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Língua Portuguesa – Redação – 3º bimestre Artigo de opinião Página 1 de 39 Colégio Integral – série 7º ano – 2014 1 Artigo de opinião Leia o texto abaixo: A poluição no mundo Os grandes países industriais são os mais poluídos do mundo. Em Tóquio vende-se oxigênio nas ruas centrais. É comum os japoneses comprarem uma dose e enfiarem o nariz na “garrafinha”, recuperando-se do veneno que são obrigados a respirar. Os guardas de trânsito, intoxicados pelos gases dos automóveis, têm postos de abastecimento especiais nas esquinas. Apesar da propaganda que apresenta o centro da Europa como um oásis verde entre enormes fábricas, quem lê jornal sabe o que acontece com o Reno: um rio totalmente morto e mortífero, carregando resíduos químicos por milhares de quilômetros, contaminando os depósitos de água potável de vários países. Metade da população holandesa bebe a água do Rio Reno, que é o maior esgoto do mundo e o receptor de inseticidas das fábricas alemães. Seus peixes são proibidos para o consumo, porque os detritos industriais com que se “alimentam” tornam sua carne fétida. E os Estados Unidos, pátria do capitalismo moderno, louvado pelo rigor de suas leis, são – e isto seus próprios técnicos afirmam – o país mais poluído do planeta. Além disso, são os maiores exportadores de poluição: 40% da contaminação da Terra é provocada por suas indústrias, segundo informação de Philip Bart, ecologista e redator da Internation Review. Fonte: Júlio José Chiavenato. O massacre da natureza. Exercícios 1. Nesse texto Júlio José Chiavenato defende um ponto de vista (uma opinião) sobre a poluição no mundo. Qual é o ponto de vista que ele defende? 2. Sempre que defendemos um ponto de vista, desejamos convencer nosso interlocutor (leitor ou ouvinte) de que temos razão. Para isso, precisamos nos justificar com argumentos, isto é, explicar as razões, os motivos de pensarmos desse modo. O autor do texto lido, por exemplo, justificou seu ponto de vista com alguns argumentos. Identifique o argumento usado no 1º parágrafo.

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Artigo de opinião

Leia o texto abaixo:

A poluição no mundo

Os grandes países industriais são os mais poluídos do mundo. Em Tóquio vende-se

oxigênio nas ruas centrais. É comum os japoneses comprarem uma dose e enfiarem o nariz

na “garrafinha”, recuperando-se do veneno que são obrigados a respirar. Os guardas de

trânsito, intoxicados pelos gases dos automóveis, têm postos de abastecimento especiais

nas esquinas.

Apesar da propaganda que apresenta o centro da Europa como um oásis verde entre

enormes fábricas, quem lê jornal sabe o que acontece com o Reno: um rio totalmente morto

e mortífero, carregando resíduos químicos por milhares de quilômetros, contaminando os

depósitos de água potável de vários países.

Metade da população holandesa bebe a água do Rio Reno, que é o maior esgoto do

mundo e o receptor de inseticidas das fábricas alemães. Seus peixes são proibidos para o

consumo, porque os detritos industriais com que se “alimentam” tornam sua carne fétida.

E os Estados Unidos, pátria do capitalismo moderno, louvado pelo rigor de suas leis,

são – e isto seus próprios técnicos afirmam – o país mais poluído do planeta. Além disso,

são os maiores exportadores de poluição: 40% da contaminação da Terra é provocada por

suas indústrias, segundo informação de Philip Bart, ecologista e redator da Internation

Review.

Fonte: Júlio José Chiavenato. O massacre da natureza.

Exercícios

1. Nesse texto Júlio José Chiavenato defende um ponto de vista (uma opinião) sobre a

poluição no mundo. Qual é o ponto de vista que ele defende?

2. Sempre que defendemos um ponto de vista, desejamos convencer nosso interlocutor

(leitor ou ouvinte) de que temos razão. Para isso, precisamos nos justificar com argumentos,

isto é, explicar as razões, os motivos de pensarmos desse modo. O autor do texto lido, por

exemplo, justificou seu ponto de vista com alguns argumentos. Identifique o argumento

usado no 1º parágrafo.

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3. No 2º parágrafo, o autor, apresenta um contra-argumento para depois apresentar o

argumento que dá suporte ao seu ponto de vista. Para introduzir esse contra-argumento, ele

utiliza o conectivo “apesar de”. Indique qual é esse contra-argumento e depois indique qual é

o argumento que fundamenta o seu ponto de vista.

4. O 3º parágrafo é o desenvolvimento do argumento utilizado no 2º parágrafo. Por que o

autor continuou a argumentação do parágrafo anterior?

5. O último parágrafo apresenta um novo argumento. Indique esse argumento.

6. A linguagem do texto de opinião costuma ser clara, direta, precisa, pois o objetivo do autor

é transmitir com clareza um ponto de vista. Além disso, ela geralmente é empregada na

variedade padrão, mas pode variar, dependendo do modo como é veiculada (oralmente, em

jornais ou revistas) e do perfil do interlocutor.

a) A linguagem empregada no texto está de acordo com a variedade padrão ou com uma

variedade não padrão?

b) Considerando-se que o texto foi publicado numa revista que é lida geralmente por adultos

com grau de escolaridade médio ou alto, essa linguagem é adequada ao público a que se

destina?

Entendendo o gênero – parte I

Características próprias do artigo de opinião:

Costuma circular em veículos tipicamente jornalísticos e de grande penetração

popular: jornais impressos, revistas, sites de notícias etc.

Geralmente é escrito por especialistas num determinado assunto, pessoas

publicamente reconhecidas por suas posições, autoridade etc.

Aborda assuntos e/ou acontecimentos polêmicos atuais, recentemente noticiados e

de interesse público.

Dirige-se a um leitor que o jornal considera como potencialmente envolvido no debate,

na qualidade de cidadão.

Tem como finalidade defender uma opinião ou tese, a qual é apresentada com base

em argumentos coerentes.

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O texto de opinião integra, geralmente, três partes:

a introdução – indicação da ideia que se vai defender;

o desenvolvimento – apresentação das razões/exemplos que justificam a opinião;

a conclusão – síntese das razões apresentadas ou insistência num dos exemplos

referidos.

Para produzir um texto de opinião:

Indique o assunto a ser abordado e a opinião a ser defendida;

Justifique a sua opinião através de exemplos;

Termine o texto insistindo no seu ponto de vista e na justificação que considere mais

forte;

Utilize a linguagem apelativa e expressiva;

Atribua um título ao texto.

O que é argumentar?

Argumentar é uma ação verbal na qual se utiliza a palavra oral ou escrita para defender

uma tese, ou seja, uma opinião, uma posição, um ponto de vista particular a respeito de

determinado fato.

Quem argumenta, como a própria palavra sugere, se vale de argumentos, que nada

mais são que razões, verdades, fatos, virtudes e valores (éticos, estéticos, emocionais) tão

amplamente reconhecidos que, justamente por isso, servem de alicerce para a tese

defendida.

Assim como num jogo, quem argumenta faz suas “jogadas” para se sair vencedor:

entre outras coisas, afirma, nega, contesta, explica, promete, profetiza, critica, dá exemplos,

ironiza. Todas essas jogadas estão a serviço da criação de um clima favorável à adesão do

público às posições defendidas. A cada “lance”, o argumentador se esforça para comprovar

que está indo pelo caminho certo; caso contrário, perderá credibilidade e será vencido.

Um auditório é o conjunto dos que assistem a um debate, acompanham ou se

interessam potencialmente pelo assunto em questão. Nos grandes debates, ele é o

representante da opinião pública. Por isso mesmo, a função do auditório é frequentemente

decisiva para o debate. Quando alguém escreve uma carta a um jornal, por exemplo,

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argumentando contra uma posição defendida em determinada matéria, está querendo

convencer, antes de tudo, o conjunto dos leitores, ou seja, o auditório.

Todo jogador desenvolve estratégias, isto é, um plano e um estilo próprios de ação

verbal para, por meio deles, vencer o adversário. No jogo argumentativo, entretanto, é

preciso convencer, ou seja, vencer com a ajuda de todos, que precisam aderir à tese, graças

à eficiência das estratégias e à força dos argumentos. Daí o valor social da argumentação,

na medida em que se trata de uma vitória coletiva.

Informação versus opinião

Leia a charge abaixo:

Sobre a charge acima, reflita:

Por que o chargista colocou de um lado uma prateleira com os troféus da copa do

mundo e do outro lado uma prateleira vazia com o nome “prêmio Nobel de medicina”?

Qual a relação entre a informação no topo da charge – o Brasil gastará R$ 33 bilhões

com a copa – e a galeria de troféus logo abaixo?

Que relação existe entre a copa do mundo e as eleições que ocorrerão em outubro de

2014?

É possível dizer que uma das estratégias argumentativas usada pelo chargista é a

ironia?

A charge pode ser considera uma opinião do autor? Por quê?

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Notícia

“Matéria-prima” dos jornais, a notícia relata fatos que estão ocorrendo na cidade, no

país, no mundo. O objetivo da notícia é informar o leitor com exatidão. Mesmo tendo a

pretensão de ser “neutra” e confiável, ela traz em si concepções, princípios e a ideologia dos

órgãos de imprensa que a divulgam. As notícias são impressas no jornal de acordo com o

grau de relevância (das mais importantes para as menos importantes).

Para chamar a atenção dos leitores, o texto se inicia com uma manchete bem objetiva,

com verbo sempre no presente. Em seguida, vem o lead, ou primeiro parágrafo, que contém

as informações básicas sobre o fato noticiado. O lead começa pela indicação do fato e pela

descrição das circunstâncias mais importantes em que o fato ocorreu, isto é, o que ocorreu,

como, quando, onde e por quê. O uso mais comum dessa palavra é em inglês, lead, mas, na

língua portuguesa, lide também está correto.

Leia a notícia abaixo:

Oficial! A Copa do Mundo é nossa

Comitê Executivo da Fifa anuncia o Brasil como sede do Mundial de 2014

GLOBOESPORTE.COM

Zurique, Suíça

A Copa do Mundo é nossa! Depois de mais de cinco décadas de espera, o Comitê

Executivo da Fifa confirmou nesta terça-feira, na sede da organização, em Zurique, na

Suíça, o Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014.

Após confirmar a Alemanha como sede do Mundial Feminino de 2011, o presidente da

Fifa, Joseph Blatter, fez o tão aguardado anúncio abrindo o envelope com o resultado da

votação por volta de 12h36m (de Brasília). Todos os 20 membros do Comitê Executivo da

Fifa votaram a favor da candidatura do Brasil.

— O país que produziu os melhores jogadores do planeta, que tem cinco títulos

mundiais, terá o direito, mas também a responsabilidade, de sediar a Copa em 2014 – disse

Joseph Blatter, que salientou em seu discurso que o fato de a Colômbia ter desistido da

candidatura à Copa de 2014 não facilitou a escolha do Brasil como sede da competição.

O dirigente suíço também fez questão de elogiar a irreverente apresentação da

comitiva brasileira, que aconteceu cerca de três horas antes do anúncio oficial. A delegação

brasileira foi composta, entre outras personalidades, pelo presidente da República, Luiz

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Inácio Lula da Silva, o craque Romário e até o escritor Paulo Coelho, que arrancou risos do

Comitê Executivo da Fifa ao fazer uma comparação da paixão do brasileiro pelo futebol com

o sexo.

Após receber a taça da Copa do Mundo das mãos de Blatter, Lula assegurou ao

presidente da FIFA que o Brasil estará, de hoje até 2014, se preparando para realizar uma

das maiores Copas do Mundo da história:

— O mundo terá a oportunidade de ver o que o povo brasileiro é capaz de fazer. O

futebol para nós, brasileiros, não é apenas um esporte, mas uma verdadeira paixão.

Com a confirmação da Fifa, o país do futebol voltará a receber um Mundial, fato que

não acontecia desde 1950. Agora, o Brasil tem até o dia 31 de outubro de 2008 para

anunciar quais são as cidades que receberão os jogos.

Ao todo, são 18 capitais de todo o país concorrendo para receber os jogos. A Fifa

recomenda ao Brasil que escolha apenas dez sedes. No entanto, devem ser indicadas 12

localidades, como nas Copas de 2006, na Alemanha, e de 2002, no Japão e na Coréia do

Sul.

Os concorrentes são: Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Campo Grande

(MS), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Fortaleza (CE), Goiânia (GO), Maceió

(AL), Manaus (AM), Natal (RN), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio Branco (AC), Rio de

Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Paulo (SP).

Nestas cidades, 14 estádios serão reformados para receber o Mundial. Em outras

quatro, as arenas ainda serão construídas, todas no Nordeste. Em Maceió, será a Arena

Zagallo. Em Natal, o Estádio Estrela dos Reis Magos. E mais a Arena Recife-Olinda, em

Pernambuco, e a Arena Bahia, em Salvador.

Anúncio não garante Copa no Brasil

Apesar de toda a festa pelo anúncio do Brasil como sede da Copa de 2014, vale

ressaltar que o evento não está completamente garantido. Não existe um decreto ou lei que

obrigue a Fifa a garantir a realização do torneio no país. A organização pode nomear outro

país como sede se o Brasil não cumprir várias obrigações que estão no caderno de

encargos.

Caso isso aconteça, pode acontecer com o Brasil o mesmo que aconteceu com a

Colômbia. Em 1986, o país perdeu a candidatura para o México justificando que não tinha

dinheiro para terminar as obras necessárias à criação da infra-estrutura exigida pela Fifa.

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Entre os itens analisados pela Fifa, estarão, por exemplo: uso da verba disponível para

o evento, venda de ingressos, estádios, estrutura para treinamentos, facilidades para a

mídia, possibilidade de realização de congressos e eventos, segurança, telecomunicações,

transportes, capacidade de acomodação.

http://globoesporte.globo.com/ESP/Noticia/Futebol/Campeonatos/0,,MUL163196-9790,00-

OFICIAL+A+COPA+DO+MUNDO+E+NOSSA.html

Sobre a notícia acima, reflita:

Em que veículo o texto foi publicado? É bastante conhecido do público?

Qual é o assunto principal abordado pelo texto? É atual ou ultrapassado, em relação à

data de publicação?

Quem é o destinatário visado? Ou seja: para que tipo de leitor a notícia se dirige? Que

importância essas informações podem ter para esse leitor?

Com que finalidade esse assunto é abordado?

O que você achou dessa notícia?

Por que esse fato virou notícia?

Qual é sua opinião sobre a copa ser realizada no Brasil?

O autor da notícia dá sua própria opinião sobre o fato ou apenas o noticia e registra

sua repercussão?

Artigo de opinião

Leia o artigo abaixo:

Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil

Vinícius Gaspar Garcia

Alguns jornalistas, de forma até bem intencionada, fazem a seguinte pergunta: é

preferível gastar 5 bilhões de reais na Copa do Mundo ou na construção de escolas?

Evidentemente, se uma alternativa anulasse a outra, a escolha seria pela segunda opção.

Ocorre que este é um questionamento simplista, uma visão limitada das coisas, que não

vislumbra os efeitos dinâmicos, em termos sociais e econômicos, que a realização de uma

Copa do Mundo pode trazer.

Poderia se comparar, por exemplo, o gasto de 5 bilhões previsto para a construção dos

estádios com o montante que se paga anualmente com juros e encargos da dívida pública:

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algo em torno de 180 bilhões de reais! Ou a proporção que estes 5 bilhões representam no

PIB do Brasil, que foi de 3,6 trilhões de reais em 2010. Colocando o investimento para

construção das arenas nessa perspectiva mais ampla, porque não utilizar esses recursos

numa dezena de estádios, que serão ocupados todo o fim de semana por milhares de

pessoas?

Bom, aí temos um problema. Sou favorável à realização da Copa, mas é um equívoco

construir estádios nas cidades onde não há demanda, onde o futebol é praticamente

amador. Em Manaus, Cuiabá, Brasília e, em menor medida, Natal, vamos ter os chamados

“elefantes brancos”. Nesses casos faz sentido falar em desperdício, pois não se inventa

artificialmente um clube ou uma torcida a partir da simples existência do estádio.

Agora, em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador,

Recife e Fortaleza, o futebol já atrai multidões semanalmente, com clubes de tradição e

torcidas apaixonadas. Porque não investir 0,15% do PIB em estádios modernos e

confortáveis? Os mesmos jornalistas que fazem a pergunta simplória do início do texto

reclamam, há anos, da má qualidade dos nossos estádios. A realização da Copa do Mundo

é uma ótima oportunidade para fazer este investimento, melhorando também a infraestrutura

urbana e o sistema de transporte das principais cidades do país.

É claro que todo esse processo tem que ser monitorado pelos órgãos de fiscalização –

como o Tribunal de Contas da União, o Ministério Público e o Congresso – além da

sociedade civil organizada e da própria mídia. Os ganhos com os estádios novos e as

melhorias de infraestrutura serão somados aos milhares de empregos diretos e indiretos que

a Copa vai gerar, trazendo, também ao país, turistas e empresas interessadas em investir.

Entretanto, é óbvio que nem tudo são flores. Além dos “elefantes brancos”, outra

questão que preocupa é o pessoal que toma conta do nosso futebol na CBF. É preciso ficar

em cima, como fez o jornal “Lance” no início do ano, revelando irregulares num contrato

sobre os lucros da Copa, provocando sua alteração. Felizmente, temos gente séria na

imprensa, nos órgãos de fiscalização e nas instâncias de participação e controle social.

Por tudo isso, e mesmo com as ressalvas colocadas, acho que será uma boa a Copa

no Brasil em 2014. Vou deixar para falar das Olimpíadas numa outra ocasião. Só adianto um

ponto de vista que, creio eu, vai no sentido contrário do senso comum: dois eventos assim

tão próximos me parece um exagero, acaba um tirando o foco do outro.

Deveríamos estar concentrados exclusivamente na organização da Copa do Mundo,

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que tem mais a ver com nossa cultura esportiva centrada no futebol. Poderíamos continuar

investindo no esporte olímpico, melhorar nosso desempenho e daqui há 12, 16 anos, quem

sabe, se candidatar a fazer os jogos olímpicos.

Bom, mas como torcedor é óbvio que vou curtir muito ter tudo isso no Brasil nos

próximos anos, sempre atento para que as coisas aconteçam corretamente!

Disponível em: http://vggarcia30.blogspot.com.br/2011/05/copa-do-mundo-e-olimpiadas-no-brasil.html (acesso

em 07/07/12).

Vai ter Copa: argumentos para enfrentar quem torce contra o Brasil

Como a desinformação alimenta o festival de besteiras ditas contra a Copa do Mundo de

Futebol no Brasil.

Antonio Lassance

Profetas do pânico: os grupos que patrocinam a campanha anticopa

Existe uma campanha orquestrada contra a Copa do Mundo no Brasil. A torcida para

que as coisas deem errado é pequena, mas é barulhenta e até agora tem sido muito bem

sucedida em queimar o filme do evento.

Tiveram, para isso, uma mãozinha de alguns governos, como o do estado do Paraná e

da prefeitura de Curitiba, que deram o pior de todos os exemplos ao abandonarem seus

compromissos com as obras da Arena da Baixada, praticamente comprometida como sede.

A arrogância e o elitismo dos cartolas da Fifa também ajudaram. Aliás, a velha palavra

“cartola” permanece a mais perfeita designação da arrogância e do elitismo de muitos

dirigentes de futebol do mundo inteiro.

Mas a campanha anticopa não seria nada sem o bombardeio de informação podre

patrocinado pelos profetas do pânico.

O objetivo desses falsos profetas não é prever nada, mas incendiar a opinião pública

contra tudo e contra todos, inclusive contra o bom senso.

Afinal, nada melhor do que o pânico para se assassinar o bom senso.

Como conseguiram azedar o clima da Copa do Mundo no Brasil

O grande problema é quando os profetas do pânico levam consigo muita gente que não

é nem virulenta, nem violenta, mas que acaba entrando no clima de replicar desinformações,

disseminar raiva e ódio e incutir, em si mesmas, a descrença sobre a capacidade do Brasil

dar conta do recado.

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Isso azedou o clima. Pela primeira vez em todas as copas, a principal preocupação do

brasileiro não é se a nossa seleção irá ganhar ou perder a competição.

A campanha anticopa foi tão forte e, reconheçamos, tão eficiente que provocou algo

estranho. Um clima esquisito se alastrou e, justo quando a Copa é no Brasil, até agora não

apareceu aquela sensação que, por aqui, sempre foi equivalente à do Carnaval.

Se depender desses Panicopas (os profetas do pânico na Copa), essa será a mais

triste de todas as copas.

“Hello!”: já fizemos uma copa antes

Até hoje, os países que recebem uma Copa tornam-se, por um ano, os maiores

entusiastas do evento. Foi assim, inclusive, no Brasil, em 1950. Sediamos o mundial com

muito menos condições do que temos agora.

Aquela Copa nos deixou três grandes legados. O primeiro foi o Maracanã, o maior

estádio do mundo – que só ficou pronto faltando poucos dias para o início dos jogos.

O segundo, graças à derrota para o Uruguai (“El Maracanazo”), foi o eterno medo que

muitos brasileiros têm de que as coisas saiam errado no final e de o Brasil dar vexame

diante do mundo – o que Nélson Rodrigues apelidou de “complexo de vira-latas”, a ideia de

que o brasileiro nasceu para perder, para errar, para sofrer.

O terceiro legado, inestimável, foi a associação cada vez mais profunda entre o futebol

e a imagem do país. O futebol continua sendo o principal cartão de visitas do Brasil –

imbatível nesse aspecto.

O cartunista Henfil, quando foi à China, em 1977, foi recebido com sorrisos no rosto e

com a única palavra que os chineses sabiam do Português: “Pelé” (está no livro “Henfil na

China”, de 1978).

O valor dessa imagem para o Brasil, se for calculada em campanhas publicitárias para

se gerar o mesmo efeito, vale uma centena de Maracanãs.

Desinformação #1: o dinheiro da Copa vai ser gasto em estádios e em jogos de

futebol, e isso não é importante

O pior sobre a Copa é a desinformação. É da desinformação que se alimenta o festival

de besteiras que são ditas contra a Copa.

Não conheço uma única pessoa que fale dos gastos da Copa e saiba dizer quanto isso

custará para o Brasil. Ou, pelo menos, quanto custarão só os estádios. Ou que tenha visto

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uma planilha de gastos da copa.

A “Copa” vai consumir quase 26 bilhões de reais.

A construção de estádios (8 bi) é cerca de 30% desse valor.

Cerca de 70% dos gastos da Copa não são em estádios, mas em infraestrutura,

serviços e formação de mão de obra.

Os gastos com mobilidade urbana praticamente empatam com o dos estádios.

Os gastos em aeroportos (6,7 bi), somados ao que será investido pela iniciativa privada

(2,8 bi até 2014) é maior que o gasto com estádios.

O ministério que teve o maior crescimento do volume de recursos, de 2012 para 2013,

não foi o dos Esportes (que cuida da Copa), mas sim a Secretaria da Aviação Civil (que

cuida de aeroportos).

Quase 2 bi serão gastos em segurança pública, formação de mão de obra e outros

serviços.

Ou seja, o maior gasto da Copa não é em estádios. Quem acha o contrário está

desinformado e, provavelmente, desinformando outras pessoas.

Desinformação #2: se deu mais atenção à Copa do que a questões mais importantes

Os atrasos nas obras pelo menos serviram para mostrar que a organização do evento

não está isenta de problemas que afetam também outras áreas. De todo modo, não dá para

se dizer que a organização da Copa teve mais colher de chá que outras áreas.

Certamente, os recursos a serem gastos em estádios seriam úteis a outras áreas. Mas

se os problemas do Brasil pudessem ser resolvidos com 8 bi, já teriam sido.

Em 2013, os recursos destinados à educação e à saúde cresceram. Em 2014, vão

crescer de novo.

Portanto, o Brasil não irá gastar menos com saúde e educação por causa da Copa. Ao

contrário, vai gastar mais. Não por causa da Copa, mas independentemente dela.

No que se refere à segurança pública, também haverá mais recursos para a área. Aqui,

uma das razões é, sim, a Copa.

Dados como esses estão disponíveis na proposta orçamentária enviada pelo Executivo

e aprovada pelo Congresso.

Se alguém quiser ajudar de verdade a melhorar a saúde e a educação do país, ao

invés de protestar contra a Copa, o alvo certo é lutar pela aprovação do Plano Nacional de

Educação, pelo cumprimento do piso salarial nacional dos professores, pela fixação de

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percentuais mais elevados e progressivos de financiamento público para a saúde e pela

regulação mais firme sobre os planos de saúde.

Se quiserem lutar contra a corrupção, sugiro protestos em frente às instâncias do

Poder Judiciário, que andam deixando prescrever crimes sem o devido julgamento, e

rolezinhos diante das sedes do Ministério Público em alguns estados, que andam com as

gavetas cheias de processos, sem dar a eles qualquer andamento.

Marchar em frente aos estádios, quebrar orelhões públicos e pichar veículos em

concessionárias não tem nada a ver com lutar pela saúde e pela educação.

Os estádios, que foram malhados como Judas e tratados como ícones do desperdício,

geraram, até a Copa das Confederações, 24,5 mil empregos diretos. Alto lá quando alguém

falar que isso não é importante.

Será que o raciocínio contra os estádios vale também para a Praça da Apoteose e para

todos os monumentos de Niemeyer? Vale para a estátua do Cristo Redentor? Vale para as

igrejas de Ouro Preto e Mariana?

Havia coisas mais importantes a serem feitas no Brasil, antes desses monumentos

extraordinários. Mas o que não foi feito de importante deixou de ser feito porque construíram

o bondinho do Pão-de-Açúcar?

Até mesmo para o futebol, o jogo e o estádio são, para dizer a verdade, um detalhe

menos importante. No fundo, estádios e jogos são apenas formas para se juntar as pessoas.

Isso sim é muito importante. Mais do que alguns imaginam.

Desinformação #3: O Brasil não está preparado para sediar o mundial e vai passar

vexame

Se o Brasil deu conta da Copa do Mundo em 1950, por que não daria conta agora?

Se realizou a Copa das Confederações no ano passado, por que não daria conta da

Copa do Mundo?

Se recebeu muito mais gente na Jornada Mundial da Juventude, em uma só cidade,

porque teria dificuldades para receber um evento com menos turistas, e espalhados em mais

de uma cidade?

O Brasil não vai dar vexame, quando o assunto for segurança, nem diante da

Alemanha, que se viu rendida quando dos atentados terroristas em Munique, nos Jogos

Olímpicos de Verão de 1972; nem diante dos Estados Unidos, que sofreram atentados na

Maratona Internacional de Boston, no ano passado.

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O Brasil não vai dar vexame diante da Itália, quando o assunto for a maneira como

tratamos estrangeiros, sejam eles europeus, americanos ou africanos.

O Brasil não vai dar vexame diante da Inglaterra e da França, quando o assunto for

racismo no futebol. Ninguém vai jogar bananas para nenhum jogador, a não ser que haja um

Panicopa no meio da torcida.

O Brasil não vai dar vexame diante da Rússia, quando o assunto for respeito à

diversidade e combate à homofobia.

O Brasil não vai dar vexame diante de ninguém quando o assunto for manifestações

populares, desde que os governadores de cada estado convençam seus comandantes da

PM a usarem a inteligência antes do spray de pimenta e a evitar a farra das balas de

borracha.

Podem ocorrer problemas? Podem. Certamente ocorrerão. Eles ocorrem todos os dias.

Por que na Copa seria diferente? A grande questão não é se haverá problemas. É de que

forma nós, brasileiros, iremos lidar com tais problemas.

Desinformação #4: os turistas estrangeiros estão com medo de vir ao Brasil

De tanto medo do Brasil, o turismo para o Brasil cresceu 5,6% em 2013, acima da

média mundial. Foi um recorde histórico (a última maior marca havia sido em 2005).

Recebemos mais de 6 milhões de estrangeiros. Em 2014, só a Copa deve trazer meio

milhão de pessoas.

De quebra, o Brasil ainda foi colocado em primeiro lugar entre os melhores países para

se visitar em 2014, conforme o prestigiado guia turístico Lonely Planet (“Best in Travel 2014”,

citado nas referências ao final).

Adivinhe qual uma das principais razões para a sugestão? Pois é, a Copa.

Desinformação #5: a Copa é uma forma de enganar o povo e desviá-lo de seus reais

problemas

O Brasil tem problemas que não foram causados e nem serão resolvidos pela Copa.

O Brasil tem futebol sem precisar, para isso, fazer uma copa do mundo. E a maioria

assiste aos jogos da seleção sem ir a estádios.

Quem quiser torcer contra o Brasil que torça. Há quem não goste de futebol, é um

direito a ser respeitado. Mas daí querer dar ares de “visão crítica” é piada.

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Desinformação #6: muitas coisas não ficarão prontas antes da Copa, o que é um grave

problema

É verdade, muitas coisas não ficarão prontas antes da Copa, mas isso não é um grave

problema. Tem até um nome: chama-se “legado”.

Mas, além do legado em infraestrutura para o país, a Copa provocou um outro,

imaterial, mas que pode fazer uma boa diferença.

Trata-se da medida provisória enviada por Dilma e aprovada pelo Congresso (entrará

em vigor em abril deste ano), que limita o tempo de mandato de dirigentes esportivos.

A lei ainda obrigará as entidades (não apenas de futebol) a fazer o que nunca fizeram:

prestar contas, em meios eletrônicos, sobre dados econômicos e financeiros, contratos,

patrocínios, direitos de imagem e outros aspectos de gestão. Os atletas também terão direito

a voto e participação na direção. Seria bom se o aclamado Barcelona, de Neymar, fizesse o

mesmo.

Estresse de 2013 virou o jogo contra a Copa

Foi o estresse de 2013 que virou o jogo contra a Copa. Principalmente quando aos

protestos se misturaram os críticos mascarados e os descarados.

Os mascarados acompanharam os protestos de perto e neles pegaram carona,

quebrando e botando fogo. Os descarados ficaram bem de longe, noticiando o que não viam

e nem ouviam; dando cartaz ao que não tinha cartaz; fingindo dublar a “voz das ruas”,

enquanto as ruas hostilizavam as emissoras, os jornalões, as revistinhas e até as coitadas

das bancas.

O fato é que um sentimento estranho tomou conta dos brasileiros. Diferentemente de

outras copas, o que mais as pessoas querem hoje saber não é a data dos jogos, nem os

grupos, nem a escalação dos times de cada seleção. A maioria quer saber se o país irá

funcionar bem e se terá paz durante a competição. Estranho.

É quase um termômetro, ou um teste do grau de envenenamento a que uma pessoa

está acometida. Pergunte a alguém sobre a Copa e ouça se ela fala dos jogos ou de algo

que tenha a ver com medo. Assim se descobre se ela está empolgada ou se sentou em uma

flecha envenenada deixada por um profeta do apocalipse.

Todo mundo em pânico: esse filme de comédia a gente já viu. Funciona assim: os

profetas do pânico rogam uma praga e marcam a data para a tragédia acontecer. E esperam

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para ver o que acontece. Se algo “previsto” não acontece, não tem problema. A intenção era

só disseminar o pânico e o baixo astral mesmo.

O que diziam os profetas do pânico sobre o Brasil em 2013? Entre outras coisas:

Que estávamos à beira de um sério apagão elétrico.

Que o Brasil não conseguiria cumprir sua meta de inflação e nem de superávit primário.

Que o preço dos alimentos estava fora de controle.

Que não se conseguiria aprontar todos os estádios para a Copa das Confederações.

O apagão não veio e as termelétricas foram desligadas antes do previsto. A inflação

ficou dentro da meta. A inflação de alimentos retrocedeu. Todos os estádios previstos para a

Copa das Confederações foram entregues.

Essas foram as profecias de 2013. Todas furadas.

Cada ano tem suas previsões malditas mais badaladas. Em 2007 e 2008, a mesma

turma do pânico dizia que o Brasil estava tendo uma grande epidemia de febre amarela.

Acabou morrendo mais gente de overdose de vacina do que de febre amarela, graças aos

profetas do pânico.

Em 2009 e 2010, os agourentos diziam que o Brasil não estava preparado para

enfrentar a gripe aviária e nem a gripe “suína”, o H1N1. Segundo esses especialistas em

catástrofes, os brasileiros não tinham competência nem estrutura para lidar com um

problema daquele tamanho. Soa parecido com o discurso anticopa, não?

O cataclismo do H1N1 seria gravíssimo. Os videntes falavam aos quatro cantos que

não se poderia pegar ônibus, metrô ou trem, tal o contágio. Não se poderia ir à escola, ao

trabalho, ao supermercado. Resultado? Não houve epidemia de coisa alguma.

Mas os profetas do pânico não se dão por vencidos. Eles são insistentes (e chatos

também). Quando uma de suas profecias furadas não acontece, eles simplesmente adiam a

data do juízo final, ou trocam de praga.

Agora, atenção a todos, o próximo fim do mundo é a Copa. “Imagina na Copa” é o

slogan. E há muita gente boa que não só reproduz tal slogan como perde seu tempo e sua

paciência acreditando nisso, pela enésima vez.

Para enfrentar o pessoal que é ruim da cabeça ou doente do pé

O pânico é a bomba criada pelos covardes e pulhas para abater os incautos, os

ingênuos e os desinformados.

Só existe um antídoto para se enfrentar os profetas do pânico. É combater a

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desinformação com dados, argumentos e, sobretudo, bom senso, a principal vítima da

campanha contra a Copa.

Informação é para ser usada. É para se fazer o enfrentamento do debate. Na escola,

no trabalho, na família, na mesa de bar.

É preciso que cada um seja mais veemente, mais incisivo e mais altivo que os profetas

do pânico. Eles gostam de falar grosso? Vamos ver como se comportam se forem jogados

contra a parede, desmascarados por uma informação que desmonta sua desinformação.

As pessoas precisam tomar consciência de que deixar uma informação errada e uma

opinião maldosa se disseminar é como jogar lixo na rua.

Deixar envenenar o ambiente não é um bom caminho para melhorar o país.

A essa altura do campeonato, faltando poucos meses para a abertura do evento, já não

se trata mais de Fifa. É do Brasil que estamos falando.

É claro que as informações deste texto só fazem sentido para quem as palavras

“Brasil” e “brasileiros” significam alguma coisa.

Há quem por aqui nasceu, mas não nutre qualquer sentimento nacional, qualquer

brasilidade; sequer acreditam que isso existe. Paciência. São os que pensam diferente que

têm que mostrar que isso existe sim.

Ter orgulho do país e torcer para que as coisas deem certo não deve ser confundido

com compactuar com as mazelas que persistem e precisam ser superadas. É simplesmente

tentar colocar cada coisa em seu lugar.

Uma das maneiras de se colocar as coisas no lugar é desmascarar oportunistas que

querem usar da pregação anticopa para atingir objetivos que nunca foram o de melhorar o

país.

O pior dessa campanha fúnebre não é a tentativa de se desmoralizar governos, mas a

tentativa de desmoralizar o Brasil.

É preciso enfrentar, confrontar e vencer esse debate. É preciso mostrar que esse

pessoal que é profeta do pânico é ruim da cabeça ou doente do pé.

(*) Antonio Lassance é doutor em Ciência Política e torcedor da Seleção Brasileira de Futebol desde sempre.

http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Vai-ter-Copa-argumentos-para-enfrentar-quem-torce-contra-o-Brasil/30090

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Argumentos para continuar protestando contra a Copa do Mundo no Brasil

Após a primeira grande manifestação do ano contra a Copa do Mundo no Brasil, ganhou

corpo na internet uma campanha orquestrada para desqualificar os que criticam a realização

do megaevento

por Comitê Popular da Copa de São Paulo — publicado 04/02/2014 05:56, última modificação 04/02/2014 15:21

André Peniche/CartaCapital

Desde 25 de janeiro, após a primeira

grande manifestação do ano contra a Copa do

Mundo no Brasil, ganhou corpo na internet

uma campanha orquestrada para desqualificar

os que criticam a realização do megaevento.

Um vocabulário sinistro povoou textos em

blogs, sites de notícias e postagens nas redes

sociais que se prestaram ao nefasto serviço.

Termos como “bandidos”, “fascistas” e até

“terroristas” foram usados para classificar manifestantes, em uma flagrante demonstração de

má fé e irresponsabilidade. Até a presidenta da República surgiu com uma declaração de

que protestar contra a Copa é “ter uma visão pequena do Brasil”.

Houve ainda quem apelasse para o nacionalismo, acusando os que são contra a Copa

de serem contra o país. Impossível não lembrar, nesse raciocínio, do governo Médici e o

chavão ufanista “Brasil: Ame-o ou Deixe-o”, empregado a quatro cantos durante um dos

períodos mais repressivos da Ditadura.

No entanto, a estratégia de desqualificar manifestantes e manifestações tem pernas

curtas. Tudo porque, infelizmente, os legados negativos da Copa são gritantes demais para

serem apagados, e se apresentam como quase que uma inesgotável fonte para mais

protestos.

Aos que não os veem (ou não querem ver), porém, gostaríamos de abrir os olhos.

A Copa das Remoções

A Ancop (Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa) estimou que 250 mil

pessoas foram ou serão removidas de suas casas no Brasil, em razão de obras justificadas

pela realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Há dificuldade em encontrar o número

Protesto contra a Copa do Mundo no centro de São Paulo

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exato de pessoas afetadas pelas remoções, pois o poder público das cidades-sede

frequentemente se nega ou diz não ter informações sobre os despejos.

O dossiê “Megaeventos e Violações de Direitos Humanos no Brasil”, produzido pela

Ancop, aponta que:

“As estratégias utilizadas uniformemente em todo o território nacional se iniciam quase

sempre pela produção sistemática da desinformação, que se alimenta de notícias truncadas

ou falsas, a que se somam propaganda enganosa e boatos. Em seguida, começam a

aparecer as ameaças. Caso se manifeste alguma resistência, mesmo que desorganizada,

advém o recrudescimento da pressão política e psicológica. Ato final: a retirada dos serviços

públicos e a remoção violenta”.

As Nações Unidas, em sua revisão periódica universal de 2012, também questionaram

a violação de direitos humanos na preparação da Copa de 2014, sobretudo no que diz

respeito aos despejos forçados.

Portanto, em nome da Copa do Mundo, graves violações de direitos humanos foram e

estão sendo cometidas. Comunidades inteiras foram e estão sendo riscadas do mapa,

desorganizando a vida de milhares de pessoas, destruindo laços comunitários de décadas e

criando traumas psicológicos permanentes. Tudo no decorrer de processos marcados pela

verticalidade, truculência e falta de transparência do poder público.

A Copa dos Elefantes Brancos

De acordo com a ONG “Contas Abertas”, pelo menos quatro dos 12 estádios

construídos e/ou reformados para a Copa vão se transformar em elefantes brancos – isto é,

obras caras, vultosas, mas subutilizáveis.

Os estádios de Brasília, Cuiabá, Manaus e Natal não deverão sair por menos que 2,8

bilhões de reais no total. Parte da verba será financiada via BNDES, que tem na sua

composição verbas oriundas do Tesouro Nacional e do Fundo de Amparo ao Trabalhador –

públicas, portanto. Outra parte será composta diretamente por dinheiro público, através de

aporte dos governos estaduais. Em todas essas cidades, os estádios serão grandes (e

caros) demais para locais com histórico de partidas de futebol com públicos pequenos.

Por exemplo, o estádio Mané Garrincha, em Brasília, tem capacidade máxima para 71

mil pessoas. A contradição salta aos olhos quando olhamos para o público do primeiro jogo

da final do campeonato brasiliense do ano passado: parcos 1.956 pagantes. O mesmo

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cenário se repete nas outras três cidades mencionadas.

Chegamos ao ponto de em Manaus, o Grupo de Monitoramento e Fiscalização do

Sistema Carcerário, ligado ao Tribunal de Justiça do Amazonas, aventar a hipótese de

transformar o recém-construído estádio em um ‘presídio’ temporário.

Desta forma, não é difícil concluir que, passada a Copa, todos os quatro estádios

deverão ficar vazios – fato que se configura em um bilionário descaso com o dinheiro

público.

A Copa da Exploração Sexual

Em um país onde reina a pobreza e a cultura do machismo, a realização da Copa do

Mundo, com a consequente chegada de milhares de turistas, só fará aquecer ainda mais as

redes de aliciamento que se beneficiam do mercado da exploração sexual.

Um estudo da fundação francesa Scelles comprova que as grandes competições

internacionais permitem que as redes criminosas “aumentem a oferta” de pessoas que são

prostituídas. Na África do Sul, por exemplo, o número estimado aumentou de 100 para 140

mil, durante o megaevento de 2010.

O Brasil possui um dos maiores níveis de exploração sexual infanto-juvenil do mundo.

De acordo com o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, uma

rede de organizações não governamentais, estima-se que existam 500 mil crianças e

adolescentes na indústria do sexo no Brasil (dados de 2012). Este índice tende a crescer

ainda mais com a Copa de 2014. Em março de 2012, foi denunciado o site “Garota Copa

Pantanal 2014” que publicava vídeos e fotos de garotas menores de 18 anos em posições

sensuais e com camisetas promocionais alusivas ao torneio de futebol.

Mas tais impactos começaram antes mesmo dos primeiros turistas chegarem para os

jogos. Há denúncias do aumento de exploração sexual, incluindo crianças e adolescentes,

nos arredores dos estádios e das grandes obras urbanas da Copa, divulgadas recentemente

no jornal britânico “Mirror”, que revelou que garotas de 11 a 14 anos estão se prostituindo na

região do Itaquerão, Zona Leste de São Paulo.

Apesar da exploração sexual ter sido elencada entre as preocupações das autoridades

brasileiras com a realização do megaevento, pouco foi efetivado em termos de políticas

públicas preventivas ou de combate ao tráfico de mulheres até o momento.

No estado da Bahia, o terceiro em número de denúncias de violência sexual, apenas

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em dezembro de 2013 se divulgou uma campanha com o título “Fim da Prostituição e do

Tráfico Infantil”. Além disso, as poucas campanhas realizadas até agora são relacionadas ao

público infantil, campanhas estas que são mais aceitas pela sociedade e provocam adesão

no combate.

Todavia, campanhas relacionadas a públicos estigmatizados, como mulheres e

travestis, não recebem a devida ênfase, omitindo-se assim o fato de que se tratam de

vítimas das condições sociais que as levaram à prostituição. Isso nos remete ao histórico de

violação de direitos que perpassa até mesmo os planejamentos das políticas públicas.

Ativistas e organizações que combatem a exploração de pessoas indicam que o

assunto não é prioridade para os governos, que continuam reprimindo as trabalhadoras e

trabalhadores do ramo ao invés de desenvolver políticas públicas de prevenção à

exploração sexual, dando-lhes outras condições e alternativas de sobrevivência. Políticas

deveriam ter sido intensificadas logo que o país foi eleito sede da Copa do Mundo, o que

não ocorreu.

É valido ressaltar que campanhas de combate à exploração sexual, até então, pouco

tem se relacionado ao nome da Fifa. Será que esse é mais um requisito para trazer o torneio

ao Brasil? Assim como é exigido a outras corporações, a Fifa também deveria cumprir leis

de responsabilidade social, como, por exemplo, campanhas e ações na área do combate à

exploração sexual, dados os inúmeros alertas e fatos que comprovam que o Mundial

intensifica esse sombrio mercado.

A Copa do Fim da Soberania

Para poder receber a Copa do Mundo, o governo brasileiro resolveu abrir mão da

soberania do país, que em tese estaria garantida no artigo 1º da Constituição Federal. Fez

isso ao oferecer, ao longo do tempo, uma série de garantias à Fifa nas quais se compromete

em acatar todas as demandas impostas pela entidade.

Dessa forma, em 2012, foi sancionada a Lei Geral da Copa, que flexibiliza a legislação

nacional e cria zonas de exceção nas cidades-sede.

A lei dá à Fifa a prerrogativa de estabelecer em torno dos eventos esportivos e da Fan

Fest uma área com um raio de até 2 quilômetros onde somente patrocinadores oficiais

poderão comercializar produtos. Estabelecimentos comerciais regulares não seriam

impedidos de abrir as portas, mas trabalhadores ambulantes – que em São Paulo totalizam

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cerca de 138 mil pessoas – fatalmente serão reprimidos e impedidos de trabalhar.

A Fifa conseguiu ainda fazer com que o Estado brasileiro criasse novas tipificações

penais. A Lei Geral da Copa prevê pena de três meses a um ano para os que usarem de

forma indevida (isto é, com fins comerciais) símbolos relacionados ao evento, nacionais e

culturais. Isto significa que palavras como “Mundial”, “Copa”, “Brasil”, “Canarinho”, entre

tantos outros, ficam nas mãos da Fifa e de suas empresas parceiras para exploração

comercial exclusiva.

Esses novos crimes ainda serão julgados por tribunais de exceção a serem instalados

no entorno dos estádios. Nestes locais, o julgamento será conduzido de forma rápida e com

penas mais duras, prejudicando o direito à ampla defesa – um dos direitos penais mais

básicos de qualquer democracia.

Por fim, é preciso ainda lembrar que a Lei Geral da Copa concede à Fifa e a suas

empresas parceiras isenção total de todos os impostos brasileiros, seja na esfera municipal,

estadual ou federal. Estimativas do próprio governo brasileiro apontam uma economia à

entidade de 1 bilhão de reais em razão da desoneração fiscal].

Não à toa, a Copa do Mundo no Brasil deve ser a mais lucrativa da história da Fifa.

Segundo a própria entidade, que em tese não tem fins lucrativos, o megaevento deve render

10 bilhões de reais aos seus cofres.

A Copa da Elitização

Para poder receber a Copa do Mundo, governos e clubes foram obrigados a construir e

reformar estádios obedecendo a um “padrão Fifa de qualidade”. Isto significou que estádios

deixam de ser “estádios” e passam a ser chamados de “arenas”, onde tudo é de última

geração: do telão que mostra os lances do jogo ao estofado das cadeiras.

A princípio tratam-se de novidades positivas, mas que só resistem ao nível da

aparência. Na prática, há um trágico efeito colateral em curso: os custos das novas arenas

são embutidos no preço dos ingressos, que ficam mais caros, gerando uma pérfida

elitização do futebol.

A consultoria BDO divulgou um estudo que abrangeu as nove primeiras rodadas do

Brasileirão de 2013. Em um primeiro momento, foi analisado o preço dos ingressos para

partidas realizadas nas novas arenas reformadas para a Copa das Confederações. Em

seguida, verificou-se o preço dos ingressos para partidas realizadas nos estádios antigos. O

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resultado apontou que os ingressos nas novas arenas foram em média 119% mais caros

que os nos estádios antigos.

Com as arenas, espaços tradicionais da torcida brasileira, como as gerais e as

arquibancadas, são extintos ou reduzidos. Em seu lugar se instalam lojas e

estabelecimentos comerciais. Surge assim o “torcedor-consumidor”, caracterizado pelo

pouco envolvimento na política e dia-a-dia de seu time, e que vai ao estádio assistir a uma

partida assim como vai ao cinema de um shopping center.

Nesse processo que veste o manto do capital imobiliário e especulativo, parcelas mais

pobres da sociedade são excluídas e impossibilitadas de acompanhar in loco jogos do

esporte mais popular do país.

A Copa da Repressão

Mais preocupante que a campanha orquestrada para desqualificar os que criticam a

Copa é o movimento orquestrado pelo Estado brasileiro para expandir o aparato repressivo

visando sufocar protestos durante o megaevento – e muito provavelmente, depois. Este

movimento tem atuado em duas frentes: uma legislativa e outra ostensiva (policial e militar).

O projeto de lei 728/2011, de autoria do senador Marcelo Crivella (PRB), pretende

tipificar o crime de terrorismo no Brasil. Atualmente em trâmite no Senado, caso seja

aprovado, este projeto criará um subterfúgio jurídico para que tribunais possam enquadrar

movimentos sociais e manifestantes que supostamente promovam a ação direta como

recurso durante manifestações.

Já na frente ostensiva, o cenário é ainda mais chocante. O governo federal já gastou

quase 50 milhões de reais em armamento menos letal, que inclui granadas de todos os

tipos, armas de choque elétrico e balas de borracha. Uma tropa de choque especial com 10

mil homens também foi criada para atuar nacionalmente nas cidades-sede da Copa.

Em São Paulo, a Polícia Militar avisou que vai adquirir caminhões que lançam jato

d’água para conter manifestantes. Trata-se dos mesmos caminhões que foram largamente

usados para reprimir manifestações populares na Turquia e no Chile.

Um batalhão especial, formado por 413 policiais militares, também foi criado pelo

governo paulista com a função de fazer o “controle de distúrbios civis e antiterrorismo”.

Mas assombroso mesmo é o manual publicado pelo Ministério da Defesa em dezembro

último, intitulado “Garantia da Lei e da Ordem”, que atualiza orientações para a atuação das

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Forças Armadas no país.

No texto, “movimentos ou organizações” são classificados como “forças oponentes”,

assim como qualquer pessoa ou organização que esteja obstruindo vias de acesso,

“provocando ou instigando ações radicais e violentas”.

Na lista de principais ameaças estão “bloqueios de vias públicas de circulação”,

“depredação do patrimônio público e privado”, “paralisação de atividades produtivas” e

“invasão de propriedades e instalações rurais ou urbanas, públicas ou privadas”.

As Forças Armadas devem estar nas ruas durante a realização Copa do Mundo, assim

como estiveram durante a Copa das Confederações.

Que “Copa das Copas” é essa que precisa do exército nas ruas para acontecer?

A Copa dos Protestos

Diante de tantas arbitrariedades, violações de direitos humanos, processos de exclusão

social, apropriação do patrimônio público, entre outras várias mazelas, protestar contra a

realização da Copa da Fifa no Brasil não só é legítimo – é também um dever. Portanto, não

se deixe intimidar por discursos embevecidos por um patriotismo cego e anacrônico ou ainda

por artigos escritos por gente cujo verdadeiro compromisso é com determinada agremiação

política ou com o próprio bolso.

Enquanto políticos e articulistas desqualificam, a atuação do aparato militar contra

manifestações recrudesce, fato que ficou claro no protesto do último dia 25 de janeiro,

quando o manifestante Fabrício Proteus foi baleado quase que mortalmente por policiais

militares. O episódio – bastante rotineiro nas periferias do Brasil, diga-se – se configura

como um eloquente alerta para futuras manifestações.

Mas nem a violência policial nem o discurso da desqualificação devem nos impedir de

desfrutarmos do direito constitucional de protestar, sobretudo contra uma Copa imersa em

podridão como a que se avizinha.

Então, que em 2014 façamos das ruas e avenidas das cidades a verdadeira

arquibancada do país!

*O Comitê Popular da Copa de São Paulo, criado em 2011, é um grupo de articulação contra os impactos e as

violações de direitos humanos da Copa do Mundo de 2014 em SP. Este texto foi publicado originalmente no

site do Comitê, onde mais informações podem ser encontradas: comitepopularsp.wordpress.com/

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Questões polêmicas

Uma questão polêmica gera confronto entre diferentes pontos de vista sobre um

mesmo tema. Capaz de motivar a escrita de um artigo de opinião, ela envolve,

necessariamente, um assunto de interesse público, ou seja, uma demanda em que ao

menos uma determinada comunidade esteja envolvida, e diferentes soluções ou respostas,

cada uma das quais reunindo posições favoráveis e contrárias. Assim, trata-se de

estabelecer – e sempre por meio do debate – qual delas deverá ser assumida pela

comunidade afetada.

Exemplos de questões polêmicas:

A pena de morte ajuda a diminuir a criminalidade?

A sociedade tem o direito de tirar a vida de um criminoso?

Há formas certas e erradas de falar o português?

Produção textual – Atividade 1

Após ler os textos acima atentamente e acompanhar a copa do mundo, você deverá

elaborar um artigo de opinião sobre o seguinte tema:

Você acredita que a realização da copa no Brasil trouxe mais benefícios ou malefícios?

Escreva seu texto deixando claro, desde o início, sua posição sobre o tema. Em

seguida, apresente e desenvolva os argumentos, que selecionou, um de cada vez. Procure

organizá-los numa sequência e empregar recursos linguísticos que demonstrem essa

ordem, como primeiramente, em primeiro lugar, outro aspecto, etc.

Abaixo temos uma sequência de perguntas que servem para auxiliá-los na elaboração

do artigo:

Que aspecto da polêmica será discutido?

Qual opinião ou tese será defendida a esse respeito?

Que argumentos principais serão utilizados para isso?

De quais fatos ou dados deve-se partir?

O que será escrito na “Introdução”, de forma que possa indicar ao leitor qual é o

contexto da discussão?

Como serão desenvolvidos os argumentos de forma que fiquem bem claros?

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Como se pretende concluir?

Que título será mais adequado para já situar o leitor acerca da tese defendida e

despertar o interesse dele?

Quando concluir o texto, antes de passa-lo a limpo, avalie-o seguindo as orientações

abaixo.

Avalie seu texto de opinião

Observe se seu texto defende claramente sua opinião sobre o tema e se apresenta

argumentos fortes, capazes de explicar suas ideias e convencer os leitores. Verifique

também se a linguagem está clara, direta e precisa.

Entendendo o gênero – parte II

Estratégia argumentativa e questão polêmica

Podemos definir estratégia argumentativa como o conjunto de procedimentos e

recursos verbais utilizados pelo argumentador para convencer tanto seus adversários

quanto o auditório envolvido. Como em qualquer outra área de atividade humana, uma

boa estratégia é fundamental para garantir resultado favorável. No caso da argumentação,

isso envolve desde a escolha das palavras mais apropriadas à linguagem e ao “tom

certo” até os tipos de argumento construídos e a organização geral da argumentação.

Um passo fundamental para definir uma boa estratégia argumentativa é a definição de

“por onde” se vai entrar no debate, já que toda questão polêmica envolve aspectos muito

diversos. Discutir se há formas certas e erradas de falar o português, por exemplo, envolve

fatores diversos. O que dizem os pesquisadores (linguistas, gramáticos, filólogos etc.) a esse

respeito? O que pensam os diferentes “profissionais da linguagem” (escritores, jornalistas,

professores, editores etc.)? Que aspectos culturais e sociais estão associados a essa

questão? Cada um desses fatores permite ao argumentador uma entrada diferente no

debate, assim como um estilo particular de argumentação.

Ao decidir “por onde entrar”, o argumentador também define as estratégias. Na área do

direito, por exemplo, recorrer à autoridade de um jurista pode ser de grande valia; já em

ciências experimentais, o recurso ao conhecimento de um especialista será de pouca ou

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nenhuma importância se o argumentador não dispuser de dados e experimentos confiáveis

para demonstrar sua tese. Outro exemplo: carregar no apelo emocional (ou moral) pode ser

uma estratégia decisiva num debate eleitoral, mas dificilmente será apropriado numa

discussão sobre saúde pública. E assim por diante.

Leitura do artigo

Olhe o texto transcrito abaixo e antes da leitura atenta, pense nas respostas às seguintes

perguntas:

Qual o assunto mais provável do artigo?

O que você já conhece sobre o assunto, no Brasil e no mundo?

Lembra-se de ter lido algo a esse respeito, recentemente?

Qual a relevância desse assunto?

Leia o olho – pequeno trecho destacado da matéria, disposto logo abaixo do título – e

responda: que tipo de posição a respeito do assunto tratado o autor provavelmente

defenderá?

Quem é o autor? Como vem apresentado, no rodapé?

Por que a redação do jornal o apresenta dessa forma?

Qual a função do aviso inserido logo após o texto, os “artigos assinados não traduzem

a opinião do jornal”?

O que você sabe a respeito do veículo jornalístico que publicou o artigo? Isso

favorece ou atrapalha suas impressões sobre o texto?

Corrupção cultural ou organizada?

Precisamos evitar que a necessária indignação com as microcorrupções “culturais” nos leve

a ignorar a grande corrupção.

Renato Janine Ribeiro*, Folha de S. Paulo, 28/6/2009

Ficamos muito atentos, nos últimos anos, a um tipo de corrupção que é muito frequente

em nossa sociedade: o pequeno ato, que muitos praticam, de pedir um favor, corromper um

guarda ou, mesmo, violar a lei e o bem comum para obter uma vantagem pessoal. Foi e é

importante prestar atenção a essa responsabilidade que temos, quase todos, pela corrupção

política – por sinal, praticada por gente eleita por nós.

Esclareço que, por corrupção, não entendo sua definição legal, mas ética. Corrupção é

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o que existe de mais antirrepublicano, isto é, mais contrário ao bem comum e à coisa

pública. Por isso, pertence à mesma família que trafegar pelo acostamento, furar a fila,

passar na frente dos outros. Às vezes é proibida por lei, outras, não.

Mas, aqui, o que conta é seu lado ético, não legal. Deputados brasileiros e britânicos

fizeram despesas legais, mas não éticas. É desse universo que trato. O problema é que a

corrupção “cultural”, pequena, disseminada – que mencionei acima – não é a única que

existe. Aliás, sua existência nos poderes públicos tem sido devassada por inúmeras

iniciativas da sociedade, do Ministério Público, da Controladoria Geral da União (órgão do

Executivo) e do Tribunal de Contas da União (que serve ao Legislativo).

Chamei-a de “corrupção cultural” pois expressa uma cultura forte em nosso país, que é

a busca do privilégio pessoal somada a uma relação com o outro permeada pelo favor. É,

sim, antirrepublicana. Dissolve ou impede a criação de laços importantes. Mas não faz

sistema, não faz estrutura.

Porque há outra corrupção que, essa, sim, organiza-se sob a forma de complô para

pilhar os cofres públicos – e mal deixa rastros. A corrupção “cultural” é visível para qualquer

um. Suas pegadas são evidentes. Bastou colocar as contas do governo na Internet para

saltarem aos olhos vários gastos indevidos, os quais a mídia apontou no ano passado.

Mas nem a tapioca de R$ 8 de um ministro nem o apartamento de um reitor – gastos

não republicanos – montam um complô. Não fazem parte de um sistema que vise a desviar

vultosas somas dos cofres públicos. Quem desvia essas grandes somas não aparece, a não

ser depois de investigações demoradas, que requerem talentos bem aprimorados – da

polícia, de auditores de crimes financeiros ou mesmo de jornalistas muito especializados.

O problema é que, ao darmos tanta atenção ao que é fácil de enxergar (a corrupção

“cultural”), acabamos esquecendo a enorme dimensão da corrupção estrutural, estruturada

ou, como eu a chamaria, organizada.

Ora, podemos ter certeza de uma coisa: um grande corrupto não usa cartão corporativo

nem gasta dinheiro da Câmara com a faxineira. Para que vai se expor com migalhas? Ele

ataca somas enormes. E só pode ser pego com dificuldade.

Se lembrarmos que Al Capone acabou na cadeia por ter fraudado o Imposto de Renda,

crime bem menor do que as chacinas que promoveu, é de imaginar que um megacorrupto

tome cuidado com suas contas, com os detalhes que possam levá-lo à cadeia – e trate de

esconder bem os caminhos que levam a seus negócios.

Língua Portuguesa – Redação – 3º bimestre

Artigo de opinião

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Penso que devemos combater os dois tipos de corrupção. A corrupção enquanto

cultura nos desmoraliza como povo. Ela nos torna “blasé”. Faz-nos perder o empenho em

cultivar valores éticos. Porque a república é o regime por excelência da ética na política:

aquele que educa as pessoas para que prefiram o bem geral à vantagem individual. Daí a

importância dos exemplos, altamente pedagógicos.

Valorizar o laço social exige o fim da corrupção cultural, e isso só se consegue pela

educação. Temos de fazer que as novas gerações sintam pela corrupção a mesma ojeriza

que uma formação ética nos faz sentir pelo crime em geral.

Mas falar só na corrupção cultural acaba nos indignando com o pequeno criminoso e

poupando o macrocorrupto. Mesmo uma sociedade como a norte-americana, em que

corromper o fiscal da prefeitura é bem mais raro, teve há pouco um governo cujo vice-

presidente favoreceu, antieticamente, uma empresa de suas relações na ocupação do

Iraque.

A corrupção secreta e organizada não é privilégio de país pobre, “atrasado”. Porém, se

pensarmos que corrupção mata – porque desvia dinheiro de hospitais, de escolas, da

segurança –, então a mais homicida é a corrupção estruturada. Precisamos evitar que a

necessária indignação com as microcorrupções “culturais” nos leve a ignorar a grande

corrupção. É mais difícil de descobrir. Mas é ela que mata mais gente.

* Renato Janine Ribeiro, 59, é professor titular de ética e filosofia política do Departamento de Filosofia da USP. É autor, entre outras

obras de República (Publifolha, Coleção Folha Explica). (Crédito completo do articulista)

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos

problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo, [[email protected]]. (Mensagem-

padrão do jornal, em caso de textos assinados)

Exercícios

1. Qual é a questão polêmica a que o artigo se refere?

2. Quais foram os fatos que motivaram o articulista a escrever o artigo?

3. Há alguma referência no texto a posições e/ou a debatedores anteriores?

4. É possível identificar, no texto, quem são os adversários do articulista? Por quê?

5. Que tese o artigo defende?

6. Com base no que você leu, é possível saber que tipo de leitor compõe o auditório visado?

Língua Portuguesa – Redação – 3º bimestre

Artigo de opinião

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7. O articulista declara, no artigo, que entende a corrupção em termos éticos, e não legais. O

que isso significa? Que importância essa perspectiva tem para a tese defendida?

8. Quais são os argumentos principais? Como vêm desenvolvidos?

Produção textual – Atividade 2

Leia a notícia abaixo:

A Copa dos memes

Pouca coisa tem saído de acordo com o previsto nesta Copa do Mundo. A Costa Rica fez uma

grande campanha, enquanto as campeãs mundiais Inglaterra e Itália foram eliminadas na

primeira fase. Os protestos não tumultuaram, e as críticas ao Mundial antes de seu início deram

lugar a elogios do público e da imprensa. E quem imaginaria ver Neymar fora da seleção

brasileira por uma lesão?

Rafael Barifouse, da BBC Brasil em São Paulo

Atualizado em 7 de julho, 2014 - 06:31 (Brasília) 09:31 GMT

Nesta série de surpresas, uma das poucas certezas é que, depois de um lance polêmico

ou um jogo emocionante, #VaiTerMeme.

Principalmente quando a sede da competição, o Brasil, é o quinto maior mercado de

internet do mundo, com metade dos 200 milhões de habitantes conectados à internet e um dos

cinco maiores países para as principais redes sociais.

Antes de cada apito final, uma série de piadas já circula na rede e é amplamente

compartilhada em sites como Twitter e Facebook e por meio de programas de trocas de

mensagens, como Whatsapp.

Os memes normalmente se resumem a uma imagem acompanhada de um texto curto e

bem-humorado sobre um acontecimento.

Num torneio visto pela televisão por bilhões de pessoas conectadas pelo smartphone ou

pelo computador, não demora muito para que um lance incomum vire piada pronta na internet.

“As redes têm no humor grande parte do seu sucesso e, nisso, os memes são um prato

cheio, ainda mais numa Copa com tantos acontecimentos inusitados”, diz Fabio Goveia, do

Laboratório de estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito

Santo, que vem acompanhando as imagens mais compartilhadas na internet deste Mundial.

A pedido da BBC Brasil, o Labic fez um levantamento dos memes que marcaram a Copa

do Mundo até agora. Como não poderia deixar de ser, a maiores estrelas da competição – os

jogadores – também são os protagonistas da maioria das piadas extra campo.

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Um dos primeiros a sentir na pele o novo fenômeno foi o brasileiro Marcelo, que marcou

um gol contra no jogo com a Croácia e ganhou uma “reedição” de sua figurinha do álbum da

Copa como parte do time adversário e rebatizado como “Marcelolíc”. Quem tentou cavar falta,

como o holandês Robben e o brasileiro Neymar, também não foi perdoado.

Robin Van Persie criou moda na internet ao mergulhar na área da Espanha para marcar

um belo gol de cabeça para a Holanda. Logo, milhares de pessoas compartilhavam fotos de si

mesmas imitando o lance, acompanhadas da hashtag #VanPersieing.

Numa Copa marcada pelo ataque veloz e uma média de gols acima de edições anteriores,

goleiros como o mexicano Oshoa, o brasileiro Júlio César e o costariquenho Navas se

destacaram com belas defesas e foram homenageados com imagens em que aparecem com

tantos braços quanto as pernas de um polvo.

Mas nenhum jogador fez mais barulho do que o uruguaio Luiz Suárez, que deixou a Copa

após morder o zagueiro italiano Giorgio Chiellini. Na internet, o atacante virou o tubarão de

Steven Spielberg, o canibal de Silêncio dos Inocentes e ganhou uma proteção de pescoço como

as usadas em cachorros.

Memes não são uma novidade na internet, mas parecem ser especialmente populares

nesta Copa do Mundo. Seu nome pega emprestado o termo criado pelo biólogo inglês Richard

Dawkins em seu livro O Gene Egoísta, de 1976, um ensaio sobre como uma informação cultural

se espalha pela sociedade.

Recordes nas redes

Os primeiros memes surgiram no fim da década de 1990, compartilhados principalmente

por email e em fóruns de discussão. Então, vieram as redes sociais e elas se provaram o meio

ideal para se publicar e trocar estas piadas e comentários. Os memes explodiram em

popularidade.

Não é coincidência que este Mundial também seja o evento global mais comentado em

redes sociais da história. Nunca o Facebook havia registrado 1 bilhão de comentários, curtidas e

compartilhamentos sobre um mesmo assunto. No Twitter, a Copa bateu o recorde de

mensagens por minuto: chegou a 388,9 mil com a bola na trave do Chile que quase tirou o Brasil

da competição.

“Está todo mundo falando da mesma coisa ao mesmo tempo, e isso faz com que a piada

que ficava restrita ao sofá de casa ou à mesa do bar ganhe o mundo”, diz Carlos Moreira Jr, do

Twitter no Brasil.

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Também nunca foi tão fácil criar um meme. Hoje existem sites dedicados só a eles, como o

Know Your Meme (Conheça seu meme, em inglês) e o 9Gag.com, que criaram seções inteiras

para esta Copa. Noutros endereços, basta escolher uma imagem ou usar uma nova e aplicar

nela um texto para criar um novo meme em segundos.

Broncas e hinos

Tudo isso fez com que, neste Mundial, memes se espalhassem na internet como uma ola

percorre uma arquibancada. Foi assim desde a cerimônia de abertura, quando a cantora Cláudia

Leitte, vestida de azul e brilhantes, virou a Galinha Pintadinha. Muita gente insatisfeita com o

espetáculo compartilhou uma montagem que mostra como a festa “padrão Fifa” não chegou aos

pés do Carnaval ou do Bumba Meu Boi, as festas “padrão Brasil”.

A presidente Dilma Rouseff também protagonizou uma boa leva de memes. Num deles,

publicado após o sufoco nacional passado durante os pênaltis contra o Chile, a presidente

aparece ao lado do técnico Luiz Felipe Scolari com o dedo em riste, dizendo: “Que isso não se

repita!”.

A torcida também foi um prato cheio para a internet. Mesmo captada só por alguns

segundos, uma torcedora mexicana boquiaberta viu sua imagem rodar o mundo. Em outro

meme, torcedores fantasiados de Power Rangers eram a prova de que a Copa está muito boa

“porque até eles vieram assistir”.

Nem um dos momentos mais solenes das partidas, o hino nacional, escapou de virar

piada. A letra do hino do Japão deu lugar à música de abertura do desenho animado japonês

Pokémon, e os jogadores da Coreia do Sul pareciam cantar o hit Gangnam Style, do cantor sul-

coreano Psy.

Sucesso fugaz

Mas Dilma, Claudia Leitte, Suárez, ou “Marcelolíc” não têm muito com o que se preocupar.

Na mesma velocidade com que aparecem, os memes desaparecem.

“Os memes têm uma grande repercussão, mas são uma piada que envelhece rápido”, diz

Alessandro Lima, presidente da empresa de monitoramento e análise de conteúdo digital E.Life.

“Quando um fica velho, as pessoas são estimuladas a fazer um novo. É legal criar um

meme popular, é como deixar uma marca no mundo.”

Os memes fazem sucesso, mas passam rápido.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/07/140706_wc2014_salasocial_copa_dos_memes_rb.shtml?print=1

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Leia o artigo abaixo:

O verdadeiro humor dá um soco no fígado de quem oprime

As piadas não são isentas e carregam consigo os discursos dos preconceitos. Como se a

humilhação diária e a recusa a cidadania já não fossem suficientes

por Djamila Ribeiro — publicado 11/07/2014 12:27

Assim como houve pensadores como Sartre, que criticava a arte pela arte, propondo uma

arte engajada, Henfil, grande cartunista brasileiro, foi adepto de um humor engajado

politicamente, não o humor pelo humor, como o próprio definiu: “Procuro dar meu recado através

do humor. Humor pelo humor é sofisticação, é frescura. E nessa eu não tou: meu negócio é pé

na cara”.

Visivelmente, o cartunista tinha uma posição de embate ao poder instituído. Infelizmente,

não é o que vemos na grande mídia, salvo raras exceções. O que se vê é um humor rasteiro,

legitimador de discursos e práticas opressoras e que tenta se esconder por trás do riso. Sendo a

sociedade racista, o humor será mais um espaço onde esses discursos serão reproduzidos. Não

há nada de neutro, ao contrário, há uma posição ideológica muito evidente de se continuar

perpetuando as opressões.

Alguns humoristas, quando criticados, dizem estar sendo censurados. Há que se explicar

para eles o que é censura. Primeiro, eles dizem e fazem coisas preconceituosas. Quem se

sentiu ofendido, reclama. Onde está a censura nisso? Incomodam-se pelo fato de, cada vez

mais, muitas pessoas denunciarem e gritarem ao ver suas identidades e subjetividades

aviltadas; é como se dissessem “nem se pode mais ser racista, machista em paz”.

Acreditam ter uma espécie de poder divino de falar o que querem sem serem

responsabilizados. Atualmente, pululam humoristas com esse viés. Comportam-se como

semideuses, como Danilo Gentili, que chamou de macaco um moço que discordou dele. Marcelo

Marrom, infelizmente, é um homem negro que faz piadas vergonhosas ridicularizando a si

mesmo e pessoas negras. Age como uma espécie de neocapitão do mato, tentando caçar nossa

dignidade, nossa autoestima, que há anos lutamos para ter. Capitão do mato do humor para

entreter a casa grande. Que a ancestralidade tenha misericórdia dele.

Durante muito tempo, tive receio de passar perto de grupos de adolescentes. Quando

criança, fui alvo de piadas e chacotas por ser negra. Ao passar por um grupo desses, era

inevitável ouvir alguma gracinha do tipo: “Olha, sua mina aí”, “E aí, não vai apresentar?”. E o

garoto “alvo da zoação” se defendia: “Sai fora, está louco?”, “Para de me zoar!”. Ter uma

namorada como eu era algo impensável.

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Artigo de opinião

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A pretensão criada neles, fruto de um sistema que os privilegia, os cegava para o fato de

que eu é quem poderia não querê-los. Mas, para eles, eu era só uma “neguinha”, alguém que

merecia ser ridicularizada e deixada de lado. Esse receio me acompanhou até o início da fase

adulta. Eu preferia atravessar a rua a ter que ouvir essas coisas que me machucavam. E o que

as pessoas me diziam? “Deixa pra lá, é só uma brincadeira”. E toda a sociedade concordava

com esses meninos: eu não me via na TV, nas revistas, nos livros didáticos, em minhas

professoras.

Um dia, quando levava minha filha à escola, um grupo de adolescentes começou a rir do

cabelo dela, que estava solto, lindo e com uma flor. Ela nem percebeu, mas eu me aproximei

deles e disse calmamente: “Estão rindo do que? O cabelo dela é lindo. Se eu voltar e vocês

estiverem aqui, vou pegar um por um”. Claro que não faria nada disso, disse aquilo para

assustá-los e consegui, mas ouvi críticas do tipo: “Ah, mas só eram adolescentes brincando”. E

eu me pergunto: quem se compadece da menina negra que terá sua auto estima aviltada? Da

menina negra que desde cedo é ridicularizada?

Por que se tem compreensão com quem está oprimindo e não com quem está sendo

oprimido? A menina negra é que precisa entender que isso é “brincadeira” ou quem faz a

brincadeira perceber que aquilo é racismo? Até quando utilizarão o humor como desculpa para

serem racistas? Quem olhará pela menina negra que odiará seu cabelo por que fazem piadas

sobre? Quem irá lucrar a gente já sabe.

Há também aquela conversa de que devemos rir de nós mesmas, de nossos defeitos. Rir

de mim porque sou distraída ou desastrada é uma coisa, por que raios deveria rir da minha pele

ou do meu cabelo como se isso fosse um defeito, em vez de partes lindas que me compõe? Por

acaso ser negra é defeito? No olhar do racista, é. Então, para ser aceita por ele, eu preciso rir

daquilo que o incomoda, associar meu cabelo a produtos de limpeza, por exemplo. Mal passa

pela cabeça dele associar seu cabelo liso a espaguete. Esse exemplo mostra como o racismo

tem um papel preponderante naquilo que as pessoas julgarão engraçado e naquilo que não

julgarão. Da mesma forma, julgam engraçado ridicularizar travestis, mulheres trans, como se a

humilhação diária e a recusa a cidadania já não fossem suficientes.

É preciso perceber que o humor não é isento, carrega consigo o discurso do racismo,

machismo, homofobia, lesbofobia, transfobia. Diante de tantos humoristas reprodutores de

opressão, legitimadores da ordem, fico com a definição do brilhante Henfil: “O verdadeiro humor

é aquele que dá um soco no fígado de quem oprime”. http://www.cartacapital.com.br/blogs/escritorio-feminista/o-verdadeiro-humor-da-um-soco-no-figado-de-quem-oprime-7998.html

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Artigo de opinião

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O primeiro texto é uma reportagem sobre o humor na copa do mundo de 2014 e o

sucesso dos memes. O segundo texto é um artigo de opinião sobre o papel do humor na

sociedade. Depois de ler atentamente os dois textos, você deverá elaborar um artigo de

opinião sobre o seguinte tema:

Qual o seu ponto de vista sobre o humor e o respeito às pessoas?

Escreva seu texto deixando claro, desde o início, sua posição sobre o tema. Em

seguida, apresente e desenvolva os argumentos, que selecionou, um de cada vez. Procure

organizá-los numa sequência e empregar recursos linguísticos que demonstrem essa

ordem, como primeiramente, em primeiro lugar, outro aspecto, etc.

Abaixo temos uma sequência de perguntas que servem para auxiliá-los na elaboração

do artigo:

Que aspecto da polêmica será discutido?

Qual opinião ou tese será defendida a esse respeito?

Que argumentos principais serão utilizados para isso?

De quais fatos ou dados deve-se partir?

O que será escrito na “Introdução”, de forma que possa indicar ao leitor qual é o

contexto da discussão?

Como serão desenvolvidos os argumentos de forma que fiquem bem claros?

Como se pretende concluir?

Que título será mais adequado para já situar o leitor acerca da tese defendida e

despertar o interesse dele?

Quando concluir o texto, antes de passa-lo a limpo, avalie-o seguindo as orientações

abaixo.

Avalie seu texto de opinião

Observe se seu texto defende claramente sua opinião sobre o tema e se apresenta

argumentos fortes, capazes de explicar suas ideias e convencer os leitores. Verifique

também se a linguagem está clara, direta e precisa.

Língua Portuguesa – Redação – 3º bimestre

Artigo de opinião

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Entendendo o gênero – parte III

Leia a notícia abaixo retirada da revista época

Projeto do Vale-Cultura chega ao Congresso até o final da semana

Benefício será voltado para trabalhadores, que receberão R$ 50 mensais para comprar

ingressos de espetáculos e de cinema, além de livros e DVDs

Época/Agência Brasil, 13/8/2009.

O projeto que prevê a criação do Vale-Cultura chega ao Congresso Nacional ainda

nesta semana, afirmou o ministro da Cultura, Juca Ferreira. O projeto foi assinado pelo

presidente Lula no fim de julho e, segundo Ferreira, demorou para ser enviado para votação

devido à ausência da assinatura do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que estava

viajando. A ideia do Vale-Cultura está sendo discutida desde o fim de 2006.

O benefício será voltado para trabalhadores com rendimento mensal de até cinco

salários mínimos. Por meio de um cartão magnético, similar ao Vale-Refeição, as empresas

poderão destinar ao funcionário o valor de R$ 50 mensais para comprar ingressos de

cinema, teatro e shows, além de livros, CDs e DVDs. Ferreira afirmou que a ideia é de que o

valor mensal seja “aprimorado” e possa chegar a R$ 150.

Com o Vale-Cultura, a previsão é de que R$ 17 bilhões sejam injetados na economia

cultural. “O circuito vai ficar bastante aquecido”, disse Ferreira. As empresas não serão

obrigadas a aderir – mas, segundo o ministro, “na cultura, nada deve ser obrigatório”.

Ferreira também disse que o projeto de lei é “atraente” e que, uma vez aprovado, poderá

haver pressão dos próprios funcionários para ter direito ao benefício.

De acordo com o ministério, apenas 13% da população brasileira têm acesso a

manifestações culturais. Em entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, Juca afirmou que o

Vale-Cultura apresenta “efeitos colaterais positivos” e vai gerar um banco de dados sobre a

demanda cultural da população. Para o ministro o projeto também “estimula a legalidade” ao

possibilitar a compra de DVDs e CDs originais.

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Após a leitura da notícia acima, leia o artigo abaixo:

O que é essencial para todos?

Gustavo Barreto, produtor cultural no Rio de Janeiro e mestrando do Programa de Pós-Graduação em

Comunicação e Cultura na UFRJ. Jornal do Brasil, 18/7/2009, e Fazendo Média, 26/7/2009.

“O homem é essencialmente um ser de cultura”, argumenta o professor Denys Cuche,

da Universidade Paris V. A cultura é um campo do conhecimento humano que nos permite

pensar a diferença, o outro e dar um fim às explicações naturalizantes dos comportamentos

humanos. As questões étnica, nacional e de gênero, por exemplo, não podem em hipótese

alguma ser observadas em seu “estado bruto”. É o caso da relação homem-mulher, cujas

implicações culturais são mais importantes do que as explicações biológicas.

E por que se faz importante fazer esta breve introdução, na questão da ideia do Vale-

Cultura, lançada pelo Governo Federal e atualmente em discussão com os atores sociais da

área? Porque urge que nossa legislação passe por uma transformação, dado que a principal

lei do setor está defasada (é de 1991) e é insuficiente para os desafios atualmente expostos.

O conceito de “cultura” é tão reivindicado quanto controverso. Ouvimos esta palavra

diariamente, para os mais diversos usos: cultura política, cultura religiosa, cultura

empresarial. Também serve para complexificar e ampliar um debate sobre um tema difícil

(“isso é cultural”), para finalizá-lo (“não tem jeito, isso é cultural”) ou gerar preconceito contra

um grupo social (“o povo não tem cultura”). São múltiplos os usos.

Está claro que incentivar as manifestações culturais de um povo é condição

indispensável para seu desenvolvimento. É certo que este instrumento deve atingir um de

seus principais objetivos: a desconcentração regional e a democratização do acesso a

produtos culturais. A simples injeção de R$ 600 milhões por mês no mercado cultural,

podendo atingir até 12 milhões de brasileiros, já é um grande benefício.

O curioso na iniciativa do Governo, que já tramitava no Congresso desde 2006, é a

questão tardiamente (e fatalmente) gerada para reflexão: o que é essencial para todos? Se o

trabalhador possui o Vale-Transporte e o Vale-Alimentação, por que não o Vale-Cultura?

Este debate – e o debate é justamente este – gera reações ainda mais curiosas.

A mais risível é a que ataca a proposta como “dirigista”, afirmando que o tempo do

dirigismo cultural já acabou em todo o mundo. Uma simplificação melancólica e uma

inverdade: governos de países que alcançaram bons índices de desenvolvimento humano

Língua Portuguesa – Redação – 3º bimestre

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investem muito mais na cultura do que o Brasil. Os ataques têm nome: são os mesmos que

falam em “alta cultura” e compõem as velhas oligarquias deste setor, pois concentraram por

muito tempo a exclusividade dos “negócios” da cultura. Alguns chegam a duvidar da

“qualidade estética” dos produtos culturais a serem consumidos.

Estão claros os inimigos deste discurso conservador: o trabalhador, que passa a ser

progressivamente um crítico de cultura, e as manifestações da cultura popular – ora

atacada, por exemplo, por meio da restrição à cultura do funk carioca.

A aprovação do Vale-Cultura será um passo importante, dentro de uma longa

caminhada, para a inserção de milhões de brasileiros no universo privilegiado da cultura

local, regional e nacional.

Exercícios

Identifique no texto acima:

a) a questão polêmica

b) a tese que o articulista defende a respeito dessa questão

c) qual é a conclusão

d) quais são os argumentos utilizados por ele.

Entendendo o gênero – parte IV

Como articular

Os articuladores são palavras ou expressões cuja função específica é exatamente

estabelecer e deixar evidentes as relações entre diferentes partes do texto, não permitindo

que o leitor perca o fio da meada. Esses elementos servem para conectar ideias no interior

de uma única oração, ou podem também estabelecer relações entre períodos, parágrafos e

partes do texto, às vezes distantes entre si.

Veja a tabela abaixo com alguns exemplos de articuladores:

Devemos ajudar nossos pais, pois, sem dúvida,

a cooperação é um valor

fundamental para a convivência

familiar.

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Artigo de opinião

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As propagandas mostram produtos

atraentes indispensáveis para a

nossa vida,

mas

cabe ao consumidor analisar aquilo

de que realmente necessita e

selecionar o que é bom.

O fumo faz mal à saúde. Portanto, as pessoas deveriam parar de

fumar.

A água doce, por causa dos abusos

cometidos, poderá acabar em nosso

planeta.

Assim, é preciso definir algumas regras

para o uso racional da água.

A limpeza de terrenos e casas é

necessária para impedir a

propagação do mosquito da dengue.

Além disso,

É importante que se faça

campanhas de conscientização para

que as pessoas não deixem que a

água se acumule em vasos e outros

recipientes.

Se o desmatamento não diminuir É provável Que a Amazônia se transforme em

um imenso deserto.

É indispensável que se

intensifiquem campanhas de coleta

seletiva de lixo nas escolas, famílias

e comunidades

pois dessa forma a responsabilidade cidadã crescerá

entre os moradores.

A pena de morte não é a solução

para a criminalidade. Primeiramente,

está comprovado que os crimes

hediondos não deixam de ocorrer

nos países que a adotaram.

A pena de morte não é a solução

para a criminalidade. Em segundo lugar,

porque muitos dos que foram

executados tiveram, posteriormente,

sua inocência comprovada.

A pena de morte não é a solução

para a criminalidade. Finalmente,

não matar os semelhantes é um

princípio ético fundamental.

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Artigo de opinião

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Exemplos de articuladores:

Uso Expressões

Tomar posição do meu ponto de vista; na minha opinião; pensamos que;

pessoalmente eu acho

Indicar certeza sem dúvida; está claro que; com certeza; é indiscutível

Indicar probabilidade provavelmente; me parece que; ao que tudo indica; é

possível que

Indicar causa e/ou consequência porque; pois; então; logo; portanto; consequentemente

Acrescentar argumentos além disso; também; ademais

Indicar restrição mas; porém; todavia; contudo; entretanto; apesar de; não

obstante

Organizar argumentos inicialmente; primeiramente; em segundo lugar; por um lado;

por outro lado

Preparar conclusão assim; finalmente; por fim; concluindo; enfim; em resumo