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pirotecnias. Por outro lado, policiais com baixos salários baixos morrem, mulheres, negros, jovens e LGBTs das comunidades pobres são achacados e mortos por balas perdidas ou direcio-nadas. Estamos em meio à barbárie produzida pela decadente sociedade capitalista, que, em função do apro-fundamento da crise econômica, acirra as contradições e abre espaço para mais explosões sociais, que serão tra-tadas pelo Estado democrático bur-guês com mais repressão e criminaliza-ção. Uma conjuntura como essa, como já lembrou o dirigente comunista Anto-nio Gramsci, ao observar a ascensão do fascismo na Itália nos anos 1920, possi-bilita o aparecimento dos monstros e dos sintomas mórbidos. Não se pode tratar o fascismo com flores, boas maneiras ou apelos ao bom senso. As milícias fascistas e nazistas de Mussolini e Hitler também começaram assim e depois passaram a queimar sedes sindicais, dos partidos comunistas, socialistas e dos anarquis-tas, levando o mundo à barbárie. Por-tanto, é fundamental reagir mais cora-josamente a essas ações, com ampla unidade dos movimentos sociais e grandes mobilizações de massa, para desestimular e neutralizar os grupos fascistas ainda no nascedouro.

Nenhum passo atrás! Agir sem medo para derrotar o fascismo!

na que é fundamental a mais ampla condenação a essas ações da extrema direita por todas as forças de esquer-da. O PCB não apoia a candidatura do PT à presidência, mas defende o direito de Lula ser candidato e o direito democrático de manifestação política dos militantes do Partido dos Traba-lhadores. Hoje essas ações se voltam contra o PT, amanhã poderão se voltar contra a esquerda mais consequente. Semanas antes, a execução da Verea-dora Marielle Franco, do PSOL, e de seu motorista Anderson Gomes demonstrou cabalmente que as liber-dades democráticas estão seriamente ameaçadas no Brasil de hoje. Tudo isto ocorre em meio à intervenção militar decretada por Temer na segurança pública do Rio de Janeiro, dando continuidade a uma política punitivista e criminalizadora dos pobres e dos movimentos sociais e que de fato nunca pretendeu enfren-tar o problema da violência, vinculado ao avanço das desigualdades sociais criadas pelo capitalismo. Vistas pelo lado da violência urbana, medidas como essa demons-traram ser um grande fracasso. Mas há quem lucre com elas: empreiteiras, fábricas de armas, monopólios midiáti-cos, deputados, senadores, secretári-os, juízes, policiais e militares corrup-tos, ONGs e outros piratas sociais sem-pre ganham muito dinheiro com tais

Vivemos um momento de extrema preocupação na conjuntura brasileira. Além dos retrocessos políti-cos e sociais impostos pela agenda do governo Temer, instalado em Brasília a partir do golpe parlamentar midiático de 2016 com a clara intenção de des-truir a legislação trabalhista e social e avançar nas privatizações para favore-cer o grande capital e o imperialismo, hoje são cada vez mais vivas as amea-ças protagonizadas por grupos fascis-tas. O PCB manifestou publica-mente seu repúdio e indignação con-tra as hordas protofascistas que, com ovos, pedras, rojões e tiros, atacaram, sob o olhar complacente de governos estaduais, da polícia e da justiça, a cara-vana de Lula e do Partido dos Trabalha-dores na região Sul do país. Essas milíci-as fascistas, que incluem simpatizan-tes do candidato Jair Bolsonaro, inte-grantes do MBL e de outros grupos de extrema-direita, buscam espalhar o terror não apenas contra Lula e o PT, mas contra todo e qualquer direito de manifestação democrática e popular. Tais ações fazem parte de uma escalada reacionária no país, por meio da qual grupos parafascistas estão cada vez mais ousados e agressivos, contra todos aqueles que lutam por direitos e pelas liberdades democráti-cas e, com mais ódio e violência, contra os defensores do socialismo e do comu-nismo. A experiência histórica nos ensi-

EDITORIAL

Abril 2018 - Ano 04

O Poder Popular, um jornal a serviço das lutas populares e da Revolução Socialista.Órgão oficial do Partido Comunista Brasileiro (PCB)Conselho Editorial: Ricardo Costa, Ivan Pinheiro, Edmílson Costa, Roberto Arrais(jornalista responsável - 985/DRT - FENAJ).Colaboradores desta Edição: Colaboradores deste número: Antônio Lima Júnior, Eduardo Serra,

Fábio Bezerra, Fania Rodrigues, Jones Manoel, Mariana Nogueira (Célula da Saúde RJ), Mary Ferreira e

Wanubya Menezes (Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro de Alagoas), Samara Marino e Wladimir Nunes.

Diagramação: Mauricio SouzaEndereço Eletrônico: www.pcb.org.br Contato: [email protected] Nacional do PCB: Rua da Lapa, 180, Gr 801 - Centro - Rio de Janeiro - RJ - CEP.: 20.021-180Telefax.: (21) 2262-0855 e (21) 2509-3843.

O momento exige mobilização e unidadeno enfrentamento aos retrocessos

políticos e à ameaça fascista

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Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro

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amor”, como se as necessidades de subsistência não fossem gritantes. Cotidianamente, nos deparamos com discursos de que a mulher deve exer-cer sua profissão de educadora por ser uma “vocação”, algo que dizem ser “intrínseco” à mulher, que está em sua “natureza feminina”, razão pela qual somente ela saberia exercer bem esse papel. Sabemos bem que esse dis-curso que naturaliza a hierarquia de papeis não passa de uma construção histórica do patriarcado, arraigada em nossos ombros. Por isso, se faz neces-sário cada dia mais lutar contra o siste-ma patriarcal, pelo fim deste sistema de produção parasitário, que acaba com os nossos anseios por dias melho-res e nos fazem pensar que não existe uma solução radical para essas opres-sões sentidas cotidianamente. A nossa luta pela superação do modelo capitalista de sociedade deve ser diária. Nós não nascemos para ser submissas aos homens nem passivas à lógica deste mundo injusto, opressor e desigual. A nossa luta é pela liberdade, o nosso norte é o ideal de um mundo justo e igualitário para todas nós! Mulheres trabalhadoras do mundo inteiro, uni-vos!

Muitas mulheres professoras, assim como seus companheiros de trabalho, são empurradas pelo capital a uma jornada de trabalho abusiva, trabalhan-do em duas ou mais escolas e, de forma cada vez mais frequente, vendendo sua força de trabalho para o ensino privado, onde se aprofundam ainda mais as contradições entre capital e trabalho. Vivendo sob a lógica patriarcal, as companheiras do ensino são tam-bém responsáveis pelo árduo trabalho doméstico, cuidando dos filhos, da casa, dos diversos afazeres domésticos e, ainda, dos estudos, pois é cada vez mais exigida a formação continuada dessas profissionais. São obrigadas a cumprir dupla (e às vezes tripla!) jorna-da de trabalho, algo extremamente exaustivo, pois, além de exercer uma atividade remunerada, ao retornar à casa, realizam os trabalhos domésticos não remunerados. Além disso, no ambi-ente de trabalho, estão sujeitas a várias situações constrangedoras, como o assédio sexual, a baixa remuneração e todo tipo de discriminação. Nos espaços educativos, em específico na educação infantil e nas séries iniciais, a mulher ainda é vista como cuidadora das crianças. Ainda lhe é atribuída, de forma muito romantiza-da, a função de cuidar e educar, pela qual deve doar seu trabalho “por

Nas sociedades primitivas, a educação era constituída pela aprendi-zagem promovida através dos costu-mes referendados pelos grupos. A educação era tarefa de todos os mem-bros das comunidades, não havendo diferenciação por idade, gênero e fun-ção social, pois as relações sociais ocor-riam de acordo com o regime comunal.Com o fim da era primitiva e a constitui-ção da sociedade de classes, ocorreu a divisão social do trabalho, e os interes-ses que passaram a prevalecer já não contemplavam mais as necessidades de todos os membros da comunidade. A educação passou a ser confi-gurada segundo os interesses econô-micos. Deste modo, o papel social da mulher também foi modificado de acordo com as necessidades econômi-cas. A inserção da mulher nos espaços educativos formais iniciou-se com a instituição da sociedade de classes, e ela passou a ser educada, desde seus primeiros anos de vida, para a dedica-ção exclusiva às tarefas familiares e à educação dos filhos. Na história da educação brasi-leira, o trabalho docente escolar nas-ceu como um prolongamento do traba-lho materno e, assim como o trabalho doméstico, era visto como improduti-vo e incapaz de gerar capital. Nesse processo, a docência se materializou de forma desvalorizada e precarizada.

A MULHER TRABALHADORA E A EDUCAÇÃO

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UNIDADE CLASSISTA

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tura de segurança das obras, a pressão dos patrões e problemas na alimenta-ção. Com a reforma trabalhista, o futu-ro da categoria está em xeque, pois, ao atingir o sindicato, atinge em cheio o movimento operário. Enquanto alguns andam dizen-do que o sindicato está ocupado dema-is com luta e não traz nenhum resulta-do concreto para a categoria (uma visão, por sinal, totalmente equivocada do papel do sindicato, ao dizer que o combate à exploração não traz resulta-do, querendo trocar a luta por um clube de lazer), os camaradas da Unida-de Classista e do MAIS estão compro-metidos em manter o sindicato na tra-dição do enfrentamento aos ataques promovidos pelos patrões, para impe-dir novas derrotas que atinjam a cate-goria e o conjunto dos trabalhadores brasileiros. A saída para os operários da construção civil e para todos aqueles que vendem sua força de trabalho para a burguesia é intensificar as mobiliza-ções para barrar os ataques aos nossos direitos e, desta forma, avançar na cons-trução do Poder Popular. Isto somente será possível se tivermos sindicatos comprometidos com as batalhas ope-rárias e com a ruptura desse sistema de exploração que é o capitalismo. União e luta!

3. Enquanto isso, um setor que rompeu com a direção sindical há alguns anos, se intitulando “grupo É nós”, construiu a chapa 2, com um discurso atrasado, falando nos canteiros que o sindicato não precisa de luta, mas sim de clube, assistência médica, etc. Apesar de criti-car a presença dos partidos no sindica-to, a chapa 2 é apoiada por setores da CUT. Diante da conjuntura em que estamos, essa é uma eleição sindical muito importante, pois definirá o futuro de luta da categoria, que está no olho do furacão: é uma categoria que está na base da escala de exploração, onde a patronal tem muito interesse em que o sindicato tenha uma direção pelega, com um discurso contra as lutas, como tem feito a chapa 2. A situa-ção atual exige unidade para resistir diante dos ataques da burguesia, sem ações isoladas, sectarismo, hegemo-nismo ou práticas excludentes, como temos constantemente criticado a posição do PSTU em diversos momen-tos. O dia a dia do período eleitoral não tem sido diferente dos demais momentos do sindicato: os diretores vão aos canteiros pela manhã, durante o almoço e no fim do expediente, sempre colhendo as críticas dos traba-lhadores com relação à precária estru-

Todas as manhãs, os operários da construção civil recebem a visita, nos canteiros de obra, dos diretores do Sindicato dos Trabalhadores da Cons-trução Civil da Região Metropolitana de Fortaleza. Os diretores se concen-tram às seis da manhã na sede do sindi-cato, no centro da capital, e dividem-se em equipes, chegando às sete horas em diversos canteiros espalhados pela cidade e região metropolitana. Ao che-gar, para desespero dos patrões, a dire-ção sindical é recebida pelos operários no refeitório para uma longa conversa. Os diretores do sindicato falam sobre a campanha salarial, sobre a importância de estar sindicalizado e vão muito além: reforma trabalhista e da previdência, necessidade de se orga-nizar e consciência de classe são pautas constantes trazidas para os operários. Entretanto, esse é um período em que outras questões são colocadas nos canteiros: as eleições para a direção do sindicato. A Unidade Classista, corrente sindical do PCB, está compondo com os camaradas do MAIS, corrente interna do PSOL, a chapa 1: União e Luta. Uni-dade essa que vem de muito tempo, nas lutas, na categoria e no Bloco de Esquerda Socialista. Infelizmente, o PSTU não compôs a chapa, quebrando a unidade, ao compor sozinho a chapa

É CHAPA 1: UNIÃO E LUTA!Eleições do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil

em Fortaleza: a necessidade de manter uma categoria em luta

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MOVIMENTO POPULAR

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públicos para a iniciativa privada, aumenta as atribuições dos agentes e leva à extinção do trabalho dos agen-tes comunitários de saúde. Os custos da formação prevista no PROFAGS ficarão ao encargo do governo federal, mas os trabalhadores que não conseguirem completar o curso terão de devolver integralmente os valores, hoje previstos em cerca de 5 mil reais. Detalhe absurdo é que se inclui a modalidade de formação à dis-tância a uma atividade cuja essência prática se funda no encontro entre os trabalhadores e o contato com os usuá-rios! O PROFAGS irá impactar nega-tivamente sobre os Técnicos em Enfer-magem, aumentando enormemente o número de profissionais dessa catego-ria, o que pode levar a achatamento de salários, piores condições de trabalho e vínculos empregatícios ainda mais pre-cários. Defender os trabalhadores do SUS, com a crítica necessária para o entendimento dos determinantes que limitam as políticas de saúde e condici-onam a precarização dos trabalhado-res da área, é defender as conquistas que configuram o “direito à saúde”, as quais, mesmo insuficientes, estão cada vez mais ameaçadas pela ordem do capital.

mais de 1 milhão e 300 mil trabalhado-res em todo o país, somando-se o núme-ro de profissionais dessas três categori-as. A medida induz a acúmulo de fun-ções, perda de direitos assegurados, demissões, extinção de postos de tra-balho, descaracterização dos perfis profissionais e migração de trabalha-dores do SUS para a iniciativa privada (lembrando que os ACS e ACE são pro-fissionais que atuam exclusivamente na rede pública). A portaria 83/2018 não foi discutida com os trabalhadores, nem ao menos com aqueles que historica-mente têm atuação na formulação de políticas de educação profissional em saúde, como as Escolas Técnicas do SUS (ETSUS) ou com as demais instituições de ensino públicas. Formulado com base nos interesses privatistas e mer-cantis, o PROFAGS foi pactuado apenas entre o MS, o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde e o Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde. As instituições de ensino públi-cas não terão exclusividade na forma-ção, sendo permitida a participação de entidades privadas. As ETSUS, entida-des sindicais e associativas, denunciam que o Programa, além de propor for-mação profissional distinta às atribui-ções dos agentes, transfere recursos

Os ataques às políticas públicas e a destruição de direitos sociais conti-nuam sendo marca do ilegítimo gover-no de Michel Temer. Não bastando o congelamento dos recursos para as áreas sociais por 20 anos, a Reforma Trabalhista e as ameaças de retomada da Reforma da Previdência, o atual governo se volta a ações que compro-metem direitos e empregos, como é o caso dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS). O Ministério da Saúde (MS) publicou, em janeiro deste ano, a Por-taria nº 83/2018, que institui o Progra-ma de Formação Técnica em Enferma-g e m p a r a A g e n t e s d e S a ú d e (PROFAGS). Com o discurso de “diversi-ficar a qualificação para maior resoluti-vidade”, tal medida provocará profun-das mudanças nas atribuições dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), Agentes de Combate a Endemias (ACE) e para a Atenção Básica à Saúde (AB). O PROFAGS se inscreve nas mudanças previstas pela nova Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), de setembro de 2017, que produz perda de direitos, diferenciação de vínculos e contratos de trabalho, acúmulo de atribuições; indefinição do número de ACS por equipe, retirada da presença dos ACS de equipes das regiões ribeiri-nhas e da composição das novas equi-pes de Atenção Básica. Desde então, vêm ocorrendo demissões em massa no SUS: foram cerca de 200 demissões de ACS no ABC Paulista e 100 demis-sões no Rio de Janeiro. A nova PNAB baseia-se no con-ceito de “resolutividade”, naturalizan-do as desigualdades sociais e responsa-bilizando os trabalhadores da saúde pelo adoecimento e a cura dos usuári-os, desconsiderando todo o processo de desmonte pelo qual passa o setor condicionado pelo modelo de desen-volvimento econômico adotado desde a criação do SUS e mais intensamente após o início do governo Temer. O PROFAGS trará impacto para

PROFAGS: Mais um ataque aosTrabalhadores do Sistema Único de Saúde!

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Economia

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do setor? A burguesia produtora de aço, representada pelo Instituto do Aço Brasil, afirma que os EUA não precisam se preocupar com nosso país, pois o Brasil “não é parte do problema, mas da solução. Em torno de 80% das nos-sas exportações são de aço semiacaba-do, que são relaminados pela indústria siderúrgica americana. Os EUA têm superávit na balança comercial com o Brasil”. O governo brasileiro, através da presidência e Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, argu-menta a mesma coisa: não somos um concorrente, mas um fornecedor de matéria-prima para as aciarias dos EUA.E realmente é o que ocorre. Nas últi-mas décadas, com o brutal processo de regressão da estrutura produtiva do país, o papel do Brasil na divisão inter-nacional do trabalho é fornecer produ-tos com graus sempre menores de processamento industrial para as indústrias dos países centrais do capi-talismo e sudeste asiático. A burguesia do setor e os representantes do Estado brasileiro não apenas estão totalmente adequados a essa posição, como reafir-mam sempre o papel subalterno aos EUA: “A indústria de aço do Brasil não é uma ameaça", afirma a carta assinada pela BIC (Brazil Industries Coalition), principal grupo de defesa das indústri-as brasileiras em Washington. O presidente do Instituto do

série de iniciativas políticas, entre elas a ampliação gigantesca do tradicional protecionismo estadunidense. Recen-temente, anunciou novas taxas de 25% nas compras americanas de aço produ-zido em outros países e taxas de 2% a 10% na compra de alumínio. A medida visa a reduzir a demanda interna dos EUA sobre o produto e fortalecer a produção das aciarias do país.

A PRODUÇÃO DEAÇO NO BRASIL

Nosso país é o segundo maior exportador de aço para os EUA, depois do Canadá, e o primeiro em vendas de aço semiacabado – matéria-prima para produtos laminados – ao mercado ame-ricano. Em 2017, a indústria brasileira faturou US$ 2,6 bilhões (R$ 8,3 bilhões) em vendas totais de 4,7 milhões de toneladas de aço para os EUA. Os 70 mil trabalhadores no setor da produção do aço seriam afeta-dos, provavelmente perdendo o emprego, se a política protecionista radical de Trump se consolidar. O governo dos EUA usa o expediente previsto na seção 232 da Lei de Expan-são do Comércio de 1962, alegando prevenção à segurança nacional. O principal alvo, por suposto, é a China, mas países como Brasil e Canadá, serão fortemente afetados. Frente a essa ameaça, qual é a postura da burguesia

Se há uma tese persistente em setores da esquerda brasileira é a da existência de uma burguesia nacional, notadamente industrial, que poderia contribuir com um programa político de emancipação nacional, fortaleci-mento da democracia e dos direitos sociais. Na atual quadra histórica, os defensores dessa “tese” transitam entre o cinismo e a vulgaridade. Funcio-nam, objetivamente, como intelectuais da classe dominante para manter a hegemonia burguesa e retirar da pers-pectiva política dos trabalhadores e suas organizações qualquer horizonte de autonomia de classe e projeto radi-cal de enfrentamento à ordem. Não há possibilidade de realiza-ção de um projeto nacional autônomo com qualquer setor da classe dominan-te, dado seu caráter estruturalmente antinacional, antipopular, antidemo-crático, colonial e integrado de forma subordinada ao imperialismo. Isto é plenamente verificável quando se analisa o comportamento político e a consciência de classe de um segmento expressivo da burguesia industrial bra-sileiro: o setor de produção de aço. O governo Trump, buscando conter a ascensão da China rumo ao papel de protagonista mundial na pro-dução industrial e maior detentora da ciência e tecnologia de ponta, assume uma agressiva e contundente política de reindustrialização, através de uma

Protecionismo, imperialismo e a burguesiabrasileira: o caso da indústria do aço

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tributária (desonerando os trabalhado-res e camadas médias e acabando ou reduzindo os impostos sobre bens de consumo popular), reforma agrária, redirecionamento do fundo público etc. Temos um aparente paradoxo: não é possível enfrentar aspectos da dependência sem colocar toda a estru-tura das relações de produção em jogo. Como a burguesia interna brasileira, não importando o setor, não pode ques-tionar a dependência e o subdesenvol-vimento, dada a sua existência estar fundamentada nessas relações, sobra, apenas, negociar os níveis de depen-dência procurando “melhorar” nossa posição na divisão internacional do trabalho – como defendeu FHC duran-te toda sua vida. Nesse caso, considerando todas as variações da correlação de forças, vamos imaginar que o Governo Trump não retire o Brasil do seu pacote protecionista (a retirada do Brasil daria força para outros países pleitear o mes-mo): qual será a consequência? A elite da produção de aço junto ao Governo não irá até às últimas consequências no enfrentamento e morrerá fazendo muito barulho, mas de forma patética.Que consequências estratégicas tirar de mais esse episódio? Nenhuma ilusão há para ser alimentada com a chamada “burguesia nacional”. Todo e qualquer projeto de construção de nação, para atender as necessidades dos trabalha-dores, terá que ser socialista, única perspectiva possível de romper com o subdesenvolvimento e a dependência na periferia do capitalismo.

ando a demanda interna para manter vivo o setor. Caso estivesse em jogo romper essa dependência, a primeira medida do governo poderia ser forçar a indústria instalada no país que importa aço dos EUA a suspender a importação e comprar da indústria “nacional”, insti-tuindo uma política de conteúdo local e, a longo prazo, dentro de um plano de expansão industrial, procurar realizar essa cadeia produtiva nacionalmente. Note que a “divagação” sobre essa “solução” não parte de um prisma revolucionário, socialista, radical. Por que isso não é feito? A economia brasi-leira, enquanto inserida no capitalismo de tipo dependente, não pode buscar uma “emancipação econômica nacio-nal” em um setor sem buscar articular toda uma política coerente e sistemáti-ca de enfrentamento à dependência e ao subdesenvolvimento. As pressões dos EUA e das multinacionais instala-das no Brasil, através de vários meca-nismos, poderiam forçar um recuo fácil do governo brasileiro.

Romper a dependência éromper com o capitalismo

Um projeto de rompimento com a dependência e o subdesenvolvi-mento passa, necessariamente, por enfrentar, por exemplo, o fechamento do ciclo do capital voltado para fora atacando o raquitismo do mercado interno. Ampliar o mercado interno de forma real, sem bolhas de crédito de curta duração, passaria por medidas como combate à superexploração da força de trabalho, mudança na política

Aço Brasil afirmou, em inúmeras entre-vistas que, caso as negociações para retirar o Brasil da política protecionista não deem certo, pode recorrer à Orga-nização Mundial do Comércio (OMC). Além de sempre ter sido controlada pelos EUA, a entidade vem sofrendo processo de esvaziamento pelo gover-no Trump, que dela retira cada vez mais qualquer possibilidade de regulação real do comércio capitalista mundial. Governo brasileiro e burguesia chegaram a falar em política de “retali-ações”, colocando em questão a com-pra de carvão dos EUA (as siderúrgicas brasileiras usam o carvão gringo como combustível) e a venda da Embraer para a norte-americana Boeing. Assim “pressionam” o empresariado estadu-nidense para convencer Trump a “alivi-ar” para nosso país. Paralelo a isso, as centrais sindicais da ordem (CUT, Força Sindical, CTB, NCST, UGT, CSB) lançam manifesto na posição de retaguarda política da burguesia, se dizendo preo-cupadas com a diminuição da produção e dos empregos no Brasil. Pedem que o governo brasileiro busque negociação com Trump e acione a OMC. As centrais, o governo, a bur-guesia e os monopólios de mídia traba-lham tendo como premissa inquestio-nável que a posição subordinada do Brasil na produção siderúrgica não pode ser mudada, mas no máximo negociada em “melhores termos”. Não está na agenda, por exemplo, um plano de substituição de importações crian-do demanda interna ao aço semiacaba-do brasileiro, forjando as condições para completar o ciclo de produção da mercadoria em solo nacional e ampli-

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ELEIÇÕES 2018

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contrariar os interesses das classes dominantes. Nesse sentido, a constru-ção de candidaturas radicalmente populares passa longe de qualquer ilusão com a conciliação de classes. Igualmente devemos continuar a parti-cipar ativamente das lutas e resistênci-as, para além das eleições, na Frente Povo Sem Medo, nos sindicatos, diretó-rios e grêmios estudantis, associações e movimentos populares. O PCB conclama a sua militân-cia partidária e dos coletivos, amigos e simpatizantes a não medirem esforços em participar da construção de uma ampla e combativa campanha na base da sociedade, capaz de se apresentar como alternativa a velhas ilusões estra-tégicas que permearam grande parte da esquerda brasileira até a história recente do nosso país.

Pelo Poder Popular! Pelo Socialismo!

São Paulo, 10 de março de 2018.Comitê Central do PCB

ações, impõe cada vez mais limites e restrições às liberdades democráticas historicamente conquistadas pela clas-se trabalhadora. Nesse sentido, é fun-damental que as pré-candidaturas de lideranças dos trabalhadores sem teto e indígena também apontem para a necessária reconstrução e fortaleci-mento das organizações populares e suas lutas, antes, durante e depois das eleições. O PCB construirá esta campa-nha nestes termos, ombro a ombro junto aos companheiros e companhei-ras. Somando-se às importantes inicia-tivas da plataforma Vamos, aos acúmu-los das lutas dos movimentos popula-res e do PSOL, temos a apresentar o programa político do PCB, construído junto com a nossa militância, por meio de eixos programáticos de cunho popu-lar, anticapitalista e anti-imperialista. Para os comunistas brasileiros, na atual conjuntura, qualquer conquis-ta política, social e econômica para as classes populares necessariamente irá

O Comitê Central do PCB anun-cia a decisão de promover a coligação com o PSOL para as eleições deste ano. Os comunistas do PCB declaram o apoio político à pré-candidatura à pre-sidência da República dos companhei-ros Guilherme Boulos e Sônia Guajaja-ra, aprovada na Conferência Eleitoral do PSOL. Trata-se de uma ampla alian-ça política e social entre o PCB, PSOL, MTST, os movimentos dos povos indí-genas, movimentos feministas, negros, LGBTs, intelectuais progressistas, tra-balhadores urbanos e rurais em torno de um programa que expresse a unida-de mais consequente e combativa nas lutas contra os ataques da burguesia e do imperialismo aos direitos sociais, trabalhistas e democráticos desferidos pelo governo golpista. O atual quadro histórico de aprofundamento da crise capitalista, acirramento das disputas interimperia-listas no mundo e crescimento da extrema direita, com a continuidade da acumulação capitalista e suas expropri-

Unir a esquerda socialista com aspré-candidaturas populares de

Guilherme Boulos e Sônia Guajajara!

Guilherme Boulos é formado em filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Também é psicanalista, professor e escritor. Na juventude e nos anos de formação engajou-se no movimento estudantil e mili-tou no PCB. Ingressou no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em 2002 e hoje é membro de sua coordenação nacional. Em março de 2018 ingressou no Partido Socialis-mo e Liberdade (PSOL).

Sônia Guajajara OMC (Terra Indígena Araribóia, Maranhão, 1974) é liderança indígena, formada em Letras e em Enfermagem, especialista em Educação especial pela Universida-de Estadual do Maranhão. Sua militância começou na coordenação das organizações e articulações dos povos indígenas no Maranhão (COAPIMA) e levou-a à coordenação execu-tiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), tendo passado também pela Coor-denação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB). Foi lançada candida-ta pelo Setorial Ecossocialista do PSOL.

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cultural dos estudantes para enfrentar os desafios de sua realidade. Nestes dois anos de existência, obtivemos resultados mais que positi-vos: conseguimos expandir a coorde-nação, reforçar os vínculos com os estu-dantes, seus familiares e o Centro Soci-al Marista, alcançar cerca de 700 pesso-as por postagem na página do facebo-ok: facebook.com/cplimabarreto. Em 2016, dos 35 alunos que estiveram no CPLB, seis conseguiram entrar na uni-versidade, ou pelo SISU ou pelo PROUNI, transformando nossa atua-ção em algo, além de tudo, materializa-dor de resultados. Claro que temos desafios! O principal deles é manter uma formação eficaz e continuada dos estudantes e não nos deixar atropelar pelas ações imediatistas. Precisamos nos inserir mais no bairro da Vila Progresso, avan-çar nos debates sobre a Universidade Popular, estreitar laços com os profes-sores voluntários, não esquecendo de manter a qualidade das aulas e do espa-ço que utilizamos. O CPLB é uma frente de atuação estratégica do PODER POPULAR, com a preocupação de rela-cionar teoria e prática. Sigamos em frente, no terceiro ano de existência!

tante altos. Tal situação é ainda mais sensível para os jovens concluintes do ensino médio, vitimados pela falta de perspectivas provocadas pela margina-lização social, pela deficitária qualifica-ção diante das exigências do mercado de trabalho e pela discriminação racial. A implementação do cursinho se deu através da parceria com o Cen-tro Social Marista Irmão Lourenço, que cedeu o espaço e a infraestrutura de uma sala de aula. Há uma ótima relação com a comunidade da Vila Progresso e um histórico anterior de trabalhos edu-cacionais e socioeducativos entre cri-anças e adolescentes, com elevada credibilidade no bairro, decorrente dos anos de estreita relação com a popula-ção local. O CPLB funciona todos os fina-is de semana, das 9 horas até as 12 horas e 30 minutos. Atualmente são quinze coordenadores, dividindo as tarefas que vão desde o acompanha-mento das aulas até a busca de profes-sores voluntários e a relação com insti-tuições locais e outros cursinhos popu-lares. Durante o ano, são, ao todo, 32 encontros, com 4 aulas por final de semana, distribuídos em atividades transdisciplinares, com o objetivo de estimular o crescimento psicossocio-

O Cursinho Popular Lima Barre-to (CPLB) nasceu da iniciativa do Coleti-vo Negro Minervino de Oliveira (CNMO) em São Paulo, em atuação conjunta com o Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro (CFCAM) e o Coletivo LGBT Comunista, além de membros do PCB e amigos, para com-plementar o trabalho de base realizado na periferia. A principal marca do Curso é a metodologia da Educação Popular, com incentivo à autonomia dos estu-dantes, compreendendo a educação como parte do caminho a ser percorri-do para a tomada de consciência. O conhecimento é construção coletiva, parte constitutiva dos sujeitos, mem-bros de qualquer comunidade. Não tratamos o conhecimento científico como algo preexistente, externo, estanque e “encoberto” em que educa-dores conduzem educandos em sua descoberta, sendo os últimos somente espectadores do conhecimento, como acontece normalmente nas escolas formais em que nossos estudantes estão inseridos. Em nenhum momento esta tarefa se move perdendo o objetivo primeiro de jovens e adolescentes entrarem na universidade. A prática educativa implementada nesta expe-riência relaciona o cotidiano imediato dos educandos com o conhecimento universal acumulado pela humanidade, respondendo às necessidades concre-tas daqueles que estão ali, assim como esse contexto só consegue ser com-preendido baseando-se no conheci-mento anterior transmitido pelos edu-cadores. Desta maneira é possível per-ceber o progresso e amadurecimentos dos estudantes. Outro aspecto importante para a concretização deste cursinho se dá a partir da realização de uma obser-vação minuciosa na região da Vila Pro-gresso, bairro da Zona Leste de São Paulo que tem índices de violência bas-

Cursinho Popular Lima Barreto: uma frentede trabalho junto aos jovens da periferia

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Coletivo Negro Minervino de Oliveira

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INTERNACIONAL

núcleos de base de cada bairro. O que quero dizer é que isso flui de forma autônoma. Não existe nenhum tipo de pressão, tudo é feito de forma voluntá-ria. As pessoas escolhidas nesses espa-ços são a própria representação do povo”, ressaltou Balseiro.

Um processo verdadeiramentedemocrático

Muito diferentemente do que acontece nas chamadas democracias burguesas, onde o poder do dinheiro se impõe e a população raramente estabelece algum tipo de vínculo com o deputado que se diz seu representan-te, em Cuba as eleições têm como característica central a participação popular, antes, durante e após a elei-ção dos deputados. As eleições cubanas ocorrem em três etapas. A primeira foi em novembro do ano passado, quando os delegados dos núcleos de base foram eleitos. Quase a metade dos candida-tos a parlamentares saíram dessa pri-meira etapa. Em 11 de março aconte-ceu a segunda etapa, com a eleição dos deputados para a Assembleia Nacional do Poder Popular e dos 1.200 delega-dos das 15 Assembleias Provinciais (estados). A terceira e última etapa será realizada em abril, com a eleição do Conselho de Estado da Assembleia Nacional e do presidente do Conselho, que também será o presidente do país. Outra regra importante do sistema cubano é a possibilidade de revogação do mandato, caso o deputa-do eleito não cumpra a plataforma de campanha. O povo acompanha o tempo todo. Isto sim é democracia: popular e participativa. Fruto da Revo-lução Socialista.

Fontes: artigos da jornalista Fania Rodrigues, enviada especial do Jornal Brasil de Fato a Cuba, e do Jornal Gran-ma (órgão oficial do Partido Comunista Cubano).

Colômbia, por exemplo, que também realizou eleições para o Congresso em março, o índice de participação ficou em 45%, segundo dados divulgados pela imprensa colombiana.

Um parlamento popular, commaioria de mulheres

Dos 605 deputados eleitos em Cuba, cerca de 53% são mulheres, o que converte a Assembleia Nacional cubana no segundo parlamento com maior número de mulheres eleitas, depois da Bolívia. Além disso, 40,6% dos parlamentares possuem menos de 50 anos e 13% são jovens de menos de 35 anos. A composição racial também é uma das mais democráticas da América Latina. Cerca de 59,5% do parlamento eleito é branco e 40,5% negro e pardo.Há que se destacar o caráter popular e participativo das eleições legislativas cubanas. A composição popular da Assembleia Nacional é resultante do processo de escolha altamente demo-crático do sistema eleitoral cubano. A seleção dos candidatos que participam das eleições nacionais começa na base, com uma assembleia dos moradores em cada bairro, envolvendo a participa-ção do povo desde a primeira etapa. A população participa de todas as etapas do processo eleitoral, incluin-do a escolha preliminar dos candidatos. “Pelo menos 47% dos deputados elei-tos são fruto das assembleias dos

Um total de 7.399.891 votan-tes, representando 85.65% dos eleito-res, exerceram seu direito de voto em 11 de março nas eleições gerais em Cuba, de acordo com a Comissão Elei-toral Nacional (CEN), que divulgou o resultado final após conferir a compati-bilidade dos votantes com a listagem de eleitores. Logo em seguida ao término do processo de votação, a CEN compi-lou todos os dados gerados no dia da eleição e cruzou as informações, a fim de evitar repetições nos registros elei-torais, dadas as mudanças feitas nos locais de votação, especialmente os registros excepcionais de pessoas lista-das em seus endereços permanentes, mas que votam em outro local. Pela primeira vez, foi permitido que as pes-soas que estivessem fora de seu domi-cílio eleitoral pudessem votar. Dos votos apurados, 94,42% foram declarados válidos, atendendo aos requisitos estabelecidos por lei, percentual superior ao registrado na primeira etapa dessas eleições, quan-do foram eleitos os delegados das assembleias municipais - e também superior ao observado na votação de 2013. Os votos brancos diminuíram, de 4,66% em 2013, para 4%. Os votos nulos se mantiveram no patamar de 1%.Apesar de o voto não ser obrigatório, os processos cubanos registram parti-cipação eleitoral acima da média dos países do continente americano, onde imperam as regras burguesas. Na

ELEIÇÕES EM CUBA: UMA VERDADEIRAAULA DE DEMOCRACIA POPULAR

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HISTÓRIA

PCB: 96 anos de lutas coma classe trabalhadora e os

movimentos populares!direção exilada e boa parte presa, o PCB desenvolveu uma política que privilegiava a unidade das forças demo-cráticas. No decurso da derrota da dita-dura e da transição democrática, porém, o Partido perdeu espaço, por causa da repressão que havia elimina-do dirigentes e quadros operários, pela adoção de uma linha política extremamente moderada nos anos 1980 e pela dissidência de militantes que acompanharam a saída de Pres-tes, descontentes com a orientação do grupo majoritário.

O racha e a reconstruçãorevolucionária

Na sequência da queda do Muro de Berlim, a tentativa de liquida-ção do PCB foi combatida por aqueles que defenderam com unhas e dentes a manutenção do Partido. Após a saída dos arrivistas em 1992, o processo de definição de uma linha claramente revolucionária consolidou-se no XIII Congresso do PCB (2005), com a apro-vação da decisão de ruptura com o governo Lula e sua política de concilia-ção de classes. Os congressos seguintes con-firmaram a estratégia da revolução socialista, apontando para a constru-ção de uma frente anticapitalista e anti-imperialista, do Bloco Revolucio-nário do Proletariado e do Poder Popu-lar. No quadro atual de grande retro-cesso político e social, inaugurado com o golpe parlamentar de 2016, a hora é de seguir firme na resistência e na organização de todo o povo, num amplo movimento de lutas e embates contra o capital.

PELO PODER POPULAR,RUMO AO SOCIALISMO!

FOMOS, SOMOS ESEREMOS COMUNISTAS!

1940/50: ‘‘Partidão’’,ilegalidade e renovação

Após a Segunda Guerra Mun-dial, com a vitória da União Soviética sobre o nazifascismo e o fim do Estado Novo no Brasil, o PCB tornou-se um partido nacional de massas, com cerca de 200 mil filiados e conquistando significativa bancada parlamentar na Constituinte de 1946, tendo na figura de Luiz Carlos Prestes sua mais desta-cada liderança. Mas a Guerra Fria vol-tou a tornar ilegal o Partido, que res-pondeu com uma política estreita e sectária. A Declaração de Março de 1958, por sua vez, representou uma guinada tática, ao vincular a conquista do socialismo à ampliação dos espaços democráticos. A nova orientação per-mitiu uma grande atuação junto às mobilizações de massa do período, mas a ideia de que haveria uma bur-guesia nacional disposta a enfrentar o imperialismo acabou desarmando o Partido para o enfrentamento ao golpe de 1964.

Golpe da burguesia,repressão e exílio

No início da década de 1960, os comunistas exerciam papel hege-mônico na intelectualidade, no movi-mento sindical, na juventude e na cul-tura brasileira. Mas o golpe militar articulado pela burguesia monopolis-ta brasileira impôs ao conjunto das forças democráticas e de esquerda mais um duro período de repressão. Entre 1973 e 1975, um terço do Comitê Central foi assassinado. Centenas de militantes foram subme-tidos à tortura, alguns até a morte, dentre os quais o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manoel Fiel Filho. Mesmo assim, tendo a maioria da sua

O Partido Comunista Brasilei-ro (PCB), fundado em 25 de março de 1922, é a organização política mais antiga do Brasil. Em sua longa trajetó-ria, aglutinou os mais destacados mili-tantes das lutas dos trabalhadores e representantes da cultura brasileira. Da década de 1920 aos dias atuais, apesar dos longos períodos de repressão e clandestinidade, os comu-nistas participaram ativamente da dinâmica social, política e cultural do país. Resgatar a história do PCB é recu-perar a memória de um Brasil insur-gente, para comprovar que só pode fazer futuro quem tem lastro no pas-sado.

Os Anos de formação

Os primeiros anos, que vão da fundação do Partido a 1930, assinala-ram o esforço de criar no país uma cultura socialista e um modo proletá-rio de fazer política. O PCB lançou o jornal A Classe Operária, atuou no movimento sindical e criou o Bloco Operário Camponês, apresentando o nome de Minervino de Oliveira, operá-rio negro, para presidente da Repúbli-ca. Nos anos 1930, o PCB foi a organização que mais enfrentou o avanço do fascismo no Brasil, articu-lando uma grande frente nacional e antifascista, anti-imperialista e antila-tifundiária, a Aliança Nacional Liberta-dora (ANL). Com a ilegalidade da ANL decretada por Vargas, o PCB passou a propor uma ação insurrecional, que desembocou na revolta armada de novembro de 1935, cuja maior expres-são foi a tomada do poder local em Natal, Rio Grande do Norte. Derrotada a rebelião, abateu-se sobre o país uma forte onda repressiva que atingiu todo o campo democrático.

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nas tomadas de decisão sobre a segurança pública, pode abalar as estruturas de fac-ções criminosas ligadas ao tráfico de drogas e das milícias. Estas são organiza-ções nascidas de esquemas de segurança privada montados nos bairros, para a “pro-teção” de seus moradores, e que, pouco a pouco, transformaram-se em máfias controladoras da comercialização de mer-cadorias e serviços ilegais, exercendo o domínio político dos territórios onde atuam e mantendo inegáveis laços com grupos políticos pertencentes aos parti-dos burgueses. A luta de Marielle também representava uma ameaça ao poder insta-lado das milícias e do crime organizado nas comunidades pobres da cidade.

NÃO VAMOS NOS CALAR!EXIGIMOS JUSTIÇA JÁ!

O assassinato de Marielle é um crime intolerável e seus responsáveis devem ser identificados e presos. Mas isso não basta. Há que buscar uma série de medidas e ações estruturais de diferentes ordens na esfera da segurança pública. É preciso reestruturar as polícias, construir, sem prejuízo para os policiais hoje em exercício, uma nova instituição, com formação em academia, planos de carreira estruturados, boa remuneração para seus profissionais e condições técni-cas para lastrear as investigações. Uma polícia civil que atue sob controle dos tra-balhadores e dos movimentos sociais. Como pano de fundo e base para a proliferação de todo este quadro estão a enorme desigualdade social presente no Brasil e no Rio de Janeiro em particular, e a ausência do Estado no atendimento às necessidades básicas da população. A não legalização das drogas também contribui para esse contexto de extrema violência. Sabe-se que morre muito mais gente pelo combate às drogas do que pelo seu uso. A ilegalidade alimenta os grupos criminosos e o comércio de armas, que serve a interes-ses de grandes grupos capitalistas. A luta de Marielle não pode parar. O recado hediondo das balas não vai nos calar. A luta prossegue, em defesa dos direitos e do poder popular!

O brutal e covarde assassinato da vereadora Marielle Franco, do PSOL do Rio de Janeiro, quando também foi executado Anderson Gomes, seu motorista, não foi um crime comum, mas sim um crime políti-co que teve alvos claros. Um crime ocorri-do no momento em que vivemos, no país, uma grave crise política e econômica, com elevados níveis de desemprego e de des-monte do sistema de seguridade social pública. Um crime cometido em meio à intervenção federal militar na área de segurança do Estado do Rio de Janeiro, marcada pela presença das forças arma-das nas áreas mais pobres da cidade. Marielle, vereadora pelo PSOL e quinta mais votada no Rio de Janeiro nas eleições de 2016 com 46.502 votos, coor-denou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ao lado do Deputado Marcelo Freixo. Foi executada pelo que simbolizava: mulher negra de origem popular, que se propôs a representar os moradores dos bairros proletários, os trabalhadores que vivem no subemprego, na fronteira do desem-prego e da miséria, que convivem diaria-mente com a violência policial, a presença do crime organizado e a ação das milícias. Seu mandato buscava represen-tar também as comunidades LGBT, que sofrem a violência e a discriminação extre-ma de partes significativas da sociedade. Assim como as mulheres, os negros, jovens e proletários, estes foram os prime-iros destinatários do recado dado pelas balas, com a clara mensagem de que devem manter-se calados. Marielle era uma militante parti-dária e de movimentos sociais. Uma mili-tante de esquerda, de um partido de esquerda. As esquerdas se posicionam claramente em favor dos pobres, dos tra-balhadores, dos direitos sociais. Esses movimentos e partidos são também desti-natários do recado das balas, para que se mantenham calados. Mas os recados não foram apenas para esses destinatários. Se a presença do exército nas favelas não passa de pirotec-nia, a proposta de reestruturação e reequi-pamento da polícia, sob uma nova orienta-ção, com participação dos trabalhadores

A luta demarielle naosera em vao!

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