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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS CAMPUS DE IPORÁ GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA CLÉSIO RODRIGUES DE SOUSA A SITUAÇÃO DOS AGRICULTORES FAMILIARES EM CAIAPÔNIA GOIÁS: ASSENTAMENTO LAGOA DA SERRA. IPORÁ DEZEMBRO 2014

A Situação Dos Agricultores Familiares Em Caiapônia Goiás

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geografia

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS

    CAMPUS DE IPOR

    GRADUAO EM GEOGRAFIA

    CLSIO RODRIGUES DE SOUSA

    A SITUAO DOS AGRICULTORES FAMILIARES EM CAIAPNIA GOIS:

    ASSENTAMENTO LAGOA DA SERRA.

    IPOR

    DEZEMBRO 2014

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    CLSIO RODRIGUES DE SOUSA

    A SITUAO DOS AGRICULTORES FAMILIARES EM CAIAPNIA GOIS:

    ASSENTAMENTO LAGOA DA SERRA

    Trabalho de concluso de curso apresentado Coordenao

    Adjunta de pesquisa e Coordenao de TCC em Geografia da

    Universidade Estadual de Gois-Campus Ipor, como

    requisito parcial, de obteno do grau de Licenciatura em

    Geografia.

    Orientador (a): Prof. Ms Adjair Maranho de Sousa.

    IPOR 2014

    DEZEMBRO 2014

  • 3

    SUMRIO

    1- Introduo 05

    2- O Assentamento Lagoa da Serra 06

    3- Desenvolvimento 07

    4- A reforma agraria esperada pelo povo 07

    5- As dificuldades no inicios das primeiras produes 09

    6 Problemas crnicos de produo no assentamento 11

    7- O endividamento do produtor assentado 12

    8- Os incentivos iniciais para produo 13

    9- A existncia das linhas de crditos 17

    10- Concluso 18

    11- Referencias 20

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    ZA SITUAO DOS AGRICULTORES FAMILIARES EM CAIAPNIA GOIS:

    Assentamento Lagoa da Serra.

    SOUSA, Clsio Rodrigues de1

    SOUSA, Adjair Maranho de2

    Resumo: Este trabalho foi desenvolvido a partir de experincia vivida no assentamento Lagoa da

    Serra, onde morei dos dez aos dezoitos anos de idade. Foi um tempo marcado por dificuldades,

    principalmente ao acesso escola. Vencido essa etapa e ao me ingressar na universidade surgiu a

    oportunidade de mostrar como vivem os trabalhadores assentados, abordando questes e desafios

    ali existentes e que resistem s adversidades em ter que viver e produzir na parcela de terra. A

    pesquisa apresenta tambm dados quantitativos da satisfao de vida dos trabalhadores rurais, o

    conhecimento das linhas de crdito disponveis pelos programas de poltica voltados ao

    seguimento, o acesso ao financiamento, migrao dos filhos, forma de aquisio das parcelas:

    beneficiria ou compras. A pesquisa buscou identificar as dificuldades em prevalecer nas

    parcelas que acabam se tornando uma barreira que limita a produo do pequeno produtor rural.

    Para aprofundarmos nosso estudo no municpio de Caiapnia-Go, dentro do mtodo estatstico,

    histrico e crtico, buscamos como referncia bibliogrfica autores como Marins, Moreira,

    Pessoa, Segatti e Haspanhol. Esperamos com a realizao deste trabalho, contribuir como fonte

    de referncias para a construo de novas pesquisas dentro da temtica da Geografia Agrria e

    Regional.

    Palavras-chaves: Parcela. Produo. Comercializao. Dificuldade. Assentados.

    Abstract: This paper was developed from experience lived in the Sierra Lagoon settlement,

    where I lived from ten to eighteen years old. It was a time marked by difficulties , especially

    when access to school. Won this stage and join me at the university had the opportunity to show

    how the settlers workers live , there addressing existing issues and challenges and adversities that

    resist having to live and produce in the plot of land. The survey also presents quantitative data of

    satisfaction of life of rural workers , knowledge of available credit lines by policy programs

    aimed at tracking, access to finance , migration of children , form of acquisition of plots :

    beneficiary or shopping. The survey sought to identify the difficulties prevail in the plots that

    end up becoming a barrier that limits the production of small farmers . To deepen our study in

    the municipality of Caiapnia -Go , within the statistical , historical and critical method , we seek

    as bibliographic reference authors as Marins , Moreira , person, Segatti and Haspanhol . We hope

    with this work , contribute as a source of reference for the construction of new research in the

    subject of Agrarian Geography and Regional .

    1 Graduando em Geografia pela Universidade Estadual de Gois Campus Ipor. [email protected]

    2 Professor Mestrando Orientador de Trabalho de Curso. [email protected]

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    Keywords: Pitch. Production. Marketing. Difficulty. Settlers.

    Introduo

    Este trabalho parte das experincias que vivi por oito anos no Assentamento Lagoa da

    Serra, compreendido entre os anos de 2003 a 2010. O assentamento tem quinze anos de

    existncia e possui trinta e cinco famlias que habitam a rea. Para a realizao da pesquisa,

    visitamos todos os assentados, porm, por ocasio de nossa visita, s conseguimos encontrar

    treze pessoas em suas parcelas, com quem conversamos e utilizamos o processo de amostragem,

    por conhecer a realidade e saber e que suficientemente para retratar como tem sido viver nesse

    assentamento.

    Para a realizao da pesquisa campo, elaboramos e aplicamos aos entrevistados,

    questionrios objetivos para que pudssemos ter os dados estatsticos e para a fundamentao

    terica contamos com os autores Coca (2013), Pessoa (1999), Vianna (1990) Vieira (1990).

    Esses autores afirmam que a primeira demarcao do territrio a garantia da permanncia na

    terra a primeira colheita nos lotes garante a sustentabilidade da famlia, e, que a produo exige

    recursos financeiros para correo do solo e assistncia tcnica.

    Ao longo desses quinze anos, grande parte dos assentados venderam suas parcelas e

    retornaram para a cidade e outros no conseguem viver somente da produo de sua terra, e, se

    transformaram novamente em mo de obra assalariada no campo. Muitas repercusses

    aconteceram trs anos depois da distribuio de terra, como a venda de parcelas alegando

    dificuldade de sobrevivncia na parcela, dificuldades na qual a pesquisa vem a identificar.

    Atualmente os assentados produzem diferentes tipos de cultura. Mas, a falta de

    assistncia, qualificao e de poltica voltada para os assentados, contribuem para que o

    trabalhador no consiga fazer a terra produzir para manter a sua famlia no campo contribuindo

    com o abandono, a venda e at troca da parcela.

    Poucos agricultores que fizeram parte da fundao desde o acampamento do grupo, que

    ainda permanecem nas reas. A proposta deste trabalho pontuar os principais aspectos que

    dificultam a produo desses assentados que muitas vezes abandonam a parcela ou vendem-na

    buscam de outra forma de sobrevivncia.

    A Reforma Agrria um direito garantido pela a Constituio Federal de 1988, em que

    reza no Art.184, que estabelece a desapropriao de grandes extenses de terras no produtivas,

  • 6

    e o Art. 189 que garante aos assentados o direito ao ttulo do uso da terra sem comercializao da

    propriedade em um prazo de dez anos.

    No assentamento Lagoa da Serra, o que se viu desde o seu incio, logo na distribuio

    das parcelas, foi um desrespeito a lei que probe a venda e compra ou arrendamento de terras de

    projetos de assentamento. Essa realidade no uma exclusividade da rea em estudo, mas, sim

    uma prtica que se estende aos assentamentos da regio, e, com tudo legalizado posteriormente

    pelo INCRA3, antes de se completar o tempo legal de dez anos.

    O Assentamento Lagoa da Serra

    A pesquisa que desenvolvemos como Trabalho de Concluso de Curso, para a

    licenciatura em Geografia, na Universidade Estadual de Gois Campus Ipor, tem como intuito

    contribuir como referncia para futuros estudos agrrios no municpio de Caiapnia (GO), j que

    o mesmo conta com dezoito assentamentos rurais, pouco estudados e essenciais para o

    conhecimento geogrfico.

    A rea do Assentamento Lagoa da Serra est localizado ao norte, no Municpio de

    Caiapnia, a 28 de latitude e 16 de longitude no sul do oeste do Estado de Gois, conforme se

    observa no mapa de localizao, para que possamos ter uma melhor compreenso do lugar

    estudado.

    3 Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria

  • 7

    Desenvolvimento

    A reforma agrria deveria ser um projeto de nao soberana, com investimento e alta

    produtividade de qualidade. No Brasil foi instituda pela Lei 4504/64, que criou o estatuto da

    terra, como conjunto de medidas que visavam melhor promover a distribuio da terra, mediante

    modificaes no regime de sua posse e uso, a fim de atender justia social.

    A reforma agrria, em tese, mais do que um compromisso, um programa do

    Governo Federal. Ela uma necessidade urgente e tem um potencial transformador da sociedade

    brasileira. Gera emprego e renda, garante segurana alimentar e abre uma nova trilha para a

    democracia e para o desenvolvimento.

    Segundo Ferreira (1993) reforma agrria um conjunto de medidas que promove uma

    melhor distribuio de terra, mediante o regime de posse e uso atendendo os princpios da justia

    social e aumento da produtividade.

    O contexto do Assentamento Lagoa da Serra, inicia no ano de 2000, quando as trinta e

    cinco famlias receberam suas parcelas. Porm, para essa conquista, os trabalhadores tiveram que

    se acampar e esperar pera a realizao de seus sonhos. Logo no incio, o sonho da posse da terra,

    que deveria ser sinnimo de qualidade de vida, tranquilidade e paz para o trabalhador rural e sua

    famlia, se tornou em problema crnico.

    O trabalhador, acostumado a ser mo de obra no campo, e, que ainda no tinha passado

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    pela experincia de gerencia a sua prpria propriedade, descobre que para ele produzir, no basta

    ter somente a posse da terra, mas, sim, preciso ter fundo de capital para investir e, s depois,

    que comea a colher os frutos e ter lucro como o seu trabalho.

    Dessa forma, logo no comeo, o que se viu no Assentamento Lagoa da Serra, foi um

    descumprimento da Lei. Algumas famlias, sem perspectiva de produo, uma vez que lhes

    faltavam dinheiro para os investimentos, abandonaram suas parcelas, outros trataram logo de

    comercializar, ignorando a legislao. Os beneficirios da distribuio de imveis rurais pela

    reforma agrria recebero ttulos de domnio ou de concesso de uso, inegociveis pelo prazo de

    dez anos (Constituio Federal, 1988, Art. 189).

    A Reforma Agrria esperada pelo povo brasileiro

    A questo agrria tema de muita discusso e debate dentro e fora do contexto da

    Geografia. No Brasil, a formao inicial da estrutura fundiria foi de concentrao de terra. As

    terras pertenciam a coroa portuguesa que j na primeira diviso dos lotes, beneficiou nobres

    aliados do governo. A coroa adotou o sistema de capitanias que vigorou por trs sculos e um

    retrato de uma poltica voltada para o latifndio.

    Esse pensamento sobre a posse da terra, tambm esteve presente nas sesmarias, que

    compreendia, com o discurso de colonizar e povoar o pas, grandes extenso de terra. Vale

    ressaltar que as sesmarias esto contidas dentro do regime das capitanias, sendo, portanto

    contemporneas.

    A sesmaria era uma subdiviso da capitania com o objetivo de que essa terra fosse

    aproveitada. A ocupao da terra era baseada em um suporte mercantil lucrativo para

    atrair os recursos disponveis, j que a Coroa no possua meios de investir na

    colonizao, consumando-se como forma de solucionar as dificuldades e promover a

    insero do Brasil no antigo Sistema Colonial. (DINIZ, 2005).

    Portanto, desde os primeiros anos do Brasil, a posse da terra significou sinnimo de

    poder, cabendo ao trabalhador rural, apenas a mo de obra no campo para beneficiar as grandes

    propriedades. A luta pela desconcentrao fundiria, s ganhou fora no sculo XX, em meados

    da dcada de 1940, com a implantao das ligas camponesa, incentivadas pelo PCB4, criadas

    com o objetivo de promover a reforma agrria.

    4 Partido Comunista Brasileiro

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    Porm, no governo de Eurico Gaspar Dutra, que fora ministro de Getlio Vargas e o

    sucedeu, esse foi um perodo de transio no cenrio poltico internacional. Tratava-se do fim da

    Segunda Guerra Mundial e o incio da Guerra Fria. Dutra aliou-se aos EUA5, e, portanto, a fora

    sufocou os movimentos e seguimentos comunistas, a ponto das ligas camponesas desaparecerem.

    Novamente a luta pela terra e tentativa de fazer reforma agrria no Brasil, voltou a se

    intensificar nos anos 1980, com a criao do MST6. Mas, a pergunta que se faz : qual reforma

    agrria? Qual o melhor conceito de reforma agrria? Coca (2013) ressalta as dificuldades

    apontando que os conceitos j nascem viciosos.

    O conceito traz consigo a viso de mundo de seu formulador, sendo uma atividade

    ideolgica. Isto ocorre porque, ao propormos uma interpretao sobre determinado fato,

    podemos levar em considerao ou no alguns pressupostos inerentes a ele. Ou seja, os

    elementos que iro compor a definio dos conceitos dependero do enfoque que

    queremos dar nossa anlise. Podemos levar em considerao os conflitos ou tentar

    escond-los, podemos concordar com a ordem vigente ou question-la. Nossa postura

    o que determinar o contedo do conceito.

    Desse modo, enquanto alguns podem entender a reforma agrria apenas como a

    desapropriao de terras, outros podem considerar tambm medidas como a doao, a

    regularizao fundiria e o reconhecimento de assentamentos criados por estados e

    municpios. Podemos entend-la como uma ao que visa o fortalecimento do

    capitalismo ou o seu combate (COCA, 2013, p. 171-172)

    Para Silva (1993), as reinvindicaes demonstram que a Reforma Agrria esperada pela

    sociedade reivindicadora a busca de melhores salrios, distribuio de renda, melhores

    condies de vida, uma poltica democrtica no s uma redistribuio de terra, pois, uma terra

    nas mos de algum que no sabe utiliz-la no produz, no havendo produo tambm no h

    renda e se no h renda, as decises podem ser vrias: a primeira a migrao para a cidade em

    busca de melhores condies de vida. Essa realidade no foge as condies vivenciadas no

    Assentamento Lagoa da Serra.

    As dificuldades no inicio das primeiras produes

    Para se produzir em uma parcela de terra na atualidade, que marcado por

    competividade em diversas reas do agronegcio brasileiro de compra e venda de produes,

    exige-se uma srie de procedimentos indispensveis como assistncia tcnica, planejamento,

    5 Estados Unidos da Amrica

    6 Movimento dos Sem Terra

  • 10

    gentica... E o principal, recursos financeiros para fazer investimentos na inicializao da

    produo dos assentados.

    O caminho para a posse da terra por parte do trabalhador rural uma longa espera,

    principalmente s margens de rodovias, onde ficam esperando em acampamentos pela ao

    governamental. Com a posse da terra e sem recursos para investimentos, nos primeiros anos,

    fazer a parcela comear a dar lucro, um grande desafio, segundo os assentados entrevistados.

    As principais dificuldades encontradas no inicio da produo foram relatadas conforme a tabela

    abaixo.

    Quadro 01

    A anlise dos dados da tabela 01 nos aponta que a principal dificuldade encontrada,

    como j mencionamos, a falta de recursos financeiros. Porm, o que devemos observar, o

    nmero de resposta para a mo de obra qualificada. Aqui, merece um pouco mais de ateno,

    uma vez que no h tambm, programas voltados para a qualificao do produtor rural, que

    oferea no s condies na lavra da terra, mas, tambm, que o auxilie qual melhor cultura deve

    plantar, a fim de atender a demanda de mercado.

    So bem verdade que o trabalhador rural, que normalmente comea a lida ainda muito

    jovem, ao chegar a sua parcela, ele tem vasta experincias prtica. Mas falta-lhe, muitas vezes,

    noo de mercado. O segundo item de dificuldade, aponta a comercializao. Ou seja, alm das

    dificuldades de produo, quando consegue colher, h o entrave onde vender e a quem vender.

    Outra questo abordada pela pesquisa a venda de parcelas. De acordo com Vieira

    (1990), a venda de lotes comum, na maioria dos assentamentos, as pessoas adquirem a parcela

    de terra para comercializar e obter lucros. So vrios os motivos da venda da parcela, mas a

    maioria deles a falta de recursos financeiros e assistncia tcnica para inicio de produo.

    Principais dificuldades encontradas no inicio da produo

    Questionamentos Pessoas

    Falta de assistncia tcnica 02

    Recursos financeiros 08

    Falta de mo de obra qualificada 00

    Dificuldade na comercializao da produo 03

  • 11

    No obtendo recursos financeiros e mercado consumidor para a produo, ao assentado,

    resta vender a sua terra e voltar a ser assalariado. Isso provoca uma migrao interna nos

    assentamentos porque os agricultores no conseguem ter uma vida digna no campo. Misria,

    pobreza, desesperana... Resta, para se defender da fome, abandonar ou vender a propriedade e

    partir para a cidade, migrando a misria para as periferias das cidades que no possuem

    infraestrutura para receber uma classe ativa do campo.

    Quadro 02

    Em um universo de treze entrevistados, cinco famlias assentadas adquiriram suas

    parcelas de terra por meio de compra, condio irregular e ilegal, e, outras oito foram

    beneficiadas pelo projeto reforma de agrria. Por essa amostragem, evidencia-se que grande

    parte dos assentados do Assentamento Lagoa da Serra, venderam suas parcelas de terra e

    retornaram para a cidade, e outros se transformaram em mo de obra assalariada novamente no

    campo. Constatamos tambm que atualmente, no assentamento, existem poucos agricultores que

    fizeram parte da fundao do grupo dos agricultores desde a posse da rea que ocorreu no ano de

    2000.

    Dessa forma a falta de recurso financeiro para o custeio da produo e assistncia

    tcnica, de acordo com Vieira (1990), contribui para a venda das parcelas, Aparece como

    alternativa de sobrevivncia a venda ou a troca de lotes (VIANNA, 1990, p. 24-25). Realidade

    encontrada em nosso trabalho, em que os dados obtidos nessa rea de estudo, indicam que os

    primeiros fatores que contribui para as vendas das parcelas so a falta de recursos financeiros,

    em segundo a dificuldade na comercializao da produo e em terceiro a falta de assistncia

    tcnica.

    Problemas crnicos de produo no assentamento

    Assentados beneficiados pela reforma agrria e que compraram a parcela

    Questionamentos Pessoas

    Posse por compra 05

    Beneficiados pelo projeto 08

  • 12

    Hoje as dificuldades presentes em produzir no foge a regra aquelas mesmas

    encontradas no inicio do assentamento. Para que pudssemos ter noo da evoluo dos

    problemas encontrados no comeo das atividades nas parcelas, perguntamos aos entrevistados

    sobre a realidade de momento e eis que seguem, na tabela 03, respostas muito parecida com as

    dificuldades iniciais.

    Quadro 03

    Principais questes que dificulta a produo dos assentados hoje

    Questionamentos Pessoas

    Falta de assistncia tcnica 04

    Recursos financeiros 03

    Problemas de sade 05

    Falta de mo de obra qualificada 01

    A pesquisa alm de apontar questes de dificuldades de inicio de produo e

    dificuldades atuais em produzir, o mercado consumidor globalizado tambm passa a ser um

    desafio para o pequeno produtor a quem exigido qualidade dos produtos, quantidade suficiente

    para atender o mercado consumidor, uma vez que as principais atividades da zona rural dos

    assentados so de produo de leite, cereais, hortalias, para manter a sustentabilidade da

    famlia.

    Essas dificuldades, em produzir, comercializar e permanecer nas parcelas parecem ser

    simples, mas passam a ser grandes problemas para os assentados porque a pequena propriedade

    no ultrapassa a trinta e trs hectares, cerca de um mdulo rural por famlia. Terra que poderia

    ser suficiente, porm, o trabalhador rural, que vem de formao latifundiria, mesmo na

    condio de emprego, aprendeu na teoria, que produo tem haver com o tamanho da

    propriedade. Quanto maior a terra, maior a produo.

    Aqui, falta a participao do tcnico em extenso, que a princpio, quem deveria

    orientar o produtor de forma clara, desmistificando essa condio que preciso grande

    quantidade de terra para se produzir. O papel do tcnico em extenso pegar a linguagem

    cientfica da pesquisa e levar ao produtor familiar, transformando em uma linguagem que ele

    entenda (Morais, 2014).

    Ao fazer essa analogia e sem contar com programa de formao e capacitao do

    trabalhador assentado, o mesmo renega as condies tecnolgicas e de melhoramento genticos

  • 13

    disponveis no mercado. Produzindo de forma tradicional e devido s propriedades serem

    pequenas, os assentados no consegue produzir em grande escala e garantir competitividade para

    abastecer a demanda perante o mercado consumidor.

    O endividamento do produtor assentado

    Alm das dificuldades j apontadas, o trabalhador rural assentado, se depara com

    problemas ps-colheita. O mercado no se abre facilmente dependendo do tipo da produo, ou

    seja, no encontrado mercado consumidor na regio. Nos primeiros anos de atividades dos

    assentados, houve o endividamento de muitos deles no Banco do Brasil, porque havia

    financiamentos para fins de produo cujos produtos no encontraram sada, como um projeto de

    apicultura que somente endividaram a maioria dos agricultores no s do assentamento Lagoa da

    Serra, mas tambm de outras reas de assentamento onde o projeto foi desenvolvido.

    A experincia relatada foi uma parceria que o sindicato dos trabalhadores rurais fez com

    o CENAR7 que disponibilizou o curso aos assentados, que fizeram investimento na produo de

    mel, e, na hora da comercializao, que deveria ser o exterior, no encontraram sada do produto

    porque a produo em pequena escala no garantiria o abastecimento do mercado consumidor,

    gerando prejuzos com a estocagem da produo e o financiamento a ser quitado.

    A soluo para tais dificuldades, talvez, seria a criao de uma cooperativa. Porm, o

    individualismo dos produtores assentados, basicamente inviabiliza tal iniciativa. Isso porque

    apresenta vrios tipos de produo assim, um assentado produz leite, outro produz abacaxi,

    eucalipto... Vrios outros produtos que acabam formando produo em pequena escala

    impossibilitando a organizao em cooperativas, o que geraria lucro agregando valor aos seus

    produtos.

    Sobre o cooperativismo, Silva (1993) define que so grupos de pessoas com o mesmo

    interesse economicamente, sem dvida a melhor forma de garantir a competividade perante o

    mercado consumidor que cada vez mais disputado no comrcio capitalista, qualquer tipo de

    produo s daria certo em reas de assentamentos que produzissem o mesmo tipo de produo.

    Para Vianna (2007) a resistncia em permanecer nos assentamentos exige

    cooperativismo, ou seja, unio do grupo dos assentados, quebrando a barreira imposta pelo

    sistema econmico, garantindo maior fora de reinvindicao na busca de implementos agrcolas

    7 Servio Nacional de Aprendizagem Rural

  • 14

    doados pelo governo, baixo custo de produo e bons preos.

    Os incentivos iniciais para produo

    Em 2014, comemorou-se o Ano Internacional da Agricultura Familiar. Em vista disso,

    segundo dados do MDA8, para a agricultura familiar em 2015, o governo federal est destinando

    um montante de mais de trinta e cinco bilhes de reais. Embora o governo anuncie que tem

    dinheiro disponvel, a realidade aponta para entraves para o acesso ao recurso.

    Mais adiante veremos que muitos trabalhadores, a quem as linhas de crditos foram

    pensadas, reclamam da burocracia e at mesmo alegam desconhecer os programas. Essa

    realidade vista em outros assentamentos. Em visita ao Assentamento Pe. Nilo, que est

    localizado na Regio da Balizinha, nos municpios de Amorinpolis e Ipor, l, mesmo depois de

    seis anos que a terra foi repassada aos assentados, os trabalhadores rurais no contam os apoio

    dos programas financeiros do governo federal.

    Cada assentado tem a sua parcela definida, toda cercada, com alguns benefcios, mas,

    segundo eles, ainda falta, para legalizar a vida das trinta e quatro famlias ali residentes, a boa

    vontade do INCRA, em demarcar os piquetes que at o momento ainda no foi feito. O

    resultado dessa demora, que nenhum assentado no Pe. Nilo, conta com o PRONAF, o que torna

    a vida ainda muito mais difcil, j que o assentado, para chegar a sua parcela, antes passa por

    longo perodo de espera em acampamento.

    O Banco do Brasil, parceiro do governo federal, disponibiliza ao pequeno produtor

    diversas linhas de crdito que podem ser utilizadas como fonte de recursos financeiros para ser

    utilizado para fins de produo agrcola ou pecuria, um dos mais conhecidos o PRONAF9, que

    disponibilizado para atender diversas formas de investimento para fins de produo, como

    apresentado na tabela seguinte.

    8 Ministrio do Desenvolvimento Agrrio

    9 O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar destina-se a estimular a gerao de renda e

    melhorar o uso da mo de obra familiar, por meio do financiamento de atividades e servios rurais agropecurios e

    no agropecurios desenvolvidos em estabelecimento rural ou em reas comunitrias prximas.

    Linhas de Financiamentos do PRONAF

  • 15

    Quadro 04

    Mesmo com essa divulgao, h uma srie de exigncia para que o produtor possa contar

    com o recurso oriundo do Tesouro Nacional. Em Gois, o maior problema enfrentado, de

    momento, a falta de tcnicos para a extenso e assistncia rural. Para Morais (2014), o rgo

    que deveria desenvolver essa atividade a EMATER10

    , consta com um quadro deficitrio de mil e

    duzentos tcnicos. O ltimo concurso do rgo foi no ano de 1993. No havendo a assistncia do

    tcnico, praticamente travam-se os projetos e o produtor fica a contar com a sorte e a esperar por

    longos tempos.

    Os benefcios do PRONAF aparecem at mesmo nas sedes das parcelas do

    Assentamento Lagoa da Serra, conforme se observa as fotos a seguir, feitas em duas

    propriedades, em que mostra diferenas gritantes entre a que constou com o benefcio e a outra

    que ainda espera pela auxilio do programa.

    10

    Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural.

    Linhas Disponveis Operao

    Utilizado para custeio das atividades agropecurias. Pronaf Custeio

    Utilizado para beneficiamento ou industrializao e comercializao

    de produo prpria ou de terceiros.

    Pronaf Agroindstria

    Para aquisio de tratores, mquinas, veculos de transporte de carga,

    implementos agrcolas e matrizes, formao de pastagens, entre outros.

    Pronaf Mais alimentos

    Para implantao, ampliao ou modernizao da infraestrutura de

    produo e de servios agropecurios e no agropecurios no

    estabelecimento rural.

    Pronaf Investimento

    Para implantao de sistemas de produo agroecolgicos ou

    orgnicos.

    Pronaf Agroecologia

    Para implantao, ampliao e modernizao da infraestrutura de

    produo e de servios agropecurios e outras culturas.

    Pronaf A

    Para implantao, ampliao e modernizao da infraestrutura de

    produo e de servios agropecurios e no agropecurios no

    estabelecimento rural.

    Pronaf B

  • 16

    Foto 1: Sousa, 2014

    Essa primeira foto, a sede que ainda no consta com a ajuda financeira do PRONAF.

    A seguir, reparamos, na outra foto, alm da diferena na prpria edificao, aos redores da casa,

    uma srie de benfeitorias que o produtor assentado j desenvolveu.

    Foto 2: Sousa, 2014

    Em anlise dessas duas propriedades, o conjunto estrutural, observado, fcil apontar que

    a propriedade da segunda foto, apresenta-se melhor estruturada, contando inclusive, com a

    instalao de energia eltrica, o que j facilitaria a prpria industrializao da produo familiar.

    As relaes entre campo e cidade mudam em consequncia da intensidade da

    modernizao agrcola. As diferenas entre o campo e a cidade se diluem num mesmo

    processo em que os atores e agentes no se distinguem, personificando-se um ao outro,

    em consonncia com a dinmica e os interesses da acumulao capitalista (CALAA e

    DIAS, 2010, P. 319)

  • 17

    Quanto ao beneficiamento com as linhas de crdito do PRONAF, a amostragem

    apresenta um fato bem curioso, uma vez que fica quase meio a meio a participao dos

    assentados com o beneficio governamental. Dos treze assentados entrevistados, sete so

    pronafianos e os outros seis no contam com as linhas de crditos.

    Quadro 05

    Analisando esses dados observa-se que dos sete que fizeram financiamento quatro no

    conseguiram pagar suas dvidas, os outros trs conseguiram pagar e tm em sua propriedade

    investimentos em infraestrutura de produo principalmente na produo de leite que a base da

    economia do grupo de assentados. Os seis que no fizeram financiamento tm dificuldades em

    gerar renda em suas parcelas e uma das questes alegadas durante a entrevista para que no

    adquirissem o financiamento foi burocracia para acessar esse tipo de benefcio oferecido pelo o

    Banco do Brasil.

    Os sete assentados que adquiriram o PRONAF (A) que so direcionados para

    implantao de infraestrutura de produo de servios agropecurios nas atividades rurais,

    financiamento que oferecido pelo Banco do Brasil, contou com o benefcio que foi destinado ao

    incio de sua produo.

    E mesmo sendo boas as condies de negociao do Banco do Brasil, quatro dos

    agricultores que adquiriram verbas para o incio da produo, no conseguiram pagar as dvidas.

    Com essas questes apresentadas conclui-se que a maior dificuldade de incio de produo dos

    assentados do Assentamento Lagoa da Serra a falta de acesso aos financiamentos, ou seja, de

    recursos financeiros para incio de produo.

    A existncia das linhas de crditos

    A entrevista nos mostrou que os produtores rurais, apesar do governo federal e do

    Dados socioeconmicos dos assentados

    Fizeram financiamento PRONAF 07

    No fizeram financiamento 06

    Possuem dvida 04

    Quitaram suas dvidas 03

  • 18

    Banco do Brasil investirem em propaganda e divulgao dos benefcios que podem chegar ao

    bolso do assentado, a maioria dos agricultores entrevistados disseram no conhece as linhas de

    crdito disponveis no Banco do Brasil, conforme se observa a tabela abaixo que mostra as linhas

    de crdito e o conhecimento por parte dos agricultores assentados.

    Quadro 06

    Financiamentos disponveis aos assentados Conhecidos pelos assentados

    Pronaf Custeio 04

    Pronaf Agroindstria 01

    Pronaf Alimentos 00

    Pronaf Investimento 00

    Pronaf Agroecologia 00

    Pronaf A 02

    Pronaf B 00

    Conhece todas as linhas de crditos 01

    Desconhece as linhas de crditos 05

    Com esses resultados percebe-se que a maioria dos pesquisado desconhece as linhas de

    crdito disponveis para o incentivo produo, o que nos arremete novamente que preciso,

    alm, de ceder ao trabalhador rural a sua parcela de terra, destinar recursos para investimentos,

    mas, preciso inserir curso de formao de mercado para que estes possam saber que alm da

    fora do trabalho precisam ter conhecimento das leis e regras de mercado.

    Concluso

    Ao realizarmos esse trabalho, apresentamos vrios aspectos referente aos assentados de

    Lagoa da Serra, como as dificuldades de inicio de produo, dificuldades existente hoje em

    produzir nas parcelas, dados quantitativos de assentados que compraram parcela e que os foram

    beneficiados pelo o programa da reforma agrria e dados dos assentados que adquiriram o

    (PRONAF) Programa Nacional de fortalecimento da Agricultura Familiar.

    Esse trabalho, ao nossos olhos, tem a importncia de mostrar a situao em que os

    assentados j viveram e a realidade atual. Assim a reforma agrria esperada pela sociedade

    reivindicadora a busca de melhores salrios, distribuio de renda, melhores condies de vida,

  • 19

    uma poltica democrtica no s com uma redistribuio de terra, como tem acontecido, pois,

    uma terra nas mos de algum que no sabe utiliz-la no produz, no havendo produo

    tambm no h renda e se no h renda, o assentado viver de que?

    Conclui-se que no adianta fazer Reforma Agrria somente com entrega da terra ao

    produtor, mas sim, preciso apoio financeiro como os programas de incentivo, assistncia

    tcnica e formao bsica de mercado e economia, para que o assentado entenda que no basta

    somente plantar e produzir, mas que ele precisa ter noo daquilo que o mercado consumidor

    espera e a qualidade que se exige.

    Caso contrrio, o retrato real e no vemos perspectiva de mudana. No havendo essas

    condies aos trabalhadores rurais dos assentamentos, condies mnimas para que possam

    permanecer na terra, poucos sobrevivero em suas parcelas condenados a pobreza e a misria.

  • 20

    REFERNCIAS:

    BRASIL. Lei n 8.629/96. Dispe sobre o Estatuto da Terra, e d outras providncias. Braslia:

    Presidncia da Repblica. Disponvel em:

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    consideraes sobre os tipos de assentamentos rurais no Brasil. CAMPO-TERRITRIO:

    revista de geografia agrria, v. 8, n. 16, p. 170-197, ago, 2013.

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