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ENTREVISTA EDITORIAL Quer ser colaborador de A VOZ DE RIO DAS PEDRAS? Faça contato por [email protected] PÁGINA 3 PÁGINA 8 PÁGINAS 6 e 7 Agora a gente tem voz INFORMAÇÃO E CIDADANIA ANO I - N 0 1 - RIO DE JANEIRO, 26 DE MAIO DE 2013 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Sou um velho idealizador da constituição da Associação Co- mercial do Rio das Pedras. Estou convencido de que a nossa cidade passa por um raro momento de progresso e esplendor. Temos um prefeito jovem e di- nâmico que está alinhado com o governador do Estado e a presi- denta da República. Tal parceria quebrou uma histórica rotina de conflitos entre as três esferas da administração pública e os resulta- dos são flagrantes. Vamos hospedar megaeventos como a Copa das Confederações, a Jornada Mundial da Juventude, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpi- cos. Está na hora de o Rio das Pedras virar bairro. É agora ou nunca! Convidei para fundar a nossa Associação Comercial dois legíti- mos empreendedores e interessa- dos, que possuem terrenos e empreendimentos vizinhos a construir: Carlos Fernando Carva- lho, cuja empresa Carvalho Hos- ken é responsável pela construção do que há de melhor na Barra da Tijuca, e Paulo Cesar Meirelles, da Construtora Santa Cecília, que com seu falecido pai, o inesquecí- vel Cleto, construíram milhares de casas e especialmente a Cidade Ocidental, nos arredores de Brasí- lia. Apresento-me dizendo que sou proprietário da empresa dona dos apartamentos vizinhos invadidos, cuja construção foi paralisada por essa mesma razão. Porém, já aprovadas pelo Muni- cípio, brevemente as obras serão reiniciadas, construídos os demais apartamentos previstos no projeto original, mas adaptados para os dias de hoje. Um novo projeto de obras apre- sentado para análise à Prefeitura prevê um shopping center, cine- mas, praça de alimentação, teatro, centro cívico, área para shows, hospital, consultórios, escritórios, escola técnica e universidade. Venho mantendo nesta comu- nidade o Núcleo da Cidadania, sob a coordenação da professora Clau- dia Franco Corrêa, minha colega na UniverCidade, cujo trabalho é conhecido de todos. Tive a oportunidade, nos últi- mos 15 anos, de conceder milhares de bolsas de estudo ao pessoal de Rio das Pedras, um benefício que pretendo continuar a outorgar se o novo dono da UniverCidade, reve- rendo Dr. Adenor Gonçalves dos Santos concordar. Obtive o apoio do presidente da Associação Comercial do Rio de Ja- neiro, Antenor Barros Leal, que co- locou toda sua equipe à disposição para ajudar o pessoal do Rio das Pedras. Ronald Guimarães Levinsohn AGORA OU NUNCA www.avozderiodaspedras.com.br “O Estado só investe em favela onde há tráfico.” Comandante da Patrulhinha da Limpeza, a cabelereira Cleusa da Cruz Florença quer ganhar o jogo contra a sujeira de Rio das Pedras no apito. Ela está à frente de um grupo de crianças que sopra o pequeno instrumento quando flagra algum porcalhão jogando lixo na rua. A iniciativa da "Preta Loura", como é conhecida, ganhou a mídia e o reconhecimento do presidente da Comlurb, Vinícius Roriz, que a considera um exemplo para toda a cidade. FOTOS DE FÁBIO COSTA A ‘PRETA LOURA’, SEUS PATRULHEIROS E O XERIFE DO LIXO A VOZ DE RIO DAS PEDRAS SAÚDA A COMUNIDADE E PEDE PASSAGEM. NO ABRE-ALAS, UMA CRIA NOSSA, A FI- LHINHA DA MORADORA STEPHAY DOS SANTOS, QUE EXIBE, COM SORRISO ESPONTÂNEO, O NÚMERO ZERO, CU- JOS 5 MIL EXEMPLARES SE ESGOTARAM RAPIDAMENTE. DISTRIBUÍDO NO DIA DO TRABALHO, E RECEBIDO COM EXPRESSÕES DE ALEGRIA E ESPERANÇA - COMO REVELA REPORTAGEM NAS PÁGINAS 4 E 5 DESTA EDIÇÃO -, ES- TE JORNAL É UM INSTRUMENTO ATRAVÉS DO QUAL VAMOS PODER SOLTAR A VOZ NA LUTA POR UMA MELHOR QUALIDADE DE VIDA E, PRINCIPALMENTE, PELO DIREITO À CIDADANIA.

A VOZ DE RIO DAS PEDRAS - Nº 1

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Informação e Cidadania

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Page 1: A VOZ DE RIO DAS PEDRAS - Nº 1

ENTREVISTA

EDITORIAL

Quer ser colaborador de A VOZ DE RIO DAS PEDRAS? Faça contato por [email protected]

PÁGINA 3PÁGINA 8

PÁGINAS 6 e 7

Agora a gente tem vozI N F O R M A Ç Ã O E C I D A D A N I AANO I - N0 1 - RIO DE JANEIRO, 26 DE MAIO DE 2013 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Sou um velho idealizador daconstituição da Associação Co-mercial do Rio das Pedras. Estouconvencido de que a nossa cidadepassa por um raro momento deprogresso e esplendor.

Temos um prefeito jovem e di-nâmico que está alinhado com ogovernador do Estado e a presi-denta da República. Tal parceriaquebrou uma histórica rotina deconflitos entre as três esferas daadministração pública e os resulta-dos são flagrantes.

Vamos hospedar megaeventoscomo a Copa das Confederações, aJornada Mundial da Juventude, aCopa do Mundo e os Jogos Olímpi-cos.

Está na hora de o Rio das Pedrasvirar bairro. É agora ou nunca!

Convidei para fundar a nossaAssociação Comercial dois legíti-mos empreendedores e interessa-dos, que possuem terrenos eempreendimentos vizinhos aconstruir: Carlos Fernando Carva-lho, cuja empresa Carvalho Hos-ken é responsável pela construçãodo que há de melhor na Barra daTijuca, e Paulo Cesar Meirelles, daConstrutora Santa Cecília, quecom seu falecido pai, o inesquecí-vel Cleto, construíram milhares decasas e especialmente a CidadeOcidental, nos arredores de Brasí-lia.

Apresento-me dizendo que souproprietário da empresa dona dosapartamentos vizinhos invadidos,cuja construção foi paralisada poressa mesma razão.

Porém, já aprovadas pelo Muni-cípio, brevemente as obras serãoreiniciadas, construídos os demaisapartamentos previstos no projetooriginal, mas adaptados para osdias de hoje.

Um novo projeto de obras apre-sentado para análise à Prefeituraprevê um shopping center, cine-mas, praça de alimentação, teatro,centro cívico, área para shows,hospital, consultórios, escritórios,escola técnica e universidade.

Venho mantendo nesta comu-nidade o Núcleo da Cidadania, soba coordenação da professora Clau-dia Franco Corrêa, minha colegana UniverCidade, cujo trabalho éconhecido de todos.

Tive a oportunidade, nos últi-mos 15 anos, de conceder milharesde bolsas de estudo ao pessoal deRio das Pedras, um benefício quepretendo continuar a outorgar se onovo dono da UniverCidade, reve-rendo Dr. Adenor Gonçalves dosSantos concordar.

Obtive o apoio do presidente daAssociação Comercial do Rio de Ja-neiro, Antenor Barros Leal, que co-locou toda sua equipe à disposiçãopara ajudar o pessoal do Rio dasPedras.

Ronald Guimarães Levinsohn

AGORA OU NUNCA

www.avozderiodaspedras.com.br

“O Estado só

investe em

favela onde há

tráfico.”

Comandante da Patrulhinha da Limpeza, a cabelereira Cleusa da Cruz Florença quer ganhar o jogo contra a sujeira de Rio das Pedras no apito. Ela está àfrente de um grupo de crianças que sopra o pequeno instrumento quando flagra algum porcalhão jogando lixo na rua. A iniciativa da "Preta Loura", comoé conhecida, ganhou a mídia e o reconhecimento do presidente da Comlurb, Vinícius Roriz, que a considera um exemplo para toda a cidade.

FOTOS DE FÁBIO COSTA

A ‘PRETA LOURA’, SEUS PATRULHEIROS E O XERIFE DO LIXO

A VOZ DE RIO DAS PEDRAS SAÚDA A COMUNIDADE E PEDE PASSAGEM. NO ABRE-ALAS, UMA CRIA NOSSA, A FI-LHINHA DA MORADORA STEPHAY DOS SANTOS, QUE EXIBE, COM SORRISO ESPONTÂNEO, O NÚMERO ZERO, CU-JOS 5 MIL EXEMPLARES SE ESGOTARAM RAPIDAMENTE. DISTRIBUÍDO NO DIA DO TRABALHO, E RECEBIDO COMEXPRESSÕES DE ALEGRIA E ESPERANÇA - COMO REVELA REPORTAGEM NAS PÁGINAS 4 E 5 DESTA EDIÇÃO -, ES-TE JORNAL É UM INSTRUMENTO ATRAVÉS DO QUAL VAMOS PODER SOLTAR A VOZ NA LUTA POR UMA MELHORQUALIDADE DE VIDA E, PRINCIPALMENTE, PELO DIREITO À CIDADANIA.

Page 2: A VOZ DE RIO DAS PEDRAS - Nº 1

RIO, 26 DE MAIO DE 2013

2FOTO DE FABIO COSTA

39Perguntas contémquestionário que éinformatizado e sãorespondidas em um tablet.

Todas as informações são sigilosas. A pesquisabusca também estabelecer parcerias comentidades públicas visando promover asmelhorias.

7 mil casos foramresolvidos desde que eleassumiu a presidênciada associação

Fabrício defende a criação de uma espécie desubprefeitura local para dar um choque de ordemem Rio das Pedras, que não é favela, nem é bairro.

Impresso na Gráfica e

Editora Jornal do Commercio

Publicação mensal Tiragem: 20 mil exemplares

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

CLASSIFICADOS GRÁTIS!

www.avozderiodaspedras.com.br

A partir dos próximos números, este jornal vai reservar espaço para que você,morador ou comerciante de Rio das Pedras, possa anunciar bens, serviços ouprodutos que esteja disposto a alugar, vender ou, simplesmente, doar. Basta queseja um texto curto e grosso, que vamos publicar de graça. Se quiser "vender seupeixe", encaminhe o anúncio para o setor de classificados para o e-mail

[email protected]. APROVEITE!

EXPEDIENTEUma publicação da Livraria

e Editora Citibooks Ltda.

CNPJ: 05.236.806/0001-5

Rua Jardim Botânico, 710, CEP 22.460-000

para a Associação Comercial do

Rio das Pedras (em organização).

Rua Nova 105 – Loja, Rio das Pedras

DIRETOR-RESPONSÁVEL Aziz Ahmed(Reg. 10.863 - MTPS)

[email protected]

Laerte Gomes [email protected]

Ricardo [email protected]

FOTOGRAFIA Fábio CostaTRATAMENTO DE IMAGENS Eduardo JardimCONSULTORA Cláudia Franco Corrêa

Localizado na Rua Nova nº105, loja 2, o Centro de Cida-dania, mantido pelo CentroUniversitário da Cidade (Uni-verCidade), além de oferecer

atendimento jurídico gratuito e media-ção de conflitos a todos os moradores dacomunidade, está realizando o maiorCenso já feito em uma favela do Brasil. Éum trabalho inovador, com o objetivo de

promover melhorias para da nossa co-munidade.O Censo busca fazer uma radiografia

local, identificando quais as maiores re-clamações e sugestões de comerciantes emoradores, visando buscar soluções paraque Rio das Pedras se torne um bairrocom infraestrutura, saneamento básico,coleta de lixo, entrega de cartas, escolasde qualidade para as crianças, áreas de

Dizem os esportistas que há coisas que sóacontecem com o Botafogo. Pois existemcoisas que só acontecem em Rio das Pe-dras. Uma delas está presente na gestão deFabrício José dos Santos, de 36 anos, cria

da comunidade, à frente da associação dos moradores.Frequentemente, tem de administrar “barracos”. E nãosão os de madeira, comuns em favelas, mas problemasde briga de marido e mulher e conflitos entre vizinhos. Epor quê?- Essa é a cultura local – explica Fabrício, que tem dado

prioridade ao empenho em conscientizar a comunidadesobre a obediência aos seus direitos e deveres.Ao recepcionar

nossa equipe, que foientregar exemplaresdo número zero destejornal, Fabrício reve-lou-se entusiasmadocom a iniciativa dacriação de um veículoque dê voz à comuni-dade e possa transfor-mar-se numinstrumento de pres-são junto às autorida-des para conquistadas aspirações maislegítimas dos mora-dores:- Vejo várias co-

munidades seremtransformadas em bairro e fico triste porque, aqui, o deverpúblico não é cumprido. Rio das Pedras tem muita gentesolidária, tem um povo trabalhador, altamente capaci-tado, guerreiro. São pessoas que não têm medo de enca-rar a realidade, por mais dura que seja. Merecia umtratamento mais digno por parte das autoridades. Achoque esse jornal vem preencher uma lacuna, ao dar aopovo daqui a oportunidade de se manifestar, de soltar avoz e expressar aquilo que tem dentro dele.Fabrício disse que há uma consistente cultura nordes-

tina dentro da comunidade e que, por isso, a liderança co-munitária tem de ser exercida atenta a essa peculiaridade,que está na raiz, na própria essência da maioria dos mo-radores.- Rio das Pedras sempre foi uma comunidade pacífica.

É da tradição nordestina obediência à regra de “olho porolho, dente por dente”. Hoje vejo a necessidade de umapresença, ainda que não ostensiva, de segurança pública.Estou me referindo à questão da violência doméstica, queacaba fluindo para o meu gabinete. Não raro chega aquiuma mulher que brigou com o marido e foi agredida porele. Ela não quer dar parte na delegacia. É a cultura dela.Seria mais fácil mandar para a delegacia resolver o pro-blema, mas acabo me envolvendo e me transformandonum administrador desses conflitos. Perguntado se são muitos os casos que têm resolvido,

ele faz as contas por alto:- Desde que tomei posse, foram uns sete mil. Não é de

espantar. Estou falando de uma comunidade com 167 milhabitantes, convivendo com problemas comuns a todasas grandes favelas.E bastou a reportagem percorrer a comunidade para

constatar os problemas expostos a olhos vistos, como ospróprios moradores revelam em depoimentos publica-dos nas páginas 4 e 5 desta edição. Por isso, Fabrício de-fende a criação de uma espécie de subprefeitura localpara dar um choque de ordem em Rio das Pedras, que,como mostrado na edição anterior, convive com uma si-tuação insólita: não é favela, nem é bairro.

ADMINISTRADORDE ‘BARRACOS’

A VOZ DE RIO DASPEDRASENTREVISTAFABRÍCIO SANTOS,PRESIDENTE DAASSOCIAÇÃO DOS MORADORES E AMIGOS DE RIO DAS PEDRAS

PESQUISADORES DO NÚCLEO DE CIDADANIA CONTAM COMA SIMPÁTICA E TRABALHADORA POPULAÇÃO PARA FAZERO MAIOR CENSO JÁ FEITO NUMA FAVELA DO BRASIL

FOTOS DE FABIO COSTA

No dia do tra-balho, uma açãoconjunta entre aCAP4 e a Prefei-tura, batizadacomo Dia D Con-tra a Gripe, reali-z o uaproximadamente350 vacinas em umposto montado nasede da Associação de Moradores. Coordenado por AndréaSouza, da CAP4, a iniciativa é mais uma entre tantas quevisam trazer melhorias para nossa comunidade e bem-estar para os moradores. O próximo alvo é o lixo.

PORTAS ABERTASPARA A CIDADANIA

Clarisse e Janice (aplicando a vacina) aliaram eficiência e simpatia

Andréa (no alto), Viviane e Anaorientaram os moradores

lazer e dotada de aparelhamentos urba-nos dignos de um bairro de verdade.Todas as moradias e estabelecimen-

tos comerciais serão visitados. Logo, abraas portas de sua residência e de seu co-mércio para o pesquisador, que é identi-ficado com camisa, boné e crachá daUniverCidade. Todas as informações são sigilosas. A

pesquisa busca também estabelecer par-cerias com entidades públicas visandopromover as melhorias necessárias emRio das Pedras. Alias, já está em anda-mento uma parceria da Prefeitura com oCentro de Cidadania para formalizar osnomes das ruas da comunidade, paraque o morador, em breve, resida numarua com nome e CEP. Ter endereço lega-lizado é o primeiro passo para o reconhe-cimento da comunidade como bairro.O questionário é informatizado e

contém apenas 39 perguntas a serem res-pondidas em um tablet. Assim, a pes-quisa não gastará mais do que 10 (dez)minutos do seu tempo.Colabore com essa iniciativa que pre-

tende melhorar a vida na comunidade!

CONHEÇA ALGUNS DOS NOSSOS PESQUISADORES

FABRÍCIO JOSÉ DOS SANTOS

DIA D CONTRA A GRIPE É UM SUCESSO!

ENTREVISTA DANIELA MOREIRA DE LIMA NEVES - advogada especialista em Direito Previdenciário

RIO, 26 DE MAIO DE 2013

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FOTO

S D

E FA

BIO

CO

STA

Esse pessoal que vem do Nordeste vempara trabalhar, vencer na vida e nãopara. Só fecham o comércio delesquando tiram férias e vão visitar a terra.

Esta comunidade me acolheu de braços abertos. Meu pai é nordestino e atépela minha origem me identifiquei de pronto com a vizinhança,predominantemente nordestina.

Sou advogada, pós-graduada,com especialização em DireitoPrevidenciário. Tenhoescritório há 10 anos

A Voz de Rio das Pedras – Quala sua história nesta comuni-dade?

Daniela – Vim para Rio dasPedras buscando nova opçãopara residir. Morava de alu-guel no Vidigal, onde nasci.Tinha dois filhos e a relaçãocom o tráfico local estava in-sustentável. O tráfico era in-vasivo na vida dacomunidade e isso me inco-modava profundamente. Souuma pessoa politizada e ob-servei que meus filhos não es-tavam tendo a infância quetive lá.

Aqui você reencontrou o am-biente que procurava?- Esta comunidade me

acolheu de braços abertos.Meu pai é nordestino e atépela minha origem me identi-fiquei de pronto com a vizi-nhança, predominantementenordestina.

Qual a sua formação e como elaajudou você a se integrar na co-munidade?- Sou advogada, pós-gra-

duada, com especializaçãoem Direito Previdenciário.Tenho escritório há 10 anosna Estrada de Jacarepaguá,

3145-A, Rua 5, casa 4, ondetambém moro.E lá atendomuita gente.

Qual a principal demanda dasua clientela?- Atendo basicamente pes-

soas interessadas em requereraposentadoria, pensão pormorte, benefícios assisten-ciais. Toda demanda de apo-sentadoria voltada para essaárea da Previdência é comigomesmo. Também presto ser-viços de consultoria, tantopara pessoa física quanto ju-

rídica, e as causas acabam semisturando, porque na maiorparte dos casos o comerciantee dono do negócio é moradorao mesmo tempo.

Além dos casos específicos dasua especialidade, você atendeoutros tipos de causas?- Na realidade, acabo

atendendo causas de guardae tutela de família, proble-mas de inventários. Dou as-sistência à lavratura deescrituras de compra e vendade imóveis da comunidade.

Uma demanda muito in-tensa que atendo é de reque-rer segunda via dedocumentos, como certidõesde nascimento, de casa-mento e de óbitos, que tiroem qualquer local do Brasil.As pessoas vêm do Nordestee às vezes perdem a docu-mentação ou são furtadas oudestruídas pelas inundações.Não cobro nada dessa gente,apenas as custas.

Por que só cobra as custas enão os honorários também?- É uma política de boa vi-

zinhança, uma estratégia quevem dando resultado ao criaruma relação de afetividade econfiança com a clientela. Aonão cobrar honorários acabofidelizando o cliente e elepassa a ser meu melhor ins-trumento de propaganda emarketing, recomendandomeus serviços a amigos e pa-rentes.

Rio das Pedras continua a rece-ber novos moradores?- Toda semana chega aqui

um ônibus lotado, proce-dente do Ceará. Ainda existemuito êxodo da população dointerior para as grandes cida-

des, a despeito do programaBolsa-Família, que tende ainibir esse fluxo migratório.

Como você avalia esse fenô-meno?- O que se constata é uma

gama inesgotável de criaçãode novos empreendimentosna comunidade. Isso facilitamuito a vida dos moradores.Rio das Pedras mantém-seviva, cheia de energia, dia enoite. A qualquer momentovocê pode comer um ca-chorro quente, uma sopa,uma carne de sol, um baião dedois, um sushi ou sushimi, umvariado cardápio é encon-trado na comunidade. Essepessoal que vem do Nordestevem para trabalhar, vencer navida e não para. Só fecham ocomércio deles quando tiramférias e vão visitar a terra. Aídeixam o estabelecimento fe-chado e vão à luta, como gran-des guerreiros.

Esse é o perfil do imigrante, domorador?- É. São pessoas de caráter,

trabalhadores e muito corre-tos. Aqui ainda vale os acor-dos fechados pelo fio dobigode.

Ela não é tipo mulherão,não tem o corpão sarado enem o caminha com oglamour de uma modelo napassarela. Mas quandopasseia por Rio das Pedras,literalmente, para otrânsito. Essa recepção depop star reflete o respeitoe o apreço conquistadoscom um trabalho de muitaentrega e determinação. Areportagem andou pelasruas com a advogadaDaniela Moreira de LimaNeves, de 38 anos, etestemunhou, ao vivo e emcores, uma cumplicidadefraterna que mantém coma vizinhança e a distintaclientela. Ela não dá trêspassos sem ser paradapara uma consulta breve,nem pode atravessar a ruasem que os carros parem, omotorista abra o vidro paracumprimentá-laefusivamente. Essa históriacomeçou há 12 anos,quando Daniela mudou-separa a comunidade paraimpedir que os filhoscontinuassem submetidosàs leis do tráfico quedominava a favela doVidigal, onde morava.Nesta entrevista A Voz deRio das Pedras, diante daausência do Estado ematender aos pleitos maiselementares, ela lembraque, no Rio de Janeiro, osgovernos federal estaduale municipal fazem tantapropaganda da união entreeles, mas esquecem Riodas Pedras. E bate pesado:“Por que não se constróiaqui uma Vila Olímpica,não se colocaequipamentos para aterceira idade? Osmelhoramentos que temossão feitos com os recursose a iniciativa dos nossoscomerciantes e moradores.As autoridades só investemem favelas onde hátráfico.”

“O ESTADO SÓ INVESTE EM FAVELA ONDE HÁ TRÁFICO”

Nascidos e criados em Rio das Pedras, Ercíliode Oliveira Alonso, de 49 anos, e Danilo deOliveira Alonso, de 46, apontam também aCedae como uma das grandes vilãs da comu-nidade. E com carradas de razão. Apontando

um buraco jorrando água, Ercílio desabafa:- Esse vazamento da Cedae existe há quatro anos e

ninguém nunca fez nada, tomou providência alguma.Indignado, Danilo dá o tom da falta de respeito e da in-

diferença das autoridades para com os moradores, acres-centando:- Fomos à Cedae do Tanque. Eles nos ouviram, disse-

ram que resolveriam o problema e nada. O problema estáaí, como vocês podem constatar.Conclusão: além de não dispor de uma estrutura,

ainda que precária de tratamento de esgotos, que corrempelas ruas a céu aberto, Rio das Pedras padece com o des-prezo da Cedae, que não providencia nem mesmo o con-serto de uma tubulação rompida, desperdiçando água ecriando transtornos para os pedestres e prejuízos no abas-tecimento.

CEDAE TAMBÉMÉ GRANDE VILÃ

No próximo dia 8 de junho, a partir das 9h, na praça prin-cipal em frente a Associação dos Moradores, o Estado vai teruma oportunidade única de mudar a opinião da nossa Daniela(que cravou o que está no título acima) e da maioria dos mora-dores da nossa comunidade, que não aguentam mais o des-caso do poder público.Idealizado pela Associação de Moradores e Amigos de Rio

das Pedras, o evento é uma parceria com a Prefeitura com di-versos braços de atuação, como Secretaria de Conservação, De-fesa Civil, Light entre outros. Segundo Alan Werneck,vice-presidente da associação, ocorrerão ações como retiradade carros abandonados, troca de bueiros, lâmpadas dos postese buracos nas ruas. - Queremos mostrar que os problemas serão solucionados.

O objetivo é aproximar o Estado da nossa comunidade - dizAlan, convicto de que o evento não será uma ação pontual esim um primeiro passo para que a Prefeitura e seus diversos ór-gãos se instalem de vez por aqui.Alan vai aproveitar o evento para apresentar um projeto que

vai mudar a cara das nossas ruas.- É uma grande parceria com os moradores para criar cons-

ciência urbanística através da valorização da casa de cada mo-rador e do entorno - afirma esperançoso por um lugar à alturados seus moradores. O piloto será na Vila Joel com a Bareta.

OPORTUNIDADE DE OUROPARA O ESTADO SE FIRMAR

MUTIRÃO DA LIMPEZAFOTO DE FABIO COSTA

Será que ovazamentovai fazeraniversáriode cincoanos?

Page 3: A VOZ DE RIO DAS PEDRAS - Nº 1

O jornal foi muito bemrecebido pela nossacomunidade. Dos maisjovens e descolados,passando pelos adultos echegando aos mais idosos,todos afirmaram que Riodas Pedras precisava de umveículo forte e que osrepresentasse comlegitimidade. Um jornal quetivesse a voz da comunidadepara fazer valer os seusdireitos junto àsautoridades.

EQUIPE DEDISTRIBUIÇÃO

Essa é a galera que distribuiu anossa edição de número zero.Saibam os nomes dessa verdadeiraseleção brasileira. Sandro Lopes daSilva, Dirceu da Silva Gouveia Neto,Márcio Baçalo Rodrigues, RísiaBatista Vieira, Rosilene BispoOliveira, Celmara Cardoso dosSantos, Márcia Ilda da Silva Gomes,Luzinete Nogueira Gama, RosileneAraújo de Brito, Rosinete Cardosodos Santos Silva e Patrícia dos

RIO, 26 DE MAIODE 2013

Falta administração para arrumar a casa. Ninguém faz nada por ninguém. Épreciso resgatar a dignidade e a cidadania dos moradores daqui.”Francisco Januário, motorista

A Light veio, colocou o cabo para o comércio e cortou dos moradores. E a Lighté na Freguesia, fica difícil se deslocar até lá. Tinha que haver um escritórioaqui. Manoel Ferreira dos Santos, pedreiro

Era o que a gente esperava paralutar para que isso aqui fique100%.” Wilson de Souza,barbeiro

Precisamos de água encanada. Os’gatos’ também incomodam.Antônio Rodrigues, operadorde máquinas

O subprefeito veio aqui, bateufoto, disse que ia resolver e nada!Eli Lessa, comerciante

Nossa! Gostei muito! A gente estavaprecisando disso.” RobertaBernardo, comerciária4

RIO, 26 DE MAIO DE 2013

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- Era o que a gente esperava para lutar para que isso aquifique 100%.

Já Roberta Bernardo, de 19 anos, que há três veio da Pa-raíba e empregou-se como comerciária numa das lojas dolocal, adora viver na comunidade, mas é outra que foca a suacrítica no problema da falta de luz. Para Roberta, um jornalcomunitário “é super-bem-vindo”. Ao folhear com atençãoo número zero, ler as matérias principais, exclamou:

- Nossa! Gostei muito! A gente estava precisando disso.A mesma festiva recepção ao nosso jornal foi manifestada

por outra jovem, a estudante Ethiene Silva, de 16 anos, criada favela, que até mos

trou interesse em colaborar com A Voz de Rio das Pedra-sescrevendo matérias expondo suas observações pessoaissobre o comportamento e os anseios dos vizinhos. Católica,frequentadora assídua da paróquia local, de São João Batista,ela elogia o trabalho do padre Marcos Vinicius e fala que estáauxiliando num mutirão para reunir o maior número de jo-vens da comunidade para participar da Jornada Mundial daJuventude, organizada pela Arquidiocese do Rio e que acon-tece de 23 a 28 de julho na cidade, com a presença confir-mada do Papa Francisco.

Outro que saudou a nossa chegada foi o motorista Fran-cisco Januário, de 67 anos e há 11 morador de Rio das Pedras.Ele faz coro à reclamação geral:

- O problema aqui é a luz. E não vemos ela brilhar no fim

do túnel - ironiza. Francisco também pegou pesado ao recla-mar da ausência do poder público na comunidade que, se-gundo ele, é carente de uma autoridade que faça o meio decampo entre os moradores e as diversas repartições, presta-doras serviços e concessionárias para dar um choque deordem no visível caos urbano que, a cada dia, se agrava.

- Falta administração para arrumar a casa. Ninguém faznada por ninguém. É preciso resgatar a dignidade e a cida-dania dos moradores daqui – completou Francisco.

Exibindo uma conta da Light paga (código de instalação041317066), no valor de R$ 32,24, o aposentado João Oliveira,de 72 anos, levou a reportagem até a pequena varanda da suacasa e mostrou o relógio de luz com o corte feito pela con-cessionária. Em pleno feriado do Dia do Trabalho, estava semo fornecimento de energia, apesar de estar em dia com o pa-gamento das contas.

O operador de máquinas Antônio Rodrigues coloca o sa-neamento básico como primeiro na lista de prioridades, eafirma:

- Precisamos de água encanada. Os ’gatos’ também inco-modam – diz Antônio, explicando que está se referindo aosgatos de luz e não aos felinos de verdade, porque esses nãoconseguiriam ocupar a comunidade, infestada de ratos (tam-bém de verdade).

Para a estudante Stephay dos Santos, de 23 anos, cria dacomunidade, a sujeira, com lixo espalhado por todos os

Num dia iluminado pelo sol e pelo brilho doolhar receptivo dos moradores, dez mil exem-plares do número zero deste jornal foram dis-tribuídos em Rio das Pedras. Grata pelaoportunidade de ter um veículo para repercutir

sua voz, a comunidade é unânime em reclamar do precáriofornecimento de energia elétrica por parte da Light. O co-merciante Marquezam Ferreira dos Santos, há sete anosmantendo um bar numa das vielas, resume em poucas pa-lavras o principal problema:

- Sou caseiro, não fico observando muitas coisas. Achoos problemas daqui iguais aos de todas as outras favelas,mas um se destaca, que é o da energia elétrica.

Enquanto nossa equipe percorria as ruas estreitas distri-buindo o jornal e ouvindo o burburinho das conversas car-regadas pelo forte sotaque nordestino e desviando dointenso tráfego de motocicletas, dos buracos, dos ralos jor-rando esgoto fedorento e evitando bater a cabeça no ema-ranhado de fios, o barbeiro Wilson de Souza, que desde 1996toca a barbearia com mais três colegas, abriu o exemplar eafirmou que ficava contente com a oportunidade de ver umveículo disposto a dar voz à vizinhança, que é pacata, amigae sofrida. E completou otimista:

lados, é um cenário horrível na rotina da favela. Ao lado dafilha (que aparece na capa deste número) ela tapa o nariz ereclama:

- O esgoto a céu aberto exala esse cheiro. O que mais pre-cisamos? De mais oportunidades para as pessoas daqui.

Outro cria de Rio das Pedras, Rafael Balbino, de 32 anos,que trabalha em manutenção de máquinas, aponta para areportagem o emaranhado de fios pendurados assustadora-mente sobre as vielas, o lixo espalhado pelas ruas e calçadas,o esgoto vazando dos ralos e bueiros, e lembra que a comu-nidade ainda padece com o problema das enchentes:

- Antigamente não tinha nada disso aqui – afirma Rai-mundo, com certa nostalgia.

O vendedor Jurandir Alcides, de 38 anos, também criada região, faz coro às reclamações recorrentes contra a Light,dizendo que a concessionária não aparece por lá. E desabafa:

- Tem morador vendendo casa por causa das enchentese dessa situação de sujeiras, esgoto e os ‘gatos’ de energia,que transformam isso aqui numa bomba prestes a explodir.

Par a Natanael dos Santos, de 50 anos e há 35 moradorno local, “no Areal a situação é ainda pior”. E explica por quê:

- Fizeram uma obra aqui de encanamento que pioroutudo. Quando chove a água corre da Rua Nova para as ruasmenores e enche tudo.

O morador da Muzena Antonio Hott, de 21 anos, que tra-balha em refrigeração, recebe com esperança o nosso jornal,

elogia a qualidade gráfica e o colorido e sugere:- A Voz de Rio das Pedras tem que informar o que acon-

tece de verdade. Noticiar a violência que está ocorrendoaqui e denunciar a falta de saneamento que, como mostraesta reportagem de vocês (disse mostrando o número zero),transforma Rio das Pedras na “Veneza do cocô”.

Enquanto Izabel do Açougue reclama do “esgoto ab-surdo, dos gatos e, principalmente, do lixo”, Rafael Henquire,de 18 anos, morador da Freguesia, tem uma queixa partic-cular:

- Venho encontrar meus amigos pra andar de skate nocondomínio, mas aqui não tem um espaço só pra gente.Temos que andar na rua e os moradores reclamam. E olhaque tem mais de 50 pessoas que anda aqui...”

Moradores há seis anos na comunidade, Angela Maria eMarcondes Guilherme dizem que”aqui tem muita enchente,o aluguel é muito caro e não há nada de bom”, ao mesmotempo em que a comerciante Eli Lessa, que mora na Ilha doGovernador, mas frequenta Rio das Pedras há 15 anos, fazuma observação pertinente:

- O subprefeito veio aqui, bateu foto, disse que ia resolvere... nada!

Moradora há 20 anos,Maria Mandes reclama da lama, doesgoto, dos ratos e do lixo espalhado:

- São insuportáveis. A água que vem da Rua Nova vai paraos becos e inunda tudo.

O pedreiro Manoel Ferreira dos Santos, de 54 anos, mo-rador há mais de 30, pega pesado:

- A Light veio, colocou o cabo para o comércio e cortoudos moradores. E a Light é na Freguesia, fica difícil deslocaraté lá. Tinha que haver um escritório aqui.

Já Catiana da Silva, de 30 anos, veio da Paraíba há sete, enão faz por menos:

- O esgoto está insuportável! Depois das obras da RuaGoiás, piorou. E muito.

Uma relação de amor e ódio com a comunidade, ondemora há mais de 35, é revelada no desabafo de Maria HelenaMoraes Macedo, de 50 anos, frequentadora assídua da IgrejaCatólica da região:

- Amo este lugar, mas sinto vergonha de tanta irregulari-dade. É muito lixo, mas não dá pra culpar só o governo. É pre-ciso conscientizar a população.

Com um exemplar do jornal nas mãos, que consideramuito bem-vindo para a comunidade, a estudante CleideOliveira, de 23 anos, mora em RDP desde que nasceu e faz sediagnóstico:

- O excesso de fiação é um perigo. O lixo e o som alto emtodas as casas também são insuportáveis. Todo mundo quercolocar o som mais alto do que o outro, cada um com um es-tilo de música diferente. Um horror. A solução seria isso aquivirar bairro, contar com a presença efetiva do Estado e res-gatar a nossa cidadania.

RIO DAS PEDRAS AGORA TEM VOZ�Jurandir Alcides, 38,cria da região,é vendedor

"A Light não vemaqui. Tem moradorvendendo casa porcausa dasenchentes e dessasituação (lixo, esgoto e osgatos)."

�Catiana daSilva, 30 anos,veio da Paraíbahá 7 anos

"O esgotoestáimpossível!Depois dasobras da ruaGoiáspiorou."

� Stephany dos Santos,23, cria de RDP,estudante

"A limpeza éhorrível! O esgoto acéu aberto exalaesse cheiro e maisoportunidadespara as pessoas é oque precisamosaqui."

�Antonio Hott, 21,morador da Muzema,trabalha com refrigeração

"A Voz de Rio dasPedras tem queinformar o queacontece deverdade. A violênciaque está ocorrendoe denunciar osaneamento."

�Rafael Henquire, 18,morador da Freguesia

"Venho encontrar meusamigos pra andar deskate no condomínio,mas aqui não tem umespaço só pra gente.Temos que andar narua e os moradoresreclamam. E olha quetem mais de 50 pessoasque anda aqui..."

� Maria Helena MoraisMacedo, 50 anos, mora há maisde 35 na comunidade e fazparte da Igreja Católica daregião

"Amo este lugar, massinto vergonha de tantairregularidade. É muitolixo, mas não dá praculpar só o governo, épreciso conscientizar apopulação."

�Antonio Rodri-gues, operador demáquinas

"O saneamentobásico éurgente aqui,precisamos deáguaencanada. Osgatos tambémincomodam."

� Rafael Balbino, 32,nascido em Rio dasPedras, trabalha commanutenção demáquinas

"Antigamentenão tinha nadadisso (fiação,enchente e lixoespalhado)aqui.”

�Angela Maria e Marcondes Guilherme, moradores há 6 anos"Tem muita enchente, o aluguel émuito caro e não tem nada de bom."

�Izabel do Açougue,

"O esgoto absurdo, os gatos e,principalmente, o lixo."

�Cleide Oliveira, 23anos, estudante, moraem RDP desde quenasceu

"O excesso defiação que é umperigo, o lixo e osom alto emtodas as casastambém é insuportável. Todo mundoquer colocar o som mais alto que ooutro, cada um com um estilo demúsica diferente."

�Maria Mendes,moradora há 20 anos

"A lama, oesgoto, os ratose o lixoespalhado sãoinsuportáveis. Aágua que vem darua Nova vaipara os becos einunda tudo."

Page 4: A VOZ DE RIO DAS PEDRAS - Nº 1

RIO, 26 DE MAIODE 2013

Seria o ideal que o projeto da Patrulhinha funcionasse em todas as escolasporque são os filhos que despertam a consciências nos adultos.”

É um ciclo vicioso. A população suja, o lixo se acumula, fede e quando chove invade ascasas e então eles procuram o poder público em busca de auxílio-moradia, aluguelsocial. O governo dá, mas não conscientiza e começa tudo outra vez.”

É um excelente exemplo (a Patrulhinha da Limpeza) de mobilização da sociedade com aquestão do lixo. Esta iniciativa entendeu o espírito de como devemos lidar com o lixo,onde cada cidadão é responsável pela correta destinação do resíduo que produz.”6

RIO, 26 DE MAIODE 2013

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COM MUITA GARRAE AMOR NOCORAÇÃO, CLEUSAFALOU COM ANOSSA EQUIPESOBRE SEUSPROJETOS E O SEUMAIOR SONHO

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Vinicius - Sim conhecemos. E achamosuma excelente iniciativa.

- É um excelente exemplo de mobilização dasociedade com a questão do lixo. Esta iniciativaentendeu o espírito de como devemos lidar como lixo, onde cada cidadão é responsável pela cor-reta destinação do resíduo que produz.

- Apoiamos com conscientização ambientalcom nossa equipe do qual faz parte o grupo desamba “Chegando de Surpresa”, o gari RenatoSorriso e outros, e também com apoio opera-cional para eventos de limpeza e mutirões.

- São 40 garis em dois turnos, cinco pontoscom caçambas grandes, quatro bases com duascaixas compactadoras cada e uma para receber

resíduo de construção civil e entulho. E mais:um caminhão satélite, um compactador degrande porte, um caminhão, dois caminhõesbasculantes, uma pá mecânica e um minitratorcompactador, todos operando em dois turnosou de 7h às 19h.

- São retiradas, em média, 110 toneladas pordia.

- Pode sim e estamos já fazendo diagnósticopara melhorar a logística por lá. Faremos umaação de limpeza e mutirão, apoiada pelo nossogrupo de conscientização ambiental no pró-ximo dia 8. Ainda está na fase de planejamentomais tem tudo para acontecer.

- Primeiro é se conscientizar de que destinaro lixo corretamente é uma responsabilidade decada cidadão. Outro seria exatamente seguir oexemplo das crianças da patrulhinha e cobrardos vizinhos a atitude correta.

“SIGAM O EXEMPLODESSAS CRIANÇAS”

Se o exemplo vem de casa, a Comlurb está em boas mãos. O presidente daempresa, o carioca Carlos Vinicius de Sá Roriz, de 43 anos, tem obsessãopor limpeza. Formado em Economia pela UFRJ e com mestrado em En-genharia de Produção, pela Coppe-UFRJ, ele atuou durante 12 anos emvárias áreas da Companhia Cervejaria Brahma e da Ambev. Vinha diri-

gindo a própria empresa de consultoria, quando assumiu o cargo de diretor de Gestãoe membro do Conselho de Administração da IMX Esportes e Entretenimento, doGrupo EBX, até aceitar o desafio de presidir a empresa carioca de limpeza urbana, An-tenado nos problemas da comunidade, na qual a Comlurb fará um mutirão de limpezano próximo dia 8 de junho, ele nos concedeu a seguinte entrevista:

No dia 10 de maio,Cleusa da Cruz Flo-rença virou mais umacelebridade instantâ-nea produzida pelos

diversos veículos de comunicação doBrasil ao aparecer em um dos maio-res jornais do país. Desde então inú-meros jornais, rádios, revistas, sites eemissoras de televisão a procurarampara conhecer a "Preta Loura" quemilita pela causa contra o lixo nasruas, vielas e becos da nossa comu-nidade com a sua Patrulhinha daLimpeza.Porém, para nós, que a conhece-

mos há 20 anos, a luta e o sonho deCleusa, de 45 anos, começaram bemantes de uma matéria de jornal. Elachegou ao Rio, vinda de Goiás, comum desejo igual ao de muitos jovens.Queria ser jogadora de futebol. Che-gou a jogar no Bangu em 1984, comoatacante, mas quis o destino que amenina se realizasse em outrocampo ainda mais difícil que os defutebol. O da cidadania.Se trabalhar com cidadania em

um lugar como o nosso, onde somosprivados de diversas formas deacesso aos elementos mais básicoscomo água, esgoto, lixo e luz já é difí-cil, imagina conciliando com a agita-ção do seu salão de beleza “Charmeda Cor”.Cleusa divide o trato nas cabeças

dos moradores e não moradores –como a atriz Cris Viana e o músicoDiogo Nogueira –, com a amiga Ci-lene há 19 anos e com a barraca domarido, que vende os famosos "pas-téis de tudo", compostos de variadossabores em um mesmo pastel, queganharam fama em RP pela quali-dade do rango, mas também porqueo marido exige que ela fique lá paraatrair a clientela:- Às vezes eu tô morta, cansada

igual a um zumbi, mas meu maridopede que eu fique porque senão nãopara ninguém na barraca - contarindo com a voz firme e ao mesmotempo descontraída.É com essa mesma dedicação

que Cleusa desenvolve o trabalho vo-luntário da Patrulhinha da Limpeza,que funciona todo sábado pelas nos-sas ruas tão mal cuidadas por nossapopulação. É um projeto que deveriaser exemplo em todas as comunida-des e bairros do Brasil por ser feitoem parceria com crianças, queCleusa entende ser o público ade-quado para inserir consciência nosadultos e por ser o futuro da nossaRio das Pedras.E foi uma criança, a sua filha, que

a inspirou a começar o projeto,quando a interrompeu numa con-versa com amigos sobre a questão dolixo que já a incomodava por causade reportagens que classificavam anossa comunidade como a mais sujada cidade. Ao contar que uma profes-sora disse que existem países queprendem quem joga o lixo no chão,mandou na lata da mãe:- Por que a senhora não faz isso

também?Defensora ferrenha da nossa co-

munidade, a “Preta Loura” não pen-sou duas vezes.- Aquilo mexeu muito comigo. Se

falar mal daqui já é comprar briga co-migo, imagina ouvir isso da própriafilha? – recorda-se com orgulho dasua atitude.Ela arregaçou as mangas, conse-

guiu com o pastor de sua igreja o es-paço, correu atrás de auxílio com aDefesa Civil para a capacitação dacriançada e foi pra rua irradiar cons-ciência cidadã sobre a questão dolixo, que é uma das piores mazelas deRP. A prefeitura também cedeu pan-fletos explicando os horários de co-lheita do lixo. Ela lamenta:- Aqui é a única comunidade na

qual a Comlurb passa de segunda asegunda, duas vezes ao dia. Era paraser modelo, mas é o contrário.O projeto, que fez 1 ano agora, dia

25 de maio, já teve 100 crianças par-ticipando e hoje conta com apenas30. Um ponto fundamental do pro-jeto é a contrapartida que Cleusaexige das crianças que querem parti-cipar dele. Não vale a pena estudar,tem que ter boas notas e, principal-mente, cumprir o dever de obediên-cia aos pais.- É custoso por causa do lanche,

uniforme e água – relata, ainda semsaber que, ao dar essa declaração,

ATAQUECONTRAO LIXO

seria convidada pouco depois paraser parceira da nossa A Voz de Rio dasPedras para a ampliação do projeto.É isso aí galera, agora é A Voz de

Rio das Pedras e Patrulhinha da Lim-peza juntos para abalar as estruturasdos porcos de plantão, mas commuito bom humor, promovendoações que estimulem a nossa comu-nidade a acabar com esse aspectoque tanto nos envergonha. ParaCleusa – e para nós também – umadas coisas que mais chamam a aten-ção é que o lixo é uma das maioresreclamações dos moradores, mas sãoeles mesmo que sujam as nossasruas. A Cleusa explica.- É um ciclo vicioso. A população

suja, o lixo se acumula, fede equando chove invade as casas eentão eles procuram o poder públicoem busca de auxílio-moradia, alu-guel social. O governo dá, mas nãoconscientiza e começa tudo outravez – desabafa, com a voz firme e oolhar brilhante.Essa imagem é tão marcante que

Cleusa resolveu encenar uma peçaque retrata exatamente essa relaçãodo estado com a população:- Estou montando uma peça no

Caíque que mostra didaticamenteessa relação improdutiva do estadocom a população – explica, acrescen-tando que, ainda assim, após as in-cursões com os patrulheiros pelasruas do Areal 1, que é a parte maiscrítica, os resultados já começam aaparecer de forma lenta:- Hoje eles estão mais conscientes

- completa, exibindo o permanentesorriso de esperança.Ao contrário do que afirmou a

historiadora e socióloga Dulce Pan-dolfi na reportagem que alçou Cleusaa celebridade, na qual Dulce avaliaque as ações são positivas, mas nãosubstituem a ação do estado, nossa"Preta Loura" vê muito mais eficáciase as ações partirem da base, dosmoradores, “porque eles são o instru-mento de pressão legítimo frente aoestado ausente”.Pior do que a ausência do estado

é a sua falta de sensibilidade com asiniciativas da população, como oprojeto da nossa Cleusa. Segundoela, depois da mudança de direçãoda Comlurb, os horários da coletaforam modificados e isso desestrutu-rou todo o condicionamento que ela

já havia conseguido junto à popula-ção para colocar o lixo nos horárioscorretos:- Era um tal de gente batendo na

minha porta reclamando que a Com-lurb não tinha passado, que estavafedendo a chorume, foi um caos", re-corda.Nossa atacante não se faz de coi-

tada e também ataca o mau exemploda população que insiste em jogar olixo fora dos horários estipulados:- Se não tem nenhuma bolsa nin-

guém joga o lixo. Mas se um jogatodo mundo começa a jogar e ficaesse monte de lixo pelas ruas que nosenvergonha – queixa-se.Cleusa ataca e contra-ataca,

dessa vez com críticas à falta de pla-cas informativas com os horários decoleta do lixo, que para ela teriam tri-pla função. Além da informação, ser-viriam como inibidoras das açõesdos maleducados que insistem emsujar a nossa comunidade, que játeve o título de mais limpa da cidadee hoje é esse cenário vergonhoso. E,por último, cumpririam a função deinformar uma população quemudou muito o seu perfil.Ela observa que hoje a rotativi-

dade dos moradores é enorme e a si-

nalização serviria para educar osrecém-chegados que não têm amesma cultura dos moradores histó-ricos, e aponta seu canhão para aprópria imprensa que, segundo ela,da mesma forma que é maravilhosatambém pode ser horrorosa:- Depois que o Tim Lopes foi as-

sassinado uma reportagem do“Globo Repórter” mostrou Rio dasPedras como o lugar perfeito e nooutro dia tinha fila de gente que-rendo alugar casa aqui.Com o aumento da população, a

comunidade ficou com apenas trêsestações de coleta de lixo que Cleusaafirma serem insuficientes. Azul,Areal 1 e Pontal não dão conta da gi-gantesca demanda de lixo. Na suaavaliação, só no Areal deveria termais duas estações e a existente nãodeveria funcionar onde fica atual-mente:- Não pode ter uma estação de

lixo no meio das casas. Ali devia seruma praça para as crianças – afirma,chateada, e emenda outro problema:- Na Engenheiro Souza Filho exis-

tem muitos camelôs. Eles montam asbarracas, vendem seus produtos,sujam toda a rua e vão embora dei-xando o aspecto da rua horrível,conta, acrescentando que já conver-sou com os camelôs e afirma que, emfrente à Igreja Universal está limpo,mas que do outro lado continuaigual. Ou seja, sujo!A defensora ardorosa da nossa

comunidade parte mais uma vezpara o ataque e diz que Rio das Pe-

dras é injustiçada por não ter apoiodo Estado como as comunidadesque têm tráfico ou UPPs. SegundoCleusa, “como aqui não tem umacoisa nem outra (tráfico e UPP),não recebemos a menor atenção”.Ela conta que certa vez foi a umprograma de seleção de projetosque contemplaria diversas comuni-dades e só chamavam represen-tante do Alemão e da Rocinha atéque ela não resistiu e perguntoupor que não chamavam Rio das Pe-dras, e ela recebeu o desprezocomo resposta.Ao contrário do que aconteceria

com qualquer outro, esse tipo depostura só alimenta a vontade delade lutar por nossa comunidade.Provocada pela equipe do jornal,Cleusa chorou quando pergunta-mos qual era o seu sonho. Paraquem não sabe, é a retomada doprojeto “A cara do Brasil”, que con-siste em 21 atividades integradas,que vão da prevenção à alfabetiza-ção, já teve o patrocínio da Casa daMoeda e funcionou por doze anos,terminando em 2009.- É o meu sonho voltar com ele –

diz, com os olhos cheios de lágrimas,como quem ao mesmo tempo sentesaudades, mas mantém aquelaponta de esperança que ele podeestar mais perto de ser retomado queela imagina.A Patrulhinha da Limpeza tam-

bém faz parte desse amplo projetoque Cleusa sonha ver realizado si-multaneamente em todas as escolaspúblicas e particulares da nossa co-munidade:- Seria o ideal que ele funcio-

nasse em todas as escolas porquesão os filhos que despertam a cons-ciências nos adultos - relata com avoz embargada e com os olhosainda mais marejados de esperançaem ver “A cara do Brasil” servir demodelo para outras comunidades,ressaltando que precisa de apoiocom espaço e recursos, sem se darconta de que essa mulher que sóestudou até o primeiro ano do se-gundo grau, é uma agente transfor-madora do mais alto nível e que jáestá com o futuro do seus sonhosmais encaminhados do que ima-gina. Afinal de contas, Cleusa daCruz Florença, a “Preta Loura” é AVOZ DE RIO DAS PEDRAS.

FOTOS DE FABIO COSTA

Depois da mudança de direção da Comlurb, os horários da coleta forammodificados e isso desestruturou todo o condicionamento que Cleusa já haviaconseguido junto à população para colocar o lixo nos horários corretos.

DE VINICIUS RORIZ, PRESIDENTE DA COMLURB, À COMUNIDADE

Page 5: A VOZ DE RIO DAS PEDRAS - Nº 1

RIO, 26 DE MAIO DE 2013

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Os microempresários também defendem a criação de um clínica de famíliaque possa atender a maioria da população. A que existe, só beneficia umapequena parcela de moradores. Também não existe um posto de saúdeequipado à altura para atender uma população tão numerosa.

Os moradores Elias Pereira e Geraldo varrem a rua todos os dias. E ainda regam asplantas. Mereciam Medalha de Ouro pelo exemplo, ao contrário de muitosmoradores desprovidos do espírito comunitário, que sujam as ruas. Quando um vê ooutro jogar um saco de lixo no chão, faz o mesmo, e assim começa a formar um lixão.Gabriela Ramos,dona de agência de viagens

MARIA DE FÁTIMA

“O principalproblema daqui

é o lixo.”

FRANCISCA DA CONCEIÇÃO SOUZA

“Quando reclamamos, omorador diz que paga

impostos e o gari está alipara limpar mesmo.”

FRANCISCO CESAR BARROS FRAGA

“Falta educação ambientale isso a comunidade não

pode fazer sozinha, precisade apoio do poder público.”

CLEUSA, A “PRETA LOURA”

“É como se a favelaestivesse dentro da

pessoa e não a pessoadentro da favela.”

GABRIELA RAMOS

“Deveria ser punido com adoação de um cesta básica

quem não limpar suas calçadasaté 2 metros adiante.”

NOSSOS EMPREENDEDORES MOSTRAM O CAMINHO DAS PEDRAS

Reunidos no Núcleo de Cidada-nia de Rio das Pedras, um grupode empresários ditou as normaspara orientar a linha editorial donosso jornal. Interessados em

formalizar parceria com a redação, da qualpassa a fazer parte toda comunidade, os em-preendedores Mario Cesar Barroso Braga, Ma-ria de Fátima Lima Pereira, Francisca daConceição Souza, Gabriela Ramos e Cleusa daCruz Florença bateram na mesma tecla paramostrar o caminho das pedras:

– O principal problema daqui é o lixo – dis-parou Maria de Fátima, que há um ano man-tém sua barraca vendendo cachorro quente,chocofruta e açaí.

– Assino embaixo – completou Francisca,há cinco anos dona de uma pensão, tambémpreocupada com a falta de educação de mo-radores, que jogam o lixo nas ruas. Ela com-pleta:

– Quando reclamamos, o morador diz quepaga impostos e o gari está ali para limparmesmo.

Numa luta ferrenha e famosa contra osporcalhões, a cabeleireira Cleusa (objeto dereportagem na páginas 6 e 7 desta edição),com a sua Patrulhinha da Limpeza, indica

Depois do encontro com os co-merciantes e empresários, fo-mos para as ruas saber o queoutros empreendedores acha-vam da ideia de criar uma as-

sociação comercial para fortalecer os laçosentre nossos comerciantes, criando melhorescondições de trabalho com orientação profis-sional adequada para potencializar os seusrespectivos negócios.

Gilberto Angelo, da Ótica Povão, fez a afir-mação mais contundente e reflexiva. – Comonenhuma loja tem escritura, é praticamenteimpossível constituir qualquer associaçãoporque ficaremos sujeitos aos órgão regula-dores e aí não tem como. Nenhum imóvel élegalizado... – disse Gilberto que é proprietá-rio de outras lojas na Penha e usa toda a estru-

estruturada traria para nossos comerciantes.Dono de um salão e barbearia, Evanildo

Rodrigues foi cético. – Talvez seja interessan-tes, mas é preciso saber o que vai acontecerde fato. Se for para perder dinheiro não queroporque hoje tá bom – afirma com desconfian-ça de que a criação da associação só trariamais despesas com taxas que nada acrescen-tariam ao seu negócio.

Cristina Pimentel, da Perfubella e JacielManoel, da Hilu Bomboniere têm opiniõesiguais. – Seria bom, mas os objetivos têm queser claros – afirmou Cristina. Jaciel foi maiseconômico em sua declaração. – Se for paramelhorar, sim.

Adriano Amaral e Débora Ribeiro proprie-tários de uma multimarcas foram enfáticossobre o que gostariam que acontecesse com acriação da associação comercial. – Seria óti-mo se fosse para acabar com o lixo e o esgoto!– afirmaram quase ao mesmo tempo.

Ambos acreditam que se existisse umaunião entre os comerciantes – e a associaçãocomercial é a principal forma de reunir os in-teresses da classe –, eles poderiam exercerpressão sobre os órgãos responsáveis por es-ses e outros serviços que ainda são precáriosem nossa comunidade.

Se houvesse uma apresentação melhordas ruas, certamente a circulação seria maiore consequentemente o comércio teria ummovimento financeiro muito melhor.

Como se vê, tudo volta (ou para) na ques-tão do lixo, do esgoto, da fiação exposta e todotipo de ausência de estrutura que impede odesenvolvimento adequado da nossa comu-nidade. É fundamental a presença do estadoem seus mais diversos níveis, mas também éigualmente necessária a tomada de consciên-cia da nossa população de que o quadro atualque todos reclamam é em grande parte cau-sado por nós mesmo.

que o caminho correto a ser seguido pelo jor-nal é o de cobrar direitos e deveres:

– Temos de conscientizar nossos morado-res em manter a comunidade limpa para quepossamos exigir das autoridades a contrapar-tida na prestação dos serviços de limpeza –disse Cleusa, apoiada pelo marido, tambémempreendedor na comunidade com um con-corrido ponto de venda de pasteis e batatasfritas:

– Falta educação ambiental e isso a comu-nidade não pode fazer sozinha, precisa deapoio do poder público – afirmou Francisco,no que a mulher Cleusa, a “Preta Loura”, com-pletou:

– É como se a favela estivesse dentro dapessoa e não a pessoa dentro da favela.

Dona de uma agência de viagens, tradicio-nal em Rio das Pedras, que administra desdea morte do pai, a jovem Gabriela Ramos tam-bém concorda com a análise dos vizinhos e

Cleusa lembra que o Bradesco, que temuma agência na comunidade, chegou a aju-dar colocando placas educativas, mas nossaalegria durou pouco:

– O gerente disse que o lixo entulhado naporta da agência não atrapalha o movimentodo banco – conclui em tom de lamento Cleu-sa sobre a infeliz declaração.

Outro problema apontado foi o da falta deenergia:

– Aqui ninguém precisa de “gato” para terluz. É só a Light instalar o relógio que vamospagar a conta com prazer, porque é mais uminstrumento de resgate da cidadania – disseFrancisca da Conceição, cujo funcionamentoda pensão é muitas vezes prejudicado pelafalta de energia.

Os microempresários também defendema criação de um clínica de família que possaatender a maioria da população. A que existe,só beneficia uma pequena parcela de mora-dores. Também não existe um posto de saúdeequipado à altura para atender uma popula-ção tão numerosa.

Num só desabafo, todos concordaram queRio das Pedras padece de ordenamento urba-no para dar dignidade aos nossos moradorese resgatar a nossa cidadania.

dá uma sugestão:– Deveria ser punido com a doação de um

cesta básica quem não limpar suas calçadasaté 2 metros adiante – diz, lembrando que hádois moradores que são exemplos na Estradade Jacarepaguá:

– Os moradores Elias Pereira e Geraldovarrem a rua todos os dias. E ainda regam asplantas. Mereciam Medalha de Ouro peloexemplo, ao contrário de muitos moradoresdesprovidos do espírito comunitário, que su-jam as ruas. Quando um vê o outro jogar umsaco de lixo no chão, faz o mesmo, e assim co-meça a formar um lixão.

Francisca da Conceição pediu um apartepara lembrar que nem sempre os garis lim-pam como deveriam e reclama:

– Quando chega a época do Natal, eles (osgaris) aparecem aqui durante a semana pas-sando a lista. Depois passam o ano todo esno-bando a gente.

tura legal de lá em Rio das Pedras, como a má-quina de crédito e débito.

Marcia Soares, gerente da Fábrica de Ócu-los Ame, recebeu a ideia com reticências. –Sou a favor desde que beneficie os comer-ciantes. – disse. Opinião parecida tem Priscilade Oliveira, gerente da Penelop. – Acho bom,mas gostaria de saber quais os benefícios. –,afirmou. Como é um assunto fora da pauta danossa comunidade, vários comerciantes nãoemitiram opinião, mas Juliana Pereira Santos,

da Amoreco, de moda praia, acessórios e biju-terias foi incisiva e se mostrou curiosa com osefeitos da constituição de uma associação co-mercial traria para a nossa comunidade.

– Acho legal, mas além de saber quais osbenefícios, gostaria de saber os malefícios –pondera com desconfiança e emenda. – Se forpara divulgar o comércio local para trazergente de fora eu apoio, porque isso é funda-mental –, finalizou, antevendo o potencial deexpansão que um associação comercial bem

COMUNIDADE PADECE DA FALTA DE ORDENAMENTOURBANO E RESPEITO À CIDADANIA

CRIAÇÃO DAASSOCIAÇÃOCOMERCIAL É BEM VISTA, MAS GERA DÚVIDAS