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CAPI'rULO VIII Saúde do Trabalhador na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas: Planejamento e Organização de Serviços e Pesquisas Luiz Augusto Facchini Docente da Universidade Federal de Pelotas Parte: A História Ocupacional e os Sentiços de Atenção à Saúde do Trabalhador Natureza do Trabalho Planejamento e Organização de Serviços. Equipe Luiz Augusto Facchini (coordenador), Elaine Tomasi, José Leonel Gonçalves Pinto, João Manoel de Souza. Financiamento Como o trabalho está apenas em delineamento, ainda não foi solicitado financiamento. Porém, po- de rá contar com recursos do SUDS/SUS disponíveis para implementação de novos programas de Saúde. Introdução .lou Justificativa Nos últimos anos observa-se no Brasil , e em muitos países da América Latina, um maior interesse pelo estudo dos problemas de saúde do trabalhdor. Uma parte importante deste interesse dirige-se à orga- nização e ao planejamento de serviços de saúde do trabalhador. Neste contexto, pretendemos esboçar algumas preocupações nossas, face às demandas vindas do se- tor Saúde, para iniciar ou Qualificar atividades de saú- de do trabalhador. Embora as experiências brasi leiras nesta área não sejam grandes, hoje já dispomos de vá- ri os programas que referenciam nossas preocupações, como por exemplo os da Secretaria de Saúde de São Paulo, do Sindicato dos Trabalhadores Químicos de São Paulo, do Centro de Saúde do Trabalhador de Paulínia, do Ambulatório de Saúde do Trabalhador da UFMG. A partir dos relatos feitos por profissionais que atuam nestes programas, temos nos questionado sobre o desenvolvimento eficaz dos programas de saúde do trabalhador. Neste questionamento, podemos mencio- nar o aspecto dos n(veis de atenção e complexidade com que o programa deve ser desenvolvido em cada realidade e a questão dos sistemas de informação ou registro em saúde do trabalhador. Em relação ao primeiro aspecto, identificamos pelo menos duas abordagens que precisam ser ampla- mente discutidas, como forma de melhor orientar as demandas recebidas dos sindicatos e dos próprios ser- viços de saúde. Uma abordagem priorizada à organi- zação de Centros de Saúde Especializados, para onde . seriam referidos todos os problemas de saúde em que se suspeitasse de uma relação com o trabalho_ Nestes casos, os serviços tenderiam a uma maior especializa- .ção, concentrando em um mesmo local a maior parte dos recursos terapêuticos' e diagnósticos necessários para o atendimento dos trabalhadores. Isto, no entan- to, poderia propiciar uma relativa descoordenação com os serviços da Rede Básica de Saúde. A outra abordagem privilegiaria justamente o atendimento dos trabalhadores nos serviços básicos, em que o Progra- ma de Saúde do Trabalhador seria mais um entre aqueles dirigidos à população. A ênfase da proposta centra-se na resolução dos problemas de saúde do trabalhador neste nível de atenção. Caso sua resolução não estivesse ao alcance do serviço, o trabalhador seria referido aos demais ní- veis de complexidade do sistema de Saúde, tal como ocorre com qualquer paciente. Neste caso, o atendi- mento dos pacientes referidos não correria, necessa- riamente, em serviços especializados em saúde do tra- balhador. Após a discussão de experiências identificadas com as abordagens resumidas anteriormente, vislum- bramos uma terceira via, talvez mais vinculada com a própria idéia de Sistema Único de Saúde. Esta po- deria ser caracterizada como unia articu lação das suas abordagens anteriores. Assim, ter (amos o atendimen- to do trabalhador em programas simplificados, mas eficazes, nos serviços básicos de Saúde e o seu encami- nhamento a um Centro de Saúde especializado ou a um Ambulatório Central, para a resolução de prOble- mas que requerem uma maior sofisticação diagnóstica e/ou terapêutica. Este é o esboço de uma proposta que submetemos à discussão dos profissionais desta área . Em relação ao sistema de informação, este deve- ria ser objetivo e estar articulado com as próprias ca- racterísticas dos n(veis de atendimento. importante salientar que um dos maiores problemas na utilização racional de um sistema de informação em Saúde pa- rece ser o registro das histórias cI ínicas. Os prontuários tradicionais, que captam a infor- mação de forma totalmente aberta e qualitativa, rara- mente são processados ou analisados. Neste caso, a informação é captada sem critérios definidos, e há o acúmulo de grande volume de papel que, ao ser manuseado durante certo tempo, impede qualquer análise mais apurada. Os programas especiais, que captam a informa- ção através de fichas padronizadas, pré-codificadas, com perguntas ou questões cujas respostas ou opções constam do próprio i nstrumento, parecem ser mais fáceis de utilizar e processar, seja em n(vel central ou local. Portanto, o mais desejável em uma proposta alternativa para um sistema de informação em Saúde, no geral ou .:ipecificamente, no que se refere à saúde do trabalhador, parece ser o desenho de fichas de história clínica. pré-cofidicadas, que captem variáveis 43

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CAPI'rULO VIII

Saúde do Trabalhador na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas:

Planejamento e Organização de Serviços e Pesquisas

Luiz Augusto Facchini

Docente da Universidade Federal de Pelotas

1~ Parte: A História Ocupacional e os Sentiços de Atenção à Saúde do Trabalhador

Natureza do Trabalho

Planejamento e Organização de Serviços.

Equipe

Luiz Augusto Facchini (coordenador), Elaine

Tomasi, José Leonel Gonçalves Pinto, João Manoel de Souza.

Financiamento

Como o trabalho está apenas em delineamento, ainda não foi solicitado financiamento. Porém, po­derá contar com recursos do SUDS/SUS disponíveis para implementação de novos programas de Saúde.

Introdução .lou Justificativa

Nos últimos anos observa-se no Brasil , e em muitos países da América Latina, um maior interesse pelo estudo dos problemas de saúde do trabalhdor. Uma parte importante deste interesse dirige-se à orga­nização e ao planejamento de serviços de saúde do trabalhador.

Neste contexto, pretendemos esboçar algumas preocupações nossas, face às demandas vindas do se­to r Saúde, para iniciar ou Qualificar atividades de saú­de do trabalhador. Embora as experiências brasi leiras nesta área não sejam grandes, hoje já dispomos de vá­rios programas que referenciam nossas preocupações, como por exemplo os da Secretaria de Saúde de São Paulo, do Sindicato dos Trabalhadores Químicos de São Paulo, do Centro de Saúde do Trabalhador de Paulínia, do Ambulatório de Saúde do Trabalhador da UFMG.

A partir dos relatos feitos por profissionais que atuam nestes programas, temos nos questionado sobre o desenvolvimento eficaz dos programas de saúde do trabalhador. Neste questionamento, podemos mencio­nar o aspecto dos n(veis de atenção e complexidade com que o programa deve ser desenvolvido em cada realidade e a questão dos sistemas de informação ou registro em saúde do trabalhador.

Em relação ao primeiro aspecto, identificamos pe lo menos duas abordagens que precisam ser ampla­mente discutidas, como forma de melhor orientar as

demandas recebidas dos sindicatos e dos próprios ser­viços de saúde. Uma abordagem priorizada à organi­zação de Centros de Saúde Especializados , para onde . seriam referidos todos os problemas de saúde em que se suspeitasse de uma relação com o trabalho_ Nestes casos, os serviços tenderiam a uma maior especializa­.ção, concentrando em um mesmo local a maior parte dos recursos terapêuticos ' e diagnósticos necessários para o atendimento dos trabalhadores. Isto, no entan­to, poderia propiciar uma relativa descoordenação com os serviços da Rede Básica de Saúde. A outra abordagem privilegiaria justamente o atendimento dos trabalhadores nos serviços básicos, em que o Progra­ma de Saúde do Trabalhador seria mais um entre aqueles dirigidos à população.

A ênfase da proposta centra-se na resolução dos problemas de saúde do trabalhador neste nível de atenção. Caso sua resolução não estivesse ao alcance do serviço, o trabalhador seria referido aos demais ní­veis de complexidade do sistema de Saúde, tal como ocorre com qualquer paciente. Neste caso, o atendi­mento dos pacientes referidos não correria, necessa­riamente, em serviços especializados em saúde do tra­balhador.

Após a discussão de experiências identificadas com as abordagens resumidas anteriormente, vislum­bramos uma terceira via, talvez mais vinculada com a própria idéia de Sistema Único de Saúde. Esta po­deria ser caracterizada como unia articu lação das suas abordagens anteriores. Assim, ter (amos o atendimen­to do trabalhador em programas simplificados, mas eficazes, nos serviços básicos de Saúde e o seu encami­nhamento a um Centro de Saúde especializado ou a um Ambulatório Central, para a resolução de prOble­mas que requerem uma maior sofisticação diagnóstica e/ou terapêutica. Este é o esboço de uma proposta que submetemos à discussão dos profissionais desta área .

Em relação ao sistema de informação, este deve­ria ser objetivo e estar articulado com as próprias ca­racterísticas dos n(veis de atendimento. ~ importante salientar que um dos maiores problemas na utilização racional de um sistema de informação em Saúde pa­rece ser o registro das histórias cI ínicas.

Os prontuários tradicionais, que captam a infor­mação de forma totalmente aberta e qualitativa, rara­mente são processados ou analisados. Neste caso, a informação é captada sem critérios definidos, e há o acúmulo de grande volume de papel que, ao ser manuseado durante certo tempo, impede qualquer análise mais apurada.

Os programas especiais, que captam a informa­ção através de fichas padronizadas, pré-codificadas, com perguntas ou questões cujas respostas ou opções constam do próprio instrumento, parecem ser mais fáceis de utilizar e processar, seja em n(vel central ou local.

Portanto, o mais desejável em uma proposta alternativa para um sistema de informação em Saúde, no geral ou .:ipecificamente, no que se refere à saúde do trabalhador, parece ser o desenho de fichas de história clínica. pré-cofidicadas, que captem variáveis

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definidas criteriosamente. Isto não só facilitaria o raciocínio clínico como também oermitiria o proces­samento periódico das informações_ Este instrumento viabilizaria a avaliação contl'nua do perfil da demanda dos serviços, inclusive em relação à saúde do traba­lhador.

Em relação à organização da História Clínica Ocupacional consideramos que a categoria " processo de traba lho" deve ser o elemento fundamental na defi nição das variáveis a serem coletadas e na elabora­ção do raciocínio clínico, seja no nível básico de aten-ção ou nos níveis mais complexos.

I sto porque o trabalho é uma necessidade natu-ral eterna, ou seja, um processo entre o homem e a natureza que está determinado pela forma concreta em que se dá a produção, a distribuição, o intercâm­bio e o consumo dos meios de vida pelos diferentes grupos humanos. Em função disso, considera-se que o processo central que inf lui na vida e na morte dos se­res humanos é o trabalho (3) .

Durante o trabalho, o operário não só efetua uma transformação no objeto como, ao transformá-lo, se t ransforma a si mesmo, mediante o modo e a manei­ra como realiza esta ação. Esta subordinação orgânica do trabalhador ao trabalho não ê um ato isolado, por­que além de significar uma exigência biológica impor­tante requer do trabalhador, durante o transcurso de toda a jornada, sua vontade orientada a um fim, o Qual se manifesta como exigência psíquica, como "atenção" (nas palavras de Marx) ou como stress (se­gundo a denominação mais corrente).

Portanto, ut ilizando-se esta categoria analítica na estruturação da História Clínica Ocupacional , esta torna-se um instrumento mais preciso no estabeleci­mento das relações complexas entre o trabalho e a saúde e nos permite ampliar o entendimento acerca das repercussões dos diferentes processos de trabalho na saúde dos traba lhadores.

Na metodologia apresentamos um esboço de História Clínica Ocupacional, prê~odif icada para pro­cessamento eletrônico, que leva em conta a base téc­nica , a organização e a divisão do trabalho.

Objetivo.

Contribuir para a formulação de alternativas capazes de orientar a organização de programas de Saúde do Trabalhador nos diferentes níveis de aten­ção do Sistema de Saúde.

Propor a util ização da categoria " processo de trabalho" como eixo central da estruturação da Histó­ria Clínica Ocupacional.

Metodologia

Como organizar o Programa da Saúda do Trabalhador

REDE BÁSICA: Propõe·se a inclusão na Histó· ria Clínica de aspectos do processo de trabalho, possi­bili tando ao médico geral condições mínimas para es-

tabelecer o nexo da queixa do paciente com seu traba­lho. Este atendimento poderá ser estendido para o ter· ceiro turno, de forma a facilitar o acesso a ele dos t ra­balhadores e da população em geral. Se não há resolu· ção do caso, encaminha-se o paciente para outro nível de atendimento, conforme a terceira alternativa esbo­çada na Introdução . Além disso, se o paciente apre­senta um problema de saúde considerado "caso índi­ce" , este deverá ser notificado à VIGILÂNCIA EPI· DEMIOLÓGICA ou SANITÁRIA.

Apresentamos, a seguir, uma idéia de História Ocupacional simplif icada, pré-codificada para proces­samento eletrônico da informação, e que seria utiliza­da neste nível de atenção.

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!

HISTÓRIA OCUPACIONAL SIMPLI FICADA

1. IDENTIFICAÇÃO :

N'? do Prontuário : Nome: Endereço : Bairro : Data de Nascimento : I I Sexo: 11) masculino 12) feminino Estado Civil : 11) casado/com companheira (2) solteiro/sem companheira / separado/viúvo Escolaridade : anos completos de estudo

2. HISTÓRIA OCUPACIONAL PREGRESSA Itrês ultimas)

Emprego 2 3

Per íodo

lanos)

Empresa Ramo de Atividade

Função

Tarefas

Tipo de D. Ocup . e Acid. + Import.

Riscos + Import. Ü

3. HISTÓRIA OCUPACIONAL ATUAL

Nome da empresa onde trabalha atualmente e ramo de ativ idade:

Quais as suas tarefas no trabalho? (registrar a função e o que faz no traba lho atua I)

Há Quanto tempo trabalha nesta empresa : e nesta função : meses Ocupações anteriores na empresa e tempo de trabalho nas mesmas: Ocupo 1 Ocupo 2

Tempo 1 Tempo 2

meses

meses meses

_ Pront.:

Nasc. : I Sexo :

Est . Civ.: Nível Escolar:

Per .1 1) :

Per. 111 Per. 12) Per . 13)

Ramo 1 Ramo 2 Ramo 3

Função 1

Função 2 Função 3

0.0.1 A.T.1 0 .0 .2 A.T.2 0 .0 .3 A.T3

Riscos 1 Riscos 2 Riscos 3

Empresa:

Ramo ativ .: Ocupo at iv.:

Antig. empr.: Antig. função: Ocupações : Anteriores : Ocupo 1 T1 Ocup . 2 T2

I

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SAÚDE E TRABALHO

Seu trabalho costuma provocar algum dos seguintes problemas: ( ) dor de cabeça ( ) varizes () inchaço cefaléia· varizes nas pernas ( ) irritação/nervosismo/ansiedade edema - nervos ( ) dificuldade para dormir ) dor nas costas insônia· costas ( ) dor/irritação nos olhos ) alterações de pele olhos· pele ( ) problemas digestivos ) problemas respiratórios digest . . respir. ( ) reumatismo/problemas articulares articulo ( ) d ificu Idade de ouvir ( ) outros: audição· outro

MOTIVO DESTA CONSULTA: HIPÓTESE DIAGNÓSTICA: NEXO COM O TRABALHO: CONDUTA TERAP~UTICA: EXAMES COMPLEMENTARES SOLICITADOS : REFER~NCIA (ENCAMINHAMENTO):

NIVEL SECUNDÁRIO/TERCIÁRIO

Nestes n{veis deverão concentrar-se os mais va­riados tipos de especialistas capazes de atender ou dar consultoria aos casos encaminhados pela Rede Básica, inclusive profissionais, com especialização em Medici­na do Trabalho, Saúde Ocupacional, Epidemiologia e Toxicologia. A resolução dos casos encaminhados de­verá ser buscada através de consulta com especialistas, exames laboratoriais/complementares e, se necessário, HOSPITALIZAÇÃO.

A parte laboratorial poderá ser feita em Labo· ratório de Saúde Pública que reúna infra~strutura

para tal, ou no Laboratório mais qualificado existente na região, seja hospitalar ou não.

O casos índices notificados deverão desencadear

o processo de FISCALIZAÇÃO DOS LOCAIS DE TRABALHO, que deverá contar com a participação dos sindicatos e do Ministério do Trabalho , através de suas Delegacias Regionais.

Propõe-se, a seguir, um modelo de História Ocupacional mais detalhada, para todos aqueles paci­

entes encaminhados da Rede Básica em função da não

resolução de seu problema ou da notificação à Vigi· lância Epidemiológica.

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HISTÓRIA OCUPACIONAL DETALHADA

1. IDENTIFICAÇÃO

N<? do Prontuário:

Data da Abertura do Prontuário: / Nome: Endereço : Bairro : Município:

Data de Nascimento: / / Sexo : 111 masculino 12) feminino

/

Estado Civil: 111 casado/com companheira (2) solteiro/sem companheira/separado/viúvo Escolaridade: anos completos de estudo

2. HISTÓRIA OCUPACIONAL PREGRESSA Itrês últimos)

Emprego

Período lanos)

Empresa Ramo de Atividade

Função Tarefas

Tipo de D. Ocup . e Acid. + Import.

Riscos + Import.

2

3. HISTÓRIA OCUPACIONAL ATUAL SITUAÇÃO OCUPACIONAL

Qual a sua atividade neste momento?

3

Trabalha: (1) com carteira assinada (2) sem carteira Aposentado: 13) tempo de serviço 14) problema de saúde 15) Encostado por problema de saúde 16) desempregado I ) Outros: Nome da empresa onde trabalha atualmente e ramo de atividade:

Pront. : Data Pront.:

/ /

Nasc.: Sexo:

Est. Civil: Escolar. :

Per. 1

Per. 2 Per. 3

Ramo 1 Ramo 2 Ramo 3

Função 1 Função 2 Função 3

/

0 .0.1 A.T .l D.0 .2 A.T.2 D.0 .3 A.T.3

Riscos 1 Riscos 2 R iscas 3

Cond. Ativ.:

Empresa:

/

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Quais as suas tarefas no trabalho? (Registrar a função e o que faz no t rabalho atual) .

Há quanto tempo trabalha nesta empresa: e nesta função: meses Ocupações anteriores na empresa e tempo de trabalho nas mesmas : Ocupo 1 Ocup. 2 Ocup.3

Tempo 1 Tempo 2 Tempo 3

Que máqu inas, ferramentas ou aparelhos você usa em seu trabalho?

ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO DO TRABALHO

Quantas horas trabalha por semana, normalmente? horas normais : (Bh/d x n9 d/sem) Qual é seu turno de trabalho :

horas~xtras : (nO h > Bh/d x n9 d/sem)

meses

meses meses meses

(1 ) d iurno (2) noturno (3) rotatório semanal ( ) outro

Quantos intervalos você tem por dia para descanso? Café, refeição etc ., durante a jornada de trabalho? Quanto tempo duram? n9 intervalos : duração : O que determina a sua produção?

min.:

(1) fiscal ização supervisor (2) ritmo da máquina (3) remuneração p/ produção prefixada (peça/caixa) ( ) outro :

Assinale os elementos a que o paciente está costumeiramente exposto em seu AMBIENTE DE TRABALHO : ( ) calor excessivo, ( ) frio excessivo , ( ) vibração ( ) vapor d'água/umidade, ( ) fumaça/gases tóxicos, ( ) iluminação insuficiente, ( )r iscos de quedas, ( ) ó leo , solventes , outras substâncias quím icas ( ) poeira /pós, ( ) ventilação insuficiente, ( ) ruído, ( ) objetos espalhados pelo chão

FORMAS DE EXECUÇÃO DO TRABALHO

o seu traba lho exige ou implica em : ( ) fi car mu ito tempo na mesma posição contato cl ( ) instrumentos cortantes /perfurantes ( ) solda ( ) esmeril, ( ) cimento, ( ) soda caústica ( ) trabalhar com grande velocidade ( ) esforço fís ico ( ) esforço visual , ( ) ficar molhado/ sujo ( ) falta de controle sobre tarefa executada ( ) impossibilidade de mudar a seqüência do trabalho ( ) repetir os mesmos movimentos durante toda jornada ( ) não poder se distrair ou desviar a atenção ( ) muita responsabilidade/preocupação todo o tempo

Ramo ativ .: Ocupo ativ.:

Ant ig. empr.: Antig. função : Ocupações Anteriores: Ocup. 1 T1 Ocup. 2 T2 Ocup . 3 T3 ·

Tecnol. 1 Tecnol. 2

Hora sem.: Hora~xtra :

Turno :

Pausas : Duração :

produtiv idade :

Ambiente: Calor · frio· vibro Umidade· fu mos lIum in .. quedas · Subst . qu í m . . Poeira · vent il. -Ruído - objetos ·

POS o viciosa . I nstr. corto . Sol. . esmo . ci mo . soda -Ritmo - peso · Visual · molhado -

Controle ' Seqüência Repet itividade . Atenção' Resoonsabilidade .

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MEDIDAS DE ATENÇÃO E ACESSÓRIOS PARA O TRABALHO

Que equipamentos de proteÇão individual você usa com muita freqüência em seu trabalhol ( ) luvas ( ) botas ( ) máscaras e filtros ( ) aventais/uniforme ( ) fones auriculares ( ) óculos e protetores contra solda ( ) touca ( ) outros

Que equipamentos de proteção coletiva estão instalados em seu local de trabalho? ( ) exaustores p/ventilação ( ) proteção nas máquinas ( ) outros

- CONDiÇÕES DE TRABALHO

Desde o ingresso no atual emprego as condições de trabalho : (1) melhoraram (2) não mudaram (3) pioraram Na firma onde trabalha existe CIPA: (1) sim (2) não Recebeu algum treinamento para a função que exerce: ( 1) sim (2) não _ Qual e andeI Fez algum curso sobre Higiene e Segurança do Trabalho: (1) sim (2) não. Onde I

Seu trabalho é (1) perigoso/arriscado (2) seguro (3) não sabe/indiferente ( ) outro Quantos acidentes ocorreram em seu trabalho no último mês?

(99) não sabe (77) são comuns, mas não sabe o número Se sofreu algum acidente no trabalho atual, o que aconteceu?

(1) corte (2) queimadura (3) fratura (4) contusão (5) irritação (6) perfuração (7) luxação/entorse ( ) outros Você faltou ao trabalho nos últimos 15 dias? N9 de dias ausentes: Mot ivo : (1) doença (2) acidente (3) probl. familiar (4) probls. administrativos ( ' Outros (B) Não se aplica

SAÚDE E TRABALHO

Seu trabalho costuma provocar algum dos seguintes problemas: ( ) dor de cabeça ( )varizes ( ) inchaço nas pernas ( ) irritação/nervosismo/ansiedade

) dificuldade para dormir ( ) dor nas costas ) dor/ irritação nos olhos ( ) alterações de pele ) problemas digestivos ( ) problemas respiratórios ) reumatismo/problemas articulares , dificuldade de ouvir ( ) outros

MOTIVO DESTA CONSULTA: HIPÓTESE DIAGNÓSTICA: NEXO COM O TRABALHO : CONDUTA TERAP~UTICA: EXAMES COMPLEMENTARES SOLICITADOS: PREFER~NCIA (ENCAMINHAMENTO):

Luva · bota - mas. -Avental - fone -Óculos - touca -Outros

Exaustor · Prot. máq. -Outros

Alter. cond . ­CIPA -

Treinamento -

Curso HST-

Cond. trab ..

Acid . empresa -

Lesão acid . .

o ias ausentes :

Motivo -

Cefaléia · varizes· Edema M I - nervos -Insônia· costas· Olhos - pele -Digest . . respir. -Articul. -Audição' outro ·

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T

2~ Pane: Impac1D do Trabalho da Mulh ... na Saúda Matarn ... lnf.ntil

Natureza do trabalho

Pesquisa.

Equipe

Luiz Augusto Facchini Icoordenadorl, Elaine T amasi, Cesar Victora, Fernando Barros, Jorge Um­berto Seria e mais seis bolsistas de Iniciação Científi. ca do CNPq .

Financiamento

FINEP e CNPq.

Introdut;io alou Justificativa

As condições de trabalho afetam a saúde da mu­lher, assim como. de qualquer trabalhador, não só du ­rante a jornada de trabalho mas também durante o resto do dia, nos fins de semana e nas fér ias. Os efei­tos do trabalho sobre a saúde extrapolam a fábrica ou a empresa e pode~ manifestar-se muitos anos após uma pessoa haver deixado seu trabalho.

A mulher é responsável por algumas atividades t ípicas da economia, são os chamados "trabalhos femi ­ninos", em que tende a concentrar-se a grande maio­ria das mulheres que realiza atividades assalariadas. Mas a participação das mulheres no mercado de tra­ba lho e as características de suas atividades têm varia­do tanto no tempo como em função da classe social a que pertencem.

Na atualidade, cerca de S 35 da PEA mundial é constituída pelas mulheres, sendo que no Brasil esta c ifra situa-se em torno de 32% e na América Latina em 25% 111 . De qualquer maneira , a tendência geral aponta para uma crescente participação da mulher na economia. Por exemplo, em 1980, cerca de 44 mi­lhões de pessoas faziam parte da PEA brasileira, cor­respondendo a 37% da população do Pais, sendo 27% da PEA composta por mulheres. Em 1986, a PEA bra · silei ra passou a ser constituída por cerca de 56 mi­lhões de pessoas 142% da popu lação do Pa is, e as mulheres aumentaram sua participação na PEA para 32% 111 .

Isto demonstra a importância crescente do tra­bal ho feminino, que nos grupos sociais mais pobres parece ser essencial como estratégia de sobrevivência familiar. No entanto, em 1982, entre as mulheres assalariadas, menos de 1 % delas recebia mais que 10 salários ml'nimos, enquanto que quase 50% ainda ganhava até um salário mínimo (1) . Considera-se que os dados anteriores permitem vislumbrar como a par­ticipação da mulher na força de trabalho torna-se mais decisiva para a reprodução social e biológica do

grupo famil iar, mesmo ganhando salários visivelmente minguados. Aqui cabe enfatizar que a participação da mulher no trabalho se define em função da classe so­cial a que pertence e de seu papel na faml1ia.

Caracteristicas do Trabalho Feminino

Como mencionamos, o trabalho feminino tem características particulares e é responsável por um dos traços marcantes da economia nacional. Mas , na ver­dade, estes trabalhos tipicamente femininos não são tão seguros como se poderia supor. Dentre as par­ticularidades da divisão social do trabalho, cabe sa­lientar que as atividades das mulheres, em geral, são pior remuneradas, menos importantes socialmente, com maior instabilidade no emprego, com maior ocupação parcial ou sazonal e muito estressantes. Além disso, também pode-se relacionar a dupla jor­nada de trabalho da mulher casada e/ou oom filhos, a "invisibilidade'· de muitas ocupações femininas no mercado formal de trabalho e a pior regulamentação e fiscalização das condições do trabalho feminino.

!: importante salientar que os pro~emas de saúde e segurança dos trabalhadores geralmente in­dependem de sexo e idade, mas estarão fortemente subordinados às relações técnicas e sociais de pro­dução. Os ambientes de trabalho, o ritmo de produ­ção, o trabalho noturno e as horas-extras desconsi­deram as características biopsíquicas de qualquer trabalhador, tornando o contingente cada vez maior de trabalhadores inválidos e dependentes da Previ­dência Social , fatigados e precocemente envelhe­cidos 121 .

No entanto, a inadequação do trabalho às con­dições biopsíquicas do trabalhador torna-se mais evi­dente na mulher, especialmente em períodos fisio­lógicos como a menstruação , a gravidez e a amamen­tação .

Em termos dos efeitos nocivos do trabalho so­bre a saúde da mulher, cabe registrar que um grande número de substâncias presentes nos locais de traba­lho podem afetar particularmente o sistema reprodu­tor da mulher e interferir na concepção, na gestação e no parto de crianças saudáveis. Uma grande varieda­de de substâncias químicas pode causar malformações congênitas, algumas das quais se transmitem às gera· ções seguintes, ou alterações fisiológicas em diversos órgãos 121 .

Além disso , cond ições penosas de trabalho, como transporte de cargas pesadas, esforços físicos in­tensos, prolongados e repetitivos , exposição a vibra­ções e trepidações podem aumentar a freqüência de partos prematuros entre as trabalhadoras e o retardo do crescimento intra-uterino de seus filhos (2.3L

Por outro lado, as particularidades do trabalho feminino e a chamada "natureza da mulher" - mãe e doméstica - determinam sua menor participação sin­dical e nas lutas por melhores condições de trabalho e pelo cont role dos riscos à saúde.

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Especificidade do Estudo

Em Pelotas, RS, onde o presente projeto está sendo executado, a indústria da alimentação caracteri ~

za o setor industr ial da cidade, e utiliza, de forma marcante, a força de trabalho feminina, principalmen­te em regime de ocupação sazonal, já que depende das safras de d iversos produtos tl'p icos da região (aspargo, morango, pêssego etc.).

Não obstante a importância da força de traba­lho feminina para este setor econômico da cidade, as mu lheres operárias compartem com suas tammas con­dições precárias da reprodução social e biológica nas vilas periféricas, além de não disporem, com facilida­de, de serviços especiais para o cuidado com os filhos - creches; escolas-dia etc. - enquanto trabalham.

A informação acerca das características do tra­balho fem inino é importante não só para avaliar os riscos e danos à saúde a que estão expostas as mulhe· res em seu trabalho e suas possíveis repercussões na prole, mas também para auxiliar na formulação de estratégias apropriadas e efetivas para a proteção e promoção da saúde e bem~star das mulheres nas vilas operárias, e para proporcionar dados de referência para a avaliação de programas que visem melhorar a saúde deste grupo da população.

Nível Alual do Conhecim .. to Científico e Relevância do Projeto para a Área em Ques1io

A importância do trabalho na conformação do perf il epidemiológico dos diferentes grupos sociais tem sido evidenciada em nosso continente em estu · dos bastante recentes (4, 5, 6 , 71.

Entretanto, no Brasil , como de resto na Améri· ca Lat ina, há uma grande escassez de dados sobre o tema proposto pelo Projeto, apesar de sua relevância para a avaliação de programas que visam controlar as difíceis condições do trabalho feminino e incrementar os atuais níveis de saúde de mulheres e crianças da reg ião.

A maior parte dos estudos relativos ao trabalho da mulher e seu impacto sobre a saúde procura evi· denciar danos à atividade reprodutora. Fora desse âmbito prat icamente não ex istem estudos que con­cluam pela maior sensibilidade' ou menor resistência da mulher aos agentes nocivos dos ambientes de tra­balho , exceto no que diz respeito ao transporte de cargas pesadas, ou grande esforço museu lar , a exposi­ção a vibrações (2) .

Por outro lado, na ,América Latina não encon­tramos estudos que verifiquem o impacto do trabalho materno sobre o crescimento de seus filhos.

No entanto, existem algumas evidências de que diferenças no perfil epidemiológico de mulhetes ope­rárias estão relacionadas com o tipo de trabalho que estas realizam (8.91.

Neste contexto, o estudo proposto proporciona um conjunto de dados sobre riscos ocupacionais a que está exposta a população feminina de uma vila perifé-

rica urbana, com atividades fabris predominantemen­te sazonais, e os danos à saúde que podem resultar dessa exposição. Dessa forma, contribui·se para o pre­enchimento de parte do vazio existente na literatura sobre a relação entre saúde e trabalho_

O estudo está proporcionando informações 50·

bre as caracter(st icas do trabalho feminino, o número e o percentual de mulheres expostas, os riscos ocupa­

cionais mais importantes, as formas mais comuns de geração destes riscos, os danos psicológicos mais im· portantes que derivam da exposição a tais riscos e o perfil epidemiológico das mulheres, com diferentes atividades, que residem na Vila Santos Dumont. Tam· bém está fornecendo informações sobre o impacto do trabalho materno assalariado, especialmente o de regi­me sazonal, no crescimento de crianças de O a 4 anos.

O presente estudo examina a relação entre " tra· balho feminino e saúde da mulher" e "trabalho ma· terno e crescimento infantil", embora não pretenda estabelecer relações de especificidade etiológica entre os processos citados. A informação coletada será ana· lisada mediante o controle do grupo social, condições materiais de vida, idade, antigüidade no trabalho pre-­dominante, escolaridade, renda, idade e número de fi­lhos em casa.

Objetivos

o principal objetivo do estudo é examinar os determinantes e o caráter da relação entre trabalho e saúde de mulheres de uma vila da periferia urbana de Pelotas, RS, 8rasil.

O estudo pretende responder às seguintes ques· tões: 1. Que características assume o trabalho feminino em

uma vila da periferia urbana e quais são suas princi­pais determinações?

2. Que influências mais marcantes tem o trabalho feminino em geral, e particularmente o trabalho feminino sazonal, na conformação do perfil epide­miológico das mulheres desta vila?

3. O trabalho feminino assalariado, especialmente o de regime sazonal , pode estar associado com um impacto na taxa de crescimento das cr ianças de O a 4 anos?

Metodologia e Principais Atividades Realizadas

As informações necessárias para o estudo dessa relação foram coletadas em duas etapas :

1) O Censo Ocupacional Feminino , que identí · ficou a população total das duas áreas e caracterizou as mulheres em termos demográficos, ocupacionais e de morbidade;

2) O Estudo Longitudinal , com três acompa­nhamentos, que procurou registrar variações tanto no estado nutricional e cuidado das crianças menores de 5 anos como no perfil de morbidade das mulheres.

Os dados da primeira etapa estão digitados, edi· tados e começam a ser analisados através do Programa

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(

SPSS/PC+. Os dados da segunda etapa serão codifica· dos, digitados e preparados para análise até o início de 1989.

Os instrumentos utilizados para a coleta dos dados foram questionários (num total de quatro) constituídos de perguntas fechadas (pré·codificadas) e abertas (para posterior tabulação e codificação). Na primeira etapa do estudo, o Censo Ocupacional, foi realizada a antropometria de todas as crianças meno· res de 5 anos, com a utilização de balanças tipo Salter e infantômetros (tipo caixote, para medir o compri· menta de crianças de até 2 anos) e· antropômetros (para verificar a estatura de crianças de 2 a 5 anos), procedimento que foi repetido nos acompanhamentos do Estudo Longitudinal.

Após a realização de um " piloto" com aproxi­madamente 10% das famílias, a coleta das informa­ções foi feita por uma equipe de oito entrevistadores previamente treinados, tanto nos aspectos da entrevis­ta como nos de antropometria.

Outra at ividade realizada com sucesso foi a re­construção detalhada do processo de trabalho da in· dústr ia da alimentação, através de entrevistas coletivas por grupos homogêneos de trabalhadoras, segundo técnicas do modelo operário italiano.

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2'! Parte: Estudo sobre Problemas de Saúde em Trabalhadores d. Pedreiras

Natureza do Trabalho

Pesquisa.

Equipe

Luiz Augusto Facchini (coordenador), Ana Maia Baptista Menezes, Elaine Tomas.

Financiamento

o protocolo de investigação está em fase de ela­boração e deverá ser submetido às agências financia­doras em 1989, para a obtenção dos recursos.

I ntrodução e/ou Justificativa

Dentre as diversas atividades produtivas existen­tes na sociedade, e das que mais sobressaem em ter­mos de sua relação direta com a saúde dos trabalha­dores, encontram-se aquelas que, além de outros ris­cos ocupacionais( produzem grandes quantidades de poei ras, seja em ambientes fechados, como a mine­ração de carv~o em subsolo, ou a céu aberto, como as pedreiras.

O estudo do processo de trabalho em pedreiras e seu impacto na saúde dos trabalhadores é precisa· mente o propósito deste Projeto.

Em termos particulares, pode'se afirmar que a investigação da doença ocupacional respiratór ia deve ser orientada em dois sentidos. Um deles d iz respeito ao t rabalhador (achados cl ínicos, funcionais, radioló· gic05 e anátomo-patológicos) e o outro se refere às condições de trabalho e ao ambiente em que este se desenvolve, com especial relevância para as partículas inaláveis, que são, de fato, as principais responsáveis pela ocorrência de doenças respiratórias específicas.

Os pulmões, bem como a pele, estão em cons· tante contato com o ambiente, ass im, não é surpreen. dente que tantas doenças pulmonares sejam causadas ou exacerbadas por poluentes ambientais. O ar que respiramos está cheio de part ículas orgânicas e inorgâ­nicas que têm o potencial de causar doenças. Embora os pulmões tenham capacidade de defesa, uma sobre­carga de poeira inorgânica ou citotóxica, ou ainda organismos, pode resultar em doenças tais como bron­quite, asma e inclusive fibrose pulmonar.

As doenças pulmonares resultam principalmen­te do tipo e do tempo de exposição às diferentes par­tículas em suspensão no ambiente. Além disso, a sen· sibilidade individual também tem papel importante no aparecimento das doenças pulmonares (2),

Na atualidade, nos países altamente industriali· zados, o prOblema das pneumopatias ocupacionais tornou-se uma prioridade, existindo legislações espe-

ciais que visam proteger os trabalhadores expostos a riscos ocupacionais. Essa proteção se baseia, principal­mente, no controle do ambiente de trabalho e na ava· liação periódica dos traQilhadores expostos a mate­

-riais nocivos. Ao mesmo tempo, a pesquisa desenvol· ve-se rapidamente nesta área, objetjyando, especial­mente, testar se os limites máx imos de tolerância às part(culas em suspensão, determinados pela legisla­ção, protegem, ou não, os trabalhadores. Naqueles países, como conseqüência da legislação rigorosa, dos programas de vigilância sanitária e da pesquisa, entre outros motivos, observa-se um declínio de algumas pneumopatias ocupacionais, como por exemplo a sili· cose (1.3) .

No Brasil , o rápida crescimento da indústria nos últimos 50 anos, desacompanhado de legislação traba­lhista adequada, implicou em um aumento importan­te da freqüência das doenças do trabalho em geral e, particularmente, das pneumopatias ocupacionais. Em

. nosso meio, a legislação, além de arcaica, costuma não ser respeitada, inexistindo um programa efetivo de vi­gilância sanitária para avaliar periodicamente os traba­lhadores sob risco. Os casos de doenças profissionais diagnosticadas raramente 510 comunicados e, em con­seqüência, não há um controle central dos pacientes. Por outro lado, a pesquisa sobre saúde do trabalhador é praticamente inexistente. Mais recentemente, obser· va·se alguns esforços governamentais e, inclusive, das universidades, no sentido de dar alguma resposta para esta problemática (3), Em relação às pneumopatias ocupacionais em trabalhadores de pedreiras há carên­cia de estudos sobre o assunto. Os estudos mais co­muns referem-se principalmente aos trabalhadores na mineração de carvão, onde já é possível traçar um cer­to perfil epidemiológico da exposição continuada às partículas de sílica em suspensão nos ambientes de trabalho,

Além disso, sobressai a importância dos proble­mas pulmonares em nosso meio, não só devido a fato· res climát icos, mas também em função de atividades prOdut ivas típicas da ~egião, como por exemplo pe· dreiras, engenhos de beneficiamento de arroz etc.

Assim , o estudo será importante como um ele­mento de subsfdio para a elaboração de polít icas pú. blicas na área de Saúde do Trabalhador, pois não dis­pomos de dados oficiais e nem de registros ... . fnicos elou epidemiológicos sobre o tema.

Portanto, há necessidade de gerar informações sobre esta problemática, tanto com o propósito de es­tabelecer uma relação de determinação entre doenças pulmonares selecionadas e atividades produtivas como com a finalidade de sugerir alterações nos ambientes ocupacionais capazes de modificarem a situação diag­nosticada.

Objetivos

Caracterizar o processo de trabalho em pedrei­ras, def inindo em suas diferentes etapas o objeto, a tecnologia e a atividade de trabalho , incluindo o am­biente de t rabalho.

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Estabelec&r os tipos de riscos ocupacionais a que os trabalhadores estão expostos, bem como os equipamentos de proteção utilizados.

Traçar um perfil epidemiológico destes traba­lhadores, caracterizando os principais problemas de saúde que apresentam.

Conhecer as principais doenças pulmonares pre­sentes nesta população.

Verificar a importância da silicose como pato· logia incapacitante entre estes trabalhadores.

Metodologia

Estudo transversal sobre a relação entre ativida­de ocupacional em pedreiras e problemas dt! saúde, com ênfase nas doenças pulmonares.

Defin ição dos indicadores a serem coletados. Definição da população/local do estudo : os tra­

balhadores Icerca de 80) da Pedreira Municipal de Pe­lotas, que executam atividades ligadas à produção.

Que Caracterizar?

o AMBIENTE DE TRABALHO Icomo se reali ­za a at ividade produtiva, tipo de local, aspectos mais chamativos do ambiente - p~eiras, rutdo etc.).

O PROCESSO DE TRABALHO lo objeto, a tecnologia utilizada e as atividades ocupacionais, nos diferentes departamentos e seções).

As CARGAS DE TRABALHO los riscos mais marcantes que ·se observam em decorrência do tipo de processo sob estudo, com ênfase especial para as poeiras) .

Os DANOS PSICOBIOLÓGICOS los prOblemas de saúde mais importantes que afetam estes trabalha­dores - acidentes, doenças, absentefsmo etc. - , com ênfase nas queixas respiratórias, especialmente bron· quite "crônica", asma brônquica e silicose).

Ativ idades Realizadas

Através de visitas a algumas pedreiras locais, chegou -se à reconstrução sucinta do processo de tra· balho.

Reconstrução Sucinta do Proc:esso de Trabalho

Caracterização Geral

N~ de trabalhadores n~ produção : cerca de 80. Dois turnos de trabalho de quatro horas cada um. Os trabalhadores são relativamente especializados e fixos em suas funções , não há muita rotatividade entre os setores de trabalho.

- Prat icamente todo o processo de trabalho é realiza­do ao ar livre, sendo que, além das cargas de traba­lho tfpicas de cada departamento, os trabalhadores estão !!Xpostos às inclemências do tempo, como

por exemplo vento, sol, chuva, frio e calor excessi­vos etc. Além disso, os trabalhadores dos departa­mentos Que produzem menor quantidade de partí­culas de sflica em suspensão também estio expos­tos a esta substância devido à contigüidade com os departamentos em que esta é produzida, como o setor de britagem, e ao vento. O uso de EPI IEquipamento de Proteção Indivi­duaI) é escasso. No caso dos trabalhadores manuais limita-se a luvas. O uso de capacete, protetor auri­cular e máscaras (filtros para sl'lica) não é generali­zado, ao contrário, é raro.

Descrição do Processo de Trabalho e dos R iscas por Departamento

a) EXTRAÇÃO DA PEDRA Há diferenças em função do uso .

- PEDRA PARA CORTE IPARALELEP(PE· DO, MOIRÃO, BLOCOS ORNAMENTAIS)

Localização do veio . Colocação de pólvora no sentido da linha de força. Separação dos blocos .

PEDRA IRREGULAR PARA CALÇAMEN­TO E USO NA CONSTRUÇÃO

Localização do veio . Perfuração do solo, tanto no sentido ver· tical como horizontal, através de perfura­triz. limpeza da área onde será feita a ex­tração . Colocação de explosivos (dinamite etc.) . Explosão.

RISCOS

Trabalho de localização : possibilidade de acidentes tipo queda , escorregão. Trabalho perigoso com explosivos , tensão pelo risco eminente. Esforço físico. Poei ra, principalmente após as explosões . Rut'do intenso e vibração (durante manejo da perfuratriz).

bl MARROAMENTO Quebra dos grandes blocos de pedra com marre­ta, para facilitar o transporte.

RISCOS Esforço físico .

- Acidentes.

c) TRANSPORTE PARA PROCESSAMENTO Coleta das pedras por trator tipo carregadeira . Transporte através de caminhões tipo caçamba. As pedras são levadas para os setores de brita­gem e de preparação de pedra irregular para cal­çamento .

RISCOS - Exposição a poeiras.

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d) BRITAGEM I: o setor mais importante da pedreira em ter­mos de atividade; é o produto com maior de­manda. A caçamba ioga as pedras em um coletor vibra­tório que possui um triturador; daí as pedras quebradas em diversos tamanhos são enviadas, através de esteira, para outro coletor, chamado de "pulmão", que, através de esteiras. transpor­ta as pedras para uma " peneira" confeccionada em ferro, que seleciona pedras segundo um de­terminado padrão ou "granulametria". As pe­dras maiores são enviadas a um outro tritura­dor, retornando depois à peneira. As pedras se­lecionadas são enviadas, ainda por esteiras, para um local no pátio, onde ficam gepositadas ao ar livre. Além da "brita" de diferentes tamanhos 10, 1, 2, 3 e 4), também se transporta para ar­mazenamento no pátio a "areia de brita", que antigamente era um subproduto da britagem, sem utilização, mas que hoje é um dos produtos mais procurados, principalmente pelas empresas que asfaltam estradas ou ruas.

RISCOS Maior concentração de pó; é praticamente insuportável permanecer ao ar livre junto deste setor. O conjunto mais importante de esteiras e trituradores é comandado automaticamen­te através de um painel elétrico, localizado em uma casinha com tioas condições am­bientais, especialmente por dificultar o contato dos trabalhadores com o PÓ, O primeiro procedimento de trituração é operado por um trabalhador em contato direto com o pó e sem dispor de nenhum tipo de EPI, Além disso, neste posto de tra­balho o ru{do é intenso e a vibração tam­bém; o operador fica em pé enquanto exe­cuta seu trabalho.

e) PREPARAÇÃO DE PEDRAS IRREGULARES As pedras maiores são depositadas em um monte no pátio, onde um trabalhador seleciona aque­las que apresentam uma superflcie lisa e tama­nho adequada para o calçamento. As pedras não selecionadas são quebradas, através de mar­reta, obedecendo ao critério anterior.

RISCOS Posição viciosa, esforço fl'sico , acidente de pequena monta, pó do ambiente (vindo dos demais departamentos, especialmente bri­tagem) ,

f) FABRICAÇÃO DE ARTEFATOS DE CIMENTO ITUBULAÇOES E MEIOS-FIOS)

Através de fôrmas de diferentes diâmetros e com armações de ferro são confecionados tubos para diferentes fins (bueiros, encanamento de água potável , esgoto etc.l. Também é um setor

com bastante demanda de produtos_ Os meios­·fios também são confecionados em fôrmas,

mas não estavam sendo feitos no dia da visita .

RISCOS Vibração, contato com o cimento. Esforço físico .

g) CORTE DE PEDRAS REGULARES Não visitamos o setor por falta de tempo, mas esta atividade realiza-se em outro locaJ, explo­rando outro veio , pois a exploração de pedras através de dinamite não se presta para esta fina­lidade _ O trabalho é realizado manualmente , através de instrumentos manuais tipo formão e furador etc.

h) OFICINA MECÂNICA Realiza a manutenção dos veiculas uti lizados no transporte de pedras, tais como caminhões e tratores tipo "carregadeira" . Os mecãnicos tam­bém real izam a manutenção das esteiras trans· portadoras e outras máquinas utilizadas no pro­cessamento da pedra.

RISCOS Acidentes durante a execução do trabalho com ferramentas manuais e contato com estruturas e partes mecânicas, posições vi · ciosas, exposição a substâncias qUl'micas etc.

i) FERRARIA Através de um processo rudimentar fabrica os instrumentos manuais utilizados no processo artesanal de corte das pedras. Foguista, ferreiro .

RISCOS Gases tóxicos liberados pela queima de caro vão mineral, fogo, ferro incandescente, mu­danças bruscas de temperatura.

Problemas de Saúde Potenciais Identificados na Visita

Respiratórios: bronquite, asma , silicose, tuber­culose . Posturais: lombalgias, alterações estruturais de co· luna . Reumat ismos, microtraumatismos e artroses (pela vibração), Acidentes: cortes, contusões, entorses, corpo estra­nho aos olhos. Dermatoses. Hipoacusia e surdez profissional. Problemas ps(quicos e relacionados com o stress. HAS e problemas cardiocirculatórios. Irritação visual , conjuntivites .

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