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ATIVIDADES E ATOS ADMINISTRATIVOS FGV DIREITO RIO 81 AULA 15: MODALIDADES E TIPOS DE LICITAÇÃO. DISPENSA E INEXIGIBILIDADE. OBJETIVO Apresentar as modalidades e tipos de licitação. Distinguir os institutos da dispensa e da inexigibilidade de licitação INTRODUÇÃO Como visto na última aula, a licitação se traduz no procedimento cons- titucionalmente positivado para garantia da competição isonômica entre aqueles que podem oferecer determinados serviços, bens e realizar obras à Administração Pública, bem como para a aquisição e alienação de bens, nos termos do art. 37, XXI. No entanto, em determinadas situações, a competição se demonstra in- desejável ou mesmo inviável, embasando tanto a dispensa quanto a inexi- gibilidade do certame licitatório. Veja-se o que dispõe o art. 24 da Lei n. 8666/93: Art. 24. É dispensável a licitação: I – para obras e serviços de engenharia de valor até 10% (dez por cento) do limite previsto na alínea “a”, do inciso I do artigo anterior, desde que não se refiram a parcelas de uma mesma obra ou serviço ou ainda para obras e serviços da mesma natureza e no mesmo local que possam ser realizadas conjunta e con- comitantemente; (Redação dada pela Lei n o 9.648, de 1998) II – para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do limite previsto na alínea “a”, do inciso II do artigo anterior e para alienações, nos casos previstos nesta Lei, desde que não se refiram a parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizada de uma só vez; (Redação dada pela Lei n o 9.648, de 1998) III – nos casos de guerra ou grave perturbação da ordem; IV – nos casos de emergência ou de calamidade pública, quando caracterizada urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou par- ticulares, e somente para os bens necessários ao atendimento da situação emergencial ou calamitosa e para as parcelas de obras e serviços que possam ser concluídas no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias consecutivos e ininterruptos, contados da ocor- rência da emergência ou calamidade, vedada a prorrogação dos respectivos contratos;

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AULA 15: MODALIDADES E TIPOS DE LICITAÇÃO. DISPENSA E INEXIGIBILIDADE.

OBJETIVO

Apresentar as modalidades e tipos de licitação. Distinguir os institutos da dispensa e da inexigibilidade de licitação

INTRODUÇÃO

Como visto na última aula, a licitação se traduz no procedimento cons-titucionalmente positivado para garantia da competição isonômica entre aqueles que podem oferecer determinados serviços, bens e realizar obras à Administração Pública, bem como para a aquisição e alienação de bens, nos termos do art. 37, XXI.

No entanto, em determinadas situações, a competição se demonstra in-desejável ou mesmo inviável, embasando tanto a dispensa quanto a inexi-gibilidade do certame licitatório. Veja-se o que dispõe o art. 24 da Lei n. 8666/93:

Art. 24. É dispensável a licitação:I – para obras e serviços de engenharia de valor até 10% (dez por cento) do

limite previsto na alínea “a”, do inciso I do artigo anterior, desde que não se refi ram a parcelas de uma mesma obra ou serviço ou ainda para obras e serviços da mesma natureza e no mesmo local que possam ser realizadas conjunta e con-comitantemente; (Redação dada pela Lei no 9.648, de 1998)

II – para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do limite previsto na alínea “a”, do inciso II do artigo anterior e para alienações, nos casos previstos nesta Lei, desde que não se refi ram a parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizada de uma só vez; (Redação dada pela Lei no 9.648, de 1998)

III – nos casos de guerra ou grave perturbação da ordem;IV – nos casos de emergência ou de calamidade pública, quando caracterizada

urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou par-ticulares, e somente para os bens necessários ao atendimento da situação emergencial ou calamitosa e para as parcelas de obras e serviços que possam ser concluídas no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias consecutivos e ininterruptos, contados da ocor-rência da emergência ou calamidade, vedada a prorrogação dos respectivos contratos;

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V – quando não acudirem interessados à licitação anterior e esta, justifi ca-damente, não puder ser repetida sem prejuízo para a Administração, mantidas, neste caso, todas as condições preestabelecidas;

VI – quando a União tiver que intervir no domínio econômico para regular preços ou normalizar o abastecimento;

VII – quando as propostas apresentadas consignarem preços manifestamente su-periores aos praticados no mercado nacional, ou forem incompatíveis com os fi xados pelos órgãos ofi ciais competentes, casos em que, observado o parágrafo único do art. 48 desta Lei e, persistindo a situação, será admitida a adjudicação direta dos bens ou serviços, por valor não superior ao constante do registro de preços, ou dos serviços;

VIII – para a aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de bens produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integre a Ad-ministração Pública e que tenha sido criado para esse fi m específi co em data anterior à vigência desta Lei, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado; (Redação dada pela Lei no 8.883, de 1994)

IX – quando houver possibilidade de comprometimento da segurança na-cional, nos casos estabelecidos em decreto do Presidente da República, ouvido o Conselho de Defesa Nacional;

X – para a compra ou locação de imóvel destinado ao atendimento das fi na-lidades precípuas da administração, cujas necessidades de instalação e localização condicionem a sua escolha, desde que o preço seja compatível com o valor de mercado, segundo avaliação prévia;(Redação dada pela Lei no 8.883, de 1994)

XI – na contratação de remanescente de obra, serviço ou fornecimento, em conseqüência de rescisão contratual, desde que atendida a ordem de classifi cação da licitação anterior e aceitas as mesmas condições oferecidas pelo licitante ven-cedor, inclusive quanto ao preço, devidamente corrigido;

XII – nas compras de hortifrutigranjeiros, pão e outros gêneros perecíveis, no tempo necessário para a realização dos processos licitatórios correspondentes, realizadas diretamente com base no preço do dia; (Redação dada pela Lei no 8.883, de 1994)

XIII – na contratação de instituição brasileira incumbida regimental ou esta-tutariamente da pesquisa, do ensino ou do desenvolvimento institucional, ou de instituição dedicada à recuperação social do preso, desde que a contratada detenha inquestionável reputação ético-profi ssional e não tenha fi ns lucrativos;(Redação dada pela Lei no 8.883, de 1994)

XIV – para a aquisição de bens ou serviços nos termos de acordo internacio-nal específi co aprovado pelo Congresso Nacional, quando as condições ofertadas forem manifestamente vantajosas para o Poder Público; (Redação dada pela Lei no 8.883, de 1994)

XV – para a aquisição ou restauração de obras de arte e objetos históricos, de autenticidade certifi cada, desde que compatíveis ou inerentes às fi nalidades do órgão ou entidade.

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XVI – para a impressão dos diários ofi ciais, de formulários padronizados de uso da administração, e de edições técnicas ofi ciais, bem como para prestação de serviços de informática a pessoa jurídica de direito público interno, por ór-gãos ou entidades que integrem a Administração Pública, criados para esse fi m específi co;(Incluído pela Lei no 8.883, de 1994)

XVII – para a aquisição de componentes ou peças de origem nacional ou estrangeira, necessários à manutenção de equipamentos durante o período de garantia técnica, junto ao fornecedor original desses equipamentos, quando tal condição de exclusividade for indispensável para a vigência da garantia; (Incluí-do pela Lei no 8.883, de 1994)

XVIII –  nas compras ou contratações de serviços para o abastecimento de navios, embarcações, unidades aéreas ou tropas e seus meios de deslocamento quando em estada eventual de curta duração em portos, aeroportos ou localidades diferentes de suas sedes, por motivo de movimentação operacional ou de adestra-mento, quando a exiguidade dos prazos legais puder comprometer a normalidade e os propósitos das operações e desde que seu valor não exceda ao limite previsto na alínea “a” do incico II do art. 23 desta Lei: (Incluído pela Lei no 8.883, de 1994)

XIX – para as compras de material de uso pelas Forças Armadas, com ex-ceção de materiais de uso pessoal e administrativo, quando houver necessidade de manter a padronização requerida pela estrutura de apoio logístico dos meios navais, aéreos e terrestres, mediante parecer de comissão instituída por decreto; (Incluído pela Lei no 8.883, de 1994)

XX – na contratação de associação de portadores de defi ciência física, sem fi ns lucrativos e de comprovada idoneidade, por órgãos ou entidades da Admini-nistração Pública, para a prestação de serviços ou fornecimento de mão-de-obra, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado. (Incluído pela Lei no 8.883, de 1994)

XXI – Para a aquisição de bens destinados exclusivamente a pesquisa cien-tífi ca e tecnológica com recursos concedidos pela CAPES, FINEP, CNPq ou outras instituições de fomento a pesquisa credenciadas pelo CNPq para esse fi m específi co. (Incluído pela Lei no 9.648, de 1998)

XXII – na contratação de fornecimento ou suprimento de energia elétrica e gás natural com concessionário, permissionário ou autorizado, segundo as nor-mas da legislação específi ca; (Incluído pela Lei no 9.648, de 1998)

XXIII – na contratação realizada por empresa pública ou sociedade de eco-nomia mista com suas subsidiárias e controladas, para a aquisição ou alienação de bens, prestação ou obtenção de serviços, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado. (Incluído pela Lei no 9.648, de 1998)

XXIV – para a celebração de contratos de prestação de serviços com as organi-zações sociais, qualifi cadas no âmbito das respectivas esferas de governo, para ativi-dades contempladas no contrato de gestão. (Incluído pela Lei no 9.648, de 1998)

XXV – na contratação realizada por Instituição Científi ca e Tecnológica – ICT ou por agência de fomento para a transferência de tecnologia e para o

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licenciamento de direito de uso ou de exploração de criação protegida. (Incluído pela Lei no 10.973, de 2004)

XXVI – na celebração de contrato de programa com ente da Federação ou com entidade de sua administração indireta, para a prestação de serviços pú-blicos de forma associada nos termos do autorizado em contrato de consórcio público ou em convênio de cooperação. (Incluído pela Lei no 11.107, de 2005)

XXVII – na contratação da coleta, processamento e comercialização de resíduos sólidos urbanos recicláveis ou reutilizáveis, em áreas com sistema de coleta seleti-va de lixo, efetuados por associações ou cooperativas formadas exclusivamente por pessoas físicas de baixa renda reconhecidas pelo poder público como catadores de materiais recicláveis, com o uso de equipamentos compatíveis com as normas téc-nicas, ambientais e de saúde pública. (Redação dada pela Lei no 11.445, de 2007).

XXVIII – para o fornecimento de bens e serviços, produzidos ou prestados no País, que envolvam, cumulativamente, alta complexidade tecnológica e defe-sa nacional, mediante parecer de comissão especialmente designada pela autori-dade máxima do órgão. (Incluído pela Lei no 11.484, de 2007).

XXIX – na aquisição de bens e contratação de serviços para atender aos con-tingentes militares das Forças Singulares brasileiras empregadas em operações de paz no exterior, necessariamente justifi cadas quanto ao preço e à escolha do fornecedor ou executante e ratifi cadas pelo Comandante da Força. (Incluído pela Lei no 11.783, de 2008).

XXX - na contratação de instituição ou organização, pública ou privada, com ou sem fi ns lucrativos, para a prestação de serviços de assistência técnica e ex-tensão rural no âmbito do Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária, instituído por lei federal. (Incluído pela Lei nº 12.188, de 2.010).

Parágrafo único. Os percentuais referidos nos incisos I e II do caput deste artigo serão 20% (vinte por cento) para compras, obras e serviços contratados por consórcios públicos, sociedade de economia mista, empresa pública e por autarquia ou fundação qualifi cadas, na forma da lei, como Agências Executivas. (Redação dada pela Lei no 11.107, de 2005).

Existem também casos em que a licitação é dispensada, conforme disposi-tivos constantes do art. 17 da Lei no 8.666/93.

Questão de alta relevância consiste em distinguir as situações de dispensa de licitação (acima apresentadas) das hipóteses de inexigibilidade de licitação.

A inexigibilidade de licitação tem previsão no art. 25 da Lei n. 8666/93:

Art. 25 – É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, em especial:

I – para aquisição de materiais, equipamento ou gêneros que só possam ser fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivo, vedada a preferência de marca, devendo a comprovação de exclusividade ser feita através

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de atestado fornecido pelo órgão de registro do comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o serviço, pelo Sindicato, Federação, Confede-ração Patronal, ou, ainda, pelas entidades equivalentes;

II – para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei, de natureza singular, com profi ssionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação.

§ 1o – Considera-se de notória especialização o profi ssional ou empresa cujo con-ceito no campo de sua especialidade decorrente de desempenho anterior, estudos, experiências, publicações, organização, aparelhamento, equipe técnica, ou de outros requisitos relacionados com suas atividades, permita inferir que o seu trabalho é es-sencial e indiscutivelmente o mais adequado à plena satisfação do objeto do contrato.

Merece ainda menção o art. 13 da Lei no 8.666/93, que defi ne os serviços técnicos profi ssionais especializados:

Art. 13 – Para os fi ns desta Lei, consideram-se serviços técnicos profi ssionais especializados os trabalhos relativos a:

I – estudos técnicos, planejamento e projetos básicos ou executivos;III – assessorias ou consultorias técnicas e auditorias fi nanceiras ou tributárias;IV – fi scalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;V – patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;VI – treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;VII – restauração de obras de arte e bens de valor histórico;VIII – vetado.(...)§ 3o – A empresa de prestação de serviços técnicos especializados que apre-

sente relação de integrantes de seu corpo técnico em procedimento licitatório ou como elemento de justifi cação de dispensa ou inexigibilidade de licitação, fi cará obrigada a garantir que os referidos integrantes realizem pessoal e diretamente os serviços objeto do contrato.

A norma geral da licitação pública disciplina os casos em que se apresenta dispensável ou inexigível o certame, abrindo ensejo à contratação direta com profi ssionais ou instituições idôneas e em condições de bem prestar o serviço almejado, a fi m de que as necessidades do serviço público possam ser pronta-mente atendidas em regime de terceirização.

Mas, qual é a diferença capital entre os institutos da inexigibilidade e da dispensa de licitação? Se ambos estão vocacionados a justifi car a contratação direta, em que bases radicam suas diferenças?

Na dispensa de licitação, consubstanciam-se situações em que, muito em-bora em tese realizável a disputa concorrencial, esta se apresenta suprimível para o melhor atendimento das necessidades do serviço público. Nos casos

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183 Licitação e Contrato Administrativo -

estudos sobre a interpretação da lei. São

Paulo: Ed. Malheiros, 1995, p 70.

184 Aspectos Jurídicos da Licitação. São

Paulo: Saraiva, 2003, p. 51/52

185 Licitação e Contrato Administrativo.

7.ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribu-

nais, 1987, p. 36.

identifi cados no art. 24 da Lei no 8.666/93, o administrador público poderá avaliar e decidir sobre realizar, ou não, a licitação, conforme melhor convier aos interesses públicos em espécie.

Quanto à inexigibilidade licitatória, a teor do art. 25, a contratação direta faz-se sempre imperiosa em virtude da inviabilidade da competição. Conforme lição do Ministro Eros Roberto Grau, é a exclusão do critério competitivo, por irrealizável, que constitui a essência do permissivo legal da inexigibilidade:

Ademais, cumpre ainda observarmos que da ‘inexigibilidade’ se distingue a hipótese de ‘dispensa’ de licitação. Na dispensa, a lei autoriza a Administração a, excepcionalmente, contratar sem licitação. Atua, aí, a conveniência adminis-trativa, em nome da qual dá-se a dispensa do dever de licitar. O dever de licitar incide, mas é afastado pelo preceito legal. A enunciação legal das hipóteses de dispensa é exaustiva. Não está a Administração autorizada a dispensar a licitação senão, e exclusivamente, nas hipóteses expressamente indicadas pela lei. Já no que concerne aos casos de inexigibilidade de licitação, ao contrário, não incide o dever de licitar. A não realização da licitação decorre, não de razão de conveni-ência administrativa, mas da inviabilidade de competição.183

Também leciona sobre o tema o jurista Adilson Abreu Dallari: “o fato de que um trabalho técnico profi ssional especializado pode ser contratado sem licitação mesmo que haja ‘uma pluralidade de notórios especializados’, exata-mente porque o trabalho produzido se torna singular em razão da singulari-dade subjetiva do executante. Essa singularidade resultante das características pessoais do executante é que torna inviável a comparação, ou a competição, tornando inexigível a licitação, conforme dispõe a legislação vigente. O tra-balho pode ser considerado singular quando depender das características do executante. Haverá singularidade quando diferentes executantes notoriamen-te especializados produzirem diferentes trabalhos. Não haverá singularidade quando diferentes executantes puderem realizar a mesma coisa, produzir o mesmo resultado”.184

Para Hely Lopes Meirelles “serviços técnicos profi ssionais são todos aque-les que exigem habilitação legal para a sua execução. Essa habilitação varia desde o simples registro do profi ssional ou fi rma na repartição administrativa competente, até o diploma de curso superior ofi cialmente reconhecido. O que caracteriza o serviço técnico é a privatividade de sua execução por profi s-sional habilitado, seja ele um mero artífi ce, um técnico de grau médio ou um diplomado em escola superior. Já os serviços técnicos profi ssionais especiali-zados são aqueles que, além da habilitação técnica e profi ssional normal, são realizados por quem se aprofundou nos estudos, no exercício da profi ssão, na pesquisa científi ca, ou através de cursos de pós-graduação ou de estágios de aperfeiçoamento”. 185

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186 Comentários à lei de licitações e con-

tratos administrativos, Dialética, São

Paulo, 2008, p. 46.

Existem também casos nos quais a Administração Pública habilita todo e qualquer interessado a, uma vez preenchidos determinados requisitos, cadas-trarem-se para realizar o serviço. Nessas hipóteses, a licitação é igualmente inexigível, tendo em vista a ausência de constrição no que se refere à quanti-dade de pessoas aptas a prestar serviços à Administração.

Conforme explica Marçal Justen Filho, “somente se impõe a licitação quando a contratação por parte da Administração pressupuser a competi-ção entre os particulares por uma contratação que não admita a satisfação concomitante de todos os possíveis interessados”, pois “a obrigatoriedade de licitação somente ocorre nas situações de excludência, em que a contrata-ção pela Administração com determinado particular exclui a possibilidade de contratação de outrem”.186

Modalidades de licitação

As modalidades de licitação estão expressamente previstas no art. 22 da Lei 8.666/93, onde também se encontram as suas defi nições legais:

Art. 22. São modalidades de licitação:I – concorrência;II – tomada de preços;III – convite;IV – concurso;V – leilão.§ 1o Concorrência é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados

que, na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de qualifi cação exigidos no edital para execução de seu objeto.

§ 2o Tomada de preços é a modalidade de licitação entre interessados devida-mente cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas para cadastra-mento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, observada a necessária qualifi cação.

§ 3o Convite é a modalidade de licitação entre interessados do ramo perti-nente ao seu objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de 3 (três) pela unidade administrativa, a qual afi xará, em local apro-priado, cópia do instrumento convocatório e o estenderá aos demais cadastrados na correspondente especialidade que manifestarem seu interesse com antecedên-cia de até 24 (vinte e quatro) horas da apresentação das propostas.

§ 4o Concurso é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para es-colha de trabalho técnico, científi co ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores, conforme critérios constantes de edital publicado na imprensa ofi cial com antecedência mínima de 45 (quarenta e cinco) dias.

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§ 5o Leilão é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para a venda de bens móveis inservíveis para a administração ou de produtos legalmen-te apreendidos ou penhorados, ou para a alienação de bens imóveis prevista no art. 19, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação. (Redação dada pela Lei no 8.883, de 1994)

§ 6o Na hipótese do § 3o deste artigo, existindo na praça mais de 3 (três) pos-síveis interessados, a cada novo convite, realizado para objeto idêntico ou asse-melhado, é obrigatório o convite a, no mínimo, mais um interessado, enquanto existirem cadastrados não convidados nas últimas licitações. (Redação dada pela Lei no 8.883, de 1994)

§ 7o Quando, por limitações do mercado ou manifesto desinteresse dos con-vidados, for impossível a obtenção do número mínimo de licitantes exigidos no § 3o deste artigo, essas circunstâncias deverão ser devidamente justifi cadas no processo, sob pena de repetição do convite.

§ 8o É vedada a criação de outras modalidades de licitação ou a combinação das referidas neste artigo.

§ 9o Na hipótese do parágrafo 2o deste artigo, a administração somente pode-rá exigir do licitante não cadastrado os documentos previstos nos arts. 27 a 31, que comprovem habilitação compatível com o objeto da licitação, nos termos do edital. (Incluído pela Lei no 8.883, de 1994)

Para a escolha de qual modalidade adotar, o administrador deve observar os critérios do art. 23 da Lei 8.666/93.

Às modalidades de licitação listadas no art. 22 da Lei 8.666/93 deve-se acrescentar o pregão, atualmente regido pela Lei 10.520/02. De acordo com o art. 1o da Lei 10.520/02, o pregão presta-se à aquisição, pela Administração Pública, de “bens e serviços comuns”, cuja defi nição encontra-se no parágrafo único desse mesmo dispositivo legal, como sendo “aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente defi nidos pelo edital, por meio de especifi cações usuais no mercado”.

Tipos de licitação

Os tipos de licitação referem-se ao critério de julgamento das propostas apresentadas pelos licitantes, e encontram-se taxativamente previstos no art. 45, §1o da Lei 8.666/93, exceto para a modalidade concurso:

Art. 45. O julgamento das propostas será objetivo, devendo a Comissão de licitação ou o responsável pelo convite realizá-lo em conformidade com os ti-pos de licitação, os critérios previamente estabelecidos no ato convocatório e de

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acordo com os fatores exclusivamente nele referidos, de maneira a possibilitar sua aferição pelos licitantes e pelos órgãos de controle.

§ 1o Para os efeitos deste artigo, constituem tipos de licitação, exceto na mo-dalidade concurso: (Redação dada pela Lei no 8.883, de 1994)

I – a de menor preço – quando o critério de seleção da proposta mais van-tajosa para a Administração determinar que será vencedor o licitante que apre-sentar a proposta de acordo com as especifi cações do edital ou convite e ofertar o menor preço;

II – a de melhor técnica;III – a de técnica e preço;IV – a de maior lance ou oferta – nos casos de alienação de bens ou concessão

de direito real de uso. (Incluído pela Lei no 8.883, de 1994)

LEITURA OBRIGATÓRIA

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Lumen Iuris, itens:• Dispensa de licitação• Inexigibilidade de licitação• Modalidades• Tipos de licitação• O pregão: nova modalidade

CASO GERADOR

Trata-se de ação civil pública contra ato praticado por Prefeito de uma cidade do interior paulista, que contratou serviços de escritório de advocacia para acompanhamento de diversas ações judiciais e prestação de consultoria jurídica cotidiana em matéria tributária sem a realização de prévia licitação.

A situação foi enquadrada pela Prefeitura como hipótese de inexigibilida-de de licitação, com base no art. 13, V, da lei 8.666/93, que ao dispor sobre os serviços técnicos profi ssionais especializados, neles incluiu “o patrocínio ou defesa de causas judiciais e administrativas”, bem como no art. 25, II e §1o, do mesmo diploma legal, que determina a inexigibilidade de licitação para os serviços de caráter singular listados no art. 13.

A seu ver, os serviços de advocacia mencionados enquadram-se na previ-são do citado art. 13 c/c art. 25, II, da Lei no 8.666/93? Por quê?

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LEITURA COMPLEMENTAR

JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. São Paulo: Sarai-va, pp. 334 a 351.

JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos adminis-trativos. São Paulo Dialética.