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A MULHER E AS DIMENSÕES DO ESPAÇO SOCIAL ALIMENTAR: UM INSTRUMENTO PARA ABORDAGENS PARTICIPATIVAS EM EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

A MULHER E AS DIMENSÕES DO ESPAÇO SOCIAL ALIMENTAR · Temáticas e estratégias condizentes com as características e necessidades ... conhecer o novo, se aperfeiçoar e profissionalizar,

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A MULHER E AS DIMENSÕES

DO ESPAÇO SOCIAL ALIMENTAR:

UM INSTRUMENTO PARA ABORDAGENS PARTICIPATIVAS

EM EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL (EAN)

“Campo de conhecimento e de prática contínua e permanente, transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional que visa promover a prática

autônoma e voluntária de hábitos alimentares saudáveis”

As práticas devem:

Ser baseadas nas demandas, necessidades e

realidades dos sujeitos

Considerar curso da vida, sistema alimentar e

interações e significados que compõem o

comportamento

Utilizar abordagens e recursos educacionais

problematizadores e ativos

Favorecer a reflexão e o diálogo horizontal

HIATO!

(BRASIL, 2012; SANTOS,2012)

EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL (EAN)

Práticas predominantes:

Abordagens reducionistas – biológica e nutricional

Lógica voltada para a prevenção e recuperação

Métodos expositivos – transmissão mecânica e

bancária

Pouca ênfase no referencial teórico metodológico

Insuficientes evidências de resultado e impacto

Avaliações baseadas em dados quantitativos

Desafio de adotar o Marco de Referência no processo de planejamento de ações e dar seus

devidos desdobramentos para qualificar a agenda de alimentação e nutrição no país!

A MULHER E AS DIMENSÕES DO

ESPAÇO SOCIAL ALIMENTAR

Desenvolver e implementar abordagens participativas

de EAN a partir da identificação e caracterização dos

saberes, escolhas e práticas alimentares domiciliares

estabelecidas no espaço social alimentar de um grupo de

mulheres da cidade do Recanto das Emas/DF

A MULHER E AS DIMENSÕES DO ESPAÇO SOCIAL ALIMENTAR

Desenvolvido por 5 pesquisadoras do OPSAN/UnB

Financiado pela Chamada CNPQ/MDS-SESAN Nº 027/2012

Participantes: grupos de 10 mulheres (donas de casa) de 2 instituições

do Recanto das Emas/DF

Mulheres: fundamentais na história do cuidado da família

- influenciam diretamente as práticas alimentares no domicílio

Intenção:

- conhecer como as mulheres se percebiam no

papel de mãe, esposa, cuidadora e o sentido da

alimentação em suas vidas

- compreender as dinâmicas e os espaços sociais

alimentares

Ações de EAN com abordagens problematizadoras

e ativas à luz dos princípios e diretrizes do

Marco de Referência de EAN

A INVESTIGAÇÃO PARTICIPATIVA – PESQUISA-AÇÃO

Construção e teste de teorias em ação

Pretende-se aumentar conhecimento dos pesquisadores e o

conhecimento/nível de consciência das pessoas envolvidas de forma

colaborativa

Participantes pesquisam a prática, ressignificam conhecimentos e

produzem compromissos de cunho crítico, transformando sua realidade.

Cada instituição: 8 oficinas - 1x por semana / duração: 2 horas

Desdobramento: análise, sob a perspectiva do

educando e do educador, do processo de ensino-

aprendizagem e as repercussões da ação

EDUCADORAS EDUCANDAS

O PLANEJAMENTO DAS OFICINAS

Pesquisa de campo trabalhosa, desafiadora, cansativa, mas,

INSTIGA E MOBILIZA O PENSAMENTO, exercita a HUMANIDADE

e refina o OLHAR do pesquisador

Era importante ir a campo, estar com mulheres, conhecer a

realidade, vivenciar o que elas pensavam e sentiam

Linha de trabalho generalista

– aspectos que precisavam ser considerados e contemplados:

• Dar voz aos sujeitos

• Ter flexibilidade nas ações - ajustadas a partir da realidade

• Abordar diferentes dimensões da alimentação e o sistema alimentar

em sua integralidade

• Montar mapas afetivos relacionados aos espaços sociais alimentares

• Trabalhar com a promoção do autocuidado e autonomia

O PLANEJAMENTO DAS OFICINAS - ETAPAS

1º - visitas ao local para conhecer ambiente e estabelecer contatos iniciais

2º - Dinâmicas para aproximação e estabelecimento de vínculos

- cumplicidade, empatia e identidade

3º - Dinâmicas para conhecimento de percepções, saberes, práticas e

prioridades sobre a alimentação

Temáticas e estratégias condizentes com as características e necessidades

do grupo foram pensadas coletivamente

- o que aparecia nos diálogos era elemento para planejamento das

atividades futuras

Fio condutor das oficinas:

• Identificação constantes das prioridades e demandas

• Utilização de diferentes técnicas de ensino-aprendizagem

(ativas, lúdicas e problematizadoras)

• Elaboração de esquemas gráficos e mapas

• Diálogo e reflexão

PERCEPÇÕES SOBRE PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

Oficinas: momento de relaxamento, distração, divertimento e

tranquilidade - sobrecarga dos afazeres de casa

Forma de aproximação da sociedade

Iniciativas como essa geram conscientização - pessoas ficam

atentas aos seus direitos e menos suscetíveis a manipulações

diversas - importância da reflexão crítica para que sujeitos

possam fazer escolhas conscientes e governar, transformar e

produzir a própria vida

Educadoras muito elogiadas - atenção, cuidado, carinho,

paciência – contrasta com contexto de ganância e desamor

Linguagem de fácil entendimento

Estratégia da equipe era apresentar caminhos possíveis, acessíveis

e próximos da realidade para uma vida mais feliz e humanizada

Pôde-se perceber desafios para implementação da Alimentação

Adequada e Saudável

Importância da integração das ações de EAN com ações

estruturantes

Papel da EAN no fortalecimento da PARTICIPAÇÃO e CONTROLE

SOCIAL – permite a reflexão crítica sobre a realidade, o

empoderamento comunitário e a exigibilidade de direitos

PERCEPÇÕES SOBRE PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

PERCEPÇÕES SOBRE PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

Destaques:

• Ir para a comunidade - alimentar-se das realidades, não de pressupostos

• Democratização da experiência - todas expressem criatividade/forma de

pensar para construção de projeto coerente para todas

• Atuação multiprofissional e interdisciplinar

• Troca de conhecimentos e ideias - uma ensinava a outra

- legitima saberes de diferentes naturezas

• Disposição das cadeiras em círculo em volta da mesa

- propicia sentimento de pertencimento e vivência do coletivo

Dificuldades

• Inquietações e inseguranças

- importância da equipe conversar para se apoiar e lidar com

imprevisibilidade

• Ausência de referenciais e trabalhos na área de nutrição

• Planejamento e execução concomitante

• Apesar da abertura, às vezes, educandas não falavam ou falavam pouco

PERCEPÇÕES SOBRE REPERCUSSÕES - APRENDIZADOS

Aprendizados:

• Preparar comidas diferentes e mais saborosas; higienizar e conservar

melhor alimentos e se alimentar de forma mais saudável

• Buscar a realização de sonhos, desejos, ter amizades, conviver e lidar

melhor com pessoas, ter mais amor e dedicação com próximo

Compromissos:

• Cuidado com alimentação e saúde física, mental, espiritual, comensalidade,

conhecer o novo, se aperfeiçoar e profissionalizar, cuidar do próximo

Aspectos envolvem SAÚDE INTEGRAL, a ALIMENTAÇÃO e suas DIMENSÕES e

HUMANIZAÇÃO

Importância educador: ouvir demandas / falar o suficiente para administrar e

conduzir / oportunizar encontro da comunidade para o diálogo

Educandas precisam falar - pensam sobre o assunto, escutam uma as outras,

ficam com a questão na cabeça – reflexões/inquietações

Confiar no processo - grupo dá conta de suas necessidades

Recomendações precisam ser acessíveis, possíveis e flexíveis

Teoria é fundamental mas campo fornece elementos essenciais

ASPECTOS PARA MELHORIA E RECOMENDAÇÕES

Atividades práticas na cozinha - para maior vínculo com a experiência

Reuniões presenciais entre educadoras ao longo das oficinas

Maior duração/mais encontros – 8 não foram suficientes

Interrupção de fala em momento crucial (aspecto pontual para

equipe mas marcou envolvidos – instigou mudança)

- Antidiálogo: não há empatia quando há relação vertical

- desamoroso não comunica e não gera criticidade - Freire, 2015

Realização de oficinas culinárias

Maior duração/mais encontros – vontade de continuar

(definição no momento de planejamento)

Espaço mais amplo / mais participantes

(FREIRE, 2015)

PERCEPÇÕES SOBRE REPERCUSSÕES - MUDANÇAS

Mudanças relacionadas as etapas do sistema alimentar:

Produção - hortas caseiras

Aquisição - busca por alimentos mais frescos e com menos conservantes

Preparo - utilização de temperos naturais e técnicas de cocção mais saudáveis,

redução da quantidade de óleo, sal e açúcar e melhora da higienização

Consumo - diminuição de alimentos ultraprocessados, aumento de alimentos

in natura e minimamente processados, diminuição de lanches fora de casa,

busca pela variedade e equilíbrio

Relacionadas também à prática de atividade física, emagrecimento e disposição

para fazer as coisas e cuidar da família

Não é fácil mudar – rotina, preços, acesso e resistência da família dificultam

A efetividade da ação ultrapassa indicadoras tradicionais

- é o que os sujeitos interpretam como efetivo, é o que eles relatam que mudaram

Não se pode esperar mudança total de paradigmas - depende de outros fatores

Em pouco tempo, várias educandas relataram que refletiram e mudaram

- agentes de transformação

Processo gerou mudanças na vida profissional das educadoras

CONCLUSÕES

Processo de ensino-aprendizagem possibilitou:

• Educadoras fossem afetadas pela realidade

- instigando o pensamento, a ação, o

exercício da humanidade

• Participação ativa na problematização e

reflexão sobre o contexto

• Superação da alienação e automatismo do

ato alimentar

• Ressignificação das relações com a comida,

saúde, família e ambiente

• Derpertar da consciência crítica para

NEGOCIAÇÃO e CONQUISTA da AUTONOMIA

• PROTAGONISMO e posturas proativas de

autocuidado e transformação do meio

CONCLUSÕES

Repercussões

• Educandas APLICARAM o APRENDIDO-APREENDIDO às suas realidades

• Aprendizados e repercussões ultrapassaram fronteiras da nutrição,

explorando outras dimensões e perspectivas da vida

• Constatação da importância do ir ao campo, diagnóstico local, escuta

sensível, diálogo horizontal e do trabalho em equipe multiprofissional e

interdisciplinar baseado na colaboração, confiança, ética e cuidado

• Concretização de um fazer EAN condizente com princípios do próprio

método, da equipe e do Marco de EAN

Expectativas e recomendações

• Redução do hiato

• Estímulo a novos métodos e abordagens

sensíveis à SUBJETIVIDADE inerente ao

ato de ALIMENTAR, EDUCAR E APRENDER

• Compromisso coletivo: aprimoramento

das práticas para fortalecimento da

agenda de EAN e promoção AAS

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REFERÊNCIAS