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POLÍTICA: A ÁRDUA MISSÃO DE ESCREVER BIOGRAFIAS INTERNACIONAL: A AMÉRICA LATINA E O DESAFIO DA CNN JORNALISMO E COMUNICAÇÃO MAIO 2010 | ANO 23 | Nº 256 | R$ 9,90 EM NOVO PROGRAMA DE AUDITÓRIO, APRESENTADOR QUER RECUPERAR LADO BEM-HUMORADO A OUTRA METADE DE DATENA A ESCOLA HARD NEWS DE ANGÉLICA SANTA CRUZ 7 7 0 1 0 3 0 6 5 0 0 8 3 0 0 2 5 6 MANAUS, SANTARÉM, BOA VISTA E RIO BRANCO (VIA AÉREA): R$ 12,80 JORNALISTA ADMITE SAIR DE POLÍTICA E POLÍCIA APESAR DO SUCESSO DE ENTREVISTAS COM SERRA, LULA E DILMA UMA ANÁLISE DA COBERTURA SETORIAL DE AGRONEGÓCIOS

A OUTRA METADE DE DATENAportalimprensa.com.br/tv60anos/pdfs/90_12_IMPRENSA_256 .pdf · 2012-11-29 · Eu sempre estive. Na EPTV eu tinha que fazer ma-téria de esporte, de política

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POLÍTICA: A ÁrduA missão de escrever

biogrAfiAs

INTERNACIONAL: A AméricA lAtinA

e o desAfio dA cnn

JornAlismo e comunicAção

mAio 2010 | Ano 23 | nº 256 | r$ 9,90

em novo ProgrAmA de AuditÓrio, APresentAdor Quer recuPerAr LADO BEM-HUMORADO

A OUTRA METADE DE

DATENA

A escolA HARD NEWS de ANGÉLICA SANTA CRUZ

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JornAlistA Admite sAir de PolÍticA e PolÍciA APesAr do sucesso de ENTREVISTAS COM SERRA, LULA E DILMA

umA AnÁlise dA coberturA setoriAl de AGRONEGÓCIOS

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José Luiz Datena não é unanimi-dade. O apresentador da Band costuma despertar extremos de

amor e ódio entre colegas, autorida-des, intelectuais e personalidades do esporte. Não é difícil encontrar gen-te que desgoste dele ou tenha alguma rusga pessoal contra. A essa parcela de pessoas, uma boa notícia: Date-na afirma que vai deixar, gradual- mente, o lado briguento para trás, junto com os programas que marca-ram essa face de sua carreira.

Na entrevista a seguir, o jorna-lista detalha, em primeira mão à revista IMPRENSA, como está a formatação de seu novo programa, que estreia depois da Copa. A apre-sentação será dividida com Neto, ex-atacante do Corinthians e atual comentarista de esportes da Band, terá plateia e deverá ser pautada por assuntos leves, como esporte e cultura, numa roupagem bem-humorada. “É tipo ‘Perdidos na Noite’, um formato que eu acho que faria bem para caram-ba”, diz Datena, relembrando o programa non-sense que Fausto Silva apresentou na própria Band, nos anos 1980, antes de ir para a Globo.

Essa mudança não reflete o passado recente. Em 19 de março deu um furo nacional ao extrair de José Serra sua primeira declaração como can-didato à presidência. Poucos dias depois, ao lado de nomes como Joelmir Beting e Boris Casoy,

foi o centro das atenções no progra-ma “Canal Livre” após o presiden-te Lula citar um episódio delicado envolvendo o jornalista. No dia 21 de abril, o apresentador recebeu no estúdio do “Brasil Urgente” a can-didata Dilma Rousseff, numa en-trevista com direito a cutucadas em Serra e até em Carlos Gardel.

Mas Datena reclama há muito da fama que carrega desde sua estreia no “Cidade Alerta”, em 1999, na Re-cord. Já mudou de emissoras algumas vezes e se dedicou a formatos alter-nativos; nada o afastou, porém, da pecha de delegado televisivo. Agora, quer retomar o lado comunicador do início de carreira, quando produzia reportagens satíricas em que, não raro, o entrevistado ficava constran-gido no melhor estilo “CQC”. “Era o

que eu fazia antigamente e, modéstia à parte, eu fazia bem”, garante Datena. Mas no dia em que IMPRENSA acompanhou a transmissão do local “SP Acontece”, o apresentador não parecia nada contente. Exaltado, vociferava contra Ricardo Teixeira, presidente da CBF, a quem acusava de promover um lobby espúrio contra a indicação do estádio do Morumbi, na capital paulista, para sediar jogos da Copa. Datena chegou a falar, no ar, que seu cargo estaria ameaçado depois de ata-car o cartola. Felizmente (ou não), ele continua a ocupar as tardes da Band.

e n t r e v i s t a

MAIS RISO, MENOS SISO

EM EVIDÊNCIA POR CONTA DAS

ENTREVISTAS RECENTES COM

POLÍTICOS, O FOCO ATUAL DE

JOSÉ LUIZ DATENA É O NOVO

PROGRAMA DE AUDITÓRIO,

COM PEGADA HUMORÍSTICA

E ESTREIA DEPOIS DA COPA

POR IGOR RIBEIROEDITOR-ExECUTIVO

POR PAMELA FORTIDA REPORTAGEM

FOTOS: PyA LIMA

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e n t r e v i s t a

IMPRENSA – É INEVITÁVEL COMEÇAR PELO QUE VOCÊ FALOU NO AR, EM RELAÇÃO AO RICARDO TEIxEIRA. VOCÊ DISSE QUE PODERIA PERDER O EMPREGO AQUI NA BAND. ISSO FOI RETÓRICO OU REALMENTE ACHA POSSÍVEL? José Luiz Datena - Aqui na Band, mais retó-rico. Eu conheço bem as pessoas com quem eu trabalho aqui e principalmente o dono da em-presa, o Johnny [João Carlos Saad], um cara ex-tremamente de liberdade, do bem. As pressões não chegam a mim, param todas nele e no vice-presidente, o Marcelo [Meira]. Aqui na Band é mais retórico. Mas eu não tenho dúvida de que um cara com o poder que ele [Teixeira] deve exercer influência sobre a imprensa.

VOCÊ ACHA QUE O BRASIL AINDA NÃO É UM PAÍS SEGURO EM TERMOS DE LIBERDADE DE IMPRENSA? Nenhum país. Essa história de imprensa livre é uma balela que não existe. Por mais democra-ta que seja o país... Você viu nos Estados Uni-dos, que se diz berço da liberdade, como agiu a imprensa durante essas invasões tenebrosas e assassinas, desde o Golfo até o Iraque e daí por diante. De repente a CNN é mais um órgão de informação do governo do que um órgão de-

mocrático. Então, imprensa livre para mim não existe. Infelizmente. Existem os caras que se aproximam da liberdade de imprensa. Mas aí, geralmente, eles pagam um preço alto.

NA ENTREVISTA COM O LULA NO “CANAL LIVRE” ELE CITOU UM EPISÓDIO PESSOAL SEU QUE TEM A VER COM CERCEAMENTO DE ExPRESSÃO. VOCÊ PODE RECAPITU-LAR ESSA HISTÓRIA? Se a gente levar ao pé da letra, foi um erro que eu cometi. Era repórter da TV Globo no inte-rior de São Paulo e fui convidado pelo Palocci para apresentar um comício do Lula em 1989. Eu sempre gostei do Lula pra caramba e, na mesma proporção, achava que o Collor seria um péssimo presidente. Então eu queria realmente aceitar o convite, apresentar o Lula. Aí eu falei: “Palocci, a Globo está fechada com o Collor, os caras vão me mandar embora”. Decidimos que eu não ia apre-sentar, o que seria mais lógico. Mas momentos antes do comício começar eu recebi uma liga-ção da alta direção da EPTV dizendo que se eu apresentasse o comício seria mandado embora. Daí eu decidi fazer, fui lá e apresentei o comí-cio. Três meses depois, quando o Collor ganhou,

IMPRENSA LIVRE

PARA MIM

NÃO ExISTE.

INFELIzMENTE.

ExISTEM OS

CARAS QUE SE

APROxIMAM DA

LIBERDADE DE

IMPRENSA. MAS

AÍ, GERALMENTE,

ELES PAGAM UM

PREÇO ALTO

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UMA COISA É

O PT, OUTRA

É O LULA.

SÃO COISAS

COMPLETAMENTE

SEPARADAS.

SE VOCÊ FIzER

UMA PESQUISA

SOBRE O QUE É

UM E O QUE É

O OUTRO, VOCÊ

VAI ENCONTRAR

DIFERENÇAS

CLARAS

fui mandado embora. O diretor, que já morreu, o [Rubens] Volpe, me chamou na sala e disse: “Você sabe porque eu estou te demitindo, eu não vou dizer, mas você já sabe o que é”. Ele me deu a carta de demissão chorando. Foi um episódio que marcou e o Lula não esqueceu isso. O PRESIDENTE COMENTOU COM VOCÊ SOBRE O EPISÓ-DIO EM OUTRAS OCASIÕES?Um dia antes de assumir a presidência ele me li-gou, em 2002. Eu estava na Record, ia fazer um “Cidade Alerta”. Me lembro que foi num sábado, a eleição seria no domingo. Ele disse: “Eu estou aqui comemorando”, acho que era aniversário do Palocci. “E estou lembrando do fato de Ribeirão, eu quero dizer que sou um cara muito grato a você e que eu estou praticamente eleito presidente da República do Brasil”. Eu comecei a chorar, eu estava sozinho fazendo minha oração antes de entrar no programa. Tanto que, logo depois de eleito, ele foi para a bancada da Globo – e foi cri-ticado pra caramba por isso – e depois, no outro dia, me deu uma entrevista de quase uma hora no “Cidade Alerta”. Depois disso nunca mais vi o Lula, nunca mais o procurei. Reencontrei o Lula

na enchente de Santa Catarina, em 2008. Mas, de fato, ele nunca me pediu absolutamente nada e nem eu pra ele, nesse tempo todo de governo.

MAS NÃO É FATO QUE ALGUMAS IDEIAS DO GOVERNO LULA, COMO O PROJETO DO CONSELHO DE JORNALIS-TAS, VÃO DE ENCONTRO AO CONCEITO DE LIBERDADE? Mas acho que não é ele, são pessoas que têm ideias retrógradas no PT... Uma coisa é o PT, outra é o Lula. São coisas completamente sepa-radas. Se você fizer uma pesquisa sobre o que é um e o que é o outro, você vai encontrar dife-renças claras. Alguém dentro do PT, com lem-branças de regimes totalitários, quer cercear a liberdade de imprensa. O Lula tem pouco tempo até entregar o cargo, não acho que ele vá come-ter absurdos. Confio nele, como um cara que acredita na liberdade. Mesmo porque ele teve a liberdade tolhida na própria pele. Então, eu acredito que é ideia de gente que o acompanha.

ATÉ PORQUE ISSO SERIA IMPRODUTIVO PARA AS ELEIÇÕES.Se você pegar a história brasileira, o brasileiro não é cordeirinho. Você vai ver várias revoluções que aconteceram desde a colônia até a criação da República. Não só para libertar os escravos, mas para se conseguir liberdade, lutar contra o Esta-do Novo, contra a ditadura militar... A história do Brasil é uma história de gente guerreira. E da imprensa brasileira também. Quantos perderam a vida ou a liberdade durante a ditadura? Na di-tadura do Getúlio também, e o papel da imprensa na queda do Collor foi fundamental. Acho errado dizer que o povo brasileiro é pacífico demais. O povo não é bélico contra outros países, mas luta por suas liberdades. Essa miscigenação de raça criou um povo pacífico, mas inteligente.

SUA ENTREVISTA COM O SERRA GEROU GRANDE RE-PERCUSSÃO. VOCÊ SE SENTE CADA VEz MAIS CONFOR-TÁVEL PARA FALAR DE POLÍTICA?Eu sempre estive. Na EPTV eu tinha que fazer ma-téria de esporte, de política... E um bom repórter de esporte faz matéria em qualquer outra área e a recíproca não é verdadeira. É uma experiência que te deixa mais à vontade para conversar. Então esse negócio de fazer entrevista política, isso é relativo, eu já fiz. Comecei fazendo reportagem geral, mas passei para esporte fazendo a antítese do que eu faço hoje, que é o que o “Casseta e Planeta” fez de-pois, os caras do “CQC”... Essas matérias eu fazia há muito tempo atrás na Globo. Era a mesma linha.

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se gasta tanto no horário político mais caro do mundo? Por que os publicitários enriqueceram fazendo política no Brasil? Não é só por causa de desvio não. Porque eles estão vendendo coi-sa ruim. Quando você vende coisa ruim, precisa de um publicitário para fazer você engolir. Uma palha de aço pode ser igual a outra, mas se você fizer uma publicidade boa...

POR UM LADO O BRASILEIRO NÃO É INGÊNUO QUANDO SE SENTE ENGANADO, MAS POR OUTRO NÃO SABE VOTAR?Não é que não sabe votar. O que chega pra ele não é a verdade. Se você ficar olhando placa, que tem em todo lugar, você vai tomando Coca-Cola daqui até a Bahia. Se o que te vendem é isso, é isso que você tem. Eu acho que as campanhas deviam ser mais transparentes, que o negócio tinha que ser pela-do, um estúdio sem nada de publicidade e o cara se mostrar ali. Sou a favor também do cara mostrar a ficha corrida dele, processos que ele responde e respondeu. Para saber quem é o cara, porque a gen-te vota em quem a gente não conhece.

VOCÊ JÁ RECEBEU REPRESÁLIA POR ALGUM COMEN-TÁRIO, ALGUM ERRO SEU?Já fui chamado a atenção, com razão, não só pela emissora, mas por críticos de jornal. A maioria eu acho que é aceitável. Algumas são destrutivas. Um erro grave que eu cometi foi aquele do ônibus 174 [sequestrado no Rio de Janeiro em junho de 2000]. Uma exposição tremenda, nós [Record] demos 27 pontos de audiência naquele dia, passamos a Rede Globo, ficamos transmitindo direto. Quando a polí-cia agiu, interveio, o policial atirou e eu achei que ele

Isso te dá jogo de cintura. Tem uma grande saca-nagem quando os caras te classificam. Se o cara te botou um rótulo, você vai até o fim da vida com isso. Então dificilmente as pessoas lembram des-se lado gozado que eu fazia. Quando entrevistei o Serra, disseram: “Nossa, mas que surpreendente o Serra falar aquilo pro Datena”. Pô, o cara subestima sua capacidade de entrevistador. O Datafolha fez uma pesquisa sobre as pessoas de maior credibi-lidade no país. E sou o 10° entre os pobres. Entre ricos, sou o 11° ou 12°. Tem que haver alguns méri-tos. Se o povo reconhece isso em mim – e eu faço televisão para quem vê televisão, não para crítico – eu devo ter meus méritos.

PRETENDE TRAzER MAIS DESSA MARCA POLÍTICA? VOCÊ FALOU QUE ESTÁ CANSADO DE POLICIAL.Estou, mas quero fazer um programa de esporte. Esse programa das 13h15 até 14h15 é só de esporte [dentro do “SP Acontece”]. E geralmente depois das 14h15 eu começo a fazer um noticiário mais leve, boto matéria sobre culinária com o Daniel [Bork], reportagens do “No Coração Do Brasil”... Agora, um caso pontual, como esse erro terrível da Justiça [sobre a soltura do maníaco de Luiziâ-nia], você não pode passar por cima. Essa notícia todo mundo está dando. Não é porque o cara me classifica como jornalista policial que eu vou dei-xar de dar a notícia. Isso eu não posso fazer.

O BRASIL PRECISA CRESCER EM TERMOS DE GESTÃO? Totalmente. O brasileiro ainda não tem o go-verno que merece. Tem uma frase que o Sartre dizia, em outro contexto, mas muito aplicável ao Brasil, que eleição é armadilha pra idiota. Por que

TEM UMA GRANDE

SACANAGEM

QUANDO OS

CARAS TE

CLASSIFICAM. SE

O CARA TE BOTOU

UM RÓTULO,

VOCÊ VAI ATÉ

O FIM DA VIDA

COM ISSO. ENTÃO

DIFICILMENTE

AS PESSOAS

LEMBRAM DESSE

LADO GOzADO

QUE EU FAzIA

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tinha matado o bandido e falei: “A polícia conseguiu salvar a refém...” Foi o contrário, o cara tinha ma-tado a mulher. Aí fui criticado no dia seguinte e eu aceito. Agora, já pensou você ficar ali quatro horas no ar, uma exposição violenta. Você tem que pensar tudo muito rapidamente. Foi um erro que eu cometi e quando as pessoas criticaram, eu aceitei. Não vi na hora. É como um juiz que não dá um pênalti. Depois tem 40 caras para dizer: “Olha lá o replay”.

VOCÊ DISSE QUE AINDA GOSTARIA DE TRABALHAR COM O SÍLVIO E RECENTEMENTE TEVE UMA PROPOSTA DO SBT. COMO FOI ISSO?Tive, mas não fui. Acho meio difícil. Eu tenho mais cinco anos de contrato com a Band e o que ela já fez por mim... Só para contar um caso específico, suspeitava-se que eu tinha um tumor maligno, na época do Pavarotti [em 2007, quando o cantor fa-leceu por conta de um câncer no pâncreas]. Fui fa-zer exame de rotina e o médico falou que tinha um pontinho no pâncreas. “Me ferrei, vou morrer.” Descobriu-se que era benigno, mas minha diabetes aumentou muito. E eu não voltava ao médico. Um dia, estou saindo daqui, e o motorista do Johnny me falou: “Senhor Datena, o Johnny mandou le-var você no médico”. O Johnny já tinha me falado que se eu não fosse, ia me proibir de entrar aqui. Cheguei à clínica e o Johnny estava lá. A doutora me perguntava as coisas, era o Johnny quem res-pondia, como meu pai fazia quando eu era criança. Então é meio impossível sair de um lugar como este. Devo ao cara uma coisa impagável. Tenho um carinho muito grande por ele, pela minha equipe e pelo meu chefe, o [Fernando] Mitre.

VOCÊ TEM PROJETOS PARA FAzER ESSA TRANSIÇÃO DA MARCA POLICIAL PARA UM NOVO PERFIL? Já tenho um novo projeto para estrear, e isso ninguém deu ainda. Estreia depois da Copa, sou eu e o Neto. Vai ser de auditório, com matérias voltadas para esporte, para o feminino... Pode ser até em cima desse programa da Record, des-sa molecada que é boa pra caramba, João Gordo, Mion... É tipo “Perdidos na Noite”, um formato que eu acho que faria bem para caramba. SUA AMIzADE DE LONGA DATA COM O NETO AJUDOU A FORMATAR O PROGRAMA NOVO?A gente sempre teve vontade de fazer um negó-cio diferente, bem-humorado e tal. Daí o Marce-lo [Meira], grande protetor nosso aqui, chamou a gente e disse: “Vocês vão fazer o programa jun-tos aí”. E nós vibramos! Porque eles perceberam

que a partir desse programa da hora do almoço dava pra fazer algo mais descontraído. MAS TANTO VOCÊ, NO JORNALISMO, COMO O NETO, JOGANDO FUTEBOL, TINHAM FAMA DE TURRÕES. EN-TÃO VOCÊS VÃO DESMASCARAR UM POUCO DISSO AÍ.A gente é meio besta, de brigar, sair na mão, fa-zer cagada... Mas nós somos imbecis incomple-tos, não completos, pois temos nosso lado legal também. E esse lado é melhor do que nosso lado obscuro. Envelhecendo, você vai melhorando essas coisas também. Hoje sou um cara muito mais amável. As pessoas acham que eu melho-rei muito e eu acho que são os remédios [risos]. Talvez eu fosse mais nervosão antigamente, e era mesmo, porque eu tinha esse problema de saúde e não sabia. Hoje sou mais tranquilo, mais feliz... Então acho que dá para fazer esse tipo de matéria [bem-humorada], mas também dá pra fazer coisa legal, séria, como algumas que fiz “No Coração do Brasil”. Dá para misturar com esporte, que os moleques estão muito ligados, num sábado, fim de semana – ainda não sei, a Bandeirantes vai escolher –, para falar da roda-da. Posso fazer uma matéria sensível pra caram-ba, mas podemos fazer coisas gozadas.

ENGATANDO ESSE TERCEIRO PROGRAMA, VOCÊ DEVE ABRIR MÃO DOS OUTROS?Eu preciso. Oficialmente, eu devo manter um e limar o programa das 13h, outra pessoa faz, tem muita gente competente para fazer. E depois, mais pra frente, quero ficar com um programa semanal. Porque não dá mais. À tarde é muita concorrência. É um horário muito importante porque a gente tem que alavancar o “Jornal da Band”. Meu objetivo não é ser Pelé. É ser Zico, Caçapava, Batista. Eu tenho que carregar o piano. Não importa eu dar 11 pontos se eu não levar o público para o “Jornal da Band”. Minha função é fazer com que o “Jornal da Band” dê audiência. Essa é a minha função e eu me contento per-feitamente com isso. Quando eu falo “Vem aí o melhor âncora da TV brasileira”, chamando o Boechat, é porque eu acredito nisso mesmo.

MAS ISSO É UMA META SUA OU TEM UMA DIRETIVA PARA ISSO?Não tem uma diretiva clara, mas é óbvio que me trouxeram aqui pra isso.

O acessório da foto da pág. 21 foi gentilmente cedido pelo

Ateliê de Máscaras (www.ateliedemascaras.com.br).

MEU OBJETIVO

NÃO É SER PELÉ.

É SER zICO,

CAÇAPAVA,

BATISTA. EU

TENHO QUE

CARREGAR O

PIANO. NÃO

IMPORTA EU DAR

11 PONTOS SE EU

NÃO LEVAR

O PúBLICO PARA

O “JORNAL

DA BAND”

VEJA MAIS Fotos de José Luiz Datena e trechos da entrevista em

portalimprensa.com.br/revista/256