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PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA IGUAÇU UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Curso Pré-Vestibular de Nova Iguaçu 2009 Apostila do Primeiro Bimestre HISTÓRIA Aline Claro (CPV – Caju) Carolina Machado Diogo Lima Augusto Jessika Souza Juliana Sicuro Luisa Rosati (CPV – Caju) Mariana Renou Rejane Meirelles Renata Rufino Rodrigo Perez Rubens Machado Sandra Ferreira Santos Talita Rodrigues Tiago Monteiro Maria Paula Araujo (Professora Orientadora)

APOSTILA 1O BIMESTRE2009

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PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA IGUAU

PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA IGUAU

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Curso Pr-Vestibular de Nova Iguau

2009Apostila do Primeiro Bimestre

HISTRIA

Aline Claro (CPV Caju)

Carolina Machado

Diogo Lima Augusto

Jessika Souza

Juliana Sicuro

Luisa Rosati (CPV Caju)

Mariana Renou Rejane Meirelles Renata Rufino Rodrigo Perez Rubens Machado

Sandra Ferreira Santos

Talita Rodrigues Tiago Monteiro

Maria Paula Araujo (Professora Orientadora)

CRONOLOGIA BRASIL/ MUNDO

Brasil

H 48 000 anos: presena humana no Piau (So Raimundo Nonato)

1500 : A expedio de Pedro lvares Cabral desembarca no litoral da Bahia. O futuro territrio do Brasil abriga entre 2 a 3 milhes de ndios.

1501: Expedies Exploradoras

1519 : Ferno de Magalhes passa pelo Rio de Janeiro

1532: fundao de So Vicente (Martim Afonso de Sousa)

1534: incio da doao das capitanias hereditrias

1549 : Tom de Sousa, primeiro governador geral, funda Salvador. Chegada dos primeiros Jesutas

1551 : Primeiro Bispado do Brasil. Anos depois o primeiro bispo seria devorado pelos ndios.

1554: Fundado o Colgio de So Paulo, ncleo da futura metrpole.

1565: Fundado o Rio de Janeiro.

1580: incio da Unio Ibrica entre Portugal e Espanha

1595: Gramtica da Lngua mais usada na Costa do Brasil (Anchieta)

1597: morte do Pe. Jos de Anchieta

1615: os franceses so expulsos do Maranho

1624: os holandeses invadem a Bahia; so expulsos no ano seguinte.

1630: Os holandeses tomam Pernambuco.

1640: fim da Unio Ibrica.

1641: Amador Bueno aclamado rei de So Paulo, mas recusa a coroa.

1654: expulso definitiva dos holandeses

1680: fundada a colnia de Sacramento no atual Uruguai, logo destruda pelos espanhis.

1684: Revolta de Beckman no Maranho contra os jesutas e a Companhia de Comrcio do Maranho.

1694: notcias de Ouro nas Minas Gerais

1695: morte de Zumbi de Palmares

1696 (?) morte de Gregrio de Matos, o Boca do Inferno

1708/09: choque entre paulistas e "estrangeiros" (Emboabas) nas Minas Gerais

1710/11: Guerra dos Mascates entre Olinda e Recife

1720: Filipe dos Santos lidera revolta contra a Casa de Fundio e os impostos.

1750: Tratado de Madrid entre Portugal e Espanha

1759: Jesutas expulsos do Brasil

1763: Rio de Janeiro sede da colnia

1781: Poema pico Caramuru (Santa Rita Duro)

Retirado do site: www.fflch.usp.br/dh/cevehMundo

1498: Vasco da Gama em Calecute

1502: Monlogo do Vaqueiro (Gil Vicente)

1503 (?) Leonardo da Vinci termina a Mona Lisa

1512: Michelngelo termina o teto da Capela Sistina

1514: os portugueses chegam China

1517: incio da rebelio luterana

1519: Corts chega ao Mxico

1533: Pizarro toma Cuzco

1542: portugueses no Japo

1563: Final do Conclio de Trento

1571: Batalha de Lepanto

1572: Os Lusadas de Cames

1582: novo calendrio organizado pelo papa Gregrio

1588: derrota da Invencvel Armada

El Greco termina o Enterro do Conde de Orgaz

1618: incio da guerra dos 30 anos

1642: incio das Guerras Civis na Inglaterra

1651: Ato de Navegao de Cromwell

1685: Revogao do Edito de Nantes

1697: morte do Pe. Vieira

INTRODUO

Caros alunos, mais um ano se inicia e vocs tm grandes desafios pela frente. Enfrentar a maratona do vestibular, mas, mais que isso, aprender, adquirir conhecimento, que esperamos seja feito de forma reflexiva, crtica, atravs de debates, discusses, trocas e muito estudo. A disciplina de Histria vem para muitos como um grande prazer, para outros nem tanto, e para boa parte como uma grande monotonia, muitos fatos e eventos a serem memorizados para a prova. Ns como Historiadores, acreditamos que a Histria seja bem mais que isso, e durante esse ano juntos, vamos tentar de diversas formas mostrar a vocs.

Nesta introduo queremos apenas chamar ateno para algumas questes importantes para o Estudo da Histria, questes que podero ser aprofundadas na sala de aula e nos debates travados. A primeira delas que vocs tero dois professores um de Histria Geral e outra de Histria do Brasil, mas imprescindvel que vocs no vejam essas matrias como disciplinas separadas. A priori elas nem deveriam ser separadas, so assim estabelecidas por uma questo prtica e de tempo. Tentem imaginar a histria de vida de vocs, em que tentssemos separar a Histria com sua famlia e a Histria na escola e com seus amigos. Aposto que ambas so completamente intricadas, concomitantes, relacionadas e simultneas, constitudas em processos e conjunturas semelhantes, apesar de certas particularidades. Portanto, assim que gostaramos que vissem a Histria Geral e do Brasil, como sendo relacionadas, concomitantes, partes de um movimento mais amplo, tentando a todo tempo, estabelecer relaes entre as discusses com um e outro professor.

Comearemos nossos estudos na chamada poca Moderna (sculo XV XVIII), perodo em que surgiu as bases para o desenvolvimento do Capitalismo, mas marcado ainda pelas estruturas do velho mundo feudal. Estruturas que davam sentido e controlavam as relaes sociais, da remontarmos ao fim do perodo medieval. No por acaso, assim, em Histria Geral nossas anlises se concentraro no Ocidente Europeu, territrio que neste momento no apresentava qualquer preponderncia, diante da riqueza e dos potenciais do Extremo Oriente, por exemplo, mas que nessa poca passou por intensas transformaes que lanaram os europeus ocidentais na conquista de todo o globo. Iniciaremos, portanto, o estudo da Histria do Brasil juntamente com aquela das Amricas, a partir da chegada dos europeus ao Continente. Percorreremos dessa forma toda a Idade moderna, concentrando nossas anlises, em sua maior parte, na Europa e Amricas at o advento do capitalismo no final do sculo XVIII. Daremos inicio ento, ao Estudo da poca Contempornea em todo o mundo, at o final da Guerra Fria, j nos anos 80 do sculo XX.

Visto isso, queremos mostrar a vocs que nada natural ou normal, tudo o que vivemos fruto de processos histricos, de uma estrutura social especifica num tempo determinado. Somos indivduos na companhia de outros que formam uma sociedade. Mas, somos formados pela sociedade, unidades sociais. Tudo que somos, vivemos, pensamos, acreditamos e sentimos tem haver com uma estrutura maior que nos cerca e da qual fazemos parte. Como diria o socilogo Norbert Elias, somos indivduos ligados por relaes e laos, redes de interdependncia que formam as estruturas sociais especficas, que no so criadas por indivduos isoladamente, mesmo os mais poderosos, so, como os demais, representantes de uma funo que s formada e mantida em relao a outras funes, as quais s podem ser entendidas em termos da estrutura especfica e das tenses especficas do contexto social. Desta forma, a histria se desenrola independente das vontades individuais isoladas, mas devido s relaes, a estrutura social mais complexa, independente de pessoas individuais. Claro que indivduos vivem e agem, mas estes devem ser vistos e entendidos inseridos em suas sociedades, posies sociais e tempos histricos.

Assim, tambm os historiadores so seres sociais, esto inseridos em seu tempo histrico e ocupam lugares especficos. Por isso, produzimos conhecimentos compatveis com a sociedade em que vivemos, com o lugar que ocupamos. Da os debates entre historiadores que nunca terminam, e as diferentes concepes que eventualmente voc ver ao estudar determinado assunto.

A Histria que produzimos est de acordo com as necessidades e questes da sociedade em que vivemos hoje. O passado inteligvel para ns somente luz do presente; s podemos compreender completamente o presente luz do passado. Capacitar o homem a entender a sociedade do passado e aumentar o seu domnio sobre a sociedade do presente a dupla funo da Histria. (CARR, E. H. Que Histria? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976)

Sejam bem- vindos, e aproveitem esse momento de suas vidas para aprender, descobrir e crescer! timo ano para todos ns! A CRISE DO FEUDALISMO E A FORMAO DAS MONARQUIAS ABSOLUTISTAS

Durante a Idade Mdia, no existiam na Europa pases como os que conhecemos hoje: Frana, Inglaterra, Portugal ou Espanha. Morar em Londres ou em Paris no significava se entender como um cidado ingls ou francs. Na verdade, as pessoas sentiam-se ligadas a uma regio, ao lugar em que nasceram ou mesmo a um feudo em que viviam. O processo de formao de monarquias com poder centralizado na Europa s data de fins da Idade Mdia e incio da chamada Idade Moderna, isto , entre os sculos XIV e XVI. Este importante movimento em que o poder foi, aos poucos, se centralizando nas mos dos reis tambm chamado por alguns historiadores de formao do Estado Moderno.

Para compreendermos como ocorreu o surgimento das monarquias absolutas, necessrio entendermos como se organizava o poder e a sociedade durante o perodo feudal. O feudalismo foi um momento histrico pelo qual passou a Europa Ocidental entre os sculos XI e XIII. No entanto, este no foi vivenciado em todas as regies da Europa Ocidental que tinham suas particularidades, como as Pennsulas Ibrica e Itlica, por exemplo. Assim, no se pode pensar em encontrar sempre e em toda parte uma mesma situao, mas no podemos negar que nesse limite territorial e cronolgico houve, no essencial, um conjunto de caractersticas e uma evoluo semelhantes.

As principais caractersticas do feudalismo eram o poder poltico fragmentado e o poder real enfraquecido. A figura real existia, mas o monarca era um dentre os vrios nobres de uma dada regio. Ele mandava em suas terras, mas no intervinha nas possesses dos outros membros da nobreza. O territrio de uma determinada regio era dividido em feudos, isto , pedaos de terra que eram dados por um senhor para seu vassalo em troca de favores, como proteo em tempos de guerra. Esta relao era chamada de relao de vassalagem e s ocorria no interior da nobreza. O vassalo, por sua vez, poderia ceder seu feudo a outra pessoa, tornando-se senhor feudal, tendo seu prprio vassalo e assim sucessivamente. Convm destacar que, em cada um desses feudos, havia uma lei, uma moeda, um pedgio e um sistema de pesos e medidas prprios. Alm disso, quem trabalhava nessas terras eram os servos, que deveriam tambm pagar impostos para o seu senhor.

Outro elemento importante que caracteriza a sociedade feudal era a forte presena da Igreja na vida das pessoas. Aquela instituio era dona de muitas terras e tinha uma grande influncia em termos econmicos e intelectuais, sendo a principal transmissora e difusora dos saberes naquele perodo.

Um padre, um cavaleiro e um trabalhador. Esta miniatura medieval ilustra a ideologia das trs ordens sociais (os que rezam, os que guerreiam, os que trabalham).No feudalismo, predominava a zona rural. O comrcio e a moeda existiam, mas eram fracos. Geralmente, os feudos tendiam auto-suficincia e as trocas eram feitas em espcie. No entanto, a partir dos sculos XII e XIII, algumas mudanas podem ser observadas neste sistema. So elas:

a) Crescimento populacional: inovaes tcnicas como a inveno da charrua (arado que mistura a terra), a adoo do sistema de rodzio de terras e a mudana na maneira de atrelar os animais, resultou no aumento da produo em algumas regies e na melhor alimentao oferecida s pessoas.

Servo trabalhando com a Charrua, que em substituio ao arado manual representou uma revoluo na agricultura.

b) Crescimento econmico: O aumento da produo gerou um excedente, que acabou por estimular o comrcio, o desenvolvimento das cidades e o fortalecimento dos comerciantes. As moedas foram adquirindo importncia. Era comum a reunio de comerciantes em alguns locais, tratava-se das feiras medievais. Algumas se tornaram to importantes que acabaram por dar origem a cidades. Cidades que surgiam, que concentravam os arteso e comerciantes e que pouco a pouco foram crescendo. As cidades medievais, cercadas de muralhas de proteo, tinham o nome de burgos, e a nascente classe comercial passou a ser denominada de burguesia.

c) Crescimento territorial: O crescimento do comrcio e o aumento expressivo do contingente populacional acabaram por estimular a procura por mais alimentos. Dessa forma, muitas florestas foram destrudas para aumentar as regies de plantao e, conseqentemente, o volume da produo agrcola.

Se os sculos XII e XIII foram momentos de grande crescimento, no sculo seguinte a Europa passaria por uma grave retrao econmica e populacional. Como coloca o historiador Hilrio Franco Junior:

Desde meados do sculo XIII, assistia-se a uma perda da vitalidade que caracterizara o feudalismo nos duzentos anos anteriores. A origem disso estava na sua dinmica, que levara o feudalismo a atingir ento os limites possveis de funcionamento de sua estrutura. As profundas transformaes que j vinham ocorrendo ao longo dos sculos XII-XIII revelaram-se com toda fora a partir de princpios do sculo XIV. Era a crise que instalava, resultante das prprias caractersticas do feudalismo. (FRANCO Jr., Hilrio. Feudalismo. So Paulo: Moderna, 1999, p.58.)

A crise foi causada, em parte, pela prosperidade do perodo anterior. O aumento da populao acabou por gerar a expanso das zonas agrcolas atravs da ocupao de terras florestais. A diminuio das pastagens provocou a falta de adubo animal. Esse fato, associado superutilizao do solo e a mudanas climticas acabou por influir nas colheitas, causando fome e subnutrio e deixando os europeus mais vulnerveis a doenas. A chamada crise do sculo XIV foi uma das mais devastadoras: pessoas de vrias regies padeceram de fome e cerca de um tero da populao europia foi dizimada pela peste negra. Acredita-se que esta doena teria sido causada por uma bactria vinda do Oriente. No entanto, certo que a concentrao urbana e a falta de higiene foram agentes facilitadores na propagao da epidemia.

Imagem extrada de Bblia (Toggenburg Bible, 1411) que retrata os efeitos da Peste na populao europia do perodo medieval.

As secas, a diminuio da produo agrcola (devido falta de adubo causada pela anexao de terras da pecuria pela agricultura, feita anteriormente, assim como morte e fuga dos camponeses) e a fome agravaram ainda mais a situao. Assim, do ponto de vista econmico, a crise derivou-se da expanso do setor urbano neste sculo, derivada da prpria dinmica do feudalismo, e a agricultura predatria e extensiva, tpica do feudalismo. A escassez de mo-de-obra nos campos levou os senhores a tomar medidas restritivas no sentido de dificultar a sada dos servos dos feudos, iniciando, assim, um processo de endurecimento nas relaes entre senhores e camponeses em diversas regies da Europa. A plebe rebelou-se contra a ordem feudal e as revoltas camponesas (conhecidas como jacqueries, em referncia s rebelies do campesinato francs) ameaavam a sobrevivncia de muitos nobres e clrigos.

No sculo XIV, ainda, muitas obrigaes camponesas estavam sendo substitudas por pagamentos em moeda pela aristocracia. A desvalorizao da moeda trouxe uma queda inesperada no poder aquisitivo dessa aristocracia. Alm disso, houve tambm uma queda na taxa de natalidade da aristocracia. Com isso, muitas famlias passaram a utilizar o casamento com outros grupos sociais como soluo para este grave problema, o que gerou, a partir da, uma ruptura com a rigidez social que se observava anteriormente. A burguesia, que surgira do campesinato como conseqncia da prpria dinmica feudal, do fortalecimento do comrcio e das cidades, foi beneficiada com essa flexibilidade e ganhou mais prestgio e poder, acelerando a desestruturao da sociedade agrria.

A crise do sculo XIV provocou profundas mudanas no sistema feudal, dando origem a um conjunto de transformaes em nvel poltico, econmico, social, cultural e religioso na Europa, que marcaram o processo de transio do feudalismo para o capitalismo. Mais do que transio, mudanas que configuraram um perodo especfico, a chamada Idade Moderna, onde o feudalismo ainda subsistia, mas sobre outras bases.

Citando novamente o professor Hilrio Franco Jr., diante da crise agrria fazia-se necessria a conquista de novas reas produtoras. Diante da crise demogrfica fazia-se necessrio o domnio sobre populaes no-europias. Diante da crise monetria fazia-se necessria a descoberta de novas fontes de minrios. Diante da crise poltico-militar fazia-se necessria uma fora centralizadora e defensora de toda a nao. Diante da crise clerical fazia-se necessria uma nova Igreja. Diante da crise espiritual fazia-se necessria uma nova viso de Deus e do homem. Comeavam os novos tempos.

Desta forma, a formao dos Estados Modernos, a Expanso Martima, o Renascimento e a Reforma Protestante, devem ser entendidos no bojo da crise feudal, apoiadas pela burguesia e integrantes do processo de formao do capitalismo. Entretanto o feudalismo continuava a existir, e buscava nesses movimentos sua sobrevivncia em novas bases. O crescimento urbano e comercial, assim como a burguesia, germes do capitalismo, foram se desenvolvendo no interior do feudalismo, que finalmente foi destrudo com as chamadas Revolues Burguesas, que instauraram definitivamente o capitalismo.

A crise generalizada, assim, levou as vrias categorias sociais a buscar uma resposta. Uma dessas respostas se baseava no fortalecimento do poder dos reis para restabelecer a ordem. Para a nobreza, o poder centralizado nas mos de um homem e a possibilidade de um exrcito nico significava o controle das massas camponesas. J os comerciantes viam o fortalecimento do poder real como um elemento importante para a atividade comercial, pois possibilitava a unificao das leis e dos impostos e o uso de uma s moeda e um mesmo sistema de pesos e medidas. Em alguns reinos, a centralizao ainda implicou no apoio real a uma poltica de expanso martima que, sem dvida, favoreceu os grupos mercantis. Este processo de centralizao do poder nas mos de um nico homem chamado de absolutismo. Ao contrrio do feudalismo, em que a figura do monarca existia, mas no tinha um poder acima dos demais nobres, no absolutismo, o rei governava, supostamente, de maneira absoluta. Veremos mais adiante que, nenhum poder , de fato, absoluto. Na Inglaterra, por exemplo, o poder real, desde muito cedo, foi controlado por um parlamento, como veremos ao estudarmos as Revolues Inglesas.

Algumas teorias foram desenvolvidas para legitimar a centralizao do poder nas mos dos reis:

a) Teoria do Direito Divino dos Reis: desenvolvida por Jean Bodin e Jacques Bossuet, dizia que o rei era um homem escolhido por Deus para ser o seu representante na terra. Dessa forma, quem se opusesse ao seu poder, estaria se opondo a um desgnio divino.

b) Teoria do Contrato Social: Para o pensador que desenvolveu esta teoria, Thomas Hobbes, a organizao poltica de uma sociedade era fundamental para que os homens sassem do seu estado de natureza. Neste estado, as pessoas viveriam apenas por questo de sobrevivncia, por necessidades vitais, no por se sentirem seres sociais. Para Hobbes, sem um governo forte os homens no respeitariam os limites necessrios para uma boa convivncia e a vida seria catica. O estado era, portanto, formado a partir de um pacto social entre a populao e a pessoa escolhida para deter o direito de resolver, soberanamente, as questes do bem comum. Para escapar ao caos e ter segurana, os homens, em um determinado momento, acabaram por abdicar a sua liberdade poltica.

c) Teoria de Nicolau Maquiavel: Este terico introduziu dois conceitos importantes para o pensamento poltico moderno, so eles a virtude e a fortuna. Virtude para Maquiavel era a capacidade de o governante escolher a melhor estratgia para a ao de seu governo, enquanto a fortuna remetia para as contingncias s quais os homens esto submetidos. Um bom governo seria aquele em que o rei soubesse combinar as duas coisas. Maquiavel foi importante no sentido da formao de um pensamento poltico desvinculado da moral religiosa. dele a famosa frase os fins justificam os meios.

importante ressaltar que as transformaes geradas pela crise feudal no ocorreram simultaneamente em toda a Europa, bem como a consolidao do absolutismo. O processo de consolidao das monarquias absolutas foi longo e cada regio teve as suas peculiaridades. Vejamos como se deu a formao de algumas monarquias desse perodo:

A monarquia francesa:Ainda durante a Idade Mdia, a regio que hoje denominamos Frana fazia parte do Imprio Carolngio. Com a morte de seu governante, Carlos Magno, o imprio foi dividido em trs reinos que, por sua vez, subdividiram-se em feudos. Os reis continuaram a existir, mas dependiam dos nobres locais para a obteno de soldados e rendimentos. No final do sculo X, uma nova dinastia chegou ao poder na Frana, os Capetngios. Um de seus descendentes, Felipe Augusto (1180-1223), foi considerado o rei que deu incio consolidao da monarquia francesa. Esse processo foi impulsionado por Lus IX (1226-1270), que criou uma moeda nica, facilitando o comrcio, e por Felipe o Belo (1285-1314), que expulsou mercadores e banqueiros estrangeiros, fortalecendo, assim, a burguesia francesa. A monarquia, no entanto, s se consolidou nos sculos XIV e XV, durante a Guerra dos Cem anos. Esse conflito tambm seria importante para a centralizao do poder real em outra regio, a Inglaterra. O auge do absolutismo no reino francs se deu durante o reinado de Lus XIV, o rei sol, cuja frase o Estado sou eu, atribuda a ele, tornou-se a mxima do poder absoluto.

A monarquia inglesa:

As Ilhas britnicas foram conquistadas em meados do sculo XI por Guilherme da Normandia, vassalo do rei francs. Dessa forma, ao apoderar-se da Inglaterra, aquele conquistador acabou ligando aquela regio aos franceses, o que, tempos mais tarde, levaria a um grande conflito.

No sculo XIV, o rei Eduardo III da Inglaterra manifestou a inteno de ocupar o trono francs, do qual julgava-se herdeiro. Ao mesmo tempo, desejava dominar a regio de Flandres (atuais Blgica e Holanda), grande produtora de tecido. Essas ambies provocaram um conflito entre Frana e Inglaterra: a Guerra dos Cem anos (1337-1453). Uma das personagens mais conhecidas deste episdio foi Joana DArc, jovem camponesa que lutou pelo exrcito francs. Ela acabou sendo condenada morte na fogueira por heresia, mas isso no impediu que os franceses retomassem os territrios perdidos e expulsassem os ingleses. O desfecho dessa guerra contribuiu para estabelecer os limites territoriais tanto da Frana quanto da Inglaterra, alm de ter suscitado dos dois lados um sentimento de identidade em relao sua monarquia.

A monarquia portuguesa:

Portugal foi um dos primeiros pases a consolidar um governo forte e centralizado nas mos do rei. A formao da monarquia iniciou-se nas lutas dos cristos pela expulso dos rabes islmicos que, desde o sculo VIII, ocupavam a Pennsula Ibrica. Durante o domnio rabe, os reinos cristos ficaram restritos ao norte da pennsula. A partir do sculo XI, pouco a pouco conseguiram ampliar seu territrio. Foram fundados, ento, reinos como Arago, Leo e Castela.

Durante a guerra de Reconquista, destacou-se um nobre, Henrique de Borgonha. Como recompensa pela sua atuao na expulso dos muulmanos, ele recebeu dos reis de Leo e Castela algumas terras que constituam o condado portucalense. Em 1139, Afonso Henriques, filho de D. Henrique, estendeu seus domnios at o sul da regio, fez de Lisboa a sua capital e proclamou-se rei de Portugal.

Em 1383, com a morte do ltimo rei da dinastia de Borgonha, a coroa portuguesa ficou ameaada de ser anexada pelo soberano de Castela, parente mais prximo do rei morto. A burguesia lusitana, por sua vez, temendo os interesses castelhanos, apoiou D. Joo de Avis, meio-irmo do monarca que havia morrido, como novo rei, no episdio chamado por alguns autores de Revoluo de Avis (1383 1385). Ele assumiu o trono em 1385 e durante todo o seu reinado favoreceu e apoiou as atividades mercantis.

A monarquia espanhola:

A formao da monarquia espanhola tambm esteve ligada s guerras de Reconquista da Pennsula Ibrica. Vimos que nesse processo vrios reinos foram constitudos. Em 1469, o casamento de Fernando de Arago com Isabel de Castela, irm do rei de Leo, acabou unindo trs reinos. E, 1492, os exrcitos de Fernando e Isabel apoderaram-se do reino de Granada, unificando a regio da Espanha e consolidado a monarquia.

Se Liga!

O processo que chamamos de formao das monarquias absolutistas entendido por alguns historiadores como um perodo de fortalecimento do poder real, que teve como causa a aliana estabelecida entre o rei, a nobreza e a burguesia que se formava. Com a centralizao do poder em suas mos, o monarca tomava para si o monoplio da fora, da justia e da tributao.

Sesso Pipoca

O Incrvel Exrcito de Brancaleone (Itlia, 1965)Direo: Mrio Monicelli

Este clssico do cinema italiano retrata os costumes da cavalaria medieval atravs de uma demolidora e bem humorada stira. A figura central Brancaleone, um cavaleiro atrapalhado que lidera um pequeno e esfarrapado exrcito, perambulando pela Europa em busca de um feudo. Trata-se de uma pardia a D. Quixote de Cervantes.

O filme consegue ser hilrio, mesmo na reconstituio dos aspectos mais avassaladores da crise do sculo XIV, representados pela trilogia "guerra, peste e fome". Utilizando-se sempre da stira, o filme de Monicelli focaliza a decadncia das relaes sociais no mundo feudal, o poder da Igreja catlica, o cisma do Oriente e a presena dos sarracenos.Joana D`Arc (Frana, 1999)

Direo: Luc Besson

O filme retrata a figura de Joana D'Arc, a jovem de origem camponesa que conseguiu exaltar o nacionalismo francs, na luta contra os ingleses durante a Guerra dos 100 Anos (1337-1453). Ressalta aspectos polticos, sociais e religiosos importantes do perodo.

O Stimo Selo (Sucia, 1957)

Direo: Ingmar Bergman

Mostra a crise de um cavaleiro medieval diante da morte no sculo XIV assolado pela "peste negra".

Elizabeth (Inglaterra, 1998)

Direo: Shekhar Kapur

O filme analisa a Inglaterra absolutista de Elizabeth I (a Rainha Virgem), que subiu ao trono em 1558 para tornar-se a mulher mais poderosa do mundo. No reinado anterior de sua meia irm, Mary I, a Inglaterra encontrava-se beira do caos com a represso do governo aos protestantes. Com a morte de Mary, Elisabeth Tudor, filha de Henrique VIII com Ana Bolena, assume o comando do reino, iniciando o mais glorioso governo da Dinastia Tudor.

Vamos Praticar(VEST) Considere o texto: "Neste tempo revoltaram-se os camponeses em Beauvoisin. Entre eles estava um homem muito sabedor e bem-falante, de bela figura e forma chamado Guilherme Carlos. Os camponeses fizeram-no seu chefe e estes lhes dizia que se mantivessem unidos. E quando os camponeses se viram em grande nmero, perseguiram e mataram os homens nobres. Inclusive muitas mulheres e crianas nobres, pelo que Guilherme Carlos lhes disse muitas vezes que se excediam demasiadamente; mas nem por isso deixaram de o fazer."

(Texto adaptado de Crnica dos quatros primeiros Valois (1327-1392) in ANTOLOGIA DE TEXTOS HISTRICOS MEDIEVAIS.)

O documento oferece subsdios sobre a Jacquerie, revolta camponesa ocorrida em 1358 na Frana, abalada pela Guerra dos Cem Anos, entremeada de crises e epidemias que se propagavam. Com base no texto:

a) Justifique o carter antifeudal da Jacquerie.

b) Cite trs grandes calamidades do sculo XIV

(VEST)No perodo medieval, algumas situaes contriburam para a progressiva centralizao do poder e futura instalao dos estados nacionais modernos. Sobre isso correto afirmar que:

01. Atravs da "Reconquista", os cristos empreenderam a tomada da Pennsula Ibrica aos muulmanos, favorecendo a formao dos Reinos Ibricos.

02. Insegurana, diversidade de leis e de moedas, acmulo de pedgios eram situaes feudais que levaram a crescente burguesia a apoiar a realeza contra os senhores feudais.

04. Na Frana medieval, o processo centralizador teve contribuio decisiva de Filipe Augusto, que enfrentou os ingleses plantagenetas, imps sua autoridade sobre os senhores feudais, promoveu progressos da burocracia real, exemplificada pela criao dos bailios, funcionrios do rei encarregados da aplicao de leis e editos reais.

08. do perodo medieval a consolidao e apogeu das prticas mercantilistas, que dominavam a vida econmica e social.

16. Na Inglaterra medieval, a monarquia instalada era forte at o sculo XIII, quando sofre limitaes com a imposio da Magna Carta e a instituio do Parlamento.

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(VEST)Considere o texto: "Do sculo XII ao sculo XIV, um certo nmero de cidades da Itlia ou das margens do mar do Norte conseguiram tornar-se quase independentes: esta situao, rara, foi tambm muito transitria e deve analisar-se mais como fases de crescimento que como situao estvel (...) De fato, no poderia haver integrao econmica completa do sistema feudal: essa integrao supunha um domnio dos negociantes, que era contraditrio com as bases do sistema."(Alain Guerreau, O FEUDALISMO - UM HORIZONTE TERICO.)

Por que razo o "domnio dos negociantes" estava em contradio "com as bases do sistema" feudal?

(VEST)Considere o texto: "Por enquanto, ainda el-rei est a preparar-se para a noite. Despiram-no os camaristas, vestiram-no com o trajo da funo e do estilo, passadas as roupas de mo em mo to reverentemente como relquias santas, e isto se passa na presena de outros criados e pagens, este que abre o gaveto, aquele que afasta a cortina, um que levanta a luz, outro que lhe modera o brilho, dois que no se movem, dois que imitam estes, mais uns tantos que no se sabe o que fazem nem porque esto. Enfim, de tanto se esforarem todos ficou preparado el-rei, um dos fidalgos retifica a prega final, outro ajusta o cabeo bordado." (SARAMAGO, Jos. MEMORIAL DO CONVENTO.)

Nesse texto Saramago descreve o cotidiano na corte no perodo de consolidao do Estado Moderno.

Todas as alternativas referem-se ao Absolutismo Monrquico, EXCETO:

a) A classe dominante, durante toda a poca moderna, no era mais a mesma do perodo feudal tanto poltica quanto economicamente.

b) A histria do Absolutismo Monrquico a histria da lenta reconverso da nobreza a um papel parasitrio, o que lhe permitiu regalias.

c) A nobreza passou por profundas transformaes no perodo monrquico de centralizao, mas nunca foi desalojada do poder poltico.

d) O Absolutismo era um rearranjo do aparelho de dominao, destinado a sujeitar as massas camponesas, que sublevadas questionavam o papel tradicional da nobreza.

e) O Estado Absolutista era uma nova carapaa poltica de uma nobreza atemorizada, que passou a ocupar um lugar junto ao Rei, se tornando cortes.

(VEST)Considere o texto: "A monarquia absoluta foi uma forma de monarquia feudal diferente da monarquia dos Estados medievais que a precedeu; mas a classe dominante permaneceu a mesma, tal como uma repblica, uma monarquia constitucional e uma ditadura fascista podem ser todas [elas] formas de dominao burguesa." (Christopher Hill, "Um comentrio", citado por Perry Anderson em LINHAGENS DO ESTADO ABSOLUTISTA.)

O texto apoia a seguinte afirmao:

a) os Estados medievais precederam a monarquia.

b) a expresso "monarquia feudal" no aplicvel aos Estados medievais.

c) os Estados medievais podem ser considerados Estados de transio.

d) o absolutismo foi uma forma de dominao feudal.

e) o absolutismo foi politicamente neutro do ponto de vista social.

(FUVEST-SP) Como estava organizada a estrutura da sociedade feudal?

(MAU-SP) Qual a diferena entre as obrigaes de um vassalo e as de um servo, na sociedade medieval?

(Unicamp SP) O tempo, que do ponto de vista dos grandes capitalistas significava tambm dinheiro, contrapunha-se idia conservadora de espao representada pela propriedade imvel da terra (Adaptado de Histria das grandes civilizaes).

O texto citado trata da transio de um tempo histrico para outro.

a) Identifique esta transio.

b) Caracterize a sociedade em que predomina o espao e aquela em que predomina o tempo.

(UFRJ 2005) "Dois acontecimentos que fizeram poca marcam o incio e o fim do Absolutismo clssico. Seu ponto de partida foi a guerra civil religiosa. O Estado moderno ergue-se desses conflitos religiosos mediante lutas penosas, e s alcanou sua foma e fisionomia plenas ao super-los. Outra guerra civil- a Revoluo francesa - preparou seu fim brusco." (Fonte: KOSELLECK, Reinhart. Crtica e crise. Rio de Janeiro, Eduerj & Contraponto, 1999, p. 19).a) Identifique dois aspectos que caracterizavam o exerccio da autoridade pelo Estado Absolutista.

b) Em 1651, em meio s guerras religiosas que assolavam a Europa, o filsofo ingls Thomas Hobbes defendia a necessidade de um Estado forte como forma de controlar os sentimentos anti-sociais do homem. Pouco mais de um sculo depois, o filsofo J.J. Rousseau, em sua obra Contrato Social (1762), apresentou uma outra viso sobre o mesmo problema.

Comente uma caracterstica da concepo de Estado presente em Rousseau.

(UFF) A descoberta da Amrica em 1498 por Colombo em nome dos reis espanhis, constitui um importante fator de superao de crise que atingiu a Europa nos sculos XIV-XV, pois:

a) Absorve o excedente populacional dos pases europeus devido a criao das colnias de povoamento.

b) Neutralizou os conflitos entre as potncias europias, concentradas no processo de colonizao do novo continente.

c) amplia a reserva de metais preciosos, possibilitando a maior circulao de moedas e acumulao de capitais.

d) Promoveu o processo de partilha da frica, como fornecedora de mo de obra escrava para as potncias europias.

e) Estimulou a produo agrcola na Europa uma vez que era necessrio atender a demanda do novo continente.

(UERJ) O trono real no o trono de um homem, mas o trono do prprio Deus. Os reis so deuses e participam de alguma forma da independncia divina. O rei v de mais longe e v mais alto, deve-se acreditar que ele v melhor. (Jacues Bossuet)

Essas afirmaes de Bossuet referem-se ao contexto:

a) Do sculo XII na Frana, no qual ocorria uma profunda ruptura entre Igreja e Estado pelo fato de o Papa almejar o exerccio do poder monrquico por ser representado por Deus.

b) Do sculo X na Inglaterra, no qual a Igreja Catlica atuava em total acordo com a nobreza feudal.

c) Do sculo XVIII na Inglaterra, no qual foi desenvolvida a concepo iluminista de governo.

d) Do sculo XVII na Frana, no qual se consolidavam as monarquias nacionais.

(UERJ) Os meios de persuaso empregados por governantes do sculo XX como Hitler, Mussolini e Stalin e, em menor grau, pelos presidentes franceses e norte-americanos so anlogos, sob certos aspectosimportantes, aos meios empregados por Lus XIV. (BURKE, Peter. A Fabricao do Rei. Rio de Janeiro, Zahar Ed., 1994.)Na poca de Lus XIV, esses meios de persuaso para se fabricar a imagem pblica do rei justificavam-se em funo da lgica inerente ao absolutismo. Este regime poltico pode ser definido como um sistema em que:

(A) o poder se restringia a um s homem, sem leis

(B) a centralizao do poder na figura do rei era legitimada atravs do povo

(C) os grupos e instituies no tinham o direito de opor-se s decises do rei

(D) a tradicional diviso dos poderes executivo, legislativo e judicirio era o desejo do soberano(UERJ 2004) Afirmo, portanto, que tnhamos atingido j o ano bem farto da Encarnao do Filho de Deus de 1348, quando, na mui excelsa cidade de Florena, cuja beleza supera a de qualquer outra da Itlia, sobreveio a mortfera pestilncia.(BOCCACCIO, Giovanni. Decamero. So Paulo: Crculo do Livro, 1991.)

No sculo XIV, a Europa conheceu uma crise, marcada pela trade guerra, peste e fome. No entanto, esta crise possibilitou condies para inmeras transformaes. Como exemplo dessas transformaes, ocorridas a partir do sculo XV, podemos citar:

(A)aumento da densidade demogrfica, determinando o crescimento da produo de alimentos

(B)reforo dos laos de servido, provocando a migrao de habitantes das cidades para o campo

(C)incio do processo de expanso martima, fortalecendo as monarquias em processo de centralizao

(D)reabertura do mar Mediterrneo, promovendo o crescimento de relaes econmicas mais dinmicas(UFRJ 2009) Durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), o atual territrio da Alemanha perdeu cerca de 40% de sua populao, algo comparvel, na Europa, apenas s perdas demogrficas decorrentes das ondas de fome e de epidemias do sculo XIV. No sculo XVII, tal catstrofe populacional abarcou apenas a Europa Central. Para o historiador francs Emmanuel Le Roy Ladurie, isso se deveu ao fato de a Germnia desconhecer o fenmeno do Estado Moderno.

Explique um aspecto poltico-militar, prprio do Estado Moderno, cuja ausncia contribuiu para a catstrofe demogrfica ocorrida na Germnia no sculo XVII.

EXPANSO MARTIMA EUROPIAComo visto, no sculo XIV aconteceu a primeira grande crise do feudalismo. A economia feudal no conseguia mais produzir o suficiente para alimentar a populao que crescia, j que no havia mais terras disponveis para expandir o cultivo, tecnologia pouco desenvolvida, escassez de mo de obra, adubo e etc. Com isso vieram fome e o aumento de impostos. A Guerra dos Cem anos entre Frana e Inglaterra tambm marcou toda a Europa do sculo XIV. As rotas comercias terrestres que cruzavam a Frana, importantes para a articulao do comrcio continental, ficaram comprometidas pela guerra, tornando necessrio o estabelecimento de caminhos alternativos. Ao mesmo tempo, a Peste negra devastou a populao europia em muitas reas, provocando uma verdadeira catstrofe demogrfica, que diminui os consumidores, a atividade comercial e a mo de obra. Num contexto de guerra e peste, a fome mais uma vez teve lugar e se generalizou. As revoltas populares tambm tiveram lugar, os nobres prejudicados aumentaram os tributos o que provocou muitas rebelies camponesas, as mais famosas foram as jacqueries, na Frana. O cenrio de crise estava completo: guerra, peste, fome e revoltas.

A diminuio da populao europia criou uma situao na qual a retomada da atividade comercial se faria de forma lenta, na mesma medida da expanso demogrfica. O desvio de metais preciosos para o Oriente na compra das especiarias e outros artigos de luxo, e o esgotamento das minas de metais preciosos de ouro e prata na Europa tornavam limitada a oferta de moeda, estrangulando o comrcio.

Finalmente, o crescimento do comrcio provocado pelo desenvolvimento da produo anteriormente, fora essencialmente aproveitado pelas cidades italianas, na rota de comrcio aberta no Mar Mediterrneo entre Europa e Oriente, que tivera origem nas cruzadas. Assim, as cidades italianas compravam mercadorias orientais trazidas pelos rabes e as revendiam. Esse monoplio da lucrativa rota mediterrnea das especiarias restringia a possibilidade de lucros de outras cidades europias.

Com tudo isso a burguesia europia foi forada a buscar novas alternativas para expandir o comrcio, e a sada evidente era a navegao atlntica. Teve ento origem o processo de expanso martima.

Pioneirismo Portugus

Enfrentar a desconhecida navegao no oceano Atlntico exigia investimentos de vulto, que estavam muito alm das possibilidades de qualquer cidade europia isolada. Era necessria a mobilizao ampla de recursos em escala nacional, o que tornou a centralizao monrquica pr-requisito. A unificao precoce de Portugal, a centralizao monrquica (Revoluo de Avis, em 1385) contribui ento decisivamente para as primeiras iniciativas da expanso martima. A burguesia interessada no comrcio, o Estado absolutista atrs de fontes de riquezas formaram uma aliana importante para empreitada.

Havia ainda o motivo religioso, visando a propagao do cristianismo com a converso dos nativos de outros continentes, e combater os infiis, como chamavam os rabes muulmanos, nas mos de quem ficava parte do lucro do comrcio com o Oriente.

Portugal reunia pr-condies essenciais: a tradio dos pescadores, uma vez que possuam um potencial agrcola fraco e que mantinham sua economia voltada para o mar; tecnologia nutica adquirida pela influncia e herana rabe que durante muito tempo se mantiveram naquele territrio; localizao geogrfica; Estado nacional formado que permitia investimentos de vulto, negociao centralizada e apoio a recente burguesia; o interesse governamental, burgus, dos nobres e da igreja; e por fim convergncia de capitais capitados pelo Estado centralizado. Assim, o estmulo governamental, somado ao interesse do grupo mercantil em alargar sua rea de atuao comercial e ao envolvimento dos nobres visando a conquista e domnios, viabilizou novas expedies, motivadas ainda pelo sucesso da tomada de Ceuta pelos Portugueses, em 1415, marco inicial da expanso martima europia.

Pouco a pouco, ganhou corpo o objetivo portugus de realizar o priplo africano. Os portugueses foram avanando cada vez mais pelo litoral da frica e ilhas do Atlntico (Aores, Madeira e Cabo Verde). O continente africano tinha muitas coisas interessantes para os portugueses: o ouro da Guin, marfim, pimenta e escravos que comearam a ser utilizados na produo de acar em Aores e Madeira, descobertas no sculo XV, o que contou um sculo de experincia antes da utilizao em terras brasileiras. Assim, a explorao nas ilhas recm conquistadas contou com uma poltica de povoamento baseada na agricultura e na pecuria.Cronologia da Expanso Martima Portuguesa

1415Tomada de Ceuta no norte da frica.

1418-1432Ocupao do arquiplago dos Aores coma introduo do sistema de Capitanias Hereditrias

1434Gil Eanes dobra o Cabo Bojador

1444Cabo Verde

1482Diogo Co atinge a foz do rio Zaire

1488Bartolomeu Dias dobra o Cabo das Tormentas

1498Vasco da Gama atinge Calicute na costa oeste da ndia

1500Cabral oficializa a posse sobre o Brasil

Portugal prosperou, ao mesmo tempo em que seus navegadores ampliavam seus conhecimentos nuticos e Lisboa tornavam-se importante entreposto comercial. Era a fase da acumulao primitiva de capital, quando a burguesia foi se fortalecendo. A escravizao, guerras, massacres, pilhagens, pirataria e explorao tiveram lugar de destaque. Mas o enriquecimento do reino portugus era apenas aparente, contavam com escassos recursos humanos e materiais, seus empreendimentos martimos no condiziam com a dependncia financeira em relao a outros centros, especialmente as companhias comerciais holandesas e italianas. Interesses mercantis submetidos aos da Coroa e nobreza a ela associada, sugavam recursos e se tornariam mais um entrave ao desenvolvimento comercial. Assim, o capital gerado acabou sendo transferido para outros centros, seja pela dependncia de financiamentos externos, seja pelos gastos da Coroa e da nobreza, o que impediu um processo de acumulao de capitais para investimento dentro do prprio reino.

Navegaes Espanholas

Pouco antes de a expanso martima portuguesa atingir o objetivo de chegar s ndias, a Espanha acabou por organizar expedies atlnticas, tornando-se a segunda monarquia europia a faz-lo. A primeira viagem espanhola foi concebida em 1492, por um navegador genovs, Cristvo Colombo. Partiu em agosto daquele ano, em trs pequenas caravelas, com o projeto de atingir as ndias contornando o globo terrestre, navegando sempre em direo ao Ocidente. Assim, buscava-se uma rota alternativa quela controlada pelos portugueses no sul, que contornava a frica. Colombo chegou ao continente americano pensando ter alcanado as ndias, somente em 1504 desfez-se o engano, quando o navegador Amrico Vespcio confirmou tratar-se de um novo continente.

Cronologia da Expanso Martima Espanhola

1492Cristvo Colombo chega Amrica, alcanando a ilha de Guadahani, atual San Salvador, nas Bahamas.

1499Alonso Ojeda chega Venezuela

1500Vicente Pinzn chega ao Brasil, no

Amazonas

1511Diogo Velasquez conquista Cuba

1512Ponce de Leon conquista a Flrida

1513Vasco Nunez Balboa alcana o Oceano Pacfico

1516Dias Slis chega ao Rio da Prata

1519Ferno de Magalhes e Sebastio del Cano partem para a primeira viagem de circunavegao

1519Ferno de Cortez inicia a conquista no Mxico

1531Francisco Pizarro inicia a conquista do Peru

1537Joo Ayolas chega ao Paraguai

1541Francisco Orellana explora o Rio Amazonas.

Assim, no inicio do sculo XVI portugueses e espanhis detinham o monoplio das expedies ocenicas, sendo seguidos por Frana, Inglaterra e Holanda depois de 1520. Entretanto os dois reinos Ibricos j haviam decidido a partilha do mundo antes mesmo que outras naes comeassem a se aventurar nos novos territrios: em 1493, as bnos do papa Alexandre VI a esse acordo levou edio da Bula Intercoetera, substituda no ano seguinte pelo Tratado de Tordesilhas. Este estipulava que todas as terras situadas a oeste do meridiano de Tordesilhas (situado 370 lguas a oeste do arquiplago de Cabo Verde) pertenciam Espanha, enquanto as terras situadas a leste seriam portuguesas. As outras naes europias rejeitaram esse tratado, e a disputa pelos territrios recm-descobertos seria um marco na Idade Moderna que se iniciava.

Mapa do Tratado de Tordesilhas

Se Liga!

O processo de expanso martima europia um marco no inicio da europeizao do mundo. Ele foi feito a partir de claras demandas econmicas e viabilizado por poderosas foras polticas. O sucesso da expanso significou evidentes vantagens para certos personagens que a projetaram e executaram.

Sesso Pipoca

1492-A Conquista do Paraso (EUA/Inglaterra/Frana/Espanha, 1992)

Direo: Ridley Scott

Trata do principal momento da expanso martima espanhola, quando em 1492 Cristvo Colombo tentou atingir o Oriente navegando para o Ocidente.

Vamos Praticar

(UERJ- 2008)

Mar Portugus

mar salgado, quanto do teu sal

So lgrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mes choraram,

Quantos filhos em vo rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma no pequena.

Quem quere passar alm do Bojador

Tem que passar alm da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele que espelhou o cu.

(Fernando Pessoa)

O poema de Fernando Pessoa descreve aspectos da expanso martima portuguesa no sculo XV, dando incio a um movimento que alguns estudiosos consideram um primeiro processo de globalizao.

Identifique duas motivaes para a expanso portuguesa e explique por que essa fase de expanso pode ser considerada um primeiro processo de globalizao.

(UERJ 2006) As grandes navegaes dos sculos XV e XVI possibilitaram a explorao do Oceano Atlntico, conhecido, poca, como Mar Tenebroso. Como resultado, um novo movimento penetrava nesse mundo de universos separados, dando incio a um processo que foi considerado por alguns historiadores uma primeira globalizao e no qual coube aos portugueses e espanhis um papel de vanguarda.

a) Apresente o motivo que levou historiadores a considerarem as grandes navegaes uma primeira globalizao.

b) Aponte dois fatores que contriburam para o pioneirismo de Portugal e Espanha nas grandes navegaes.

(UNIRIO 2005) O processo de expanso martima que envolveu diversos pases europeus, ao final da idade mdia, se encontra nas origens do mundo moderno. Ampliou horizontes geogrficos e do saber europeu, elevando a Europa a uma posio central de poder, identificada com a prpria modernidade. Sobre a expanso martima europia, entre os sculos XIV e XVI, correto afirmar que:

a) favoreceu o monoplio dos holandeses nas rotas de especiarias das ndias orientais, devido ao controle que exerciam sobre os conhecimentos nuticos e cartogrficos.

b) atraiu os navegadores s rotas do mediterrneo oriental em virtude do rico comrcio com o oriente praticado nesta regio pelos mercadores italianos.

c) solucionou os problemas gerados pela exploso demogrfica ocorrida na Europa ao final da idade mdia, principalmente, na Frana.

d) permitiu a Espanha ampliar a reconquista com a incorporao dos territrios rabes do norte da frica.

e) possibilitou aos portugueses o controle do Atlntico Sul, a partir da viagem de contorno da frica e da descoberta do Brasil.

(UERJ) Navegar preciso, viver no preciso.

Este era o lema dos antigos navegadores, pois embarcar nos navios da rota das ndias ou do Brasil, entre os sculos XV e XVI, era realmente uma aventura. Uma das explicaes para o pioneirismo portugus nessa aventura martima :

(A) o esprito de Cruzada, resultante da presena de uma burguesia mercantil procura de terras

(B) o processo de reconquista do territrio portugus, em decorrncia da Guerra dos Cem Anos contra a Frana

(C) a constituio da primeira monarquia absolutista dos tempos modernos, em virtude da aliana entre a nobreza e a Coroa portuguesas

(D) a integrao do pas ao circuito do grande comrcio europeu, com a criao de novas rotas entre as cidades italianas e o norte da Europa(UERJ 1997) O mundo conhecido pelos europeus no sculo XV abrangia apenas os territrios ao redor do Mediterrneo. Foram as navegaes dos sculos XV e XVI que revelaram ao Velho Mundo a existncia de outros continentes e povos. Um dos objetivos dos europeus, ao entrarem em comunicao com esses povos, era a:

(A) busca de metais preciosos, para satisfazer uma Europa em crise

(B) procura de escravos, para atender lavoura aucareira nos pases ibricos

(C) ampliao de mercados consumidores, para desafogar o mercado saturado

(D) expanso da f crist, para combater os infiis convertidos ao protestantismo

(UERJ 2002) Ao chegar a Calicute, em 1498, o navegador portugus Vasco da Gama aguardou que embarcaes locais se aproximassem das naus e mandou um membro da tripulao para terra, o degredado Joo Nunes. Este encontrou no porto dois comerciantes tunisinos, que sabiam falar castelhano e genovs, travando o seguinte dilogo, registrado por um portugus annimo:

- Ao diabo que te dou; quem te trouxe c?

E perguntaram-lhe o que vnhamos buscar to longe.

E ele respondeu:

- Vimos buscar cristos e especiaria.(Adaptado de VILLIERS, John. Vasco da Gama, o Preste Joo das ndias e os cristos de So Tom. In: Oceanos: Vasco da Gama. Lisboa, 1998.)

(A) Justifique por que buscar especiaria foi uma importante motivao econmica da Expanso Martima portuguesa.

(B) Identifique duas aes voltadas para a expanso da f crist, que tenham sido empreendidas pelos portugueses nos seus domnios coloniais.(Unicamp SP)Contestando o tratado de Tordesilhas, o rei da Frana, Francisco I, declarou em 1540:

Gostaria de ver o testamento de Ado para saber de que forma este dividira o mundo (Citado por VICENTINO, Cludio. Histria Geral. So Paulo: Scipione, 1991)

a)O que foi o tratado de Tordesilhas?

b) Por que alguns pases da Europa, como Frana, contestavam aquele tratado?

(UniRio99) Inmeros escritores e poetas portugueses retrataram o imaginrio que acompanhou o homem ibrico na sua aventura pelos mares nunca dantes navegados. Temores e fantasias no o impediram de se lanar s guas do mar Oceano, arriscando-se em busca, principalmente, de:

a) Novos caminhos para o Oriente, novos mercados, metais preciosos e propagar a f crist.

b) Escravos africanos, cana de acar, metais preciosos e catequizar os ndios.

c) Escravos e ouro, desvendar os segredos dos mares e descobrir correntes martimas desconhecidas.

d) Ouro e marfim, expandir o protestantismo e romper o monoplio rabe-veneziano no Mediterrneo.

e) Pau-brasil, testar os novos conhecimentos nuticos e conhecer novas rotas.

MERCANTILISMO

Nos sculos XV e XVI o crescimento da populao e o aperfeioamento das tcnicas deram condies a uma expanso do comrcio europeu, a economia europia voltava a crescer. As grandes navegaes desse perodo, a expanso martima provocou uma verdadeira revoluo comercial, na medida em que a atividade mercantil passou a ser exercida em escala mundial. O Estado absolutista teve atuao destacada, intervinha diretamente na economia, baseados num conjunto de idias e prticas econmicas que posteriormente foi denominada de MERCANTILISMO.

Como visto, essa a chamada Idade Moderna (entre os sculos XV e XVIII), quando muitas instituies feudais j no atendiam as novas necessidades econmicas e estruturao do poder centralizado, resultando, ao longo do tempo, em sua decadncia enquanto se estruturava uma nova ordem socioeconmica. O feudalismo ainda sobrevivia, diversos elementos que o constitua ainda tinham lugar, mas grupos sociais mais dinmicos, como aqueles atrelados aos negcios comerciais e financeiros, aceleravam a acumulao primitiva de capitais, forjando as condies que desembocariam na industrializao (sc XVIII e XIX), quando a ordem capitalista burguesa atingiria a sua maturidade e completaria a sua formao como sistema hegemnico. Na Idade Moderna, entretanto formas de capital foram se desenvolvendo, ligados aos comerciantes e banqueiros, que exploravam os lucros da sociedade feudal e escravista colonial, os nobres estavam ameaados, mas estruturavam sua vida nesta nova lgica, e permaneciam no centro de poder. S no fim da Idade Moderna os burgueses romperiam definitivamente com as antigas tradies e resqucios estamentais, sendo j suficientemente fortes para criar uma estrutura econmica, social e poltica de fato capitalista. Este perodo foi marcado por rupturas, mudanas, negociaes e combinaes de interesses.

O Estado Moderno: Os Estados modernos europeus surgiram, a princpio, do processo de aproximao entre monarquia e burguesia, em busca de crescentes quantidades de recursos monetrios, diante do quadro apresentado anteriormente. Os reis comearam a estimular e proteger os negcios burgueses. Essa ateno aos negcios mercantis exigia o fortalecimento de seu poder, imprimindo um carter absolutista s monarquias. Modificava-se assim o sistema poltico feudal em que cada vassalo reinava soberano sobre seu feudo. Estimulando a atividade mercantil, o monarca garantia seu prprio fortalecimento, na medida que ampliava a base de arrecadao de impostos. Com tais recursos, sustentava uma poderosa mquina estatal com vasta burocracia, verdadeira base de seu poder, constituda, essencialmente, por membros da nobreza. O que possibilitou aos nobres a manuteno de seus privilgios no exerccio de novos papis, contrabalanando a expanso burguesa. Dessa forma, tanto nobres como burgueses permaneciam dependentes do rei. Juntos e articulados na estrutura do estado moderno, monarcas, burgueses e nobres combinavam poderes que garantiam a ordem, a sujeio popular, a dinmica comercial e os privilgios, constituindo o chamado Antigo Regime.

O Estado, assim, se fortaleceu politicamente no absolutismo, e empreendeu aes em vista de aumentar seu poder, tanto econmico como poltico. Essas aes eram de interveno direta na economia do Estado, essa interveno e os objetivos que pretendiam formavam o mercantilismo. Ento para promover o fortalecimento financeiro do Estado, diferentes prticas foram adotadas e passaram a ser conhecidas como mercantilismo.

Essa pintura flamenga do inicio do sculo XVI mostra os novos tempos: a moeda como sinal de riqueza, e a cultura, simbolizada pelo livro que pode ser comprada ou vendida. A classe comercial ganhando cada vez mais espao.

As prticas mercantilistas partiam do ideal metalista, ou seja, a idia de que o Estado seria forte quando acumulasse metais preciosos, a riqueza do Estado dependia da quantidade de metais que possuam, e que indicava o enriquecimento. Esses metais poderiam ser conseguidos pela explorao de minas (desde o sculo XV esgotadas na Europa), ou do comrcio internacional. O que fazia surgir o princpio da balana comercial favorvel, j que o pas que exportasse mais do que importasse conseguiria reunir mais metais preciosos que eram a forma de pagamento.

Assim, muitas medidas foram adotadas para ampliar as exportaes, estimulando a produo manufatureira, e diminuir importaes, impondo barreiras alfandegrias aos produtos estrangeiros ou at proibindo-os. Importava-se apenas a matria prima necessria e diminua-se ou eliminava os impostos para exportao das manufaturas. Atitudes claramente protecionistas e de interveno estatal, com controle da produo, regulando e limitando os negcios da burguesia (que tinham origem nas leis criadas pelas autoridades das cidades medievais, que asseguravam a qualidade, os tipos e os preos dos produtos) e que s seriam contestadas no sculo XVIII quando a burguesia precisaria se livrar das amarras mercantilistas, e iriam tomar como base s idias econmicas liberais.

Muitos Estados recorriam a guerra para manter a balana favorvel aos interesses do reino, j que todos queriam exportar e no importar. Outro caminho para o Estado ter o que exportar era atravs da expanso martima e colonial. As colnias deveriam converter-se em reas com as quais as metrpoles iriam estabelecer um comrcio desigual em benefcio da segunda, o que garantia a balana comercial favorvel. A colnia deveria fornecer produtos que seriam vendidos na Europa, gerando grandes lucros. Para negociar com a colnia os mercadores se uniam e formavam as companhias de comrcio, que pagavam ao rei o direito ao monoplio de comrcio colonial. Ao mesmo tempo seriam extrados das colnias os metais preciosos que estavam esgotados na Europa, alcanando-se assim, por quaisquer vias, os objetivos mercantilistas e o fortalecimento do poder do Estado.

Outro objetivo mercantilista era aumentar a populao. Acreditava-se que quanto maior fosse a populao de um pas, mais gente estaria trabalhando nas manufaturas, alm de servir ao exrcito e a marinha. Visando este aumento o Estado promulgava leis para os pobres, impedindo que morressem de fome e frio e obrigando-os a trabalhar nas manufaturas por pouqussima remunerao.

Cada pas europeu desenvolveu seu prprio mercantilismo. Devido as maiores possibilidades de acumulo de riquezas, a colonizao passou a ser o principal meio pelo qual os Estados tentaram atingir seus objetivos mercantilistas. Portugal foi pioneiro nas grandes navegaes. Da frica obtinha ouro, marfim e escravos. Do Oriente, especiarias. E sua principal possesso, o Brasil colonizado a partir de 1532. A Espanha montou um enorme imprio colonial produtor de prata e ouro. Esses dois pases tiveram pouco desenvolvimento de manufaturas. Suas burguesias viviam principalmente do comrcio e eram parasitas do Estado, isto , dependiam muito de seus favores. Depois da decadncia da minerao na Amrica espanhola e do acar no Brasil, as duas metrpoles se revelaram inferiores as outras potncias europias, que tinham burguesia mais avanada. Estagnaram-se economicamente, ficaram dependentes de suas colnias, tiveram inflao provocada pelo excesso de metais preciosos, e mantiveram as estruturas polticas que beneficiavam nobreza e clero ficando aqum do desenvolvimento capitalista que se anunciava.

A Frana tinha colnias na Amrica e sua burguesia criou companhias de comrcio para negociar com vrias partes do planeta. O Estado apoiava o desenvolvimento manufatureiro. A Inglaterra tambm mantinha colnias, mas sua principal fonte de recursos era o comrcio exterior e as manufaturas. A poderosa marinha inglesa garantia um ativo comrcio mundial. Tudo isso tornou a burguesia britnica a mais rica do mundo, que j no sculo XVII fez estourar a revoluo que criou o Estado burgus, fator para a Revoluo Industrial no sculo XVIII.

Por fim, a Holanda baseava seu mercantilismo na Companhia das ndias Orientais, associao de vrios burgueses que se dedicava ao comrcio com o Oriente, ao mesmo que tentavam expulsar de l portugueses, franceses e ingleses. Alm da Companhia das ndias Ocidentais responsveis pela colonizao do nordeste Brasileiro. Tinham poderosa marinha, fazendo transporte inclusive para outros pases, que cobrava por mercadorias. Tambm possuam manufaturas e tecnologias importantes para a poca. Por fim, o banco de Amsterd, com fama de seguro, que recebia depsitos de todo o mundo, com isso lucravam muito financiando empreendimentos.

O mercantilismo no foi uma espcie de capitalismo. Ao contrrio, ele tinha muito a ver com a mentalidade feudal. A comear por seu objetivo, que no era o de estimular o desenvolvimento capitalista, mas o de reforar o Estado feudal absolutista, repleto de mentalidades e reminiscncias das funes medievais. Por outro lado, o mercantilismo dava fora para os negcios burgueses. Quanto mais a burguesia ficasse rica, mais poderia pagar impostos ao Estado. O problema foi que mais tarde, a burguesia estaria to forte que acabaria destruindo o feudalismo e o Estado absolutista.

Se Liga!

Mercantilismo, palavra inventada no sculo XIX por seus crticos, foi entre os sculos XV e XVIII um conjunto de idias e de prticas econmicas adotadas pelo Estado absolutista, para atender suas demandas e dos demais grupos envolvidos no equilbrio do poder.

Sesso pipoca

Piratas (Frana e Tunsia, 1986)

Direo: Roman Polanski

Comdia mostrando peripcias de piratas no Mar das Carabas e as trapaas ocorridas para dominar um galeo espanhol.Vamos Praticar

(Unirio) O sculo XVI v surgir o Estado moderno. A centralizao monrquica vai, a partir do sculo XV, tomando o lugar dos pequenos ncleos feudais ... Foi necessrio vencesse o monarca seus vassalos para que essa unidade mecnica se transformasse em unidade poltica e econmica. E ento surgiu a idia de economia nacional no sentido moderno dessa expresso, isto , a concepo de Estado que coordena todas as diferentes foras ativas da nao materiais e humanas. O comrcio, principalmente, transforma-se em negcio pblico; seus interesses perdem o carter de coisa exclusivamente privada; Em suma, a nao doravante um organismo econmico ... A vida econmica, sob a influncia dessa transformao poltica, amplia-se e se organiza, pois, no quadro nacional. (Hugon, Paul. Histria das Doutrinas Econmicas. SP: Atlas, 1989, ps. 62 e 63.)

Entre os sculos XV e XVIII a ao econmica dos Estados Nacionais Absolutos europeus manifestou-se atravs de um conjunto de idias e prticas, conhecidas como Mercantilismo. No contexto histrico da transio entre o feudalismo e o capitalismo, constituiu-se como um sistema econmico que promoveu a expanso colonial do mundo europeu sobre os demais continentes.

Identifique e explique uma das prticas econmicas que caracterizaram a ao mercantilista entre os sculos XV e XVIII.(FUVEST-SP) Durante o sculo XVI, a Europa conheceu um processo inflacionrio profundamente perturbador denominado de revoluo dos preos que provocou uma acentuada transferencia de renda entre os grupos sociais e, at mesmo, entre pases. Esse processo foi causado:

a) pela consolidao dos estados absolutistas, que mantinham cortes e gastos extraordinrios.

b)Pelas guerras de religio que obrigaram os Estados a construir exrcitos poderosos e caros.

c) Pela Abertura das rotas de comrcio martico com a sia, inundando a Europa com especiarias e produtos de todo tipo.

d) Pela chegada, em grande quantidade, de prata e ouro da Amrica Espanhola.

e) Pelas guerras entre as monarquias mais poderosas para conquistar a Itlia e manter a hegemonia.

(UFRJ 1999) ... se de globo mundo que se trata e de imprio e rendimentos que imprios do, faz o infante D. Henrique fraca figura comparado com este D. Joo, quinto j se sabe de seu nome na tabela dos reis, sentado numa cadeira de braos de pau-santo, para mais comodamente estar e assim com outro sossego atender ao guarda-livros que vai escriturando no rol os bens e as riquezas, de Macau as sedas, os estofos, as porcelanas, os lacados, o ch, a pimenta, o cobre, o mbar cinzento, o ouro, de Goa os diamantes brutos, os rubis, as prolas, a canela, mais pimenta, os panos de algodo, o salitre, de Diu os tapetes, os mveis tauxiados, as colchas bordadas, de Melinde o marfim, de Moambique os negros, o ouro, de Angola outros negros, mas estes menos bons, o marfim, que esse, sim, o melhor do lado ocidental da frica, de So Tom a madeira, a farinha de mandioca, as bananas, os inhames, as galinhas, os carneiros, os cabritos, o ndigo, o acar, de Cabo Verde alguns negros, a cera, o marfim, os couros, ficando explicado que nem todo o marfim de elefante, dos Aores e Madeira os panos, o trigo, os licores, os vinhos secos, as aguardentes, as cascas de limo cristalizadas,os frutos, e dos lugares que ho-de vir a ser Brasil o acar, o tabaco, o copal, o ndigo, a madeira, os couros, o algodo, o cacau, os diamantes, as esmeraldas, a prata, o ouro, que s deste vem ao reino, ano por ano, o valor de doze a quinze milhes de cruzados, em p e amoedado, fora o resto, e fora tambm o que vai ao fundo ou levam os piratas... (Saramago, Jos. Memorial do convento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994, p.227-8)

O trecho acima remete formao e expanso dos imprios coloniais entre os sculos XV e XVIII. O Mercantilismo era dos principais pilares dos Estados Nacionais europeus dessa poca.

Identifique quatro caractersticas do mercantilismo. (UERJ 2004) Devemos sempre ter o cuidado de no comprar mais aos estrangeiros do que lhe vendemos. (SMITH, Thomas, 1549 apud BRAUDEL, F. Os jogos das trocas. Lisboa: Cosmos, 1985.)

A afirmativa acima evidencia uma das principais caractersticas das prticas econmicas mercantilistas dos Estados absolutistas entre os sculos XV e XVIII.

a) Explique o significado de riqueza nacional na poca do mercantilismo.

b) Justifique por que a idia de balana de comrcio favorvel foi um fator que contribuiu para a colonizao da Amrica.

(UERJ 1998) Balana fecha com dficit de US$ 315 milhes. O governo est comemorando o dficit de US$ 315 milhes na balana comercial do ms passado, bem abaixo do saldo negativo de US$ 811 milhes registrado em julho.(O Globo, 02/09/97)

A notcia acima identifica uma preocupao do governo em obter um saldo positivo nas correntes de comrcio. Essa preocupao, no entanto, no nova. Na Idade Moderna - sculos XV ao XVIII, a formulao da idia de uma balana favorvel era decorrente das prticas econmicas ligadas ao:(A) mercantilismo

(B) fisiocratismo

(C) cameralismo

(D) metalismo

(EEM-SP) A poltica econmica do mercantilismo caracterizou-se por trs elementos bsicos, a saber: balana comercial favorvel, protecionismo e monoplio. Explique de que modo o protecionismo e o monoplio concorriam para manter a balana de comrcio favorvel.

(UFOP-MG) Leia o texto: A nica maneira de fazer com que muito ouro seja trazido de outros reinos para o tesouro real conseguir que grande quantidade de nossos produtos seja levada anualmente alm dos mares, e menor quantidade de produtos seja para c transportada. (Poltica para tornar o reino da Inglaterra prspero, rico e poderoso, 1549)

Discuta essa afirmativa, localizando-a no contexto da economia mundial, e defina as modalidades do sistema econmico a que ela se refere.

O PERODO PR-COLONIAL E A FORMAO DAS COLNIAS PORTUGUESA E ESPANHOLA NAS AMRICAS

Amrica Pr-Colonizao Europia

Antecedendo a chegada dos europeus, o continente americano era habitado por inmeros povos, desigualmente distribudos e bastante diferenciados. Era a Amrica antes de se tornar Amrica. Para se conhecer esses povos os estudiosos tem enfrentado a escassez de fontes e inmeras dificuldades, recorrendo as evidencias fornecida pela arqueologia e pela lingstica histrica, aos relatos de colonizadores, cronistas e missionrios dos sculos XVI e XVII e at ao estudo de populaes indgenas atuais. Mas o trabalho complexo e cheio de obstculos, tm-se ainda poucas certezas em meio a muitas dvidas e desconhecimentos. Queremos aqui destacar um pouco do que Portugueses e Espanhis encontraram em sua chegada a estas terras, no final do sculo XV e inicio do sculo XVI. Por isso, nosso foco ser as reas hoje conhecidas como Amrica Central e Amrica do Sul. O continente americano habitado h pelo menos doze mil anos. Em 1492, data da chegada de Colombo, a futura Amrica abrigava muitos povos, cada um com uma cultura prpria. Sob aqueles que ficaram sob domnio espanhol faremos referencia somente aos incas, maias e astecas.

Os chamados incas eram chefiados por um imperador que, alm de chefe militar, era considerado um deus na terra, o filho do sol. O auge dessa civilizao ocorreu nos sculos XV-XVI, entre 1438 at a chegada dos espanhis regio em 1531.

Esse perodo foi marcado por uma grande expanso territorial, estendendo-se por 4 mil quilmetros, desde o Equador at o Chile, e pelo domnio de vrios grupos tnicos. Sob o imperador Pachakuti (1438-1471), Cuzco transformou-se na capital do imprio, chegando a ter uma populao de cerca de 100 mil habitantes. Outra cidade importante, exemplo de planejamento e sofisticao urbana, foi Machu Picchu, cujos vestgios ainda hoje causam profunda admirao.

Em todo o imprio, viviam e trabalhavam aproximadamente seis milhes de pessoas. Predominava a servido coletiva em uma cidade fortemente hierarquizada. A terra era considerada propriedade do imperador, administrada por funcionrios locais (curacas), que em cada aldeia (ayllu), determinavam a organizao do trabalho, o montante dos impostos destinados ao imperador e a mita, o trabalho compulsrio em obras pblicas. Estes incluam obras de irrigao e terraos cultivveis nas ngremes encostas das montanhas andinas, garantindo a produo de excedentes agrcolas e a prpria sobrevivncia do povo inca.

Na Meso-amrica, isto , no trecho que vai do Mxico Costa Rica, diversas civilizaes poderosas se sucederam, como os olmecas, toltecas, o Imprio Teotihuacn e principalmente os maias e os astecas.

A civilizao maia, cujo centro era a Pennsula de Iucat, na regio sudeste do atual Mxico, conheceu seu apogeu entre os sculos III e XI. Organizava-se em cidades-Estado. O domnio social era exercido por uma elite religiosa e militar de carter hereditrio. Em torno dos centros urbanos encontravam-se aldeias de camponeses submetidos servido coletiva. Possuindo mais de 50 centros importantes, a civilizao maia atingiu uma populao superior a 2 milhes de habitantes. Foram responsveis pela criao de um sofisticado esquema de escrita hieroglfica e possuam vrios calendrios. Pouco se sabe a respeito da decadncia maia. Suas cidades foram abandonadas e na poca da chegada dos espanhis, j no existia sociedade maia organizada.

A civilizao asteca foi a mais grandiosa das civilizaes da Mesoamrica. Os astecas chegaram a controlar um imprio que se estendia do oeste mexicano at o sul da Guatemala, incluindo uma populao de talvez 12 milhes de habitantes. Sua capital, Tenochtitln (atual Cidade do Mxico), fundada em 1325, cobria uma rea de 13 quilmetros quadrados e chegou a ter um populao estimada entre 80 e 500 mil habitantes.

Os astecas exerciam rgido controle sobre os povos vizinhos, que eram obrigados a pagar-lhes tributos e estavam sujeitos a expedies punitivas. Dentro do imprio, existia uma estrutura poltica centralizada. O imperador dirigia a casta sacerdotal na qual se apoiava a atividade agrcola. Nas aldeias com seus grupos familiares, predominava a posse comunal da terra, embora parte da produo devesse ser transferida para o Estado para sustentar o imperador, os militares, os funcionrios administrativos e os sacerdotes. Portanto, o sistema predominante era tambm o de servido coletiva. A religio baseava-se na crena em vrios deuses e na prtica de sacrifcios humanos, as cerimnias eram pblicas na grande pirmide no centro de Teotihuacn ou nos vrios templos dos bairros.

Da Meso-Amrica, para os Andes, descendo o Amazonas, alcanando a nascente do Xingu, chegando no Cerrado, por todo este percurso encontraramos, se aqui estivssemos no sculo XVI diversos povos e culturas. O que nos interessa, no entanto, neste momento, o Litoral do futuro Brasil, sob o qual se concentrou a colonizao portuguesa nos seus primrdios. Quando os europeus chegaram ao que viria a ser o Brasil, encontraram uma populao amerndia bastante homognea em termos culturais e lingsticos, distribuda grosso modo ao longo de toda a costa e na bacia Paran-Paraguai. A despeito dessa homogeneidade, divisaram-se dois grandes blocos subdividindo essa populao: ao sul, os Guaranis, que ocupavam a bacia supracitada e o litoral, desde a Lagoa dos Patos at Canania, no atual estado de So Paulo; e os Tupi que dominavam a faixa litornea desde Iguape at a costa do Cear. Esta continuao tupi-guarani s era interrompida em alguns pontos por povos chamados Tapuias, termo genrico para ndios no-Tupi. H diversas explicaes para a expanso Tupi-Guarani na costa brasileira. Mas o que nos interessa aqui saber que eram eles que aqui estavam no momento da chegada dos europeus.

Os Tupi-Guaranis sobreviviam com base na agricultura de coivara, na pesca e na caa. Entre os Guaranis o milho parece ter sido a base alimentar, enquanto os Tupinambs utilizavam a mandioca amarga para a produo de farinha.

Esses dois blocos no formavam duas grandes unidades polticas e regionais: estavam divididos, nas palavras dos cronistas, em vrias naes, castas, geraes ou parcialidades, algumas aliadas entre si, outras inimigas at a morte. Unidades e conflitos sujeito a jogos de aliana e de guerra, nunca definitivos. As aldeias aliadas formavam ncleos de interao mais densa, nexos polticos, no interior dos conjuntos maiores, designados na literatura como Tupinamb, Tupiniquim, Temomino e assim por diante. A realidade desses macroblocos populacionais, contudo, incerta. Aldeias aliadas formavam conjuntos multicomunitrios, como ns de uma rede sem centro: no existia um ncleo regional, poltico-cerimonial, onde residisse um chefe ou sacerdote supremo; os grandes xams tupi-guarani no exerciam fora centrpeta, circulavam pela terra, de aldeia em aldeia, profetizando e curando. Tampouco havia chefes com poder supralocal. A estrutura da chefia era to difusa e fragmentria quanto a das unidades sociais. Nem havia formas verticais de integrao poltica. O que sobressai a enorme fragmentao em uma populao to homognea, que ainda carece de muitas explicaes sobre o modo de funcionamento, relaes e estruturas das diversas unidades dos povos.

A despeito das divergncias sobre a taxa populacional na ocasio da chegada europia, a taxa de depopulao durante os dois primeiros sculos da colonizao foi brutal. As guerras, as expedies para captura de escravos e, principalmente, as epidemias e a fome dizimaram os Tupi-Guarani.

Formao das Colnias Portuguesa e Espanhola nas Amricas

Como visto no captulo de Expanso Martima, Portugal e Espanha foram as naes pioneiras no desbravamento e conquista de territrios ultramarinos. Portugal chegou a constituir-se como um verdadeiro imprio colonial, com possesses na frica e nas Amricas. Em linhas gerais, vamos ver como se deu a montagem das colnias portuguesa e espanhola na Amrica, que iro perdurar da descoberta dessas terras no final do sculo XV e inicio do XVI at o sculo XIX, que quando essas reas conquistaram sua independncia.

A Amrica Portuguesa

A instaurao de uma colnia portuguesa no territrio americano no se deu imediatamente aps a tomada da posse por Pedro lvares Cabral, em 1500. Portugal mantinha seus recursos voltados para o comrcio oriental, deixando o Brasil, por alguns anos, numa posio secundria, visto que aqui no haviam sido encontrados metais preciosos nem produtos similares aos do rentvel comrcio afro-asitico. A nica preocupao com o territrio recm-conquistado era a de garantir a sua posse diante das contnuas investidas de outros pases europeus.

A primeira expedio exploradora enviada Amrica lusa, em 1501, foi chefiada por Gaspar Lemos. Alm de nomear diversas localidades litorneas, como a Baa de Todos os Santos e o lugarejo de So Sebastio do Rio de Janeiro, confirmou a existncia do pau-brasil, madeira da qual se extraa um corante j utilizado na Europa para tingimento de tecidos. Em 1503, outra expedio, chefiada por Gonalo Coelho, fundou feitorias no litoral fluminense, visando armazenagem da madeira e ao carregamento de navios. Administrados pelos feitores, muitos desses entrepostos eram fortificaes que garantiam a posse lusa em detrimento de outros conquistadores. Ao formarem plantios e se dedicarem criao de animais para o sustento, transformavam-se, tambm, em ncleos colonizadores.

O primeiro empreendimento de explorao econmica ao qual se dedicaram os portugueses foi a extrao do pau-brasil, encontrado numa larga faixa litornea que se estendia do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro.

Devido abundncia de pau-brasil no litoral brasileiro, Portugal estabeleceu o estanco, ou seja, o monoplio real sobre a explorao do produto.

A extrao do pau-brasil era feita mediante uma concesso da Coroa a particulares. Os contratantes recebiam o monoplio da extrao. Em contrapartida, obrigavam se a implantar o sistema de feitorias, armazns fortificados onde era guardada a madeira a ser transportada para a metrpole. Alm disso, a cada ano de contrato, deveriam enviar pelo menos seis navios a fim de explorar trezentas lguas (cerca de 2 mil quilmetros) do litoral.

O escambo foi a maneira utilizada para assegurar o trabalho indgena na extrao do pau-brasil. Em troca de miangas, tecidos e roupas, canivetes, facas e outros objetos, os nativos derrubaram as rvores, obtinham as toras e as armazenavam nas feitorias. Este sistema viabilizou a explorao da madeira dentro dos interesses mercantis.

Passados trinta anos da chegada de Cabral, diante da progressiva crise do comrcio com o Oriente e das ameaas estrangeiras ao domnio sobre seu territrio na Amrica, Portugal voltou-se para a efetiva colonizao dessas terras. Foram organizadas expedies colonizadoras, sendo a primeira delas comandada por Martim Afonso de Souza, que aqui chegou em 1531.

Alm de organizar expedies que penetraram no territrio para reconhecimento e busca de riquezas, Martim Afonso dirigiu-se foz do Rio Prata no sul, para efetivar o domnio luso diante da crescente presena de outros exploradores europeus na regio. L aprisionou vrios navios piratas franceses.

Colocando em prtica sua poltica colonizadora, iniciou a distribuio das sesmarias (lotes de terra) aos novos habitantes que se dispusessem a cultiv-las, bem como a plantao de cana-de-acar e a construo do primeiro engenho da colnia. Um ano antes de partir para Portugal, havia fundado, em 1532, as vilas de So Vicente e Santo Andr da Borda do Campo, respectivamente, no litoral e no interior do atual estado de So Paulo.

Amrica Espanhola

A idia de expanso da f catlica por meio da converso dos indgenas foi utilizada como justificativa para a explorao da Amrica.

Explorava-se o trabalho indgena por meio da mita, instituio j existente no Imprio Inca. Afastados de suas comunidades, os indgenas eram forados a trabalhar nas minas, recebendo em troca um salrio irrisrio e tornado se vtimas das pssimas condies de trabalho, o que levava morte. A larga utilizao da mita acabou por arruinar a estrutura comunitria indgena.

Outra forma de explorao de trabalho foi a encomienda, bastante empregada pelos espanhis desde os primeiros anos de colonizao. O rei da Espanha, por meio de administradores coloniais, encomenderos, obrigatoriamente espanhis estabelecidos na Amrica, concedia os o direito de explorar o trabalho de indgenas, devendo em troca oferecer lhes uma educao crist.

Do ponto de vista administrativo, o gerenciamento da colonizao era feito na Espanha, por meio do Conselho Real e Supremo das ndias, cujos representantes nas colnias eram chapetones. A atividade comercial a arrecadao de impostos eram realizadas pela Casa de Contratao que, para melhor controlar o comrcio colonial, instituiu o regime porto nico.

Algumas cidades da Amrica espanhola tiveram um crescimento bastante grande, sendo no apenas centros comerciais e administrativos, mas tambm culturais. Na verdade, desde o sculo XVI haviam sido fundadas universidades em Lima, no Vice- Reinado do Peru e na Cidade do Mxico, no Vice-Reinado de Nova Espanha.

O Conselho das ndias nomeava os vicereis e fiscalizava sua administrao. Dentro de cada vice-reinado existiam divises administrativas chamadas intendncias, governados e as cidades mais importantes possuam suas prprias cmaras municipais.

A crescente prosperidade econmica da Amrica foi um grande gerador de tenses entre criollos e chapetones. De fato, grande parte da riqueza produzida, notadamente os metais preciosos, era transferida para a metrpole, em prejuzo das colnias. Ao mesmo tempo, a autoridade dos chapetones sobre os criollos e o veto participao destes na administrao colonial (alm da municipal) culminaram no sculo XIX, no movimento de independncia da Amrica espanhola.

Se Liga!

A Extrao do pau-brasil foi o primeiro empreendimento econmico do Brasil colnia. As expedies na Amrica portuguesa at 1530, eram fundamentadas no reconhecimento e proteo do territrio portugus. J os espanhis aproveitaram formas de pagamentos de tributo j utilizadas pelas sociedades meso-americanas, como a mita, realizando a explorao, sobretudo de metais preciosos.

Sesso Pipoca

A Misso

Diretor: Roland Joff (Inglaterra, 1986)

No sculo XVIII, na Amrica do Sul, um violento mercador de escravos indgenas, arrependido pelo assassinato de seu irmo, realiza uma auto-penitncia e acaba se convertendo como missionrio jesuta em Sete Povos das Misses, regio da Amrica do Sul reivindicada por portugueses e espanhis, e que ser palco das Guerras Guaranticas.

Hans Staden

Diretor: Luiz Alberto Pereira (Brasil e Portugal,1999)

O filme conta a histria de Hans Staden, viajante alemo que me 1550 naufragou no litoral de Santa Catarina. Acabou morto e devorado em ritual antropofgico.

Vamos Praticar

(UFRJ 2007) Etapas da Conquista espanhola do Novo Mundo, 1493-1600 Perodo Km2 conquistados

1493-1515 300.000

1520-15402.000.000

1540-1600500.000

(In: Chaunu, Pierre. Conquista y explotacin de los nuevos mundos (siglo XVI). Barcelona:Editorial Labor, 1973, p. 15).Embora represente um dos traos mais caractersticos da Conquista espanhola do Novo Mundo, a rapidez com que tal processo ocorreu variou muito, em etapas bem diferenciadas, como mostram os dados da tabela.

Cite uma regio americana incorporada Coroa espanhola durante a etapa inicial da Conquista e outra, importante rea mineradora, a ela reunida ao longo do estgio mais veloz da ocupao espanhola.(FGV-SP) A Lngua deste gentio, toda pela Costa, uma: carece de trs letras no se acha nela F, nem L, nem R, cousa digna de espanto, porque assim no tm f, llei nem rei; e desta maneira vivem sem justia e desordenadamente (Pero de Magalhes Gandavo, sec. XVI)

A partir do trecho dado podemos afirmar tratar-se de um texto que:a) subestima a cultura indgena.b) Respeita as especificidades das diferentes culturas.c) Est isento de valores.d) de forte carter relativista.e) V como completas as sociedades indgenas.(FGV-SP) ...a espada, a cruz e a fome iam dizimando a famlia selvagem...(Pablo Neruda)

O poeta refere-se conquista espanhola da Amrica. Analise o sentido histrico de suas palavras.As duas principais atividades econmicas de Portugal e Espanha incentivaram na Amrica, no incio da colonizao, foram, respectivamente:

(A) o cacau na Amrica portuguesa e a minerao do ouro e da prata na Amrica espanhola.

(B) a minerao na Amrica portuguesa e a monocultura do tabaco na Amrica espanhola.

(C) a monocultura de cana-de-acar na Amrica portuguesa e a pecuria na Amrica espanhola.

(D) a monocultura de cana-de-acar na Amrica portuguesa e a minerao de ouro e de prata na Amrica espanhola.

(E) a monocultura do algodo na Amrica portuguesa e a pecuria na Amrica espanhola.

(VEST)Considere o texto: O almirante Colombo encontrou, quando descobriu esta ilha de Espanhola, um milho de ndios, dos quais, e dos que nasceram ento, no creio que estejam vivos, no presente ano de 1535, quinhentos, incluindo tanto crianas como adultos, que sejam naturais legtimos e da raa dos primeiros ndios. Alguns fizeram esses ndios trabalhar excessivamente. Outros no lhe deram nada pra comer, como bem lhes convinha. Alm disso, as pessoas dessa regio so naturalmente to inteis, corruptas, de pouco trabalho, melanclicas, covardes, sujas, de m condio, mentirosas, sem constncia e firmeza que vrios ndios, por prazer e passatempo, deixaram-se morrer com veneno para no trabalhar. Outros se enforcaram pela prpria mo. E quanto aos outros, tais doenas atingiram que em pouco tempo morreram. Quanto a mim, eu acreditaria antes que nosso senhor permitiu, devido aos grandes, enormes e terrveis pecados dessas pessoas selvagens, rsticas e animalescas, que fossem eliminadas e banidas da superfcie terrestre.

(Gonzalo Fernandz de Olviedo)

A respeito do texto, considere as seguintes afirmaes:

I A mita, posta a servio da dominao hispnica, um exemplo de trabalho excessivo a que se refere o texto.

II Epidemias como a gripe o sarampo e a varola so algumas das doenas a que o texto se refere.

III A ilha de Espanhola (ou Hispaniola) a que o texto se refere atualmente ocupada pelo Haiti e Repblica Dominicana.

Quais esto corretas?

a) apenas I

b) apenas II

c) apenas III

d) apenas I e II

b) I, II e III

(UERJ 2000) (...)Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que cobrisse suas vergonhas. Nas mos traziam arcos com suas setas. (...) Eles no lavram, nem criam. No h aqui boi nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer outra alimria, que costumada seja ao viver dos homens. Nem comem seno desse inhame, que aqui h muito, e dessa semente de frutos, que a terra e as rvores de si lanam (...).(CORTESO, Jaime. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1943.)

No Brasil, durante o perodo colonial, as mudanas transcorridas na organizao poltica, econmica e social dos indgenas esto relacionadas com:

a) o rompimento de sua unidade poltica, levando ao fracionamento das federaes tribais.

b) a expropriao das terras, provocando a interiorizao de muitas comunidades nativas.

c) a imposio gradativa do trabalho sedentrio, levando a sua utilizao como mo-de-obra assalariada.

d) o seu largo emprego em trabalhos compulsrios na pecuria e na minerao, provocando a sedentarizao das comunidades do litoral.

PROJETOS COLONIAIS

Como bons estudantes vocs sabem que a capital do Brasil Braslia e a capital do estado de Minas Gerais a cidade de Belo Horizonte. Mas caros alunos vocs sabiam que ambas as cidades foram construdas aps prvio planejamento? Isso mesmo, engenheiros, tcnicos sentaram em mesas e planejaram essas cidades que cresceram muito mais que eles pensavam! Algo totalmente diferente ocorreu no perodo colonial onde, ainda que algumas cidades fossem planejadas, no houve um plano global prvio das sociedades criadas. Estas cresceram em um ritmo prprio, aprendendo com as experincias das outras e respeitando as demandas de seu tempo histrico. Vamos conhecer alguns exemplos?

Neste item daremos nfase as colonizaes francesas, inglesas e espanholas, deixando o caso portugus a ser discutido num item especfico.

Aspectos gerais e o Projeto Espanhol

A vastido do territrio espanhol no nos permite avaliar cada caso da colonizao e por isso temos que traar as linhas gerais do processo. Devemos acima de tudo lembrar que as colnias no eram um mero apndice das metrpoles. A distancia e a dificuldade de comunicao entre a Espanha e a Amrica permitiram uma grande autonomia para os colonos. J imaginou como seria caso as colnias agissem apenas sob ordens do centro? Hoje uma carta entre Madri e La Paz pode ser enviada com um click do mouse, mas no sculo XVI a carta sairia de Madri, iria de cavalo at Sevilha. L um barco atravessaria o Atlntico at Havana, at Cartagena e desta percorreria todo o litoral brasileiro at Buenos Aires de onde subiria os rios da bacia da Prata at prximo da cidade, de onde partiria a tropa de mula at La Paz. Quase dois meses depois! Da para imaginarmos assim, a grande autonomia das colnias e os limites da metrpole.

Uma pergunta pode ser feita sobre esse assunto: ento por que as colnias demoraram trs sculos para se separarem?

Em primeiro lugar devemos lembrar que no estava determinado que elas se tornariam independentes. O desenvolvimento histrico criou condies para os processos de independncia polticas, mas a histria poderia ser de outra maneira. O segundo e o terceiro ponto se ligam a ideologia corporativa e a organizao hierrquica dos Reinos. Os colonos eram ligados ideologicamente com os centros coloniais e viam aquele mundo como a melhor forma de vida. No passou, durante muito tempo, pela cabea dos colonos se separar dos pases europeus. Devemos lembrar que a sociedade de Antigo Regime era hierrquica e em face disso os colonos eram sditos de reinos menos importantes no Imprio. Na Espanha, por exemplo, a hierarquia vem de Castela-Arago, Navarra, um Vice-Reino (como o do Peru) at uma Capitania Geral (como a do Chile). No Imprio Portugus os filhos de colonos buscavam os cargos administrativos nas principais cidades de Portugal (Lisboa, Porto), na capital americana (Salvador at o