30
Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204 Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. A C Ó R D Ã O (1ª Turma) GDCMP/lafj/ RESCISÃO INDIRETA. ATRASO NO RECOLHIMENTO DOS DEPÓSITOS DO FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO. 1. O recolhimento do FGTS configura obrigação de caráter social, transcendendo os limites do mero interesse individual do empregado. Tal circunstância revela a gravidade da conduta do empregador que, ao deixar de recolher as contribuições devidas ao FGTS, lesa, a um só tempo, o trabalhador – credor do direito da obrigação de natureza trabalhista, o Estado – também credor da obrigação por sua natureza parafiscal e, em última análise, toda a sociedade – beneficiária dos projetos sociais (com destaque para aqueles de natureza habitacional) custeados com recursos oriundos do Fundo. 2. A conduta do empregador caracteriza, assim, o fato tipificado na alínea d do artigo 483 da Consolidação das Leis do Trabalho, justificadora da rescisão indireta do contrato de emprego. Precedentes desta Corte superior. 3. Recurso de Revista não conhecido. RECURSO DE REVISTA. DANOS MORAIS. MORA CONTUMAZ NO PAGAMENTO DE SALÁRIOS OU ATRASO REITERADO. EFEITOS. OFENSA À DIGNIDADE DO TRABALHADOR. A mora contumaz no pagamento dos salários - ou o atraso reiterado, que se prolonga demasiadamente no tempo, produzindo efeitos equivalentes - não atinge apenas a esfera patrimonial do empregado, diante do comprometimento da sua subsistência e de sua família, uma vez que a obreira fica também limitada em sua capacidade de contrair obrigações financeiras com terceiros e de honrá-las no prazo avençado. Ademais, a condição de hipossuficiência do empregado inibe a exigência imediata Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

211017_2014_1460714400000

Embed Size (px)

DESCRIPTION

FA002

Citation preview

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

A C Ó R D Ã O

(1ª Turma)

GDCMP/lafj/

RESCISÃO INDIRETA. ATRASO NO

RECOLHIMENTO DOS DEPÓSITOS DO FUNDO DE

GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO. 1. O

recolhimento do FGTS configura

obrigação de caráter social,

transcendendo os limites do mero

interesse individual do empregado. Tal

circunstância revela a gravidade da

conduta do empregador que, ao deixar de

recolher as contribuições devidas ao

FGTS, lesa, a um só tempo, o trabalhador

– credor do direito da obrigação de

natureza trabalhista, o Estado – também

credor da obrigação por sua natureza

parafiscal e, em última análise, toda a

sociedade – beneficiária dos projetos

sociais (com destaque para aqueles de

natureza habitacional) custeados com

recursos oriundos do Fundo. 2. A conduta

do empregador caracteriza, assim, o

fato tipificado na alínea d do artigo

483 da Consolidação das Leis do

Trabalho, justificadora da rescisão

indireta do contrato de emprego.

Precedentes desta Corte superior. 3.

Recurso de Revista não conhecido.

RECURSO DE REVISTA. DANOS MORAIS. MORA

CONTUMAZ NO PAGAMENTO DE SALÁRIOS OU

ATRASO REITERADO. EFEITOS. OFENSA À

DIGNIDADE DO TRABALHADOR. A mora

contumaz no pagamento dos salários - ou

o atraso reiterado, que se prolonga

demasiadamente no tempo, produzindo

efeitos equivalentes - não atinge

apenas a esfera patrimonial do

empregado, diante do comprometimento da

sua subsistência e de sua família, uma

vez que a obreira fica também limitada

em sua capacidade de contrair

obrigações financeiras com terceiros e

de honrá-las no prazo avençado.

Ademais, a condição de hipossuficiência

do empregado inibe a exigência imediata

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.2

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

do pagamento dos salários em atraso,

porquanto de tal ato poderia resultar

retaliação por parte da empresa, pondo

em risco a própria incolumidade da

relação de emprego, com sacrifício do

seu único meio de sobrevivência. Nesse

contexto, esse ato patronal atenta

contra o valor social do trabalho – um

dos princípios fundantes da República

Federativa do Brasil. Inevitável,

portanto, reconhecer que o atraso

reiterado e prolongado no pagamento dos

salários caracteriza afronta à

dignidade do trabalhador, ensejando a

reparação por danos morais. Recurso de

Revista não conhecido.

MULTA POR ATRASO NO PAGAMENTO DAS VERBAS

RESCISÓRIAS. RESCISÃO INDIRETA

RECONHECIDA EM JUÍZO. 1. Tem-se

consolidado, neste colendo Tribunal

Superior, o entendimento de que o escopo

da penalidade prevista no artigo 477, §

8º, da Consolidação das Leis do Trabalho

é reprimir a atitude do empregador que

cause injustificado atraso no pagamento

das verbas rescisórias. 2. Esta Corte

uniformizadora havia sedimentado por

meio da Orientação Jurisprudencial n.º

351 da SBDI-I, entendimento no sentido

de que era indevida a multa prevista no

artigo 477, § 8º, da Consolidação das

Leis do Trabalho quando houvesse

fundada controvérsia quanto à

existência da obrigação cujo

inadimplemento gerou a multa.

Entretanto, o Tribunal Pleno desta

Corte superior cancelou a referida

orientação, por intermédio da Resolução

n.º 163, de 16/11/2009, publicada no DJe

em 20, 23 e 24/11/2009. 3. Assim, tem-se

que somente quando o trabalhador der

causa à mora não será devida a multa

prevista no artigo 477, § 8º, da

Consolidação das Leis do Trabalho. O

reconhecimento em juízo da rescisão

indireta não tem o condão de afastar a

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.3

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

incidência da multa. Precedentes desta

Corte superior. 4. Recurso de Revista

conhecido e não provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso

de Revista n° TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204, em que é Recorrente

COMUNIDADE EVANGÉLICA LUTERANA SÃO PAULO - CELSP e Recorrida DIVA FÁTIMA

ANDRIOLLI.

O egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região,

por meio do acórdão prolatado às fls. 187/196 dos autos físicos (pp.

374/392 do Sistema de Informações Judiciárias (eSIJ), aba “Visualizar

Todos (PDF)”), deu provimento parcial ao recurso ordinário interposto

pela reclamante para, reformando a sentença, declarar a rescisão indireta

do contrato de emprego e, por consequência, condenar a demandada ao

pagamento de verbas rescisórias e indenização por danos morais.

Inconformada, interpõe a reclamada o presente Recurso

de Revista, mediante as razões que aduz às fls. 202/205-verso dos autos

físicos (pp. 404/411 do eSIJ). Busca a reforma do julgado quanto aos temas

“rescisão indireta - atraso no recolhimento dos depósitos do fundo de

garantia do tempo de serviço", "danos morais - mora contumaz no pagamento

de salários ou atraso reiterado – efeitos - ofensa à dignidade do

trabalhador" e "multa prevista no artigo 477, § 8º, da Consolidação das

Leis do Trabalho", indicando ofensa a dispositivos de lei e da

Constituição da República, bem como divergência jurisprudencial.

O Recurso de Revista foi admitido por meio da decisão

proferida às fls. 209/210 dos autos físicos (pp. 418/420 do eSIJ).

Não foram apresentadas contrarrazões.

Autos não submetidos a parecer da douta

Procuradoria-Geral do Trabalho, à míngua de interesse público a tutelar.

É o relatório.

V O T O

I - CONHECIMENTO

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.4

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Observada a cláusula constitucional que resguarda o

ato jurídico (processual) perfeito (artigo 5º, XXXVI, da Constituição

da República), o cabimento e a admissibilidade deste Recurso de Revista

serão examinados à luz da legislação processual vigente à época da

publicação da decisão recorrida.

1 - PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS DE ADMISSIBILIDADE

RECURSAL.

O recurso é tempestivo [acórdão publicado em

30/5/2014, sexta-feira, conforme certidão lavrada à fl. 197 dos autos

físicos (p. 394 do eSIJ), e razões recursais protocolizadas em 9/6/2014,

à fl. 201 dos autos físicos (p. 402 do eSIJ)]. O depósito recursal foi

efetuado no valor legal [fls. 206/206-verso dos autos físicos (pp.

412/413 do eSIJ)] e as custas, recolhidas à fl. 207 dos autos físicos

(p. 414 do eSIJ). A reclamada está regularmente representada nos autos,

consoante procuração acostada à fl. 113 dos autos físicos (p. 226, eSIJ).

2 – PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS DE ADMISSIBILIDADE

RECURSAL.

RESCISÃO INDIRETA. ATRASO NO RECOLHIMENTO DOS

DEPÓSITOS DO FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO.

O Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, no

tocante ao tema em epígrafe, deu provimento parcial ao recurso ordinário

interposto pela reclamante para, reformando a sentença, reconhecer a

rescisão indireta do contrato de emprego firmado entre as partes.

Consignou, na oportunidade, os seguintes fundamentos, às fls.

188/189-verso dos autos físicos (pp. 376/379 do eSIJ):

1. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO.

A recorrente insurge-se contra a sentença que julgou improcedente o

pedido de reconhecimento de rescisão indireta do contrato de emprego

mantido entre as partes. Aduz que a recorrida vinha pagando reiteradamente

em atraso os salários da demandante, assim como não adimpliu os depósitos

do FGTS dos últimos anos do contrato. Refere que as faltas cometidas pela ré

se enquadram plenamente na norma contida no art. 483, d, da CLT.

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.5

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Pois bem.

A rescisão indireta é uma forma de extinção do vínculo empregatício

por iniciativa do trabalhador, mas motivada por falta grave praticada pelo

empregador. Registro que não é qualquer falta que enseja este tipo de

rescisão. O ato praticado pelo empregador deve ser de tal monta que

comprometa sobremaneira a continuidade da relação laboral. A falta grave,

na verdade, implica a quebra da confiança, da fidúcia ínsita do contrato de

trabalho.

A autora foi admitida em 25/04/2008 para exercer a função de

atendente de consultório dentário (ficha de registro de empregados, fl. 68).

Foi acordado na audiência registrada à fl. 47 que o encerramento da

prestação laboral se CTPS nesta data, sem prejuízo das teses defendidas nos

autos.

Conforme verifico no relatório da fl. 69, houve atraso no pagamento

dos salários entre julho de 2008 e julho de 2009 e o contrato de emprego

mantido entre as parte vigorou até maio de 2012. Logo, entendo que não há

proporcionalidade entre este ato faltoso do empregador com o pedido de

rescisão indireta realizada pela empregada somente em maio de 2012.

Ora, a demandante deixou transcorrer praticamente três anos para só

então demonstrar sua insatisfação com a conduta da empresa, vindo, somente

agora, em 2012, aventar a possibilidade de rescisão indireta por este motivo.

A situação narrada iguala-se, em muito, ao perdão tácito dado pelo

empregador ao empregado quando do cometimento de faltas ensejadoras da

justa causa do trabalhador, na qual o requisito fundamental é a

imediaticidade da punição. Não é de desconhecimento que, na rescisão

indireta, estes requisitos devem ser analisados com parcimônia, devendo

sofrer as devidas adequações em virtude do estado de subordinação do

obreiro e da necessidade de preservar o vínculo de emprego, que lhe garante

o seu sustento e o de sua família.

As lições de Maurício Godinho Delgado são esclarecedoras no tópico:

"Porém, no campo da rescisão indireta, os requisitos da

imediaticidade da insurgência obreira e do perdão tácito devem

merecer substantivas adequações. É que é muito distinta a

posição sócio jurídica do obreiro no contrato, em contraponto

àquela inerente ao empregador: afinal este tem os decisivos

poderes de direção, fiscalização e disciplinar, por meio dos quais

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.6

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

subordina, licitamente, o empegado." (Maurício Godinho

Delgado in Curso de Direito do Trabalho, fl. 1120, LTr, 8ª

edição, 2009).

Ocorre que, in casu, a recorrente deixou transcorrer muitos anos sem

oposição ao ato faltoso do empregador que, embora grave, foi atenuando

pelo transcurso do tempo. No caso, a falta de imediaticidade e o perdão tácito

atuaram em desfavor da trabalhadora.

Entretanto, a demandada não nega, seja em contestação, seja nas

razões recursais, que o pagamento dos depósitos do FGTS estivesse em

atraso. Além disso, os comprovantes de fls. 21-23 colacionados aos autos

pela parte autora revelam o recolhimento em atraso do FGTS referente aos

meses de maio e junho de 2008 e não recolhimento dos meses de agosto a

dezembro de 2008, janeiro e fevereiro de 2009 e dos anos de 2010 e 2011. A

ré, aliás, admite expressamente, como visto, em sua defesa, no sentido de que

houve atrasos no recolhimento do FGTS e que em alguns meses nem mesmo

houve depósitos (fl. 50).

Diversamente do entendido pela Julgadora de piso, tenho que tal

irregularidade é, de fato, motivo suficiente para caracterizar falta grave do

empregador, de modo a ensejar a rescisão indireta do contrato de trabalho,

ainda que para o saque a trabalhadora tenha de se sujeitar às hipóteses

previstas em lei. O recolhimento mensal do FGTS à conta vinculada do

empregado, embora acessório, constitui importante obrigação derivada do

contrato de trabalho, na medida em que determina e assegura a reserva

necessária ao trabalhador quando perde o emprego, devendo estar disponível

a todo momento, já que pode ser destinado à aquisição de casa própria ou

mesmo à utilização em situações específicas, previstas em lei (como doenças

- AIDS, v.g.), o que não pode ficar ao arbítrio do empregador. Na espécie,

evidenciada a ausência de recolhimento do FGTS em diversos meses do

contrato de trabalho, a ensejar, nos termos do art. 483, d, da CLT, o

reconhecimento de ato omissivo do empregador a inviabilizar a continuidade

da relação de emprego.

Por todo o acima exposto, dou provimento a este item do recurso da

autora para declarar a rescisão indireta do contrato de trabalho, com a

extinção do mesmo por justo motivo do empregador - rescisão indireta, e

condeno a demandada no pagamento de aviso prévio, multa de 40% sobre o

FGTS e multa prevista no art. 477, §8º da CLT. Não há falar em pagamento

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.7

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

das férias e da gratificação natalina proporcionais, pois tais parcelas já foram

objeto de condenação na decisão de primeiro grau. E tampouco em multa do

art. 467 da CLT, na medida em que todos os pedidos foram controvertidos.

Provido parcialmente.

Sustenta a reclamada, em suas razões de Recurso de

Revista, que a recorrida não comprovou qualquer atraso no pagamento de

verbas. Assevera que “estando ativo o contrato de trabalho, não há

prejuízo latente ao empregado quanto ao fato de os depósitos não serem

feitos rigorosamente em dia, ante as hipóteses legais para o levantamento

dos valores”. Alega que o eventual atraso nos depósitos do FGTS não

justifica a rescisão do contrato de emprego por justa causa empresarial.

Indica afronta aos artigos 7º, XXVI, da Constituição da República, 482,

483 e 818 da Consolidação das Leis do Trabalho, e 333, I, do Código de

Processo Civil de 1973. Transcreve arestos com o fito de demonstrar

dissenso de teses.

Ao exame.

A Corte de origem não abordou a questão sob o prisma

do artigo 7º, XXVI, da Constituição da República, tampouco fora instada,

por meio da interposição de embargos de declaração, a manifestar-se sobre

tal alegação deduzida em Recurso de Revista, o que atrai a incidência

do óbice contido na Súmula n.º 297, I, deste Tribunal Superior, por

ausência de prequestionamento.

O Tribunal Regional concluiu que resultou comprovado

o atraso nos depósitos do FGTS. Consignou a Corte de origem que

“Entretanto, a demandada não nega, seja em contestação, seja nas razões

recursais, que o pagamento dos depósitos do FGTS estivesse em atraso.

Além disso, os comprovantes de fls. 21-23 colacionados aos autos pela

parte autora revelam o recolhimento em atraso do FGTS referente aos meses

de maio e junho de 2008 e não recolhimento dos meses de agosto a dezembro

de 2008, janeiro e fevereiro de 2009 e dos anos de 2010 e 2011. A ré,

aliás, admite expressamente, como visto, em sua defesa, no sentido de

que houve atrasos no recolhimento do FGTS e que em alguns meses nem mesmo

houve depósitos (fl. 50).” [fl. 189 dos autos físicos (p. 378, eSIJ)].

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.8

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Assim, para se reformar a decisão proferida pelo

egrégio Tribunal Regional, forçoso seria o reexame do conjunto fático

probatório dos autos – procedimento inviável em sede de Recurso de

Revista, nos termos da Súmula n.º 126 desta Corte superior.

Cinge-se a controvérsia, portanto, em definir se o

descumprimento de determinadas obrigações por parte do empregador, tais

como o recolhimento do FGTS, enseja a rescisão indireta do contrato de

emprego.

Dispõe o artigo 483, alínea d, da Consolidação das Leis

do Trabalho:

Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e

pleitear a devida indenização quando:

................................................................................................................

d) não cumprir o empregador com as obrigações do contrato.

A omissão patronal na efetivação do recolhimento dos

depósitos devidos a título de FGTS constitui fato consignado

expressamente no acórdão recorrido. Tal conduta corresponde à negativa

de cumprimento das obrigações contratuais a cargo do empregador,

constituindo, portanto, fato tipificador da hipótese prevista na alínea

d do artigo 483 da Consolidação das Leis do Trabalho. Extrai-se daí

motivação suficiente para que o empregado considere rescindido

indiretamente o contrato de emprego.

Observe-se que o recolhimento do FGTS configura

obrigação de caráter social, transcendendo os limites do mero interesse

individual do empregado. Tal circunstância revela gravidade ainda maior

da conduta do empregador que, ao deixar de recolher as contribuições

devidas ao FGTS, lesa, a um só tempo, o trabalhador – credor do direito

da obrigação de natureza trabalhista, o Estado – também credor da

obrigação por sua natureza parafiscal - e, em última análise, toda a

sociedade – beneficiária dos projetos sociais custeados com recursos

oriundos do FGTS (com destaque para aqueles de natureza habitacional).

Observem-se, nesse sentido, os seguintes precedentes

desta Corte superior:

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.9

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO.

INSUFICIÊNCIA DE RECOLHIMENTO DO FGTS. A insuficiência de

recolhimento do FGTS constitui motivo para a rescisão indireta do contrato

de trabalho, de acordo com o artigo 483, alínea "d", da Consolidação das Leis

do Trabalho. Precedentes deste Tribunal. Recurso de embargos conhecido e

provido. (E-RR-3389200-67.2007.5.09.0002, Relator Ministro: Renato de

Lacerda Paiva, Data de Julgamento: 02/08/2012, Subseção I Especializada

em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 16/11/2012).

RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI 11.496/2007.

PRELIMINAR DE NULIDADE DO ACÓRDÃO RECORRIDO POR

NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. (...)

RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO.

AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO DO FGTS. ART. 483 DA CLT.

Hipótese em que nas instâncias ordinárias decidiu-se que o fato de a

empregadora negligenciar habitualmente o cumprimento de prestações

legais, em especial a obrigação de recolher o FGTS, não configurava rescisão

indireta. A Turma do TST, a seu turno, considerou que nessas circunstâncias

não haveria violação do art. 483, "d", da CLT, mas, sim, interpretação

razoável do dispositivo, e invocou a Súmula 221, II, do TST. Superada

eventual controvérsia acerca do conhecimento do apelo, uma vez que a

decisão turmária, ainda que não renda ensejo ao conhecimento dos embargos

por contrariedade direta ao verbete (Súmula 221, II, do TST), apresenta

conteúdo de mérito suficiente a autorizar o cotejo de teses. Afinal,

diversamente do que sucede com as súmulas de função apenas instrumental

(súmulas 23, 126, 296, 297 etc.), cuja adoção inviabiliza a emissão de

qualquer juízo, a aplicação da Súmula 221, II reporta-se a um juízo de

razoabilidade e pode render ensejo a Recurso de Revista por meio do qual se

invoque a exegese literal e intransponível do preceito legal interpretado,

afigurando-se adequado, via de consequência, que se conheça igualmente de

embargos quando se apresentem arestos que divirjam quanto à razoabilidade

da exegese dada, frente à interpretação literal que se impunha. Assim, a

apresentação de aresto paradigma no qual enquadrada tal conduta patronal na

prescrição do art. 483, "d", da CLT, viabiliza o conhecimento dos embargos.

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.10

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Quanto ao mérito, o entendimento assente na jurisprudência majoritária

desta Corte Superior, em julgados da Subseção 1 Especializada em Dissídios

Individuais, bem como de todas as oito Turmas, é no sentido de que a

ausência de recolhimento de valores devidos a título de FGTS, por parte do

empregador, no curso do contrato de trabalho autoriza a rescisão indireta. E

esse entendimento ampara-se justamente no artigo 483, "d", da CLT,

segundo o qual o empregado poderá considerar rescindido o contrato e

pleitear a devida indenização quando o empregador não cumprir as

obrigações do contrato. Recurso de embargos conhecido e provido. (...)

(E-ED-RR-114400-18.2002.5.15.0033, Relator Ministro: Augusto César

Leite de Carvalho, Data de Julgamento: 30/08/2012, Subseção I

Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT

10/09/2012).

RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO.

IRREGULARIDADE NO RECOLHIMENTO DO FGTS. O não

recolhimento ou o recolhimento a menor dos valores alusivos ao FGTS

constitui falta grave suficiente, por si só, para configurar a hipótese descrita

no art. 483, alínea "d", da CLT e para justificar a rescisão indireta do contrato

de trabalho. Recurso de Embargos de que se conhece e a que se dá

provimento. (E-RR-19000-57.2005.5.09.0091, Relator Ministro: João

Batista Brito Pereira, Data de Julgamento: 01/03/2012, Subseção I

Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT

16/03/2012).

RESCISÃO INDIRETA. RECOLHIMENTO IRREGULAR

PARA O FGTS. CONFIGURAÇÃO. 1. Decisão regional que decreta a

rescisão indireta com base, dentre outros, na irregularidade dos depósitos

para o FGTS. 2. A jurisprudência deste Tribunal Superior é pacífica no

sentido de que a ausência de recolhimento dos depósitos do FGTS, ou seu

recolhimento irregular, por si só, configura ato faltoso do empregador cuja

gravidade é suficiente para ensejar a rescisão indireta do contrato de

trabalho. 3. Outrossim, uma vez afastada a intenção do reclamante de

abandonar o emprego, conclui-se que a pretensão recursal possui contornos

fático-probatórios, cujo reexame é obstado no âmbito desta Corte, ex vi da

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.11

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Súmula 126/TST. 4. Inviolados os artigo 482, "i", e 818 da CLT e 333 do

CPC. Aplicação da alínea "a" do artigo 896 da CLT e da OJ 111 da SDI-1 e

das Súmulas 126 e 296, ambas do TST. Agravo de instrumento integralmente

conhecido e não provido (AIRR - 53940-34.2006.5.02.0018 , Relator

Ministro: Hugo Carlos Scheuermann, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT

04/03/2016).

RECURSO DE REVISTA. RESCISÃO INDIRETA.

IRREGULARIDADE NO RECOLHIMENTO DOS DEPÓSITOS DO

FGTS. O descumprimento de obrigações contratuais pelo empregador,

notadamente no que diz respeito à efetivação dos depósitos de FGTS,

configura falta grave. Tal situação, nos termos do art. 483, "d", da CLT,

autoriza o rompimento indireto do vínculo empregatício e a consequente

condenação do empregador ao pagamento das verbas rescisórias. Recurso de

Revista conhecido e provido. (RR-528-95.2012.5.09.0015, Relatora Ministra

Delaíde Miranda Arantes, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT

28/08/2015).

RECURSO DE REVISTA. INCORREÇÃO DOS DEPÓSITOS

DO FGTS. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE

TRABALHO. A jurisprudência pacífica desta Corte é no sentido de que o

não recolhimento dos depósitos do FGTS, ou mesmo o seu recolhimento

parcial, configura hipótese de rescisão indireta do contrato de trabalho.

Estando incontroverso que a empresa não efetuou o recolhimento do FGTS

na forma estabelecida em lei, mostra-se evidente a ocorrência da hipótese

prevista no art. 483, "d", da CLT. Precedentes. Recurso de Revista não

conhecido (RR-46500-10.2013.5.13.0026, Relator Ministro Alexandre de

Souza Agra Belmonte, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 18/09/2015).

RECURSO DE REVISTA. RESCISÃO INDIRETA DO

CONTRATO DE TRABALHO. IRREGULARIDADE NO

RECOLHIMENTO DO FGTS. FALTA GRAVE DO EMPREGADOR.

Firmou-se o entendimento, no âmbito desta Corte, de que o atraso no

pagamento e a ausência de regularidade no recolhimento do FGTS por parte

do empregador constitui motivo suficiente para dar ensejo à rescisão indireta,

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.12

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

nos termos do art. 483, "d", da CLT. Recurso de Revista parcialmente

conhecido e provido (RR- 1274-60.2013.5.09.0133, Relatora Ministra:

Maria de Assis Calsing, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 06/03/2015).

RECURSO DE REVISTA. ADMISSIBILIDADE. RESCISÃO

INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO. ARTIGO 483, d, DA

CLT. NÃO RECOLHIMENTO DO FGTS. A redação da alínea "d" do

artigo 483 da CLT não encerra dúvida em relação à sua aplicabilidade. Não

obstante opiniões em contrário, as obrigações contratuais inadimplidas pelo

empregador não podem ser relativizadas, de modo a não se reconhecer como

falta de relevância o não recolhimento das contribuições para o FGTS.

Evidencia-se, pois, que a falta cometida pela reclamada não se afigura leve.

O não recolhimento das contribuições para o FGTS, embora possa não

representar um impacto direto no salário mensal, constitui real ameaça à

única garantia à disposição do empregado para fazer face à dispensa

imotivada, razão por que representa direito de amplo alcance social, cuja

imperatividade não admite o uso de evasivas. Precedentes. Recurso de

Revista conhecido e provido (RR-121-07.2013.5.12.0004, Relator Ministro

Emmanoel Pereira, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 06/03/2015).

RECURSO DE REVISTA. RECLAMANTE. (...) RESCISÃO

INDIRETA. RECOLHIMENTO IRREGULAR DO FGTS.

CABIMENTO. Nos termos da jurisprudência desta Corte, o

descumprimento de obrigações essenciais ao emprego, como é o caso dos

depósitos do FGTS, enseja rescisão indireta do contrato de trabalho, nos

termos do art. 483, d, da CLT. Recurso de Revista de que se conhece e a que

se dá provimento. (RR-1595-90.2011.5.01.0003, Relatora Ministra Kátia

Magalhães Arruda, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 22/05/2015).

RECURSO DE REVISTA EM FACE DE DECISÃO

PUBLICADA ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014.

RESCISÃO INDIRETA. IRREGULARIDADE NOS

RECOLHIMENTOS DOS DEPÓSITOS DO FGTS. Esta Corte Superior

tem trilhado o entendimento no sentido de que a ausência ou irregularidade

no recolhimento dos depósitos do FGTS constitui motivo suficiente para dar

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.13

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

ensejo à rescisão indireta do contrato de trabalho, nos termos do artigo 483,

"d", da CLT. Recurso de Revista de que se conhece e a que se dá provimento

(RR-602-27.2012.5.02.0054, Relator Ministro Cláudio Mascarenhas

Brandão, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 07/08/2015).

I - RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE - RESCISÃO

INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO. IRREGULARIDADE

NO RECOLHIMENTO DO FGTS. A jurisprudência deste Tribunal tem se

firmado no sentido de que a irregularidade ou ausência de recolhimento do

FGTS constitui falta grave suficiente para configurar a hipótese do art. 483,

"d", da CLT e ensejar a rescisão indireta do contrato de trabalho. Recurso de

Revista conhecido e provido (RR - 341-24.2010.5.09.0091 , Relator

Ministro: Márcio Eurico Vitral Amaro, 8ª Turma, Data de Publicação:

DEJT 11/12/2015)

Incólumes, portanto, os dispositivos apontados como

violados pela recorrente. Ademais, revelando a decisão regional

consonância com a atual, notória e iterativa jurisprudência desta Corte

uniformizadora, mostra-se inviável o seguimento do Recurso de Revista

por dissenso jurisprudencial, ante a incidência da Súmula n.º 333 do

Tribunal Superior do Trabalho e do disposto no artigo 896, § 4º, da

Consolidação das Leis do Trabalho, com a redação anterior à conferida

pela Lei n.º 13.015/2014.

Não conheço do Recurso de Revista.

DANOS MORAIS. MORA CONTUMAZ NO PAGAMENTO DE SALÁRIOS

OU ATRASO REITERADO.

O Tribunal Regional, no tocante ao tópico em apreço,

deu provimento ao recurso ordinário interposto pela reclamante. Valeu-se

dos seguintes fundamentos, consignados às fls. 189-verso/194-verso dos

autos físicos (pp. 379/389 do eSIJ):

2. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. REITERADO ATRASO

NO PAGAMENTO DE SALÁRIOS.

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.14

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

A Julgadora de origem indeferiu o pleito da obreira no que tange ao

pedido de indenização por danos morais, sob o fundamento de que o atraso

no adimplemento dos salários não é motivo suficiente para ensejar a

condenação no pagamento de indenização por danos morais.

Analiso.

Consoante observo do recurso ordinário, a autora se volta contra a

sentença quanto ao indeferimento de indenizações por danos morais e

materiais. No entanto, os danos materiais remetem aos próprios direitos que

estão sendo reconhecidos, ou seja, ausência/diferenças de FGTS, objeto da

condenação.

Não há outros aspectos a serem considerados, em que pese a narrativa

inicial do recurso ordinário quanto a danos materiais, reitero. De qualquer

forma, e ainda que assim não fosse, a sentença nada refere ao título, e

também não foi alvo de embargos pela parte autora. Assim, nada há para

examinar acerca de danos materiais.

Passo ao exame dos danos morais.

Inconformada com a decisão de origem, a autora recorre. Sustenta que

o atraso reiterado no pagamento dos salários, bem como a humilhação

sofrida na reunião realizada para a discussão sobre o pagamento ou não das

férias na data de 03.01.2012, ensejam motivos de sobra a caracterizar a

rescisão indireta do contrato. Pugna, dessa forma, pela reforma da sentença

para obter a condenação da ré na paga de indenização por danos morais.

Neste sentido, tem-se que o pedido de pagamento de indenização por

danos morais possui dois pressupostos: a mora salarial e o constrangimento

ilegal a que foi submetida a trabalhadora.

No tocante ao atraso reiterado no pagamento dos salários, a análise do

relatório de pagamento individual colacionado à fl. 69 permite concluir que,

de fato, a ré satisfez com atraso o pagamento da remuneração da autora nos

anos de 2008 e 2009. Cito, apenas a título exemplificativo, o mês de

setembro de 2008, em que o salário foi pago apenas no dia 15 do mês

seguinte, assim como os meses de dezembro de 2008 e janeiro de 2009, em

que a contraprestação remuneratória foi depositada, respectivamente,

somente nos dias 26/01/2009 e 20/02/2009. Não resta dúvida de que o atraso

no pagamento dos salários causa enormes transtornos à esfera do

trabalhador, tanto patrimonial quanto extrapatrimonial. Assim, em que pese

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.15

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

não possa, pela falta de imediatidade, ensejar o pedido de rescisão indireta,

como visto acima, evidente que a prática denunciada pela trabalhadora, ao

longo dos anos, enseja a prestação jurisdicional requerida.

Ora, assumir os riscos da atividade econômica é condição inerente ao

empregador, não podendo ser repassada ao trabalhador em hipótese alguma.

O respeito à legislação trabalhista e ao trabalhador é condição fundamental

para o desenvolvimento sustentável da sociedade e para o cumprimento dos

princípios fundamentais da República concernentes ao valor social do

trabalho e dignidade da pessoa humana. Por óbvio que as condutas que

violam a legislação social, notadamente as atitudes abusivas dos

empregadores que se valem de sua posição econômica para impor condições

aviltantes às pessoas que necessitam vender sua força de trabalho, dentro de

seu microcosmo legiferante (empresa), constituem macro lesões que

afrontam a própria existência do Estado.

O salário é a principal contraprestação devida pelo empregador no

contrato de trabalho por constituir a remuneração da força de trabalho

despendida pelo empregado e a razão de sua subsistência, assim, tem

inegável caráter ALIMENTAR.

Por isto mesmo, o crédito trabalhista goza de super privilégio na

hierarquia creditícia brasileira, conforme previsão legal (art. 83, I, da Lei

11.101/05 - Lei das Falências, e art. 449 da CLT), inclusive se sobrepondo ao

crédito tributário, na consonância da disposição do art. 186 do Código

Tributário Nacional ("o crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual

for a natureza ou o tempo da constituição deste, ressalvados os créditos

decorrentes da legislação do trabalho").

Tal preferência desdobra-se no direito processual do trabalho, com a

previsão do parágrafo único do art. 652 da CLT, de que os créditos de

natureza salarial terão preferência para julgamento.

De sorte que a dimensão da violação à ordem jurídico social que se

perpetra com a conduta de retenção/atraso na paga de salários (aí incluídas

também as verbas rescisórias) alcança espectro múltiplo e de alto potencial

de nocividade às vítimas e à sociedade, sendo diversos os dispositivos e

princípios constitucionais desprezados (e.g., arts. 1º, III e IV, 170, caput, e

193, caput, da Constituição Federal), além de tratar-se de comportamento

rechaçado pela legislação pátria na categoria de crime (art. 7º, X, da CF, c/c

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.16

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

art. 4º do Dec. Lei 368/68), consubstanciando, assim, fundamente relevante

para se entender configurado o dano moral in re ipsa.

E conquanto até a presente data não tenha havido regulamentação do

art. 7º, X, da CF, a lacuna pode ser preenchida com o citado Decreto-Lei

368/68 (dispõe sobre efeitos de débitos salariais e dá outras providências),

que trabalha dois conceitos distintos: primeiro - o débito salarial: de acordo

com o parágrafo único do art. 1º, é o não pagamento, no prazo e nas

condições da lei ou do contrato, do salário devido aos empregados, caso em

que os diretores, sócios, gerentes, membros de órgãos fiscais ou consultivos,

titulares de firma individual ou quaisquer outros dirigentes de empresa

responsável, não poderão pagar honorário, gratificação, pro labore ou

qualquer outro tipo de retribuição ou retirada a seus diretores, sócios,

gerentes ou titulares da firma individual; nem distribuir quaisquer lucros,

bonificações, dividendos ou interesses a seus sócios, titulares, acionistas, ou

membros de órgãos dirigentes, fiscais ou consultivos; a empresa também não

poderá ser dissolvida; segundo - mora contumaz: segundo o § 1º do art. 2º,

"considera-se mora contumaz o atraso ou sonegação de salários devidos aos

empregados, por período igual ou superior a 3 (três) meses, sem motivo

grave e relevante, excluídas as causas pertinentes ao risco do

empreendimento". Nesta hipótese, além das proibições supra, não poderá

haver favorecimento com qualquer benefício de natureza fiscal, tributária, ou

financeira, por parte de órgãos da União, dos Estados ou dos Municípios, ou

de que estes participem, salvo se a operação de crédito se destinar à

liquidação dos débitos salariais existentes.

Verifica-se aqui a dimensão múltipla e a gravidade da violação social

atinente à mora salarial, com inafastáveis implicações de ordem civil

(trabalhista e dano moral). O dano moral, sem dúvida, prescinde de provas

(in re ipsa).

Nos tempos que correm, ninguém está obrigado a suportar mora de sua

renda, quando atrasados restam, por consequência pelo mesmo período do

não recebimento de salário, luz, água, prestação de imóvel ou aluguel,

prestação do carro, etc.

E considerando o arcabouço de princípios protetivos relativos ao

salário, notadamente os da pontualidade e da intangibilidade, estampados

nos arts. 459 e 462 da CLT, e, também, o ônus da prova do empregador

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.17

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

quanto à paga de salários (art. 464 da CLT), e a distribuição do ônus da prova

pela aptidão de sua produção (arts. 355, 357 e 359 do CPC, c/c art. 6º, VIII,

do CDC; CLT, art. 769), em caso de débito salarial, cabe ao empregador

acionado demonstrar em juízo o evento não intencional e que possa ser

escusado - ou seja, que pelo princípio da razoabilidade, possa ser

compreendido como não causado por sua conduta (caso fortuito, força maior,

fato do príncipe, ato de terceiro), mas excluídos sempre os riscos do

empreendimento.

Com efeito, de acordo com os arts. 2º e 3º da CLT, os riscos do

empreendimento devem ser suportados exclusivamente pelo empregador, de

forma que dificuldades encontradas no cenário econômico-financeiro e

falência da empresa não têm o condão de frustrar o direito ao pagamento

integral e tempestivo das parcelas trabalhistas, de caráter nitidamente

alimentar.

Aqui, o fato do inadimplemento do pagamento dos salários nos anos de

2008 e 2009, possui relevância. Ora, ainda que a mora salarial tenha ocorrido

há muitos anos atrás, tal fato ensejou, com certeza, dificuldades financeiras e

constrangimentos perante à sociedade à recorrente.

Nesse passo, entendo configurado o ato ilícito, o nexo causal e o abalo

moral, diante dos atrasos no pagamento de salários o que torna devida a

indenização à autora.

Sustenta a demandada, em seu arrazoado, que o atraso

no pagamento dos salários da reclamante, por si só, não fere direitos

da personalidade do trabalhador. Alega que a obreira não se desincumbiu

de seu ônus probatório, qual seja, de comprovar a existência de prejuízo

extrapatrimonial decorrente dos referidos atrasos. Pugna, por cautela,

do valor atribuído à condenação. Aponta afronta aos artigos 818 da

Consolidação das Leis do Trabalho e 333, I, do Código de Processo Civil

de 1973. Transcreve arestos com o fito de demonstrar dissenso de teses.

Ao exame.

Cinge-se a controvérsia a definir se o atraso

reiterado no pagamento dos salários induz ou não à presunção de afronta

aos direitos de personalidade do empregado.

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.18

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Dispõe o artigo 2º, § 1º, do Decreto-Lei n.º 368/68,

que:

Art. – 2º (...)

§ 1º - Considera-se mora contumaz o atraso ou sonegação de salários

devidos aos empregados, por período igual ou superior a três meses, sem

motivo grave e relevante, excluídas as causas pertinentes ao risco do

empreendimento.

A mora contumaz no pagamento dos salários - ou o atraso

reiterado, que se prolonga demasiadamente no tempo, produzindo efeitos

equivalentes - não atinge apenas a esfera patrimonial do empregado,

diante do comprometimento da sua subsistência e de sua família, ficando

o obreiro também impedido de contrair obrigações financeiras com

terceiros e de honrá-las no prazo avençado.

O Tribunal Regional, soberano no exame do conjunto

fático probatório dos autos, registrou que houve atrasos nos pagamentos

dos salários.

Quanto à caracterização do dano decorrente da mora

salarial, cumpre realçar que o salário ostenta natureza alimentar e que,

via de regra, é por meio da entrega de sua força de trabalho que o

trabalhador aufere os meios de subsistência para si e para sua família.

Tal ótica não pode ser olvidada no exame do caso em apreço, porquanto

o ato ilícito perpetrado pela empresa atinge exatamente elemento central

para a manutenção da vida do empregado e de sua família, além de

comprometer a sua participação, de forma honrada e íntegra, nas relações

sociais, principalmente no que se refere ao pagamento de suas dívidas

e obrigações com prazos previamente estipulados.

É completamente dispensável exigir do empregado prova

efetiva do abalo psicológico ou do constrangimento ilegal decorrentes

da ausência do recebimento dos salários na data aprazada, porquanto do

evento danoso alegado é possível inferir a existência de prejuízo

manifesto, a demandar a reparação civil do empregador. Trata-se de

hipótese que, dada a reiteração da conduta lesiva do empregador,

permite-se cogitar de dano in re ipsa.

Com efeito, a vida na sociedade capitalista acarreta

necessidades de consumo cuja provisão gera obrigações financeiras a serem

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.19

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

satisfeitas em prazo certo – quando não imediatamente. Num tal contexto,

a irregularidade no recebimento dos salários, decorrentes da

impontualidade do empregador, acarreta consideráveis dificuldades para

o empregado, a par de comprometer a sua honra e imagem perante terceiros.

Vislumbra-se, daí, a existência inequívoca do dano, agravado pela

condição de hipossuficiência do empregado. Dada a contumácia da empresa

em pagar os salários com atraso, fica o trabalhador limitado na sua

capacidade de contrair obrigações financeiras com terceiros, uma vez que

não sabe se poderá honrá-las no prazo avençado. É ainda difícil para o

trabalhador, por não desfrutar de condições de igualdade com o

empregador, adotar medidas visando a exigir o imediato pagamento dos

salários, porquanto tal ato provavelmente resultaria em sacrifício do

seu meio de subsistência. Fica a obreira, assim, refém da situação, sem

meios para se haver com dignidade perante seus pares e sem autonomia para

se opor à atitude patronal, que se revela atentatória ao valor social

do trabalho e à função social da propriedade privada.

Cumpre destacar que a afronta à dignidade do

trabalhador enseja o reconhecimento da violação dos direitos da

personalidade do empregado.

As consequências da inadimplência contratual são

necessariamente diferentes para os contratos de natureza civil e os

contratos de emprego. No caso de contrato civil, a natureza da obrigação,

via de regra, é meramente patrimonial. Já no direito do trabalho, a

obrigação do contratante de pagar salários ostenta natureza alimentar,

não se elidindo as consequências danosas do inadimplemento com o mero

pagamento de juros. Afinal, a conduta ilegal e abusiva do empregador põe

em risco a sobrevivência do contratado e de sua família, bem como

inviabiliza a satisfação de compromissos financeiros contraídos pelo

trabalhador com terceiros.

Não há buscar, assim, inspiração no direito civil para

solucionar controvérsia trabalhista, relacionada com o não pagamento

contumaz de salários.

Embora a situação de mora salarial permita ao

trabalhador promover a rescisão indireta do contrato de emprego, tal

faculdade acaba fortemente mitigada pela realidade que se impõe ao

empregado, dada a sua situação de hipossuficiência. Tais circunstâncias

não podem, em absoluto, resultar ignoradas pela Justiça do Trabalho.

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.20

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Nesse sentido, trilham os seguintes precedentes da

SBDI-I deste Tribunal Superior:

EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO

SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.015/2014. DANO MORAL.

COMPENSAÇÃO. ATRASO REITERADO NO PAGAMENTO DE

SALÁRIOS. NÃO PROVIMENTO. 1. Segundo a atual jurisprudência

desta Corte Superior, o atraso reiterado no pagamento de salários, por si só,

gera lesão aos direitos da personalidade, uma vez que impede o empregado

de honrar os seus compromissos e prover o sustento próprio e de sua família,

presumindo-se o dano em tais casos. Precedentes. Ressalva de entendimento

do Relator. 2. Recurso de embargos de que se conhece e a que se nega

provimento (TST - E-RR - 1250-49.2012.5.04.0701 , Relator Ministro:

Guilherme Augusto Caputo Bastos, Subseção I Especializada em Dissídios

Individuais, Data de Publicação: DEJT 18/03/2016).

DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. ATRASO REITERADO NO

PAGAMENTO DE SALÁRIOS 1. A mora salarial reiterada acarreta, por si

só, lesão aos direitos da personalidade, porque o empregado não consegue

honrar compromissos assumidos e tampouco prover o sustento próprio e de

sua família. A lesão à dignidade do empregado nesse caso é presumida.

Precedentes da SbDI-1 do TST. 2. Embargos da Reclamante de que se

conhece, por divergência jurisprudencial, e a que se dá provimento (TST -

E-ARR - 155400-04.2011.5.17.0008 , Relator Ministro: João Oreste

Dalazen, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de

Publicação: DEJT 11/03/2016).

RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI 11.496/2007.

DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. ATRASO NO PAGAMENTO

DOS SALÁRIOS. DANO IN RE IPSA. DIREITO FUNDAMENTAL

DE ORDEM SOCIAL. Imperativo reconhecer que a mora do empregador

gera ipso facto um dano também extrapatrimonial quando não se cuida, por

exemplo, de verbas acessórias ou salário diferido, mas daquela parte nuclear

do salário imprescindível para o empregado honrar suas obrigações mensais

relativas às necessidades básicas com alimentação, moradia, higiene,

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.21

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

transporte, educação e saúde. O inevitável constrangimento frente aos

provedores de suas necessidades vitais configura um dano in re ipsa,

mormente quando consignado que era reiterada a conduta patronal em

atrasar o pagamento dos salários. A ordem constitucional instaurada em 1988

consagrou a dignidade da pessoa humana como princípio fundamental da

República, contemplando suas diversas vertentes - pessoal, social, física,

psíquica, profissional, cultural, etc., e alçando também ao patamar de direito

fundamental as garantias inerentes a cada uma dessas esferas. Assim, o

legislador constituinte cuidou de detalhar no art.5º, caput e incisos, aqueles

direitos mais ligados ao indivíduo, e nos arts. 6º a 11 os sociais, com ênfase

nos direitos relativos à atividade laboral (arts. 7º a 11). Dessa forma, o

exercício dessa dignidade está assegurado não só pelo direito à vida, como

expressão da integridade física apenas. A garantia há de ser verificada nas

vertentes concretas do seu exercício, como acima delineado, mediante o

atendimento das necessidades básicas indispensáveis à concretização de

direitos da liberdade e de outros direitos sociais, todos eles alcançáveis por

meio do trabalho. O direito fundamental ao trabalho (art. 6º, caput, da CF)

importa direito a trabalho digno, cuja vulneração gera o direito, igualmente

fundamental, à reparação de ordem moral correspondente (art. 5º, V e X,

CF). A exigência de comprovação de dano efetivo, tal como inscrição a nos

órgãos de proteção ao crédito ou o pagamento de contas em atraso, não se

coaduna com a própria natureza do dano moral. Trata-se de lesão de ordem

psíquica que prescinde de comprovação. A prova em tais casos está

associada apenas à ocorrência de um fato (atraso nos salários) capaz de gerar,

no trabalhador, o grave abalo psíquico que resulta inexoravelmente da

incerteza quanto à possibilidade de arcar com a compra, para si e sua família,

de alimentos, remédios, moradia, educação, transporte e lazer. Precedentes

de todas as oito Turmas da Corte. Recurso de embargos conhecido e não

provido (TST - E-RR - 971-95.2012.5.22.0108 , Relator Ministro: Augusto

César Leite de Carvalho, Data de Julgamento: 23/10/2014, Subseção I

Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT

31/10/2014).

Cumpre invocar, ainda, os seguintes precedentes desta

Corte superior no sentido do reconhecimento de que o atraso reiterado

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.22

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

no pagamento dos salários acarreta prejuízos extrapatrimoniais ao

empregado:

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. MORA REITERADA

NO PAGAMENTO DE SALÁRIOS. DESNECESSIDADE DE

COMPROVAÇÃO DE PREJUÍZO. DANO IN RE IPSA. No caso,

registrou o Tribunal Regional que -Com efeito, dos extratos juntados aos

autos, constata-se ter a autora recebido com atraso o pagamento de diversos

salários, a exemplo dos meses de março de 2008 (data de pagamento,

09.04.2008), maio de 2009 (data de pagamento, 09.06.2009 - fl. 119),

janeiro, fevereiro e março de 2009 (pagamento em 11.02.2009, 16.03.2009 e

24.04.2009, respectivamente, fl. 119), entre outros, conforme folha de

pagamento juntada à contestação pela reclamada-. O empregado oferece sua

força de trabalho, em troca de pagamento correspondente para a sua

sobrevivência. Se não recebe seus salários na época aprazada, fica impedido

de arcar com os custos de sua subsistência e de sua família. Frisa-se que o

salário possui natureza alimentar. Ressalta-se que é extremamente fácil

inferir o abalo psicológico ou constrangimento sofrido por aquele que não

possui condições de saldar seus compromissos na data estipulada porque não

recebeu seus salários em dia de forma reiterada. Nessas circunstâncias, é

presumível que a empregada se sentia insegura e apreensiva, pois não sabia

se receberia seu salário no prazo legal. Portanto, o reiterado ato ilícito

praticado pela reclamada acarreta dano moral in re ipsa, que dispensa

comprovação da existência e da extensão, sendo presumível em razão do fato

danoso - não recebimento dos salários na época certa. Dessa forma, não se

cogita da necessidade de a reclamante comprovar que o pagamento dos seus

salários com atraso teria acarretado prejuízo psicológico e íntimo ou afetado

sua imagem e honra. Recurso de Revista não conhecido. (ARR -

10128-55.2013.5.04.0271, Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta,

Data de Julgamento: 24/09/2014, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT

03/10/2014).

RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE. ATRASO

REITERADO NO PAGAMENTO DE SALÁRIOS. DANO MORAL.

CONFIGURAÇÃO PELA SIMPLES OCORRÊNCIA DO FATO. 1.

Restou incontroverso, nos autos, o atraso no pagamento de salários. 2. O

dano moral se configura pela mudança do estado psíquico do ofendido,

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.23

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

submetido pelo agressor a desconforto superior àqueles que lhe infligem as

condições normais de sua vida. 3. O patrimônio moral está garantido pela

Constituição Federal, quando firma a dignidade da pessoa humana como um

dos fundamentos da República, estendendo sua proteção à vida, liberdade,

igualdade, intimidade, honra e imagem, ao mesmo tempo em que condena

tratamentos degradantes e garante a reparação por dano (arts. 1º, III, e 5º,

-caput- e incisos III, V, e X). 4. No diálogo sinalagmático que se estabelece

no contrato individual de trabalho, incumbe ao empregador proceder,

tempestivamente, ao pagamento de salários (CLT, art. 459, § 1º). 5. O atraso

reiterado no pagamento de salários claramente compromete a regularidade

das obrigações do trabalhador, sem falar no próprio sustento e da sua família,

quando houver, criando estado de permanente apreensão, que, por óbvio,

compromete toda a vida do empregado. 6. Tal estado de angústia resta

configurado sempre que se verifica o atraso costumeiro no pagamento dos

salários - -damnum in re ipsa-. 7. Ao contrário do dano material, que exige

prova concreta do prejuízo sofrido pela vítima a ensejar o pagamento de

danos emergentes e de lucros cessantes, nos termos do art. 402 do Código

Civil, desnecessária a prova do prejuízo moral, pois presumido da violação

da personalidade do ofendido, autorizando que o juiz arbitre valor para

compensá-lo financeiramente. 8. O simples fato de o ordenamento jurídico

prever consequências jurídicas ao ato faltoso do empregador, no caso a

rescisão indireta do contrato de trabalho, com a condenação da empresa às

reparações cabíveis (pagamento de diferenças e prejuízos, com juros e

correção monetária), nos termos dos arts. 483, -d-, e 484 da CLT, não

prejudica a pretensão de indenização por dano moral, consideradas as facetas

diversas das lesões e o princípio constitucional do solidarismo. Recurso de

Revista conhecido e provido. (RR - 407-82.2013.5.22.0108, Relator

Ministro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, Data de Julgamento:

01/10/2014, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 03/10/2014).

RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL. MORA SALARIAL.

QUANDO OCORRE O ATRASO REITERADO NO PAGAMENTO

DOS SALÁRIOS. OMISSÃO QUE SE RECONHECE COMO

CAUSADORA DE VIOLAÇÃO AOS DIREITOS DA

PERSONALIDADE DO EMPREGADO, EM FACE DA NATUREZA

ALIMENTAR DOS SALÁRIOS. HIPÓTESE EM QUE SE ADMITE A

REPARAÇÃO DE DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL POR

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.24

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

DANO MORAL. 1. Hipótese em que o quadro fático delineado no acórdão

regional demonstra a mora contumaz, durante certo período da

contratualidade, o que ensejou, inclusive, a deflagração de greve. 2. O dano

resultante do inadimplemento reiterado no pagamento dos salários na data

contratual ou no dia legalmente estabelecido para o seu vencimento, ou o

dano decorrente da própria mora salarial continuada, são danos morais

indenizáveis, já que inegavelmente capazes de produzir dor e/ou sofrimento

íntimo na pessoa do trabalhador lesado. Consignados no acórdão recorrido os

pressupostos que ensejam o dever de indenizar, a saber, o ato ilícito do

empregador - mora contumaz no pagamento dos salários -, o nexo de

causalidade e o dano - sofrimento e angústia do empregado, que,

notoriamente, em razão do atraso salarial, passa a ter comprometido o seu

orçamento familiar -, resultam incólumes os arts. 186 e 927 do CCB.

Precedentes. 3. O aresto paradigma coligido, por sua vez, porque oriundo de

Turma desta Corte Superior, desserve ao fim colimado, a teor do art. 896, -a-,

da CLT. Revista não conhecida, no tema. (RR - 116300-71.2009.5.09.0093 ,

Relator Juiz Convocado: Flavio Portinho Sirangelo, Data de Julgamento:

20/06/2012, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 29/06/2012).

ATRASO REITERADO NO PAGAMENTO DOS SALÁRIOS.

CIRCUNSTÂNCIAS CONFIGURADORAS DO DANO MORAL

CONSTATADAS PELO TRIBUNAL REGIONAL COM BASE NA

PROVA DOS AUTOS. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART.

818 DA CLT. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL INESPECÍFICA

(CLT, ART. 896, -A- E SÚMULA 337 DO TST). FIXAÇÃO DO

QUANTUM INDENIZATÓRIO. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DOS

ARTS. 4º E 5ª DA LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL.

IMPERTINÊNCIA. Caso em que o Tribunal Regional constata que o atraso

reiterado do pagamento de salários resultou danos morais à trabalhadora,

caracterizados pelos -constrangimentos, privações de sustento para si e para

as demais pessoas que viviam sob suas expensas e acúmulo de dívidas-,

impondo às Reclamadas o dever de indenizar. Nesse caso, em que a

controvérsia foi resolvida à luz da prova dos autos, não há falar em violação

do art. 818 da CLT, na medida em que as regras de distribuição do ônus da

prova somente têm relevância num contexto de ausência de prova ou de

provas insuficientes. Divergência jurisprudencial inservível, porquanto os

arestos colacionados são oriundos de Turmas do TST e os provenientes de

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.25

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Tribunais Regionais não registram a fonte oficial de publicação do acórdão

(Súmula 337 do TST). Quanto ao valor da indenização fixado na origem, o

Agravante aponta violação apenas dos arts. 4º e 5º, da Lei de Introdução ao

Código Civil, que se mostram impertinentes ao caso dos autos. Agravo de

instrumento não provido. ( AIRR - 83-75.2013.5.11.0051 , Relator Ministro:

Douglas Alencar Rodrigues, Data de Julgamento: 24/09/2014, 7ª Turma,

Data de Publicação: DEJT 03/10/2014).

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. ATRASO REITERADO

DO PAGAMENTO DE SALÁRIOS. A jurisprudência desta Corte

caminha no sentido de que o dano moral decorrente do atraso reiterado no

pagamento de salários carece de prova, na medida em que é aferido in re ipsa,

ou seja, basta que se comprovem os fatos para que a sua caracterização seja

de forma presumida, hipótese dos autos. Recurso de Revista conhecido e não

provido. ( RR - 1841-87.2011.5.04.0202 , Relatora Ministra: Dora Maria da

Costa, Data de Julgamento: 01/10/2014, 8ª Turma, Data de Publicação:

DEJT 03/10/2014).

Incólumes, portanto, os dispositivos apontados como

violados pela recorrente. Ademais, revelando a decisão regional

consonância com a atual, notória e iterativa jurisprudência desta Corte

uniformizadora, mostra-se inviável o seguimento do Recurso de Revista

por dissenso jurisprudencial, ante a incidência da Súmula n.º 333 do

Tribunal Superior do Trabalho e do disposto no artigo 896, § 4º, da

Consolidação das Leis do Trabalho, com a redação anterior à conferida

pela Lei n.º 13.015/2014.

No tocante ao tema “indenização por danos morais –

fixação do quantum indenizatório”, o Recurso de Revista carece da

necessária fundamentação, no particular. As razões respectivas não

indicam dispositivo de lei ou da Constituição da República que se tenha

por afrontado nem contrariedade a súmula desta Corte superior ou mesmo

aresto específico para fins de caracterização de divergência

jurisprudencial. O apelo não se enquadra, desse modo, em nenhuma das

hipóteses previstas no artigo 896 da Consolidação das Leis do Trabalho.

Não conheço do Recurso de Revista.

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.26

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

MULTA POR ATRASO NO PAGAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS.

RESCISÃO INDIRETA RECONHECIDA EM JUÍZO.

Como visto alhures, o Tribunal Regional deu provimento

ao recurso ordinário interposto pelo reclamante para condenar a reclamada

ao pagamento da multa prevista no artigo 477, § 8º, da Consolidação das

Leis do Trabalho.

Sustenta a recorrente que, na hipótese dos autos, não

há falar na condenação ao pagamento da multa prevista no artigo 477, §

8º, da Consolidação das Leis do Trabalho, tendo em vista a rescisão

indireta do contrato de emprego somente reconhecido em juízo, não havendo

falar, portanto, em atraso no pagamento das verbas rescisórias. Aponta

violação do artigo 477 da Consolidação das Leis do Trabalho. Transcreve

arestos com o fito de demonstrar dissenso de teses.

O penúltimo aresto reproduzido à fl. 205 dos autos

físicos (p. 410 do eSIJ), oriundo do Tribunal Regional do Trabalho da

2ª Região, autoriza o conhecimento do Recurso de Revista, porquanto

abriga tese contrária à esposada pela Corte de origem, no sentido de que,

“Tratando-se de rescisão indireta do contrato de trabalho, dependente

de decisão judicial, não se pode cogitar da aplicação da multa do artigo

477 da CLT"

Ante o exposto, conheço do Recurso de Revista, por

divergência jurisprudencial.

II - MÉRITO

MULTA POR ATRASO NO PAGAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS.

RESCISÃO INDIRETA RECONHECIDA EM JUÍZO.

Cinge-se o debate à definição acerca do cabimento da

multa prevista no artigo 477, § 8º, da Consolidação das Leis do Trabalho

na hipótese em que a rescisão indireta do contrato de emprego foi

reconhecida em juízo.

Esta Corte uniformizadora havia sedimentado, por meio

da Orientação Jurisprudencial n.º 351 da SBDI-I, entendimento no sentido

de que indevida a multa prevista no artigo 477, § 8º, da Consolidação

das Leis do Trabalho, quando houvesse fundada controvérsia quanto à

existência da obrigação cujo inadimplemento gerou a multa.

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.27

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Ocorre, entretanto, que a referida orientação

jurisprudencial foi cancelada por intermédio da Resolução n.º 163/2009,

de 16/11/2009, publicada no DJe em 20, 23 e 24/11/2009. Tal cancelamento

resultou do entendimento da maioria dos integrantes desta Corte superior,

no sentido de que seu texto não mais expressava o pensamento majoritário

no Tribunal, especialmente ante a dificuldade de se delimitar o alcance

da expressão "fundada controvérsia" como circunstância excludente da

incidência da sanção.

Com o cancelamento do referido precedente,

enaltece-se a única exceção quanto à aplicação da multa prevista no §

8º do artigo 477 da Consolidação das Leis do Trabalho, no caso, "quando,

comprovadamente, o trabalhador der causa à mora". Resulta daí que a

existência ou não de controvérsia acerca da configuração de justo motivo

para a dispensa é irrelevante para o deslinde da controvérsia.

Com efeito, o reconhecimento da rescisão indireta em

juízo não tem o condão de isentar o empregador do pagamento da penalidade.

Na hipótese, não se cogita de culpa do empregado, tendo em vista que o

provimento jurisdicional apenas reconheceu a rescisão indireta.

Incólumes, portanto, os dispositivos de lei apontados como violados.

Nesse sentido, destacam-se os seguintes precedentes

desta Corte superior:

RECURSO DE REVISTA. RESCISÃO INDIRETA. MULTA

PREVISTA NO ART. 477, § 8º, DA CLT. A controvérsia acerca da

modalidade da rescisão contratual, na espécie a rescisão indireta reconhecida

em juízo, não afasta a incidência da multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT,

tendo em vista a inequívoca existência e liquidez do direito vindicado, não

podendo a mora pelo inadimplemento das verbas rescisórias ser atribuída ao

empregado. Precedentes. Recurso de Revista conhecido e a que se nega

provimento. ( RR - 16200-77.2009.5.04.0019 , Relator Ministro: Walmir

Oliveira da Costa, Data de Julgamento: 02/09/2015, 1ª Turma, Data de

Publicação: DEJT 04/09/2015).

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.28

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

[...] RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA - MULTA DO

ARTIGO 477 DA CLT - RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE

TRABALHO (violação ao artigo 477, §8º, da CLT, e divergência

jurisprudencial). ). Não se vislumbra ofensa ao dispositivo legal indicado

como ofendido pela decisão que mantém a condenação ao pagamento da

multa do artigo 477, da CLT, ao fundamento de que "...o não pagamento das

verbas rescisórias no prazo resulta na incidência do artigo 477, da CLT. Com

mais razão ainda cabe a respectiva multa quando se trata de rescisão

declarada em Juízo.". A pretensão de demonstrar dissenso jurisprudencial

por meio de trechos do julgado, apenas indicando a fonte oficial de

publicação dos arestos paradigmas, encontra óbice na Súmula nº 337/TST.

Recurso de Revista não conhecido. [...] ( RR - 111500-33.2008.5.04.0009 ,

Relator Ministro: Renato de Lacerda Paiva, Data de Julgamento: 06/05/2015,

2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 15/05/2015).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA.

RESCISÃO INDIRETA. RECONHECIMENTO EM JUÍZO. MULTA

DO ART. 477, § 8º, DA CLT. APLICAÇÃO. Demonstrado no agravo de

instrumento que o Recurso de Revista preenchia os requisitos do art. 896, -c-,

da CLT, quanto à aplicação da multa do art. 477 da CLT, dá-se provimento

ao agravo de instrumento, para melhor análise da arguição de violação do art.

477 da CLT, suscitada no Recurso de Revista. Agravo de instrumento

provido. RECURSO DE REVISTA. 1) RECOLHIMENTO

PREVIDENCIÁRIO. REVERSÃO DE DIFERENÇAS AO EMPREGADO.

2) MULTA DO ART. 467 DA CLT. AUSÊNCIA DE VERBAS

INCONTROVERSAS A SEREM PAGAS EM AUDIÊNCIA. SÚMULA

126/TST. 3) VALE-TRANSPORTE. SÚMULA 126/TST. Não se constata

haver a demonstração, no Recurso de Revista, de jurisprudência dissonante

específica sobre o tema, de interpretação divergente de normas

regulamentares ou de violação direta de dispositivo de lei federal ou da

Constituição da República, nos moldes das alíneas -a-, -b- e -c- do art. 896 da

CLT. Recurso de Revista não conhecido, nesses temas. 4) RESCISÃO

INDIRETA. RECONHECIMENTO EM JUÍZO. MULTA DO ART. 477, §

8º, DA CLT. APLICAÇÃO. Cabe a multa do art. 477, CLT, caso a rescisão

indireta diga respeito a reconhecimento de ruptura precedente do contrato,

por culpa empresarial - caso dos autos. Em tal situação, o atraso rescisório é

manifesto. Recurso de Revista conhecido e provido, no aspecto. ( RR -

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.29

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

201500-64.2009.5.02.0441 , Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado,

Data de Julgamento: 11/12/2013, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT

13/12/2013).

[...] MULTA DO ART. 477, § 8º, DA CLT. RESCISÃO

INDIRETA. O pagamento das verbas rescisórias fora do prazo fixado no art.

477, § 6º, da CLT gera o direito à multa do art. 477, § 8º, da CLT, descabida

apenas na hipótese de mora no pagamento por culpa do empregado. Assim, o

reconhecimento da rescisão indireta em juízo não tem o condão de elidir de

per si a aplicação da penalidade em questão. Precedentes. Recurso de Revista

conhecido e provido. ( RR - 265-46.2011.5.01.0007 , Relator Ministro:

Aloysio Corrêa da Veiga, Data de Julgamento: 29/04/2015, 6ª Turma, Data

de Publicação: DEJT 22/05/2015).

RECURSO DE REVISTA - MULTAS PREVISTAS NOS ARTS.

467 E 477, § 8º, DA CLT - INCIDÊNCIA - RECONHECIMENTO EM

JUÍZO DE RESCISÃO INDIRETA POR CULPA DO

EMPREGADOR. Nos termos do § 8º do art. 477 da CLT, o fato gerador da

multa contida na aludida norma é a não observância do prazo para o

pagamento das verbas rescisórias previsto no § 6º do mesmo preceito,

ressalvada a hipótese em que o empregado der causa à mora. Já o art. 467 da

CLT determina o pagamento da parte incontroversa das verbas rescisórias

acrescidas de 50%, caso não seja adimplida na primeira audiência. No caso

dos autos, a questão em debate cingiu-se à modalidade da rescisão contratual,

tendo a defesa alegado dispensa imotivada e a reclamante postulado o

reconhecimento de rescisão indireta, pedido obreiro que restou deferido.

Dessa forma, a discussão travada nos autos não afasta a incidência das

multas em questão. Isso porque o simples fato de as verbas rescisórias

decorrerem de pronunciamento judicial sobre determinado litígio, no caso

dos autos, o reconhecimento da rescisão indireta do contrato de trabalho, por

culpa do empregador, nos termos do art. 483, "d", da CLT, não afasta a

incidência da multa prevista no § 8º do art. 477 da CLT, pois referido

dispositivo legal assim não excepciona. Outrossim, não recai controvérsia

sobre as parcelas rescisórias a serem pagas, haja vista existir correspondência

das referidas verbas nas hipóteses de dispensa sem justa causa e rescisão

indireta, portanto, impõe-se o pagamento da multa prevista no art. 467 da

CLT. Recurso de Revista conhecido e provido. ( RR -

782-22.2012.5.01.0070 , Relator Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.

Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

fls.30

PROCESSO Nº TST-RR-1220-50.2012.5.04.0204

Firmado por assinatura digital em 13/04/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Filho, Data de Julgamento: 25/03/2015, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT

31/03/2015).

[...] MULTA DO ART. 477, §8º, DA CLT. RESCISÃO

INDIRETA RECONHECIDA EM JUÍZO. No que se refere

àmultaprevista no artigo477da CLT, esta Corte vem adotando o

entendimento de que a penalidade em questão aplica-se sempre que houver

atraso no pagamento das verbas rescisórias, independentemente da dúvida a

respeito das obrigações rescisórias efetivamente devidas. Portanto, mesmo

tendo sido reconhecida em juízo a rescisão indireta, é devida a multa em

comento. Recurso de Revista não conhecido. ( RR - 1091-25.2012.5.08.0013

, Relator Ministro: Márcio Eurico Vitral Amaro, Data de Julgamento:

02/09/2015, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 04/09/2015).

Ante o exposto, nego provimento ao Recurso de Revista.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Primeira Turma do Tribunal

Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do Recurso de Revista

apenas quanto ao tema "multa prevista no artigo 477, § 8º, da Consolidação

das Leis do Trabalho", por divergência jurisprudencial, e, no mérito,

negar-lhe provimento.

Brasília, 13 de abril de 2016.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)

MARCELO LAMEGO PERTENCE Desembargador Convocado Relator

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100124D7AD19D0BDEB.