22
Saúde Coletiva cadernos NESC UFRJ

cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

  • Upload
    vuminh

  • View
    220

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

Saúde Coletivacadernos

N E S C • U F R J

Page 2: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

Catalogação na fonte – Biblioteca do CCS / UFRJ

C a d e r n o s S a ú d e C o l e t i v a / U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o R i o d e J a n e i r o ,

N ú c l e o d e E s t u d o s d e S a ú d e C o l e t i v a , v . X I V , n . 3 ( J u l . s e t 2 0 0 6 ) .

R i o d e J a n e i r o : U F R J / N E S C , 1 9 8 7 - .

T r i m e s t r a l

I S S N 1 4 1 4 - 4 6 2 X

1 . S a ú d e P ú b l i c a - P e r i ó d i c o s . I I . N ú c l e o d e E s t u d o s d e S a ú d e C o l e t i v a / U F R J .

Page 3: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 451 - 468, 2006 – 451

AS ARTICULAÇÕES SAÚDE E TRABALHO: RELATO DE EXPERIÊNCIA EM UM HOSPITAL

PÚBLICO, VITÓRIA, ESPÍRITO SANTO

Articulations between health and work: report of an experience in apublic hospital, Vitória, Brazil

Maria Elizabeth Barros de Barros1, Ludmilla Ferraz Dias Vieira2, MargarethPereira Bergamin3, Rodrigo dos Santos Scarabelli4

RESUMO

Este artigo consiste em uma descrição e uma reflexão teórica sobre experiência detrabalho realizado num hospital público federal, localizado em Vitória / ES. Oestudo parte do princípio que estão presentes nos serviços públicos de saúde processosprodutores de adoecimento e/ou de saúde nos seus trabalhadores e, assim, buscacontribuir para a efetivação de uma das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS)que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho.A compreensão sobre processos de produção de saúde e doença apresentada porCanguilhem e os princípios da Política Nacional de Humanização (PNH) do Ministérioda Saúde __ HumanizaSUS __ nortearam a condução do trabalho. O projeto deintervenção foi proposto pelo Departamento de Psicologia da Universidade Federal doEspírito Santo (UFES), sendo implantadas no hospital através de duas frentes detrabalho: Saúde e Trabalho no Pronto-Socorro e Cuidando do Cuidador. Destaca-se comometodologia a implementação de rodas de conversa com funcionários do Pronto-Socorro e a realização de atendimentos a trabalhadores do hospital, sob o viés daclínica ampliada. A abertura de espaços de fala constituiu importante estratégiaque viabilizou discussões sobre o cotidiano no hospital, trazendo para a análisecoletiva a organização do trabalho naquele estabelecimento. A perspectivametodológica e as ferramentas conceituais utilizadas, assim como a postura ético-política que as fundamentam, são estratégias fecundas para possíveis atuações no campoda saúde pública.

PALAVRAS-CHAVE

Humanização da assistência; saúde do trabalhador; promoção de saúde

ABSTRACT

This article reports an experience developed in a Federal Hospital, located in Vitória,Brazil, which assumes that in the public health system there exist some processes thatmay affect the worker´s health and illnesses. This experience, therefore, reinforces ofone of the Brazilian Unified Health System (Sistema Único de Saúde – SUS) statements,

1 Professora doutora do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Educaçãoda Universidade Federal do Espír i to Santo – UFES – e-mail: [email protected]

2 Psicóloga e Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Subjetividades e Políticas (NEPESP) / UFES.

3 Psicóloga e mestranda em Psicologia pela UFES.

4 Psicólogo e Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Subjetividades e Políticas (NEPESP) / UFES.

Page 4: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

452 – CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 451 - 468 , 2006

M A R I A E L I Z A B E T H B A R R O S D E B A R R O S , L U D M I L L A F E R R A Z D I A S V I E I R A ,M A R G A R E T H P E R E I R A B E R G A M I N , R O D R I G O D O S S A N T O S S C A R A B E L L I

which sustains the valorization of the workers and the promotion of health in theirworkplace. The comprehension of the processes of health and illness as presented byCanguilhem and the principles of the National Humanization Policies of the BrazilianMinistry of Health (PNH) guided this work. As proposed by the Department ofPsychology of the Federal University of Espírito Santo, an intervention project basedon two guidelines was put into practice at the hospital: “Health and Work in the E.R.wing” and “Taking care of the caregiver”. The methodology rests on the implementationof group conversations involving the employees of the emergency room (ER) andproviding health services for the hospital staff taking the principles of the “extendedclinic”. The strategy of using group conversations with the hospital staff fostereddiscussions about the daily routine, upbringing a group analysis of the working processesin the hospital. The methodology approach and the conceptual tools that were used,as well as their ethical-political perspectives foundations, are effective ways to suggestpossible interventions in the public health system.

KEY WORDS

Humanization of assistance; occupational health; health promotion

INTRODUÇÃO

Com vistas a contribuir somando esforços para a efetivação das diretrizes doSistema Único de Saúde (SUS), que consistem na universalidade, integralidade eeqüidade da atenção, um grupo de professores e alunos do Departamento dePsicologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) realizou um trabalhopautado nos pressupostos da Política Nacional de Humanização (PNH) doMinistério da Saúde – HumanizaSUS – em um hospital público da Grande Vitória.A PNH, como movimento e mudança dos modelos de atenção e gestão, parte dedois princípios: a) a indissociabilidade entre clínica e política e, conseqüentemente,entre atenção e gestão dos processos de trabalho nas diferentes unidades desaúde; e b) a transversalidade, que tem o sentido de aumentar “[...] o grau deabertura comunicacional intra e intergrupos” (Passos, 2006), ampliando a grupalidade e/ou as formas de conexão entre os grupos que constituem processos de trabalho.Assim, distanciamo-nos do viés queixa-conduta, que ainda desponta com proe-minência nas ações na área da saúde, e marcamos nosso compromisso com aafirmação e expansão da vida ao não focarmos, como raio de ação, a doença,mas sim promoção e produção de saúde.

A construção de tal proposta partiu dos possíveis riscos de produção deadoecimento nos trabalhadores do referido estabelecimento de saúde, tendo emvista: a precarização e verticalização das relações de trabalho; hierarquizaçõesrígidas; insuficientes condições materiais para oferecer atendimento digno aosusuários; baixos salários; ritmo extenuante e fragmentação do trabalho, dentreoutros aspectos. Pesquisas realizadas no estabelecimento em questão, dentre asquais destacamos a que foi desenvolvida pelo Centro de Saúde do Trabalhador -

Page 5: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 451 - 468, 2006 – 453

A S A R T I C U L A Ç Õ E S S A Ú D E E T R A B A L H O :R E L A T O D E E X P E R I Ê N C I A E M U M H O S P I T A L P Ú B L I C O , V I T Ó R I A , E S P Í R I T O S A N T O

Cerest/Vitória - (2002), constatou que os trabalhadores apresentavam: estresse;desgastes físico, emocional e psicológico; desistências; descrédito; pouca participação/responsabilização no/pelo processo de trabalho; sofrimento; sensação de impo-tência; pouca possibilidade de movimentação frente aos desafios colocados pelocotidiano, podendo produzir até mesmo paralisações. O número e freqüênciaconsiderável de pedidos de licença médica e afastamento do trabalho, por exemplo,trazem indicativos de uma situação de adversidade desses ambientes, bem comodelineiam algumas de suas manifestações.

Longe de pretender esgotar as sinalizações que apontam para a produção deadoecimento dos trabalhadores, suscitar tais exemplos, indiscutivelmente, desvelaum panorama preocupante quanto à conexão saúde/trabalho nesses locais,reclamando atenção. Assim, em consonância com as diretrizes do HumanizaSUS,as propostas desenvolvidas situam-se entre os esforços empreendidos para incitarpromoção e produção de saúde no hospital em questão.

Antes de apresentarmos as duas frentes de trabalho desenvolvidas, convém,ainda que sucintamente, situar as concepções conceituais e metodológicas deonde partimos para compreender os processos de produção de saúde/doença.Discutiremos, então, sobre os impasses e desafios à sua implantação e, também,sobre os desdobramentos e os efeitos que têm provocado.

FERRAMENTAS CONCEITUAIS-METODOLÓGICAS

A compreensão sobre processos de produção de saúde e doença apresentadapor Canguilhem (2000; 2001) e os princípios, métodos, diretrizes, dispositivos eferramentas1 da PNH (Brasil, 2004a) foram o solo onde se ancorou e sedimentoua condução deste trabalho. Vamos expor, a seguir, essa caixa de ferramentasconceitual-metodológicas que nos instrumentalizou no trabalho.

1 Na PNH o método é entendido como o que conduz um processo, seu modo de caminhar.A PNH caminha no sentido da inclusão, nos processos de produção de saúde, dosdiferentes agentes implicados nestes processos. Por diretrizes entende-se as orientaçõesgerais da PNH que se expressam no método da inclusão no sentido da Clínica Ampliada;da Co-gestão; da Valorização do Trabalho; da Saúde do Trabalhador; dentre outros.Por dispositivos entende-se a atualização das diretrizes da política em agenciamentoscoletivos concretos, que são postos a funcionar nas práticas de produção de saúde,envolvendo coletivos e visando promover mudanças nos modelos de atenção e de gestão,como por ex. os Grupos de Trabalho de Humanização (GTH). Por ferramentas entende-se os instrumentos com os quais determinado dispositivo é posto a funcionar. Na PNH,os seus diferentes dispositivos foram consolidados nas práticas concretas de saúde apartir de ferramentas que vêm sendo aprimoradas e ampliadas. Por exemplo, a diretrizda Clínica Ampliada, pode se consolidar através da ferramenta Prontuário Transdisciplinare para a diretriz da Co-gestão, o dispositivo pode se efetivar por meio das Rodas deConversas (Passos, 2006).

Page 6: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

454 – CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 451 - 468 , 2006

M A R I A E L I Z A B E T H B A R R O S D E B A R R O S , L U D M I L L A F E R R A Z D I A S V I E I R A ,M A R G A R E T H P E R E I R A B E R G A M I N , R O D R I G O D O S S A N T O S S C A R A B E L L I

Com relação às contribuições de G. Canguilhem (2000), utilizamo-nos do seuconceito de saúde que considera que tanto nos processos de saúde quanto nos deadoecimento há produção de normas para lidar com o meio. Sendo assim, ondese poderiam situar diferenciações entre tais processos? Trata-se da qualidade dasnormalizações em curso e o quanto podemos ou não ser normativos. A indicaçãode se estar mais ou menos saudável não pode ser formulada a priori, pois se configuracomo algo complexo, irredutível a um único aspecto (vinculado à situação a quese reage e aos instrumentos disponíveis no meio naquele momento) e depende dapossibilidade de criarem-se estratégias para lidar com determinadas situações. Amedida da gravidade da doença, segundo o autor, é dada pela redução maior oumenor dessas possibilidades de inovação e criação.

Portanto, se estar saudável associa-se a ter boa margem de tolerância àsinfidelidades do meio, um organismo sadio não procura conservar-se mantendo omais inalteradas possível as condições momentâneas a partir das quais construiuuma ordem de vida. Busca, sim, realizar-se, expandir sua natureza, não obstantehaja riscos envolvidos nesse ato de entrar em crises, cair doente ou ver-sesurpreendido pelas circunstâncias. Esses riscos são apenas momentos que podemser superados com a instauração de novas ordens. Afinal, saúde, segundo o autor,é um luxo biológico. É poder cair doente e recuperar-se. Abusar da saúde fazparte da própria saúde.

No que diz respeito à política do HumanizaSUS, nos apropriamos de sua pers-pectiva que associa promoção de saúde a processos de politização do cotidiano, de produçãode subjetividades protagonistas e autônomas que se engajam na invenção de modosde gerir a vida; de interferir no cotidiano de trabalho, da indissociabilidade entreatenção-gestão, portanto. Promover saúde relaciona-se com a possibilidade de ostrabalhadores de um dado estabelecimento poderem ser propositivos, de terem seussaberes sobre o “viver-seu-trabalho” contemplados nas (re)formulações e (re)orientaçõesdo trabalho de forma que seus anseios sejam contemplados nos fazeres cotidianos.

Essa forma de compreender processos de saúde/adoecimento também divergedas concepções hegemônicas sobre o tema por tentar levar em consideração quepromoção de saúde abarca toda uma rede de práticas sociais e saberes queextrapolam, e muito, o viés tradicional queixa-conduta. Relaciona-se com apromoção de autonomia, na co-responsabilidade de trabalhadores e usuários noprocesso de cura, de maneira ativa e não assujeitada, mudança de condições devida – logo, de trabalho. Essas proposições articulam-se à concepção de saúdeformulada por Canguilhem (2000) e auxiliam na compreensão de que (re)criarnormas e ordens sempre provisórias para lidar com um meio infiel, não significasubmeter-se a ele, mas, sim, colocar em funcionamento mecanismos provocadoresde mudanças em si e no mundo.

Page 7: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 451 - 468, 2006 – 455

A S A R T I C U L A Ç Õ E S S A Ú D E E T R A B A L H O :R E L A T O D E E X P E R I Ê N C I A E M U M H O S P I T A L P Ú B L I C O , V I T Ó R I A , E S P Í R I T O S A N T O

Em suma, haja vista a produção de práticas e de existências pautadas natentativa de controlar a vida e de estabelecer sobre ela uma relação deprevisibilidade a qualquer custo, os viventes humanos colocam em funciona-mento, cotidianamente, uma série de ações que podem produzir adoecimento,mas, também, portam um rico potencial de produção de saúde. Diferentementede uma visão hegemônica que se satisfaz em associar saúde à manutenção decertas condições biológicas e ambientais, reafirmamos nosso entendimento deque os processos de saúde estão vinculados à potência do vivo em divergir emrelação a si mesmo ou, em outras palavras, à sua capacidade de atender aodesafio de criar e recriar normas que lhe permitam melhor lidar com um meioinexoravelmente mutante. Considera-se, portanto, haver necessariamenteindissociabilidade entre produção de saúde e processos de politização do coti-diano, cujas diretrizes envolvem, grosso modo, vias satisfatórias de expressãoda potência normativa, a produção de autonomia e protagonismo pelos sujeitos,a co-gestão e co-responsabilidade entre todos os atores envolvidos com osacontecimentos do cotidiano (dimensão coletiva da saúde). Isso significa, pois,reconhecer a implicação das pessoas nos processos de gestão e transformaçãoda vida, do mundo, de maneira que potencializar tais ações implica promoçãoe produção de saúde.

Com essa postura ético-estético-política e munidos com as ferramentas teórico-conceituais-metodológicas ora destacadas, relatamos, a seguir, as experiências detrabalho aqui referidas.

DOS TRABALHOS

Buscando operar no concreto da experiência com essa caixa de ferramentas,foram propostas e implantadas no hospital duas frentes de trabalho: Saúde e Trabalho

no Pronto-Socorro, iniciada em março de 2005 e concluída em dezembro do mesmoano; e Cuidando do Cuidador, que passou a vigorar em meados de setembro de 2005e seu término previsto para agosto de 2006. Ambas as propostas de trabalho têmcomo público os trabalhadores do dito estabelecimento, situando-se na conexãoentre saúde, organização do trabalho, práticas engendradas nesse campo emodos de subjetivação2.

Na primeira foi priorizada a diretriz da PNH que consiste na valorização dotrabalho e saúde do trabalhador. Entende-se que, nos processos de trabalho, os

2 Modos de subjetivação referem-se, aqui, aos processos de constituição de modos existência,de territórios existenciais. Não falamos, portanto, de subjetividades intimistas, ligadas,estritamente, à esfera privada, a uma interioridade ou intimidade invariante. Afirmamossua produção histórica.

Page 8: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

456 – CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 451 - 468 , 2006

M A R I A E L I Z A B E T H B A R R O S D E B A R R O S , L U D M I L L A F E R R A Z D I A S V I E I R A ,M A R G A R E T H P E R E I R A B E R G A M I N , R O D R I G O D O S S A N T O S S C A R A B E L L I

trabalhadores “usam de si”,3 utilizam estratégias de acordo com o que lhes éexigido e, portanto, são gestores e produtores de saberes e novidades (Brasil,2004b). Na segunda, a diretriz priorizada foi a clínica ampliada, que diz respeitoa “[...] um compromisso radical com o sujeito visto de forma singular” (Brasil,2004c), o que significa assumir um compromisso ético com o usuário de forma anão reduzi-lo a uma queixa, a um sujeito doente, mas considerá-lo capaz decolocar em funcionamento mecanismos provocadores de mudanças em si eno mundo, num processo de co-engendramento. Apresentamos, a seguir, taisexperiências de atuação.

SAÚDE E TRABALHO NO PRONTO-SOCORRO (P.S.)

Primeiramente, essa proposta de atuação necessitava ser apresentada e entãovalidada com os funcionários com quem pretendíamos trabalhar. A solicitação paraa realização do trabalho ocorreu por meio da direção do hospital, que tambémapresentou sua preocupação com a gravidade da situação de saúde dos trabalha-dores, principalmente no Pronto-Socorro. Destarte, fazia-se imprescindível criarestratégias de apresentação de uma proposta inicial de atuação, de aproximação,criação de vínculos com os trabalhadores do P. S. e refinamento da construção dotrabalho a partir das falas, conversas, propostas, enfim, do contato com eles.

Todavia, as primeiras investidas para implantar o trabalho no Pronto-Socorro(P.S.) paralisaram-se, momentaneamente, ainda em uma fase inicial, pois, comoagregar os trabalhadores para apresentar, discutir, ouvi-los e validar qualqueratuação que se pretendesse nesse espaço? Ainda alheios aos jogos de força eformas de organização do trabalho naquele setor, nossa proposta e, principal-mente, nossas estratégias para alcançar o público-alvo necessitavam de reavaliação.Primeiro grande aprendizado a partir do registro da experiência: qualquer trabalhoque se pretenda realizar em estabelecimentos, onde os humanos vivem/habitam/trabalham, deve ser forjado, construído, levando em consideração os jogos deforça, poderes e resistências em curso; as práticas que se figuram; os ruídosinstitucionais; as redes afetivas estabelecidas entre os que ali trabalham, seusinteresses, anseios e desejos. Como captar tais malhas, seus jogos,entrecruzamentos e movimentos, suas conexões e implicação com a produçãode saúde e/ou adoecimento entre os trabalhadores do P.S.? Como nos aproxi-marmos desses trabalhadores construindo laços mais sólidos, tendo em vista

3 Essa expressão é utilizada por Yves Schwartz na discussão que faz no âmbito dostrabalhos em Ergologia. Sobre esse tema, consultar SCHWARTZ, Y. Disciplina epistêmica,disciplina ergológica: paidéia e politéia. Revista Pro-Posições. Faculdade de Educação,Unicamp, v. 1, n. 37, p. 75 - 98, jan./abr. 2002.

Page 9: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 451 - 468, 2006 – 457

A S A R T I C U L A Ç Õ E S S A Ú D E E T R A B A L H O :R E L A T O D E E X P E R I Ê N C I A E M U M H O S P I T A L P Ú B L I C O , V I T Ó R I A , E S P Í R I T O S A N T O

tratar-se de um Pronto-Socorro com ritmo de trabalho extenuante e pratica-mente ininterrupto? Assim, a etapa primeira e contínua consistiu na metodologiada Vivência Institucional, quando, então, mergulhamos no cotidiano do trabalhotecido no P.S.

Durante a vivência institucional, buscamos criar espaços de escuta e deconversa com os trabalhadores e, desse modo, entender as dificuldades que secolocavam naquele ambiente de trabalho e as normatizações com as quais operavamno curso de suas atividades. Isso porque compreendemos que a observação/vivência e a fala do grupo são, na maioria das vezes, pontos de partida de umacomplexa ação de pesquisa. Com esse objetivo, foi feita uma escala semanal depermanência no P.S. a fim de travar conversas, estabelecer vínculos, ouvi-los,falar sobre o ritmo de trabalho e do espaço físico que dificulta sobremaneira arealização das tarefas, dentre outros aspectos.

Uma outra estratégia de aproximação utilizada para disparar questõesreferentes à interface saúde/trabalho, foi um questionário sobre esse tema, queteve como base o SRQ 2044, da Organização Mundial da Saúde. A utilizaçãodessa ferramenta partiu tanto da compreensão de que são os trabalhadores quemmelhor pode falar sobre sua saúde e cotidiano de trabalho, como da idéia de quepoderíamos utilizá-lo como um mecanismo que daria visibilidade a essas questões,desnaturalizando processos adoecedores a que poderiam estar acostumados eanestesiados, não obstante os riscos para sua saúde. Ressalta-se, portanto, que autilização do questionário foi usada como estratégia de aproximação e como umdispositivo5 para colocar em análise questões referentes à interface saúde/trabalho,não tendo como objetivo fazer um levantamento epidemiológico pormenorizado.Os dados gerados foram sistematizados e apresentados aos trabalhadores em seusaspectos mais relevantes, o que provocou interrogações acerca da interface saúde/trabalho a partir no cotidiano do Pronto-Socorro.

Com essas ações, obtivemos êxito em nos aproximarmos do trabalho alidesenvolvido, envolver os trabalhadores nos debates, provocar movimentos quedesestabilizassem o que estava instituído, o que, na direção que adotamos, tem osentido de produzir saúde. Um importante resultado obtido com essas estratégiasfoi a assembléia marcada para apresentação e discussão dos dados colhidos a

4 Destacamos que o SRQ20 foi utilizado apenas como direção para a formulação dequestões que seriam importantes nesse processo de aproximação, uma vez que poderiadisparar entre os trabalhadores algumas reflexões sobre os processos de trabalho em cursono P.S.5 Dispositivo como aquilo que permite colocar alguma coisa em funcionamento, desvelandoas relações de poder existentes no que está estabelecido e considerado como indiscutível.

Page 10: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

458 – CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 451 - 468 , 2006

M A R I A E L I Z A B E T H B A R R O S D E B A R R O S , L U D M I L L A F E R R A Z D I A S V I E I R A ,M A R G A R E T H P E R E I R A B E R G A M I N , R O D R I G O D O S S A N T O S S C A R A B E L L I

partir do questionário e da vivência no P.S. Um número significativo de trabalha-dores participou desse encontro a despeito de, para boa parte deles, ocorrer forado horário de trabalho naquele estabelecimento. Várias discussões e encaminha-mentos ganharam cena com muita intensidade. O grupo considerou relevanteque espaços de trocas e discussão entre eles, mesmo com todos os empecilhospara efetivarem-se, fossem criados. Construiu-se, então, o dispositivo apresentadoa seguir: as Rodas de Conversa.

AS RODAS DE CONVERSA

A partir da vivência institucional, dos efeitos provocados com a utilização doquestionário, foi implantado um dispositivo que promoveu um espaço de discussão,mesmo que ínfimo, entre os trabalhadores do P.S. a respeito do seu cotidiano detrabalho e produção de saúde e doença. Foram, então, instituídas as Rodas de

Conversa (Campos, 2003), cujo objetivo era garantir a criação de um espaço ondealguns trabalhadores pudessem colocar seu cotidiano em discussão, coletivizarsuas experiências, traçar formas de organizar o trabalho que considerassem maisinteressantes, enfim, um momento para que trocas entre eles fossem viabilizadas,colocando o trabalho em análise.

Conforme Campos (2003, p. 30), a Roda “[...] é um espaço coletivo: um arranjo

onde existe oportunidade de discussão e de tomada de decisão [...]. A roda é um lugar onde circulam

afetos e vínculos são estabelecidos e rompidos durante todo o tempo”.

Destacamos, a seguir, as principais temáticas surgidas nos debates suscitadaspelo dispositivo Rodas de Conversa.

a) Fragmentação no trabalho: diversos eram os entraves e dificuldades para arealização do trabalho no P.S. em equipe, destacando-se: hierarquizações rígidas,distanciamento entre profissionais de diferentes áreas, vínculos empregatíciosdiversificados. Este ponto demandou muita discussão e seus efeitos no cotidianode trabalho apareceu como um ponto nevrálgico na fragmentação entre ascategorias profissionais. O fato de haver carga-horária de trabalho e remuneraçãodiferenciada a depender do vínculo, mesmo que o trabalho realizado fossemuito similar, produzia indignações, mas, na maioria das vezes, não acionavamovimentações para transformar essa situação. Em várias ocasiões o efeito dafragmentação do trabalho se reforçava e gerava culpabilizações, ressentimentos edesconfianças, situações que eram colocadas em análise no grupo.

b) Alianças e acordos entre trabalhadores: nas discussões, ficou evidente a criação devínculos e negociações cotidianas entre os trabalhadores para que a efetuação dotrabalho fosse possível, tivesse melhor qualidade e fosse mais interessante paratodos. Essa construção informal de “rotinas” e espaços para negociações quantoao trabalho revelou-se, no transcorrer dos encontros, como importante estratégia

Page 11: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 451 - 468, 2006 – 459

A S A R T I C U L A Ç Õ E S S A Ú D E E T R A B A L H O :R E L A T O D E E X P E R I Ê N C I A E M U M H O S P I T A L P Ú B L I C O , V I T Ó R I A , E S P Í R I T O S A N T O

para que pudessem lidar com a alta imprevisibilidade do trabalho no P.S., tornando-o até mesmo viável. Nessa direção de análise, surgiram as seguintes questões nosgrupos: tais movimentos de negociação e de redefinições pelos trabalhadores têmsido ouvidos, reconhecidos, ou tendem a ser apenas marcados como não legítimos?Esses movimentos têm estabelecido conexões com rotinas estabelecidas de modoa funcionarem conjuntamente e provocarem interferências e alterações nessasprescrições quando necessário? Como travar diálogos com as instâncias onde sãodefinidas e redefinidas essas normas prescritas e rotinas, de maneira que o cotidianode trabalho seja considerado como aspecto importante na definição das diretrizesa serem seguidas? Era preciso criar caminhos que viabilizassem as demandasformuladas nos grupos.

c) Posição quanto à hierarquização e verticalização do trabalho – ambigüidades: por umlado, os funcionários traziam relatos de experiências de sofrimento acionados poruma hierarquização rígida no P.S. e no restante do hospital. Expressavamhaver restrições na gestão do seu próprio trabalho, tendo que executar tarefas eprescrições advindas de outros locais/instâncias/chefias, pouco abertos a diálogos ereavaliações. Por outro lado, apostas na hierarquização como forma de funcio-namento, aliado à vigilância como ação que garantiria um bom ambiente detrabalho e maior eficácia na realização das tarefas, também eram expressas. Asnegociações e alianças cotidianas entre os trabalhadores não eram valorizadaspelas instâncias instituídas de poder e, assim, a fragmentação acentuada do trabalho(“cada um por si”), apostas na hierarquia, vigilância e controle passavam a ser asúnicas vias vislumbradas para que o trabalho acontecesse de forma co-responsável.Então, quais são os impasses e possibilidades de se apostar em um trabalho co-responsável e pautado na co-gestão, ou seja, trabalho com abertura para ser construídocom a participação ativa de todos no processo? Que outros encaminhamentos sãopossíveis para desvitalizar práticas do tipo “cada um por si”, sem que seja precisoapostar em estratégias coercitivas, apontadas pelos próprios funcionários comoprodutoras de adoecimento? Investir nas alianças e negociações entre os traba-lhadores, situação que ocorre no P.S., não poderia ter esse efeito de reduzirpráticas individualizadas?

d) Verticalização e isolamento do P.S.: Uma outra situação bastante discutida foi odistanciamento entre P.S. e outros setores do hospital, situação visibilizadatanto pela verticalização exacerbada dos processos decisórios no P.S., quantopela organização do trabalho marcada por uma gestão que se expressava nodesconhecimento de informações básicas sobre acontecimentos e decisões queafetam o cotidiano de trabalho. Desse modo, os modos de comunicação no setorforam considerados insuficientes, os espaços para coletivização das informaçõesmuito reduzidos ou utilizados de forma inadequada – às vezes limitando-se ao

Page 12: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

460 – CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 451 - 468 , 2006

M A R I A E L I Z A B E T H B A R R O S D E B A R R O S , L U D M I L L A F E R R A Z D I A S V I E I R A ,M A R G A R E T H P E R E I R A B E R G A M I N , R O D R I G O D O S S A N T O S S C A R A B E L L I

repasse de decisões tomadas em outras esferas –, resultando em redução docompromisso dos trabalhadores com o que ocorre naquele espaço. Constituíram-se,então, como focos importantes de análise, as seguintes questões que poderiam darcontinuidade ao processo em curso: que mecanismos estão em andamento noP.S. que dificultam e emperram a circulação de informações e sua participaçãodos trabalhadores nos processos decisórios?; que estratégias construir para imprimiroutro movimento no P.S., de maneira a incluir efetivamente os diferentes sujeitos(administradores, trabalhadores e usuários) nos processos de trabalho, contribuindono sentido da afirmação de autonomia, protagonismo e co-responsabilidade?.A constituição de um colegiado gestor no P.S. foi uma opção encontrada.

CUIDANDO DO CUIDADOR

Essa outra vertente do trabalho encontra seu fundamento ético-político,principalmente, no conceito da clínica ampliada, como diretriz da PNH(Brasil, 2004a) e estava voltada para todos os trabalhadores do hospital quedemandavam atendimento no setor de saúde ocupacional.

A clínica ampliada/transdisciplinar tem como proposta construir uma práticaprofissional no entre-saberes, situando nesse bojo o conhecimento que as pessoaspossuem e produzem sobre si, implicando-as em todo o processo de trabalho.Pretendeu-se, ao utilizarmos essa ferramenta conceitual-metodológica, investir nacapacidade humana de invenção de saídas diante de situações impostas no cursodo viver, de maneira que o foco de ação não seja, apenas, combater doenças,mas, principalmente, incitar transformações nos processos de subjetivação queviabilizem ao sujeito inventar(-se) no mesmo movimento em que inventa mundos.

Essa concepção de clínica que adotamos no projeto Cuidando do Cuidador

reequaciona a relação entre trabalhadores e especialisatas e redireciona a relaçãodo cuidado em saúde, uma vez que rompe com a idéia de sujeito humano comoidentidade/unidade, muito freqüente no âmbito das práticas da Psicologia. Nãose trata, nessa formulação que adotamos, de uma articulação entre os termos“trabalhador do hospital” e “psicólogo”, mantendo-os como unidades queconservam suas identidades. Não os consideramos como termos que vêm antesda relação que estabelecem entre si. Estamos nos referindo a um modo de trabalharem que se privilegiam os planos de onde os sujeitos emergem, de maneira que arelação que constituem seja priorizada para análise dos processos de produçãoque se dão a partir dela. Trata-se de partir de um plano onde a realidade seconstitui e constrói-se, desfazendo-se, assim, qualquer ponto fixo que dê sustentaçãoà experiência. Acompanhando as formulações de Benevides e Passos (2000, p. 76),diríamos que é assim que a clínica se apresenta para nós no projeto Cuidando do

Cuidador, visto que estamos interessados nos modos de subjetivação em curso no

Page 13: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 451 - 468, 2006 – 461

A S A R T I C U L A Ç Õ E S S A Ú D E E T R A B A L H O :R E L A T O D E E X P E R I Ê N C I A E M U M H O S P I T A L P Ú B L I C O , V I T Ó R I A , E S P Í R I T O S A N T O

cotidiano do trabalho no hospital, e, nessa direção, o que importa é traçar ascircunstâncias em que esses modos se compõem.

Quando falamos de uma clínica transdisciplinar, estamos, portanto, referindo-nos à criação de intercessores6 que produzam interferências e movimentos,desencadeiem contágios que desestabilizam. A concepção de clínica que fundamentaesse trabalho objetiva construí-los.

A clínica transdisciplinar se formaria como um sistema aberto onde o analista não apenas

criaria intercessores7, elementos de passagem de um território a outro, mas onde ele próprio

seria um intercessor. Produzindo agenciamentos, misturando vozes, as enunciações, agora

sem sujeito, nasceriam da polifonia dos regimes de signos que se atravessam. Ao produzir

interferências, ressonâncias, amplificações, mantemos o sistema em aberto para o tempo

(Benevides & Passos, 2000, p. 77).

Foi essa a direção que buscamos dar ao projeto Cuidando do Cuidador, que visaa intervir, produzir intercessão nos modos de subjetivação que estejam produzindoadoecimento e sofrimento nos trabalhadores do hospital. Dessa forma, os atendi-mentos foram realizados com base em uma escuta diferenciada, já que marcadapelo princípio da indissociabilidade entre clínica e política.

DE COMO FOI CONDUZIDO O PROJETO OU DO MÉTODO UTILIZADO

Entendendo o método como condução de um processo, diríamos que omodo de caminhar do projeto Cuidando do Cuidador incluiu algumas etapas queforam construídas de forma a operar no concreto os princípios que definimosneste texto. Assim como o projeto Saúde e Trabalho no Pronto-Socorro, o métododa vivência institucional foi utilizado como ponto de partida e, então, comopermanente estratégia no transcorrer do trabalho.

Elaborou-se um folder com a finalidade de divulgar o trabalho e convocar ostrabalhadores para uma discussão ampliada sobre o projeto no hospital. Foramrealizadas algumas reuniões, com médicos e auxiliares de enfermagem que trabalhamno Programa de Saúde Ocupacional (PSO) e com o Grupo de Trabalho deHumanização (GTH) do Hospital. Essas reuniões foram importantes espaços paraconstrução de alianças com funcionários e chefias, viabilizando o trabalho, tendoem vista que a participação dos trabalhadores só se efetivaria com a autorizaçãodas chefias para sua liberação.

6 A intercessão difere radicalmente de interseção, que significa a relação de conjugação dedois domínios na constituição de um terceiro, (Benevides & Passos, 2000).7 O conceito de intercessor é apresentado por Deleuze no seu texto “Os intercessores”. In:DELEUZE, G. Conversações. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.

Page 14: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

462 – CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 451 - 468 , 2006

M A R I A E L I Z A B E T H B A R R O S D E B A R R O S , L U D M I L L A F E R R A Z D I A S V I E I R A ,M A R G A R E T H P E R E I R A B E R G A M I N , R O D R I G O D O S S A N T O S S C A R A B E L L I

Construímos uma escala de atendimentos, realizados nas dependências doPSO, que pudesse cobrir os diferentes turnos dos plantões do hospital. Cabedestacar que, pautados nos princípios definidos pelo projeto, esses atendimentosse constituíram como dispositivos que pudessem colocar em análise os processosde trabalho em curso no hospital. Partindo da perspectiva da clínica transdisciplinar,as histórias trazidas pelos trabalhadores eram colocadas em análise conectadasaos diferentes vetores de existencialização que se apresentam nas situações relatadaspelos trabalhadores do hospital. Buscamos produzir, muitas vezes,

“[...] desconexões das/nas histórias para deixar passar outros devires. A intercessão, aqui,

se dá por atravessamentos desestabilizadores, produzindo sistemas separados, tornando-se

difícil falar em homeostase ou tendência ao equilíbrio, mas produzir diferenças que se

introduzem em dimensões da subjetivação, complexificando a situação através da pressão

promovida pelos movimentos de desterritorialização” (Benevides & Passos, 2000, p. 77).

Esse lugar de analista-intercessor persegue a entrada no movimento deinterferência das diversas linhas que vêm de diferentes domínios que estejam em“processo de movimentação/transformação”. Recusamos qualquer proposta deproduzir trabalhadores disciplinados em prol de processos de criação de outros/novos modos de ser trabalhador da saúde. Conforme nos indica a PNH, caminhamosno sentido de incluir os diferentes sujeitos em produção de autonomia,protagonismo e co-responsabilidade e incluir “[...] analisadores sociais, fenômenos que

desestabilizam os modelos tradicionais de atenção e de gestão, acolhendo e potencializando os

processos de mudança” (Passos, 2006).O projeto Cuidando do Cuidador, dessa forma, coloca em análise os funciona-

mentos do hospital e seus efeitos, voltando-se para os maquinismos que insistemna produção de outros modos de existência.

O QUE PODE O PROJETO CUIDANDO DO CUIDADOR?

Com essa pergunta propomos, partindo da provocação que nos faz Spinoza(1965), que a cada questão formulada no curso do projeto, novas bifurcaçõespudessem surgir exigindo que a realidade se atualize sempre em outras novasquestões. Não em novas respostas que, de pronto, já existam. Formular essasquestões não significa, para nós, buscar a resposta certa ou adequada na conduçãodas nossas ações no hospital.

Se partirmos da frágil constatação de que existe a resposta em algum lugar eencontrá-la é um exercício que depende de um esforço individual, não saímos docampo da recognição, do reconhecimento. Ao contrário, acreditamos queesse projeto pode muito mais do que simplesmente “representar” o que vive o

Page 15: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 451 - 468, 2006 – 463

A S A R T I C U L A Ç Õ E S S A Ú D E E T R A B A L H O :R E L A T O D E E X P E R I Ê N C I A E M U M H O S P I T A L P Ú B L I C O , V I T Ó R I A , E S P Í R I T O S A N T O

trabalhador de saúde do hospital em questão. Na direção apontada por Maturanae Varella

“O mundo não é algo que nos é dado, mas é alguma coisa em que temos parte graças ao

modo como nos movemos, tocamos, respiramos e comemos. Eis o que chamo de cognição

como enação, partindo das conotações semânticas do termo ‘enação’ que sugerem o fazer

emergir mediante a manipulação concreta” (Maturana & Varela, 1995, p. 18).

Pretendemos, antes de qualquer coisa, experimentar uma forma de trabalharna clínica que se desdobrou a partir desses processos de intercessão que produzimosno encontro com os trabalhadores do hospital. É nesse encontro que se fertilizao processo criador, de ruptura e reinvenção das normas e regulações. Isso éprodução da vida, estratégia viva contra as formas de adoecimento que muitasvezes permeiam as relações de trabalho. O corpo dos viventes humanos constróia si e ao mundo afirmando-se, evidenciando potência, mostrando o que pode. Oprojeto Cuidando do Cuidador não pretendeu negar as adversidades vividas nohospital, mas problematizá-las como parte da vida e convite às mais diversasproduções de saúde.

Dessa forma, o que pode esse projeto? Alguns movimentos acionados podemnos ajudar a analisar sua potência disruptora:

• maior mobilização dos trabalhadores, que têm procurado o serviço:durante os nove meses de realização do projeto, 60 trabalhadores procu-raram o PSO e 30 estão em atendimento semanal;

• os atendimentos têm propiciado uma análise do processo de trabalho emcurso no hospital e já produziu alguns efeitos importantes. Por exemplo,um movimento que inclui direção do hospital, sindicato dos trabalhadoresda UFES, GTH do hospital, assim como outros setores da universidaderesponsáveis pelo atendimento aos servidores dessa universidade. Essemovimento visa ao reaquecimento das ações do PSO na direção propostapelos princípios da PNH, ou seja, valorização do trabalhador e análise doprocesso do trabalho a fim de transformá-lo, para que se constitua,principalmente, como elemento de produção de saúde e não, apenas,de adoecimento;

• contratação de dois psicólogos e um psiquiatra para ampliar o quadro deprofissionais e, assim, fortalecer o movimento de transformação da situaçãode adoecimento vivida naquele hospital. O trabalho com os diferentes

Page 16: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

464 – CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 451 - 468 , 2006

M A R I A E L I Z A B E T H B A R R O S D E B A R R O S , L U D M I L L A F E R R A Z D I A S V I E I R A ,M A R G A R E T H P E R E I R A B E R G A M I N , R O D R I G O D O S S A N T O S S C A R A B E L L I

profissionais no PSO se efetivará a partir da constituição de uma equipetransdisciplinar de referência para os trabalhadores por meio de ferra-mentas que o grupo está construindo;

• construção de uma agenda para o atendimento dos trabalhadores emgrupo, o que abrirá um campo para o acolhimento de um maior númerode trabalhadores do hospital.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PROVISÓRIAS, MAS NÃO FINAIS...

O que se passa no âmbito da saúde pública no nosso país? Quais os desafioscolocados para aqueles que militam no âmbito da saúde pública a partir dosdesafios expressos pela reforma sanitária? Como construir estratégias metodológicasque nos façam conhecer mais de perto o que é vivido nos ambientes de trabalhohoje, nas unidades de saúde? Como avaliar quais as novas relações ou em quemodalidades enfrentam essas situações do cotidiano? Que relações indicamoutros possíveis?8

A atividade industriosa dos humanos nos seus diferentes ambientes de trabalhomostra que mesmo quando está pautada em modos de gestão verticalizados eautoritários, a resistência a essa situação não consiste apenas em reagir, mas emafirmar a potência de ação dos humanos no mundo. Foi nessa direção que buscamoso conhecimento do cotidiano dos/as trabalhadores/as do hospital em questão,que não desistem de lutar pela transformação das situações de trabalho quetentam constranger essa potência normativa dos viventes humanos.

Portanto, perseguimos a exploração da abertura dessa processualidade nohospital em meio às regulações e às regras instituídas, o que supõe a demarcaçãode uma orientação de trabalho que não se limitou a descrever a realidade,tampouco pretendeu fornecer um quadro exaustivo sobre as situações vividas.Buscou, sim, intervir, construindo intercessores que pudessem dar passagem aoutros modos de trabalhar; conhecer/vivenciar/experimentar as movimentaçõesque emergem no cotidiano praticado pelos trabalhadores daquele estabelecimentode saúde, afirmando esses movimentos como importantes formas de indagar edesmontar os modos de vida instituídos.

Ao pensar estratégias metodológicas que nos levassem a uma maior aproxi-mação com a atividade real dos trabalhadores do hospital, deparamo-nos com

8 É importante destacar que, quando usamos a expressão “possíveis”, não estamos nosreferindo a possibilidades, ou seja, a disponibilidade atual de um projeto por realizar, mascomo “[...] emergência dinâmica de novo” (Zourabichvili, 2000, p. 337). Não se tem opossível antes de tê-lo criado. Assim, o campo dos possíveis não se confunde com adelimitação do realizável num determinado momento.

Page 17: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 451 - 468, 2006 – 465

A S A R T I C U L A Ç Õ E S S A Ú D E E T R A B A L H O :R E L A T O D E E X P E R I Ê N C I A E M U M H O S P I T A L P Ú B L I C O , V I T Ó R I A , E S P Í R I T O S A N T O

inúmeras questões que se reportam às tramas da experiência cotidiana tecida nosdiferentes setores do hospital. O trabalho não é uma categoria a priori; ele é ummodo de produção/reprodução de alianças, parte de um processo de criaçãoque encontra soluções provisórias e ativas pertencentes à tessitura do real.

Como pensar as intempestivas estratégias que se inventam para recriar otrabalho e que resultam, muitas vezes, em desânimo e exaustão? Podemos falarde um sofrimento generalizado entre os trabalhadores sem levar em conta assingularidades dos processos vividos?

Foi a partir dessas questões que operamos em um hospital público da GrandeVitória. A valorização do trabalho no P.S. e a clínica ampliada no PSO do hospital foramnossas diretrizes de trabalho. A abertura de espaços de fala para seus trabalhadores– as rodas de conversa, o questionário, as assembléias, os atendimentos, as conversasinformais – foram importantes estratégias que viabilizaram a discussão do cotidianono hospital, trazendo para a análise coletiva a forma como o trabalho é organizadonaquele estabelecimento.

Em muitas ocasiões, a naturalização das condições precárias de trabalhopromove comodismo, um acostumar-se com a situação, apesar do sofrimento,desgaste, desânimo e distanciamento de um trabalho inventivo que pode seracionado. Manter ou construir algum dispositivo que garanta aos trabalhadorescolocar seu cotidiano de trabalho em foco, em análise, é uma via importante paraque esse processo de naturalização seja transformado. Além disso, nessas trocas,outras/novas ações podem se desdobrar e esforços se consolidarem de forma aprovocar transformações no trabalho. Essas ações, ao travarem diálogos com asrotinas e normas estabelecidas, podem complementá-las ou questioná-las.

Conforme os próprios trabalhadores, alianças, acordos e negociações entreeles precisam ser fortalecidos. Esses movimentos, muitas vezes, não têm visibilidadee são esvaziados por estratégias da gerência das unidades de saúde como formade enfraquecer a capacidade normativa dos trabalhadores. Por outro lado, comodesnaturalizar os processos de trabalho em curso nos serviços públicos de saúdehoje sem cair nos corporativismos de diferentes ordens? As lutas promovidas quebuscam fazer frente às transformações vividas nos mundos do trabalho precisamestar ancoradas em pressupostos éticos que primem pelo público, pelo coletivo,para além dos próprios trabalhadores. Foi esse o sentido de muitos encaminha-mentos, que buscaram manter e fortalecer movimentos que coloquem o trabalhocomo foco de análise.

Longe de procurar respostas para as questões que colocamos ao longo destetexto, é preciso que os trabalhadores experimentem, ensaiem formas de criarestratégias para a consolidação desses princípios éticos, que apostem em formasde trabalhar. Sem apostas e ações nesse sentido, os espaços de discussão podem estar

Page 18: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

466 – CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 451 - 468 , 2006

M A R I A E L I Z A B E T H B A R R O S D E B A R R O S , L U D M I L L A F E R R A Z D I A S V I E I R A ,M A R G A R E T H P E R E I R A B E R G A M I N , R O D R I G O D O S S A N T O S S C A R A B E L L I

fadados ao fracasso. É preciso que o trabalho seja gerido com todos os trabalhadores enão por eles ou para eles, pois, do contrário, ficarão sujeitos à execução de tarefasprescritas, repetitivas e, potencialmente, adoecedoras, pois os trabalhadoresnão terão seus saberes e anseios expressos e vinculados às regulamentações doseu trabalho.

Reafirmamos, assim, que construir ambientes laborais mais saudáveis implicaconstruir processos co-gestivos, de co-responsabilização, transparência etransversalização dos processos decisórios. Na trilha de M. Foucault (2004),diríamos que no hospital encontramos saberes que não são desinteressados, masaquele que sabe está implicado no que sabe, numa relação com o contexto históricoque produz o que é que se pode saber nesse contexto. Dessa forma, diante dossaberes constituídos no hospital importa um posicionamento crítico e, portanto,político, em que encontramos indícios de uma arquitetura e uma orquestraçãoconstruída com intencionalidade determinada. Essa forma de entender o binômiosaber-poder, ou saber-poder, no hospital é uma potente ferramenta para nossotrabalho de análise das relações que se materializam naquele estabelecimento,com as quais nos dissemos insatisfeitos já no início do texto. É preciso lançarmão dessa história que constitui essas relações de saber-poder no hospital paraentendermos o que produz e o que é ali produzido. Parece-nos que a formacomo se opera o saber no âmbito das práticas em saúde pode se constituir comopráticas de liberdade ou como domínio e, então, produção, prioritariamente, deadoecimento. Isso demanda vontade política e intervenção radical na organizaçãodo trabalho no hospital, uma mudança de cultura no campo da saúde pública,que é um compromisso da reforma sanitária brasileira. As conquistas nesse senti-do não se darão sem muita luta, diálogos e experimentações.

R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S

BENEVIDES, R. B.; PASSOS, E. A construção do plano da clínica e o conceito detransdisciplinaridade. Psicologia: Teoria e Pesquisa. v. 16, n. 1, p. 71 - 79, 2000.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Núcleo Técnico da Políticade Humanização. Política Nacional de Humanização: documento base para gestores e

trabalhadores do SUS. Brasília, 2004a.

_______. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Núcleo Técnico daPolítica de Humanização. Cartilha da PNH – Gestão e formação no processo de trabalho.

Brasília, 2004b.

_______. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Núcleo Técnico daPolítica de Humanização. Cartilha da PNH – Clínica Ampliada. Brasília, 2004c.

Page 19: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 451 - 468, 2006 – 467

A S A R T I C U L A Ç Õ E S S A Ú D E E T R A B A L H O :R E L A T O D E E X P E R I Ê N C I A E M U M H O S P I T A L P Ú B L I C O , V I T Ó R I A , E S P Í R I T O S A N T O

CAMPOS, G. W. S. Saúde Paidéia. São Paulo: Hucitec, 2003. 185p.

CANGUILHEM, G. O normal e o patológico. 5. ed. Rio de Janeiro: ForenseUniversitária, 2000.

_______. Meios e normas do homem no trabalho. Proposições. v. 12, n. 2 - 3,p. 109 - 121, 2001.

CEREST/Vitória. Revista HUCAM – Ciência e Saúde. Vitória, ano V, n. 9,p. 12 - 18, dez. 2002.

DELEUZE, G. Os Intercessores. In: DELEUZE, G. Conversações. Tradução de PeterPál Pelbart. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.

FOUCAULT, M. A ética do cuidado de si como prática de liberdade. In:FOUCAULT, M. Ética, sexualidade, política. Ditos e escritos. v. V, Rio de Janeiro:Forense Universitária, 2004, p. 264 - 287.

MATURANA, H.; VARELA, F. A árvore do conhecimento. Campinas: Editorial Psy, 1995.Tradução de Jonas Pereira dos Santos.

PASSOS, E. Proposta de apresentação dos níveis de composição da PNH. Brasília, 2006. Mimeo.

SCHWARTZ, Y. Disciplina epistêmica, disciplina ergológica: paidéia e politéia.Revista Pro-Posições. Faculdade de Educação, Unicamp, v. 1, n. 37, p. 75 - 98,jan./abr. 2002.

SPINOZA, B. Éthique. Paris: Flammarion, 1965.

ZOURABICHVILI, F. Deleuze e o possível (sobre o involuntarismo na política). In:ALLIEZ, É. (Org.). Giles Deleuze: uma vida filosófica. São Paulo: Editora 34, 2000.p. 333 - 356. Coordenação da tradução de Ana Lúcia de Oliveira.

Page 20: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

INSTRUÇÕES PARA OS COLABORADORES

Os Cadernos Saúde Coletiva publicam trabalhos inéditos consideradosrelevantes para a área de Saúde Coletiva.

SERÃO ACEITOS TRABALHOS PARA AS SEGUINTES SEÇÕES:Artigos (resultantes de pesquisa de natureza empírica, experimental ou conceitual,

ou ensaios teóricos e/ou de revisão bibliográfica crítica sobre um tema específico; máximode 25 páginas); Debate (a partir de apresentações orais em eventos científicos, transcritos esintetizados; máximo de 20 páginas); Notas (relatando resultados preliminares ou parciaisde pesquisas em andamento; máximo de 5 páginas); Opiniões (opiniões sobre temasligados à área da Saúde Coletiva, de responsabilidade dos autores, não necessariamenterefletindo a opinião dos editores; máximo 5 páginas); Cartas (curtas, com críticas a artigospublicados em números anteriores; máximo de 2 páginas); Resenhas (resenhas críticas delivros ligados à Saúde Coletiva; máximo de 5 páginas); Teses (resumo de trabalho finalde Mestrado, Doutorado ou Livre-Docência, defendidos nos últimos dois anos; com nomedo orientador, instituição, ano de conclusão, palavras-chave, título em inglês, abstract ekey words; máximo 2 páginas).

APRESENTAÇÃO DOS MANUSCRITOS:Serão aceitos trabalhos em português, espanhol, inglês ou francês. Os originais

devem ser submetidos em três vias em papel, juntamente com o respectivo disquete(formato .doc ou .rtf), com as páginas numeradas. Em uma folha de rosto deve constar:Título em português e em inglês, nome(s) do(s) autor(es) e respectiva qualificação(vinculação institucional e título mais recente), endereço completo do primeiro autor(com CEP, telefone e e-mail) e data do encaminhamento. O artigo deve conter título dotrabalho em português, título em inglês, resumo e abstract, com palavras-chave e keywords. As informações constantes na folha de rosto não devem aparecer no artigo.Sugere-se que o artigo seja dividido em sub-itens. Os artigos serão submetidos a nomínimo dois pareceristas, membros do Conselho Científico dos Cadernos ou eventual-mente ad hoc. O Conselho Editorial dos Cadernos Saúde Coletiva enviará carta respostainformando da aceitação ou não do trabalho.

A aprovação dos textos implica a cessão imediata e sem ônus dos direitos autorais depublicação nesta revista, a qual terá exclusividade de publicá-los em primeira mão. Oautor continuará a deter os direitos autorais para publicações posteriores.

Caso a pesquisa que der origem ao artigo encaminhado aos Cadernos tenha sidorealizada em seres humanos, será exigido que esta tenha obtido parecer favorável de umComitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, devendo o artigo conter a referência aeste consentimento, estando citado qual CEP o concedeu, e cabendo a responsabilidadepela veracidade desta informação exclusivamente ao autor do artigo.

• Formatação: Os trabalhos devem estar formatados em folha A4, espaço duplo,fonte Arial 12, com margens: esq. 3,0 cm, dir. 2,0 cm, sup. e inf. 2,5 cm. Apenas aprimeira página interna deverá conter o título do trabalho; o título deve vir em negrito eos subtítulos em versalete (PEQUENAS CAPITAIS) e numerados; palavras estrangeiras e o quese quiser destacar devem vir em itálico; notas explicativas, caso existam, deverão vir no péde página; as citações literais com menos de 3 linhas deverão vir entre aspas dentro docorpo do texto; as citações literais mais longas deverão vir em outro parágrafo, com recuode margem de 3 cm à esquerda e espaço simples. Todas as citações deverão vir seguidasdas respectivas referências.

Page 21: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

• Ilustrações: o número de quadros e/ou figuras (gráficos, mapas etc.) deverá sermínimo (máximo de 5 por artigo, salvo exceções, que deverão ser justificadas por escritoem anexo à folha de rosto). As figuras poderão ser apresentadas em nanquim ou produzi-das em impressão de alta qualidade, e devem ser enviadas em folhas separadas e emformato .tif. As legendas deverão vir em separado, obedecendo à numeração das ilustra-ções. Os gráficos devem ser acompanhados dos parâmetros quantitativos utilizados emsua elaboração, na forma de tabela. As equações deverão vir centralizadas e numeradasseqüencialmente, com os números entre parênteses, alinhados à direita.

• Resumo: todos os artigos submetidos em português ou espanhol deverão ter resu-mo na língua principal (Resumo ou Resumen, de 100 a 200 palavras) e sua tradução eminglês (Abstract); os artigos em francês deverão ter resumo na língua principal (Résumé) eem português e inglês. Deverão também trazer um mínimo de 3 e um máximo de 5palavras-chave, traduzidas em cada língua (key words, palabras clave, mots clés), dando-sepreferência aos Descritores para as Ciências da Saúde, DeCS (a serem obtidos napágina http://decs.bvs.br/).

• Referências: deverão seguir a Norma NBR 6023 AGO 2000 da ABNT. No corpodo texto, citar apenas o sobrenome do autor e o ano de publicação, seguido da páginano caso de citações (Sobrenome, ano: página). No caso de mais de dois autores, somenteo sobrenome do primeiro deverá aparecer, seguido da expressão latina ‘et al.’. Todas asreferências citadas no texto deverão constar nas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ao final doartigo, em ordem alfabética, alinhadas somente à esquerda, pulando-se uma linha deuma referência para outra, constando-se o nome de todos os autores. No caso de maisde uma obra do mesmo autor, este deve ser substituído nas referências seguintes àprimeira por um traço e ponto. Não devem ser abreviados títulos de periódicos, livros,locais, editoras e instituições.

Seguem exemplos de, respectivamente, artigo de revista científica impressa e veicula-do via internet, livro, tese, capítulo de livro e trabalho publicado em anais de congresso(em casos omissos ou dúvidas, referir-se ao documento original da Norma adotada):

ESCOSTEGUY, C. C.; MEDRONHO, R. A.; PORTELA, M. C. Avaliação da letalidade hospitalar doinfarto agudo de miocárdio do Estado do Rio de Janeiro através do uso do Sistema de Informa-ções Hospitalares/SUS. Cadernos Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v.7, n.1, p. 39-59, jan./jul. 1999.

PINHEIRO, R.; TRAVASSOS, C. Estudo da desigualdade na utilização de serviços de saúde poridosos em três regiões da cidade do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro,v.15, n.3, set. 1999. Disponível em: <http://www.scielosp.org/cgi-bin/wxis.exe/iah/>.Acesso em: 2 jan. 2005.

ROSEN, G. Uma história da Saúde Pública. Rio de Janeiro: Abrasco. 1994. 400p.

TURA, L. F. R. Os jovens e a prevenção da AIDS no Rio de Janeiro. 1997. 183p. Tese (Doutoradoem Medicina) - Faculdade de Medicina. UFRJ, Rio de Janeiro.

BASTOS, F. I. P.; CASTIEL, L. D. Epidemiologia e saúde mental no campo científico con-temporâneo: labirintos que se entrecruzam? In: AMARANTE, P. (Org.) Psiquiatria social e

reforma psiquiátrica. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1994. p. 97-112.

GARRAFA, V.; OSELKA, G.; DINIZ, D. Saúde Pública, bioética e equidade. In: CONGRESSO

BRASILEIRO DE SAÚDE COLETIVA, 5., 1997, Águas de Lindóia. Anais. Rio de Janeiro:Abrasco, 1997. p. 59-67.

Page 22: cadernos Saúde Coletiva - IESC / UFRJ · que é a valorização dos trabalhadores e a promoção de saúde nos locais de trabalho. A compreensão sobre processos de produção de

cadernosSaúde ColetivaN E S C • U F R J

A S S I N A T U R A

Anual individual: R$ 40,00Anual institucional: R$ 90,00Número avulso: R$ 20,00

Preencha este formulário de forma legível e envie-o anexando chequenominal ou comprovante de depósito em favor da Fundação UniversitáriaJosé Bonifácio (Banco do Brasil, ag.0287-9, c/c 7333-4, especificando naguia de depósito: depósito identificado - Apostila 9201-0), no valorcorrespondente, para a SECRETARIA DOS CADERNOS SAÚDE COLETIVA.

Este formulário também pode ser preenchido via internet na página:http://www.nesc.ufrj.br, ou enviado por e-mail para [email protected]

Individual Institucional Número avulso: v.___, n.____

Nome: _________________________________________________

Instituição: ______________________________________________

Profissão: _______________________________________________

Endereço: ______________________________________________

Bairro: __________________ CEP: _________________________

Cidade: _________________ UF: __________________________

Tel.: (0xx__)______________ Fax: __________________________

E-mail: _________________________________________________

Local e data: ____________________________________________

Assinatura: ______________________________________________