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01Administração das relações
trabalhistas coloca planejamentoem primeiro plano
02 CVM trata do empréstimo
de ações em nova Instrução
Nova Portaria do CRSFN sobre revisão de condenações
03STF indefere liminares contra novo
modelo do setor elétrico
04Tendências tributárias da nova
composição do Supremo Tribunal Federal
05A importância do planejamento
sucessório nas empresas familiares
06Affinitas premia empresas latino-
americanas por excelência emgovernança corporativa
STJ confirma entendimento sobrepossibilidade de arbitragem paraas sociedades de economia mista
N o 1 9 S E T E M B R O | O U T U B R O 2 0 0 6
Principais áreas de atuação doBARBOSA, MÜSSNICH & ARAGÃO
ADVOGADOS:
Direito Societário
Reestruturação
Direito Tributário
Banking
Mercado de Capitais
Project Finance
Contencioso/Arbitragem
Direito Econômico
Direito Imobiliário
Direito Administrativo
Privatizações & Concessões
Direito Ambiental
Direito Trabalhista e Previdenciário
Propriedade Intelectual
Terceiro Setor
Energia
Quem vive no mundo empresarial se esforça para conviver em
harmonia com a legislação trabalhista que, por sua característica
claramente tutelar, permite pouca flexibilidade na sua aplicação.
Passivos trabalhistas decorrentes de demandas judiciais,
autuações administrativas e práticas de recursos humanos que
não se encontram em compliance com a legislação são exemplos de
problemas tradicionais que preocupam os empresários.
Com a globalização, todavia, uma competitividade cada vez
mais acirrada caracteriza o mundo dos negócios, agravando
ainda mais essa situação. Para conseguir se manter no
mercado e se adequar ao chamado “custo Brasil”, muitos segmentos têm estudado novas formas de
lidar com as relações de trabalho. O resultado da difícil equação consistente em, de um lado, buscar a
redução do elevado custo trabalhista e, de outro lado, assegurar segurança jurídica à empresa pode
ser obtido através de um bom planejamento. A idéia é utilizar-se das ferramentas legais disponíveis,
assegurando que a empresa se mantenha competitiva em seu nicho de mercado, mas sem a formação
de um passivo trabalhista.
Comandando uma equipe de dez advogados especializados em direito trabalhista, Luiz Felipe
Tenório da Veiga, sócio da área no BM&A, cita como exemplo de um planejamento trabalhista
eficiente a instituição de programas de Participação nos Lucros e Resultados (PLR). “Atualmente
regulada pela Lei nº 10.101/00, a PLR é um importante instrumento de gestão empresarial”, diz o
advogado. Segundo ele, o montante distribuído a título de PLR, além de estar isento de encargos,
pode funcionar como forma de alinhamento dos empregados aos objetivos empresariais. A PLR pode
prever tanto indutores econômicos (incremento de produtividade, acréscimo de receita, aumento dos
índices de lucratividade) quanto indutores de qualidade (obtenção dos certificados) e de segurança
(redução do índice de acidentes). “Para isso, o programa de PLR deverá conter regras claras e
objetivas, contar com a participação do sindicato profissional e prever distribuição, no máximo, duas
vezes ao ano, em periodicidade superior a um semestre civil”.
Ainda pouco utilizado no Brasil, o stock option também se apresenta como relevante ferramenta para
estruturação de planejamentos trabalhistas empresariais. Os denominados stock options plans consistem
em uma forma de remuneração variável que tem como objetivo primordial o engajamento dos
empregados como sócios do empreendimento, tornando-os diretamente interessados na valorização das
ações da empresa para a qual trabalham. De acordo com Luiz Felipe, embora as decisões a respeito do
tema ainda sejam esparsas, desde que haja, por parte dos empregados, desembolso para a aquisição das
ações e assunção de riscos típicos das operações de mercado, a tendência natural dos tribunais
trabalhistas é tratar os stock options plans como parcela desvinculada da remuneração.
Outra forma de planejamento trabalhista é a gestão do passivo já existente, a fim de detectar práticas
internas que geram prejuízos e, a partir daí, sugerir formas de eliminá-las. Segundo Luiz Felipe, além de a
manutenção de passivos trabalhistas, como regra, custar caro para as empresas, o atual momento
econômico brasileiro é de aumento do número de empresas abrindo capital e a cobrança do mercado é
grande em relação à governança corporativa. “Altos passivos trabalhistas podem ser interpretados como
indicadores de que a empresa não está em compliance com a legislação vigente, o que pode resultar na
diminuição do índice de liquidez da empresa e, por conseqüência, na redução de seu valor de mercado”.
ADMINISTRAÇÃO DAS RELAÇÕES TRABALHISTASCOLOCA PLANEJAMENTO EM PRIMEIRO PLANO
Luiz Felipe Tenório: Sócio da área trabalhista
2
CVM TRATA DO EMPRÉSTIMO DE AÇÕES EM NOVA INSTRUÇÃOHenrique Vargas Beloch | [email protected]
No último dia 10 de novembro a Comissão de Valores
Mobiliários editou a Instrução nº 441, que dispõe sobre “a
prestação de serviço de empréstimos de valores mobiliários
por entidades de compensação e liquidação de operações
com valores mobiliários”. O normativo revoga de forma
expressa a Instrução CVM 249, de 11.04.96, que tratava
genericamente do tema, embora o fizesse apenas no tocante
às operações de empréstimo de ações, e fixa o prazo de 180
dias para que as entidades prestadoras do serviço se
adaptem às novas regras.
Apesar de se estender aos valores mobiliários em geral e de
introduzir regulamentação específica sobre o processo na
CVM para concessão e cancelamento do registro para esse
tipo de serviço, a recente instrução não traz maiores
novidades sobre a matéria. Preserva grande parte das
regras gerais existentes no normativo anterior, incorpora
procedimentos que já eram observados no funcionamento
desse mercado e, de um modo geral, mantém considerável
margem para a auto-regulação no âmbito das entidades que
o administram. De mais notável, talvez, uma maior ênfase
nas responsabilidades e obrigações dessas entidades de
liquidação, sobretudo quanto ao controle e à divulgação das
operações, e a exclusão da previsão expressa de
responsabilidade solidária das corretoras e distribuidoras
de títulos e valores mobiliários nas transações de
empréstimo que intermediarem.
A nova instrução, não por acaso, surge na seqüência de
aumentos significativos nos volumes de negociação no
mercado de empréstimo de ações. Em 1996, quando a matéria
foi primeiramente regulamentada pelo Conselho Monetário
Nacional, o volume anual de empréstimo de ações foi de cerca
de R$ 350 milhões. Em 2006, só até setembro, já alcançou R$ 80
bilhões. Portanto, em que pese a ampliação normativa
promovida pela Instrução CVM 441, é o empréstimo de ações,
especificamente, que por ora suscita maior interesse prático,
tendo em vista o mercado que ele movimenta.
Por meio dessa modalidade de operação, o tomador recebe
ações fungíveis de uma companhia aberta e se obriga a liquidar
o empréstimo no vencimento convencionado, mediante
devolução, ao titular original, de ações da mesma espécie e
qualidade daquelas que foram emprestadas. Caracteriza-se,
assim, a fungibilidade das ações pelo fato de poderem ser
substituídas por outras, em igual quantidade, da mesma
espécie, classe e companhia, o que pode ser visto como a
tradução, para o direito societário, da conceituação de bem
fungível contida no Código Civil. Acrescente-se que as ações
objeto de empréstimo devem estar livres de quaisquer ônus que
impeçam a sua circulação e se encontrar depositadas em
custódia fungível junto a entidade autorizada pela CVM a
prestar o serviço de empréstimo, cujo regulamento deverá ter
sido aprovado pela CVM.
Assim, embora chamado vulgarmente de aluguel de ações, o
negócio consiste, na sua essência, em um contrato de mútuo,
que é justamente o empréstimo de bens fungíveis. Aluguel
ou locação jamais, pois estaríamos diante da cessão de uso e
gozo de bem não fungível, sem transferência de domínio. No
empréstimo de ações fungíveis, ao contrário, o tomador, em
razão da fungibilidade, se torna proprietário, considerando
que o mútuo transfere o domínio da coisa emprestada.
Portanto, aquele que toma ação fungível emprestada poderá
vendê-la a terceiro, da mesma forma que se a tivesse
adquirido por compra e venda, com a diferença fundamental
de que fica obrigado à devolução no vencimento.
Nova Portaria do CRSFN sobre revisão de condenações
Foi publicada, em 1º de novembro de 2006, a Portaria nº 10 do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional(CRSFN), estabelecendo procedimentos para a revisão das decisões condenatórias por ele proferidas. Inspirada nos regimesda ação rescisória e do cumprimento da sentença, a nova portaria regulamenta o art. 65 da Lei nº 9.784/99, indicando ainterpretação do CRSFN acerca de quais situações podem ser consideradas “fatos novos ou circunstâncias relevantes”suscetíveis de justificar a inadequação das penas aplicadas, tais como a existência de erro de fato ou a apresentação deprovas novas (desde que anteriormente desconhecidas ou indisponíveis à parte). O texto também admite o pedido derevisão quando a decisão for manifestamente contrária a dispositivo expresso de lei ou à prova dos autos, bem como noscasos de julgamentos baseados em normas tidas como inconstitucionais pelo STF. Uma análise mais detalhada da PortariaCRSFN nº 10 será realizada na próxima edição do BM&A Review.
Percebe-se que a operação de mútuo de ações proporciona
vantagens financeiras e flexibilidade de investimento. Para
quem empresta (geralmente um investidor de longo prazo), ela
permite receber a remuneração pactuada (renda fixa, assim
tributada), sem se desfazer definitivamente do ativo ou abrir
mão de eventuais dividendos e outros proventos dele
decorrentes. Já para o tomador (na maioria das vezes um gestor
profissional de recursos), ela abre uma série de alternativas, sem
que ele tenha que comprar as ações (a descoberto) – como, por
exemplo, usá-las para garantir ou liquidar uma outra operação
no mercado à vista ou futuro ou vendê-las apostando na sua
desvalorização para posterior recompra em baixa, embolsando
a diferença (renda variável, assim tributada).
Vale destacar que o bom funcionamento e a segurança desse
mercado se devem ao fato de que a instituição que o
administra – no caso do Banco de Títulos, a CBLC –, atua
como contraparte central, garantindo a liquidação da
operação, em regra sem a existência de vínculo entre
mutuante e mutuário. Para tanto, o tomador do empréstimo
deverá depositar em garantia, em favor da entidade
liquidante, ativos aceitáveis por esta equivalentes a 100% do
valor das ações emprestadas, acrescido de percentual
adicional determinado de acordo com a liquidez e a
volatilidade daquele título, margem esta constantemente
monitorada. Em caso de inexecução, essas garantias podem
ser realizadas pela entidade liquidante independentemente
de qualquer ato ou notificação judicial ou extrajudicial.
Outro ponto a se frisar é que, de modo a evitar concentrações
excessivas, a CBLC, seguindo determinação da CVM, impõe
limites máximos de posição de empréstimo por investidor, por
intermediário e para o mercado como um todo, atualmente
fixados em 3%, 6,5% e 20%, respectivamente, sobre o total de
ações em circulação (free float) de determinada companhia.
Como o empréstimo de ações fungíveis importa em
transferência da titularidade, conforme explicado acima, resulta,
em princípio, que o tomador passa a ser o titular de todos os
direitos a elas inerentes, o que pode incluir o direito de voto e
também o direito à percepção de dividendos, enquanto não as
vender a terceiro ou as devolver ao detentor original. Os direitos
patrimoniais da ação, no entanto, como dividendos e juros sobre
capital próprio, destinados ao novo titular no período em que a
operação estiver em aberto, devem ser reembolsados pelo
tomador juntamente com as ações, dado que não são
computados na remuneração fixa do negócio.
Quanto ao direito de voto, a área técnica da CVM manifestou
recente entendimento de que o seu exercício, em princípio,
cabe ao tomador do empréstimo, enquanto permanecer como
titular das ações. Se ao fazê-lo, ainda segundo a CVM, o
tomador estará agindo ou não no interesse social ou
incorrendo em alguma das hipóteses em que a lei proíbe ou
restringe o voto, é uma questão a ser analisada caso a caso. Na
seqüência daquele entendimento, a CVM também divulgou
comunicado ao mercado para esclarecer que as ações objeto de
empréstimo devem ser consideradas para fins de declaração
de aumento ou redução de participação relevante, de acordo
com as regras do artigo 12 da Instrução CVM 358/02.
Como se percebe, o mútuo de ações merece estudos adicionais e
deverá ainda suscitar outras discussões jurídicas extremamente
relevantes. Já se pode, inclusive, pensar em outras questões de
grande interesse, como a possibilidade e o tratamento de
eventual exercício de direito de recesso pelo tomador do
empréstimo, a aplicabilidade das regras sobre oferta pública de
aquisição (OPA) por aumento de participação, no caso desta
resultar de empréstimo, e, ainda, o cabimento, fora do
regramento da Instrução CVM 441/06, de empréstimo de ações
em operação privada ou de emissão de companhias fechadas.
3
STF indefere liminares contra novo modelo do setor elétrico
No último dia 11 de outubro, o Supremo Tribunal Federal, por maioria de votos, indeferiu pedidos de medidas liminares formulados em duasações diretas de inconstitucionalidade (ADIs 3.090 e 3.100) propostas por partidos políticos contra a medida provisória nº 144/2003, convertidana Lei nº 10.848/2004, que estabeleceu novo modelo institucional de comercialização de energia elétrica.
Em seu voto, a ministra Ellen Gracie entendeu que a vedação contida no artigo 246 da Constituição Federal não se aplica à hipótese, haja vista nãoparecer razoável impedir a utilização de medida provisória para regulamentação do setor elétrico, que, dadas as suas especificidades, muitas vezesdemanda a imediata atuação do Poder Público. Acompanhando a divergência, o ministro Joaquim Barbosa argumento no sentido de que aalteração promovida no artigo 176, §1º da Constituição Federal pela emenda constitucional nº 6/1995 foi marginal, o que também afastaria aproibição da matéria ser regulada por medida provisória.
Apesar da questão de ordem levantada pelo ministro Gilmar Mendes, relator das ações, que pretendia que o mérito da questão fosse jáanalisado, o plenário do tribunal se restringiu ao exame das medidas liminares, postergando o resultado definitivo do julgamento.
Luis Sergio Mamari | [email protected]
4
TENDÊNCIAS TRIBUTÁRIAS DA NOVACOMPOSIÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERALAndrei Furtado Fernandes | [email protected]
Em pouco mais de três anos – contados a partir de junho de
2003 – foram nomeados seis novos ministros para o Supremo
Tribunal Federal: Cezar Peluso, Carlos Ayres Britto, Joaquim
Barbosa, Eros Grau, Ricardo Lewandowski e Carmen Lúcia
Rocha. Até o final do mês de novembro próximo, será feita
mais uma indicação, em razão da aposentadoria compulsória
do Ministro Sepúlveda Pertence. Com a nomeação que se
avizinha, teremos então sete novos ministros, em um
universo de onze componentes do STF.
Em virtude de grande parte do sistema tributário nacional se
encontrar definida no próprio texto da Constituição, as
discussões judiciais em matéria tributária têm seu desfecho
no STF. Alterações na composição da Corte trazem, por esta
razão, um especial relevo para os profissionais desta área.
Em sessões plenárias recentes, já sob a nova composição,
questões antes decididas contrariamente aos contribuintes ou
que permaneceram vários anos sem uma resolução final vêm
sendo novamente debatidas, com resultados que indicam
uma tendência mais progressista contra as habituais
inconsistências ao exercício do poder de tributar. Dentre
outros, podem ser relacionados os seguintes julgamentos - a
maioria em andamento - como dignos de atenção:
(i) a declaração de inconstitucionalidade do parágrafo 1º do
artigo 3º da Lei 9.718/98, que fazia incidir a COFINS sobre a
totalidade das receitas auferidas pelas empresas, ao invés de
apenas sobre o faturamento de bens e serviços, na forma então
definida pelo art. 195, inciso I da Constituição Federal. Os três
primeiros votos proferidos no leading case admitiam a referida
equiparação, a despeito da ausência de fundamento
constitucional (RE 346.084), apenas com a ressalva do relator
(ex-Ministro Ilmar Galvão) sobre o termo inicial da cobrança.
Com a nova formação, a questão terminou revertida em favor
dos contribuintes (REs 357.950, 358.273 e 390.840);
(ii) com seis votos favoráveis (maioria) proferidos no
julgamento do Recurso Extraordinário 240.785, segue sendo
afastada a inconstitucional inclusão do valor do ICMS na
base de cálculo da COFINS. O julgamento foi iniciado em
08.09.1999 e, depois de um longo pedido de vista realizado
após o voto do relator, teve seu início tornado insubsistente
pelo plenário, em virtude da alteração substancial de sua
composição, sendo retomado na sessão do dia 24.08.06. O
entendimento vencedor até o momento segue afirmando que
o ICMS não integra o faturamento das empresas e, por esta
razão, não poderia compor a base de cálculo da COFINS.
Caso tal posicionamento seja confirmado, idêntica orientação
poderá ser aplicada a outros tributos, computados tanto na
base de cálculo da COFINS, quanto da contribuição ao PIS,
até a presente data. Há um voto desfavorável exarado pelo
Ministro Eros Grau e o julgamento encontra-se suspenso por
força de pedido de vista formulado pelo Ministro Gilmar
Ferreira Mendes, na mesma sessão de 24.08.2006;
(iii) com dois votos favoráveis proferidos pelos ministros
Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence, foi retomado, em
28.09.06, o julgamento da Ação Declaratória de
Inconstitucionalidade 2.588, que questiona a
constitucionalidade do art. 74 (caput e parágrafo único) da
Medida Provisória 2.159-35/01, que estabeleceu a cobrança
de Imposto de Renda (IR) e da Contribuição Social sobre o
Lucro Líquido (CSLL) sobre os lucros auferidos por empresas
controladas ou coligadas no exterior, independentemente de
sua efetiva disponibilização à controlada/coligada no Brasil.
O julgamento foi iniciado em fevereiro de 2003, quando a
Ministra Ellen Gracie (relatora) manifestou-se pelo
acolhimento parcial do pedido liminar, para declarar a
inconstitucionalidade da tributação apenas em função das
empresas coligadas. Em dezembro de 2004, a matéria
retornou ao plenário para voto-vista do ex-Ministro Nelson
Jobim, que entendeu estar a cobrança em conformidade com
a Constituição. O julgamento encontra-se suspenso por
pedido de vista formulado pelo Ministro Ricardo
Lewandowski, na mesma sessão de 28.09.2006 ;
(iv) com dois votos favoráveis proferidos pelos ministros
Cezar Peluso e Ricardo Lewandowski no julgamento da
Ação Declaratória de Inconstitucionalidade 2.777-8/SP,
surge novamente à apreciação do plenário a discussão
acerca da obrigatoriedade dos Estados restituírem valores
de ICMS recolhidos a maior em operações sujeitas ao
regime de substituição tributária para frente. O tema já
havia sido examinado e decidido contrariamente aos
contribuintes por ocasião do julgamento da Ação
Declaratória de Inconstitucionalidade 1.851, relatada pelo
ex-Ministro Ilmar Galvão. Há um voto desfavorável
proferido pelo ex-Ministro Nelson Jobim. O julgamento
encontra-se suspenso por conta de pedido de vista
formulado pelo Ministro Eros Grau, em 05.10.2006.
As questões acima mencionadas não esgotam o rol das recentes
discussões em matéria tributária trazidas ao plenário do STF,
mas bem demonstram o quanto as últimas mudanças na
composição da nossa corte constitucional têm gerado reflexos
extremamente relevantes na matéria tributária. Para os
contribuintes, particularmente, abrem-se novas possibilidades
que devem ser exploradas em toda sua potencialidade.
5
A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO NAS EMPRESAS FAMILIARES
A evolução legislativa vem tornando cada vez mais difícil, nas
empresas familiares, preservar a existência de um bloco definido
de controle e assegurar a sua manutenção dentro da família, em
caso de sucessão. Primeiro, a Lei n° 10.303, de 31 de outubro de
2001, alterou o artigo 15, § 2°, da Lei das Sociedades Anônimas
para limitar a 50% das ações emitidas o número máximo de
ações preferenciais sem direito de voto, fazendo aumentar o
tamanho mínimo do bloco de controle de uma sociedade
anônima, ainda que de capital fechado. Na mesma direção, o
novo Código Civil, em vigor desde janeiro de 2003, estabeleceu
novo regramento para as sociedades limitadas, incluindo, dentre
outras, regras de quorum mínimo para determinadas
deliberações, o qual pode chegar a 75% do capital social (art.
1.076, inciso I). Em paralelo, o Código Civil também incluiu
cônjuges e companheiros entre os herdeiros necessários (art.
1.829 e seguintes), assim ampliando o número daqueles que
concorrem na partilha do patrimônio em caso de sucessão e
dificultando, assim, a manutenção do bloco de controle no seio
da família. Somem-se a este rol, ainda, as regras fiscais que
desestimulam a utilização de sociedades “holdings” de controle,
submetendo-as a tributação mais onerosa (como por exemplo, o
Decreto n° 5.164, de 30 de julho de 2004, sobre incidência de PIS
e Cofins sobre receita de juros sobre capital próprio).
Tal conjunto de fatores justifica o aumento da demanda por
planejamentos sucessórios. Estes variam desde simples
testamentos até complexas e sofisticadas reorganizações
societárias, freqüentemente também abrangendo doações,
com ou sem reserva de usufruto. Através desses mecanismos
é possível assegurar a destinação desejada de bens, de forma
mais rápida e segura, com menor risco de questionamentos e
disputas judiciais, pré-definindo-se e disciplinando-se o
funcionamento da futura estrutura de controle, ao mesmo
tempo em que se preserva a situação patrimonial e os
interesses de todos os herdeiros, incluindo aqueles que
eventualmente não devam participar da condução da
empresa. Isso pode ser obtido com a segregação de bens
patrimoniais, estabelecimento de regras de governança,
políticas de dividendos e um sem número de mecanismos da
prática societária – sempre visando à preservação da
harmonia familiar e da empresa, pois ambas costumam
sofrer nos casos em que não há uma sucessão estruturada.
O planejamento sucessório pode ser ainda mais importante
nas hipóteses em que haja herdeiros menores, filhos de casais
separados. Se nada for feito, a administração da herança dos
filhos menores pode sair da família, introduzindo estranhos
no seio decisório da empresa. Realmente, nos termos do
Código Civil, a regra é de que a administração dos bens dos
filhos menores seja feita pelos pais, e em caso de ausência de
um dos pais, seja feita pelo cônjuge sobrevivente (arts. 1.689
e 1.690). À falta de disposição em contrário, a regra prevalece
mesmo para filhos de casais já separados, ainda que o ex-
cônjuge já tenha contraído novas núpcias.
Por sua vez, o instituto da doação é utilizado ainda com duas
finalidades específicas, quais sejam, acelerar a partilha e
proteger contra a eventual elevação dos custos de transmissão
de bens. Realmente, quanto maior o patrimônio, mais
demorado costuma ser o processo de inventário e partilha de
bens, que pode durar anos. Enquanto isso, a indefinição
quanto ao comando da empresa, que fica enfraquecida, pode
fazer com que a empresa enfrente dificuldades de
concorrência e até mesmo de crédito. Compare-se a
morosidade desse processo com a rapidez da sucessão
mediante doação com reserva de usufruto, em que os
herdeiros passam a ser “nu-proprietários” dos bens e o doador
transforma-se em usufrutuário. O falecimento do doador
usufrutuário acarreta, automaticamente, a consolidação da
propriedade plena em mãos do nu-proprietário herdeiro, com
todos os direitos e benefícios daí decorrentes.
Na questão dos custos, observa-se uma tendência de
majoração do Imposto sobre a Transmissão causa mortis e por
Doação de quaisquer bens e direitos (ITD). No passado a
alíquota já foi de 0,75%, e incidia apenas sobre os bens
imóveis integrantes do monte. Hoje, o imposto incide sobre
todos os bens, móveis e imóveis, corpóreos e incorpóreos, à
alíquota de 4%, na maioria dos estados brasileiros. Já há
estados, porém, levando o ITD além, como o Rio Grande do
Sul, que hoje pratica uma alíquota de 8%. Aliás, a alíquota de
8% já está autorizada para todos os estados brasileiros,
conforme a Resolução do Senado n° 9. Assim, sendo a doação
desde logo feita, evita-se o futuro aumento de alíquota – sem
embargo de outras discussões, que ainda podem surgir, sobre
a própria validade do ITD.
É, pois, fácil perceber que os benefícios do planejamento
sucessório não são poucos. Além de estruturar a empresa para
a sucessão e garantir sua continuidade e manutenção dentro
da família, pode-se também diminuir o patrimônio a partilhar
por meio de inventário, reduzindo os custos daí decorrentes e
o tempo do processo, inclusive com o aproveitamento da
alíquota de 4% do ITD, atualmente vigente na maioria dos
estados brasileiros. Famílias e empresas, portanto, só têm a
ganhar com essa atuação preventiva.
Silvia Lacerda | [email protected]
Foram recentemente publicados dois importantes acórdãos do
Superior Tribunal de Justiça, reconhecendo que as sociedades de
economia mista podem utilizar a arbitragem para solucionar
problemas surgidos em contratos dos quais participam.
A primeira decisão foi proferida no julgamento do Recurso Especial nº
612.439-RS, que dizia respeito a um suposto descumprimento de
obrigações constantes de contrato de aquisição de energia elétrica
firmado entre a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE),
sociedade de economia mista sediada no Rio Grande do Sul, e a
companhia AES Uruguaiana Empreendimento Ltda. (AES).
Diante de uma ação iniciada perante o Poder Judiciário, a AES opôs
a existência de cláusula compromissória no contrato, exigindo a
extinção do processo sem julgamento de mérito, o que foi negado
em primeira e segunda instâncias, sob o argumento de que a
arbitragem era mera faculdade das partes e que por ser a CEEE
empresa prestadora de serviço público essencial, o direito seria
indisponível de submissão à arbitragem. A questão foi levada ao
STJ, e a Corte decidiu que, uma vez pactuada de comum acordo
entre os contratantes, a cláusula compromissória impõe a via
arbitral, conforme previsto na Lei de Arbitragem.
O STJ ressaltou que a estrutura jurídica das sociedades de economia
mista é regida pelas regras de direito privado e, no que diz respeito
à disponibilidade dos direitos envolvidos, entendeu que o objeto do
contrato em tela, isto é, atividade econômica de produção ou
comercialização de bens, suscetíveis de produzir renda e lucro, é
transacionável e, portanto, passível de sujeição à arbitragem. O STJ,
assim, distinguiu as atividades econômicas sujeitas ao regime
jurídico de direito privado daquelas atividades que decorreriam do
poder de império da Administração Publica, cuja consecução estaria
diretamente relacionada ao interesse publico primário, sendo
indisponíveis e, portanto, não sujeitas a arbitragem.
O acórdão, que teve como Relator o Min. João Otavio de Noronha,
respondeu aos anseios da doutrina e reforçou, mais uma vez, o
instituto da arbitragem no Brasil, corroborando o prestígio que o
instituto tem alcançado no Supremo Tribunal Federal. Depois do caso
AES v. CEEE, o STJ confirmou seu entendimento em outro julgado,
envolvendo direitos relacionados a arrendamento de terminal
portuário (Agravo Regimental no Mandado de Segurança nº 11308-
DF). É extremamente significativo notar que, nestes caso, a decisão foi
proferida pela Primeira Seção do STJ, a qual se manifestou por
unanimidade no sentido da manutenção da decisão monocrática
proferida pelo relator do novo julgamento, Ministro Luiz Fux.
CONSELHO EDITORIAL
Paulo Cezar Aragão, FranciscoAntunes Maciel Müssnich,Plínio Simões Barbosa.
EDITORIA EXECUTIVABM&A Pesquisa
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BRASÍLIASetor Comercial Sul,Quadra 1 Bl.F nº 30 - 7º andarEdifício Camargo CorreaCEP 70397-900 TEL. (+55) (61) 3218-0300FAX. (+55) (61) 3218-0318
6
E X P E D I E N T E
STJ CONFIRMA ENTENDIMENTOSOBRE POSSIBILIDADE DEARBITRAGEM PARA ASSOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA
Octávio Fragata M. de Barros | [email protected]
A empresa brasileira Net Serviçosde Comunicação e a mexicanaDesarrolladora Homex foram asvencedoras da primeira edição do"Prêmio Garrigues-Affinitas de BoaGovernança Corporativa naAmérica Latina". A entrega dosprêmios ocorreu em 16 denovembro no Hotel Intercontinentalde Madri, durante o oitavo ForoLatibex, que reuniu mais de 70empresas latino-americanas. Latibexé um mercado internacionalformado só por empresaslatinoamericanas que negociam emeuros na Bolsa de Valores de Madri.
A Net Serviços de Comunicação foipremiada na categoria "Empresa doLatibex" e a Desarrolladora Homexna categoria "Empresalatinoamericana registrada, mas nãoincluída no Latibex, com sede naAmérica Latina". A premiação temcomo objetivo o reconhecimento dosesforços por parte de empresaslatino-americanas na implementaçãode políticas de boa governança etransparência. O júri desta primeiraedição foi presidido por AntonioGarrigues, contando ainda com aparticipação de Paulo Cezar Aragão,sócio do BM&A.
Constituída em 2004, a Affinitas éuma aliança internacional que reúneBarbosa, Müssnich & AragãoAdvogados e escritórios da Espanha,Argentina, México, Portugal, Chile,Colômbia e Peru. Com essa aliança,os escritórios visam a corresponder àcrescente globalização dos clientes esua demanda por serviços emdiferentes países. A Affinitas contaatualmente com 2.500 profissionaisque operam em 40 escritórios.
Affinitas premiaempresas latino-americanas porexcelência emgovernança corporativa