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2 AGOSTO 2019 Este caderno faz parte do Jornal Económico e não deve ser vendido separadamente #131 Duarte Nuno Leite ‘Bridge-jobs’: trabalhar mais tempo e salvar o sistema de pensões P6 e 7 ENSAIO Luísa Pedroso Lima Individualismo, desigualdade e solidão P4 e 5 A VIDA DAS CARTAS E ENCOMENDAS ATÉ CHEGAREM ÀS SUAS MÃOS Segundo dados do primeiro semestre, divulgados no dia 25 de julho, as cartas e encomendas representam 68% dos rendimentos dos CTT. Depois de ser depositada no marco do correio ou entregue num posto, uma carta passa por centro de produção e logística da empresa, em Cabo Ruivo, onde se trabalha dia e noite para que nada falhe neste percurso. Páginas 8 e 9

2 AGOSTO 2019 A VIDA DAS CARTAS

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#131Duarte Nuno Leite‘Bridge-jobs’: trabalhar mais tempo e salvar o sistema de pensões P6 e 7

ENSAIO Luísa Pedroso Lima

Individualismo, desigualdade e solidão P4 e 5

A VIDA DAS CARTAS E ENCOMENDAS ATÉ CHEGAREM ÀS SUAS MÃOSSegundo dados do primeiro semestre, divulgados no dia 25 de julho, as cartas e encomendas representam 68% dos rendimentos dos CTT. Depois de ser depositada no marco do correio ou entregue num posto, uma carta passa por ��������������� �������������������������� ����� �������������centro de produção e logística da empresa, em Cabo Ruivo, onde se trabalha dia e noite para que nada falhe neste percurso. Páginas 8 e 9

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CARRIE SYMONDSA primeiranamorada dapolítica britânicaFilha de um dos fundadores do jornal britânico“The Independent” e de uma advogada do mesmoórgão de comunicação, Carrie, de 31 anos, recebeu umaeducação privilegiada. Começou a trabalhar no PartidoConservador como assessora de imprensa, participouna candidatura de Boris Johnson a mayor de Londrese trabalha atualmente no Vibrant Oceans, um programaambiental da Bloomberg Philantropies.É a “primeira namorada” a chegar a Downing Street.

ANTÓNIO [email protected]

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PERFIL

4ENSAIOIndividualismo, desigualdade e solidão

“Quem se esforça sempre alcança, equem não o é alguma coisa fez paraisso, alguma culpa tem. Estas ideias desucesso, ou insucesso, pressupõempensar nas pessoas como indivíduosisolados, como se todos fôssemosiguais e não houvesse barreiras ouincentivos às nossas ações. É uma ideiaprofundamente falsa, porque sabemostodos que o jogo está viciado à partida,que a nossa sociedade vive assente emdesigualdades que não têm nada dejustas”, escreve Luísa Lima.

8BASTIDORESA vida das cartas e encomendasaté chegarem às suas mãos

Em julho deste ano, o correio aindarepresentava 68% dos rendimentosdos CTT. Cabo Ruivo é um dosprincipais centros de comando destaunidade de negócio. Por ali passamdiariamente mais de dois milhões deobjetos, trabalham 580 colaboradorese recolhem 100 veículos quepercorrem 13 mil quilómetros.

6ATUALIDADE‘Bridge-jobs’: a soluçãopara trabalhar mais tempoe salvar o sistema de pensões

Prolongar a carreira poderá ser a chavepara salvar Portugal e a Europa doflagelo económico e social que a crisedemográfica vai provocar. Sem orejuvenescimento da população numaaltura em que esta envelhece, osistema de pensões estará sobpressão. Sem reformas, seremosmenos portugueses e mais pobres.

ÍNDICE

RELÓGIOSRenovar as peças do tempo

Atualizar a coleção ou comprar um relógio há muitodesejado deixou de ser tendência e passou a realidade. Na Boutique dosRelógios Plus aposta-se em novos serviços e acompanha-se l’esprit dutemps entrando em força no mercado “pre-owned” e “Trade in Watches”.

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uando Boris Johnsoncruzou pela primeirao número 10 deDowning Street, a

residência oficial do primeiro-mi-nistro britânico, foi o primeiro a fa-zê-lo sem estar casado. Boris, de 55anos, e a namorada, CarrieSymonds mudaram-se oficialmentepara a residência oficial esta segun-da-feira, dia 30 de julho. A mudançatinha sido alvo de alguma especula-ção, uma vez que a ida de Carrie, de31 anos, não estava confirmada –na semana passada, no momentoem que o líder fez o primeiro dis-curso como primeiro-ministro emDowning Street, a namorada en-contrava-se entre as pessoas daequipa.

O caso é mais complicado doque parece. A CNN e o jornal es-panhol “El Mundo” apelidaramCarrie de “a primeira namorada dapolítica britânica”. É que o antigomayor de Londres ainda é casadocom outra mulher, Marina Whee-ler, de quem ainda não se divor-ciou oficialmente após mais de 20anos de casamento. Apesar de es-tarem separados desde 1993, tudoindica que o divórcio será concluí-do até final do ano. O casal tevequatro filhos.

O papel de Carrie no governo ena vida pública de Johnson ainda éuma incógnita. Na rede socialTwitter ela menciona a luta contraa “poluição de plástico” como umadas suas principais bandeiras. Nomês passado, o primeiro-ministroafirmou que “acabaria com o flage-lo da poluição por plástico”.

A namorada teve uma carreira namesma área do primeiro-ministro,a política, embora nos bastidores.Filha de um dos fundadores do jor-nal britânico “The Independent”,Matthew Symonds, e de uma advo-gada do mesmo órgão de comuni-cação, Josephine McCaffee, rece-beu uma “educação privilegiada”,conta a CNN. A sua formação aca-démica inclui passagens por um li-ceu privado feminino, localizadono sudoeste de Londres, e poste-riormente pela Universidade deWarwick, onde lecionou Históriade Arte e Estudos Teatrais.

Começou a trabalhar no Parti-do Conservador há cerca de umadécada como assessora de im-prensa. Em 2012 fez parte daequipa de campanha da recandi-datura de Boris Johnson a mayor(presidente da câmara municipal)de Londres. E assumiu também oscargos de assessora política do an-tigo ministro da cultura britânicoJohn Whittingdale, e de assessorado antigo ministro do Interiorbritânico (e recém-nomeado mi-nistro da Economia) Sajid Javis

“Desde que ela entrou em cenaque [Johnson] ficou mais elegan-te, perdeu peso, cortou o cabelo”,comentou a editora adjunta de po-lítica do “Sunday Times”, citadapela CNN. Esta transformação,

segundo a imprensa internacio-nal, é mais profunda do que o es-perado. “É uma comunicadora po-lítica com créditos firmados e sabecomo mantê-lo com uma mensa-gem política afinada”.

A “PR Week”, uma publicaçãosobre a indústria das relações pú-blicas, classificou a namorada deBoris Johnson como a segunda fi-gura mais influente na comunica-ção política. Deixou o partido con-servador no ano passado e traba-lha atualmente como ativista noVibrant Oceans, um programaambiental da Bloomberg Philan-tropies, o braço filantrópico do bi-lionário Michael Bloomberg.

Discussão e escândaloBrexit à parte, a vida privada deBoris Johnson corre o risco detornar-se num dos temas maisdiscutidos pela imprensa britâni-ca. A primeira história começouem junho quando a polícia deLondres foi chamada a um apar-tamento depois de um vizinho terouvido gritos e discussões entre ocasal. A polícia saiu depois de terverificado que tudo estava bemcom o casal no apartamento ondeambos viviam.

Os vizinhos, que ouviram gri-tos e discussões, afirmaram tam-bém que a parceira acusou Borisde estragar o sofá com vinho tin-to: “Tu não queres saber de nadaporque és um mimado. Não que-res saber de dinheiro, nem denada”, terá dito Carrie Symonds,segundo a BBC. Certo é que o as-sunto dominou as manchetes dosjornais ingleses e chegou-se a re-cear que o episódio pudesse preju-dicar a corrida à liderança dos To-ries e a consequente ascensão aocargo de primeiro-ministro parasuceder a Theresa May.

O incidente foi imediatamenteaproveitado pelo seu adversário àliderança dos conservadores.Numa carta escrita por JeremyHunt a Boris Johnson, e depois di-vulgada na imprensa, aquele refe-riu que o “escrutínio pode ser des-confortável. Mas se não conse-guirmos lidar com o escrutíniocom amigos, não merecemos lide-rar contra os nossos adversários”,segundo a notícia citada pelaBloomberg.

Johnson é um político irreve-rente. Autor de um rol de polémi-cas, disse recentemente que a cida-de líbia Sirte poderia ser o novoDubai, acrescentando: “tudo o queeles têm de fazer é retirar os cor-pos mortos das ruas”. Os comentá-rios deram origem a várias reaçõesde condenação, com o PartidoTrabalhista a classificar as declara-ções de “insensíveis e cruéis”.

Boris, que já foi jornalista, dire-tor da revista “Spectator”, deputa-do e presidente da câmara da Lon-dres, viu várias vezes a sua carreirapolítica perto do fim, mas sempreconseguiu levantar-se. ●

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cebermos que elas são resultado de um jogoviciado, que mantém as desigualdades so-ciais: faz com que quem já tem a vida facilita-da tenha de se esforçar menos para singrar, eque quem tem uma vida difícil tenha de seesforçar ainda mais para conseguir o mesmo.

A frase do Bruno Lage é tanto mais espan-tosa, quanto vivemos num mundo domina-do por um enorme individualismo, que va-loriza a autodeterminação e a independên-cia. O ser capaz de ter sucesso por si próprio,o ser “special one”, diferente dos outros. Porisso, afirmar que se deve aos outros o suces-so é corajoso por ser contra a corrente, mastem muito de verdade. A psicologia socialmostra que muitas das nossas escolhas emesmo a ideia que fazemos de nós própriossão determinadas em grande parte pelas re-lações que mantemos com as outras pessoas.Como é que um menino negro, que estudounuma escola de brancos, com professoresbrancos, auxiliares brancos e livros parabrancos e que viu desde cedo os professoresdesistirem dele, os colegas excluí-lo e de umamaneira geral dizerem-lhe que ele não é ca-paz, como é que este menino pode construiruma autoestima positiva? Como pode estarem igualdade de circunstâncias com outrosquando vai para um exame?

Não, não somos tão autónomos ou inde-pendentes como pensamos. Somos o resul-tado de muitas experiências, todas elas expe-riências sociais. Sem o ambiente social emque nos movemos – ou noutro ambiente so-cial – seríamos pessoas diferentes. E chega-mos mesmo a ser pessoas diferentes em dife-rentes contextos sociais. Somos capazes deexprimir opiniões contraditórias em gruposdiferentes, como por exemplo de concordarnum contexto com as “barrigas de aluguer” enoutro discordar. Para não ferir suscetibili-dades, para não provocar divergências, paranão sermos vistos como diferentes – tudomuito boas razões, mas o que é feito da nossatão proclamada independência e “personali-dade”?

A crença no individualismo e em que, comforça de vontade, cada um consegue superaras dificuldades que enfrenta e ter sucesso,está profundamente enraizada. E está asso-ciada uma outra crença muito difundida: ada meritocracia. Acredita-se que o mundo éjusto e que o sucesso se alcança através domérito pessoal. Que quem se esforça semprealcança, que quem merece irá ser bem-suce-dido, e que quem não o é alguma coisa fezpara isso, alguma culpa tem. Estas ideias desucesso – ou de insucesso – pressupõempensar nas pessoas como indivíduos isola-dos, a viver num vacum social, como se todosfôssemos iguais e não houvesse barreiras ouincentivos às nossas ações. É uma ideia pro-fundamente falsa, porque sabemos todos queo jogo está viciado à partida, que a nossa so-

Individualismo,desigualdadee solidão

á alguns dias depa-rei-me com um ve-lho jornal do mês deabril onde vinhauma entrevista como Bruno Lage, trei-nador do Benfica,

em que ele afirmava: “os jogadores estão a fa-zer de mim um treinador”. É raro encontrarquem expresse uma consciência tão clara daimportância dos outros para a sua própriapessoa. E, no entanto, a investigação desen-volvida no domínio da psicologia social temmostrado que somos, em grande parte, o queos outros fazem de nós.

As expectativas que aqueles que nos ro-deiam desenvolvem a nosso respeito sãofundamentais para traçar o nosso caminho.Quando acreditam nas nossas capacidades enos desafiam para nos superarmos, ficamosmesmo melhores pessoas (como no caso doBruno Lage); mas quando desistem de nós edeixam de acreditar que vamos ser capazes(como acontece na escola e no trabalho atantos jovens que vêm de contextos desfavo-recidos), é muito mais difícil melhorar. Asexpectativas, provenham elas de estereóti-pos sobre grupos sociais ou de crenças pes-soais, têm o poder de se concretizar, são umaespécie de profecias auto-confirmatórias.Quando elas são positivas, é-se mais afávelna comunicação; a pessoa fica mais confiantee à vontade, o que a ajuda a ser mais compe-tente – confirmando a expectativa.

Acontece o contrário quando se está ro-deado de expectativas negativas: há menospaciência, menos simpatia, a pessoa fica maistensa, o que prejudica o seu desempenho.Isto acontece à nossa volta constantemente,por exemplo, em casos como a avaliação demulheres para posição de liderança nas orga-nizações, a apreciação da condução de pes-soas mais velhas ou a avaliação de criançasciganas na escola. E, como usamos os outroscomo espelho para conhecermos o nosso va-lor, interiorizamos estas avaliações sem per-

LUÍSA PEDROSO LIMAProfessora Catedráticade Psicologia Social no ISCTE-IUL

ENSAIO

Hciedade vive assente em desigualdades quenão têm nada de justas. Que não é necessa-riamente quem merece que tem mais, quenem sempre o esforço ou a bondade são re-compensados.

Todavia, de acordo um estudo de umaequipa de psicólogos sociais com dados reco-lhidos junto de amostras representativas dapopulação portuguesa, as ideias meritocráti-cas estão muito difundidas entre nós. Só cer-ca de metade das pessoas discordam de afir-mações como a de que, “de uma maneira ge-ral, as pessoas merecem aquilo que lhesacontece”, o que mostra que existe aindauma grande adesão a estas ideias meritocrá-ticas. E não se trata “apenas” de ideias feitas.Estas ideias têm consequências negativas. Aprimeira é a validação das desigualdades so-ciais. A investigação na psicologia socialmostra que as crenças individualistas e meri-tocráticas são um dos principais mecanismoscognitivos que mantêm a tolerância ou mes-mo a cegueira face às desigualdades sociais.De facto, é nos países mais desiguais que aspessoas mais acreditam na meritocracia. Éonde há maiores diferenças entre ricos e po-bres que encontramos mais pessoas a aceita-

rem que o mundo é justo e que com esforçoqualquer um consegue chegar ao sucesso.

E é também nesses países que se está me-nos consciente das diferenças entre ricos epobres. Por exemplo, num estudo que reali-zámos em Portugal, um dos países mais desi-guais da União Europeia, 80% das pessoasque inquirimos acha que ricos e pobres têm amesma probabilidade de apanhar uma doen-ça, e 95% acha que ricos e pobres estão igual-mente expostos à poluição do ar. Nos paísescom maiores desigualdades, como é o casode Portugal, achamos que quando o sol nasceé para todos, e ignora-se que os mais pobresmorrem mais cedo, vivem em lugares maispoluídos e menos seguros e não têm as mes-mas oportunidades que os mais ricos.

A segunda consequência do individualismoe da meritocracia é a culpabilização dos quenão têm sucesso, dos que não têm emprego,dos que não vingam economicamente nestasociedade. São considerados como perdedo-res, como inferiores, e, pior que isso, comoem parte culpados pelo seu insucesso. Se estádesempregado, alguma coisa há de ter feitopara isso; se não consegue emprego é porquenão se esforça o suficiente; se não teve média

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para entrar na universidade é porque não es-tudou o suficiente. Isto é, ao peso do insuces-so junta-se o da culpa, e a consciência de servisto pelos outros como um falhado não aju-da. Estas atribuições individualistas e merito-cráticas do insucesso são uma forma adicionalde discriminação e, por vezes, mesmo de de-sumanização destas pessoas.

A terceira consequência do individualis-mo é a dificuldade em pedir ajuda. A vida so-cial é feita de interações e de trocas. Perten-cemos a famílias, trabalhamos em equipas,vivemos em prédios e bairros, damo-noscom amigos. Estamos permanentemente emcontacto com outras pessoas, a quem pode-mos estar mais ou menos ligados, mas comquem lidamos diariamente. É a nossa redesocial, que, tal como uma rede de corda, ser-ve para nos ligar a outros, mas também paranos segurar quando caímos. Nestas intera-ções tanto damos como recebemos. Cuida-mos de amigos e familiares, organizamo-nospara estarmos presentes quando os outrosprecisam de nós. E, claro, se tudo correr bemtambém recebemos (e muito) dos que nosrodeiam. Mas é aqui que o perigo do indivi-dualismo espreita. Por acreditarmos que so-

mos capazes de resolver todos os nossos pro-blemas sozinhos, temos dificuldade em con-fiar suficientemente nos outros para nos co-locarmos numa posição de vulnerabilidade epedir ajuda quando precisamos. E há tantasalturas em que a nossa vida seria mais fácil seconfiássemos nos outros e pedíssemos ajuda.

Este ideal de se ser uma “super-pessoa”,que é independente e “não fica a dever favo-res”, impede muitas vezes a proximidade deoutros, o deixar que os outros cuidem denós. Talvez por isso os níveis de solidão te-nham crescido tanto numa sociedade em queé cada vez mais fácil estarmos em contactocom as outras pessoas.

Por tudo isto, reconhece-se cada vez maisque a aceitação e a assunção da nossa ligaçãoaos outros é importante para a felicidade epara o bem-estar. É cuidando dos laços queconstruímos com as pessoas que estão à nos-sa volta que nos tornamos melhores pessoas.Mas é também aceitando a nossa dependên-cia dos outros que podemos desmontar omito do sucesso individual, olhar de frentepara os preconceitos que mantêm as desi-gualdades e ajudar a construir uma sociedademais justa. ●

psicologia social serviu de en-quadramento a um ensaio per-tinente de Luísa Lima, catedrá-tica de Psicologia Social do

ISCTE-IUL, com a chancela da FFMS: “Nóse os outros, o poder dos laços sociais”. Nelecontesta a ideia (o culto?) da independência eda individualidade que domina o mundo emque vivemos, e procura mostrar que somosmais o produto da interacção com os outrosdo que aquele que muitas vezes gostamos deadmitir. Chama ainda a atenção para váriosperigos e paradoxos, como haver um núme-ro crescente de pessoas que se sente só, ape-sar de “estarmos cada vez mais contactáveis”.

Como encaramos hoje os laços sociais eque consequências tem o isolamentosocial na vida em sociedade?O isolamento social sempre foi mal visto.Nascemos equipados com mecanismos quepromovem a interação com os outros. Aspessoas que se isolam são vistas com estra-nheza e desconfiança em muitas sociedades ea solitária é um castigo nas prisões. Na publi-cidade, que é um espelho do que é social-mente valorizado em cada época, as pessoasestão acompanhadas e integradas em famí-lias, grupos de amigos, equipas. A importân-cia dada aos laços sociais não é de hoje, por-tanto. Mas hoje há dois aspetos que a inves-tigação tem salientado e que gostaria de refe-rir aqui. Sabemos agora que, apesar de estar-mos cada vez mais contactáveis, o númerode pessoas que se sente só tem crescido. Esteé um paradoxo interessante e que merece serexplorado. A solidão não implica estar isola-do dos outros. Uma pessoa pode viver semcompanhia e não se sentir só, ou viver nomeio de muita gente e sentir-se muito sozi-nho. Solidão quer dizer que se sofre porquese gostaria de ter um relacionamento dife-rente com as pessoas à sua volta: mais ínti-mo, mais frequente ou com mais gente. Eparece que a possibilidade que as redes so-ciais nos dão de estarmos contactáveis per-manentemente não responde, por si só, aessa necessidade de proximidade.

Podemos falar num problemade saúde pública?Com efeito, outro resultado recente da in-vestigação é a confirmação de que a solidãonão é só triste, mas é um problema de saúdepública. Quem está isolado socialmente temmaior probabilidade de adoecer e de morrerprecocemente. É um resultado que é bem co-nhecido desde há muito tempo. Mas foiquando se colocou a solidão em comparaçãocom outros fatores de risco para a saúde quese percebeu o seu verdadeiro impacto. A so-lidão mata mais do que a poluição do ar, aobesidade, o consumo de álcool ou tabaco. E,no entanto, temos leis a proteger-nos dosoutros riscos, e continuamos a ignorar o im-pacto a solidão e das relações sociais tensas eviolentas na nossa saúde física. Penso queisso se deve ao predomínio do modelo bio-

médico na investigação em saúde, e da ne-cessidade da existência de um agente físicoou biológico que provoque a doença. O iso-lamento social, os laços sociais, a integraçãonos grupos ou a conflitualidade e violênciado ambiente em que se vive são variáveisque só num modelo mais alargado da saúdesão consideradas como agentes patogénicos.

Há quem fale numa “geração muda” aoreferir-se aos jovens que usam otelemóvel para as mais variadas formasde comunicação menos para‘verbalizar’. Sem demonizar astecnologias, como vê este fenómeno?É uma questão que me preocupa muito, por-que acredito mesmo que estamos a perdercom isso. Mandar um SMS é muitas vezesmais rápido do que um telefonema. Enco-mendar online é mais fácil do que ir à loja.Dar os parabéns ou os pêsames no Facebooké mais prático do que diretamente. Em todasestas opções pela tecnologia podemos pensarantes de escrever. Emendar cinco vezes otexto antes de enviar. Mas na nossa vida, queé social, as interações com os outros vivemdo que dizemos e fazemos naquele momen-to, sem possibilidade de apagar ou voltaratrás. Acho que podemos estar a ficar impre-parados para o quotidiano. Precisamos deestar sempre a verificar as mensagens e osmails que nos chegam, mesmo em situaçõessociais. Já vi famílias inteiras na mesa do res-taurante com cada um debruçado sobre o seutelefone – as crianças cada uma com o seu ta-blet. Claro que há interação – mostram-sefotos, posts, anedotas que nos chegam. O quenão há é a leitura das expressões faciais, aempatia, a adaptação no momento à respostado outro. E é essa falta de competências so-ciais que me preocupa, porque é uma via di-reta para a solidão e para a depressão. Eucostumo dizer que o relacionamento onlineestá para o relacionamento ao vivo como umsnack está para uma refeição a sério. Tira afome mas não alimenta. E se só comermossnacks, vamos ter problemas de saúde. ●

“A solidão mata maisdo que a poluição do ar,a obesidade ou o tabaco”

LIVRO

A

TÍTULO: Nós e os outros,o poder dos laços sociaisAUTOR: Luísa LimaEDITORA: FFMS

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DUARTE NUNO LEITE‘Bridge-jobs’: a soluçãopara trabalharmais tempo e salvaro sistema de pensões

envelhecimento dapopulação e as bai-xas taxas de natali-dade vão colocarcada vez maioresdesafios sociais eeconómicos ao

mundo ocidental, que tenderão a intensifi-car-se à medida que os baby boomers en-tram na reforma. O professor portuguêsDuarte Nuno Leite, investigador no Insti-tuto Max Planck, em Munique, é um dosautores do estudo “Demographic changes,migration and economic growth in the eu-ro area” e conversou com o Jornal Econó-mico sobre a Europa e Portugal Explicaque uma política de imigração mais favo-rável não compensa o envelhecimento po-pulacional e que a economia vai contrairpor causa do decréscimo da população.Numa altura em que se fala da robóticapara preencher postos de trabalho, DuarteNuno Leite defende que ainda é cedo parase perceber o grau de substituição dos hu-manos pelas máquinas. Mas se a situaçãonão mudar, no futuro seremos menos por-tugueses e mais pobres. No contexto doperíodo eleitoral que se avizinha, o profes-sor sugere que os partidos políticos aju-dem a mitigar a quebra do número de tra-balhadores deixando os mais velhos conti-nuarem a trabalhar.

O que explica a baixa taxa denatalidade na União Europeia?Existem várias razões. As economias têm--se desenvolvido e o desenvolvimento eco-nómico traz consigo a tendência para a bai-xa taxa de natalidade. Isto tem que ver prin-cipalmente com o ingresso das mulheres nomercado de trabalho que, como têm umaparticipação cada vez mais ativa, condicio-na a possibilidade de terem filhos. As pró-prias condições do mercado de trabalhotambém são propícias a que haja dificulda-des em cuidar dos filhos e levam os casais aquestionarem-se sobre terem filhos ou não.Além disso, existe a tendência que nós cha-mamos de quantitity/quality trade-offque jávem da revolução industrial. Consiste naideia de que os casais tendem a dar prefe-rência à qualidade de vida dos seus filhos. E

isso, obviamente, obriga a que haja menosfilhos.

O apoio legislativo foi insuficientenesta matéria? Poderia,por exemplo, reforçar o papeldos homens enquanto pais...Penso que têm sido feitos avanços nessesentido, mas é a mulher que normalmenteestá à frente das responsabilidades familia-res. Ainda há uma certa desigualdade nestarelação que obsta a que se tenham cada vezmais filhos.

Os países que integram a UniãoEuropeia sentem o problemada mesma forma?Só posso falar dos países que conheço, masdiria que todos têm especificidades. Contu-do, a baixa taxa de natalidade é uma tendên-cia que se verifica de um modo geral. NaAlemanha, por exemplo, há cada vez maisleis que têm contribuído para uma maiorigualdade entre homens e mulheres nomercado de trabalho. Mas o que se verificaé uma preferência dos casais em ter menosfilhos, logo em número insuficiente pararepor a população mais jovem – a média se-ria 2,1 filhos por mulher.

No estudo conclui que oenvelhecimento da populaçãoeuropeia vai abrandar o crescimentoeconómico. Quando?Vai haver um abrandamento do crescimentoeconómico face ao que seria normal sem estamudança demográfica. Nas próximas décadasvamos verificar um efeito maior porque esta-mos no momento em que os baby boomers en-tram na idade da reforma. Aí vai começar averificar-se o fluxo de saída de pessoas domercado de trabalho. Mas o efeito maior far--se-á sentir nas décadas de 2030 e 2040.

E qual será o impactona contração da economia?No caso português e dos outros países mui-to envelhecidos, por exemplo, o abranda-mento económico poderá ser de um terço.Mas depende de muitos fatores, não só de-mográficos, mas também políticos, econó-micos e da estrutura da economia.

Menosnascimentose uma populaçãomais envelhecidasão o rastilho paraa implosãodo mercadode trabalhoe do sistemade pensões.Apesar disso, osmais velhospoderão ser o balãode oxigénio deque vamos precisarno futuro.ANTÓNIO VASCONCELOS [email protected]

ATUALIDADE

O

No estudo defendeu que uma políticade imigração favorável pode nãocontribuir para resolver esta crisedemográfica. Porquê?Porque é preciso haver um fluxo migrató-rio muito elevado para compensar a quebrapopulacional e a quebra demográfica que sevai verificar. Para o caso alemão, demons-trámos que é preciso entre um milhão a 1,5milhões de imigrantes. Ora, não é possívelesperar que esses valores se venham a veri-ficar nas próximas décadas. Também o casoportuguês é um caso em que o baixo fluxo

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Nos próximos anos vamos assistirà maior transferência de riquezaintergeracional da históriada humanidade. Esta transferênciade riqueza não poderá aumentaro consumo e impulsionar a inflação?É preciso referir que o consumo das gera-ções mais novas vai ser afetado porque aspopulações estão a envelhecer e por isso te-rão de pagar tudo o que se enquadra nossistemas de saúde e de pensões. Serão des-pesas que vão ficar ao encargo das popula-ções mais jovens. Por isso, dizer que a po-pulação mais jovem vai ter maior riquezanão é correto. É ainda preciso ter em contaque os baby boomers não vão desaparecernas próximas décadas, pois vão cá estar nospróximos 30 anos. Logo, o efeito inflacio-nário de que fala não se vai verificar. E apopulação não está em crescimento – asprojeções para Portugal indicam que vãoser sete milhões em 2100.

No estudo também defendeuo aumento da reforma. Porquê?O envelhecimento populacional diminui amão de obra e com o aumento da capacida-de de produção compensa-se a escassez demão de obra. No entanto, isso não bastapara neutralizar os efeitos da escassez demão de obra, que é preciso aumentar. Paratal, poder-se-ia aumentar a taxa de utilida-de das pessoas no mercado de trabalho. Ouseja, a taxa de participação no mercado detrabalho. Por exemplo, em Portugal, a taxade utilidade das pessoas entre os 65 e os 69anos no mercado de trabalho ronda os19%. O que, em comparação com outrospaíses, é relativamente baixo. Tambémserá necessário aumentar a produtividade,por exemplo, incrementendando a partici-pação das mulheres no mercado de traba-lho. Outra coisa que tem sido feita paramitigar os efeitos do envelhecimento dapopulação é o aumento da idade das refor-mas – uma medida muito criticada. Podemaumentar-se os incentivos para se traba-lhar até mais tarde através de penalizaçõespara quem se reforma mais cedo. Por umlado, estas são medidas para aumentar apopulação ativa e, por outro, para promo-ver a sustentabilidade do sistema pensões,que está em risco em Portugal e noutrospaíses, como na Alemanha. O número depessoas que se vai reformar nos próximosanos é tão grande que o sistema terá difi-culdades em suportar essa despesa. Alémdisso, as despesas no sistema de saúde tam-bém vão aumentar.

A população mais velha terácapacidade para custear o aumentoda despesa com a saúde?É uma pergunta difícil. A tendência é que aspessoas não gastem tanto as poupanças paraque possam custear essa despesa, como sefaz em muitos países. Mas obviamente quehaverá pessoas que terão problemas, no-meadamente as pessoas com menos rendi-mentos.

A taxa de poupança dos portuguesesé das mais baixas da Europa...É preciso criar incentivos para a poupança,tal como foi proposto pela OCDE. Terá deentrar o Estado. E também os filhos, quepoderão fazer transferências para a popula-ção idosa, que será uma parte substancialpara pagar os custos com a saúde.

Voltando ao tema das reformas.Se a automação vai substituiralguns humanos, para quê aumentara dade da reforma?A automação ainda está no início e obvia-mente que não vai tirar o lugar à maior par-te dos trabalhadores. Neste momento, a au-tomação retira postos de trabalho em fun-ções muito rotineiras, mas cria outros pos-tos de trabalho. Não há aqui uma substitui-ção total dos humanos. E isso ainda criamais incentivos para que haja reformas. Sehá menos pessoas a trabalhar, como é quevamos pagar as pessoas que estão no siste-ma de pensões? A substituição dos huma-nos pelas máquinas vai ser grande? Não sesabe. Não há ainda estudos suficientes quepossam indicar qual será a taxa de substitui-ção efetiva. Há estudos que mostram quehaverá alguma substituição, mas tambémhá outros que demonstram que haverá cria-ção de novos postos de trabalho, seja namanutenção de robôs, seja na criação denovas tarefas, na área da tecnologia paracriar mais inovação, a inteligência artificial,etc. Há ainda estudos que evidenciam que aautomação vai, de certa forma, ajudar aneutralizar os efeitos do envelhecimentopopulacional. Neste momento, eu não pos-so afirmar uma orientação num sentido ounoutro.

Estamos prestes a entrar em períodoeleitoral. Que medidas gostaria de verincluídas nos programas de governodos partidos para combater oenvelhecimento populacional epromover a natalidade em Portugal?É preciso adotar medidas que sejam perma-nentes ou que tenham uma continuidade notempo. Medidas avulsas não valem a pena.Quanto ao aumento da natalidade, é impor-tante mas não vai trazer benefícios nas pró-ximas décadas. Só terá efeitos quando aspessoas que nascerem agora tiverem 20 ou30 anos, portanto, em 2050. A baixa taxa denatalidade tem muito a ver com as própriasescolhas das pessoas e com o desenvolvi-mento dos países. Não é apenas criando in-centivos que é possível aumentá-la. Dife-rente é o caso do envelhecimento da popu-lação, porque vai obrigar a uma reforma dosistema de pensões e a encontrar incentivosno mercado de trabalho. Por exemplo, oschamados bridge-jobs, como há nos EstadosUnidos, destinados às pessoas próximas daidade de reforma, que assim podem conti-nuar a trabalhar e saírem gradualmente domercado. Com isto reduz-se a saída anteci-pada e abrupta do mercado de trabalho epermite-se que as pessoas trabalhem para láda reforma. Com estas medidas não só seaumenta a idade efetiva para a reforma,como se aumenta a satisfação das pessoasmais velhas porque trabalham num horárioreduzido, usufruindo de mais tempo livreenquanto continuam a contribuir para o sis-tema produtivo e de pensões. Para as em-presas também seria benéfico, porque per-mitiria reduzir os custos com pessoal, man-tendo embora o importante conhecimentoe experiência acumulada pelos trabalhado-res mais velhos. Isto são pontos positivospara Portugal, para o sistema de pensões epara os próprios trabalhadores. Muitas ve-zes temos a ideia de que as pessoas mais ve-lhas não são tão produtivas. Mas, na verda-de, o que se verifica é que a produtividadenão tende a cair com a idade. ●

migratório não vai compensar as quebrasdemográficas.

O estudo também abordao impacto da crise demográficana inflação. Como é queos dois fenómenos estão ligados?Tentámos perceber como é que a mudançademográfica afeta a procura de bens e pro-dutos de consumo. E verificámos que, de-vido ao envelhecimento populacional, te-remos tendências deflacionárias. Isto signi-fica que o efeito demográfico vai exercer

uma pressão negativa na inflação. De acor-do com as nossas projeções, haverá umapressão deflacionista nos países com popu-lações mais envelhecidas, quer devido à di-minuição da população, que tende a redu-zir a procura, quer devido à estrutura dapopulação – Portugal, Itália ou Alemanhasão exemplos disso. No caso de Portugal, oimpacto da quebra da população na infla-ção será semelhante aos casos italiano ealemão, mas o impacto será mais sério por-que a população vai envelhecer mais rapi-damente.

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EMPRESASA vida das cartase encomendas atéchegarem às suas mãos

primeira vista, o Cen-tro de Produção e Lo-gística Sul (CPLS) dosCTT, em Cabo Ruivo,parece um labirinto.Mas é um labirinto or-ganizado. Durante 24

horas sem descanso, há cartas e encomen-das a chegar, outras a partir, muitos carrose várias máquinas a funcionar a alta veloci-dade. O correio chega ali todo baralhado,circula de um lado para o outro a alta velo-cidade e tem um objetivo final: garantir quechega aos carteiros o mais preparado possí-vel e que é entregue a horas ao cliente final.“Todo o sistema de máquinas depende dascaraterísticas do objeto. As máquinas fazemum pré-reconhecimento do objeto, a infor-mação é depois transformada em código debarras e há uma sequência do correio parachegar aos carteiros o mais preparado pos-sível”, explica João Freire, responsável docentro de produção e logística do Sul, aoJornal Económico.

Este centro está inserido num edifíciocom cerca de 45 mil metros quadrados,conta com 580 colaboradores e acolhe cercade 100 viaturas, entre pesados e ligeiros,que percorrem diariamente mais de 13 milquilómetros nos diferentes fluxos da suaárea de intervenção. Aqui, são manipuladosdiariamente 2,4 milhões de objetos, entrecartas, encomendas e outro tipo de corres-pondência. “O correio tradicional tem umpeso bastante significativo. Segundo os úl-timos dados públicos, divulgados a 25 de ju-lho, o correio ainda representava 68% dos

Em julho deste ano, o correio ainda representava 68%dos rendimentos dos CTT. Cabo Ruivo é um dos principaiscentros de comando desta unidade de negócio.Por ali passam diariamente mais de dois milhões de objetos,trabalham 580 colaboradores e acolhe 100 veículosque percorrem 13 mil quilómetros.ANTÓNIO [email protected]

ATUALIDADE

Serão instaladas,em Lisboa etambém na Maia,novas máquinastopo de gama, parasoluçõesautomatizadas deseparação decorreio, numinvestimento de 15milhões de euros

rendimentos dos CTT. As previsões do fi-nal de 2018 apontam para uma queda entre6% a 8% ao ano no tráfego do correio ende-reçado. No fim do segundo trimestre de2019, o tráfego de correio endereçado caiu9,1%, com menos dois dias úteis em relaçãoao segundo trimestre de 2018, ainda assimrecuperando dois pontos percentuais rela-tivamente ao primeiro trimestre de 2019.Por dia útil, a evolução foi ainda mais posi-tiva, tendo passado de uma queda de 11,3%para uma queda de 6,1%, o que representaum crescimento de 5,2 pontos percentuais”,explica Francisco Simão, administrador dosCTT.

O CPLS tem a responsabilidade de fazerchegar o correio aos Centros de Distribui-ção Postal de Lisboa e áreas limítrofes. Temainda a missão de triar, preparar e tratar to-dos os objetos que lhe são confiados pelosclientes, tendo em consideração as suas di-mensões e natureza do produto (normal,registado, prioritário, etc.), tanto para oterritório nacional, como para o estrangei-ro. Aqui, está também instalada a máquinade Rest Mail, destinada ao tratamento au-tomático de pequenos objetos, com capaci-dade para tratar mais de 140 mil objetos pordia, suportada por tecnologia de última ge-ração e preparada para responder às novasnecessidades do negócio postal, sobretudoas decorrentes do crescimento do comércioeletrónico. “Damos primazia ao correioprioritário, tudo o que é azul, registado etradicional. Existe, portanto, um processode triagem quando o objeto chega a estecentro. Após essse tratamento voltam a en-

À

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trar no processo de expedição”, acrescentaJoão Freire, o responsável do centro deprodução e logística do Sul.

Futuro está na digitalizaçãoCientes de que o futuro está na digitaliza-ção, os CTT têm implementado várias so-luções para o consumidor digital, tais comoo CTT Now (entregas em janelas horáriasaté duas horas, através de uma plataformadigital), o e-Segue (para acompanhar as en-comendas), o Express2Me (geração de umamorada virtual para envio de encomendas apartir de sites que não entregam em Portu-gal), os Cacifos CTT 24H (para receção deencomendas com maior conveniência), acttAds.pt (plataforma digital direcionadapara PME, que assim podem montar as suascampanhas publicitárias multicanal), e omais recente Dott em parceria com a Sonae,que se assume como o primeiro marketpla-ce nacional.

Plano de modernizaçãoNo âmbito da avaliação permanente da redee melhoria contínua da atividade, os CTTdelinearam um Plano de Modernização eInvestimento, a implementar nos próximosdois anos, no qual já estão a investir 40 mi-lhões de euros. Este é o maior investimentofeito na rede base nos últimos 30 anos, paraadaptar a infraestrutura às novas necessida-des do negócio, assegurando o Serviço Pos-tal Universal num quadro de quebra forte econtinuada dos volumes de correspondên-cia. “Este investimento dotará os CTT dasferramentas necessárias para transformarem oportunidades de crescimento os desa-fios subjacentes à alteração estrutural donegócio postal”, sublinha o administrador.

“Os CTT, líderes no segmento de Expres-so & Encomendas, querem contribuir parao desenvolvimento do e-commerce e vão,por isso, continuar a investir e apostar eminovação para reforçar a liderança nestesegmento, uma das alavancas de crescimen-to da empresa. O papel do e-commerce temvindo a revolucionar o setor do retalho tra-duzindo-se na alteração de padrões de com-pra e consumo. Estas alterações constituemdesafios e oportunidades para as empresasportuguesas de desenvolverem novos ne-gócios e/ou atingirem novos mercados in-ternacionais, por forma a dar resposta àsnovas necessidades, cada vez mais exigen-tes”, reforça Francisco Simão.

Aliás, em Cabo Ruivo, a inovação é a pa-lavra de ordem. “O CPLS está inserido noplano de modernização e investimento, fac-to que se repercutirá no aumento da sua ca-pacidade de tratamento em quantidade,versatilidade e qualidade. Serão instaladas,em Lisboa e também na Maia, novas má-quinas topo de gama, para soluções auto-matizadas de separação de correio, num in-vestimento de 15 milhões de euros, aumen-tando a eficiência e reforçando a automati-zação nos CTT e que vai funcionar comouma das principais alavancas para atingir osobjetivos do PMI, reforçando a posição dosCTT junto dos melhores operadores pos-tais a nível mundial, garantindo a sustenta-bilidade da operação e o cumprimento nolongo prazo dos níveis de qualidade de ser-viço prestados”, revela o administrador.Enquanto não chegam as novas máquinastopo de gama, as cartas e encomendas con-tinuam a rolar furiosamente nos tapetes deCabo Ruivo. ●

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Visão, olfato,paladar,audição e tato.É atravésdos cincosentidos queapreendemoso mundoe abrimosa portaa sensaçõese experiênciasque nos ajudama construiro que somos.

5Sentidos

RELÓGIO

‘PRE-OWNED WATCHES’Chega o segundo mercadoFERNANDO SOBRAL

[email protected]

s coleccionadores sabem que sequiserem vender hoje um reló-gio, o crescente mercado “pre--owned” permite-lhes encon-

trar compradores para raridades ou, simples-mente, para peças difíceis de descobrir. As pe-ças de marcas reputadas, que ao longo de déca-das construíram uma imagem de confiança,têm agora aqui um porto franco onde se podeencontrar o improvável. É, no fundo, uma es-pécie de segundo mercado que vem agitar ain-da mais o mercado relojoeiro. Muitas peças deluxo mantêm o seu valor inalterado ao longodo tempo, ou então valorizam, nomeadamenteno caso dos relógios “vintage”. Agora é o tempoda entrada em força da Boutique dos RelógiosPlus neste tentador mercado. Fazendo a ponteentre compradores e vendedores. Mas não só.

Mantendo uma aposta na inovação dos seusserviços, a Boutique dos Relógios Plus apre-sentou dois novos serviços exclusivos que vãopossibilitar a todos os clientes comprar o reló-gio que tanto desejam ou mesmo actualizar asua colecção. A área de “Trade in Watches”,presente em qualquer uma das Boutiques dosRelógios Plus, permite desde agora, ao cliente,entregar o relógio que pretende substituir.Este será avaliado por um especialista e ser--lhe-á atribuído um valor, que deverá ser utili-zado na compra de um relógio e/ou joia no-vos. Com este serviço “Trade in Watches”, a

O

Boutique dos Relógios Plus pretende oferecera todos os amantes da relojoaria a possibilida-de de se manterem na vanguarda das novida-des relojoeiras, renovando a sua colecção depeças do tempo. Assim, ao mesmo tempo queo cliente tem a possibilidade de entregar aque-le relógio que já não usa ou que já não preten-de manter na colecção, pode adquirir um mo-delo especial que ambiciona há muito ter.

Para além disso, a Boutique dos RelógiosPlus passa também a disponibilizar o serviço“Pre-Owned Watches”, com o qual o clientepoderá seleccionar de entre uma panóplia demodelos “Pre-owned” aquele que deseja. Estessão modelos de conceituadas marcas e devida-mente certificados. Transmite-se assim um

grau de confiança à transação entre compradore vendedor que, na generalidade dos casos, nãose conhecem. Trata-se de uma entrada emáreas em grande crescimento e que acabam porir ao encontro do que muitos clientes buscamno nosso país. Essa é a convicção forte dos res-ponsáveis da Boutique dos Relógios Plus, quetêm fortes expectativas sobre estes dois servi-ços inovadores no mercado nacional.

Refira-se ainda que a área de “Trade inWatches” está disponível em todas as Bouti-ques dos Relógios Plus, enquanto a Boutiquedos Relógios Plus Art, na Avenida da Liber-dade 194, em Lisboa, disponibiliza um “pri-vate lounge”, exclusivamente dedicado aoserviço “Pre-owned”. ●

Tinta da China acabou de lançarum dos melhores livros de viagenspelos Estados Unidos, escrito poruma escritora que não compreen-

dia muito bem o que era isso de ser uma escri-tora de literatura de viagem.

JennyDiski escreveu dez obras de ficção, masos livros que a tornaram realmente conhecidasão aqueles em que relata as suas viagens – nãomuitas –, normalmente por locais distantes(como a Antártida ou o Círculo Polar Ártico) eonde buscava – mas raramente encontrava – asolidão que tanta companhia lhe proporciona-va e que lhe permitia pensar os seus livros antesde começar a escrevê-los. E que bem os escre-via. O seu domínio da língua materna – o inglês– era exímio e quem a puder ler no original temumas horas de puro deleite garantidas. E mo-mentos hilariantes, pois Diski tinha um apura-do sentido de humor e muita ironia no seuolhar sobre o mundo – em particular sobre omundo que a rodeava –, geralmente acompa-nhados de um enorme mau feitio e um caráteralgo anti-social, fruto de uma vida nada fácil.

Nada faria prever que esta inglesa nascida em1947, filha de um casal conflituoso (entre ou-tros atributos), que lhe deixou terríveis memó-rias da infância e uma adolescência problemáti-ca, se tornaria numa escritora com uma tão ex-traordinária capacidade de utilizar a língua in-glesa. Acolhida por Doris Lessing (com quemviria a manter ao longo da vida uma relaçãomuito complexa), entre os 15 e os 19 anos, Jen-ny Diski viria a trilhar um caminho com gran-des vicissitudes (incluindo internamentos emhospitais psiquiátricos e várias tentativas desuicídio), mas que a levaria a um lugar cimeironas letras inglesas. As memórias dolorosas des-sas primeiras décadas da sua vida são, aliás, fre-quentemente inseridas nos seus livros de via-gem, assim como alguns exercícios de medita-ção e alheamento, tornando-os num objeto li-terário de difícil definição, mas sempre deenorme fruição para o leitor. Praticamente até àsua morte, em 2016, colaborou com a “LondonReviewofBooks”.

Em “Desconhecida Num Comboio”, JennyDiski descreve duas viagens que fez pelos Esta-

dos Unidos no meio de transporte menos usualquando pensamos naquele país, completandoum percurso quase circular. A própria viagemde ida é fora do normal, pois a travessia dooceano Atlântico é feita em cargueiro e demoratrês semanas. Mas, como qualquer viajantesabe, é evitando o avião que se fica a conhecermelhor os lugares e os seus habitantes. E se hálugar que não fica aquém das expectativas sãoos Estados Unidos da América; seja as grandescidades, como Nova Iorque ou Chicago, seja aAmérica profunda – e é precisamente essa queDiski descreve, narrando conversas tidas oumeramente ouvidas durante os longos dias pe-los trilhos ferroviários. E a América profunda,tão fascinante quanto repelente, é igualzinha àde “Fargo”, o filme dos irmãos Cohen, ou a“Short Cuts – Os Americanos”, de RobertAltman.

Absolutamente a não perder. Apenas umpouco perigoso para ex-fumadores saudosos. ●

A sugestão de leitura desta semanada livraria Palavra de Viajante

DESCONHECIDA NUM COMBOIO. UmaAmérica tão fascinante quanto repelente

A

TÍTULO: Desconhecida Num ComboioAUTOR: Jenny DiskiEDITORA: Tinta da China

PALAVRA DE VIAJANTE

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S90. A versão híbridade topo da Volvoé premium superior

inco dos oito modelosque a Volvo tem em co-mercialização possuema tecnologia plug-in

hybrid. O teste mais recente foi comum carro que ficará para a históriacomo um dos mais completos emtermos tecnológicos, motorização econforto: o S90. Este é um dos casosem que o consumidor final terá difi-culdade entre escolher uma berlinaou um crossover de topo, que é oXC90. Mas o foco está no S90 commotor T8 plugin hybrid.

Mas antes do interior, do designe do conforto convém falar daquiloque faz inveja aos concorrentes ale-mães e franceses. O carro sueco deluxo tem agora quase 390 cv de po-tência e um dos mais baixos níveisde emissões de CO2 do mercado: 48gramas por km, além de ser sufi-cientemente rápido para acompa-nhar alguns “M” e alguns “AMG”com os seus 5,1 segundos na acele-ração dos zero aos 100 km/h – sen-do que a velocidade máxima está li-mitada a 250 km.

Dirão os mais puristas e adeptosda marca que estas caraterísticas nãobatem certo com as mais recentesdeclarações de responsáveis da mar-ca, que estão a limitar alguns dosmodelos a velocidades máximas bas-tante mais baixas, mas a verdade, éque o utilizador de um Volvo deixoude ser apenas a classe média bem es-tabelecida que queria conforto e se-gurança e rolar como uma tartaruga.O consumidor é mais jovem, man-tém as exigências do antigamente equer mais, daí que esta seja uma via-tura que responde às necessidade defamília, de facilidade de condução ede segurança, mas também de per-formance e estilo.

A performance é ajudada por umacaixa automática de oito velocidades,nem sempre fácil manobrar à pri-meira, sendo necessário alguma ha-bitação na passagem de conduçãopara marcha-atrás e vice-versa, masnada de problemático. Depois temosum motor muito reativo ajudadopela caixa, sendo que automatica-mente o veículo faz a gestão entre amotorização elétrica e a propulsãotérmica. O motor a gasolina não é

nada económico e a média que da-mos de dois litros aos 100 tem emconta a distância cumprida em elétri-co, cerca de 40 km, já que depois pas-sa a gasolina. Existe um sistema deregeneração de energia que vai aju-dando a bateria e que permite arran-car em elétrico, mesmo depois deuma viagem longa. A condução é ir-repreensível, sobretudo em estradasnacionais sinuosas. Claramente é umcarro que agarra bem o alcatrão.

A Volvo não se esqueceu do mer-cado mais promissor da atualidadeem Portugal, i.e. os clientes corporte.E isto porque se é verdade que o S90passa facilmente os 80 mil euros comalguns packs e opcionais, também éverdade que empresas e empresáriosem nome individual podem obterum S90 por 47 mil euros mais IVA,com possibilidade de dedução desteimposto e a redução da tributaçãoautónoma.

Mas aquilo que mais atrai no S90T8 eletrificado, um topo de gamaque se bate no mercado das marcasalemãs, é o facto de ser tecnologica-mente diferenciador. Comecemospor aquilo que a marca chama de“martelos de Thor” e que mais não édo que as luzes de Led estilizadas nafrente e que rapidamente se torna-ram um ícone entre as marcas maisarrojadas. As linhas são fluidas e, decerta forma, minimalistas. A trasei-ra é bonita e distinta. Aliás, é a tra-seira de um Volvo. O interior é lu-xuoso e desenhado com requinte.E, em termos tecnológicos, tem otodo exigível, como o cruise controladaptativo, o pilot assist e tudo digi-talizado numa grande consola.Nada a acrescentar. ● VN

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MARCA: VolvoMODELO: S90 T8 PHVE InscriptionARQUITETURA: 4 cilindrosPOTÊNCIA: 320+87 cvTRANSMISSÃO: Aut 8vCOMBUSTÍVEL: gasolinaCONSUMO NOSPRIMEIROS 100 KM: 2 lACELERAÇÃODOS 0-100 KM/H: 5,1 ssVEL. MÁXIMA: 250 kmEMISSÕES DE CO2: 48 g/kmPVP (BASE): 75.071 eurosPVP (VIATURA DE TESTE):81.277 euros

CARRO

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