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Tiragem: 11350 País: Portugal Period.: Semanal Âmbito: Economia, Negócios e. Pág: 4 Cores: Cor Área: 25,70 x 31,34 cm² Corte: 1 de 4 ID: 61530609 23-10-2015 A maioria das seguradoras está a praticar preços que não cobrem os custos efetivos dos sinistros, nem das despesas de funcionamento – apurou a Vida Económica, com base nos dados da APS – Associação Portuguesa de Seguradores. O ramo com a exploração mais desequilibrada é Acidentes de Trabalho. Em média, por cada 100 euros de prémios, as seguradoras têm um custo com sinistros de 117,7 euros. Mas, acrescendo todos os encargos de funcionamento o custo efetivo das seguradoras sobe para 144,4 euros, significando que um prémio de 100 euros representa, em termos médios (dados de 2014), uma perda operacional de 44,4 euros. A tendência é de agravamento do rácio dos custos com os sinistros em 2015. De acordo com os dados mensais da APS, de janeiro a julho de 2015 verificou-se uma subida média de 0,5% face aos 12 meses anteriores. JOÃO LUÍS DE SOUSA [email protected] No ramo automóvel, os custos das se- guradoras também têm vindo a aumentar e no ano passado, tendo ultrapassaram os 100% do valor dos prémios. “Permanecem desequilíbrios significati- vos nalguns importantes ramos da ativi- dade, como o Automóvel e os Acidentes de Trabalho, que se revelam em resultados insuficientes ou mesmo deficitários” – ad- mite Pedro Seixas Vale. Em 2014 várias seguradoras registaram resultados negativos. Com o agravamen- to do rácio do custo com os sinistros o balanço de 2015 poderá ainda ser mais desfavorável. Mas, Pedro Seixas Vale con- traria essa ideia: “Os dados do primeiro semestre deste ano apontam para uma melhoria dos resultados da atividade se- guradora face ao período homólogo do ano anterior, e tanto no segmento Vida (de 337 para 461 milhões de euros) como no Não Vida (de 47 para 152 milhões de euros)” - garantiu. Os custos com sinistros são bastan- te diferentes entre as várias seguradoras. A Açoreana, Axa, Mafpre e a Lusitânia apresentam os valores mais desfavoráveis, com custos de sinistros de 90,6%, 90,2%, 87,7% e 83,1%. Entre as seguradoras com melhores rá- cios de custos com sinistros, destacam-se a Liberty e a CA Seguros, ambas com um rácio de 64,7%. Ajustamento do mercado vai envolver a mediação de seguros O reequilíbrio do mercado tem reflexos diretos sobre a rede de mediação, cons- tituída por profissionais independentes e PME especializadas na distribuição de seguros. “As empresas de mediação pro- fissional estão a apostar cada vez mais no apoio pós-venda como forma de diferen- ciação face a outros canais de distribui- ção” – afirma Luis Cervantes. “É na me- diação profissional que o cliente consegue encontrar o serviço integrado de toda a cadeia de valor dos seguros. Desde a com- pra até a resolução do sinistro, passando pela evolução das características dos segu- ros, ao processo de pagamento e ao acon- selhamento permanente de cada solução” – acrescenta o presidente da Aprose. Em sua opinião, os mediadores podem alargar a sua atividade a outros produ- tos financeiros, nomeadamente, crédito e produtos de poupança. “Num período pré-crise esteve muito em voga o Assur- finance, com alguns grupos financeiros a incluir na sua estratégia a diversificação das áreas de negócio dos seus parceiros. A crise financeira veio trazer fortes con- dicionalismos de forma geral à concessão de crédito às famílias, e esse tipo de pro- dutos de crédito perderam relevância. No entanto, com o início da recuperação eco- nómica é normal que possam existir no- vas soluções de cross-selling à disposição da mediação profissional” - afirma. Para José António de Sousa, os interme- diários de seguros são um dos elos mais importantes na cadeia de valor dos segu- ros. “Uma seguradora não é mais do que uma fábrica de produtos. Esses produtos têm que chegar ao consumidor final. Há seguradoras que tratam de os vender di- retamente ao consumidor e, que eu sai- ba, apesar de algumas delas já o fazerem há bem mais de uma década, continuam a perder dinheiro. Isto porque tratam o produto de seguro como se fosse uma commodity. Querem despachar um pro- duto massificado a preço baixo e descu- ram o aspeto vital no setor segurador, a análise de risco, a adequação do produto às expectativas individuais de cada con- sumidor, que cada vez são mais diferentes de consumidor para consumidor. Tendencialmente, estamos a caminhar para um universo de consumidores que não se deixam agrupar em núcleos de interesses ou características similares, mas sim exigem ofertas customizadas aos seus interesses e necessidades individuais e particulares. Os intermediários de se- guros (agentes, corretores, sociedades de mediação) agregam um valor incalcu- lável na cadeia de valor do setor segura- dor, porque interagem diretamente, olho no olho, com os clientes, e são capazes de fazer a leitura e a análise de risco que nenhum operador de call center está em posição de fazer. Este trabalho é funda- mental, e deve ser remunerado apropria- damente. Se os preços baixam, a remune- ACIDENTES DE TRABALHO E AUTOMÓVEL SÃO OS RAMOS COM RESULTADOS MENOS FAVORÁVEIS Seguros estão a ser vendidos Luis Cervantes, presidente da Aprose “Com o início da recuperação económica, é normal que possam existir novas soluções de cross-selling à disposição da mediação profissional”. Liberty e CA Seguros têm os melhores indicadores de custos com sinistros

ACIDENTES DE TRABALHO E AUTOMÓVEL SÃO OS RAMOS COM ... · base nos dados da APS A ssociação Portuguesa de Seguradores. O ramo com a exploração mais desequilibrada é Acidentes

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Tiragem: 11350

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 4

Cores: Cor

Área: 25,70 x 31,34 cm²

Corte: 1 de 4ID: 61530609 23-10-2015

A maioria das seguradoras está a praticar preços que não cobrem os custos efetivos dos sinistros, nem das despesas de funcionamento – apurou a Vida Económica, com base nos dados da APS – Associação Portuguesa de Seguradores. O ramo com a exploração mais desequilibrada é Acidentes de Trabalho. Em média, por cada 100 euros de prémios, as seguradoras têm um custo com sinistros de 117,7 euros. Mas, acrescendo todos os encargos de funcionamento o custo efetivo das seguradoras sobe para 144,4 euros, significando que um prémio de 100 euros representa, em termos médios (dados de 2014), uma perda operacional de 44,4 euros. A tendência é de agravamento do rácio dos custos com os sinistros em 2015. De acordo com os dados mensais da APS, de janeiro a julho de 2015 verificou-se uma subida média de 0,5% face aos 12 meses anteriores.JOÃO LUÍS DE [email protected]

No ramo automóvel, os custos das se-guradoras também têm vindo a aumentar e no ano passado, tendo ultrapassaram os 100% do valor dos prémios.

“Permanecem desequilíbrios significati-vos nalguns importantes ramos da ativi-dade, como o Automóvel e os Acidentes de Trabalho, que se revelam em resultados insuficientes ou mesmo deficitários” – ad-mite Pedro Seixas Vale.

Em 2014 várias seguradoras registaram resultados negativos. Com o agravamen-to do rácio do custo com os sinistros o balanço de 2015 poderá ainda ser mais desfavorável. Mas, Pedro Seixas Vale con-traria essa ideia: “Os dados do primeiro semestre deste ano apontam para uma melhoria dos resultados da atividade se-guradora face ao período homólogo do ano anterior, e tanto no segmento Vida (de 337 para 461 milhões de euros) como no Não Vida (de 47 para 152 milhões de euros)” - garantiu.

Os custos com sinistros são bastan-te diferentes entre as várias seguradoras. A Açoreana, Axa, Mafpre e a Lusitânia apresentam os valores mais desfavoráveis, com custos de sinistros de 90,6%, 90,2%, 87,7% e 83,1%.

Entre as seguradoras com melhores rá-cios de custos com sinistros, destacam-se a Liberty e a CA Seguros, ambas com um rácio de 64,7%.

Ajustamento do mercado vai envolver a mediação de seguros

O reequilíbrio do mercado tem reflexos diretos sobre a rede de mediação, cons-tituída por profissionais independentes e PME especializadas na distribuição de seguros. “As empresas de mediação pro-fissional estão a apostar cada vez mais no apoio pós-venda como forma de diferen-ciação face a outros canais de distribui-ção” – afirma Luis Cervantes. “É na me-diação profissional que o cliente consegue encontrar o serviço integrado de toda a cadeia de valor dos seguros. Desde a com-pra até a resolução do sinistro, passando pela evolução das características dos segu-ros, ao processo de pagamento e ao acon-selhamento permanente de cada solução” – acrescenta o presidente da Aprose.

Em sua opinião, os mediadores podem alargar a sua atividade a outros produ-tos financeiros, nomeadamente, crédito

e produtos de poupança. “Num período pré-crise esteve muito em voga o Assur-finance, com alguns grupos financeiros a incluir na sua estratégia a diversificação das áreas de negócio dos seus parceiros. A crise financeira veio trazer fortes con-dicionalismos de forma geral à concessão de crédito às famílias, e esse tipo de pro-dutos de crédito perderam relevância. No entanto, com o início da recuperação eco-nómica é normal que possam existir no-vas soluções de cross-selling à disposição

da mediação profissional” - afirma.Para José António de Sousa, os interme-

diários de seguros são um dos elos mais importantes na cadeia de valor dos segu-ros. “Uma seguradora não é mais do que uma fábrica de produtos. Esses produtos têm que chegar ao consumidor final. Há seguradoras que tratam de os vender di-retamente ao consumidor e, que eu sai-ba, apesar de algumas delas já o fazerem há bem mais de uma década, continuam a perder dinheiro. Isto porque tratam o produto de seguro como se fosse uma commodity. Querem despachar um pro-duto massificado a preço baixo e descu-ram o aspeto vital no setor segurador, a análise de risco, a adequação do produto às expectativas individuais de cada con-sumidor, que cada vez são mais diferentes de consumidor para consumidor.

Tendencialmente, estamos a caminhar para um universo de consumidores que não se deixam agrupar em núcleos de interesses ou características similares, mas sim exigem ofertas customizadas aos seus interesses e necessidades individuais e particulares. Os intermediários de se-guros (agentes, corretores, sociedades de mediação) agregam um valor incalcu-lável na cadeia de valor do setor segura-dor, porque interagem diretamente, olho no olho, com os clientes, e são capazes de fazer a leitura e a análise de risco que nenhum operador de call center está em posição de fazer. Este trabalho é funda-mental, e deve ser remunerado apropria-damente. Se os preços baixam, a remune-

ACIDENTES DE TRABALHO E AUTOMÓVEL SÃO OS RAMOS COM RESULTADOS MENOS FAVORÁVEIS

Seguros estão a ser vendidos

Luis Cervantes, presidente da Aprose

“Com o início da recuperação económica, é normal que possam existir novas soluções de cross-selling à disposição da mediação profissional”.

Liberty e CA Seguros têm os melhores indicadores de custos com sinistros

Tiragem: 11350

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Economia, Negócios e.

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Cores: Cor

Área: 25,70 x 31,48 cm²

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a preços inferiores aos custos

ração do agente, que é uma percentagem do valor do prémio pago pelo cliente, também baixa concomitantemente. Por-

tanto, muitos agentes, sobretudo aqueles que entram na guerra de preços e não sa-bem demonstrar aos seus clientes o valor

que representam os seus serviços, estão há anos a sofrer reduções nos seus rendimen-tos. Há muitos que não aguentam, e saem do mercado, vendendo as suas carteiras. Ou seja, tal como está a acontecer com as seguradoras, também nos intermediários está a haver um processo de consolidação acentuado derivado da atual conjuntura” – conclui o presidente da Liberty Seguros.

Diretiva de distribuição muda regras

Pedro Seixas Vale considera que no

contexto de profunda mudança por que atravessa a atividade seguradora, a distri-buição não será exceção. “Mais do que

a conjuntura da rentabilidade das segura-doras, as alterações na propriedade de al-guns grandes players, a nova legislação de base da atividade ou as crescentes exigên-cias regulatórias de conduta de mercado são fatores que, por si só, afetarão signifi-cativamente a distribuição. Mas o maior desafio decorrerá da Diretiva da Distri-buição atualmente em fase de negociação.

Sendo prematuro avaliar todas as suas implicações, seguramente que exigirá um maior nível de profissionalização na mediação de seguros, uma evolução que se aguarda com expetativa.

E não nos enganemos. Também aqui vão existir profundas mudanças no peso relativo de cada canal e no tipo de mul-ticanalidade” - acrescenta.

José António de Sousa, presi-dente da Liberty Seguros

“Quem hoje tenha rácio combinado acima de 100% terá, na maioria dos casos, que pedir capital aos acionistas para cobrir o défice”.

Pedro Seixas Vale, presidente da APS

“Permanecem desequilíbrios significativos nalguns ramos da atividade, como o Automóvel e os Acidentes de Trabalho, que se revelam em resultados insuficientes ou mesmo deficitários”.

Rendimentos financeiros em queda

Até agora as seguradoras têm procurado compensar os resultados negativos da exploração com as aplicações financeiras, nomeadamente, através do mercado obrigacionista.No entanto, o rendimento das aplicações com baixo risco tem vindo a cair de forma acentuada, o que agrava as dificuldades das seguradoras.De acordo com Pedro Seixas Vale, estas condições têm levado as seguradoras a procurar, ainda que de forma controlada, investimentos de maior rentabilidade esperada.“Exemplo desta estratégia é o reforço de aplicações em ações e fundos de investimento com maior componente de ações, que têm aumentado o peso conjunto na carteira de ativos do setor. Ainda assim, o peso total destes tipos de ativos não excedia, em junho deste ano, os 11%, parcela bem abaixo da média europeia, estimada entre os 15% e os 20%.Mantendo sempre os princípios de segurança que a gestão obrigatória de ativos / passivos obriga, seja nas durações seja no tipo de responsabilidades assumidas” - afirma.“A quebra no produto recebido pelos

investimentos feitos é um dos fatores que mais têm incentivado as companhias a “portar-se bem” (ou um pouco melhor) em termos técnicos” – considera José António de Sousa, presidente da Liberty Seguros. “Até há uns anos atrás, podia-se gastar em gastos operativos e sinistros mais de 100% dos prémios recebidos porque se obtinham rentabilidades de 5% e mais nos mercados financeiros. Hoje em dia as rentabilidades andam próximas do 0, havendo mesmo mercados, como o suíço, onde quem procura segurança absoluta através de depósitos bancários enfrenta taxas de juro negativas. Por isso é preciso não perder dinheiro na nossa atividade “core”, a venda dos seguros. Quem hoje tenha rácio combinado acima de 100% terá, na maioria dos casos, que pedir capital aos acionistas para cobrir o deficit. Ou seja, as baixas taxas de juro obrigaram-nos a ser ainda mais cuidadosos e criteriosos na aceitação de riscos, e daí o menor crescimento. Em termos de carteiras de investimentos, há uma regra muito simples, como o BPN e o BES nos ensinaram: a maior taxa de juro corresponde sempre, sempre, invariavelmente, um maior risco” – afirma o presidente da Liberty Seguros.

João Pedro Borges, presidente da CA Seguros

“As seguradoras não vida estão muito menos dependentes da evolução positiva ou negativa dos mercados financeiros”

Rendimento das aplicações financeiras está a diminuir nas seguradoras

Tiragem: 11350

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 6

Cores: Cor

Área: 25,70 x 31,84 cm²

Corte: 3 de 4ID: 61530609 23-10-2015

Acidentes de trabalho com a exploração mais desequilibrada

Os acidentes de trabalho são o ramo com os resultados mais negativos para as seguradoras. No ano passado, as seguradoras que operam em Portugal sofreram perdas líquidas de 80 milhões de euros nesta área.

“É reconhecido que os níveis tarifários dos seguros de acidentes de trabalho têm estado pressionados pela atividade concorrencial e é evidente um agravamento recente da sinistra-lidade, derivado da recuperação da atividade económica. Também a evolução das taxas de juros e da longevidade, bem como do custo das assistências vitalícias, motivaram o au-mento significativo das provisões já existentes.

Mas, neste ramo, o que preocupa estrutu-ralmente o setor é antes o desequilíbrio do

regime jurídico da reparação destes acidentes e as tendências jurisprudenciais que vai geran-do. É fundamental corrigir alguns elementos do regime jurídico dos Acidentes de Trabalho, sobretudo, mas não só, no que respeita à re-paração das incapacidades permanentes e às pensões, sendo que é fundamental a atuação do legislador e do regulador do sistema.

Os desequilíbrios económicos conjunturais o mercado saberá corrigir.” – afirma Pedro Seixas Vale.

As perdas das seguradoras com os Acidentes

de Trabalho devem-se ao aumento dos cus-tos com a sinistralidade e à política de preços praticada – refere José António de Sousa. “Os preços são manifestamente insuficientes para cobrir os riscos assumidos, fruto da concor-rência insana dos últimos anos, mas também do facto de o Ramo de Acidentes de Trabalho, nos momentos de crise económica, ser usa-do para descarregar como sinistros uma série de gastos que não deveriam ser debitados ao ramo. E as fraudes tendem a aumentar subs-tancialmente” – acrescenta o presidente da Liberty.

Preços vão ter que aumentar

Na opinião de João Pedro Borges, presiden-te da CA Seguros, o desequilíbrio do ramo Acidentes de Trabalho é um problema que

perdura há alguns anos e surge pelos dois mo-tivos.

“Por um lado, em algumas seguradoras, o foco da gestão tem sido crescer, conquistar quotas de mercado, e isso levou à deterioração dos prémios praticados. Os mediadores e cor-retores de seguros contribuíram também para o problema, utilizando o seu poder de merca-do para impor às seguradoras a aceitação de riscos com prémios claramente insuficientes para os riscos.

Por outro lado, o ramo acidentes de traba-lho está prejudicado por uma legislação muito desfavorável às seguradoras, desde 2009, na qual foram atribuídos direitos desproporcio-nados aos pensionistas (incluindo, por exem-plo, poderem solicitar anualmente uma junta médica para rever o seu nível de incapacida-de), e que todos os anos contribuem para fazer

subir o valor das responsabilidades futuras das seguradoras, relativamente a sinistros ocorri-dos há anos, e apesar da pressão da Autori-dade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões para as seguradoras corrigirem a insu-ficiência tarifária em Acidentes de Trabalho, o problema não está ainda resolvido. Em 2014, o rácio combinado foi superior a 140% o que significa que, como um todo, os prémios do ramo acidentes de trabalho terão de crescer mais de 40%, só para se atingir o equilíbrio técnico nesse ramo. Os aumentos médios, em 2015, foram ainda muito insuficientes para a correção que o setor necessita efetuar” – afir-ma João Pedro Borges.

Para Luis Cervantes, presidente da Apro-se, associação que representa a mediação de seguros, todos os operadores de merca-do são unânimes na identificação das duas principais razões para essa realidade. “As alterações introduzidas na Lei de Acidentes de Trabalho incrementaram fortemente as responsabilidades futuras das seguradoras, sendo que não foi acompanhado por um ajustamento do preço à nova realidade do risco, tendo-se verificado, inclusive, um movimento contrário em relação ao preço que teve entre 2009 e 2012” (um movi-mento de descida).

O setor bancário cavou a sua pró-pria sepultura. Andou a distribuir dinheiro a rodos, sem fazer o traba-lho de casa, uma criteriosa análise de risco para ver se as pessoas e as empresas que pediam empréstimos tinham capacidade financeira para honrar os compromissos assumidos. Como a maioria do setor segurador, há um lustro atrás, estava mas mãos de bancos nacionais, as seguradoras eram meros instrumentos de capta-ção de recursos que serviam essen-cialmente os objetivos comerciais e estratégicos dos bancos.

As seguradoras andavam ao sabor dos superiores interesses da banca. E portanto o setor segurador nacio-nal, contrariamente ao que acon-tece em outros mercados, entrou em problemas não tanto por causa da atividade seguradora em si, mas pelo facto de os patrões das segura-doras, a banca, estarem a passar por problemas. As seguradoras sempre

foram olhadas como instrumentos de captação de recursos baratos por parte da banca, esquecendo-se que por cada euro de prémio que entra há gastos operativos e sinistros para pagar.

Quando a soma dos gastos mais sinistros (rácio combinado) excede os 100% do prémio, e os investi-mentos não compensam o que se gasta acima dos 100% do prémio, é preciso meter dinheiro (capital) na companhia de seguros. Ou seja, em vez de entrar mais do que sai, passa a sair mais do que entra… É aqui quando muitos bancos “caem na real”, e decidem vender as suas seguradoras, não prescindindo, no entanto, de continuar a ter uma intervenção no setor como comis-sionistas, ou seja, vendedores de seguros aos balcões. Deixam de pagar sinistros, começam a receber uma bela remuneração por comis-sões sobre os seguros despachados

ao balcão. Portanto, os problemas que o nosso setor sofre e sofreu são derivados dos problemas por que a banca passou. O setor segurador, sobretudo em Não Vida sofre es-sencialmente pelos problemas que a economia de um país atravessa. Há uma correlação perfeita entre o comportamento do PIB e o cresci-mento do setor segurador em Não Vida.

Seguros Não Vida são menos afetados pela banca

“Há que fazer uma distinção cla-ra entre os seguros de Vida e os se-guros Não Vida, que são, efectiva-mente, negócios muito diferentes” – considera João Pedro Borges, presidente da CA Seguros.

A actividade de seguros de Vida está muito dependente da evolução dos mercados financeiros, do valor é criado se a Seguradora for capaz de obter rendimentos e mais-valias nos mercados financeiros e, nesse sentido, a sua conta de exploração acaba por ser muito sensível à evo-lução desses mercados.

Nos seguros Não Vida, a gera-ção de valor é essencialmente in-terna às seguradoras, dependendo de uma boa selecção dos riscos a segurar, e de se conseguir praticar uma política tarifária coerente com esses riscos, bem como uma gestão

criteriosa dos custos de estrutura. Os prémios a cobrar aos segurados têm de ser suficientes para cobrir os custos com sinistros e os custos de estrutura, e é essa a chave para uma boa rentabilidade.

“Daí resulta que as segurado-ras Não Vida estão muito menos dependentes da evolução positiva ou negativa dos mercados finan-ceiros, comparativamente à ativi-dade de seguros Vida e à ativida-de bancária” – observa João Pedro Borges.

Para Pedro Seixas Vale, a ativi-dade seguradora tem um mode-lo de negócio substancialmente diferente da atividade bancária, e a realidade já demonstrou que é um modelo bem mais resiliente em circunstâncias críticas como as que vivemos recentemente. “Mas há fatores que afetam atualmente o setor bancário que são também desafios para o setor segurador”.

Bancos contagiam as seguradoras

Os aumentos médios, em 2015, foram ainda muito insuficientes, para a correção que o sector necessita efetuar

O ramo acidentes de trabalho está prejudicado por uma legislação muito desfavorável às seguradoras, desde 2009

O setor segurador, sobretudo em Não Vida, sofre essencialmente pelos problemas que a economia de um país atravessa

Tiragem: 11350

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 1

Cores: Cor

Área: 20,85 x 15,99 cm²

Corte: 4 de 4ID: 61530609 23-10-2015

Acidentes de trabalho e automóvel são os ramos com resultados menos favoráveis

Seguros estão a ser vendidos a preços inferiores aos custos Págs. 4 a 6