Nancy Bilyeau - Os Misterios Da Coroa

7/22/2019 Nancy Bilyeau - Os Misterios Da Coroa

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o remdio. Observei-o retirar um saquinho de veludo de outra gaveta. Tudo o que posso fazer amenizar seu sofrimento disse e

proximar do canto em que a mulher estava. Posso v-la? perguntei.Ele afastou a coberta. Por um segundo, achei que estivesse olhando

adver. Ela estava com a pele cinza. Sua boca estava entreaberta, e a lnguor uma assustadora camada preta. Ento vi seu peito subir e descer.

Irmo Edmund retirou do saquinho uma pequena conta preta e brguendo a cabea de Lettice Westerly, enfiou a conta no fundo de sua garg

M e d um pouco de cerveja para ela engolir o remdio, irm Joannle. Preciso faz-la engolir.

Eu lhe servi a cerveja.

Qual o nome dessa poo? perguntei. Ela no tem nome em latim respondeu ele. Vem do Oriente. As a chamaram de pedras da imortalidade.

O nome evocava um estranho poder que fez minha pele se arrepiar. Vamos, Lettice, engula. Isso, muito bem. Ele pousou a cabea da

e volta no catre. Irmo Edmund, quanto tempo de vida ela ainda tem?Ele levou a mo testa da mulher e em seguida tocou-lhe o pulso. Uma semana. Talvez duas.Minha garganta se contraiu ao pensar nas trs crianas da famlia W

indo na minha direo pedir comida.De repente, irmo Edmund segurou minha mo dentro da sua. Eu m

e to assustada, acabei empurrando-o para longe.

Irm Joanna, a senhora est sangrando disse ele, paciente, apontapalma da minha mo esquerda. O pano que eu havia enrolado em volta ado e o sangue ainda escorria.

No nada falei. Eu me espetei com a tesoura, mas no foi fundIrmo Edmund sorriu. Quer dizer ento que minha irm no foi a nica a ficar agitad

onversa sobre o destino dos monastrios? No foi isso que me deixou agitada balbuciei.


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Ele olhou para mim com mais ateno. Foi outra coisa, ento? No falei nada. A atitude dele era solcita, mas, como no caso d

Richard, senti que suas perguntas tinham um significado mais abrangente. Venha, irm Joanna, me deixe limpar o corte. J vi infeces

ausadas por um furinho menor do que esse, caso no se cuide do ferimentEle virou meu pulso para olhar mais de perto, depois limpou o san

m pano umedecido. Suas grandes mos ossudas eram espantosamente ge Irm Joanna!Pulei para longe de irmo Edmund e me vi cara a cara com irm E

ovacircator do priorado. Apesar de ela ter apenas 30 anos, a nova prioresascolhido para desempenhar essa importante funo de aplicadora das regr

fato de ela ser sobrinha da prioresa Elizabeth tivesse algo a ver com essA antiga prioresa a amava, mas tambm repreendia gentilmente irm Eleanelo ardoroso em servir a Deus, temendo s vezes pela sua sade. Seuravam mais do que os de qualquer outra pessoa, e ela deixava de doedobrar suas preces Virgem Maria, alm de aoitar as prprias costas coerguntei a mim mesma se agora a prioresa Joan tambm repreendia a irmu era o contrrio.

O que est fazendo aqui, irm? quis saber ela, com os olhos arosto magro. a sua hora de trabalhar nas tapearias.

Irmo Edmund se adiantou. Irm Joanna feriu a mo na sala de tapearia.O cenho franzido de irm Eleanor se enrugou mais ainda ao ver irm

entada na beira de seu catre.

E ela? indagou acircator. Outra crise?Irmo Edmund fez que sim com a cabea. Irm Winifred, est se sentindo bem o bastante para voltar sozinha

apearia? perguntou irm Eleanor de um jeito que dava a entender que eria pouco sensato.

A novia assentiu. timo. Porque eu vim aqui buscar irmo Edmund e em seguida

uscar irm Joanna. Vocs dois esto sendo chamados aos aposentos da


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este instante. Venham comigo.Irmo Edmund e eu trocamos um olhar de incompreenso e seg

ircator . Eu no podia imaginar por que estvamos sendo convocados. Imeria algo a ver com o fato de irmo Richard ter me encontrado na bibliotecvro sobre o rei Athelstane. Porm, fosse qual fosse o motivo, eu finalmenntrar no ltimo cmodo que me restava examinar no priorado.

Menos de um minuto depois de irm Eleanor bater na porta que laustro frente do priorado, Gregory, o novo porteiro, veio destranc-nha sido rapidamente dispensado com uma penso, conforme a priorlanejado, e agora vivia em uma casinha no povoado de Dartford. Gregory

ero da idade de Jacob e era um homem alto com uma barba bem-aparaurvou respeitosamente ao ver a irm e ignorou o frade e a mim.

A sala da prioresa ficava na extremidade leste do corredor da frenleanor pediu que esperssemos na antessala, sentados em um banco, e lopressada para completar sua inspeo.

Ouvimos vozes do outro lado da porta da sala da prioresa. No incioaixas, ininteligveis. Instantes depois, ficaram mais altas, e percebi que omem e uma mulher l dentro. Quando as vozes ficaram ainda mais altaser que eram a prioresa Joan e irmo Richard e a conversa entre elcalorada.

O que a faz pensar que pode confiar em Cromwell? gritou irmoO fato de ele ter aceitado o seu suborno? Acha que ele vai salvar o priortipo de homem capaz de aceitar um suborno sorrindo e mesmo assim fec

asa. Pode estar certa de que ainda vai se arrepender de ter se metido com e E o senhor acha que Gardiner vai nos salvar? indagou a p rioresa

rito agudo. Eu acho que o tolo maior voc. No caso de Cromwell, todoue esperar. Ele no faz segredo sobre suas polticas. Mas o bispo de Waiu todos os que confiaram nele.

Irmo Edmund se levantou com um pulo, foi at a porta e a socou.Ao ser aberta, a porta revelou um irmo Richard de olhar transtorn

ncarou irmo Edmund, e algum tipo de mensagem silenciosa foi transmitidois. Irmo Richard olhou para mim, respirou fundo e ento acenou ntrssemos.


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egui irmo Edmund, e, j no interior da sala, ambos nos curvamos

prioresa, sentada atrs da grande mesa de carvalho apoiada sobre cavaominava o recinto. Olhei furtivamente em volta do aposento. No entravantes da morte da prioresa Elizabeth. Alm da mesa e de algumas cadeiras, enhum outro mvel, nem sequer uma estante ou um ba. Nenhum lugarbjeto de valor pudesse estar escondido.

O motivo pelo qual convoquei vocs dois para avisar que spedes no Priorado de Dartford disse a prioresa.

Irmo Richard emitiu um estranho barulho, como se no pudesse uvir essas palavras, e em seguida foi at a janela que dava para os ramados. Os lbios da prioresa se contraram.

Lorde Chester, nosso vizinho, vir ao priorado daqui a nove dias O pai de irm Christina? perguntou irmo Edmund. Isso mesmo respondeu ela.Ouvi umclique, clique fraco vindo de baixo da mesa. Eu sabia o que era

A prioresa usava em volta da cintura uma delicada corrente presa a uma borata. A bola estava cheia de especiarias aromticas e exticas. Irm Aissera que as especiarias vinham sob encomenda especial do Oriente. Cervosos, a prioresa muitas vezes ficava batendo com a bola na corrente.

Lorde Chester deseja vir a Dartford no Dia de Finados disse elaoite, teremos a costumeira missa em homenagem aos que j se foram. Ap

ntegrantes do priorado, naturalmente. tarde, porm, antes da missa... Equeixo. Antes da missa, teremos um banquete do rquiem ao qual Lordsua esposa esto convidados.

No pude acreditar que havia escutado direito. Um banquete...dentro riorado?

Que tipo de banquete, prioresa? indaguei. Do tipo normal disparou ela. Comida. Bebida. Msica.Irmo Edmund e eu no conseguimos falar de to chocados. O r


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stalidos da bola aromtica aumentou.Dali a alguns instantes, irmo Edmund perguntou: Posso saber por que vamos dar esse banquete? Ah! Irmo Richard se virou da janela. Porque Lorde Chester n

por isso. E temos que cair nas graas de um corteso muito estimado pe Irmo Richard, mais uma crtica dessas e o senhor ser retirado do

e Dartford na mesma hora disse a prioresa. O bispo Gardiner simpleser que lhe arrumar algum outro refgio.

As faces da prioresa ficaram muito vermelhas enquanto, furiosa, enrade. Ele sustentou seu olhar por vrios instantes antes de baix-lo parubmisso.

Como Lorde Chester pai de nossa novia mais graduada, na

eseje visitar a filha prosseguiu ela, bem mais calma. Acredito que esse dia tenha a ver com seu filho que morreu um ano atrs.Ento lembrei que, em novembro do ano anterior, irm Christi

ecebido uma permisso especial para deixar o priorado a fim de assistir ao irmo. Tinha voltado muito pensativa e levara alguns dias para retersonalidade forte.

Em que irm Joanna e eu podemos ajudar? quis saber irmo Edmu Tocando msica no banquete respondeu a p rioresa. Soube que

oca alade. E irm Joanna muito hbil com avihuela espanhola.Fiquei pasma por a prioresa saber da minha paixo pela msica. Eu

ocado minhavihuela algumas vezes no priorado. Era um objeto inestimvmim, que minha me tinha mandado buscar na Espanha quando eu tinha 12mesma me ensinara a tocar. Eu o trouxera comigo, e a prioresa Elizabe

ncentivado minha prtica, mas no o tocava desde a minha volta. Fiquei om o fato de a nova prioresa ter reparado naquele meu pequeno talento.Com a mesma voz branda, irmo Edmund perguntou: No seria melhor, para Lorde Chester, contratar msicos que con

anes da corte? No, irmo, issono seria melhor para ele respondeu a prioresa, ir

Ele pediu especialmente para os integrantes do p riorado tocarem.Os frades comearam a conversar com a prioresa sobre as msicas


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ocadas e outros detalhes do banquete. Ainda que aqueles planos me inmeu interesse estava em outro lugar. Um grande quadro com um retrato p

arede atrs da prioresa. Estivera ali todas as vezes em que eu havia entradposento. No entanto, eu nunca havia prestado ateno nele.

A moldura de madeira estava esculpida na forma de galhos entrelauais brotavam folhas. Sua cor marrom luzia, como se as folhas e os galhoido pintados de dourado h mais de um sculo e gradualmente desbotadue atraiu minha ateno foi o homem retratado. Era um personagem soelho nem moo, de cabelos castanhos repartidos ao meio e que chegavamas orelhas. No parecia um santo, nem qualquer um dos prncipes everenciados pelos dominicanos. Parecia mais um cavaleiro importante, os heris de Chaucer. Uma tnica escura estampada cobria seus ombros

m medalho simples repousava sobre seu peito. Seu rosto era belo, comno e os malares altos, mas em sua expresso havia severidade e uma fria ara uma expresso que ia alm da rigidez sempre igual dos homens retrartistas em sculos passados, antes das inovaes do mestre Hans Holbein

Quem esse homem no retrato? perguntei.A prioresa Joan interrompeu a frase no meio, surp resa, e se virou par No Eduardo III, fundador deste priorado? perguntou irmo RicA prioresa fez que no com a cabea. No. seu filho mais velho, o Prncipe de Gales. O rei Eduardo ord

retrato fosse pendurado aqui. Por que ele iria querer um retrato do Prncipe Negro nesta sala?

mo Richard.O Prncipe Negro. Eu tinha ouvido algum se referir a ele recentemen

o fora no priorado. Senti uma lembrana aflita me atormentar.A prioresa abriu a boca para responder ao irmo Richard quando ma batida na porta. O porteiro veio dizer que um mensageiro havia chondres.

Pode mand-lo entrar, Gregory. Irmo Edmund, pode ficar tambm Joanna est dispensada. Est quase na hora da sexta.

Fiz uma reverncia e sa apressada. J tinha quase chegado igrejembrei quem havia mencionado o Prncipe Negro: o bispo Gardiner. Ouv


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ovamente na minha cela de priso da torre: J ouviu falar em Eduardo III? Oeu filho, o Prncipe Negro? E em Ricardo Corao de Leo? Ou no irme nosso rei, o prncipe Arthur?

Havia um motivo para o bispo Gardiner ter mencionado o Prncipudo o que ele dizia tinha uma razo de ser. Eu me esforcei para compreue ele mencionara o nome de todos aqueles homens. Eduardo III havia friorado de Dartford. O Prncipe Negro era o herdeiro do trono, mas moro pai. O prncipe Arthur, irmo de nosso rei Henrique VIII, visitara

meses antes de morrer. Mas eu no conseguia entender o significado deCorao de Leo. Ele tinha vivido e morrido sculos antes de Eduardo culosdepois do rei Athelstane. Minha cabea girava. Que ligao poderntre todos eles?

As duas dzias de freiras do Priorado de Dartford j estavam reuapela quando me juntei a elas para ocupar meu lugar junto s outras noviIrm Winifred se inclinou para sussurrar: Obrigada por ter me ajudado, irm Joanna. Do outro lado d

Christina olhou na minha direo com uma expresso mais gentil. Um ercorreu. Com o tempo, talvez minhas duas amizades pudessem tornar a

Ouvi um farfalhar quando a prioresa avanou pela nave at a frente dspirei uma lufada de sua bola de especiarias. Como fazia a prioresa Elizabntrava na igreja quando j estvamos todas acomodadas e prontas. No enrios outros aspectos, ela desempenhava suas funes de lder espiritualem diferente de nossa serena prioresa anterior. Era difcil me acostumar.

Quando ela se virou de frente para ns, vi que algo tinha acontecido. Irms, antes de comearmos, preciso dividir com vocs uma pesaro

disse ela com a voz lmpida e segura.Senti meu corpo se retesar. Nossa rainha faleceu. Jane, a amada consorte do rei, sucumbiu a u

ontrada enquanto estava acamada aps dar luz. Vamos agora cantar a mmortos. Durante um ms, faremos viglias especiais para Sua Majestade.

Olhei na direo da grade de ferro da qual pendiam as cortinas neeparavam as freiras dos frades na igreja. No consegui ver irmo Richard ndmund, mas me perguntei como eles teriam reagido a essa triste notcia


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aviam depositado suas esperanas na mulher cujo corpo agora jazia, frioapela real. A rainha Jane tinha 28 anos, um a mais do que eu. Devia ter tiado os melhores mdicos da Inglaterra na hora de dar luz. Mesmo assimavia sofrido e morrido em meio a uma nvoa de sangue e febre.

Ouvi dizer que as pessoas de fora acreditam que fazemos votosetestamos os homens e temos medo de ter filhos. Gostaria que fosse posss outros entenderem. Tornar-se freira nada tem a ver com medo ou com

ustamente o contrrio. Pensei nas famosas palavras de Santa Catarina Tudo vem do amor. Amor a Deus, amor ao prximo e devoo aos recederam. Sentada ali, naquele banco, eu podia sentir a p resena de vriae jovens e ansiosas novias aprendendo preces e canes. Ao unir minhelas em nossas observncias sagradas, eu chegava o mais perto da etern

ma pessoa podia alcanar. Dartford era o nico lugar em que eu jamncontrado paz espiritual ou uma sensao de valor genuno. Tornei a seontada de pnico. Como Deus, em Sua misericrdia, poderia permitir q

modo de vida terminasse?Reprimindo meus medos, uni as mos e rezei pela jovem rainha mo

ue a alma de Jane Seymour passasse depressa pelos perigos do purgatronduzida ao reino dos cus.


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onforme se aproximava o Dia de Finados, fomos nos preparando

banquete do rquiem para Lorde Chester. Foi preciso cobrir as cadeecidos para que elas ficassem confortveis para a mesa principal, j que ue ns tnhamos eram de madeira simples. nforas e pratos finos, toalhaguardanapos bordados tudo isso era desconhecido para uma ordem do

mas agora precisava ser obtido. Ouvi irmo Richard conversando com Gregm que fazenda os animais poderiam ser abatidos. Foram contratadojudantes de cozinha, sobretudo uma mulher experiente no preparo de pra

Um banquete para um nobre precisava incluir pratos de carne, mas, com em empado de vez em quando, ns em Dartford no comamos carneouca ave.

No meio da tarde, em vez de me dedicar tapearia, eu ia encontdmund na sala capitular para ensaiar nossas msicas. Nunca ficvamos tss. Sob a superviso do porteiro, trabalhadores entravam e saam, prep

alo para os convidados nobres. Era perturbador ver nossa sala capitular cm salo para receber os convidados de um lorde, mas aquele era o nicrande o suficiente.

As canes do priorado no podiam ser adaptadas para um aladihuela. Mas o frade e eu conhecamos algumas msicas seculares e pasoc-las juntos num canto do aposento. As melodias de seu alade danavos acordes graves e suaves da minhavihuela. s vezes, como nos faltavam o

nstrumentos, era preciso improvisar para preencher lacunas nas canes. e irmo Edmund sempre me impressionavam.

O senhor tem um dom de verdade, irmo falei em nosso terceinsaios, enquanto o esperava substituir uma corda de seu instrumento. O ale tocava tinha 15 cordas e ele estava sempre atento sua tenso.

Sem tirar os olhos do que estava fazendo, irmo Edmund sorriu. Gosto de honrar a Deus com minha msica. Na minha ordem

onhecido por meu trabalho de boticrio, minhas humildes habilidades com


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meu interesse por histria.Fiquei observando enquanto ele terminava de retesar a nova corda. Histria de quem? Da ordem dominicana, ou da prpria Inglaterra? As duas coisas, eu diria.Mordi o lbio. Nesse caso, irmo, posso lhe perguntar uma coisa?Ele ergueu os olhos e, como sempre, fui surpreendida pela neu

aqueles grandes globos castanhos. Em um dia de vero, nos jardins do Ctafford, eu tinha visto um lagarto comprido tomando sol em cima de umiquei assustada quando o rptil olhou para mim, destemido, sem piscar. Omo Edmund me perturbava da mesma forma.

Eu me esforcei para afastar aquela apreenso. Desde que eu encontra

obre Athelstane na biblioteca particular de Dartford, no pude mais ter acor estar sempre trancada. Mas eu ainda tinha muito a descobrir. O Prncipe de Gales cujo retrato est pendurado na sala da prior

ue o chamam de Prncipe Negro? perguntei. Ah, sim, eu lembro que o quadro lhe interessou disse ele. Hmm

empre foi chamado assim. um nome mais ou menos novo. Talvez tenha armadura... ele usava uma armadura negra em combate.

Era um prncipe-soldado? Sim, foi ele quem conduziu os exrcitos do pai, o rei, at a Fra

avamos uma longa guerra durante o reinado de Eduardo III. Sabia disso?Fiz que sim com a cabea. O Prncipe Negro, que tambm se chamava Eduardo, conquisto

idades e venceu muitas batalhas ao longo de vrios anos. Mas ele nem s

m prncipe misericordioso. Uma sombra atravessou o semblante dmund. Um dos atos que cometeu foi to cruel, to cruel, que podermotivado a criao dessa alcunha.

Tornei a ver na minha mente o olhar arrogante do prncipe. O que ele fez, irmo? No uma histria bonita. Prefiro no contar.Olhei para o frade. Acha que eu s posso escutar histrias bonitas? Eu j ouvi e vi mu


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a vida. A sombra da Torre de Londres caiu entre ns dois.Ele deu um suspiro e comeou o relato. Foi no cerco a Limoges, uma cidade do sul da Frana. O prncip

onquistado, mas ela voltou ao controle dos franceses depois de o seu embora. Ele ficou furioso. Armou um cerco s muralhas da cidade e, quandutra vez, no poupou um s cidado. Dizem que mandou matar 3 miloram todas massacradas enquanto imploravam pelas prprias vidasrianas foram mortas.

Acariciei o lado liso da minhavihuela para tentar no demonstrar mepulsa.

Eram outros tempos disse irmo Edmund. Na maioria das crpoca, ele era elogiado, considerado um grande homem. Afinal, foi quem

Ordem da Jarreteira. Uma fora assim era algo valioso. Nesse caso, fico espantada que ele tenha morrido antes do pai.ausa de ferimentos de guerra?

Ah, no. Ele adoeceu na Frana, pouco antes do cerco. Dizem que fe liteira at os muros de Limoges. Depois de reconquistar a cidade, voltnglaterra. Seu declnio foi muito lento. Levou anos. Os melhores mristandade foram chamados por seu pai, o rei. Todas as curas foram tentadedao da correspondncia a respeito os mistrios da medicina se

nteressaram. O Prncipe de Gales estava na flor da idade, mas definoucos, e ningum conseguia detectar qualquer sintoma claro e reconhoena. No era peste, nem tsica, nem varola. Durante algum tempo, penosse hidropisia, mas depois concluram que no. Eu me lembro de um trec

Irmo Edmund franziu os lbios, tentando se lembrar.

O mdico italiano escreveu: como se a fora de sua existncstivesse se esvaindo e homem nenhum fosse capaz de cont-la.Um arrepio subiu pela minha espinha.Irmo Edmund baixou os olhos para mim e sorriu. Voc perdeu a cor, irm Joanna. Venha, vamos tentar outra msica.Peguei minhavihuela e prosseguimos nosso ensaio. J tnhamos term

uas das msicas do repertrio planejado quando outras novias aparecera Obrigado por se juntarem a ns, irm Christina e irm Winifred


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mo Edmund. Ele se virou ligeiramente para mim, para explicar. Achei melhor ter mais dois msicos para tocar conosco no banquete. Eu no podsso a nenhuma das irms mais graduadas, pois acho que talvez ofendeignidade, mas quem sabe posso contar com vocs duas? Irmo Richard monseguir duas ctaras. So mais fceis de tocar.

Irm Christina havia comeado a sacudir a cabea antes mesmo derminar de falar.

No, irmo Edmund, isso no disse ela. Eu posso lhes ensinar a tocar uma melodia simples disse ele,

econfort-la. Eu sei tocar disse irm Christina e franziu o cenho. No po

presentar diante do meu pai. No me pea isso, por favor.

Virando as costas, ela saiu correndo da sala. M eu pedido foi equivocado disse irmo Edmund. Eu no sabiaChristina no gostava do pai.

No gostar do pai? As palavras dele me consternaram. Isserdade.

Ele curvou a cabea. Ento me enganei outra vez. Perdoe minhas palavras, irm Joann

amos tentar tocar um pouco? Irm Winifred, posso lhe mostrar como fazue me lembro de nossa me nos ensinando a tocar algumas canes. Voembrar.

Irm Winifred sentou-se. Antes de comearmos, irmo, preciso lhe fazer uma pergunta. Claro. Ele sorriu. Hoje parece ser um dia de perguntas.

Ela se inclinou para a frente, e seus olhos estavam mais srios doamais tinha visto. Quando um priorado ou abadia dissolvido pelos representantes

ue acontece?Irmo Edmund ficou imvel. No acho que seja prudente debatermos este assunto. Posso saber por qu?Ele estendeu as mos e segurou delicadamente as da irm.


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No quero preocup-la por causa da sua sade. Mas eu no sou criana disse ela com a voz firme. Sou uma n

ez votos para servir em Dartford e tenho o direito de saber o que o feserva.

Ele resp irou fundo. Quando uma abadia recebe ordem de dissoluo do rei, todos tm

ara ir embora e passam a receber penses. Algumas adequadas, outraConheo frades que deixaram a Inglaterra para ir morar em pases religiosomuitas vagas, de modo que eles viajam de abadia em abadia, em terra estr

rocura de um lugar. Se ficarem aqui, podem entrar para o sacerdcio, casispostos a se adaptar aos novos ritos. Ou ento podem abandonar totaeligio e abraar novas profisses... casar-se, at.

Isso no caso dos homens, mas... e as mulheres? insistiu ela. Alas tm menos possibilidades.Irmo Edmund e eu nos entreolhamos.Com uma ponta de ressentimento na voz, irm Winifred falou: Se irm Joanna pode saber essas coisas, se ela est apta a debater

s assuntos mundanos, ento eu tambm devo estar.Irmo Edmund deu um sorriso triste. Sim, tem razo. E as mulheres tm de fato menos possibilidades

artir para o continente torcendo para algum convento europeu as acolher.uvi falar em ningum que tenha feito isso. Podem buscar abrigo juntamlias. Ou podem abandonar a vida religiosa e se casar, ter filhos.

Irm Winifred escutava, absorta. E os priorados em si? indagou ela. O que acontece com essas ca

Em geral so dadas de presente a cortesos tidos em alta conta peloCromwell disse ele. Alguns priorados so convertidos em residncias entactos. Outros so demolidos pelos novos donos por causa do valor

materiais. Os prdios so postos abaixo, pedra por pedra. Ouro, prata oreciosas so derretidos, e as tapearias e esculturas, os livros, at mesmo o levados embora. At o chumbo chega a ser removido para ser vendido reo.

Os olhos de irm Winifred se arregalaram e seu lbio inferior tremia


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Mas ela continuou nos encarando sem desviar os olhos. Obrigada, irmo. Agora estou pronta para aprender as canes.


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o refeitrio, durante a ltima refeio do dia, ouvi trechos de conversa

irms. Em seus rostos pude ver o ressentimento em relao ao banquiem que iria ocorrer dali a trs dias.Sentada ao meu lado na mesa das novias, mais prximo da po

Christina mal tocou sua sopa ou seu po. Eu sentia um impulso de protegcreditava que estivesse encabulada com o pedido de seu pai. Sei que muitaat mesmo freiras lutavam contra o desejo dos pais de permanecerem e

idas, muito embora ns devamos nos isolar do mundo exterior. No qmago-los: ns amvamos e honrvamos nossos pais, mas precisvamos veles.

Pensar no pai de irm Christina me fez lembrar do meu. O po dminha boca se transformou em p. No importa se vivamos juntos ou sle era meu nico parente. Eu temia muito por ele, preso na implacvel torugar que me assombrava o pensamento. No entanto, a sua libertao nada prxima. No dia seguinte, eu deveria entregar a carta ao bispo Gardinouco tinha a relatar. Eu falhara ao tentar proteger meu pai.

Irm Agatha pode ter pensado que estivesse falando baixo o suficiingum escutar, mas a voz rascante da chefe das novias se propagou p

mesas. No, ns nunca tivemos um banquete no priorado antes disse ela

omos visitados por membros da famlia real. Quando a me do rei veio vi

Bridget aqui, muitos anos atrs, possvel que lhe tenham servido comida alvez haja um precedente.

Pude ver irm Anne fazer que no com a cabea. Nossa freira mstava sentada diante da longa mesa de madeira bem em frente a irm Agisse alguma coisa chefe das novias, mas sua voz era bem mais baixa e tude entreouvir foi prncipe Arthur.

Eu me sentei mais ereta em meu banco duro de madeira. claro irm Aniz um clculo mental de sua idade, que comparei ao ano da visita do


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Arthur com a me e a esposa, Catarina de Arago. Sim, era possvel qstivesse morando em Dartford em 1501.

Assim que irm Anne se levantou da mesa, eu me pus de p e fuiAlgumas das outras freiras mais graduadas estranharam ao me ver chostume era que as novias ficassem entre si , mas no vi como poderiaossibilidade de falar com ela naquela noite.

Irm Anne? comecei, fazendo uma reverncia respeitosa.Apesar das costas vergadas pela idade e do rosto flcido e cheio de ru

Anne sorriu para mim. Ah, irm Joanna. Como est passando? Bem, irm. Posso acompanh-la at as vsperas? Ficaria muito gratEla pensou por alguns segundos e olhou nossa volta, absorvendo o

as outras freiras. Reparei que seu hbito era de linho, e no da l spera s outras usavam. Quando as freiras ficavam bem velhinhas, recebiam para usar tecidos mais macios para a pele.

Por fim, ela tornou a sorrir. Claro, irm Joanna. Vamos juntas.Assim que chegamos ao corredor, onde as outras no podiam m

scutar, falei: Irm Anne, estou muito interessada em saber sobre os primeiros te

osso priorado. Ouvi irm Agatha se referir visita do prncipe Arthur a A senhora j estava aqui nessa poca?

Estava, sim. Um pesar atravessou seu rosto. Agora sou a nicempo que ainda est viva. Ele veio com a me, a rainha Elizabeth, no finainha apenas 15 anos.

A senhora viu o prncipe com seus prprios olhos? Ah, no. A velha rainha sempre encontrava irm Bridget nolocutoriuQuando trazia o filho e a nora para v-la, eles permaneciam l. Nunca entlaustro.

Isso me desanimou. Prosseguimos pelo corredor, passando pelo lavaodia ouvir os ps das outras irms se arrastando atrs de ns.

Irm Anne prosseguiu: Na poca, havia outra irm que estava muito ansiosa para ver o


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om os prprios olhos. Qual era mesmo o nome dela? Ela refletiu pnstantes. Ah, sim, irm Isabel. Talvez ela no fosse adaptada ao dia a dionvento. Era bastante... cheia de vida. Ela convenceu o porteiro a deix-la alas da frente do priorado. Depois me contou que viu apenas as costas do

Arthur quando ele estava se afastando em direo porta principal. Eleabelos louros, disse ela, e sua esposa, a princesa Catarina, era ruiva.

Irm Anne riu baixinho. Tentei forar um sorriso. Irm Isabel tinha ideias bobas recordou ela. Ela disse algo mai

isita do prncipe Arthur. Algo sobre ele desaparecer. O qu? Minha voz ecoou no corredor de pedra. Eu me controlei

mais baixa, continuei. Eu teria muito interesse, irm Anne, em ouvir tuespeito.

No gosto de repetir tolices disse ela. Sobretudo quando elas om um comportamento inadequado.Com muita dificuldade, me segurei para no lhe implorar que me c

istria, pois no queria assust-la. Passamos pelo jardim do claustro, one marmelo reluziam sob a brisa de fim de tarde.

Para meu alvio, ela retomou as lembranas. Irm Isabel disse que, de to determinada, chegou s salas da fre

anelas do para o gramado e para o porto de entrada, pois assim poderupo real ir embora. Viu a velha rainha aparecer com suas damas de colas foram conduzidas at os cavalos e os ajudantes. O prncipe e a princeso acompanharam a rainha. Irm Isabel a viu acenar em direo porta e eartir. Ento pensou que isso significasse que o prncipe Arthur havia rolongar a visita. Alguns minutos depois, irm Isabel foi at o corre

escobrir onde ele estava, mas no conseguiu. No achou nem o prnciprincesa. Disse que olhou em todos os cmodos da frente do priorado. Ofirmou no ter visto o casal real. Os dois no tinham entrado na rea doisso ele estava certo. E, durante todo esse tempo, ele tampouco tinhrioresa.

Irm Anne e eu tnhamos chegado ao arco que conduzia igreja. Ams relancearam os olhos ao nos verem passar, curiosas. Perguntei depres

Ento ela no tornou mais a ver o prncipe?


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A ver no, mas ela o ouviu. Ouviu quando ele foi embora. Mais oma hora mais tarde, ela ouviu ordens chamando os cavalos reais na riorado. Quando conseguiu encontrar uma janela para olhar, o prncipe e

estavam indo embora montados.A maioria das freiras tinha entrado na igreja, e estava claro que irm

ueria segui-las. Irm Rachel me olhou de cara feia ao entrar, seguida peHelen e Agatha. M as eu precisava saber tudo e tinha de ser agora.

Onde o prncipe Arthur foi nesse dia? insisti, estendendo a mo peu brao.

Irm Anne se afastou de mim, intrigada com a minha insistncia. Por favor, eu lhe imploro, me conte o resto da histria sussurrei.Com um derradeiro dar de ombros, ela disse:

Irm Isabel nos contou essa histria muitas vezes e sempre dizia oisa no final. Que devia haver um quarto secreto em Dartford. Est vendomuito boba.

Um quarto secreto em Dartford . E j faz tantos anos que o prncipe Arthur morreu... devaneou e

artiu muito jovem, poucos meses depois de vir a Dartford. E de uma dstranha... Ela se forou a acordar do devaneio, e ambas fomos tomaugares na igreja, ela com as freiras mais velhas e mais graduadas, e euovias.

De to dispersa, perdi duas respostas da prece nesse dia. Se existissepo de cmara secreta, onde poderia estar? Eu conhecia as salas da riorado, que eram bem-arrumadas e tinham poucos mveis. Entre as

alvez? No parecia provvel a prioresa ter se espremido dentro de uma m

mara secreta seguida por um casal de prncipes. E o que havia aconteciduarto secreto? Ser que tinha algo a ver com a coroa de Athelstane? As paCatarina de Arago no leito de morte ecoavam em meus ouvidos: A l

erdade. A coroa de Athelstane. Pobre Arthur.Eu estava cada vez mais convencida de que, para descobrir o escon

oroa, precisava saber mais sobre o rei Athelstane. Depois das vsperas, esculpas para as irms Winifred e Christina e sa depressa da igreja.

Segui na direo oposta das irms, rumo ao corredor que ia do j


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laustro at a biblioteca. Uma rstia de luz do crepsculo descia do cu. reso parede de pedra tremeluzia do lado de fora da enfermaria, mas nenhum sinal de atividade l dentro. Irmo Edmund j devia ter se recoposentos dos frades.

Girei a maaneta da porta da biblioteca. Para meu assombro, ela se entro estava escuro, de modo que peguei o crio da parede para poder ver

Corri at a seo que continha os livros de interesse geral. Novamistria dos Plantagenetas, uma coleo de mapas. Mas no lugar em qncontrado o volume marrom-escuro intitulado De Caractacus a Athelstane agavia apenas um buraco. Talvez irmo Richard no soubesse onde ficaverto do livro, ento procurei por toda a biblioteca e verifiquei cada um dos

No o encontrei. O livro havia desaparecido, da mesma forma que a

rioresa Elizabeth para sua sucessora.Era como se algum soubesse o que eu estava procurando e tivesse corar as coisas do meu alcance segundos antes de eu chegar.

Foi nessa hora que ouvi alguma coisa. Sussurros. Bem do outro ladoApaguei o crio com um sopro e fiquei parada. Os sussurros cessaram

asso at a porta e ouvi mais alguma coisa. O tamborilar de passos corrorredor. Depois de novo o silncio.

Minha respirao estava acelerada e eu tremia de medo. Poucas hocara sabendo sobre a existncia de um quarto secreto e agora estava

movimentos furtivos. Mas no podia ficar muito mais tempo esconiblioteca. Irm Eleanor sempre verificava o quarto das novias antes de see eu no estivesse na cama, ela daria o alarme.

Girei a maaneta da porta muito, muito devagar, e a entreabri com

mpurro. No vi nada. O corredor estava escuro e silencioso. Eu me esguora da biblioteca e segui na direo do claustro.Atrs de mim, na enfermaria, tornei a escutar uma srie de sussurros

ma risada de menina.As crianas da famlia Westerly!Entrei repentinamente na enfermaria, e ali estavam elas, encolhidas

ogo que agora no passava de brasas quase sem vida. Harold foi o primeirsoltou um gritinho assustado, pondo-se de p com um pulo. Martha en


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orpo do irmo com seus bracinhos de criana, mas comeou a rir quando m Ol, irm Joanna disse Ethel, a nica a manter a calma. Crianas, o que esto fazendo aqui? perguntei. Sei que voc

car perto da sua me, mas se esconder no claustro depois de escureceotalmente proibido. Olhei para a enfermaria nossa volta. aqui qormem?

A cozinheira nos deixa dormir na despensa disse Martha com suaguda. Assim que a noite cai, ns ficamos escondidos na...

Shhh comandou Ethel.Havia uma trouxa na frente de Harold. Ele tentou remov-la do meu

iso. O que isso? perguntei.

Nenhum dos trs disse nada.Estendi a mo para baixo e abri a trouxa. Para minha surpresa, era ue bolos amarelos recm-sados do forno.

Onde vocs arrumaram isso? indaguei. A cozinheira fez para ns disse Harold. So bolinhos de almas explicou Ethel. Ns vamos distribu-lo

elo povoado, na noite de Halloween.A meno dessa festa pag me provocou um movimento de recuo.Em tom desafiador, Ethel prosseguiu: Quando a pessoa recebe um bolinho de almas no dia de Halloween

ue rezar pela alma de algum. nesse dia do ano que a parede entre os vmortos fica mais fina. Vamos pedir a vrias pessoas do povoado que reossa me, para que ela no morra.

No, no, no falei, incomodada com o seu conhecimento das prruidas. No priorado, somosns quem vamos rezar por sua me, como sazemos. Deus olhar por ela.

O lbio da pequena Martha estremeceu. Irm, voc no vai levar embora nossos bolos, vai? No vai nos im

alvar mame, vai?Soltei um grunhido. Como era possvel faz-los compreender? Seu pai ainda est em Londres? perguntei.


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Sim, em Southwark respondeu Harold.Ouvi o dbil chiado de uma respirao vinda do canto. Este

ansformou em um engasgo. A me das crianas parecia ter piorado ainHarold olhou para as irms e para mim, e seus olhos se encheram de lgrim

Tomei minha deciso. Agora est escuro. De qualquer maneira, vocs no iriam conseguir

ovoado em segurana. Vo para a despensa, crianas. No vai nos denunciar? suplicou Harold. Hoje no, mas essano uma boa soluo. Vou rezar para decidir

azer e dizer.Conduzi os trs pequenos Westerly para fora da enfermaria e em d

espensa da cozinha. Enquanto caminhvamos, Martha me deu a mo. S

uentes e rechonchudos apertaram os meus com uma fora surpreendente.Eu acomodei as crianas em um cantinho miservel, que ento percocal costumeiro onde elas dormiam. Em seguida, elas pegaram cobertorens cestos.

Comam vocs os bolos pedi. No os usem para conseguir preai contra os desejos de Deus.

Martha me agarrou pelo pescoo. Senti um beijo molhado na bochech Eu amo voc, irm Joanna disse ela com sua voz melodiosa. E eu amo vocs trs falei, e minha voz ficou embargada.Ethel me olhou espantada.Tirei os braos de Martha dos meus ombros e comecei a recuar. C

ltimo aceno canhestro, deixei as crianas na despensa e tomei o caminhoama.


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o dia seguinte o sol no apareceu.

Aquela ltima semana de outubro tinha sido agradvel. O sol da tards jardins e as terras do priorado e acariciava as folhas vermelhas e cor mpilhadas por toda parte. As irms enchiam cestos com os marmelos verue haviam amadurecido nas rvores do claustro. Na maioria das manhscre mas agradvel das fogueiras entrava flutuando pelas janelas.

Porm, um vento frio e cortante comeou a soprar antes do amanhece Halloween, trazendo consigo uma pesada chuva que arrancou das rvltimas folhas. Em um dia normal no priorado, estaramos todos l dentro,empestade. Nessa manh, no entanto, pus minha carta para o bispo entro da manga do hbito e, murmurando desculpas, tomei a direo do a extremidade noroeste do terreno, logo depois de uma colina margeada pltas.

Para evitar que meu hbito ficasse encharcado, eu tinha vestido uoderia ter puxado o capuz por cima da cabea, mas desprezei essa proteentir a chuva fria no rosto. Estava ansiosa por sentir meus olhos arderem o vento.

Eu estava muito desanimada. Tinha escrito e lacrado a carta para o Winchester, mas infelizmente era uma mensagem curta. Nela, eu informa

rioresa Elizabeth tinha morrido na manh da minha chegada e que a ltimala escreveu fora extraviada. Uma histria contada por nossa freira m

ugeria a existncia de um quarto secreto em Dartford e dava a entender tamurante uma visita ao priorado em 1501, o prncipe Arthur talvez houvesesse aposento. Eu no sabia exatamente onde ele ficava, mas devia ser nrente do priorado, e no no claustro. A coroa de Athelstane poderia estar e. Sugeria... talvez... devia... poderia. Visualizei um auxiliar entregandoarta, o bispo rompendo o lacre, impaciente por notcias, e seu rosto escuraiva depois de percorrer depressa minhas poucas frases.

Cheguei ao alto da colina e parei para me abrigar sob as rvores. Um


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ermelho correu de mim, no gostando de eu ter invadido seu territrio secos arbustos.

Logo abaixo da colina, em um desnvel do terreno, ficava o leprosavia sido abandonado antes de eu ir para Dartford. Mas eu no sabia exuando. Vinte anos antes? Cinquenta? Cem? Metade do telhado havia desmor um buraco irregular na parede dos fundos, eu podia ver os campos

Uma hera verde sufocava todas as janelas sem proteo, e as trepadeirasaviam dominado o espao, vidas por recuperar aqueles cmodos nos qo podiam entrar.

Mas e os leprosos, aquelas almas desprezadas? Ser que tinham utro hospital para serem medicados, ou teriam sido expulsos para encontanto de Londres no qual se esconder, assustados e doentes? No havi

erguntar.Ao olhar para o hospital, as lgrimas nas minhas faces se misturarame chuva. Dali a 50 anos, alguma outra moa talvez olhasse para o bandonado de Dartford e pensasse:O que ter acontecido com as freirasiviam aqui? Por que elas abandonaram os pais e abriram mo do casamen

maternidade para viver em um lugar como esse? No haveria ningum parontar quem ramos ou no que acreditvamos: servir humildemente a Crismas s outras, aprender, contemplar.

A meio caminho da descida at o leprosrio, tropecei e ca de joelhosorrenciais haviam transformado o campo em um lamaal. Eu me levantei eom mais cuidado at o arco da entrada. A porta havia sido arrancadaobradias muito tempo antes, sem dvida para servir de lenha. Gravadascima do arco liam-se as palavras Leprosrio de Santa Maria Madalen

audus. Mais abaixo, em letras menores, estava escrito Ordem de So Lerusalm. Eu sabia que era uma ordem mdica criada pelos cavaleiros teAs Cruzadas. Meus primos adoravam brincar de cruzados no Castelo deCorriam pelos amplos sales brandindo espadas de madeira e gritando:

e Deus! No demorei a encontrar a janela que o bispo Gardiner havia descrit

s laterais e senti que de fato havia uma abertura. Peguei a carta que havom cera naquela manh mesmo. Retirei a tbua solta, pus a carta l dentro


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Aquela crista da colina prosseguia por alguma distncia, em seguidaara outra colina mais circular, de cume plano e sem rvores. Uma mulhor essa colina na direo oposta minha vestida com um hbito simples com o capuz abaixado em volta dos ombros, como o meu. Era irm Chris

Comecei a andar na sua direo, segurando-me nos galhos sempre qA casca spera machucava minhas mos, mas eu precisava me segurar paro declive escorregadio.

Irm Christina! gritei assim que sa do meio das rvores. Ela have andar, mas no se virou para mim. O vento devia estar carregando minhaonge. Ele agora soprava com mais fora, ainda mais frio, embora a chuviminudo.

Quando j estava quase na altura dela, tornei a chamar seu nome. D

minha colega novia se sobressaltou, surpresa. Vi que seu rosto estava rgrimas, como o meu tambm devia estar. O que voc tem? perguntei.Ela balanou a cabea: no queria falar. No a forcei. Eu compar

mesma dor que ela em relao ao futuro comprometido da nossa comuniesta larga estava toda enrugada, como se ela fosse uma velha. O frio tinheu nariz vermelho. Ou talvez ela estivesse assim por causa do choro. Szuis cor de ardsia pareciam cansados.

De repente, ela segurou minha mo e apertou com fora. Ah, irm Joanna, me perdoe por ter me zangado com voc. Eu mereo toda a censura de que fui alvo falei. Mas obriga

Christina. Senti falta da sua amizade. Ns nos abraamos, e aquilo me fez rir um pouco: estvamos

ncharcadas e geladas.Ela me fitou, pensativa. Voc estava disposta a sacrificar tudo: seu lugar de novia, sua v

ara honrar uma p rima que morreu por ter se rebelado contra a heresia. Hue o que voc fez foi muito corajoso.

No pude suportar o elogio dela minutos depois de ter escondido me espi.

No, no, no. Sacudi a cabea. Foi um erro da minha parte.


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Com um gesto amplo, ela se virou na colina. Conhece este lugar?Fiz que no com a cabea.Ela ento apontou para baixo, bem ao lado de seu p direito. Uma pe

stava encravada bem fundo na terra. Sculos atrs, havia um convento aqui em cima desta colina con

sta a pedra inaugural. Procurando bem, possvel encontrar a maioria dlas formam um gigantesco quadrado. Por favor, venha comigo.

Fui seguindo irm Christina com os olhos fixos no cho molhadistinguir as pedras despontando sob a grama a intervalos irregulares, disma linha reta demais para ser natural.

Dizem que o rei Eduardo escolheu este lugar para erguer o Pri

Dartford porque aqui havia outro convento disse ela. Mas duvido queue fim ele teve. Por qu? O que aconteceu com o convento?De costas para mim, ela continuou: As irms eram integrantes da seita de Santa Juliana. J ouviu falar? Sei que ela foi mrtir. Juliana se converteu ao cristianismo e queria permanecer virgem,

ai era pago. Ordenou que a filha se casasse com um romano como ele. Dt o diabo apareceu para tentar convenc-la, mas ela ficou firme. No quise sua f e por isso morreu. Os romanos a decapitaram.

Ventava muito e senti um calafrio. Estava muito exposta ali, na compm Christina. L embaixo, no priorado, era possvel que estivessem nos v

anelas da prioresa davam para as colinas. Contanto que no sass

ropriedade, podamos passear pelo terreno. Em um dia como aquele, passeio iria gerar perguntas.Mas irm Christina parecia decidida a me contar a histria do c

esaparecido, e achei o relato intrigante. Quando esse convento foi construdo? perguntei. No sei, mas ele foi destrudo no sculo VIII.Um sculo antes do reinado de Athelstane, pensei. Em voz alta, pergunte E por qu?


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Ento ela se virou de frente para mim, com o rosto afogueado. Noruegueses, irm Joanna. Nessa poca eles estavam no auge do

nvadiam todos os lugares e matavam os cristos. Roubavam nossosncendiavam nossas fazendas. Mas o seu esporte predileto era estuprar fre

Ao ouvir isso recuei, amedrontada. Que horror, irm Christina! Nem fale nisso.Ela prosseguiu como se no tivesse me escutado. Era um convento bem pequeno, com umas oito mulheres, elas d

orcido para seu convento estar afastado o suficiente da costa e prximo oe Londres para estar seguro. Mas no. Um grupo de noruegueses o enentou entrar para estuprar as irms.

Tapei os olhos com as mos, como para me proteger de algum ho

stivesse acontecendo ali, naquele instante. As freiras ficaram sabendo que os noruegueses estavam a carancaram todas as portas. M as isso no iria det-los por muito tempo... el

machados. E sabe o que as freiras fizeram? Irm Christina, no posso ouvir isso! Imploro a voc! Para mim,

istria de violao de uma mulher...Ela me segurou pelos ombros e gritou: Elas se queimaram vivas! Quando o fogo arrefeceu, a porta foi derr

mas tudo o que conseguiram encontrar foi carne queimada. Os noruegueseo irados que destruram o convento e espalharam os tijolos pelos campos

O cu cinza e carregado girava minha volta, e meus joelhos cederamjoelhei no cho, com nsia de vmito.

Com uma voz muito diferente, irm Christina falou:

Ah, irm Joanna, eu no queria fazer isso com voc. Por favor, me pAgachando-se, ela afagou minhas costas convulsionadas. No era minha inteno deix-la to abalada. Voc esteve na priso

e Londres. Foiinterrogada. Pensei que podia lhe contar isso, que voc supuvir. Os habitantes do povoado de Dartford conhecem essa histria. Ela vontada h muitos sculos. Eu a ouvi antes mesmo de vir para c.

Ela me ajudou a ficar em p novamente. Respirei fundo. Eu simplesmente no consigo escutar histrias desse tipo, irm,


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o tinha como saber. Sinto muito ela tornou a dizer. Posso ver que voc no teria

pinio que eu sobre a morte das freiras. Tenho pena delas. Que outra opinio eu poderia ter? Ao morrer como morreram, elas compartilharam o sofrimento de

ma forma muito especial e sagrada disse irm Christina. O fogo as le foi uma forma de... Ela buscou as palavras certas. ...de xtase divino

sso? No totalmente admiti.Uma movimentao na entrada do priorado interrompeu nossa c

Carregando cestos nos braos, a prioresa e as irms Eleanor e Rachel sartio frio e molhado, mas no vestiam suas capas pretas para se prote

huva. Olhe. Irm Christina apontou para o caminho que emergia dooresta e ia dar no priorado. Uma fila de pessoas se aproximava. Recomem que vinha na frente. Os moradores mais pobres de Dartford tinhedir esmolas no priorado, como faziam duas vezes por ms. Era umastabelecida havia muitas geraes. A lder de nossa comunidade fazia a die comida e moedas do lado de fora do porto.

Sem que nos notassem, irm Christina e eu tomamos a direo do Ver a entrada majestosa de Dartford foi um reconforto aps ter vislummuros desmoronados do leprosrio e os restos do antigo convento.

Embora houvesse passado por elas muitas vezes, apressada, nesse ara examinar as esttuas de pedra do rei que ladeavam a porta. Quando c

Dartford, algum me disse que elas representavam duas verses do rei Ed

ma jovem, a outra velha. A esttua da esquerda era barbada e trajava longA da direita tinha o rosto liso, vestia uma cota de malha e armadura e trspada na mo.

Examinei mais de perto o guerreiro de pedra direita. Espere pedi, antes de entrarmos. Voc conhece a histri

sttuas? O velho o rei Eduardo III; o jovem seu filho, o Prncipe N

rncipe morreu antes da inaugurao do priorado.


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Fiquei espantada. Voc conhece bem a poca.Ela deu de ombros. Eu cresci em Dartford, est lembrada? Vinha aqui ter aulas qu

menina. Sei tudo sobre o priorado.Ela apontou para o desenho esculpido em pedra acima da entrada. Prefiro a histria da Virgem dos reis.Olhei para os personagens retratados, todos ajoelhados diante de

Maria. Cristo tinha as mos estendidas acima de Maria enquanto ela ababea para ele. Acima da cabea da Virgem, entalhada bem fundo na pedra, quase coberta por flores-de-lis, havia o contorno de uma coroa. Nu

eparado nela antes. A coroa pairava exatamente acima do centro do arco

ue dava acesso ao Priorado de Dartford.Irm Christina acompanhou a direo do meu olhar espantadoemblante se iluminou quando ela tambm comeou a estudar os relevos.

Voc tambm ama a coroao da Virgem, irm Joanna? Nomaravilha? Seu filho a est coroando rainha dos cus.


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ntre a festa pag de Halloween e a celebrao sagrada do Dia de Finado

Dia de Todos os Santos. Quando eu era criana, sempre ansiava por eDurante a missa, aninhada junto a minha prima Margaret na capela da nossscutando o padre falar, ficvamos com medo, mas tambm muito empolgs detalhes das mortes dos mrtires. Nossa preferida era Santa Agnes, qunos fora devorada por lees diante de uma multido em transe no grande C

Roma. Para ns, o martrio no passava de uma horripilante brincadeira.Agora, na missa do Dia de Todos os Santos de Dartford, eu

omenagem s mulheres e aos homens que tinham suportado a dor, o mmorte prematura em nome da nossa f. Cromwell e seus hereges se

esdenhavam muito de nossos santos. Eu no conseguia entender isso. Neste dia, mais do que em todos os outros, ns celebramos os m

ntoou o irmo Philip na abside da igreja. E reverenciamos seus corposansformados em nossas abenoadas relquias nos monastrios e igrejas eela cristandade. Como podemos ns, reles mortais, compreender os saqueles que tiveram o prprio sangue derramado em nome de Nosso Se

Virgem Maria? Invoco So Jernimo para que lance hoje sobre ns a suaoi ele quem disse: Ns veneramos as relquias dos mrtires para melhor dorar a Deus, em nome de quem eles se martirizaram.

Pensei nos tijolos que havia tocado na vspera, os primeiros tionvento de Santa Juliana, no alto da colina. Estremeci ao rezar por

mulheres que haviam decidido pr fim prpria vida do outro lado drossas muralhas. Ao meu lado, irm Christina gemia e se balanava no banevoo tinha a mesma intensidade.

Depois da sexta, cada um seguiu para um lado de modo a se preparanquete do dia seguinte. Encontrei irmo Edmund e irm Winifred para unsaio de msica na sala capitular. Meus dedos, porm, estavam nervosos ihuela, e pulei vrias notas. Foi um alvio quando Gregory e dois criados azendo uma tapearia enrolada. Paramos de tocar para v-los pendur-l


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mesa principal.A tapearia era a mais recente feita em Dartford e havia sido

mprestado a seus proprietrios, uma famlia de construtores de barcos dles haviam se mostrado mais que dispostos a emprest-la para o banqueueiram homenagear Lorde Chester, o morador mais importante da cidade.

Que esplndido! comentou irmo Edmund quando os esenrolaram a tapearia de um metro e meio. Irm Winifred e eu nos entrergulhosas. Ambas havamos trabalhado naqueleO mito de Dafne, que ficara proogo antes da Quaresma.

A cena da tapearia era baseada em uma histria grega: o deus deansforma em rvore sua linda filha Dafne, uma ninfa. Irm Helenompletava pessoalmente as figuras humanas e, nesse caso, havia se super

e via era uma encantadora moa loura em plena fuga, com galhos e folhase seus membros plidos enquanto um grupo de homens a observa. Soresta, irm Helen tinha usado mais de vinte tons de verde diferentes. Eula no tinha usado sedas importadas de Bruxelas, mas que haviaessoalmente alguns dos fios. Lindos narcisos, rosas e violetas brota

margens do rio. No canto inferior direito, em meio a uma profuso uspensos acima da margem, despontava a cabea grisalha do pai de Dafne

Enquanto os criados se esforavam para pendurar a tapearia corretaarede dos fundos, atrs do tablado, Gregory gritou:

Cuidado, seus tolos! Chega de msica, irmo, no concorda? indagou irm Winifred. E

argado avihuela.Irmo Edmund no respondeu. No conseguia tirar os olhos da tape

Uma beleza, no ? perguntei. Sim, sem dvida concordou ele devagar. Mas a histria de Dafscolha temtica estranha para um priorado. No apenas para vocs teceara ser exibida amanh em um banquete do rquiem.

Assenti. Eu costumava pensar o mesmo sobre esse tipo de histria. Mas a

lizabeth nos garantiu que os clssicos representados na arte no so blasfIrmo Edmund abriu a boca como quem vai dizer alguma outra coisa.


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elance para a irm, para mim, e ento pareceu mudar de ideia. Sua expresabitual retornou.

Da porta, irmo Richard acenou para irmo Edmund, chamando-o. Esto precisando de voc na enfermaria disse ele.Irmo Edmund entregou o alade irm e saiu apressado. Eu tambm

ala capitular para continuar com meus outros trabalhos. No corredor, irmurgiu ainda mais sria do que de costume. Um segundo depois, vi o moreiras a seguiam trazendo os tesouros de nossa igreja. Carregavam clices,bjeto mais precioso de todos: nosso relicrio. Ele havia sido usado na odos os Santos e agora estava sendo transportado para a sala capitularxibido aos nossos convidados. Os objetos preciosos de um priorado erama casa.

Eu me encolhi junto parede para deixar a procisso passar. Irmarregava o relicrio como se ele fosse um recm-nascido. Era uma esculturamanho real da mo de uma mulher, que brotava de uma base cilndrica furo cravejada de diamantes e pequenos rubis. Tinha mais de 200 anos dora presente de Eduardo III na poca da fundao. Eu j o havia seguradelicado, mas era surpreendentemente slido. Relicrios foram feitos parelquias uma mecha de cabelos, uma unha, algum fragmento do corpo de, mas aquele tinha chegado at ns vazio. Apesar disso, reverencivaropsito e sua beleza. Minha pulsao se acelerou quando irm Racharregando-o. Ele era lindo, mas tambm me assustava. s vezes parecia qedos que apontavam mais para a frente iriam me agarrar.

Irm Eleanor chamou a ltima freira do grupo: Irm Agatha, depois de trazer o clice, no se esquea de ir b

uscar aVida de Santa Matilde.Eu me adiantei e perguntei: Posso ajud-la, irm Agatha?Minha oferta deixou radiante a chefe das novias. Sim, irm Joanna, por que no abre a biblioteca e me espera l?

emorar. Ela levou a mo ao bolso e tirou uma chave de uma argola.Tive que me esforar para no ir correndo at a biblioteca. Minha m

uando destranquei a porta. Mais uma vez fui diretamente ao lugar em


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ncontrado o livro sobre Athelstane, porm tudo o que encontrei foi umazio. O livro ainda no tinha sido devolvido.

Acima do buraco na estante, meu olhar foi atrado por um volume istria dos Plantagenetas. Fiquei imaginando se o livro falaria sobre a v

Ricardo Corao de Leo. Minha mo j estava tocando a capa quando irmntrou apressada. Dei um pulo para trs e fiquei de frente, mas ela nercebido o que eu estava tentando fazer.

Ah, irm Joanna, obrigada. Esse manuscrito muito delicado, e irme zanga muito quando eu cometo algum erro.

Ns nos viramos para aVida de Santa Matilde, um dos cinco manuscuminados do priorado. Cada um dos desenhos coloridos que ladeavam ae texto devia ter levado muitas semanas para ficar pronto.

Enquanto lutava contra os ns que amarravam o manuscrito a umm Agatha comentou: A mim Lorde Chester nunca pareceu um homem interessado em

onhecimento, mas a minha opinio nunca solicitada nem escutada. Voc j encontrou Lorde Chester? indaguei, surpresa. Voc no?Refleti por alguns instantes antes de fazer que no com a cabea.Irm Agatha franziu os lbios. Durante algum tempo, ele foi um visitante frequente. Imagino que

eja de espantar, uma vez que nosso vizinho. Mas, agora que penso nole no veio ao priorado mais de uma vez nos ltimos dois anos. No desdlha fez votos.

Ela finalmente conseguiu soltar o manuscrito do suporte. Cheguei m

ara ajud-la a carregar.A boca de irm Agatha se agitou. Ela ainda tinha algo a dizer. claro que sangue jovem bom para qualquer priorado. A nossa

em 41 anos e ainda tem foras para fazer muita coisa. Mas umacircator de nos? No fcil de aceitar. No que eu me importe com o fato de irm El

muito mais nova do que irm Rachel e eu e ter um posto mais alto. Noesseroblema...

Enquanto irm Agatha seguia falando, fomos levando o pesado livro


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a biblioteca. Com a mo livre, fechei a porta quando samos, mas ela no u a trancasse.

Na sala capitular, ajudei-a a depositar o volume na mesa comprida,elicrio que repousava sobre uma coluna de gesso. Quando viu a tapeaena de Dafne, agora pendurada reta, o rosto de irm Agatha se alegrou e untar s outras irms postadas e enlevadas diante da obra.

Sim, o nosso mais belo trabalho anunciou ela antes de franzir osAh, mas esperem... a moa do meio. Seu rosto me parece conhecido. Quem

Com uma reverncia, fui me afastando das irms e recuando em dorta. Parei, imaginando que irm Agatha fosse gritar: Irm Joanna, p

minha chave.Mas ela no falou nada.

Se aquilo fosse um pecado, era um pecado de omisso, pensei comignquanto descia apressada o corredor. Iria me certificar de que irmecebesse a chave de volta antes das vsperas.

De volta biblioteca, com uma vela nova sobre a mesa e a porta eguei o livro sobre os Plantagenetas.

Logo encontrei um captulo sobre Ricardo Corao de Leo, seglantageneta da Inglaterra, e o folheei at o final:

No ltimo ano de reinado, aps voltar da Terra Santa e ser libert priso, Ricardo passou a se preocupar muito com as contendas com Frana em relao a territrios. O Chteau Gaillard de Ricardo, cons margens do Sena, era uma fortaleza impressionante, concluda em

Mas a construo do castelo havia consumido muito dinheiro, prodos cofres da Inglaterra e do reino de Aquitnia, legado a Ricardo me, a rainha Eleonora. Na primavera de 1199, Ricardo estava em sua corte na Aquitnia recebeu a notcia de que um tesouro havia sido encontrado enterra fundo no cho prximo a Chteau Chlus-Chabrol, no muito longeele morava. O lugar ficava no territrio pertencente ao visconde de Lque, apesar de ser vassalo de Ricardo, tinha muitos negcios com


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Frana e, portanto, no merecia confiana.Como precisava de dinheiro, Ricardo foi at Chlus-Chabroreivindicar o tesouro, que havia sido desenterrado por um camponexaminar os objetos preciosos moedas de ouro e artigos reais de Ricardo disse que eram de origem inglesa. Lorde Montbrun, senhor do castelo de Chlus-Chabrol, parente e alvisconde de Limoges, ficou muito ofendido e afirmou que o tes poderia ter vindo de to longe. Acusou Ricardo publicamente droubado. Muita gente pensava assim. Mas esse era um insulto granenhum soberano podia tolerar. Ricardo convocou seus exrcitos clorde francs, e Chlus-Chabrol se preparou para um cerco. Foi precms para os soldados conseguirem se reunir com as armas necessria

No incio da noite de 25 de maro, Ricardo foi dar a volta por fmuralhas do castelo de Chlus-Chabrol. Seus homens lhe implorarusasse a armadura porque os soldados franceses que vigiavam as mainda tinham muitas flechas. Mas Ricardo se recusou. Gritou para arqueiros da muralha, riu e o desafiou a atirar, e o homem assim f segunda flecha atingiu o rei no ombro esquerdo. Ao voltar para sua bele prprio retirou a flecha, mas esta se partiu e a ponta permaneceucorpo. O rei recusou qualquer tratamento para a ferida. Ricardo ento comeou a ter febre e, alguns dias depois, comeou-se por sua morte. Mas sua ltima ordem foi para perdoar o arqueiro ningum nunca lhe fazer mal. Ele afirmou que no era digno de ser r j estava enfraquecido antes de ser atingido pela flecha. Suas pcausaram grande desgosto aos nobres, que protestaram dizendo que

o homem mais valoroso que jamais havia lutado.Quando Ricardo morreu, no dia 6 de abril do ano de Nosso Senhor d seus homens desobedeceram ao seu comando. O castelo foi tomarqueiro foi encontrado e os lordes ingleses o esfolaram vivo.Toda a cristandade chorou a morte de to poderoso rei. Ricardo tinanos. Havia reinado por uma dcada.


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O livro escorregou de meus dedos. Durante um longo tempo, minha gitou com pensamentos sobre a estranha morte de Ricardo Corao de ue o mais experiente comandante de batalha da poca iria ordenar a umosicionado no alto da muralha de um castelo que lhe desferisse uma icardo disse que no merecia ser rei e que j estava enfraquecido antestingido pela flecha. Aquilo no fazia sentido.

Retomei a leitura. Folheei o livro at encontrar a histria do Prncipe esouro havia sido encontrado em terras pertencentes ao visconde de idade que fora sitiada pelo Prncipe Negro. Tinha de haver alguma ligao.

No entanto, no havia muita coisa escrita sobre o terrvel cerco que ouvesse escutado da boca de irmo Edmund. O Prncipe Negro adoeceu aepois de os habitantes da cidade serem mortos e voltou para casa. E

espachado para a Inglaterra um navio carregado com um grande tesourovro.Pulei algumas linhas at a descrio de sua morte:

O Prncipe de Gales suportou com pacincia todos os seus sofrimenltimos momentos foi acompanhado pelo bispo de Bangor, que insistiimplorasse o perdo de Deus e de todos aqueles que ele havia ferido. algum tempo, o prncipe se recusou, mas por fim uniu as mos e reque Deus e os homens lhe concedessem o perdo, e assim morreu noreal de Westminster aos 46 anos.

A porta da biblioteca se abriu de supeto, e irm Eleanor entrou corre Irm Joanna! exclamou ela. Logo atrs vinha irm Agatha, touanto acircator .

Tornei a pr o livro que estava lendo em seu lugar na estante. Irmo olhou para o livro, apenas para mim. A raiva incendiava seus olhos.

M ais uma vez voc violou nossa confiana e nossas regras. Todas os seus crimes contra a ordem dominicana, mas tnhamos certeza de que ve comprometido com o arrependimento.


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Senti meu rosto ruborizar. Irm Eleanor, eu me distra com a leitura. Imploro seu perdo. Sei

rabalho a fazer, mas... Lettice Westerly morreu uma hora atrs disse ela, me interrompen

lhos esto histricos. Dissemos e fizemos tudo para acalm-los, mas noles esto chamando voc... a menorzinha est suplicando pela sua

Ningum conseguia encontr-la.Passei por ela correndo at a porta. Onde esto as crianas agora, irm? Foram embora respondeu ela. Saram correndo. Ns toda

rocurar voc e, quando voltamos, elas tinham desaparecido. M as o pai delas est em Londres. No est em sua casa no povoad

escontrolada.Ela fez que sim com a cabea. Isso mesmo. Assim sendo, irm, o que quer que acontea com as cr

amlia Westerly vai pesar sobre a sua conscincia.Engoli em seco.Irm Agatha se adiantou. Pode me devolver a chave, irm Joanna.Entreguei-lhe a chave. Os seus crimes sero lidos na sala capitular, diante de todas as i

emana aps nosso banquete do rquiem disse irm Eleanor. A priorecidir quais sero as suas punies. Algumas irms acham que voc nuner sido acolhida de volta no Priorado de Dartford. Quem sabe agora euvidas.

Fui me juntar busca pelas crianas. Pressionei Elene, a cozinheiraavia algum que saberia o paradeiro das crianas, era ela. No entantorenticos preparativos para o banquete e a tristeza pela perda de sua melhla foi incapaz de ajudar.

Os rfos da famlia Westerly tinham desaparecido e ningum sabstavam.

Durante a refeio da noite, os sussurros no refeitrio me rodearam formenta. No poderia haver escolha pior de uma freira para conhecer os d


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minha ltima desgraa do que irm Agatha. Todos os que tinham um par deessa altura j deviam estar sabendo.

Na mesa das novias, comemos em silncio. Mantive a cabea bauerer encarar irm Winifred sentada minha frente, nem irm Christinasquerda.

Quando a lamentvel refeio j estava quase no final, no pudemais. Ergui os olhos e encarei irm Winifred de frente. Ela parecia bgrimas.

H algo que voc queira me dizer? perguntei. Ah, irm Joanna,o que aconteceu com voc? sussurrou ela.Minha resposta amargurada saiu antes de eu conseguir cont-la: Muita coisa.

Irm Christina se inclinou na minha direo. Conte para ns pediu ela com urgncia. Voc tem que nos contaFiz que no com a cabea. No. Ns somos as suas amigas mais prximas insistiu ela. Por que

onta o que aconteceu na torre para podermos ampar-la?Fechei os olhos. Sinto muito falei. Eu no posso. Nessa noite, na cama, tive um pesadelo atrs do outro. Com o peito

e tantos soluos, eu procurava as crianas da famlia Westerly. No entantocena mudava, eu me via correndo em pnico por densas matas junto corima Margaret. Ns duas fugamos de uma criatura demonaca que qevorar, mas, sempre que pensvamos estar bem escondidas, ela torna

ncontrar.Um grito ecoou, e nos primeiros instantes pensei que fizesse parteesadelo. Mas ento tornei a escutar o grito assustado, agoniado. Abri ontendi que aquele som era real. Estava entrando pela pequena janela situadlto da parede do nosso quarto.

O que isso? indagou irm Winifred com uma voz pastosa, sena cama.

No sei respondi, com a voz igualmente rouca.


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Um porco respondeu irm Christina. Sua voz estava limpa, comostivesse acordada h bastante tempo. Em vez de se sentar, ela permanecee costas em seu catre encostado na parede oposta. Na penumbra cinzentonseguia distinguir seu perfil. A noite estava comeando a clarear e dali a ma hora seria dia.

Porco? estranhei. Esto matando um porco para meu pai comer hoje.Ouviu-se mais um grito, depois nada. Fiquei ali deitada, imvel, sem

sperando o grito se repetir, mas isso no aconteceu. Deviam ter cortado ao animal.


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E

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ra o meio da tarde e eu estava sentada na sala capitular, entre irmo E

irm Winifred, com avihuela no colo, aguardando a chegada de Lorde eChester. Por motivos que eu no me atrevia a indagar quais eram, o banquiem estava marcado para comear horas depois de nossa hora doabitual, s 11 da manh. Talvez fosse para atender a um pedido deizinhos. Ou talvez para que houvesse tempo suficiente para o preparo d

Durante a manh inteira, o cheiro de carnes assando percorreu os corredorte que no se podia fugir deles. Havia carne de porco, claro o leito saquela manh girava em um espeto sobre o fogo da cozinha, com o terrorinda impresso nos olhos. Mas o cardpio no parava por a: havia carne arne de boi assada, cotovias, coelho e capo. Tudo isso era desconhecidossos sentidos. Quando passei por irm Rachel no corredor sul, quelaustro, ela pressionava um pano contra o nariz e seus olhos ardiam

Afastou o pano por tempo suficiente para cuspir a palavra degradaoornou a pression-lo por cima do nariz e da boca.

Agora ela estava sentada no mesmo recinto que as outras freiras, e maciado era uma mscara de ressentimento. Nos bancos de pedra que ms das quatro paredes, todos os lugares estavam ocupados. Em vez de

mesa principal, irm Christina aguardava em p entre os bancos. Ningumsso havia sido um pedido seu ou se se devia condio modesta de nostava com as mos unidas e apertadas no colo, postura que reconheci: s

ue ela havia se recolhido para dentro de si mesma e estava rezando.Sentada em um banquinho estreito junto com os dois msicos, e

eparada dos outros. Um ar frio entrava pelas a frestas das janelas diviolunas verticais atrs da minha cabea. Tnhamos sido posicionados aoomprida mesa principal, um pouco afastados. Eu estava mais perto da medmund no meio e irm Winifred do outro lado.

Apenas a prioresa Joan e irmo Richard tinham se sentado mesa pstavam separados um do outro por duas cadeiras vazias. Irmo Philip n


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resente. Na primeira missa do Dia de Finados, ele tinha dito algumrrebatadas sobre o purgatrio. Depois, porm, afirmou estar indispostanquete. Foi o nico que se atreveu a faz-lo.

Lorde Chester no chegou na hora marcada. Os minutos se arrastavamO porteiro Gregory entrou correndo, fez uma reverncia e sussurro

oisa no ouvido da prioresa. O que quer que tenha sido, aquilo a desagralanou a cabea e sussurrou algo em resposta. O porteiro se retirou rmo Richard olhou de relance para irmo Edmund e ento, com um eorriso no rosto, ergueu o clice de vinho para outro grande gole.

Embora o banquete houvesse sido organizado especialmente paraossvel que Lorde Chester no viesse. Alguns nobres eram muito capricholes, arruinar os planos daqueles que consideravam insignificantes no

odos os preparativos, toda a despesa? Nada daquilo tinha importncia.motivo que me fazia esperar ver surgir Lorde e Lady Chester no tinha relom a prioresa, nem com as freiras, mas sim com sua filha. Ela era a nicaestava ao casal. Mesmo em pocas de medo, cobia e excessos, os amiliares tinham o seu poder.

Ningum disse nada. Ficamos todos aguardando, cada qual absortoensamentos pesarosos. Detestei estar ali sentada, esperando para tocar

orde mimado, enquanto as crianas da famlia Westerly continuavam desapambm estava perdendo um tempo precioso que poderia ter sido emprusca pela coroa de Athelstane. A sade do meu pai teria p iorado muito du fora embora da torre? O tormento causado por essa pergunta fez eu mo banquinho.

Minha posio me proporcionava uma viso bem prxima de nossa

la no tocou seu clice nem se serviu das travessas de rabanetes com salsua frente. Tinha o maxilar contrado e a expresso desconfiada. Haviaue esse banquete do rquiem seria til para o priorado e, portanto, fora opesar de todas as opinies contrrias. Eu admirava mulheres de temporte, e a verdade era que admirava a prioresa Joan Vane. De repente, ela elance na minha direo como se houvesse escutado meus pensamentoousar sobre mim seu costumeiro olhar frio e desconfiado. Minha estrioresa no era recproca.


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Cansada de sua reprovao, ergui os olhos para o teto da sala cxaminei os relevos de pedra que rodeavam a parte superior das quatrolunas. Eles lembravam flores-de-lis, smbolos da ordem dominicepresentavam a pureza e a dedicao daqueles que faziam votos. O rei Eevia ter contratado os melhores artesos do reino para criar aquelas floreslas brotavam por todo o priorado: acima do porto de entrada, nos n

muralha da frente, na borda que rodeava os corredores do claustro e alapitular. Por causa da altura das colunas e das sombras lanadas pela luzo era fcil distinguir os detalhes das flores. Na verdade, parecia haver algoisa acima das flores-de-lis: linhas compridas que se uniam em umemicerrei os olhos para tentar determinar a direo das linhas e fui atiamanha certeza que cheguei a me encolher no banquinho.

Por trs das flores-de-lis estava esculpido o contorno de uma corstavam entrelaadas.Por que Eduardo III haveria encomendado aquilo? O paradeiro da

m segredo muito bem guardado, e no entanto sua presena estava ali, decaredes. Aquilo devia ter algum propsito. Ser que as flores-de-lis sigroteo? A ordem dominicana, considerada a mais vigilante de todas, tinuficiente para manter a coroa a salvo de qualquer violao.

Porm, algo nessa lgica me atormentava. O que o bispo Gardiner tiE existe uma profecia. Uma profecia de grande recompensa, mas no rande risco. ao mesmo tempo uma bno e uma maldio.

Um leve farfalhar ecoou em meus ouvidos enquanto eu comeava aiferentes fios da histria e a tec-los.

A coroa era extremamente perigosa. Ela no necessitava de proteo.

essoas que precisavam ser protegidas dela.O tesouro enterrado no cho em Limoges inclua objetos de valorue poderia ser mais real do que uma coroa? Fora Ricardo Corao de Lavia encontrado pela primeira vez a coroa de Athelstane, escondida debaixt um campons a desenterrar. O rei dizia a verdade. O tesouro eramesmo inglnha ido parar na Frana por motivos desconhecidos. Quando estava em s

morte, o rei no apenas perdoou o arqueiro, mas tambm deve ter mandadocoroa novamente. Apesar disso, algum talvez tenha ficado sabendo e


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ontinuaram, pois, dois sculos mais tarde, um arrogante prnciperimognito de Eduardo III, foi procur-la e a encontrou. Ele havia deara a Inglaterra um navio carregado com um grande tesouro, era o que diz

O Prncipe Negro trouxe a coroa de volta Inglaterra. Assustado demais cooder da coroa de Athelstane para destru-la, seu pai, o rei Eduardo IIuard-la em um lugar sagrado. Mandou construir um priorado para sconderijo. Ainda assim, algum deve ter descoberto e passado o segredois um jovem Tudor tinha ido at l 36 anos antes, e, pela terceira vezavia matado um prncipe.

Quando descobrir onde est localizada a coroa de Athelstane, avise omente a mim, por escrito, insistira o bispo Gardiner. No deve toc-la,

mesmo por um instante. Entendeu?

Tocar. Era isso. Tocar a coroa significava desencadear a morte, uma mo podia ser impedida fossem quais fossem os remdios aplicados ou oshamados. E ela estava ali, em algum lugar dentro do priorado. Trancada ossos muros, ou quem sabe debaixo de nossos ps.

O bispo Gardiner tinha ficado sabendo sobre a coroa e estava tenpoderar dela. Mas para qu? Ser que a queria como arma, como uma nfraquecer nosso rei Henrique VIII com consequncias fatais? O bispouerer salvar os monastrios, mas tambm tinha dito, com forte arrebatam irvo casa dos Tudor . Eu me lembrei do apelido de Gardiner o bispo Ade sua fama de traidor. Eu tinha vislumbrado a escurido que havia dener que Gardiner planejava pr as mos na coroa e presente-la ao rei paraua situao enfraquecida, a fim de cair nas boas graas de Henrique Tudorue ele queria mesmo servir ao rei? Eram essas as perguntas que eu me faz

m homem de posse de uma coroa dessas poderia se curvar diante de ouoroada?Um cotovelo cutucou meu flanco e me sobressaltei no banquinho. E

dmund. Com o queixo,

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Nancy Bilyeau - Os Misterios Da Coroa