A Lingua Como Instrumento de Argumentação Jurídica

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Pressupostos e conceitos

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A LNGUA PORTUGUESA COMO INSTRUMENTO DE ARGUMENTAO JURDICAO Direito a cincia social que est presente no cotidiano da vida daspessoas, mesmo que elas no percebam: seja na hora do nascimento de uma vidahumana, seja quando faz uma compra numa loja, seja quando paga seus impostos,seja quando ocorre um acidente de trnsito, seja quando h uma briga entrevizinhos, seja na hora da morte de um ente querido, apenas para exemplificar.Dependendo do acontecimento, este ser encaixado em algum ou alguns dosramos do Direito.O Direito, por ser uma cincia interdisciplinar que se comunicaprincipalmente com a filosofia, a sociologia, a poltica, a tica, a linguagem dentreoutras, torna-se um elemento de evoluo da prpria histria de um pas. Da aimportncia do conhecimento e de toda uma postura dos operadores do direito,como protagonistas deste processo de evoluo.O principal instrumento que o advogado vai usar para se comunicar alinguagem, sua nica arma para que possa concretizar seu conhecimento einteragir com seus clientes e tambm com os demais operadores do Direito. Alinguagem utilizada pelo advogado, por ser muito tcnica, pode dificultar acomunicao entre o advogado e seu cliente, pois o cliente, nem sempre, ou namaior parte das vezes, tem qualquer conhecimento jurdico (e nem deve ter, porisso contrata um advogado). O advogado, por sua vez, pode no perceber que acomunicao est falhando ou mesmo no est acontecendo. Este trabalho notem a pretenso de esgotar o assunto, mas pretende fazer uma anlise de algunsprincipais pontos para que a comunicao seja um pouco mais efetiva entre osoperadores do direito, especialmente entre o advogado e seu cliente, ponto departida da maior parte das lides.No se pode perder de vista que o cliente de um advogado pode ser umapessoa natural, com o mais variado grau de instruo e de entendimento a respeitodo mundo, como tambm uma pessoa jurdica, tambm com uma variedade infinitade caractersticas prprias, de acordo com a rea de atuao no mercado. Claroque, mesmo sendo uma pessoa jurdica, ser representada tambm por umapessoa natural, que trar toda uma bagagem de conhecimento bastante diversificada. Mais uma vez, o papel do advogado torna-se complexo justamente por essa necessidade de interao com um pblico que pode variar bastante em seu aspecto social, cultural, econmico e poltico.Desta forma, os operadores do Direito, desde o incio da sua formao,devem dar uma ateno especial ao estudo da nossa Lngua Portuguesa, para quehaja uma contribuio efetiva no sentido de que o Direito seja um pouco maisacessvel a todos. Os estudantes de Direito, unidos com suas entidadesformadoras tem essa responsabilidade, uma vez que faz parte do papel dessesprofissionais, como transformadores da sociedade, se fazerem entender por todos.Este trabalho foi dividido em trs partes para facilitar a abordagem doassunto. A primeira delas vai falar sobre a linguagem jurdica, focandoespecialmente o Portugus Jurdico, mostrando alguns conceitos importantes arespeito de linguagem e suas peculiaridades no contexto do Direito. Outro pontointeressante o uso do vocabulrio jurdico em que o uso excessivo dedeterminados termos tcnicos acabam levando o profissional do Direito ao noentendimento pelo seu pblico - o to conhecido juridiqus. Logo em seguida, feita uma abordagem a respeito dos nveis de linguagem. O ltimo assunto destaparte sobre a funo da linguagem jurdica para os operadores do Direito,completando, dessa forma, o que pode ser entendido como algumas noesbsicas sobre linguagem jurdica.Na segunda parte, passa-se ao estudo de alguns pontos sobre comunicaoque mostraro a importncia do tema no mundo jurdico. O significado da semiticae os elementos da comunicao sero apresentados sob uma viso mais amplanum primeiro momento para em seguida mostrar como se d o processo dacomunicao l na tica dos operadores do Direito.Por ltimo, e no menos importante, est a parte ldica, digamos assim, dotrabalho, pois so colocados alguns exemplos do que encontrado no mundojurdico atual, onde ficam evidentes as dificuldades no uso da linguagem. Soalguns exemplos prticos do que deve (ou no deve) fazer um operador do direitopara simplificar a linguagem, sem abrir mo da qualidade tcnica do trabalho.PORTUGUS JURDICOConceitosA nossa Lngua Portuguesa uma lngua muito rica em recursos, talvezresida a toda a dificuldade em utiliz-la, seno em toda a sua potencialidade, pelomenos no que se fizer necessrio em cada caso. Para o Direito, especialmente,isso se faz indispensvel - O Direito , por excelncia, entre as que mais o sejam, a cincia da palavra. Mais precisamente: do uso dinmico da palavra.1Inicialmente, conveniente esclarecer o significado de alguns conceitos quesero teis para o entendimento de como funciona uma linguagem. Estesconceitos sero utilizados no decorrer do trabalho.Tais conceitos so osseguintes:LINGUAGEM um sistema de signos utilizados para estabelecer uma comunicao. A linguagem humana seria de todos os sistemas de signos o mais complexo. Seu aparecimento e desenvolvimento devem-se necessidade de comunicao dos seres humanos. Fruto de aprendizagem social e reflexo da cultura de uma comunidade, o domnio da linguagem relevante na insero do indivduo na sociedade.[...]A LINGUAGEM VERBAL uma faculdade que o homem utiliza para exprimir seus estados mentais por meio de um sistema de sons vocais denominado lngua. Esse sistema organiza os signos e estabelece regras para seu uso. Assim, pode-se afirmar que qualquer tipo de linguagem desenvolve-se com base no uso de um sistema ou cdigo de comunicao, a lngua. A LINGUAGEM uma caracterstica humana universal, enquanto a LNGUA a linguagem particular de uma comunidade, um grupo, um povo.SISTEMA uma organizao que rege a estrutura de uma lngua. [...]LNGUA um cdigo que permite a comunicao, um sistema de signos e combinaes. Ela tem carter abstrato e dispe de um sistema de sons, e concretiza-se por meio de atos de fala, que so individuais. Assim, enquanto a lngua um conjunto de potencialidades dos atos de fala, esta1 XAVIER, Ronaldo Caldeira Xavier. Portugus no Direito: Linguagem Forense. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 1.5(ou discurso) um ato de concretizao da lngua. [...]A FALA anterior escrita, mas tem, atravs dos tempos, sido relegada a uma condio de inferioridade por causa das circunstncias modernas em que informaes e documentos escritos constituem o mundo das relaes humanas e de produo.[...]As caractersticas diferenciadoras entre LNGUA e FALA so: a lngua sistemtica, tem certa regularidade, potencial, coletiva; a fala assistemtica, nela se observa certa variedade, concreta, real, individual.[...]A NORMA varia segundo a influncia do tempo, espao geogrfico, classe social ou profissional, nvel cultural do falante. A diversidade das normas, visto que h tantas quanto os indivduos, no afeta a unidade da lngua, que contm a soma de todas as normas.[...]A LNGUA PORTUGUESA, portanto, um sistema lingstico que abrange o conjunto das normas que se concretiza por meio dos atos individuais de fala. Ela um dos sistemas lingsticos existentes dentro do conceito geral de lngua e compreende variaes diversas devidas a locais, fatores histricos e socioculturais que levam criao de variados modos de usar a lngua.[...]NORMA um conjunto de regras que regulam as relaes lingsticas. A norma sofre afrontas ou contrariada devido a vrios fatores: alteraesdevidas s classes sociais diferentes, alteraes devidas aos vrios indivduos que utilizam a lngua.2O homem pode se comunicar pela forma verbal e/ou no verbal. Para aforma verbal a linguagem oral torna-se ponto crucial; a forma no verbal podeocorrer de vrias formas, como por exemplo, a linguagem corporal (exemplos: otestemunho de surdos-mudos pela mmica; a falsidade de um depoimento poderevelar-se at mesmo pela transpirao, pela palidez ou simples movimentopalpebral) e a linguagem do vesturio (exemplo: a toga uma informao queindica a funo exercida pelo juiz e a cor negra sinaliza seriedade e compostura que devem caracteriz-lo).3De acordo com o que foi visto acima, pode-se depreender que quando umadvogado est diante de seu cliente, todas essas formas de linguagem estoacontecendo ao mesmo tempo, para ambas as partes. Isso tudo ocorre em apenasalguns minutos de conversa. Soma-se a isso, claro, a situao social, econmicae cultural de cada um.2 MEDEIROS, Joo Bosco; TOMASI, Carolina. Portugus Forense: a produo de sentido. SoPaulo: Atlas, 2004. p. 17-21.3 DAMIO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antonio. Curso de Portugus Jurdico. So Paulo: Atlas,2000. p. 18-19