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Conteúdo desta edição * O que existia antes do Big-Bang? * Como os Maias sabiam tanto sobre astronomia? * Os dinossauros tinham sangue quente? * Quando começa a vida? * O causou as eras glaciais? * Como o cérebro funciona? * Qual foi a causa das grandes extinções? * Estamos sós no universo? * Os animais pensam como nós? * Quem foi Jesus? * É possível viajar no tempo? * O que é a cor? * Qual o segredo da linguagem humana? * Quantas dimensões existem no universo? * Quando o homem tornou-se humano? * O que se passa no interior da Terra? * Como os pássaros migram? * O que é a consciência humana? * O que é a luz? * Qual a origem da vida na Terra?

30 Misterios Da Ciencia

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Superinteressante especial - Os 30 maiores mistérios da ciência

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Page 1: 30 Misterios Da Ciencia

Conteúdo desta edição

* O que existia antes do Big-Bang?

* Como os Maias sabiam tanto sobre astronomia?

* Os dinossauros tinham sangue quente?

* Quando começa a vida?

* O causou as eras glaciais?

* Como o cérebro funciona?

* Qual foi a causa das grandes extinções?

* Estamos sós no universo?

* Os animais pensam como nós?

* Quem foi Jesus?

* É possível viajar no tempo?

* O que é a cor?

* Qual o segredo da linguagem humana?

* Quantas dimensões existem no universo?

* Quando o homem tornou-se humano?

* O que se passa no interior da Terra?

* Como os pássaros migram?

* O que é a consciência humana?

* O que é a luz?

* Qual a origem da vida na Terra?

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* Quem foi o ancestral direto do homem?

* Existe uma ordem no universo?

* Qual é a idade do universo?

* Até quando a Terra agüenta?

* O que aconteceria se você caísse no interior de um buraco negro?

* Por que sonhamos?

* Como o universo vai acabar?

* Poderemos vencer a morte?

* O que é a felicidade?

* Deus existe?

O que existia antes do Big Bang?

A teoria do Big Bang tem sido aceita nos últimos 30 anos. Mas o que existia antes da grande

explosão?

Por Tiago Cordeiro

Assim que tudo começou, as coisas aconteceram muito rápido. Antes que a criação tivesse 1

segundo, surgiu a gravidade, o Universo se expandiu de uma forma inacreditavelmente rápida

e surgiram as sementes que depois dariam origem às galáxias. A partir de 1 segundo da

criação, e pelos 300 mil anos seguintes, os fótons dominam o espaço. Depois, começam a

surgir os átomos de hélio e hidrogênio.

Elementos que formam os seres humanos, como o carbono e o oxigênio, só surgiram muito

tempo depois, sintetizados no interior de estrelas moribundas. E ssim a Teoria do Big-Bang

consegue explicar, com um grau de confiabilidade razoável, a infância remota do Universo.

Mas antes do marco zero, o que existia quando o Universo ainda não tinha sequer omeçado?

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“A resposta mais honesta é: não sabemos”, diz o físico João Steiner, professor da USP. “O big-

bang deu origem a tudo, inclusive ao espaço e ao tempo. Quer dizer, antes disso existia algo

que só podemos chamar de nada.” Esqueça, então, aquelas imagens que de vez em quando

você vê em filmes, em que um vasto espaço escuro é preenchido por uma explosão. Não havia

matéria, não havia espaço, não havia tempo, não havia nada.

A Teoria da Relatividade prevê que, nesse instante zero, a densidade teria sido infinita. Para

entender essa situação, seria preciso unificar a relatividade e a mecânica quântica, coisa que

ninguém ainda conseguiu fazer.

Algumas teorias não consideram que, antes do Universo, o que havia era o nada. Para o

cosmologista americano Alan Guth, o Universo pré-Universo era um ambiente em que

partículas de cargas opostas se anulavam o tempo todo, até que um dia uma delas

desequilibrou o sistema e soltou a faísca que iniciou a cadeia de produção de tudo o que

conhecemos.

Em 1969, o físico americano Charles Misner sugeriu a tese da criação a partir da desordem.

Antes do nosso Universo isotrópico, em que a geometria é a mesma em todas as direções,

haveria um outro mundo de caos. Uma terceira tese, defendida por muitos cientistas, é a de

que o Universo é cíclico. Ele começa com um big-bang, cresce, atinge o auge, começa a

diminuir, desaparece num big crunch e começa tudo de novo. Acontece que, des de 1998,

sabemos que o Universo permanece se expandindo sem parar, o que comprometeria a base

dessa teoria.

Há quem diga que nosso Universo não é único. Alan Guth tem uma sugestão curiosa: logo

depois do primeiro big-bang, o Universo seria composto de uma espécie de falso vácuo, cheio

de bolhas recheadas de quintilhões de prótons e elétrons. Cada uma delas teria sofrido um

big-bang e dado início ao respectivo Universo.

Existiria um Universo primordial, que daria origem a universos-filhos. Mas como foi que o

primeiro deles surgiu? Não sabemos. “Essa hipótese apenas explica o nosso próprio Universo e

joga para debaixo do tapete o que existia antes do marco zero”, diz o professor Steiner. “A

verdade é que, atualmente, o big-bang é o limite seguro da ciência. Qualquer tentativa de

avançar além disso é especulação.”

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Como os maias sabiam tanto sobre astronomia?

Eles conheciam mais do que os europeis na época. Como é que chegaram lá?

Por Tiago Cordeiro

Enquanto estiveram no auge, entre os anos 200 e 900, os maias, que habitaram a América

Central, foram uma das civilizações mais cabeças do planeta. Seus conhecimentos

matemáticos e de astronomia estavam não apenas à frente de todos os outros povos vizinhos,

mas também dos chineses e dos europeus.

Eles eram craques da matemática e foram os únicos, em todas as Américas pré-

descobrimento, que desenvolveram um sistema completo de escrita. No ano 325, eles já

dominavam o conceito de zero, coisa que os europeus só descobriram e começaram a usar

cerca de 700 anos depois.

Eles também eram excelentes observadores do céu. Em várias cidades maias, como Palenque,

Sayil e Chichén Itzá, os centros astronômicos ocupavam áreas centrais. O Caracol, de Chichén

Itzá (à direita), foi construído por volta do ano 1050, tinha 22,5 metros de altura e era

dedicado ao deus da chuva, Chaac.

Cruzando a matemática com a observação, os maias conseguiram conhecer, com uma precisão

espantosa, a duração dos ciclos lunar, solar e do planeta Vênus. Eles calcularam que Vênus

passa pela Terra a cada 583,935 dias – algo espantosamente próximo do número considerado

correto hoje, que fica entre 583,920 e 583,940. Também definiram que o ciclo lunar dura

29,53086 dias (atualmente os astrônomos falam em 29,54059).

Os maias registraram que o Sol completa seu ciclo em 365,2420 dias, enquanto que na

atualidade esse número está definido em 365,2422. Com base nesses conhecimentos, eles

criaram um conjunto de calendários complexos e interligados que, juntos, formavam um dos

sistemas de contagem do tempo mais precisos de sua época.

Hoje sabemos que os maias estavam certos em seus cálculos. Mas como foi possível que eles

avançassem tanto sem usar nenhum tipo de lente?

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Entre os europeus, a astronomia só começou a avançar mais rápido lá pelo século 17, quando

Galileu Galilei se apropriou da invenção do telescópio, registrada pelo fabricantes de lentes

holandês Hans Lippershey, para olhar para o espaço. É difícil saber como os maias chegaram a

essas conclusões porque, enquanto Galileu localizava manchas no Sol e identificava o planeta

Júpiter, os espanhóis se empenhavam em destruir a civilização maia.

Como os maias não tinham um reino unificado, foi um processo lento, em que cada cidade-

Estado caiu sozinha. A última, Tayasal, foi derrotada em 1697. Todas elas foram saqueadas e

tiveram bibliotecas e templos queimados. “Não conhecemos as pesquisas deles em detalhes,

porque os espanhóis destruíram tudo o que encontraram pela frente. É certo que o que

sobrou é apenas um resíduo do conhecimento que eles tinham construído”, diz o antropólogo

americano Marcello Canuto, professor da Universidade Yale, nos EUA.

Poucos documentos resistiram. O mais importante deles é o Código Dresden, um manuscrito

que reúne praticamente tudo o quesabemos sobre os conhecimentos matemáticos e

astronômicos deles. Nesse texto de 39 folhas, escritas dos dois lados, encontram-se não só a

descrição de rituais religiosos mas também os cálculos para a previsão de eclipses e as

conclusões a respeito do ciclo de Vênus – que funcionava como uma referência para a data das

colheitas e para a escolha

da época mais favorável para guerrear.

Curosidade: Calendários marcavam datas de festas e sacrifícios

Os maias tinham uma maneira curiosa de registrar o tempo. Mais do que simplesmente contar

os dias, seus calendários tinham a função de identificar as datas propícias para cada atividade.

Os pesquisadores sabem que, a partir de combinações matemáticas, eles faziam uma espécie

de prognóstico astrológico para prever o que iria acontecer numa determinada data.

Dependendo dessa previsão, o dia podia ser reservado para o trabalho na colheita ou para

rituais religiosos, quase sempre acompanhados de sacrifícios aos seus deuses.

Os dinossauros tinham sangue quente?

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Eles tinham sangue quente, frio ou os dois? A resposta pode ajudar a resovler um enigma

evolutido de milhoões de anos

Por Rafael Kenski

Em 1842, quando o anatomista inglês Richard Owen estudou ossos fossilizados de 3 espécies

de mais de 65 milhões de anos, concluiu que eles formavam um grupo à parte. Por possuírem

traços anatômicos mais semelhantes aos dos répteis – como o formato das mandíbulas –

Owen batizou-os de “dinossauros”, termo em latim para “terríveis répteis”.

Na falta de detalhes sobre a espécie, os cientistas os trataram por mais de um século como

lagartos: animais que colocavam ovos, eram cobertos de escamas e não produziam calor por

conta própria, mas o retiravam do ambiente. Eram, portanto, pecilotermos, ou seja: tinham

“sangue frio”.

Mas até mesmo Owen percebera que os dinos não eram exatamente répteis. E, desde a

década de 1960, cientistas discutem se eles tinham ou não sangue quente. Hoje, quando

conhecemos 527 gêneros de dinos, ainda há polêmica sobre a fisiologia desses bichos. Animais

de sangue frio costumam ter um metabolismo lento e inconstante. Por dependerem do calor

do sol, precisam ficar parados até se aquecerem. Eles não são capazes de manter uma

atividade física constante e acelerada. Podem até ser ágeis, mas por pouco tempo.

Já os animais de sangue quente, ou homeotermos, como os mamíferos e as aves, produzem

calor com as próprias células, preservam-no com pêlos e penas e, assim, conseguem manter

sempre a mesma temperatura no corpo. Eles precisam ingerir bem mais comida para produzir

esse calor, um preço aceitável para ter as células sempre na temperatura ideal e poder fazer

atividades físicas sempre que necessário.

Ao que parece, o estilo de vida dos dinos está mais próximo do segundo grupo. Em primeiro

lugar, eles tinham postura ereta como pássaros ou elefantes – e não rastejante como os

lagartos. Se fossem de sangue frio, talvez não conseguissem sequer levantar todo o peso pela

manhã – manter-se de pé é um esforço contínuo típico de mamíferos e aves.

Além disso, alguns fósseis foram encontrados em regiões polares, onde a temperatura seria

baixa demais para que um animal de sangue frio retirasse calor do ambiente. Essas evidências

foram reforçadas com o estudo da taxa de cresci mento desses animais – o tiranossauro, por

exemplo, atingia o mesmo tamanho de um elefante, no mesmo tempo, um desenvolvimento

nunca visto em animais de sangue frio – e com a análise de partes moles preservadas dentro

dos ossos de dinossauros, semelhantes às de mamíferos e aves.

A principal defesa do argumento acima veio de Liaoning, província da China onde

foram encontrados, na última década, fósseis de dinossauros com penas. Como os cientistas

acreditam que as penas servem para preservar o calor, essa seria uma prova de que eles

tinham sangue quente. Agora eles acreditam que esse grupo de dinos – os terópodos, bípedes

e carnívoros, como o tiranossauro – sejam os ancestrais das aves, com um metabolismo

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semelhante ao dos modernos pássaros.

Mais complicado é imaginar como seria a fisiologia dos saurópodos, dinossauros quadrúpedes,

herbívoros e de pescoço longo que chegavam a pesar mais de 80 toneladas. Se tivessem o

mesmo metabolismo dos mamíferos, eles não conseguiriam ingerir as calorias necessárias para

sobreviver mesmo que passassem o dia comendo.

Ao que parece, o metabolismo dos dinossauros está em um ponto entre os mamíferos, as aves

e os répteis. “Muitos pesquisadores têm falado da existência de uma fisionomia tipicamente

dinossauriana, próxima da homeotermia, mas não exatamente igual a ela”, diz Reinaldo

Bertini, paleontólogo da Unesp, em Rio Claro, São Paulo. Ou seja: eles teriam um metabolismo

acelerado como o de aves e mamíferos, mas conseguiriam alterná-lo com algumas

características típicas de répteis. •

Quando começa a vida?

Em que momento exato surge um novo ser humano e o que os cientistas sabem sobre o

tema

Por Eduardo Szklarz

Para responder a essa questão, é preciso saber o que entendemos por vida. Há quem diga que

ela é o encontro do espermatozóide com o óvulo. Outros afirmam que é o coração pulsando, o

cérebro funcionando, ou que a vida é simplesmente o oposto da morte – se é que sabemos o

que é a morte.

Chegar a um conceito sobre vida parece impossível porque ele quase sempre vem influenciado

por valores religiosos, políticos e morais. Assista a uma discussão sobre o assunto e você verá

que a vida começa quando as pessoas desejam que comece. Ao estabelecer um “marco zero”,

surgem conseqüências para o aborto, para os métodos anticoncepcionais e para as pesquisas

da ciência. E é aí que a coisa se complica.

Os holofotes da ciência estão hoje sobre as pesquisas feitas com as chamadas células-tronco.

Como podem se diferenciar em vários tecidos, essas células carregam a esperança de poderem

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curar várias doenças. No Brasil, a Lei de Biosseguranca permite o uso de células-tronco de

embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados, desde que sejam

inviáveis ou congelados por mais de 3 anos, e com o consentimento dos genitores.

Em 2005, porém, o então procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, propôs uma ação

de inconstitucionalidade contra esses dispositivos da lei dizendo que eles violam o direito à

vida. Afinal, para Fonteles, o embrião já é um ser humano.

O Supremo Tribunal Federal discutiu o tema durante dois anos sem chegar a uma conclusão,

até que pediu ajuda. Convidou cientistas para uma audiência pública e viu que a ciência

também está longe de um consenso. Em geral, os pesquisadores contra a utilização de células-

tronco defendem que a vida começa quando o espermatozóide fertiliza o óvulo, dando origem

a um novo indivíduo com código genético distinto – daí essa explicação ser chamada de

“genética” (e adotada pela Igreja Católica).

Mas há pelo menos outras 7 visões científicas sobre o início da vida. Para a teoria

embriológica, a vida começa na 3a semana de gestação, quando o embrião adquire

individualidade. Antes disso, ele pode se dividir e dar origem a outros indivíduos. Essa visão

permite o uso de contraceptivos como a pílula do dia seguinte. Já a teoria neurológica aplica a

definição de morte para marcar o início da vida: se a morte é o fim das ondas cerebrais, então

vida é o início dessa atividade, o que ocorreria somente após a 8a semana de gestação.

Outros cientistas afirmam que a vida começa com a nidação, ou seja, a fixação do embrião no

útero – o único ambiente em que poderá se desenvolver. Como a nidação em geral só

acontece a partir do 40º dia, essa é uma visão bastante defendida por pesquisadores de

células-tronco em embriões congelados.

O debate científico não termina aí. A visão ecológica sustenta que a vida começa quando o

feto pode viver fora do útero. Para isso é preciso que os pulmões estejam prontos, o que

ocorre por volta da 25a semana de gestação. Segundo a visão fisiológica, a vida humana

começa quando o indivíduo nasce e se torna independente da mãe, com seu sistema

circulatório e respiratório. Já a visão metabólica sustenta que a vida é um processo contínuo.

Portanto, não faz sentido discutir seu início já que o óvulo e o espermatozóide são apenas o

meio da cadeia vital.

Outros dizem que a vida começa quando o ser humano reconhece a diferença entre si e os

demais. Mas esse lampejo não acontece numa terça-feira às 4 da tarde, e sim ao longo dos

primeiros meses após o nascimento.

Daí por que boa parte dos cientistas acredita que não cabe à ciência definir quando a vida

começa do ponto de vista ético, mas, sim, definir de que vida está se falando. Caberia à

sociedade escolher, por exemplo, se é ou não uma atitude condenável eticamente interromper

a gestação de um embrião humano sem cérebro.

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O que causou as eras glaciais?

Elas foram provocadas por mudanças na órbita da Terra ou em nossa atmosfera? Uma nova

era glacial pode vir por aí?

Na história da Terra, as Eras Glaciais são períodos em que grossas camadas de gelo cobrem

vastas áreas do planeta. Algumas delas duraram milhões de anos e alteraram o relevo, a

vegetação e a vida animal dos continentes. A mais antiga delas se deu há mais de 570 milhões

de anos e a mais recente, de menor escala (e, por isso, chamada de Pequena Era do Gelo),

começou no século 16 e durou cerca de 3 séculos na Europa, atingindo o seu pico em 1750.

Os pesquisadores sabem que essas pequenas eras do gelo ocorrem a cada 20 000 a 40 000

anos, e que as de grande duração ocorrem em um intervalo de cerca de 100 000 anos. O

matemático sérvio Milutin Milankovitch (1879-1958) foi o primeiro pesquisador a se debruçar

seriamente sobre o tema. Ele propôs que os períodos de glaciações eram provocados por

mudanças na quantidade de energia solar absorvida na Terra devido a pequenas

irregularidades na órbita do nosso planeta em volta do Sol. Essas pequenas variações

resultariam em quedas abruptas de temperatura.

A questão, contudo, não foi inteiramente esclarecida em razão de os cientistas saberem que as

recentes flutuações na órbita do planeta foram capazes de influenciar no máximo em 1% a

absorção da energia solar pela Terra – o que seria insuficiente para explicar as grandes

glaciações.

Outra possível causa das glaciações seria a diminuição, no passado, da concentração de gases

como o gás carbônico na atmosfera, cuja escassez provoca queda da temperatura da Terra. A

questão é: a redução do gás carbônico na atmosfera foi a causa dessas glaciações ou essa

diminuição na concentração do gás já teria sido resultado delas? O que teria provocado essa

mudança de concentração dos gases na atmosfera nas últimas Eras Glaciais e como controlá-

la?

Dependendo da resposta, os cientistas esperam saber, por exemplo, como combater com

eficiência o aquecimento global provocado pelo aumento da concentração de dióxido de

carbono na atmosfera – desta vez pelas mãos humanas.

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Como o cérebro funciona?

Por que os neurologistas ainda sabem tão pouco sobre o poder do mais misterioso órgão do

corpo humano?

Por Rafael Kenski

Até 3 décadas atrás, tudo o que podíamos fazer para estudar o cérebro era observar os

sintomas de pessoas com lesões ou dissecar cadáveres. Agora, além de poder analisar como os

genes dão origem às moléculas da nossa cabeça, os cientistas conseguem até ver ao vivo que

áreas do órgão são acionadas de acordo com um tipo de atividade.

Não é à toa que, a cada mês, surge uma nova pesquisa sobre o cérebro. A maioria delas

acompanhada da promessa da cura de doenças como Parkinson, Alzheimer, esquizofrenia e

depressão. Logo após anunciadas, contudo, elas revelam o quão o cérebro continua

misterioso: qualquer descoberta, por menor que seja, traz uma imagem tão inovadora do seu

funcionamento que ameaça varrer várias teorias estabelecidas sobre ele.

Apesar disso, os neurologistas já têm pistas de seus mecanismos básicos. Eles sabem, por

exemplo, que o cérebro funciona por inteiro como uma espécie de sistema integrado. Ao

entrar em atividade, contudo, cada uma de suas partes consome mais (ou menos) oxigênio de

acordo com sua missão. Assim, a amígdala é mais ativada na hora de lidar com emocões, assim

como as áreas de Broca e Wernicke se agitam quando associadas ao uso da linguagem. Apesar

de termos mapeado essas diversas funções, sabemos pouco sobre como elas interagem.

O problema é de escala: como cada ponto visualizado em uma imagem de ressonância

magnética funcional – a tecnologia mais usada para ver o cérebro – representa um cubo com 3

milímetros de lado, os neurocientistas não têm a menor pista de como essas áreas se

comunicam. É bem possível que, se conseguirmos estudar o órgão mais a fundo,

perceberemos que suas áreas isoladas não passam de partes de um sistema único.

Uma das formas de decifrar essa comunicação é estudando os neurônios em laboratório. Os

cientistas já sabem que essas células disparam potenciais de ação, pulsos elétricos gerados

quando a membrana libera ou absor ve átomos carregados magneticamente. Acredita-se que

esses disparos sejam a principal forma de comunicação entre eles nas sinapses, os pontos

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onde as terminações de dois neurônios se encontram, e que seriam estimulados ou inibidos

por algumas substâncias químicas, os neurotransmissores. Mas essa pode ser apenas uma das

formas de comunicação. Já se sabe que, em alguns casos, os neurônios estão separados uns

dos outros por apenas um furo. Em março deste ano, cientistas da Universidade de

Copenhague, Dinamarca, propuseram um modelo em que a principal forma de comunicação

entre essas células seriam ondas sonoras – e não a eletricidade.

Para piorar, nenhum desses circuitos é fixo. O que sabemos hoje é que o cérebro é bastante

maleável. Ele não só produz novos neurônios a vida inteira (apesar de ninguém saber muito

bem que uso eles têm), como modifica constantemente as ligações entre eles. Os circuitos que

usamos para cada tarefa mudam com o tempo e com as atividades que desenvolvemos ao

longo da vida.

Ninguém sabe também qual o destino final da interação entre as várias partes do cérebro.

Pegue o processamento da visão, por exemplo, uma tarefa tão difícil que envolve cerca de

metade do córtex, a maior e mais externa par te do cérebro. Sabemos que o olho codifica a luz

em pulsos que chegam a uma estrutura no centro do cérebro chamada tálamo. Daí ela vai para

o córtex, a princípio em uma área acima da nuca chamada v1 (de “visual 1”), depois se

espalhando para as áreas mais frontais v2, v3, v4, v5 e, então... ninguém sabe. Como o cérebro

usa esse processamento para dar origem à percepção ainda está além do nosso conhecimento.

O fato é que não temos um retrato fiel de como o cérebro processa essas informações. E

talvez, no dia em que tivermos uma teoria como essa, teremos que reavaliar, mais uma vez,

toda a sua estrutura de funcionamento.

Qual foi a causa das grandes extinções?

Na história do planeta, ao menos 5 delas mudaram as formas de vida na Terra. Quando será

a próxima?

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Por Rafael Kenski

De tempos em tempos, a Terra passa por grandes tragédias. Algumas, como a que se abateu

sobre o Permiano, 145 milhões de anos atrás, destruíram 90% das espécies. Mesmo tão

marcantes, esses eventos nem sempre são fáceis de estudar e nenhum deles tem uma

explicação definitiva.

Isso ocorre, em primeiro lugar, porque várias evidências do que aconteceu há centenas de

milhares de anos foram destruídas ao longo do tempo. Em segundo, são pouquíssimas as

fontes de informação sobre o assunto e quase tudo o que descobrimos teve que ser

literalmente desenterrado. Sabemos que esses eventos de fato aconteceram porque, no

registro geológico, uma extinção faz com que fósseis de espécies encontradas em uma camada

do solo não existam na camada imediatamente acima.

Estudando a fatia do solo em que ocorreu esse desaparecimento, os cientistas procuram sinais

de asteróides, vulcanismo, mudanças climáticas, movimentação de continentes e outros

fatores capazes de eliminar a vida no período. Eles juntam essas informações em um só

cenário, o que não é lá muito fácil: várias tragédias parecem ter acontecido ao mesmo tempo e

sempre é possível que o motivo real não tenha sido ainda encontrado.

No entanto, a pesquisa sobre esses cataclismos traz informações valiosíssimas. Caso eles não

tivessem ocorrido, a vida na Terra tomaria um rumo completamente diferente e é provável

que a espécie humana nem surgisse. Além disso, é bem provável que neste exato momento

estejamos próximos de uma dessas grandes extinções.

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Estamos sós no universo?

Além dos indícios de que a superfície de marte tinha água, quais as evidências da existência

de vida extraterrestre?

Por Salvador Nogueira

Não deixa de ser curioso que a maior evidência encontrada para a existência de vida

extraterrestre não tenha vindo de poderosos telescópios ou sondas espaciais – e sim de uma

pedra do tamanho de uma batata que caiu na Terra do espaço.

Conhecida como ALH 84001, a pedra é, na verdade, um meteorito de 2 quilos originário de

Marte que foi encontrado em 1984, pela Nasa, em meio ao gelo da Antártida. Como ele tem

pequenas cavidades e compostos que parecem ter sido feitos por bactérias, parte da

comunidade científica levantou a hipótese de que esse seria um sinal de que houve formas de

vida no passado marciano – enquanto outra parte, mais cética, diz que não há como provar

que essas cavidades não foram feitas após sua queda na Terra.

O fato é que, apesar de hipóteses feitas a partir de estimativas de como deve ser a atmosfera

de planetas distantes, o acesso que temos aos outros corpos celestes ainda é escasso. O caso

de Marte é exemplar: desde que as sondas Viking 1 e 2, nos anos 70, começaram a vasculhar o

planeta, não conseguimos ainda trazer amostras fresquinhas para análise. Ainda assim, o

planeta vermelho continua sendo a melhor opção para a busca por vida extraterrestre. Por

quê? Porque os cientistas sabem que Marte teve água em estado líquido no passado,

substância essencial à formação das cadeias químicas responsáveis pela vida.

Além de Marte, outro candidato em nosso sistema solar para abrigar vida é Europa, uma das

numerosas luas de Júpiter. Por estar muito mais distante do Sol do que a Terra, Europa seria

um congelador pouco propício à vida, não fosse por um detalhe: o peso de Júpiter produz

tamanho efeito gravitacional no satélite que chega a derreter parte do gelo no seu interior. O

resultado é um oceano de água líquida localizado abaixo de vários quilômetros de gelo que

poderia, sim, abrigar vida. Mas, como nenhuma sonda sequer chegou a Europa, tudo não

passa de uma hipótese. De qualquer forma, os cientistas sabem que, se houver vida passada

ou presente em nosso sistema solar, ela provavelmente será composta de seres unicelulares

relativamente simples, como bactérias. A saída então é caçar novos candidatos em rincões

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mais distantes do Universo.

Dos mais de 200 planetas conhecidos fora do nosso sistema solar, um deles, localizado ao

redor de uma estrela chamada Gliese 581, foi alçado recentemente a candidato número 1 à

vida. Tudo por ser, ao menos em tese, parecido com a Terra – com uma temperatura estimada

entre 0 e 40 oC e provável presença de água. Por enquanto, saber na prática se ele abriga

alguma forma de vida é impossível.

Uma forma mais eficiente de buscar vida no Universo é tentar encontrar rastros da atmosfera

desses astros. Os dois maiores projetos espaciais voltados para esse objetivo são o Terrestrial

Planet Finder (“Localizador de Planetas Terrestres”), da Nasa, e o Darwin, da Agência Espacial

Européia (ESA). Eles poderão detectar a luz desses mundos distantes com qualidade suficiente

para encontrar “assinaturas” que denunciem, por exemplo, que gases estariam presentes na

atmosfera desses planetas.

Caso haja uma quantidade grande de oxigênio e vapor d’água em sua composição, a chance de

que ali exista vida passa a ser grande. Ainda assim, não haverá garantia nenhuma de que

existam seres inteligentes. Para encontrar ETs que possam falar conosco, só há um meio

conhecido: eles precisam nos enviar uma mensagem. A probabilidade de que alguém esteja na

vizinhança nos enviando um sinal (por rádio ou laser) é baixíssima, já que desde 1960 os

cientistas usam radiotelescópios para tentar ouvir algo vindo das estrelas. Até agora, eles não

encontraram nada comprovadamente gerado por um ser inteligente, como aqueles sinais

sonoros encontrados por Jodie Foster no filme Contato. A verdade é que, a despeito de todos

os candidatos, só conhecemos um planeta em que a vida se desenvolveu: a Terra

Os animais pensam como nós?

Será que o homem é realmente tão mais inteligente do que as outras espécies?

Por Rodrigo Cavalcante

Nenhum pesquisador duvida que o pensamento abstrato do Homo sapiens é um feito inédito

no mundo animal. Mas, quanto mais os cientistas sabem sobre espécies como chimpanzés,

gorilas, orangotangos, baleias e golfinhos, mais eles chegam à conclusão de que a barreira

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intelectual que separa os homens desses animais é bem menor do que se imaginava.

Dois estudos pioneiros, nas décadas de 1950 e 1960, foram fundamentais para diminuir essa

distância. O primeiro, realizado na ilha de Koshima, no Japão, detectou que os macacos da

região eram capazes de aprender novas técnicas para se alimentar a partir da mudança do

hábito de um dos seus pares. A pesquisa revelou que um jovem macaco provocara uma

pequena revolução na ilha ao passar a lavar a batata-doce num pequeno braço dágua antes de

comê-la, ato que passou a ser repetido por três quartos de todos os macacos jovens da ilha. A

descoberta provou que o homem não era o único a transmitir um comportamento socialmente

adquirido não transmitido geneticamente nem aprendido individualmente.

O segundo estudo foi o da inglesa Jane Goodall que, ao conviver com chimpanzés na Tanzânia,

provou que esses primatas tinham uma complexa vida social, uma linguagem primitiva com

mais de 20 sons e a capacidade de usar diversas ferramentas para obter alimento algo

considerado exclusivo da nossa espécie. Além disso, os pesquisadores sabem que mamíferos

como baleias, golfinhos e elefantes conseguem aprender e ensinar.

Como até a ONU já reconheceu que não dá mais para tratar os grandes primatas como animais

comuns (o secretário-geral da ONU Kofi Annan escreveu que, assim como nós, eles têm

autoconsciência, cultura própria, ferramentas e habilidades políticas), é bem possível que, no

futuro, o homem venha a descobrir que se comportou diante dessas espécies com a mesma

arrogância das velhas teorias de superioridade racial.

Quem foi Jesus?

O que a ciência (e não os religiosos) sabem de verdade a respeito do homem que viveu na

palestina no século 1

Por Rodrigo Cavalcante, com ilustrações de Sattu

Nos filmes da Sessão da Tarde, Jesus quase sempre é interpretado por um ator de pele branca,

cabelo longo, barba castanha, olhos claros, enfim, alguém mais parecido com um hippie saído

de uma universidade da Califórnia do que com um homem que nasceu na Palestina do século

1.

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Mas, se o problema dos pesquisadores fosse apenas tentar reconstituir a fisionomia de Jesus,

tudo ser ia mais fácil – até porque, segundo os arqueólogos, ele deveria se parecer mais com

um árabe do que com os atores de filmes de Hollywood.

A questão que sempre intrigou os arqueólogos é a busca do chamado Jesus histórico, ou seja,

a figura histórica de Jesus sem os constrangimentos da teologia ou da fé. Para esses

pesquisadores, os Evangelhos não podem ser tomados como registros da história, e sim como

testemunhos de fé, escritos décadas depois da morte de Jesus. Sem levar a sério os Evangelhos

como registros documentais – e sim interpretativos –, o que os arqueólogos sabem, enfim,

sobre o judeu que morreu crucificado em Israel há quase 2 000 anos?

Muito pouco. Do ponto de vista documental, a única referência direta a Jesus feita por um não

cristão no século em que ele viveu está na obra do historiador judeu Flávio Josefo, escrita

entre as décadas de 70 e 90, que faz uma menção discreta a “um homem sábio” que viveu no

tempo de Pilatos. Em outro trecho, o escritor faz referência a Tiago, irmão de Jesus,

“cognominado de Messias”, que teria sido entregue para ser apedrejado.

Irmão de Jesus? Isso mesmo: para os pesquisadores, é provável que Jesus, de fato, tenha tido

vá rios ir mãos, teria nascido em Nazaré – e não em Belém – e sua morte passara praticamente

despercebida pelos romanos na época. Veja no quadro ao lado as diferenças entre a versão

tradicional e a versão dos arqueólogos e historiadores sobre a vida do homem que inspira fé

em mais de 2 bilhões de pessoas.

Veja quadro na próxima página

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É possível viajar no tempo?

Pondo de lado a ficção, quais as reais possibilidades de alguém embarcar nessa viagem?

Por Salvador Nogueira

Responder a essa pergunta é moleza. É claro que se pode viajar no tempo – estamos fazendo

isso neste momento. Repare que, ao ler esta frase, a leitura do começo do parágrafo já ficou

para trás – é passado. Então, ao que tudo indica, estamos eternamente nesta viagem, partindo

do passado rumo ao futuro.

A pergunta a ser formulada então é: podemos v iajar no tempo sem atravessar todos os

instantes entre um dado momento e outro? Ou, melhor ainda: será que poderemos pegar

atalhos no tempo?

Quando Einstein começou a brincar com o tempo e o espaço, em 1905, ele descobriu que eles

não são iguais para todo mundo. Cada um tem o próprio tempo e o próprio espaço,

configurado pelas distorções gravitacionais locais e pela velocidade do referencial. Ele

descobriu que, quanto mais rápido você viaja, mais devagar o tempo passa pa ra você – ou, se

preferi r, mais depressa o tempo passa para todo o resto.

Tá aí o primeiro ata lho pelo tempo. Para acelerar em direção ao futuro, basta andar em

altíssima velocidade. Vamos supor que você viaje rumo a Plutão numa espaçonave que voe a

80% da velocidade da luz. Esse planeta anão fica mais ou menos a 5 horasluz da Terra (o que

quer dizer que a luz leva 5 horas para fazer o trajeto). À velocidade estipulada, para o controle

da missão, aqui na Terra, a viagem seria concluída 6 horas e 15 minutos depois da partida.

Entretanto, para você, a bordo da nave, teriam se passado apenas 3 horas e 45 minutos.

O fenômeno se repetiria na volta, e, ao desembarcar, você teria envelhecido apenas 7 horas e

30 minutos, enquanto todo mundo por aqui teria vivido 12 horas e 30 minutos. Na prática,

você teria avançado 5 horas em direção ao futuro. Moral da história: para viajar ao futuro,

basta correr muito.

E quanto a viagens ao passado? Poderia alguém correr tanto a ponto de retornar antes mesmo

de ter partido? Hummm, a perg unta é capciosa. Em princípio, não, porque para viajar rumo ao

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passado seria preciso ultrapassar a velocidade da luz. E uma das conclusões da Teoria da

Relatividade (a mesma que propicia essas distorções todas e permite a viagem ao futuro) é a

de que nada pode viajar mais rápido que a luz. Na verdade, nada pode viajar sequer à mesma

velocidade que a luz – exceto a própria luz, é claro.

Isso ocorre porque, conforme você vai acelerando, sua massa aumenta, e é preciso mais

energia pa ra continuar acelerando. Ao atingir a velocidade da luz, sua massa tenderia ao

infinito, e você prec isaria de energia infinita para ultrapassar a bar reira. Aliás, a luz só

consegue viajar a essa velocidade porque as partículas de que ela é composta, os fótons, não

possuem massa, então não precisa m se preocupar com sua massa tendendo ao infinito.

Esse seria o ponto final, não fosse uma das outras possibilidades malucas criadas pela Teor ia

da Relativ idade. Segundo as equações, sob certas condições (que podem nem ser possíveis), é

possível criar “túneis” que serviriam de atalho entre regiões diferentes do espaço, espécies de

portais que ligam regiões distantes no Universo.

Com base na hipótese de que poderemos um dia construir um túnel desses, o físico americano

Kip Thorne, especialista nesses túneis (conhecidos como “buracos de minhoca”), imaginou ao

menos uma hipótese de viagem ao passado. Para isso, seria preciso primeiro construir um

desses atalhos ligando um local em terra a uma nave espacial.

Nesse caso, se a nave viajasse até Plutão e o astronauta exausto saísse pelo buraco de

minhoca de volta à Terra, ele poderia constatar que sua nave, de fato, ainda não havia partido.

Mas o que ocor reria nesse caso?

Em teoria, tudo isso é possível. Mas mesmo os físicos não acreditam muito nessas histórias. A

razão? Ao voltar no tempo, quem será que o astronauta encontraria dentro da nave espacial

que a família estava espera ndo. Esse é um dos famosos paradoxos temporais que aterrorizam

os cientistas. Por isso eles preferem acreditar que algo na natureza “proíbe” as viagens ao

passado – um “princípio de proteção cronológica”, como diz o físico britânico Stephen

Hawking.

O que os pesquisadores não sabem é que mecanismo seria esse – ou mesmo se ele existe. No

momento, o jogo da viagem ao passado está completamente aberto.

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O que é a cor?

O amarelo existe de verdade ou ele só é assim por causa do seu cérebro?

Por Eduardo Sklarz

Para entender as cores, é preciso antes falar de luz. A luz branca (praticamente a totalidade da

luz proveniente do Sol) é composta de radiações de diversos comprimentos de onda. Cada

comprimento de onda corresponde a uma cor – ou seja, ao ser captado individualmente por

nossos olhos, ele é convertido em impulsos elétricos que fazem o cérebro perceber aquela cor.

O vermelho, por exemplo, tem comprimento de onda de 0,7 mícron (0,7 milésimo de 1

milímetro) e o amarelo, de 0,6 mícron. No século 17, o físico inglês Isaac Newton deixou isso

claro em um experimento usando um prisma: quando a luz solar atravessava o vidro, cada cor

seguia uma direção diferente, pois cada uma delas tem comprimento de onda e velocidade

diferentes.

Assim, se você usar um prisma para decompor a luz solar e colocar o olho “na direção” de

onde vem o laranja, verá laranja; se colocar os olhos na direção do azul, verá azul, e assim por

diante. Mas esse é só o começo da história. Digamos que você saia à rua com uma camisa

amarela. Ao ser iluminada pela luz do Sol, ela tem a propriedade de absorver todas as cores,

exceto o amarelo. Portanto, de todas as cores que chegam à camisa, a única que é rejeitada –

e que prossegue seu caminho entre a camisa e seu olho – é a cor amarela. Por que isso

acontece?

“Porque a camisa tem pigmentos. Esses pigmentos não absorvem o amarelo, do mesmo jeito

que outros pigmentos rejeitam o vermelho ou o azul”, diz Abá Persiano, professor do

Departamento de Física da UFMG. “Por isso, o amarelo proveniente do Sol será rejeitado por

sua camisa, que o refletirá em todas as direções, inclusive para os seus olhos – e você verá

amarelo.” É como se a fonte do amarelo estivesse na sua camisa, mas na realidade essa fonte

está no Sol ou nas lâmpadas que usamos. Se você entrasse em um lugar sem luz alguma, a

camisa seria preta.

Do ponto de vista físico, o amarelo existe, sim, pois existe um comprimento de onda (0,6

mícron) que, ao ser capturado por seus olhos, é convertido em impulsos elétricos específicos,

que vão ao cérebro e o fazem concluir: “É amarelo”. Mas a camisa amarela, a rigor, não é

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amarela. Ela tem os chamados pigmentos amarelos, que “não gostam” do amarelo e não o

absorvem, refletindoo para os seus olhos.

Da mesma forma que a camisa amarela, um objeto branco iluminado pelo Sol reflete todas as

cores. Já um objeto preto, por absorver todas as cores, não reflete nada para os seus olhos –

assim como o fundo desta página. O mistério sobre as cores está em descobrir o que levou os

seres humanos a desenvolverem células capazes de diferenciar as 3 cores primárias (verde,

azul e vermelho, das quais surgem todas as outras cores). Uma das teses dos estudiosos da

evolução humana é que esse espectro de cores nasceu por meio de uma mudança de hábitos

alimentares da nossa espécie, que, por uma necessidade de ampliar o leque de alimentos,

privilegiou a visão em detrimento do olfato.

Qual o segredo da linguagem humana?

Programação genética ou aprendizado cultural? De onde vem nossa habilidade para a

comunicação?

Por Eduardo Sklarz

Ao longo da história, esse mistério mobilizou duas correntes teóricas principais. Para as

chamadas teorias nativistas, as crianças já nascem predispostas a adquirir a linguagem. O

cérebro, portanto, estaria geneticamente preparado para albergá-la. A estrela dessa corrente

é a Teoria da Gramática Universal (GU), segundo a qual todas as línguas compartilham de

certos princípios que são inatos ao ser humano. Ao serem expostas a essas línguas, as crianças

rapidamente assimilam sua estrutura. Não é à toa que, com alguns meses de idade, elas

balbuciam palavras e, por volta dos 4 anos, conseguem fazer múltiplas combinações a partir de

um vocabulário finito.

Do outro lado estão as teorias não nativistas, que enfatizam fatores ambientais e a interação

das crianças com seus pais e educadores. Essas teorias não se concentram apenas nos

elementos lingüísticos, mas no uso que fazemos deles – ou seja, no contexto e na forma como

as frases são utilizadas. Vista desse modo, nossa habilidade de adquirir linguagem não

dependeria exclusivamente da ativação de um aparato interno inato, mas do processo de

socialização no grupo a que pertencemos.

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Hoje, a maioria dos lingüistas concorda que tanto a biologia como o ambiente são

importantes. “Ninguém pode duvidar de que existe um fator genético que determina a

aquisição da linguagem pelos humanos – enquanto outros organismos, vivendo exatamente no

mesmo ambiente, não a adquirem. Eles nem ao menos reconhecem que alguns elementos do

ambiente estão ligados à linguagem”, diz o lingüista americano Noam Chomsky, do Instituto de

Tecnologia de Massachusetts (MIT), principal expoente da Teoria da Gramática Universal. “As

crianças adquirem a linguagem de forma quase reflexiva, muito antes de terem familiaridade

com muitos aspectos de sua cultura. Por outro lado, tampouco existem dúvidas de que o

ambiente influencia esse processo.

É graças aos fatores ambientais, por exemplo, que eu falo inglês e não suaíli.” A neurologia

segue no mesmo caminho. “O programa genético garante a possibilidade de aprender

linguagem e constituir a mente humana. Mas, para que essa possibilidade se realize, ela vai

depender da interação com pessoas e coisas, ou seja, da constituição das redes neurais que

representam os conceitos e as palavras”, diz o neurologista Benito Damasceno, da Unicamp.

Ou seja: o desenvolvimento da linguagem seria semelhante ao da visão, ao da locomoção ou

ao de qualquer outro sistema orgânico.

O problema é que, ao contrário de outros sistemas orgânicos, a linguagem é difícil de ser

estudada por ser exclusiva da nossa espécie. Golfinhos e macacos podem se comunicar, mas

aparentemente não desenvolvem regras para formar frases como nós. Mas tudo deve ficar

mais fácil em breve. Quanto mais conhecermos as causas de distúrbios de linguagem, mais

ficaremos sabendo sobre o peso dos genes e dos fatores ambientais envolvidos em nossa

habilidade para a comunicação.

Quantas dimensões existem no universo?

A teoria de Einstein diz que são 4, mas há cientistas que falam em 11 ou mais. Afinal, quem é

que está certo?

Por Salvador Nogueira

No início do século 20, a resposta para essa pergunta era tão óbvia quanto velha. Euclides, lá

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na Grécia antiga, já havia sacado que são 3 as direções possíveis para qualquer movimento:

para cima (ou para baixo), para a esquerda (ou para a direita) e para a frente (ou para trás).

Portanto, o espaço possui 3 dimensões. Fácil, não?

Até que, em 1905, Einstein começou a bagunçar tudo. Nesse ano, ele fez 3 descobertas

importantes e uma delas demonstrava que, ao contrário do que dizia a física até então, o

espaço e o tempo não eram fixos e imutáveis. Na verdade, eles eram flexíveis e manipuláveis,

de modo que era possível, sob certas condições, encolher o tamanho de um centímetro ou

esticar a duração de um segundo.

E o pior: a modificação sobre um estava atrelada à transformação do outro. Ou seja: o tempo

era, do ponto de vista físico, indistinguível do espaço. Com isso, deixou de ser possível falar em

3 dimensões – já que o tempo não podia mais ser colocado em uma gaveta distinta da das

outras dimensões. Ficou claro que tudo era uma coisa só: um continuum espaço-tempo, como

os físicos hoje adoram dizer.

Até aí, bastava incorporar o tempo, que até Euclides conhecia, à lista das 3 dimensões

existentes. Mas Einstein fez questão de complicar as coisas quando, em 1915, conseguiu

aprofundar sua Teoria da Relatividade. Ao estudar os movimentos acelerados, ele percebeu

que a gravidade era nada menos do que uma distorção na geometria das 4 dimensões. Saía de

cena a geometria euclidiana e vinha em seu lugar uma geometria não-euclidiana (em que a

soma dos ângulos de um triângulo não necessariamente dá 180 graus e linhas paralelas podem

se cruzar).

Não satisfeito em pôr de cabeça para baixo a geometria básica do Universo, Einstein decidiu

que o passo seguinte era unificar a física toda num só conjunto de equações. Naquela época,

em que ninguém conhecia ainda as forças que agiam dentro dos átomos, a tão sonhada

unificação era apenas uma questão de costurar a relatividade (que explicava a gravidade) e o

eletromagnetismo (responsável, como você pode imaginar, pelos fenômenos elétricos e

magnéticos, ambos relacionados à partícula que aprendemos a chamar de elétron).

Einstein não foi muito adiante com seus esforços, mas outros foram inspirados por sua busca.

Entre eles, dois se destacaram muito cedo: Theodor Kaluza e Oskar Klein. Trabalhando

individualmente em meados da década de 1920, os dois perceberam que, se a relatividade

geral fosse reescrita para acomodar 5 dimensões, em vez de 4, as equações do

eletromagnetismo brotavam naturalmente dela.

Mas tinha um probleminha: até onde se pode ver, o Universo não tem 5 dimensões, apenas 4.

Klein, em 1926, sugeriu que não podíamos ver a 5a dimensão porque ela estaria enrolada em

si mesma, como um tubinho minúsculo. De lá para cá, outras forças que agiam no interior do

átomo foram descobertas e, por algum tempo, a idéia de dimensões extras foi esquecida. Foi

então que surgiu a Teoria das Supercordas – a noção de que as partículas que compõem o

Universo poderiam ter a forma de cordas vibrantes (com cada vibração dando as

características da partícula). Os físicos desconfiam que, a partir dessa premissa, seria possível

descrever todos os componentes da natureza numa única teoria – mas só se o Cosmos

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possuísse nada menos que 26 dimensões.

Uma dimensão enrolada escondida, vá lá. Mas quem vai acreditar em 22 dimensões

escondidas? Como explicar que 4 dimensões são aparentes e as outras todas ficam ocultas?

Pois é, como os próprios físicos achavam essa idéia difícil de engolir, começaram a trabalhar

numa forma de reduzir o número de dimensões necessárias. Hoje eles já conseguiram fechar

com 10 ou 11 dimensões – e muitos pesquisadores acreditam que o número não vai cair muito

mais que isso. Ou seja, se a Teoria das Supercordas estiver certa, o Universo deve estar cheio

de dimensões enroladas e, portanto, invisíveis.

Quando o homem tornou-se humano?

Como surgiu o pensamento abstrato e por que ele apareceu milhares de anos depois do

surgimento da nossa espécie?

Por Rodrigo Cavalcante

N a década de 1970, quando foi encontrado o fóssil de Lucy, nosso ancestral Australopithecus

afarensis, que viveu na África há mais de 3,4 milhões de anos, os pesquisadores descobriram

que o cérebro dela não era muito maior do que uma tangerina. Comparado ao da nossa

espécie, que tem 3 vezes esse tamanho, o achado confirmou a importância do crescimento do

cérebro para o surgimento do pensamento abstrato, traço que fez do Homo sapiens um

animal completamente diferente das outras espécies.

O problema é que, apesar de saber que o cérebro teve, sim, um papel fundamental em fazer o

homem humano, resta um enigma na história da evolução. Trata-se do mistério da “Revolução

do Paleolítico Superior”, uma explosão criativa ocorrida entre 40 000 e 30 000 anos atrás que

trouxe avanços drásticos na qualidade de artefatos como jóias, armas para a caça, ritos de

sepultamento e na arte, como mostram as pinturas em cavernas do período.

Como do ponto de vista anatômico o Homo sapiens possuía o mesmo tamanho de cérebro

havia 100 000 a nos, por que ele passou nada menos que 60 000 anos sem desenvolver essas

habilidades, com um estilo de vida não muito diferente do dos seus antepassados?

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Uma das principais hipóteses levantadas é a de que, nesse momento, alguma mudança sutil

(talvez em nosso cérebro) teria feito com que a linguagem humana atingisse o nível de

sofisticação que distanciou o Homo sapiens dos outros animais. “Uma vez desenvolvido o

pensamento simbólico, nós passamos a viver não apenas no mundo natural mas também no

mundo reconstruído por nossa própria mente”, diz o biólogo evolutivo Ian Tattersall, do

Museu Americano de História Natural. Desde então, como naquele corte de cena do filme

2001, uma Odisséia no Espaço, em que a imagem de um hominídeo levantando um osso ao

céu dá lugar à cena de uma estação espacial, ninguém mais segurou a nossa espécie

O que se passa no interior da Terra?

Por que ainda não conseguimos prever com precisão a ocorrência de terremotos, tsunamis e

erupções vulcânicas?

Por Tiago Cordeiro

No chão que nós pisamos não tem nada de firme. Estamos apoiados em uma camada finíssima

de rocha, de mais ou menos 40 quilômetros de espessura.

Embaixo dela, até o centro do planeta, existem 6 330 quilômetros de pedras densas a 2 000 ºC

de temperatura e u m núcleo de ferro que se mantém a 4 000 ºC. Nunca fomos além de 15

quilômetros de profundidade e, mesmo assim, com base no estudo das ondas que chegam de

baixo, os cientistas sabem o que são e de que são feitas essas diferentes camadas.

Também descobrimos que o solo da Terra se apóia em pelo menos 16 grandes placas

tectônicas, blocos de magma endurecido que se movem lentamente. Cada um deles passeia a

uma velocidade própria e para uma determinada direção.

É um processo lento, mas muito dinâmico: tudo indica que o Casaquistão já esteve ligado à

Noruega, e muitos geólogos acreditam que, num futuro distante, a Califórnia vai se separar do

continente americano e a África vai passar por cima do mar Mediterrâneo e se juntar à Europa.

Nesse vaivém de placas, é comum que elas se choquem e provoquem grandes tremores. Os

pesquisadores também sabem que as erupções vulcânicas são resultado do transbordamento

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de magma, que encontra uma forma de escapar para a superfície e sobe com grande pressão.

Isso é possível porque o magma se movimenta na forma de correntes de convecção – o mais

quente sobe, chega perto da crosta, fica mais frio, se torna pesado e desce.

Certo, temos uma boa idéia sobre o que acontece no interior do planeta. E, ainda assim, não

fazemos a menor idéia de como prever a ocorrência de terremotos, tsunamis e erupções. Por

quê? “Porque conhecemos o processo, mas não conseguimos observá-lo com precisão”,

responde o geólogo José Eduardo Pereira Soares, professor da UnB. “A gente nunca sabe que

tipo de ocorrência o encontro das bordas das placas vai provocar nem consegue prever

quando o magma acumulado vai ser liberado. Tentamos pesquisar a história do local, para

identificar algum tipo de padrão, mas a verdade é que nunca chegamos nem perto de acertar.”

Conheça as três camadas que formam a Terra:

1 Crosta

Tem 40 quilômetros de espessura em terra seca e 7 no fundo do oceano. Feita basicamente de

rochas menos densas do que as que estão embaixo, a casca do planeta flutua sobre o magma,

como rolha na água. A crosta está apoiada em pelo menos 16 grandes placas tectônicas,

formadas pela camada externa de magma endurecido.

2 Manto

É formado por 3 000 quilômetros de camadas de magma – uma mistura de rochas derretidas,

gases e vapor d’água. As temperaturas ficam em torno de 2 000 ºC, e essa sopa de pedras se

mantém líquida porque é submetida a pressões altíssimas. Quanto mais perto do centro do

planeta, maior a pressão.

3 Núcleo

Atinge 4 000 ºC e tem duas camadas. A mais profunda é um cristal gigantesco, feito

principalmente de ferro. A externa, líquida, gira em uma velocidade maior do que a da rotação

da Terra. Essa diferença provoca redemoinhos internos e cria um campo magnético que

protege o planeta de boa parte das radiações solares.

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Como os pássaros migram?

Algumas espécies percorrem mais de 70 000 quilômetros pelo globo, mas até hoje os

cientistas não sabem exatamente como elas acham o caminho

Por Rodrigo Cavalcante

Aparentemente, os motivos que levam mais de 1 50 0 espécies de pássaros a migrarem

milhares de quilômetros são simples: a busca de locais com abundância de alimentos, clima

favorável e ambiente seguro para a reprodução. Acontece que muitas espécies voam muito

mais longe do que seria necessário para encontrar esses refúgios.

Andorinhas que vivem n a Inglaterra, por exemplo, poder iam se adaptar bem ao clima da

África equatorial. E ninguém ainda sabe porque esses pássaros preferem viajar milhares de

quilômetros extras para passar o inverno na África do Sul. Ao percorrerem essas grandes rotas,

eles pegam carona em rodovias formadas por correntes de vento. Para não desperdiçarem

energia, os pássaros alteram de altitude em busca das correntes favoráveis – que mudam de

direção de acordo com a altura.

Enquanto algumas espécies voam sem escalas por vários dias, a maioria delas quebra a viagem

em pequenas paradas de “ reabastecimento”. (Daí a importância da preservação desses

pontos que, no Brasil, estão localizados no Amapá, no Pará, no Maranhão e no Rio Grande do

Sul.)

Após monitor arem algumas espécies, os pesquisadores desconfiam de que essas aves têm

uma “bússola interna” capaz de detectar o norte magnético. Além dessa habilidade, os

pássaros usam o Sol, as estrelas, o olfato, a audição e a própria paisagem como orientação. O

surpreendente é que as longas rotas migratórias percorridas por eles exigem consciência

precisa do tempo e da posição no espaço.

E, como essas aves são capazes de corrigir a direção mesmo após se desviar dela por milhares

de quilômetros, os cientistas ainda não sabem exatamente como funciona essa espécie de GPS

interno e tampouco como ele combina com eficiência todos os dados para que elas retorne m

ao destino original.

Curiosidade: Qual é o campeão de longas distâncias?

O bobo-escuro (Puffinus griseus), parente do albatroz, é a ave que mais voa no mundo. Após

ser acompanhada de forma eletrônica no ano passado, os pesquisadores descobriram que a

espécie percorreu 70 000 quilômetros em apenas 200 dias. Ou seja: o pássaro voou em média

quase 350 quilômetros por dia. De acordo com a pesquisa, o bobo-escuro saiu do Havaí,

passou pela Nova Zelândia, Polinésia e Japão antes de retornar ao seu ponto de origem

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O que é a consciência humana?

Como o seu cérebro produz o filme que faz com que você seja você mesmo?

Por Rodrigo Cavalcante, com ilustração de Will Murai

Descartando o argumento religioso segundo o qual a consciência está em sua alma (ou

espírito) e independe do seu corpo físico é preciso procurá-la em seu cérebro, órgão que pesa

1,3 quilo e tem a consistência de um ovo mole.

A primeira vez que ficou claro na medicina que até a personalidade de uma pessoa pode

mudar por meio de uma mudança física no cérebro foi em 1848, no estado de Vermont, EUA,

quando um operário de 25 anos que trabalhava na construção de ferrovias, chamado Phineas

Gage, sofreu um acidente bizarro.

Após uma explosão malsucedida de rochas que estavam no traçado do trilho, uma barra de

ferro em forma de lança atravessou como um projétil a base do crânio de Gage e saiu pelo

topo de sua cabeça. Após cair no chão e sofrer uma série de convulsões, ele voltou a falar

normalmente e, ao menos aparentemente, recobrou a consciência.

O problema é que, após essa perfuração no cérebro, ele jamais foi o mesmo. De um homem

trabalhador e amigável, Gage havia se transformado, segundo os relatos da época, em um

típico cafajeste. Ele havia perdido qualquer censura, tornara-se arrogante e capaz de qualquer

coisa para levar vantagem em tudo. Mas será que um dano físico no cérebro pode mudar a

consciência de uma pessoa?

Hoje, os neurologistas sabem que a área afetada no cérebro de Gage foi o córtex pré-frontal.

Parte do cérebro que fica logo abaixo da testa, tem um papel importante em nossa capacidade

de sentir emoções. Ao perder essa capacidade, as pessoas tornam-se mais indiferentes, já que

não conseguem mais sentir as emoções responsáveis por aquele aperto no peito de culpa ou

remorso, por exemplo. São esses sentimentos que nos obrigam a repensar atitudes, mudar,

evoluir, diz Dylan Evans, neurologista da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e autor de

Emotions The Science of Sentiments (Emoções A Ciência dos Sentimentos, ainda inédito no

Brasil).

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Do acidente de Phineas Gage para cá, os neurologistas e biólogos sabem que esse filme que só

você assiste e que reúne a história da sua vida, preferências, emoções, enfim, a sua identidade

tem origem em uma série de atividades integradas no seu cérebro. De acordo com eles, a

capacidade de representar o mundo na mente não passa de um traço evolutivo, assim como a

nossa habilidade para a locomoção.

Na prática, o que os cientistas querem dizer com isso é que, de certa forma, outras espécies

também têm consciência. A diferença estaria no grau dela. Enquanto uma anêmona do mar,

por exemplo, se expande ou se contrai diante da presença da luz solar, o homem tem uma

série de instrumentos para representar o ambiente de uma forma bem mais sofisticada. Diante

de um risco de assalto iminente, por exemplo, sentimos medo, tentamos antecipar

visualmente o que pode acontecer, calculamos a chance de escapar, nos lembramos das

pessoas que amamos, enfim, nosso cérebro realiza simultaneamente uma série de atividades.

E, após essa experiência, esses acontecimentos assim como os sentimentos envolvidos nele

são registrados para que você se sinta ruim novamente diante de outra ameaça e tenha mais

chances de sobreviver.

Mas em que momento essas atividades formam aquilo que você chama de sua consciência?

Para Susan Greenfield, pesquisadora da Universidade de Oxford, a consciência não é um

lampejo, mas um contínuo de conexões dos seus neurônios, que vão ocorrendo do momento

em que você nasce até o fim da sua vida. A cada nova experiência, seu cérebro faz uma

representação mental que é armazenada em sua memória. Ao comer uma comida diferente,

por exemplo, surgiria uma mudança nas conexões do seu cérebro. Quanto mais o mundo

passa a ter significado para você, mais conexões são feitas em seu cérebro, diz Greenfield.

Hoje, ações do nosso cérebro podem ser monitoradas por meio da técnica de tomografia por

emissão de pósitrons, que mede a quantidade de energia que cada área consome em cada

uma dessas atividades. O resultado dessas pesquisas tem revelado que as diversas atividades

responsáveis pela nossa consciência requerem o casamento de várias regiões. Ou seja: o que

faz de você você é a soma de todas as representações que você faz dos outros e do seu

ambiente, que podem se expandir a cada dia, desde que você mantenha sua consciência

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O que é a luz?

Ok, nós sabemos que ela é uma partícula e uma onda, mas o que isso realmente quer dizer?

Por Salvador Nogueira

No século 17, Isaac Newton sugeriu que a luz era composta de pequenos corpúsculos ou seja,

partículas. Nos dois séculos seguintes, contudo, experimentos demonstraram que a radiação

luminosa era composta de ondas, como descreveu, no século 19, o escocês James Maxwell.

Inspirado pela mecânica quântica do alemão Max Planck, Einstein bagunçou tudo ao

apresentar, em 1905, uma descrição da luz que só seria válida caso ela fosse composta de...

partículas.

Foi por esse trabalho (e não pela relatividade) que Einstein ganhou seu Nobel. De acordo com

ele a luz se comporta ora como onda, ora como partícula. Mas o que define quando a luz age

como uma ou outra? Essa é a grande maluquice. É o experimento a forma como tentamos

detectar a luz que induz essa transformação.

Um dos fenômenos que indica que a luz é onda é a chamada interferência o fato de que ondas

luminosas, quando passam a certas distâncias, podem interferir umas com as outras. A melhor

forma de observar isso é ver uma parede com duas fendas estreitas, uma ao lado da outra, por

onde a luz deve passar e ser projetada num anteparo atrás da parede. Quando as duas fendas

estão abertas, o padrão de luz e sombra que se vê no anteparo é uma série de listras o

esperado, caso as ondas luminosas estivessem interferindo umas com as outras. Ao se fechar

uma das duas fendas, o padrão listrado some e sobra apenas uma faixa intensa de luz (ou seja,

a interferência some).

A doideira é quando os cientistas enviam um fóton por vez na direção da parede. Com as duas

fendas abertas, eles atingem o anteparo, um após o outro, numa distribuição compatível com

o padrão de listras. Mas, se cada fóton está viajando sozinho na direção da parede, ele só tem

duas opções: passar por uma fenda ou pela outra. Ao escolher uma delas, como ele pode

causar interferência com ele mesmo? Pois é, acontece. Parece que o fóton, mesmo sendo um

só, passa pelas duas fendas ao mesmo tempo.

E tem mais: não dá para prever exatamente aonde um dado fóton vai atingir o anteparo. O

padrão ondulatório descreve a probabilidade que uma partícula tem de ir, mas não determina

aonde cada fóton vai. É o chamado princípio da incerteza, da mecânica quântica, em ação. A

Teoria Quântica pode calcular a probabilidade do destino dessas partículas. Mas é incapaz de

dar um significado claro a esses fenômenos.

Será que o mundo quântico é mesmo probabilístico? Einstein, que acreditava que Deus não

joga dados, jamais aceitou essa tese. Em 1954, ele descreveu sua frustração em uma carta:

Todos esses 50 anos de reflexão conscienciosa não me deixaram mais perto da resposta à

pergunta: O que são os quanta de luz? .

Hoje, parte dos físicos acredita que o mundo das partículas é probabilístico e outros, como o

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vencedor do Nobel de Física de 1999, Gerardus t Hooft, imaginam que há uma verdade além

do mundo quântico. Acredito que as leis da natureza não sejam mecânico-quânticas, mas

muito mais determinísticas e explicáveis pela matemática, diz t Hooft. É a mesma suspeita que

Einstein teve e para a qual, até agora, ninguém chegou a uma resposta satisfatória.

Qual a origem da vida na Terra?

Se a vida é um fenômeno raro no Universo ¿ ao menos, no Universo observável -, por que,

então, a Terra foi premiada?

Por Rodrigo Cavalcante

Durante séculos, houve várias respostas para essa pergunta. A mais comum é a religiosa. A

vida teria origem em um evento sobrenatural. Houve também quem acreditasse que a vida

surgia espontaneamente a partir da matéria, tese conhecida como a da Geração Espontânea,

que prevaleceu até o século 19. E houve também quem sugerisse que a vida e a matéria

coexistem desde a origem do planeta.

Para a maioria dos cientistas, contudo, a vida nasceu de uma série de reações químicas

ocorridas sob condições especiais. A base dessa explicação surgiu na década de 1950 quando

os cientistas Harold Urey e Stanley Miller produziram aminoácidos essenciais à vida ao

misturarem os elementos presentes na atmosfera primitiva e os submeterem a descargas

elétricas, simulando os raios na atmosfera.

Desde então, os cientistas conhecem os principais ingredientes que deram origem à vida. A

base seria o carbono, que serve como uma espécie de liga entre os demais ingredientes. Do

nosso DNA às unhas de nossos pés, o carbono está presente como um dos mais importantes

elementos da vida. Acontece que o carbono é abundante no Universo e nem por isso há vida

em todos os planetas. O segredo da receita da vida na Terra estaria então no ambiente em que

o carbono e outros ingredientes se mesclaram.

A primeira dessas condições foi a existência de água. A segunda foi a existência de uma

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atmosfera gasosa exposta a altas temperaturas e descargas elétricas. Dentro dessa espécie de

cozinha primordial, surgiram os primeiros compostos complexos, alguns deles cercados por

uma fina membrana externa, capazes de se auto-replicar ao reagir com a energia do ambiente.

Nasciam assim as primeiras bactérias, capazes de sobreviver a temperaturas altíssimas até

hoje elas são encontradas na cratera de vulcões , que se reproduziam usando como energia o

hidrogênio, o dióxido de carbono ou o enxofre.

Até aí, tudo o que chamamos de vida poderia se resumir a essas bactérias. Mas o grande salto

que a vida deu no planeta ocorreu quando uma delas passou a se comportar de uma maneira

diferente, captando a luz sobre um pigmento verde (clorofila) e transformando o dióxido de

carbono em dois elementos: o carbono, usado para sua nutrição, e oxigênio, liberado para a

atmosfera como um subproduto.

Ao ser liberado como uma espécie de excremento durante milhões de anos, o oxigênio

terminou fazendo da Terra um planeta completamente diferente dos outros conhecidos no

Universo. O oxigênio liberado pela fotossíntese lentamente transformou a atmosfera e

eliminou alguns dos gases que teriam impedido o desenvolvimento da vida, escreveu o biólogo

inglês Richard Fortey, autor de Vida: Uma Biografia Não Autorizada. Como explica o biólogo,

foi esse fenômeno que permitiu o surgimento de organismos mais complexos, como o próprio

homem.

O mistério aqui é saber o que fez com que essa bactéria se comportasse dessa maneira. Apesar

da experiência da década de 1950 ter produzido aminoácidos fundamentais à vida, ela não

conseguiu produzir vida. Por isso mesmo, há quem considere a hipótese de que a vida na Terra

pode ter vindo do espaço, talvez trazida por um dos milhares de meteoritos que caíram no

planeta em seus primórdios.

Outros cientistas dizem apenas que, como não temos como reproduzir hoje todas as condições

da atmosfera primitiva, tudo o que falta é encontrarmos uma ou outra pequena peça perdida

que logo deve ser achada. Até lá, é preciso esperar.

Quem foi o ancestral direto do homem?

Page 33: 30 Misterios Da Ciencia

A cada novo fóssil descoberto, a árvore da evolução humana ganha um galho a mais. Resta

saber por que só nós sobrevivemos.

Por Rodrigo Cavalcante

Há algumas décadas, a evolução humana costumava ser ilustrada como uma escada – com o

Homo sapiens figurando no topo, é claro. Após várias descobertas de fósseis desde década de

1960, a escadinha foi virando uma árvore. “Atualmente, a árvore está tão emaranhada que

mais se parece com uma moita”, diz o professor Walter Neves, do Laboratório de Evolução

Humana da USP. O problema é que, a cada nova descoberta de fósseis de milhões de anos, os

pesquisadores da evolução humana têm que lidar com questões cada vez mais complexas. A

primeira delas é tentar definir se o fóssil encontrado faz (ou não) parte da família que resultou

no gênero humano.

Em 1974, por exemplo, a descoberta do fóssil de Lucy, que andava em pé há mais de 3 bilhões

de anos, causou frisson por se tratar do mais antigo bípede encontrado na época. Mas, tirando

esse detalhe, a estrutura do cérebro e a aparência do Australophitecus afarensis, nome

científico de Lucy, faria com que ela passasse hoje provavelmente despercebida em um

zoológico, em meio a gorilas e chimpanzés.

A questão é: até que ponto Lucy e outros fósseis de espécies que viveram há mais de 3 milhões

de anos podem ser considerados nossos ancestrais – e não apenas mais um primata extinto,

sem ligação com o ramo que desembocaria no Homo sapiens?

A dificuldade em encontrar nossa linhagem aumentou ainda mais quando os pesquisadores

concluíram que diversos hominídeos devem ter se esbarrado na África por volta de 2 milhões

de anos atrás. A descoberta aposentou de vez a imagem da evolução como uma fila em que

cada espécie substituía outra – da mesma forma que um novo automóvel é lançado para

substituir o modelo anterior. Na verdade, vários hominídeos disputaram o mesmo lugar ao sol

no planeta.

Mais recentemente, o próprio Homo sapiens dividiu terreno com os neandertais, que, por

algum mistério, desapareceram do planeta há cerca de 30 000 anos. Basicamente, há duas

teorias para explicar esse desaparecimento: a primeira é a de que eles foram dizimados após

centenas de anos de confronto com a nossa espécie. A segunda é a de que as duas espécies

possam ter se reproduzido e, após milhares de anos, os traços do Homo sapiens prevaleceram

sobre os do neandertais.

Se o reinado solitário do sapiens teve origem em um encontro de amor ou de guerra, ninguém

sabe. Até lá, o hominídeo que tem sido considerado ancestral tanto do Homo sapiens como do

neanderthalensis é o Homo heidelbergensis, representado na ilustração ao lado. De acordo

com os pesquisadores, a transição dele para a nossa espécie pode ter ocorrido na África entre

300 000 e 200 000 anos atrás. O que aconteceu desde então permanece um mistério. Pelo

menos até a descoberta de um novo fóssil.

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Existe uma ordem no universo?

Por que até hoje a física dos grandes corpos não conseguiu se entender com a física das

partículas?

Por Salvador Nogueira

A coisa mais incompreensível sobre o mundo é que ele é compreensível, dizia Einstein. Mas

talvez ele tenha tirado uma conclusão prematura. É verdade que hoje sabemos que quase

tudo que vemos pode ser explicado. A questão é: será que um dia uniremos todas essas

explicações em uma única? Ninguém sabe. Mas os físicos responsáveis pelo estudo das coisas

mais elementares estão doidos atrás da resposta. Aliás, foi o próprio Einstein que começou

essa busca.

Em 1916, após concluir sua Teoria da Relatividade Geral, que versava sobre a gravidade, ele se

perguntou se era possível integrá-la à outra força conhecida até então: o eletromagnetismo.

Einstein passou os últimos anos de sua vida tentando, mas não encontrou a resposta. Em

compensação, outros físicos trataram de fazer perguntas que o deixariam maluco. Ao longo do

século 20, foram descobertas e descritas outras duas forças da natureza a força nuclear forte,

responsável por colar as partículas que compõem os núcleos atômicos, e a força nuclear fraca,

que

atua em escala ainda menor. A tarefa passou então a ser unir todas essas forças numa única

teoria, algo que ainda está longe de virar realidade.

O maior sucesso até agora foi reunir a força eletromagnética com a força nuclear fraca,

produzindo uma teoria eletrofraca e, posteriormente, com a força forte. O arranjo que costura

esses 3 elementos é o chamado Modelo Padrão da Física de Partículas um arcabouço que

reúne tudo que é comandado pela mecânica quântica. A idéia por trás da unificação das forças

é a de que, no princípio do Universo, elas eram todas a mesma coisa. Foi justamente a

evolução do Cosmos que fez com que as forças se separassem. Sabe-se que, conforme

compactamos partículas para que elas simulem o ambiente nos primeiros instantes após o big-

bang, as 3 forças quânticas convergem.

A dúvida é se a força da gravidade vai se juntar ao bando. O problema é que a gravidade não

se encaixa na física quântica. Mas o que é ser quântico? Em poucas palavras, é ter unidades

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mínimas, como se cada partícula tivesse apenas uma quantidade finita de energia medida em

números inteiros. Você pode ter 1, 2, 3, 4, 5... pacotes de energia, mas não pode ter 2,5

pacotes. A gravidade, que opera no macrocosmo, não consegue ser descrita dessa maneira.

A aposta mais quente hoje em dia para conseguir encaixar a gravidade é a Teoria das

Supercordas. Ela se diz capaz de unificar as 4 forças da natureza. O problema é que a

matemática envolvida nela é tão complexa que ninguém conseguiu resolvê-la a contento.

Além disso, não sabemos sequer se existem apenas 4 forças no Universo. É possível que você

tenha ouvido falar da energia escura um negócio misterioso que age contra a gravidade e está

acelerando a expansão do Cosmos.

Pois é, algumas das descrições teóricas supõem que essa energia possa ser uma 5a força no

Universo. Talvez você se pergunte: para que precisamos unificar essas teorias? Em 99,9% dos

casos, de fato, não precisamos. Mas a construção de modelos sobre o nascimento do Universo

e o interior de buracos negros exigem a união entre a gravidade e a mecânica quântica.

Resta saber, contudo, se essa unificação é realmente possível ou não passa de uma

incapacidade humana de lidar com o caos.

Qual é a idade do Universo?

Entenda como, afinal, os cientistas podem calcular com precisão a idade do cosmos

Por Tiago Cordeiro

O Universo tem 13,7 bilhões de anos, com uma margem de erro de 0,2 bilhão para mais ou

para menos. Dito assim, parece simples, mas, para chegar a esse valor, os cientistas se

bateram durante quase 80 anos. Em 1929, o astrônomo americano Edwin Hubble percebeu

que as galáxias estavam se afastando umas das outras e descobriu que, quanto maior a

distância, mais alta a velocidade de distanciamento. Isso significa que o Universo está se

expandindo, e, portanto, ele deve ter tido um começo.

Page 36: 30 Misterios Da Ciencia

O trabalho do americano possibilitou que o modelo de Universo estático, que dominava a

ciência, fosse revisto e desse origem à tese do big-bang. A par ti r do cálculo da distância e da

velocidade atuais, seria possível descobrir há quanto tempo as galáxias estão se

movimentando – e, portanto, quando foi exatamente que o nosso Universo começou.

Para mapear o Universo e descobrir sua idade, o astrônomo desenvolveu uma relação,

conhecida como Lei de Hubble. Ele mesmo fez as contas e chegou à conclusão de que o

Universo tinha 2 bilhões de anos. Acontece que, na época, já se sabia que a Terra e o Sol eram

mais velhos do que isso (para o nosso planeta falava-se em 6,5 bilhões, e hoje temos como

certa a idade de 4,5 bilhões). Algo estava muito errado aí, e era o valor da constante de

Hubble, calculada a partir da distância estimada entre as galáxias.

O pesquisador dizia que ela tinha o valor de 550 quilômetros por segundo por megaparsec

(unidade de medida que corresponde a 3 milhões de anos-luz). Começou então u m lento e

difícil trabalho de recálculos e refinamentos dessa constante. Cada nova informação a respeito

das distâncias entre os corpos espaciais provocava nova onda de tensão entre os astrônomos.

Em 1952, o astrônomo alemão Walter Baade provou que o Universo era pelo menos duas

vezes mais velho do que a Terra. Nos anos seguintes, boa parte dos cientistas adotou 20

bilhões de anos. Era um valor confortável, já que a idade de muitas estrelas era estimada entre

14 e 16 bilhões. Nos anos seguintes, um grupo de físicos chegou à conclusão de que o cálculo

mais cor reto estava em torno dos 10 bilhões. A partir do final da década de 1980, com o auge

da construção de telescópio s espaciais, novos pesquisadores chegaram aos resultados mais

variados, sempre dentro da faixa de 10 a 20 bilhões. Até que, em 1996, o telescópio espacial

Hubble forneceu dados que levaram os pesquisadores ao número preocupante de 8 bilhões.

Houve quem chegasse a duvidar da teoria do big-bang. No começo da década de 1990, o

satélite europeu Hipparcos mediu a distância de milhares de estrelas com uma precisão 100

vezes maior do que a que se conseguia até aquele momento. Com isso, a idade das estrelas

mais velhas foi reduzida de 16 para 13 bilhões. Ainda assim, era preciso refazer os cálculos ou

explicar os dados fornecidos pelo Hubble. Foi o que dezenas de pesquisadores fizeram e, pela

primeira vez, chegaram todos a resultados muito parecidos.

Hoje, a constante de Hubble fica em torno de 71 quilômetros por segundo por megaparsec, e a

idade do Universo está fixada, com um grau razoável de segurança, em 13,7 bilhões. Pelo

menos até que novas informações venham a exigir novos cálculos.

Page 37: 30 Misterios Da Ciencia

Até quando a Terra agüenta?

Pesquisadores afirmam que o aquecimento global causará uma catástrofe planetária, resta

saber em que grau

Por Rodrigo Cavalcante

Lembra daquela sensação estranha que boa parte das pessoas sentia na década passada de

que as agressões ambientais iriam provocar alguma resposta do planeta, mas ninguém sabia

exatamente quando e como?

Pois é: para a maioria dos pesquisadores, a Terra já começou a dar sinais de que está

respondendo às agressões ao ambiente. No momento, a ameaça maior como você está

cansado de saber é o aquecimento global. O 4º relatório do Painel Intergovernamental de

Mudanças Climáticas da ONU, (IPCC, na sigla em inglês), divulgado em maio passado, revela

que o problema já está entre nós e tem causado mudanças no clima e na vegetação em vários

continentes. Poucos, mesmo dentre os cientistas do clima e ecologistas, parecem perceber

plenamente a gravidade potencial, ou a iminência, do desastre global catastrófico, alerta o

cientista britânico James Lovelock, que ficou famoso na década de 1970 por ter concebido a

Teoria de Gaia, que trata a Terra como um organismo vivo.

Em seu livro A Vingança de Gaia, ele diz que a questão não é mais se vai ou não acontecer uma

catástrofe e tão simplesmente qual será o tamanho do estrago. É preciso esclarecer que, para

os cientistas, o que está sob ameaça não é o planeta físico em si. Afinal, a Terra já sobreviveu a

pelo menos 5 cataclismos no passado (ver pergunta Qual Foi a Causa das Grandes E x tinções?,

página 18).

Tampouco é provável que nossa espécie inteira venha a ser extinta. O que está em xeque é a

civilização, diz James Lovelock. Somos resistentes, e seria preciso mais do que essa catástrofe

climática prevista para eliminar todos os casais de seres humanos em condições de procriar,

reconhece o cientista britânico. Ainda assim, ele diz que as perspectivas são sombrias e que,

ainda que consigamos reagir com sucesso, passaremos por tempos difíceis como em uma

guerra, sendo levados ao limite.

Apesar do aquecimento estar batendo em nossa porta, ainda há cientistas que apostam na

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capacidade de recuperação da própria Terra. A questão é: o que há de exagero e o que há de

verdade nesses relatórios. Até alguns anos atrás, o maior ataque às previsões catastróficas

feitas pelos ambientalistas foi feito pelo estatístico dinarmaquês Bjorn Lomborg, autor do livro

O Ambientalista Cético, escrito no início da década. De lá para cá, o número de pesquisadores

que se arriscam a fazer previsões otimistas têm diminuído bastante. Na melhor das hipóteses,

eles prevêem que o aumento da temperatura no planeta causará, sim, danos ao ambiente.

Mas nada comparado aos efeitos especiais das devastações dos filmes de Hollywood. Já para

os ambientalistas que se consideram realistas, as conseqüências serão dramáticas e podem ser

concretizadas já nas próprias décadas. Elas incluem a elevação do mar entre 9 e 88

centímetros, a desertificação de grandes áreas, falta crônica de água e a extinção de mais de

um terço de todas espécies que vivem no planeta.

A questão que fica é: por que arriscar?

O que aconteceria se você caísse no interior de um buraco negro?

É possível saber o que há lá dentro? É mesmo um caminho sem volta?

Por Salvador Nogueira

Como até hoje ainda não há consenso sobre o que acontece no ponto central desses objetos,

os cientistas costumam varrer o tema para baixo do tapete. Afinal, buracos negros não

parecem seguir a lógica do Universo em que vivemos. A rota que leva ao seu interior é um

caminho sem volta. Mas, afinal, o que é um buraco negro?

Em 1916, o físico alemão Karl Schwarzschild usou a Teoria da Relatividade Geral para entender

o que acontecia em torno de objetos muito densos, como as estrelas. Ele concluiu que, se a

massa de uma estrela pudesse ser suficientemente compactada, haveria um ponto em que a

velocidade de escape daquele objeto seria tão alta que nada conseguiria escapar dele – nem

mesmo a luz. Como, pela Teoria da Relatividade, é o traçado da luz que determina a geometria

do Universo, o fato de haver uma região da qual um raio de luz não consegue escapar indica

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que ali há um buraco no próprio tecido do espaço-tempo do Universo.

Ou seja, um buraco negro. Até aí, era só uma brincadeira teórica. O próprio Einstein sempre

levou isso na boa, pois não podia imaginar que o Universo fosse cheio de buracos. Em 1939,

ele chegou a escrever um artigo repudiando a possibilidade de que esses fenômenos

existissem. Mas acontece que Einstein também errava.

Os astrofísicos descobriram que estrelas com muita massa, quando chegam ao fim de sua vida,

implodem o seu núcleo. A matéria é comprimida a tal ponto pela ação gravitacional que o

tamanho do objeto fica menor que o chamado “raio de Schwarzschild”, e o resultado é o

nascimento de um buraco negro.

Essa foi uma descoberta surpreendente – o Cosmos é, de fato, esburacado. Hoje sabemos que

existem vários buracos negros gerados por estrelas mortas e no núcleo de cada galáxia de

médio ou grande porte. Muito bem. Mas o que acontece no interior desse objeto? Segundo a

relatividade, a massa é comprimida até um ponto infinitamente denso, quente e pequeno –

chamada de singularidade.

O que resultaria daí, ainda é tema de várias hipóteses. De acordo com o físico americano Lee

Smolin, cada buraco negro seria um ponto de partida para o nascimento de um novo Universo,

muito parecido com o nosso. Pode ser uma idéia maluca, mas, convenhamos, a descrição da

singularidade do buraco negro é muito parecida com a do estágio inicial do nosso Universo, o

famoso big-bang.

Caso ele esteja correto, é possível que o buraco negro, ao menos no instante exato de sua

formação, abra caminho para um Universo-bebê. A questão que fica é: podemos ir até lá? Por

enquanto, a resposta da ciência é a de que podemos – contanto que aceitemos ser

despedaçados. Como, antes de cair nele, temos de nos aproximar dele, a velocidade que

ganharíamos nesse processo seria tão grande que viraríamos farinha antes de atravessá-lo.

É isso que acontece o tempo todo com estrelas que estão para cair num desses devoradores,

cujas massas são aceleradas tão intensamente que deixam rastros de raios X – a deixa para

que os cientistas detectem um buraco negro.

Pondo de lado essa limitação, suponhamos que pudéssemos atravessá-lo até perto do seu

núcleo, protegidos por uma espaçonave. O que aconteceria? Segundo o físico britânico

Freeman Dyson, passaríamos a fronteira sem sentir sequer um solavanco. Entretanto, um

observador externo que nos visse caindo teria uma percepção bem diferente – é a relatividade

em ação. “Se nos imaginássemos caindo em um buraco negro, nossa percepção de tempo e

espaço estaria desvinculada do tempo e espaço de um observador que nos acompanhasse de

fora”, diz Dyson. “Enquanto nos veríamos caindo suavemente no buraco sem qualquer

desaceleração, o observador externo nos veria cair indefinidamente sem jamais tocar o

fundo.”

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Por que sonhamos?

Das velhas teorias psicanalíticas à moderna neurociência, o que a ciência sabe sobre esse

curioso fenômeno?

Por Eduardo Szklarz

Em 1900, o austríaco Sigmund Freud causou uma revolução no estudo da mente ao publicar A

Interpretação dos Sonhos. Nele, o pai da psicanálise contestava a noção bíblica de que os

sonhos eram fenômenos sobrenaturais, dizendo que derivavam da psique humana. Decifrá-los,

portanto, seria a chave para entender o que se passa dentro da nossa cachola. Essas teorias

foram ridicularizadas por muito tempo e somente agora, mais de 100 anos depois, elas estão

sendo testadas.

A primeira idéia de Freud confirmada pela ciência é a de que os sonhos seriam restos do dia.

Ou seja: algo que acontece com você de dia reverbera durante os sonhos. A comprovação

científica disso foi feita em 1989 por Constantine Pavlides e Jonathan Winson na Universidade

Rockefeller. Ao observar cérebros de ratos, eles descobriram que os neurônios mais ativados

durante o dia continuavam a ser ativados durante a noite. Do mesmo modo, os neurônios

pouco ativados durante o dia tampouco era m durante a noite.

O que isso significa? “Significa, por exemplo, que, se uma pessoa teve hoje uma experiência

marcante, a chance de essa experiência entrar em seu sonho é muito grande”, diz Sidarta

Ribeiro, diretor de pesquisas do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e

Lily Safra (IINN–ELS). “Se ela foi atacada por um tubarão, é provável que sonhe com tubarão.

Se foi para a guerra do Iraque, nos próximos anos vai sonhar com guerra. Isso é o resto diurno

levado às últimas conseqüências.” Mas, como em nossa vida moderna ninguém tem

experiências extremas todos os dias, os sonhos acabariam sendo uma mistura simbólica de um

monte de coisas, como Fruem havia previsto.

Você pode sonhar hoje com tubarão, a manhã com jacaré, depois com afogamento,

simbolizando todos eles uma mesma experiência. Mas de onde viriam aqueles sonhos

malucos, com cenas que você nunca viu? Para a ciência, do seu inconsciente. É lá que estão

guardadas as lembranças que você adquiriu ao longo da vida. Quando você dorme e começa a

sonhar, seu sono entra na fase R EM (sigla em inglês para Movimento Rápido dos Olhos). “O

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sono REM faz ovos mexidos com suas memórias. Ele as concatena de uma forma não comum”,

diz Sidarta.

Isso acontece porque o cérebro está em altíssima atividade nessa fase, mas não tem as

informações sensoriais da vigília. Não conta com cheiros, imagens, sons nem outras

informações que temos quando estamos acordados. A atividade sensorial está livre e vai

aonde quiser, seguindo os caminhos mais usados – que são as memórias mais fortes. Ou seja:

seus sonhos com imagens aparentemente inéditas seriam apenas combinações de uma série

de símbolos que você já conhece de outras experiências. Ok, mas sonhar serve para o quê?

“Tudo indica que o sonho tem a função de simular comportamentos – tanto os que levam a

recompensa (os bons) como os que levam a punição (os pesadelos)”, diz Sidarta Ribeiro.

“Portanto, sua função seria evitar ações que resultem em punição e procurar aquelas que

levam à satisfação do desejo.” Esse processo funcionaria da seguinte forma. Imagine uma

cotia. Seu pesadelo é que a jaguatirica apareça quando ela estiver bebendo água.

Assim, da próxima vez que for ao lago, essa memória voltará e ela terá mais cuidado (evitando

a punição). E o sonho bom da cotia? É encontrar um campo com sementes gostosas. Portanto,

se ontem ela passou num lugar que tinha sementes, seu sonho será ela voltando àquele lugar,

pois talvez haja mais alimento a li amanhã (levando à recompensa). O curioso é que essa tese

combina, de certa forma, com a idéia freudiana de que a função dos sonhos é a satisfação do

desejo, teoria que havia se tornado motivo de chacota nas últimas décadas.

Como o universo vai acabar?

Se o cosmos nasceu de uma grande explosão, há bilhões de anos, como será o fim dele ¿ e

será que ele vai terminar mesmo?

Por Tiago Cordeiro

A resposta mais franca é que, ao menos por enquanto, não fazemos a menor idéia. Até a

década de 1960, a ciência defendia que ele nunca terminaria, já que sempre foi exatamente do

jeito que é. Mas hoje os cientistas sugerem dois cenários possíveis: o fogo ou o gelo. Ou

sofreremos uma retração, seguida de uma explosão, ou uma expansão contínua até que tudo

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se torne um gigante inerte.

Desde 1998, quando duas equipes de pesquisadores alcançaram resultados muito parecidos e

até hoje inquestionáveis, sabemos que o Universo está se expandindo cada vez mais rápido e

que sua temperatura média atual é de 270 ºC negativos – quando ele tinha 300 milhões de

anos, era muito mais quente, tinha 5 000 ºC.

Se a densidade do Universo for grande o suficiente para refrear essa velocidade de

crescimento, então vamos experimentar o big crunch, um processo de retração violento que

vai arremessar em direção a um único ponto todo os 10 trilhões de bilhões de estrelas que

existem.

Se a expansão continuar, o Universo vai se tornar uma massa gigantesca, inerte e gelada. Vai

demorar dezenas de bilhões de anos, mas, com o afastamento das galáxias, o céu que vemos a

partir da Terra vai se tornar cada vez mais escuro, até o limite em que só seremos capazes de

acompanhar os elementos da nossa Via Láctea. Depois, todo o resto vai sumir do nosso

alcance visual.

Mas isso ainda não será o fim. O astrofísico americano Fred Adams, co-autor do livro Biografia

do Universo: Do Big Bang à Desintegração Final, imagina o seguinte cenário: depois que quase

todas as estrelas tiverem se tornado anãs brancas e algumas virarem supernovas, tudo o que

vai sobrar serão buracos negros. Até que eles próprios vão se desintegrar em partículas

gigantescas, que vão se unir para formar corpos maiores do que o nosso Universo atual inteiro.

Depois, mesmo esses corpos vão sumir. E então, aí, sim, tudo terá terminado. Até mesmo o

tempo e o espaço deixarão de existir.

Curiosidade: O universo está repleto de forças ocultas

Depois de 4 séculos de observação e pesquisas desde Galileu Galilei, só conhecemos 4% de

tudo o que compõe o Universo – e, o que é pior, só nos últimos 10 anos percebemos que

sabemos tão pouco. Hoje os cientistas dizem que existe uma força de antigravidade e que ela

responde pela maioria da massa-energia do Universo: 74%. É muita coisa, o suficiente para

anular a força de atração gravitacional entre os astros e garantir o cenário de expansão em

que acreditamos. O que é essa energia escura? Não se sabe. Onde ela está? A hipótese mais

aceita é: em todos os lugares. Isso seria possível porque a energia escura é muito rala: mais ou

menos 10-29 gramas por centímetro cúbico.

Os demais 22% são ocupados pela matéria escura, que também é um mistério. Ela não emite

nem reflete radiação eletromagnética suficiente para ser observada diretamente, mas sua

presença pode ser calculada a partir do efeito que provoca na matéria visível. O fato é que,

juntas, essas duas grandezas são responsáveis por manter os elementos conhecidos do

Universo separados – além de garantir que eles se movimentem para longe uns dos outros

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Poderemos vencer a morte?

A imortalidade está ao alcance da ciência ou a morte será a única barreira intransponível

para o ser humano?

Por Rodrigo Cavalcante

De certa forma, o homem já está ganhando essa batalha. No início do século 20, a expectativa

de vida no Brasil era de pouco mais de 30 anos. Hoje, a média supera os 70. Ou seja:

conseguimos duplicar o tempo de vida em cerca de um século.

Isso não significa, é claro, que estamos perto de alcançar o sonho da imortalidade. Para tanto,

seria necessário encontrar uma forma de suspender os efeitos do avanço da idade. Mas será

que, no futuro, as pesquisas genéticas poderão encontrar uma “cura” para o envelhecimento?

Por enquanto, o maior defensor dessa tese é o controvertido bioquímico Aubrey De Grey, da

Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Ele defende que a expectativa de vida poderá ser

estendida para até 1 000 anos nas próximas décadas e que a imortalidade, em breve, será mais

uma escolha ética (já que a pressão populacional seria insuportável em um planeta em que

ninguém morre) do que de viabilidade técnica. “Se o envelhecimento é um fenômeno físico em

nossos corpos, o avanço da medicina poderá atacar a velhice da mesma forma que ataca as

doenças”, diz o cientista. Para isso, ele diz que será necessário solucionar os seguintes

problemas:

Combate à degeneração celular:

As células que formam os tecidos de órgãos vitais como o cérebro ou o coração deixam de se

renovar após um tempo. Para evitar esse processo, seria necessário encontrar formas de

estimular o crescimento e a reposição delas – algo que poderia ser feito, em tese, por

transfusões periódicas de células-tronco projetadas para substitui-las.

Eliminação das células não desejáveis:

Novas tecnologias poderão combater a proliferação de células de gordura responsáveis por

doenças como o diabete e de outros tipos de células danosas – como as que se acumulam na

cartilagem das juntas do corpo. A dificuldade é eliminá-las sem danificar as células saudáveis.

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Mutação nos cromossomos e nas mitocôndrias:

O câncer é o dano mais conhecido causado por essas mutações nos cromossomos. Para

combatê-lo, será preciso eliminar as enzimas responsáveis pela resistência das células

cancerígenas. As mitocôndrias, responsáveis pela produção de energia das células, também

são suscetíveis a mutações que precisam ser eliminadas.

Acúmulo de lixo dentro e fora da célula:

O “lixo celular” é formado por resíduos da atividade celular e causa vários problemas, como

arteriosclerose. Uma forma de combatê-lo é encontrar enzimas que devorem esses resíduos.

Os fluidos onde as células estão imersas também acumulam materiais nocivos. Para combatê-

los, é preciso encontrar uma forma de renová-los. Caso a medicina não consiga resolver esses

problemas, outra saída seria contar com ajuda de máquinas, como nanorrobôs implantados

em nosso corpo para limpar as células. Ou arrumar, em último caso, uma forma de transferir a

nossa consciência para uma máquina. Essa alternativa é levantada pelo cientista e inventor

americano Raymond Kurzneil, para quem, em algumas décadas, poderíamos fazer uma espécie

de download de nossa consciência em um computador. Resta saber qual seria a vantagem de

viver dentro de uma máquina.

O que é a felicidade?

Será que a ciência pode mensurar esse sentimento tão desejado?

Por Rodrigo Cavalcante

Por muito tempo, a felicidade foi tratada como uma sensação intangível, tema da filosofia e da

arte – e não da ciência . Acontece que , nos últimos anos, a união entre psicólogos,

economistas e neurologistas turbinaram a chamada “ciência da felicidade”, um novo campo

que promete revolucionar a ciência nas próximas décadas.

Como os neurologistas já conseguem identificar quais áreas do cérebro são acionadas quando

sentimos prazer, os pesquisadores conseguem cruzar esses dados com as respostas das

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entrevistas, passando a contar com um panorama muito mais confiável sobre o tema. Mas

como defini-la?

“Felicidade é sentir-se bem, gozar a vida”, diz o economista britânico Richard Layard, autor de

A Ciência da Felicidade. Considerado uma das maiores autoridades no assunto, ele ficou

famoso por levantar uma questão curiosa: o aumento de renda de países não foi seguido do

aumento do grau de felicidade dos seus cidadãos.

De acordo com Layard e outros pesquisadores, isso acontece por dois motivos. O primeiro é o

fato de que o que torna uma pessoa mais feliz não é o aumento da renda em si, mas o

aumento em comparação aos seus colegas. Uma pesquisa na Universidade Harvard, nos EUA,

mostrou que a maioria dos alunos preferiria receber US$ 50 000 se os outros ganhassem a

metade desse valor, em vez de receber US$ 100 000 se os outros ganhassem US$ 200 000. O

segundo estaria em nossa capacidade de nos adapta r ao novo padrão.

Mas, se a riqueza não traz felicidade, o que traz? Se você pensou em saúde, juventude, um QI

alto, um bom casamento, dias ensolarados ou ter uma crença religiosa, saiba que tudo isso

ajuda. Mas, de acordo com pesquisa realizada em 2002 pela Universidade de Illinois, também

nos EUA, as pessoas com alto nível de felicidade são aquelas que têm mais capacidade de fazer

amigos e manter fortes laços afetivos com eles. Um hábito simples e gratuito.

Deus existe?

Deus criou o homem à sua imagem e semelhança.... Ou foi a mente humana que criou a

figura de Deus?

Por Rodrigo Cavalcante, com ilustração de Nelson Provaz

Antes de tentar responder a essa pergunta, é preciso esclarecer qual a concepção de Deus de

que se está tratando. Afinal, quando a maioria dos cientistas refere-se à possível existência (ou

não) de Deus, não está lidando com a tese de que o velho barbudo de poderes sobrenaturais

retratado nos afrescos de Michelangelo possa um dia ser encontrado em laboratório.

Tampouco, como diz o zoólogo inglês Richard Dawkins, de nada adiantaria designar por Deus

uma constante física recém-descoberta que regesse o Universo. Nesse caso, como diz Dawkins,

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“ele não teria nada a dizer sobre ética, sobre o que é certo ou errado ou sobre qualquer outra

questão moral”.

Para a ciência, a evidência mais próxima da existência de uma concepção divina é a de que

Deus possa existir seria a descoberta de indícios de que o Cosmos foi

“projetado” seguindo um propósito. Ou seja: não haveria espaço para o acaso e o caos na

criação do Universo e no surgimento da vida em nosso planeta. A complexidade dos sistemas

biológicos ou dos fenômenos físicos indicaria que houve um projetista guiando todo esse

processo.

Mas será que o fato de alguns cientistas proporem essa pergunta não faria com que eles

partissem necessariamente da necessidade (reconfortante) da existência dessa ordem no

Cosmos? Ou seja: a pergunta acima já não nasceria viciada do ponto de vista do método

científico? Nos últimos 100 anos, pelo menos 3 formas de responder ao impasse acima foram

exploradas:

A primeira, defendida por boa parte da comunidade acadêmica, é a de que a existência de

Deus não é tema do método científico. Essa visão baseia-se principalmente na obra do filósofo

da ciência Karl Popper, para quem a ciência só pode tratar de temas que resistam a refutações,

o que ele chamou de critério de “falseabilidade”. Resumidamente, Popper defende que o

papel do cientista é buscar falhas na sua teoria – e, quanto mais genérica ela for, como no caso

da “existência de Deus”, menos passível ela seria de ser tratada cientificamente. Ou seja: o

tema seria apenas assunto da metafísica, parte da filosofia que não trata dos fenômenos

físicos.

A segunda resposta, que não necessariamente invalida a primeira, é a dos cientistas que

acreditam que a espécie humana evoluiu biologicamente para acreditar em Deus, assim como

para andar sobre duas pernas. Um dos maiores defensores dessa tese é o biólogo americano

Edward O. Wilson, para quem a nossa predisposição para a religião seria um traço genético da

nossa espécie.

Segundo ele, nossa inclinação para acreditar em um ser superior pode ser resultado do

comportamento de submissão animal presente em outras espécies, como os macacos Rhesus,

em que apenas um macho dominante anda de cabeça e cauda erguidas enquanto a maioria do

bando mantém a cabeça e a cauda baixas em sinal de respeito ao líder – na esperança de ser

protegido por ele contra um inimigo. “O dilema humano é que evoluímos geneticamente para

acreditar em Deus, e não para acreditar na biologia”, diz Wilson. Teses como a de Wilson

foram reforçadas por pesquisas com primatas, como a realizada com chimpanzés na Tanzânia

pela britânica Jane Goodall. Ao estudar os chimpanzés, Goodall descobriu que eles agem de

maneira nada usual diante de uma cachoeira, adotando um comportamento de reverência que

ela chamou de senso místico.

Além das pesquisas com os primatas, os neurocientistas já sabem quais partes do cérebro são

ativadas durante os estados de meditação e oração. Pesquisas como essa, contudo, não

podem provar a existência ou não de Deus – mas no máximo revelar quais regiões são

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responsáveis pelos estados místicos associados à idéia de uma divindade.

A terceira resposta, conhecida como Teoria do Design Inteligente, defende que algumas das

tarefas altamente especializadas e complexas do organismo – como a visão, o transporte

celular e a coagulação – não podem ser explicadas apenas pela evolução. Essas tarefas seriam

uma prova de que a vida seguira um projeto específico. Defendida pelo bioquímico Michael J.

Behe, professor da Universidade Lehigh, na Pensilvânia, e autor do livro A Caixa-Preta de

Darwin, a Teoria do Desenho Inteligente refuta as teses de Darwin e, por isso mesmo, tem sido

considerada uma versão moderna – e mais sofisticada – do velho criacionismo bíblico, teoria

pela qual o Universo e a vida foram criados de acordo com o relato do Gênese.