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A Organização Mundial do Comércio e a atuação do Brasil no comércio internacional Karina Macedo Fernandes, Artêmio Flávio Silva da Silva, Antonio Lucena Guadalupe Júnior., Karina Ribeiro da Silva, Jacqueline Acosta da Silva Resumo: O objetivo principal deste trabalho é realizar uma análise crítica acerca da Organização Mundial do Comércio, bem como acerca da atuação do Brasil diante da OMC e do comércio internacional. A escolha justifica-se pelo fato de que tal organização alcançou alta importância no que tange à regularização das relações do comércio internacional. O surgimento de novos blocos econômicos fomentou novas relações no comércio internacional e é dentro deste contexto de transformações que a OMC busca ser um veículo de manutenção do comércio. Serão abordadas também, ao longo do trabalho, questões relativas aos objetivos e funções que o órgão possui na atualidade, assim como a sua forma de trabalho. Por fim, cabe aludir que a metodologia aqui empregada se traduz no método de abordagem indutivo e na técnica bibliográfica de pesquisa. O tema é atinente à disciplina de Direito Internacional Público. Palavras-chave: OMC, comércio internacional, mercado internacional. Abstract: The main objective of this work is to perform a critical analysis on the World Trade Organization (WTO) as well as about the performance of Brazil towards the WTO and

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A Organização Mundial do Comércio e a atuação do Brasil no

comércio internacional

Karina Macedo Fernandes, Artêmio Flávio Silva da Silva, Antonio

Lucena Guadalupe Júnior., Karina Ribeiro da Silva, Jacqueline Acosta

da Silva

 

Resumo: O objetivo principal deste trabalho é realizar uma análise

crítica acerca da Organização Mundial do Comércio, bem como acerca

da atuação do Brasil diante da OMC e do comércio internacional. A

escolha justifica-se pelo fato de que tal organização alcançou alta

importância no que tange à regularização das relações do comércio

internacional. O surgimento de novos blocos econômicos fomentou

novas relações no comércio internacional e é dentro deste contexto

de transformações que a OMC busca ser um veículo de manutenção

do comércio. Serão abordadas também, ao longo do trabalho,

questões relativas aos objetivos e funções que o órgão possui na

atualidade, assim como a sua forma de trabalho. Por fim, cabe aludir

que a metodologia aqui empregada se traduz no método de

abordagem indutivo e na técnica bibliográfica de pesquisa. O tema é

atinente à disciplina de Direito Internacional Público.

Palavras-chave: OMC, comércio internacional, mercado

internacional.

Abstract: The main objective of this work is to perform a critical

analysis on the World Trade Organization (WTO) as well as about the

performance of Brazil towards the WTO and the international trade.

The choice is justified by the fact that this organization has achieved

high importance with regard to the regularization of international

trade relations. The emergence of new economic blocks fostered new

relationships in international trade and is within this context of

changes that the WTO seeks to be a vehicle for maintaining trade.

There will also be discussed, during the work, issues related to the

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objectives and functions that the body has at present and the way

they work. Finally, it is important to mention that the methodology

employed here is the inductive approach method and the literature

search technique. The theme refers to the discipline of Public

International Law.

Keywords: WTO, international trade, international market.

Sumário: 1. Aspectos introdutórios históricos; 2. Objetivos, funções e

estrutura da OMC ; 3 A atuação do Brasil junto à OMC e ao comércio

internacional; 4 Considerações finais; Referências bibliográficas.

1. Aspectos introdutórios históricos

O sistema de regras do comércio internacional como é hoje conhecido

foi estabelecido a partir de oito rodadas de negociações multilaterais

ao longo dos anos. As seis primeiras visaram a diminuição dos

direitos aduaneiros, através de negociações de concessões

recíprocas; as duas últimas foram mais amplas, mas também

incluíram reduções tarifárias. Importante salientar o papel da oitava

rodada, a Rodada Uruguai, que foi a mais ambiciosa e complexa

negociação no âmbito do General Agreement on Trade and Tarifs

(GATT), preservando deveras o protecionismo ao comércio e

consubstanciando, efetivamente, a criação da OMC.[1]

Criada em 1995, como um dos mais importantes resultados da

rodada de negociações do GATT, realizada no Uruguai entre 1986 e

1994, a OMC é, certamente, uma instituição inovadora nas Relações

Internacionais, uma vez que ela difere dos Comitês das Nações

Unidas, assim como também difere dos organismos internacionais

como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM),

os quais são coordenados por um grupo de diretores. Além disso,

apresenta um sistema de resolução de controvérsias com grande

eficácia e atividade.[2]

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Teoricamente, a OMC foi idealizada em 1944, simultaneamente à

criação do FMI e do Banco Mundial – as chamadas “instituições de

Bretton Woods, concebidas pelos Estados Unidos e pela

Inglaterra[3]”. A partir da relação com as duas recém criadas

instituições, a “então denominada Organização Internacional do

Comércio (OIC) formaria o tripé do sistema econômico multilateral

”[4], funcionando como uma agência especializada das Nações

Unidas. O projeto de criação da OIC era um compêndio de regras

acerca do estabelecimento de disciplinas para o comércio de bens,

normas sobre emprego, práticas comerciais restritivas, investimentos

estrangeiros e serviços.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento:

“Apesar do papel preponderante desempenhado pelos Estados

Unidos nestas negociações, questões políticas internas levaram o país

a anunciar, em 1950, o não encaminhamento do projeto ao

Congresso para sua ratificação. Sem a participação dos Estados

Unidos, a criação da Organização Internacional do Comércio

fracassou. Assim, o GATT, um acordo criado para regular

provisoriamente as relações comerciais internacionais, foi o

instrumento que, de fato, regulamentou por mais de quatro décadas

as relações comerciais entre os países.”[5]

A OMC, pois, tem sua origem no Acordo Geral Sobre Tarifas e

Comércio (GATT, pela sigla em inglês) assinado após a oposição do

Congresso Norte-americano às regras da OIC, em 1947, pós-II Guerra

Mundial, com o objetivo de “diminuir as barreiras ao comércio e

tornar o mundo um único mercado[6]”, quando 23 países, incluindo o

Brasil, decidiram regular as relações econômicas internacionais,

tendo em vista a melhora da qualidade de vida de seus cidadãos, e

também por entenderem que os problemas econômicos

influenciavam seriamente as relações entre os governos. Não só, tais

Page 4: A Organização Mundial Do Comércio e a Atuação Do Brasil No Comércio Internacional

países tencionavam “impulsionar a liberalização comercial e

combater práticas protecionistas adotadas desde a década de 30[7]”.

Nesta senda, a institucionalização do GATT como sendo uma base de

negociações comerciais resultou num primeiro momento de

negociações, ainda em 1947, ao passo que são as grandes potências

as determinantes das regras do comércio internacional para produtos

manufaturados[8]. Neste momento foi criada a cláusula central do

Acordo, mais conhecida como “cláusula de nação mais

favorecida[9]”, a qual define que qualquer concessão feita por uma

nação a um parceiro comercial deve ser estendida a todos os países

integrantes do GATT. Era esta cláusula que impedia as chamadas

preferências na abertura comercial[10].

Todavia, sempre houve uma grande pressão dos países do Norte em

criar regras de Direitos de Propriedade Intelectual à proteção de

tecnologias, ao passo em que buscaram maior acessibilidade às

abundantes matérias primas do Sul. Este

protecionismo versus liberalização dos mercados é a base para

desigualdade inerente no seio do GATT e da OMC. Os países do norte

buscam liberalizar as áreas de comércio que lhes convêm, enquanto

alguns destes têm maior influência para promover mais os seus

interesses do que outros[11].

Conforme assevera o Ministério do Desenvolvimento:

“Sem a participação dos americanos, a criação da Organização

Internacional do Comércio fracassou. Assim, o GATT, um acordo

criado para regular provisoriamente as relações comerciais

internacionais, foi o instrumento que, de fato, regulamentou por mais

de quatro décadas as relações comerciais entre os países até a

criação da OMC, em 1995”[12].

Logo, a OMC foi criada em 1995 sob a forma de um secretariado para

administrar o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), um tratado

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comercial que, apesar de fracassado, foi fundamental à fundação da

OMC. Ela é, portanto, é uma organização internacional que

supervisiona um grande número de acordos sobre as regras do

comércio entre os seus estados-membros, com sede em Genebra, na

Suíça. Ela provém, pois, de históricos estudos acerca da

regulamentação e disciplinarização do comércio, o quais, por sua vez,

despontam como fator primordial ao desenvolvimento da economia

mundial e, por tal motivo, tornam-se alvo de tantas preocupações por

parte, sobretudo, das maiores potências do planeta.

2. Objetivos, funções e estrutura da OMC

A OMC tem como objetivos a nova organização do comércio. E para

obter esse fim, os países membros estabeleceram os seguintes

termos: As partes reconhecem que as suas relações na área do

comércio e atividades econômicas devem ser conduzidas com vistas

à melhoria dos padrões de vida, assegurando o pleno emprego e um

crescimento amplo e estável do volume de renda real e demandada

efetiva, e expandindo a produção e o comércio de bens e serviços,

simultaneamente à permissão do uso dos recursos naturais de acordo

com os objetivos do desenvolvimento sustentável. Tudo isso

procurando proteger e preservar o ambiente e reforçar os meios de

fazê-lo, de maneira consistente com as suas necessidades nos

diversos níveis de desenvolvimento econômico[13]. As partes

também reconhecem que é necessário realizar esforços para que os

países em desenvolvimento obtenham uma parte do crescimento do

comércio internacional correspondente às necessidades de seu

desenvolvimento econômico[14].

Não só, a OMC objetiva fornecer o quadro institucional comum

necessário à condução das relações comerciais entre seus membros

em matérias relacionadas aos acordos e instrumentos legais,

incluídos no Acordo sobre a OMC[15].

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No que tange às funções da Organização Mundial do Comércio, traz-

se à baila a denominação feita por Thorstensen:

“1 – Facilitar a implantação, a administração, a operação e os

objetivos dos acordos da Rodada Uruguai.

2 – Construir um “fórum” para as negociações entre os Estados

membros das suas relações comerciais, com objetivo de criar ou

modificar acordos multilaterais de comércio.

3 – Administrar o Entendimento (Understanding) sobre Regras e

Procedimentos relativos às Soluções de Controvérsias, isto é,

administrar o “tribunal” da OMC.

4 – Administrar o Mecanismo de Revisão de Políticas Comerciais

(Trade Policy Review Mechanism) que faz a revisão periódica das

Políticas de Comércio Externo de todos os membros da OMC,

apontando os temas que estão em desacordo com as regras

negociadas”[16].

Noutro diapasão, imperioso conhecer que, em nível estrutural, os

principais níveis da OMC como instituição internacional são os

seguintes, ainda conforme Thorstensen:

“1- Conferência Ministerial: é o órgão máximo da organização e

composta pelos representantes de todos os seus membros, que se

reúne, no mínimo, a cada dois anos. Este órgão tem a autoridade

para tomar decisões sobre todas as matérias dentro de qualquer um

dos Acordos Multilaterais. Costuma ser integrada pelos ministros das

Relações Exteriores e / ou Ministros de Comércio Externo dos países

membros.

2- Conselho Geral: é o corpo diretor da OMC e composto pelos

representantes de todos os membros, que devem se reunir quando

apropriado. Em geral é integrado pelos embaixadores que são os

representantes permanentes dos países membros em Genebra.

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3. Órgão de Solução de Controvérsias: é o mecanismo de solução de

conflitos na área do comércio internacional, e contém todo um

sistema de regras e procedimentos para dirimir controvérsias sobre

as regras estabelecidas pela OMC. Prevê uma fase de consultas entre

as partes, e se necessário, o estabelecimento de grupos de peritos

para examinar a questão, e finalmente, quando solicitado, uma

consulta para o órgão de Apelação. O Órgão de Solução de

Controvérsias é composto pelo próprio Conselho Geral que aqui atua

em função específica.

4. Órgão de Revisão de Políticas Comerciais: é o mecanismo criado

para examinar periodicamente as políticas de cada membro da OMC,

e tem como objetivo confrontar a legislação e a prática comercial dos

membros da organização com as regras estabelecidas nos acordos,

além de oferecer aos demais membros do sistema uma visão global

da política seguida por cada membro, dentro do princípio da

transparência. A periodicidade é a seguinte: os quatro maiores

membros em termos de comércio, Estados Unidos, Comunidade

Européia, Canadá e Japão, são examinados de 2 em 2 anos; os

seguintes dezesseis são examinados de 4 em 4 anos; e os membros

restantes, de 6 em 6 anos, ou em períodos fixados especialmente

para os países menos desenvolvidos. O Brasil é examinado a cada 4

anos.

5. Conselhos de Bens, de Serviços e de Propriedade Intelectual: foram

criados três Conselhos para regular cada um dos principais

segmentos que resultaram da Rodada Uruguai: Conselho de Comércio

de Bens, Conselho de Comércio de Serviços e o Conselho de Direitos

de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio. Têm assento

nesses conselhos os delegados dos países membros.

6. Comitês: as atividades da OMC se desenvolvem através de cerca

de 30 comitês ou grupos de trabalho, onde tem assento os delegados

dos países membros, normalmente diplomatas credenciados em

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Genebra e / ou técnicos dos ministérios envolvidos especialmente

para as reuniões. A conferência Ministerial pode criar entidades

subordinadas ou novos comitês. Assim foram estabelecidos três

comitês durante a Rodada Uruguai: Comércio e desenvolvimento,

Restrições por Motivo de Balanço de Pagamento, e Orçamento,

Finanças e Administração.

7. Secretariado: a OMC tem apoio de um Secretariado, chefiado por

um diretor geral designado pela Conferência Ministerial, e quatro

vice-diretores. O corpo técnico da OMC é composto atualmente por

cerca de 500 técnicos. O Diretor e o Secretariado têm

responsabilidade de caráter internacional, não devendo pedir nem

receber instruções específicas de algum governo ou outra autoridade

externa à OMC.[17]

Atualmente, a OMC conta com 151 países membros, sendo que Tonga

é o mais novo membro, que aderiu a 27 de Julho de 2007. Sua sede

se encontra em Genebra, na Suíça, e seu atual diretor-geral, eleito

em 2005, é Pascal Lamy[18].

3 A atuação do Brasil junto à OMC e ao comércio internacional

Um dos casos mais conhecidos de disputa comercial envolvendo o

Brasil na OMC foi a briga do país com o Canadá devido à Embraer e à

Bombardier. Até que o caso passasse por todas as etapas da

Organização, foram necessários quase sete anos de muita discussão

e polêmica. O problema entre os dois países começou em 1996,

quando a Bombardier pediu que o governo do Canadá questionasse o

apoio do Brasil à Embraer, por meio do Proex (Programa de

Financiamento às Exportações). A OMC autorizou o Canadá a retaliar

o Brasil em US$ 1,4 bilhão, valor que após muitas discussões foi

reduzido para US$ 231,6 milhões, que não chegaram a ser aplicados.

[19]

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Em janeiro de 2001, o governo canadense anunciou que subsidiaria

as vendas da Bombardier à Air Wisconsin, levando o Brasil a solicitar

a arbitragem da OMC. Com o financiamento, a Bombardier conseguiu

oferecer à Air Wisconsin aviões com um desconto de US$ 2 milhões

por unidade. Para o Brasil, esses mecanismos serviam para dar

subsídios às exportações das aeronaves canadenses, o que estaria

violando as regras da OMC.[20]

Descontente com a decisão do Brasil, o Canadá levou a disputa para

outros setores, além do da aviação, e decidiu suspender a importação

de carne brasileira. Os Estados Unidos e México, companheiros dos

canadenses no Tratado de Livre Comércio Norte-Americano (Nafta),

entraram no conflito e tomaram a mesma decisão. O Brasil, na

ocasião, temia que a Europa acompanhasse os países do Nafta e

entrasse no que ficou conhecido como o boicote contra a carne

bovina brasileira. Criou-se uma verdadeira crise diplomática entre

Brasil e Canadá, com o aquele ameaçando até retirar sua embaixada

deste.

Dez meses depois, em outubro de 2001, a OMC divulgou parecer

favorável ao Brasil e determinou que o Canadá retirasse os subsídios

concedidos à Bombardier, no valor de US$ 4 bilhões, para a venda de

aeronaves à Air Wisconsin.[21] Em junho de 2002, a Organização

autorizou o Brasil a retaliar o Canadá, devido aos prejuízos

decorrentes dos subsídios canadenses. O Brasil então tentou pedir

US$ 3,3 bilhões em retaliação e o Canadá não concordou com o valor.

Após muitas discussões, a OMC autorizou o Brasil a adotar

contramedidas ao Canadá em até US$ 247,8 milhões, mas as sanções

também não foram aplicadas.

O Brasil é autor de várias controvérsias na OMC, em especial contra

os Estados Unidos e a União Européia. Algumas ainda estão em

julgamento; outras foram favoráveis ao Brasil; há, ainda, aquelas em

que foram firmados acordos entre os países envolvidos e as queixas

Page 10: A Organização Mundial Do Comércio e a Atuação Do Brasil No Comércio Internacional

retiradas. Em conjunto com a Tailândia e a Austrália, o Brasil entrou

com denúncia, em 2002,  na OMC contra os subsídios da União

Européia aos produtores de açúcar. A ação argumentava que os

europeus estavam em desacordo com as normas da Organização em

dois pontos: nas exportações do açúcar produzido na própria Europa

e na não-inclusão dos subsídios nas exportações do produto das ex-

colônias. Ainda no mesmo ano, a OMC deu ganho ao Brasil.

 Os exportadores brasileiros questionam a decisão da União Européia

de aumentar de 15% para 75% a taxa cobrada sobre as importações

do frango salgado brasileiro. Segundo a ação, o aumento viola os

artigos II (Lista de concessões) e XXVIII (Modificação da lista de

concessões) do GATT/1994. O Brasil  busca o direito de continuar

exportando o produto para a União Européia com a alíquota reduzida

e defende que, no acordo, seja estabelecida uma cota para o Brasil,

baseada na média das exportações de frango dos últimos três anos,

quando a indústria brasileira passou a exportar esse tipo de produto

para a Europa. Em maio de 2005, a OMC decidiu a favor do Brasil, que

entrou com um painel contra a UE após a elevação da tarifa de

exportação do frango salgado, que em 2003 passou de 15,4%  para

75%.

 Em 2002, os EUA impuseram sobretaxas de 30% ao aço importado

de 22 países, inclusive o Brasil, com o objetivo de proteger a indústria

local. A ação, porém, foi considerada ilegal pela OMC. Em dezembro

de 2003, o presidente George W. Bush decidiu suspender a cobrança

após União Européia e o Japão ameaçarem retaliar o país americano,

inclusive com os europeus falando em sanções comerciais da ordem

de US$ 6 bilhões.[22]

No mesmo ano, o Brasil entrou com ação na OMC questionando o

imposto cobrado na Flórida sobre o suco de laranja importado. A taxa,

equivalente a uma alíquota de 50%, era destinada a campanhas de

produtores da fruta cítrica em território americano. Segundo a ação, o

Page 11: A Organização Mundial Do Comércio e a Atuação Do Brasil No Comércio Internacional

Brasil entendia que esta tarifa (denominada Imposto de Equalização

do Estado - EET) violava as regras da Organização. O governo do

Brasil fechou um acordo com o americano e retirou a queixa, graças à

decisão do governador da Flórida de sancionar uma emenda que

permite a mudança nas regras de incidência e destinação da

arrecadação do EET.

Em 2003, o Brasil contestou seis programas de ajuda doméstica e de

crédito concedidos pelo governo dos Estados Unidos aos produtores

de algodão de seu país, que desrespeitam as normas da OMC. A

organização não-governamental Oxfam afirma que os EUA dão até

US$ 3,9 bilhões aos seus 25 mil produtores de algodão todos os anos.

Isso, segundo a organização, seria equivalente a mais de três vezes a

ajuda financeira dada pelo governo americano à África. A OMC deu

vitória ao Brasil no caso. No entanto, o relatório oficial sobre a

decisão da entidade ainda não foi divulgado e os EUA podem recorrer

da sentença.[23]

Por fim, há o caso dos pneus, no qual o Brasil pode ser obrigado por

uma decisão da OMC a recuar em algumas de suas políticas de

proteção à saúde e ao meio ambiente.  A União Européia impugnou

junto a OMC, entre outras medidas, a proibição de importação de

pneus recauchutados imposta pelo Brasil. 

O Brasil justifica a proibição da importação com base na proteção do

meio ambiente e na proteção da saúde de sua população. 

Argumenta, ainda, que não existe forma realmente segura de

eliminar os pneus usados (que não são biodegradáveis e, quando

queimados, liberam substâncias altamente tóxicas).  Ademais, os

pneus usados acumulam água no seu interior, podendo causar a

propagação do mosquito da dengue. 

Caso o Brasil sofra uma derrota, será obrigado a tolerar a importação

de pneus recauchutados da União Européia e de outros países.  O que

está em jogo nesse caso é quem deve se responsabilizar por seu

Page 12: A Organização Mundial Do Comércio e a Atuação Do Brasil No Comércio Internacional

próprio passivo ambiental.  Exportando pneus recauchutados, a União

Européia se livra da responsabilidade de dar uma destinação final a

um de seus produtos poluentes.

De acordo com o direito internacional dos direitos humanos, o Brasil

tem a obrigação de tomar medidas concretas a fim de realizar o

direito à saúde física e mental de sua população.  Um fracasso na

implementação dessas obrigações implicaria à responsabilização

internacional do Estado brasileiro.

A OMC deve interpretar as regras de comércio internacional de tal

forma que não coloque o Brasil numa situação de violação do direito

internacional dos direitos humanos.  De fato, o artigo XX do GATT

permite uma leitura positiva tanto do ponto de vista do direito

internacional dos direitos humanos como do direito do comércio.

Pela primeira vez na história da OMC, organizações brasileiras fizeram

uma apresentação como amicus curiae("amigo da corte") perante o

Órgão de Solução de Controvérsias da OMC.  Amicus curiae é uma

apresentação na qual uma instituição, que não é parte num caso,

oferece informação sobre algum aspeto do direito para ajudar a

decidir a questão.

Esse caso será fundamental para que a OMC tome uma posição mais

clara sobre a compatibilidade das obrigações comerciais dos Estados-

membros e suas obrigações de proteção do meio ambiente e dos

direitos humanos.  Afinal, o sistema internacional do comércio não

pode tentar subsistir isolado do resto do ordenamento jurídico

internacional.

Apesar dos princípios estabelecidos em seus estatutos, a sua atuação

fazia com que a OMC não passasse de um “clube”, onde o bloco da

União Européia e os EUA determinavam as diretrizes (sempre de

acordo com seus interesses), enquanto o resto dos membros acenava

com a cabeça.

Page 13: A Organização Mundial Do Comércio e a Atuação Do Brasil No Comércio Internacional

Ao chefiar a delegação brasileira na reunião de Cancun, em 2003, o

então Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, manteve seus

interesses e fez fracassar, diante da resistência, as negociações do

encontro. Era a primeira vez que, decididamente, os membros mais

pobres da organização faziam valer seus direitos e interesses. A partir

de então, principalmente os europeus passaram a recompor seus

princípios e a contabilizar, nos seus cálculos para as negociações, as

relações custo-benefício de suas políticas as vantagens e

desvantagens, ao invés de somente benefícios e vantagens. Passou a

ser firme o entendimento de que o comércio internacional precisa ser

uma via de duas mãos e não de interesses unilaterais.

4 Considerações finais

A OMC tem sido utilizada para promover uma extensa série de

políticas ao comércio, investimentos e desregulamentações que

exacerbam a desigualdade entre o Norte e o Sul, entre os países ricos

e pobres dentro dos países. Esta organização internacional executa

cerca de vinte acordos comerciais diferentes, inclusive o AGCS

(Acordo Geral de Comércio em Serviços ou GATS General Agreement

on Trade em Services), o Acordo sobre Agricultura (AoA) e os

Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao

Comércio (ADPIC ou TRIPS – Trade Related Intellectual Property

Rights).

Os poderosos países industrializados participantes da OMC estão

promovendo uma ampla expansão do escopo da OMC, e incorporando

ainda mais as áreas operativas de nossas vidas diárias e de nossos

governos.

A OMC é inerentemente antidemocrática. Seus tribunais de comércio,

trabalhando a portas fechadas, estabeleceram normas contra uma

impressionante série de leis de saúde e segurança nacional, do

trabalho, de direitos humanos e ambientais, as quais foram

diretamente desafiadas como barreiras pelos governos que agem em

Page 14: A Organização Mundial Do Comércio e a Atuação Do Brasil No Comércio Internacional

nome de seus clientes corporativos. Políticas e leis nacionais que se

acreditou violarem as normas da OMC devem ser eliminadas ou

alteradas, ou então o país enfrentará sanções comerciais perpétuas

que podem ser de milhões de dólares. Desde o começo da OMC, em

1995, a ampla maioria de decisões judiciais em disputas comerciais

entre nações membros tem favorecido os poderosos países

industrializados. Conseqüentemente, muitos países, particularmente

o países em desenvolvimento, sentem uma enorme pressão para

enfraquecer suas políticas de interesse público, sempre que um

desafio da OMC é ameaçado a fim de evitar sanções dispendiosas.

Torna-se evidente a importância desta organização no tocante à

organização do comércio entre os países, seja unilateralmente ou

entre blocos econômicos. Entretanto, ela não é tão somente

fiscalizadora das relações comerciais, pois devido à sua grande

influência nessas questões e aos montantes financeiros envolvidos

nas transações, a OMC está influenciando indiretamente na vida de

milhões de habitantes de todos os países membros, principalmente

daqueles em desenvolvimento, os quais, por sua vez, para se

concretizarem o desenvolvimento necessitam diminuir seus

investimentos nos setores sociais. Em vista dessa pressão comercial,

os grandes favorecidos por tal situação são as nações ricas, que não

necessitam privilegiar um setor em detrimento de outro porque

possuem uma economia extremamente superavitária.

Importante notar que, ultimamente, alguns países em

desenvolvimento conseguiram vitórias importantes em questões de

práticas comerciais desleais das nações desenvolvidas.

O Brasil tem sido um personagem importante no cenário da OMC,

visto que obteve recentemente grandes vitórias frente aos EUA, tanto

na questão do aço como na dos subsídios americanos à sua

agricultura, cujos produtos concorrem diretamente com os produzidos

no Brasil.

Page 15: A Organização Mundial Do Comércio e a Atuação Do Brasil No Comércio Internacional

Futuramente, através dos blocos econômicos, a OMC funcionará

primordialmente como uma agência ou tribunal comercial, que

regulará as negociações dentro dos blocos econômicos, bem como

entre eles. Preocupa, sobremaneira, a situação indefinida do

Mercosul, porque num futuro bem próximo as relações comerciais

serão fortemente disputadas entre os blocos econômicos e,

fatalmente, o conjunto melhor estruturado e forte financeiramente

acabará impondo seus produtos aos demais. Dessa forma, os países

que não se unirem em blocos bem estruturados e com políticas

comerciais internas resolvidas não terão chance de competir no

mercado mundial e poderão ser subjugados pela força de pressão

econômica dos grandes blocos econômicos.

 

Referências bibliográficas

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Rodada do Milênio. [s. l.]: Aduaneiras, 1999.

 

Notas:

[1] THORSTENSEN, Vera. OMC, As Regras do Comércio Internacional e

a Rodada do Milênio. 1999, p. 37-38.

[2] LAFER, Celso. A OMC e a regulamentação do comercio

internacional: uma visão brasileira. (Porto Alegre,) 1998.

[3] SITE Universia [on line]. Disponível na Internet.

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[4] Site Universia [on line]. Disponível na Internet. URL:

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[5] Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

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[6] Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Disponível na Internet. URL:

http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/secex/negInternacionais/omc

/gatt.php:

[7] Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Disponível na Internet. URL:

http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/secex/negInternacionais/omc

/gatt.php:

[8]SITE Universia [on line]. Disponível na Internet. URL:

http://www.universia.com.br/html/materia/materia_ebab.html:

[9] SITE Universia [on line]. Disponível na Internet. URL:

http://www.universia.com.br/html/materia/materia_ebab.html:

[10] SITE Universia [on line]. Disponível na Internet. URL:

http://www.universia.com.br/html/materia/materia_ebab.html:

Page 17: A Organização Mundial Do Comércio e a Atuação Do Brasil No Comércio Internacional

[11]MINISTÉRIO do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Disponível na Internet. URL:

http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/secex/negInternacionais/omc

/gatt.php.

[12] Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Disponível na Internet. URL:

http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/secex/negInternacionais/omc

/gatt.php:

[13] THORSTENSEN, Vera. OMC, As Regras do Comércio Internacional

e a Rodada do Milênio. 1999, p. 44.

[14] THORSTENSEN, Vera. OMC, As Regras do Comércio Internacional

e a Rodada do Milênio. 1999, p. 44.

[15] THORSTENSEN, Vera. OMC, As Regras do Comércio Internacional

e a Rodada do Milênio. 1999, p.45.

[16] THORSTENSEN, Vera. OMC, As Regras do Comércio Internacional

e a Rodada do Milênio. 1999, p. 45.

[17] THORSTENSEN, Vera. OMC, As Regras do Comércio Internacional

e a Rodada do Milênio. 1999, p. 45-46.

[18] África do Sul, Albânia, Angola, Antígua e Barbuda, Arábia

Saudita, Argentina, Armênia, Austrália, BahreinBangladesh, Barbados,

Belize, Benin, Bolívia, Botsuana, Brasil, Brunei, Bulgária, Burkina

Faso, Burundi, Camboja, Camarões, Canadá, Chade, Chile, China

(RPC), Colômbia, Congo, Coréia do Sul, Costa Rica, Costa do Marfim,

Croácia, Cuba, Djibuti, Dominica, Equador, Egito, El Salvador,

Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos, Fiji, Filipinas, Gabão,

Gâmbia, Geórgia, Gana, Granada, Guatemala, Guiné, Guiné-Bissau,

Guiana, Haiti, Honduras, Hong Kong (RPC), Islândia, Índia, Indonésia,

Israel, Jamaica, Japão, Jordânia, Kuwait, Lesoto, Liechtenstein, Macau

(RPC), Madagáscar, Malaui, Malásia, Maldivas, Mali, Malta,

Mauritânia, Maurício, México, Moldávia,Mongólia, Marrocos,

Moçambique, Mianmar, Namíbia, Nepal, Nova Zelândia, Nicarágua,

Níger, Nigéria, Noruega, Omã, Paquistão, Panamá, Papua Nova Guiné,

Paraguai, Peru, República da Macedônia, Qatar, Quênia, Quirguistão,

Page 18: A Organização Mundial Do Comércio e a Atuação Do Brasil No Comércio Internacional

República Centro-Africana, República Democrática do Congo,

República Dominicana, Romênia, Ruanda, São Cristóvão e Nevis,

Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Senegal, Serra Leoa,

Singapura, Ilhas Salomão, Sri Lanka, Suriname, Suazilândia, Suíça,

Taiwan, Tanzânia, Tailândia, Togo, Trinidad e Tobago, Tunísia,Turquia,

Uganda, União Européia, Uruguai, Venezuela, Zâmbia, Zimbábue.

[19] Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Disponível na Internet. URL:

http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/secex/negInternacionais/omc

/gatt.php.

[20] Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Disponível na Internet. URL:

http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/secex/negInternacionais/omc

/gatt.php:

[21]Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Disponível na Internet. URL:

http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/secex/negInternacionais/omc

/gatt.php:

[22] Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Disponível na Internet. URL:

http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/secex/negInternacionais/omc

/gatt.php.

[23] Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Disponível na Internet.

URL:http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/secex/negInternacionais

/omc/gatt.php: