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600 Leis Penais Extravagantes Resumo Aula Complementar

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ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros

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Sumário

Sumário ........................................................................................................................... 1 

1.  Lei 12.850/2013 ...................................................................................................... 2 

1.1  Objeto ............................................................................................................... 2 

1.2  Conceito de Organização Criminosa ................................................................. 2 

1.2.1  Elementos conceituais ................................................................................. 2 

1.3  Aplicação da Lei ................................................................................................ 3 

1.4  Artigo 2º ............................................................................................................ 4 

1.5  Artigo 3º ............................................................................................................ 7 

1.6  Artigo 4º ............................................................................................................ 8 

1.7  Ação controlada .............................................................................................. 11 

1.8  Infiltração de agentes ..................................................................................... 12 

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1.  Lei 12.850/2013

1.1  Objeto

Aloca-se no texto preambular do diploma:

Define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de

obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal; altera o

Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei nº 9.034, de

3 de maio de 1995; e dá outras providências

1.2 

Conceito de Organização Criminosa

Até o advento desse diploma, questionava-se, e muito (como visto no julgamento do

‘mensalão’), o conceito de organização criminosa. Antes da edição da Chegou-se a utilizar-se

a definição trazida pela Convenção de Palermo (internalizada pelo Decreto 5.015/2004).

Todavia, a doutrina, recentemente, não mais a aceitava, porquanto se tratava de norma

internacional (tratado), e o mesmo não seria a espécie normativa própria para a criação de

conceitos penais no âmbito interno; tal função pertencia às leis em sentido formal.

Não havia muito tempo que os tribunais superiores (STJ e STF) adotavam o conceito

de organização criminosa delineado na Convenção de Palermo para os crimestransnacionais. Sem embargo, o Supremo Tribunal mais recentemente reviu seu

posicionamento, e em 2012 se editou a Lei 12.694, a qual trouxe a lume novo conceito para

a expressão, sacramentado de vez pela Lei 12.850/2013.

1.2.1  Elementos conceituais

Vejamos e dissequemos o artigo 1º:

Lei 12.850/2013, Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a

investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o

 procedimento criminal a ser aplicado.

§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas

estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que

informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer

natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores

a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.

  Quórum

Devem estar associadas, minimamente, 4 (quatro) pessoas.

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  Estrutura ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas

Diferente de qualquer associação criminosa, a organização criminosa deve ostentar

uma estrutura ordenada, organizada, com hierarquia, divisão de tarefas. Pode-se chama-la

de “empresa do crime”, porquanto se emprestaram a organizações criminosas dados

conceitos e expedientes e mecanismos empregados nas grandes empresas (ainda que de

maneira informal).

A ideia de ‘divisão de tarefas’, de acordo com a doutrina, cuida -se de uma

repercussão direta dos influxos engendrados pela teoria do domínio do fato. Dentro desse

critério, coautor será aquele que dominar a tarefa que lhe tenha sido comissionada, ainda

que não exerça influência e domínio sobre todo o fato.

  Objetivo

Obtenção de vantagem de qualquer natureza; não somente a patrimonial.

Exemplificam-se com as vantagens políticas, territoriais, materiais, etc.

Tal objetivo é logrado mediante a prática de infrações penais (conceito no qual se

englobam crimes e contravenções penais), cujas penas máximas sejam superiores a 4

(quatro) anos1  ou que sejam de caráter transnacional, hipótese na qual poderá a penamáxima ser inferior a 4 anos.

Observação:  não se deve confundir o crime transnacional (possui ramificações e

estruturação por países diversos, mesmo que o fato em si mesmo não ultrapasse as

fronteiras do país onde se praticou) com o crime à distância (a conduta e o resultado

ocorrem em países diferentes).

1.3  Aplicação da Lei

Diz-nos artigo 1º, §2º:

Lei 12.850/2013, Art. 1º. [...]

§ 2º Esta Lei se aplica também:

I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada

a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou

reciprocamente [crime à distância, conduta e resultado em países diferentes, +

 previsão em tratado]  ;

1 A presença das contravenções penais no conceito é, apenas, teórica, porquanto suas penas máximassão bem menores do que os 4 anos positivados pelo legislador.

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II - às organizações terroristas [hodiernamente, inexiste um conceito pacificado acerca

de terrorismo; há quem se valha do artigo 20 da Lei 7.170/83; há quem repute o

referido artigo por inconstitucional, eis que estaria a violar o princípio da legalidade

em sua vertente taxatividade]  , internacionais reconhecidas segundo as normas de

direito internacional, por foro do qual o Brasil faça parte, cujos atos de suporte ao

terrorismo, bem como os atos preparatórios ou de execução de atos terroristas, ocorram

ou possam ocorrer em território nacional.

É preciso que a organização terrorista seja reconhecida como tal no plano

internacional. Ademais, suas ações têm que repercutir no território nacional (vinculação

espacial).

1.4  Artigo 2º

Estabelece um novo tipo penal. Portanto, está-se perante novatio legis 

incriminadora:

 Art. 2º Promover [fomentar]  , constituir [compor]  , financiar [custear]  ou integrar [fazer

 parte]  , pessoalmente [mão própria; diretamente]  ou por interposta pessoa [por meio

de representante, ‘testa de ferro’, que também irá compor o grupo]  , organização

criminosa:Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas

correspondentes às demais infrações penais praticadas.

O artigo 2º, caput , consiste em uma norma penal em branco homogênea, uma vez

que o conceito de organização criminosa, que se faz necessário à integração do artigo 2º,

insere-se no artigo 1º do mesmo diploma.

Q UADRO ESQUEMÁTICO ACERCA DO ARTIGO2º 

CLASSIFICAÇÃO  EXPLICAÇÃO 

Crime formal Consuma-se com a mera associação (prática dos

comportamentos descritos no tipo penal),

independente da execução das infrações

motivadoras da organização criminosa. Essas, se

 praticadas, ensejarão cúmulo material com o

crime de organização.

Crime permanente Cabível a prisão em flagrante de seus integrantesenquanto não cessar a permanência

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Sujeito ativo Crime comum (qualquer pessoa pode praticá-lo),de concurso necessário (plurissubjetivo) e de

condutas paralelas (uma colabora com a outra)

Sujeito passivo Sociedade

Bem jurídico tutelado Paz pública

 Art. 2º, § 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça

a investigação de infração penal que envolva organização criminosa.

Prevê-se, aqui, uma figura equiparada, porquanto nas mesmas penas incorrerá o que

impedir ou embaraçar a investigação penal que envolva organização criminosa. Cuida-se de

crime contra a administração da justiça.

 Art. 2º, § 2º  As penas aumentam-se até a metade se na atuação da organização

criminosa houver emprego de arma de fogo.

Se a organização criminosa emprega arma de fogo, a pena aumenta-se até a metade.

Com base nisso, indaga-se: se membros dessa organização praticam roubo circunstanciado

 pelo emprego de arma de fogo, operar-se-á bis in idem se o magistrado condená-los pelo

roubo circunstanciado (artigo 157, §2º, inciso I, do CP) em cúmulo material com o artigo 2º,

caput e §2º, da Lei 12.850/2013?  

Do tema rebentam polêmicas. A jurisprudência dos tribunais superiores assevera não

haver bis in idem nesse caso, porque se tutelam dois bens jurídicos diferentes (paz pública e

patrimônio) e, sendo utilizada arma de fogo pela organização criminosa, esta ostentará

maior lesividade, maior reprovabilidade, motivo por que merecerá maior reprimenda.

 Art. 2º, § 3º A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo, da

organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução.

Consubstancia-se numa agravante redundante, haja vista o artigo 62 do Código Penal

prevê agravante no mesmo sentido.

 Art. 2º, § 4o 

 A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços):

I - se há participação de criança [menor de 12 anos]  ou adolescente [igual ou maior de

12 e menor de 18 anos]  ;

Alerte-se que, no ponto, não se está a falar de autoria mediata. Antes, fala-se em

verdadeiro concurso de agentes do qual participem crianças (pode-se argumentar sobre a

ausência de concurso em razão da falta de discernimento das crianças) ou adolescentes(porque não lhes falta discernimento, diz-se pseudoconcurso). Com efeito, fato é que os

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inimputáveis ingressam no cômputo do número de integrantes da organização, pois que,

malgrado inimputáveis, são pessoas.

Questiona-se sobre se o agente responderá, em cúmulo, pelo crime de corrupção de

menores (artigo 244-B do ECA). Ao que parece, há um claro bis in idem, de maneira que ou

se punirá o agente pelo delito previsto no ECA, ou se aumentará a pena que lhe foi aplicada

por força do artigo §4º, inciso I.

II - se há concurso de funcionário público2 [exemplos: corrupção, concussão, desvio de

verbas públicas]  , valendo-se a organização criminosa dessa condição para a prática de

infração penal;

III - se o produto ou proveito da infração penal destinar-se [prescinde-se da efetivachegada do produto ao exterior; prepondera a finalidade]  , no todo ou em parte, ao

exterior;

IV - se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações criminosas

independentes [há que se distinguir as meras ramificações em outros países da

conexão com outras organizações criminosas]  ;

V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização.

 Art. 2º, § 5º Se houver indícios suficientes de que o funcionário público integra

organização criminosa, poderá o juiz determinar seu afastamento cautelar do cargo,

emprego ou função, sem prejuízo da remuneração , quando a medida se fizer necessária

à investigação ou instrução processual.

Medida cautelar pleonástica, haja vista o artigo 319 do Código de Processo Penal

contemplar hipótese idêntica.

 Art. 2º, § 6º A condenação com trânsito em julgado acarretará ao funcionário público a

 perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo e a interdição para o exercício de

 função ou cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes ao cumprimento da

 pena.

Essa perda do cargo/emprego/função, conforme posicionamento majoritário

doutrinário, representa efeito automático da condenação, eis que o legislador deixou de

fazer qualquer ressalva. A interdição pelo exercício dá-se pelo prazo de 08 anos, após o

cumprimento da pena. Ou seja, a reabilitação desse condenado demorará mais.

 Art. 2º, § 7 o Se houver indícios de participação de policial nos crimes de que trata esta

Lei, a Corregedoria de Polícia instaurará inquérito policial e comunicará ao Ministério

Público, que designará membro para acompanhar o feito até a sua conclusão.

2 Circunstância objetiva.

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Deflagram-se discussões acerca da constitucionalidade desse dispositivo, o qual foi

editado no seio de embates sobre a existência do poder de investigação do órgão

ministerial.

O artigo 129 da Constituição da República determina ao Ministério Público o controle

externo da atividade policial. Diante disso, duas são as óticas pelas quais se pode analisar a

redação do §7º:

DELEGADO DE POLÍCIA  MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO 

Plausível pontificar que o Ministério Público não

detém poder de investigação, motivo pelo qual o

legislador, no caso de o crime da organização

criminosa envolver policial, fez uma ressalva e

 permitiu a participação do órgão ministerial na

atividade investigativa, a qual ficará a cargo da

corregedoria de polícia.

Os tribunais superiores, pela teoria dos poderes

implícitos, têm reconhecido a possibilidade de o

Parquet desenvolver atividade persecutória por

conta própria, uma vez que ele é o próprio titular

da ação penal pública. Ademais, sendo os crimes

 perpetrados por policiais, nada mais coerente do

que o membro do MP participar das

investigações, uma vez que ao órgão cabe o

controle externo da atividade policial por

expresso mandamento constitucional.

1.5  Artigo 3º

 Art. 3o 

Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros

 já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova:

I - colaboração premiada [antigamente, conhecida como “delação premiada”   e

bastante esmiuçada pelo legislador]  ;

II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos [não se

confunde com a interceptação telefônica. É a gravação popularmente conhecida como

“escuta”. Realiza-se por terceiro, o qual pode fazê-la com a ciência, ou não, de um dosinterlocutores]  ;

III - ação controlada;

IV - acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas [extrato reverso das contas;

números para os quais se ligou, dos quais se receberam chamadas, etc.]  , a dados

cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações

eleitorais ou comerciais [também não é interceptação telefônica]  ;

V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação

específica [Lei 9.296/96]  ;

VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação

específica [LC 105/2001]  ;

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VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11 [recebeu

bastante atenção do legislador]  ;

VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na

busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal.

1.6  Artigo 4º

 Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em

até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de

direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e

com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos

seguintes resultados:

Desvelam-se como consequências da colaboração premiada:

(i)  PERDÃO JUDICIAL: causa de extinção de punibilidade, entalhada no artigo 107,

inciso IX, do Código Penal;

(ii)  REDUÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE EM ATÉ 2/3;

(iii)  SUBSTITUIÇÃO DA PENA CORPORAL EM PENA RESTRITIVA DE DIREITOS;

(iv)  REDUÇÃO DA PENA ATÉ A METADE OU PROGRESSÃO DE REGIME, AINDA QUE NÃO PREENCHIDOS

OS REQUISITOS OBJETIVOS: tal previsão está contida no §5º do artigo 4º, cuja redação é

notadamente atécnica. Isso porque dá a entender que os benefícios oriundos da

colaboração premiada somente têm aplicação até a sentença, o que é um aberrante

equívoco, uma vez que o perdão judicial, por se tratar de causa extintiva de punibilidade (em

sentido amplo, diz respeito à pretensão executória), incide até mesmo após o trânsito em

 julgado. Ao que parece, pretendeu o legislador, em um sopesamento de condutas, conferir

melhor tratamento ao agente que colabora antes da sentença (redução de até 2/3) em

comparação àquele que somente se manifesta após o édito repressivo (redução até

metade). Os requisitos objetivos para a progressão de regime são o cumprimento da penana razão de 1/6 (réu primário e crime não hediondo) ou 2/5 (réu primário e crime

hediondo). A aplicação desse benefício é materializada pelo juízo da execução.

A colaboração a que se refere o caput  do artigo 4º deve ser efetiva e voluntária (não

se exige espontaneidade) e dela devem advir os seguintes resultados3:

 Art. 4º [...]

I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das

infrações penais por eles praticadas;

3  Essas hipóteses são alternativas; não, cumulativas. Nada obstante, quanto mais resultados, maiorserá a redução.

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II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização

criminosa;

III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização

criminosa;

IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais

 praticadas pela organização criminosa;

V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

§ 1º Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a personalidade do

colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato

criminoso e a eficácia da colaboração.

Trata das circunstâncias judiciais da aplicação dos benefícios da colaboração

premiada.

 Art. 4º, § 2º Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a

qualquer tempo, e o delegado de polícia4 , nos autos do inquérito policial, com a

manifestação do Ministério Público, poderão requerer [MP]  ou representar [Delegado

de Polícia]   ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse

benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art.

28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal). 

Representa o preceptivo sob análise grande novidade carreada pela Lei 12.850.

Segundo a orientação do artigo 28 do CPP, se discordar da proposta de perdão judicial

ofertada pelo membro do MP, o juiz deverá encaminhar os autos do processo ao para o

Procurador-Geral de Justiça (âmbito estadual) ou para as câmaras de coordenação do MPF

(âmbito federal). É a consagração do princípio acusatório.

 Art. 4º, § 3o

O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao

colaborador, poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período,

até que sejam cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo

 prescricional.

O prazo para oferecimento da denúncia encontra-se no artigo 46 do CPP: 15 dias

para o indiciado solto; 5 dias para o preso. Na Lei 12.850, esse prazo pode ser suspenso por

até 6 meses, prorrogáveis por mais 6 meses.

 Art. 4º, § 4o  Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Público poderá deixar de

oferecer denúncia se o colaborador:

I - não for o líder da organização criminosa;

II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo.

4 Expansão da manifestação do delegado.

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O legislador, na redação do §4º, copiou o sistema do  plea bargaining5, oriundo do

common law , no qual o Ministério Público negocia diretamente com o indiciado e propõe-

lhe um acordo. Representa uma exceção ao princípio da obrigatoriedade.

De acordo com a doutrina, os requisitos plasmados nos incisos I e II são cumulativos.

Ademais, demandarão um resultado proveitoso.

 Art. 4º, § 5º Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida até a

metade ou será admitida a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos

objetivos [estudado acima] .

 Art. 4º, § 6º O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o

investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou, conforme o

caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor.

A proibição da participação do magistrado visa a evitar a violação do sistema

acusatório. Seu papel será homologar o acordo.

 Art. 4º, § 7º Realizado o acordo na forma do § 6º, o respectivo termo, acompanhado das

declarações do colaborador e de cópia da investigação, será remetido ao juiz para

homologação, o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade,

 podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu defensor.

Deverá o magistrado verificar a regularidade (preenchimento das formalidades),

legalidade (enquadramento nas hipóteses legais) e voluntariedade (ausência de coação ou

qualquer outro inibidor de vontade livre) do acordo. O magistrado funcionará como fiscal da

avença entre as partes.

 Art. 4º, § 8o

O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos

requisitos legais, ou adequá-la ao caso concreto.

Note-se que o legislador não suprimiu por completo os poderes do magistrado

quanto ao acordo confeccionado pelas partes, na medida em que poderá ele tanto recusar,

como adequar a proposta ao caso que lhe chegar às mãos para análise.

5 O  plea bargaining é instituto de origem na common law  e consiste numa negociação feita entre o

representante do Ministério Público e o acusado: o acusado apresenta importantes informações e o MinistérioPúblico pode até deixar de acusá-lo formalmente.

Não há essa possibilidade no ordenamento jurídico brasileiro. O réu no sistema norte-americano podeconfessar ou não confessar. Se confessar, pode reivindicar a negociação ou não. Quando faz o pedido de

negociação é que ocorre o  plea bargaining. Disponível em:<http://atualidadesdodireito.com.br/lfg/2011/09/27/o-que-se-entende-por-plea-bargaining/>. Consultarealizada em 10.03.2014.

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Carreia uma exceção à obrigatoriedade da prisão em flagrante pela autoridade

policial, a saber, a ação controlada, conhecida como flagrante

retartado/diferido/postergado.

A ação controlada, essencialmente, caracteriza-se como um meio para a obtenção de

provas e informações.

 Art. 8º, § 1º O retardamento da intervenção policial ou administrativa será

 previamente comunicado ao juiz  competente que, se for o caso, estabelecerá os seus

limites e comunicará ao Ministério Público.

Inexiste necessidade de autorização pelo magistrado. A bem da verdade, a ação

controlada deverá, tão-só, ser comunicada previamente ao juiz. Cuida-se de positivação do

posicionamento majoritário da doutrina à época da Lei 9.034.

Aventava, ainda, a doutrina a presença da razoabilidade da medida de retardamento,

porquanto, seria ilógica e não razoável, v.g., a postergação do flagrante na hipótese em que

ocorrerá uma chacina.

 Art. 8º, § 2º A comunicação será sigilosamente distribuída de forma a não conter

informações que possam indicar a operação a ser efetuada.

 Art. 8º, § 3º Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao

Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das

investigações.

 Art. 8º, § 4º Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circunstanciado acerca da ação

controlada.

 Art. 9º Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o retardamento da

intervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das

autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino do investigado,

de modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou

 proveito do crime.

1.8  Infiltração de agentes

 Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação, representada

 pelo delegado de polícia ou requerida pelo Ministério Público, após manifestação técnica

do delegado de polícia quando solicitada no curso de inquérito policial, será precedida de

circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites.

A ação controlada não exige autorização judicial. Todavia, a infiltração deve ser

precedida de fundamentada e sigilosa autorização do juízo, a qual estabelecerá seus limites.

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Leis Penais Extravagantes

Aula Complementar

O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula

ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros

doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

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 Art. 10, § 1o  Na hipótese de representação do delegado de polícia, o juiz competente,

antes de decidir, ouvirá o Ministério Público.

Objetivou o legislador estabelecer um equilíbrio da força das instituições durante a

persecução criminal.

 Art. 10, § 2o  Será admitida a infiltração se houver indícios de infração penal de que trata

o art. 1o e se a prova não puder ser produzida por outros meios disponíveis.

A infiltração é medida última.

 Art. 10, § 3o  A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo

de eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade. Art. 10, § 4º Findo o prazo previsto no § 3o, o relatório circunstanciado será apresentado

ao juiz competente, que imediatamente cientificará o Ministério Público.

A cada término do período de duração da infiltração, deverá a autoridade policial

elaborar relatório e encaminhá-lo ao juízo competente, o qual, de plano, cientificará o

Ministério Público.

 Art. 10,§ 5º No curso do inquérito policial, o delegado de polícia poderá determinar aos

seus agentes, e o Ministério Público poderá requisitar, a qualquer tempo, relatório da

atividade de infiltração.

Na investigação, é desnecessário aguardar o prazo final da infiltração para requisitar-

se (MP) ou determinar-se (Delegado) a elaboração do relatório.

 Art. 11. O requerimento do Ministério Público ou a representação do delegado de polícia

 para a infiltração de agentes conterão a demonstração da necessidade da medida, o

alcance das tarefas dos agentes e, quando possível, os nomes ou apelidos das pessoas

investigadas e o local da infiltração.

 Art. 12. O pedido de infiltração será sigilosamente distribuído, de forma a não conter

informações que possam indicar a operação a ser efetivada ou identificar o agente que

será infiltrado.

§ 1º As informações quanto à necessidade da operação de infiltração serão dirigidas

diretamente ao juiz competente, que decidirá no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, após

manifestação do Ministério Público na hipótese de representação do delegado de polícia,

devendo-se adotar as medidas necessárias para o êxito das investigações e a segurança

do agente infiltrado.

§ 2º Os autos contendo as informações da operação de infiltração acompanharão a

denúncia do Ministério Público, quando serão disponibilizados à defesa, assegurando-se

a preservação da identidade do agente.

§ 3º Havendo indícios seguros de que o agente infiltrado sofre risco iminente, a operação

será sustada mediante requisição do Ministério Público ou pelo delegado de polícia,dando-se imediata ciência ao Ministério Público e à autoridade judicial.

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