Ação rescisória, homologação de sentença estrangeira e uniformização de jurisprudencia

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Conceito a forma de impugnar uma ao judicial transitada em julgado, para desconstituir a coisa julgada material. Ao de competncia originria dos tribunais por meio do qual se pede a anulao ou desconstituio de uma sentena ou acrdo transitado materialmente em julgado e a eventual reapreciao do mrito. A sentena de mrito no pode ser anulada por ao anulatria, sentena de mrito deve ser impugnada por ao rescissria, conforme prev o artigo 485 do Cdigo de Processo Civil. A sentena meramente homologatria e a sentena terminativa no podem ser impugnadas por meio de ao rescisria, nesses casos, cabem apenas os recursos conforme previsto na lei. O artigo 485 descreve os fundamentos (rol taxativo) que podem ensejar a ao rescisria, quando na sentena definitiva houver: a) prevaricao, concusso ou corrupo do juiz da causa; b) juiz impedido ou absolutamente incompetente; c) dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou conluio com objetivo de fraudar a lei; d) ofensa coisa julgada; e) violao literal disposio de lei; f) baseada em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal, ou seja, provada na prpria ao rescisria; g) fundamento para invalidar confisso, desistncia ou transao, em que baseou a sentena; h) documento novo, depois da sentena, cuja existncia a parte ignorava ou no pode fazer uso, capaz, por si s, de lhe assegurar pronunciamento favorvel. Legitimidade ativa pode ajuizar a ao rescisria a parte ou seu sucessor a ttulo singular ou universal, o terceiro interessado e o ministrio pblico ( quando o MP no foi ouvido ou houve conluio da parte, a fim de fraudar a lei. Legitimidade passiva o beneficirio da sentena de mrito. O MP pode ser em casos especficos. Competncia somente os tribunais tm competncia para rescindir sentena ou acrdo. No caso seria o tribunal que apreciaria o recurso da ao. Prazo dois anos, contados do trnsito em julgado da sentena ou acrdo rescindvel. Este prazo decadencial. Alguns aspectos da ao rescisria a) a propositura da ao rescisria no suspende a execuo da sentena rescindenda; b) na ao rescisria a revelia no opera seus efeitos; c) admite-se rescisria de rescisria; d) MP funcional como fiscal da lei; e) quando o tribunal rescinde a sentena, se for o caso, proferir novo julgamento; f) a citao do ru ser de 15 a 30 dias para responder aos termos da ao; f) aps a instruo, o relator abrir o prazo de 10 dias para manifestao do autor e do ru; g) ao rescisria no recurso; h) o autor tem que depositar 5% da ao rescisria; i) o juiz de primeiro grau no tm competncia para rescindir a sentena; j) a competncia para julgar a ao rescisria especificada nos regimentos internos dos tribunais; l) ao rescisria visa desconstituir coisa julgada material, na coisa julgada formal cabe recurso; m) a sentena rescindvel, no nula, apenas anulvel; n) o fundamento da ao rescisria o vcio formal ou substancial da sentena de mrito. Resumo baseado no esquema apresentado pelo Desembargador Elpdio Donizetti, no livro Curso Didtico de Direito Processual Civil, Editora Del Rey.

Fonte: http://pt.shvoong.com/law-and-politics/law/794659-a%C3%A7%C3%A3o-rescis%C3%B3ria/#ixzz1URzSmnwD

Coisa Julgada o capacidade de sanar invalidades do processo

todas

as

Hipteses de rescindibilidade (485, I a IX)

taxatividade: a resciso hiptese excepcional

Sentena dada por prevaricao, concusso

ou corrupo (485, I) o CP 316, 317 e 319 o no h necessidade de condenao em processo penal. O juzo da resciso verificar a existncia do delito o com a procedncia do juzo rescindente com resciso da sentena, se faz o julgamento da causa pelo tribunal com procedncia ou no do juzo rescisrio. o com sentena absolutria no processo penal por inexistncia material do delito se inviabiliza a resciso da sentena o sentena absolutria por insuficincia de prova, pode haver a resciso.

Rescindibilidade o presena de vcio expressamente previsto em lei na sentena passvel de ataque com eventual rejulgamento da matria. o no h anulao da sentena.

Caractersticas

No recurso Ao autnoma de impugnao S cabvel aps a formao da coisa julgada. Divide-se em duas fases: juzo rescindente/rescidendo (judicium rescindens) o ocorre em todas as rescisrias o preliminar ao juzo rescisrio o aprecia-se a pretenso do autor (pedido imediato=resciso da sentena) juzo rescisrio (judicium rescisorium) o ocorrer ou no o novo julgamento do objeto da sentena rescindida

Sentena proferida por juiz impedido ou

absolutamente incompetente (485, II) o no se inclui a suspeio o no se inclui a incompetncia relativa o no h juzo rescisrio: o tribunal remete os autos a outro juzo para julgar a causa.

Sentena resultado de dolo da parte vencedora ou de coluso entre ambas a fim de fraudar a lei (485, III) o dolo da parte: parte impede ou dificulta a atuao processual do vencido ou influencia a formao do juzo. equipara-se parte o seu representante legal ou advogado. o coluso processual: CPC, 129 atingimento de um fim ilcito por meio de um processo judicial.

demanda cognitiva, tratando-se de processo de conhecimento com produo de sentena declaratrio (des)constitutiva na fase do juzo rescindendo e declaratria, constitutiva, declaratria ou condenatria (mandamental ou executiva lato sensu), no juzo rescisrio.

seu ajuizamento no impede o cumprimento da sentena ou acrdo rescindendo, ressalvada a concesso, caso imprescindveis e sob os pressupostos previstos em lei, de medidas de natureza cautelar ou antecipatria de tutela. (489)

Cabimento (485, caput)

Sentena/acrdo (inclusive em ao rescisria) definitiva transitada em julgado

Demais hipteses de cabimento/no cabimento (jurisprudncia) observar Theotonio Negro em extensa lista em nota.

Sentena que ofende a coisa julgada o sentena que decide demanda idntica que gerou a sentena j transitada o Sentena que declara, constitui ou condena incompatvel com outra sentena (declarao de paternidade e alimentos)

* Material inspirado em Crise dos Recursos http://d1332362.u38.igempresas.ig.com.br/downloads/Aulas_de_DPCII.doc

DIREITO PROCESSUAL CIVIL II

RESUMO DE AO RESCISRIA 2010/1

PROFESSORA: LETCIA CALDERARO *

Sentena que viola literal disposio de lei (485,

V) o afronta o direito positivo infringindo norma de direito material ou processual. o a violao deve ser direta e aberrante. o afronta jurisprudncia ou smula no autoriza a resciso. o Decises proferidas em ADin autorizam a resciso. o Smula 343/STF

obter o documento novo nesta fase. O documento novo deve ser capaz de alterar o decisum. No se pode usar a rescisria para produzir novas provas, alm do prprio documento. O documento novo deve se referir a fatos j articulados no processo. Se o documento novo for fundamento de novos fatos no cabe rescisria.

Sentena que se funda em prova falsa (apurada em processo criminal ou na prpria rescisria) (485, VI)

o preciso antes de tudo verificar se o decisum seria o mesmo sem a prova o a prova falsa deve ser o fundamento da deciso o no importa que a falsidade tenha sido alegada ou no do decorrer do processo, salvo se em incidente de argio de falsidade julgado improcedente. Neste caso, no caber resciso.

Existncia de "fundamento para invalidar confisso, desistncia ou transao em que se baseou a sentena (485, VIII) Problemtica o Desistncia a sentena terminativa o que no admite resciso. Equivale a renncia ao direito em funda a ao o 486 objeto: sentena meramente homologatria (desistncia, transao e renncia)j soluo: aplica-se o 486 para sentenas ainda no transitadas para aquelas

hipteses e o 485 para as sentenas j transitadas.

Se a falsidade foi declarada em processo penal (ao penal, HC, reviso criminal) transitado em julgado, o juzo rescindente ser necessariamente procedente, cabendo ao ru apenas alegar que a prova no foi fundamento para a sentena

Obteno de documento novo ou que no pode utilizar depois da sentena que serviria de alterao da sentena (485, VII)

Sentena fundada em erro de fato (485, IX)

o

o

Documento Novo No se trata de documento criado aps a sentena. Trata-se de documento que j existia ao tempo da prolao da sentena mas o autor ignorava tal existncia j de conhecimento do autor mas impossvel de se obter (independente de sua vontade). O documento novo deve ser obtido depois da deciso que se quer rescindir (sentena ou acrdo) e desde que pudesse ser lcito parte utilizar-se do documento. Assim, se se busca rescindir RE ou RESP onde no se pode discutir matria probatria, de nada adiantaria

o

CPC italiano: ...fatto risultante dagli atti ...: sentena que que se funda em erro de fato que ressalta, emerge, transparace

dos autos. no se refere a qualquer ato mas o que vicie ou invalide a sentena: admite um fato existente que no ocorreu; considera inexistente um fato que existiu; deve-se perceber o vcio da sentena pelo mero exame dos documentos sem necessidade de qualquer produo de prova. no deve ter havido controvrsia ou qq provimento judicial sobre o fato (sua alegao foi feita e nenhuma das partes e nem o juiz se manisfestou a respeito dele).

* Material inspirado em Crise dos Recursos http://d1332362.u38.igempresas.ig.com.br/downloads/Aulas_de_DPCII.doc

DIREITO PROCESSUAL CIVIL II

RESUMO DE AO RESCISRIA 2010/1

PROFESSORA: LETCIA CALDERARO *

Legitimidade (487)

partes MP o

quando sua interveno foi obrigatria e no ocorreu. o art. 485, III - coluso das partes. 3 juridicamente interessado o o que poderia ter atuado como assistente no processo o o litisconsorte necessrio que no atuou no processo original. O plo passivo ser ocupado por todos aqueles que integraram o feito no processo original: se proposta pelo MP sero rus o autor e o ru do processo original, tratando-se de litisconsrcio necessrio. Ser o litisconsrcio unitrio no juzo rescidendo e simples no

rescisrio.

Procedimento( 488 a 494)

perante o tribunal competente: PI com dois pedidos rescindente e o rescisrio)

(o

Depsito de 5% a ttulo de multa se o pedido for julgado improcedente unanimidade ou extinto sem julgamento de mrito. Unio, Estados, Municpios, DF e MP, DP e justia gratuita esto dispensados do depsito.

Citao o em 15 dias para defesa (contestao, excees e reconveno)

Procedimento ordinrio o audincia o produo de provas pelo juzo da comarca onde se encontrem expedio de cartas de ordem.

* Material inspirado em Crise dos Recursos http://d1332362.u38.igempresas.ig.com.br/downloads/Aulas_de_DPCII.doc

Conceito ? a forma de impugnar uma ao judicial transitada em julgado, para desconstituir a coisa julgada material. Ao de competncia originria dos tribunais por meio do qual se pede a anulao ou desconstituio de uma sentena ou acrdo transitado materialmente em julgado e a eventual reapreciao do mrito. A sentena de mrito no pode ser anulada por ao anulatria, sentena de mrito deve ser impugnada por ao rescissria, conforme prev o artigo 485 do Cdigo de Processo Civil. A sentena meramente homologatria e a sentena terminativa no podem ser impugnadas por meio de ao rescisria, nesses casos, cabem apenas os recursos conforme previsto na lei. O artigo 485 descreve os fundamentos (rol taxativo) que podem ensejar a ao rescisria, quando na sentena definitiva houver: a) prevaricao, concusso ou corrupo do juiz da causa; b) juiz impedido ou absolutamente incompetente; c) dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou conluio com objetivo de fraudar a lei; d) ofensa coisa julgada; e) violao literal disposio de lei; f) baseada em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal, ou seja, provada na prpria ao rescisria;

g) fundamento para invalidar confisso, desistncia ou transao, em que baseou a sentena; h) documento novo, depois da sentena, cuja existncia a parte ignorava ou no pode fazer uso, capaz, por si s, de lhe assegurar pronunciamento favorvel. Legitimidade ativa ? pode ajuizar a ao rescisria a parte ou seu sucessor a ttulo singular ou universal, o terceiro interessado e o ministrio pblico ( quando o MP no foi ouvido ou houve conluio da parte, a fim de fraudar a lei. Legitimidade passiva ? o beneficirio da sentena de mrito. O MP pode ser em casos especficos. Competncia ? somente os tribunais tm competncia para rescindir sentena ou acrdo. No caso seria o tribunal que apreciaria o recurso da ao. Prazo ? dois anos, contados do trnsito em julgado da sentena ou acrdo rescindvel. Este prazo decadencial. Alguns aspectos da ao rescisria ? a) a propositura da ao rescisria no suspende a execuo da sentena rescindenda; b) na ao rescisria a revelia no opera seus efeitos; c) admite-se rescisria de rescisria; d) MP funcional como fiscal da lei; e) quando o tribunal rescinde a sentena, se for o caso, proferir novo julgamento; f) a citao do ru ser de 15 a 30 dias para responder aos termos da ao; f) aps a instruo, o relator abrir o prazo de 10 dias para manifestao do autor e do ru; g) ao rescisria no recurso; h) o autor tem que depositar 5% da ao rescisria; i) o juiz de primeiro grau no tm competncia para rescindir a sentena; j) a competncia para julgar a ao rescisria especificada nos regimentos internos dos tribunais; l) ao rescisria visa desconstituir coisa julgada material, na coisa julgada formal cabe recurso; m) a sentena rescindvel, no nula, apenas anulvel; n) o fundamento da ao rescisria o vcio formal ou substancial da sentena de mrito. Resumo baseado no esquema apresentado pelo Desembargador Elpdio Donizetti, no livro ?Curso Didtico de Direito Processual Civil?, Editora Del Rey.

Atualmente, pode-se asseverar que a ao rescisria ainda o nico instrumento legal disponvel no nosso ordenamento jurdico que possibilita ao jurisdicionado excepcionalmente desconstituir a coisa julgada material. Tanto isso verdade que, fora das hipteses taxativamente

expressas no art. 485 do CPC, a coisa julgada material ainda imutvel, haja vista que est acobertada pela autoridade da coisa julgada.E, importante no se olvidar que, apesar da tendncia atualmente demonstrada pela doutrina e at mesmo pela jurisprudncia ptria, no sentido de relativizar, em outras hipteses, a coisa julgada material, vale ressaltar que ainda prevalece o valor segurana jurdica sobre o valor justia da deciso!

Em virtude da relevncia que tem a ao rescisria no ordenamento jurdico nacional, em nosso sentir, faz-se mister trazer a lume e esclarecer alguns equvocos cometidos pelo legislador ptrio ao redigir o art. 485 da nossa Lei Adjetiva Civil, objetivando evitar que interpretaes apressadas venham a restringir o exerccio desse importante meio de impugnao aos jurisdicionados.Preliminarmente, apenas a ttulo de esclarecimento, vale lembrar que a ao rescisria no um recurso! um meio autnomo de se impugnar uma deciso judicial j transitada em julgada. Para evitar confuso entre esses dois meios de impugnao, oportuno ter sempre em mente um bom conceito de recurso. Entendemos ser o recurso um nus processual consistente no exerccio do duplo grau de jurisdio por qualquer uma das partes de uma lide (jurisdio contenciosa), ou, qualquer um dos interessados, no caso de um conflito de interesses (jurisdio voluntria), via de regra, atravs da provocao do rgo jurisdicional hierrquico imediatamente superior ao que prolatou a deciso impugnada, objetivando sanar um inconformismo com a reapreciao da referida deciso dentro do prazo legal, antes que a mesma transite em julgado. O primeiro ponto a ser tratado o caput do art. 485 do CPC. Ao se interpretar este dispositivo, imprescindvel considerar que o legislador, ao redigi-lo, disse bem menos do que queria, ou, pelo menos, do que deveria dizer, pois, procedendo a sua leitura: Art. 485. A sentena de mrito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: [...] e utilizando-nos do mtodo de interpretao literal, iremos, fatalmente, restringir o mbito de aplicao da ao rescisria apenas s sentenas de mrito, o que inexoravelmente inconcebvel! Dizemos inexoravelmente inconcebvel porque conceituamos sentena como o ato judicial tipicamente monocrtico, cuja finalidade resolver definitivamente uma questo de fundo dentro do processo, a qual, vale dizer, pode ou no ser a nica questo nuclear, essencial ou substancial sub examine na lide, e, por isso mesmo, tal ato judicial nem sempre pe fim ao processo, como levava a crer o conceito clssico legal de sentena (antigo artigo 162, 1. do CPC). Portanto, a partir do conceito de sentena acima apresentado, fica claro que, na verdade, no apenas a sentena de mrito que rescindvel.

So rescindveis todas as decises judiciais de mrito transitadas em julgado, o que inclui tanto as decises interlocutrias de mrito como os acrdos, desde que estejam eivados de qualquer um dos vcios taxativamente elencados no dispositivo legal em anlise. Ento, relevante saber o seguinte: para que uma deciso judicial possa ser impugnada atravs de ao rescisria, a exigncia legal que a deciso (monocrtica ou colegiada), eivada de um dos vcios do art. 485 do CPC, tenha apreciado o mrito da questo sub judice, e que a mesma esteja transitada em julgado, isto , faz-se mister que dessa deciso no caiba mais recurso ordinrio algum, enfim, necessrio que a deciso judicial j esteja acobertada pela autoridade de coisa julgada material (autoritas rei judicata). O segundo ponto a ser analisado o inciso VIII do art. 485, segundo o qual, a sentena de mrito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando houver fundamento para invalidar confisso, desistncia ou transao, em que se baseou a sentena. Aqui, nota-se que o legislador nacional utilizou o vocbulo desistncia equivocadamente neste dispositivo, pois, deveria ter se referido renncia, haja vista que, juridicamente falando, a desistncia enseja a extino do processo sem resoluo de mrito, conforme dispe o artigo 267, inc. VIII do CPC, o que contraria totalmente a principal exigncia legal feita pelo prprio legislador, qual seja, a existncia de uma deciso de mrito. Neste caso, devemos ter em mente que, havendo desistncia, h toda possibilidade de re-propositura da ao, simplesmente porque no h formao da coisa julgada material. Portanto, indubitvel que a expresso est tecnicamente incorreta, e, que, para fins de cabimento da ao rescisria, devemos considerar a expresso renncia, pois, esta sim, culmina numa deciso de mrito. Tendo em vista que, nessa hiptese, o autor renuncia ao direito sobre o qual se funda a ao, e o pedido julgado improcedente ensejando a extino do processo com resoluo de mrito, conforme preceitua o artigo 269, inc. V do CPC, e, fazendo, conseqentemente, coisa julgada material. Ento, sendo assim, na presena de formao da coisa julgada material, conclui-se que o autor ficar impossibilitado de propor novamente a ao, e, caso queira desconstituir essa deciso por ter fundamento que invalide a renncia na qual se baseou a deciso, dever utilizar-se, necessariamente, da ao rescisria. Ainda no tocante ao inciso VIII do art. 485 do CPC, percebe-se outra impreciso do legislador, quando ele se refere transao em que se baseou a sentena, pois, cedio que, uma sentena, tecnicamente, jamais pode se basear numa transao! O que ocorre aqui, no mximo, uma homologao da transao pela sentena. Portanto, pela inteligncia do artigo 486 do CPC, pode-se concluir que, havendo qualquer vcio na transao, a ao cabvel para impugnar a

sentena homologatria a ao anulatria e no a ao rescisria, pois, ao prolatar sentena homologatria, nesse caso tambm, o juiz no proferiu sentena de mrito, uma vez que no decidiu sobre o mrito da questo, mas to somente homologou um ato praticado entre as partes, qual seja: a transao; no havendo, pois, o que se falar em coisa julgada material.

Estes breves apontamentos tm como objetivo precpuo apenas pr em evidncia alguns aspectos relevantes sobre o art. 485 do CPC, mais especificamente as imprecises e os equvocos cometidos pelo legislador, ao disciplinar a ao rescisria. Aspectos estes que, ao nosso ver, no podem ser desprezados pelo operador do Direito, sob pena de vir a restringir por demais o mbito de aplicao desse precioso meio autnomo de impugnao das decises judiciais, que, quando bem utilizado, de grande valia para o jurisdicionado.

A Homologao de sentena estrangeira no Brasil e a competncia internacional concorrente

Andr Lus Ferreira,

RESUMO: Este artigo trata da homologao de sentena no Brasil, seus requisitos e procedimentos, do problema da inexistncia de litispndencia internacional, da competncia concorrente e suas conseqncias. Palavras-chave: homologao, sentena, litispendncia, internacional, competncia. Sumrio: 1. Introduo; 2. Procedimento; 3. Requisitos; 4. A competncia concorrente. 1. Introduo A atribuio de valor jurdico aos atos praticados no estrangeiro constitui verdadeiro corolrio do princpio internacional de respeito mtuo entre os Estados, aplicando em um pas o que se consolidou em outro sistema jurdico. Entretanto, h que atentar para as peculiaridades existentes nas diferentes ordens jurdicas vigentes nos pases do globo, vinculadas s origens histricas, tradies e religio das sociedades que nas quais aquelas se inserem. Se por um lado o que se deseja conferir o mximo de efetividade ao direito adquirido fora do Estado recepcionante, por outro esta efetividade sempre estar condicionada ordem pblica local e a existncia de institutos correlatos, no apenas materiais, mas tambm processuais. Assim, no possvel a homologao de sentena estrangeira que determina o cumprimento de um contrato de servido, porque instituto repudiado por nosso direito. Da mesma forma, chocante seria admitir o divrcio por repdio, ou seja, unilateral, praticado legalmente nos pases de tradio muulmana, onde o marido devolve a esposa, mesmo contra a vontade desta, ao lar paterno. Mesmo o sistema de recepo de sentenas estrangeiras no universal, ou seja, cada pas atribui uma valorao distinta s decises aliengenas. H os que praticam a reciprocidade, recepcionando as decises sem demais formalidades, h os que emprestam carter meramente probatrio aos provimentos estrangeiros e, por fim, h os que conferem sentena estrangeira a mesma eficcia da deciso nacional, mediante um prvio juzo de deliberao por meio do qual se atesta o cumprimento dos requisitos necessrios nacionalizao do pronunciamento judicial para posterior conferimento de eficcia executiva. O Brasil adota este ltimo sistema, como dispe expressamente o art. 483 do CPC. O mrito da ao j est decidido, e a deciso jurdico-internacional respeitada. Contudo, sua execuo no pode afrontar nossa soberania, ordem pblica e bons costumes, nos termos definidos nos art. 15 a 17 da LICC.

O procedimento de homologao de sentena estrangeira de competncia do STJ, de acordo com a emenda 45/2004 (art. 105, alnea i, CF). Antes disso, era de competncia do STF e regulado pelos artigos 217 a 224 de seu regimento interno. 2. Procedimento A competncia para homologao do presidente do STJ, deciso da qual cabe agravo para o plenrio. O procedimento inaugura-se com petio do interessado na homologao, aps o que h a citao do requerido para contestar. Superada a impugnao ou no a havendo, extrada dos autos carta de sentena e enviada ao juzo federal competente, por distribuio, segundo o art. 109, X da CF, para a execuo, obedecida neste processo a legislao brasileira. A cognio no exauriente ou plenria, uma vez que a causa encontra-se decidida em tribunal estrangeiro. Por esta razo, limita-se a defesa impugnao da autenticidade dos documentos, ao alcance da deciso e aos requisitos de homologabilidade. 3. Requisitos Em primeiro lugar, a deciso deve ter sido proferida por juzo competente. Observa-se se no houve invaso de matria de competncia exclusiva da justia brasileira, nos termos do art. 88 e 89 do CPC, bem com se no foi produzida por tribunal de exceo. As partes devem ter sido validamente citadas ou sofrido revelia vlida. importante salientar que o sistema processual brasileiro consagra, para citao de pessoa que se encontra fora de territrio nacional, o procedimento da carta rogatria. A carta rogatria ativa, ou seja, ordem de citao ou intimao proveniente de autoridade do Poder Judicirio ptrio, ser remetida por via postal, ou entregue ao DRCI[1] pelo juiz competente ou pelo interessado, que pode ser a prpria parte, seu advogado ou procurador. O DRCI, ao receber a carta rogatria, analisar se esta preenche os requisitos legais. Caso no os preencha, ser devolvida, mediante ofcio, ao juzo rogante, com a solicitao de que a medida seja devidamente instruda. Esta diligncia poder ser repetida, at que sejam atendidas as formalidades indispensveis ao cumprimento da carta rogatria no pas destinatrio. Caso a carta rogatria esteja instruda adequadamente, o DRCI a encaminhar, por via postal, autoridade central do juzo rogado, na hiptese de existir acordo internacional, ou Diviso Jurdica do Departamento Consular e Jurdico do Ministrio das Relaes Exteriores, para que a transmita, por via diplomtica, ao pas destinatrio. O DRCI aguardar o retorno da carta rogatria, cumprida ou no, que provm da autoridade central ou do Ministrio das Relaes Exteriores (Diviso Jurdica do Departamento Consular e Jurdico). Em qualquer hiptese, restitui se o processo, por ofcio, ao juiz rogante. As cartas rogatrias passivas, oriundas das justias estrangeiras, so recebidas por via diplomtica, no Ministrio das Relaes Exteriores, que as transmite diretamente ao Presidente do STJ, para a concesso do exequatur[2].

Em vista disso, a ausncia de citao por rogatria da parte residente no estrangeiro constituir verdadeiro impedimento homologao da sentena no Brasil, ainda que o outro sistema jurdico admita a variante. Estaria criado um paradoxo: em sua origem, a deciso seria absolutamente vlida e produziria seus feitos em relao a parte que se encontra no Brasil, mas esta jamais teria seus direitos afetados em solo ptrio. 4. A competncia concorrente Outro importante requisito a necessidade da sentena ter passado em julgado, ou seja, haver deciso definitiva, esgotados todos os recursos cabveis. Em espanhol utiliza-se a expresso se encontra firme. Problema interessante o da litispendncia, analisada do mbito transnacional. Ressalte-se que no Brasil no ocorre a chamada litispendncia internacional, segundo o disposto no art. 90 do CPC[3]. O processo no se extinguir pelo simples fato de haver outro idntico tramitando no exterior. Por sua vez, tomando como exemplo o ordenamento luso, na chamada competncia internacional de seus tribunais, este estabelece critrios que podem gerar a dualidade de processos, conforme se depreende do disposto no artigo 65 do CPC portugus: CAPTULO II Da competncia internacional ARTIGO 65. (Factores de atribuio da competncia internacional) 1 Sem prejuzo do que se ache estabelecido em tratados, convenes, regulamentos comunitrios e leis especiais, a competncia internacional dos tribunais portugueses depende da verificao de alguma das seguintes circunstncias: a) Ter o ru ou algum dos rus domiclio em territrio portugus, salvo tratando-se de aces relativas a direitos reais ou pessoais de gozo sobre imveis sitos em pas estrangeiro; b) Dever a aco ser proposta em Portugal, segundo as regras de competncia territorial estabelecidas na lei portuguesa; c) Ter sido praticado em territrio portugus o facto que serve de causa de pedir na aco, ou algum dos factos que a integram; d) No poder o direito invocado tornar-se efectivo seno por meio de aco proposta em territrio portugus, ou constituir para o autor dificuldade aprecivel a sua propositura no estrangeiro, desde que entre o objecto do litgio e a ordem jurdica nacional haja algum elemento ponderoso de conexo, pessoal ou real.

2. Para os efeitos da alnea a) do nmero anterior, considera-se domiciliada em Portugal a pessoa colectiva cuja sede estatutria ou efectiva se localize em territrio portugus, ou que aqui tenha sucursal, agncia, filial ou delegao. Por sua vez, em se tratando de ao de divrcio, o artigo 75 do referido diploma determina: ARTIGO 75. (Divrcio e separao) Para as aces de divrcio e de separao de pessoas e bens competente o tribunal do domiclio ou da residncia do autor. Tendo em vista o ordenamento processual portugus e brasileiro, claro est que h possibilidade das partes em um divrcio, domiciliadas em ambos pases, poder intentar aes idnticas concomitantemente, gerando um conflito positivo de jurisdio. O que se verifica que, no caso de aes se processando em paralelo, a parte que encontre soluo mais favorvel e a obtiver primeiro, poder tentar homolog-la. Uma vez atingido este intento, estaria criada a coisa julgada que, esta sim, implicaria na extino do processo ainda em andamento. No difcil vislumbrar tais situaes. Cabe lembrar que o sistema jurdico portugus tambm contempla a citao de pessoas residentes no estrangeiro por carta registrada, o que torna o processo extremamente gil se comparado com o meio moroso consagrado em nosso CPC[4]. Claro est que, em princpio, tal deciso no seria homologvel por afrontar nosso sistema processual vigente, como a macia jurisprudncia de nosso STF sempre preconizou e nosso STJ acolheu[5]. Contudo, a parte que eventualmente possua bens ou direitos em territrio luso, receosa dos efeitos perniciosos de sua ausncia no curso do processo, certamente ingressar nos autos, suprindo esta deficincia a arriscando-se sob o plio de um juzo desconhecido, pois em Portugal este processo estaria perfeitamente vlido, e a sentena resultante produziria todos seus efeitos legais. Tendo em vista a possibilidade de competncia internacional concorrente, resta a parte que estiver domiciliada no Brasil, se nada recear dos efeitos da sentena no estrangeiro, aguardar o trmite da homologao, para impugn-la pela falta da citao vlida, impugnao esta que, acolhida, permitir o prosseguimento do processo gmeo em territrio nacional, at sua ultimao.Notas:

[1] Departamento de Recuperao de Ativos e Cooperao Jurdica Internacional, criado por meio do Decreto n. 4.991, de 18 de fevereiro de 2004. rgo subordinado Secretaria Nacional de Justia (SNJ) do Ministrio da Justia. O Departamento tem como principais funes analisar cenrios, identificar ameaas, definir polticas eficazes e eficientes, bem como desenvolver cultura de combate lavagem de dinheiro. Essas

funes tm como objetivo a recuperao de ativos enviados ao exterior de forma ilcita e de produtos de atividades criminosas, tais como as oriundas do trfico de entorpecentes, do trfico ilcito de armas, da corrupo e do desvio de verbas pblicas. Alm disso, o DRCI responsvel pelos acordos internacionais de cooperao jurdica internacional, tanto em matria penal quanto em matria civil, figurando como autoridade central no intercmbio de informaes e de pedidos judiciais por parte do Brasil. [2] Compete ao Superior Tribunal de Justia (STJ) artigo 105, inciso I, alnea i, da CRFB/88 a concesso do exequatur s cartas rogatrias, isto , o despacho que ordena a exeqibilidade, no Brasil, de diligncia judicial oriunda do estrangeiro. [3] [4] Art. 247 (citao do residente no estrangeiro) 1.Quando o ru resida no estrangeiro , observar-se- o que estiver estipulado nos tratados e convenes internacionais. 2. Na falta de tratado ou conveno, a citao feita por via postal, em carta registada com aviso de recepo, aplicando-se as determinaes do regulamento local dos servios postais. (... omissis). [5] STF. SEC 7696/ HL - REINO DOS PASES BAIXOS. SENTENA ESTRANGEIRA CONTESTADA Relator(a): Min. MARCO AURLIO Julgamento: 23/09/2004 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 12-11-2004 PP-00006 EMENT VOL-02172-02 PP-00199 Ementa: SENTENA ESTRANGEIRA - HOMOLOGAO - AUSNCIA DE CITAO. A citao de pessoa domiciliada no Brasil h de fazer-se mediante carta rogatria, no prevalecendo, ante o princpio direcionado ao real conhecimento da ao proposta, intimao realizada no estrangeiro. Inexistente a citao, descabe homologar a sentena. Precedentes: Sentenas Estrangeiras nos 3.495, 3.534, 4.248, 4.307, 6.122 e 6.304, relatadas, respectivamente, pelos ministros Octavio Gallotti, Sydney Sanches, Carlos Velloso, Paulo Brossard e, as duas ltimas, pelo ministro Seplveda Pertence. Votao: unnime. Resultado: indeferida a homologao. Acrdos citados: SE-3495 (RTJ115/1089), SE-3534 (RTJ-117/57), SE-4248 (RTJ-138/471), SE-4307 (RTJ-141/113), SEC-6122 (RTJ-176/680), SEC-6304 (RTJ-179/1032). Reqte.: Paulo Csar Alves Almeida. Reqdo.: Sociedade Esportiva Palmeiras. Nesse sentido, vide tambm STJ, SEC 861 /ex; sentena estrangeira contestada 2005/0031335-3

O mbito Jurdico no se responsabiliza, nem de forma individual, nem de forma solidria, pelas opinies, idias e conceitos emitidos nos textos, por serem de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).

HOMOLOGAO DE SENTENA ESTRANGEIRAA. CONCEITOS E PRINCPIOS BSICOS Conforme o direito costumeiro internacionali[1], nenhum Estado est obrigado a reconhecer no seu territrio uma sentena proferida por juiz ou tribunal estrangeiroii[2]. Na prtica, porm, os Estados, em regra, reconhecem sentenas estrangeiras, desde que cumpridos determinados requisitos legais na espcieiii[3]. Normalmente, no se reexamina o mrito ou o fundo da sentena estrangeirasiv[4], isto , no objeto de cognio da autoridade judiciria interna a aplicao correta do direito pelo juiz aliengena. A sentena estrangeira somente no ser reconhecida quando ferir a ordem pblica, violando princpios fundamentais da ordem jurdica internav[5]. Uma sentena estrangeira apenas pode ter os efeitos jurdicos dentro do territrio nacional que lhe concede o pas de origemvi[6]. Mas esses efeitos jurdicos jamais podem iralm daqueles que um pas admite para as sentenas proferidas pelos juzes, com base na lex forivii[7]. Dessa forma, a sentena estrangeira, aps o seu reconhecimento, estar, no mximo, apta a produzir os mesmos efeitos jurdicos de uma sentena nacional. Quais, especificamente, so estes efeitos jurdicos? Trata-se, notadamente, dos efeitos jurdicos da coisa julgadaviii[8], da interveno de terceirosix[9] e das prprias sentenas constitutivas, condenatrias e declaratrias de procedncia estrangeira em si mesmas, perante a ordem jurdica internax[10]. Se, p. ex., conforme o direito de um pas estrangeiro, a questo prejudicial tambm fizer coisa julgada, uma sentena estrangeira, reconhecida no Brasil, no apta para surtir os efeitos jurdicos da coisa julgada quanto questo prejudicial, decidida incidentemente, posto que, segundo o direito brasileiroxi[11], isso no ser possvel. Neste captulo examinaremos o reconhecimento das sentenas estrangeiras. O termo possui afinidades com aquele da execuo de sentenas estrangeiras, porm, no devem ser confundidos. Quando o reconhecimento de uma sentena estrangeira for impossvel, o mesmo ocorrer com a sua execuo. Por outro lado, apenas as sentenas condenatriasxii[12] so exeqveisxiii[13]. Uma vez reconhecida uma sentena condenatria estrangeira, existe a possibilidade de execut-la conforme o procedimento previsto na lei do pas em que se requer instaurar o processo executrio. No Brasil, as normas correspondentes situam-se na Constituio Federalxiv[14], noCdigo de Processo CiVilxv[15] e no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federalxvi[16].

Com o fito de assegurar o reconhecimento e a execuo mtua das decises dos seus tribunais, muitos Estados ratificaram tratados internacionais bi e multilaterais especficosxvii[17]. Na Amrica Latina, destaca-se, sobretudo, a Conveno Interamericana sobre Eficcia Extraterritorial das Sentenas e Laudos Arbitrais Estrangeiros, de 8 de maio de 1979xviii[18].

Mencione-se, outrossim, que entre os vrios pases da Amrica Latina vigoram tratados bilaterais sobre a mesma matriaxix[19]. O Brasil tambm ratificou alguns tratados desse tipoxx[20], entre os quais a Conveno de Cooperao Judiciria em Matria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa, de 30 de janeiro de 1981, celebrada com a Franaxxi[21]. Dentre as convenes multilaterais que se referem ao reconhecimento e execuo de sentenas estrangeiras, o Brasil ratificou a Conveno de Nova Iorque sobre a Prestao de Alimentos no Estrangeiroxxii[22], de 20 de junho de 1956. Pode ocorrer, eventualmente, que os pressupostos do reconhecimento de uma sentena estrangeira, conforme um tratado internacional, sejam mais rgidos em relao queles da legislao de origem interna. Nesses casos, a doutrina postula, com razo, a aplicao da legislao mais liberal de origem internaxxiii[23].Na ausncia de tratados internacionais, aplica-se o direito de origem interna. No Brasil, indispensvel o pronunciamento do Judicirio sobre o reconhecimento de qualquer sentena estrangeira no pas, sendo empregado o termo homologaoxxiv[24] para designar este ato judicial.

B. HOMOLOGAO DA SENTENA ESTRANGEIRA NO DIREITO BRASILEIROConforme o direito brasileiro, a sentena proferida por juiz ou tribunal estrangeiro somente ser eficaz no pas aps a sua homologao pelo Supremo Tribunal Federal ou seu Presidente. As respectivas normas situam-se na Constituioxxv[25], no Cdigo de Processo Civilxxvi[26], na Lei de Introduo ao Cdigo Civilxxvii[27] e no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federalxxviii[28].Note-se que a doutrinaxxix[29] e a jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal aperfeioaram e evoluram as regras jurdicas sobre a homologao da sentena estrangeira no Brasil, e isso de tal modo, que a grande maioria das antigas controvrsias encontram-se superadas atualmente. A finalidade do processo homologatrio, no Supremo Tribunal Federal, o reconhecimento da eficcia jurdica da sentena estrangeira perante a ordem jurdica brasileira. Homologveis so, segundo a lei, apenas sentenas estrangeiras, no importando se se trata de sentenas declaratrias, constitutivas ou condenatrias. Todo tipo de sentena estrangeira est sujeita, no Brasil, homologao pelo Supremo Tribunal Federal. Entre as decises estrangeiras homologveis filiam-se tambm aquelas da "jurisdio voluntria", bem como os laudos arbitraisxxx[30]. Igualmente, decises estrangeiras em processos cautelares so equiparadas s sentenas estrangeiras, necessitando a prvia homologao para que possam ser cumpridas no Brasilxxxi[31]. Nesse contexto, cumpre realar algumas peculiaridades da homologao de medidas cautelares, decretadas por uma autoridade judiciria estrangeira. Conforme a sistemtica utilizada pelo Cdigo de Processo Civil brasileiroxxxii[32], uma medida cautelar cabe dentro do conceito de sentena xxxiii[33]. Porm o regime jurdico das medidas cautelares, perante o direito processual civil internacional, em regra, examinado separadamente das demais sentenasxxxiv[34]. Com esse teor, a Conferncia Especializada Interamericana de Direito Internacional Privado elaborou a Conveno Interamericana sobre Eficcia Extraterritorial das Sentenas e Laudos Arbitrais Estrangeiros, de 8 de maio de 1979xxxv[35], bem como a Conveno Interamericana sobre o Cumprimento de Medidas Cautelares, de mesma dataxxxvi[36], ambas no ratificadas pelo Brasil.

Ao contrrio da sentena, pela qual o juiz pe termo ao processo principal, decidindo ou no o Mrito da Causaxxxvii[37], a medida cautelar visa a uma tutela

provisria de direitos em face de um processo principal com o fito de eliminar a ameaa do perigo de prejuzo iminente e irreparvel ao interesse tutelado no processo principalxxxviii[38]. Para que a tutela jurisdicional seja completa, garantindo-se s partes o devido processo legal em processos com conexo internacional, as medidas cautelares estrangeiras devem ser suscetveis de homologao pelo Supremo Tribunal Federal, como a doutrina nacional. Para os efeitos jurdicos da homologao, a medida cautelar equiparada a uma sentena estrangeira, por estar sujeita ao processo homologatrio perante o Supremo Tribunal Federal; assim ocorrendo, adquire eficcia.jurdica no pasxxxix[39]. Por outro lado, uma medida cautelar no poder ser cumprida aqui no Brasil mediante simples carta rogatria, visto que quaisquer atos executrios no so passveis de cumprimento, sem a prvia homologao pelo Supremo Tribunal Federal, das decises judiciais estrangeiras em que se baseiemxl[40]. Obviamente, uma medida cautelar estrangeira, tambm, nunca poder ser homologada quando violar a ordem pblicaxli[41]. A questo do reconhecimento das medidas cautelares estrangeiras pela ordem jurdica interna atualmente, objeto de debate intenso na doutrina estrangeirexlii[42]. Sendo pacfico que o direito brasileiro quem unicamente determina quais as decises judiciais estrangeiras homologveis pelo Supremo Tribunal Federal, toma-se irrelevante, consoante o ordenamento estrangeiro, atribuir-se deciso estrangeira, a ser homologada no Brasil, as caractersticas de uma sentena. Se contiver os requisitos de uma sentena, dever ser examinado exclusivamente luz do direito brasileiroxliii[43]. Por essa razo, esto sujeitas homologao, p. ex., decises estrangeiras referentes a divrcios por mtuo consentimento, mesmo quando realizados no exterior, perante um rgo administrativo em conformidade com o sistema jurdico do pas de origemxliv[44]. Por outro lado, obviamente, no se cuidando de sentenas estrangeiras, ttulos executivos extrajudiciais, como letras de cmbio e notas promissrias de procedncia estrangeira, no dependero de homologao para serem executadas no Brasil, desde que os requisitos de formao, exigidos pela lei do lugar da sua celebrao, estejam cumpridos e indiquem o Pas como o lugar de cumprimento da obrigaoxlv[45]. A sentena estrangeira ter eficcia no Brasil somente aps a sua homologao pelo Supremo Tribunal Federal ou seu Presidentexlvi[46]. A eficcia, no sentido da lei, abrange toda eficcia jurdica da sentena como ato decisrio, no se limitando apenas ao seu efeito de execuoxlvii[47]. Anteriormente homologao, a sentena estrangeira pode surtir efeitos jurdicos no territrio nacional meramente para fins probatrios, e tal apenas como documento. Entretanto, controverte-se na doutrina qual a sua fora probantexlviii[48]. O Supremo Tribunal Federal ou o seu Presidente o rgo competente para homologar uma sentena estrangeira no Brasilxlix[49]. A concentrao dessa competncia, perante um nico rgo jurisdicional, favorece a produo de uma jurisprudncia uniforme e assim, tambm, a certeza de direito (securit de droit, Rechtssicherheit). A natureza do processo de homologao da sentena estrangeira jurisdicional, e aquele que provoca a atividade jurisdicional prope uma verdadeira ao, a ao homologatria com rito especial perante o Supremo Tribunal Federall[50]. Legitimada , para propor a ao homologatria, a parte interessadali[51]. Esta ser qualquer pessoa perante a qual a sentena homologada possa surtir efeitos jurdicos no Brasil. Alm das partes do processo estrangeiro ou seus sucessores, tambm o terceiro,

porventura atingido juridicamente pela sentena proferida por juiz ou tribunal estrangeiro, pode ter esse mesmo interesselii[52]. A parte legitimada, conforme o seu interesse peculiar, pode requerer a homologao total ou parcial da sentena estrangeiraliii[53]. Nesse sentido, pacfica a jurisprudncia do Supremo Tribunal Federalliv[54]. Por outro lado, a sentena proferida por juiz ou tribunal estrangeiro, homologada pela Suprema Corte, apenas pode ter, no Brasil, a eficcia jurdica que lhe atribua o ordenamento jurdico de origemlv[55]. Por esta razo, p. ex., uma sentena estrangeira de anulao de casamento que fere a ordem pblica brasileira no homologvel como sentena de divrcio, mesmo quando os requisitos legais para tal, na espcie, estejam cumpridos no Brasillvi[56]. Se o pedido homologatrio for indeferido, nada impede parte interessada renov-lo e com ele apresentar os requisitos legais necessrios homologaolvii[57]. A funo judiciria do Supremo Tribunal Federal no processo de homologao limita-se a observar se o julgado proferido no estrangeiro coaduna-se com os princpios bsicos do direito vigentes no Brasil. Por tal razo, em princpio, no permitido discutir o mrito da sentena estrangeira para o fim de sua homologaolviii[58]. No ser homologada no Brasil a sentena que ofenda a soberania nacional, a ordem pblica e os bons costumeslix[59]. A frmula, tradicionalmente empregada, no Brasil, diz que a cognio do Supremo Tribunal Federal limita-se, to-somente, ao exame dos casos em que a sentena estrangeira, na espcie, viola a ordem pblica brasileiralx[60]. A ordem pblica considera-se violada quando o contedo da deciso proferida pelo juiz ou tribunal estrangeiro, ou o procedimento judicial que deu ensejo a prolao da sentena, for incompatvel com os princpios fundamentais da ordem jurdica ptria. Assim, devem ser diferenciados, no processo de homologao, os requisitos materiais dos processuais, necessrios para que a sentena estrangeira possa ter eficcia jurdica no Brasil. A lei exemplifica os requisitos processuais para a homologao da sentena estrangeiralxi[61]; porm, qualquer violao da ordem pblica, ocorrida durante o processo no estrangeiro, conduz, inarredavelmente, ao indeferimento do pedido homologatrio pelo Supremo Tribunal Federal.Na jurisprudncia do Supremo Tribunal so raros os casos em que a Corte indefere o pedido homologatrio, por considerar violada a ordem pblica em virtude de motivos de direito materiallxii[62]. Quando o Supremo Tribunal Federal denega a homologao da sentena estrangeira, esta, na grande maioria dos casos, no atende a requisitos processuais, cuja observncia no processo so indispensveis, segundo o direito brasileiro. Constitui requisito bsico homologao da sentena estrangeira, a competncia do juiz estrangeirolxiii[63].Trata-se de competncia indireta, j que do seu exame pelo Supremo Tribunal Federal depender a homologao da sentena estrangeira no pas, sendo denegada quando a justia brasileira, de acordo com a legislao em vigor no pas, seja internacionalmente competente, com excluso de qualquer outra autoridade judiciria no estrangeirolxiv[64]. Ademais, a homologao da sentena estrangeira no prosperar nos casos de competncia concorrente da justia brasileira quando, conforme o direito ptrio, lcito ao ru recusar a jurisdio estrangeiralxv[65]. A citao regular da parte domiciliada no Brasil, perante um processo instaurado no estrangeiro, de suma relevncia na prticalxvi[66]. Se o ru tiver domiclio no Brasil e este for certo e sabido, o direito brasileiro s admitir a citao mediante carta rogatria com exequatur concedido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal, e outra no poder ser a forma processual aplicvel, posto violar a ordem pblica brasileiralxvii[67].

Em conseqncia, o pedido de homologao ser indeferido se a citao ocorrer por editallxviii[68], por via postallxix[69], por intermdio dos advogados do autorlxx[70] e por repartio consular ou diplomtica de pas estrangeiro no Brasillxxi[71]. Entretanto, supre-se a falta da citao regular quando a prpria parte, no chamada ao processo no exterior, for a requerente da homologao da sentena estrangeiralxxii[72]. O mesmo ocorrer se o ru aceitou como eficaz a sentena proferida por juiz estrangeiro e no contestou a ao homologatria referente quela decisolxxiii[73]. A jurisprudncia admite, ainda, que o

comparecimento espontneo do rulxxiv[74], em processo do qual provenha a sentena estrangeira, afaste eventuais irregularidadeslxxv[75]. A mera troca de correspondncia privada entre as partes, durante o processo no exterior, no cumpre, porm, as exigncias da jurisprudncialxxvi[76]. Outros requisitos, indispensveis homologao da sentena estrangeira, so o seu trnsito e o seu revestimento das formalidades necessrias execuo no lugar em que foi proferidalxxvii[77]. O Supremo Tribunal Federal no homologa sentena proferida no estrangeiro sem a prova do seu trnsito em julgadolxxviii[78]. Segundo a Corte Suprema, essa exigncia considera-se j cumprida, se o trnsito em julgado da sentena estrangeira puder ser deduzido de fatos conclusivos dentro dos autoslxxix[79]. Indispensvel para a instruo da ao homologatria, ser ainda, a juntada da certido ou cpia autntica do texto integral da sentena estrangeiralxxx[80]. Fator imprescindvel homologao, , tambm, a condio da sentena estrangeira estar acompanhada de traduo oficial ou juramentadalxxxi[81]. Uma traduo feita por qualquer outro, que no seja tradutor juramentado no Brasil, no satisfaz as exigncias legaislxxxii[82], a no ser que se cuide de traduo feita por tradutor designado por juiz de direito no Brasil, em ateno s normas do Cdigo de Processo Civil em vigorlxxxiii[83]. A sentena estrangeira a ser homologada nunca pode prescindir da autenticao pelo cnsul brasileiro no pas de origemlxxxiv[84]. Para a autenticao ou legalizao, fazse igualmente necessrio que a sentena venha revestida das formalidades exteriores, segundo a legislao do pas em que foi prolatadalxxxv[85]. A sentena estrangeira deve ser inteligvel. Isso quer dizer que o documento, contendo a sentena estrangeira, bem como ela prpria, devem ser, no seu contexto, suficientemente explcitos, para que o Supremo Tribunal Federal possa compreender o julgado estrangeiro em todo o seu significado, existindo a necessidade, se for o caso, de vir acompanhado das peas complementareslxxxvi[86]. Por essa razo, no ser homologvel no Brasil a sentena estrangeira no fundamentada, cujo contedo no seja inteligvellxxxvii[87]. De modo geral, dever ser garantido s partes, no processo perante o juzo estrangeiro, o direito ao contraditriolxxxviii[88]. A par dos requisitos gerais, existem no direito brasileiro regras especficas para a homologao de sentena estrangeira de divrcio e de laudo arbitral estrangeiro. Com o advento do divrcio no Brasil, tambm a legislao sobre a homologao de sentena estrangeira de divrcio foi reformuladalxxxix[89]. A atual Constituio Federal facilitou ainda mais o reconhecimento do divrcio realizado no exterior, eliminando outros obstculos at ento existentesxc[90]. Nos casos que permitem a homologao do laudo arbitral estrangeiro pelo Supremo Tribunal Federal, requisito indispensvel que, este seja motivado e devidamente homologado pela Justia no lugar de origemxci[91].

E provvel que, em futuro no muito distante, as normas sobre a arbitragem no Brasil sejam modificadas. A tendncia da reforma legislativa facilitar a arbitragem no Pas de uma forma geral. Entre outras alteraes, est previsto que o laudo arbitral estrangeiro no mais precisar ser previamente homologado pela Justia do lugar de origem, para depois ser novamente homologado pelo Supremo Tribunal Federalxcii[92]. Regras particulares j vigoram em relao aos Estados que ratificaram a Conveno Interamericana sobre Arbitragem Comercial, de 30 de janeiro de 1975, pois o Brasil a promulgou mediante decreto presidencial recentemente (Decreto n. 1.902, de 9-5-1996, publicado no DOU de 10-5-1996).

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IV. DO RECURSO DE UNIFORMIZAO DE JURISPRUDNCIA, EM GERAL Tal como j foi explanado nas pginas 10 e 11 deste trabalho, a introduo do Recurso de Uniformizao de Jurisprudncia teve como finalidade a criao de um espao com capacidade para a produo de jurisprudncia que contribusse para factores de certeza e da segurana jurdica to essenciais ao ordenamento jurdico ()31. Podemos verificar que Portugal seguiu a recomendao do Conselho de Ministros do Conselho da Europa, que os recursos deveriam estar reservados aos processos que justificam um terceiro exame jurisdicional, como, por exemplo, os que contribuem para o desenvolvimento do direito ou a uniformizao da interpretao da lei. Os recursos poderiam ainda ser limitados aos casos que apresentam uma questo de direito com relevncia geral. Deveria ser exigido ao recorrente que exponha quais os motivos constantes do seu processo que exigem esse terceiro exame.32 Devendo ser entendido o recursos extraordinrio como o recurso de uma deciso j transitada em julgado, verificamos que actualmente o CPC classifica como recursos extraordinrios o recurso de reviso e o recurso de uniformizao de jurisprudncia, respectivamente, nos termos dos art.os 721. e ss. e art.os 763. e ss. 33 1. Possibilidade de um quarto grau de jurisdio? Refere Abrantes Geraldes que a possibilidade das partes interporem recurso para o Supremo Tribunal de Justia, nos termos do art. 763., facultando-se, na realidade, um quarto grau de jurisdio, vai originar um acrscimo no grau de litigiosidade e o prolongamento da instabilidade de acrdos proferidos ao mais alto nvel da estrutura judiciria.34

No seguimos esta opinio.31 V. 32 Cfr.

(GERALDES, 2008, p. 352). Recomendao n. R (95) 5, de 7-2-95, citada em (GERALDES, 2008, p. 353).

33 Vide, 34 Cfr.

nestes termos, (SOUSA M. T., 2007, p. 2); e (GERALDES, 2008, pp. 23, 24). (GERALDES, 2008, p. 450).

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Na senda de Lopes do Rego35, podemos verificar que o julgamento ampliado de revista conduziu a resultados prticos desanimadores, verificando-se uma verdadeira situao de no-uso (). Veja-se igualmente o entendimento de Antunes Varela, que referiu que sem o estmulo do interesse da parte vencida, o recurso [de uniformizao de jurisprudncia] no funcionar ou funcionar muito deficientemente36. que, enquanto no julgamento ampliado de revista, o Presidente do STJ que determina o julgamento do recurso com interveno das seces cveis, a pedido das partes ou por aco do dever do relator, nos termos do art. 732.-A, n.os 1 e 2, havendo por isso uma margem de discricionariedade37-38; j no Recurso de Uniformizao de Jurisprudncia, as partes podem interpor o recurso, havendo apreciao liminar por parte do relator. Da deciso do relator pode haver reclamao para a conferncia, nos termos do art. 767., n. 2 o poder de apreciar os requisitos de que depende [o recurso de uniformizao de jurisprudncia] pertence ao relator e respectivos adjuntos e no ao Presidente [do STJ]39. Neste caso, a lei no deixou ao Supremo qualquer margem de discricionariedade. Desde que se verifiquem os requisitos de natureza positiva e no ocorra o impedimento previsto no [art. 763.,] n. 3, restar ao Supremo, verificada que seja a situao de contrariedade de acrdos, admitir e tramitar o recurso extraordinrio.40

Parece-nos por isso que o legislador, atendendo ao no-uso do julgamento ampliado de revista, alargou a possibilidade das partes contriburem de forma mais activa para a segurana jurdica, para a uniformizao de jurisprudncia. Parece-nos, por isso, abalvel a argumentao de Abrantes Geraldes quando defende que o recurso em questo ser um quarto grau de jurisdio. que quanto melhores os acrdos uniformizadores de jurisprudncia forem, melhor a segurana jurdica e o acolhimento dos acrdos do Supremo pelas partes e sendo assim, segundo o disposto no art. 763., n.os 1, 2 e maxime 3, sero menores os recursos de uniformizao de jurisprudncia, no havendo por isso, com o decorrer do tempo, um quarto grau de jurisdio.35 Citado 36 Cfr.

em (GERALDES, 2008, p. 450 nota de rodap n. 600). a nossa nota de rodap n. 9, assim como todo o ttulo II.2. 37 Cfr. (GERALDES, 2008, p. 455). 38 Veja-se ainda (SOUSA M. T., 1997, pp. 557-559). 39 Cfr. (GERALDES, 2008, p. 455). 40 Cfr. (GERALDES, 2008, p. 455). 17

Por outro lado (como advogado-estagirio que sou, neste momento), parece-nos que a limitao s partes de interporem este recurso levaria a um Direito com possibilidades de vir a ser estagnado, porquanto no haveria uma evoluo da jurisprudncia produzida pelo Supremo Tribunal de Justia. V. DO RECURSO DE UNIFORMIZAO DE JURISPRUDNCIA, EM PARTICULAR 1. Modalidades Podemos distinguir duas modalidades deste recurso extraordinrio41. Nos termos do art. 763., n. 1 e do art. 766., a contrario, podemos ter um recurso de uniformizao de jurisprudncia de mbito individual e com funo decisria [aplicada] ao caso sub iudice. Por outro lado, teremos um recurso de uniformizao de jurisprudncia, a que chamaremos de mbito geral, na medida em que interposto pelo Ministrio Pblico, obrigatoriamente, no interesse da unificao do direito e sem funo decisria no caso sub iudice, nos termos do art. 766..

2. Pressupostos processuais No mbito dos recursos, relevam trs tipos de pressupostos processuais, os pressupostos processuais gerais, os especiais e os especficos. Escreve Miguel Teixeira de Sousa42: os pressupostos gerais so comuns aco no seu todo: o caso, por exemplo, da competncia do tribunal a quo e da legitimidade das partes; os pressupostos especiais, so adaptaes instncia de recurso dos pressupostos gerais: so eles a competncia do tribunal ad quem e o patrocnio judicirio obrigatrio do recorrente; finalmente, os pressupostos especficos so restritos instncia de recurso: esses pressupostos so a recorribilidade da deciso e a legitimidade para recorrer. Por razes de espao, apenas nos iremos focar nos pressupostos especficos, do recurso de uniformizao de jurisprudncia. 2.1. A legitimidade activa41 Cfr. 42 Vide

(SOUSA M. T., 2007, p. 19). in (SOUSA M. T., 1997, p. 473).

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Em princpio, apenas tem legitimidade activa a parte vencida. Prima, devemos ter em considerao que o recurso de uniformizao de jurisprudncia est igualmente vinculado regra geral do art. 680., n. 1. Ou seja, apesar de no art. 763., n. 1, a lei falar em partes, deve-se interpretar o sujeito da orao daquele n. 1, em consonncia com a parte principal na causa, [que] tenha ficado vencid[a], do art. 680., n. 1. Em segundo lugar, o Ministrio Pblico tem igualmente legitimidade, nos termos do art. 766., quando no actue em nome das partes mas do interesse geral de obteno de uniformizao de jurisprudncia, sem efeitos no caso concreto, tal como referimos supra no ttulo V.1. Quando o Ministrio Pblico actuar em nome de alguma das partes ou seja parte, tem legitimidade apenas nos termos gerais do art. 763., n. 1. 2.1.1. A legitimidade do Ministrio Pblico, em especial nos termos do art. 766. Tal como referimos no ttulo V.2.1, deve haver uma distino quanto atribuio do Ministrio Pblico. Se parte na causa ou representa uma parte, est sujeito s regras gerais, constantes do art. 763., n. 1. Se no parte na causa, nem representa uma das partes, ento a sua actuao est sujeita aos termos do art. 766.. Referiu Castro Mendes, relativamente ao art. 770. prvio reforma de 1995, que naquele caso se estaria perante uma figura quase-legislativa pois apenas se pretendia resolver para o futuro um problema abstracto de direito. A figura do art. 770. [tinha] carcter legislativo e no jurisdicional43. O Ministrio Pblico dever identificar a questo de direito que seja objecto de possvel contradio jurisprudencial, assim como deve identificar a violao imputada ao acrdo recorrido, de acordo com interpretao sistemtico do art. 765., n. 1. Na opinio de Abrantes Geraldes, que concordamos, no se justificaria que a mera divergncia jurisprudencial fosse determinante para a interposio de recurso, () [pois] pode ocorrer que o acrdo recorrido corresponda soluo correntemente assumida pelo Supremo, sendo isolada ou minoritria a soluo oposta ()44. [N]o sendo parte na causa e estando submetido a um estatuto que proporciona um maior grau de objectividade do que o que pode ser esperado de quem na causa tenha43 Castro 44 Ver

Mendes, citado in (MENDES, 1992, p. 289). (GERALDES, 2008, p. 464). Contra, veja-se (MENDES, 1992).

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interesses particulares45, o Ministrio Pblico tem aqui uma importante funo de contribuio para uma uniformizao jurisprudencial e segurana jurdica, quando estas no foram conseguidas anteriormente, mesmo, por exemplo, aps o julgamento ampliado de

revista. 2.2. Da obrigatoriedade do decaimento No caso de a parte ficar integralmente vencedora na aco, atravs do acrdo do Supremo Tribunal de Justia, verifica-se que no h qualquer interesse juridicamente relevante para haver interposio de recurso de uniformizao de jurisprudncia, pela parte, para o Pleno das seces cveis. Tal como refere Abrantes Geraldes, [o] interesse meramente acadmico na obteno de uma pronncia do Supremo, com a fora inerente de um acrdo de uniformizao, no basta para justificar a interposio do correspondente recurso extraordinrio. 46 Ou seja, tal como referido no ttulo V.2.1, os pressupostos do art. 680., n. 1 tm de se verificar, nomeadamente, neste caso, deve haver uma situao de decaimento. Nos termos do art. 678., n. 1 refere a lei que s admissvel recurso se a deciso impugnada seja desfavorvel ao recorrente em valor superior a metade da alada desse tribunal. Estando ns a analisar o recurso de uniformizao de jurisprudncia, devemos ter em ateno que neste caso a deciso recorrida proferida pelo Supremo, nos termos do art. 763., n. 1. E como sabido, o Supremo Tribunal de Justia no tem alada. Por outro lado, o art. 678., n. 1, quanto ao pressuposto em questo, apenas aplicvel no recurso ordinrio, como se pode constatar atravs de uma interpretao literal do texto da lei. Como j foi referido ao longo deste trabalho, o recurso de uniformizao de jurisprudncia um recurso extraordinrio. Finalmente, verificamos que o principal objectivo deste recurso a uniformizao de jurisprudncia, contribuindo para a segurana jurdica, tendo assim benefcios potenciais que largamente extravasam a esfera das partes, nas palavras de Abrantes Geraldes.45 Cfr. 46 Vide

(GERALDES, 2008, p. 463). in (GERALDES, 2008, p. 454).

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2.3. Requisitos do conflito jurisprudencial47 So dois os requisitos do conflito jurisprudencial, para que possa haver interposio de recurso extraordinrio de uniformizao de jurisprudncia: as decises contraditrias devem versar sobre a mesma questo fundamental de direito e terem sido proferidas no mbito da mesma legislao. Entende-se que um acrdo incide sobre a mesma questo fundamental de direito, se em ambos os acrdos foi decidida uma mesma matria de direito, ou quando esta matria constar de fundamentos que condicionam, de forma essencial e determinante, a deciso proferida, segundo Miguel Teixeira de Sousa. As decises so proferidas no mbito da mesma legislao, ainda na ptica do mesmo autor, sempre que, entre os momentos do seu proferimento, no se tenha verificado qualquer modificao legislativa com relevncia [itlico nosso] para a resoluo da questo de direito [nos acrdos] apreciada. Esta identidade mantm-se ainda que no seja o mesmo o (sic) diploma legal do qual consta a legislao aplicada. Concluindo, h lugar a recurso de uniformizao de jurisprudncia, caso haja um acrdo, objectivamente em contradio com outro acrdo do Supremo, no domnio da mesma legislao e sobre a mesma questo fundamental de direito (cfr. art. 763.), bastando que o recorrente tenha ficado vencido no acrdo recorrido. 3. Dos efeitos do recurso Em geral, os efeitos do recurso distinguem-se entre efeitos intraprocessuais e extraprocessuais. Muito rapidamente, os primeiros so os efeitos que so produzidos no prprio processo pendente, enquanto os segundos so os efeitos produzidos fora do prprio processo pendente48. Por questes de espao do trabalho, no nos referiremos aos efeitos intraprocessuais, mas apenas aos extraprocessuais, que so os mais relevantes in casu.

3.1. Efeitos extraprocessuais47 Sobre 48 Para

esta matria, veja-se (SOUSA M. T., 1997, pp. 557, 558). maiores pormenores, veja-se (SOUSA M. T., 1997, pp. 405-407).

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No mbito dos efeitos extraprocessuais temos os efeitos devolutivos e os efeitos suspensivos. Os efeitos devolutivos significam que com a interposio do recurso, os efeitos produzidos pela deciso do tribunal a quo continuam a ser produzidos, ou seja, no h suspenso dos efeitos da deciso recorrida. Nestes termos, segundo o disposto no art. 47., n. 1, pode haver na mesma execuo do acrdo de que deriva a interposio de recurso, pois o referido recurso, no suspendeu os efeitos da deciso recorrida. J quanto aos efeitos suspensivos, pelo contrrio, verificamos que com a interposio de recurso, a deciso recorrida deixa de produzir efeitos, os seus efeitos so suspensos. Assim sendo, em consequncia, no poder haver execuo da deciso, nos termos do referido art. 47., n. 1, a contrario. No recurso extraordinrio de uniformizao de jurisprudncia, os efeitos da interposio deste so efeitos meramente devolutivos, nos termos do art. 768. Convm lembrarmo-nos que estamos perante um recurso extraordinrio. Ou seja, o acrdo recorrido j transitou em julgado, j houve uma semi-solidificao da certeza jurdica (semi, porque entretanto houve interposio de recurso extraordinrio). Sendo a certeza e segurana jurdicas, um dos componentes do Princpio do Estado de Direito49, no podia o legislador deixar de ter tal aspecto em conta ao definir os efeitos da interposio do recurso de uniformizao de jurisprudncia. Parece-nos que o legislador teve a devida ateno para este aspecto, ao definir que este recurso tem efeitos (extraprocessuais) meramente devolutivos; assim como, nos termos do art. 770., n. 3, definiu que os efeitos jurdicos j produzidos no sofrem interferncia com a procedncia do recurso de uniformizao de jurisprudncia, mesmo que o acrdo recorrido seja revogado.50 4. Tramitao processual 4.1. Interposio O prazo para a interposio do recurso de uniformizao de jurisprudncia e de 30 dias aps o trnsito em julgado do acrdo recorrido, segundo o disposto no art. 764., n. 1.49 Cfr.

(CANOTILHO, 2003, pp. 243-277, principalmente, pp. 257-265). Abrantes Geraldes que [c]oerentemente com o trnsito em julgado do acrdo recorrido, este pode produzir efeitos prtico-jurdicos. Vide in (GERALDES, 2008, p. 469). 2250 Refere

O prazo em questo de natureza processual, seguindo, como consequncia o regime previsto no art. 144.. Da decorre, alm do mais, que a verificao do decurso de tal prazo peremptrio e a declarao dos efeitos extintivos do direito de conhecimento oficioso, no estando submetido iniciativa da parte.51 A parte contrria notificada da interposio de recurso, tenho direito de responder admissibilidade de recurso, tempestividade, legitimidade, assim como aos fundamentos de recurso. 4.2. Instruo O requerimento de interposio de recurso tramitado por apenso. Com o requerimento de interposio, seguem as respectivas alegaes e demais expediente, os quais devem ser entregues na secretaria. Este recurso extraordinrio no est sujeito a distribuio, pois no art. 225. no h qualquer meno especial ao recurso de uniformizao de jurisprudncia, assim como corre por apenso, como j o referimos.52 Devem ser igualmente entregues as alegaes. Nelas, devem ser invocadas as contradies imputadas ao acrdo recorrido. O recorrente deve ainda identificar as normas

que foram violadas, quer por erro de interpretao ou de aplicao das normas, quer por erro na determinao do direito aplicvel ao caso, como afirma Abrantes Geraldes. Os argumentos devem terminar por proposies conclusivas, pois o recurso de uniformizao de jurisprudncia est sujeito ao art. 685.-A. Com o requerimento, deve igualmente ser entregue cpia do acrdo-fundamento, que dever ser relativa a apenas um nico acrdo.53 Note-se todavia que deve ser apenas entregue uma cpia e no uma certido do acrdo.54 Cpia essa, que deve ser de um acrdo completo, e no apenas um sumrio ou smula. 4.3. Apreciao liminar Em primeiro lugar, devemos ter em considerao que o dominus do recurso no o Presidente do Supremo (tal como referimos na pgina 16), mas pelo contrrio, o recurso51 V.

(GERALDES, 2008, p. 457). termos, veja-se (GERALDES, 2008, p. 459). Contra, Amncio Ferreira, citado em (GERALDES, 2008, p. 459 nota de rodap n. 610). 53 Neste sentido, Abrantes Geraldes e Castro Mendes, in (GERALDES, 2008, p. 461). 54 Contra, (Acrdo do Supremo Tribunal de Justia, 2008). 2352 Nestes

fica adstrito a quem o processo tiver sido distribudo de onde emanou o acrdo recorrido, como refere Abrantes Geraldes.55 Cabe ao relator proceder apreciao liminar e saneamento, tendo em considerao os argumentos transmitidos pela parte recorrida, nas alegaes.56 Pode haver reclamao para a conferncia, do recorrente quando o recurso seja rejeitado; mas j no pode haver reclamao para a conferncia do recorrido, por o recurso ter sido admitido, segundo defende Abrantes Geraldes. 5. Julgamento e termos seguintes Nesta fase processual, aplica-se ao recurso extraordinrio de uniformizao de jurisprudncia, o regime previsto para a revista ampliada, previsto no art. 732.-B. Nesses termos, o processo conduzido com vista ao Ministrio Pblico, para a emisso de parecer, no caso do Ministrio Pblico no ter intervindo como recorrente ou recorrido. Seguem-se os vistos simultneos, com entrega aos juzes que integram o Pleno das seces cveis dos elementos relevantes para o conhecimento do recurso.57 De seguida, e colocado em tabela o processo para se prosseguir para o julgamento, o qual efectuado com interveno mnima de dos juzes que estaro em exerccio de funes nas seces cveis. O colectivo de juzes pronunciar-se- ento: ou pela rejeio do recurso de uniformizao de jurisprudncia, devido a ocorrncia de quaisquer impedimentos que tornem inadmissveis o recurso extraordinrio; ou pela confirmao dos pressupostos da admissibilidade do recurso. O novo acrdo que venha a ser proferido, substituir o acrdo recorrido, nos termos do disposto no art. 770., n.os 2 e 3. Finalmente, nas palavras de Abrantes Geraldes, [c]onfirmado o acrdo recorrido, estabilizar-se- definitivamente tal deciso. Se, ao invs, a posio adoptada for a inversa, do novo acrdo uniformizador que se extrairo os efeitos, sendo certo que jamais se podem modificar as situaes jurdicas constitudas ao abrigo do acrdo recorrido.55 Cfr.

(GERALDES, 2008, p. 465). maiores pormenores sobre esta fase processual, veja-se (GERALDES, 2008, pp. 466, 467). 57 Cfr. (GERALDES, 2008, p. 473).56 Paraiv

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