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O DIREITO À EDUCAÇÃO SUPERIOR DE QUALIDADE E SEUS REFLEXOS COMPARATIVOS LO DERECHO A EDUCACIÓN SUPERIOR DE LA CALIDAD Y SUS REFLEJOS COMPARATIVOS ADALBERTO SIMÃO FILHO Lucas de Souza Lehfeld RESUMO A educação com qualidade, nos termos do art. 205, é direito de todos e dever do Estado e da família, promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Como direito fundamental, o acesso à educação de qualidade é fator crucial para o desenvolvimento socioeconômico de um país, havendo, portanto, a necessidade de implementação de um sistema de avaliação e reavaliação do ensino superior condizente com o crescente processo de internacionalização do conhecimento. A partir da análise crítico-reflexiva dos objetivos propostos pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior SINAES, levando-se em consideração a experiência internacional da Declaração de Bolonha na Comunidade Européia e seus reflexos no ensino público-privado, verifica-se que a obtenção de uma educação superior com qualidade, em especial na área jurídica, compreende a necessidade de se adotar, por parte dos gestores das instituições de ensino, preceitos éticos, organizacionais e gerenciais bastantes ao enfrentamento das exigências do mercado, sem detrimento da responsabilidade social que essas entidades, sejam públicas ou privadas, possuem na formação acadêmico-profissional do aluno e também do docente. PALAVRAS-CHAVES: SINAES; Bolonha; Direito; Educação; Governança. RESUMEN La educación con calidad, en los términos del art. 205, es derecho de todos e deber del Estado y de la familia, promovido y estimulado con la contribución de la sociedad, teniendo como objetivo el desarrollo pleno de la persona, su preparación para el ejercicio de la ciudadanía y su calificación para el trabajo. Como derecho fundamental, el acceso a la educación de calidad es factor crucial para el desarrollo social y económico de un país, teniendo, por lo tanto, la necesidad de la implementación de un sistema de la evaluación y de revaluación de la educación superior adecuado con el crecimiento de la internacionalización del conocimiento. Del análisis crítico y reflexiva de los objetivos considerados para el Sistema Nacional de la Evaluación de la Educación Superior - SINAES, se levando en consideración la experiencia internacional del Declaración de Bolonia en la Comunidad Europea y sus consecuencias en la educación público-privada, se verifica que la obtención de una educación superior con calidad, en especial en el área jurídica, comprende la necesidad de si adoptar, de parte de los encargados de las instituciones educacionales, preceptos éticos, organizacionales y gerenciales suficientes a lo enfrentamiento de las exigencias del mercado, sin detrimento de la responsabilidad social que estas entidades, públicas o privadas, posee en la formación académico-profesional de lo aluno y también del profesor. PALAVRAS-CLAVE: SINAES; Bolonia; Educación; Gobernanza. Introdução A partir da década de 80, em razão do crescimento econômico acelerado, os países industrializados e os latino-americanos implementaram importantes reformas em seus sistemas de Educação Superior. * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2671

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O DIREITO À EDUCAÇÃO SUPERIOR DE QUALIDADE E SEUS REFLEXOS

COMPARATIVOS

LO DERECHO A EDUCACIÓN SUPERIOR DE LA CALIDAD Y SUS REFLEJOS COMPARATIVOS

ADALBERTO SIMÃO FILHO

Lucas de Souza Lehfeld

RESUMO A educação com qualidade, nos termos do art. 205, é direito de todos e dever do Estado e da família,

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu

preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Como direito fundamental, o

acesso à educação de qualidade é fator crucial para o desenvolvimento socioeconômico de um país,

havendo, portanto, a necessidade de implementação de um sistema de avaliação e reavaliação do ensino

superior condizente com o crescente processo de internacionalização do conhecimento. A partir da análise

crítico-reflexiva dos objetivos propostos pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior –

SINAES, levando-se em consideração a experiência internacional da Declaração de Bolonha na

Comunidade Européia e seus reflexos no ensino público-privado, verifica-se que a obtenção de uma

educação superior com qualidade, em especial na área jurídica, compreende a necessidade de se adotar, por

parte dos gestores das instituições de ensino, preceitos éticos, organizacionais e gerenciais bastantes ao

enfrentamento das exigências do mercado, sem detrimento da responsabilidade social que essas entidades,

sejam públicas ou privadas, possuem na formação acadêmico-profissional do aluno e também do docente.

PALAVRAS-CHAVES: SINAES; Bolonha; Direito; Educação; Governança.

RESUMEN La educación con calidad, en los términos del art. 205, es derecho de todos e deber del Estado y de la

familia, promovido y estimulado con la contribución de la sociedad, teniendo como objetivo el desarrollo

pleno de la persona, su preparación para el ejercicio de la ciudadanía y su calificación para el trabajo. Como

derecho fundamental, el acceso a la educación de calidad es factor crucial para el desarrollo social y

económico de un país, teniendo, por lo tanto, la necesidad de la implementación de un sistema de la

evaluación y de revaluación de la educación superior adecuado con el crecimiento de la internacionalización

del conocimiento. Del análisis crítico y reflexiva de los objetivos considerados para el Sistema Nacional de

la Evaluación de la Educación Superior - SINAES, se levando en consideración la experiencia internacional

del Declaración de Bolonia en la Comunidad Europea y sus consecuencias en la educación público-privada,

se verifica que la obtención de una educación superior con calidad, en especial en el área jurídica,

comprende la necesidad de si adoptar, de parte de los encargados de las instituciones educacionales,

preceptos éticos, organizacionales y gerenciales suficientes a lo enfrentamiento de las exigencias del

mercado, sin detrimento de la responsabilidad social que estas entidades, públicas o privadas, posee en la

formación académico-profesional de lo aluno y también del profesor.

PALAVRAS-CLAVE: SINAES; Bolonia; Educación; Gobernanza.

Introdução

A partir da década de 80, em razão do crescimento econômico acelerado, os países industrializados

e os latino-americanos implementaram importantes reformas em seus sistemas de Educação Superior.

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2671

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Principalmente com o crescente processo de globalização, esse mercado tornou-se dinâmico, pulverizado a

vários provedores com diferentes metodologias de ensino e particulares perfis do corpo docente. Essa

realidade à época proporcionou aos dias de hoje real aumento das matrículas e crescente competitividade

entre as instituições de ensino.

“Por outro lado, a globalização educacional e a internacionalização do conhecimento, em

resposta aos desafios da globalização econômica, trazem consigo o enorme desafio de a educação superior

conciliar as exigências de qualidade e inovação com as necessidades de ampliar o acesso e diminuir as

assimetrias sociais”. (INEP, 2009, p. 23).

Frente à esse desafio, o direito à educação de qualidade, de natureza coletiva e fundamental, tem

guarida constitucional no art. 205 da Lei Maior, o qual determina ser dever do Estado e da família a

educação, “promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da

pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

O ensino será ministrado com base em princípios declarados no art. 206 da Constituição Federal de

1988, como o da isonomia quanto às condições para o acesso à instituição de ensino, liberdade de aprender,

ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de idéias e de concepções

pedagógicas e a coexistência entre as instituições públicas e privadas de ensino; gratuidade do ensino

público em estabelecimentos oficiais e valorização dos profissionais da educação escolar.

São normas constitucionais que por enquanto não surtem eficácia plena na realidade fática

brasileira haja vista ser notória a má qualidade do ensino superior no país, conforme levantamento do

Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES, a partir dos Exames Nacionais de

Desempenho de Estudantes (ENADE) e de outros processos de avaliação, como os dos cursos de graduação

e das instituições de ensino. Fato preocupante, pois, com a abertura dada pela Constituição Federal à

iniciativa privada em explorar essa atividade de interesse público, hodiernamente há uma diversidade

gigantesca de cursos oferecidos por faculdades, centros universitários e universidades particulares.

No entanto, vale ressaltar que os critérios de avaliação do ensino superior passam, nesse século,

por importante reestruturação, sob à égide da centralidade dos processos de avaliação e de regulação da

educação superior. Destaque, por exemplo, à contribuição das Leis n. 9.131/1995 e de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (Lei n. 9.394/1996), que implementaram mecanismos de avaliação, como o Exame

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Nacional de Curso (ENC), realizado por concluintes de cursos de graduação; o questionário sobre condições

de ensino do curso freqüentado; a Análise das Condições de Ensino (ACE); a Avaliação de Condições de

Oferta (ACO); e a Avaliação Institucional dos Centros Universitários.

Nesse sentido, trata-se de momento oportuno para realizar uma análise crítico-reflexiva dos

objetivos propostos pelo SINAES, levando-se em consideração a experiência internacional proporcionada

pela Declaração de Bolonha na Comunidade Européia e seus reflexos no ensino público-privado e nos

interesses transindividuais em ambiente de sociedade da informação.

1. Educação Superior e evolução do marco regulatório do sistema de avaliação

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, aprovada pela Lei n. 9.394, de 20 de dezembro

de 1996, além de inovações quanto à estruturação da educação nacional, deu ênfase aos processos de

avaliação, objetivando a melhoria da qualidade de ensino e, como recurso para a regulação do setor, a

acreditação de instituições e cursos.

A importância do processo de avaliação da educação superior, no entanto, já constava da análise de

dispositivos normativos anteriores à Lei n. 9.394/1996. Em 1988, com a promulgação e publicação da

Constituição Federal, o tema foi disciplinado no Título VIII, “Da Ordem Social”, em Seu Capítulo III, “Da

Educação, da Cultura e do Desporto”.

Assim, a Seção I do referido Capítulo estabelece os princípios e normas fundamentais relativos à

educação brasileira como dever do Estado (art. 208), com os seguintes destaques:

“Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: [...] VII – garantia de

padrão de qualidade”.

“Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada atendidas as seguintes condições: I – cumprimento

das normas gerais da educação nacional; II – autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público”.

“Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração plurianual, visando à

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articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do Poder

Público que conduzam à: [...] melhoria da qualidade do ensino”.

A Lei n. 9.131, de 24 de novembro de 1995 instituiu o Conselho Nacional de Educação (CNE), que

colabora com o Ministério da Educação na formulação e avaliação da política nacional de educação, no

intuito de zelar pela qualidade do ensino e velar pelo cumprimento das leis que o regem.

O referido diploma também previu a criação de um conjunto de avaliações periódicas das

instituições e cursos superiores, com a realização anual de exames nacionais, baseados em conteúdos

mínimos estabelecidos e previamente divulgados para cada curso.

1.1 Avaliação e regulação na LDB

Como um dos fundamentos da educação, o processo de avaliação, seja no que se refere à orientação

das diretrizes políticas na busca de um ensino melhor (qualidade), seja quanto à definição de ações de

acreditação do sistema de ensino superior por parte de órgãos competentes (supervisão e controle estatal),

foi consolidado pela Lei de Diretrizes e Bases – LDB (Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996).

Pelo seu art. 9°, incumbe à União coletar analisar e disseminar informações sobre a educação (inciso

V), bem como assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental,

médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, no intuito de se definir prioridades e critérios

de melhoria da qualidade de ensino (inciso VI).

Também incumbe à União baixar normas gerais sobre cursos de graduação e pós-graduação (inciso

VII), como também assegurar processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, com a

cooperação dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de ensino (inciso VIII).

Cabe ressaltar que a LDB trouxe importante processo de avaliação da educação superior ao

estabelecer, em seu art. 46, a periodicidade quanto à autorização e ao reconhecimento de cursos, bem como

ao credenciamento de instituições de educação superior, sendo que os resultados desse sistema avaliativo

constante podem gerar sanções e punições, conforme o §1° do referido dispositivo legal. Assim, uma vez

constatas deficiências, abre-se prazo para saneamento, o qual geral nova reavaliação, podendo a partir de

então resultar, conforme o caso, em desativação de cursos e habilitações, em intervenção na instituição, em

suspensão temporária de prerrogativas da autonomia, ou em descredenciamento.

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1.2 Plano Nacional de Educação e sistema de avaliação da educação superior

O Plano Nacional de Educação – PNE, cuja origem se encontra no art. 214 da Constituição Federal

de 1988, e nos arts. 9°, inciso I; e 87, §1°, da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, foi disciplinado pela

Lei n. 10.172, de 9 de janeiro de 2001.

O PNE define diretrizes para a regulação do sistema de educação superior. Nesse sentido, reconhece

a importante contribuição do setor privado, pois é ele que oferece a maior parte das vagas na educação

superior. Por isso, o Plano estabelece parâmetros de qualidade de ensino sob o qual as instituições de ensino

estão submetidas.

Quanto às suas metas, cabe destacar as seguintes: a) institucionalizar um amplo e diversificado

sistema de avaliação interna e externa para os setores público e privado com o objetivo de promover a

melhoria da qualidade do ensino, da pesquisa, da extensão e da gestão acadêmica; b) instituir programas de

fomento para que as instituições de educação superior constituam sistemas próprios e nacionalmente

articulados de avaliação institucional e de cursos; c) estender, com base no sistema de avaliação, diferentes

prerrogativas de autonomia às instituições públicas e privadas; d) estabelecer sistema de recredenciamento

periódico das instituições e de reconhecimento dos cursos superiores, com base no sistema nacional de

avaliação; e e) exigir melhoria progressiva da infraestrutura das instituições de ensino a partir de padrões

mínimos fixados pelo Poder Público.

No intuito de regulamentar esse sistema nacional de avaliação definido pela Lei n. 10.172/2001, o

Decreto n. 3.860/2001 estabeleceu em seu art. 16 que o Ministério da Educação coordenará a avaliação de

cursos, programas e instituições de ensino superior, com periodicidade através dos processos de autorização

e reconhecimento de cursos e credenciamento e recredenciamento de IES.

Para tanto, o referido ato administrativo de caráter normativo atribuiu ao Instituto Nacional de

Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP[1] a responsabilidade de organizar e executar a

avaliação de cursos de graduação e das IES, contemplando principalmente: a) a avaliação dos principais

indicadores de desempenho global do sistema nacional de educação superior, por região e unidade da

Federação; b) a avaliação institucional do desempenho individual das instituições de ensino superior; e c) a

avaliação dos cursos superiores mediante a análise dos resultados do Exame Nacional de Cursos e das

condições de oferta de cursos superiores.

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O Decreto n. 3.860/2001, em seu art. 35, traz também as normas de supervisão de cursos e

instituições de ensino superior, sendo que identificadas deficiências ou irregularidades por meio de ações de

supervisão ou de avaliação e reavaliação, o Poder Executivo poderá determinar, conforme o caso, a

suspensão do reconhecimento de cursos superiores; a desativação de cursos; a suspensão temporária de

prerrogativas de autonomia de universidade e centros universitários; a intervenção na instituição de ensino

superior; e o descredenciamento de instituições de ensino superior.

Quanto à autonomia universitária, o §4° do art. 36 do supracitado Decreto estabelece que se

universidades e centros universitários possuírem “desempenho insuficiente na avaliação do Exame

Nacional de Cursos e nas demais avaliações realizadas pelo INEP, terão suspensas as suas prerrogativas

de autonomia, mediante ato do Poder Executivo”.

Como se observa, pela imensa participação do setor privado na prestação de serviços educacionais, o

Estado regulador contemporâneo brasileiro é colocado à prova, principalmente quanto ao sistema nacional

de avaliação da educação superior (SINAES). Não obstante o extensivo rol normativo a respeito da

qualidade de ensino e regulação do setor através de processos de avaliação e reavaliação de cursos,

credenciamento e recredenciamento de instituições de ensino superior, o que se coloca em pauta é a

eficiência desses mecanismos e sua adequação a outros sistemas frente a um crescente processo de

internacionalização do conhecimento.

2. Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES

O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior foi criado pela Lei n. 10.861, de 14 de

abril de 2004, que institui, para a sua formação, três componentes principais, quais sejam, a avaliação das

Instituições de Ensino Superior, dos cursos e do desempenho dos estudantes.

Trata-se de sistema que avalia o ensino, a pesquisa, a extensão, a responsabilidade social, o

desempenho dos alunos, a gestão da instituição, o seu corpo docente, as instalações e outros aspectos que

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dimensionam o processo ensino-aprendizagem da instituição. Como instrumentos para tal mister conta com

a auto-avaliação (através das Comissões Próprias de Avaliação – CPAs), avaliação externa (institucional), o

Exame Nacional de Desempenho dos Estados, a avaliação de curso e outros mecanismos de informação,

como censo e cadastro realizado pelas Instituições de Ensino na base de dados do Ministério da Educação

(E-MEC).

Os processos avaliativos são coordenados pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação

Superior (Conaes), sendo que a sua operacionalização é realizada pelo INEP.

Quanto ao arcabouço normativo que disciplina o SINAES e a atuação do INEP, pode-se ressaltar,

de forma exemplificativa, os principais diplomas, quais sejam:

a) Lei 9.384 de 20 de dezembro de 1996 que estabeleceu as diretrizes básicas da educação nacional;

b) Lei 10.861 de 14 de abril de 2004 que instituiu o Sistema Nacional de Avaliação da Educação

Superior- SINAES;

c) Decreto 5.773 de 9 de maio de 2006 que dispõe sobre o exercício das funções de regulação,

supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de graduação e

seqüenciais no sistema federal de ensino;

d) Portaria Normativa 40, de 12 de dezembro de 2007 do Ministério da Educação que instituiu o e-

MEC, sistema eletrônico de fluxo de trabalho e gerenciamento de informações relativas aos

processos de regulação da educação superior no sistema federal de educação;

e) Portaria Normativa 01 de 10 de janeiro de 2007 do Ministério da Educação que institui o calendário

e ciclo avaliativo do SINAES;

f) Portaria Normativa 04 de 05 de agosto de 2008 do Ministério da Educação que renovou a aplicação

do conceito preliminar de cursos superiores, para fins dos processos de renovação de

reconhecimento no âmbito do ciclo avaliativo do SINAES;

O SINAES trabalha com três indicadores, a saber: a) avaliação das instituições, no intuito de

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identificar seu perfil e o significado da sua atuação, através de suas atividades desenvolvidas, cursos

oferecidos, programas, projetos e setores, com respeito à diversidade e especificidades das organizações

acadêmicas; b) avaliação dos cursos de graduação, buscando identificar as reais condições de ensino, bem

como o perfil do corpo docente, a infra-estrutura institucional (instalações) e a organização didático-

pedagógica; e c) avaliação do desempenho dos estudantes dos cursos de graduação, obtida pela realização

do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), no intuito de aferir o desempenho do corpo

discente em relação aos conteúdos programáticos, suas habilidades e competências. Trata-se de exame

aplicado aos ingressantes e egressos dos cursos de graduação, com periodicidade trienal, complementado

por instrumento de levantamento do perfil dos acadêmicos (questionário socioeconômico). Cabe ressaltar

que a realização do ENADE, hodiernamente, é obrigatória, sob pena de o aluno não obter seu diploma.

Quanto aos seus objetivos, o SINAES, pretende: a) identificar o mérito e valor das instituições,

áreas, cursos e programas de graduação, nas dimensões de ensino, pesquisa, extensão, gestão e formação; b)

melhorar a qualidade da educação superior, orientar a expansão da oferta; e c) promover a responsabilidade

social das IES, respeitando a identidade institucional e a autonomia.

As informações decorrentes dos processos avaliativos realizados pelo SINAES são de suma

importância para diversos agentes interessados, como instituições de ensino, estudantes e órgãos

governamentais. Para as primeiras, são fundamentais para a orientação da eficácia institucional e

efetividade acadêmica e social. Para os acadêmicos, proporcionam amplo conhecimento da realidade

educacional brasileira e sua qualidade e, para os órgãos governamentais, subsidiam o desenvolvimento de

políticas públicas voltadas para o cumprimento dos dispositivos constitucionais que prescrevem a educação

de qualidade como direito coletivo fundamental.

Evidentemente que essa estrutura orgânica e procedimental do SINAES esbarra em alguns óbices

que dificultam a sua busca pelos objetivos propostos. Falta de recursos orçamentários, bem como humanos

são fatores que, por muitas vezes, resultam em ausência da devida fiscalização e fomento da educação

superior prestada pelas instituições de ensino. Ademais, os processos de avaliação, embora já direcionados

para uma análise mais qualitativa do que quantitativa da Instituição, do seu entorno socioeconômico, dos

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cursos oferecidos e do desempenho dos acadêmicos, são realizados, em razão do grande número de

faculdades, centros universitários e universidades no país, em visitas de avaliadores que, pelo pouco tempo

disponível, não conseguem traçar o real perfil da organização pedagógica e estrutural da instituição e dos

cursos de graduação.

Outra realidade que se mostra na educação superior brasileira é a presença de cursos de graduação

e pós-graduação oferecidos à distância (Educação a Distância – EAD). A possibilidade da instituição de

ensino abrir pólos em vários locais (municípios), abordando diversas camadas sociais, faz com que essa

modalidade de ensino ganhe espaço no mercado, principalmente em razão da flexibilidade de estudo e

também pelo valor das mensalidades (amplo acesso como sendo um dos principais pontos positivos). Mais

um desafio para o INEP/MEC na aplicação do SINAES, já que se trata de uma forma diferente de ensinar, o

que pode acarretar prejuízos aos estudantes em virtude de eventuais deficiências na prestação desse serviço,

como infra-estrutura tecnológica inadequada, docentes não capacitados para essa modalidade de ensino,

instrumentos avaliativos incoerentes com o EAD, desconhecimento dos métodos de ensino-aprendizagem

desenvolvidos para essa forma de ensinar etc.

Sob esse diapasão, imprescindível compreender a experiência internacional em relação aos

sistemas de avaliação da educação superior existentes no globo. Em especial, foca-se em uma das propostas

européias, como o processo de Bolonha, como paradigma para o desenvolvimento de instrumentos de

avaliação e organização pedagógica da educação superior, sem detrimento da possibilidade de favorecer um

processo de integração com o fomento ao intercâmbio entre as instituições nacionais e estrangeiras, em

especial pela sociedade de informação que se posta, nesse século, como instrumento fundamental no

processo educacional através da utilização de tecnologias adequadas.

3. A percepção de qualidade no ensino universitário

O ideal constitucional da qualidade no ensino universitário brasileiro relaciona-se também com a

regra de eficiência e as instituições públicas ou privadas de ensino que optarem por explorar este segmento

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da educação, em especial no que tange ao ensino jurídico, não devem se distanciar destes dois pilares, quais

sejam, qualidade e eficiência.

Observa-se a partir do art. 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem (UNESCO,2000,

p.15) que “a educação deve visar a plena expansão da personalidade humana e o reforço dos direitoss do

homem e das liberdades fundamentais e favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as

nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das atividades das Nações

Unidas para a manutenção da paz”.

Trata-se assim de um dever ser; de um ideal a ser perseguido pelas nações na busca da

transformação do homem pela via da educação. O ensino de qualidade deverá refletir algo deste ideário.

A busca da qualidade na educação de modo a gerar eficiência e resultados ao País faz parte também

das premissas estabelecidas pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) que agrega

em seu espírito não só os governos de mais de 160 países, como também a iniciativa privada e sociedade

civil. Desde o ano 2000, quando foram assumidos pelos líderes globais compromissos relacionados com o

que se convencionou denominar de Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, houve o incremento das

políticas públicas relacionadas a estes objetivos onde se inclui a busca da qualidade na educação. No Fórum

Mundial de Educação de Dacar ocorrido nesta época no Senegal, 127 países assinaram o acordo onde se

comprometiam para com seis metas básicas relacionadas à educação assim descritas: expandir o acesso a

cuidados e à educação para a primeira infância; garantir a educação primária universal; criar oportunidades

aprimoradas de aprendizado para jovens e adultos; gerar um aumento de 50% em taxas de alfabetização de

adultos; promover a igualdade de gênero; melhorar todos os aspectos da qualidade da educação. Os lapsos

temporais para o cumprimento destas metas se alongam no tempo e no espaço de acordo com as

características de cada país comprometido e devem se finalizar em 2.015.

O Brasil situa-se em 72º lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Para Todos

que é baseado em indicadores para as quatro metas que podem ser medidas a saber: educação primária

universal, alfabetização entre adultos, qualidade (utilizando como indicador a taxa de permanência dos

alunos até a 5ª série do Ensino Fundamental) e paridade de gênero.

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Na primeira dessas metas, o Brasil está no 32º lugar. Na segunda, no 67º e, na paridade de gênero,

na 66º colocação. No entanto, no índice que mede a qualidade do ensino, está em 87º lugar o que é deveras

preocupante e, para ser debelada a falta de qualidade, há que se investir em capacitação profissional,

treinamento e salários modificando-se a cultura do gestor de entidades de ensino do País e dos responsáveis

pela educação a nível governamental.

São inúmeras as iniciativas brasileiras com o objetivo de melhorar a qualidade no ensino a exemplo

da Bolsa Escola, do Fundo de Manutenção e de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização

do Magistério – FUNDEF, além da possibilidade de treinamento de professores através de ensino à

distância possibilitado pelo ambiente de sociedade da informação.

Na reunião de 17 de janeiro de 2005, em Nova Iorque idealizou-se uma força-tarefa da Organização

das Nações Unidas – ONU para traçar estratégias para melhorar o acesso à educação de qualidade em países

em desenvolvimento. Nesta oportunidade, os lideres mundiais comprometidos com o escopo ratificaram o

direito de toda criança à educação de qualidade e, após dois anos de estudos e pesquisas, geraram um

relatório[2] conhecido por Força-tarefa sobre Educação e Igualdade de Gênero do Projeto do Milênio das

Nações Unidas, no qual foram oferecidas várias recomendações para países em desenvolvimento

relacionadas à educação de qualidade, dentre estas pode-se sintetizar as seguintes; educar meninas e

mulheres para quebrar o ciclo de baixa educação; encorajar a freqüência escolar de crianças ausentes da

escola :melhorar a educação pós-primária; melhorar a transparência por meio de controle local; melhorar a

qualidade e disponibilidade da informação; definir critérios internacionais para avaliar a aquisição de

habilidades e conhecimento e fortalecer o papel das organizações da sociedade civil.

Observa-se assim não só a importância da busca de uma educação de qualidade em âmbito global e

principalmente junto aos países em desenvolvimento, como também que para a geração da eficiência há que

se criar programas multidisciplinares de natureza educacional que possam ser desenvolvidos em todos os

ciclos desde a infância, com os investimentos adequados.

Já no tocante à educação superior, a exigência da melhoria da qualidade da educação pelas

universidades brasileiras é parte de políticas públicas mas, primordialmente, deve ser importante

preocupação social daquela instituição que resolva adentrar ao segmento. Para tanto urge que se busque não

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2681

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só o cumprimento de indicadores por força de lei, mas sim a plena excelência no ensino que deve vir a

partir dos investimentos em infra-estrutura, equipamentos de pesquisa e tecnológicos de auxílio ao

apreendizado e, principalmente, no elemento humano e sua formação.

Não parece razoável que a busca incessante de lucros através do ensino jurídico proporcionado por

determinadas instituições de ensino privado, através da prática da redução clara das despesas com o

comprometimento da qualidade e da eficiência, seja a medida mais correta. No entando, parece ser esta a

proposta que se apresenta por parte de muitas das instituições de ensino do Brasil onde somente se

capacitam para atrair alunos e melhorar a qualidade de seus ativos (leia-se investimentos) sem a contra

partida da esperada qualidade.

Não estará de acordo com os ideários previstos nas leis que disciplinam a educação brasileira esta

incessante luta por lucros sem qualquer retorno no aprendizado daquele que acorreu ao vestibular e

acreditou que teria ali uma educação eficiente.

As instituições educacionais neste ponto possuem muito a apreender com as empresas

contemporaneas que professam um padrão ético no exercício da sua atividade-fim. Não obstante estas

visem sempre a maximização de riquezas aos seus acionistas, através da incessante e necessária busca do

lucro, na nova empresarialidade que emerge no seio social procura-se conjugar esta necessidade primária

com outros fatores sociais relacionados a todos aqueles que direta ou indiretamente se relacionam com a

empresa.

Assim é que não mais pode ser justificativa a agressão ao meio ambiente, ao consumidor ou aos

empregados, como forma de aumentar a liucratividade. A empresa contemporanea está harmonizando

interesses sociais das mais diversas naturezas de forma tal que tambem possa ser um elemento na

contribuição da redução da pobreza e inclusão social. E para tanto não visa apenas redução pura e simples

de custos na sua operação, mas sim a mais eficiente forma de operar dentro destas novas possibilidades,

submetendo-se a regras de cunho ético que são possibilitadas pela implementação de governança

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2682

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corporativa na sua gestão e administração, válida para todos os atores sociais internos e relacionados.

A nossa proposta se faz na institucionalização de uma gestão de tal forma que possam ser

aplicados conceitos e preceitos do que denominamos de Governança Educacional[3] em que,

principalmente a instituição privada, se submeteria a um conjunto de regras de cunho ético e social no

sentido sempre de se manter ou buscar primordialmente a qualidade e a eficiência no ensino com

responsabilidade social. Estas regras seriam colocadas num Código de Melhores Práticas nos procedimentos

educacionais e deveriam ser seguidas por todos os gestores e administradores alem das partes relacionadas à

atividade instituicional desenvolvida.

Dentro deste prisma, caberia uma harmonização entre a necessidade de se reduzir custos para

viabilizar empreendimentos educacionais e de se obter resultados satisfatórios aos consumidores de

educação com serviços de qualidade e eficientes.

É certo que há universidades e instituições de ensino privadas que possuem mensalidades

reduzidas, possibilitando o atendimento de classes sociais menos favoirecidas economicamente. Todavia,

este fato, na nossa ótica, não poderá redundar numa renúncia à qualidade e à eficiencia.

O País não precisa de volume de universitários, mas sim de universitários que possam obter uma

formação minimamente qualitativa de forma tal que eles possam ingressar no almejado mercado de

trabalho, não importando que Instituição de ensino cursaram.

Por esta razão que são importantes os exames nacionais visando a verificação da qualidade do

ensino praticado pela Instituição de Ensino Superior e os indicadores, cabendo ao Estado ter meios

apropriados para aplicar as sanções àqueles establecimentos que não se adequam e apenas visam o lucro

engodo popular.

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2683

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Imaginemos uma faculdade de direito que está formando sua segunda ou terceira turma e o nível de

aprovação dos alunos no Exame Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) é próximo de zero.

Algo aconteceu nestes anos todos de formação para que esta educação recebida não gerasse a eficiencia

necessária.

A melhoria da qualidade de ensino em ambiente de sociedade da informação passa pelo bom uso

das ferramentas tecnológicas que podem proporcionar e auxiliar na construção da educação de qualidade.

O momento de expansão da fontes de conhecimento e as facilidades geradas pela auto-estrada da

informação na busca de conteúdos apropriados ao ensino, resultam num diferencial de aprendizado. As

Instituições de ensino devem se preparar para esta realidade pois o seu público-alvo consumidor é formado

em grande parte por pessoas que desde cedo estão afeitas às tecnologias de qualquer natureza e habituadas a

lidar com as mesmas e por pessoas que podem estar excluídas de alguma forma do mundo informatizado .

Imaginemos este grupo de jovens habilitados com tecnologias informacionais, recém ingressados

numa faculdade de direito onde não há em classe nenhum – absolutamente nenhum – equipamento

informático ou eletrônico que possa contribuir para a boa assimilação das aulas e de conteúdos ou até para

uma boa realização de pesquisas e seminários mais eficientes. Apostar na qualidade de uma aula ou de um

curso inteiramente fundado nos velhos principios da sala de aulas, professor e giz quando sequer os bons

professores foram preservados naquela instituição de ensino em razão do custo que representavam, é não

entender a sociedade do conhecimento em que vivemos e desprezar por completo as benesses da tecnologia

da informação a favor do ensino.

Uma Instituição de Ensino comprometida com estes ideias renovadores e conceitos éticos na sua

operacionalidade está em sintonia com as diretrizes geradas pelas políticas públicas. A propósito Maria

Carmina Mendonça Neves de Almeida (2007, p. 42) traz importante texto sobre qualidade em educação

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2684

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como um conceito ético, político, cultural e técnico: “Queremos salientar que a qualidade é antes de tudo

um conceito ético, que emerge de uma mediação acerca do por quê e do para quê; é também um conceito

político, as acçõeseducativas são sempre para alguns; e também um conceito cultural, relativo a uma

determinada forma de ver e realizar as coisas, e, finalmente, um conceito técnico, entendido no seu sentido

mais amplo, que inclui os aspectos oranizativos.Daí que seja um conceito simultaneamente polissémico e

polémico.Daí, também, que na busca da vias de acordo e de especificação do que se entende por qualidade,

seja necessário contextualizar as propostas e remetê-las a cenários e concretos, embebidos de

determinados referenciais éticos, políticos, culturais e organizacionais.”

Neste cenário o professor universitário não deve ser visto como um mero facilitador (simples

“comodities” daqueles que operam na indústria do ensino com vistas exclusivas ao lucro fácil) ou prático

reflexivo do ensino, mas um educador especializado em aprendizagem a partir de seu universo de saberes

adquiridos e a adquirir em demonstração de contínua progressão numa visão antropocêntrica do direito e da

vida.

Ainda, servindo-nos da experiência acerca da qualidade no universo empresarial, numa visão

dinâmica e não estática, pode-se observar como se infere inclusive na aplicação das normas ISO 9000:2000

que se baseiam em principios da gestão de qualidade, que podem ser descritos em síntese como busca da

melhoria contínua; definições de qualidade orientada ao aluno; mudança cultural; envolvimento de toda a

organização na qualidade; estrutura organizacional; comprometimento da gestão superior; contrução da

qualidade passo a passo; formação da cadeia de qualidade e utilização de técnicas estatísticas para medir a

evolução e desenvolvimento. Maria Carmina Mendonça Neves de Almeida (2007, p. 74) menciona que na

busca da gestão de qualidade total o Conselho Diretivo da Instituição de ensino deve estabelecer um

compromisso administrativo; eleger um coordenador de qualidade; redigir a missão; identificar os clientes e

os fornecedores; envolver os clientes externos e internos; conhecer mais a fundo o processo e

institucionalizá-lo.

Para que se possa buscar a qualidade total no ensino, a exemplo das empresas, deve-se assim

definir objetivos e estratégias organizativas eficientes alem de procurar estabelecer a cultura da instituição e

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2685

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missão na a busca do ensino de qualidade.

Qualidade e eficiência podem ser vistos em conjunto de princípios que se comunicam e visem um

objetivo comum consubstanciado na melhoria sistêmica da educação e do apreendizado.

4. Declaração de Bolonha e a qualidade de ensino

A questão da avaliação da qualidade do ensino superior na Europa Comunitária não só é um vetor

estratégico no desempenho global das instituições, como gera o rigor nos procedimentos avaliativos a

demonstrar a importância deste quesito. A Recomendação CE n.561/98 do Conselho de 24 de setembro de

1.998 já demonstrava a preocupação do Conselho Europeu com a qualdiade no ensino e nos critérios

avaliativos. A lei 1/2003 de 06 de janeiro traduziu este ideário ao objetivar a preservação e melhoria da

qualidade do ensino superior[4].

Antecede a Declaração de Bolonha a edição da “Magna Charta Universitatum” subscrita em 1988

pelos Reiores das Universidades Européias, reunidos em Bolonha para a comemoração dos novecentos anos

da Universidade mais antiga do planeta. Com vistas às transformações continuas no campo social e

internacional, com reflexos nas ciências e nas universidades, foram redigidos os princípios fundamentais

constantes da Carta Magna que devem sustentar, no presente e no futuro, a vocação da Universidade. São

esses: a independência ética e científica face ao poder político e econômico, no seu esforço de investigação

e ensino; a indissociabilidade entre o ensino e a investigação de maneira que o ensino possa acompanhar a

evolução das necessidades e exigências da sociedade e do conhecimento científico; o respeito pela

exigência fundamental de liberdade na investigação e formação, como princípio nuclear à vida universitária;

a universalidade no seu ambito de atuação, enquanto depositária da tradição do humanismo europeu,

expressa na preocupação constante em alcançar o saber universal, no ignorar das fronteiras geográficas ou

políticas, e na afirmação da necessidade vital do conheicmento mútuo e interação entre as diferentes

culturas.

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2686

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Embora a Declaração de Bolonha[5] não seja um tratado na acepção jurídica do termo, os governos

dos países signatários comprometem-se a reorganizar os sistemas de ensino superior dos seus países de

acordo com os princípios dela constantes. A Declaração de Bolonha emitida em 19 de Junho de 1999

resultou do denominado Processo de Bolonha. O documento conjunto foi assinado pelos Ministros da

Educação de 29 países europeus, reunidos na cidade italiana de Bolonha.

A declaração marca uma mudança em relação às políticas ligadas ao ensino superior dos países

envolvidos e procura estabelecer uma Área Europeia de Ensino Superior a partir do comprometimento dos

países signatários em promover reformas de seus sistemas de ensino internos.

A declaração reconhece a importância da educação para o desenvolvimento sustentável de

sociedades tolerantes e democráticas e objetiva alcançar através da promoção da mobilidade e agentes

educativos, a empregabilidade com o reforço da competitividade internacional do ensino superior europeu

no contexto da globalização dos sistemas de ensino e formação.

Na definição das linhas gerais da atuação do Espaço Europeu de Ensino Superior, como a

promoção da mobilidade e intensificação da cooperação entre as instituições criou-se um sistema único na

tentativa de equalizar a formação entre os países signatários do acordo ao mesmo tempo em que permite

que o estudante se desloque de uma instituição a outra, observando-se o seguinte regramento:

a) Adoção de um sistema com graus acadêmicos de fácil equivalência, também através da

implementação, do Suplemento ao Diploma, para promover a empregabilidade dos cidadãos

europeus e a competitividade do Sistema Europeu do Ensino Superior;

b) Adoção de um sistema baseado essencialmente em duas fases principais, a pré-licenciatura e a

pós-licenciatura. O acesso a segunda fase deverá requerer a finalização com sucesso dos estudos

da primeira, com a duração mínima de 3 anos. O grau atribuído após terminado a primeira fase

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2687

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deverá também ser considerado como sendo um nível de habilitações apropriado para ingressar

no mercado de trabalho Europeu. A segunda fase deverá conduzir ao grau de mestre e/ou doutor,

como em muitos países Europeus;

c) Criação de um sistema de créditos - tal como no sistema ECTS - como uma forma adequada de

incentivar a mobilidade de estudantes da forma mais livre possível. Os créditos poderão também

ser obtidos em contextos de ensino não-superior, incluindo aprendizagem feita ao longo da vida,

contando que sejam reconhecidos pelas Universidades participantes;

d) Incentivo à mobilidade por etapas no exercício útil que é a livre circulação, com particular

atenção: 1) aos estudantes, o acesso a oportunidades de estudo e de estágio e o acesso aos

serviços relacionados; 2) aos professores, investigadores e pessoal administrativo, o

reconhecimento e valorização dos períodos dispendidos em ações européias de pesquisa,

docência e de formação, sem prejudicar os seus direitos estatutários.

e) Incentivo à cooperação Européia na garantia da qualidade com o intuito de desenvolver critérios

e metodológicas comparáveis;

f) Promoção das necessárias dimensões em nível europeu no campo do Ensino Superior,

nomeadamente no que diz respeito ao desenvolvimento curricular de cooperação

interinstitucional, projetos de circulação de pessoas e programas integrados de estudo, estágio e

pesquisa.

Segundo informa Renato Marques (2006), um dos pontos focais da Declaração de Bolonha é a

questão da mobilidade estudantil. Permitir que os alunos circulem por todo o sistema segue uma tendência

já presente na constituição da União Européia, expandindo as fronteiras e criando estados transnacionais.

Desta forma, os currículos seriam unificados e os créditos validados em qualquer instituição dos países que

optarem por integrar o Espaço Europeu de Ensino Superior.

"A Europa precisava desenvolver a questão da unidade de uma forma que proporcionasse coesão

no sistema, com reconhecimento de umas universidades para as outras. Isso resulta em dois fatores

principais - mobilidade e empregabilidade", explica a professora Luciane Stallivieri, presidente do Fórum

de Assessorias das Universidades Brasileiras para Assuntos Internacionais (Faubai). E continua: "Com essa

mobilidade, o estudante pode desenvolver parte dos estudos em Portugal, seguir para a Espanha em um

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2688

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segundo momento e, depois, concluir na França".

É esclarecedora a contribuição de Renato Marques acerca do Sistema 3+2+3 que permitimo-nos

reproduzir:

“A modificação que é, talvez, a mais importante da Declaração de Bolonha se dá na unificação

dos ciclos para as carreiras superiores. A partir da implantação definitiva do tratado, a organização

passará a operar no formato 3+2+3, ou seja, três anos de graduação, dois de mestrado e outros três de

doutorado. Os ciclos também podem ter sua duração ajustada em alguns casos para o formato 4+1 (quatro

anos de graduação e um de mestrado). Uma vez implantado, o sistema reduziria sensivelmente o tempo

total da formação - hoje girando em torno de doze ou treze anos. Seriam três ciclos, organizados da

seguinte forma:

1º Ciclo (equivalente ao Bacharelado ou Licenciatura no Brasil) - grau acadêmico conferido após

os três primeiros anos de freqüência com aproveitamento equivalente a 240 ECTS (Créditos

Estudantis do Sistema Europeu, na sigla em inglês);

2º Ciclo (equivalente ao Mestrado no Brasil) - grau acadêmico concedido após dois anos de

freqüência, obrigatoriamente ligado ao 1º Ciclo, culminando com a organização e apresentação de

uma tese dissertação - equivalente a 120 ECTS;

3º Ciclo (equivalente ao Doutorado no Brasil) - título acadêmico de maior prestígio, conferido

normalmente após três anos, culminando com a organização e apresentação de uma tese”.

Segundo Arnaldo Comin (2009), nos últimos meses de 2007, houve uma onda de insatisfação e

protestos de estudantes na Espanha, contra a Declaração de Bolonha e a unificação do sistema universitário

europeu. Milhares de estudantes se manifestaram em Madrid e centenas em outras cidades espanholas em

14 de novembro, contra uma reforma que, segundo eles, representa aumento das taxas e mercantilização do

ensino, isto é, a adequação dos programas educacionais às necessidades das empresas.

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2689

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Muito embora em países como Portugal adotaram uma estratégia própria para lidar com este

assunto educacional baseada numa relação triangular entre economia sustentável, conhecimento e

competitividade e coesão social, é fato que há ainda pleitos que demonstram interesses transindividuais,

apresentados na Assembléia da República de Portugal e Direção Geral da Administração e do Emprego

Público onde os signatários procuram demonstrar os prejuízos incorridos pela Declaração de Bolonha e

apresentam propostas relativamente ao funcionamento e aplicação dos graus acadêmicos reconhecidos em

âmbito de concursos públicos.

Alegam que o tratado de Bolonha introduziu alterações profundas na reestruturação dos cursos. Os

graus atribuídos são também diversos: se anteriormente com cinco anos de estudo universitário se podia

obter um grau de Licenciado, atualmente o grau atribuído è de Mestre e o antigo “Bacharelato”,

reestruturado, passou a “Licenciatura”.

Procuram demonstrar que a reestruturação vem favorecer o intercâmbio com o estrangeiro trazendo

uma série de outras vantagens associadas, na sua essência, mas que não deve promover na discriminação

dos antigos Licenciados ou Mestres que vêem o seu grau acadêmico desvalorizado.

Especificamente com relação aos cursos de direito, registra-se a crítica formulada por Justo (2003,

p. 625) no sentido de que as Faculdades de Direito existem para formar juristas e a sua formação não se faz

sem tempo. Entende o autor que não cumprirão estas a sua função se abdicarem da excelência dos seus

docentes e da qualidade do seu ensino, pois o jurista não pode ser um simples técnico-servidor de qualquer

Poder Legislativo; é muito mais porque lhe cabe a nobre função de servir à justiça sem a qual a sociedade

será impossível. Nota-se que a crítica se dirige diretamente à redução de carga proporcionada pelo processo

de Bolonha.

A outro lado se observarmos os clamores das áreas de engenharia e tecnologia na Europa[6], pode-

se constatar que neste segmento se pretende a adoção de uma principiologia geral que possa levar a três

pontos básicos: a) as mesmas condições de autonomia para as universidades e institutos politécnicos; b) a

possibilidade de concessão dos mesmos graus acadêmicos, quer nas universidades, quer nos institutos

politécnicos, mediante o cumprimento de requisitos comuns para os dois subsistemas e c) estatuto único de

carreira docente do ensino superior, ainda que permitido perfis diversificados, com maior ou menor

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2690

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articulação com atividades profissionais fora do ensino.

José Veiga Simão, Sérgio Machado dos Santos e Antonio de Almeida Costa (2005, p. 28)

apresentam neste cenário os dois grandes desafios ao sistema de educação para a construção da sociedade

do conhecimento. O primeiro desafio refere-se a forma de proporcionar aos cidadãos uma possibilidade real

de acesso ao conhecimento , rompendo a barreira do analfabetismo digital relacionado às novas tecnologias

da informação criando-se uma cultura digital adaptada aos grupos populacionais em sintonia com as suas

características regionais visando coesão social aumentando o índice de empregabilidade. O segundo desafio

ao sistema educacional refere-se à forma de garantir um equilíbrio criativo entre a economia da

globalização e a economia de proximidade visando inserção nos paises mais desenvolvidos na luta

competitiva de economia de escalas. Afirmam os autores que ganharia destaque a aliança entre a ciência,

tecnologia e cultura como forma de se implementar certos objetivos mencionados.

Há ainda um grande desafio a ser vencido pelos subscritores da Declaração de Bolonha que

consiste justamente na busca da qualidade do ensino e sua forma mensurativa e critérios de exigências em

universidades similares. Neste ponto José Veiga Simão, Sérgio Machado dos Santos e Antonio de Almeida

Costa (2005, p. 32) afirmam que a avaliação da qualidade surge como um referente incontornável do

desempenho das instituições de ensino superior, dentro do conceito de que a atividade realizada em

ambiente de independência e credibilidade. Permite não só o estímulo da qualidade e excelência como

também o benchmarkings decisivo para o bom posicionamento da universidade na Europa em face das

congêneres.

Seja como for, nenhum sistema de qualidade poderá desprezar o desenvolvimento da pesquisa

científica que contribui para a evolução do direito e da sociedade e um ensino de qualidade pode também

ser medido pela qualidade e excelência da pesquisa realizada. A observação de Raffaele De Giorgi (2006, p.

26) neste tema é esclarecedora: “A estratégia do futuro, ao nosso ver, pode ser caracterizada,

exclusivamente, pela pesquisa das formas de conquista de graus mais altos de racionalidade do sistema

jurídico. Racionalidade é- repetimos – potencial de autocontrole do sistema.Altos graus de racionalidade,

capazes de adequar a complexidade do sistema à complexidade do ambiente da sociedade, representam

uma conquista improvável, mas não impossível. Lembremos que, na sociedade contemporânea, esta

pesquisa pode representar o desafio da pesquisa em direito, sob o influxo de um novo iluminismo,m voltado

à busca de graus mais altos de legalidade e, consequentemente, de democracia.”

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2691

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A necessidade de se habilitar à pesquisa evolutiva e a cooperação dos paises aderentes na busca de

metas periódicas para serem atingidas com vistas à boa implementação do processo de Bolonha bem

demonstra o animo na promoção de sistemas nacionais de avaliação eficientes que possam gerar a direta

melhoria na qualidade de ensino, além de refletir no próprio sistema de reconhecimento de graus que tanta

controvérsia está ainda ocasionando como visto na realidade.

Conclusões

Para a obtenção de um ensino superior com qualidade, notadamente na área jurídica, há que se

preparar o gestor para a adoção de preceitos éticos, organizacionais e gerenciais tais que possam ter como

uma das atividades meio a busca do binômio qualidade-eficiência, com reflexos diretos em sua atividade-

fim e cumprimento do preceito constitucional estabelecido no art. 205 da Constituição Federal. O Sistema

Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), quando parte da premissa avaliativa de três

componentes principais, quais sejam, a avaliação das Instituições de Ensino Superior, dos cursos e do

desempenho dos estudantes, acaba por dar às Instituições de Ensino do País um norte a ser buscado, pois o

sistema também tratará da avaliação da educação genericamente falando, desenvolvendo pela entidade

pública ou privada além da pesquisa, cursos de extensão e responsabilidade social a demonstrar que o

ensino não se resume em um elemento de fomento de receitas da Instituição.

Com a avaliação do desempenho dos alunos; da gestão da instituição; do seu corpo docente e das

instalações, além de outros aspectos que dimensionam o processo ensino-aprendizagem, pode-se contribuir

para que sobrevenha naquela Instituição habilitada em sintonia com estes ideais a necessária qualidade no

ensino com reflexos diretos na formação do alunado e sua boa integração no mercado de trabalho.

Vimos que na Europa Comunitária a busca da qualidade na educação é uma constante e a

Declaração de Bolonha, não obstante às críticas que devem ser valoradas pela profunda reestruturação que o

referido documento propõe no ensino superior, coloca parâmetro claro para o processo de melhoria do

sistema de educação e demonstra que esta mutação nas estruturas curriculares sem perda de qualidade

produzirá um profissional com mais capacidade de acesso ao mercado globalizado quando implementado

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2692

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totalmente o processo.

A educação superior brasileira e as instituições que a patrocinam devem se adequar e ajustar para

não só gerarem a infra-estrutura e condições necessárias ao propagado ensino de qualidade,

disponibilizando o uso das ferramentas tecnológicas adequadas ao aprendizado em ambiente de sociedade

da informação e o fomento da acessibilidade à educação, como também para possibilitar a real inclusão do

professor educador ao sistema, adaptando-o aos ideais a serem conquistados, através de procedimentos

dignos e apropriados aos seus esforços.

A experiência ainda em desenvolvimento e implementação, gerada pela Declaração de Bolonha

aliada à incessante busca de melhoria do sistema educacional brasileiro e à disposição das Instituições de

Ensino para uma gestão mais apropriada num regime que se pode denominar de Governança Educacional,

possibilitará no futuro a boa integração do estudante ao mercado globalizado a partir da constatada

eficiência técnica resultante da aplicação da educação de qualidade, demonstrando-se assim um fator de

sucesso e uma nova concepção de educação superior independente das condições econômicas do alunado.

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[1] O INEP é uma Autarquia Federal, criada pela Medida Provisória n. 1.568, de 14 de fevereiro de 1997, posteriormente

convertida na Lei n. 9.448, de 14 de março do mesmo ano. É responsável, entre outras competências, “pelo sistema de

informação e documentação do sistema de ensino, além da elaboração e implementação dos projetos e sistemas de avaliação

educacional”. (INEP, 2009, p. 49). [2] O relatório – Alcançando o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio do Ensino Básico Universal – foi um dos dois lançados

hoje pela Força-tarefa como parte de um detalhado plano global de ação para combater a pobreza, doenças e degradação

ambiental nos países em desenvolvimento. A equipe foi liderada por Nancy Birdsall, presidente fundadora do Centro para

Desenvolvimento Global; Anima J. Ibrahim , coordenador nacional para Educação para Todos no Ministério da Educação da

Nigéria; e Geeta Rao Gupta, presidente do Centro Internacional de Pesquisa sobre a Mulher. [3] A expressão Governança Educacional que propomos neste ensaio é advinda e construída a partir dos conceitos e preceitos

das práticas empresariais de Governança Corporativa onde regras de melhores práticas de cunho moral e ético são aceitas pelos

órgãos de direção e gestão como balizadoras dos procedimentos e processos internos e externos, com reflexos claros nas partes

relacionadas. [4] As Comissões de auto-avaliação que se instalaram em ambiente europeu para facilitar a implementação da formação

profissional destinada aos docentes estabeleceram como objetivos os seguintes: avaliar o estado atual do debate em torno da

qualidade do ensino superior; analisar conceitos e modelos na área da qualidade organizacional; refletir sobre o sistema de

avaliação existente; identificar estratégicas de auto-avaliação; desenvolver competências que permitam a concretização dos

processos de auto avaliação.

[5] Lista de países que, através de seus ministros ligados à Educação Superior subscreveram à Declaração de Bolonha Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, Grécia, França, Holanda, Hungria,

Irlanda, Islândia, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Noruega, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca,

Romênia, Suécia e Suíça.

[6] Princípios extraídos do periódico denominado “Cadernos do Ensino Superior. O Ensino superior em discurso directo - o

processo de Bolonha; o caso das engenharias e das tecnologias. Instituto Politecnico de Leria, Leria, v. 05, Jun., p. 47, 2.005.

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2694