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    PODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITRIOS

    rgo : Segunda Turma CriminalClasse : APR Apelao CriminalNum. Processo : 1999 01 1 050386-9Apelante : PEDRO CARDOSO DA COSTA

    Apelado : MINISTRIO PBLICO DO DISTRITO FEDERAL ETERRITRIOSRelator : Des. VAZ DE MELLORelator Designado : Des. JOAZIL M. GARDS

    EMENTA

    DIREITO PENAL. DELITO DE TRNSITO.HOMICDIO CULPOSO. CO-AUTORIA.ABSOLVIO.

    Na doutrina ressai que, em delito culposo a co-autoriano pode ser confundida com a concorrncia de fatosculposos em que falta, em relao a cada agente, aconscincia de contribuir para a ecloso do eventocomum, e, no tendo sido comprovada a culpa doacusado importa se o absolva.

    ACRDO

    Acrdo os Desembargadores da Segunda Turma Criminaldo Tribunalde Justia do Distrito Federal e dos Territrios, VAZ DE MELLO Relator, JOAZIL M.GARDS e GETULIO PINHEIRO Vogais, sob a presidncia do DesembargadorJOAZIL M. GARDS, em CONHECER. DAR PROVIMENTO AO RECURSO PARAABSOLVER O APELANTE. MAIORIA. REDIGIR O ACRDO O 1 VOGAL , deacordo com a ata do julgamento e notas taquigrficas.

    Braslia (DF), 15 de maro de 2001.

    Des. Joazil M. GardsPresidente e Relator Designado

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    RELATRIO

    PEDRO CARDOSO DA COSTA, devidamente qualificado no bojo dosautos, foi processado como incurso nas penas do artigo 302, da Lei n. 9.503/97, c/c oartigo 29, do Cdigo Penal.

    Traz a pea acusatria que, o denunciado, scio da empresa PAVACTerraplanagem Ltda., contribuiu para o acidente que vitimou fatalmente MARGARIDAMARIA LEDO ANTUNES, o qual ocorreu no dia 22/7/98, por volta das 16h40min, naDF-003, Km 04, sentido Colorado/Balo do Torto, nesta Capital, quando o caminhoMercedes Bens, placa ARM-1008/DF, de propriedade da PAVAC e conduzido porDJALMA DOS SANTOS, colidiu com o veculo VW/Gol, placa JEA-8816/DF, conduzidopela vtima.

    Ainda aduz que o evento (coliso/morte), apesar de no querido e noprevisto pelo denunciado, era-lhe objetivamente previsvel e foi resultado de suaconduta imprudente e negligente, pois, como scio da empresa proprietria docaminho, no tomou as cautelas devidas com relao manuteno dos freios doveculo e equipamentos obrigatrios, permitindo que ele trafegasse com deficincia nosistema de freios e ausncia dos freios motor e de estacionamento, o que foi a causa

    do acidente. Sentena s fls. 225/235, condenando-o s sanes da denncia, tendosido aplicada a pena definitiva de 02 (dois) anos e 06 (seis) meses de deteno, a sercumprida em regime aberto, sendo substituda por duas restritivas de direito, quaissejam: prestao de servios comunidade ou a entidades pblicas por perodo igualao da pena privativa de liberdade, a razo de 01 (uma) hora de tarefas por dia decondenao, e proibio de frequentar locais incompatveis com a moral, tais comocasas de jogos ilegais, casas de prostituio e outros similares durante o perodo dacondenao.

    Ainda lhe foi aplicada a pena de suspenso da habilitao para dirigirveculo automotor pelo prazo de 01 (um) ano.

    Apela a defesa, apresentando as Razes de fls. 240/256, requerendo aabsolvio, ou, ento, que se fixe sua reprimenda dentro dos limites legais, atentando-se para a sua primariedade e para o fato de possuir bons antecedentes.

    Contra-razes s fls. 248/256, pugnando que seja negado provimento aorecurso.

    Parecer s fls. 260/266, oficiando a douta Procuradoria de Justia peloconhecimento e provimento parcial do recurso, eis que a pena-base encontra-seexacerbada.

    o relatrio.

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    VOTOS

    O Senhor Desembargador VAZ DE MELLO - Relator

    Conheo do recurso, considerando presentes todos os pressupostosnecessrios sua admissibilidade.

    Insurge-se PEDRO CARDOSO DA COSTA, qualificado nos autos, contradecisum de primeiro grau, que o condenou a 02 (dois) anos e 06 (seis) meses dedeteno, a ser cumprida em regime aberto, sendo substituda por duas restritivas dedireito, durante o perodo da condenao, por infrao ao artigo 302, da Lei n.9.503/97, c/c o artigo 29, do Cdigo Penal.

    O excelente Parecer da lavra do eminente Procurador de Justia, Dr.AMRILIO TADEU FREESZ DE ALMEIDA, por si s, esgota o tema em discusso.Rogo vnia ao eminente parecerista para nele me estribar e adotar como

    suporte para decidir.Est assim vazado:

    Inicialmente, convm ressaltar que tanto a doutrina,quanto a jurisprudncia admitem a possibilidade daocorrncia de co-autoria em homicdio culposo. Jdecidiu, neste sentido, o Tribunal de Alada do Estadode Minas Gerais:

    Ementa: PROVADA ACULPA DO MENOR, POR SUACONDUTA IMPRUDENTE NA DIREO DEVECULO. ESTENDE-SE ELA A SEU RESPONSVEL,PROPRIETRIO DO MESMO, QUE NO SE HOUVEADEQUADAMENTE, VIOLANDO O DEVEROBJETIVO DE CUIDADO. (TAMG, P. 017476-3, 1Cmara Criminal)

    Ainda, sobre este tema, o saudoso jurista CelsoDelmanto informa que Pode haver co-autoria, mas no

    participao. Tratando-se de culpa, no se cogita dacooperao no resultado, mas sim na causa (falta dodever de cuidado) Cdigo Penal Comentado, CelsoDelmanto, 5 edio, pgina 58)Ultrapassado esta questo, cabe ressaltar, ainda quepese o brilhante trabalho formulado pela defesa doacusado, o recurso no merece provimento, eis que atese desenvolvida, por mais sedutora que possaparecer, no possibilita aceitao.Isto por que a materialidade induvidosa, nos termosdo Laudo De Exame de Local de Acidente de Trfegode fls. 25/31 e do Laudo de Exame Cadavrico de fls.17/19.

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    No que tange a autoria do fato delituoso, verifica-seque o apelante, indiscutivelmente, encontra-se na

    condio de co-autor, pois, efetivamente colaborou nacausa do acidente de trnsito, ou seja, na falta dodever de cuidado do motorista DJALMA DOS SANTOS,que j foi condenado em primeira instncia.Observa-se que a causa determinante do acidente,nos termos do Laudo de Local de acidente de Trfegoacima referido, (...) foi a ausncia de reao por partedo condutor do Mercedez Benz, caminho, em funodo mal funcionamento do seu sistema de freios (...),bem como relata o laudo que o caminho no portavafreio motor e de estacionamento, que so consideradosequipamentos obrigatrios.Nesse passo, irretocvel a deciso do MM. Juiz aquo, de cuja sentena se colhe os seguintes trechoselucidativos da questo:

    (...) O documento de fls. 208/219, cuja juntadadeterminei como providncia necessria busca daverdade real (fl. 206), comporta seu poder de gernciasobre a empresa PAVAC Terraplanagem Ltda., aproprietria do caminho Mercedez Bens, placa ARM-

    1008/DF, veculo conduzido na data do fato porDJALMA DOS SANTOS.PEDRO CARDOSO DA COSTA, exatamente em razode seu poder de gerncia sobre aquela empresa, agiude forma absolutamente negligente, quando deixou dezelar pela segurana do veculo em sua normalcirculao. Ele cooperou lucidamente na imprudnciado motorista DJALMA DOS SANTOS (...)

    Mais adiante, relata o Magistrado sentenciante:

    (...) Apesar de informado acerca da ausncia de freiomotor e de estacionamento do caminho, o runenhuma providncia adotou, restando a configurada anegligncia. Atente-se bem para o teor do depoimentoprestado em Juzo pelo condutor do veculo, DJALMADOS SANTOS (fls. 171/172) (....)

    Extrai-se, ainda sobre este tema, na sentena o que sesegue:

    (...) No presente caso, no h qualquer dvida: o ora

    acusado poderia e deveria ter agido para evitar oresultado. Poderia ele ter evitado a ocorrncia do

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    resultado se observasse seu dever de cuidado no quetange aos equipamentos obrigatrios exigidos para a

    segura circulao do caminho mencionado na exordialacusatria.Assim no procedeu, entretanto.Seu poder (fsico) de agir est na prpria condio degerente da empresa proprietria do caminho,responsvel pela adequada manuteno do veculo; jo dever de agir est estampado na medida em que oru, com seu comportamento negligente anterior -permitir que um caminho transportando dezessetetoneladas de carga circulasse sem freio motor e deestacionamento - criou o risco da ocorrncia doresultado (art. 13, pargrafo 2, alnea c do CPB).Nota-se bem que a ausncia do freio motor e deestacionamento foi considerada a causa determinantedo acidente do qual resultou a morte de MARGARIDAMARIA LEDO ANTUNES, conforme concluso dolaudo de Exame de Local de Acidente de Trnsito (fls.30/31) (...).

    Como se pode observar, o Ilustre Magistradosentenciante abordou com clareza a conduta do ru, o

    resultado de sua conduta e o nexo de causalidadeexistente entre ambos, bem como demonstrou a faltade observncia do dever de cuidado do ora apelante.Presentes os requisitos acima citados, depreende-sedos autos, ainda, que era inteiramente previsvel queum caminho antigo, sem uma devida manuteno nosfreios (fls. 113/115), no possuindo freio motor, e almdo mais, transportando cargas pesadas, poderiacausar, como causou, um terrvel acidente. Tal fatovem a preencher o ltimo dos requisitos necessriospara caracterizar a existncia do crime culposo pelo

    qual o ru foi condenado.Como se observa, a argumentao da defesa de queno restou comprovada a culpa do apelante, noprocede.Vencido este tema, resta analisar a pena imposta peloMM. Juiz a quo.Inicialmente, cumpre observar o disposto no art. 302 doCTB, verbis:

    Art. 302. Praticar homicdio culposo na direo deveculo automotor:

    Penas - deteno, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, esuspenso ou proibio de se obter a permisso ou a

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    habilitao para dirigir veculo automotor. (...)

    Ao fixar a pena-base, apesar do ru ser primrio,possuir bons antecedentes, o Magistrado sentenciantese convenceu de que as circunstncias do crime noeram favorveis ao ora apelante, e fixou a pena baseacima do mnimo legal, conforme se observa natranscrio parcial da sentena a seguir:

    (...) A culpabilidade a que normalmente se verificaem delitos tais como o que ora se examina e ocondenado no ostenta maus antecedentes. No hinformao negativa quanto a sua conduta social nemacerca de sua personalidade.Os motivos e a conseqncia do fato tambm foram osnormais espcie.Com relao s circunstncias do crime, todavia,observo que a falta de preocupao e apreo do rucom a segurana do trnsito e com a vida dos demaisusurios das vias pblicas mostrou-se bem acima danormal, na medida em que ficou patente sua prtica depermitir que um veculo (caminho) transportandocarga pesando dezessete toneladas, trafegasse sem

    freio motor e de estacionamento, equipamentosobrigatrios, fato que certamente exps muitos agrande risco e poderia ter causado uma tragdia degrande proporo, conforme se conclui pela leitura dodepoimento de fl. 171. Isso pesa em desfavor docondenado. (destaque nosso)O comportamento da vtima, de outro lado, no fatorque lhe aproveite.Considerando tudo o que foi afirmado, fixo a pena-baseem 02 (dois) anos e 06 (seis) meses de deteno, aqual torno definitiva face a ausncia de circunstncias

    outras. (...)

    Ledo engano, todavia, cometeu, o MM. Juiz, pois ascircunstncias invocadas integram o prprio tipo penal,razo pela qual no possuem o condo de permitiracrscimo da pena acima do mnimo legal.Encontrando-se a pena-base exacerbada, impe-se asua reduo ao mnimo legal, bem como seja revista,conseqentemente, a pena substitutiva de prestaode servios comunidade.

    Por esses fundamentos, dou parcial provimento ao recurso para reduzir apena-base ao mnimo legal, ou seja, em 02 (dois) anos de deteno, considerando a

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    anlise favorvel das circunstncias judiciais prescritas no artigo 59, do Cdigo Penal.Inexistindo atenuantes, agravantes, causas de aumento e de diminuio,

    torno-a definitiva nesse patamar.Ainda, conforme preceitua o artigo 302, do Cdigo de Trnsito Brasileiro,

    c/c o artigo 293, do mesmo diploma legal, reduzo a suspenso da habilitao docondenado para dirigir veculo automotor em conformidade com a anlise dascircunstncias judiciais acima explicitada, para o mnimo legal, ou seja, 02 (dois)meses.

    Mantenho o regime inicial aberto para o cumprimento da pena, bem comoa converso nos termos dos artigos 43 e 44 do Cdigo Penal Brasileiro, com a redaodada pela Lei n. 9.714/98, em duas penas restritivas de direitos, quais sejam: 1)prestao de servios comunidade ou a entidades pblicas e, 2) proibio defreqentar locais incompatveis com a moral, tais como casos de jogos ilegais, casasde prostituio e outros similares durante o perodo da condenao.

    como voto.

    O Senhor Desembargador JOAZIL M. GARDS VogalPeo vnia ao eminente Relator e dou provimento ao recurso para

    absolver o apelante.Conforme o ensinamento de Damsio de Jesus:

    co-autoria em delito culposo no pode ser confundidacom a concorrncia de fatos culposos em que falta, emrelao a cada agente, a conscincia de contribuir paraecloso do evento comum.

    No caso dos autos, verifico que a culpa imputada ao apelante, de seomitir em manter o veculo em perfeitas condies de trfego, no restousuficientemente comprovada.

    Desse modo, tendo que no comprovada a culpa e tampouco negligncia, que mantenho meu entendimento para absolver o recorrente.

    O Senhor Desembargador VAZ DE MELLO Relator

    Senhor Presidente, pela ordem, peo a palavra.Ele, recorrente, o dono da empresa. Ele foi advertido pelo motorista de

    que o carro estava sem condies de trfego e, mesmo assim, ele permitiu quetrafegasse.

    O motorista, por sua vez, dirigiu sob pena de no o fazendo, ser demitido.Sabemos perfeitamente a dificuldade de um emprego hoje. Ele, ento, motorista, foicondenado por ter dirigido um carro sem ter condies para faz-lo. Mas h de se

    entender, por outro lado, que ele o fazia por determinao superior, para no serpunido com uma demisso.

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    O Senhor Desembargador GETULIO PINHEIRO Vogal

    Senhor Presidente, conforme afirmou o eminente Relator, no incio do seuvoto, possvel haver co-autoria em crime culposo, porm no participao. Quer meparecer que, no presente caso, o apelante no detinha o domnio do fato caracterizadorda co-autoria.

    Fao, ou melhor, abro um parntese para indagar ao eminente Relator seele era o proprietrio da empresa, ou gerente, porque entendi que seria empregado daempresa tambm.

    O Senhor Desembargador VAZ DE MELLO Relator

    Era o proprietrio.

    O Senhor Desembargador GETULIO PINHEIRO Vogal

    Ainda sim, Senhor Presidente, a condenao do apelante estaria aprestigiar a responsabilidade objetiva, banida de nosso Cdigo.Por essa razo, vou pedir vnia ao eminente Relator para aderir ao voto

    proferido por Vossa Excelncia a fim de absolver o apelante com fundamento no incisoIII do art. 386 do Cdigo de Processo Penal.

    DECISO

    Conhecido. Deu-se provimento ao recurso para absolver o Apelante.Maioria. Redigir o acrdo o 1 Vogal.