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    GRUPO DE TRABALHO 6

    TEORIA E PENSAMENTO SOCIAL NO BRASIL

    AES AFIRMATIVAS NO BRASIL: NOVASDEMANDAS SOCIAIS,

    ESTUDOS PS-COLONIAIS E PENSAMENTOSOCIAL

    Paulo Alberto dos Santos VieiraPriscila Martins Medeiros

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    AES AFIRMATIVAS NO BRASIL: NOVAS DEMANDAS SOCIAIS,

    ESTUDOS PS-COLONIAIS E PENSAMENTO SOCIAL

    Paulo Alberto dos Santos Vieira1

    Priscila Martins Medeiros2

    Resumo

    O processo de redemocratizao da sociedade brasileira em fins da dcada de 1970 trouxe para ocenrio poltico atores sociais cujas demandas de reconhecimento extrapolam a dimenso classista.Tais sujeitos reivindicam o direito diferena e influenciam na formulao de polticas pblicas, nosentido de que estas se tornem sensveis aos marcadores sociais como, por exemplo, a raa. Nocaso do Movimento Negro, pudemos verificar uma ampliao de suas demandas desde a dcada de1980, provocando novos olhares sobre a Teoria Social produzida no pas, que passa a serinfluenciada por novas correntes tericas, tais como os Estudos Ps-Coloniais. As reivindicaes

    por aes afirmativas e seus reflexos tericos podem resultar em uma nova perspectiva societria,que se contrape ao pacto social da dcada de 1930 e que traz novas alternativas s propostaspolticas dos anos 90s.As relaes raciais formam uma categoria central para se compreender a formao da sociedade

    brasileira, das desigualdades presentes em todas as esferas da vida social e dos discursos racistas,que permaneceram do decorrer de todo o sculo, porm sempre com novas roupagens. NaConstituinte de 1987, o Movimento Negro apresentou suas reivindicaes e propostas, entre elas, anecessidade de polticas de ao afirmativa em reas como o trabalho, a educao, a moradia e asade, reivindicaes essas j levantadas pela Frente Negra Brasileira, na dcada de 40. Desde2001, vemos uma srie de desdobramento da Conferncia de Durban, como a publicao da Lei10.639 (09.01.2003) que torna obrigatrio o ensino da histria e cultura afro-brasileira nas escolas

    de ensino fundamental e mdio de todo o pas; a criao da SEPPIR Secretaria Especial dePolticas de Promoo da Igualdade Racial em 2003 e as aes afirmativas no ensino superior, quehoje j so aplicadas em mais de 80 instituies de ensino superior. O ano de 2009 especialmenteimportante devido ao encontro de Reviso da Conferncia de Durban, em Genebra, que reafirma aDeclarao de 2001, mostra os avanos dentro do plano de aes traado naquele ano e anecessidade atual de avanos.O argumento da igualdade tem sido uma das principais justificativas colocadas por parte dosestudiosos e defensores das polticas de ao afirmativa no Brasil. Nestes casos, o fundamento daao afirmativa recai na transformao deste princpio geral em aes concretas que permitamoportunidades iguais para todos, uma vez que sob o manto poltico-filosfico liberal no deve haverdistines baseadas em quaisquer condies inatas. Sem enveredar pelos caminhos que nos

    conduziriam s teses da Revoluo Americana ou Francesa, depreende-se que essa dimenso dasaes afirmativas reside na igualdade tal qual derivada das propostas revolucionrias que superaramo Ancien Rgime. O limite das polticas de ao afirmativa neste caso a atualizao, em algumgrau, das matrizes fundantes das sociedades liberais ou daquelas nas quais o formato socialestruturou-se no welfare-state. As polticas afirmativas de direitos e da igualdade tm comosuposto a superao de desigualdades e, em alguns casos, de privilgios, muitos deles assentadosem marcadores sociais, tais como a raa. Concomitantemente, e sem se contrapor implementaode polticas de ao afirmativa, constitui-se no debate percepes que calam suas anlises a partirda noo de diferenas.

    1 Economista. Doutorando pelo Programa de Ps-Graduao em Sociologia da Universidade Federal de So Carlos (UFSCar). Professor Assistente da Universidade do Estado de Mat o

    Grosso (UNEMAT). Integrante do Ncleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB/UFSCar) e do Ncleo de Estudos sobre Educao, Gnero, Raa e Alteridade (NEGRA/UNEMAT).Contato: [email protected].

    2 Cientista Social. Doutoranda pelo Programa de Ps-Graduao em Sociologia da Universidade Federal de So Carlos (UFSCar). Integrante do Ncleo de Estudos Afro-brasileiros

    (NEAB/UFSCar). Contato: [email protected].

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    A diferena, tal como colocada pelos Estudos Ps-Coloniais, nada tem a ver com construesidentitrias homogeneizadoras, nem a uma dada pertena simblica a algum lugar de nascimento,moradia ou insero social. Ela uma categoria enunciatria, que no domesticada ouaprisionada em fronteiras, mas sim algo imprevisvel, incerto e contingente. A substituio da noode diversidade pela noo re-significada da diferena , mais do que uma questo de escolhaconceitual, algo que se reflete na vida prtica, nas escolhas e nos perfis das polticas pblicas. Ao

    falarmos em aes afirmativas no Brasil, no falamos simplesmente em realocao de posies,mas em mudana de paradigmas e no questionamento dos processos de subjetivao e de sujeiopelos quais muitos passam devido cristalizao das hierarquias causada pela manuteno dodiscurso da mestiagem.

    1. Introduo

    As relaes raciais formam uma categoria central para se compreender a sociedade brasileira

    e as desigualdades presentes em todas as esferas da vida social. Essa uma convico pautada no

    somente na observao histrica, mas, sobretudo no olhar sociolgico da realidade do pas, iniciadocom obras fundamentais dos anos 30 do sculo XX e chegando aos dias atuais a uma imensa gama

    de estudos que relatam a condio do negro no Brasil.

    Os primeiros anos do sculo XX so especialmente importantes para compreendermos o

    desenvolvimento de discursos racistas que permaneceram do decorrer de todo o sculo, porm

    sempre com novas roupagens. Para a compreenso desses discursos, imprescindvel a leitura de

    Gilberto Freyre, que ainda hoje muito citado, seja para apontar seu ineditismo na discusso sobre

    o regime escravista e as relaes raciais no Brasil, seja para discutir sobre suas limitaes em

    romper com os discursos biologizantes da poca, tais como os proferidos por Oliveira Vianna ou

    Nina Rodrigues3.

    O marco inicial das amplas denncias de desigualdades raciais no Brasil est nos anos 50,

    com o lanamento de um grande projeto, encomendado pela UNESCO, que surgiu com o intuito de

    apresentar o pas ao mundo como um modelo a ser seguido, pois teria resolvido de forma tranqila a

    problemtica racial. A pesquisa, que contou com os pesquisadores Roger Bastide, Florestan

    Fernandes e Costa Pinto, acabou frustrando suas expectativas iniciais ao ter comprovado o

    preconceito racial persistente no Brasil, apesar do ideal de democracia racial 4e das freqentes

    descries do pas como um paraso racial. A literatura brasileira sobre as relaes raciais seguiu

    por diferentes caminhos, desde as perspectivas de cunhoRedistributivo, at aquelas que bebem dos

    chamados Saberes Subalternos (ttulo que faz referncia aos trabalhos de Antonio Gramsci), entre

    os quais esto osEstudos Ps-Coloniais.

    3 A centralidade que a escravido e o preconceito racial tiveram na formao territorial e poltica do Brasil que hoje conhecemos foi discutida por Alencastro (ALENCASTRO, 2000)

    em O trato dos viventes: formao do Brasil no Atlntico Sul, sculos XVI e XVII.4 Segundo Guimares, o termo democracia racialficou conhecido na literatura acadmica atravs de Charles Wagley em 1952, porm existem registros sobre sua utilizao por Arthur

    Ramos e Roger Bastide j durante a dcada de 1940 (GUIMARES, 2002, 139).

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    Destacamos que o termo raa compreendido enquanto um conceito nativo

    (GUIMARES, 2003 e 2008) ou seja, construdo e diariamente utilizado pelos atores sociais, e que

    tem passado por inmeras formas de significao e re-significao, desde o seu surgimento, de

    acordo com o processo histrico e o contexto scio-cultural no qual ocorre tal construo. Portanto,

    esse um conceito livre de qualquer conotao biolgica e que reapropriado poltica eculturalmente pelo Movimento Negro enquanto uma categoria de interpretao da realidade social.

    A mesma reapropriao ocorre com o termo negro5.

    Se o socilogo preocupado com as questes raciais se voltou, at o final da dcada de 80, em

    grande medida, para a identificao e denncia das desigualdades sociais entre populaes

    brancas e negras no pas, hoje ele se depara com novos desafios dentro da temtica, entre eles, a

    anlise do processo de discusso e de implementao das polticas de ao afirmativa no pas. Para

    isso, importante tambm no perdermos de vista o histrico brasileiro de relaes entre Estado ereivindicaes sociais: ainda que a constituio dos Estados-nao europeus seja pautada em uma

    solidariedade igualitria meritocrtica, o caso brasileiro nem ao menos traz qualquer possibilidade

    prxima a esse princpio (MOEHLECKE, 2004; COSTA, 2008; MEDEIROS, 2009). Mesmo aps a

    Proclamao da Independncia, o pas ainda mantm o regime escravocrata por mais 66 anos.

    Conforme as ideologias nacionalistas do comeo do sculo XX, era necessrio manter os negros em

    condio legal de subordinao ou ento promover a miscigenao6para o desaparecimento dos

    mesmos. Nas palavras de Costa, a nao se constitui, no caso brasileiro, em uma comunidade de

    desunidos e desiguais o discurso da mestiagem, portanto, une os brasileiros, sem garantir,

    contudo, a emergncia da nao igualitria (COSTA, 2008).

    Por mais que o Brasil nunca tenha sido um Estado de Bem-Estar Social - nos moldes como

    se deu na Europa - percebemos que as mobilizaes e reivindicaes ocorridas desde 1930 at o

    incio da ditadura militar so atendidas com a ampliao da legislao trabalhista e previdenciria,

    herdadas de Vargas. Tal compromisso do Estado, para o caso da populao negra, foi condensado

    simbolicamente na noo de democracia racial e no iderio modernista de uma nao mestia e

    cordial. De acordo com Franco, a cordialidade brasileira, construda na noo fictcia de

    proximidade entre brancos e negros, absolutamente violenta, pois recoloca cotidianamente as

    5 O Censo Brasileiro pede s pessoas que se classifiquem dentro de uma das cinco categorias de cor estabelecidas: branca; preta; parda; indgena e amarela. Por semelhanas em termos

    de indicadores sociais (educacionais, insero no mercado-de-trabalho, entre outros) e tambm por se remeter origem africana da populao, pesquisadores uniram as categorias de cor

    pretae pardaem uma nica denominada negro. Sobre a utilizao do termo raa, uma das leituras sugeridas o artigo de Antnio Srgio Guimares intitulado Omo trabalhar com

    raa em Sociologia (2003). Sobre o Movimento Negro Brasileiro encontramos interessantes anlises nas obras de Sales Augusto dos Santos (2007) e Ivair Augusto Alves dos Santos

    (2006).

    6 As teorias eugnicas, fortemente empregadas em toda a Europa para combater a degenerao racial estavam colocadas textualmente na Constituio Federal Brasileira de 1934, em

    seu art. 138 b: Incumbe Unio, aos Estados e aos Municpios nos termos das leis respectivas b) estimular a educao eugnica e no Decreto-Lei 7.967/1945: Atender-se-, na

    admisso dos imigrantes, necessidade de preservar e desenvolver, na composio tnica da populao, as caractersticas mais convenientes da sua ascendncia europia

    (MEDEIROS, 2009).

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    regras de dominao dos antigos senhores de escravos (FRANCO, 1976). Esses iderios nacionais

    foram, de acordo com Guimares, materialmente refletidos na incorporao de pretos e pardos s

    classes operrias (GUIMARES, 2008). O regime militar, a partir de 1964, manteve o

    compromisso da nao mestia presente na era anterior, porm, retirou qualquer substrato poltico

    dos movimentos sociais ao reprimir sindicados, associaes e os elos com partidos polticos.Com a redemocratizao, em 1985, o Estado brasileiro trabalhou no sentido de resgatar o

    modelo de lutas de classes e volta a se relacionar com os movimentos sociais, porm, a partir da

    ampliao do seu prprio aparelho e da atualizao da legislao, como vimos com a criminalizao

    do racismo, garantida pela Constituio de 1988 e regulamentada pela Lei 7.716, de 1989. Desde o

    ano de 1985, organizaes do movimento negro j vinham se preparando para a participao na

    constituinte, organizando encontros municipais e estaduais. Porm, o espao destinado para a

    discusso da temtica racial ficou restrito Subcomisso dos Negros, Populaes Indgenas,Pessoas Deficientes e Minorias, que integrava a Comisso temtica da Ordem Social. A agregao

    de tantos temas importantes em uma mesma subcomisso mostrava o quo pesadas seriam as

    dificuldades enfrentadas pelos movimentos sociais frente s resistncias polticas desfavorveis.

    Essas dificuldades nos mostram que a constituinte de 1987, apesar de sinalizar uma diversidade de

    sujeitos sociais, preservava os limites dos pressupostos de uma democracia racial.

    No plano simblico, os principais fatos foram a criao da Fundao Cultural Palmares, em

    1988, e a nomeao de Zumbi dos Palmares como heri nacional, em 1995 (GUIMARES, 2008).

    Nos anos 80s, a militncia negra volta a atuar, por um breve perodo, de modo articulado com as

    questes de classe, com o respaldo poltico de alguns partidos, tais como o PDT, o PT e o PMDB. A

    partir de 1988, o movimento social entra, crescentemente, na dinmica de organizaes no-

    governamentais, com a intensa criao de ONGs, algumas com carter mais poltico e outras com o

    foco mais cultural. Com o governo Collor, em 1990, o formato estatal passa a dar maior

    centralidade s ONGs pois, nesse perodo, o Estado brasileiro assume claramente um discurso mais

    liberal e faz uma reestruturao de seus aparelhos para se descolar das antigas funes do Estado

    nacional-desenvolvimentista. O resultado disso que o Estado passou muitas de suas funes de

    atendimento social para as ONGs e para empresas privadas, que trabalham em sistema de parceria.

    Paralelamente a isso, o Estado abandona a poltica de identidade nacional e insere, principalmente

    no Ministrio de Educao e Cultura o discurso multiculturalista, pautado no valor da diversidade

    cultural. Essa foi a resposta dada s demandas sociais, na procura de absorver grande parte das

    reivindicaes, inclusive com a incorporao de seus quadros aos aparelhos de Estado. Esta a

    tnica presente durante quase todo o governo atual.

    Antes disso, no governo FHC, os debates sobre a questo racial estavam fortemente

    colocados na academia, compreendida por ele, pessoalmente, como um lugar privilegiado para tal

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    (GUIMARES, 2008). Os anos 90 foram importantes para as questes raciais no Brasil. O ano de

    incio dessa pauta foi, sem dvida, 1995, com a Marcha Zumbi dos Palmares, em 20 de novembro,

    quando integrantes do movimento negro entregaram um documento ao ento presidente Fernando

    Henrique Cardoso mostrando uma srie de indicadores sociais e exigindo medidas urgentes em

    ateno s desigualdades raciais existentes. Era um momento significativo para a histria domovimento negro devido ao grande nmero de alianas que se agregaram (obtendo visibilidade

    nacional) e ao relativo consenso programtico entre as entidades que o compunham

    (MOEHLECKE, 2000). No mesmo dia, o ento presidente institui, por decreto, um Grupo de

    Trabalho Interministerial - GTI - para valorizao da populao negra. Em maro de 1996 criado

    tambm por decreto o Grupo de Trabalho para Eliminao da Discriminao no Emprego e na

    Ocupao - GTEDEO. No dia 13 de maio do mesmo ano lanado o Programa Nacional dos

    Direitos Humanos - PNDH, pela recm criada Secretaria de Direitos Humanos. Nos anos seguintesvimos o surgimento de uma srie de Conselhos e Secretarias estaduais e municipais, que

    desenvolveram projetos pontuais com recorte tnico-racial, principalmente nas reas de educao e

    mercado-de-trabalho e, como j citamos, demais acontecimentos importantes tais como a criao do

    II Plano Nacional de Direitos Humanos em 2002 e da SEPPIR em 2003. (HERINGER, 2005).

    Em setembro de 2001, na III Conferncia Mundial de Combate ao Racismo, Discriminao

    Racial, Xenofobia e Intolerncia Correlata, realizada em Durban, vimos a temtica racial ganhar

    uma grande redefinio em todo o mundo, em especial no Brasil. Nessa ocasio, centenas de

    pessoas pertencentes s organizaes do movimento negro brasileiro e demais organizaes da

    sociedade civil se uniram com o propsito de repensarem as relaes raciais no Brasil e discutirem

    tanto formas de denncia do preconceito e discriminao, quanto a elaborao de propostas de

    interveno7. Um Comit Nacional de preparao foi institudo para a Conferncia e foram

    promovidos encontros nacionais para a elaborao de um relatrio a ser levado a Durban pela

    delegao brasileira. O documento lista um conjunto de vinte e trs propostas destinadas

    promoo dos direitos da populao negra. Entre estas est a adoo de cotas ou outras medidas

    afirmativas que promovam o acesso de negros s universidades pblicas (Ibidem, p. 27). Esta foi

    sem dvida a medida que despertou maior interesse e suscitou o mais amplo debate, a partir de sua

    divulgao (HERINGER, 2005). Mesmo com os avanos, ainda no conseguimos observar uma

    decisiva transformao nos to conhecidos problemas raciais, e isso foi amplamente discutido na

    Conferncia de Reviso de Durban, ocorrida em abril de 2009, em Genebra. Na ocasio, foi dado

    destaque intolerncia contra religies de matriz africana e tambm necessidade de recursos

    financeiros para serem colocadas em prtica as recomendaes j discutidas em 2001.

    7 As reivindicaes do movimento negro por medidas especficas so de longa data. Na dcada de 1930 surge a Frente Negra Brasileira, o que representou a primeira grande forma de

    resistncia poltica.

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    2. Aes afirmativas: contextos e significados

    Uma das mais crticas lacunas da redemocratizao brasileira refere-se permanncia, em

    todas as esferas da vida social, de hierarquias pautadas em caractersticas adscritas, ou seja,

    elementos inerentes ao indivduo, sobre os quais ele possui pouqussimo ou nenhum controle, como

    o caso do sexo e a cor da pele, que influenciam na definio de lugares sociais(BRAH, 2006) e

    no tratamento recebido pelos demais atores sociais. E uma das propostas que surgiram como

    resposta a esses obstculos sociais foram as polticas de ao afirmativa que, em nossa perspectiva,

    vm traar o caminho rumo quebra do sistema de subalternizao existente no pas, sistema esse

    pautado numa perversa perpetuao do mito da democracia racial e da figura do mestio. O mestio

    foi transformado em um patrimnio imaterial do Brasil, uma marca de brasilidade que tem uma

    dupla funo, como se fosse uma carta curingautilizada conforme a convenincia: seja, por um

    lado, para aproximare causar a iluso de que somos harmoniosamente misturados, ou ento para

    demarcar murose manter as distncias sociais. Esta ltima funo perceptvel, principalmente,

    quando os espaos sociais hierarquicamente estabelecidos passam a ser questionados8

    (MEDEIROS, 2009).

    Neste artigo, as aes afirmativas so compreendidas como medidas que visam mudanas

    nos diferentes aspectos da vida social, especialmente no que diz respeito aos discursos e s prticas

    sociais, na defesa de um verdadeiro respeito e reconhecimento das diferenas tnico-raciais, de

    gnero, de nacionalidade, entre outras especificidades. As aes afirmativas podem assumir

    diversos formatos, que vo desde a reserva de vagas para grupos sociais especficos no mercado-de-

    trabalho e em cargos pblicos at a re-configurao de currculos escolares e de propostas

    pedaggicas com a utilizao de estratgias que desafiem preconceitos e legitimem as vozes

    daqueles cujos padres culturais no correspondem aos dominantes9. Com relao s modalidades

    de ao afirmativa adotadas no ensino superior brasileiro, por exemplo, atualmente vivemos os

    primeiros oito anos dessas experincias10, que j so aplicadas em cerca de oitenta instituies de

    8 O racismo no Brasil se deu de forma articulada com o preconceito de gnero. O Plano Nacional de Educao, de 1937 (produzido na poca de atuao do Ministro de Educao

    Gustavo Capanema), prope um currculo de ensino mdio especfico para meninas de 12 a 18 anos, para prepara-las vida domstica. Capanema idealizou o Estatuto da Famlia, que

    determinava em seus artigos 13 e 14 que s mulheres ser dada uma educao que as torne afeioadas ao casamento, desejosas d a maternidade, competentes para a criao dos filhos e

    capazes da administrao da casa No podero as mulheres ser admitidas seno aos empregos prprios da natureza feminina e dentro dos estritos limites da convivncia familiar

    (COSTA, 2008). No caso das mulheres negras, estudos recentes confirmam que elas formam o grupo social mais subalternizado - em comparao com homens brancos, mulheres

    brancas e homens negrossofrendo um acmulo de discriminaes, por gnero e raa. Em termos de renda, um balano publicado pelo IPEA, em 2004, mostra que as mulheres brancas

    recebiam, em mdia, 61% do que recebiam os homens brancos; os homens negros, por sua vez, recebiam em mdia a metade do salrio mdio dos brancos, enquanto que as mulheres

    negras recebiam em mdia 64,5% do que recebiam os homens negros e apenas 32% do rendimento dos homens brancos (COSTA, 2008).

    9 No Brasil, as Aes Afirmativas so por vezes conhecidas como Polticas de Promoo da Igualdade Racial, sendo assim definidas pela SEPPIR (Secretaria Especial de Polticas de

    Promoo da Igualdade Racial, criada em 2003). Apesar da noo de ao afirmativa j estar presente na ndia, no incio do sculo XX, o termo ao afirmativafoi proferido pela

    primeira vez em 1965 nos EUA, pelo ento presidente da repblica Lyndon B. Johnson, no contexto das lutas dos movimentos soci ais pelos direitos civis. Na Europa as polticas de

    Ao Afirmativa tambm so denominadasDiscrimination Positiveou entoAction Positive(GOMES, 2005).

    10 Vale lembrar que as primeiras experincias de aes afirmativas no ensino superior so datadas do ano de 2001, com as universidades estaduais do Rio de Janeiro, queimplementaram reserva de vagas para estudantes egressos de escolas pblicas, para auto-declarados negros/as, portadores de deficincias e para filhos de policiais militares e bombeiros

    mortos em servio. Atualmente as universidades cariocas seguem a Lei n 5.346, de 11 de dezembro de 2008 que estabeleceu, entre outras questes, a obrigatoriedade do Estado em

    assegurar a permanncia (atravs de bolsas) dos estudantes que entrarem nas universidades pelas aes afirmativas.

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    ensino superior (universidades, faculdades de tecnologia e centros federais de educao

    tecnolgica) que desenvolvem alguma forma de programa de acesso e/ou permanncia

    diferenciados para estudantes de grupos sociais especficos.

    Originria na ndia em 1919, ou seja, antes mesmo da independncia daquele pas, a noo

    de ao afirmativa nasceu a partir da proposta de um membro da casta dos intocveis, Bhimrae

    Ramji Ambedkar, em criar a representao diferenciada dos seguimentos populacionais

    designados inferiores (Dalits e Advasis) nos processos eleitorais. Mais tarde, na dcada de 1950, a

    partir das lutas pela independncia em Gana e Guin, foi criada nesses pases uma srie de

    mecanismos, mediante decretos, de cotas e outras medidas especficas destinadas a garantir o rpido

    acesso da populao nativa s funes antes monopolizadas pelos europeus (MOORE

    WEDDERBURN, 2005). Os Estados Unidos foram o primeiro pas do ocidente a incorporar sua

    legislao um conjunto de medidas criadas com o intuito de emancipar o segmento subalternizadodos afro-americanos e criar referncias positivas desse grupo, que passaria desde ento a ocupar

    espaos no poder pblico, no sistema educacional e no mercado-de-trabalho. De l para c, vrias

    experincias semelhantes foram implementadas em pases como a Malsia, Austrlia, Canad,

    Nigria, frica do Sul, Argentina, Cuba, dentre outros. Na Europa as assim chamadas

    discrimination positive, comearam a ser aplicadas nos anos 1990, dentro do Programa de Ao

    para a igualdade de oportunidades da ComunidadeEconmica Europia, e eram originalmente

    voltadas para a criao de uma paridade representativa das mulheres nos postos de comando.

    Nos diferentes contextos, as aes afirmativas assumem concepes bastante variadas. De

    uma forma bem geral, compreendemos que as vrias concepes a respeito das polticas de ao

    afirmativa podem ser sistematizadas dentro de quatro principais pilares: a) o fundamento da justia

    redistributiva, ou seja, na observao das desigualdades scio-econmicas e na necessidade de

    redistribuio de bens e riquezas; b) aes afirmativas pautadas em objetivos jurdico-normativos,

    ou seja, uma preocupao em se alcanar a igualdade de direitos, dentro da lgica dos princpios

    constitucionais, desde as correntes mais positivistas at aquelas mais progressistas como a

    hermenutica e o pragmatismo jurdico; c) o pilar do reconhecimento social, queest pautado na

    filosofia hegeliana, trazendo uma releitura do contrato social e explicaes para os conflitos sociais

    que so fundamentados, segundo Hegel, pela constante busca de reconhecimento social e da

    realizao da autoconscincia; d) e finalmente o quarto pilar que rediscute a noo de diferena.

    Neste pilar esto os Estudos Culturais, que trazem uma crtica aos discursos hegemnicos e

    subalternizao a qual populaes inteiras so submetidas, mesmo aps a descolonizao11.

    11 O surgimento dos Estudos Culturais associado na maioria das vezes aos primeiros trabalhos de Stuart Hall, mas tambm inclui outros intelectuais tais como Richard Hoggart,Raymond Williams e E. P. Thompson. Juntos - e inclusive com a presena de Charles Taylor, que mais tarde se tornou referncia da Teoria do Reconhecimento- eles fundaram no final

    dos anos 50s e incio dos 60s do sculo XX a Nova Esquerda Inglesa,pautada nas obras de Gramsci, vistas como alternativa terica para as questes no respondidas pelo marxismo

    mais ortodoxo, tais como cultura, ideologia, linguagem e o simblico (HALL, 2005). Em 1964 foi fundado o Centre for Contemporary Cultural Studies(CCCS).

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    3. Aes afirmativas no Brasil e a quebra do silncio

    As discusses acerca das aes afirmativas para populao negra se intensificaram muito

    aps as primeiras medidas para a implementao de cotas em universidades pblicas para o ingresso

    de grupos minoritrios historicamente discriminados da esfera acadmica. O tema alcanou seu

    auge em meados do ano de 2003, quando foram ajuizados mais de 200 mandados de segurana

    individual, trs Representaes de Inconstitucionalidade perante o Tribunal de Justia do Estado do

    Rio de Janeiro e duas Aes Diretas de Inconstitucionalidade (ADIn) perante o Supremo Tribunal

    Federal contra as leis editadas pelo governo do Estado do Rio de Janeiro.

    As disputas jurdicas a respeito da constitucionalidade das aes afirmativas para a

    populao negra demarcam um momento de extrema importncia para o Brasil: os movimentos

    sociais tm se pronunciado; o poder judicirio discute revises a respeito do princpio da igualdade

    jurdica; assistimos ao surgimento de diversas propostas e projetos por parte de rgos pblicos; os

    brasileiros como um todo esto discutindo um grande dilema nacional, silenciado e banalizado

    durante toda a histria do pas.

    O fato das universidades fluminenses terem sido a primeira experincia de aes afirmativas

    no ensino superior brasileiro, somado avalanche de reaes conservadoras por parte de uma mdia

    hegemnica, provavelmente explicam o grande nmero de estudantes que se posicionaram

    contrariamente a esses programas por meio da justia.

    Consideramos, entretanto, que a publicizao de posies contrrias s aes afirmativas foi

    bastante positiva por dois motivos principais: primeiro porque a massiva divulgao dos conflitos

    judiciais colocou em evidncia a fragilidade do argumento sobre a pretensa existncia de uma

    democracia racial brasileira, e, em segundo lugar, porque o pior inimigo na luta pela

    desnaturalizao das hierarquias sociais o silncio, que comea a ser quebrado. Foucault um

    autor que buscou realizar uma arqueologia do silncio, silncio dos sujeitados e que o primeiro e

    mais forte componente dos processos de estigmatizao, discriminao e marginalizao. Foucault -

    que incomodou as correntes mais ortodoxas das cincias humanas contemporneas com apublicao de obras comoAs Palavras e as Coisas(1966), Vigiar e Punir(1976) eMicrofsica do

    Poder(1979) - quis compreender como se do esses processos, que negam ou desfiguram as falas

    de muitos sujeitos e que operam ao nvel da percepo social, das instituies sociais, do aparelho

    judicirio, da famlia, do Estado e do senso comum (FOUCAULT, 2005; BRUNI, 1989). O

    conjunto de discursos e prticas sociais presentes nessas dimenses formam o que Foucault chama

    de dispositivo, que

    um conjunto decididamente heterogneo que engloba discursos, instituies,organizaes arquitetnicas, decises regulamentares, leis, medidasadministrativas, enunciados cientficos, proposies filosficas, morais,

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    filantrpicas. Em suma, o dito e o no dito so elementos do dispositivo. Odispositivo a rede que se pode estabelecer entre esses elementos. (FOUCAULTapudMISKOLCI, 2009).

    No Brasil, quando se busca discutir a discriminao racial e a adoo de medidas

    especficas, tais como as aes afirmativas, uma das primeiras reaes contrrias a defesa de que

    no se deve falar sobre o racismo, pois isso acirraria os conflitos raciais. E ento, busca-se no Brasil

    a perpetuao de uma espcie depacto de silncioestabelecido pelo mito da democracia racial e no

    qual nenhum dos lados deve se manifestar, ou seja, no se faz a auto-crtica sobre as prticas

    racistas e os sujeitados no devem questionar ou incomodar o racismo estabelecido. O exerccio do

    silncio significa afundar no esquecimento as palavras imperfeitas; o rompimento do dilogo e a

    separao compreendida como algo j adquirido, desde sempre.

    Um exemplo recente de manifestaes contrrias ao abalo das bases racistas no Brasil

    aconteceu no Rio Grande do Sul, pichadas nos muros da UFRGS. Em junho de 2007, quando o

    Conselho Universitrio votava o sistema de reserva de vagas para a instituio, uma aluna da

    graduao entrou com pedido de liminar junto ao TRJ para impedir a criao do programa. A

    liminar foi concedida e o reitor, Jos Carlos Ferraz Hennemann,entrou com recurso. Enquanto isso,

    estudantes favorveis implementao do programa de aes afirmativas faziam viglia em frente

    reitoria como forma de apoio ao pedido de recurso. Dias depois a desembargadora Paula Beck

    Bohn, da 2 Vara da Justia Federal, voltou na deciso e permitiu o prosseguimento da votao.

    Aps a aprovao do programa, alunos picharam frases racistas nos muros da escola de engenharia,que diziam: "Negro, s se for na cozinha do RU (restaurante universitrio)" e "Voltem para a

    senzala, demonstrando o carter secular de dominao, muito longe da imagem freyriana do

    harmonioso paraso tropical , noo esta que insistentemente resgatada nos dias atuais por

    alguns jornalistas e inclusive por professores universitrios12.

    Se antes a igualdade jurdica (ou formal) era um princpio na prtica adormecido nas

    linhas constitucionais, pode-se afirmar que ele foi fortemente sacolejado com o debate das aes

    afirmativas no Brasil, que vm questionar essa que uma das mais famosas promessas damodernidade.

    4. A rediscusso de valores da modernidade

    O to aclamado argumento da igualdade tem sido um dos pontos mais debatidos entre

    estudiosos das aes afirmativas. Algumas desses estudiosos empenhados pela implementao das

    aes afirmativas no pas se tornaram amplamente citados em trabalhos acadmicos, como o caso

    do ministro do STF, Joaquim Barbosa Gomes, autor do famoso livro Ao Afirmativa e Princpio

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    Constitucional da Igualdade. O Direito como Instrumento de Transformao Social. A experincia

    dos EUA (2001). Nessa obra, Gomes define a igualdade como sendo uma construo jurdico-

    formal segundo a qual a lei, genrica e abstrata, deve ser igual para todos, sem qualquer distino e

    completamente neutra.

    As constituies americana (1787) e francesa (1791) consagraram o liberal-individualismoe a premissa da igualdade de oportunidades, segundo a qual o Estado se abstrai de quaisquer

    intervenes na vida econmica e social, e os cidadosdesenvolvem livremente suas aptides

    segundo suas qualidades pessoais. Opondo-se aos mecanismos vigentes anteriormente para a

    promoo e definio de status social a partir de distines hereditrias, a nova ordem igualou todos

    a partir do mrito individualcomo medida para repartio de bens, recursos e mobilidade social. A

    defesa da igualdade de oportunidades no surgiu como uma fora contrria escravido e

    subordinao de povos inteiros ao colonialismo: a Frana manteve suas colnias at 1962, dcadaem que ainda vigoravam medidas segregacionistas nos Estados Unidos. sobre a base de

    pensamento poltico do liberal-individualismo que permaneceram todas as constituies seguintes,

    de forma praticamente intacta at, pelo menos, o fim da Primeira Guerra Mundial, quando inicia

    uma inflexo dentro do prprio conceito universalista da igualdade, pressionada por levantes

    populares - como os ocorridos no Mxico, em Moscou e So Petersburgo - e que se aprofunda ao

    longo do sculo XX, com a exploso de debates sobre os aspectos civis, polticos, sociais e

    econmicos do Direito (MOEHLECKE, 2004).

    Entre as tentativas de trazer novas formulaes igualdadeda tradio liberal, destaca-se

    John Rawls, com a publicao de Uma Teoria da Justia, em 1971, que influenciou os debates

    sobre ao afirmativa nos Estados Unidos. Rawls estabeleceu uma ordem entre os elementos de sua

    teoria e definiu dois princpios bsicos de justia:

    1) Cada pessoa deve ter um direito igual ao mais abrangente sistema total deliberdades bsicas iguais que seja compatvel com um sistema semelhante deliberdades para todos;

    2) As desigualdades econmicas e sociais devem ser ordenadas de tal modo que,ao mesmo tempo: a) Tragam o maior benefcio possvel para os menos favorecidos,obedecendo s restries do princpio da poupana justa, e b) Sejam vinculadas acargos e posies abertos a todos em condies de igualdade eqitativa deoportunidades. (RAWLS apud MOEHLECKE, 2002).

    Rawls visualiza duas interpretaes possveis para o princpio da igualdade: o sistema de

    liberdades naturais e a igualdade liberal de oportunidades, com as quais ele discorda e responde

    defendendo a noo de igualdade democrtica. A liberdade natural, afirma Rawls, sinnima de

    12 Acontecimentos noticiados no jornal Zero Hora, em 29/01/2008. Discusso completa no texto de Priscila M. Medeiros, intitulado Raa e Estado Democrtico: o debate

    sociojurdico acerca das polticas de Ao Afirmativa no Brasil(2009).

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    aristocracia natural e aquela que prev a igualdade formal e a garantia de acesso de todos aos bens

    e posies sociais. Mas, de acordo com o autor, essa concepo est limitada s circunstncias e

    arbitrariedades que influenciam na distribuio de bens. Para Rawls, a igualdade liberal de

    oportunidades, assim como discutimos h pouco, um exerccio de meritocracia, pois estabelece

    como justas as distribuies desiguais, pautadas na noo de diferenas naturais de capacidades etalentos. Rawls critica o mrito, pautado na noo de capacidades inatas, e se pergunta se isso seria

    resqucio da idia religiosa de dom, distribudo de acordo com o pertencimento a determinadas

    castas (MOEHLECKE, 2004).

    Ao rejeitar essas duas noes de igualdade, Rawls sugere a igualdade democrtica, que

    uma combinao do princpio da distribuio eqitativa de oportunidades com sua concepo de

    diferenas, compreendidas como caractersticas intrnsecas estrutura da sociedade e que podem

    ser inatas ou determinadas socialmente. Para ele, a sociedade deve dar mais ateno queles que sooriundos de posies sociais menos favorecidas, com a inteno de reparar o desvio das

    contingncias na direo de uma genuna igualdade de oportunidades. De qualquer forma, Rawls

    estabelece um debate dentro dos limites liberais com o objetivo de aperfeioar seus mecanismos.

    No Brasil, Joaquim Barbosa Gomes (2001) coloca em discusso que a neutralidade do

    Estado Liberal tem se revelado bastante ineficaz e reduzida basicamente aos limites jurdicos, e

    ento, a igualdadepassa a ser analisada sob outra tica, na qual a ateno recai sobre a distino

    entre essa igualdade formal de uma igualdadesubstancial. Esta ltima diz respeito a uma igualdade

    materializadaa partir da percepo das hierarquias sociais e da adoo de medidas para corrigir as

    desigualdades.

    Charles Taylor, por sua vez, um autor que busca na teoria hegeliana do reconhecimentoos

    fundamentos de crtica ao pensamento liberal, questionando a pretensa neutralidade em suas

    concepes, carregadas de valores eurocntricos e cristos, e a possibilidade de falarmos em

    direitos humanos universais, que no sejam eles mesmos expresses das tradies ocidentais. Um

    ponto bastante marcante em sua teoria a dimenso expressiva da linguagem, que instrumentaliza

    as representaes, tanto no mbito individual quanto no social. Para Taylor, a imagem e os

    conceitos que formamos sobre ns mesmos dependem do reconhecimento dado externamente pelos

    demais sujeitos, e a falta do reconhecimento, ou o reconhecimento errneo, ocasiona a

    interiorizao de um sentimento de inferioridade. Taylor, no entanto, vislumbra a possibilidade de

    convivncia entre o reconhecimento e a tradio liberal. Sua questo a observncia dos elementos

    subjetivos, mas dentro dos limites liberais: ele se posiciona a favor de polticas multiculturais e se

    refere ao exemplo de Quebec para mostrar como possvel um Estado liberal proteger grupos

    sociais historicamente no reconhecidos (MATTOS, 2006; MOEKLECKE, 2002).

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    Apesar dos resultados serem bastante questionveis, o que vemos, tanto em algumas

    literaturas internacionais quanto brasileiras um esforo de vrios autores no sentido de avaliar o

    verdadeiro alcance do princpio liberal da igualdade e tambm seu substrato, suas razes. Ainda que

    reconheamos que grande parte dessas literaturas traz novas propostas apenas colocadas sobre um

    terreno intacto de pressupostos eurocntricos, percebemos que as crticas levantadas por estudantese seus advogados, contrrios s aes afirmativas no ensino superior, ainda so alcanaram nem

    mesmo esse patamar do debate, e ainda recorrem a concepes de igualdade j questionadas

    inclusive pelos mais conservadores.

    Como j discutimos h pouco, os princpios da igualdade e do mritoguiaram o processo de

    transio do antigo regime europeu para o Estado democrtico moderno. Esses dois princpios

    foram construdos de forma interligada, de uma tal maneira que a igualdade atua como idia

    reguladora do mrito, oferecendo no decorrer da histria os critrios para que este se perpetue.Assim, esses fundamentos continuam a agir como mecanismos de regulao de instituies e

    legislaes at os dias de hoje.

    Na obra A Economia das Trocas Simblicas, de Pierre Bourdieu (2007) discute como o

    sistema de ensino oferece os mecanismos para a perpetuao de privilgios e hierarquias sociais,

    distribuindo o capital cultural de forma desigual entre os grupos sociais, o que no difere, em sua

    essncia, dos mecanismos de clientelismo e parentesco do antigo regime. De acordo com ele,

    Ao apresentar as hierarquias sociais e a reproduo destas hierarquias como seestivessem baseadas na hierarquia de dons, mritos ou competncias que suas

    sanes estabelecem e consagram, ou melhor, ao converter hierarquias sociais emhierarquias escolares, o sistema escolar cumpre uma funo de legitimao cadavez mais necessria perpetuao da ordem social os novos mecanismos

    culturais e escolares de transmisso viriam apenas reforar ou substituir osmecanismos tradicionais, como por exemplo, a transmisso hereditria de umcapital econmico, de um nome de famlia ou de legado de relaes sociais. (BOURDIEU, 2007, p. 311-312).

    Dessa forma, o argumento do mrito esconde em si dois problemas bsicos: primeiro porque

    questes que so de ordem social so transformadas em questes especficas do sistema educacionalno intuito de desviar o foco da cadeia de privilgios existente. E, em segundo lugar, o princpio do

    mrito sustentado por uma imagem de igualdade de oportunidades e de procedimentos

    democrticos, e ento os sujeitos que so historicamente aprovados em um processo seletivo

    universitrio comemoram, como se suas aprovaes fossem imprevistas. Sobre esse segundo

    problema do princpio do mrito, Bourdieu diz:

    Os mecanismos objetivos que permitem s classes dominantes conservar o

    monoplio das instituies escolares de maior prestgio se escondem sob aroupagem de procedimentos de seleo inteiramente democrticos cujos critriosnicos seriam o mrito e o talento, e capazes de converter aos ideais do sistema os

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    membros eliminados e os membros eleitos das classes dominadas, estes ltimos osmilagrosos levados a viver como milagroso um destino de exceo que constitui

    a melhor garantia da democracia escolar (BOURDIEU, 2007, p. 313).

    A universidade pblica brasileira se mostra como um verdadeiro celeiro das elites, um

    espao blindado contra milhes de jovens que prestam vestibulares anualmente. A sociedade

    brasileira precisa se perguntar se possvel defender o mrito construdo sobre a enorme

    discrepncia de acesso entre, por exemplo, brancos e negros: em 2005, apenas 6,6% dos jovens

    negros freqentavam o ensino superior (pblico e particular); entre os brancos, o percentual era de

    19%, quase trs vezes maior (CICONELLO, 2008). O ingresso ao ensino superior um elemento

    central para mudar, positivamente, os rumos de uma vida: os nmeros mostram que cada ano de

    acrscimo de escolarizao representa 10% de aumento na renda de um indivduo. Alm disso,

    dados de 2002 mostram que um indivduo com Ensino Mdio tinha uma probabilidade de 17,6% de

    estar desempregado, mas se ele possusse diploma universitrio, esse percentual caa para 5,4%

    (IPEA, 2006).

    5. Ao afirmativa: os limites da noo de diversidade e as potencialidades da diferena

    Frente aos argumentos de igualdade de oportunidades e do mrito individual, o

    Multiculturalismo traz a defesa da diversidade culturalcomo uma alternativa poltica e como um

    valor a ser perseguido e incentivado. Em vrias situaes, vemos o Brasil sendo descrito, enaltecido

    e mostrado ao resto do mundo como um pas que possui um trao distintivo e singular em sua

    cultura, conseqncia de uma diversidade que traz unicidade, ou seja, uma unidade vinda da

    mestiagem.

    Sobre a perspectiva da diversidade cultural, Bhabha compreende que

    (...) na tradio liberal particularmente no relativismo filosfico e em algumasformas de antropologiaa idia de que as culturas so diversas, e de que em certosentido a diversidade de culturas uma coisa boa e positiva que deve serincentivada, j conhecida h algum tempo. um lugar-comum das sociedades

    pluralistas e democrticas dizer que elas podem incentivar e acomodar adiversidade cultural. (Trecho de ntrevista concedida por Hommi Bhabha paraRutherford. RUTHERFORD apudSILVRIO, 2005).

    O problema que o incentivo diversidade ocorre dentro de limites universalistas, que

    mantm intactos os valores, interesses e normas etnocntricos. O discurso sobre a diversidade

    cultural agradvel aos ouvidos de quem ouve, mas funciona no sentido de permanncia das

    prticas racistas, onde as particularidades desse diverso so reduzidas, folclorizadas e exotizadas.

    Entretanto, deve-se estar atento que neste debate existem perspectivas distintas no que se

    refere diversidade; entendida aqui como o fundamento da poltica de ao afirmativa. De acordo

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    com a recente publicao do Ministrio da Educao, evidenciam-se trs concepes, em disputa,

    no interior do mesmo campo semntico. Ao referir-se diversidade o Ministrio da Educao

    assinala que:

    A primeira tem por base o binmio incluso/excluso, que busca incorporar os

    excludos a um modelo institudo de poltica a partir da perspectivasocioeconmica, desconsiderando suas identidades especficas[...]A segundaabordagem baseada na ao afirmativa ou na discriminao positiva. Nela, acompreenso que a situao de pobreza e/ou desigualdade social em que seencontram determinados grupos sociais como os negros, ndios e mulheres no

    pode ser atribuda exclusivamente aos indivduos isoladamente[...]Na terceiraabordagem a diversidade tratada na chave das polticas de diferena, as quais se

    distinguem das polticas de incluso social e das polticas da ao afirmativa nopela nfase no particularismo, mas pela demanda pelo igual reconhecimento dodireito das diversas culturas a se expressarem e atuarem na esfera pblica . (MEC,2008: p, 23).

    O debate sobre polticas de ao afirmativa parece ser bem mais complexo que as posies

    binrias; favorveis ou contrrias, em verdade repousam neste debate questes de maior amplitude

    que esto relacionadas com a prpria estrutura da sociedade. Ao indicar que existem concepes

    distintas sobre o sentido e o significado das polticas de ao afirmativa, presume-se que o mais

    recorrente na literatura sobre o tema, ou seja, a dimenso da igualdade, disputa espaos tanto na

    teoria social, quanto na sociedade propriamente dita. Os fatos mais recentes parecem corroborar tal

    perspectiva. Muitos dos setores que se posicionavam contrariamente s polticas de ao

    afirmativa, hoje j se mostram simpticos a iniciativas desta natureza: aes que tenham como

    pblico alvo, deficientes fsicos, mulheres, indgenas e egressos de escolas pblicas j no so

    fustigadas. As crticas contundentes esto direcionadas exclusivamente para aqueles programas,

    nas universidades pblicas, que persistem na dimenso racial das polticas afirmativas de direitos,

    caladas no igual reconhecimento pblico das diferenas, neste caso, a racial. Ao analisar boa

    parcela da mdia nacional, particularmente Revistas e Jornais de circulao nacional, Moya (2009:

    p. 167 e 169) assevera que

    Com o passar do tempo ficou evidente que a intransigncia do jornal pautava-seexclusivamente no foco racial das propostas afirmativas, pois o mesmo flexibilizouseu posicionamento em relao s cotas, desde que a raa no fosse o critrioutilizado por elas, ou seja, passou a considerar a possibilidade de tais polticas comcritrio scio-econmico. O fato que desde esta poca a Folha tem defendidoa substituio do critrio racial pelo o econmico nas polticas afirmativasuniversitrias em voga, alm de acentuar sua oposio ao projeto de lei que instituicotas raciais em todas IES federais do pas.

    Posicionamentos desta natureza informam que o centro nevrlgico do debate deixou de ser a

    implementao de polticas de ao afirmativa, como se percebe do trecho acima e distintamente doque vem sendo propalado, o consenso em torno da validade das polticas de ao afirmativa j est

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    consagrado, mesmo nos setores que mais reagiram negativamente; o que parece ser o pomo de

    discrdia parece estar no contorno tnico e racial de tais polticas. Em outras palavras, polticas que

    tendam a incluir e a combater desigualdades centradas na dimenso scio-econmica tornam-se

    admissveis, contudo as que se orientam pela dimenso da diferena tnico-racial so

    veementemente condenadas.E qual seria a base da negao tnico-racial em polticas afirmativas de direito ? Ainda que

    no tenhamos muito espao para o desenvolvimento do argumento, creditamos tal recusa ao sentido

    que pode assumir as polticas de ao afirmativa no Brasil contemporneo, pois no se trataria

    apenas da luta pela criao, expanso e consolidao de uma classe mdia negramas tambm no

    se trata de abandonar tal perspectiva. Disputando espaos polticos na sociedade brasileira com esta

    interpretao, teramos um projeto nascido em torno da dcada de 1970 com o ressurgimento do

    Movimento Negro. Podemos, assim, especular que a partir das aes concretas do MovimentoNegro que a demanda por aes afirmativas est centrada na esfera do reconhecer a diferena que

    h e cujos porta-vozes so os marcados diferencial e subalternizadamente pela raa e pela etnia,

    alm de outros marcadores, evidentemente.

    O contraponto da orientao baseada na dimenso da igualdade, onde todos seriam iguais e,

    portanto, com os mesmos direitos; o contraponto, como dizamos, parece ser bem captado em

    documento pblico e oficial que percorre a mo de milhares de professores que antes jamais sabiam

    o que fazer. No Parecer CNE/CP 3/2004 que regulamenta a Lei 10639/03, tornando obrigatrio o

    ensino de Histria e Cultura Afro-Brasileira e Africana assevera que:

    Com esta medida [a Lei 10639/03 grifos nossos], reconhece-se que alm de garantirvagas para negros nos bancos escolares, preciso valorizar devidamente a histria ecultura de seu povo, buscando reparara danos, que se repetem h cinco sculos, suaidentidade e a seus direitos. importante destacar que no se trata de mudar umfoco etnocntrico marcadamente de raiz europia por um africano, mas de ampliar ofoco dos currculos escolares para a diversidade cultural, racial, social e econmica

    brasileira . preciso ter clareza que o Art. 26A acrescido Lei 9394/1996 provocabem mais do que incluso de novos contedos, exige, que se repensem relaes tnico-raciais, sociais, pedaggicas, procedimentos de ensino, condies oferecidas para

    aprendizagem, objetivos tcitos e explcitos da educao oferecida pelas escolas (MEC,2004: p. 17).

    Os acontecimentos mais recentes, como a ampliao do consenso em torno da adoo de

    polticas de ao afirmativa em geral, ao mesmo tempo em que se encontram recusas aos projetos

    de lei, como o que institui reserva de vagas para egressos da escola pblica e a populao negra no

    sistema federal de ensino superior e o Estatuto da Igualdade Racial demonstram que estamos muito

    longe de chegarmos concluso deste debate, porm o que podemos inferir diante da realidade

    que no Brasil contemporneo as polticas de ao afirmativa podem extrapolar os limites da

    igualdade por Santos (2008: pp. 279-316) e se configurarem num debate profcuo acerca das

    diferenas que insistem e persistem em fazer a diferena.

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    a partir desse entendimento que autores associados aos Estudos Culturais, especialmente

    os Estudos Ps-Coloniais, optam pelo conceito de diferena.

    A diferena, tal como colocada pelos Estudos Ps-Coloniais, nada tem a ver com

    construes identitrias homogeneizadoras, nem a uma dada pertena simblica a algum lugar de

    nascimento, moradia ou insero social. Ela umacategoria enunciatria,que no domesticadaou aprisionada em fronteiras, mas sim algo imprevisvel, incerto e contingente. A diferenado ps-

    colonialismo refere-se ao termo diffrance, utilizado por Jacques Derrida, e que no traduzvel no

    processo de significao dos signos, nem organizvel nas polaridades de dominao modernas

    (preto/branco; mulher/homem; eu/outro; ns/eles, sujeito/objeto). A incompletude dessas

    representaes encontra-se fundamentada na prpria linguagem, na complexa articulao(para usar

    uma terminologia de Hall) entre discursos e sujeitos, que so construdos simultaneamente

    (COSTA, 2006). A articulao entre discursos e sujeitos gera o que Hall chamou de sujeitoscoletivos, que podem ser alvo da principal estratgia discursiva da diferena: o esteretipo.

    O esteretipo, de acordo com Bhabha, tem natureza dbia, pois algo esttico (que est

    sempre no lugar) e, ao mesmo tempo, que deve ser ansiosamente repetido (BHABHA, 2007).

    com a problematizao do discurso do esteretipo e dos processos de subjetivao que Bhabha

    percebe o caminho a ser seguido na compreenso e quebra das categorias hegemnicas. A crtica ao

    discurso do esteretipo se estende tambm ao modo como se construiu o valor da diversidade, que

    historicamente foi aceita se estivesse dentro dos arranjos normativos eurocntricos, reduzindo as

    particularidades do diverso ao exotismo e folclorizao.

    Esta distino entre diversidadee diferenano apenas uma questo conceitual ou terica.

    Muito alm disso, a escolha entre uma ou outra concepo tem impactos prticos no momento de se

    pensar em polticas para os diferentes grupos sociais. A diversidade cultural no deve ser

    discursivamente introduzida nas propostas de polticas pblicas sem a devida ateno e respeito s

    diferenas que se manifestam na interao entre os grupos. Esse , sem dvida nenhuma, um

    importante desafio de reflexo colocado para todos aqueles que dialogam sobre a complexidade da

    questo racial no Brasil e que apiam a implementao de polticas de ao afirmativa.

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