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    PODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITRIOS

    rgo : Segunda Turma CriminalClasse : Apelao Criminal

    Num. Processo : 1998 01 1 062487-7Apelante : GILMAR PEREIRA DA SILVAApelada : JUSTIA PBLICARelator : Des. JOAZIL M. GARDS

    EMENTA

    DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL.DELITO DE TRNSITO. HOMICDIO

    CULPOSO. PROVA. PERDO JUDICIAL.PENA. SUSPENSO DA LICENA PARADIRIGIR.1. Demonstrado que o agente conduzia ocaminho em velocidade superior permitidapara o local do acidente, onde transitavadiversas vezes por dia, evidenciamimprudncia, negligncia e impercia queensejam a condenao; 2.Se o fato no seadequa a quaisquer das hipteses queensejam o benefcio do perdo judicial, no h

    por que admiti-lo, mormente se asconseqncias do evento no atingiram oagente de modo a tornar desnecessria apunio; 3. Restando a pena corporalsubstituda por multa e restritiva de direitosaplicadas, suficientes para a reprovao epreveno do crime, no h porque minor-la;4. Faz-se imperativa a suspenso da carteirade habilitao, como medida de reeducao domotorista que provoca acidentes de sumagravidade.

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    Acrdo

    Acordam os Desembargadores da Segunda Turma Criminal doTribunal de Justia do Distrito Federal e dos Territrios,JOAZIL M. GARDS-Relator, GETULIO PINHEIRO e GEORGE LOPES LEITE - Vogais, sob apresidncia do Desembargador JOAZIL M. GARDS, em CONHECER.NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. UNNIME, de acordo com a ata do

    julgamento e notas taquigrficas.Braslia (DF), 18 de maio de 2000.

    Des. Joazil M. GardsPresidente-Relator

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    RELATRIO

    O Representante do Ministrio Pblico, perante a 1 Vara de

    Delitos de Trnsito da Circunscrio Especial Judiciria de Braslia DF, porinfrao ao que se dispe no artigo 302, do Cdigo de Trnsito Brasileiro,denunciou GILMAR PEREIRA DA SILVA, fazendo narrar:

    ... No dia 29.08.98, por volta das 9h, na DF-079, altura das quadras 3 e 4 do SMPW, odenunciado conduzia o caminho MercedesBenz, placa JKR5360 (GO), com uma carga de7.100 tijolos macios, (aproximadamente10.500 kg), em velocidade superior mximapermitida para o local, quando perdeu o

    controle da direo, ao contornar uma curva esquerda, entrou em processo de derrapageme capotamento. Em face da gravidade e sededas leses, morreram no local dois passageirosdo caminho CELSO DO AMARAL e SANDROBISPO PEREIRA, conforme demonstram oslaudos cadavricos de fls. 18/19 e 20/21,respectivamente. A culpa do denunciado resideem sua conduta imprudente e negligente deconduzir um caminho com uma carga topesada em velocidade superior compatvel

    para o local, considerando-se a existncia deuma curva, o que ocasionou a perda docontrole da direo, derrapagem ecapotamento. ....

    Sobrevindo sentena, restou condenado por prtica de homicdioculposo, em concurso formal, a dois (02) anos e oito (08) meses de deteno,com suspenso da habilitao para conduzir veculo automotor pelo prazo deseis (06) meses e, ao amparo do artigo 44, do Cdigo Penal, teve a penaprivativa de liberdade substituda pela pena de multa, fixada em trezentos esessenta (360) dias-multa, no valor mnimo, a ser convertido em cestas bsicasde bens de consumo, alimento ou utenslios e utilidades domsticas.

    Inconformado, interps recurso de apelao, alegando, em suma,que o acidente foi ocasionado por uma fechada, que levou de outro veculo,fazendo-o perder o controle do caminho; que trafegava entre 50 e 60 km/hora,mas que os freios do caminho no estavam muito bons; que as condies daestrada eram sofrveis, fato pelo qual responsabiliza o Estado; que se cuida decaso fortuito, eis que os fatores que deram causa ao acidente fogem ao seucontrole, razo pela qual diz merecer a absolvio, por falta de provas ademonstrar sua culpabilidade; que, de outra parte, merece ser agraciado com operdo judicial, eis que j sofreu deveras com a perda de dois companheiros

    de trabalho, que faleceram no momento do acidente; que a pena imposta muito severa e injusta, visto que o probe de exercer a profisso,

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    comprometendo-lhe a sobrevivncia e, at mesmo, ameaando o prpriocumprimento da pena, pois ficaria em condies financeiras precrias, seviesse a ser impedido de dirigir. Por isso, roga no lhe seja suspensa ahabilitao.

    Nas contra-razes, a JUSTIA PBLICA, refutando as razesrecursais, aduz que o Apelante, no momento do acidente, conduzia o caminhoem velocidade incompatvel com o trecho da estrada, uma curva, e com aquantidade da carga que transportava; que infundada a tentativa de atribuir aoutrem a responsabilidade pelo acontecido, eis que no ficou provada aexistncia de um terceiro veculo, o qual lhe teria dado uma fechada; que opedido de perdo judicial improcedente, vista de que, em nenhummomento, no decorrer da instruo criminal, houve demonstrao de que asmortes das vtimas tenham surtido, no Apelante, efeito moral ou psicolgicoapto a propiciar-lhe a concesso do perdo judicial. Por fim, qualifica como

    correta a pena aplicada, sublinhando que a restrio de direito e a suspensoda habilitao como forma punitiva dos crimes cometidos no trnsito tm-serevelado benfico e educativo aos que a elas so submetidos, razo pela qual,posta-se pela manuteno da r. sentena.

    Parecer da douta Procuradoria de Justia s fls. 135/137,opinando pelo conhecimento e improvimento do recurso.

    o relatrio.

    VOTOS

    O Senhor Desembargador JOAZIL M. GARDS Presidente-Relator

    Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheo dorecurso.

    GILMAR PEREIRA DA SILVA, por homicdio culposo emconcurso formal, restou condenado nos termos da denncia, pena de dois(02) anos e oito (08) meses de deteno, convertida em multa, correspondenteao pagamento de trezentos e sessenta (360) dias-multa e suspenso dahabilitao para dirigir veculo automotor.

    Da condenao, a pleito de ser absolvido, alega que o acidente,em que dois ocupantes do veculo foram a bito, decorreu de caso fortuito ouque se lhe d o perdo judicial, diante do sofrimento pela morte de doiscompanheiros de trabalho e, ainda, que no seja obstado no exerccio da suaprofisso, com a suspenso da habilitao para dirigir veculo automotor.

    Data venia, no assiste razo ao Apelante.No Laudo de Exame em Local de Acidente de Trfego (fls. 31/35)

    informa que ...a causa determinante do acidente foi a perda de direo porparte do condutor do Mercedes Benz/Caminho... Assinale-se que oMercedes Benz/Caminho trafegava com velocidade superior a mximapermit ida para o local. ... .

    Ora, se, ao ser interrogado em Juzo, o Apelante afirmou quecostumava transitar pelo local do acidente at trs vezes por dia, tem-se que

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    importaria dirigir com mais cautela, porquanto, conforme ressaltado pelaDefesa, a estrada, naquele ponto, perigosa e mal conservada, fator que, noseu entender, teria contribudo para o acidente.

    Destarte, conclui-se que o Apelante agiu de forma imprudente, eisque, mesmo conhecendo o trajeto, conduzia o caminho com velocidade acimada permitida no local e, mais: estava ciente de que a carga que transportavaera excessiva, que o veculo no suportava as toneladas de tijolos, poispossua somente um eixo traseiro.

    Ainda que se considere que o Apelante cumpria ordens de seuempregador, a quem, em ltima instncia, caberia a responsabilidade pelovolume elevado e pelo mau acondicionamento da carga, resta caracterizado,no entanto, o comportamento negligente do Apelante. Querer atribuir a umterceiro veculo a culpa pelo evento, , para mim, desculpa esfarrapada, parafurtar-se condenao, posto que o conjunto probatrio delineia a sua

    culpabilidade quanto s mortes de CELSO DO AMARAL e SANDRO BISPOPEREIRA.Relativamente ao pleito de perdo judicial, causa de extino da

    punibilidade, no h como admiti-lo, eis que o fato no se adequa a quaisquerdas hipteses previstas em lei, a ensej-lo, porquanto a sua concesso nodecorre do simples rbitro do julgador. Ademais disso, no vislumbro tenhamas conseqncias do evento atingido o Apelante, de forma to grave, que tornea sua punio desnecessria. Desse modo, diante da flagrante inadequao dotema, faz-se improcedente o pedido de perdo judicial.

    No que pertine pena imposta, no vejo como minor-la, diantedo acerto, na fixao do quantum privativo de liberdade, bem como na

    substituio por multa e por restritiva de direito, visto que, desse modo, foi-lheoportunizado servir sociedade, atingida que foi por sua conduta imprudenteao volante do caminho, fazendo-se, conseqentemente, suficiente para areprovao e preveno do crime.

    Tampouco merece retoque a suspenso da habilitao para dirigirveculo automotor por seis meses, vez que a medida faz-se imperativa,afastando das ruas e das estradas, motoristas que necessitam reeducar-se.

    A alegao de que a falta da carteira de habilitao importaria emprivaes financeiras, pois o impediria de trabalhar, revela-se, nos autos, meroargumento de retrica, eis que, fl. 68, afirma estar exercendo o ofcio deajudante de caminho, junto ao mesmo empregador por quem era contratado

    na poca do acidente.ISTO POSTO, nego provimento ao recurso. como voto.

    O Senhor Desembargador GETULIO PINHEIRO Vogal

    De acordo.

    O Senhor Desembargador GEORGE LOPES LEITE Vogal

    Com a Turma.

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    DECISO

    Conhecido. Negou-se provimento ao recurso. Unnime.