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 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO LOGÍSTICO: A ASSISTÊNCIA HUMANITÁRIA E O EFEITO DA SAZONALIDADE NOS RIOS DO ESTADO DO AMAZONAS Thiago Maciel Neto (UFSC) [email protected] Leonardo Varella (UFSC) [email protected] Mirian Buss Goncalves (UFSC) [email protected]  Pesquisas vêm sendo desenvolvidas pelo mundo sobre logística humanitária em decorrência do crescimento no número de desastres,  sejam eles provocadas pela natureza ou pelo homem. Os impactos da  sazonalidade e a existência de períodos de secaa e cheia bem definidos que ocorrem no Estado do Amazonas são devastadores. Desta maneira, é imprescindível para organizações que trabalham na cadeia de assistência humanitária medidas de desempenho, medidas que reflitam a real situação da região Amazônica precisam considerar as  premissas da sazonalidade do evento. É de relevância para a  Engenharia de Produção a ampliação de estudos e projetos de cunho  social que objetive não somente atender o mercado, mas a sociedade em geral. Para tal, o artigo busca apresentar medidas de desempenho  para o contexto da logística humanitária na região do Estado do  Amazonas, a importância do seu levantamento, as características relacionadas ao fenômeno natural analisado e recorrente na região.  Por fim é apresentado um modelo de medidas de desempenho logístico adequados à logística humanitária no contexto amazônico.  Palavras-chaves: Logística Humanitária; Avaliação de D esempenho; Cadeia de Suprimentos XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO  Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. 

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AVALIAÇÃO DE DESEMPENHOLOGÍSTICO: A ASSISTÊNCIA

HUMANITÁRIA E O EFEITO DASAZONALIDADE NOS RIOS DO ESTADODO AMAZONAS

Thiago Maciel Neto (UFSC)[email protected] Varella (UFSC)

[email protected] Buss Goncalves (UFSC)

[email protected]

 Pesquisas vêm sendo desenvolvidas pelo mundo sobre logísticahumanitária em decorrência do crescimento no número de desastres,

 sejam eles provocadas pela natureza ou pelo homem. Os impactos da sazonalidade e a existência de períodos de secaa e cheia bem definidosque ocorrem no Estado do Amazonas são devastadores. Destamaneira, é imprescindível para organizações que trabalham na cadeiade assistência humanitária medidas de desempenho, medidas quereflitam a real situação da região Amazônica precisam considerar as

 premissas da sazonalidade do evento. É de relevância para a Engenharia de Produção a ampliação de estudos e projetos de cunho social que objetive não somente atender o mercado, mas a sociedadeem geral. Para tal, o artigo busca apresentar medidas de desempenho

 para o contexto da logística humanitária na região do Estado do Amazonas, a importância do seu levantamento, as característicasrelacionadas ao fenômeno natural analisado e recorrente na região.

 Por fim é apresentado um modelo de medidas de desempenho logísticoadequados à logística humanitária no contexto amazônico.

 Palavras-chaves: Logística Humanitária; Avaliação de Desempenho;Cadeia de Suprimentos

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1. Introdução

Pesquisas vêm sendo desenvolvidas pelo mundo sobre logística humanitária emdecorrência do crescimento no número de desastres (Guha-Sapir, 2011), sejam eles

 provocadas pela natureza como no Japão 2011, Chile 2010, Nova Zelândia 2011 ou pelohomem, como ataques terroristas, guerras, deslocamentos em massa, entre outros.

Os episódios nos rios do Amazonas em 2009 onde houve a cheia recorde e em 2010que teve a maior seca registrada demonstram a necessidade de um cuidado logístico distintonesta região e, consequentemente, mostra a vulnerabilidade do povo Amazônico. Os impactosda sazonalidade e a existência de períodos de seca e cheia bem definidos que ocorrem noEstado do Amazonas são devastadores. Em 2010, um forte período de seca atingiu a atividade

 pesqueira e, dos 62 municípios do Estado, 61 (99% dos municípios) ficaram isolados.

As organizações de assistência humanitária, ao longo dos anos, desenvolvem ações naregião amazônica, mas até que ponto essas ações são eficazes? Conforme for o grau dodesastre as operações precisam ser bem elaboradas para garantir o sucesso da missão, destamaneira é imprescindível para organizações que trabalham na cadeia de assistênciahumanitária medidas de desempenho. E essas medidas de desempenho, para que reflitam areal situação da cadeia de suprimentos de assistência humana da região precisam considerar as

 premissas da sazonalidade do evento, graças à sua previsibilidade, pois de modo contrário oindicador refletirá um valor não real e impreciso para uma melhor avaliação de desempenhoda mesma.

O artigo busca apresentar medidas de desempenho para o contexto da logística

humanitária, a importância do seu levantamento, as características relacionadas ao fenômenonatural analisado e recorrente na região. Por fim é apresentado um modelo de medidas dedesempenho logístico adequados à logística humanitária no contexto amazônico.

2. Logística Humanitária

A partir dos objetivos da logística relacionados à cadeia de abastecimento comercialfoi desenvolvido o conceito de logística humanitária que de forma eficiente e eficaz vence otempo e a distância na movimentação de materiais (Nogueira et al., 2008). Segundo Nogueira(2010) o conceito de logística humanitária em países da Europa e nos Estados Unidos vem

sendo desenvolvido e aplicado, no Brasil ainda é um tema muito recente, com estudosiniciados a pouco tempo.

Loureiro (2010) afirma que a utilização do conceito logístico pode contribuirimensamente para o sucesso da operação de ajuda, como por exemplo, em catástrofesnaturais, guerras, atentados terroristas e serviços de urgências médicas. Nos lugares e nostempos que são necessários a tarefa básica da logística humanitária é a aquisição e a entregade suprimentos (alimento, água, abrigo provisório, serviços médicos entre outros) sendo quedurante a emergência é primordial a necessidade de responder prontamente à ocorrência. Essa

 primordialidade é o que no contexto da logística humanitária é conhecido como tempo deresposta mínimo, quando o lead time  tende à zero. É crucial no contexto humanitário aoperação ser eficaz e bem coordenada em termos da logística, pois isso pode significar salvarvidas e diminuir o impacto de doenças.

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Segundo Wassenhove e Tomasini (2009) é importante que as organizaçõesreconheçam e invistam na logística humanitária em todas as fases, já que após a ocorrência do

fato, é muito comum requisitar grandes especialistas em logística perdendo assim fases primordiais do processo. Algumas das características que apontam desafios à logísticahumanitária (MEIRIN, 2007 apud Nogueira et al., 2008):

  Infra Estrutura: Na maior parte dos casos destruída, dificultando assim oacesso, a chegada de recursos e a saída de pessoas.

  Recursos Humanos: Excesso de pessoas (voluntários) sem treinamentoadequado, heróis que agem somente com a emoção, celebridades que sóquerem aparecer neste momento, pessoas que vão para o local e não conhecema magnitude do problema.

  Materiais: Definição do que é necessário? Para onde deve ser enviado?Acúmulo de doações nas primeiras semanas, gerando assim desperdícios eavarias, devido a itens inadequados.

  Ausência de Processos Coordenados: Informações, Pessoas e Materiais.

2.1. Características da Logística Humanitária

 Nogueira et al.  (2008) apresenta algumas características da logística humanitária queservem como ferramentas para o desenvolvimento das medidas de desempenho.

1.  Objetivos: O objetivo da logística humanitária é salvar vidas e aliviar o sofrimento de pessoas vulneráveis, dada uma limitação financeira. O enfoque humanitário tem dois pontos principais: o cumprimento da missão e sustentabilidade financeira.

2.  Característica da demanda: O foco da logística humanitária são suprimentos e pessoas.A demanda na cadeia de assistência humanitária é gerada por eventos aleatórios quesão imprevisíveis em termos de tempo, local, tipo e tamanho. O conjunto desuprimentos requeridos é muito variado e depende de fatores: o tipo de impacto dodesastre, características e tamanho da população atingida, condições sociais eeconômicas da região. Neste sentido, a demanda é estimada após a necessidade damesma, baseada na avaliação das características do desastre.

  Lead Time: Em situações de natureza emergencial o lead time é praticamente zero

entre a ocorrência da demanda e a necessidade da mesma.  Confiabilidade: O caráter imprevisível da demanda torna difícil estabelecer

relações confiáveis e específicas de canais de distribuição. A falta deconfiabilidade é afetada não só pelas características de imprevisibilidade, mastambém por instabilidades políticas e de infraestrutura da região atingida.

  Análise de preços: Dada a ocorrência de um desastre, a demanda por suprimentoscresce rapidamente e normalmente irá acarretar um aumento dos preços. O local dodesastre, o local do fornecedor e a capacidade de transporte também influenciamnessa análise.

3.  Clientes: na Logística Empresarial os indivíduos ou organizações são os requerentes

de produtos ou serviços; na Logística Humanitária os afetados são necessitados. 

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2.2. Estrutura Básica de uma Missão Assistencial

 Nogueira et al.  (2008) falam que a comunidade internacional reconheceu aimportância da logística humanitária depois dos ataques de 11 de setembro de 2001 nosEstados Unidos e os eventos posteriores desencadeados (Guerra ao Terror, disputa de poderno Afeganistão, Guerra no Iraque, etc.). Os autores afirmam também que os panoramas dasmissões assistenciais envolvem eventos como tsunami e os terremotos na Ásia em 2004,furacões no Caribe e no Golfo do México em 2005, além disso, atentados de Madrid em 2004,Londres em 2005. No Brasil os eventos ocorridos em Santa Catarina com furacão Catarinaque passou pela região sul de Santa Catarina e no nordeste do Rio Grande do Sul e a severaseca no Amazonas em 2005, foram fenômenos recorrentes, logo a logística humanitária

 precisa de investimentos prioritários. Segundo Guha-Sapir (2011), em 2010 totalizaram-se

373 desastres naturais com 296.800 pessoas mortas e mais de 207 milhões de pessoas afetadasdireta ou indiretamente pelos desastres, além de um custo estimado de 109 bilhões de dólaresde danos causados pelos mesmos (com destaque nestes números para o devastador terremotono Haiti que, sozinho, vitimou mais de 222 mil pessoas).

Como visto, todos esses acontecimentos precisam ter um tempo de resposta rápida para obter êxito no que diz respeito ao salvamento de vidas. Para isso Thomas (2003) abordao ciclo de vida de uma missão assistencial, figura 1, considerando que a missão assistencial

 possui uma estrutura básica possuindo quatro fases.

Figura 1: Ciclo de vida de uma missão assistencialFonte: Adaptado de Thomas, 2003

1.  Avaliação: Identificação das necessidades baseada nas características específicas daocorrência. Nesta fase são necessários poucos recursos.

2.  Organização: Necessidade crescente de recursos, de encontro às característicaslevantadas na fase 1.

3.  Sustentação: Período de tempo no qual as operações são sustentadas e os recursosmantidos.

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4.  Reconfiguração: As operações e recursos são reduzidos até finalizarem por completo.

3. A Efeito da Sazonalidade nos Rios do Estado do Amazonas

Um evento recorrente no Estado do Amazonas é a cheia dos rios que correm na região,que em determinadas épocas do ano atingem níveis elevados, causando enchentes que geram

 problemas de saúde pública. No caso das enchentes de 2011, comunidades inteirasapresentaram problemas de saúde pública, como casos de leptospirose, doenças transmitidas

 pela água, danos à infraestrutura local, falta de medicamentos (específicos e de primeirossocorros), falta de suprimentos sanitários básicos, racionamento de água e alimentos, entreoutros problemas. O transporte hidroviário responsável pela locomoção das pessoas que

vivem no interior (fora da região metropolitana de Manaus que contempla os municípios,Iranduba, Careiro da Várzea, Rio Preto da Eva, Manacapuru, Novo Airão, PresidenteFigueiredo e Itacoatiara) e é o principal meio de atendimentos para as populações. Como oabastecimento da região é realizado majoritariamente (para não se dizer exclusivamente)através de via fluvial, além do mesmo modal servir também como transporte público daquelesque vivem nessas localidades, pode-se dizer que nestes períodos o desenvolvimento social,educacional e econômico, além do acesso à serviços básicos de saúde é severamente atingido.As ocorrências mais comuns são as de alagações de casas, de plantações, interdição de escolase prédios públicos (e, por consequência, interrupção na prestação de serviços públicos).

Uma peculiaridade na situação de emergência objeto deste estudo e característico daregião amazônica é que a demanda neste caso, diferentemente da preconização da logística

humanitária, se assemelha a da logística empresarial, pois a mesma é previsível e os locais deatendimento já são pré-estabelecidos. Nogueira (2010) aborda que o modelo de demanda dalogística humanitária é diferente da logística empresarial, sendo que na empresarial ademanda é previsível, ocorrendo em locais pré-estabelecidos, e na humanitária a demanda éimprevisível em locais desconhecidos. Esta peculiaridade é o ponto-chave do estudo, pois a

 partir da mesma observa-se que os indicadores de desempenho existentes e utilizados até o presente momento estão voltados para os padrões da logística humanitária, e que neste casoespecífico a utilização destes indicadores, sem a adequação quanto à situação específica,acaba por resultar em valores não reais, tornando a avaliação de desempenho da cadeia desuprimentos emergenciais para este tipo de evento ineficaz.

 No Quadro 1 são apresentados os períodos dos eventos emergenciais (cheia e seca)nos respectivos rios do Amazonas, ou seja, a demanda ocorre de maneira previsível e os locaisconhecidos, podendo ser estimada antes da ocorrência da necessidade.

Rios/SituaçãoPeríodos

Início TérminoRio Negro/Cheia Maio AgostoRio Negro/Seca Dezembro FevereiroRio Solimões/Cheia Fevereiro JunhoRio Solimões/Seca Julho OutubroRio Madeira/Cheia Março Maio

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Rio Madeira/Seca Agosto Outubro

Quadro 1: Respectivas Situações dos rios da Amazônia OcidentalFonte: AHIMOC, 2012

Diferentemente da Figura 1 (Thomas, 2003), o ciclo de vida de uma missãoassistencial no Amazonas vem pré-estabelecido, (vide Figura 2), sendo que o anuncio dodesastre e a duração de cada etapa do ciclo terá tempo determinado de acordo com cadacaracterística de sazonalidades. Isso reforça a afirmação de Nogueira et al.  (2007) que emcada situação emergencial específica, o ciclo será vivenciado com tempo de resposta édiferente (conforme Tomasini e Wassenhove, 2009).

Figura 2: Ciclo de vida da coordenaçãoFonte: Adaptado de Tomasini e Wassenhove, 2009

 Na Figura 2 presume-se que a Fase 1 (avaliação) é conhecida, visto que já foram previamente identificadas as necessidades com base nas ocorrências anteriores e registradasdocumentalmente. Na Fase 2 (organização) a necessidade de recursos pode ser levantadaantecipadamente. O exemplo da seca de 2010 no Amazonas é ilustrativo deste caso: segundo

o Jornal A Crítica (2010), foram enviados kits  de higiene pessoal, alimentação,medicamentos, kits para hospitais que funcionam nos municípios atingidos e purificadores

 para onde a população estava sofrendo com a escassez de água potável. Com isso as Fases 1 e2 podem ser trabalhadas anteriormente, antecipando os eventos (devido a sua característicasazonal) para que na Fase 3, uma fase já mais crítica onde o evento já está em curso, foquem-se as atividades e despachem-se mais rapidamente os materiais necessários para atender àscomunidades possivelmente atingidas, fazendo com que o tempo de resposta no atendimentodestas comunidades seja reduzido, o principal objetivo inicial de uma missão emergencial. É

 possível, com um elevado grau de certeza, prever as datas de início e término das cheias e, poruma análise histórica (porém com menor acurácia), a magnitude do evento e uma prévia deseu impacto socioeconômico.

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4. Medidas de Avaliação de Desempenho Logístico Humanitário para a Situação noAmazonas

Segundo Bowersox e Closs (2010) monitorar os planos operacionais identificandooportunidades para aumentar a eficiência e eficácia organizacional são os objetivosfundamentais da medição de desempenho logístico. Neely (2000) fala que a medida assegurade que o sistema conduza realmente as decisões e ações no do dia a dia, confirmando aestratégia a ser executada pela organização. Segundo Lei et al.  (2011) a medida dedesempenho é útil e objetiva para resolver a tempo problemas relacionados a cadeia desuprimentos e assegurar estabilidade na operação, prolongando assim o ciclo de vida dacadeia. Mas Gunasekaran et al. (2004) alerta que os modelos de desempenho criados devemter relação com os objetivos estabelecidos na problemática, pois uma correta mensuraçãoserve como ferramneta para a tomada de decisões no âmbito estratégico da organização. 

 No que tange as funções da avaliação de desempenho Ñauri (1998) destaca alguns princípios que devem ser observados por um sistema de medição bem sucedido:

  Medir somente o que é importante.  Não medir demais; medir coisas que deemimpacto ou indiquem o sucesso organizacional. Medição gera custos;

  Equilibrar um conjunto de medidas. Procurar, no momento de definir medidas,considerar as perspectivas das pessoas que tomam decisões. i.e., perguntar a quemvivencia a situação o que pode ou deve ser medido;

  Oferecer uma visão, tanto vertical quanto horizontal, do desempenhoorganizacional. A visão vertical refere-se à gestão dos recursos da organização e avisão horizontal, à gestão dos resultados;

  Envolver a equipe no desenho e na implementação do sistema de medidas. Proporcionar senso de propriedade, o que leva a melhorar a qualidade do sistemade medição de desempenho;

  Alinhar as medidas com os objetivos e as estratégias . As medidas, em todos osníveis, devem dar suporte à tomada de decisões e alavancar à orientação dosesforços para o alcance das metas.

Melnick et al.  (2004) abordam que a medição de desempenho conecta estratégias erealidade: estratégia sem medição é inútil, medição sem estratégia não faz sentido. Para Pires

(2004), antes de formular as medições, deve-se identificar a estratégia, o que pode ser difícilem uma cadeia de suprimentos, pois uma organização pode participar de várias cadeias comestratégias diferentes. Segundo o autor, a competição passou a ocorrer entre cadeias e nãomais apenas entre entidades: mesmo que o embate seja visível, a competitividade é construída

 por uma estratégia que engloba toda a cadeia. Dornier et al. (2000) ressaltam que a mediçãodo desempenho logístico deve, além de monitorar os processos logísticos de execução,também monitorar a modificação de objetivos e a validade dos pressupostos assumidos naformulação da estratégia. Ou seja, os indicadores devem andar em paralelo com a execução enas alterações na estratégia e nos cenários de competição da cadeia de suprimentos, pois ascircunstâncias são mutáveis e os objetivos podem se alterar ao longo do tempo, para tantouma revisão estratégica de tempo em tempo é recomendada.

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Assim como na logística empresarial, na logística humanitária existe dificuldade dedesenvolver medidas de desempenho apropriadas. Segundo Nogueira (2010) a dificuldade

está no grau de complexidade da cadeia e nas dificuldades tradicionais do que medir e comomedir. Beamon (1999) afirma que devido a quantidade de níveis da cadeia que são geralmentegrandes e complexas, selecionar medidas de desempenho apropriadas não é uma tarefa fácil.

Mesmo assim, Nogueira et al.  (2008) afirmam que as medidas de desempenhoutilizadas para o segmento empresarial podem ser adaptadas para a logística humanitária, jáque o objetivo estratégico das organizações, sejam elas comerciais ou assistenciais, formam

 base para desenvolvimento dessas medidas. Desta maneira utilizando-se de fundamentos dalogística empresarial e direcionando-os para logística humanitária poderão trazer, neste casoespecífico, resultados para as operações emergenciais na região objeto de estudo.

A proposta apresentada por Nogueira (2010) mostra o desenvolvimento de um sistema

de medida de desempenho à logística humanitária. Tendo como base essa proposta paraestabelecer parâmetros nas especificidades dos eventos, foi realizada uma análise comparando principalmente a medida de flexibilidade ocorrendo assim algumas diferenças em alguns itensconforme o Quadro 2.

Medida deDesempenho

Objetivos Situação Caso específico

1. Medidas dedesempenho internas

Incluem sistemas detecnologia, utilização de

 processos coordenadosde pessoas, materiais einformações, sistemas desimulação, treinamento eemergência.

= -

2. Medidas deflexibilidade

O inerente grau deincerteza de um eventoemergencial requerníveis elevados deflexibilidade. Assim,

 podem ser definidasmedidas de flexibilidade:

≠ 

A certeza de um eventoemergencial requer níveismoderados de flexibilidade.Assim, podem ser definidasmedidas de flexibilidade:

2.1 Flexibilidade devolume:

Está ligada às diferentesmagnitudes dosdesastres.

≠ 

Está ligada a número deitens de necessidade queuma organizaçãohumanitária consegueenviar durante os primeirosestágios da missão.

2.2 Flexibilidade deexpedição:

Relacionada ao tempo deresposta ao desastre, oque pode significar o

sucesso ou fracasso deuma operação.

≠ 

Relacionada ao tempo deresposta ao desastre(anunciado).

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2.3 Flexibilidade deMix:

Está ligada aos diferentestipos de desastres e às

especificidades de cadacaso.

≠ 

Está ligada 2 (dois) tipos dedesastres e às

especificidades de cadacaso.3. Medidas dedesempenho externas:

Estão diretamenteligadas aos alívios dosofrimento das pessoasenvolvidas e ao númerode vidas a serem

 preservadas.

= -

Quadro 2: Medidas de Desempenho da Logística Humanitária, seus objetivos gerais e aplicados ao casoespecíficoFonte: Elaborado pelos autores com base no trabalho de Nogueira, 2010.

Com essas medidas de desempenho busca-se captar verdadeiramente a eficiência eeficácia do sistema e assegurar o sucesso na operação cumprindo com parâmetrosestabelecidos pela logística humanitária. Pode, portanto, observar uma discrepância entre osobjetivos das medidas de desempenho propostas por Nogueira para a Logística Humanitáriaante a do caso específico, pela razão de haver uma possibilidade de previsão do evento e delevantamento dos suprimentos necessários, preparação dos kits  de emergência, admissão etreinamento de pessoal para agilizar o processo de tomada de decisões, ganhando-se tempocom a preparação e estabelecimento de localizações e dimensionamento espacial dosmantimentos em áreas urbanas com criticidade na ocorrência dos eventos.

5. Conclusões

Para o caso específico, as cheias dos rios amazônicos em determinados (e cíclicos)espaços de tempo, as medidas de desempenho existentes e utilizadas para a avaliação dedesempenho não refletem a totalidade da situação, não possuindo adequações ante ao

 parâmetro de flexibilidade, pois suas ocorrências, diferentemente do usualmente preconizado pela logística humanitária, são previsíveis devido ao efeito de sazonalidade na regiãoocorrente, porém não menos catastróficos tampouco menos importantes.

Das três medidas de desempenho apresentadas para avaliação de desempenho da

situação exposta, houve alteração em uma: a de flexibilidade. Ela permite com que aavaliação do problema, dada sua sazonalidade e por ser possível sua previsão em termos demagnitude, possa ser um processo antecipado e não posterior à crise. Procura-se dessamaneira diminuir o tempo de resposta de atendimento, que atualmente contempla a avaliaçãoda situação após a ocorrência dos eventos, e com isso contribuir para melhor assistência emeventos futuros.

O estabelecimento de medidas de desempenho que contemplem as especificidades doevento em questão e sua sazonalidade permitirá uma avaliação mais realista do desempenhodos agentes participantes desta cadeia de suprimentos (assistenciais, médicos, bombeiros,defesa civil, órgão privados), melhorando a visualização completa do problema,

aperfeiçoando o nível de atendimento e antecipando a avaliação de providências paraassistência das regiões afetadas.

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6. Referências

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