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MASARYKOVA UNIVERZITA
Filozofická fakulta
Ústav románských jazyků a literatur
Portugalský jazyk a literatura
A Linguagem no Jornalismo Desportivo Português
Magisterská diplomová práce
Bc. Tereza Baranová
Vedoucí práce: Mgr. Iva Svobodová, Ph.D.
Brno 2009
2
Prohlašuji, že jsem diplomovou práci vypracovala
samostatně s využitím uvedených pramenů a literatury.
……………………………………………
3
Za vstřícnost a vedení této práce upřímně děkuji Mgr. Ivě Svobodové, Ph.D.
4
Índice
1. Introdução ...................................................................................................... 6
2. Introdução ao jornalismo ................................................................................ 9
2.1. Ética jornalística ..................................................................................... 10
2.2. Linguagem jornalística ........................................................................... 14
2.2.1. Variedades linguísticas ..................................................................... 14
2.2.2. Especificações da linguagem jornalística .......................................... 16
2.3. Géneros jornalísticos .............................................................................. 19
2.4. O jornalismo desportivo ......................................................................... 22
3. Neologismos no jornalismo desportivo ......................................................... 25
3.1. Campo lexical ........................................................................................ 25
3.1.2. Inovação lexical ............................................................................... 25
3.2. Neologismos: uma linguagem dinâmica e actual no jornalismo
desportivo ..................................................................................................... 29
3.2.1. Estrangeirismos ................................................................................ 30
3.2.1.2. O processo de integração dos estrangeirismos ........................... 33
3.2.1.3. Estrangeirismo no jornalismo desportivo ................................... 36
3.2.1.3. Pequeno glossário de estrangeirismos usados nos jornais
desportivos portugueses ......................................................................... 40
3.2.2. Siglas no jornalismo desportivo ........................................................ 43
3.2.2.1. Pequeno glossário de siglas usadas nos jornais desportivos
portugueses ............................................................................................ 45
4. Linguagem especial no jornalismo desportivo .............................................. 47
4.1. Linguagem desportiva: gíria ou linguagem especial? ............................. 47
4.1.1. Uso da linguagem especial no jornalismo desportivo ....................... 48
4.1.1.1. Pequeno dicionário da linguagem especial de futebol usada nos
textos jornalísticos desportivos ............................................................... 50
5. A parte prática: Inquérito .............................................................................. 53
5
5.1. Apresentação do questionário ................................................................. 53
5.2. Resultados do questionário ..................................................................... 64
5.3. Análise ................................................................................................... 78
6. Conclusão..................................................................................................... 83
Bibliografia ...................................................................................................... 86
6
1. Introdução
Vivemos numa época em que tudo evolui rapidamente. Todos os dias, somos
surpreendidos por novas tecnologias que reflectem uma melhoria significativa dos diversos
meios de comunicação.
Não há dúvida que o acto de comunicar é essencial ao ser humano, simplesmente
tornou-se a nossa necessidade. É a linguagem verbal que nós possibilita transmitir os nossos
pensamentos, ideias e informações. E, de uma maneira semelhante, é a linguagem verbal que
possibilita aos jornalistas comunicar com a sociedade.
Actualmente, os meios de comunicação dominam toda a sociedade inlfuenciando a
formação da sua opinião e apoiando a difusão da língua visto que através dos meios de
comunicação chegamos a conhecer por exemplo, terminologia inovadora, a qual, à
continuação, divulgamos durante as nossas conversas com outros falantes/ouvintes.
Em consequência da importância dos meios de comunicação que referimos
anteriormente, achamos pertinente desenvolver este estudo sobre a linguagem usada nos
textos jornalísticos, particularmente, nos especializados na área de desporto. Os critérios de
selecção adoptados na realização deste trabalho tiveram em conta os objectivos como, por
exemplo, descrever a linguagem (estrangeirismos, siglas e gíria), produzidos nos meios de
comunicação, nomeadamente nos jornais: A Bola, Jogo, Record, Correio de Manhã, Público,
Diário de Notícias, no jornal regional Mafra e na revista semanal Sábado, que constituiriam o
corpus desta pesquisa.
Para alcançar o intuito pretendido, partimos da introdução ao jornalismo e os seus
pontos problemáticos visto que pretendemos explicar a importância dos meios de
comunicação de massas, porém são eles que influenciam, muitas vezes, as nossas opiniões
tendo assim bastante poder. A seguir, dedicaremos uma parte à linguagem jornalística onde
encontramos uma série de especificiades que ajudam os jornalistas a atingirem o efeito
desejado da mensagem transmitida. Uma pressuposição que constitui uma condição
indispensável para podermos desenvolver os nossos estudos consistiu em recolher os manuais
jornalísticos existentes que descrevem as especificidades do registro jornalístico, o qual,
passou, naturalmente, por várias fases de desenvolvimente até que atingiu o estado actual. É
preciso ter em conta que apesar das regras da escrita jornalística, o texto jornalístico
continuará sempre a deixar aos jornalistas algum espaço de criatividade.
7
Parte do nosso estudo será dedicada aos neologismos visto que fazem uma inevitável
parte da linguagem jornalística, sobretudo a desportiva. Porém, antes de nos concentrarmos na
área de neologismos, dedicaremos uma introdução à parte teórica relativa ao léxico português
apresentando os problemas e as marcas principais da composição do léxico da língua
portuguesa. Nesta parte, falaremos por exemplo, sobre a inovação vocabular que é
influenciada pela nossa necessidade de designar novas coisas, pessoas, lugares e conceitos.
Um dos aspectos de especial interesse, serão os estrangeirismos nos textos
jornalísticos desportivos. Achamos pertinente analisá-los visto que se trata de um fenómeno
inevitável, sobretudo num mundo globalizado como aquele em que vivemos e onde, graças
aos meios que possuímos, nos encontramos em contacto directo com as comunidades dos
falantes de outras línguas. O desporto pertence à área das actividades do homem na qual se
usam com frequência os estrangeirismos que aparecem no registro jornalístico. Isto significa
que é o jornalismo que contribui para a difusão dessas palavras. Até algumas expressões
estrangeiras como por exemplo goal average e ranking tornaram-se de tal forma comuns que,
hoje em dia, não sempre é possível substitui-las, tornando-se assim o seu uso frequente nos
jornais. Porém, nós procuraremos examiná-lo visto que existem casos nos quais os
estrangeirismos se podem substituir por palavras portuguesas. Seguidamente, iremos abordar
a problemática das siglas frequentemente usadas nos jornais portugueses visto que fazem
parte inesquecível dos textos jornalísticos. Acompanharemos esta parte com um pequeno
glossário de alguns estrangeirismos e siglas usadas com frequência nos textos jornalísticos.
A penúltima parte irá focar-se sobre a linguagem especial, primeiro do ponto da vista
geral e a seguir, da perspectiva do jornalismo desportivo. Isto significa que começaremos por
especificar o termo linguagem especial através das opiniões de vários linguistas para
podermos trabalhar com este termo, pois muitas vezes é empregado em sentido amplo e, por
vezes, considerada como gíria o que traz consigo vários problemas.
Hoje em dia, existe um número elevado de termos de linguagem especial que fazem
parte da linguagem desportiva. Mesmo que os jornalistas tentem evitar utilizá-la, em muitos
casos não o conseguem visto que, por vezes, é difícil substitui-la e se bem acertada ajuda a
manter o texto jornalístico mais vivo. Além disso, o objectivo dos jornais é aproximar-se aos
leitores e a utilização da linguagem especial pode facilitar esta aproximação, isto significa que
é usada, por vezes, com esta intenção. Iremos examinar em que circunstâncias é usada
enumerando alguns exemplos demonstrativos.
Dedicaremos a última parte ao inquérito cujo objectivo será analisar o conhecimento
geral de siglas, estrangeirismos e expressões de gíria seleccionados, tomando em consideração
8
também factores sócio-semânticos. Entendemos útil a realização deste questionário para
podermos avaliar o conhecimento dos leitores portugueses da linguagem especial usada nos
jornais desportivos.
9
2. Introdução ao jornalismo
A sociedade humana mostra, cada vez maior interesse em eventos culturais ou sociais.
Estamos habituados a receber informações de tudo o que se passa, seja, nas nossas
proximidades ou a distância. Estar informado faz parte da nossa vida quotidiana, pelo que,
milhões de informações sobre vários assuntos são emitidos, diariamente, pelos meios de
comunicação de massa.
Não há dúvida de que os meios jornalísticos tornaram a sociedade tendencialmente
mais conhecida e reconhecível por ela própria e contribuíram para a ocorrência de
modificações sociais profundas. Hoje em dia, as nossas decisões estão mais sujeitas à
observação pública embora nos tornemos, de algum modo, testemunhas dos acontecimentos,
que afectam a vida pública. Como já mencionou F. Colombo no seu livro, “o povo
transformou-se no público”.1
Como exemplo mencionamos a política que deixou de ser a mesma visto que há mais
informações sobre os processos e os protagonistas do mundo político. Os meios jornalísticos
influenciam as nossas decisões, sobretudo aquelas que dizem respeito a votos que damos aos
líderes políticos. Quer dizer que os meios jornalísticos nos influenciam, em grande medida,
sendo que aqueles políticos que não têm o apoio dos meios jornalísticos, não conseguem
medir as forças com os líderes que, nessa área, são dominantes.
Não é apenas o mundo político, mas sobretudo a relação da política e dos políticos
com a sociedade, que sofreram a influência dos meios de comunicação. Em geral, hoje em
dia, recebemos mais informações sobre a cultura, economia, mas também desporto. As
informações sobre a vida desportiva são muito mais trabalhadas pelos meios de comunicação,
sendo que as notícias sobre diversos eventos desportivos se viraram muito mais acessíveis a
todos. Hoje em dia, quase todos têm a consciência sobre a existência dos Jogos Olímpicos ou
por exemplo Campeonato Mundial do futebo. Tudo através dos meios jornalísticos.
Entre os meios de comunicação mais comuns que mais influenciam a nossa sociedade
conquistando hoje o lugar marcante, contam-se a televisão, a rádio, o jornal e a internet, sendo
os jornais os meios de comunicação que tem exercido uma constante influência na formação
das nossas opiniões desde os inícios da existência do jornalismo. Até os nossos dias, o jornal
acompanha-nos todos os dias e ganha grande popularidade o que se deve a várias razões.
Primeiro, o jornal caracteriza-se pelo uso do papel de imprensa o que contém bastantes
1COLOMBO, Furio: Conhecer o jornalismo hoje, Lisboa, Presença, 1998, p.41.
10
vantagens comparando com os outros meios jornalísticos; por exemplo, “a forma física
possibilita-nos a decisão no lugar e no momento da leitura.”2 Quer dizer que não somos
dependentes da hora da divulgação das notícias como ocorre, por exemplo, no caso da
televisão ou rádio. Além disso, o jornal oferece a possibilidade de escolher imediatamente na
hora a notícia que mais nos interessa, chega só virar a página certa, não nos limitando o tempo
de leitura, ao contrário da televisão ou da rádio, que apresentam uma cadeia de sequências
rápidas de notícias sem tomar em conta a disponibilidade temporal e perceptiva do ouvinte.
O que caracteriza a Imprensa é a linguagem que constitui a “arma” 3
do jornalismo. A
linguagem jornalística tornou-se progressivamente específica abrangendo certas regras que os
jornalistas deviam seguir.
Visto que especificaremos as normas e técnicas de expressão jornalística no capítulo
dedicado somente à linguagem jornalística, apresentemos neste momento só uma regra
essencial ligada com a tentativa de atrair ao leitor e conseguir satisfazer o largo público.
Todavia, os leitores não constituem uma única categoria sociológica facilmente identificável,
são todos e ninguém ao mesmo tempo, portanto a linguagem tem que ser aceitável tanto pelo
professor universitário como pelo trabalhador nas obras, daí a tentativa da simplicidade na
escrita jornalística.
Portanto, além dos aspectos positivos dos meios jornalísticos, como, por exemplo,
transmitir a actualidade para o público, existem também lados negativos visto que através
deles o poder comunica com a sociedade. De facto, quem tem o poder, tem que ter os media
ao seu lado visto que os media estabelecem o conteúdo dos jornais e assim orientam a opinião
pública. Além disso, os media decidem sobre o tema da nossa conversa porque o público fala
sobre os assuntos e as actualidades que nos oferecem os media. Essa realidade faz dos media
uma instância poderosa e pode ser muitas vezes relacionada com a manipulação do público,
problema ligado com a ética jornalística que será tratado no capítulo seguinte.
2.1. Ética jornalística
Antes de atingir a forma actual, a imprensa passou por um caminho dificultoso,
portanto trata-se do meio jornalístico mais antigo dos todos. Desde as suas origens, ela tem
enfrentado com vários obstáculos como, por exemplo, a falta das fontes, a força do poder ou o
risco de censura.
2GRADIM, Anabela: Manual de jornalismo, Covilhã, Universidade da Beira Interior, 2000, p.35. 3Idem, Ibidem, p.32.
11
Quanto à censura, não é nada pior para a imprensa jornalística do que o sistema de
informação que surge associado de uma forma directa e inequívoca aos interesses de uma
classe dirigente ou de um sistema político visto que se trata da manipulação com as pessoas
onde a regra básica do jornalismo, a liberdade da palavra, é atrofiada.
Todavia, a imprensa libertou-se, pelo menos na Europa, desse factor indesejável. Essa
grande liberdade de informação permitiu o nascimento de imprensa moderna cada vez mais
activa e presente nos acontecimentos quotidianos. Portanto, tal imprensa moderna leva
consigo certas responsabilidades visto que é ela que decide, de facto, quais acontecimentos
aparecem no jornal e de qual maneira serão apresentados.
Quanto à questão da escolha das notícias, em primeiro lugar, visto que o terreno é
muito amplo, é preciso de uma delimitação, já que nem todos os factos políticos, económicos,
sociais, científicos, artísticos ou desportivos merecem ser noticiados. Isto quer dizer que uma
das responsabilidades principais do jornalista começa logo no início com a decisão do que é
verdadeiramente digno de ser relatado e decidir sobre a publicação ou não das informações
recebidas. A decisão de seleccionar acontecimentos da actualidade traz consigo bastante
responsabilidade e não devia ser subestimada.
A seguir, depois de seleccionar a informação, os jornalistas relatando a realidade
observada dão a conhecê-la ao público. Porém, não se trata de informar de qualquer maneira
visto que um dos objectivos do jornalismo sério é informar com máxima de fidelidade e
objectividade a realidade do evento. Todavia, a questão da fidelidade e objectividade no
jornalismo é bastante complicada. De qualquer maneira, existem as normas codificadas do
jornalismo como, por exemplo, o Código deontológico, que estipulam os pontos dos
princípios deontológicos a atender pelos jornalistas. Este Código deontológico começa logo
pela primeira norma explicando que “o jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão
e interpretá-los com honestidade”4, portanto não é sempre tão simples. Não há dúvida que
consultaremos também outras fontes que mencionam, entre os pontos característicos do
jornalismo, a objectividade das notícias, porém, hoje em dia, a questão da objectividade, está,
incessantemente, discutida e questionada.
Actualmente, existem duas correntes essenciais devido à opinião sobre a objectividade
no jornalismo. Uma corrente, representada sobretudo pelos antigos estudiosos do jornalismo,
é da opinião de que a objectividade no jornalismo existe. Por outro lado, existe uma corrente
oposta que defende a opinião de que a objectividade jornalística não existe, pois nenhuma
4GRADIM, Anabela: Manual de jornalismo, Covilhã, Universidade da Beira interior, 2000, p.36.
12
notícia, por mais simples que seja, dispensa de uma valorização pessoal e de uma
interpretação discutível.
Por exemplo, o jornalista Manuel Piedrahita, sendo da opinião de que o jornalismo
objectivo não existe, considera-o até como um mito, explicando que “qualquer avaliação de
uma notícia pode ter não apenas dois ângulos mas trinta”.5 Logo, a seguir, como a
impossibilidade de atingir a objectividade no jornalismo, pode testemunhar a escolha do
assunto que será veiculado pelo jornalista. Quando se escolhe um facto e não outro, quando se
destaca certo aspecto, está-se a proceder a uma hierarquia que deriva do ponto da vista do
jornalista. Isto significa que a notícia contém, incontestavelmente, uma subjectividade.
Se a pura objectividade no jornalismo não existe, significa que o jornalista deverá
desocupar-se de todas as pretensões de rigor informativo? Daniel Cornu apresenta-nos a sua
solução desse problema: “Em primeiro lugar, a impossibilidade de atingir a objectividade
absoluta não significa a necessidade de seguir a absoluta subjectividade. Se a objectividade
pura não existe o certo é que o jornalismo informativo poderá ter como base os factos
objectivos. Isto quer dizer que o jornalista deveria procurar a objectividade tendo
consciência de conter em si a subjectividade.”6 Isto significa que o jornalista deve aproximar
à sua descrição da realidade do assunto, de acordo com a máxima de fidelidade, a qual inclui,
por exemplo, publicação de todos os dados, particularmente, os dados essenciais. No caso de
esquecer alguns dados importantes, o relato assim incompleto induzirá os leitores a uma ideia
falsa. Uma notícia desse género é, de facto, mentirosa.
Outros pontos que temos que abordar, quanto à ética do jornalismo, são a distinção
entre a valorização e opinião necessariamente incluídas e a manipulação e distorção dos
factos. Não há dúvida que há diferença entre a subjectividade necessariamente presente e a
decidida distorção da informação, pois a subjectividade não implica o desrespeito pelos
elementares critérios da objectividade. Por exemplo, J. Fenby, director de informação de
Reuter no seu livro Problemas de Informação sublinha: “Uma das responsabilidades
fundamentais de uma agência noticiosa é a de manter-se independente de todas as
influências, quer políticas quer comerciais.”7
Por outro lado, existe a corrente, de neo-jornalismo americano, que é da opinião de
que a subjectividade deveria ser presente nos jornais.
5PIEDRAHITA, Manuel: Jornalismo moderno, Lisboa, Maiadouro, 1993, p.57. 6CORNU, Daniel: Jornalismo e verdade: para uma ética da informação, Lisboa, Instituto Piaget, 1999, p.163. 7LETRIA, Joaquim: Pequeno breviário jornalístico, Lisboa, Notícias, 1999, p.18.
13
Em termos práticos, e adoptando a declaração da UNESCO, apontamos uma série de
factos na categoria de distorção da informação:
O realce de acontecimentos que não têm real significado;
O fabrico de notícias por junção de factos isolados que implicitamente se relacionam;
pretendendo dar uma informação global deformada;
A apresentação implícita de conclusões que não podem com justeza ser retirados dos
factos em análise;
A criação de factos políticos pela divulgação de notícias falsas que posteriormente se
transformam em realidade pelo simples facto de serem divulgadas como tal;
O controlo pelo governo ou por outras entidades impondo a divulgação apenas dos
factos que lhes são favoráveis;8
Além da dificuldade de evitar julgamentos pessoais do jornalista no texto jornalístico,
existem outros problemas, no jornalismo moderno, ligados à objectividade. Hoje em dia,
devido à grande concorrência, os jornais chamam atenção publicando as notícias, muitas
vezes, com conteúdo somente chocante sem qualidade informativa. De facto, as imprensas são
obrigadas, literalmente, a vender informações para sobreviverem, o que ameaça a
objectividade. De facto, essa realidade significa que mesmo que os jornalistas pretendessem
escrever objectivamente, a situação no jornalismo moderno, muitas vezes, não o permite.
Ao sumariarmos as informações dadas, “a subjectividade e a objectividade coexistem
no jornalismo visto que notícia é objectiva na medida em que traduz o acontecimento, é
necessariamente subjectiva na medida em que o representa e codifica segundo normas
sociais de comunicação”.9
De qualquer maneira, mesmo que não seja possível escrever objectivamente no
jornalismo, o bom jornalismo terá, pelo menos, por meta, atingi-la. “O que há a fazer é um
esforço honesto para chegar quanto possível a essa pretendida objectividade”10
acrescenta
no seu livro Manuel Piedrahita.
8Idem, Ibidem, p.19. 9PIEDRAHITA, Manuel: Jornalismo moderno, Lisboa, Maiadouro, 1993, p.57. 10Idem, Ibidem, p.35.
14
2.2. Linguagem jornalística
2.2.1. Variedades linguísticas
A forma da linguagem usada pelas pessoas depende de vários aspectos como, por
exemplo, a região em que a língua é usada, do contexto e da situação em que é utilizada, da
pessoa a que se destina a mensagem e dos costumes do grupo em que o usuário da língua
vive.11
Este fenómeno chama-se variedades linguísticas e pode-se definir como usos
diferentes da língua.
Assim, dentro de uma língua podemos diferenciar a linguagem formal da linguagem
coloquial (pode ser chamada também como informal). Cada uma dessas variedades
linguísticas usa-se em diferentes situações. Relativamente à linguagem informal, esta é usada
nas situações que vivemos todos os dias, seja, entre os nossos amigos ou na família. Essas
situações permitem-nos o uso da linguagem descontraída e espontânea como, por exemplo, o
emprego de formas reduzidas de palavras ou forma de organizar as frases da maneira
diferente da que permite a norma-padrão.
É evidente que a linguagem informal é influenciada pela área da nossa profissão e,
pelo grau da escolaridade, pelos grupos sociais que frequentamos. A seguir é influenciada
pelos grupos sociais que diferenciam as condições de existência e não têm comportamentos,
incluindo a actividade linguística, idênticos. Isto significa que “os grupos sociais e as classes
são as unidades parciais, sem realidade fora da sociedade global, a qual, só adquire
existência por intermédio das relações entre classes e grupos sociais. Estas relações diferem
pela sua qualidade, pelo seu grau, pela sua localização, etc.”12
Assim, na sociedade
aparecem as variedades linguísticas sociais, mas não só, temos que salientar que existem
também, variedades linguísticas geográficas que estão influenciadas pelo uso da linguagem de
uma região.
No que diz respeito à linguagem formal, esta segue as regras normativas da gramática,
utilizada nas situações formais como são, por exemplo, documentos oficiais, textos
científicos, discursos oficiais ou, seja, parcialmente textos jornalísticos que, por vezes, se
servem, por exemplo, das expressões de gíria, portanto não seguem sempre estritamente a
regras da linguagem formal.
Além da designação linguagem formal e coloquial usa-se para descrever as variedades
linguísticas assim chamados registos que podem ser reunidos em três grupos: registo corrente
11http://www.scribd.com/doc/19551115/Variedades-linguisticas 12GARMANDI, Juliette: Introdução à sociolinguística, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1983, p.51.
15
(o uso correcto da língua portuguesa que é utilizado com mais frequência pelos membros da
comunidade linguística), registo cuidado (usado nos discursos políticos, conferências
científicas etc.) e registo familiar (usado em família, entre amigos).
Todavia, existe uma tentativa de unificar a língua para preservá-la. Tal língua é
chamada na terminologia linguística língua comum que é “para além das variações locais e
sociais, e depois da supressão de todos os desvios, a forma única entre todas as formas de
dialectos, a forma que tende para a língua erudita sem se confundir necessariamente com
ela”.13
Para estabilizar e unificar uma língua, é preciso codificá-la. A necessidade da
codificação explica Juliette Garmandi em Introdução à sociolinguística a seguinte: “Se
codificar um sistema linguístico é tentar estabilizá-lo e unificá-lo, pelo menos relativa e
momentaneamente, torna-se evidente que o primeiro passo, e sem dúvida um dos mais
decisivos para a codificação de um léxico, de uma gramática e também de uma fonologia, é a
obtenção por empréstimo de um código escrito, e a sua adaptação, ou até a sua
elaboração.”14
De facto, a codificação da língua ocorre pela necessidade de estabelecer,
consolidar e expandir de forma apoiada o idioma e, por outro lado, “pelo desejo da sua
valorização e enriquecimento”.15
A seguir, Juliette Garmandi sublinha a importância dos utentes desta codificação que
descreve como “os utilizadores do código escrito”16
, que tal é um subgrupo de uma classe
social que é dominante mas que ainda está ligada a uma determinada região. Sublinha que
mesmo que esses utilizadores tenham os seus hábitos linguísticos regionais que nem sempre
podem perfeitamente eliminar, constituem um factor importante visto que são imitados até
nos seus hábitos linguísticos. “Ao estabilizar um sistema linguístico em que apenas surgem
limitadas divergências estruturais, os documentos escritos servem de maneira bem evidente a
codificação do sistema, mas também contribuem, e de maneira muito eficaz, para a
unificação política que os grupos que se vão tornando dominantes efectuam em seu
proveito.”17
Entre os grupos dominantes, utilizando do código escrito, pertencem, sem dúvida, os
mass média visto que são imitados pela maioria da população.Os mass média influenciam-nos
13GARMANDI, Juliette: Introdução à sociolinguística, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1983, p.49. 14Idem, Ibidem, p.51 15 Idem, Ibidem, p.52. 16Idem, Ibidem, p.49. 17 Idem, Ibidem, p.51.
16
pelos seus hábitos linguísticos por isso é muito importante o seu uso do léxico e a linguagem
usada.
Hoje em dia, a linguagem jornalística estabeleceu-se numa linguagem com as regras
predefinidas da escrita. Dado que escrever nos jornais, trata-se de uma acto formal, também a
linguagem usada devia ser formal. Mas como já mencionamos, nem sempre os jornalistas
seguem este caminho por várias razões. Qual é a linguagem jornalística apresentamos na
seguinte parte.
2.2.2. Especificações da linguagem jornalística
Faz anos que se começou a considerar que o jornalismo pode ser objecto dum
verdadeiro saber científico e classificar as Ciências da Comunicação entre disciplinas
científicas. Joaquim Letria estuda detalhadamente esta problemática e define a escrita
jornalística como “a ciência que se ocupa do estudo dos sinais naturais ou técnicos
ordenados numa unidade de pensamento, com objectivo de transmitir dados e ideias de
interesse geral, através dum meio de comunicações de massa”18
. O autor não se contenta
somente com essa definição, completando que “o saber jornalístico encontra-se vinculado às
disciplinas históricas pelo seu método, e ainda pela mesma consciência da actualidade,
embora se separando delas pelas peculiaridades do seu tratamento técnico, pelas suas
fundações sociológicas e pela sua dependência de critérios axiomáticos. Todavia, como todas
as ciências emergentes, necessita duma colaboração estreita com outras disciplinas, a fim de
manter e aprofundar o seu carácter científico: a Psicologia Social, a Sociologia, as Ciências
Políticas, a Economia, a Linguística, o Direito Privado, etc.” 19
Ao provarmos a parte científica do jornalismo, reparamos, por outro lado, que a escrita
jornalística tem incontestavelmente algo a ver com a criação artística, portanto, não pode ser
considerada como estritamente científica. Pois, não há muito tempo que o estilo jornalístico
era considerado como radicalmente literário.
É que o jornal não reflecte somente a actualidade, mas também a cria, faz a sua própria
agenda, leva algo de novo, em suma, é, de certa forma, criativo. Porém, um jornalista não
elaborará a mesma matéria de maneira idéntica ao seu colega, visto que ele produzirá um
texto diferente que conterá os mesmos factos, sendo as versões finais diferentes. Essa certa
criatividade e variedade da escrita têm, justamente, as suas raízes no estilo literário. Afinal,
18LETRIA, Joaquim: Pequeno breviário jornalístico, Lisboa, Notícias, 1999, p.17. 19Idem, Ibidem, p.17.
17
dar as notícias não são só espelhos rígidos e fiéis dos fenómenos, mas construções
metonímicas que se desenvolvem segundo formas de produção ritualizadas.
Por todos estes motivos adicionados, não é correcto considerar a escrita jornalística
como puramente científica, visto que não possui todas as características definidoras dum
verdadeiro conhecimento científico. Por outro lado, nem seria correcto considerá-la como
puramente literária, mesmo que seja formada num texto literário sendo assim o alvo duma
análise humanista por motivos de considerações estilísticas.
De qualquer maneira, o objectivo do jornalismo é transmitir a mensagem que tem. Um
carácter informativo realiza-se através das palavras dos jornalistas. Tal realização exigiu a
formação da própria escrita dos jornalistas com as suas características. Hoje em dia, os textos
jornalísticos levam uma identidade muito própria que permite identificá-lo a um simples olhar
entre muitos outros documentos. Tal identidade consegue-se observando as regras de
produção da notícia, mas também mediante um emprego cuidadoso da linguagem. Ao lado
das regras de produção da notícia, que ajudam a realizar um bom texto jornalístico, são
necessárias a competência do jornalista. Entre as capacidades do jornalista pertencem por
exemplo sobretudo a capacidade de síntese, condensação ou escorreito.
Já mencionámos o facto de que a imprensa criou sucessivamente a sua própria escrita
incluindo a própria linguagem. Tal escrita jornalística existe sob o signo da utilização
económica da linguagem. Na prática, em jornalismo, escrever bem quer dizer não utilizar
palavras longas, especializadas e complicadas. A seguir, a linguagem deve ser clara, precisa,
regular, com vivacidade e aceitável aos leitores, pois os jornais são feitos para largo público.
Para atingirem esses objectivos, os jornalistas devem seguir as regras de jornalismo
como, por exemplo, respeitar as estruturas curtas de frases. Além disto, a preferência é formá-
las pouco complexas, veiculando apenas uma ideia. Tudo condiz com o princípio de não
dificultar a compreensão do texto. Porém, as construções das frases longas com muitas
orações interpoladas causam confusões e desgostos.
A seguir, se a linguagem no género jornalístico deve ser precisa, é preferencial usar o
presente do indicativo ou o tempo passado visto que esses tempos exprimem tal precisão
necessária da acção. Isto não é o caso do tempo condicional. Esse tempo do verbo é preferível
utilizar em circunstâncias especiais visto que provoca dúvidas quanto aos factos ou à
credibilidade da fonte.
Além dos tempos verbais, é necessária muita cautela relativamente à carga semântica
visto que dizer não é o mesmo que denunciar, acusar ou relevar. A mudança dessas
expressões pode modificar o sentido total da frase e assim toda a notícia.
18
Além do condicional que denota a incredibilidade, não se recomenda também usar
excessivamente os adjectivos e advérbios, porque este género jornalístico não se desaproveita
em descrições, mas quer ser lúcido e definido. O abuso dos adjectivos ou advérbios torna “a
mensagem vaga e imprecisa”.20
Também, a clareza das notícias pode ser posta em perigo através do uso excessivo das
expressões como por outro lado, com efeito, aliás, entretanto etc. Essas expressões são
chamadas muletas linguísticas e servem para promover a ligação entre frases ou parágrafos.
Na maioria dos casos, tais expressões são inúteis e desnecessárias e o seu excesso arrisca
tornar os textos monótonos. Visto que a monotonia significa o prejuízo da escrita jornalística,
não é desejável utilizar, com frequência, neste género as muletas linguísticas.
Ao falarmos sobre o prejuízo da monotonia na escrita jornalística, não podemos
suprimir, conjuntamente, os clichés. Os clichés, também chamados os chavões, surgem
através do abuso das expressões idiomáticas tornando os textos jornalísticos uniformes e
cinzentos, tal como muletas linguísticas. Trata-se das expressões que “se desgastaram e
perderam o sentido ou se tornaram algo que gera uma reacção má em vez de dar o efeito
esperado”.21
Por esta razão, os clichés são o alvo das muitas críticas visto que, na praxe
jornalística, o seu uso significa a falta de ideias do jornalista e o seu preguiço de procurar
novidades.
Porém, ao abrirmos o jornal, podemos encontrar, sistematicamente, bastantes clichés.
Uns dos mais usados são os seguintes: “Um drama que se repete diariamente”22
ou “O mau
tempo provocou estragos”.23
Tais clichés resultando em rotina, fazem dos textos jornalísticos
extractos uniformes, cinzentos e sem invenção, por esta razão é aconselhável evitá-los.
Para acabarmos as regras jornalísticas, a escrita jornalística deve evitar as designações
pejorativas, as generalizações de grupos étnicos, religiosos ou profissionais visto que o
jornalista deve formular as suas perguntas de forma neutra, e usar da mesma neutralidade na
revelação dos factos.
Não há dúvida que a língua significa para o jornalista um instrumento essencial e
precisa dominá-lo perfeitamente. Sem prejuízo do que foi dito acerca da clareza e concisão, o
jornalista deve utilizar um vocabulário rico e escrever com ritmo, imaginação e originalidade.
Porém, a simplicidade é, por vezes, de todas formas, a mais difícil e trabalhosa de atingir.
20Idem, Ibidem, p.35. 21http://pt.wikipedia.org/wiki/Clich%C3%AA 22GRADIM, Anabela: Manual de jornalismo, Covilhã, Universidade da Beira Interior, 2000, p.35. 23http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Interior.aspx?content_id=879088
19
No que diz respeito à linguagem jornalística na rádio ou na televisão, temos que
salientar que se trata de um fenómeno diferente, comparativamente com a linguagem escrita
utilizada nos jornais, já agora porque a situação na rádio e televisão obriga aos comentaristas
usar e falar espontâneamente. A razão desta espontaneidade tem que se procurar em
realização directa que não permite aos comentadores a preparação do discurso, por outro lado,
em intenção manter à proximidade aquelas a quem suas mensagens se destinam. Assim são
usadas as expressões pela necessidade de dar dinamismo aos relatos dos comentaristas e
locutores. Não há dúvida que os comentaristas criam assim “os estilos próprios ao tomarem
em conta que os seus discursos transformam-se numa marca registada”.24
De qualquer maneira, os jornais, tal rádio e televisão têm particulares
responsabilidades na linguagem da população visto que são responsáveis pela nossa formação
e alteração da linguagem. Por isso o objectivo do jornalista deve ser a conjugação da clareza
com o rigor da linguagem.
2.3. Géneros jornalísticos
Os jornais divulgam os factos actuais de interesse geral, isto acontece sobretudo
através das notícias, mas nem só, o jornal é também uma fonte de cultura, entretenimento,
análises, opiniões e prazer para os seus leitores. No presente sub capítulo pretendemos
apresentar alguns géneros principais e mais usados nos jornais portugueses como notícia,
reportagem, entrevista e outros.
● Notícia
Notícia pertence entre um dos principais géneros jornalísticos. É o género jornalístico
rigorosamente objectivo. Entre as suas características essenciais contam-se as seguintes:
veracidade, actualidade e a capacidade de chamar a atenção dos leitores, sendo que os valores
que reproduzem interesse a acontecimentos actuais e verdadeiros são “a proximidade, a
importância e a originalidade”.25
Notícia, é pois, em princípio, tudo aquilo que um jornal
divulga. Ao estabelecermos a definição mais estreita, a notícia refere-se a textos informativos,
relativamente breves, directos, resumidos que são elaborados consoante às regras de
codificação bem determinadas: título, lead, subtítulo, corpo da notícia, construção por blocos
e etc.
24FEIJÓ, Luiz C.S.: A linguagem dos esportes de massa e a gíria no futebol, UERJ, RDJ, 1994, p.69. 25LETRIA, Joaquim: Pequeno breviário jornalístico, Lisboa, Notícias, 1999, p.23.
20
Qualquer notícia começa por título que tem por função chamar atenção dos leitores.
Por conseguinte, prefere-se o aspecto chocante e, não estranha que, frequentemente, o título
não dá sentido já que esta ilógica tendenciosa estimula a curiosidade de chegar a saber o que
fica dentro da notícia.
A seguir, aparece entrada (também chamado lead) que serve como o primeiro
parágrafo do texto informativo. O seu objectivo é caracterizar essencialmente o assunto da
notícia e deve responder ao leitor as seis perguntas: Quem, O Que, Quando, Onde, Porquê e
Como.
Abandonando entrada, chega o tempo para corpo da notícia, a base da notícia. Nessa
parte, o jornalista deve respeitar as regras técnicas de escrita jornalística pela pirâmide
invertida. “A pirâmide invertida é a técnica mais comum de construção das notícias que
consiste em ordem decrescente na importância ou hierarquia dos elementos de relevo da
própria notícia.”26
Visto que, hoje em dia, no mundo apressado, os leitores procuram arranjar informação
pelo caminho por menos complicado e por mais possível curto, uma notícia respeitando essas
regras principais de escrita jornalística possibilita-lhes a orientação fácil e brusca no texto.
● Reportagem
A reportagem é considerada como o género jornalístico de grande excelência, livre
quanto ao tema e objectivo na sua técnica de escrita. Tal como na notícia, o objectivo da
reportagem é avisar sobre algum tipo de evento, só que com a diferença de que a reportagem
usa um processo desigual da notícia. Enquanto que na notícia a linguagem é rigorosa e
cingida, a reportagem permite uma certa liberdade criativa e deixa assim ao escritor uma
criação literária. Conjuntamente, nesse género não é necessário seguir a pirâmide invertida,
praticamente depende de autor e de seu talento como elabora o tema. Portanto, não se trata da
reprodução rigorosa dos factos sem investigação individual como na notícia mas permite ao
jornalista narrar as histórias de uma maneira pessoal, criando assim uma obra que conta o
máximo de detalhes possíveis para levar os leitores o mais próximo possível dos
acontecimentos. Porém, não se confunda a realidade com a imaginação do autor, visto que a
reportagem obriga a objectividade, tal como acontece em todos os géneros jornalísticos.
Sobretudo nas reportagens modernas de hoje é mais presente a forte objectividade na
apresentação dos factos, explicando os dados com todos os detalhes e procurando formar
26Idem, Ibidem, p.24.
21
opinião daqueles a quem se destina. Joaquim Letria distingue três tipos de reportagens: “de
acontecimento, de acção e de entrevista.” 27
Cada um permite ao jornalista oferecer um tipo
de relato.
● Entrevista
A entrevista pode ser considerada como uma forma de reportagem de citações que tem
por objectivo revelar a personalidade do entrevistado. Entre os seus lados positivos pertence
sobretudo a “transferência de calor humano muito próprio”28
o que explica o sucesso tão
grande entre os leitores. Não há dúvida que as entrevistas das pessoas conhecidas atraiam os
leitores, e, é exactamente por esta razão porque os jornais colocam-na nos jornais com grande
vontade e tão frequentemente.
De facto, a entrevista é “a transição escrita de uma conversa”29
, mas como em todos
os géneros jornalísticos, ela deve seguir as regras de escrita jornalística do Código
deontológico. Especialmente, o jornalista tem que saber organizar a entrevista para obter
determinados resultados e formular assim as perguntas adequadas. A seguir, o jornalista não
pode mutilar as perguntas e nem respostas, deve ser discreto e sobretudo tem que respeitar as
palavras e o contesto das declarações da pessoa que se entrevista.
● A Crónica
Na crónica jornalística pretende-se “dar a conhecer uma informação interpretativa, de
eventos noticiosos onde se narra algo ao mesmo tempo que tal é comentado”.30
Visto que o
assunto da crónica é muito amplo, benevolente e não procura escrever somente sobre os
eventos existentes obrigatoriamente no real, aparecem assim nas crónicas, por exemplo, factos
curiosos do quotidiano ou, simplesmente, histórias interessantes. Trata-se de um género que
permite ao autor realizar a sua imaginação, liberdade poética e potencialidades estéticas o que
é a característica significante desse género. Com tal objectivo, a crónica ignorando as
rigorosas normas da escrita jornalística e tendo o carácter mais levo sem pretensões a grandes
efeitos políticos, tem por função de divertir e ser a fonte de prazer e estímulo intelectual para
os leitores. De facto, não há regras para realizar uma crónica o que faz da crónica o género
que se aproxima da expressão literária.
27Idem, Ibidem, p.36. 28
Idem, Ibidem, p.38. 29Idem, Ibidem, p.37. 30COLOMBO, Furio: Conhecer o jornalismo hoje, Lisboa, Presença, 1998, p. 32.
22
2.4. O jornalismo desportivo
O jornalismo e a imprensa abrangem larga noção e diversas áreas, como por exemplo
o jornalismo cultural relacionado exclusivamente à cultura ou o jornalismo desportivo
relacionado somente ao desporto.
Devido ao facto de que, hoje em dia, o desporto pertence ao repertório de um grande
número de indivíduos receptores, é matéria-prima das inúmeras mensagens transmitidas pelos
mass media e faz parte incontestável das notícias.
Porém, o mundo desportivo contém algumas marcas bastante específicas no
jornalismo comparando com outras áreas jornalísticas visto que quase tudo nessa área é
patrocinado. Isto significa que, de facto, tudo se vende, tudo se consome e por essa razão tudo
deve ser noticiado. Isto quer dizer que a imprensa tem por função, entre outras, noticiar, mas
ao mesmo tempo vender o que complica ainda mais, já tratada, a questão da objectividade.
No que diz respeito ao objectivo do jornalismo desportivo é o mesmo como do
jornalismo em geral: “dar a conhecer acontecimentos da actualidade.”31
Portanto, contém
certas marcas específicas visto que o jornalismo desportivo é relacionado exclusivamente às
actividades de exercício físico como, por exemplo, os eventos desportivos (Jogos Olímpicos,
Copas do mundo, treinos, campeonatos), as instituições (federações desportivas, clubes,
comités olímpicos) ou os eventos públicos (construções de estádios, Ministério do desporto).
Entre os sinais particulares do jornalismo desportivo pertence o facto de que, há pouco
tempo, o jornalismo desportivo não era considerado de grande importância e o seu lugar e o
espaço no jornal era bastante limitado. Porém, durante os últimos anos, na Europa, as
condições de vida mudaram o que provocou, igualmente, mudanças no âmbito desportivo dos
jornais actuais. Hoje em dia, as notícias desportivas são consumidas como uma forma de
divertimento pelos simpatizantes do desporto, garantindo aos media da imprensa uma
actividade produtiva que a cada dia se sofistica, por estão razão, estão presentes em quase
todos os complexos jornalísticos. De facto, este progresso causou a transição do desporto de
massas para o espectáculo desportivo o que estimulou o jornalismo desportivo a novas
competências técnicas. Com essa transição efectuada parece que a imagem duma pessoa que
vai no fim-de-semana assistir ao jogo do futebol e em seguida telefona para a redacção a
contar sobre o jogo pertence ao passado. De qualquer maneira, essa realidade é entendida
como grande desafio para o periodical desportivo.
31
LETRIA, Joaquim: Pequeno breviário jornalístico, Lisboa, Notícias, 1999, p.38.
23
Portanto, o jornalismo desportivo não é igual em todos os países visto que contém as
suas especificações em cada país. Furio Colombo no seu livro indica as ideias sobre a
especialidade do jornalismo de cada nação que definiu como o jornalismo nacional. Se
admitirmos a existência de um jornalismo nacional que se distingue pela tradição, pela
cultura, pelas técnicas, pelos interesses e sobretudo pela língua de cada país, o jornalismo
desportivo ocupa no jornalismo português um lugar especial e extremamente poderoso. Como
testemunha oferece-se facto de que os jornais desportivos como A Bola e Record, pertencem
entre os três diários portugueses de maior audiência. Para percebermos melhor a importância
do jornalismo desportivo na vida dos leitores portugueses, oferecemos a definição do
jornalismo português pelo Adelino Gomes, actual director adjunto do diário Público: “O
jornalismo português tem três heróis: um é individual e vou nomeá-lo: Tolentino da Nóbrega,
que há 20 anos é correspondente dos jornais do continente na Madeira e que, por tudo o que
já fez, bem merecia a Ordem da Liberdade: o segundo é o conjunto de jornais e jornalistas
dignos desse nome na imprensa regional portuguesa: o terceiro é o conjunto de jornais e
jornalistas dignos desse nome na imprensa desportiva.”32
Não há dúvida que Portugal, quanto ao desporto, é ligado sobretudo ao futebol. Ao
abrirmos qualquer jornal desportivo, o futebol ganha o maior espaço porque se trata do
desporto nacional, pelo menos quanto à observação dos jogos. O facto de que muitos
portugueses se identificam com o futebol, influencia o aspecto dos jornais desportivos em
Portugal. Por exemplo, existem os jornais como A Bola, Record ou Jogo que se consagram da
maior parte praticamente somente a área de futebol. O futebol ocupa, todavia, o lugar
principal também nos jornais que não se especializam em desporto. Como um exemplo
apresentamos Diário de Notícias onde encontramos uma divisão entre o futebol e o resto dos
desportos.
Quanto à escrita jornalística desportiva, também aqui os jornalistas pretendem não
utilizar palavras longas, complicadas e especializadas. Semelhantemente às notícias políticas,
também o jornalismo desportivo pretende chegar ao maior número de leitores possível.
Portanto, na área específica como é o desporto pode ser, às vezes, difícil seguir essa norma
visto que a terminologia desportiva contém muitas palavras especializadas que não convém
substituir pelas outras palavras. Esse facto torna a linguagem técnica delicada visto que nem
todos conhecem os termos desportivos.
32COLOMBO, Furio: Conhecer o jornalismo hoje, Lisboa, Presença, 1998, p.45.
24
Quanto aos géneros de textos no jornalismo desportivo, praticamente todos os tipos
são utilizáveis nas secções com respeito ao facto de que alguns tipos não se usam tanto.
Assim os jornalistas desportivas compõem notícias, reportagens, entrevistas, perfis e breves
de desporto que obedecem às regras gerais do jornalismo. Entre os géneros desportivos
usados frequentemente é crónica de jogo que faz parte dos jornais desportivos e generalistas.
Este género ocupa no máximo duas páginas e contém algumas vantagens visto que permite ao
jornalista escrever com um estilo livre. “Aspectos tácticos, opções dos treinadores, papel do
árbitro, ambiente da bancada”33
tudo pode aparecer no texto. Além dos aspectos
mencionados, na crónica de jogo podem surgir discordâncias relativamente aos jogadores que
receberam cartões amarelos ou até aos autores de golos etc.
Nos jornais desportivos a crónica está apresentada com a opinião dos intervenientes, já
que a demissão de um treinador pode ser mais importante do que o próprio jogo.
Nos jornais desportivos o esquema está predefinido e o espaço dedicado à crónica não
é alterado. A análise de uma partida de futebol ou de qualquer desporto é uma tarefa
subjectiva.
33 SOBRAL, Luís: Introdução ao jornalismo desportivo, Lisboa, Litografia Tejo, 1999, p. 46.
25
3. Neologismos no jornalismo desportivo
3.1. Campo lexical
O conceito do campo lexical era uma matéria antigamente considerada como o centro
das discussões. Hoje em dia, os linguistas não têm dúvidas sobre a existência desta teoria e
consideram-no como método válido da descrição das estruturas semânticas. Foram os
linguistas alemães Jost Trier e Leo Weisgerber que aplicaram pela primeira vez a ideia do
sistema de Ferninand Saussure ao léxico, ao afirmarem que “o conteúdo das palavras duma
língua não pode ser determinado de modo isolado, mas sim atendendo ao valor que as
palavras ocupam dentro duma organização articulada relativamente às palavras de sentido
afim”.34
Hoje em dia, considera-se que o léxico de qualquer língua é articulado em campos
lexicais que se definem como “um conjunto de unidades léxicas que dividem entre si uma
zona comum de significação com base em oposições imediatas”.35
Para analisar o léxico
usam-se os termos seguintes: arquilexema, lexema e sema.
No que diz respeita ao arquilexema, trata-se de uma “unidade que corresponde ao
conteúdo total de um campo lexical”.36
Lexema é a “unidade de conteúdo expressa no
sistema da língua e que ocupa uma parte de conteúdo do campo lexical”.37
As últimas são
semas que são consideradas como as “unidades menores constituídas por traços distintivos de
conteúdo e constitutivas dos lexemas”.38
Devemos sublinhar que o léxico de uma língua é constituído pelo conjunto de todas as
unidades lexicais que a integram incluindo as que são usadas pelos falantes da língua, assim
como unidades lexicais especializadas como, por exemplo, a terminologia que faz parte da
linguagem desportiva e assim do jornalismo.
3.1.2. Inovação lexical
Uma das características universais da linguagem humana é a mudança. Qualquer
língua é caracterizada pela mudança e pela inovação. Todas as línguas evoluem
34VILELA, Mário: Problemas da lexicologia e lexicografia, Porto, Livraria Civilização, 1979, p.34. 35VILELA, Mário: Estruturas do léxico de português, Coimbra, Almedina, 1979, p.60. 36VILELA, Mário: Problemas da lexicologia, Porto, Livraria Civilização, 1979, p.34. 37Idem, Ibidem, p.35. 38Idem, Ibidem, p.35.
26
necessariamente ao longo do tempo e “a ausência de evolução significa para elas a sua
morte”.39
Como já foi dito, o vocabulário lexical evolui e varia ao longo da nossa vida. Todos
obtemos um fundo do vocabulário que como tal não é idêntico ao dos outros já que vivemos
experiências e situações diferentes. Assim todas as pessoas obtém um fundo lexical que é
completamente diferente dos outros, no mundo não existem dois falantes da mesma língua
que conheçam as mesmas palavras, simplesmente cada pessoa possui um fundo lexical que,
de facto, é original.
De outro lado, a linguagem é considerada como o instrumento de comunicação
interhumana que possibilita a mútua compreensão da falantes que pertencem à mesma
comunidade.
A nosso língua é constituída por um vasto número de vocábulos que evolui, dando
origem a palavras novas que surgem em consequência “da necessidade de denominar novos
conceitos e novas realidades, que todos os dias vão surgindo”.40
Essas palavras novas são denominadas neologismos, isto é, as palavras “que entraram
há pouco tempo ou que ainda estão num processo de integração no léxico da língua”.41
Isto
significa que se trata das palavras que não existiam anteriormente na língua trazendo-nós um
novo conhecimento lexical, uma novidade. Isto significa que os neologismos podem
apresentar diversos tipos de novidade, nomeadamente: novidade formal, novidade semântica e
novidade pragmática.
Novidade formal significa que a sua forma significante é nova, trata-se “de uma forma
não atestada no estádio anterior do registo da língua”.42
A novidade formal é representada
pelas palavras novas que são construídas “com recurso a processos morfológicos ou
sintácticos de construção de palavras (novas palavras derivadas e compostas, siglas, etc.),
bem como as palavras que resultam de importação”.43
A seguir, tal novidade semântica é considerada quando o neologismos corresponde “a
uma nova associação significado-significante, isto é, uma palavra já existe adquire uma nova
acepção”44
, tornando-se assim polissémicas.
39CORREIA, Margarita& LEMOS, L.S. Payo: Inovação lexical em português, Lisboa, Edições Colibri, 2005,
p.10. 40Idem, Ibidem, p.9. 41MATEUS, Maria Helene Mira & NASCIMENTO, Fernando Bacelar: A língua portuguesa em mudança, In:
Cadernos de língua portuguesa 4, Lisboa, Edições Colibri, 2005, p.51. 42Idem, Ibidem, p.17. 43CORREIA, Margarita & LEMOS, L.S.Payo: Inovação lexical em português, Lisboa, Edições Colibri, 2005,
p.9. 44Idem, Ibidem, p.17.
27
Quando uma palavra usada num dado registo passa para outro registo da mesma
língua, falamos sobre novidade pragmática. “A novidade pragmática verifica-se nas palavras,
que sendo usadas num determinado registo linguístico, são atestadas num registo linguístico
diferente, evidenciando normalmente um significado diferente em relação àquele que
possuíam anteriormente.(....) Um mesmo neologismo pode, então, evidenciar, ao mesmo
tempo, tipos de novidade diferente, o que acontece com frequência.”45
Embora os falantes em geral reconheçam com facilidade as unidades da sua língua que
podem ser consideradas novas, nem sempre é fácil delimitar o conceito de neologismo.
Correia e Lemos ajuntam que uma unidade nova pode ser apenas considerada neológica “em
relação à época em que surge e ao estádio imediatamente anterior da língua, ao significado
que é actualizado num dado contexto (e que não o era num momento anterior) e ao registo
linguístico em que ocorre (em relação ao estado anterior desse registo). Um neologismo é,
então, uma unidade lexical que é sentida como nova pela comunidade linguística”.46
De
facto, uma unidade será considerada neológica se apresentar sinais de instabilidade de
natureza morfológica, fonética ou ortográfica. Por exemplo, a instabilidade morfólogica pode
traduzir-se na hesitação quanto ao género de uma palavra. Trata-se por exemplo de caso do
termo interface, em relação a cujo género se verificou hesitação quando a unidade surgiu no
contexto da informática. Hoje em dia, prevaleceu o género masculino na linguagem corrente
(o interface rodoferroviário). Igualmente, a nível ortográfico, uma nova palavra pode
apresentar grafias distintas o que é o caso de online, on-line ou on line.
Para incorporar palavras novas, os léxicos das línguas dispõem vários mecanismos.
Entre mais produtivos pode considerar-se a chamada ex nihili. Como a própria denominação
indica, a criação de palavras ex nihili consiste na invenção de novas formas lexicais a partir
do nada, isto é, de unidades que não apresentam qualquer tipo de motivação. Trata-se de um
processo muito raro nas línguas, dado que a tendência dos falantes é a criação por analogia,
ou tendo por base elementos já existentes. Como tal, são raros os exemplos deste tipo de
criação de palavras. Nós apresentamos os exemplos, gás e kodak que representam
importações na língua portuguesa.
Os neologismos podem dividir-se em formais (externos) e conceptuais (internos). O
neologismo formal é uma inovação na forma que surge através dos processos de derivação
45Idem, Ibidem, p.18. 46CORREIA, Margarita & LEMOS, L.S. Payo: Inovação lexical em português, Lisboa, Edições Colibri, 2005,
p.16.
28
prefixal, sufixal, parassintético; composição acronímia (por Sigla) ou redução. Como exemplo
apresentamos a sigla FIFA ou o verbo surfar.
O neologismo conceptual é uma inovação no significado e surge “pela configuração
metafórica, metonímica e por sinédoque, numa extensão do significado, por similitude ou
contiguidade”.47
Trata-se, por exemplo, do vocábulo internação:
“A internação de know-how (importação de tecnologia) acaba interferindo em
importantes aspectos da economia.”
Neste exemplo podemos observar que a palavra internação não foi empregada com o
seu significado básico de reclusão, mas recebeu um novo sentido, o de importação.
Para podermos completar a teoria sobre os neologismos, é preciso distinguir entre
língua e fala. Como a língua é “considerada o sistema de signos que é comum a uma
determinada comunidade linguística”48
, a fala é considerada “realização individual de
enunciados em situações de comunicação”.49
Os neologismos aparecem primeiro na fala onde
pertencem durante algum tempo. Como foi referido anteriormente, de todos os neologismos
produzidos ao nível da fala, apenas alguns passarão para a língua o que é considerado como o
sistema linguístico.
Para poder ser inseridas nelas, tem que usar com muita frequência e considerados parte
do sistema linguístico. Há palavras que são usadas unicamente por imitação (modismos), e
nem sempre são aplicadas com sucesso por falta de conhecimento dos seus usuários. Outras
ficam e perduram no tempo, acabando por ser dicionarizadas, perdendo o estatuto de
neologismo. As palavras que deixam de ser utilizadas convertem-se em arcaísmos.
Para serem aceites pela comunidade, os neologismos devem ser “respeitáveis, gerais e
actuais”.50
Porém, isto não chega, a seguir devem estar de acordo com “as tendências
linguísticas com o espírito de evolução e com o génio ou espírito da língua”.51
Os neologismos são tratados pela neologia que é considerada como “um estudo da
criação da palavra ou conjunto de palavras, de sua produção e aparecimento, num momento
47Idem, Ibidem, p.158. 48Idem, Ibidem, p.18. 49Idem, Ibidem, p.18. 50Idem, Ibidem, p.158. 51Idem, Ibidem, p.158.
29
dado da história da língua.”52
Porém, vários linguistas debruçaram-se sobre esta temática
várias definições.
A neologia é tradicionalmente entendida como uma denominação que corresponde a
dois conceitos. O primeiro conceito diz que a neologia “traduz a capacidade natural de
renovação do léxico de uma língua pela criação e incorporação de unidades novas, os
neologismos”.53
O segundo conceito de neologia é entendido como “o estudo dos neologismos
que vão surgindo na língua”.54
É preciso entre os neologismos contam-se igaulmente os vocábulos cujo uso não chega
a generalizar-se e os vocábulos que permanecem na língua por pouco tempo. Habitualmente,
os estudos de neologia servem-se da base em corpora dos meios de comunicação social:
jornais, revistas, emissões de rádio e televisão dado que os meios da comunicação informam
sobre algo novo contendo ao nível temático uma larga diversificação o que probabiliza
encontrar neologismos.
Como foi referido anteriormente, uma das características universais da linguagem
humana é o facto de que todas as línguas possuem mecanismos capazes de gerar novas
palavras, os neologismos. Todavia, o que nos interessará dos neologismos nas partes
seguintes, serão os estrangeirismos e siglas.
3.2. Neologismos: uma linguagem dinâmica e actual no jornalismo
desportivo
Não há dúvida de que são os meios de comunicação que condicionam as tendências
linguísticas dos falantes, sobretudo ao nível do vocabulário usado. Como já mencionámos na
primeira parte, os meios de comunicação de massa, tal como a imprensa escrita ou
audiovisual, dominam toda uma sociedade pretendendo atingir os mais diversos extractos da
nossa sociedade.
É evidente que em Portugal existe uma grande concorrência entre os jornais
desportivos o que os obriga a ser originais e a manter actualizada a linguagem que utilizam
para captar o maior número de leitores, mantendo-os informados da realidade envolvente.
52CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley: Nova gramática do português contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá
da Costa, 1997, p.82. 53CORREIA, Margarita & LEMOS, L.S. Payo: Inovação lexical em português, Lisboa, Edições Colibri, 2005,
p.9. 54Idem, Ibidem, p.9.
30
Para isso os jornalistas servem-se de neologismos pretendendo criar “uma linguagem
dinâmica e actual”.55
De facto, os textos jornalísticos ajudam a conhecer as novas palavras aos leitores que
assim conseguem correlacionar o conteúdo da informação com o contexto onde estão
inseridos. Deste modo, adquirem as novas palavras de maneira natural e utilizam-nas no seu
discurso quotidiano, mesmo que não aprendam o seu significado no imediato.
O jornal transporta praticamente informação a uma dada comunidade que veicula
novos termos que passarão a fazer parte do vocabulário da sociedade. “Cada vez que um
membro dessa comunidade tome contacto com indivíduos de outras comunidades será feita a
transmissão das novas palavras, neologismos, que por sua vez integrarão um novo código
linguístico.”56
3.2.1. Estrangeirismos
Não há dúvida que os contactos com outros países influenciam bastante as nossas
línguas enriquecendo o nosso vocabulário. De facto, é inevitável a importação das palavras
estrangeiras, sobretudo não num mundo globalizado como aquele em que vivemos e em que,
graças aos meios que possuímos, nos encontramos em contacto directo com comunidades
falantes de outras línguas. Obviamente, trata-se de um fenómeno que é e será presente cada
vez com maior frequência visto que são as novas tecnologias, política, ciência e também
eventos desportivos que possibilitam este intercâmbio.
Actualmente, dado o predomínio da língua inglesa como língua de comunicação
internacional, a maioria das restantes línguas é importada de palavras da língua inglesa. É
importante salientar que esta situação é relativamente recente visto que ainda antes da II
Guerra Mundial foram exportadas outras línguas como, por exemplo, o francês. Isto significa
que não é apenas hoje que o fenómeno de importação de palavras tem um impacto
significativo na língua portuguesa. A importação de palavras estrangeiras teve sempre um
factor importante de inovação lexical da língua portuguesa visto que, antigamente, foram
importadas grande número das palavras das línguas faladas nos territórios descobertos e
colonizados. Simplesmente, o movimento de palavras de umas línguas para o português é
uma fenómeno que sempre existia, portanto é natural e faz parte da língua portuguesa.
55CARVALHO, Nelly: Linguagem jornalística: Aspectos inovadores, Recife, Associação de Imp. de
Pernambuco,1983, p.19. 56 Idem, Ibidem, p.19.
31
Relativamente à integração das palavras novas em línguas, trata-se, do ponto de vista
linguístico, “de um processo em que as palavras do léxico de uma determinada língua
passam para o de outra”.57
As palavras estrangeiras integradas em português são designadas
por diferentes denominações como, por exemplo, empréstimo ou estrangeirismo.
Porém, é preciso salientar que as gramáticas mais antigas da língua portuguesa
estabelecem uma distinção entre esses termos. De acordo com esta distinção estrangeirismo
denotava uma unidade importada de outra língua que não sofreu quaisquer adaptações à
língua chegada (por exemplo software), entretanto empréstimo denotava uma palavra
estrangeira que se adoptou ao sistema linguístico de acolhimento, no caso do português, foi
aportuguesada (por exemplo botão, a palavra que vem do francês bouton). Como foi referido
anteriormente, as gramáticas recentes, por vezes, não distinguem a diferença entre os termos e
consideram-nos como sinónimos.
Quanto à definição dos estrangeirismos, começamos pela definição do linguista Luiz
Feijó que é de opinião que se trata das palavras que “não se encontravam no vocabulário de
uma língua durante algo tempo, isto significa que apareceram mais tarde não surgindo pelo
aproveitamento dos elementos linguísticos disponíveis que disponibilizava a língua básica de
origem”58
, a seguir, completa que “são as palavras que representam criações novas para
designar produtos e objectos”.59
Ajuntamos que os estrangeirismos são novas palavras que
são importadas dos outros países, trata-se então do acrescimento do léxico através das
palavras de origem estrangeira. Se a palavra integrada em sistema linguístico é de origem
francesa, falamos sobre galicismo, no caso de ser de origem inglesa, é anglicismo, de origem
latina, latinismo, do italiano, italianismo, do castelhano, castelhanismo etc.
A presença de termos derivados de outras línguas é um facto marcante em português
como se refere em Nova Gramática do Português Contemporâneo: “são inevitáveis as
inovações e os emprestimentos”.60
Não há dúvida de que em nenhum lugar do mundo existe uma língua pura, pois
qualquer língua é resultado de séculos de intercâmbios com outros povos, outras culturas e,
consequentemente, outras línguas, assim acrescente o léxico de uma língua.
O acrescimento do léxico realiza-se “pelo aparecimento de novos termos que surgem
através de criação ou adaptação”.61
Os estrangeirismos nascem por última referida,
57Idem, Ibidem, p.35. 58FEIJÓ, Luiz C.S.: A linguagem dos esportes de massa e a gíria no futebol, UERJ, RDJ, 1994, p.65. 59Idem, Ibidem, p.65. 60CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley: Nova gramática do português contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá
de Costa, 1998, p.7.
32
adaptação. Para considerar um vocábulo novo como o estrangeirismo, o processo da
adaptação deve ocorrer sem grandes alterações e mantendo o mesmo sentido, porém é
inevitável, por vezes, a influência pela língua de recolha: “As inovações devem conformar-se
ao génio da língua. Os vocábulos importados devem ser traduzidos ou aportuguesados.”62
As palavras novas traduzidas literalmente das línguas estrangeiras são designadas na
linguística pelo nome decalque (a palavra é de origem francesa e significa cópia ou imitação).
Trata-se da importação do sintagma cujos elementos são traduzidos literalmente por
elementos do próprio português, seguindo o modelo da língua estrangeira. Como um exemplo
apresentamos o decalque alta costura que vem da tradução literal da palavra francesa haute
couture ou arranha-céu que é de origem inglesa skyscraper. Como o outro exemplo
apresentamos o decalque cachorro-quente cuja origem deve ser procurada em língua inglesa
hot-dog. O facto de os decalques não ocorrerem igualmente em todas línguas, testemunha o
último exemplo referido visto que em checo ou francês usa-se o estrangeirismo hot dog sem
tradução literal.
A seguir, existem as palavras estrangeiras que se adaptam ao nível fonético,
morfológico e ortográfico, isto significa que as palavras são influenciadas pelo português,
simplesmente são aportuguesadas. A adaptação ocorre se a própria língua tem falta de um
equivalente: “Na falta de um vocábulo português precisamente correspondente, isto é, na
falta do equivalente perfeito à acepção do estrangeirismo, este será incorporado como
neologismo necessário, aportuguesando-se conforme as regras etimológicas e tendências
fonéticas.”63
Ao nível fonético, ocorrem as adaptações como a substituição de segmentos não
existentes na língua de chegada. Consequentemente, têm que ser substituídos por outros nela
existentes o que acontece com acentos das palavras. A adaptação ao nível ortográfico consiste
na adaptação de uma grafia de acordo com as normas ortográficas da língua portuguesa. A
adaptação ao nível morfológico consiste, por exemplo, na adaptação do género que, por vezes,
é distinto da língua de origem.
Neste grupo dos estrangeirismos pertencem, por exemplo, os estrangeirismos como
chá ou lasanha. Entretanto, Nelly Carvalho reconhece mais um tipo dos estrangeirismos no
61Idem, Ibidem, p.8. 62FURTADO, Major Sebastião da Silva: Os neologismos e a cartografia, Lisboa, Separata da Revista Portugal –
Séria: A língua portuguesa – Volume XXVII, 1963, p.160. 63CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley: Nova gramática do português contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá
de Costa, 1998, p. 7.
33
qual ocorrem menos mudanças, apenas com a consequente adaptação fonética. Como um
exemplo apresenta as palavras como show, shopping ou perestroika.
A seguir, é preciso levar em consideração se o estrangeirismo foi adoptado ao
português directamente da língua de origem. No caso de ser derivado directamente, falamos
de estrangeirismos directos, como, por exemplo a palavra futebol que vem directamente do
inglês football.
Ao contrário, os estrangeirismos que passaram da língua fonte por uma intermediária
no processo de adaptação indirecto, são considerados como indirectos. Como um exemplo
apresentamos humor cuja origem é francesa (palavra-origem: humeur) mas o elemento
intermediário é de origem inglesa humour.
Nelly Carvalho classifica “os estrangeirismos relativamente à sua função, intenção ou
necessidade de uso em denotativos”.64
Esses estrangeirismos têm função referencial e
“introduzem um objectivo ou conceito novo em sua cultura, de acordo com a cultura
exportadora”.65
Ao lado dos denotativos, existem estrangeirismos conotativos que têm função
expressiva, “sendo um recurso estilístico usado como imposição de expressividade”.66
Contudo, temos que sublinhar que os estrangeirismos não são considerados como
estrangeirismos os hibridismos. Como um exemplo apresentamos as palavras automóvel ou
televisão, onde se trata da composição do grego e português, isto significa das línguas
estrangeiras, todavia, esses elementos são considerados perfeitamente como já integrados no
sistema lexical da língua portuguesa, quando da sua formação.
3.2.1.2. O processo de integração dos estrangeirismos
É preciso salientar que a integração dos estrangeirismos numa língua processa-se por
fases que correspondem ao tipo de transformações evidenciais pela palavra. Assim
reconhecemos a primeira fase que é designada como transformação imediata, a segunda fase
que se chama transformações progressivas e a terceira fase conhecida por integração no
léxico. A cada uma dessas fases corresponde um conjunto de fenómenos linguísticos
específicos.
Dado que oitenta por cento dos neologismos estrangeiros encontrados têm a origem
inglesa, demonstraremos nas seguintes partes sobretudo os exemplos desta língua.
64CARVALHO, Nelly: Linguagem jornalística, Recife, Associação de Imp. Pernambuco, 1983, p.46. 65Idem, Ibidem, pp.70-74. 66Idem, Ibidem, pp.70-74.
34
Quanto à primeira fase, trata-se de um processo em que nós entramos em contacto
com a palavra estrangeira. Isto significa que usamos a palavra estrangeira ao introduzirmos
logo transformações que são tanto mais significativas quanto maior é presente a diferença
entre as línguas. As mudanças que ocorrem na primeira fase de integração descritas são: a)
adaptação fonética imediata, b) adaptação morfo-sintáctica imediata, c) monossemia:
manutenção de apenas um dos significados que têm na língua de origem, d) grafia da língua
de origem, e) hesitação nos tipos gráficos.67
Relativamente à adaptação fonética, trata-se, por exemplo, das alterações de sons.
Essa adaptação está relacionada com o facto de não existirem, na língua de origem, os
mesmos segmentos. Isto acontece, por exemplo, com as palavras que contém as vogais nasais
como no caso das palavras de origem francesa. Comparando com as vogais nasais em
português, as do francês são por natureza mais abertas, porém, adaptando-se em português
viram-se menos abertas.
A adaptação morfo-sintáctica pode ser relacionada por exemplo, com o género. O
género é uma categoria morfo-sintáctica que pode, em processo da adaptação, variar de língua
para língua. Este facto é influenciado pelas diferenças de géneros em línguas. Por exemplo,
enquanto em português existem dois géneros (feminino e masculino), há línguas como inglês
que possuem três géneros (feminino, masculino e neutro). Isto significa que no caso de
aparecer uma palavra que na língua de origem possui o neutro, em português tem que lhe ser
atribuído um novo valor de género.
Normalmente, aos nomes comuns do inglês é atribuido o género masculino, é por essa
razão que nomes como flash, ketchup e software são masculinos em português. Porém, se a
palavra estrangeira for acabada em /a/ na língua de origem, existe uma probabilidade alta de
adquerir o género feminino (a bazuca de origem inglesa bazooka).
A seguir, a palavra estrangeira integrada numa língua faz parte do processo da
adaptação semântica. No caso de adaptação de uma palavra estrangeira em português,
acontece que será usado somente um dos significados da língua de origem mesmo que em
língua de origem tenha mais significados: “na primeira fase de integração, os
estrangeirismos tendem a ser monossémicos, isto é, a ter apenas um significado.”68
Assim, é
possível encontrar no corpus REDIP69
várias palavras importadas, por exemplo, de inglês, que
67Idem, Ibidem, p.38. 68MATEUS, Maria Helena Mira & NASCIMENTO, Fernando Bacelar: Língua portuguesa em mudança,In:
Cadernos de língua portuguesa 4, Lisboa, Edições Colibri, 2005, p.42. 69O corpus REDIP (Rede de Difusão Internacional do Português: rádio, televisão e imprensa) é um projecto
desenvolvido pelos Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTC) pretendendo dois objectivos.
35
diversos significados o que não acontece no português onde está apresentado apenas um
significado restrito.
Relativamente à ortografia dos estrangeirismos na primeira fase, essa dependerá de
factores extralinguísticos, nomeadamente os que são relacionados “à normalização e à
política de integração dos estrangeirismos na língua”.70
Em geral, as palavras estrangeiras
que se encontram nesta primeira fase escrevem-se da maneira idêntica à da língua de origem.
Pelo facto de serem aceites como estranhas, é comum ocorrerem com tipos gráficos distintos
como, por exemplo, com aspas ou em itálicos e etc.
A seguir, apresentamos os aspectos caracterizadores das palavras que se encontram na
segunda fase do processo de integração, transformações progressivas:
a) aprofundamento progressivo da adaptação fonética e morfo-sintáctica
b) possibilidade de formação de novas palavras por composição e prefixação tendo
com base o estrangeirismo
c) aparecimento de formas gráficas em alternativa às da língua origem71
Relativamente à adaptação fonética desta fase, trata-se sobretudo da adaptação do
acento. As palavras de origem inglesa põem o acento na última vogal do radical dos nomes e
adjectivos o que não é comum em inglês. Isto significa que algumas palavras manifestam
mudança acentual quando pronunciadas em português o que é visível no caso dos vocábulos
compostos e prefixados, como se pode ver nos casos chéck-in e check-ín.
Um outro aspecto interessante da adaptação fonética diz respeito a sons, neste caso os
consoantes, que fazem parte do sistema da língua de origem mas não pertencem à língua
importadora. Por exemplo, o inglês possui consoantes [dᵹ] [ʧ] que ocorrem em palavras
como, por exemplo, jeans e chat.72
Porém, estas consoantes não existem em português.
Assim, quando as palavras de origem inglesa que possuem essas consoantes passam a integrar
Como primeiro objectivo é construir uma base de dados apresentados em textos difundidos através dos meios de
comunicação social, isto são: rádio, televisão e empresa escrita. Segundo objectivo relacionado com a construção
de uma base é descrever português europeu utilizado nos Media trazendo informação relativamente ao suas
propriedades lexicais, gramaticais, semânticas e discursivas. O corpus contem por volta de 330 000 expressões
dividindo em 6 campos: desporto, cultura, notícias, economia, opinião e ciência. 70MATEUS, Maria Helena Mira & NASCIMENTO, Fernando Bacelar: Língua portuguesa em mudança,In:
Cadernos de língua portuguesa 4, Lisboa, Edições Colibri, 2005, p.43.
71Idem, Ibidem, p.42. 72Idem, Ibidem,p.43.
36
o léxico do português, as referidas consoantes são pronunciadas como [ᵹ] e [ᶘ], como os sons
iniciais das palavras já e chá.73
Outro problema surge com o plural das palavras integradas do inglês. Relativamente
aos nomes, mantém-se o sufixo do plural – o s, por isso o plural do email funciona como em
português emails.
Relativamente à representação gráfica, nesta segunda fase, os estrangeirismos
começam a aparecer nos textos com grafias alternativas à da língua portuguesa dado que a
adaptação ocorre, em primeiro lugar, de acordo com os padrões fonológicos da língua
portuguesa. Essa fase é caracterizada pelo facto de serem as consoantes e vogais originais
substituídas por consoantes e vogais tão próximas que não são mais reconhecíveis por suas
formas como estrangeirismos (em inglês goal – em português golo).
No caso de se encontrar a palavra estrangeira na última fase chamada integração no
léxico, deixa de ser verdadeiro estrangeirismo visto que se integraram completamente no
léxico português aproximando-se dos vocábulos portugueses. Assim é a fixação do acento que
indica a estabilização fonológica e a integração no léxico. Relativamente ao nível morfológico
dos estrangeirismos, é a fixação do plural e a possibilidade de integrar as estruturas
derivacionais da língua que indicam a integração no léxico. A nível semântico, as formas
integradas tendem a tornar-se polissémicas comparando com a primeira fase na qual as
palavras estrangeiras são monossémicas. Em termos de grafia, as palavras que se encontram
nesta fase tendem a apresentar uma atestação lexicográfica normalizada. É preciso sublinhar
que existem palavras que nesta fase continuam a manter a grafia da língua de origem como,
por exemplo, design, feedback ou internet.
3.2.1.3. Estrangeirismo no jornalismo desportivo
É evidente que o desporto pertence às áreas que importam, com frequência, muitas
palavras estrangeiras. Um dos pontos marcantes deste fenómeno é que, por vezes, as palavras
importadas não têm nenhum equivalente em português. Assim, as pessoas que não conhecem
bem a linguagem desportiva, podem ter dificuldades de percepção de palavras estrangeiras
relativamente (no seguinte exemplo relationadas ao jogo de ténis ) Roger Federer:
“Quando executei um extraordinário forehand e salvei o ponto de break a 3-4 no
terceiro set, fiquei com a sensação de que poderia ser o ponto de viragem. A partir daí
o ambiente em redor do court tornou-se espectacular.”74
73Idem, Ibidem, p.44. 74O Jogo, 2.6.2009, Ano 24º, n.º 101, director: Manuel Tavares, In artigo:Talento após o sufoco, p.32.
37
Nas duas frases aparecem logo quatro estrangeirismos forehand, set, break e court que
podem deixar o leitor confuso por não conhecer a terminologia de ténis. Porém, dois dos
estrangeirismos referidos têm o seu equivalente em português, assim o jornalista em vez de
forehand podia utilizar a palavra portuguesa golpe de direita e em vez de court optar por
campo.
Em muitos casos, os estrangeirismos na linguagem desportiva são de origem inglesa.
Todavia, este facto é muito visível, não só na língua portuguesa mas em várias línguas, como
por exemplo, na língua checa. A razão deste fenómeno, segundo o linguista R.H. Robins é
que “um resultado linguístico visível do desenvolvimento e popularização do desporto
organizado britânico do século XIX resultou em grande número de termos de desportos que
são de origem britânica em línguas europeias e em outras.”75
Contudo, é evidente que actualmente os eventos desportivos, como, competições e
campeonatos apresentados pelas comunicações de massa são responsáveis pela troca de novas
palavras. Estas são sobretudo de origem inglesa contribuindo assim ao enriquecimento
vocabular do povo no mundo inteiro.
É preciso sublinhar que nos jornais desportivos aparecem muitas palavras usadas em
desporto que são de origem estrangeira, porém, já integradas inteiramente no léxico
português. Isto significa que ao nível ortográfico ocorreram as adaptações de uma grafia com
as normas ortográficas da língua portuguesa. De facto, hoje em dia, muitos nomes dos
desportos não são considerados entre as pessoas como estrangeirismos visto que se integraram
completamente no léxico português. É o caso das palavras futebol (football), basquetebol
(basketball) ou voleibol (volleyball) que apresentaram a adaptação da grafia em consonância
com as normas ortográficas da língua portuguesa, simplesmente foram aportuguesadas. Além
deste facto, ao procurar os seus equivalentes em língua portuguesa, não os encontramos.
A partir de algumas palavras de origem estrangeira é possível criar derivações da
língua, por exemplo, por sufixação: bodyboard → bodyboardista; surf → surfar → surfista
→ surfada; sprint → sprintar → sprintista. Porém, nem todas as derivações são preferíveis e
aparecem nos jornais desportivos. Nomeadamente, ao estudar durante algum tempo os textos
jornalísticos, não chegámos ao contacto com a derivação surfar, em muitos casos os
jornalistas optaram pela expressão fazer surf:
75ROBINS, R.H.: Linguística geral, Porto Alegre/RDJ, Globo, 1981, p.35.
38
“Hoje os miúdos aprendem a fazer surf com técnica e acompanhamento
especializado.”76
Relativamente aos decalques, um dos usados com muita frequência é meia-final ou sua
variação meias-finais:
“Nos masculinos, Fernando González e Robin Soderling vão defrontar-se nas meias-
finais.”77
Porém, existem os decalques que em Portugal não entraram na consciência das
pessoas como meio-tempo cuja origem é preciso procurar em tradução literal da palavra
inglesa half-time. É preciso sublinhar que este termo usa-se com frequência no Brasil.
Todavia, nos jornais desportivos portugueses encontramos, de facto, apenas a expressão, o
intervalo:
“Ao intervalo, o jogador estava sentado no balneário, na extremidade do banco, a
ouvir as instruções do treinador (...)”78
Muitos desportos nasceram ou eram praticados com grande frequência em Inglaterra,
ao longo de muito tempo, o que justifica a importação dos termos desportivos e a sua tradução
literal sobretudo do inglês, caso de todos os exemplos referidos supra.
Observámos nos jornais desportivos que um dos estrangeirismos usados com mais
frequência foi ranking, visto que é utilizado em quase todos os desportos: ranking ATP,
ranking WTA, ranking UEFA ou ranking UCI etc. Apresentamos os seguintes exemplos infra:
a) Da área de ténis “O n.º 2 do Mundo perdeu os dois primeiros sets e este em
desvantagem por 3-4 no terceiro parcial frente ao alemão Tommy Haas, 63. do
ranking ATP (....)”79
b) Igualmente da área do ténis “Ontem, a protagonista foi a jovem romena Sorana
Cirstea, de 19 anos, n.º 41 do Mundo, que eliminou a sérvia Jelena Jankovic, 5.º
do ranking WTA.”80
76 http://www.jornaldepeniche.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=927&Itemid=5 77O Jogo, 3.6.2009, Ano 24º, n.º 102, director Manuel Tavares, In: Cibulková quase oferece, p.34. 78 http://www.maisfutebol.iol.pt/basquetebol/basquetebol-morte-wildemond/1098277-1453.html 79Idem, Ibidem, p.30. 80Idem, Ibidem, In: Jankovic cai aos pés de Cirstea, p.30.
39
c) Da área do ciclismo “O júnior David Rodrigues competirá, em cross-country, na
InfoTre-Lee Cougan, equipa italiana posicionada, no final de Outubro, no 31º
lugar do ranking UCI.”81
Na última frase referida aparece mais um estrangeirismo cross-country que é uma
modalidade desportiva relativamente à competição do ciclismo de montanha. Nomeadamente
nesta área desportiva, usam-se muitos termos de origem inglesa o que pode dificultar a leitura
dos jornais. Obviamente, nos desportos que apareceram recentemente e são praticados
sobretudo pelos jovens, podemos encontrar muitos estrangeirismos. É o caso do ciclismo de
montanha, assim como do basebol:
“(...) De salientar os dois “home runs” dos sharks João Vieira da Silva e Rui
Andrade.”82
Outro exemplo deste caso é o golfe, que apareceu em Portugal mais tarde, e contém
muitos estrangeirismos que os leitores nem sempre sabem o que significam:
a) “Lima, no Open de País de Gales, terminou com 76 pancadas, com 7 bogeys e 2
birdies.”83
b) Tiago Cruz não passou ontem o “cut” no Open Karnten (...84
)
Um dos desportos onde se vê um número alto dos estrangeirismos, é o surf. Porém, ao
ler um artigo sobre um campeonato de surf, encontramos os estrangeirismos não apenas
usados para descrever, por exemplo, os aspectos terminológicos que não têm o equivalente em
português mas também:
“Outro ponto de realce nesta boat trip é a presença de treinadores full-time junto dos
surfistas.”85
Estamos de opinião que, de um lado, pode se tratar de um fenómeno ligado com a
tentativa aproximar-se ao leitor jovem visto que o boat trip poderia ser substituído por
viagem do barco e full-time por durante tempo inteiro. Hoje em dia, este fenómeno é
81 http://jornalciclismo.com/?p=10579 82 O Jogo, 5.6.2009, Ano 24º, n.º 104, director Manuel Tavares, In: White Sharks Campeões, p.36. 83Idem, Ibidem, In: Portugueses em baixa, p.35. 84O Jogo, 6.6.2009, Ano 24º, n.º 105, director Manuel Tavares, In: Filipe Lima vai tentar jogar o british open,
p.34. 85Idem, Ibidem, In: Barco de estrelas em Mentawais, p.38
40
apresentado com muita frequência nos textos jornalísticos visto que metade dos jornais
procuram chamar atenção através da linguagem viva e actualmente usada entre os jovens.
Ao ler um texto jornalístico, o facto de se tratar de um estrangeirismo ou não, varia de
artigo em artigo e não é sempre designado. Porém, alguns jornalistas preferem colocá-los
entre-aspas:
“A forma como Pinto da Costa assistiu aos últimos minutos do jogo de ontem e
festejou a segunda vitória do FC Porto neste terceiro jogo do “play-off” do título
(...).”86
“O momento-chave aconteceu no 8.º jogo do terceiro set, quando Haas desperdiçou
uma bola de “break” e Federer venceu nove partidas consecutivas”87
Todavia, neste caso encontrámos o mesmo estrangeirismo break sem nenhuma
designação no texto:
“Quando executei um extraordinário forehand e salvei o ponto de break a 3-4 no
terceiro, fiquei com a sensação de que poderia ser o ponto de viragem.”88
Seguidamente, apontamos os estrangeirismos usados em textos jornalísticos
desportivos num pequeno glossário. Trata-se de uma recolha de dados tirada de jornais como
O Jogo, Record e A Bola.
3.2.1.3. Pequeno glossário de estrangeirismos usados nos jornais desportivos portugueses
● Alguns nomes dos desportes de origem estrangeira:89
Artistics cycling
Badminton
Box
Cycle Ball
Indoor cycling
Kick boxing
Kite surf
86 O Jogo, 3.6.2009, Ano 24º, n.º 102, director Manuel Tavares, In: Dragões cheiram o oitavo, p.31. 87Record, 2.6., 2009, Ano 60. n.º 11.012.,In: Resposta à campeão, p.30. 88 O Jogo, 2.6.2009, Ano 24º, n.º 101, director Manuel Tavares, In:Talento após o sufoco, p.29. 89Trata-se do pequeno glossário em qual são apresentados só alguns exemplos dos desportos de origem
estrangeira. Neste caso, todos os exemplos são de origem inglesa.
41
Snowboarding
Tumbling (género da ginástica)
● Decalques usados com frequência nos textos jornalísticos:90
Ciclismo de Montanha - Decalque da palavra Mountain biking.
Meia-final - Decalque da palavra semifinal.
Pontapé livre - Decalque da palavra free-kick. Usa-se em futebol.
Ponto da partida - Decalque da palavra match point.
Ponto de quebra - Decalque da palavra break point.
● Estrangeirismos e os termos de origem estrangeira usadas nos textos jornalísticos
sobre os eventos de ténis:91
► Backhand - O golpe de fundo executado do lado contrário onde o jogador segura a raquete
Para um canhoto, por exemplo, o backhand fica no seu lado direito.
► Break point - O ponto que pode influenciar o jogo a favor do recebedor.
► Cartão Wilde – O direito dos organizadores dos torneios é possibilitar a participação no
torneio aos jogadores da sua escolha.
► Court - Campo de ténis
► Drop shot - Bola muita curta que cai próxima à rede.
► Doping - Dopagem bioquímica é a utilização de substâncias proibidas no desporto que podem
tornar o atleta mais forte e mais rápido sendo considerado uma espécie de trapaça e sendo proibido em
torneios e campeonatos, por promoverem o aumento ilícito do rendimento do atleta.
► Forehand – Golpe de fundo executado do mesmo lado do corpo em que o jogador segura a
raquete.
90Todos os decalques referidos são de origem inglesa. 91Escolhemos os termos e as palavras estrangeiras que encontramos com mais frequência nos jornais desportivos
e pusemos-nos por ordem alfabética
42
► Foot fault – Acto de pisar na linha principal durante o serviço. Esta falta implica a perda do
serviço.
► Game - Significa o jogo ou a partida. De facto, trata-se de uma subdivisão de um set. Para
ganhar o jogador tem que atingir 6 games na cada set, por exemplo, 6:3.
► Indoor - Campo coberto.
► Lobe – Bola alta que encobre o adversário.
► Match point – Ponto que pode resolver o jogo.
► Net – No caso de tocar a bola da rede, fala-se sobre net ou também, por vezes, usa-se let. Se
acontecer durante o serviço, deve ser repetido o serviço.
► Ranking – Classificação dos tenistas relativamente aos seus resultados obtidos. Esse termo usa-
se também nos outros desportos, como, por exemplo no futebol.
► Tiebreak – No caso de ser o set empatado em seis games para cada um, realiza~se o game
especial em qual a contagem é sequencial a partir do número 1. O jogador que atinge primeiro 7,
ganha o set.
► Scratch – No caso de não puder acabar o jogo um dos jogadores por qualquer motivo, falamos
sobre scratch.
► Serviço – Golpe por qual se começa o jogo. Único caso quando pode o jogador tocar a bola.
► Set – Uma das divisões da partida. Durante o jogo é preciso atingir seis games.
► Slice - Quando a bola é cortada de cima para baixo.
► Spin – A rotação da bola, trata-se de um efeito especial com o objectivo mudar o ritmo do jogo.
► Topspin – Trata-se de um efeito especial durante qual a raquete toca da bola de baixo para cima.
Assim, a bola ganha uma rotação.
43
3.2.2. Siglas no jornalismo desportivo
Ao lermos os jornais desportivos, aparecem com frequência siglas o que tem a sua
justificação na existência de associações, federações e torneios nacionais e internacionais que,
às vezes, são conhecidos mais por siglas de que pelos seus prórpios nomes. Assim, os fãs
falam do copo UEFA, FIFA ou ATP, em vez de pronunciare o nome inteiro como, por
exemplo,o copo Union of European Football Associations. Todavia, parece ser, por vezes,
uma tarefa difícil decifrar um artigo cheio de siglas.
É preciso salientar que, além do desporto, encontramos siglas sobretudo na área
científica dado que os compostos sintagmáticos deste tipo são frequentemente longos. Como
um exemplo apresentamos laser, sigla que é conhecida pela maioria de população. Todavia, o
seu próprio nome Light amplification by simulated emission of radiation continua a ser
desconhecido para muitas pessoas. Este facto significa que os seus utilizadores perdem
progressivamente a consciência da siglação, quer dizer que a sigla começa a funcionar como
uma efectiva unidade lexical simples, um substantivo.
As siglas caracterizam-se pelo facto de serem unidades construídas a partir da junção
das iniciais de um sintagma. Assim, podemos considerar a siglação como o processo de
abreviação vocabular, mas, por outro lado, um processo de composição visto que nascem
novas palavras compostas das iniciais.
Em muitos casos, para as siglas utiliza-se a designação portuguesa: Sida (A síndrome
de Imunodeficiência Adquirida) e não Aids (Acquired Immunodeficiency Syndrome), ONU
(Organização das Nações Unidas) e não UN (United Nations). Relativamente ao desporte, no
caso de ser, por exemplo, uma federação estrangeira, não se traduz em português e usa-se da
sigla com a designação estrangeira como, por exemplo, ITF (International Tennis Federation)
ou UEFA (The Union of European Foottball Associations). Relativamente à ortografia, as
siglas não se separam por pontos, por isso NHL e nunca N.H.L.
Através do processo da siglação, as siglas recebem o género. A opacidade que as
siglas adquirem é visível exactamente na atribuição do género. Juliette Garmandi em Manual
de jornalismo apresenta como um exemplo TAC, sigla de Tomografia axial computorizada
que é de género feminino. Dado o seu núcleo, tomografia, ser um substantivo feminino, a
sigla surge muitas vezes no masculino em discurso informal: “Fui fazer um tac à cabeça.”
A integração das siglas no sistema linguístico pode suportar também, por vezes,
marcas da flexão. Porém, o português europeu não é, no entanto, uma variedade muito rica em
44
derivados das siglas, o que é muito frequente, por exemplo, no Brasil, ou em línguas como o
castelhano.92
Ao lado das siglas é preciso distinguir assim os chamados acrónimos considerados
como “uma unidade lexical formada de letras ou grupo de letras, que se pronuncia como uma
palavra, isto é, que tem a estrutura silábica própria da língua onde se forma”.93
Como um
exemplo mencionamos EPAL (Empresa Portuguesa de Águas Livres), SAPO (Servidor de
Apontadores Portugueses) e da área do jornalismo desportiva UEFA (Union of European
Football Associations) e FIFA (Federation International de Football Association). Não se
podem considerar como os acrónimos FPP (Federação de Patinagem de Portugal) e LPFD
(Liga Portuguesa de Futebol Profissional) que são consideradas apenas como siglas.
O uso das siglas devia ser, em todos textos jornalísticos, nem só nos desportivos,
usados com certo equilibrado. Por isso não convém abusá-las, constituindo os parágrafos com
base das siglas. O leitor quer ser informado com rapidez e eficiência, não dedicar-se à
decifração de siglas.
Ao lermos os jornais desportivos, encontramos um número elevado de siglas em cada
modalidade desportiva o que dificulta a leitura aos leitores que não costumam ler este género
dos jornais. No caso de não conhecermos o significado das siglas, dificilmente poderemos
perceber o significade da frase:
“Nesta boat trip está Tiago Pires, primeiro português a ingressar no WCT (...).”94
“Senhora da Graça é rainha no GP CTT de ciclismo.”95
Mesmo que essas siglas pertençam entre menos conhecidas, não são traduzidas nos
textos jornalísticos. De facto, pode-se afirmar que os jornais desportivos nem sempre
satisfazem os leitores esporádicos ou, seja, que não praticam nenhum desporto visto que as
siglas são raramente traduzidas o que pode provocar um certo desprazer.
A seguir, apresentamos as siglas usadas frequentemente no actual jornalismo
desportivo português.
92Idem, Ibidem, p. 49. 93CORREIA, Margarita & LEMOS, L.S. Payo: Inovação lexical em português, Lisboa, Edições Colibri, 2005,
p.45. 94Record, 3.6. 2009, Ano 60. n.º 11.013.,In: Barco de estrelas em Mentawais, p.38. 95 O Jogo, 3.6.2009, Ano 24º, n.º 102, director Manuel Tavares, In: Senhora da Graça, p.38.
45
3.2.2.1. Pequeno glossário de siglas usadas nos jornais desportivos portugueses
● Andebol
FAP (Federação de Andebol de Portugal)
IHF (International Handball Federation)
● Automobilismo
FIA (Fédération Internationale de l Automobile)
F1 (Fórmula 1)
● Basquetebol
FPB (Federação Portuguesa de Basquetebol)
NBA (National Basquetebol Association)
● Ciclismo
BTT ( Bicicleta Todo Tereno)
CTT (Cycling Time Trials)
UCI (International Cycling Union)
XCO ( Cross-country Olímpico)
● Futebol
LPFD (Liga Portuguesa de Futebol Profissional)
FC (Futebol Clube)
FIFA (Federation International de Football Association)
UEFA (Union of European Football Associations)
● Hóquei no gelo
NHL (National Hockey League)
● Hóquei em patins
FPP (Federação de Patinagem de Portugal)
CIRH (Comité international Rink)
● Motociclismo
46
FMP (Federação de Motociclismo de Portugal)
● Surf
FPS (Fereração Portuguesa de Surf)
WTC (Word Circuit Cup)
● Ténis
ATP (Association of Tennis Professionals)
ITF (International Tennis Federation)
WTA (Women`s tennis Association)
● Voleibol
FPV (Federação Portuguesa de Voleibol)
FIVB (Federation International de Volleyball)
47
4. Linguagem especial no jornalismo desportivo
4.1. Linguagem desportiva: gíria ou linguagem especial?
Dedicaremos esta parte ao estudo do conceito da gíria e linguagem especial elaborado
pelos linguistas, cujas obras tivemos a disposição. Consideramos importante dedicar algumas
palavras a esta problemática dado que em obras linguísticas se encontram ambos termos
referidos ligadas à linguagem desportiva, isto é, alguns cientistas consideram a linguagem
desportiva como gíria, outros designam-na como linguagem especial.
Começaremos pela definição da gíria. A gíria é considerada como uma linguagem
utilizada por uma grupo ou grupos bem definidos, e em situações muito concretas. Hoje em
dia, é utilizada com frequência particularmente entre os jovens. Porém, por aquilo que
observamos no dia a dia, não são somente os jovens que a utilizam nem tão pouco os
marginais, pobres ou malandros, como referem alguns dicionários. Simplesmente, esta
linguagem parece ser utilizada por todos, independente da idade, grau de cultura, raça ou
classe social.
Ao caracterizar a gíria do ponto de vista da linguística, é considerada como um léxico
especializado. Em A linguagem dos esportes de massa e a gíria no futebol é definida como
“linguagem reveladora de um certo secretismo, utilizada por um grupo ou grupos restritos”.96
Isto significa que se trata de uma linguagem, por exemplo, de grupos profissionais definidos
usada para que os outros não percebessem o significado da conversa. Isto significa que um
grupo usa o vocabulário não convencional para designar outro vocabulário, neste caso formal.
Quanto à linguagem desportiva, por um lado, os desportistas usam várias palavras cujo
sentido é para algumas pessoas bastante nebuloso, porém, falta uma intenção declarada de não
se fazer entender. Por isso, em sentido rígido e específico, esta linguagem não contém todas
as regras da gíria.
Portanto, é óbvio que em linguagem desportiva dominam os significados simbólicos,
pertinentes à consciência do grupo, com uma certa intencionalidade o que é um dos aspectos
característicos da linguagem especial. Ao consultarmos o livro A linguagem dos esportes de
massa e a gíria no futebol, o seu autor acrescenta que para considerarmos uma linguagem
como linguagem especial, é preciso “encontrar factores psicológicos, sociais e de qualquer
outro tipo que reúnam os indivíduos em torno de grupos de equivalentes, como de trabalho,
96FEIJÓ, Luiz C.S.: A linguagem dos esportes de massa e a gíria no futebol, UERJ, RDJ, 1994, p.65.
48
de profissão superior, de credos religiosos, de actividades desportivas etc.”97
Seguidamente,
John B. Carrol é da opinião de que a linguagem desportiva não devia ser considerada como
gíria, mas sim como linguagem especial ao caracterizá-la como “um léxico peculiar às
diversas comunidades menores compreendidas naquela comunidade extensa, cujos
componentes se encontram ligados por uma forma particular de actividade – profissional
sobretudo, mas também científica ou lúdica (da arte, dos desportos, dos jogos), em termos
genéricos, cultural”.98
Deste modo, ao consultarmos os estudos sobre esta problemática, consideramos usar
ao longo do nosso trabalho o termo linguagem especial como o termo adequado para designar
a linguagem desportiva.
É preciso sublinhar que o estudo destas linguagens, antigamente, considerava-se
controverso. Até os linguistas que estudavam estes tipos de linguagens diferentes da
linguagem padrão, conotadas com grupos marginais ou de classe baixa, podiam ser
comprometidos. Isto explica que não se colocava grande atenção a esta problemática e hoje
em dia, em Portugal não existe uma recolha suficiente dos estudos sobre estas linguagens.
Em consequência deste facto, devíamos limitar-nos apenas à seguinte literatura
secundária: A linguagem dos esportes de massa e a gíria no futebol do Luiz Feijó, Linguagem
da Juventude da Mónica Rector e Estudo da linguagem do John Carroll. É através das obras
apresentadas por estes cientistas que eram sobretudo de origem brasileira ou traduzidas pelos
autores brasileiros, que chegámos à conclusão de utilizar o termo, relativamente à linguagem
desportiva, linguagem especial e não gíria.
4.1.1. Uso da linguagem especial no jornalismo desportivo
“A linguagem dos jornalistas desportivos, relativamente às suas actividades
profissionais, por vezes, está calcada numa eficacidade contextual, relativamente à narração
dos eventos fica impregnada de sucessivos determinantes, a fim de substituir o fraco conteúdo
informacional por expressões enfáticas, recorrendo a processos de reforços.”99
Nomeadamente os textos jornalísticos contém, por vezes, os artigos que nos informam sobre
os jogo tratando-se de uma descrição apenas informativa. Isto provoca que os jornalistas
pretendem variar o texto o que realizam, entre outros, através da gíria, expressões familiais ou
linguagem especial. Esta intenção tem a sua origem em desfazer os textos monótonos e
97FEIJÓ, Luiz C.S.: A linguagem dos esportes de massa e a gíria no futebol, UERJ, RDJ, 1994, p.65. 98CARROLL, John B.: O estudo da linguagem, Trad. de Vicente Pereira de Sousa, Petrópolis, Vozes, 1973,p.27. 99FEIJÓ, Luiz C.S.: A linguagem dos esportes de massa e a gíria no futebol, UERJ, RDJ, 1994, p.57.
49
escrever da maneira viva tornando os artigos mais alegres e expressivos. Assim, encontramos
as expressões como:
“O treinador cubano não gostou da exibição e deu “puxão de orelhas” aos
jogadores.”100
“Roger Federer vai jogar a quarta final consecutiva em Paris. Não terá Rafael Nadal
como adversário mas “o carrosco” do espanhol: Robin Soderling.”101
Quanto à linguagem especial, tal faz parte, algumas vezes, dos textos jornalísticos
desportivos porque faz parte inesquecível da linguagem dos desportistas, isto é, da nossa vida,
e assim não se pode ignorar. Usa-se pelos jornalistas para transmitirem melhor os estágios
emocionantes verificados nas partidas de futebol. Assim, o relatório de factos que se sucedem,
uns após outros, dentro de um estádio, obriga, por vezes, traduzir em linguagem para
aproximarem-se com os leitores. Porém, as expressões da linguagem especial desportiva,
podem ser difíceis ao identificar pelos leitores que não costumam ler os jornais desportivos.
Por exemplo, a expressão ligada à linguagem de ténis no artigo com o título “Cibulková quase
ofereceu “bicicleta” a Sharapova”102
pudesse ser este caso. Porém, o autor do artigo podia
usar a seguinte variação: “Cibulková quase ganhou 6:0 sobre Sharapova” o que, por outro
lado, tornava o título mais pesado.
Todavia, é preciso sublinhar que os jornais desportivos pertencem entre os
especializados, o que pode explicar o uso da linguagem especial com certa despreocupação da
parte dos jornalistas. Por outro lado, a tendência destes jornais é aproximar-se com os leitores
o que a linguagem especial pode dificultar.
Como referimos anteriormente, todos os desportos têm a sua linguagem especial que
não é sempre conhecida pelos leitores. Porém, o caso de futebol em Portugal parece ser
bastante diferente visto que é um dos desportos mais observados quer por homens quer por
mulheres. Este facto pode significar a descodificação mais fácil da linguagem especial nos
jornais jornalísticos pela sociedade portuguesa comparando com os outros desportos.
Ao estudarmos os textos jornalísticos desportivos, encontrámos bastantes exemplos da
linguagem especial como por exemplo:
“O jogador dirigiu-se a bola e marcou o bolo à panenka.”103
100O Jogo, 6.6.2009, Ano 24º, n.º 105, director Manuel Tavares, In: Treinador, p.34. 101O Jogo, 6.6.2009, Ano 24º, n.º 105, director Manuel Tavares, In: O ídolo e o mal-amado,p.35. 102O Jogo, 3.6.2009, Ano 24º, n.º 102, director Manuel Tavares, In: Cibulková quase oferece,p.35. 103Idem, Ibidem,p.36.
50
“Guarde-redes concedeu um grande frango.”104
Visto que se trata de um desporto demasiado popular em Portugal, entendemos
pertinente concentrar-se à sua linguagem especial.
Para apontarmos os exemplos da linguagem especial de futebol frequentemente
repetidos nos textos jornalísticos desportivos, criaremos um dicionário que está organizado
por ordem alfabética.
4.1.1.1. Pequeno dicionário da linguagem especial de futebol usada nos textos
jornalísticos desportivos
● Balão – O remate para o ar. Esta técnica é realizada em momentos defensivos.
● Bicicleta - Quando o jogador faz meia pirueta no ar numa posição horizontal e executa o remate.
● Bico – Remate/Passe com a ponta da bota do futebol.
● A bola tem picos – Expressão utilizada quando os jogadores têm pouco tempo a bola nos pés por falta de
confiança.
● Canhão – Remate desferido com enorme potência.
● Carrinho – Refere-se a uma entrada rápida no sentido de tirar a bola ao atacante (em momento defensivo)
que o jogador executa, atirando-se para o relvado com a perna esticada e de corpo inclinado para trás, dando
a impressão de se transformar num carrinho, pela posição horizontal em que seu corpo se movimenta junto ao
relvado.
● Chapéu –Quando o remate é executado de fraca força e a bola tem um efeito parábola passando por cima
da cabeça do adversário. Exemplo: “O atacante fez um bonito chapéu ao guarda-redes.”
● Chavecar – Insultar o adversário.
● Chute Belfort – Quando o jogador salta para que acertasse com pés uma bola que aparece à meia altura.
Belfort foi o primeiro jogador que realizou este remate.
104Idem, Ibidem,p.36.
51
● Cueca – Trata-se de um tipo de finta que consiste passar as bola entre as pernas do guarde-redes.
● Dar o litro – Maximizar o seu rendimento.
● De trivela – Remate feito com a parte fora do pé fazendo o efeito arco à bola.
● Estaleiro – Indica o departamento médico do clube para onde vão os jogadores lesionados. “Estar no
estaleiro” significa estar lesionado.
● Figura – Jogador importante na equipa. Também é utilizado quando a bola é desferida num remate e vai na
direcção das mãos do guarda-redes fazendo uma defesa fácil.
● Finta – Quando o atacante faz um movimento técnico de difícil execução com o objectivo de ultrapassar o
defesa com a bola controlada no pé. Os jogadores que têm está técnica apurada são caracterizados como os
criativos da equipa.
● Vírgula – É um tipo de finta de extrema dificuldade de execução. Devido à sua dificuldade é um tipo de
finta pouco utilizado. Esta fita consiste num movimento muito rápido com a bola colada ao pé descrevendo uma
vírgula.
● Frango – Quando fácil de defesa no entanto o guarde-redes permite o golo.
● Frangueiro – Guarda-redes de fraca qualidade técnica.
● Golo “à panenka” – Gesto técnico utilizado na marcação utilizado de penalti. Esta técnica de difícil
execução consiste na simulação de um forte remate quando avança para o remate mas no entanto o remate sai
fraco descrevendo um pequeno chapéu. O golo “à panenka” tem a sua origem em nome do jogador checo,
Antonín Panenka, que o marcou pela primeira vez. Porém, na sociedade portuguesa é mais conhecido como
golo “à Poborsky” cujo nome provem do jogador checo, que marcou durante o seu estágio no clube de Benfica
em Portugal o golo com a técnica “à Panenka”.
● Golo de peixinho - Quando um jogador atira-se na horizontal ao encontro da bola cabeceando para o
fundo da rede.
52
● Golo do meio da rua – Quando o jogador encontra-se numa posição difícil para o remate devido à
distância que se encontra da baliza mas executa o remate proporcionando um golo de belo efeito.
● Golo olímpico – Trata-se de um golo marcado pelo jogador cobrando-o directamente de um canto do
campo. O nome usa-se a partir das Jogos Olímpicos realizados em 1924 nos quais foi marcado por um jogador
uruguaio.
● Canto directo – Quando na marcação no canto a bola entra directamente na baliza sem haver qualquer
desvio dos jogadores.
● Mãos rotas – No momento da defesa de um guarda-redes deixa a bola passar entre as mãos.
● Morte subida – Momento de jogo em que a primeira equipa marcar termina e vence com a partida.
● Pé torto – Jogador que remate para longe de baliza longe da direcção pretendida.
● Pernas de alicate – Expressão usada a designar a fraqueza do jogador.
● Suar a camisola – O jogador dá o seu máximo de rendimento em campo.
● Tosco – Jogador que está de má qualidade técnica.
● Vendido – Jogador que se deixa subornar.
53
5. A parte prática: Inquérito
5.1. Apresentação do questionário
O nosso questionário foi elaborado através das páginas da Internet
www.easyresearch.biz, que possibilitam criar gratuitamente os inquéritos e gerar logo os
resultados. Este serviço permite ao longo de um mês recolher as respostas criando os
resultados ao máximo de 100 questionários respondidos.
Temos que salientar que devido ao programa ser em checo, neste questionário faltam
alguns acentos usados em português.
Seguidamente, apresentamos o questionário em versão electrónica como foi
apresentado aos respondentes.
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5.2. Resultados do questionário
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5.3. Análise
O questionário foi elaborado para os fins de percebermos melhor o conhecimento da
linguagem desportiva, nomeadamente dos estrangeirismos, linguagem especial e as siglas
usadas nos textos jornalísticos quer por homens quer por mulheres em Portugal elaborámos
um questionário. O questionário foi distribuído através da Internet e durante duas semanas
participaram nele 100 respondentes, dos quais eram 45 homens e 55 mulheres.
É preciso salientar que tentámos adquirir um número equilibrado dos participantes
entre homens e mulheres visto que julgamos que os homens costumam ler mais jornais
desportivos com mais frequência do que as mulheres e um número alto de respostas por parte
do sexo masculino podia influenciar os resultados do inquérito.
Para autenticar este trabalho, o inquérito foi distribuído unicamente a pessoas com
língua portuguesa como materna. Além desta condição tentámos integrar no inquérito os
imigrantes dos países lusófonos uma vez que vivem em Portugal durante algum e que podiam
entrar em contacto com as expressões portuguesas da linguagem especial. Este facto é
importante porque, por exemplo, no Brasil a linguagem especial usada no futebol contém
algumas diferenças comparando com a de Portugal.
O questionário inclui 26 perguntas nas quais nos concentrámos, particularmente, sobre
os estrangeirismos ou palavras de origem estrangeira, siglas e expressões da linguagem
especial usadas nos textos jornalísticos desportivos. A recolha dos exemplos foi elaborada
com base nos vários jornais desportivos como A Bola, Jogo, Record, mas utilizámos também
os exemplos dos jornais genéricos Diário de Notícias, Correio da Manhã e de um jornal
regional MafraHoje.
Procurámos através do questionário a resposta sobre o nível do conhecimento da
linguagem desportiva usada nos textos jornalísticos desportivos por homens e mulheres visto
que tal linguagem, graças às comunicações de massas e à globalização, aparece cada vez mais
entre nós. Deste modo, as expressões criadas por jogadores, técnicos e jornalistas acabam por
entrar espontaneamente na língua comum e passam a influenciar a nosso cultura, porém nem
sempre são conhecidas pelos receptores.
Escolhemos as perguntas com base nas expressões usadas frequentemente não só nos
jornais mas também entre as pessoas na conversa do dia-a-dia. Deste modo, tentámos evitar
criar um questionário apenas dedicado a um estreito grupo especializado de interesses
79
desportivos mas sim gerar um questionário que fosse aceitável também para as pessoas que
não costumam examinar frequentemente os jornais desportivos.
Um dos aspectos de particular interesse era a linguagem desportiva de futebol e o que
justifica a maioria das perguntas ligadas a este desporto. Como já referimos ao longo do nosso
estudo trata-se de um desporto bastante observado e procurado pela sociedade portuguesa e
que aumentou o nosso interesse a procurar o conhecimento da linguagem deste desporto pelos
leitores. Todavia, procurámos criar um questionário variado e não só concentrado ao futebol e
colocámos as perguntas de várias áreas desportivas como ténis, hóquei no gelo ou
basquetebol.
Dos resultados do questionário surgiu que 25 por cento dos respondentes costuma ler
os jornais com regularidade e 53 por cento algumas vezes. Isto dá-nos uma informação
importante que a maioria, 78 por cento, dos respondentes têm contacto com os jornais
desportivos.
Antes de começarmos analisar as partes linguísticas do questionário, entendemos
pertinente a informação relativamente às habilitações literárias dos respondentes. O
questionário não foi respondido por nenhum indivíduo com o ensino básico, deste modo, este
estudo será sumariado através de uma base de respondente com habilitações secundárias ou
superiores.
Outro facto importante é a média de idade dos respondentes que se encontrou entre os
20 e os 30 anos (74 respondentes) e os 31 e os 40 anos (24 respondentes). Infelizmente,
participaram neste questionário só 2 respondentes com a idade mais de 40 anos. Julgamos que
a maior participação deste grupo dos respondentes podia influenciar e mudar os resultados
particularmente, nas perguntas ligadas com os estrangeirismos. Neste caso, consideraremos o
resultado do questionário como o resultado dos respondentes entre 20 e 40 anos.
Para facilitar o estudo, dividirmos o inquérito em três partes, primeira parte foi
dedicada às siglas, segunda aos estrangeirismos e terceira à linguagem especial.
Siglas
Primeira parte dedicada às siglas, começa pela pergunta a que modalidade desportiva
está associada a sigla ATP. Trata-se de uma abreviação da expressão: Association of Tennis
Professionals. Mais de metade, 51 das 100 pessoas, não conheceu esta sigla, 4 pessoas
associaram-na a outros desportos. A explicação pode assentar-se no facto de se tratar de uma
sigla ligada a um desporto menos conceituado em Portugal. Apenas é reconhecida
particularmente por um grupo estreito de leitores ao contrário da sigla F1 associada à
80
modalidade desportiva de automobilismo que, 97 por cento dos respondentes, conhecem. Isto
significa que sem dúvida, a sigla F1 é plenamente conhecida em Portugal fazendo parte do
léxico básico da língua portuguesa. A pergunta número sete consistiu na identificação da sigla
NHL (National Hockey League) associada ao hóquei no gelo. Igualmente como o ténis, o
hóquei no gelo não pertence ao quotidiano desportivo de Portugal e por isso a nossa
expectativa era que o conhecimento da sigla referida não fosse muito comum entre as pessoas.
Pelo contrário, 42 por cento dos respondentes, quase metade, conheceram a sigla e sabiam o
que significava. Este facto deve-se sobretudo a um conhecido jogo para Computador que tem
várias edições designado NHL. Porém, é preciso salientar também que ao separarmos os
questionários com as respostas correctas relativamente a esta sigla, os autores eram,
particularmente, as pessoas que costumam ler os jornais desportivos com frequência. A
seguinte sigla FPB (Federação Portuguesa de Basquetebol) inserida no questionário,
igualmente não era conhecida entre os leitores portugueses visto que mais de que metade, 60
por cento, responderam que não a conheceram. Isto não é o caso da sigla FIFA (Federation
International de Football Association) que é a abreviação da federação que controla o futebol
a nível mundial, visto que 75 por cento dos respondentes a conheceram. É evidente que se
trata de uma sigla extremamente conhecida não somente em Portugal mas em todo o mundo.
De facto, é uma das siglas mais visíveis nos textos jornalísticos ligadas ao futebol. Ao
separarmos os questionários nos quais os respondentes não acertaram a resposta relativamente
à esta sigla, eram particularmente as mulheres à quem era desconhecida. No que diz respeita à
última sigla FIA, 48 por cento não a conheceram, isto é, quase metade dos questionados.
Assim, podemos afirmar que esta sigla não pertence à consciência das pessoas, porém não é
completamente desconhecida. Como no caso anterior, eram sobretudo as mulheres que
erraram a resposta e não conheceram esta sigla.
Estrangeirismos
A seguinte parte tinha por objectivo averiguar o conhecimento dos estrangeirismos e
palavras de origem estrangeira. Como já foi referido anteriormente, os estrangeirismos graças
à comunicação em massas e à globalização entra cada vez mais no léxico português ficando
assim na consciência das pessoas. Nós provámos dentro dos estrangeirismos dérbi, ranking,
semifinal, court, play-off, antidoping e drible quais são os conhecidos e os que não são.
Temos que salientar que os resultados desta parte foram positivos visto que as
expressões foram reconhecidos pela grande maioria dos participantes contudo alguns
participantes não sabiam o que significava. A expressão de origem estrangeira derby
81
conheceram e sabiam o que significava 60 pessoas, 36 conheceram mas sem saber o seu
significado sobretudo o caso das respostas femininas. No que diz respeito à palavra
estrangeira ranking todos os respondete a conheceram, 38 respondentes das 100 não sabiam o
que significava. O facto de todos reconheceram a palavra pode ser ligado ao grau de
aparecimento nos textos jornalísticos visto que a expressão ranking uziliza-se na sua grande
maioria nos desportos: ranking WTA, ranking ATP, ranking FIFA etc. Além do uso nos
desportos, usa-se também nas várias áreas para designar simplesmente a classificação por
ordem como, por exemplo, no ranking de livros mais populares em Portugal. A seguinte
expressão do questionário de origem estrangeira era semifinal. A palavra foi reconhecida por
um número superior relativamente à expressão ranking. Por outro lado, alguns respondentes
nunca entraram em contacto com essa palavra o que não aconteceu no caso da palavra
ranking.
O menos conhecido dos estrangeirismos apresentados no questionário foi a palavra
court que é usada, por vezes, em vez da palavra portuguesa o campo de ténis. Como no caso
da sigla ATP ou NHL, trata-se de um termo específico de uma área de um desporto menos
conhecido em Portugal e por isso este desconhecimento. Ao invés, não estranhou que a mais
conhecida palavra de origem estrangeira fosse penalti. Isto significa que esta palavra de
origem estrangeira é bastante conhecida entre os portugueses e já foi aportuguesada visto que,
além do uso em futebol, usa-se como depressão da gíria beber de penalti (beber de um só
golpe ou golo). O estrangeirismo antidoping utilizado em todos os desportos, conhecem 62
por cento dos respondentes, isto é, mais de que metade; 36 por cento o conhecem, porém sem
saber o significado e somente 2 por cento não o conhece. Isto significa que esta expressão, de
facto, entrou na consciência dos portugueses porém o seu significado, por vezes, não é claro.
Relativamente ao último estrangeirismo drible, usa-se em futebol, porém também em
basquetebol. Ao compararmos as respostas dos homens e mulheres, as mulheres associaram
preferencialmente este estrangeirismo ao basquetebol do que os homens ao futebol.
Linguagem especial de futebol
A última parte do questionário foi dedicada às expressões de linguagem especial.
Todos os exemplos foram escolhidos da área do futebol e parecem ser bastante conhecidos
pelos participantes do inquérito. De facto, todos os exemplos eram reconhecidos pela maioria
dos respondentes no entanto nem sempre era conhecido o que significavam. As mais
conhecidas foram frango e ser ensanduichado, ao invés o menos conhecido foi golo à
panenka cujo 16 por cento dos respondentes não sabiam o significado e 47 por cento nunca
82
ouviu falar sobre esta expressão. Esta expressão parece ser mais particularizada e conhecida
pelas pessoas com maior interesse pelo futebol. Se colocarmos a expressão golo à poborsky
que tem o mesmo significa como golo à panenka talvez encontramos um resultado diferente,
mais favorável ao nível do conhecimento por todas as pessoas.
83
6. Conclusão
Chegando ao fim do nosso trabalho, antes de resumirmos o seu conteúdo e fazer a
conclusão do nosso inquérito, gostaríamos de referir algumas palavras ao jornalismo
desportivo em Portugal. É evidente que os jornais desportivos ganharam um lugar importante
na sociedade portuguesa. Deste modo existe uma grande escolha dos jornais desportivos,
respectivamente A Bola, Record e O Jogo, entre outros. Os jornais desportivos estabelecem
uma grande concorrência aos jornais genéricos uma vez que A Bola e Record estão entre os
três diários portugueses de maior audiência.
Ao falarmos de desporto e dos jornais desportivos, importa referir a preponderância do
futebol na sociedade portuguesa. Sem dúvida, trata-se do desporto mais popular em Portugal
em que se concentram todas as atenções desportivas. Ao lermos as notícias dos jornais
desportivos a maioria dos artigos é dedicado ao futebol. Simplesmente a constituição dos
jornais desportivos é elaborado com base no futebol. Este facto não é imprevisível uma vez
que o futebol é referido como o desporto rei no panorama nacional português. Até
constatamos na sociedade a identificação nacional atráves do futebol. É evidente que os meios
de comunicação ainda contribuem mais para esta popularidade nacional do futebol português
como as restantes modalidades
É preciso sublinhar que o desporto é muito mais do que “um conjunto de atletas em
movimento”. Os jornais desportivos prestam atenção também ao que acontece nas bancas, ao
comportamento dos adeptos, dirigentes e convidados antes e depois de um jogo. Por vezes a
acção principal é desviada para onde se menos espera e todos os acontecimentos são relatados
pelos jornais desportivos.
Os meios de comunicação de massas contribuem para a divulgação da linguagem
usada pelos desportistas na sociedade portuguesa. A linguagem nos jornais desportivos e a sua
problemática foram o objectivo do nosso estudo. Concentrámos particularmente nos
estrangeirismos, siglas e linguagem especial visto que aparecem com frequência nos textos
jornalísticos desportivos.
Relativamente aos estrangeirismos surgem em várias modalidades e sempre
relacionadas com a acção desportiva. As palavras importadas não têm, por vezes, o
equivalente na língua portuguesa. Porém em algumas palavras importadas podiam ser
substituídas pelas expressões de origem portuguesa mas nem sempre acontece a substituição
porque os jornalistas optam pelo equivalente de origem estrangeira o que provoca a
84
divulgação dos estrangeirismos cada vez mais persuasiva nos leitores. De facto, os jornais
desportivos são um dos responsáveis pela expansão de novas palavras designadamente na área
desportiva promovendo o enriquecimento do léxico da língua portuguesa.
O enriquecimento do léxico da língua portuguesa decorre igualmente através de siglas.
Ao lermos jornais desportivos encontrámo-nas muitas das vezes visto que no desporto
funciona uma série de associações, federações e torneios nacionais e internacionais cuja
citação dos nomes inteiros complicavam a fluidez de leitura. Não há dúvida que os textos
jornalísticos desportivos são os que surge com maior frequência as siglas. Até os leitores
conhecem estas instituições ou campeonatos, por vezes, mais por siglas do que pelos seus
nomes próprios. Caso das siglas UEFA, FIFA ou ATP. As siglas, progressivamente, entram
na consciência dos leitores tornando-se palavras, ou seja, unidades do léxico da língua
portuguesa.
Para se aproximarem aos leitores, os jornalistas procuram as expressões usadas
frequentemente na sociedade portuguesa. Para atingir este efeito, optam pelo uso de
expressões de linguagem comum o que torna os artigos mais próximos dos leitores.
Além da linguagem comum, nos textos jornalísticos desportivos encontram-se com
frequência as expressões da linguagem especial. Evidentemente a maioria do conteúdo dos
jornais desportivos é construída em artigos sobre o futebol. Visto que a linguagem especial
deste desporto é bastante comum, aparece nos atrigos desportivos. Temos que salientar que o
uso desta linguagem torna os textos mais “vivos” evitando montonia. Seguidamente o seu
aparecimento nos textos jornalísticos contribui para sua divulgação, igualmente, como no caso
dos estrangeirismos e siglas. Para testemunharmos a sua presença nos jornais desportivos
elaborámos um pequeno dicionário contendo a linguagem especial de futebol.
A última parte do nosso trabalho foi dedicada ao inquérito. O seu objectivo foi
examinar o conhecimento dos estrangeirismos, siglas e algumas expressões de linguagem
especial usadas nos textos jornalísticos desportivos quer por homens quer por mulheres em
Portugal. É preciso salientar que os resultados foram positivos visto que a maioria das
perguntas foram bem respondidas. Todavia, os resultados entre os homens e as mulheres
variaram. Comparando dez questionários de homens e dez de mulheres estas responderam
com mais erros. As expressões menos conhecidas do questionário eram, quer por mulheres
quer por homens, as expressões ligadas ao ténis, basquetebol e hóquei no gelo. As expressões
ligadas ao futebol foram as em que menos erraram em ambos os sexos.
Ao resumirmos os resultados do inquérito podemos afirmar que os exemplos das
siglas, dos estrangeirismos e da linguagem especial que estão ligados ao futebol entraram
85
plenamente na consciência em ambos os sexos. Como foi referido anteriormente, o futebol é
bastante popular em Portugal e por isso julgamos que os respondentes não tiveram
dificuldades de as reconhecer, porém nem sempre eram conhecidos o seu significado. Os
exemplos dos restantes desportos eram menos conhecidos pelos respondentes, isto significa
que a sua compreensão é ligada ao grau de interesse visto que os restantes desportos não têm a
importância do futebol.
Ao longo do nosso trabalho surgiu-nos, com frequência, a afirmação de que, através
da comunicação de massas, a sociedade portuguesa absorverá cada vez mais estrangeirismos
assim como conhecerá mais expressões de linguagem especial e terá mais consciência das
siglas.
Temos que salientar que entre as siglas, a linguagem especial e os estrangeirismos é
este, o último referido, o objecto da crítica de vários linguístas relativamente ao seu abuso. O
abuso dos estrangeirismos nos textos jornalísticos é percebido com algum negativismo mas,
por vezes, é inevitável nomeadamente nos textos jornalísticos desportivos. Outro facto é que
os jornalistas não evitam com frequência o uso das expressões de origem estrangeira mesmo
que pudessem substituí-las por expressões de origem portuguesa. Com efeito,a sociedade
reflectirá esta realidade descrita.
Para terminar deixamos uma frase proferida por Max Weinreich, linguísta judeu,
“Uma língua é um dialecto com exército e marinha” que espelha as difuldades de inserção e
criação de novas terminologias havendo uma natureza defensiva e de proteccionismo da sua
identidade.
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http://www.scribd.com/doc/19551115/Variedades-linguisticas
http://pt.wikipedia.org/wiki/Signo_lingu%C3%ADstico
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