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Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204
Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP
2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
A C Ó R D Ã O
(1ª Turma)
GDCMP/lafj/
RESCISÃO INDIRETA. ATRASO NO
RECOLHIMENTO DOS DEPÓSITOS DO FUNDO DE
GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO. 1. O
recolhimento do FGTS configura
obrigação de caráter social,
transcendendo os limites do mero
interesse individual do empregado. Tal
circunstância revela a gravidade da
conduta do empregador que, ao deixar de
recolher as contribuições devidas ao
FGTS, lesa, a um só tempo, o trabalhador
– credor do direito da obrigação de
natureza trabalhista, o Estado – também
credor da obrigação por sua natureza
parafiscal e, em última análise, toda a
sociedade – beneficiária dos projetos
sociais (com destaque para aqueles de
natureza habitacional) custeados com
recursos oriundos do Fundo. 2. A conduta
do empregador caracteriza, assim, o
fato tipificado na alínea d do artigo
483 da Consolidação das Leis do
Trabalho, justificadora da rescisão
indireta do contrato de emprego.
Precedentes desta Corte superior. 3.
Recurso de Revista não conhecido.
RECURSO DE REVISTA. DANOS MORAIS. MORA
CONTUMAZ NO PAGAMENTO DE SALÁRIOS OU
ATRASO REITERADO. EFEITOS. OFENSA À
DIGNIDADE DO TRABALHADOR. A mora
contumaz no pagamento dos salários - ou
o atraso reiterado, que se prolonga
demasiadamente no tempo, produzindo
efeitos equivalentes - não atinge
apenas a esfera patrimonial do
empregado, diante do comprometimento da
sua subsistência e de sua família, uma
vez que a obreira fica também limitada
em sua capacidade de contrair
obrigações financeiras com terceiros e
de honrá-las no prazo avençado.
Ademais, a condição de hipossuficiência
do empregado inibe a exigência imediata
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do pagamento dos salários em atraso,
porquanto de tal ato poderia resultar
retaliação por parte da empresa, pondo
em risco a própria incolumidade da
relação de emprego, com sacrifício do
seu único meio de sobrevivência. Nesse
contexto, esse ato patronal atenta
contra o valor social do trabalho – um
dos princípios fundantes da República
Federativa do Brasil. Inevitável,
portanto, reconhecer que o atraso
reiterado e prolongado no pagamento dos
salários caracteriza afronta à
dignidade do trabalhador, ensejando a
reparação por danos morais. Recurso de
Revista não conhecido.
MULTA POR ATRASO NO PAGAMENTO DAS VERBAS
RESCISÓRIAS. RESCISÃO INDIRETA
RECONHECIDA EM JUÍZO. 1. Tem-se
consolidado, neste colendo Tribunal
Superior, o entendimento de que o escopo
da penalidade prevista no artigo 477, §
8º, da Consolidação das Leis do Trabalho
é reprimir a atitude do empregador que
cause injustificado atraso no pagamento
das verbas rescisórias. 2. Esta Corte
uniformizadora havia sedimentado por
meio da Orientação Jurisprudencial n.º
351 da SBDI-I, entendimento no sentido
de que era indevida a multa prevista no
artigo 477, § 8º, da Consolidação das
Leis do Trabalho quando houvesse
fundada controvérsia quanto à
existência da obrigação cujo
inadimplemento gerou a multa.
Entretanto, o Tribunal Pleno desta
Corte superior cancelou a referida
orientação, por intermédio da Resolução
n.º 163, de 16/11/2009, publicada no DJe
em 20, 23 e 24/11/2009. 3. Assim, tem-se
que somente quando o trabalhador der
causa à mora não será devida a multa
prevista no artigo 477, § 8º, da
Consolidação das Leis do Trabalho. O
reconhecimento em juízo da rescisão
indireta não tem o condão de afastar a
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incidência da multa. Precedentes desta
Corte superior. 4. Recurso de Revista
conhecido e não provido.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso
de Revista n° TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204, em que é Recorrente
COMUNIDADE EVANGÉLICA LUTERANA SÃO PAULO - CELSP e Recorrida DIVA FÁTIMA
ANDRIOLLI.
O egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região,
por meio do acórdão prolatado às fls. 187/196 dos autos físicos (pp.
374/392 do Sistema de Informações Judiciárias (eSIJ), aba “Visualizar
Todos (PDF)”), deu provimento parcial ao recurso ordinário interposto
pela reclamante para, reformando a sentença, declarar a rescisão indireta
do contrato de emprego e, por consequência, condenar a demandada ao
pagamento de verbas rescisórias e indenização por danos morais.
Inconformada, interpõe a reclamada o presente Recurso
de Revista, mediante as razões que aduz às fls. 202/205-verso dos autos
físicos (pp. 404/411 do eSIJ). Busca a reforma do julgado quanto aos temas
“rescisão indireta - atraso no recolhimento dos depósitos do fundo de
garantia do tempo de serviço", "danos morais - mora contumaz no pagamento
de salários ou atraso reiterado – efeitos - ofensa à dignidade do
trabalhador" e "multa prevista no artigo 477, § 8º, da Consolidação das
Leis do Trabalho", indicando ofensa a dispositivos de lei e da
Constituição da República, bem como divergência jurisprudencial.
O Recurso de Revista foi admitido por meio da decisão
proferida às fls. 209/210 dos autos físicos (pp. 418/420 do eSIJ).
Não foram apresentadas contrarrazões.
Autos não submetidos a parecer da douta
Procuradoria-Geral do Trabalho, à míngua de interesse público a tutelar.
É o relatório.
V O T O
I - CONHECIMENTO
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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
Observada a cláusula constitucional que resguarda o
ato jurídico (processual) perfeito (artigo 5º, XXXVI, da Constituição
da República), o cabimento e a admissibilidade deste Recurso de Revista
serão examinados à luz da legislação processual vigente à época da
publicação da decisão recorrida.
1 - PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS DE ADMISSIBILIDADE
RECURSAL.
O recurso é tempestivo [acórdão publicado em
30/5/2014, sexta-feira, conforme certidão lavrada à fl. 197 dos autos
físicos (p. 394 do eSIJ), e razões recursais protocolizadas em 9/6/2014,
à fl. 201 dos autos físicos (p. 402 do eSIJ)]. O depósito recursal foi
efetuado no valor legal [fls. 206/206-verso dos autos físicos (pp.
412/413 do eSIJ)] e as custas, recolhidas à fl. 207 dos autos físicos
(p. 414 do eSIJ). A reclamada está regularmente representada nos autos,
consoante procuração acostada à fl. 113 dos autos físicos (p. 226, eSIJ).
2 – PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS DE ADMISSIBILIDADE
RECURSAL.
RESCISÃO INDIRETA. ATRASO NO RECOLHIMENTO DOS
DEPÓSITOS DO FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO.
O Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, no
tocante ao tema em epígrafe, deu provimento parcial ao recurso ordinário
interposto pela reclamante para, reformando a sentença, reconhecer a
rescisão indireta do contrato de emprego firmado entre as partes.
Consignou, na oportunidade, os seguintes fundamentos, às fls.
188/189-verso dos autos físicos (pp. 376/379 do eSIJ):
1. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO.
A recorrente insurge-se contra a sentença que julgou improcedente o
pedido de reconhecimento de rescisão indireta do contrato de emprego
mantido entre as partes. Aduz que a recorrida vinha pagando reiteradamente
em atraso os salários da demandante, assim como não adimpliu os depósitos
do FGTS dos últimos anos do contrato. Refere que as faltas cometidas pela ré
se enquadram plenamente na norma contida no art. 483, d, da CLT.
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Pois bem.
A rescisão indireta é uma forma de extinção do vínculo empregatício
por iniciativa do trabalhador, mas motivada por falta grave praticada pelo
empregador. Registro que não é qualquer falta que enseja este tipo de
rescisão. O ato praticado pelo empregador deve ser de tal monta que
comprometa sobremaneira a continuidade da relação laboral. A falta grave,
na verdade, implica a quebra da confiança, da fidúcia ínsita do contrato de
trabalho.
A autora foi admitida em 25/04/2008 para exercer a função de
atendente de consultório dentário (ficha de registro de empregados, fl. 68).
Foi acordado na audiência registrada à fl. 47 que o encerramento da
prestação laboral se CTPS nesta data, sem prejuízo das teses defendidas nos
autos.
Conforme verifico no relatório da fl. 69, houve atraso no pagamento
dos salários entre julho de 2008 e julho de 2009 e o contrato de emprego
mantido entre as parte vigorou até maio de 2012. Logo, entendo que não há
proporcionalidade entre este ato faltoso do empregador com o pedido de
rescisão indireta realizada pela empregada somente em maio de 2012.
Ora, a demandante deixou transcorrer praticamente três anos para só
então demonstrar sua insatisfação com a conduta da empresa, vindo, somente
agora, em 2012, aventar a possibilidade de rescisão indireta por este motivo.
A situação narrada iguala-se, em muito, ao perdão tácito dado pelo
empregador ao empregado quando do cometimento de faltas ensejadoras da
justa causa do trabalhador, na qual o requisito fundamental é a
imediaticidade da punição. Não é de desconhecimento que, na rescisão
indireta, estes requisitos devem ser analisados com parcimônia, devendo
sofrer as devidas adequações em virtude do estado de subordinação do
obreiro e da necessidade de preservar o vínculo de emprego, que lhe garante
o seu sustento e o de sua família.
As lições de Maurício Godinho Delgado são esclarecedoras no tópico:
"Porém, no campo da rescisão indireta, os requisitos da
imediaticidade da insurgência obreira e do perdão tácito devem
merecer substantivas adequações. É que é muito distinta a
posição sócio jurídica do obreiro no contrato, em contraponto
àquela inerente ao empregador: afinal este tem os decisivos
poderes de direção, fiscalização e disciplinar, por meio dos quais
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subordina, licitamente, o empegado." (Maurício Godinho
Delgado in Curso de Direito do Trabalho, fl. 1120, LTr, 8ª
edição, 2009).
Ocorre que, in casu, a recorrente deixou transcorrer muitos anos sem
oposição ao ato faltoso do empregador que, embora grave, foi atenuando
pelo transcurso do tempo. No caso, a falta de imediaticidade e o perdão tácito
atuaram em desfavor da trabalhadora.
Entretanto, a demandada não nega, seja em contestação, seja nas
razões recursais, que o pagamento dos depósitos do FGTS estivesse em
atraso. Além disso, os comprovantes de fls. 21-23 colacionados aos autos
pela parte autora revelam o recolhimento em atraso do FGTS referente aos
meses de maio e junho de 2008 e não recolhimento dos meses de agosto a
dezembro de 2008, janeiro e fevereiro de 2009 e dos anos de 2010 e 2011. A
ré, aliás, admite expressamente, como visto, em sua defesa, no sentido de que
houve atrasos no recolhimento do FGTS e que em alguns meses nem mesmo
houve depósitos (fl. 50).
Diversamente do entendido pela Julgadora de piso, tenho que tal
irregularidade é, de fato, motivo suficiente para caracterizar falta grave do
empregador, de modo a ensejar a rescisão indireta do contrato de trabalho,
ainda que para o saque a trabalhadora tenha de se sujeitar às hipóteses
previstas em lei. O recolhimento mensal do FGTS à conta vinculada do
empregado, embora acessório, constitui importante obrigação derivada do
contrato de trabalho, na medida em que determina e assegura a reserva
necessária ao trabalhador quando perde o emprego, devendo estar disponível
a todo momento, já que pode ser destinado à aquisição de casa própria ou
mesmo à utilização em situações específicas, previstas em lei (como doenças
- AIDS, v.g.), o que não pode ficar ao arbítrio do empregador. Na espécie,
evidenciada a ausência de recolhimento do FGTS em diversos meses do
contrato de trabalho, a ensejar, nos termos do art. 483, d, da CLT, o
reconhecimento de ato omissivo do empregador a inviabilizar a continuidade
da relação de emprego.
Por todo o acima exposto, dou provimento a este item do recurso da
autora para declarar a rescisão indireta do contrato de trabalho, com a
extinção do mesmo por justo motivo do empregador - rescisão indireta, e
condeno a demandada no pagamento de aviso prévio, multa de 40% sobre o
FGTS e multa prevista no art. 477, §8º da CLT. Não há falar em pagamento
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das férias e da gratificação natalina proporcionais, pois tais parcelas já foram
objeto de condenação na decisão de primeiro grau. E tampouco em multa do
art. 467 da CLT, na medida em que todos os pedidos foram controvertidos.
Provido parcialmente.
Sustenta a reclamada, em suas razões de Recurso de
Revista, que a recorrida não comprovou qualquer atraso no pagamento de
verbas. Assevera que “estando ativo o contrato de trabalho, não há
prejuízo latente ao empregado quanto ao fato de os depósitos não serem
feitos rigorosamente em dia, ante as hipóteses legais para o levantamento
dos valores”. Alega que o eventual atraso nos depósitos do FGTS não
justifica a rescisão do contrato de emprego por justa causa empresarial.
Indica afronta aos artigos 7º, XXVI, da Constituição da República, 482,
483 e 818 da Consolidação das Leis do Trabalho, e 333, I, do Código de
Processo Civil de 1973. Transcreve arestos com o fito de demonstrar
dissenso de teses.
Ao exame.
A Corte de origem não abordou a questão sob o prisma
do artigo 7º, XXVI, da Constituição da República, tampouco fora instada,
por meio da interposição de embargos de declaração, a manifestar-se sobre
tal alegação deduzida em Recurso de Revista, o que atrai a incidência
do óbice contido na Súmula n.º 297, I, deste Tribunal Superior, por
ausência de prequestionamento.
O Tribunal Regional concluiu que resultou comprovado
o atraso nos depósitos do FGTS. Consignou a Corte de origem que
“Entretanto, a demandada não nega, seja em contestação, seja nas razões
recursais, que o pagamento dos depósitos do FGTS estivesse em atraso.
Além disso, os comprovantes de fls. 21-23 colacionados aos autos pela
parte autora revelam o recolhimento em atraso do FGTS referente aos meses
de maio e junho de 2008 e não recolhimento dos meses de agosto a dezembro
de 2008, janeiro e fevereiro de 2009 e dos anos de 2010 e 2011. A ré,
aliás, admite expressamente, como visto, em sua defesa, no sentido de
que houve atrasos no recolhimento do FGTS e que em alguns meses nem mesmo
houve depósitos (fl. 50).” [fl. 189 dos autos físicos (p. 378, eSIJ)].
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Assim, para se reformar a decisão proferida pelo
egrégio Tribunal Regional, forçoso seria o reexame do conjunto fático
probatório dos autos – procedimento inviável em sede de Recurso de
Revista, nos termos da Súmula n.º 126 desta Corte superior.
Cinge-se a controvérsia, portanto, em definir se o
descumprimento de determinadas obrigações por parte do empregador, tais
como o recolhimento do FGTS, enseja a rescisão indireta do contrato de
emprego.
Dispõe o artigo 483, alínea d, da Consolidação das Leis
do Trabalho:
Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e
pleitear a devida indenização quando:
................................................................................................................
d) não cumprir o empregador com as obrigações do contrato.
A omissão patronal na efetivação do recolhimento dos
depósitos devidos a título de FGTS constitui fato consignado
expressamente no acórdão recorrido. Tal conduta corresponde à negativa
de cumprimento das obrigações contratuais a cargo do empregador,
constituindo, portanto, fato tipificador da hipótese prevista na alínea
d do artigo 483 da Consolidação das Leis do Trabalho. Extrai-se daí
motivação suficiente para que o empregado considere rescindido
indiretamente o contrato de emprego.
Observe-se que o recolhimento do FGTS configura
obrigação de caráter social, transcendendo os limites do mero interesse
individual do empregado. Tal circunstância revela gravidade ainda maior
da conduta do empregador que, ao deixar de recolher as contribuições
devidas ao FGTS, lesa, a um só tempo, o trabalhador – credor do direito
da obrigação de natureza trabalhista, o Estado – também credor da
obrigação por sua natureza parafiscal - e, em última análise, toda a
sociedade – beneficiária dos projetos sociais custeados com recursos
oriundos do FGTS (com destaque para aqueles de natureza habitacional).
Observem-se, nesse sentido, os seguintes precedentes
desta Corte superior:
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RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO.
INSUFICIÊNCIA DE RECOLHIMENTO DO FGTS. A insuficiência de
recolhimento do FGTS constitui motivo para a rescisão indireta do contrato
de trabalho, de acordo com o artigo 483, alínea "d", da Consolidação das Leis
do Trabalho. Precedentes deste Tribunal. Recurso de embargos conhecido e
provido. (E-RR-3389200-67.2007.5.09.0002, Relator Ministro: Renato de
Lacerda Paiva, Data de Julgamento: 02/08/2012, Subseção I Especializada
em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 16/11/2012).
RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI 11.496/2007.
PRELIMINAR DE NULIDADE DO ACÓRDÃO RECORRIDO POR
NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. (...)
RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO.
AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO DO FGTS. ART. 483 DA CLT.
Hipótese em que nas instâncias ordinárias decidiu-se que o fato de a
empregadora negligenciar habitualmente o cumprimento de prestações
legais, em especial a obrigação de recolher o FGTS, não configurava rescisão
indireta. A Turma do TST, a seu turno, considerou que nessas circunstâncias
não haveria violação do art. 483, "d", da CLT, mas, sim, interpretação
razoável do dispositivo, e invocou a Súmula 221, II, do TST. Superada
eventual controvérsia acerca do conhecimento do apelo, uma vez que a
decisão turmária, ainda que não renda ensejo ao conhecimento dos embargos
por contrariedade direta ao verbete (Súmula 221, II, do TST), apresenta
conteúdo de mérito suficiente a autorizar o cotejo de teses. Afinal,
diversamente do que sucede com as súmulas de função apenas instrumental
(súmulas 23, 126, 296, 297 etc.), cuja adoção inviabiliza a emissão de
qualquer juízo, a aplicação da Súmula 221, II reporta-se a um juízo de
razoabilidade e pode render ensejo a Recurso de Revista por meio do qual se
invoque a exegese literal e intransponível do preceito legal interpretado,
afigurando-se adequado, via de consequência, que se conheça igualmente de
embargos quando se apresentem arestos que divirjam quanto à razoabilidade
da exegese dada, frente à interpretação literal que se impunha. Assim, a
apresentação de aresto paradigma no qual enquadrada tal conduta patronal na
prescrição do art. 483, "d", da CLT, viabiliza o conhecimento dos embargos.
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Quanto ao mérito, o entendimento assente na jurisprudência majoritária
desta Corte Superior, em julgados da Subseção 1 Especializada em Dissídios
Individuais, bem como de todas as oito Turmas, é no sentido de que a
ausência de recolhimento de valores devidos a título de FGTS, por parte do
empregador, no curso do contrato de trabalho autoriza a rescisão indireta. E
esse entendimento ampara-se justamente no artigo 483, "d", da CLT,
segundo o qual o empregado poderá considerar rescindido o contrato e
pleitear a devida indenização quando o empregador não cumprir as
obrigações do contrato. Recurso de embargos conhecido e provido. (...)
(E-ED-RR-114400-18.2002.5.15.0033, Relator Ministro: Augusto César
Leite de Carvalho, Data de Julgamento: 30/08/2012, Subseção I
Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT
10/09/2012).
RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO.
IRREGULARIDADE NO RECOLHIMENTO DO FGTS. O não
recolhimento ou o recolhimento a menor dos valores alusivos ao FGTS
constitui falta grave suficiente, por si só, para configurar a hipótese descrita
no art. 483, alínea "d", da CLT e para justificar a rescisão indireta do contrato
de trabalho. Recurso de Embargos de que se conhece e a que se dá
provimento. (E-RR-19000-57.2005.5.09.0091, Relator Ministro: João
Batista Brito Pereira, Data de Julgamento: 01/03/2012, Subseção I
Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT
16/03/2012).
RESCISÃO INDIRETA. RECOLHIMENTO IRREGULAR
PARA O FGTS. CONFIGURAÇÃO. 1. Decisão regional que decreta a
rescisão indireta com base, dentre outros, na irregularidade dos depósitos
para o FGTS. 2. A jurisprudência deste Tribunal Superior é pacífica no
sentido de que a ausência de recolhimento dos depósitos do FGTS, ou seu
recolhimento irregular, por si só, configura ato faltoso do empregador cuja
gravidade é suficiente para ensejar a rescisão indireta do contrato de
trabalho. 3. Outrossim, uma vez afastada a intenção do reclamante de
abandonar o emprego, conclui-se que a pretensão recursal possui contornos
fático-probatórios, cujo reexame é obstado no âmbito desta Corte, ex vi da
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Súmula 126/TST. 4. Inviolados os artigo 482, "i", e 818 da CLT e 333 do
CPC. Aplicação da alínea "a" do artigo 896 da CLT e da OJ 111 da SDI-1 e
das Súmulas 126 e 296, ambas do TST. Agravo de instrumento integralmente
conhecido e não provido (AIRR - 53940-34.2006.5.02.0018 , Relator
Ministro: Hugo Carlos Scheuermann, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT
04/03/2016).
RECURSO DE REVISTA. RESCISÃO INDIRETA.
IRREGULARIDADE NO RECOLHIMENTO DOS DEPÓSITOS DO
FGTS. O descumprimento de obrigações contratuais pelo empregador,
notadamente no que diz respeito à efetivação dos depósitos de FGTS,
configura falta grave. Tal situação, nos termos do art. 483, "d", da CLT,
autoriza o rompimento indireto do vínculo empregatício e a consequente
condenação do empregador ao pagamento das verbas rescisórias. Recurso de
Revista conhecido e provido. (RR-528-95.2012.5.09.0015, Relatora Ministra
Delaíde Miranda Arantes, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT
28/08/2015).
RECURSO DE REVISTA. INCORREÇÃO DOS DEPÓSITOS
DO FGTS. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE
TRABALHO. A jurisprudência pacífica desta Corte é no sentido de que o
não recolhimento dos depósitos do FGTS, ou mesmo o seu recolhimento
parcial, configura hipótese de rescisão indireta do contrato de trabalho.
Estando incontroverso que a empresa não efetuou o recolhimento do FGTS
na forma estabelecida em lei, mostra-se evidente a ocorrência da hipótese
prevista no art. 483, "d", da CLT. Precedentes. Recurso de Revista não
conhecido (RR-46500-10.2013.5.13.0026, Relator Ministro Alexandre de
Souza Agra Belmonte, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 18/09/2015).
RECURSO DE REVISTA. RESCISÃO INDIRETA DO
CONTRATO DE TRABALHO. IRREGULARIDADE NO
RECOLHIMENTO DO FGTS. FALTA GRAVE DO EMPREGADOR.
Firmou-se o entendimento, no âmbito desta Corte, de que o atraso no
pagamento e a ausência de regularidade no recolhimento do FGTS por parte
do empregador constitui motivo suficiente para dar ensejo à rescisão indireta,
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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
nos termos do art. 483, "d", da CLT. Recurso de Revista parcialmente
conhecido e provido (RR- 1274-60.2013.5.09.0133, Relatora Ministra:
Maria de Assis Calsing, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 06/03/2015).
RECURSO DE REVISTA. ADMISSIBILIDADE. RESCISÃO
INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO. ARTIGO 483, d, DA
CLT. NÃO RECOLHIMENTO DO FGTS. A redação da alínea "d" do
artigo 483 da CLT não encerra dúvida em relação à sua aplicabilidade. Não
obstante opiniões em contrário, as obrigações contratuais inadimplidas pelo
empregador não podem ser relativizadas, de modo a não se reconhecer como
falta de relevância o não recolhimento das contribuições para o FGTS.
Evidencia-se, pois, que a falta cometida pela reclamada não se afigura leve.
O não recolhimento das contribuições para o FGTS, embora possa não
representar um impacto direto no salário mensal, constitui real ameaça à
única garantia à disposição do empregado para fazer face à dispensa
imotivada, razão por que representa direito de amplo alcance social, cuja
imperatividade não admite o uso de evasivas. Precedentes. Recurso de
Revista conhecido e provido (RR-121-07.2013.5.12.0004, Relator Ministro
Emmanoel Pereira, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 06/03/2015).
RECURSO DE REVISTA. RECLAMANTE. (...) RESCISÃO
INDIRETA. RECOLHIMENTO IRREGULAR DO FGTS.
CABIMENTO. Nos termos da jurisprudência desta Corte, o
descumprimento de obrigações essenciais ao emprego, como é o caso dos
depósitos do FGTS, enseja rescisão indireta do contrato de trabalho, nos
termos do art. 483, d, da CLT. Recurso de Revista de que se conhece e a que
se dá provimento. (RR-1595-90.2011.5.01.0003, Relatora Ministra Kátia
Magalhães Arruda, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 22/05/2015).
RECURSO DE REVISTA EM FACE DE DECISÃO
PUBLICADA ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014.
RESCISÃO INDIRETA. IRREGULARIDADE NOS
RECOLHIMENTOS DOS DEPÓSITOS DO FGTS. Esta Corte Superior
tem trilhado o entendimento no sentido de que a ausência ou irregularidade
no recolhimento dos depósitos do FGTS constitui motivo suficiente para dar
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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
ensejo à rescisão indireta do contrato de trabalho, nos termos do artigo 483,
"d", da CLT. Recurso de Revista de que se conhece e a que se dá provimento
(RR-602-27.2012.5.02.0054, Relator Ministro Cláudio Mascarenhas
Brandão, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 07/08/2015).
I - RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE - RESCISÃO
INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO. IRREGULARIDADE
NO RECOLHIMENTO DO FGTS. A jurisprudência deste Tribunal tem se
firmado no sentido de que a irregularidade ou ausência de recolhimento do
FGTS constitui falta grave suficiente para configurar a hipótese do art. 483,
"d", da CLT e ensejar a rescisão indireta do contrato de trabalho. Recurso de
Revista conhecido e provido (RR - 341-24.2010.5.09.0091 , Relator
Ministro: Márcio Eurico Vitral Amaro, 8ª Turma, Data de Publicação:
DEJT 11/12/2015)
Incólumes, portanto, os dispositivos apontados como
violados pela recorrente. Ademais, revelando a decisão regional
consonância com a atual, notória e iterativa jurisprudência desta Corte
uniformizadora, mostra-se inviável o seguimento do Recurso de Revista
por dissenso jurisprudencial, ante a incidência da Súmula n.º 333 do
Tribunal Superior do Trabalho e do disposto no artigo 896, § 4º, da
Consolidação das Leis do Trabalho, com a redação anterior à conferida
pela Lei n.º 13.015/2014.
Não conheço do Recurso de Revista.
DANOS MORAIS. MORA CONTUMAZ NO PAGAMENTO DE SALÁRIOS
OU ATRASO REITERADO.
O Tribunal Regional, no tocante ao tópico em apreço,
deu provimento ao recurso ordinário interposto pela reclamante. Valeu-se
dos seguintes fundamentos, consignados às fls. 189-verso/194-verso dos
autos físicos (pp. 379/389 do eSIJ):
2. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. REITERADO ATRASO
NO PAGAMENTO DE SALÁRIOS.
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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
A Julgadora de origem indeferiu o pleito da obreira no que tange ao
pedido de indenização por danos morais, sob o fundamento de que o atraso
no adimplemento dos salários não é motivo suficiente para ensejar a
condenação no pagamento de indenização por danos morais.
Analiso.
Consoante observo do recurso ordinário, a autora se volta contra a
sentença quanto ao indeferimento de indenizações por danos morais e
materiais. No entanto, os danos materiais remetem aos próprios direitos que
estão sendo reconhecidos, ou seja, ausência/diferenças de FGTS, objeto da
condenação.
Não há outros aspectos a serem considerados, em que pese a narrativa
inicial do recurso ordinário quanto a danos materiais, reitero. De qualquer
forma, e ainda que assim não fosse, a sentença nada refere ao título, e
também não foi alvo de embargos pela parte autora. Assim, nada há para
examinar acerca de danos materiais.
Passo ao exame dos danos morais.
Inconformada com a decisão de origem, a autora recorre. Sustenta que
o atraso reiterado no pagamento dos salários, bem como a humilhação
sofrida na reunião realizada para a discussão sobre o pagamento ou não das
férias na data de 03.01.2012, ensejam motivos de sobra a caracterizar a
rescisão indireta do contrato. Pugna, dessa forma, pela reforma da sentença
para obter a condenação da ré na paga de indenização por danos morais.
Neste sentido, tem-se que o pedido de pagamento de indenização por
danos morais possui dois pressupostos: a mora salarial e o constrangimento
ilegal a que foi submetida a trabalhadora.
No tocante ao atraso reiterado no pagamento dos salários, a análise do
relatório de pagamento individual colacionado à fl. 69 permite concluir que,
de fato, a ré satisfez com atraso o pagamento da remuneração da autora nos
anos de 2008 e 2009. Cito, apenas a título exemplificativo, o mês de
setembro de 2008, em que o salário foi pago apenas no dia 15 do mês
seguinte, assim como os meses de dezembro de 2008 e janeiro de 2009, em
que a contraprestação remuneratória foi depositada, respectivamente,
somente nos dias 26/01/2009 e 20/02/2009. Não resta dúvida de que o atraso
no pagamento dos salários causa enormes transtornos à esfera do
trabalhador, tanto patrimonial quanto extrapatrimonial. Assim, em que pese
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não possa, pela falta de imediatidade, ensejar o pedido de rescisão indireta,
como visto acima, evidente que a prática denunciada pela trabalhadora, ao
longo dos anos, enseja a prestação jurisdicional requerida.
Ora, assumir os riscos da atividade econômica é condição inerente ao
empregador, não podendo ser repassada ao trabalhador em hipótese alguma.
O respeito à legislação trabalhista e ao trabalhador é condição fundamental
para o desenvolvimento sustentável da sociedade e para o cumprimento dos
princípios fundamentais da República concernentes ao valor social do
trabalho e dignidade da pessoa humana. Por óbvio que as condutas que
violam a legislação social, notadamente as atitudes abusivas dos
empregadores que se valem de sua posição econômica para impor condições
aviltantes às pessoas que necessitam vender sua força de trabalho, dentro de
seu microcosmo legiferante (empresa), constituem macro lesões que
afrontam a própria existência do Estado.
O salário é a principal contraprestação devida pelo empregador no
contrato de trabalho por constituir a remuneração da força de trabalho
despendida pelo empregado e a razão de sua subsistência, assim, tem
inegável caráter ALIMENTAR.
Por isto mesmo, o crédito trabalhista goza de super privilégio na
hierarquia creditícia brasileira, conforme previsão legal (art. 83, I, da Lei
11.101/05 - Lei das Falências, e art. 449 da CLT), inclusive se sobrepondo ao
crédito tributário, na consonância da disposição do art. 186 do Código
Tributário Nacional ("o crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual
for a natureza ou o tempo da constituição deste, ressalvados os créditos
decorrentes da legislação do trabalho").
Tal preferência desdobra-se no direito processual do trabalho, com a
previsão do parágrafo único do art. 652 da CLT, de que os créditos de
natureza salarial terão preferência para julgamento.
De sorte que a dimensão da violação à ordem jurídico social que se
perpetra com a conduta de retenção/atraso na paga de salários (aí incluídas
também as verbas rescisórias) alcança espectro múltiplo e de alto potencial
de nocividade às vítimas e à sociedade, sendo diversos os dispositivos e
princípios constitucionais desprezados (e.g., arts. 1º, III e IV, 170, caput, e
193, caput, da Constituição Federal), além de tratar-se de comportamento
rechaçado pela legislação pátria na categoria de crime (art. 7º, X, da CF, c/c
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art. 4º do Dec. Lei 368/68), consubstanciando, assim, fundamente relevante
para se entender configurado o dano moral in re ipsa.
E conquanto até a presente data não tenha havido regulamentação do
art. 7º, X, da CF, a lacuna pode ser preenchida com o citado Decreto-Lei
368/68 (dispõe sobre efeitos de débitos salariais e dá outras providências),
que trabalha dois conceitos distintos: primeiro - o débito salarial: de acordo
com o parágrafo único do art. 1º, é o não pagamento, no prazo e nas
condições da lei ou do contrato, do salário devido aos empregados, caso em
que os diretores, sócios, gerentes, membros de órgãos fiscais ou consultivos,
titulares de firma individual ou quaisquer outros dirigentes de empresa
responsável, não poderão pagar honorário, gratificação, pro labore ou
qualquer outro tipo de retribuição ou retirada a seus diretores, sócios,
gerentes ou titulares da firma individual; nem distribuir quaisquer lucros,
bonificações, dividendos ou interesses a seus sócios, titulares, acionistas, ou
membros de órgãos dirigentes, fiscais ou consultivos; a empresa também não
poderá ser dissolvida; segundo - mora contumaz: segundo o § 1º do art. 2º,
"considera-se mora contumaz o atraso ou sonegação de salários devidos aos
empregados, por período igual ou superior a 3 (três) meses, sem motivo
grave e relevante, excluídas as causas pertinentes ao risco do
empreendimento". Nesta hipótese, além das proibições supra, não poderá
haver favorecimento com qualquer benefício de natureza fiscal, tributária, ou
financeira, por parte de órgãos da União, dos Estados ou dos Municípios, ou
de que estes participem, salvo se a operação de crédito se destinar à
liquidação dos débitos salariais existentes.
Verifica-se aqui a dimensão múltipla e a gravidade da violação social
atinente à mora salarial, com inafastáveis implicações de ordem civil
(trabalhista e dano moral). O dano moral, sem dúvida, prescinde de provas
(in re ipsa).
Nos tempos que correm, ninguém está obrigado a suportar mora de sua
renda, quando atrasados restam, por consequência pelo mesmo período do
não recebimento de salário, luz, água, prestação de imóvel ou aluguel,
prestação do carro, etc.
E considerando o arcabouço de princípios protetivos relativos ao
salário, notadamente os da pontualidade e da intangibilidade, estampados
nos arts. 459 e 462 da CLT, e, também, o ônus da prova do empregador
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quanto à paga de salários (art. 464 da CLT), e a distribuição do ônus da prova
pela aptidão de sua produção (arts. 355, 357 e 359 do CPC, c/c art. 6º, VIII,
do CDC; CLT, art. 769), em caso de débito salarial, cabe ao empregador
acionado demonstrar em juízo o evento não intencional e que possa ser
escusado - ou seja, que pelo princípio da razoabilidade, possa ser
compreendido como não causado por sua conduta (caso fortuito, força maior,
fato do príncipe, ato de terceiro), mas excluídos sempre os riscos do
empreendimento.
Com efeito, de acordo com os arts. 2º e 3º da CLT, os riscos do
empreendimento devem ser suportados exclusivamente pelo empregador, de
forma que dificuldades encontradas no cenário econômico-financeiro e
falência da empresa não têm o condão de frustrar o direito ao pagamento
integral e tempestivo das parcelas trabalhistas, de caráter nitidamente
alimentar.
Aqui, o fato do inadimplemento do pagamento dos salários nos anos de
2008 e 2009, possui relevância. Ora, ainda que a mora salarial tenha ocorrido
há muitos anos atrás, tal fato ensejou, com certeza, dificuldades financeiras e
constrangimentos perante à sociedade à recorrente.
Nesse passo, entendo configurado o ato ilícito, o nexo causal e o abalo
moral, diante dos atrasos no pagamento de salários o que torna devida a
indenização à autora.
Sustenta a demandada, em seu arrazoado, que o atraso
no pagamento dos salários da reclamante, por si só, não fere direitos
da personalidade do trabalhador. Alega que a obreira não se desincumbiu
de seu ônus probatório, qual seja, de comprovar a existência de prejuízo
extrapatrimonial decorrente dos referidos atrasos. Pugna, por cautela,
do valor atribuído à condenação. Aponta afronta aos artigos 818 da
Consolidação das Leis do Trabalho e 333, I, do Código de Processo Civil
de 1973. Transcreve arestos com o fito de demonstrar dissenso de teses.
Ao exame.
Cinge-se a controvérsia a definir se o atraso
reiterado no pagamento dos salários induz ou não à presunção de afronta
aos direitos de personalidade do empregado.
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Dispõe o artigo 2º, § 1º, do Decreto-Lei n.º 368/68,
que:
Art. – 2º (...)
§ 1º - Considera-se mora contumaz o atraso ou sonegação de salários
devidos aos empregados, por período igual ou superior a três meses, sem
motivo grave e relevante, excluídas as causas pertinentes ao risco do
empreendimento.
A mora contumaz no pagamento dos salários - ou o atraso
reiterado, que se prolonga demasiadamente no tempo, produzindo efeitos
equivalentes - não atinge apenas a esfera patrimonial do empregado,
diante do comprometimento da sua subsistência e de sua família, ficando
o obreiro também impedido de contrair obrigações financeiras com
terceiros e de honrá-las no prazo avençado.
O Tribunal Regional, soberano no exame do conjunto
fático probatório dos autos, registrou que houve atrasos nos pagamentos
dos salários.
Quanto à caracterização do dano decorrente da mora
salarial, cumpre realçar que o salário ostenta natureza alimentar e que,
via de regra, é por meio da entrega de sua força de trabalho que o
trabalhador aufere os meios de subsistência para si e para sua família.
Tal ótica não pode ser olvidada no exame do caso em apreço, porquanto
o ato ilícito perpetrado pela empresa atinge exatamente elemento central
para a manutenção da vida do empregado e de sua família, além de
comprometer a sua participação, de forma honrada e íntegra, nas relações
sociais, principalmente no que se refere ao pagamento de suas dívidas
e obrigações com prazos previamente estipulados.
É completamente dispensável exigir do empregado prova
efetiva do abalo psicológico ou do constrangimento ilegal decorrentes
da ausência do recebimento dos salários na data aprazada, porquanto do
evento danoso alegado é possível inferir a existência de prejuízo
manifesto, a demandar a reparação civil do empregador. Trata-se de
hipótese que, dada a reiteração da conduta lesiva do empregador,
permite-se cogitar de dano in re ipsa.
Com efeito, a vida na sociedade capitalista acarreta
necessidades de consumo cuja provisão gera obrigações financeiras a serem
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satisfeitas em prazo certo – quando não imediatamente. Num tal contexto,
a irregularidade no recebimento dos salários, decorrentes da
impontualidade do empregador, acarreta consideráveis dificuldades para
o empregado, a par de comprometer a sua honra e imagem perante terceiros.
Vislumbra-se, daí, a existência inequívoca do dano, agravado pela
condição de hipossuficiência do empregado. Dada a contumácia da empresa
em pagar os salários com atraso, fica o trabalhador limitado na sua
capacidade de contrair obrigações financeiras com terceiros, uma vez que
não sabe se poderá honrá-las no prazo avençado. É ainda difícil para o
trabalhador, por não desfrutar de condições de igualdade com o
empregador, adotar medidas visando a exigir o imediato pagamento dos
salários, porquanto tal ato provavelmente resultaria em sacrifício do
seu meio de subsistência. Fica a obreira, assim, refém da situação, sem
meios para se haver com dignidade perante seus pares e sem autonomia para
se opor à atitude patronal, que se revela atentatória ao valor social
do trabalho e à função social da propriedade privada.
Cumpre destacar que a afronta à dignidade do
trabalhador enseja o reconhecimento da violação dos direitos da
personalidade do empregado.
As consequências da inadimplência contratual são
necessariamente diferentes para os contratos de natureza civil e os
contratos de emprego. No caso de contrato civil, a natureza da obrigação,
via de regra, é meramente patrimonial. Já no direito do trabalho, a
obrigação do contratante de pagar salários ostenta natureza alimentar,
não se elidindo as consequências danosas do inadimplemento com o mero
pagamento de juros. Afinal, a conduta ilegal e abusiva do empregador põe
em risco a sobrevivência do contratado e de sua família, bem como
inviabiliza a satisfação de compromissos financeiros contraídos pelo
trabalhador com terceiros.
Não há buscar, assim, inspiração no direito civil para
solucionar controvérsia trabalhista, relacionada com o não pagamento
contumaz de salários.
Embora a situação de mora salarial permita ao
trabalhador promover a rescisão indireta do contrato de emprego, tal
faculdade acaba fortemente mitigada pela realidade que se impõe ao
empregado, dada a sua situação de hipossuficiência. Tais circunstâncias
não podem, em absoluto, resultar ignoradas pela Justiça do Trabalho.
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Nesse sentido, trilham os seguintes precedentes da
SBDI-I deste Tribunal Superior:
EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO
SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.015/2014. DANO MORAL.
COMPENSAÇÃO. ATRASO REITERADO NO PAGAMENTO DE
SALÁRIOS. NÃO PROVIMENTO. 1. Segundo a atual jurisprudência
desta Corte Superior, o atraso reiterado no pagamento de salários, por si só,
gera lesão aos direitos da personalidade, uma vez que impede o empregado
de honrar os seus compromissos e prover o sustento próprio e de sua família,
presumindo-se o dano em tais casos. Precedentes. Ressalva de entendimento
do Relator. 2. Recurso de embargos de que se conhece e a que se nega
provimento (TST - E-RR - 1250-49.2012.5.04.0701 , Relator Ministro:
Guilherme Augusto Caputo Bastos, Subseção I Especializada em Dissídios
Individuais, Data de Publicação: DEJT 18/03/2016).
DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. ATRASO REITERADO NO
PAGAMENTO DE SALÁRIOS 1. A mora salarial reiterada acarreta, por si
só, lesão aos direitos da personalidade, porque o empregado não consegue
honrar compromissos assumidos e tampouco prover o sustento próprio e de
sua família. A lesão à dignidade do empregado nesse caso é presumida.
Precedentes da SbDI-1 do TST. 2. Embargos da Reclamante de que se
conhece, por divergência jurisprudencial, e a que se dá provimento (TST -
E-ARR - 155400-04.2011.5.17.0008 , Relator Ministro: João Oreste
Dalazen, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de
Publicação: DEJT 11/03/2016).
RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI 11.496/2007.
DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. ATRASO NO PAGAMENTO
DOS SALÁRIOS. DANO IN RE IPSA. DIREITO FUNDAMENTAL
DE ORDEM SOCIAL. Imperativo reconhecer que a mora do empregador
gera ipso facto um dano também extrapatrimonial quando não se cuida, por
exemplo, de verbas acessórias ou salário diferido, mas daquela parte nuclear
do salário imprescindível para o empregado honrar suas obrigações mensais
relativas às necessidades básicas com alimentação, moradia, higiene,
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transporte, educação e saúde. O inevitável constrangimento frente aos
provedores de suas necessidades vitais configura um dano in re ipsa,
mormente quando consignado que era reiterada a conduta patronal em
atrasar o pagamento dos salários. A ordem constitucional instaurada em 1988
consagrou a dignidade da pessoa humana como princípio fundamental da
República, contemplando suas diversas vertentes - pessoal, social, física,
psíquica, profissional, cultural, etc., e alçando também ao patamar de direito
fundamental as garantias inerentes a cada uma dessas esferas. Assim, o
legislador constituinte cuidou de detalhar no art.5º, caput e incisos, aqueles
direitos mais ligados ao indivíduo, e nos arts. 6º a 11 os sociais, com ênfase
nos direitos relativos à atividade laboral (arts. 7º a 11). Dessa forma, o
exercício dessa dignidade está assegurado não só pelo direito à vida, como
expressão da integridade física apenas. A garantia há de ser verificada nas
vertentes concretas do seu exercício, como acima delineado, mediante o
atendimento das necessidades básicas indispensáveis à concretização de
direitos da liberdade e de outros direitos sociais, todos eles alcançáveis por
meio do trabalho. O direito fundamental ao trabalho (art. 6º, caput, da CF)
importa direito a trabalho digno, cuja vulneração gera o direito, igualmente
fundamental, à reparação de ordem moral correspondente (art. 5º, V e X,
CF). A exigência de comprovação de dano efetivo, tal como inscrição a nos
órgãos de proteção ao crédito ou o pagamento de contas em atraso, não se
coaduna com a própria natureza do dano moral. Trata-se de lesão de ordem
psíquica que prescinde de comprovação. A prova em tais casos está
associada apenas à ocorrência de um fato (atraso nos salários) capaz de gerar,
no trabalhador, o grave abalo psíquico que resulta inexoravelmente da
incerteza quanto à possibilidade de arcar com a compra, para si e sua família,
de alimentos, remédios, moradia, educação, transporte e lazer. Precedentes
de todas as oito Turmas da Corte. Recurso de embargos conhecido e não
provido (TST - E-RR - 971-95.2012.5.22.0108 , Relator Ministro: Augusto
César Leite de Carvalho, Data de Julgamento: 23/10/2014, Subseção I
Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT
31/10/2014).
Cumpre invocar, ainda, os seguintes precedentes desta
Corte superior no sentido do reconhecimento de que o atraso reiterado
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no pagamento dos salários acarreta prejuízos extrapatrimoniais ao
empregado:
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. MORA REITERADA
NO PAGAMENTO DE SALÁRIOS. DESNECESSIDADE DE
COMPROVAÇÃO DE PREJUÍZO. DANO IN RE IPSA. No caso,
registrou o Tribunal Regional que -Com efeito, dos extratos juntados aos
autos, constata-se ter a autora recebido com atraso o pagamento de diversos
salários, a exemplo dos meses de março de 2008 (data de pagamento,
09.04.2008), maio de 2009 (data de pagamento, 09.06.2009 - fl. 119),
janeiro, fevereiro e março de 2009 (pagamento em 11.02.2009, 16.03.2009 e
24.04.2009, respectivamente, fl. 119), entre outros, conforme folha de
pagamento juntada à contestação pela reclamada-. O empregado oferece sua
força de trabalho, em troca de pagamento correspondente para a sua
sobrevivência. Se não recebe seus salários na época aprazada, fica impedido
de arcar com os custos de sua subsistência e de sua família. Frisa-se que o
salário possui natureza alimentar. Ressalta-se que é extremamente fácil
inferir o abalo psicológico ou constrangimento sofrido por aquele que não
possui condições de saldar seus compromissos na data estipulada porque não
recebeu seus salários em dia de forma reiterada. Nessas circunstâncias, é
presumível que a empregada se sentia insegura e apreensiva, pois não sabia
se receberia seu salário no prazo legal. Portanto, o reiterado ato ilícito
praticado pela reclamada acarreta dano moral in re ipsa, que dispensa
comprovação da existência e da extensão, sendo presumível em razão do fato
danoso - não recebimento dos salários na época certa. Dessa forma, não se
cogita da necessidade de a reclamante comprovar que o pagamento dos seus
salários com atraso teria acarretado prejuízo psicológico e íntimo ou afetado
sua imagem e honra. Recurso de Revista não conhecido. (ARR -
10128-55.2013.5.04.0271, Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta,
Data de Julgamento: 24/09/2014, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT
03/10/2014).
RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE. ATRASO
REITERADO NO PAGAMENTO DE SALÁRIOS. DANO MORAL.
CONFIGURAÇÃO PELA SIMPLES OCORRÊNCIA DO FATO. 1.
Restou incontroverso, nos autos, o atraso no pagamento de salários. 2. O
dano moral se configura pela mudança do estado psíquico do ofendido,
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submetido pelo agressor a desconforto superior àqueles que lhe infligem as
condições normais de sua vida. 3. O patrimônio moral está garantido pela
Constituição Federal, quando firma a dignidade da pessoa humana como um
dos fundamentos da República, estendendo sua proteção à vida, liberdade,
igualdade, intimidade, honra e imagem, ao mesmo tempo em que condena
tratamentos degradantes e garante a reparação por dano (arts. 1º, III, e 5º,
-caput- e incisos III, V, e X). 4. No diálogo sinalagmático que se estabelece
no contrato individual de trabalho, incumbe ao empregador proceder,
tempestivamente, ao pagamento de salários (CLT, art. 459, § 1º). 5. O atraso
reiterado no pagamento de salários claramente compromete a regularidade
das obrigações do trabalhador, sem falar no próprio sustento e da sua família,
quando houver, criando estado de permanente apreensão, que, por óbvio,
compromete toda a vida do empregado. 6. Tal estado de angústia resta
configurado sempre que se verifica o atraso costumeiro no pagamento dos
salários - -damnum in re ipsa-. 7. Ao contrário do dano material, que exige
prova concreta do prejuízo sofrido pela vítima a ensejar o pagamento de
danos emergentes e de lucros cessantes, nos termos do art. 402 do Código
Civil, desnecessária a prova do prejuízo moral, pois presumido da violação
da personalidade do ofendido, autorizando que o juiz arbitre valor para
compensá-lo financeiramente. 8. O simples fato de o ordenamento jurídico
prever consequências jurídicas ao ato faltoso do empregador, no caso a
rescisão indireta do contrato de trabalho, com a condenação da empresa às
reparações cabíveis (pagamento de diferenças e prejuízos, com juros e
correção monetária), nos termos dos arts. 483, -d-, e 484 da CLT, não
prejudica a pretensão de indenização por dano moral, consideradas as facetas
diversas das lesões e o princípio constitucional do solidarismo. Recurso de
Revista conhecido e provido. (RR - 407-82.2013.5.22.0108, Relator
Ministro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, Data de Julgamento:
01/10/2014, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 03/10/2014).
RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL. MORA SALARIAL.
QUANDO OCORRE O ATRASO REITERADO NO PAGAMENTO
DOS SALÁRIOS. OMISSÃO QUE SE RECONHECE COMO
CAUSADORA DE VIOLAÇÃO AOS DIREITOS DA
PERSONALIDADE DO EMPREGADO, EM FACE DA NATUREZA
ALIMENTAR DOS SALÁRIOS. HIPÓTESE EM QUE SE ADMITE A
REPARAÇÃO DE DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL POR
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DANO MORAL. 1. Hipótese em que o quadro fático delineado no acórdão
regional demonstra a mora contumaz, durante certo período da
contratualidade, o que ensejou, inclusive, a deflagração de greve. 2. O dano
resultante do inadimplemento reiterado no pagamento dos salários na data
contratual ou no dia legalmente estabelecido para o seu vencimento, ou o
dano decorrente da própria mora salarial continuada, são danos morais
indenizáveis, já que inegavelmente capazes de produzir dor e/ou sofrimento
íntimo na pessoa do trabalhador lesado. Consignados no acórdão recorrido os
pressupostos que ensejam o dever de indenizar, a saber, o ato ilícito do
empregador - mora contumaz no pagamento dos salários -, o nexo de
causalidade e o dano - sofrimento e angústia do empregado, que,
notoriamente, em razão do atraso salarial, passa a ter comprometido o seu
orçamento familiar -, resultam incólumes os arts. 186 e 927 do CCB.
Precedentes. 3. O aresto paradigma coligido, por sua vez, porque oriundo de
Turma desta Corte Superior, desserve ao fim colimado, a teor do art. 896, -a-,
da CLT. Revista não conhecida, no tema. (RR - 116300-71.2009.5.09.0093 ,
Relator Juiz Convocado: Flavio Portinho Sirangelo, Data de Julgamento:
20/06/2012, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 29/06/2012).
ATRASO REITERADO NO PAGAMENTO DOS SALÁRIOS.
CIRCUNSTÂNCIAS CONFIGURADORAS DO DANO MORAL
CONSTATADAS PELO TRIBUNAL REGIONAL COM BASE NA
PROVA DOS AUTOS. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART.
818 DA CLT. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL INESPECÍFICA
(CLT, ART. 896, -A- E SÚMULA 337 DO TST). FIXAÇÃO DO
QUANTUM INDENIZATÓRIO. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DOS
ARTS. 4º E 5ª DA LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL.
IMPERTINÊNCIA. Caso em que o Tribunal Regional constata que o atraso
reiterado do pagamento de salários resultou danos morais à trabalhadora,
caracterizados pelos -constrangimentos, privações de sustento para si e para
as demais pessoas que viviam sob suas expensas e acúmulo de dívidas-,
impondo às Reclamadas o dever de indenizar. Nesse caso, em que a
controvérsia foi resolvida à luz da prova dos autos, não há falar em violação
do art. 818 da CLT, na medida em que as regras de distribuição do ônus da
prova somente têm relevância num contexto de ausência de prova ou de
provas insuficientes. Divergência jurisprudencial inservível, porquanto os
arestos colacionados são oriundos de Turmas do TST e os provenientes de
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Tribunais Regionais não registram a fonte oficial de publicação do acórdão
(Súmula 337 do TST). Quanto ao valor da indenização fixado na origem, o
Agravante aponta violação apenas dos arts. 4º e 5º, da Lei de Introdução ao
Código Civil, que se mostram impertinentes ao caso dos autos. Agravo de
instrumento não provido. ( AIRR - 83-75.2013.5.11.0051 , Relator Ministro:
Douglas Alencar Rodrigues, Data de Julgamento: 24/09/2014, 7ª Turma,
Data de Publicação: DEJT 03/10/2014).
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. ATRASO REITERADO
DO PAGAMENTO DE SALÁRIOS. A jurisprudência desta Corte
caminha no sentido de que o dano moral decorrente do atraso reiterado no
pagamento de salários carece de prova, na medida em que é aferido in re ipsa,
ou seja, basta que se comprovem os fatos para que a sua caracterização seja
de forma presumida, hipótese dos autos. Recurso de Revista conhecido e não
provido. ( RR - 1841-87.2011.5.04.0202 , Relatora Ministra: Dora Maria da
Costa, Data de Julgamento: 01/10/2014, 8ª Turma, Data de Publicação:
DEJT 03/10/2014).
Incólumes, portanto, os dispositivos apontados como
violados pela recorrente. Ademais, revelando a decisão regional
consonância com a atual, notória e iterativa jurisprudência desta Corte
uniformizadora, mostra-se inviável o seguimento do Recurso de Revista
por dissenso jurisprudencial, ante a incidência da Súmula n.º 333 do
Tribunal Superior do Trabalho e do disposto no artigo 896, § 4º, da
Consolidação das Leis do Trabalho, com a redação anterior à conferida
pela Lei n.º 13.015/2014.
No tocante ao tema “indenização por danos morais –
fixação do quantum indenizatório”, o Recurso de Revista carece da
necessária fundamentação, no particular. As razões respectivas não
indicam dispositivo de lei ou da Constituição da República que se tenha
por afrontado nem contrariedade a súmula desta Corte superior ou mesmo
aresto específico para fins de caracterização de divergência
jurisprudencial. O apelo não se enquadra, desse modo, em nenhuma das
hipóteses previstas no artigo 896 da Consolidação das Leis do Trabalho.
Não conheço do Recurso de Revista.
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MULTA POR ATRASO NO PAGAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS.
RESCISÃO INDIRETA RECONHECIDA EM JUÍZO.
Como visto alhures, o Tribunal Regional deu provimento
ao recurso ordinário interposto pelo reclamante para condenar a reclamada
ao pagamento da multa prevista no artigo 477, § 8º, da Consolidação das
Leis do Trabalho.
Sustenta a recorrente que, na hipótese dos autos, não
há falar na condenação ao pagamento da multa prevista no artigo 477, §
8º, da Consolidação das Leis do Trabalho, tendo em vista a rescisão
indireta do contrato de emprego somente reconhecido em juízo, não havendo
falar, portanto, em atraso no pagamento das verbas rescisórias. Aponta
violação do artigo 477 da Consolidação das Leis do Trabalho. Transcreve
arestos com o fito de demonstrar dissenso de teses.
O penúltimo aresto reproduzido à fl. 205 dos autos
físicos (p. 410 do eSIJ), oriundo do Tribunal Regional do Trabalho da
2ª Região, autoriza o conhecimento do Recurso de Revista, porquanto
abriga tese contrária à esposada pela Corte de origem, no sentido de que,
“Tratando-se de rescisão indireta do contrato de trabalho, dependente
de decisão judicial, não se pode cogitar da aplicação da multa do artigo
477 da CLT"
Ante o exposto, conheço do Recurso de Revista, por
divergência jurisprudencial.
II - MÉRITO
MULTA POR ATRASO NO PAGAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS.
RESCISÃO INDIRETA RECONHECIDA EM JUÍZO.
Cinge-se o debate à definição acerca do cabimento da
multa prevista no artigo 477, § 8º, da Consolidação das Leis do Trabalho
na hipótese em que a rescisão indireta do contrato de emprego foi
reconhecida em juízo.
Esta Corte uniformizadora havia sedimentado, por meio
da Orientação Jurisprudencial n.º 351 da SBDI-I, entendimento no sentido
de que indevida a multa prevista no artigo 477, § 8º, da Consolidação
das Leis do Trabalho, quando houvesse fundada controvérsia quanto à
existência da obrigação cujo inadimplemento gerou a multa.
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Ocorre, entretanto, que a referida orientação
jurisprudencial foi cancelada por intermédio da Resolução n.º 163/2009,
de 16/11/2009, publicada no DJe em 20, 23 e 24/11/2009. Tal cancelamento
resultou do entendimento da maioria dos integrantes desta Corte superior,
no sentido de que seu texto não mais expressava o pensamento majoritário
no Tribunal, especialmente ante a dificuldade de se delimitar o alcance
da expressão "fundada controvérsia" como circunstância excludente da
incidência da sanção.
Com o cancelamento do referido precedente,
enaltece-se a única exceção quanto à aplicação da multa prevista no §
8º do artigo 477 da Consolidação das Leis do Trabalho, no caso, "quando,
comprovadamente, o trabalhador der causa à mora". Resulta daí que a
existência ou não de controvérsia acerca da configuração de justo motivo
para a dispensa é irrelevante para o deslinde da controvérsia.
Com efeito, o reconhecimento da rescisão indireta em
juízo não tem o condão de isentar o empregador do pagamento da penalidade.
Na hipótese, não se cogita de culpa do empregado, tendo em vista que o
provimento jurisdicional apenas reconheceu a rescisão indireta.
Incólumes, portanto, os dispositivos de lei apontados como violados.
Nesse sentido, destacam-se os seguintes precedentes
desta Corte superior:
RECURSO DE REVISTA. RESCISÃO INDIRETA. MULTA
PREVISTA NO ART. 477, § 8º, DA CLT. A controvérsia acerca da
modalidade da rescisão contratual, na espécie a rescisão indireta reconhecida
em juízo, não afasta a incidência da multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT,
tendo em vista a inequívoca existência e liquidez do direito vindicado, não
podendo a mora pelo inadimplemento das verbas rescisórias ser atribuída ao
empregado. Precedentes. Recurso de Revista conhecido e a que se nega
provimento. ( RR - 16200-77.2009.5.04.0019 , Relator Ministro: Walmir
Oliveira da Costa, Data de Julgamento: 02/09/2015, 1ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 04/09/2015).
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[...] RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA - MULTA DO
ARTIGO 477 DA CLT - RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE
TRABALHO (violação ao artigo 477, §8º, da CLT, e divergência
jurisprudencial). ). Não se vislumbra ofensa ao dispositivo legal indicado
como ofendido pela decisão que mantém a condenação ao pagamento da
multa do artigo 477, da CLT, ao fundamento de que "...o não pagamento das
verbas rescisórias no prazo resulta na incidência do artigo 477, da CLT. Com
mais razão ainda cabe a respectiva multa quando se trata de rescisão
declarada em Juízo.". A pretensão de demonstrar dissenso jurisprudencial
por meio de trechos do julgado, apenas indicando a fonte oficial de
publicação dos arestos paradigmas, encontra óbice na Súmula nº 337/TST.
Recurso de Revista não conhecido. [...] ( RR - 111500-33.2008.5.04.0009 ,
Relator Ministro: Renato de Lacerda Paiva, Data de Julgamento: 06/05/2015,
2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 15/05/2015).
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA.
RESCISÃO INDIRETA. RECONHECIMENTO EM JUÍZO. MULTA
DO ART. 477, § 8º, DA CLT. APLICAÇÃO. Demonstrado no agravo de
instrumento que o Recurso de Revista preenchia os requisitos do art. 896, -c-,
da CLT, quanto à aplicação da multa do art. 477 da CLT, dá-se provimento
ao agravo de instrumento, para melhor análise da arguição de violação do art.
477 da CLT, suscitada no Recurso de Revista. Agravo de instrumento
provido. RECURSO DE REVISTA. 1) RECOLHIMENTO
PREVIDENCIÁRIO. REVERSÃO DE DIFERENÇAS AO EMPREGADO.
2) MULTA DO ART. 467 DA CLT. AUSÊNCIA DE VERBAS
INCONTROVERSAS A SEREM PAGAS EM AUDIÊNCIA. SÚMULA
126/TST. 3) VALE-TRANSPORTE. SÚMULA 126/TST. Não se constata
haver a demonstração, no Recurso de Revista, de jurisprudência dissonante
específica sobre o tema, de interpretação divergente de normas
regulamentares ou de violação direta de dispositivo de lei federal ou da
Constituição da República, nos moldes das alíneas -a-, -b- e -c- do art. 896 da
CLT. Recurso de Revista não conhecido, nesses temas. 4) RESCISÃO
INDIRETA. RECONHECIMENTO EM JUÍZO. MULTA DO ART. 477, §
8º, DA CLT. APLICAÇÃO. Cabe a multa do art. 477, CLT, caso a rescisão
indireta diga respeito a reconhecimento de ruptura precedente do contrato,
por culpa empresarial - caso dos autos. Em tal situação, o atraso rescisório é
manifesto. Recurso de Revista conhecido e provido, no aspecto. ( RR -
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201500-64.2009.5.02.0441 , Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado,
Data de Julgamento: 11/12/2013, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT
13/12/2013).
[...] MULTA DO ART. 477, § 8º, DA CLT. RESCISÃO
INDIRETA. O pagamento das verbas rescisórias fora do prazo fixado no art.
477, § 6º, da CLT gera o direito à multa do art. 477, § 8º, da CLT, descabida
apenas na hipótese de mora no pagamento por culpa do empregado. Assim, o
reconhecimento da rescisão indireta em juízo não tem o condão de elidir de
per si a aplicação da penalidade em questão. Precedentes. Recurso de Revista
conhecido e provido. ( RR - 265-46.2011.5.01.0007 , Relator Ministro:
Aloysio Corrêa da Veiga, Data de Julgamento: 29/04/2015, 6ª Turma, Data
de Publicação: DEJT 22/05/2015).
RECURSO DE REVISTA - MULTAS PREVISTAS NOS ARTS.
467 E 477, § 8º, DA CLT - INCIDÊNCIA - RECONHECIMENTO EM
JUÍZO DE RESCISÃO INDIRETA POR CULPA DO
EMPREGADOR. Nos termos do § 8º do art. 477 da CLT, o fato gerador da
multa contida na aludida norma é a não observância do prazo para o
pagamento das verbas rescisórias previsto no § 6º do mesmo preceito,
ressalvada a hipótese em que o empregado der causa à mora. Já o art. 467 da
CLT determina o pagamento da parte incontroversa das verbas rescisórias
acrescidas de 50%, caso não seja adimplida na primeira audiência. No caso
dos autos, a questão em debate cingiu-se à modalidade da rescisão contratual,
tendo a defesa alegado dispensa imotivada e a reclamante postulado o
reconhecimento de rescisão indireta, pedido obreiro que restou deferido.
Dessa forma, a discussão travada nos autos não afasta a incidência das
multas em questão. Isso porque o simples fato de as verbas rescisórias
decorrerem de pronunciamento judicial sobre determinado litígio, no caso
dos autos, o reconhecimento da rescisão indireta do contrato de trabalho, por
culpa do empregador, nos termos do art. 483, "d", da CLT, não afasta a
incidência da multa prevista no § 8º do art. 477 da CLT, pois referido
dispositivo legal assim não excepciona. Outrossim, não recai controvérsia
sobre as parcelas rescisórias a serem pagas, haja vista existir correspondência
das referidas verbas nas hipóteses de dispensa sem justa causa e rescisão
indireta, portanto, impõe-se o pagamento da multa prevista no art. 467 da
CLT. Recurso de Revista conhecido e provido. ( RR -
782-22.2012.5.01.0070 , Relator Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello
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Filho, Data de Julgamento: 25/03/2015, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT
31/03/2015).
[...] MULTA DO ART. 477, §8º, DA CLT. RESCISÃO
INDIRETA RECONHECIDA EM JUÍZO. No que se refere
àmultaprevista no artigo477da CLT, esta Corte vem adotando o
entendimento de que a penalidade em questão aplica-se sempre que houver
atraso no pagamento das verbas rescisórias, independentemente da dúvida a
respeito das obrigações rescisórias efetivamente devidas. Portanto, mesmo
tendo sido reconhecida em juízo a rescisão indireta, é devida a multa em
comento. Recurso de Revista não conhecido. ( RR - 1091-25.2012.5.08.0013
, Relator Ministro: Márcio Eurico Vitral Amaro, Data de Julgamento:
02/09/2015, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 04/09/2015).
Ante o exposto, nego provimento ao Recurso de Revista.
ISTO POSTO
ACORDAM os Ministros da Primeira Turma do Tribunal
Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do Recurso de Revista
apenas quanto ao tema "multa prevista no artigo 477, § 8º, da Consolidação
das Leis do Trabalho", por divergência jurisprudencial, e, no mérito,
negar-lhe provimento.
Brasília, 13 de abril de 2016.
Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)
MARCELO LAMEGO PERTENCE Desembargador Convocado Relator
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