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O USO PEDAGÓGICO DAS TICs EM UM CURSO SEMIPRESENCIAL DE LICENCATURA
Resumo: A necessidade de se incorporar as novas tecnologias ao fazer docente diário é cada dia mais frequente. Porém, os cursos de formação de professores garantem que esses aprendam a utilizar pedagogicamente tais recursos? Na presente pesquisa, investiga-se um curso semipresencial de licenciatura, de uma universidade pública do estado de São Paulo, Brasil, com o objetivo principal de identificar como o curso favorece o domínio crítico do uso das novas tecnologias. Tal investigação tem o intuito de produzir um conjunto de subsídios para a reflexão sobre a formação para o uso pedagógico das TICs, subsídios esses que contribuam para a introdução e estabilização de práticas inovadoras, tanto para a formação docente, como para o exercício da profissão. Até o momento, observou-se que, apesar de se tratar de um curso mediado pelas novas tecnologias, pouco difere dos moldes de cursos presenciais que valorizam o saber específico em detrimento do saber pedagógico. Ocorrem poucos espaços para discussão e reflexão sobre o uso pedagógico das tecnologias que são utilizadas como simples ferramentas midiáticas, ou seja, não se discute o uso pedagógico das mesmas. Mesmo espaços como fóruns ou chats são sub aproveitados, uma vez que os alunos os utilizam apenas para lançar dúvidas conceituais sobre o conteúdo, não constituindo espaços de reflexão sobre o ensinar e aprender. O ensino semipresencial é um novo modelo de ensino que impõe desafios a serem superados, um deles é o de garantir uma formação docente que privilegie não apenas um embasamento teórico proveniente das disciplinas específicas como também momentos para reflexão sobre o fazer docente, evitando-se a dicotomia entre teoria e prática e promovendo uma maior intercambio de ideias e reflexão sobre o como ensinar utilizando as TICs, uma importante ferramenta pedagógica.
Palavras-chave: formação de professores, recurso midiático, tecnologias da informaçãoe comunicação
Introdução
Observa-se uma crescente introdução e utilização das tecnologias da informação
e comunicação (TICs) no cotidiano das sociedades. O acesso ao mercado de trabalho, o
desenvolvimento pessoal e profissional e o exercício da cidadania estão associados a um
bom domínio dessas tecnologias que impõem aceleradas mudanças sociais, econômicas
e políticas, resultando na criação de novas formas de viver e se comunicar, e também na
criação de novos valores, caracterizando uma nova sociedade e um novo homem.
Assim, a escola, enquanto organização social não pode ficar alheia às TICs, mas sim
atenta às novas formas de aprender, criando novas formas de ensinar (GIANOTTO e
DINIZ, 2009).
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Taitiâny Kárita Bonzanini
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Dessa forma, novos desafios são colocados para os professores em exercício e
também para as instituições de formação inicial. Concordando com a afirmação de
Perrenoud (2000), que a escola não pode ignorar o que se passa no mundo, é possível
inferir que caberá aos educadores, em seu trabalho diário, incorporar as tecnologias da
informação e comunicação com o objetivo de motivar e desenvolver uma melhor
compreensão sobre o conteúdo, de forma crítica e interativa. Para isso, as instituições de
formação inicial precisam considerar estratégias de ensino que possibilitem a esse
profissional um adequado domínio das tecnologias para que não sinta dificuldades para
incorporá-las em seu fazer diário.
Porém, não basta simplesmente colocar o futuro professor em contato com as
TICs, pois esse contato, por si só, não garante uma formação pedagógica sobre o uso
delas e, consequentemente, sua incorporação na prática pedagógica e nos processos de
ensino-aprendizagem. É notório, no dia-a-dia das unidades escolares, que os professores
pouco introduzem as tecnologias em seu fazer diário, muitas vezes apenas substituem o
papel do giz e da lousa por uma apresentação em Power Point, o que pouco diferencia-
se de uma aula expositiva tradicional. Raras vezes se verifica o uso pedagógico das
TICs disponíveis, o que acaba tornando o ensino pouco dinâmico e atrativo para alunos
“nativos digitais”.
Conforme Paiva (2002), os contextos de utilização das TICs em sala de aula
podem ser vários, desde disciplinar, apoio pedagógico, clubes, trabalhos de casa, aulas
laboratoriais dentre outros. Contudo, para isso, o professor necessita de uma formação
que lhe assegure determinadas habilidades para a inserção adequada das tecnologias no
ensino dos conteúdos e, se professores em exercício alegam falta de formação para
trabalhos desse tipo, uma vez que sua formação inicial não contemplou o uso das TICs
para o ensino, cabe verificar como os cursos de formação de professores realizam
atualmente tal trabalho.
Na presente pesquisa, investiga-se um curso semipresencial de licenciatura, de
uma universidade pública do estado de São Paulo, Brasil. Nesse curso, as aulas
presenciais ocorrem aos sábados, período matutino e vespertino, totalizando 8 horas e a
frequência virtual é definida como sendo o número de atividades virtuais validadas por
um tutor responsável e entregues dentro do prazo estipulado, divido pelo número total
de propostas. Somando-se as aulas presenciais e as atividades online, o aluno garante a
frequência mínima de 75% no curso.
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Para o referido curso, propõe-se a utilização das TICs no intuito de permitir
maior acessibilidade e flexibilidade, viabilizando uma maior democratização do ensino.
Além disso, considerando que o curso está voltado para formar profissionais que
queiram se habilitar para o exercício do magistério no Ensino Fundamental, e também a
atender professores em exercício que atuam na Educação Básica, mas carecem de uma
capacitação e qualificação em nível superior, o sistema semipresencial, no qual das
2835 horas da carga horária total, 1470 horas são desenvolvidas a distância, com uma
duração de 4 anos, busca ultrapassar as limitações do modelo tradicional presencial,
rompendo barreiras relacionadas ao tempo e espaço, unindo pessoas geograficamente
distantes e contribuindo para uma oferta de educação superior com qualidade, de forma
flexível e mais personalizada.
Todo o curso está organizado em oito módulos, cada um deles composto de
disciplinas ou temas, tendo duração de um semestre cada um, contemplando disciplinas
da Biologia, Química, Matemática, Física e Educação. O material utilizado é elaborado
por professores, chamados professores autores, que são responsáveis por organizar o
conteúdo e propor as atividades que serão executadas pelos alunos que têm acesso ao
material das disciplinas e vídeo aulas através de um ambiente virtual de aprendizagem
(AVA), na plataforma Moodle. Aos sábados são realizadas aulas teóricas e práticas de
laboratório, conduzidas por tutores que devem apresentar o título de mestre, ou doutor
na área específica da disciplina a ser ministrada, esses profissionais são contratados pela
universidade por um prazo máximo de dois anos. Esses tutores são coordenados por um
docente que tem a função de garantir a execução das atividades dos módulos, chamados
coordenadores de módulo. Além das atividades dos sábados, existem horários fixos
para plantão de dúvidas tanto de forma presencial como online. Semanalmente os
tutores e educadores participam de uma webconferência onde discutem, com os
professores autores e coordenadores de módulo, as atividades, dúvidas e propõem
melhorias para o material apresentado.
Nesse curso, portanto, esses licenciandos se encontram, primeiramente, voltados
presencialmente aos computadores e não diretamente aos demais colegas e docentes.
Em muitos momentos, por exemplo, professores e alunos não estão fisicamente
presentes em um mesmo espaço, mas interagem através de vídeo conferências, chats,
atividades online. Além disso, dependendo dos recursos disponibilizados pelo ambiente,
os registros de ambos podem ficar armazenados para consultas a qualquer momento,
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como também pode haver mais flexibilidade para a realização desses, nos horários mais
convenientes aos sujeitos.
A presente pesquisa, parte do pressuposto que a formação inicial, mesmo a
semipresencial, onde o contato com as TICs é mais direto comparado a um curso
presencial, deve garantir muito mais que um simples domínio instrumental dessas
tecnologias, proporcionando uma incorporação delas em uma pedagogia que valorize,
sobretudo, o aprendente e seus projetos, o debate de questões, promovendo permanente
atitude crítica com relação ao uso de recursos tecnológicos no processo de ensinar e
aprender. Trata-se, portanto, de garantir um uso pedagógico das TICs, que contribua
para a construção de habilidades que auxiliem o futuro professor a incorporá-las em
suas aulas.
Além disso, reconhecendo a importância de promover, durante a formação
inicial, espaços para a reflexão crítica sobre o uso das TICs na Educação Básica, assim
como a construção de conhecimentos que viabilizem uma prática pedagógica mais atual
e dinâmica, este trabalho vem verificando como os alunos do referido curso de
licenciatura semipresencial vivenciam o uso pedagógico dos recursos tecnológicos.
Para isso, tem-se buscado avaliar constantemente como as TICs são utilizadas
por tutores e alunos, e de que forma elaboram novos conhecimentos relacionados às
suas futuras práticas de serviço. Para verificar como o curso semipresencial favorece a
incorporação dos recursos tecnológicos na atividade docente na Educação Básica, tendo
em vista a vivência diária durante a formação inicial com esses recursos, que requer
uma participação ativa do aluno, pretende-se, em uma etapa posterior, investigar a
prática educativa de alguns licenciandos, seja através do acompanhamento de atividades
de estágio, como também de situações reais de aula, considerando que muitos deles já
exercem a profissão docente.
A incorporação das TICs no contexto escolar depende de muitos fatores, sendo
que a formação de professores parece ser o de maior destaque, requerendo, inclusive,
estudos aprofundados de como essa formação garante um adequado uso pedagógico
dessas tecnologias.
Considerando os professores como principais atores na disseminação do
conhecimento e no desenvolvimento intelectual, social e afetivo do aluno, e o
computador como um importante instrumento para auxiliar nesse desenvolvimento, é
preciso que o docente saiba utilizar essa tecnologia com competência e eficiência.
Assim, estudos sobre como deve ser a formação inicial de licenciados, ou como vem
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sendo desenvolvida, e suas implicações são fundamentais para avaliar se essa formação
garante a esse profissional uma prática atual, dinâmica e em consonância com o mundo
atual. Tais estudos podem indicar características relevantes que poderão ser imitadas por
outros cursos, ou indicar caminhos para o que pode e precisa ser mudado, pois, parte-se
da premissa que professores bem formados possam ministrar um ensino de melhor
qualidade.
Questões de pesquisa
A presente pesquisa encontra-se em desenvolvendo, portanto, até sua conclusão
pretende-se responder as seguintes questões:
- As disciplinas, do curso semipresencial investigado, incorporam discussões e
reflexões sobre o uso pedagógico das TICs?
- As práticas e atividades propostas contemplam a vivência e análise de
situações de ensino nas quais o uso das TICs são indispensáveis?
- É trabalhado durante o curso o saber decorrente da prática pedagógica,
articulado com teorias educacionais e com habilidades requeridas para o domínio das
tecnologias?
- A forma como as disciplinas são conduzidas desperta, nos futuros professores,
a consciência de que as atualizações de conteúdo específico e sobre as novas
tecnologias são indispensáveis para o processo de seu desenvolvimento profissional?
Para responder a essas e outras questões, que poderão surgir durante a
investigação, a pesquisa vem canalizando esforços para analisar e compreender como as
TICs são pedagogicamente utilizadas na formação inicial e como tais práticas
contribuem para que futuros professores construam conhecimentos necessários para a
incorporação delas no fazer pedagógico diário. Entende-se que os resultados obtidos
poderão contribuir para o aperfeiçoamento de processos formativos, tanto iniciais como
continuados.
Objetivos
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Os cursos de licenciatura utilizam metodologias variadas, em detrimento dos
objetivos, público alvo que se quer atender, entre outras características. O curso
semipresencial, o qual refere-se essa pesquisa estabelece, em sua home page, os
seguintes objetivos específicos:
• Desenvolver processos pedagógicos que visem à elaboração
de conhecimentos teóricos e competências relativas ao ensino de Ciências,
otimizando a reflexão, a prática pedagógica e a autonomia intelectual;
• Possibilitar aos alunos o domínio crítico do uso das
novas tecnologias disponíveis na sociedade e, especialmente, nas escolas;
• Incentivar o intercâmbio entre a Universidade e a Rede
de Educação Básica;
• Contribuir para a interação entre os diversos níveis e modalidades
de ensino, visando o aperfeiçoamento e modernização do Ensino Fundamental e
Médio.
Tendo em vista tais objetivos, essa pesquisa tem investigado como o domínio
crítico do uso das novas tecnologias é contemplado nos módulos ou disciplinas,
propondo como objetivo geral de pesquisa desenvolver uma investigação que produza
um conjunto de subsídios para a reflexão sobre a formação para o uso pedagógico das
TICs, em um curso semipresencial de licenciatura, subsídios esses que contribuam para
a introdução e estabilização de práticas inovadoras, tanto para a formação docente,
como para o exercício da profissão.
Para alcançar esse objetivo geral, tem-se buscado contemplar determinados
objetivos específicos, que envolvem:
- Verificar quais saberes específicos para o uso pedagógico das TICs, em sala de
aula, são trabalhados durante o curso;
- Diagnosticar quais mecanismos, utilizados em um curso semipresencial, podem
favorecer a incorporação das TICs na futura prática pedagógica.
Metodologia
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A partir dos objetivos e questões de estudo, acima especificados, vem-se
acompanhando, através de uma observação participante (BOGDAN & BIKLEN, 1994),
as aulas presenciais, de uma turma de alunos, do curso semipresencial de Licenciatura.
Durante esse acompanhamento são analisadas, a partir de uma abordagem
qualitativa, as atividades propostas, bem como a condução das disciplinas pelos
educadores e tutores a partir de referenciais sobre formação de professores e educação à
distância. Também são acompanhadas as atividades online, assistidas as vídeo aulas e
analisado todo material disponibilizado no AVA, assim como as discussões que
ocorrem entre alunos e tutores nos fóruns.
Para estabelecer um maior contato com os licenciandos, eles serão convidados,
a partir do segundo semestre de 2012, a participar de discussões online, via chat, através
do próprio ambiente virtual de aprendizagem utilizado pelo curso. Com os tutores
ocorre um diálogo permanente, através de reuniões semanais, para análise conjunta do
material produzido para os alunos, do material a ser utilizado nas aulas presenciais e a
incorporação das TICs no processo de formação inicial.
Até o momento, essa pesquisa envolveu a observação in loco, na qual o
investigador desempenha o papel de intérprete daquilo que observa, entrevistas semi
estruturadas com tutores que conduziram as atividades do primeiro módulo, a análise do
Projeto Pedagógico do curso, das atividades propostas para os três primeiros módulos e
dos recursos midiáticos utilizados neles. Posteriormente, serão realizadas as entrevistas
individuais e coletivas com alunos (LÜDKE e ANDRÉ, 1986; ESTRELA, 1994;
BOGDAN & BIKLEN, 1994).
Primeiros resultados
Como a pesquisa está em início, a apresentação dos resultados ainda é parcial.
A primeira ação evolveu a análise dos documentos que constituíram o curso,
principalmente do Projeto Pedagógico, o que indicou grande preocupação em promover
uma formação que não fosse compreendida como uma superposição de dois conjuntos
de conhecimentos, em que o aprendizado do saber disciplinar antecede o aprendizado
do saber pedagógico, promovendo-se a formação de um professor não apenas dotado de
competências em sua área de saber, mas também capaz de compreender a diversidade
da população atendida hoje pela escola básica brasileira.
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Assim, esses documentos propõem que os conteúdos ligados à formação
específica e os ligados à formação profissional do professor devem enriquecer-se
mutuamente, fato não observado no material proposto para as atividades presenciais e
online, bem como durante a condução das disciplinas e realização de atividades. O que
ocorre, na prática, é um trabalho com conteúdos específicos, durante os três primeiros
módulos, e somente no terceiro módulo a introdução de uma disciplina pedagógica, não
ocorrendo conexão com as disciplinas específicas trabalhadas anteriormente. Sendo
assim, pode-se considerar um enfoque conteudista para esse curso de formação.
Até o momento analisou-se as ementas das disciplinas que constituíram os
módulos 1, 2 e 3 (disciplinas relacionadas a Física, Matemática e Biologia), que
descrevem a preocupação em garantir um domínio pedagógico das TICs. Porém, para
que isso ocorra as discussões online ou presenciais precisam envolver momentos de
reflexão sobre a incorporação das tecnologias no dia-a-dia escolar, quando o que ocorre,
de fato, são discussão apenas sobre dificuldades de aprendizagem do conteúdo
específicos. Os tutores, devido a grande quantidade de atividades para corrigir ou
dúvidas para responder, ou até mesmo por falta de habilidade, acabam limitando a ajuda
oferecida somente para sanar dúvidas conceituais dos alunos.
O material disponibilizado online, no AVA, revela que as disciplinas, tanto as
específicas como as pedagógicas, são constituídas por um adequado embasamento
teórico, apresentam grande quantidade de conteúdo de Física, Matemática e Biologia,
porém pouca articulação entre teoria e prática, ou seja, o conteúdo é bem detalhado e
aprofundado, mas as discussões sobre como ensina-los e como a tecnologia pode ser
utilizada para o processo de ensino e aprendizagem estão ausentes. As avaliações, que
ocorrem presencialmente e são obrigatórias, assim como atividades avaliativas no
ambiente virtual de aprendizagem, apresentam esse mesmo enfoque, pois as questões
valorizam o saber sobre o conteúdo e não sobre as formas de ensiná-lo.
Durante os dois primeiros módulos foram trabalhados alguns softwares e
programas de simulação como, por exemplo, o Stellarium, que poderão ser utilizados
pelos futuros professores em suas práticas docentes, porém o enfoque requerido pelo
curso foi o de conhecimento do material e conhecimento sobre o conteúdo por ele
abordado, não houve uma reflexão sobre como utilizá-lo na educação básica como
importante recurso pedagógico.
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Segundo Borba (1999), apesar do grande potencial da tecnologia, a sua
utilização como estratégia pedagógica ainda é escassa, principalmente pelo início tardio
da tecnologia no ensino. Conforme ressaltam Oeiras et al (2001), aprender-ensinar a
distância ainda é uma novidade, mas não tão nova para se desconsiderar a inexperiência
de alunos e professores que nem sempre sabem se aproximar, perguntar, discutir,
discordar, aderir, “brincar”, à distância, daí a necessidade de, em um curso
semipresencial, refletir sobre a incorporação de recursos utilizados na formação inicial
na escola básica.
O contato inicial com tutores e educadores, que desenvolveram atividades
presenciais e online durante os dois primeiros módulos, através de entrevistas
semiestruturadas contribuiu para a coleta de informações sobre a interação com os
alunos, as principais dificuldades encontradas tanto para a condução das aulas como as
enfrentadas pelos discentes com relação a atividades e conteúdos propostos, além da
incorporação das TICs ao fazer pedagógico.
Esses profissionais apontaram que, muitas vezes, o material era disponibilizado
com pouca antecedência para a preparação da aula, o que inviabilizava uma reflexão
mais aprofundada sobre o mesmo. Além disso, a carga horária fora insuficiente, tendo
em vista o elevado grau de complexidade do material, que exigiu do aluno um maior
conhecimento sobre os conteúdos de matemática, física havendo pouco espaço para
discussão sobre o como ensinar ou adaptar para situações de ensino o que era estudado;
houve, portanto, pouco espaço para discussões sobre o uso pedagógico das TICs, essas
ficaram restritas ao papel de instrumentos para a formação inicial.
Os relatos indicaram, ainda, que os módulos são preparados de forma a
privilegiar o conteúdo específico de cada disciplina, não ocorrendo discussões sobre as
formas de ensinar tal conteúdo. Além disso, as TICs são utilizadas como simples
ferramentas midiáticas, ou seja, não se discute o uso pedagógico das mesmas. Mesmo
espaços como fóruns ou chats são sub aproveitados, uma vez que os alunos os utilizam
apenas para lançar dúvidas conceituais sobre o conteúdo, não constituindo espaços de
reflexão sobre o ensinar e aprender. Nos dois primeiros módulos ocorreu apenas o
trabalho com disciplinas específicas, as disciplinas pedagógicas aparecem no terceiro
módulo do curso.
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Ao acessar o AVA o aluno tem acesso aos módulos do curso, e não ocorre uma
conexão entre eles, por exemplo, as disciplinas da física não referenciam as demais
disciplinas e apresentam tão somente o conteúdo específico, não trazem uma discussão
sobre o processo de ensino. As disciplinas pedagógicas questionam o aluno sobre o
conhecimento de teorias e materiais de ensino, mas também não apresentam exemplos
ou referências das disciplinas específicas. A mesma situação ocorre com as vídeo aulas,
nelas aborda-se apenas o conteúdo específico de uma determinada disciplina.
Considerações
O ensino semipresencial é um novo modelo de ensino que impõe desafios a
serem superados, um deles é o de garantir uma formação docente que privilegie não
apenas um embasamento teórico proveniente das disciplinas específicas como também
momentos para reflexão sobre o fazer docente, evitando-se a dicotomia entre teoria e
prática e promovendo uma maior intercambio de ideias e reflexão sobre o como ensinar
utilizando as TICs, uma importante ferramenta pedagógica.
Até o momento, observou-se que, apesar de se tratar de um curso mediado pelas
novas tecnologias, pouco difere dos moldes de cursos presenciais que valorizam o saber
específico em detrimento do saber pedagógico. Assim, muito mais que incluir os
licenciandos no mundo digital, é preciso promover discussões sobre como trabalhar
conteúdos na era digital, junto a alunos midiáticos.
Por se tratar de um curso pioneiro, tem a vantagem de poder experimentar e
diversificar estratégias de ensino que possam contribuir para uma formação que garanta
a verdadeira incorporação das tecnologias no ensino. Para isso, não bastar realizar uma
revisão no material que é disponibilizado para os alunos, como também refletir sobre
como são trabalhados, isso requer discussões amplas com tutores para que, além da
preocupação com relação ao domínio que esses alunos terão dos conhecimentos
específicos, esses possam dominar também formas adequadas de ensinar utilizando-se
de recursos tecnológicos que dinamizem as aulas e agucem o interesse dos educandos.
Todos os envolvidos sejam coordenadores de módulo, escritores de materiais ou
tutores precisam analisar o relevante papel dos saberes específicos necessários a
utilização das novas TICs, não apenas na formação inicial como no processo de ensino-
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aprendizagem que ocorre na educação básica. É preciso considerar que dos futuros
docentes serão requeridas competências específicas para planejar ações que estimulem a
interatividade dos alunos com os materiais educativos, e essas competências precisam
ser trabalhadas durante a formação inicial.
Bibliografia
BOGDAN & BIKLEN. Investigação Qualitativa em Educação: uma introdução à
teoria e aos métodos. Coleção Ciências da Educação. Portugal, Porto Editora, 1994.
BORBA, M. Calculadoras Gráficas e Educação Matemática. Série Universidade
Santa Úrsula, Rio de Janeiro: 1999.
ESTRELA, A. Teoria e Prática de observação de classes. Portugal: Porto Editora,
1994.
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biologia: a prática colaborativa e o uso pedagógico do computador. Revista Electrónica
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LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas.
São Paulo: EPU, 1986, 99 p.
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2000.
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