capacidades de estruturar (práticas e esquemas de percepção e apreciação) e ser estruturado (pelas condições e posições sociais), vinculados à cultura de cada sujeito e grupos sociais. Eles se expressam por meio de hábitos estéticos, estruturas de preferências e gostos distintos, influenciados por instituições e estruturas materiais que administram, transmitem e renovam o capital cultural (Bourdieu, 1983). Estão, portanto, estreitamente relacionados aos comporta-mentos de consumo e à cultura das pessoas. E a busca pelo desenvolvimento sustentável requer mudanças sistêmicas nessas três esferas.

Sob este prisma, destaca-se a importância do design como agente promotor de tais mudanças, na medida em que, em suas múltiplas e complexas relações

com a cultura material, atua como um mediador entre pessoas e artefatos, tanto incorporando quanto propiciando significações e relações objetivas e subjetivas, visíveis e invisíveis, inclusivas e exclusivas, que aproximam ou dis-tanciam, beneficiam ou prejudicam, satisfazem ou não, promovem realização ou frustração, emancipação ou subordinação, dependência ou independência, socialização ou isolamento, a saúde ou a doença, a vida ou a morte...

3 Desafios do design em mudanças de estilos de vida e con-sumo

No que tange ao consumo e aos estilos de vida, a relação do design não é me-nos ambígua, diversa e complexa, podendo promover ou não o desenvolvimen-to sustentável. No âmbito ambiental, o design pode fomentar a durabilidade dos artefatos ou a sua obsolescência e descarte prematuros; no cultural, pode respeitar ou não a diversidade cultural e as múltiplas identidades; no social, pode promover a harmonia ou as desigualdades sociais. E, inter-relacionados a essas três esferas ambiental, cultural e social além da econômica e política, desenvolvem-se os estilos de vida e o consumo. Vale salientar, de acordo com Manzini e Vezzoli (2002), que a sustentabilidade ambiental é um objetivo a ser alcançado e não, como muito se tem dito, uma direção na qual se deva ir, considerando-se que nem toda melhoria, em termos ambientais, pode ser considerada como verdadeiramente sustentável. E esta consideração se estende a outras dimensões da sustentabilidade, quais sejam as culturais, econômicas e sociais, dentre outras.

Caminhos possíveis e desafiadores para o design, em prol do desenvolvimento sustentável, exigem abordagens interdisciplinares e sistêmicas, não determi-nistas e não reducionistas, visando à harmonia ambiental, sociocultural, eco-nômica e política, e o bem estar físico e espiritual das pessoas.

Tais desafios demandam pesquisas prospectivas sobre cenários de sistemas sustentáveis de produtos e serviços e suas implicações na vida das pessoas, na sociedade e no meio ambiente, dentre outras. (Figura 1)

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1: Questões de pesquisas prospectivas de cenários de sistemas sustentáveisFigura

Sob este prisma, destaca-se a relevância da educação interdisciplinar em de-senvolvimento sustentável, tendo em vista a necessidade de mudanças expres-sivas na cultura de consumo e comportamento dos consumidores, muitos dos quais sofrem da chamada “miopia cognitiva”, ou seja, não percebem o impacto do consumo em suas próprias vidas, de modo mais abrangente.

Cabe especial atenção no design à adoção de estratégias de comunicação, ex-tensão e intensificação de usos de artefatos. A obsolescência estética, de uso e técnica, por exemplo, pode ou não ser adequada, dependendo dos requisitos e contextos. O “envelhecimento” gradativo da aparência visual de uma emba-lagem de produtos com prazo de validade, por exemplo, poderia auxiliar na identificação do período em que se encontram.

Considera-se relevante o design de sistemas sustentáveis que se integrem aos projetos de produtos e serviços, e mesmo os preceda, voltados à promoção da eficiência ambiental e energética, à otimização de usos de artefatos, bem como de estilos de vida mais cooperativos, menos possessivos, com intensifi-cação de usos de produtos e serviços, respeitando-se a diversidade cultural e as identidades dos indivíduos e grupos sociais.

3 Considerações finais O design, os estilos de vida e o consumo estão entrelaçados em uma dinâmica

teia de inter-relações, que envolvem as necessidades, os anseios e valores das pessoas, seus hábitos e referências culturais, as relações sociais, os modos de organização social, os sistemas econômicos e políticos, e a acessibilidade aos bens, dentre outros fatores.

Sob este prisma, destaca-se como um grande desafio, no âmbito do design, para a promoção de mudanças em estilos de vida e comportamentos de con-sumo para o desenvolvimento sustentável, a adoção de abordagens interdis-ciplinares e sistêmicas em pesquisa e desenvolvimento de artefatos para a so-ciedade.

É imprescindível que o design atue em uma esfera mais ampla que a de desen-volvimento de produtos e serviços isolados, abrangendo sistemas harmônicos, do ponto de vista ambiental, econômico, sociocultural, físico e espiritual da sociedade; pilares, corpo e alma do desenvolvimento sustentável.

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____________________________

I Professora Dra, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Programa de Pós-graduação em Tecnologia, Departamento Acadêmico de Desenho Industrial; Professora Colaboradora, Univer-sidade Federal do Paraná, Programa de Pós-graduação em Design; Brasil; Endereço: Av. Sete de Setembro, 3165, Rebouças, Curitiba / PR, 80230-901; e-mail: <[email protected]>.

II Sustentabilidade ambiental, de acordo com Manzini e Vezzoli (2002), é a condição sistêmi-ca pela qual, em nível planetário e regional, a atividade humana não cause distúrbios ao ciclo natural, no qual se baseiam as possibilidades de resistência do planeta, e, ao mesmo tempo, não empobreça o capital natural do mesmo. A resistência de um ecossistema, por sua vez, é vista como a sua capacidade de suportar uma ação de distúrbio sem sair irreversivelmente da condição de equilíbrio. Tal conceito se estende ao âmbito planetário e nos dá a idéia de que o sistema natural sob o qual a atividade humana atingiu o limite de sua resistência, tendo mesmo ultrapassado este limite, iniciando um fenômeno irreversível de degradação. Já o capital natural é entendido como o conjunto de recursos não renováveis e a capacidade sistêmica do ambiente de reproduzir os recursos renováveis. O termo refere-se, também, à riqueza genética, ou seja, à variedade de espécies vivas no planeta.

III De acordo com Bourdieu (1983), o capital cultural é transmitido por aparelhos culturais que engendram hábitos e práticas. Os bens culturais acumulados na história pertencem àqueles que dispõem de meios para apropriar-se deles, não se constituindo, apesar de formalmente serem oferecidos a todos, propriedade comum da sociedade, pois, para a sua compreensão, é neces-sário a posse e a capacidade de decifrar seus códigos. Isto constitui uma barreira considerável tanto ao acesso, quanto ao entendimento dos significados dos artefatos que compõem a cultura material, e, extensivamente, à padronização dos mesmos e à homogeneização da cultura.

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Diretrizes para utilização de dispositivos poka-yoke no design de mobiliário popular: uma estratégia para o design sustentávelGuidelines for application of poka-yoke devices on popular furniture design: a sustainable de-sign strategy

Priscilla Ramalho LepreUniversidade Federal do Paraná, [email protected]

poka-yoke, erro-humano, design sustentável, mobiliário popular

No Brasil, 85% da população vivem com renda de até três salários mínimos mensais (IBGE, 2007). Esta expressiva fatia da população brasileira, devido aos fatores sócio-econômicos, apresenta grande mobilidade relativa à habi-tação e constantes mudanças internas no arranjo familiar, durante ciclo de vida da família. Os móveis ofertados pelo mercado, não contemplam as demandas de mobilidade, flexibilidade e adaptabilidade desta classe social. O presente artigo apresenta os potenciais da utilização de mecanismos à ‘prova de erro humano’, conhecidos como poka-yoke, como forma de promover à adequação do móvel a estas demandas e também como uma estratégia para o design sustentável para a extensão da vida útil do mobiliário popular.

poka-yoke, human-error, sustainable design, popular furniture In Brazil, 85% of all population lives with three minimum wages for month (IBGE, 2007). These people presents, intensive house mobility e constantly adjustments around the family configuration, during the family’s life-cycle. The furniture, does not attend the real demands about mobility, flexibility and adaptability of this social class. This paper presents the potential of mistake-proofing devices, named poka-yoke, like a strategy to adequate the popu-lar furniture to attend the popular demands and like a sustainable design strategy to extend the popular furniture’s life-cycle.

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1 Introdução

Atualmente o Brasil apresenta 7.832 milhões de déficit de moradias, sendo que deste total, 95% são de moradias consideradas inadequadas, com aden-samento excessivo ou falta de itens essenciais à habitabilidade do ambiente construído. Deste déficit, 83,2% se concentra na população que recebe até três salários mínimos mensais (IBGE, 2007).

Devido às constantes trocas de domicílios gerados por este déficit, os móveis destas famílias necessitam ser montados e desmontados constantemente de maneira a adaptar-se a ambientes diversos. Estes processos são em geral exe-cutados pelos próprios donos, sem qualquer preparo técnico e/ou ferramentas adequadas, frequentemente danificando os móveis estruturalmente, funcio-nalmente e esteticamente. Estes danos impactam sobre a segurança dos pro-dutos durante o uso e reduzem significativamente sua durabilidade, gerando descartes prematuros destes bens.

O descarte de móveis no Brasil, por sua vez, não é regulamentado, não exis-tindo políticas nacionais consolidadas de gestão de resíduos, reciclagem ou recuperação energética. Não existe ainda uma cultura nacional de reciclagem consolidada entre a população e o móvel ainda é descartado integralmente no meio ambiente. Isso posto, têm-se que as estratégias para o design sustentá-vel de mobiliário, encontradas na literatura, ainda que possam ser tomadas como universais, necessitam adequações para atender a estas peculiaridades da realidade brasileira.

O presente artigo sugere a inclusão de ferramentas para promoção da exten-são do ciclo de vida do mobiliário popular e apresenta diretrizes para utiliza-ção de mecanismo de prevenção de erros, conhecidos como poka-yoke, como ferramenta para prevenir e evitar os erros nos processos de montagem e des-montagem dos móveis populares, que possam comprometer a vida útil do pro-duto e contribuir para o design de mobiliários que contemplem as questões sociais e econômicas desta população, utilizando-se para isto das estratégias do design para a sustentabilidade.

2 Revisão de Literatura – Erro humano & Poka-yoke

Conforme apontado na introdução deste artigo, um dos objetivos da pesqui-sa apresentada a seguir consta da prevenção e eliminação de erros humanos no processo de montagem e desmontagem de mobiliário popular através da utilização de conceitos e dispositivos poka-yoke. Esta seção, portanto, trás a definição de erro humano e as tipologias empregadas neste estudo, bem como o conceito de poka-yoke, suas classes e funções.

Erro Humano - definição e tipologias

Erro é uma incorreção (FERREIRA, 2004) que promove o desvio do resultado esperado, seja ele da performance do produto/processo/sistema, em relação a um padrão, plano ou meta estabelecida. O erro humano é uma incorreção dependente do fator humano e das interações do homem com os sistemas, o ambiente e a sociedade (KJELLEN, 1998; DEKKER, 2002).

Entre as classificações de erro humano apresentadas pela literatura, utilizou-se para esta pesquisa a classificação proposta por Reason (1990) com base na intencionalidade da ação humana, que dividinde os erros em não intencionais (lapsos, deslizes, erros e falhas) e intencionais (violações).

O processo da ação humana, compreende uma série de interações fisiológicas, psicológicas e cognitivas do homem, com o sistema em que ele está inserido (ambiente, sociedade, cultura, etc.) (LEPRE, 2008). Portanto, apesar do erro humano depender do homem para sua ocorrência, seu fator gerador pode não se encontrar no homem em si, mas em qualquer um dos outros componentes do sistema.

O erro humano também pode ser classificado de acordo com o momento em que o resultado do erro se apresenta no sistema. Segundo Norman (2006) existem dois tipos de erros humanos: erro ativo e erro latente. O erro ativo é aquele cujo resultado pode ser verificado num instante próximo ao ponto de desvio. Já o erro latente tem o resultado em um momento distante do ponto de desvio.

Falhas de design em produtos, na maioria das vezes, geram erros do tipo la-

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tente, que pode se tornar ativos no momento da interação com o usuário final. Esta afirmação corrobora as pesquisas que apontam o design do produto como um dos principais fatores geradores e indutores do erro humano (RYAN, 1987; CUSHMAN & ROSENBERG, 1991; ABBOTT & TYLER, 1997; NORMAN, 2006).

A utilização de mecanismos e dispositivos para prevenção de erro humano, aplicados ao design de produtos pode ser um estratégia válida para o design sustentável visto que produtos com falhas e inseguros tendem a ser descarta-dos precocemente, gerando a necessidade de substituição e, com isso, todos os encargos do ciclo de vida de um novo produto: custos ambientais, econômi-cos e sociais (MANZINI & VEZZOLI, 2005), além de colocar em risco a integrida-de do usuário, do produto e do ambiente de uso.

A seguir, apresenta-se o conceito e as tipologias de mecanismos à prova de erros denominados poka-yoke que por características como simplicidade, in-tuitividade e baixo custo de implementação, bem como a eficiência nos resul-tados mostra-se uma alternativa plausível de ser utilizada para a prevenção e mitigação de erros humanos na interface com produtos.

Poka-yoke – conceito e tipologia

Poka-yokes são mecanismos ou procedimentos utilizados para prevenir erros humanos em sistemas ou processos. O conceito de poka-yoke foi originalmen-te idealizado e desenvolvido por SHINGO (1986) junto ao Sistema Toyota de Produção a fim de proteger a produção industrial de erros banais, que pudes-sem vir a se transformar em produtos defeituosos (TSOU & CHEN, 2005).

Os mecanismos poka-yoke podem ser classificados em duas categorias de acordo com suas funções principais (SHINGO, 1986).

•Sistema poka-yoke com função reguladora: faz parte da inspeção de recur-sos. Este sistema não permite que o erro siga na linha de produção através de métodos de alertas e interrupção do fluxo produtivo;•Sistema poka-yoke com função de detecção: faz parte da inspeção informa-tiva auxiliando o trabalhador na verificação da condição ideal para a execução da tarefa.

Os sistemas poka-yoke são compostos por duas funções que agem de maneiras distintas na produção: a primeira verifica padrões pré-estabelecidos, acusan-do a existência de um erro, a segunda alertando para a ocorrência e paralisa a produção para sua imediata correção (SHINGO, 1986). Estas funções poka-yoke, originalmente desenvolvidas para atender as demandas de qualidade da indústria, são apresentadas e definidas a seguir.

Função reguladora:Método de controle: métodos que acionam dispositivos que paralisam o • equipamento e interrompem a operação do produto ou processo a partir da detecção de um erro, obrigando sua imediata eliminação.Método de alerta: métodos que ativam dispositivos de sinais sonoros ou • luminosos, que chamam a atenção da pessoa para um erro, sem, contudo, parar a linha de produção ou o uso de um determinado produto.

Função de detecção: Método de posicionamento: métodos que ativam dispositivos que libe-• ram uso de um produto ou as operações de produção apenas quando os elementos de um conjunto encontram-se em posição correta, evitando a montagem em posição inadequada.Método de contato: sensores eletrônicos ou dispositivos mecânicos que • indicam que as peças encontram-se corretamente posicionadas para a continuação da operação de uso de um produto ou das operações de pro-dução.Métodos de contagem: cada conjunto deve ter um número correto de pe-• ças. Este método confere por meio da contagem dos elementos, a confor-midade do conjunto.Métodos de comparação: utilização de mecanismos que comparam as • grandezas físicas de um produto com especificações evitando anormali-dades.

Os métodos acima apresentados compreendem as funções originais projetadas por SHINGO (1986) para o controle de qualidade 100% no Sistema Toyota de Produção, porém atulamente o conceito de poka-yoke vem sendo amplamen-te utilizado em áreas como HCI, medicina, psicologia e também no design.

No design, dispositivos poka-yokes são amplamente utilizados, também sob o

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nome de “mistake-proof device” ou “fool-proof device”, em produtos do dia à dia. Exemplos destes poka-yokes são os dispositivos que desligam automatica-mente aparelhos de microondas ou secadores de roupa na ausencia de conta-to perfeito entre as partes, evitando danos ao aparelho e ao consumir. Outro exemplo bastante conhecido é o antigo disket ¾” de computador, cujo formato impedia sua intrudução em posição incorreta no aparelho.

Enfim, poka-yokes, ela natureza intuitiva de uso, liberdade de criação e adap-tação e baixo custo para a incorporação ao design de produtos, apresentam-se como ferramenta plausível de ser utilizada em mobiliário popular, para evitar erros humanos nas diversas fases do ciclo vida deste produto. A seção seguinte apresenta os resultados parciais do estudo de caso realizado pelo Núcleo de Design e Sustentabildade da Universidade Federal do Paraná (NDS-UFPR), na introdução destes mecanismo em protótipo de mobiliario-divisória destinado ao público de baixa-renda.

3. Estudo de Caso

Estratégia geral de desenvolvimento

Como método de pesquisa para a criação de diretrizes para utilização de dis-positivos poka-yoke no design de mobiliário popular, utilizou-se o estudo de caso, através do qual analisou-se a interface do usuário com o produto, a fim de mapear as classes e tipos de erros ocorridos durante o processo de mon-tagem e desmontagem, os principais fatores indutores e contribuintes para a ocorrência de erros e as classes e funções poka-yoke mais eficientes na sua prevenção e eliminação.

Para a conceitualização do móvel empregado no estudo, cujo projeto deveria seguir algumas das estratégias do design sustentável pertinentes aos mecanis-mos poka-yoke, tomou-se por critérios principais: a participação do usuário final no processo de montagem, a multi-funcionalidade, a complexidade resul-tante do número de peças, componentes e tamanho final do produto.

Uma das delimitações para a análise da interface usuário-produto neste estu-do é que, pela natureza dos dados a serem coletados, o produto deveria estar

na fase de protótipo e em escala 1:1, pois somente nestas condições pode-se verificar a incidência de fatores indutores do erro humano em todos os níveis de complexidade.

O protótipo utilizado faz parte projeto ‘Kits Do-it-yourself – Mobiliário-divisó-ria’, criado e desenvolvido pelo NDS-UFPR para o edital Habitare/Finep e em parceria com a Masisa, Cohab-CT e Lojas MM. Outras características importan-tes deste móvel são a modularidade e a multifuncionalidade (o móvel acumula as funções de mobiliário e divisória de ambientes), pois ambas aumentam a complexidade do produto.

Para a avaliação do protótipo, preconizou-se a seleção de uma amostra de pessoas representantes do público alvo, utilizando como critério de seleção a renda familiar mensal de até três salários mínimos. Esta condição permite a análise de fatores sócio-culturais que podem influenciar a ocorrência de er-ros na montagem e desmontagem do móvel. A amostra utilizada foi de dez avaliadores, o que segundo Nielsen e Landauer (1993) pode abranger 80% do número de problemas de usabilidade do produto.

Como critério para a seleção do ambiente, toma-se por base as características das casas populares construídas pela Cohab-CT, entre elas, a área total não su-perior a 50m² e a configuração interna similar em número de peças: 2 quartos, sala com cozinha e banheiro.

A atividade a ser desempenhada pelos avaliadores era a de montagem e des-montagem do protótipo obedecendo ao manual de instruções. Antes e após a montagem, os avaliadores responderiam uma série de questionários entre-vistas com o objetivo de definir fatores que pudessem contribuir ou induzir a ocorrência de erros humano.

Verificadas todos os critérios acima citados, deu-se o estudo de caso, cujo prin-cipais resultados e análises são apresentados a seguir.

Resultados e análises

O estudo de caso teve lugar nas dependências da UFPR, em ambiente con-trolado: uma casa com as mesmas características de uma habitação popular

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construída pela COHAB-CT, porém sem a presença de nenhum outro móvel ou aparato, devido a necessidade de captação de imagens do processo. O foco da avaliação foram as classes e tipos de erros humano que ocorrem no processo de montagem/desmontagem de móveis e a validade dos poka-yokes integra-dos ao mobiliário avaliado.

O mobiliário-divisória, em fase de protótipo estrutural encontrava-se desmon-tado, com os módulos empilhados próximo ao local determinado para a ativi-dade. Junto ao mobiliário encontrava-se o manual de instrução, imprescindível para o correto desenvolvimento da atividade. O manual separava a montagem em etapas: nivel 1, 2, 3 e 4, sendo imprescin-dível a montagem correta montagem do nível anterior para a continuidade do processo, o que execia a a função reguladora, através do método poka-yoke de controle. Cada etapa no manual, foi identificada por cores com corresponden-tes no produto, formando um poka-yoke de contagem, juntamente com odas as ferragens, separadas em sacos plásticos, também identificados com cores, contendo a quantidade exata de peças para a montagem do referido módulo. As ferramentas necessárias à montagem/desmontagem encontravam-se sobre os módulos e sua utilização era indicada no manual de instruções. A forma de encaixe dos módulos permita apenas a montagem da forma correta, sendo portanto um poka-yoke de posicionamento.

Desta forma os avaliadores, em duplas, receberam instruções para utilização do manual e para a realização do processo de montagem e desmontagem dos móveis. Como resultados pôde-se observar a ocorrência de erros não intencio-nais e intencionais, tanto na forma ativa quanto na forma latente. Observou-se também que os principais fatores indutores destes erros são: fatores cogniti-vos, ambientais, culturais, instrumentais e sociais.

As funções poka-yoke mais adequadas para evitar erros humanos, durante o processo de montagem e desmontagem dos móveis populares, são as funções reguladoras, que devem ser utilizadas em conjunto com os mecanismos de detecção.

Através do estudo de caso pode-se gerar a seguintes diretrizes para aplicação de poka-yoke em design de móveis populares:

Poka-yoke de alerta: Utilizar códigos (cores, números, letras, símbolos integrados ao produto e • aos componentes) para identificar conjuntos de montagem/desmontarUtilizar códigos (cores, números, letras, símbolos integrados ao produto e • aos componentes) para definir seqüências padrão de montagem/desmon-tagem

Poka-yoke de controle:Impedir o acesso à peça de montagem subseqüente antes do término da • tarefa precedente. Condicionar uma tarefa ao cumprimento efetivo da tarefa precedente. •

Poka-yoke de contagem:Oferecer o número exato de peças para a execução total de uma tarefa. • Criar kits de montagem que contenham todas as peças para a fixação de • um conjunto. Não separar peças de precisem ser utilizadas em conjunto com outras (por exemplo: deixar hastes e buchas de MINIFIX® em um úni-co saquinho). Evitar peças que se desprendam do produto, evitando perdas. • Oferecer kits de peças sobressalentes, contendo todo o conjunto neces-• sário.

Poka-yoke de posicionamento: Criar junções que não permitam a estabilidade do conjunto manuseado, • sem que haja total travamento das partes, evitando erros latentes. Utilizar sons, como clicks, por exemplo, para indicar o final do processo. •

Poka-yoke de contato: Criar diferenças claras entre tipos de encaixes diferentes.• Privilegiar encaixes lúdicos à ferragens. Impedir, através das formas, mon-• tagem em posições incorretas. Criar, para as peças do mesmo grupo de encaixes, formas complementa-• res, como macho e fêmea, por exemplo. Tornar inequívoca a montagem através de formas lúdicas.•

Poka-yoke em design informacional:

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Oferecer múltiplos pontos de consulta às informações. • Integrar as informações diretamente às áreas a serem manuseadas, im-• mindo-as sobre a superfície do produto. Integrar o design informacional à embalagem de cada conjunto, contendo • a localização do emprego do conjunto e as instruções de montagem/des-montagem.Integrar as instruções essenciais à superfície do produto, evitando perdas • de informações essências à integridade do produto, em caso de doações para terceiros.Apresentar as informações de forma seqüencial e lógica, oferecendo todas • as informações relativas a um grupo em uma única consulta do usuário. Tornar redundante as informações sempre que possível.•

Empregando os poka-yokes citados anteriormente, o design pode, mais efe-tivamente, reduzir a interferência dos fatores indutores e contribuintes para o erro humano, que atuam no sistema, durante as atividades de montagem e desmontagem do móvel, evitando assim a ocorrência de erros humanos du-rante os processos de montagem e desmontagem do mobiliário.

4 Conclusão

Conforme apontou a pesquisa, o emprego de poka-yokes no design de mó-veis populares é uma estratégia para a sustentabilidade ambiental e social, por contribuir para a aplicação e sucesso de diretrizes propostas para o design sus-tentável de mobiliário, prolongando a vida útil do produto, evitando o descarte prematuro e melhorando o bem-estar, a habitabilidade e por conseqüência, melhorando a qualidade de vida da população de baixa renda e portanto uma estratégia válida para o design sustentável.

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O Paradoxo do Design Sustentável na Moda: Diretrizes para sustentabilidade em produtos de moda e vestuárioThe Paradox of Sustainable Design in fashion: Directions for support in fashion products and clothes

Suzana Barreto Martins; Drª.Universidade Estadual de LondrinaNúcleo de Design & Sustentabilidade/[email protected]

Este artigo discute o paradoxo do design sustentável na moda e aponta algumas diretrizes para tornar as soluções do setor do vestuário (e moda) mais sustentáveis, com foco na dimensão ambiental. São avaliadas quatro diretrizes genéricas: redesign, design de produtos intrinsecamente mais sustentáveis, sistemas produto+serviço e a indução estilos de vida radicalmente novos.

Palavras-chave: sustentabilidade, design, moda, vestuário

This article deals with fashion as a social phenomenon of ample influence in contemporary society, special in clo-thes, modality where fashion has its more visible face. Discusses general strategies to enable sustainability within the clothing (and fashion) sector. It presents four umbrella strategies: redesign of existing solutions; design of new products that are already embedded with environmental/social principles from start; product-service systems; in-duction of radically new life styles.

Keywords: sustainability, design, fashion, clothing

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1 Introdução

A moda é caracterizada como algo efêmero, cuja temporalidade é dada por variações constantes, e identificada principalmente com o vestuário. No entan-to, a moda é um “fenômeno organizado, disciplinado e sancionado” (SOUZA, 2001), relacionado a aspectos históricos, sociológicos e artísticos que determi-nam também um gosto específico, uma situação econômica e social. O certo é que o vestuário incorporou a moda e seu termo como próprio de seu campo de ação, e é nele que a moda ganha maior visibilidade e importância.

Martins (2005) assinala que a produção do vestuário, nascida numa concepção artesanal, foi desenvolvida com base em procedimentos empíricos, mas sem fundamentação teórica que suportasse as inovações técnicas. Em decorrência, os processos de desenvolvimento de projeto de produto de vestuário também estiveram calcados nessa mesma base empírica. No entanto, nos últimos anos, alterações vêm sendo observadas desde a concepção do produto de vestuário até o atendimento das demandas de mercado.

Diante disso, o projeto de produtos de moda e vestuário cada vez mais deve responder a um processo de sistematização integrada entre a atividade econô-mica, sustentada por inovações tecnológicas, agregação de valor, redução de custos e de diferenciais de mercado.

Os produtos de moda e de vestuário adquirem importância cada vez maior. Os mesmos já “não cumprem apenas a função histórica de cobrir, proteger e embelezar o corpo, mas também de desenvolver embalagens e sistemas de embalagens vestíveis para acondicionar o corpo e, ao mesmo tempo, preser-var a saúde do corpo, sua segurança e bem-estar.” (MARTINS, 2006).

A roupa, também referida como segunda-pele, pode ser vista, então, “como a embalagem do corpo ou como uma arquitetura têxtil em que cada linha tem um sentido e que manifesta um gosto específico localizando seu tempo e es-paço” (MARTINS, 2005).Nessa direção a sustentabilidade entra como variável fundamental no desen-volvimento do projeto de produto para redefinir todas as etapas dos processos produtivos do vestuário.

È importante destacar que a indústria do vestuário é responsável por elevado índice de emprego devido à velocidade de crescimento do setor no Brasil. De acordo com a ABIT (2009), o setor têxtil e de confecção nacional, compreende mais de 30 mil empresas e gera 1,65 milhão de empregos em toda a sua exten-sa cadeia, que inclui fios, fibras, tecelagens e confecções. Por sua vez, O Brasil está na lista dos 10 principais mercados mundiais da indústria têxtil, bem como entre os maiores parques fabris do planeta

São milhares de confecções instaladas e faturamento anual da ordem de bi-lhões de reais, somado a velocidade das mudanças e inovações tecnológicas na área têxtil, o aumento do número de consumidores, a diminuição do ciclo de vida dos produtos e a grande participação de pequenas e médias empresas no setor.

2 Desenvolvimento de produtos de moda sustentáveis

A sustentabilidade tem sido tema amplamente discutido em diferentes âmbi-tos da sociedade, seja acadêmico ou industrial. Suas três principais dimensões estão alicerçadas no tripé: desenvolvimento econômico, social e gestão am-biental.

Tal reflexão desenvolve ações de Ecodesign processo metodológico para De-senvolvimento de produtos em processos produtivos, incorporando princípios ambientais e ferramentas como a análise do ciclo de vida do produto. Assim, o conceito de sustentabilidade tem norteado e fundamentado cada vez mais as atividades de projeto de produtos, assumindo atuação responsável em empre-sas, comunidade e governos. O sistema moda impõe um ritmo de obsolescência programada muito rápido em que os produtos de moda são descartados muito antes do final da sua vida potencial, ocasionando vários impactos ambientais, o que é diametralmente contrário aos axiomas do design sustentável.

Dentre as várias estratégias possíveis para o desenvolvimento sustentável, os serviços ocupam lugar de destaque devido ao foco na desmaterialização do consumo. A esse respeito, é interessante mencionar os trabalhos de Man-zini e Vezzoli (2005), cuja perspectiva teórica e procedimentos operacionais orientam-se para a noção de sistemas sustentáveis. Para Manzini (2002), essa mudança baseia-se na transferência da posse de produtos para o consumo de

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serviços, isto é, a posse desloca-se do consumidor para o produtor que assume a responsabilidade pelo produto desde a produção, ciclo de vida, utilização até o descarte e a reciclagem.

Nesse sentido, busca-se identificar diretrizes genéricas para aplicação da sus-tentabilidade no vestuário, a fim de possibilitar aos profissionais do setor sub-sídios para identificação dos próximos estágios de desenvolvimento de seus respectivos produtos e serviços. Nas seções seguintes são apresentados qua-tro níveis de estratégias de design sustentável, seguindo um caminho progres-sivo de complexidade e, também, de profundidade do impacto ambiental e social. Estes níveis são baseados na proposta de Manzini & Vezzoli (2005) para produtos de maneira geral, conforme serão descritos a seguir.

3 Diretrizes para produtos de moda e vestuário mais sus-tentáveis

Nível 1: Redesign ambiental do vestuário existente

Esta estratégia significa a mera readequação ambiental de um produto existen-te. Esse é o nível mais enfatizado pelo Setor Têxtil atualmente no que tange ao vestuário e tem se caracterizado principalmente pela substituição de materiais não-renováveis por materiais renováveis. Contudo, esta abordagem pode in-cluir também melhora na eficiência no consumo de matéria-prima e energia ao longo de toda a cadeia produtiva do vestuário e de seu ciclo de vida, incluindo a facilitação da reciclagem e o reuso de elementos do vestuário. Não há a exi-gência de mudanças reais nos estilos de vida e consumo, mas apenas a sensi-bilização do usuário para a escolha de produtos ambientalmente responsáveis, conforme Manzini e Vezzoli (2005).

Para efetuar o redesign do vestuário e ao mesmo tempo considerar o ciclo de vida, o designer deve necessariamente contemplar todas as etapas do proces-so de desenvolvimento: pré-produção, produção, distribuição, uso e descarte (LEWIS & GERTSAKIS, 2001). Nesta abordagem é útil entender os resíduos têx-teis como divididos em duas categorias: desperdício pós-industrial, relaciona-do ao desperdício ocasionado durante a produção e manufatura dos artigos, e desperdício pós-consumo relacionado às roupas usadas e a outros têxteis.

Para viabilizar essa estratégia, é necessário que o consumidor tenha postura diferente com o vestuário.

Simples iniciativas e atitudes podem ajudar sua viabilização, tais como: dire-cionar as velhas peças de roupa para instituições de caridade ou empresas recicladoras; descartar sempre pares de sapatos juntos, pois separados não te-rão utilidade; armazenar as roupas e acessórios de moda e vestuário em locais secos para não danificar as peças e possibilitar a sua venda e direcionar aos locais com as mesmas condições de armazenamento, já que não serviriam se ficarem expostos à intempérie; freqüentar brechós e comprar roupas usadas sempre que possível; privilegiar a compra de roupas elaboradas com fibras e materiais reciclados; dentre outras.

Nível 2: Projeto de novo vestuário intrinsecamente mais sustentável

Este nível procura estabelecer soluções que melhorem o desempenho do ves-tuário em todas as etapas do ciclo de vida do produto ainda na fase de projeto, partindo da concepção do produto e passando por todas a etapas do ciclo de vida. Neste nível há maior complexidade na atuação do designer dado que a ênfase não é meramente redesenhar o sistema existente, mas desenvolver soluções de vestuário que já na sua origem evitem ou eliminem os problemas que o redesign ambiental busca mitigar.

Esse nível de estratégia do design sustentável do vestuário inclui também a ênfase na dimensão social da sustentabilidade que, embora também possa ser aplicada no nível anterior, tem neste nível maior possibilidade de eficácia. Esta dimensão implica considerar intervenções no design do vestuário que contem-plem questões como a promoção de condições de trabalho mais adequadas na fase de manufatura e manutenção do vestuário; a integração de pessoas deficientes ou marginalizadas; a promoção da coesão social (incluindo de gê-neros); a promoção da educação para o consumo sustentável.

Esta abordagem está em sintonia com a campanha da International Clean Clo-thes (www.cleanclothes.ch) que busca promover que empresas do setor, in-cluindo os distribuidores e lojistas, implantem ação concreta contra condições inadequadas de trabalho na cadeia produtiva do vestuário.

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Nível 3: Projeto de Sistemas Vestuário + Serviço

O terceiro nível busca desmaterializar todo ou parte do consumo mediante a satisfação do usuário via serviços associados ao vestuário. O projeto de novas soluções para o vestuário+serviço que substituam as atuais soluções centradas no bem físico e não no resultado final, implica uma reestruturação técnico-produtiva, o que pode gerar ganhos socioambientais mais significativos do que as estratégias apresentadas anteriormente.

Nível 4: Implementação de Novos Cenários de Consumo e Produção Sustentável do Vestuário

Este último nível trata das soluções que efetivamente mudam estilos de vida e, dessa forma, hábitos de consumo e produção de maneira a reduzir ou eli-minar o impacto do ser humano sobre o meio ambiente. A proposição ou im-plementação de novos cenários sustentáveis para o consumo e produção, por sua vez, implica a promoção de novos valores culturais radicalmente diferentes do paradigma corrente. Neste caso, o papel do designer é importante, embora limitado, conforme alertam Manzini e Vezzoli (2005).

4 Resultados e análise

Nível 1: Redesign caso do Projeto Recicla Jeans

A ONG Recicla Jeans iniciou, em 1995, em São Paulo, o Projeto Florescer, ONG que presta assistência direta a pessoas carentes e moradoras da favela Paraisó-polis a segunda maior da capital paulista, com cerca de 75 mil habitantes. Em 2003, o projeto deu início às atividades do Recicla Jeans, formando artesãos para a reciclagem de jeans, que, com a orientação de estilistas, redesenham, transformam, aplicam e retrabalham roupas produzidas com jeans e resíduos têxteis oriundos das empresas parceiras do projeto.

A fase final do ciclo de vida do produto, o descarte, recebe novos usos e ganha novos significados ao tornar-se um novo produto, e vem se mostrando econo-micamente viável. De fato, a ONG tem aberto franquias de lojas e oficinas em São Paulo e Belo Horizonte e parcerias de exclusividade com as grifes Eugênia

Flori e MOB. Nesse caso a troca de experiências entre a ONG Florescer e o Recicla Jeans foi crucial para a obtenção desses resultados. Se antes a ONG comercializava seus produtos apenas na favela, hoje com os pontos de venda é possível disponibilizar os produtos para um maior número de pessoas e conhe-cer melhor o perfil do público. Segundo a ONG, depois da abertura de lojas no varejo, as vendas aumentaram, e a Recicla Jeans contribui para gerar renda a dezenas de famílias carentes e potencializar ainda mais a projeção já alcançada pela ONG, inclusive com visibilidade no exterior.

Ressalta-se aqui importância do aumento das vendas e sua relação com a ele-vação no nível socioeconômico de famílias de baixa renda para uma condição digna de vida. Contudo, na dimensão ambiental este argumento é contraditó-rio com a urgente necessidade de reduzir a demanda por recursos do planeta. Nesta abordagem há o mero prolongamento do ciclo de vida da matéria-prima, havendo dúvidas quanto a sua eficácia na redução dos recursos como um todo (CO2 no transporte, energia). Como salienta Alcott (2008), há na verdade neste tipo de situação o risco do ‘efeito colateral’ em que o consumo é estimulado pela noção de que se está contribuindo para o meio ambiente.

Nível 2: Design de Vestuário Intrinsicamente Sustentável caso das Em-presas Döller e Renaux

A Empresa DÖLLER situada no vale do Itajaí (Santa Catarina) vem produzindo também em escala considerável artigos elaborados a partir da celulose obtida do bambu, seja em tolhas de mesa, banho ou roupões. No caso da DÖLLER, o material vem sendo utilizado em tecidos planos para o vestuário em geral com algumas opções de cartela de cores. No caso da RENAUX VIEW, as malhas con-feccionadas com a viscose obtida do bambu têm uma pequena porcentagem de elastano, para garantir maior conforto e aderência ao corpo.

Quanto à utilização da fibra de bambu para a fabricação de artigos têxteis a priori seria possível relacionar inúmeras vantagens para a sua utilização. É uma fibra celulósica regenerada extraída da polpa de bambu, produzida sem adi-tivos químicos, percebida pelo consumidor como uma “fibra ecologicamente correta”. Os tecidos, sejam planos ou de ponto (malha) elaborados com fios de fibra de bambu, têm como características o toque extremamente macio, leveza, fluidez e excelente recuperação ao amarrotamento.

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Possui ainda algumas características funcionais positivas que incluem a alta absorção de umidade, facilitando o processo de transpiração, chegando a ser quatro vezes mais absorvente que a fibra de algodão. Possui propriedade bac-teriostática natural, o que confere uma sensação de frescor (desodorante), além de inibir o mau odor. É termodinâmico, ou seja, no calor proporciona a sensação de frio e no frio, a sensação de toque quente, além de oferecer tam-bém uma boa proteção contra os raios indesejáveis do sol.

Contudo, vale ressaltar que esforços como este ainda são carentes de respaldo técnico-científico no Brasil. No caso do bambu, por exemplo, há que se consi-derar as implicações na fauna e flora regionais, as distâncias de transporte, os processos de tratamento requeridos etc.

Nível 3: Sistema Vestuário+Serviço caso da empresa Atmosfera

Este caso analisa o caso da Atmosfera, empresa que oferece serviços de for-necimento de uniformes, higienização, gestão de rouparia e manutenção de equipamentos de proteção individual EPIs, para indústrias, hospitais e hotéis, apresentando soluções e serviços. A empresa contribui para evitar não so-mente o descarte, ao promover reutilização desses produtos, como também a redução de resíduos e custos operacionais na indústria. Segundo dados apon-tados no site da empresa, a recuperação dos EPIs gera uma economia de até 50%, se comparada à compra e ao descarte sem reutilização.

A empresa propõe um sistema “inteligente” de uniformização, tais como: a locação de roupas protetoras especiais para baixas ou altas temperaturas, re-pelente a chamas, ambiente controlado, aluminizadas, refletivas e antiestáti-cas; a gestão de roupas profissionais elaboradas para cada atividade, sendo as peças personalizadas com a logomarca da empresa, identificadas com códigos de barra, acompanhadas de toalhas de banho; higienização periódica dos uni-formes dos funcionários. A empresa ainda integra os serviços de lavagem e consertos.

Na empresa Atmosfera a inspeção de cada peça garante respaldo técnico em casos de vistorias e auditorias externas, consertos, reparos, eventuais substi-tuições de uniformes desgastados pelo uso e gera relatórios detalhados que possibilitam o controle e a garantia da troca de roupa. As características dos

serviços da empresa oferecem potencial para reduzir resíduos na indústria e do uso de recursos naturais. Somam-se a isso as ações realizadas pela empresa no sentido de conscientizar não somente seus funcionários e familiares como também comunidades, fornecedores e prestadores de serviços. Vale lembrar que a empresa mantém programa de responsabilidade social e de gestão am-biental.

Não foi possível identificar nas informações coletadas sobre esta empresa se os equipamentos e insumos são efetivamente projetados para utilização em ambiente produto+serviço. A análise da literatura permite inferir pouca pro-babilidade com relação a esta hipótese, havendo neste perfil de empresa um campo de atuação para o designer brasileiro, ainda pouco explorado. Obvia-mente esse tipo de estratégia demanda competências que normalmente não são enfatizadas e gerenciadas pelo designer com formação ortodoxa, como gestão de conflitos, estratégia, gestão ambiental, governança corporativa, en-tre outros tópicos.

Nível 4: Mudanças no Estilo de Vida

Vestuário é uma necessidade básica do ser humano e sua eliminação não é aceita culturalmente nem tampouco fisiologicamente desejável. Contudo, na sociedade de consumo contemporânea observa-se descarte prematuro do vestuário em volumes crescentes. O descarte prematuro no caso do vestuário muitas vezes configura-se como a simples contenção do vestuário por anos em guarda-roupas, a ponto de resultar em dano funcional ou estético permanen-te.

Assim, entre as soluções estratégias neste cenário visando reduzir o consumo está a busca pela aproximação do ciclo de vida do vestuário com o efetivo ciclo de uso por parte do usuário. O design de roupas multi-uso, reversíveis ou que “crescem” com o indivíduo (no caso de crianças) é um exemplo típico. Outro exemplo são as roupas que já têm no design original a possibilidade de subs-tituir partes com grande probabilidade de desgaste (caso dos cotovelos em roupas para uso industrial).

Algumas medidas práticas incluem: evitar o uso de secadoras de roupa, bus-cando o uso da secagem natural sob o vento e o sol; se há a necessidade de

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uso uma secadora/lavadora, buscar a utilização de empresas de prestação de serviço em regime self-service ou condominial (o equipamento compartilhado implica considerável menor impacto ambiental e sua característica industrial indica que é usualmente mais eficiente do que o equipamento doméstico); evitar o uso de ferro de passar roupa (pendurar a roupa logo depois de lavá-la ou usar tecidos que não amassam, por exemplo); usar máquinas de lavar com carregamento pela frente (usualmente demandam menos energia e me-nos água que as máquinas com carregamento pelo topo); utilizar sempre água fria no processo de lavagem; usar detergentes livres de fosfato (para evitar a formação excessiva de algas nos rios e lagos) e em pó (evitando o transporte de água).

Cabe ainda ressaltar a postura que vem crescendo entre criadores de moda, o “slow fashion”, a moda não atrelada a sazonalidade do lançamento das cole-ções e a “tendência da não tendência”, ao procurar transcender à efemeridade da moda buscando um equilíbrio entre contemporaneidade e atemporalida-de.

Segundo Magner (2008) esse pensamento já vem sendo discutido nos meios especializados em pesquisa de tendências, em que os estilistas estão focando suas coleções na própria identidade da marca em vez do que ditam os bureuax de estilo, evitando assim, a obsolência acelerada dos produtos de moda.

Nessa direção, Kazazian (2005) propõe buscar aparências menos subordinadas à moda, utilizar materiais adaptados ao envelhecimento, favorecer o reparo e a manutenção a fim de retardar a obsolescência do produto.

Trata-se de aumentar a durabilidade dos produtos e criar, de acordo com Hel-vécia (2008), um desejo no consumidor por coisas sem tempo definido, como uma tentativa de não criar uma classificação e validade dos produtos, evitando assim, o descarte após uso.

Em consonância com esse cenário está um novo perfil de consumidores, se-gundo Popcorn (1997), mais conscientes de suas ações e de seus poderes como cidadãos, que usam seu poder de escolha para premiar ou punir empresas por suas atitudes sociais e ambientais e estão informados sobre os produtos que consomem.

5 Considerações finais

Atualmente, as grandes companhias buscam cada vez mais atender a um nicho do mercado de produtos têxteis, cuja expansão depende diretamente do au-mento da preocupação dos consumidores com questões ambientais.

Ao mesmo tempo, essas ações não podem restringir-se somente ao marketing promocional das grifes para angariar clientes que começam a despertar para as relações entre produção de itens de moda e impactos socioambientais. Paira sobre essa questão a real viabilidade da expansão do conceito e da proposta de sustentabilidade aliada à incessante busca por novas tendências em produ-tos de moda e vestuário.

Martins e Vascouto (2007) destacam: como um dos caminhos para uma pro-dução de moda com responsabilidade social e ambiental a disseminação de informações sobre a utilização de materiais têxteis: tecnologias e processos de produção sustentável para os diversos atores da cadeia têxtil, do vestuário e produtos de moda, tais como agricultores, produtores, empresários, designers, profissionais de marketing, economistas, comerciantes, entre outros; uma vez que, de posse dessas informações, esses atores poderiam contribuir com a redução dos impactos do setor e promover mudanças mais efetivas. Abrem-se também outras possibilidades de mudança na outra ponta, com um consumi-dor mais consciente de suas responsabilidades e de seus hábitos de consumo.

O ritmo veloz que o modelo de consumo e produção imprime nas relações de compra e venda de mercadorias, especialmente dos itens de moda, tem o prazo de validade reduzido. Diz-se ‘especialmente’ sobre os produtos de moda, pois é princípio intrínseco a ela sua eterna reinvenção.

O desenvolvimento da sustentabilidade no setor implica elaborar soluções que tratem do âmago do problema que é justamente o efeito desta efemeridade no meio ambiente. São necessários a disseminação e o desenvolvimento de conceitos e ferramentas que permitam o desenvolvimento de soluções que vão além da mera reciclagem de matéria-prima ou utilização de matéria-prima renovável para que este problema central repercuta na efetiva redução do con-sumo no setor.

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Ao mesmo tempo, desenvolvimento sustentável está diretamente relacionado à qualidade de vida e no bem-estar da sociedade, tanto presente quanto futu-ra; onde “sabedoria de redimensionar o tempo e a persistência nas escolhas revestem a vida de características qualitativas. A soma dessas atitudes pode interferir na construção de um futuro sustentável” (MARTINS, 2007).

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