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51 50 AZUL MAGAZINE MAIO 2017 MAIO 2017 AZUL MAGAZINE Belo Horizonte NÃO SE ENGANE: BELO HORIZONTE MERECE MAIS DO QUE UM FIM DE SEMANA DE VISITA. SUAS RICAS ATRAÇÕES ARQUITETÔNICAS E CULTURAIS E SEUS ENDEREÇOS GASTRONÔMICOS GANHAM MAIS GRAÇA QUANDO HÁ TEMPO PARA BOAS CONVERSAS COM SEU POVO HOSPITALEIRO ACOLHIDA ACOLHIDA POR BRUNA TIUSSU FOTOS ROBERTO SEBA MINEIRA MINEIRA No sentido horário: queijos do Mercado Central; torresmo de barriga de porco do Xapuri; Estádio Mineirão; e imagem religiosa exposta no Memorial Minas Gerais Vale Igreja de São Francisco de Assis, no complexo da Pampulha

ACOLHIDAACOLHIDA MINEIRA · 2018-04-19 · da arte mineira — e sobretudo brasileira — também mantêm abertas as portas de suas casas. Famoso por montagens de dança contemporânea,

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Belo Horizonte

NÃO SE ENGANE: BELO HORIZONTE MERECE MAIS DO QUE UM FIM DE SEMANA DE VISITA. SUAS RICAS ATRAÇÕES ARQUITETÔNICAS E CULTURAIS E SEUS ENDEREÇOS GASTRONÔMICOS GANHAM MAIS GRAÇA QUANDO HÁ TEMPO PARA BOAS CONVERSAS COM SEU POVO HOSPITALEIRO

ACOLHIDAACOLHIDA

POR BRUNA TIUSSU FOTOS ROBERTO SEBA

MINEIRAMINEIRANo sentido horário: queijos do Mercado Central; torresmo de barriga de porco do Xapuri; Estádio Mineirão; e imagem religiosa exposta no Memorial Minas Gerais Vale

Igreja de São Francisco

de Assis, no complexo da

Pampulha

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esconfiado, o mineiro franze o cenho quando questionado sobre as principais atrações de Belo Ho-

rizonte. Também, pudera. Rodeada de vizinhos turisticamente afor-

tunados, a cidade se firmou ao longo dos anos apenas como ponto de partida para destinos como Ouro

Preto, Inhotim e Serra do Cipó. Mas o mineiro, além de desconfiado, também

é apaixonado por sua terra. Bastam alguns segundos para organizar os pensamentos e então desenrolar uma lista de lugares que enaltecem as riquezas cultural, histórica e arquitetônica da capital. Enquanto passa um café, menciona ainda os muitos bares e restaurantes de comida regional. Pronto. Ardiloso que só ele, convence o viajante a gastar mais do que um fim de semana na sua BH.

A capital, de fato, merece uma atenção cuidadosa. Pla-nejada e fundada em 1897 como símbolo da era republicana brasileira, ela cresceu (hoje tem 2 milhões de habitantes) e se tornou cosmopolita, mas não perdeu o aconchego de cidade do interior. Tanto que os belo-horizontinos a chamam de roça grande.

Um de seus atributos, por exemplo, é a segu-rança. Sobretudo em locais de intenso movimento, como o Mercado Municipal, o complexo da Pam-pulha e a Praça da Liberdade. O primeiro é parada obrigatória, no fim da viagem, para comprar queijos, cachaças e compotas. O segundo repre-senta um mergulho no modo de vida da antiga elite de BH. Nos anos 1940, o então prefeito Juscelino Kubitschek transformou a área que circunda a lagoa em reduto de lazer com a construção de um cassino (o atual Museu de Arte Moderna), do Iate Clube, da Casa do Baile e de uma igreja. Todos com projetos de Oscar Niemeyer, pinturas de Cândido Portinari, paisagismos de Burle Marx e esculturas de Alfredo Ceschiatti. Nada bobo, JK também ergueu ali uma casa de veraneiro da qual usufruiu por dois anos. Hoje, aberta a visitação gratuita, como os demais espaços — exceto a igreja, com ingresso a R$ 2 —, ela surpreende com seus móveis modernistas e um belo jardim.

Já a Praça da Liberdade, no badalado bairro Savassi, tem como ponto alto a mistura de passado, presente e futuro. Estão lá o imponente Palácio da Liberdade (1897), antiga sede do governo do Estado, o Edifício Niemeyer (1960), com suas curvas características, e museus supertecno-lógicos, ocupando prédios neoclássicos do fim do século 19. Para visitar todos eles — entradas gratuitas — é preciso mais de um dia. A dica é começar pelo Memorial Minas Gerais Vale, que faz um passeio pela literatura, pela cultura e pela história do Estado de forma interativa. Depois há ainda o Espaço do Conhecimento UFMG, que tem um planetário, a Casa Fiat, com um lindo painel de Portinari, o Centro Cultural Banco do Brasil e o Museu das Minas e do Metal.

A Praça da Liberdade também é um dos grandes palcos de manifestações populares. Pois o belo-horizontino aprendeu muito bem a utilizar os espaços públicos de sua roça grande. Um movi-mento alavancado lá atrás por entidades culturais que cruzaram as fronteiras do País, como o Grupo Galpão. "Começamos como um grupo de teatro de rua e levávamos nossos espetáculos, em meados de 1980, para a Praça da Liberdade e para a Praça do Papa. No começo, iam 500 pessoas. Depois contávamos 5 mil. Isso nos proporcionou uma relação muito íntima com a cidade", conta Eduardo Moreira, um dos fundadores da companhia.

Fachada do Museu de Artes e Ofícios; abaixo,

interior do Memorial Minas Gerais Vale

Casa Kubitschek, no complexo da Pampulha; abaixo, Edifício Niemeyer, na Praça da Liberdade

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Outros grandes eventos ocupam a Praça da Estação, antiga porta de entrada de BH, que hoje abriga o Museu de Artes e Ofícios. Saraus, shows e manifestações fazem parte da agenda de área aberta. O espaço também alavancou o renascimento do carnaval de rua da cidade, em 2011. E que renascimento: neste ano, a capital recebeu 500 mil visitantes e somou 3 milhões de foliões, espalhados por 350 blocos.

Mesmo fora da época carnavalesca, há como co-nhecer os ritmos locais numa visita à sede do Tambor Mineiro. Ali, o instrumentista, compositor e ator Mau-rício Tizumba acolhe os visitantes com extrema sim-patia e os convida a entrar na roda para arriscar alguns batuques junto com o grupo de percussão, cuja grande influência é o congado, um baile dramático com canto e música. Uma experiência no mínino memorável.

Duas companhias importantes na exportação da arte mineira — e sobretudo brasileira — também mantêm abertas as portas de suas casas. Famoso por montagens de dança contemporânea, como 21 (1992) e Onqotô (2005), o Grupo Corpo faz alguns ensaios abertos e recebe em seu espaço visitantes interessados em ter mais contato com a companhia (é preciso agendar com antecedência). A trupe de teatro de bonecos Giramundo, por sua vez, não gostava da ideia de deixar seus bonecos guardados e organizou em sua sede um museu com personagens de seus 37 espetáculos. Basta marcar uma visita para percorrer a linha do tempo da companhia, conhecer os bastidores das produções e bater um caloroso papo com artistas da equipe. Porque o mineiro, além de acolhedor, também é ótimo conversador.

Detalhe do painel externo, de Cândido Portinari, na Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha

Praça do Papa, um dos locais mais altos da cidade; ao lado, estande do Mercado Central

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É melhor dar um tempo na dieta se for a Belo Hori-zonte. Ponto importantíssimo na cultura mineira, a gastronomia é levada muito a sério na cidade, que, de quebra, ostenta o título de capital dos botecos. O viajante esperto, portanto, organiza-se para provar de tudo um pouco.

O restaurante Xapuri, atração turística consa-grada, tem o fogão a lenha mais bonito da cidade e é considerado o melhor representante da tradicional culinária mineira. No ambiente rústico, os clientes se deliciam com torresmos de barriga (R$ 35,90), lombo assado (R$ 98,90) e outras receitas tradi-cionais. "Preparamos o que gostamos de comer. E fazemos questão de receber as pessoas como o mineiro faz: na cozinha de sua casa", diz Flávio Trombino, no comando do negócio junto com a mãe, Nelsa. Ao lado do Xapuri está o Maria das Tranças, de 1950, que fez fama com um único prato: o frango ao molho pardo (R$ 56). O segredo está no preparo do molho, feito com sangue fresco. Outras iguarias do Estado, por sua vez, ganham espaço no Villa Emporium Armazém, que tem fabricação própria de linguiças, doces e caldos e serve vinhos mineiros, da vinícola Luiz Porto e da Casa Geraldo.

Para balancear os sabores, o Glouton, do jovem chef Leo Paixão, é imbatível no quesito técnica apurada, ingredientes frescos e criatividade brasi-leira. Com ambiente aconchegante, o Au Bon Vivant é opção francesa corretíssima e descomplicada. Contrariando as expectativas, a cozinha é coman-dada pela mineira Silvana, enquanto seu marido, Philippe, francês, encarrega-se da carta de vinhos.

BH também possui endereços com um pé na tradição e outro na modernidade. Espécie de lan-chonete de um ingrediente só, a Pão de Queijaria serve a iguaria nas versões pura e recheada, para serem acompanhadas de um bom café ou uma cerveja. Cerveja, aliás, é o ponto forte do Agosto Butiquim, que privilegia rótulos do Estado, além de ter ótimos drinques com aguardentes aromatizadas. A criatividade da casa se estende aos divertidos nomes dos petiscos, como o dona Berinjela e seus dois quitutes (berinjela crocante, cubos de carne e bolinhos de angu com couve; R$ 40,90) e o quiprocó com lobrobó (músculo refogado com ora-pro-nóbis, batata chips e confit de alho; R$39,99). Melhores representantes do bom humor mineiro não há.

AH, A GASTRONOMIA...AH, A GASTRONOMIA...

Drinque do Agosto Butiquim; acima, pães de queijo da

A Pão de Queijaria

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BELO HORIZONTE Três noites no hotel Nacional Inn

Belo Horizonte, com café da manhã Saída em 8/6/2017

(de Viracopos)

sem juros

10x de 45R$ ,30azulviagens.com.br / 4003 1181

ONDE COMER

COMO IRA Azul opera inúmeros voos para Belo Horizonte, a partir das principais cidades do País. A capital mineira é o segundo maior hub da companhia.Mais informações: 4003 1118 / voeazul.com.br

Xapuri (foto) Para provar os mais saborosos clássicos da culinária mineira em um ambiente que remete a uma fazenda. R. Mandacaru, 260, Pampulha31 3496 6198 restaurantexapuri.com.br

Villa Emporium Armazém O bufê de almoço oferece o melhor da cozinha regional. À noite, no sistema à la carte, brilham caldos, petiscos e espetinhos.Av. Afonso Pena, 4034, Mangabeiras31 3281 1277

Agosto Butiquim A casa, que costuma promover eventos culturais, é o boteco ideal para uma noite entre amigos. Vale provar os drinques com aguardente aromatizada.R. Esmeralda, 298, Prado31 3041 1137

ONDE FICAR Mercure Lourdes

O ponto forte do hotel é sua localização, próxima do badalado bairro Savassi e da Praça da Liberdade. Os quartos superconfortáveis, equipados com frigobar e ar-condicionado, proporcionam uma ótima e silenciosa noite de sono. Diárias a partir de R$ 219, em quarto duplo. Av. do Contorno, 7315, Lourdes31 3298 4100 / mercure.com

Ouro Minas Palace Hotel Oferece mimos típicos de um cinco estrelas, como piano-bar, spa, quartos com cama queen size e menu de travesseiros com 12 opções. Porém, está mais distante do burburinho, no bairro Ipiranga. Diárias a partir de R$ 310, em quarto duplo. Av. Cristiano Machado, 4001, Ipiranga31 3429 4001 / ourominas.com.br

Glouton De alta gastronomia, privilegia produtos frescos. Um dos carros-chefes é a barriga de porco prensada com chutney de abacaxi, couve e farofa crocante (R$ 65).R. Bárbara Heliodora 59, Lourdes31 3292 4237 / glouton.com.br

A Pão de Queijaria Além dos pães de queijo puros (feitos com quatro tipos de queijo), surpreende com os recheados, como o que leva lâminas de pernil, bacon, couve frita e queijo (R$ 18).R. Antônio de Albuquerque, 856, Savassi31 2512 6360

Maria das Tranças É um restaurante de um prato só: frango ao molho pardo (R$ 56). Incremente a refeição pedindo a farofa na manteiga (R$ 7). R. Estoril, 938, São Francisco31 3441 3708 mariadastrancas.com.br

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