32
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO – SUPERVISÃO ESCOLAR A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A EXCELÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Por: IVANY DULCE DE OLIVEIRA ROSA Professora Orientadora: DIVA MARANHÃO Rio de Janeiro Setembro/2003

A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO – SUPERVISÃO ESCOLAR

A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A EXCELÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Por: IVANY DULCE DE OLIVEIRA ROSA

Professora Orientadora: DIVA MARANHÃO

Rio de Janeiro Setembro/2003

Page 2: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

1

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO – SUPERVISÃO ESCOLAR

A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A EXCELÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Monografia apresentada a Universidade Cândido Mendes como requisito para a conclusão do Curso de Pós-Graduação em Supervisão Escolar.

Por: IVANY DULCE DE OLIVEIRA ROSA

Rio de Janeiro Setembro/2003

Page 3: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

2

AGRADECIMENTOS

A meu filho Carlos Leonardo e Suzana, a minha irmã Sônia Maria, aos amigos

Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho, incentivando-me para mais essa conquista.

Page 4: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

3

EPÍGAFRE

“Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar e anunciar a novidade. “

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia

Page 5: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

4

S U M Á R I O

INTRODUÇÃO 05 CAPÍTULO I 07 HISTÓRICO SOBRE EDUCAÇÃO INFANTIL 08 CAPÍTULO II 20 A CONCEPÇÃO ATUAL DO PAPEL DO EDUCADOR INFANTIL 18 CONCLUSÃO 26 BIBLIOGRAFIA 28 ÍNDICE 30 ANEXOS 31

Page 6: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

5

INTRODUÇÃO

Cuidar de crianças é atividade que exige especialização e por isso não deve ser desenvolvida por pessoas sem preparo e, principalmente com muitos problemas. É notória a falta de preparo adequada dos profissionais que atuam na Educação Infantil. Muitos começaram nas escolas, sem capacitação mínima necessária para abraçar o grande desafio que é trabalhar com criança. Em conseqüência, percebemos que apesar da boa vontade e sensibilidade, há falta de conhecimento pedagógico específico para lidar com os problemas que surgem no dia a dia da Creche. Por exemplo, é muito freqüente a perda de paciência de um dito “educador” quando a criança não faz exatamente o que ele determinou. Outra situação mais comprometedora é a demonstração de falta de afeto no relacionamento com as crianças. O trabalho neste ambiente passa a ser um “peso” e não há respeito pelos menores. A Educação Infantil é uma fase de desenvolvimento do ser humano em que sua personalidade é formada, os hábitos são criados, há o desenvolvimento da inteligência intelectual e de outros tipos de inteligência também. A maioria dos educadores infantis trabalha na área há muitos anos, dessa forma sempre requisitou um preparo especial por parte dos profissionais nela envolvidos. No entanto, é absurdo e até negligente os equívocos que são praticados por profissionais que atuam nessa área. De quem é a responsabilidade das conseqüências negativas que ocorreu nesse cenário? São vários os atores deste cenário: os gestores da escola que recrutam mal seus profissionais, os professores que não se desenvolvem e não acreditam ser necessário especialização para lidar com crianças de baixa faixa etária, ou ainda, pais que não avaliam bem as instituições de ensino onde colocam seus filhos.

O presente estudo tem por objetivo analisar criticamente a competência dos educadores que trabalham com Educação Infantil face às novas demandas impostas pelas mudanças na educação, pela sociedade e consequentemente pela mudança no perfil da criança.

A pesquisa se deterá nas causas dos problemas que estão vinculadas à formação dos profissionais da Educação Infantil por considerarmos vital a competência desses educadores para a qualidade do desenvolvimento pleno da criança. Para a efetivação do estudo será realizada pesquisa bibliográfica, buscando experiências de estudiosos no assunto que possam contribuir para o

Page 7: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

6

enriquecimento do trabalho. Pretendemos fazer uma comparação entre a visão e orientação dos especialistas no assunto e a realidade praticada na Instituição de Educação Infantil (creches e Pré-Escolas). Acreditamos que esta reflexão fortalecerá a todos que atuam na área, na medida em que muitos professores não se deram conta da necessidade de um preparo mais apurado, mais técnico-pedagógico e também psicológico.

Page 8: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

7

CAPÍTULO 1 HISTÓRICO SOBRE EDUCAÇÃO INFANTIL

Page 9: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

8

1- HISTÓRICO SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL

Os primeiros movimentos de operários para conquistas sociais são da década de 20 quando começou a organização dos centros urbanos o que possibilitou alguns benefícios sociais. Esses movimentos foram de certa forma diminuídos pelos donos das indústrias, criando novas formas disciplinares para os trabalhadores, na criação de vilas operárias, clubes esportivos e também creches e escolas. O atendimento à crianças na creche era de cunho assistencial-custodial, pois só se preocupava com a alimentação, higiene e segurança física não havendo qualquer trabalho voltado para o intelectual e afetivo.(Oliveira, 1992) Em 1943, foi criada uma legislação específica a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), que obriga a organização de berçários nas Empresas para abrigar os filhos de funcionárias durante a amamentação. Esses espaços poderiam ser criados na própria empresa ou conveniados. Na segunda metade deste século a participação feminina no mercado de trabalho e a dificuldade dessas mulheres de conciliar o trabalho assalariado e as tarefas do lar, afastadas de suas famílias e da rede de vizinhança, característica das comunidades rurais, as mães enfrentaram dificuldades de criar seus filhos e de encontrar quem as ajudassem a cuidar deles. Buscou-se, mais uma vez, soluções individuais para o problema. No período entre 1930 – 1960 as preocupações com medidas de promoção de saúde junto à população mais pobre e com formas de evitar a marginalidade e a criminalidade de crianças e jovens, levaram alguns grupos sociais politicamente influentes a defenderem a creche como agência de promotores de bem-estar social. A creche, novamente é vista como uma dádiva aos desafortunados. Com o avanço da industrialização no país, novas discussões ocorreram sobre creches. O número de mulheres de classe média ao mercado de trabalho cresceu, bem com a redução do espaço para brincar. Aumentou a demanda às creches, desta feita com clientela composta por professores, funcionárias públicas e domésticas.(Oliveira, 1992). Nessa época, as pré-escolas particulares foram se tornando mais numerosas e trabalhavam com uma população socialmente mais privilegiada e com preocupações, com a criatividade, a sociabilidade e o desenvolvimento infantil integral. Dessa forma, enquanto as crianças pobres eram atendidas nas creches com idéias de carência e deficiência, as economicamente privilegiadas eram colocadas em ambientes estimuladores com conotação de viver e desenvolverem-se.

Page 10: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

9

Por volta dos anos 70, observa-se uma nova política de atendimento às reivindicações populares. As lutas se intensificaram através da pressão das mães. De acordo com afirmações encontradas na Proposta Curricular para as Creches e Pré-Escolas Comunitárias em 1985, no Rio de Janeiro, algumas mulheres ligadas aos movimentos sociais tomaram a iniciativa de implantar as primeiras creches. Em casas improvisadas, elas, com disposição para luta pelas causas populares, começaram um trabalho que é hoje reconhecido de Utilidade Pública. A Prefeitura sentiu a necessidade de apoiar este movimento, criando o PAC – Programa de Apoio a Criança. Começou-se então um trabalho que teria como finalidade principal o atendimento a crianças de baixa renda, cujos responsáveis necessitassem estar liberados para complementarem suas rendas familiares. Baseado nesta realidade houve necessidade de se criar mecanismos que norteassem tal iniciativa com creches e pré-escolas comunitárias. Através da SMDS criou-se o primeiro documento para orientar os trabalhadores envolvidos nessa tarefa. Os primeiros documentos, relatórios, etc. sobre creches e pré-escolas ficavam a cargo da extinta LBA. Era ela que, baseada nos relatórios técnicos e estudo das diversas comunidades ditava “normas” para o funcionamento das creches. Das primeiras creches criadas às atuais houve uma muita mudança, considerando que no início o atendimento em creche não era diferente do prestado nas instituições como: asilo e internatos. Os internatos e asilos eram destinados basicamente aos filhos de mães solteiras que não tinham como cuidar e educar os filhos. Tendo a mãe que deixar seu filho em instituição, gerava nela um sentimento de culpa e o atendimento aos filhos pelas instituições era visto como “favor” e “caridade”. A introdução da mulher no mercado de trabalho, sobretudo em indústrias, contribuiu para que as próprias mães buscassem solução para o enfrentamento do problema dos cuidados de seus filhos. As soluções vinham desde o pagamento a vizinhas para “olhar” os filhos, até a solicitação de parentes para tomar conta dos mesmos. As soluções eram, basicamente individuais, sem uma discussão crítica para a solução. A Constituição de 1988 reconhece a creche como uma instituição educativa, um direito da criança, uma opção da família, um dever do Estado. Segundo a LDB 9394/96 a creche é vista como responsável, junto com a família, pela promoção do desenvolvimento das crianças, ampliando mais experiências e conhecimentos. “A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança

Page 11: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

10

até 06 anos de idade, e os seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”.

Durante muitos anos a concepção da missão do educador infantil era cuidar, assistir, higienizar e passar o tempo com a criança e com essa visão deturpada da Educação Infantil muitos educadores não se preocuparam em se capacitar tecnicamente e os que sabiam alguma coisa não se atualizaram. Também os administradores de creches tinham essa visão e em conseqüência encontramos uma resistência para uma mudança de postura e aquisição de novas competências é muito grande. Entretanto, ainda persiste, em algumas instituições, a influência da educação tradicional, autoritária que impede as transformações necessárias. 1.1 – Dos primeiros cuidados à educação De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – V. 1, p. 21: “A criança como todo ser humano é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico”.

Sabendo-se que a sociabilidade é a capacidade de viver em sociedade é que se concorda com a citação anterior considerando-se que por muito tempo acreditou-se que o homem era um animal que possuía, de maneira natural o dom de ser sociável aos seres racionais e dotados de inteligência e vontade se observa a sociabilidade. A sociedade existe, quando os homens se estreitam tão intimamente que de algum modo se opere uma fusão de suas idéias. No grupo familiar a criança tem uma primeira experiência com educação. Desde o início de vida, de modo inconsciente, a influência do restrito grupo social é significativa. O grupo social básico é fundamental, ligados pelos laços biológicos, morais, econômicos e essenciais.(Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – V-1 – p.21). As primeiras relações criança-família formam-se à base dos cuidados relativos à criação do novo ser e à formação dos primeiros hábitos. Tão logo a criança alcance o nível de familiaridade com as coisas e com as pessoas, do meio, ampliam-se às relações humanas. É o grupo parental que se entrosa com a família, contribuindo com as novas relações. Cedo, porém, o mundo social da criança se estende graças à sua crescente autonomia, a dominar coisas de seu uso e recreação. Cresce-lhe o ambiente em torno, com enriquecimento de experiências e relações humanas é o círculo de amigos que se articula por sua vez, ao círculo familiar e parental.

Page 12: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

11

Como ser social, a criança passa, segundo (Rizzo: 83) citando o Referencial Curricular para Educação Infantil: “... determina três grandes eixos em torno dos quais as atividades psicopedagógicas do currículo devem girar: o brincar, o movimento e o conhecimento de si e do outro”. O jogo é um instrumento de recreação utilizado pelas crianças na vizinhança, nos grupos e que continua os processos socializadores da família. Logo, através do jogo, a criança penetra num grupo mais amplo e mais complexo que é a vizinhança. A igreja, o clube, o cinema, o teatro infantil, os play-grounds, abrem novas perspectivas ao comportamento social da criança. A escola aparece então, como o terceiro grupo social onde pelas normas legislativas ela é obrigada a freqüentar um tempo de permanência. É a escola que normaliza, disciplina e sistematiza a desordenada vida infantil. Embora nela se brinque e se jogue, tudo, inclusive a recreação, é disciplinada. Sendo a Instituição de Educação Infantil indispensável para ensinar o que a vida em comunidade não transmitir, para tornar consciente a dependência da comunidade em relação ao processo social da vida infantil. Ainda citando o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, a educação para crianças pequenas deve promover a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos e sociais da criança, considerando que esta é um ser completo e indivisível e as exigências estão exatamente com cada um desses aspectos: a) dos cuidados físicos desenvolvidos nas instituições de Educação

Infantil – partindo da premissa de que a criança pequena é um ser frágil, dependente, necessita dos cuidados e das ações diretas dos adultos. Dessa forma, precisam de proteção, cuidados com a saúde, alimentação, bastante afeto, estimulação e brincadeiras que possibilitem sua exploração e descobertas.

b) do desenvolvimento emocional em se tratando principalmente de crianças pequenas, o trabalho do profissional de Educação Infantil deve ser dedicado, atencioso, afetuoso, quase de substituto materno. c) do desenvolvimento cognitivo este mais ligado às estruturas do pensamento, entende-se que a educação deva promover a construção de conhecimentos que no pensamento humano mantém relação com o processo das aprendizagens e experiências educacionais. Considerando que a Instituição de Educação Infantil é um dos contextos de desenvolvimento da criança, ela deve criar condições para o seu desenvolvimento cognitivo, simbólico, social e emocional, além de atender as necessidades físicas da criança.

Page 13: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

12

Os cuidados físicos podem se transformar em atividades significativas se forem desenvolvidas de forma contextualizada, a partir de conversas e esclarecimentos. Nesse sentido, tanto a higiene, quanto à alimentação ou descanso podem ser integrados ao planejamento diário, o que reduz o risco de que sejam assumidos na perspectiva da imposição de hábitos.

Na Educação Infantil o cuidado deve ser compreendido como parte integrante da educação e exige conhecimentos, instrumentos e habilidades que vão além da dimensão pedagógica. Implica também na integração de vários campos de conhecimentos e na cooperação de profissionais de diferentes áreas. O que norteia o cuidado são crenças e valores que envolvem: saúde, educação e alimentação. As necessidades orgânicas e as afetivas são as bases para o desenvolvimento infantil. A compreensão e ação do adulto na identificação das necessidades infantis são pontos básicos no cuidado com as crianças nas mais diferentes faixas de idade. O conceito de cuidar varia de acordo com a compreensão que o adulto tem na interpretação das várias situações vivenciadas junto às crianças. Esses conceitos vão desde o afago, o acalento, o pegar no colo, o embalo até a conversa. Para se obter sucesso com a preservação da vida e com o desenvolvimento das capacidades humanas é necessário que se conheça o desenvolvimento biológico, emocional e intelectual da criança, considerando que as realidades sócio-culturais são distintas. Cuidar exige uma cumplicidade, estar envolvido, comprometer-se. A sensibilidade do educador no trato com as crianças poderá ajuda-la a crescer com segurança, contribuindo para que se estabeleça um vínculo entre os dois.(Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil) Deve-se considerar, portanto, que a atividade educativa no espaço institucional não ocorre somente nos momentos planejados para tal, o horário das atividades pedagógicas. A atenção ao “cuidar” relativa à higiene, alimentação também deve ser encarada no âmbito educativo e não numa perspectiva de mero treinamento ou imposição de hábitos sociais. É importante nesse caso que se considere e respeite os hábitos das famílias, que devem ser ouvidas e quando necessário, aconselhadas no que se refere aos “cuidados” com as crianças.

Em relação ao aspecto social podemos citar também, Rappaport (1981) que enfatiza o início do desligamento familiar da criança pelo o convívio com outras crianças de sua idade. Este convívio se dimensiona, ainda, pela

Page 14: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

13

presença forte do egocentrismo. Constata-se o isolamento da criança ao brincar com determinado objeto, pois ela não consegue interagir com as demais crianças, mesmo estando em sua companhia. A autora relata que “é como se a criança concentrada em sua própria atividade não pudesse perceber o que outras pessoas estão fazendo, sentindo ou pensando coisas diferentes”.(Rappaport, 1981, p. 71) Portanto, o cuidar e educar fazem parte integrante da elaboração de propostas pedagógicas, construindo o desenvolvimento e o conhecimento individual da criança. A partir de 1996, baseado na LDB e diagnósticos de vários órgãos, como a COEDI/DPE/ SEF/ MEC, começaram a surgir propostas pedagógicas que contribuem para a reflexão e organização curricular na Educação Infantil. A criança é um ser social, psicológico e histórico, portanto o seu universo cultural deve ser constituído através de uma educação que possibilite um desenvolvimento infantil, explorando as áreas do conhecimento. Na integração curricular os objetivos gerais para a Educação Infantil, devem se nortear na definição dos objetivos para concretização das interações educativas. Na organização das idades, a Educação Infantil se divide em Creches para crianças de 0 à 3 anos e 11 meses e Pré-escolar para as crianças de 4 à 6 anos de idade. Considerando as diversas faixas etárias compreendidas entre 0 à 6 anos os conteúdos são organizados e trabalhados de acordo com as idades, abrangendo as etapas correspondentes na elaboração e construção de identidades, no processo de socialização e desenvolvimento da autonomia das crianças. 1.2 – As mudanças e a gestão da Educação Infantil Considera-se que para aprender é preciso viver o que se aprende e de longa data se conhece o movimento a favor da transformação de escolas fechadas para vida social, em comunidades de vida e agência formadora, não de alunos, mas de pequenos cidadãos. Para os criadores da escola social a Instituição Escolar é uma comunidade de crianças, de seres sociais vivendo em sociedade, com seus órgãos sociais, cumprindo deveres e usufruindo dos direitos sociais conquistados. É uma livre comunidade dos educadores que procura preparar para a vida social. A escola não deve ser mais uma casa de ensino ou de aprender, “onde a criança vai buscar noções e habilidades programadas” em uma escola de feitio monárquico de governo, sob a história do professor e/ou responsáveis pela disciplina.

Page 15: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

14

A gerência dessa escola, deve propiciar exercícios das atividades sociais através do convívio social dos alunos, campo experimental da vida em comunidade de interesses, aspirações e ideais. Isto só se dá porque o velho esquema da escola de Educação Infantil que servia de “depósito” de crianças onde um professor instruiu um grupo de alunos não responde mais as necessidades da vida moderna.

A gerência da escola de nossos dias é muito complexa pois o diretor não deve ter “controle” sobre a atividade da educadora e dos professores, e sim deve propiciar um espírito de livre comunicação, de intercâmbios de idéias, sugestões, resultados, êxitos e fracassos de prévias experiências, sendo então a gerência aceita para um melhor convívio entre alunos e mestres, mestres e mestres, mestres e diretor na prática cotidiana das atividades comuns e a participação efetiva dos docentes e discentes no processo ensino-aprendizagem. Segundo Lück(2000: p. 13), “A participação da comunidade escolar, incluindo professores, especialistas, pais, alunos, funcionários e diretor, é parte desse esforço que promove o afastamento das tradições corporativas e clientelistas, prejudiciais à melhoria do ensino por visarem ao atendimento a interesses pessoais e de grupos”.

Justifica-se a citação anterior pelas transformações vividas pela sociedade nestes últimos anos e tais mudanças atingiram a educação, que também evoluiu. A Educação Infantil evoluiu e até passou a “pré-escola” sendo reconhecida como escola, como prevê a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A sociedade atual, caracterizada pela plenitude vivida pelas crianças em relação às questões contemporâneas, permite um melhor acesso à inserção e ação no mundo. Segundo Lück(2000: p. 13): “Desde os idos de 1980 o movimento de mudança e democratização de gestão das escolas tem encontrado apoio nas reformas legislativas”. Continuando Lück(2000: p. 15), afirma: “Deve-se ter em conta que a motivação, o ânimo e a satisfação não são responsabilidades exclusivas dos gestores”. É do (a) diretor (a) escolar a responsabilidade do desenvolvimento de ações que viabilizam a movimentação e eficiência do processo ensino-aprendizagem. O diretor é uma figura central na Instituição escolar, e exercendo grande influência sobre todos, e de sua competência dependem em grande parte o bom desempenho do pessoal da escola. Ainda citando Lück(2000: p. 114) “A preocupação com a qualidade de ensino e a conquista gradual da

Page 16: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

15

autonomia levaram à transformação de várias práticas na escola e, principalmente, de sua forma de gestão”.

De acordo com a citação pode-se comentar que os tempos mudaram e atualmente, o país busca novos caminhos através da sociedade civil organizada. A Instituição Escolar deve preocupar-se hoje com o reconhecimento da educação da população e da contribuição para melhoria da vida social.

Percebe-se o desaparecimento da visão do chefe que tudo resolve e decide sozinho. 1.3 – Funções da Educação Infantil A escola de Educação Infantil, no que tange às necessidades e interesses sociais deve tirar o indivíduo de um estado de mero escravo das leis e do instinto, tornando-o um ser social pensante. “Considerando que a sociedade transcende” a espécie, para a vida em comunidade, o interesse pelo bem comum, constitui-se a função da escola de Educação Infantil uma tarefa de adequação social desse ser humano. O indivíduo realiza a plena afirmação de homem no mundo, através da educação que o completa, formando sua personalidade, que integra em si os direitos do indivíduo e da humanidade. Deve ser competência da escola de Educação Infantil trabalhar as características e/ou capacidades gerais que podem servir de objetivos à formação do homem social, como, por exemplo:

1) capacidade de pensar, sentir e agir; 2) capacidade de desempenhar as suas funções de cidadão consciente

e responsável; 3) capacidade de tirar conclusões; 4) capacidade de buscar sua proteção; 5) capacidade de apreciar; 6) capacidade de observar.

Existe a expectativa da família de que a Instituição de Educação Infantil cumpra na vida da criança um preparo para que ela tenha condições de enfrentar etapas posteriores à sua educação. Espera-se que tal expectativa seja atendida. Dessa forma, cabe à gestão escolar corresponder à tal expectativa. De acordo com a Proposta Curricular para Creches e Pré-escolas Comunitárias(1992: p. 45) “A creche ou pré-escola no exercício de sua função de guardiã não poderá jamais ser confundida com depósito de crianças ou limitar-se somente à guarda da criança, pois para um ser humano, só isso não basta”.

Page 17: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

16

Ressalta-se que quanto mais estimulado, mais rico será o processo de ensino-aprendizagem da criança. A creche não deve ser considerada como “um depósito de crianças” pois sua função é também de promover o pleno desenvolvimento da mesma, cumprindo a sua função pedagógica, onde seja permitido progredir e tornar-se independente.(conforme Proposta Curricular: p. 45) As duas funções da creche devem ser trabalhadas simultaneamente “cuidar e educar”, respondendo assim as necessidades infantis.

Page 18: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

17

CAPÍTULO 2

A CONCEPÇÃO ATUAL DO PAPEL DO EDUCADOR

INFANTIL

Page 19: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

18

2- A CONCEPÇÃO ATUAL DO PAPEL DO EDUCADOR INFANTIL

Atualmente o educador infantil tem um papel significativo a desempenhar, sendo para tal, necessário ampliar o seu tempo escolar. De acordo com Silva(2000: p. 49) “As reflexões sobre as relações globais no interior da creche no processo de construção enquanto Instituição educativa permitirá identificar uma busca de efetividade em suas ações”. Considerando-se as três moedas mais importantes hoje, na sociedade, que são: conhecimento, informação e saber, faz-se necessário que o educador repense a sua prática e a sua postura em relação à necessidade de formação e/ou atualização. Por motivos inerentes à sua vontade o educando não se vê, muitas vezes, como um sujeito capaz de interferir nos rumos da educação.

Porém, a necessidade, pelo avanço tecnológico e a globalização faz com que o educador modifique-se e em seu trabalho pedagógico, deixe de ser um mero informante para ser aquele que também aprende. A formação do educador deve ser um processo contínuo e permanente, apoiando-se na reflexão da prática educativa. A concepção atual do educador da Educação Infantil deve antes considerar escola como espaço possível para uma “nova” educação, e nela desenvolver projetos que facilitem à aquisição de conhecimentos e as relações interpessoais, tendo como ponto estratégico e objetivo final, o exercício pleno da cidadania visando à construção de um mundo justo, através de uma sociedade igualitária. 2.1 – A formação dos educadores Em seu livro profissionais da Educação Infantil, (Silva: 2001) a autora esclarece na p. 71, a abordagem da formação e escolarização das educadoras de creche enquanto problemática, aplicada também ao campo da educação de jovens e adultos. Segundo o enfoque histórico, o atendimento às crianças das camadas mais pobres através da educação pré-escolar no Brasil ficou relegado à própria população, caracterizando-se como assistência social. Esse atendimento foi estruturado à margem do sistema de ensino, vinculado por meios que prestam assistência social ao menor.

Page 20: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

19

Conforme Silva (2001), desenvolveu-se recentemente vários debates sobre a qualidade da educação em creches e pré-escolas, verificando-se então que um grande número de profissionais que atuam na Instituição de Educação Infantil não possuem habilitação em magistério. A formação dos profissionais expressa pela LDBEN 9394/96 estabelece a escolaridade mínima para os profissionais. Os educadores devem ter o Ensino Médio na modalidade normal e a mesma Lei caracteriza a Educação Infantil como a primeira etapa da educação básica. Citando Silva(2001: p. 68) “Significa desempenhar uma função de responsabilidade, somente delegada a quem possui determinadas qualidades ainda que a leitura geral sobre o seu trabalho leve em conta, mais sua desqualificação formal”. Prosseguindo, a autora menciona a importância da qualidade adquirida, em termos sociais pela educadora da Educação Infantil, lhe conferindo um status e até um prestígio junto à comunidade e que deve preocupar-se em criar atividades que valorizem a cultura das crianças, a livre expressão, a observação, a avaliação, a crítica e a autonomia. Com o passar dos tempos, algumas creches, em contrapartida, constatava a coexistência de práticas pedagógicas inovadoras e conservadoras demonstrando um esforço no sentido da busca de uma pedagogia que impedisse a marginalização social.

Segundo Silva(2001: p. 73/74), ao exemplificar a postura de duas educadoras de creches, afirma que as mesmas:

“... demonstraram que a prática profissional as levam a refletir sobre o seu papel junto às crianças e a perceber que, eram capazes de se inserir em um universo de trabalho mais qualificado, esse mesmo universo exigia a busca de respostas demandadas pelas diversas situações de trabalho. A necessidade e/ou a busca por formação parece configurar-se como o resultado das relações(complexas) entre suas histórias pessoais, no interior das quais vêm construindo os sentidos de suas ações e as exigências que o trabalho na creche impunha.”

Silva(2001:p. 74) ressalta que o retorno à escola através de cursos é uma decisão intimamente relacionada ao trabalho. Retornar aos estudos significa estar resgatando o saber e o poder. O educador precisa ser propenso à aquisição do seu fazer pedagógico, tendo disposição para ousar, considerando que todos que atuam na Educação Infantil devem auxiliar as crianças a transitar pelos conhecimentos do mundo, facilitando a organização do espaço como um ambiente que favoreça a realização de experimentos simples. Eis o que diz o Relatório – Síntese, do I Simpósio Nacional de Educação Infantil, Brasília, de 08 à 12 de Agosto de 1994, nos itens

Page 21: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

20

09,10 e 11, p. 24 transcrito na Revista Criança.

9 – “.... os profissionais de educação infantil devem ser formados em curso de nível médio ou superior, que contemplem conteúdos específicos relativos à essa etapa da educação. Condições deverão ser criadas para que aqueles que não possuem a qualificação mínima obtenham-na no prazo máximo de oito anos. 10 – A formação inicial e continuada do profissional da Educação Infantil, bem como a de seus formadores, deve ser orientada pelas diretrizes expressas na Política de Educação Infantil. 11 – A valorização do profissional de Educação Infantil, no que diz respeito às condições de trabalho, plano de carreira, remuneração e formação, deve ser garantida tanto aos que atuam na creche quanto na pré-escola...”.

Em consonância com a citação acima, a autora comenta que as Instituições do Poder Público e outras Instituições como as ONG’s têm relações com as creches e tais relações fazem parte de um processo de construção sobre a educação infantil materializadas nas determinações na Constituição de 1988 e na LDBEN 9394/96. O profissional da Educação Infantil além da formação necessária para exercer suas funções, precisa atualizar-se, evitando que seu trabalho vire uma rotina. Vive-se hoje uma era em que tudo acontece rapidamente e para acompanhá-la, o educador deve preocupar-se em questionar seu próprio conhecimento. O educador que se atualiza, que reflete sobre a sua prática obtém sucesso. Segue citações sobre o assunto: Para Silva(2000: p. 108) “Os processos de formação são vividos também de acordo com a história dos sujeitos que os freqüentam, não se relacionando apenas com o curso propriamente dito”. É preciso que se tenha a clarificação que as competências e conhecimentos dos educadores são determinados no processo de formação pessoal e social da criança. Contudo, para que os educadores tenham uma bagagem teórica, compreende-se que eles por si sós, não têm condições para garantir sua formação, por isso, a formação em serviço é tão importante. A proposta pedagógica, tendo em vista as mudanças educacionais que se fazem necessárias considerando os desafios do terceiro milênio deve ser organizada de modo que o educador da Instituição Infantil tenha permissão de ousar, através da inovação no campo educacional, de acordo a Lei de Diretrizes e Bases do Ensino Nacional.

Page 22: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

21

2.2 – Ética e Competência

Ética é o conjunto de valores que determina como as pessoas devem viver e agir. Vale ressaltar que existem duas escolas que tendem a evidenciar duas opiniões sobre a ética. Os idealistas entendem que a bondade ou maldade de uma ação deva ser julgada a partir de Deuses ou de um ser humano superior. Já os utilitaristas acreditam que os efeitos que uma ação produz neste mundo são tudo o que importa para o seu valor ético. As normas de comportamento social estão ligadas aos valores morais. Logo, ética é o estudo dos valores que orientam o comportamento humano em busca da felicidade e moral é o conjunto de normas que regulam o comportamento dos indivíduos em uma sociedade. Segundo Philippe Perrenoud(1999: p. 07), competência é: “uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tempo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles!”.

Partindo deste conceito acrescenta-se que ao se buscar a mobilização dos conhecimentos é que se facilitará a aquisição de competências, ou seja, utilizando-se os conhecimentos já adquiridos na Instituição escolar ocorre à facilitação do processo de aquisição da ética que fundamenta o valor que norteia o comportamento. Torna-se importante tal compreensão ao lembrar-se que é a escola, em nossa sociedade que tem a função específica de transmitir a cultura, segundo Rios(2001: p. 34) A escola é o local onde se transmite o saber adquirido pela sociedade visando capacitar os indivíduos para fazer parte dessa sociedade atuando positivamente. A partir deste comentário pode-se dizer que quando a escola reconstrói a ética, livra-se e livra o(a) aluno (a) de várias dificuldades principalmente, pela construção da própria ética, que tem tudo a ver com o que é mais prioritário e inadiável para o bem comum. Ao trabalhar com a ética na escola, os educadores estarão intervindo oportunamente e no momento crítico, da escolha entre a proposta, dando sentido as tarefas do dia-a-dia. A aplicação da competência envolve uma postura ética que supera a visão individualista e a razão fragmentada da sociedade moderna.

Page 23: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

22

De acordo com Rios, em seu livro Ética e Competência, p. 50, no item 1, onde a mesma cita um trecho de Saviani(1983: p. 134): “... não se faz política sem competência e não existe técnica sem compromisso; além disso, a política é também uma questão técnica e compromisso sem competência é descompromisso”. A autora chama a atenção para o respeito à relação que existe entre moral e política e ressalta que “os educadores não têm clareza da dimensão da política de seu trabalho”.(Rios: 2001: p. 51) De acordo com Sacconi( 1996: p. 532), política significa também “arte de bem viver em comunidade”. Ao rever o conceito de ética que é a arte de viver e agir, pode-se afirmar que aplica-se a ética de uma forma política quando se conhece as regras do bem viver, se age com honestidade procurando-se viver bem, dentro das regras de respeito ao outro, pois vivemos em sociedade. Para saber como atingir este comportamento faz-se necessário agir com competência. Se o educador não pensar a sua tarefa considerando as crianças e seu contexto social, estará dificultando sua ação profissional não tendo uma ação política e impedindo que a criança tenha. Na visão de Rios(2001: p. 79), “... a competência não está estabelecida de uma vez por todas. Não é algo estático, ao qual deva se ajustar o comportamento dos indivíduos, ou um modelo prescrito...”

Concordando com a citação que permite dizer que os educadores, para realizarem seus trabalhos e para que estes sejam competentes devem buscar competência, principalmente no contexto social do aluno, respondendo ao desafio diante da capacidade de cruzar as dimensões: humana, sendo aquela que trata das relações interpessoais; político-social, considerando a posição política e social que são transmitidas em seu trabalho e suas relações e a técnico-operacional, considerando a intenção do processo de aprendizagem orientado por aspectos que necessitam da competência técnica do educador. 2.3 – As interações entre docentes e alunos A tendência pedagógica de cunho tradicional, vê o professor como centro das atividades e o aluno como mero expectador. Esta tendência não desapareceu mas não atendem as questões atuais da Instituição Escolar.

Page 24: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

23

De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil(1998: p. 31) “ A interação social em situações diversas é uma das estratégias mais importantes do professor para a promoção de aprendizagens pelas crianças...” A citação anunciada acima vem concordar com a indicação dos próprios referenciais para a Educação Infantil sinalizada, 1998: p. 30: “... a interação com crianças da mesma idade e de idades diferentes em situações diversas como fator de promoção da aprendizagem e do desenvolvimento e da capacidade de relacionar-se.” Cabendo então ao educador da Educação Infantil ser o facilitador de intercâmbios que promovam brincadeiras, trocas de experiências por observação e conversa, entre outras ações que, em um ambiente próprio aponte para a interação entre os alunos e futuramente entre professor e aluno ou em concomitância. Ainda com base no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil(1998: p. 31) “... é importante frisar que as crianças se desenvolvem em situações de interação social, nos quais conflitos e negociações de sentimentos, idéias e soluções são elementos indispensáveis.” Gerar um clima que propicie a interação não significa que não ocorra no ambiente os conflitos. Sabe-se que errando é que também se constrói o conhecimento, logo, a eliminação das possibilidades de ação de divergências ou conflitos impedirá prioritariamente a realização da aprendizagem. Segundo Perrenoud( 2001: p. 38) “A paixão pessoal não basta, se o professor não for capaz de estabelecer uma cumplicidade e uma solidariedade verossímeis na busca do conhecimento.”

Ao educador cabe a valorização de comportamentos próprios para que todos vivam em harmonia. Por isso, o educador deve dar o exemplo demonstrando os comportamentos adequados que facilitam a interação com seu grupo de alunos. Cabe a ele ser responsável, ser colaborador, ter boa postura e disciplina e ser solidário. Tal postura irá determinar o tipo de liderança que ele assumirá em relação aos seus alunos para que haja a integração e interação se estabelecendo realmente uma cumplicidade, devendo também primar pela co-participação nas decisões dos alunos apresentando o educador, uma liderança democrática. O diálogo deve ser estabelecido com os alunos para que se promova auto-direção. O trabalho harmoniosamente estabelecido atenderá às necessidades do grupo. Lembrando Perrenoud(2000: p. 57) “O sistema escolar tenta homogeneizar cada turma nela agrupando alunos com a mesma idade. Disso, resulta uma homogeneidade muito

Page 25: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

24

relativa, devido às disparidades, na mesma idade, dos níveis de desenvolvimento e dos tipos de socialização familiar.” Essa consideração de Perrenoud, aponta para uma pedagogia diferenciada criando dispositivos que se baseiam na intervenção também dos alunos. Sem usar um esquema de metodologia, como uma receita de bolo, a turma conviverá como se estivesse em uma sociedade natural. O relacionamento entre educador e alunos é fator primordial para o desenvolvimento do processo educativo e consequentemente do processo social. É mais proveitoso quando o professor tem em vista formar integralmente o aluno como um ser democrático adotando procedimentos que tenha como causa primária a solidariedade e a compreensão dos direitos de todos. 2.4 - A interação entre docentes e seus pares Ao tentar criar uma ou mais rupturas quebrando um “estado confortável” em que os professores se encontram todos envolvidos, estando em uma atuação de co-responsabilidade, ou seja, estando com outrem, viabilizarão projetos factíveis. No Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil(1998: p. 31) “... o professor deve refletir e discutir com seus pares sobre os critérios utilizados na organização dos agrupamentos e das situações de interação, mesmo entre bebês, visando, sempre que possível, a auxiliar as trocas entre as crianças e, ao mesmo tempo, garantir-lhes o espaço da individualidade.” O clima de cooperação e participação entre os educadores facilita uma linha coerente e diferenciada para lidar com a relação e interação professor X aluno. Do mesmo Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil(1998: p. 67) encontramos a citação: “O coletivo de profissionais da Instituição de Educação Infantil, entendido como organismo vivo e dinâmico é o responsável pela construção do projeto educacional e do clima institucional.”

A elaboração e organização de encontros e/ou projetos facilitam, por parte da instituição, a formação continuada dos educadores tanto no que se refere a ampliar seus conhecimentos pessoais tanto no que se refere a ampliar a melhoria de atendimento aos pequeninos evidenciando projetos que pulsem o seu desenvolvimento infantil. Geralmente, nas instituições, é preciso que alguém tome a iniciativa dando o “primeiro chute na bola” e convença os colegas que seria importante criar e/ou participar de algum projeto.

Page 26: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

25

Inicialmente os colegas ficam reticentes porque tal prática geralmente leva ao questionamento da sua prática pedagógica. Quando o projeto de formação continuada é elaborado e implantado pela escola fica menos evidente a individualidade e propicia uma cultura de colaboração mútua. Citando Perrenoud(2000: p. 178): “A profissionalização é uma transformação estrutural que ninguém pode dominar sozinho.”

Concorda-se com o autor, pois ao permitir o desenrolar do processo de uma formação contínua, ao facilitar o desencadeamento da aprendizagem e avançar para a permanência progressiva do aluno na escola, ao desenvolver a cultura dos projetos, ao trabalhar em equipe, o educador estará se auto-profissionalizando e colaborando para a profissionalização dos seus colegas porque tal transformação não tem mérito na individualidade e sim na coletividade.

Page 27: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

26

CONCLUSÃO

Diante de uma prática que comprovadamente tem objetivos renovadores, verificou-se através deste trabalho que, o processo educacional deve utilizar diretrizes que visem levar a criança ao raciocínio e a descoberta, em conjunto com o conhecimento científico. Para que esta relação seja colocada em prática é necessário que a formação dos educadores objetive desenvolver o educador como um “agente dinamizador” e desta forma, a comunidade escolar travará diálogos com naturalidade, gerando idéias que a partir da co-responsabilidade, aos poucos, motivarão o espírito crítico de cada um, ressaltando que, a ação do educador reflita um profissional reorganizado em sua prática e também em seu interior. As conclusões relativas a formação dos educadores como alicerce para a excelência na Educação Infantil, trazem à necessidade de algumas reflexões tanto em relação ao que deveria ser contemplado pela Lei de Diretrizes e Bases do Ensino Nacional 9394/96, quanto da postura dos educadores. Contemplou-se no início da pesquisa pontos que são significativos ao entendimento da existência das creches e da Educação Infantil e também foram assinalados alguns pontos inovadores no contexto atual. O artigo 63 da LDBEN 9394/96, regulamenta os cursos que manterão, inclusive os formadores de profissionais para a Educação Infantil, Curso Normal Superior porém, a mesma Lei não especifica o que, vem a ser os Institutos Superiores de Educação. Infelizmente não se vê contemplada na referida Lei, qualquer artigo que faça uma referência explícita à remuneração dos professores educadores. Há, pelo exposto uma necessidade sem par dos educadores participarem da elaboração do projeto político pedagógico da Instituição porém, a LDBEN 9394/96 não clarifica a formação dos educadores de forma propriamente dita mas, temos como ponto inicial a importância dada à pluralidade e à diversidade dos contextos indicando a busca de uma verdadeira prática educacional. Educadores, face às demandas atuais, devem então buscar meios para o seu desenvolvimento e consequentemente da escola através da auto capacitação, consultando uma biblioteca, participando e realizando seminários, facilitando a aprendizagem do aluno, elaborando e participando de projetos que refletirão a melhoria dos docentes e discentes.

Evidentemente faz-se necessário que a escola seja autônoma para facilitar entre outros motivos, o desenvolvimento dos educadores.

Page 28: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

27

Para que haja uma evolução na formação dos educadores é necessário que o conjunto de profissionais reunidos compartilhem suas competências, ajudando a manter a estabilidade da prática educativa mantendo assim o conceito que cada um tem do seu espaço e sua compreensão, em relação ao seu meio social encarando o processo educacional de modo que o aluno participe junto com o professor, objetivando sua aprendizagem.

Page 29: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

28

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• DEMO, Pedro. Conhecer & Aprender: Sabedoria dos Limites e Desafios.

Porto Alegre: ARTMED, 2000.

• FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 28ª

Edição, 2000.

• GADOTTI, Moacir. Convite à Leitura de Paulo Freire. São Paulo:

Scipione, 1989.

• GADOTTI, Moacir. Escola Cidadã. São Paulo: Cortez, 6ª Edição, 2000.

• I Simpósio Nacional da Educação Infantil – Relatório Síntese. Brasília,

08 à 12 de Agosto de 1994.

• LÜCK, Heloísa, SIQUEIRA DE FREITAS, Kátia, GIRLING, Roberto,

KEITH,

• MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Referencial Curricular

Nacional para a Educação Infantil - Secretaria de Educação

Fundamental. Introdução. V: 1. Brasília, 1998.

• OLIVEIRA, Zilma de Moraes, MELLO, Ana Maria, VITÓRIA, Telma, R.

FERREIRA, Maria Clotilde. Creches: Crianças, Faz de conta & cia.

Petropólis: Vozes, 9ª Edição, 1992.

• PERRENOUD, Philippe. 10 Novas Competências para Ensinar. Porto

Alegre: ARTMED, 2000.

• PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das

aprendizagens entre duas lógicas; tradução Patrícia Chittoni Ramos.

Porto Alegre: ARTMED, 1999.

• PERRENOUD, Philippe. Construir as competências desde a escola.

Porto Alegre: ARTMED, 1999.

• RAPPAPORT, Clara Regina. Psicologia do Desenvolvimento: teorias do

desenvolvimento: conceitos fundamentais. São Paulo: EPU, 1981.

• RIOS, Terezinha Azêredo. Ética e Competência. São Paulo: Cortez, 10ª

Edição, 2001.

Page 30: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

29

• RIZZO, Gilda. CRECHE: Organização, Currículo, Montagem e

Funcionamento. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2000.

• SACCONI, Luiz Antônio. Minidicionário Sacconi da Língua Portuguesa.

São Paulo: Atual, 1996.

• SECRETARIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL.

Proposta Curricular Nacional para Creches e Pré-Escolas Comunitárias.

SMDS, Rio de Janeiro, 1992.

• Sherry. A Escola Participativa. Rio de Janeiro: DP&A, 4ª Edição, 2000.

• SILVA, Isabel de Oliveira e. Profissionais da Educação Infantil:

Formação e Construção de Identidades. São Paulo: Cortez, 2001.

Page 31: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

30

ÍNDICE

INTRODUÇÃO 05

CAPÍTULO 1 07

HISTÓRICO SOBRE EDUCAÇÃO INFANTIL 08

1.1 – Dos primeiros cuidados à educação 10

1.2 – As mudanças e a gestão de Educação Infantil 13

1.3 – Funções da Educação Infantil 15

CAPÍTULO 2 17

A CONCEPÇÃO ATUAL DO PAPEL DO EDUCADOR INFANTIL 18

2.1 – A formação dos educadores 18

2.2 – Ética e competência 21

2.3 – As interações entre docente e aluno 22

2.4 – As interações entre docente e seus pares 24

CONCLUSÃO 26

BIBLIOGRAFIA 28

ÍNDICE 30

ANEXOS 31

Page 32: A FORMAÇÃO DOS EDUCADORES COMO ALICERCE PARA A ... DULCE DE OLIVEIRA ROSA.pdf · Rio de Janeiro Setembro/2003 . 1 ... Miria Martins e Francisco Borges pelo estímulo e carinho,

31

ANEXOS