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Descriminalização do Aborto de Anencéfalos Anencefalia no julgamento do STF Componente Curricular: Sociologia Docente: Alexandre Santos Lima Discentes: Andreza Dias Garcia Carneiro Eline Freitas de Farias Moura Jussara da Silva Barbosa Luana Wanderley de Souza Campina Grande, Abril de 2012

ABORTO DE ANENCÉFALOS

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Descriminalização do Aborto de Anencéfalos

Anencefalia no julgamento do STF

Componente Curricular: SociologiaDocente: Alexandre Santos LimaDiscentes: Andreza Dias Garcia Carneiro

Eline Freitas de Farias Moura Jussara da Silva Barbosa Luana Wanderley de Souza

Campina Grande, Abril de 2012

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Um dos casos mais polêmicos sob os cuidados do Supremo Tribunal Federal (STF):

A ação que pede a descriminalização do aborto de anencéfalos;

Analisada em plenário em 11 de abril deste ano.

A ação chegou à Corte em 2004.

Relator deste caso: Ministro Marco Aurélio Mello.

A Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF– Anencefalia), tratou de decidir se obrigar uma mulher a manter uma gravidez de feto anencéfalo é ou não submetê-la a tratamento desumano e tortura.

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Setores religiosos e de entidades em defesa da vida: Acreditam que o feto já é um ser humano e que o aborto é

semelhante ao assassinato.

STF promoveu uma série de audiências públicas sobre o assunto em 2008.

A indefinição judicial sobre o assunto levou a comissão de juristas do novo Código de Processo Penal a cogitarem a inclusão da descriminalização do aborto por anencefalia no projeto que tramita no Congresso Nacional.

Atualmente, a tendência do STF:

Considerar isenta de pena a gestante que fizer aborto quando portadora de feto anencéfalo.

Equiparando a prática às duas exceções já previstas no artigo 128 do Código Penal:

  “se não há outro meio de salvar a vida da gestante” ou “se a gravidez resulta de estupro”.

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O que é ANENCEFALIA?o Anencefalia é uma má-formação incompatível com a vida extra-

uterina do feto. o Regra geral: um feto com anencefalia não sobrevive ao parto.

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O que é uma ADPF?

o Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental.o ferramenta jurídica relativamente nova no Brasil.o Quando um preceito constitucional é violado ou não é ameaçado

por ato do poder público, aqueles que detêm legitimidade constitucional pode, denunciar o tal fato perante Supremo Tribunal Federal.

o STF é obrigado a se pronunciar e sua decisão produzirá efeito vinculante.

Foi pedido ao Supremo Tribunal Federal na ADPF-Anencefalia:

o Que se reconheça o direito à antecipação terapêutica do parto às mulheres grávidas de fetos com anencefalia.

o Que os profissionais de saúde não sejam penalizados por realizar o procedimento médico necessário para antecipar o parto.

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PERSPECTIVA RELIGIOSA

O anencéfalo é um ser vivo intra-útero; Nasce com vida e vai a óbito com minutos, dias,

meses ou após anos; Mas, se ele nasce vivo, o aborto é criminoso; Afirmam que a decisão do STJ em liberar a

realização de abortos em casos de anencefalia não é correta;

Reconhecem que a mulher que gera um feto deficiente precisa de ajuda psicológica por um período;

Mas, acham que seria importante que ela inclinasse seu coração à compaixão e à misericórdia, encontrando o real significado da vida;

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB): defende que a vida deve ser acolhida como “dom”, mesmo que seu percurso natural seja, presumivelmente, breve;

“Nenhuma legislação jamais poderá tornar lícito um ato que é intrinsecamente ilícito“;

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Acreditam, ainda que:

Que essas crianças podem ser amamentadas, reagem aos carinhos e, óbvio, criam vínculos com os seus pais!

Embora as suas deficiências são seres humanos providos de alma, necessitadas de extremo afeto.

Não se pode considerar como absoluta a morte do anencéfalo.

Os argumentos que justificam a morte do anencéfalo serão os mesmo que justificariam a subtração da vida de qualquer outra pessoa.

A vida humana, que se forma no seio da mãe, já é um novo sujeito de direitos .

Tal vida deve ser respeitada sempre, não importando o estágio ou a condição em que ela se encontre.

A vida é um bem outorgado, indisponível.

O feto portador de grave deficiência, como é o caso do anencéfalo, faz parte da diversidade humana. Deve ser, portanto, preservado e respeitado.

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“É torturante para a mãe que carrega no ventre um ser que não viverá, mais trata-se de um sofrimento programado pelas Soberanas Leis da Vida“;“A qualidade de uma vida só deve ser aferida por aquele que a vive, não sendo dever da sociedade tarjar determinadas deficiências como desqualificadoras dos movimentos vitais que conferem ação ao espetáculo da existência humana. Essa é a maneira nobre de se pensar!!!”“A vida deve ser acolhida como dom e compromisso, mesmo que seu percurso natural seja, presumivelmente, breve. Há uma enorme diferença ética, moral e espiritual entre a morte natural e a morte provocada. Aplica-se aqui, o mandamento ‘Não matarás’”.

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OPINIÕES DE ALGUNS MINISTROSMinistro Marco Aurélio Mello:

Relator do caso; Baseou seu voto em preceitos que garantem o estado laico:

a dignidade da pessoa humana, o direito à vida e a proteção da autonomia, da liberdade, da privacidade e da saúde.

Para ele o anencéfalo não possui vida em potencial.

“Anencefalia e vida são termos antitéticos. O anencéfalo jamais se tornará uma pessoa e o fato de respirar e ter batimento cardíaco não altera essa conclusão”.

Afirmou também que a questão não deve ser discutida sob o ponto de vista religioso, mas de acordo com o princípio da dignidade humana, assegurado pela Constituição Federal.

Para ele, o estado não pode se intrometer na decisão da mulher de interromper ou não a gestação.

Ministro Ayres Britto:• Não poupou metáforas em sua fala. • Segundo ele, o anencéfalo é um organismo prometido para

inscrição "não no registro civil, mas numa lápide mortuária”.

• “É preferível arrancar a plantinha ainda tenra no chão do útero do que vê-la precipitar no abismo da sepultura.”

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Ministra Cármen Lúcia: “Não é escolha fácil. Todas as opções são de dor.

Fundado na dignidade da vida, neste caso, acho que esta interrupção não é criminalizável. [...]O útero é o primeiro berço do ser humano. Quando o berço se transforma em um pequeno esquife a vida se entorta”.

“Faço questão de frisar que este Supremo Tribunal Federal não está decidindo permitir o aborto de um modo geral (terapêutico).

Ministro Gilmar Mendes:• Disse que não seria tolerável impor à mulher a

obrigatoriedade em manter a gravidez de anencéfalos. • Para o ministro, a anencefalia deve ser atestada por no

mínimo dois laudos de médicos distintos antes da realização do aborto.

• Avalia ainda que é preciso elaborar uma regulamentação específica sobre o tema.

• Foi o primeiro a declarar abertamente que levou em consideração a posição da Igreja sobre ao assunto, apesar de se posicionar contra a vontade dos religiosos.

• O caso do aborto de um anencéfalo é comparável ao aborto do filho de uma mulher que engravidou após um estupro: nas duas situações, os danos psíquicos para a mulher podem ser irreparáveis.

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(R. Lewandovski)

Ministro Cezar Peluso (CONTRA):• O último a votar, discordou totalmente dos argumentos

de oito ministros.• Afirmou que a vida humana não pode ser "relativizada"

segundo "escala cruel". Para ele, ninguém pode definir quem tem ou não direito a ela.

• ” Outras doenças fatais encurtam o tempo de vida e, nem por isso, autorizam a relativização do direito à vida.”Ministro Ricardo Lewandovski (CONTRA):

• “Continua em vigor o texto da legislação penal que não admite com clareza o chamado aborto terapêutico".

A maioria dos ministros entendeu que a decisão de interromper a gravidez do feto sem cérebro é direito da mulher, que não pode ser oprimida pela possibilidade de punição.

Alguns ministros ressaltaram que o Supremo não está discutindo a legalização do aborto de modo geral ou obrigando mulheres grávidas de fetos anencéfalos a interromper a gestação.

A Corte discute se é crime interromper a gestação de um feto que, de acordo com a avaliação de especialistas, não tem chances de vida fora do útero.

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Por 8 votos a 2, o Supremo Tribunal Federal decidiu liberar o aborto de anencéfalos no dia 12 de abril de 2012.

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DEPOIMENTO DE QUEM JÁ VIVEU GRAVIDEZ DE ANENCEFÁLO

“O meu lado psicológico também foi bastante afetado. Qual é a primeira pergunta que se faz a uma grávida? ‘Já sabe o

sexo?’ ,’Quando nasce?’,’E o enxoval, você já está fazendo?. Eu evitava sair na rua para não ter que mentir ou chorar a cada pergunta

dessas, que eram a morte para mim. Eu tinha um bebê que ia nascer condenado, nasceria morto ou morreria

horas depois do parto. Não podia fazer enxoval, nem comprar nada para o meu bebê, ele não usaria….

Digo não ao aborto, digo não para o abandono e maus tratos, mas digo sim a interrupção da gravidez de anencéfalos.

Digo sim pelas minhas próprias dores, eu vivi isso. Negar esse direto a uma mulher é condená-la a carregar um defunto na barriga. É

condená-la a não amar seu corpo. É condená-la até o fim da gestação, porque o bebê que cresce e mexe dentro dela, não poderá ser

segurado, afagado e amado por ela. E é isso que uma mulher grávida quer: amar seu filho e ser amada por

ele.”

(Cátia Corrêa Fonseca)

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EXEMPLO DE PAIS QUE NÃO PREFERIRAM O ABORTO

OS PAIS DE VITÓRIA, 2 anos, que teve anencefalia diagnosticada durante a gravidez, acompanharam, com a filha, o julgamento do STF.

Apesar do diagnóstico de anencefalia, Vitória nasceu com um resquício de cérebro e couro cabeludo (acrania).

Trata-se de uma "sobrevida vegetativa" e a mãe poderia ter pedido a interrupção da gravidez por conta do diagnóstico.

Joana Croxato (mãe), afirmou que nunca pensou em abortar durante a gravidez mesmo após a confirmação da anencefalia por meio de exame.

Segundo Joana, a menina responde à dor, tenta engatinhar, chora quando está incomodada, demonstra prazer quando se alimenta e quando recebe carinho.

O pai disse :"É uma criança muito doce, muito sensível, digna de todo amor que ela recebe.“

Joana disse que foi um "momento difícil" receber o diagnóstico de Vitória.

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A MEDICINA DÁ A SUA PALAVRACristião Rosas:

Ginecologista (Febrasgo); Estava no Supremo diz: "A anencefalia é uma patologia totalmente

incompatível com a vida extra-uterina, não tem nem a calota craniana, o cérebro, couro cabeludo, crânio, encéfalo, tem apenas tronco cerebral que mantém apenas os impulsos para batimento cardíaco e movimentos respiratórios.” Thomas Gollop:

Especialista em médica genética da USP; Participou do julgamento; Afirmou: “Não há tratamento e há morte certa e em

caso maior ou menor todos eles caminham para óbito, todos eles são definidos pelo Conselho Federal de Medicina como morte cerebral. [...] Entra no âmbito das mal formações incompatíveis com a vida. Esses casos são incompatíveis com a vida, a morte é certa, é uma sobrevida vegetativa e há um diagnóstico médico seguro de morte“.

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A MEDICINA DÁ A SUA PALAVRA

Há riscos para a mulher:

50% dos casos há excesso de líquido amniótico com consequente hiperdistenção do útero, o que pode levar a hemorragias;

25% dos fetos anencefálicos estão em posição anormal, causando dificuldades no parto;

Há sofrimento psicológico das gestantes nessa situação.

Logo, a decisão favorável do STF possibilitará a adequada assistência médico-hospitalar das mulheres que desejarem interromper a gravidez e aquelas que optarem por mantê-la serão acolhidas no serviço de saúde.

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A MEDICINA DÁ A SUA PALAVRA A Medicina não tem certeza a respeito do que

ocasiona a anencefalia;

Podem ser fatores determinantes:

Deficiência de nutrientes e vitaminas (ácido fólico); Exposição a produtos químicos, solventes e

irradiações; Consumo de tabaco e bebida alcoólica no início da

gestação.

* A incidência de fetos acometidos dessa má-formação é maior em mulheres muito jovens ou de idade avançada.

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SOB O PRISMA JURÍDICOUm dos vários fundamentos para que o STF decidisse pelo direito a interrupção da gravidez nesta circunstância:

Lei que rege os transplantes de órgãos (LEI 9434/97) afirma que o critério para o reconhecimento do óbito é a morte encefálica ou morte cerebral.

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"Cabe à mulher e não ao Estado sopesar sentimento e valores de ordem estritamente privada para deliberar pela interrupção ou não da gravidez. Cumpre à mulher, em seu ritmo, no exercício do direito à privacidade, sem temor de reprimenda, voltar-se para si mesma, refletir sobre as próprias concepções e avaliar se quer ou não levar a decisão adiante.“

Marco Aurélio Mello, relator da ação.

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PAPEL DA MÍDIA“...a anencefalia, retorna ao cenário nacional de discussões graças à divulgação na mídia de uma Ação por Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 54/DF) ajuizada perante o Supremo Tribunal Federal (STF) pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Saúde. Apresenta-se o seguinte questionamento: deve-se permitir o prosseguimento de gestação de feto sem qualquer viabilidade de vida?” (Jus Navigandi – site de notícias da Rede

Record)

Gera discussão, polêmica e muita audiência;

Procurou relatar tudo que aconteceu;

Mostrou opiniões variadas (mães, médicos, advogados, ministros, entidades religiosas);

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E VOCÊ? É CONTRA OU A FAVOR DA

DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO DE FETOS

ANENCEFÁLOS?

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