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TCC licenciatura
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE
CURSO DE GEOGRAFIA
ANA PAULA MAGNAGO
DIEGO HERZOG DE CARVALHO
EDUARDO ANTONIO DEMUNER GUIMARÃES
JÉSSICA MARCOS DA COSTA
A MÚSICA COMO POSSIBILIDADE PEDAGÓGICA NO ENSINO DA GEOGRAFIA
VITÓRIA/ES
2015
2
ANA PAULA MAGNAGO
DIEGO HERZOG DE CARVALHO
EDUARDO ANTÔNIO DEMUNER GUIMARÃES
JÉSSICA MARCOS DA COSTA
A MÚSICA COMO POSSIBILIDADE PEDAGÓGICA NO ENSINO DA GEOGRAFIA
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Departamento de Educação, Política e Sociedade, do Centro de Educação, da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Vilmar José Borges.
VITÓRIA/ES
2015
3
ANA PAULA MAGNAGO
DIEGO HERZOG DE CARVALHO
EDUARDO ANTÔNIO DEMUNER GUIMARÃES
JÉSSICA MARCOS DA COSTA
A MÚSICA COMO POSSIBILIDADE PEDAGÓGICA NO ENSINO DA GEOGRAFIA
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Departamento de Educação, Política e Sociedade, do Centro de Educação, da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Geografia. Aprovado em 25 de novembro de 2015.
COMISSÃO EXAMINADORA
Prof. Dr. Vilmar José Borges Universidade Federal do Espírito Santo Orientador
Prof. Dr. José Américo Cararo Universidade Federal do Espírito Santo
Prof. Roberto Márcio da Silveira SEDU-ES
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AGRADECIMENTOS
Eu, Ana Paula, agradeço primeiramente a Deus por me dar vida e saúde para chegar
até aqui. Aos meus familiares, mãe, pai, irmão, e os demais que sempre estiveram ao
meu lado, acreditando e apoiando nos momentos em que mais precisei. Ao professor
Dr. Vilmar José Borges, por dispor de seu tempo e conhecimentos quando aceitou o
desafio de nos orientar na realização deste trabalho. Agradeço, também, aos demais
professores que fizeram parte da minha jornada acadêmica, compartilhando comigo
seus conhecimentos e acreditando no meu potencial. Por fim, agradeço a todos que
de certa maneira contribuíram para que este trabalho fosse realizado.
Eu, Diego, gostaria de agradecer a todos os que fizeram parte dessa fase da minha
vida, aos meus amigos, meus professores, meus pais e principalmente à Deus, por
me dar sabedoria e discernimento para o que contribuiria e o que não, para a
conclusão dessa etapa.
Eu, Eduardo, deixo meu agradecimento aos meus colegas de grupo, não só pelo
trabalho de conclusão de curso, mas por toda amizade e conselhos durante esta
graduação. Conselhos que sempre serão lembrados em minha vida. Agradeço a Deus
por todas as portas que me foram abertas. À minha família e aos amigos que sempre
estivem do meu lado. E por ultimo, e mais importante ao Professor Dr. Vilmar Borges,
por todo seu conhecimento compartilhado e grande amizade.
Eu, Jéssica, agradeço imensamente a Deus pela força, sabedoria e amor qual me
serviu de exemplo para trabalhar e batalhar pelos meus objetivos. A minha família
meus mais sinceros agradecimentos, pelos ensinamentos que me serviram de base
para construção do meu caráter e personalidade, pelo incentivo e credibilidade que
tanto me motivou. Agradeço, ainda, aos meus queridos amigos que fizeram parte
dessa conquista e aos que indiretamente contribuíram em minha jornada acadêmica.
Por ultimo e não menos importante, meus agradecimentos aos profissionais e
colaboradores que me orientaram, auxiliaram e proporcionaram não apenas sucesso
na minha graduação, mas também me estimularam e me ajudaram a ser melhor como
pessoa e cidadã.
5
A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.
Eduardo Galeano (2004)
6
RESUMO
O presente trabalho se dispõe a refletir sobre a importância de metodologias
alternativas de ensino, em sala de aula com destaque para a música. Busca-se, dessa
forma, contribuir com as reflexões acerca da melhoria da qualidade do ensino da
Geografia através dessa ferramenta tão presente no dia-a-dia das pessoas. A música
está intimamente relacionada com a própria história da humanidade, estando presente
em várias culturas e momentos históricos. Assim, por fazer parte do cotidiano do
homem, a música pode ser um forte e importante aliado também nos processos
educacionais. Dessa forma, propôs-se o uso da música nas aulas de Geografia,
através de uma oficina pedagógica no trabalho de um conteúdo de Geografia proposto
pelo PCN. A atividade foi realizada em uma série do 1º ano do Ensino Médio da Escola
Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) “Aflordízio Carvalho da Silva”,
localizada no município de Vitória/ES, região de Maruípe. A partir da experiência no
cotidiano da escola, sustenta-se a relevância da música como ferramenta didática a
ser usada pelos professores em suas aulas, visto que a sua utilização pode contribuir
para tornar as aulas mais prazerosas, estimulando os alunos a participarem mais
ativamente do processo de aprendizagem, fomentando neles o pensamento crítico.
Para tanto, e especialmente no que se refere ao ensino de Geografia, ressalta-se, a
necessidade de se abandonar os modelos tradicionais e conteudistas que
lamentavelmente, ainda teimam em persistirem entre os profissionais da educação.
Palavras-chave: Música. Ensino de Geografia. Metodologia. Cotidiano Escolar.
7
ABSTRACT
The following paper disposes itself to think about the importance of working alternative
methodologies in the classroom, with an emphasis to music. It is searched, in this way,
an attempt to improve the teaching of Geography through this tool that is so present in
the daily life of people. Music is deeply connected to history of mankind itself, being
present in a lot of cultures and historic moments. Therefore, because of being part of
the human being everyday, music can also be a great and important ally in the
educational processes. In this way, the use of music is proposed in geography classes,
through a pedagogical workshop, and this tool being worked along with the content of
geography proposed by PCN. The activity was realized in the first year of high school
of Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) “Aflordízio Carvalho da Silva”,
located in the city of Vitória/ES, in the region of Maruípe. From the experience in that
school’s day by day, the importance of music is supported as an educational tool to be
used by the teachers in their classes, since the use of music can contribute to make
the classes more pleasurable and stimulate the students to participate even more,
encouraging the critical thinking. Therefore, specially talking about the teaching of
geography, it is emphasized the necessity of abandoning the traditional models of
teaching that unfortunately still persist to appear among professionals of education.
Keywords: Music. Geography Teaching. Methodology. School’s Daily Life.
8
LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS
RELAÇÃO DE MAPAS E FIGURAS
Mapa 01 – Mapa da região administrativa Nº 4 ......................................................... 29
Figura 01 – Dinâmica de interação ........................................................................... 42
Figura 02 – Confecção das oficinas, Grupo 01 ......................................................... 44
Figura 03 – Confecção das oficinas, Grupo 02 ......................................................... 44
Figura 04 – Confecção das oficinas ......................................................................... 45
Figura 05 – Música produzida pelo grupo 01 ........................................................... 46
Figura 06 – Apresentação da releitura da música cantada em forma de rap ........... 46
Figura 07 – Música produzida pelo grupo 02 ........................................................... 47
Figura 08 – Apresentação da releitura da música cantada em forma de rap. ........... 47
RELAÇÃO DE GRÁFICOS
Gráfico 01 – O que você acha das aulas de Geografia? .......................................... 32
Gráfico 02 – Uso de recursos alternativos tornam as aulas de Geografia atraentes? ...
33
Gráfico 03 – Já assistiu aulas que utilizavam música como recurso? ...................... 34
Gráfico 04 – A atual carga horária das aulas de Geografia é suficiente? ................. 35
Gráfico 05 – Tipos e preferências musicais dos estudantes .................................... 36
Gráfico 06 – As letras das músicas estão ligadas ao seu cotidiano? ....................... 37
Gráfico 07 – Questão: Você vê proximidade entre a Geografia e a Musica? ........... 38
Gráfico 08 – O uso da música nas aulas de Geografia facilitaria a sua compreensão
dos conteúdos geográficos?..................................................................................... 38
9
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
EEEFM – Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
MPB – Música Popular Brasileira.
PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais.
PMV – Prefeitura Municipal de Vitória.
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 11
CAPÍTULO I
A MÚSICA: POTENCIALIDADES PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA .................. 13
1.1. COMEÇANDO A DISCUSSÃO ......................................................................... 13
1.2. A MÚSICA NAS AULAS DE GEOGRAFIA ........................................................ 14
1.3. A MÚSICA COMO AUXÍLIO NA ANÁLISE ESPACIAL ...................................... 19
CAPÍTULO II
A REALIDADE DO ENSINO DA GEOGRAFIA NO AMBIENTE ESCOLAR............ 21
2.1. UMA BREVE REVISITA À HISTÓRIA DA GEOGRAFIA ESCOLAR ................. 21
2.2. TRAJETÓRIA DA GEOGRAFIA ESCOLAR NO CENÁRIO BRASILEIRO:
BREVE HISTÓRICO ................................................................................................. 22
CAPÍTULO III
OFICINA PEDAGÓGICA: POSSIBILIDADE DE ENSINO........................................ 28
3.1. CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA E SEU ENTORNO ...................................... 29
3.2. AULAS DE GEOGRAFIA: VOZES DOS ESTUDANTES .................................... 32
3.3. A OFICINA PEDAGÓGICA ................................................................................ 39
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 49
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 52
ANEXOS ................................................................................................................... 55
11
INTRODUÇÃO
Com as experiências vivenciadas na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado,
bem como em nossas experiências individuais vividas no ambiente escolar, notamos
que os professores de geografia, por vezes, se limitam ao tradicional e ainda
persistente modelo de educação direcionado a formar indivíduos especificamente
para o mercado de trabalho.
Nesse modelo de educação, que Paulo Freire sabiamente denominou de “educação
bancária”, as aulas são desenvolvidas basicamente com o professor falando e os
alunos anotando. Tais práticas tornam as aulas extremamente desestimulantes e
interfere negativamente no processo de ensino/aprendizagem.
É latente, pois, a necessidade de utilização de outras metodologias alternativas de
ensino. Surge aí, o propósito do presente trabalho, que visa contribuir para as
reflexões acerca da utilização da linguagem musical, atrelada aos métodos já
utilizados na sala de aula. Assim, uma metodologia não substituirá a outra, mas ambas
trabalharão juntas, e “a linguagem musical servirá de um segundo caminho
comunicativo” (CARARO, 2013), resultando em aulas mais estimulantes e,
consequentemente, na participação efetiva dos alunos.
A geografia é uma disciplina cujos conteúdos de ensino são bastante propícios à
utilização da música, podendo ser utilizadas em diversos temas, tais como
consumismo, globalização, meio ambiente, capitalismo, entre outros. Através de
determinadas canções, o professor pode explorar o potencial de interpretação e
despertar o senso crítico dos estudantes. Nesse sentido, nossa proposta, visa utilizar
a música como possibilidade pedagógica a ser utilizada nas aulas de geografia na
educação básica, a fim de transformar as aulas em momentos interessantes e
dinâmicos, com a participação efetiva dos alunos, buscando aproximar os conteúdos
à realidade dos estudantes.
Sendo assim, buscou-se conhecer a realidade dos alunos e o contexto da escola e
seu entorno para traçarmos o melhor caminho a seguir no trabalho. Com essa mesma
12
finalidade, procuramos explorar as potencialidades dos diversos gêneros musicais, no
intuito de contemplar o contexto no qual os alunos e a escola estão inseridos. Por fim,
promovemos, através de uma oficina pedagógica, uma atividade que envolveu a
linguagem musical e a temática “migrações”, buscando aproximar o cotidiano dos
estudantes aos conteúdos do currículo de Geografia da educação básica.
Assim, realizados os passos e procedimentos da pesquisa, resultou o presente
relatório, didaticamente dividido em três capítulos. No capítulo I, são tecidas reflexões
teóricas, a respeito do universo da música, começando por uma breve história.
Refletimos também como a música está intimamente relacionada à própria história da
humanidade e sobre a forte presença dessa linguagem artística no cotidiano das
pessoas. Por fim, discutimos como a música pode ser um forte e importante aliado
também nos processos educacionais, em destaque, nas aulas de Geografia.
No capítulo II, refletimos sobre a realidade do ensino de Geografia no ambiente
escolar da educação básica, organizando uma revisão histórica, bem como sua
trajetória no cenário brasileiro, a fim de entender como se dá a realidade do ensino de
Geografia na sala de aula na atualidade.
No terceiro capítulo, alimentados de todas as leituras e reflexões teóricas anteriores,
propomos trabalhar outras possibilidades de ensino nas aulas de Geografia. Para
tanto, escolhemos como ferramenta didática a linguagem musical, planejando e
implementando uma oficina pedagógica, utilizando dessa linguagem aliada a um
conteúdo de Geografia. Antes, porém da realização da atividade, procuramos
conhecer a realidade dos alunos e o contexto da escola e seu entorno, bem como
explorar as potencialidades dos diversos gêneros musicais, a fim de contemplar o
contexto no qual os alunos e a escola estão inseridos e a partir daí efetivar a nossa
proposta.
Por fim, apresentamos as considerações finais, provisórias e parciais, sinalizando
para o convite à continuidade desta e de novas investigações...
13
CAPÍTULO I
A MÚSICA: POTENCIALIDADES PARA O ENSINO DA GEOGRAFIA
1.1. Começando as discussões...
Conforme bem salienta Souza et. al. (2010, p. 1), a música é tão antiga quanto a
existência do homem, sendo que os primeiros registros de imitações sonoras são
descritos em vários livros que dizem respeito à história da música. Portanto, a música
está inserida no contexto da história da arte, feita por historiadores e, no caso em
especifico, por musicólogos.
Os registros rupestres nas paredes das cavernas, datadas dos primórdios da
civilização humana, já apontam para os primeiros sinais da existência da dança e de
prováveis instrumentos musicais. Sons produzidos por esses movimentos corporais e
também com a boca, podem ser interpretados através desses registros.
O ritmo antecedeu o som. O homem primitivo descobriu a noção de compasso com o
andar, correr, cavalgar, ou exercitar qualquer tarefa com movimentos repetitivos.
(FREDERICO, 2000, p. 7).
Assim, percebe-se que desde a pré-história, a música já demonstrava sua
importância, estando presente em pequenos atos dentro de uma sociedade que ainda
sequer conhecia o sentido dessa palavra. Salienta-se, ainda que uma retrospectiva
na história da humanidade, que em diferentes períodos, essa forma de expressão
musical sempre foi entendida como algo que desperta alegria e que eleva o ser
conforme aponta Fernandes:
[...] A música é uma das mais antigas e valiosas formas de expressão da humanidade e está sempre presente na vida das pessoas. Antes de Cristo, na Índia, China, Egito e Grécia já existia uma rica tradição musical. Na Antiguidade, filósofos gregos consideravam a música como uma dádiva divina para o homem [...] (FERNANDES, 2009, s.n. apud ANDRADE, 2012 p. 8).
14
Depreende-se, portanto, que a música, está intimamente relacionada com a própria
história da humanidade, estando presente em várias culturas e momentos históricos.
Assim, por fazer parte do cotidiano histórico do homem, a música pode ser um forte e
importante aliado também nos processos educacionais.
Diante do exposto, justifica-se uma breve reflexão que aproxime e sinalize
possibilidades de utilização da música como recurso didático para os processos de
ensino e aprendizagem da Geografia.
1.2. A Música nas aulas de Geografia
Conforme já salientado anteriormente, a música está presente no nosso dia-a-dia.
Desde a hora em que acordamos até a hora de dormir. Em vários momentos do nosso
dia estamos ouvindo música.
[...] Por meio do rádio, televisão ou internet, seja no trabalho, em casa, nos automóveis, nos ônibus, trens e metrôs, de bicicleta, seja caminhando/correndo, na intimidade dos aparelhos de ouvido ou abertamente [...]. (CARARO, 2013, p.201).
É consenso que a música nos traz inúmeros benefícios, seja de saúde, entretenimento
ou até mesmo educativo, como ressalta Zampronha (2002); Barbalho, Chipolesch,
Dalamso (2006); Cararo (2013); Goes, Rodrigues (2013). Por exemplo, na área da
saúde, vários são os tratamentos que utilizam a música,
[...] através de seu ritmo contribuem para melhoria de nossa atividade motora, esse estimulo propicia uma melhoria na respiração, circulação, digestão, oxigenação, dinamismo nervoso; a música atua em nossas funções orgânicas [...], modifica o fluxo sanguíneo melhorando funções cardíacas e respiratórias [...]. (ZAMPRONHA, 2012, p.102 apud BARBALHO; CHIPOLESCH; DALAMSO, 2006, p. 9).
Também na educação é possível encontrar vários trabalhos que destacam o uso da
música como ferramenta didático-pedagógica, a exemplo de Barbalho, Chipolesch,
Dalamso (2006); Muniz (2012); Pereira (2012); Cararo (2013); Goes, Rodrigues
(2013).
15
A música também pode despertar diferenciados sentimentos em quem a ouve.
Segundo Frederico (2000), biologicamente, a música tende a despertar sensações
quando atinge o sensório.
O sensório é a parte do cérebro considerada o centro comum de todas as sensações. Quando o sentimento e a emoção mexem com o sistema muscular, ele, estimulado pelo prazer e pela alegria, produz uma contração do peito, da Laringe e das cordas vocais [...]. (FREDERICO, 2000, p. 7).
Essas sensações positivas, por sua vez, podem estimular a realização de algumas
atividades, tanto no âmbito acadêmico quanto fora dele. Essa percepção pode ser
comprovada com exemplos de humanos que exercem melhor uma atividade com a
presença de música, como por exemplo, numa sessão de massagem a música é
instrumento fundamental para fazer a pessoa relaxar, ou ainda, as atividades
domesticas podem ficar mais “leves” se realizadas escutando música.
Decorre daí a hipótese quanto à potencialidade de se trabalhar essa forma de
linguagem como ferramenta didática a ser usada pelos professores em suas aulas,
visto que a sua utilização pode contribuir para tornar as aulas mais prazerosas,
estimulando os alunos a participarem mais, fomentando neles o pensamento crítico.
Para tanto, e especialmente no que se refere ao ensino de Geografia, ressalta-se, a
necessidade de se abandonar os modelos tradicionais conteudistas, que
lamentavelmente ainda teimam em persistirem entre os profissionais da educação.
Vale destacar que,
[...] apesar das produções fonográficas serem produtos da indústria cultural, ou seja, criadas dentro de uma pratica de reprodução capitalista, elas podem ser utilizadas no processo de ensino-aprendizagem da Geografia, no instante em que mostram uma realidade espaço-temporal, fazendo-se capaz de expor uma nova forma de enxergar o mundo, e assim tornar-se ferramenta auxiliar na analise e reflexão do espaço geográfico, traduzindo-se numa proposta pedagógica alternativa no ensino da Geografia [...]. (BARBALHO; CHIPOLESCH; DALAMSO, 2006, p. 1).
Desta forma, embora a música possa tornar-se uma ferramenta para auxiliar nas aulas
de Geografia, é necessário salientar que a mesma não tem, sozinha, o papel e a
obrigação de esgotar todas as possibilidades e alcances do conteúdo da geografia
escolar. Cabe ao professor saber o melhor momento e em que contexto utilizá-la.
16
Também é importante destacar a relevância e necessidade de o professor planejar
suas aulas e a forma como melhor utilizar a música. O não planejamento pode
menosprezar a importância dessa ferramenta e acarretar da música não ser
devidamente explorada em beneficio da aprendizagem discente.
Sabe-se, como bem ressalta Cararo (2013), que ao longo da história da educação,
muitos foram os motivos que levaram o professor a se engessar em práticas
caracterizadas por aulas desmotivantes, apáticas e distantes de seus alunos. Tais
posturas, por sua vez, levam ao desestímulo dos alunos pelos estudos e,
consequentemente, ao fracasso escolar. Aulas pautadas, geralmente na rotina
expositivista e conteudista, na lógica de uma educação bancária, como enfatiza Freire
(1975) que se tornam desinteressantes para os alunos que, por sua vez, por se
tornarem apáticos contribuem para a perpetuação da “mesmice”. Assim, professores
não têm ânimo para propor outros métodos de ensino.
No entanto, é preciso que o professor busque sempre renovar, procurando se
movimentar no ritmo das transformações do mundo, como sabiamente assevera
Cararo (2013),
[...] Vivenciamos, hoje, na educação pública brasileira, muitos desalentos: o baixo reconhecimento social da profissão docente, a violência dentro das escolas, a aprendizagem limitada dos alunos e alunas, a falta de presença/apoio das famílias, etc. Simultaneamente, contudo, há muitas práticas de resistência, que alargam e concretizam outras formas de pensar e fazer a escola e o ensino de Geografia. (CARARO, 2013, p.217).
Nesse cenário de apatia que, via de regra, assola a educação básica, as atividades
lúdicas em geral, tais como dança, música, teatro, desenho, jogos, entre outros,
adquirem grande importância no processo de ensino/aprendizagem dos alunos, visto
que podem estimular a criatividade, o senso crítico, a cooperação... De várias formas
e em vários momentos das aulas, esses recursos podem e devem ser utilizados pelo
professor como uma ferramenta didático-pedagógica muito eficaz.
Mais uma vez, vale ressaltar que nenhuma atividade lúdica tem o dever de ensinar
por si só, conteúdos escolares. Originalmente elas não foram designadas para tais
fins. Daí a importância do professor saber como utilizar tais ferramentas, como
17
preconiza Cararo (2013) ao citar Ferreira (2005), destacando a existência de
vantagens e também de desvantagens na utilização da música como recurso de
ensino. Segundo o referido autor, é possível destacar
[...] uma vantagem e uma desvantagem no uso da música no ensino de qualquer disciplina. No primeiro caso, é a possibilidade de minimizar e/ou romper com o domínio do verbalismo na interação docente-discente. Bem sabemos o quanto tem sido questionada a quase hegemonia das aulas expositivas na prática docente e seu efeito desmotivador na aprendizagem estudantil. Desse modo, a linguagem musical é um segundo caminho comunicativo. Como desvantagem, esse autor aponta a amplitude e a complexidade dessa forma de expressão humana, desafiando o professor e a professora a potencializar o sentido da audição, pesquisando e estudando a riqueza de gêneros e estilos, a fim de melhor utilizá-los em seu trabalho. Portanto enfrentar, com muita disposição e comprometimento, “os pregos no sapato”, visando efetivar um melhor ensino de Geografia. (FERREIRA, 2005, apud. CARARO, 2013, p. 202).
No contexto da educação, de acordo com Goes e Rodrigues (2013), “a inserção da
música à análise geográfica foi propiciada pelas transformações ocorridas nos anos
1970 [...]”. Segundo os referidos autores, até então, pouco se falava na utilização
dessa linguagem como recurso para o ensino da Geografia. O modelo que mais se
via em todas as instituições de ensino era o modelo que Paulo Freire rotulou de
“educação bancária”, onde basicamente o professor falava e o aluno só copiava,
dando a ideia de o aluno ser um banco aonde o professor deposita os conteúdos.
A partir, então, da década de 1970, começa a surgir trabalhos defendendo a mudança desse modelo a partir de novos recursos de ensino. Começam surgir também trabalhos destacando especialmente a importância da música no processo de ensino/aprendizagem: é a música elemento prazeroso, reflexivo, forjador de estilos de vida e presente ao cotidiano das pessoas, a qual pode agir como facilitadora do processo educativo, já que foi criada pelo ser humano para suprir necessidades culturais, sociais, cognitivas, entre outras. (GOES; RODRIGUES, 2013, p. 222).
A música que, como já mencionado anteriormente, por ser uma linguagem tão
presente no cotidiano das pessoas, adquire importância pedagógica, podendo ser
uma importante ferramenta educativa. Visto que em suas letras e melodias,
[...] Carregam e são carregadas de discursos geográficos, ainda que não sistematizados e explícitos, os quais podem mais ou menos encaminhar para o acréscimo do projeto ao sonho; e encaminhar também estímulos para discussões que auxiliem a efetivar-se uma Geografia social em sala de aula, na qual as ideologias centrais facilitadoras das análises e das discussões possam ser ideologias que tragam a tona os discursos dos de baixo,
18
emergentes do cotidiano de nosso país, de nosso estado e de nossos municípios. (GOES; RODRIGUES, 2013, p. 238).
Pertinente destacar aqui o questionamento de Goes e Rodrigues (2013), no que tange
à utilização da música como recurso de ensino. Segundo os referidos autores: “[...] Se
a música é presente no cotidiano do aluno, expressa lugares e situações que lhes são
significativos, por que não utilizá-la na sala de aula? [...]” (GOES; RODRIGUES, 2013,
p. 227).
Mesmo que a linguagem musical esteja inserida nos documentos oficiais que regem
a educação (por exemplo, nas Diretrizes Curriculares Nacionais), o que se tem
observado é que, na realidade, a sua efetiva exploração, como recurso de ensino,
ainda está distante de ser recorrente nas práticas metodológicas dos profissionais da
educação, que atuam em unidades públicas de educação básica.
Não obstante, a proposta da presente investigação, que aborda a música como
recurso didático auxiliar para o ensino de Geografia, vale aqui destacar que o trabalho
de integrar a música aos conteúdos da educação básica, no Brasil, já foi suscitada no
ano de 1889, pelo então ministro da Fazenda do Governo Provisório após a
Proclamação da República no Brasil. Rui também elaborou uma proposta de “Reforma
do Ensino Secundário e Superior" - 1882 (BARBOSA, 1942) e a "Reforma do Ensino
Primário e várias Instituições Complementares da Instrução Pública" – 1883 (IDEM,
1947), onde “indicava o canto, a música e coros para o jardim das crianças, para as
escolas primárias elementares, escolas primárias médias e superiores” (ABEM, 2008).
Como recurso didático ao ensino de diferentes conteúdos, principalmente na
educação básica, as contribuições e possibilidades de utilização da música são
inúmeras:
A música auxilia na aprendizagem de várias matérias. Ela é componente histórico de qualquer época. [...] Os estudantes podem apreciar várias questões sociais e políticas, escutando canções, música clássica ou comédias musicais. O professor pode utilizar a música em vários segmentos do conhecimento, sempre de forma prazerosa [...] A utilização de música (...), pode incentivar a participação, a cooperação, socialização, e assim destruir as barreiras que atrasam a democratização curricular do ensino. (CORREIA e KOSEL, 2003, p.84-85 apud FERREIRA, 2012, p.8).
Portanto, defender o uso da música, como recurso de ensino
19
É de suma importância, visto que possibilita ao atual sistema de ensino, romper com a inércia de metodologias e, ainda se mostra capaz de envolver e atrair os educandos e, consequentemente, melhorar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem. (BARBALHO; CHIPOLESCH; DALAMSO, 2006, p.11).
1.3. A Música como auxílio na análise espacial
O objetivo de estudo da ciência geográfica é o espaço. O espaço é dinâmico e
complexo, envolvendo não apenas os aspectos físicos, como também sociais,
históricos e culturais. Assim, estudar o espaço propiciando aos alunos condições de
uma melhor apreensão desse objeto, bem como das relações de espacialidade que
estão estabelecidas em sociedade, torna-se um grande desafio para os professores.
Há que se considerar, as adversidades de Rego (2007), ao atravessar que “o
professor não deve esquecer que a percepção espacial de cada sujeito ou sociedade
é resultado, também, das relações afetivas e de referências socioculturais. [...]”
(REGO, 2007, p. 45).
É nesse cenário que vislumbramos as inúmeras potencialidades que a utilização da
música, enquanto alternativa metodológica para o ensino de geografia, pode propiciar
ao docente, visto que a mesma é, sem duvidas, uma forte materialização tanto das
relações afetivas quanto de referências socioculturais. Destacamos, ainda, que as
referências culturais dos alunos sempre devem ser consideradas pelo professor, haja
vista que, conforme reforçam Goes e Rodrigues (2013)
[...] a cultura nos seus mais variados elementos descreve, discursa, debate e problematiza os lugares, a paisagens, os territórios. As regiões, os espaços, enfim, temáticas relacionadas à Geografia. [...] (GOES; RODRIGUES, 2013, p. 226).
Retomando a complexidade do espaço geográfico, recorremos a Cavalcanti (2010)
para tentar entender como a Geografia estuda essa complexa categoria de análise.
Para ela,
A Geografia defronta-se, assim, com a tarefa de entender o espaço geográfico num contexto bastante complexo. O avanço das técnicas, a maior e mais acelerada circulação de mercadorias, homens e ideias distanciam os
20
homens do tempo da natureza e provocam um certo “encolhimento” do espaço de relação entre eles. Na sociedade moderna, baseadas em princípios de circulação e racionalidade, há um domínio do tempo e do espaço, mecanizados e padronizados, que se tornou fonte de poder material e social numa sociedade que se constitui à base do industrialismo e do capitalismo. [...] O espaço foi perdendo, assim, sua significação absoluta no lugar para ganhá-la na lógica do poder, da expansão capitalista. Da mesma forma, o tempo tomado como linear e progressivo foi sendo substituído por um tempo cíclico e instável, em razão de que seu sentido passou a ser ligado ao próprio processo produtivo. Instalou-se, assim, uma compreensão e uma vivência de espaço e de tempo relativos. (CAVALCANTI, 2010, p. 16).
Não obstante a potencialidade propiciada pela utilização da música como recurso
metodológico auxiliar ao ensino de Geografia, há que se cuidar e considerar o contexto
espacial em suas diferentes escalas, como bem nos adverte Cararo (2013):
Assim, ao inserirmos a linguagem musical no ensino de geografia, necessitamos, na escala macro, contextualizá-la no atual processo de globalização, por meio das complexas interconexões entre cultura, educação, escola e a nossa área do conhecimento. Por conseguinte, adotando essa postura epistemológica e pedagógica, estaremos mais aptos e instrumentalizados para uma mediação educativa potencializada e intencional na escala micro, ou seja, no/do/com o cotidiano dos alunos. (CARARO, 2013, p.208).
A música e a linguagem musical, quando utilizadas como auxiliar ao processo de
ensino aprendizagem de uma maneira geral e, de forma bastante específica, no
ensino de Geografia, pode propiciar uma aproximação no/do/com o cotidiano dos
alunos e as complexas interconexões entre cultura, educação, saberes, fazeres,
pensares, de uma forma global. Em outras palavras, não só aproximam, como
propiciam aos estudantes, se sentirem sujeitos ativos nos processos de
construção/apropriação do espaço e suas consequentes relações de espacialidades.
21
CAPÍTULO II
A REALIDADE DO ENSINO DA GEOGRAFIA NO AMBIENTE
ESCOLAR.
O ensino da Geografia no ambiente escolar, atualmente, ainda conserva traços
metodológicos do século XIX, quando a disciplina foi institucionalizada na Europa
(CAVALCANTI, 2010). Conforme ressalta Cortella (2014), os tempos estão mudando
e a escola não tem conseguido acompanhar tais mudanças. Boa parte dos alunos é
do século XXI, os professores do século XX e os métodos do século XIX. Tal realidade
nos remete a pensar em novas práticas que possibilite rever, olhar de outro jeito,
alterar o modo como fazemos e pensamos as coisas (CORTELLA, 2014, p.9, grifo do
autor).
O presente capítulo propõe uma revisão histórica da Geografia escolar, bem como
sua trajetória no cenário brasileiro, a fim de entender como se dá a realidade do ensino
de Geografia na sala de aula.
2.1. Uma breve revisita à história da Geografia Escolar
Uma revisita à história do pensamento geográfico nos revela que a Geografia é uma
das mais antigas ciências desenvolvidas pela civilização ocidental, tendo seus
conceitos básicos delineados na Grécia Antiga, onde esta se desenvolveu como
ciência e método de pensamento filosófico. No início, era conhecida como História
Natural ou Filosofia Natural. No entanto, a Geografia Moderna, surge, inicialmente,
como disciplina escolar, no cenário europeu, por volta do final do século XIX.
Primeiramente na antiga Prússia, com a finalidade de prover a formação dos cidadãos,
a partir da ideologia nacionalista. De sua propagação, como disciplina escolar, a
Geografia se institucionaliza como ciência, conforme nos aponta Cavalcanti (2010),
pautada nos estudos desenvolvidos por Vlach (1990):
Foi, indiscutivelmente, sua presença significativa nas escolas primárias e secundárias da Europa do século XIX que a institucionalizou como ciência,
22
dado o caráter nacionalista de sua proposta pedagógica, em franca sintonia com os interesses políticos e econômicos dos vários Estados-nações. Em seu interior, havia premência de se situar cada cidadão como patriota, e o ensino da Geografia contribuiu decisivamente neste sentido, privilegiando a descrição do seu quadro natural (VLACH, 1990, Apud CAVALCANTI, 2010, p. 18).
Nesse cenário, considerando que sua institucionalização enquanto ciência se deveu
à sua sintonia com os interesses políticos e econômicos dos Estados-nações,
depreende-se que a Geografia surge, como instrumento de apoio ao Estado,
propagando uma ideologia voltada ao seu fortalecimento.
Conforme Lacoste (1993), com essa mesma finalidade a Geografia é
institucionalizada na França, no ano de 1870, após a França perder a guerra franco-
prussiana. Lacoste (1993), analisando esse contexto europeu, afirmou que “a
Geografia serve, antes de mais nada, para fazer a guerra”, pois seu surgimento está
relacionado diretamente à sua prestação de serviços para o Estado.
Assim, a finalidade de instituição da Geografia, como disciplina escolar e,
consequentemente, sua consolidação enquanto ciência se efetivou sob as bases
ideológicas dominantes. Esse caráter geopolítico e patriótico perdurou por muito
tempo nas escolas e, lamentavelmente, ainda persiste nos dias de hoje, quando ainda
é possível notar seus resquícios nas práticas e posturas de muitos professores de
Geografia.
2.2. Trajetória da Geografia Escolar no cenário brasileiro: breve histórico
Conforme discutido anteriormente, a Geografia surge atrelada aos interesses
dominantes. Assim, para uma melhor compreensão da geografia escolar, no Brasil,
mister se faz, inicialmente, uma rápida reflexão acerca do contexto educacional em
que ela vai se efetivar. Segundo Melo et. Al (2006), “no Brasil Colônia, durante os
séculos XVI, XVII e XVIII, a educação foi ministrada pelos jesuítas e era claramente
diferenciada entre indígenas e filhos dos colonos” (p. 3). Aos indígenas o ensino era
claramente religioso, catequético. Já para os colonos, era preciso ensinar o amor à
nova pátria, ao território e a suas belezas naturais.
23
Ainda segundo as referidas autoras, a partir do “século XIX, primeiro sob o Império e
depois sob a República, a educação brasileira continuava sendo voltada para a classe
dominante” (p. 3), não abrangendo, portanto, a maioria da população, formada pela
classe pobre. É nesse cenário brasileiro que vai surgir à geografia escolar.
Formalmente incorporada à Escola no Brasil a partir da fundação do Colégio Pedro II (1837), a Geografia passou a ser ensinada nas escolas secundárias do país, e desde então, faz parte dos conteúdos definidos por todas as Reformas Educacionais Brasileiras, de 1889 aos dias atuais, mantendo seu “status” de matéria obrigatória. (MELO; VLACH; SAMPAIO, 2006, p. 3).
No entanto, a Geografia somente vai se concretizar como disciplina obrigatória na
educação básica apenas no século XX. Segundo Melo et. Al (2006),
[...] isso só aconteceu depois de 1930, com a expansão urbana, a efetiva formação do mercado nacional, a diversificação do processo de industrialização e a nova exigência de trabalhadores alfabetizados. (MELO; VLACH; SAMPAIO, 2006, p. 3).
A exemplo do que ocorreu no âmbito mundial, também no Brasil a inserção da
Geografia na educação, como disciplina escolar obrigatória, principalmente na
educação básica, se prendeu à necessidade de atender aos interesses dominantes,
tendo por principal objetivo alfabetizar e preparar os estudantes para o mercado de
trabalho. Assim, com bases e fundamentos conteudistas, mnemônicos, distantes e
sem atrativos para os alunos, a geografia passa a ser considerada pelos mesmos
como uma disciplina chata e sem motivação.
Assim, não obstante os avanços da ciência Geográfica, ainda é possível observarmos,
com certa frequência, resquícios da geografia escolar tradicional, permeando as
relações de ensino-aprendizagem nas escolas públicas brasileiras. Considera-se,
ainda, que a relação entre Geografia escolar e a ciência Geográfica dispõe de grande
complexidade. Podemos dizer que as duas se complementam e se cruzam, formando
uma unidade, mas não iguais, portanto, passíveis de diferenças, conforme bem
salienta Cavalcanti.
A relação entre uma ciência e a matéria de ensino é complexa: ambas formam uma unidade, mas não são idênticas. A ciência geográfica constitui-se de teorias, conceitos e métodos referentes à problemática de seu objeto de investigação. A matéria de ensino de Geografia corresponde ao conjunto de saberes dessa ciência [...]. (CAVALCANTI, 2010, p. 9).
24
Destarte, a trajetória da Geografia escolar, em muitos momentos da história, se
esbarra nas transformações ocorridas na ciência Geográfica ao longo das décadas.
À vista disso, resgatando o ensino da Geografia ao longo de sua história e de sua
prática, podemos compreender melhor a sua trajetória, as atitudes dos profissionais
de educação, o envolvimento teórico e as opções metodológicas, bem como as
motivações, interesses e envolvimento dos alunos nas aulas de Geografia.
Vale reafirmar, portanto, que a Geografia escolar, por muitas vezes não conseguiu se
desenvolver no mesmo ritmo que a ciência geográfica, ao ponto que tempos, nos dias
de hoje, uma ciência crítica, mas, em contrapartida, uma matéria de ensino por vezes
tradicional e quantitativa.
A década de 1970 – no período da Ditadura Militar – por exemplo, exemplifica bem
esse descompasso.
Segundo Pontuschka et. Al. (2009)
Enquanto na universidade [...] os debates se acirravam em decorrência da busca de novos paradigmas teóricos no âmbito do conhecimento em Geografia, a escola pública de primeiro e segundo graus, hoje ensino fundamental e médio, enfrentava um problema ocasionado pela Lei 5.692/71: a criação de Estudos Sociais com a eliminação gradativa da História e da Geografia da grade curricular [...]. (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE; 2009, p. 59).
Durante esse período, a disciplina de Geografia foi aos poucos sendo “jogada de
escanteio”, sendo substituída nas escolas, juntamente com a disciplina de História,
pelos Estudos Sociais, que para Pontuschka et. Al. (2009)
[...] Apresentavam um conteúdo difuso e mal determinado, não se sabendo se se tratava de uma área de estudo ou uma disciplina escolar, ora aparecendo como sinônimo de Geografia humana, ora usurpando o lugar das Ciências Sociais ou da História ou pretendo impor-se como uma espécie de aglutinação de todas as ciências humanas [...]. (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE; 2009, p. 60).
Já nas décadas de 1980 e 1990, encabeçados principalmente pela AGB (Associação
Brasileira de Geógrafos), os professores formados, bem como aqueles que ainda
25
estavam em formação, uniram-se, a fim de contestar a realidade até então vigente,
num verdadeiro movimento de renovação da Geografia escolar. Esse movimento se
propusera a discutir as Geografias Tradicional e Quantitativa, que eram vigentes na
época. Nesse período, “variada produção sobre o ensino da disciplina foi posta à
disposição de seus professores e dos responsáveis pela formação docente do país”.
(PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2009, p. 67).
Foi no bojo desse movimento de renovação da Geografia que se buscou reivindicar
melhorias na qualidade de seu ensino, bem como de uma revisão dos conteúdos
escolares e de seus métodos de ensino. Nesse sentido, era preciso repensar, então
os cursos de formação de professores, a fim de atender às exigências abordadas pelo
movimento.
Foi a partir desse movimento de renovação, também, que emerge a chamada
Geografia Crítica, que, apesar de não ser uma corrente com um pensamento
uniforme, tinha alguns pontos em comum. Entre eles a busca pela reformulação do
ensino de Geografia.
Segundo Cavalcanti
[...] Essa Geografia caracteriza-se pela estruturação mecânica de fatos, fenômenos e acontecimentos divididos em aspectos físicos, aspectos humanos e aspectos econômicos, do modo que forneça aos alunos uma descrição das áreas estudadas, seja de um país, de uma região ou de um continente. (CAVALCANTI, 2010, p. 20).
As propostas geradas a partir desse movimento tinham como ideia comum que a
Geografia deixasse de ser uma disciplina pautada na simples enumeração e descrição
de dados e fatos, cabendo ao aluno a memorização de informações, mas que tivesse
um papel social de ajudar a formar cidadãos críticos e conscientes de seu papel na
sociedade.
É nesse cenário histórico que se consolidou o ensino de Geografia no Brasil. Assim,
a partir de experiências em sala de aula, notamos que aulas de geografia, na maior
parte do tempo, continuam sendo consideradas cansativas e desestimulantes, ao
passo que, na maioria das vezes, os professores se restringem aos modelos
26
tradicionais de transmitir informações e querer do aluno que eles gravem os conteúdos
para fazerem a avaliação.
Com esse modelo de ensino, descontextualizado da realidade dos estudantes, a
escola aumenta cada vez mais a distância entre o conteúdo e sua implicação na vida
cotidiana dos discentes. Sobre isso, pertinente a contribuição de Rego (2007), ao
afirmar que “[...] o aluno não adquiri confiança nas propostas da escola e acha que
não aprendeu nada e, mesmo que tenha aprendido, não sabe onde e nem como
utilizar. [...]” (p. 44).
Comumente, a escola pública brasileira, vem empregando esse modelo de ensino que
é direcionado a formar indivíduos para o mercado de trabalho. Modelo que, conforme
já mencionando anteriormente, Freire (1994), denominou de “educação bancária”, em
que o professor deposita o conhecimento em seus alunos, que são vistos como uma
“tabula rasa”, ou seja, desprovidos de seus próprios pensamentos. Para o autor, esse
sistema só fortalece a estratificação das classes sociais, servindo de treinamento para
a formação da massa de trabalhadores para o mercado.
Esse modelo de aula onde o professor fala e os alunos somente anotam, torna-se
extremamente desestimulantes, fato que interfere negativamente no processo de
ensino/aprendizagem. Exigindo, assim, alternativas metodológicas que rompam com
tais posturas.
Daí a gênese da presente proposta investigativa: pensar em práticas pedagógicas
alternativas, em destaque a música, para o ensino da Geografia, como caminho
possível para se sucumbir com esse modelo tradicional de ensino,
predominantemente descontextualizado da realidade dos alunos.
Pertinente, pois, a advertência de Rego (2007), ao afirmar que “o professor não deve
esquecer que a percepção espacial de cada sujeito ou sociedade é resultado,
também, das relações afetivas e de referências socioculturais. [...]” (p. 45). Nesse
sentido, todo conteúdo deve buscar contextualizar-se com a realidade dos estudantes,
caso contrário não terá valor algum para vida dos mesmos.
27
Com a globalização e as novas tecnologias exigem que sejam empregadas novas
metodologias no processo de ensino/aprendizagem (FERREIRA, 2012, p. 7).
Devemos incessantemente defender que não se pode mais, nos dias atuais, termos
professores ministrando aulas da mesma forma como os professores de décadas
atrás. Faz-se extremamente necessário o uso de novas tecnologias e ferramentas nas
aulas, a fim de dar suporte aos métodos de ensino do professor.
Desta forma, em nossas reflexões, nos propomos sugerir a utilização dessas novas
ferramentas didático/pedagógicas atreladas, no caso deste trabalho a utilização da
linguagem musical, adaptada aos métodos já utilizados na sala de aula. Assim, uma
metodologia não se propõe substituir a outra, mas um trabalho onde uma
complemente a outra e “a linguagem musical servirá de um segundo caminho
comunicativo” (CARARO, 2013, 202), resultando em aulas mais estimulantes e a
participação efetiva dos alunos.
É consenso entre os educadores, a exemplo de Barbalho, Chipolesch, Dalamso
(2006); Cararo (2013); Goes, Rodrigues (2013) que para uma aprendizagem ser
eficiente e significativa, torna-se necessário o desejo pela aprendizagem. Ou seja,
para que os alunos apreendam os conteúdos, devem querer apreendê-los. Desta
forma, as aulas que não estimulem a participação dos educandos, dificilmente terão a
aprendizagem efetivada.
Com esse intuito, nosso próximo desafio será o de apresentar uma proposta
alternativa de ensino. Para tanto, foi planejada e implementada uma oficina
pedagógica.
28
CAPÍTULO III
OFICINA PEDAGÓGICA: POSSIBILIDADE DE ENSINO
Conforme anunciado anteriormente e apoiados nos pressupostos e apontamentos dos
capítulos anteriores, propusemos uma intervenção no cotidiano escolar, utilizando,
portanto, a música como ferramenta pedagógica nas aulas de Geografia.
Para tanto, elegemos como universo dessa etapa da pesquisa uma turma de primeiro
ano do Ensino Médio, de uma escola estadual, localizada no bairro de Maruípe, na
cidade de Vitória/ES. A turma tem cerca de 30 (trinta) alunos, com faixa etária
compreendida entre 15 e 16 anos.
Nesse sentido, buscando diagnosticar nosso universo de pesquisa, procedemos, num
primeiro momento, a uma breve caracterização da escola e do bairro, ressaltando,
principalmente, os aspectos econômicos, históricos e culturais, conforme será
apresentado adiante...
Num segundo momento, procedemos ao levantamento de informações do corpo
discente, necessárias à nossa proposta de intervenção, tais como, por exemplo, a
opinião da turma sobre as aulas de Geografia, aulas diferenciadas utilizando outros
meios, se já tiveram aulas com utilização de músicas, se viam proximidade entre
música e Geografia, entre outras. Para tanto, o instrumento utilizado foi a aplicação
de um questionário, cujos dados foram tabulados e também serão apresentados a
seguir.
O intuito do questionário, além do levantamento acima citado, nos fez realizar algumas
reflexões, que serão debatidas no item 3.2.
Assim, em um terceiro momento, apoiados nos dados empíricos propiciados pelo
questionário, elaboramos uma proposta de oficina pedagógica, que foi implementada
junto a turma eleita. Para tanto, a referida oficina envolveu um conteúdo da disciplina
proposto pelos PCN’s de Geografia (BRASIL, 2015) e constante no Plano de Ensino
do professor de Geografia responsável pela turma em questão.
29
Os desdobramentos da oficina também serão relatados adiante, no subtítulo 3.3.
3.1. Caracterização da Escola Campo e seu entorno
A EEEFM “Aflordízio Carvalho da Silva” se localiza no bairro de Maruípe e atende a
população da Região Administrativa número 4, denominada como Região de Maruípe,
conforme se pode visualizar no mapa abaixo:
Mapa 2 - Mapa da região administrativa Nº 4. Fonte: página da web PMV.
Segundo dados retirados da página da web da Prefeitura Municipal de Vitória, a região
engloba uma das mais antigas áreas de ocupação do município, surgindo na década
de 1930, com o loteamento conhecido como Vila Maruhype, que mais tarde fora
chamado de Vila Maria. Por sua vez, o loteamento tem origem de uma antiga fazenda,
conhecida pelo nome de Fazenda Maruípe.
Anunciação et. Al. (2015) citando Campos Júnior (2002), afirmam que apesar de ser
a propriedade de maior extensão na ilha de Vitória, contando-a em sentido norte-sul,
estar fora da influência da maré, e ser uma área de prolongamento natural do
perímetro urbano, a fazenda só chegou aos órgãos públicos em 1920 quando foi
30
vendida para o Estado. Até então ela pertenceu ao Sr. Brian Barry, norte-americano
que era o gerente comercial da casa de exportação de café, que na primeira década
do século XX vendeu a fazenda para o Sr. Nicolau Von Schilgen, cônsul da Alemanha.
(CAMPOS JUNIOR, 2002, apud. ANUNCIAÇÃO; ALVARENGA; SILVA, 2015, p. 13).
Ainda segundo Anunciação et. Al. (2015) citando Campos Júnior (2002), naquele
mesmo ano, a fazenda foi comprada pelo Banco do Espírito Santo, que a partir de
1924 se desfez dela por meio de doações à Prefeitura Municipal de Vitória. (CAMPOS
JUNIOR, 2002, apud. ANUNCIAÇÃO; ALVARENGA; SILVA, 2015, p. 13).
Conforme dados constantes no site da Prefeitura Municipal de Vitória (2015), foi só a
partir da década de 1940, que região de Maruípe começou a efetivar sua ocupação,
em decorrência de um processo de êxodo rural que acarretou um grande aumento
populacional da capital capixaba. A partir de então, e nos anos posteriores, a região
começou a ganhar aparatos públicos, como o Parque Municipal Horto de Maruípe, o
Cemitério Boa Vista, o Hospital Santa Rita, o 1º Batalhão da Polícia Militar, entre
outros.
Ainda segundo a Prefeitura Municipal de Vitória, atualmente a Região Administrativa
de Maruípe é a mais populosa das regiões de Vitória, contando com os 12 bairros:
Joana D’arc, Andorinhas, Itararé, São Benedito, Bonfim, Santa Martha, Bairro da
Penha, São Cristovão, Santos Dumont, Santa Cecília, Maruípe e Tabuazeiro,
possuindo cerca de 54.402 habitantes (IBGE 2010).
Não obstante ser a região mais populosa, por possuir a terceira maior em área, com
5.684.216m², ocupa apenas a sexta colocação no que se refere à densidade
demográfica, com 7.122 hab/km².
Conforme dados do IBGE (2010), a renda média da região, em 2010, era de R$
806,72. Ou seja, a população local tem uma clara fragilidade econômica. Também é
relevante considerar que cerca de 98,6% dos moradores da região, com mais de dez
anos de idade são alfabetizadas.
31
No que se refere à EEEFM “Aflordízio Carvalho da Silva”, vale registrar que a mesma
passou recentemente por um processo de reforma. Assim, com a reforma parcial, a
escola possui amplas salas de aula, banheiros, refeitório, biblioteca e laboratório de
informática em bom estado de conservação. Porém, essa infraestrutura ainda não é
totalmente adequada, visto que não possui auditório, quadra poliesportiva e outros
laboratórios para atender satisfatoriamente aos estudantes.
A escola atende, em geral, ao público da região – bairros de Maruípe, Andorinhas,
Itararé, São Cristóvão, Santa Martha, Joana D’arc, São Benedito, Bonfim, Bairro da
Penha, Santos Dumont, Santa Cecília e Tabuazeiro.
A escola funciona nos turnos matutino, vespertino e noturno. O turno matutino atende
o ensino médio, contabilizando, entre seis turmas de primeiros anos, quatro turmas
de segundos anos e três turmas de terceiros anos, um total de 477 alunos.
O turno vespertino atende aos ensinos médio e fundamental II, sendo composto pelas
seguintes turmas: um sexto ano, dois sétimos anos, um oitavo ano e três nonos anos,
no que se refere ao ensino fundamental, e três primeiros anos e um segundo ano, no
que se refere ao ensino médio, somando um total de 310 alunos.
O período do noturno também atende somente ao ensino médio, este sendo dividido
em três primeiros anos, dois segundos anos e dois terceiros anos, contabilizando o
número de 191 alunos. No total, portanto, a escola atende o número de 978 alunos,
estando 789 no ensino médio e 189 no ensino fundamental.
Assim, após essa breve caracterização da Escola e seu entorno, delimitando ainda
mais nosso universo de pesquisa, buscamos ouvir os alunos da turma de primeiro ano
do Ensino Médio sobre suas vivências, concepções e perspectivas acerca do ensino
de Geografia.
3.2. Aulas de Geografia: vozes dos estudantes...
32
Conforme já anunciado e no intuito de ouvir as vozes dos estudantes no que tange às
aulas de Geografia, bem como mapear o interesse e envolvimento dos mesmos com
essa área do saber, aplicamos, no dia 16 de setembro de 2015, um questionário em
uma turma de primeiro ano do Ensino Médio da EEEFM Aflordízio Carvalho da Silva.
Responderam e devolveram o questionário um total de 28 (vinte e oito) estudantes.
De imediato salientamos que, após a tabulação dos dados, constatamos que os
resultados apresentados em algumas questões foram bem diferentes daquilo que nós
cogitávamos que seria. Não que isso tenha prejudicado o andamento do trabalho, mas
nos fez refletir a respeito e levantar alguns questionamentos.
No que se refere à opinião dos estudantes sobre o acham das aulas de Geografia, a
grande maioria afirmaram gostar das aulas de Geografia e acham os conteúdos
interessantes, como se pode observar pelo Gráfico 1, abaixo, que sintetiza as
respostas encontradas nos questionários, classificadas em quatro categorias: Ótima
ou boa, Legal ou interessante, Ruim e Não responderam.
Gráfico 1 - O que você acha das aulas de Geografia?
Fonte: Questionário elaborado pelos autores.
De acordo com o gráfico, portanto, 79% (setenta e nove por cento) dos alunos gostam
das aulas de Geografia e apenas 7% (sete por cento) acham as aulas ruins. Destaca-
32%
47%
7%
14%Ótima ou Boa
Legal ou Interessante
Ruim
Não Responderam
33
se, negativamente, que 14% (quatorze por cento) dos alunos optaram por não
responder a questão.
No intuito de obter a opinião dos alunos acerca da utilização de recursos didáticos
alternativos para a efetivação do processo de ensino-aprendizagem em Geografia, os
mesmos foram perguntados se julgam que tais recursos podem contribuir para tornar
as aulas mais atraentes. A tabulação dos dados obtidos é retratada no Gráfico 2
abaixo, onde se observa que 71% (setenta e um por cento) dos alunos afirmam que
tais práticas ajudam a tornar as aulas mais atraentes, enquanto que 29% (vinte e nove
por cento) julgam que não auxiliam. Ou seja, para a maioria dos entrevistados, as
aulas de Geografia poderiam melhorar se utilizassem outros recursos e ferramentas.
Gráfico 2 – Uso de recursos alternativos tornam as aulas de Geografia atraentes?
Fonte: Questionário elaborado pelos autores.
Vale aqui, de imediato, ressaltar que, de acordo com o resultado dessa questão, a
intervenção que propomos – a de usar a música como uma ferramenta didático-
pedagógica – ganha importância.
Ressalta-se, também, que o intuito da pesquisa não é de propor que todas as aulas
de Geografia usem a música como uma ferramenta. Infere-se, aqui, a possibilidade
da utilização da música como uma ferramenta possível dentre tantas outras.
71%
29%
Sim
Não
34
Então, buscamos saber de nossos estudantes, se algum docente já tinha utilizado a
música como recurso alternativo em alguma aula. As respostas obtidas revelam um
quadro preocupante, visto que, conforme se visualiza pelo Gráfico 3, mais da metade
dos respondentes (54%), afirmam que nunca tiveram oportunidade de assistir à
alguma aula, de nenhuma disciplina, que se utilizasse da música como recurso
alternativo.
Gráfico 3 – Você já participou aulas que utilizavam música como recurso?
Fonte: Questionário elaborado pelos autores.
Mais uma vez, ganha relevância nossa proposta de intervenção, haja vista a
necessidade de buscar trabalhar com outras ferramentas nas aulas, a fim de tornar a
aprendizagem mais prazerosa e atrativa.
No que se refere à opinião dos estudantes quanto ao número de aulas semanais de
Geografia, se os mesmos consideram tal carga horária suficiente para uma
aprendizagem significativa, 39% (trinta e nove por cento) dos respondentes julgam
que a carga horária atual é insuficiente, enquanto que 61% (sessenta e um por cento)
julga suficiente a atual carga horária, conforme se visualiza no Gráfico 4, a seguir:
Gráfico 4 – A atual carga horária das aulas de Geografia é suficiente?
46%54%
Sim
Não
35
Fonte: Questionário elaborado pelos autores.
A tabulação dos dados desta questão revela que, para a maioria dos alunos, as
quantidades de aulas de Geografia, por semana, são suficientes, desconstruindo,
assim, o pensamento que tínhamos sobre essa questão: para nós, as aulas de
Geografia não eram suficientes para dar conta dos conteúdos e da aprendizagem dos
alunos. Essa constatação nos leva a questionar a “forma” como tem sido trabalhada
tal disciplina na Educação Básica. Será que os estudantes estão realmente tendo uma
base sobre a relevância dessa área do saber? Será que a aula de Geografia tem sido
trabalhada de forma significativa e atraente para os estudantes?
No intuito de subsidiar o planejamento da atividade de intervenção, por meio da
implementação de uma oficina pedagógica, com utilização da música como recurso
metodológico, buscamos ouvir os alunos a respeito dos gostos e preferências
musicais dos mesmos. Assim, diante da pergunta sobre o tipo de música que o
estudante gosta de ouvir o mesmo pôde expressar qual ou quais estilos musicais que
mais gostam de ouvir, como se observa no Gráfico 5.
Gráfico 5 – Tipos e preferências musicais dos estudantes.
61%
39%Sim
Não
36
Fonte: Questionário elaborado pelos autores.
Nessa questão, consideramos todas as respostas apresentadas nos questionários,
contabilizando, em alguns casos, mais de um estilo musical por questionário. Assim,
do total de questionários respondidos, obtivemos um total acima dos 100% (cem por
cento), considerando que em alguns dos questionários o respondente optou por mais
de um estilo musical. As respostas revelam certo ecletismo musical de nossos
estudantes. No entanto, o estilo que mais agrada os alunos, segundo o gráfico é a
música eletrônica (17%), seguidos pela música pop (13%). Já os estilos com menor
recorrência nas respostas foram a música clássica, o forró e o MPB, ambos com 2%
cada. Essa multiplicidade reflete quão variada é a cultura brasileira, visto que esses
estilos musicais estão ligados diretamente à cultura do país. Então, trabalhar com
esses estilos musicais, também é trabalhar a cultura.
No intuito de colher depoimentos e opiniões dos estudantes sobre as perspectivas dos
mesmos a respeito da associação da música às atividades escolar, perguntamos se
consideram que as letras das músicas que ouvem abordam assuntos e temas ligados
ao cotidiano em que vivem, bem como de que forma observam essa aproximação,
caso positivo.
As tabulações das respostas obtidas também revelam dados surpreendentes ao
demonstrar que 50% (cinquenta por cento) dos alunos não conseguem relacionar as
2%
17%
2%
5%
7%
9%
4%
2%
9%
13%
4%
5%
9%
6%6%
Clássica
Eletrônica
Forró
Funk
Gospel
Rap
Internacional
MPB
Pagode
Pop
Sertanejo
Reggae
Rock
Vários Estilos Músicais
Não Responderam
37
letras das músicas com o cotidiano deles. Já 46%, responderam que sim e 4% não se
manifestou, conforme Gráfico 6 abaixo:
Gráfico 6 – As letras das músicas estão ligadas ao seu cotidiano?
Fonte: Questionário elaborado pelos autores.
É preocupante constatar que a metade dos estudantes entrevistados apresentam
dificuldades em relacionar as letras das músicas que ouvem com o cotidiano deles.
Portanto, essa constatação permite-nos reforçar a importância de trabalhar essa
aproximação que tende a contribuir no entendimento dos conteúdos dos diferentes
estilos musicais e relacioná-los, também, aos conteúdos de Geografia.
Quando perguntados sobre a proximidade entre a música e os conteúdos da
Geografia, 61% (sessenta e um porcento) dos alunos afirmam que não veem essa
relação, conforme explicita o Gráfico 7. Esse percentual, se por um lado nos levou a
questionar a validade da proposta de intervenção, associando a música com o ensino
de Geografia, por outro lado reafirmou nosso desejo em buscar evidenciar a
potencialidade dessa aproximação.
Nosso desejo ganhou ainda mais consistência ao analisarmos a totalidade dos dados
obtidos pelos questionários, que percebemos que até mesmo os alunos que não viam
relação entre música e Geografia, afirmaram que gostariam que tê-la como ferramenta
pedagógica.
46%
50%
4%
Sim
Não
Não Responderam
38
Gráfico 7 – Questão: Você vê proximidade entre a Geografia e a Música?
Fonte: Questionário elaborado pelos autores.
Ao serem perguntados se o uso da música nas aulas de Geografia poderia contribuir
para facilitar a compreensão dos conteúdos geográficos, 50% (cinquenta por cento)
dos respondentes consideram que não auxiliaria, enquanto que 46% (quarenta e seis
por cento), julgam positiva as possibilidades, como se observa no Gráfico 8 abaixo:
Gráfico 8 – O uso da música nas aulas de Geografia facilitaria a sua compreensão
dos conteúdos geográficos?
Fonte: Questionário elaborado pelos autores.
Novamente as respostas obtidas nos levaram, num primeiro momento, a questionar o
sentido de propormos o uso da música como ferramenta pedagógica, pois metade dos
alunos não acreditava que a utilização da linguagem musical facilitaria a compreensão
36%
61%
3%Sim
Não
Não Responderam
46%50%
4%Sim
Não
Não Responderam
39
dos conteúdos geográficos. No entanto, se faz considerar, também, que os alunos
respondentes foram praticamente unânimes na afirmação de que não tinham assistido
a nenhuma aula de Geografia que utilizasse de tal recurso. Assim, resolvemos
avançar com nossa proposta de intervenção.
Diante do exposto e pautados nos dados e informações obtidas com o questionário,
nosso próximo desafio foi o de pensar, planejar e implementar uma atividade de
intervenção, apoiados nos pressupostos da Oficina Pedagógica.
3.3. A Oficina Pedagógica
No decorrer de nossa caminhada pedagógica, seja como bolsistas de iniciação à
docência, como professores ou ainda nos estágios supervisionados, percebemos que
muitos alunos não se envolvem com as aulas, quando estas são meramente
expositivas. Eles acabam caindo, grande parte do tempo, na rotina monótona de ouvir
o professor falando e, assim, se dispersando com outras atividades.
Em contrapartida, percebemos que quando os professores fazem uso de outras
ferramentas, tais como, música, filme, teatro, obras de arte etc., conseguem atrair o
aluno e envolvê-lo na aula. As atividades lúdicas auxiliam, dessa forma, no processo
de ensino-aprendizagem dos educandos. Percebe-se que em aulas que se utiliza a
música, a dança, o teatro, entre outras expressões artísticas, os alunos demonstram
maior facilidade em relacionar os conteúdos com a realidade de vida deles.
Nesse sentido, é latente a importância de propor alternativas metodológicas, no intuito
de contribuir cada vez mais para a melhoria da interação professor-aluno, bem como
aproximar os temas da geografia ao cotidiano dos alunos.
Diante do exposto, optamos por uma intervenção em nosso universo de pesquisa,
apoiando-nos nos pressupostos metodológicos de uma oficina pedagógica. Essa
opção se justifica por considerarmos um conteúdo prático, de contato direto com o
estudante. Destarte, a oficina pedagógica é uma prática de ensino que envolve
professor e alunos num trabalho integrado e participativo.
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Via de regra, a realização da oficina pedagógica tem como objetivo produzir
conhecimentos a partir de situações vivenciadas por cada um dos participantes.
Conhecimento esse que é produzido coletivamente, sempre reforçando a importância
do trabalho coletivo, conforme bem explicita Martin (1990):
[...] Procuramos através desse espaço, uma atmosfera facilitadora, para que a elaboração, o discernimento e a construção pudessem ser uma constante no fazer coletivo [...]. (MARTIN, 1990, p.71).
No intuito de dar maior visibilidade às etapas e procedimentos adotados na condução
de nossa proposta de intervenção, descreveremos, a seguir, os passos percorridos
em sua objetivação.
Toda atividade pedagógica que se quer positiva, exige, em um primeiro momento, o
seu planejamento, onde são previstos os passos e procedimentos a serem seguidos
na sua implementação. Assim, após o planejamento da oficina (plano em anexo),
contamos com o professor de Geografia da EEEFM “Aflordízio Carvalho da Silva”,
responsável pelas aulas na turma de primeiro ano do ensino médio, eleita como nosso
universo de pesquisa. Nesse contato, ficou agendado que a oficina seria
implementada nos dias 07, 09 e 21 de outubro de 2015.
Coerentemente com a nossa problemática de pesquisa, a oficina teve como objetivo
geral: utilizar a linguagem musical para discutir/expor aos alunos de forma
diferenciada, lúdica e mais atrativa, os assuntos referentes à migração, conteúdo
proposto pelo PCN de Geografia para o 1º ano.
Especificamente objetivamos: apresentar a linguagem musical como uma ferramenta
possível de ser utilizada nas aulas de Geografia; apresentar algumas músicas que
abordam a temática de migração; debater com os alunos sobre os motivos que levam
as pessoas a migrarem; estimular os alunos a relacionar as músicas apresentadas
com a temática de migração.
A oficina se iniciou já na entrada dos alunos em sala de aula, sendo esses recebidos
ao som de um fundo musical, a fim de despertar a atenção dos alunos. No quadro,
foram afixadas duas imagens, sendo elas: o quadro “Os retirantes” de J. Miguel e outro
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quadro da série “Retirantes” de Cândido Portinari. A sala, disposta em um grande
círculo.
Depois que todos os alunos se acomodaram, iniciamos a oficina com a realização de
uma dinâmica de interação, no intuito de desenvolver e despertar nos alunos a
importância do trabalho em grupo, ao mesmo tempo em que já se iniciava o assunto
proposto pela oficina.
A dinâmica denominada de “Dinâmica do rolo de barbante” foi adaptada e
desenvolvida da seguinte forma e passos:
1º Os oficineiros solicitaram aos alunos participantes que ficassem em pé na sala de
aula, formando um círculo;
2º Um dos oficineiros iniciou a dinâmica se apresentando, dizendo seu nome, idade,
o local de origem (onde nasceu, de onde vem seu pai ou sua mãe). Então, segurando
a ponta do fio de barbante, deu linha e jogou o rolo de barbante para outra pessoa do
círculo de forma aleatória.
3º A pessoa que pegou o rolo de barbante arremessado, por sua vez também se
apresentou, a exemplo do anterior, dizendo o nome, a idade, onde nasceu e de que
cidade seus pais vieram. O participante, então, repetiu o movimento do participante
anterior e segurou o fio de barbante, deu linha e novamente arremessou o rolo para
outra pessoa, dando a essa a oportunidade de falar sua origem e assim
sucessivamente.
4º Após todos os integrantes do círculo terem recebido o rolo de barbante e falado
sobre sua origem e a origem os pais, os oficineiros chamaram a atenção de todos
para que o objetivo da dinâmica fosse exposto, suscitando uma reflexão coletiva.
Explicitando que a dinâmica do “rolo de barbante” nos permite analisar a importância
do relacionamento interpessoal, bem como dar visibilidade às redes e relações que
são propiciadas com a “mobilidade” das pessoas. Como conhecendo um pouco mais
uns aos outros criamos redes de relacionamentos, assim como foi criada uma grande
teia pelos fios de barbante, conforme se visualiza na foto abaixo:
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Figura 1 – Dinâmica de interação.
Fonte: Arquivos dos pesquisadores.
A dinâmica de interação foi bem aceita pelos alunos, que se mostraram participativos
e interessados. Através dessa dinâmica, também pudemos, de forma bem sutil,
introduzir o tema da oficina, ao problematizar com eles sobre os processos migratórios
que eles ou os pais fizeram para chegar até a escola. Assim, o conteúdo inicial,
“migração” acaba fazendo parte do cotidiano daquele aluno, fazendo que o mesmo
absorva, aprenda sobre este assunto na prática.
Após a realização da dinâmica, iniciamos o próximo passo da oficina entregando aos
alunos cópias de letras de duas músicas, sem falar nada no primeiro momento.
Fizemos uma leitura com eles, a fim de tirar possíveis dúvidas. Posteriormente,
ouvimos com eles cada uma das músicas, auxiliando-os a prestar bastante atenção
na letra. As músicas escolhidas foram “Migração”, de Jair Rodrigues e “Migração”, da
Banda Delinquentes (letras em anexo).
Vale registrar que durante todo o processo de implementação da Oficina Pedagógica,
o professor responsável pela turma esteve presente em sala de aula.
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Sem explicar de início a intenção de ter usado as músicas, iniciamos uma conversa
com os alunos a respeito do tema escolhido para a oficina – migração. Para início de
conversa, utilizamos a estratégia da tempestade de ideias. Para tanto, colocamos no
quadro o tema “migração” e indagamos aos alunos sobre o que vinha na cabeça deles
quando deparados com aquele tema.
Posteriormente, fomos inserindo o conteúdo, problematizando com os alunos alguns
pontos importantes, tais como o que leva as pessoas a migrar, quais os tipos de
migração, quais os efeitos da migração, etc., sempre procurando incentivar os alunos
a darem exemplos do cotidiano deles.
Dando sequência às atividades, os oficineiros revelaram para os alunos e propuseram
a composição de dois grupos, a serem constituídos segundo a distinção prévia das
cadeiras expostas no início. Assim, formaram os dois grupos que trabalhariam
daquele ponto em diante. Dessa forma, os oficineiros realizaram o sorteio das
músicas, ou seja, cada grupo correspondeu a uma música anteriormente ouvida.
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Figura 2 – Confecção das oficinas, Grupo 1.
Fonte: Arquivo dos pesquisadores.
Figura 3 – Confecção das oficinas, Grupo 2.
Fonte: Arquivo dos pesquisadores.
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Como proposta de trabalho para cada grupo, foi solicitado que os mesmos
apresentassem uma releitura da música escolhida. Desse modo, um grupo ficou
responsável pela música “migração”, de Jair Rodrigues. O outro grupo ficou
responsável por apresentar a música “migração”, da Banda Delinquente. Então, foi
destinado um prazo de trinta minutos para que os grupos elaborassem a atividade
proposta.
Figura 4 - Confecção das oficinas.
Fonte: Arquivo dos pesquisadores.
Ao terminarem de confeccionar os trabalhos, partimos então para as apresentações,
que foram realizadas de forma livre... Ambos os grupos escolheram fazer uma releitura
das suas respectivas músicas através de um rap.
O grupo 1, que ficou responsável pela música “migração”, de Jair Rodrigues, produziu
um rap, baseando-se na música original, porém criaram uma nova história, conforme
mostra a figura 6.
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Também os alunos do grupo 2, responsável pela música “migração”, da Banda
Delinquentes, optaram por produzirem um rap. A história criada, entretanto, já não
teve tanta semelhança com a música original, conforme figura 8 abaixo.
Figura 5 – Música produzida pelo grupo 1.
Figura 5 – Releitura da música Migração, de Jair Rodrigues, produzida pelos alunos durante a oficina.
Figura 6 - Apresentação da releitura da música cantada em forma de rap.
Figura 6 - Apresentação da releitura cantada pelos alunos em forma de rap. Fonte: Arquivo dos pesquisadores.
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Figura 7 – Música produzida pelo grupo 2.
Figura 7 - Releitura da música Migração, de Jair Rodrigues, produzida pelos alunos durante a oficina.
Figura 8 – Apresentação da releitura da música cantada em forma de rap.
Figura 8 - Apresentação da releitura cantada pelos alunos em forma de rap. Fonte: Arquivo dos pesquisadores.
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Finalizando as atividades da oficina, solicitamos aos alunos que se manifestassem,
espontaneamente, relatando o que acharam das atividades propostas, cuja as vozes
subsidiam a avaliação e reflexões que apresentamos a seguir.
Apesar de alguns contratempos, o planejamento para a oficina foi cumprido. A
participação positiva dos alunos, que colaboraram para o andamento dos trabalhos e
os resultados, foram satisfatórios, conforme se pode observar pelas narrativas abaixo
de alguns alunos que atenderam nossa solicitação de avaliação a respeito da
realização das atividades propostas:
- “Fica mais interessante, meus conhecimentos aumentaram, é certo dizer que além de aprender as aulas ficam muito mais divertidas, é bem melhor do que aquela aula só de conteúdo no quadro.” (G.B.H) - “As aulas desse modo são boas. Nós, alunos, aprendemos mais fácil. Foi i a melhor maneira de ensinar.” (CARLOS) - “Aulas como essas tem a possibilidade de todos interagir com a aula e ter uma forma divertida de aprender.” - “As aulas foram mais interessantes, mais relevantes, muito melhor que a aula de matéria no quadro.” - “Essa aula é como uma aprendizagem que eu gostei muito. Obrigado por vocês terem me ensinado essas coisas, essa aula é muito melhor do que as outras aulas.” (W.G) - “Então, essas aulas que temos com os estagiários é bem melhor e mais prática. Ficamos distraídos com a matéria, onde brincamos e aprendemos. Eu acho bacana.”
- “As aulas de geografia mudaram muito, ficou mais dinâmica e bem interessante aprendendo mais sobre os assuntos e temas abordados, uma criatividade através da música.” (NATAN)
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme anunciado anteriormente, a oficina foi realizada em três aulas, sendo estas,
em dias distintos, o que contribuiu negativamente para que o desenvolvimento da
mesma se prolongasse mais que o planejado.
Outro obstáculo encontrado e decorrente da oficina ter acontecido em dias diferentes,
se relaciona ao fato de que alguns alunos que participaram do primeiro dia não
estivessem presentes no segundo ou no terceiro dia, por exemplo. Da mesma forma,
também houve casos de alunos que não estavam no primeiro dia, participaram do
segundo ou terceiro dia.
Cabe ressaltar que tentamos propor que a oficina fosse trabalhada em aulas
germinadas, por considerar que tal possibilidade seria mais eficaz. Porém, devido ao
calendário da escola e a não disponibilidade dos demais professores em fazer as
trocas de aulas e/ou salas, tivemos que realizar a oficina em dias alternados.
O fato de a oficina ser realizada em momentos alternados, para se adequar aos dias
em que o professor colaborador tinha aula com a turma escolhida, nos fez refletir sobre
como o cotidiano da escola apresenta adversidades que podem alterar o
planejamento dos professores. Sobre esses movimentos e tensões na/da escola,
Esteban (2000) afirma que
O cotidiano da sala de aula é tempo/espaço de imprevisibilidade. O/A professor/a frequentemente se encontra diante de situações comuns que alteram a dinâmica da sala de aula, interferindo no processo ensino/aprendizagem. O planejado, vai sendo atravessado pelos fatos que se impõem ao previsto, criando novas demandas, novas possibilidades, novos obstáculos, fazendo com que o preestabelecido precise ser constantemente
revisto e reorganizado. (ESTEBAN, 2000, p.2)
Um exemplo que podemos relatar é que, por duas vezes, fomos impossibilitados de
dar continuidade à implementação da oficina pedagógica, tendo que adiá-la, por
motivos exteriores que se apresentaram no cotidiano escolar.
A trajetória que realizamos durante a produção desse trabalho, além de nos permitir
vivenciar o cotidiano escolar, com seus movimentos e tensões, nos concedeu a
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oportunidade de propor práticas educativas que acreditamos que possam melhorar o
ensino da Geografia na sala de aula, principalmente, aproximando a realidade dos
alunos com o conteúdo estudado.
A escolha do tema desse trabalho veio desde os primeiros períodos da nossa trajetória
acadêmica, bem como a partir das nossas experiências como professores ou
estagiários de Geografia.
Percebemos a necessidade de se trabalhar outras metodologias que visem tornar o
ensino mais prazeroso e interessante, tanto para o aluno quanto para o professor.
Sendo assim, propomos trabalhar com a música, sabendo que essa pode ser muito
eficaz ao aproximar os conteúdos geográficos com a realidade dos alunos,
estimulando a participação e o pensamento crítico dos estudantes.
Fatos que devemos aqui salientar é que, primeiro, a música não deve por si só dar
conta de todo o conteúdo, cabendo ao professor escolher a melhor forma de utilizá-la
em suas aulas. Segundo, a música não é apenas uma ferramenta que pode ser
utilizada de forma didática. Ela é, acima de tudo, uma manifestação artística que há
milhares de anos faz parte do cotidiano das pessoas. Dessa forma, ela pode ser
utilizada em diversos lugares e com variadas finalidades.
Outro ponto importante que não podemos deixar de destacar está relacionado à como
a sociedade, aqui nos incluindo, cria estereótipos a partir de conceitos previamente
concebidos e formulados pelo senso comum. Durante a produção deste trabalho, ao
aplicarmos os questionários para a turma de primeiro ano do ensino médio, cujos
alunos foram eleitos como nossos sujeitos da pesquisa, tivemos uma inclinação de
pensar que o ritmo musical mais sugerido pelos alunos seria o funk. Pré-conceito já
fixado no nosso pensamento pelo senso comum “periferia=funk”. Ao analisarmos os
resultados percebemos que nem sempre o estereótipo representa a realidade. O ritmo
mais ouvido entre os alunos daquela sala, portanto, não foi o funk, descontruindo,
assim, esse estereótipo tão marcadamente criado.
No decorrer do nosso trabalho, ainda percebemos que, por muitas vezes, o professor
desanima de trabalhar com outras possibilidades de ensino, devido às grandes
51
dificuldades e obstáculos que encontra com a equipe pedagógica ou até mesmo com
os outros professores. Assim, o professor acaba se tornando apenas mais um
professor padronizado dentro do atual sistema de educação. Por muitas vezes, o
profissional que se “aventura” a ser um professor “descolado”, é questionado ou até
mesmo reprimido pelo corpo discente.
O atual cenário da educação, que visa formar os alunos para o mercado de trabalho,
infelizmente não incentiva a adoção de outras metodologias de ensino, que vise
formar o pensamento crítico dos estudantes. Dessa forma, ser um professor que vai
além do tradicional ditado popular do “cuspe e giz” é um grande desafio. Desafio este
que nos propomos daqui por diante a enfrentar.
52
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ANEXOS
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QUESTIONÁRIO
1 - O que você acha das aulas de Geografia?
2 - Você acha que utilizando outros recursos, como a música, as aulas de Geografia
ficariam mais atraentes?
3 - Algum professor já utilizou músicas na aula? Se sim, como foi?
4 - Você acha que o número de aulas de Geografia por semana é suficiente para sua
aprendizagem?
5 - Que tipo de música você gosta de ouvir?
6 - Você acha que as letras das músicas podem trazer assuntos ligados ao seu
cotidiano? Se sim, de que forma?
7 - Você vê proximidade entre música e Geografia?
8 - Na sua opinião, o uso da música nas aulas de Geografia facilitaria a sua
compreensão dos conteúdos geográficos? Se sim, de que forma?
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PLANO DE OFICINA
Título da oficina: A linguagem musical como ferramenta no auxílio da aprendizagem
da Geografia.
Oficineiros: Ana Paula Magnago, Diego Herzog de Carvalho, Eduardo Antonio
Demuner Guimarães, Jessica Marcos da Costa.
Participantes: Estudantes matriculados no primeiro ano do Ensino Médio (turno
matutino) da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Aflordízio Carvalho da
Silva”.
I – APRESENTAÇÃO.
A presente proposta de Oficina Pedagógica está vinculada ao Projeto de Pesquisa “A
música como ferramenta didático/pedagógica no ensino da Geografia” e foi
implementada junto à turma 1M5 do primeiro ano do Ensino Médio da E.E.E.F.M.
“Aflordízio Carvalho da Silva”, no intuito de, para além do objetivo pedagógico
anunciado, propiciar aos oficineiros/pesquisadores a coleta de dados empíricos no
subsídio à elaboração e proposição de alternativas metodológicas ao ensino de
Geografia com utilização da música.
Para tanto, espera-se que a oficina seja implementada em duas aulas de 50
(cinquenta) minutos, destinada, segundo o horário de aula da escola, a aula de
Geografia.
II – OBJETIVOS
Objetivo Geral:
Utilizar a linguagem musical para discutir/explicar aos alunos de forma diferenciada,
lúdica e mais atrativa os assuntos referentes à migração, conteúdo proposto pelo PCN
de Geografia para o 1º ano.
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Objetivos Específicos:
Testar e validar a utilização da linguagem musical como uma ferramenta
possível de ser utilizada nas aulas de Geografia;
Apresentar algumas músicas que abordam a temática de migração;
Estimular os alunos a relacionar as músicas apresentadas com a temática de
migração.
III – DINÂMICA DE APRESENTAÇÃO INTEGRADORA E ESTIMULADORA DOS
PARTICIPANTES
No intuito de envolver, integrar e estimular a participação dos estudantes no
desenvolvimento da Oficina utilizar-se-á, inicialmente da “Dinâmica do rolo de
barbante”, que será adaptada e desenvolvida da seguinte forma e passos:
1 – Os oficineiros devem se certificar que possuam um rolo de barbante;
2 – Dispor os participantes, em pé na sala de aula, de maneira qual formem um círculo;
3 – Um dos oficineiros inicia a dinâmica. Para tanto, se apresenta, dizendo seu nome
e algumas características pessoais que queira compartilhar. Dentre tais
características, deve informar o seu local de origem (onde nasceu, de onde vem seu
pai ou sua mãe). Então, segurando a ponta do fio de barbante, dá linha e joga o rolo
de barbante para outra pessoa do círculo. Pode ser qualquer integrante;
4 – A pessoa que pegar o rolo de barbante arremessado, deve também falar seu nome
e, a exemplo do anterior, dizer onde nasceu, de que cidade são seus pais. Caso o
participante e os pais sejam naturais de Vitória-ES, informar tem algum familiar ou
amigo, residindo em Vitória-ES, que vem de outras regiões, indicando a região. Após,
deve segurar o fio de barbante, dar linha e novamente arremessar o rolo para outra
pessoa, dando a essa a oportunidade de falar sua origem e assim sucessivamente.
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5 – Após todos os integrantes do círculo terem recebido o rolo de barbante e falado
sobre sua origem e/ou a origem de algum familiar ou conhecido que tenham migrado
para Vitória-ES, os oficineiros devem chamar a atenção de todos para que o objetivo
da dinâmica seja exposto, suscitando uma reflexão coletiva. E o mesmo propõe que:
“A dinâmica do “rolo de barbante” nos permite analisar a acerca da importância do
relacionamento interpessoal”, bem como dar visibilidade às redes e relações que são
propiciadas com a “mobilidade” das pessoas. Como conhecendo um pouco mais uns
aos outros criamos redes de relacionamentos, assim como foi criada uma grande teia
pelos fios de barbante.
No que se refere ao processo ensino-aprendizagem, também no dia-a-dia da sala de
aula a interação dos alunos entre si e a relação dos alunos com os professores é de
extrema importância no estudo de um conteúdo e principalmente na elaboração de
uma pratica. É através dessa relação mútua que se estabelecem as análises, ajustes,
adaptações, bem como a democracia, onde todos opinam e contribuem para um
objetivo em comum, compartilhando-o coletivamente.”
IV – PROBLEMATIZAÇÃO PRÁTICA DO OBJETO DE ESTUDO
O processo migratório sempre existiu na história da humanidade. O homem sempre
usou de tal artifício para sobreviver. Atualmente as migrações têm outros motivos,
principalmente o econômico.
Desde o surgimento do homem, há milhares de anos, no continente africano, a busca
por sobrevivência sempre foi um dos principais objetivos das pessoas que migravam.
Por conta disso, as primeiras sociedades eram nômades, pois migravam sempre em
busca daquilo que havia se esgotado por onde já tinham passado.
Assim, se inicialmente a característica nômade do homem era atribuída à luta
cotidiana pela sobrevivência, atualmente, na era da globalização, mais do que nunca
as migrações se efetivam por conta do fator econômico, que é a busca por emprego,
por melhores salários, por melhores condições de vida, etc.
60
Compreender as migrações, portanto, é de extrema importância, pois elas obedecem
a algumas razões econômicas, sociais e naturais, evidenciando a existência de
inúmeros outros fenômenos, tais como o crescimento ou a diminuição de uma
população e todas as implicações que esse fenômeno pode acarretar para as regiões
que recebem ou perdem migrantes.
Para que o processo de ensino-aprendizagem se efetive de forma significativa, faz-se
necessário despertar o interesse e envolvimento do aprendiz para o ato do aprender.
Assim, mediante a relevância da temática em questão, é que pretende-se, a partir da
utilização de músicas, provocar nos alunos inquietações e curiosidades a respeito
desse tema tão importante para a sociedade, propiciando, por sua vez, as condições
para uma melhor aprendizagem.
Tenciona-se, portanto, discutir/explicar/debater com alunos, de forma lúdica e mais
atrativa, os conteúdos geográficos escolares estudados em sala de aula.
V – LEITURA E/OU DISCUSSÃO COLETIVA
Resgatando o conhecimento dos participantes através da dinâmica “tempestade de
ideias”, propomos aqui o estudo geral sobre os diferentes conceitos de migração, no
entanto diferente da habitual relação ensino/aprendizagem, a partir do concebido
pelos alunos.
Essa dinâmica consiste em escrever no quadro a palavra “Migração” e estimular uma
conversa com os alunos perguntando a eles o que os vem na cabeça quando
deparados com aquela palavra. De acordo com as respostas, os oficineiros vão
debatendo questões relacionadas ao tema. Essa é uma forma de desenvolver o
conteúdo de acordo com o que eles trazem de conhecimento, curiosidades e dúvidas.
VI – AÇÃO PRÁTICA
A ação prática será desenvolvida em três momentos característicos a saber:
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1º Introdutório:
Em um primeiro momento, os oficineiros apresentarão duas imagens: uma da
coleção “Retirantes”, de Candido Portinari e a outra, “Os retirantes”, de J.
Miguel, a fim de despertar, sem induzir inicialmente, o tema migração. As
imagens, portanto, servirão como dispositivo para se pensar o tema (migração);
Em seguida será retomada a dinâmica introdutória (dinâmica de integração) a
fim de atrair e despertar a atenção e participação dos alunos durante a proposta
de oficina;
2º Desenvolvimento:
Os oficineiros entregarão as letras das duas músicas escolhidas, para serem
fixadas ao caderno e em seguida a turma será dividida em 2 grupos;
Cada grupo trabalhará com uma das músicas, na qual deverão reconstruí-la da
forma que achar conveniente ao grupo desde que esse resultado seja uma
releitura de acordo com a realidade deles. O produto final produzido, portando,
será uma apresentação do tema(podendo ser uma apresentação na forma de
paródia, de teatro, de dança etc.), sob o olhar e perspectiva deles (alunos). A
música, nesse caso, servirá como dispositivo para que eles, a partir dela,
relacionem o tema com a realidade de vida deles;
A intenção é que novas obras sejam elaboradas tendo por base as músicas
propostas e a realidade dos alunos em relação aos movimentos espaciais e
temporais da sociedade e, principalmente, dos colegas e própria.
Espera-se, com o desenvolvimento da oficina, ao despertar o interesse e
atenção dos alunos, criar um ambiente propício para que o professor dê
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sequência aos estudos da temática. Portanto, não cabe à oficina a
responsabilidade de, sozinha, cumprir e vencer todo o conteúdo.
3º Conclusão:
A oficina se encerrará com uma atividade de apresentação para toda a
turma de alguns dos conceitos que baseiam o estudo das migrações
populacionais (esses conceitos e conteúdos voltarão a ser discutidos nas
aulas posteriores, de forma mais aprofundada);
Em seguida serão apresentados os resultados obtidos através do trabalho
com as oficinas (apresentação dos produtos produzidos pelos alunos);
No passo seguinte, os oficineiros farão a tempestade de ideias
(“brainstorm”), escrevendo a palavra “Migração” no quadro e será aberto um
debate sobre tudo o que foi trabalhado, e nas ideias concebidas sobre
migrações com relação às diferentes escalas relacionadas.
Por fim, os oficineiros registrar as narrativas dos alunos sobre o que
acharam da experiência de trabalhar com música nas aulas de Geografia.
VI – MATERIAIS UTILIZADOS:
Barbante, cartolina, canetinhas, lápis de cor, cola, impressão em papel A4, imagens,
pincel, quadro, caixa de som.
VII – AVALIAÇÃO
A avaliação se dará através da apresentação dos trabalhos confeccionados, buscando
enfatizar o envolvimento e participação dos alunos participantes.
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VIII – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL ESCOLA <http://www.brasilescola.com/geografia/tipos-migracao.htm>
Acesso em 22/09/15.
ESCOLA KIDS <http://www.escolakids.com/migracoes.htm> Acesso em: 22/09/15.
DELINQUENTES. Disponível em:
<http://musica.com.br/artistas/delinquentes/m/migracao/letra.html> Acesso em
01/10/15.
RODRIGUES, Jair. Disponível em <http://www.kboing.com.br/jair-rodrigues/1-
1304696/> Acesso em 01/10/15.
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LETRA DA MÚSICA: “MIGRAÇÃO” – JAIR RODRIGUES
Ele é migrador
Um retirante vindo de lá do sertão
Andou muitas léguas a pé
Perdeu seu filho, gado,cachorro e a mulher
Estrada seca encontrou
E a fé sempre prosperou
Na esperança ao menos
De algum caminhão
Chegou na cidade grande
Sem emprego e proteção
Estranhou a diferença
Que existia no sertão
Tanta adversidade, nesta terra de patrão
Tanto orgulho e vaidade para um pobre cidadão
Simbora ele vai outra vez pro sertão
Se arreia num carro de boi
Dispara dentro do sertão
E a boia vai fria num baião de dois
Pimenta virada no cão
Farinha pra mó de estufar
E a água encontra se Deus mandar...
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LETRA DA MÚSICA: “MIGRAÇÃO” – DELINQUENTES
Com apenas 15 anos saiu do norte
Fugindo da pobreza, da miséria e da morte
Já faz tanto tempo, já nem lembra mais
Dos amigos, dos irmãos nem de seus queridos pais
Pensamentos de voltar, pro seu lar, amargo lar
Sequelas da migração, a vida sem opção
Tendo como companhia uma dose de alcatrão
Vivendo a mendicância ou a prostituição
Perdidos nas noites, nas sujas esquinas
Escondidos nos becos sombrio como o seu dia
Na frieza urbana a crueldade vem a tona
Com as portas fechadas nos semáforos ou nos lares
Pensamentos de voltar, pro seu lar, amargo lar...