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01 Administração das relações trabalhistas coloca planejamento em primeiro plano 02 CVM trata do empréstimo de ações em nova Instrução Nova Portaria do CRSFN sobre revisão de condenações 03 STF indefere liminares contra novo modelo do setor elétrico 04 Tendências tributárias da nova composição do Supremo Tribunal Federal 05 A importância do planejamento sucessório nas empresas familiares 06 Affinitas premia empresas latino- americanas por excelência em governança corporativa STJ confirma entendimento sobre possibilidade de arbitragem para as sociedades de economia mista N o 19 SETEMBRO | OUTUBRO 2006 Principais áreas de atuação do BARBOSA,MÜSSNICH &ARAGÃO ADVOGADOS: Direito Societário Reestruturação Direito Tributário Banking Mercado de Capitais Project Finance Contencioso/Arbitragem Direito Econômico Direito Imobiliário Direito Administrativo Privatizações & Concessões Direito Ambiental Direito Trabalhista e Previdenciário Propriedade Intelectual Terceiro Setor Energia Quem vive no mundo empresarial se esforça para conviver em harmonia com a legislação trabalhista que, por sua característica claramente tutelar, permite pouca flexibilidade na sua aplicação. Passivos trabalhistas decorrentes de demandas judiciais, autuações administrativas e práticas de recursos humanos que não se encontram em compliance com a legislação são exemplos de problemas tradicionais que preocupam os empresários. Com a globalização, todavia, uma competitividade cada vez mais acirrada caracteriza o mundo dos negócios, agravando ainda mais essa situação. Para conseguir se manter no mercado e se adequar ao chamado “custo Brasil”, muitos segmentos têm estudado novas formas de lidar com as relações de trabalho. O resultado da difícil equação consistente em, de um lado, buscar a redução do elevado custo trabalhista e, de outro lado, assegurar segurança jurídica à empresa pode ser obtido através de um bom planejamento. A idéia é utilizar-se das ferramentas legais disponíveis, assegurando que a empresa se mantenha competitiva em seu nicho de mercado, mas sem a formação de um passivo trabalhista. Comandando uma equipe de dez advogados especializados em direito trabalhista, Luiz Felipe Tenório da Veiga, sócio da área no BM&A, cita como exemplo de um planejamento trabalhista eficiente a instituição de programas de Participação nos Lucros e Resultados (PLR). “Atualmente regulada pela Lei nº 10.101/00, a PLR é um importante instrumento de gestão empresarial”, diz o advogado. Segundo ele, o montante distribuído a título de PLR, além de estar isento de encargos, pode funcionar como forma de alinhamento dos empregados aos objetivos empresariais. A PLR pode prever tanto indutores econômicos (incremento de produtividade, acréscimo de receita, aumento dos índices de lucratividade) quanto indutores de qualidade (obtenção dos certificados) e de segurança (redução do índice de acidentes). “Para isso, o programa de PLR deverá conter regras claras e objetivas, contar com a participação do sindicato profissional e prever distribuição, no máximo, duas vezes ao ano, em periodicidade superior a um semestre civil”. Ainda pouco utilizado no Brasil, o stock option também se apresenta como relevante ferramenta para estruturação de planejamentos trabalhistas empresariais. Os denominados stock options plans consistem em uma forma de remuneração variável que tem como objetivo primordial o engajamento dos empregados como sócios do empreendimento, tornando-os diretamente interessados na valorização das ações da empresa para a qual trabalham. De acordo com Luiz Felipe, embora as decisões a respeito do tema ainda sejam esparsas, desde que haja, por parte dos empregados, desembolso para a aquisição das ações e assunção de riscos típicos das operações de mercado, a tendência natural dos tribunais trabalhistas é tratar os stock options plans como parcela desvinculada da remuneração. Outra forma de planejamento trabalhista é a gestão do passivo já existente, a fim de detectar práticas internas que geram prejuízos e, a partir daí, sugerir formas de eliminá-las. Segundo Luiz Felipe, além de a manutenção de passivos trabalhistas, como regra, custar caro para as empresas, o atual momento econômico brasileiro é de aumento do número de empresas abrindo capital e a cobrança do mercado é grande em relação à governança corporativa. “Altos passivos trabalhistas podem ser interpretados como indicadores de que a empresa não está em compliance com a legislação vigente, o que pode resultar na diminuição do índice de liquidez da empresa e, por conseqüência, na redução de seu valor de mercado”. ADMINISTRAÇÃO DAS RELAÇÕES TRABALHISTAS COLOCA PLANEJAMENTO EM PRIMEIRO PLANO Luiz Felipe Tenório: Sócio da área trabalhista

ADMINISTRAÇÃO DAS RELAÇÕES TRABALHISTAS COLOCA

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Page 1: ADMINISTRAÇÃO DAS RELAÇÕES TRABALHISTAS COLOCA

01Administração das relações

trabalhistas coloca planejamentoem primeiro plano

02 CVM trata do empréstimo

de ações em nova Instrução

Nova Portaria do CRSFN sobre revisão de condenações

03STF indefere liminares contra novo

modelo do setor elétrico

04Tendências tributárias da nova

composição do Supremo Tribunal Federal

05A importância do planejamento

sucessório nas empresas familiares

06Affinitas premia empresas latino-

americanas por excelência emgovernança corporativa

STJ confirma entendimento sobrepossibilidade de arbitragem paraas sociedades de economia mista

N o 1 9 S E T E M B R O | O U T U B R O 2 0 0 6

Principais áreas de atuação doBARBOSA, MÜSSNICH & ARAGÃO

ADVOGADOS:

Direito Societário

Reestruturação

Direito Tributário

Banking

Mercado de Capitais

Project Finance

Contencioso/Arbitragem

Direito Econômico

Direito Imobiliário

Direito Administrativo

Privatizações & Concessões

Direito Ambiental

Direito Trabalhista e Previdenciário

Propriedade Intelectual

Terceiro Setor

Energia

Quem vive no mundo empresarial se esforça para conviver em

harmonia com a legislação trabalhista que, por sua característica

claramente tutelar, permite pouca flexibilidade na sua aplicação.

Passivos trabalhistas decorrentes de demandas judiciais,

autuações administrativas e práticas de recursos humanos que

não se encontram em compliance com a legislação são exemplos de

problemas tradicionais que preocupam os empresários.

Com a globalização, todavia, uma competitividade cada vez

mais acirrada caracteriza o mundo dos negócios, agravando

ainda mais essa situação. Para conseguir se manter no

mercado e se adequar ao chamado “custo Brasil”, muitos segmentos têm estudado novas formas de

lidar com as relações de trabalho. O resultado da difícil equação consistente em, de um lado, buscar a

redução do elevado custo trabalhista e, de outro lado, assegurar segurança jurídica à empresa pode

ser obtido através de um bom planejamento. A idéia é utilizar-se das ferramentas legais disponíveis,

assegurando que a empresa se mantenha competitiva em seu nicho de mercado, mas sem a formação

de um passivo trabalhista.

Comandando uma equipe de dez advogados especializados em direito trabalhista, Luiz Felipe

Tenório da Veiga, sócio da área no BM&A, cita como exemplo de um planejamento trabalhista

eficiente a instituição de programas de Participação nos Lucros e Resultados (PLR). “Atualmente

regulada pela Lei nº 10.101/00, a PLR é um importante instrumento de gestão empresarial”, diz o

advogado. Segundo ele, o montante distribuído a título de PLR, além de estar isento de encargos,

pode funcionar como forma de alinhamento dos empregados aos objetivos empresariais. A PLR pode

prever tanto indutores econômicos (incremento de produtividade, acréscimo de receita, aumento dos

índices de lucratividade) quanto indutores de qualidade (obtenção dos certificados) e de segurança

(redução do índice de acidentes). “Para isso, o programa de PLR deverá conter regras claras e

objetivas, contar com a participação do sindicato profissional e prever distribuição, no máximo, duas

vezes ao ano, em periodicidade superior a um semestre civil”.

Ainda pouco utilizado no Brasil, o stock option também se apresenta como relevante ferramenta para

estruturação de planejamentos trabalhistas empresariais. Os denominados stock options plans consistem

em uma forma de remuneração variável que tem como objetivo primordial o engajamento dos

empregados como sócios do empreendimento, tornando-os diretamente interessados na valorização das

ações da empresa para a qual trabalham. De acordo com Luiz Felipe, embora as decisões a respeito do

tema ainda sejam esparsas, desde que haja, por parte dos empregados, desembolso para a aquisição das

ações e assunção de riscos típicos das operações de mercado, a tendência natural dos tribunais

trabalhistas é tratar os stock options plans como parcela desvinculada da remuneração.

Outra forma de planejamento trabalhista é a gestão do passivo já existente, a fim de detectar práticas

internas que geram prejuízos e, a partir daí, sugerir formas de eliminá-las. Segundo Luiz Felipe, além de a

manutenção de passivos trabalhistas, como regra, custar caro para as empresas, o atual momento

econômico brasileiro é de aumento do número de empresas abrindo capital e a cobrança do mercado é

grande em relação à governança corporativa. “Altos passivos trabalhistas podem ser interpretados como

indicadores de que a empresa não está em compliance com a legislação vigente, o que pode resultar na

diminuição do índice de liquidez da empresa e, por conseqüência, na redução de seu valor de mercado”.

ADMINISTRAÇÃO DAS RELAÇÕES TRABALHISTASCOLOCA PLANEJAMENTO EM PRIMEIRO PLANO

Luiz Felipe Tenório: Sócio da área trabalhista

Page 2: ADMINISTRAÇÃO DAS RELAÇÕES TRABALHISTAS COLOCA

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CVM TRATA DO EMPRÉSTIMO DE AÇÕES EM NOVA INSTRUÇÃOHenrique Vargas Beloch | [email protected]

No último dia 10 de novembro a Comissão de Valores

Mobiliários editou a Instrução nº 441, que dispõe sobre “a

prestação de serviço de empréstimos de valores mobiliários

por entidades de compensação e liquidação de operações

com valores mobiliários”. O normativo revoga de forma

expressa a Instrução CVM 249, de 11.04.96, que tratava

genericamente do tema, embora o fizesse apenas no tocante

às operações de empréstimo de ações, e fixa o prazo de 180

dias para que as entidades prestadoras do serviço se

adaptem às novas regras.

Apesar de se estender aos valores mobiliários em geral e de

introduzir regulamentação específica sobre o processo na

CVM para concessão e cancelamento do registro para esse

tipo de serviço, a recente instrução não traz maiores

novidades sobre a matéria. Preserva grande parte das

regras gerais existentes no normativo anterior, incorpora

procedimentos que já eram observados no funcionamento

desse mercado e, de um modo geral, mantém considerável

margem para a auto-regulação no âmbito das entidades que

o administram. De mais notável, talvez, uma maior ênfase

nas responsabilidades e obrigações dessas entidades de

liquidação, sobretudo quanto ao controle e à divulgação das

operações, e a exclusão da previsão expressa de

responsabilidade solidária das corretoras e distribuidoras

de títulos e valores mobiliários nas transações de

empréstimo que intermediarem.

A nova instrução, não por acaso, surge na seqüência de

aumentos significativos nos volumes de negociação no

mercado de empréstimo de ações. Em 1996, quando a matéria

foi primeiramente regulamentada pelo Conselho Monetário

Nacional, o volume anual de empréstimo de ações foi de cerca

de R$ 350 milhões. Em 2006, só até setembro, já alcançou R$ 80

bilhões. Portanto, em que pese a ampliação normativa

promovida pela Instrução CVM 441, é o empréstimo de ações,

especificamente, que por ora suscita maior interesse prático,

tendo em vista o mercado que ele movimenta.

Por meio dessa modalidade de operação, o tomador recebe

ações fungíveis de uma companhia aberta e se obriga a liquidar

o empréstimo no vencimento convencionado, mediante

devolução, ao titular original, de ações da mesma espécie e

qualidade daquelas que foram emprestadas. Caracteriza-se,

assim, a fungibilidade das ações pelo fato de poderem ser

substituídas por outras, em igual quantidade, da mesma

espécie, classe e companhia, o que pode ser visto como a

tradução, para o direito societário, da conceituação de bem

fungível contida no Código Civil. Acrescente-se que as ações

objeto de empréstimo devem estar livres de quaisquer ônus que

impeçam a sua circulação e se encontrar depositadas em

custódia fungível junto a entidade autorizada pela CVM a

prestar o serviço de empréstimo, cujo regulamento deverá ter

sido aprovado pela CVM.

Assim, embora chamado vulgarmente de aluguel de ações, o

negócio consiste, na sua essência, em um contrato de mútuo,

que é justamente o empréstimo de bens fungíveis. Aluguel

ou locação jamais, pois estaríamos diante da cessão de uso e

gozo de bem não fungível, sem transferência de domínio. No

empréstimo de ações fungíveis, ao contrário, o tomador, em

razão da fungibilidade, se torna proprietário, considerando

que o mútuo transfere o domínio da coisa emprestada.

Portanto, aquele que toma ação fungível emprestada poderá

vendê-la a terceiro, da mesma forma que se a tivesse

adquirido por compra e venda, com a diferença fundamental

de que fica obrigado à devolução no vencimento.

Nova Portaria do CRSFN sobre revisão de condenações

Foi publicada, em 1º de novembro de 2006, a Portaria nº 10 do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional(CRSFN), estabelecendo procedimentos para a revisão das decisões condenatórias por ele proferidas. Inspirada nos regimesda ação rescisória e do cumprimento da sentença, a nova portaria regulamenta o art. 65 da Lei nº 9.784/99, indicando ainterpretação do CRSFN acerca de quais situações podem ser consideradas “fatos novos ou circunstâncias relevantes”suscetíveis de justificar a inadequação das penas aplicadas, tais como a existência de erro de fato ou a apresentação deprovas novas (desde que anteriormente desconhecidas ou indisponíveis à parte). O texto também admite o pedido derevisão quando a decisão for manifestamente contrária a dispositivo expresso de lei ou à prova dos autos, bem como noscasos de julgamentos baseados em normas tidas como inconstitucionais pelo STF. Uma análise mais detalhada da PortariaCRSFN nº 10 será realizada na próxima edição do BM&A Review.

Page 3: ADMINISTRAÇÃO DAS RELAÇÕES TRABALHISTAS COLOCA

Percebe-se que a operação de mútuo de ações proporciona

vantagens financeiras e flexibilidade de investimento. Para

quem empresta (geralmente um investidor de longo prazo), ela

permite receber a remuneração pactuada (renda fixa, assim

tributada), sem se desfazer definitivamente do ativo ou abrir

mão de eventuais dividendos e outros proventos dele

decorrentes. Já para o tomador (na maioria das vezes um gestor

profissional de recursos), ela abre uma série de alternativas, sem

que ele tenha que comprar as ações (a descoberto) – como, por

exemplo, usá-las para garantir ou liquidar uma outra operação

no mercado à vista ou futuro ou vendê-las apostando na sua

desvalorização para posterior recompra em baixa, embolsando

a diferença (renda variável, assim tributada).

Vale destacar que o bom funcionamento e a segurança desse

mercado se devem ao fato de que a instituição que o

administra – no caso do Banco de Títulos, a CBLC –, atua

como contraparte central, garantindo a liquidação da

operação, em regra sem a existência de vínculo entre

mutuante e mutuário. Para tanto, o tomador do empréstimo

deverá depositar em garantia, em favor da entidade

liquidante, ativos aceitáveis por esta equivalentes a 100% do

valor das ações emprestadas, acrescido de percentual

adicional determinado de acordo com a liquidez e a

volatilidade daquele título, margem esta constantemente

monitorada. Em caso de inexecução, essas garantias podem

ser realizadas pela entidade liquidante independentemente

de qualquer ato ou notificação judicial ou extrajudicial.

Outro ponto a se frisar é que, de modo a evitar concentrações

excessivas, a CBLC, seguindo determinação da CVM, impõe

limites máximos de posição de empréstimo por investidor, por

intermediário e para o mercado como um todo, atualmente

fixados em 3%, 6,5% e 20%, respectivamente, sobre o total de

ações em circulação (free float) de determinada companhia.

Como o empréstimo de ações fungíveis importa em

transferência da titularidade, conforme explicado acima, resulta,

em princípio, que o tomador passa a ser o titular de todos os

direitos a elas inerentes, o que pode incluir o direito de voto e

também o direito à percepção de dividendos, enquanto não as

vender a terceiro ou as devolver ao detentor original. Os direitos

patrimoniais da ação, no entanto, como dividendos e juros sobre

capital próprio, destinados ao novo titular no período em que a

operação estiver em aberto, devem ser reembolsados pelo

tomador juntamente com as ações, dado que não são

computados na remuneração fixa do negócio.

Quanto ao direito de voto, a área técnica da CVM manifestou

recente entendimento de que o seu exercício, em princípio,

cabe ao tomador do empréstimo, enquanto permanecer como

titular das ações. Se ao fazê-lo, ainda segundo a CVM, o

tomador estará agindo ou não no interesse social ou

incorrendo em alguma das hipóteses em que a lei proíbe ou

restringe o voto, é uma questão a ser analisada caso a caso. Na

seqüência daquele entendimento, a CVM também divulgou

comunicado ao mercado para esclarecer que as ações objeto de

empréstimo devem ser consideradas para fins de declaração

de aumento ou redução de participação relevante, de acordo

com as regras do artigo 12 da Instrução CVM 358/02.

Como se percebe, o mútuo de ações merece estudos adicionais e

deverá ainda suscitar outras discussões jurídicas extremamente

relevantes. Já se pode, inclusive, pensar em outras questões de

grande interesse, como a possibilidade e o tratamento de

eventual exercício de direito de recesso pelo tomador do

empréstimo, a aplicabilidade das regras sobre oferta pública de

aquisição (OPA) por aumento de participação, no caso desta

resultar de empréstimo, e, ainda, o cabimento, fora do

regramento da Instrução CVM 441/06, de empréstimo de ações

em operação privada ou de emissão de companhias fechadas.

3

STF indefere liminares contra novo modelo do setor elétrico

No último dia 11 de outubro, o Supremo Tribunal Federal, por maioria de votos, indeferiu pedidos de medidas liminares formulados em duasações diretas de inconstitucionalidade (ADIs 3.090 e 3.100) propostas por partidos políticos contra a medida provisória nº 144/2003, convertidana Lei nº 10.848/2004, que estabeleceu novo modelo institucional de comercialização de energia elétrica.

Em seu voto, a ministra Ellen Gracie entendeu que a vedação contida no artigo 246 da Constituição Federal não se aplica à hipótese, haja vista nãoparecer razoável impedir a utilização de medida provisória para regulamentação do setor elétrico, que, dadas as suas especificidades, muitas vezesdemanda a imediata atuação do Poder Público. Acompanhando a divergência, o ministro Joaquim Barbosa argumento no sentido de que aalteração promovida no artigo 176, §1º da Constituição Federal pela emenda constitucional nº 6/1995 foi marginal, o que também afastaria aproibição da matéria ser regulada por medida provisória.

Apesar da questão de ordem levantada pelo ministro Gilmar Mendes, relator das ações, que pretendia que o mérito da questão fosse jáanalisado, o plenário do tribunal se restringiu ao exame das medidas liminares, postergando o resultado definitivo do julgamento.

Luis Sergio Mamari | [email protected]

Page 4: ADMINISTRAÇÃO DAS RELAÇÕES TRABALHISTAS COLOCA

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TENDÊNCIAS TRIBUTÁRIAS DA NOVACOMPOSIÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERALAndrei Furtado Fernandes | [email protected]

Em pouco mais de três anos – contados a partir de junho de

2003 – foram nomeados seis novos ministros para o Supremo

Tribunal Federal: Cezar Peluso, Carlos Ayres Britto, Joaquim

Barbosa, Eros Grau, Ricardo Lewandowski e Carmen Lúcia

Rocha. Até o final do mês de novembro próximo, será feita

mais uma indicação, em razão da aposentadoria compulsória

do Ministro Sepúlveda Pertence. Com a nomeação que se

avizinha, teremos então sete novos ministros, em um

universo de onze componentes do STF.

Em virtude de grande parte do sistema tributário nacional se

encontrar definida no próprio texto da Constituição, as

discussões judiciais em matéria tributária têm seu desfecho

no STF. Alterações na composição da Corte trazem, por esta

razão, um especial relevo para os profissionais desta área.

Em sessões plenárias recentes, já sob a nova composição,

questões antes decididas contrariamente aos contribuintes ou

que permaneceram vários anos sem uma resolução final vêm

sendo novamente debatidas, com resultados que indicam

uma tendência mais progressista contra as habituais

inconsistências ao exercício do poder de tributar. Dentre

outros, podem ser relacionados os seguintes julgamentos - a

maioria em andamento - como dignos de atenção:

(i) a declaração de inconstitucionalidade do parágrafo 1º do

artigo 3º da Lei 9.718/98, que fazia incidir a COFINS sobre a

totalidade das receitas auferidas pelas empresas, ao invés de

apenas sobre o faturamento de bens e serviços, na forma então

definida pelo art. 195, inciso I da Constituição Federal. Os três

primeiros votos proferidos no leading case admitiam a referida

equiparação, a despeito da ausência de fundamento

constitucional (RE 346.084), apenas com a ressalva do relator

(ex-Ministro Ilmar Galvão) sobre o termo inicial da cobrança.

Com a nova formação, a questão terminou revertida em favor

dos contribuintes (REs 357.950, 358.273 e 390.840);

(ii) com seis votos favoráveis (maioria) proferidos no

julgamento do Recurso Extraordinário 240.785, segue sendo

afastada a inconstitucional inclusão do valor do ICMS na

base de cálculo da COFINS. O julgamento foi iniciado em

08.09.1999 e, depois de um longo pedido de vista realizado

após o voto do relator, teve seu início tornado insubsistente

pelo plenário, em virtude da alteração substancial de sua

composição, sendo retomado na sessão do dia 24.08.06. O

entendimento vencedor até o momento segue afirmando que

o ICMS não integra o faturamento das empresas e, por esta

razão, não poderia compor a base de cálculo da COFINS.

Caso tal posicionamento seja confirmado, idêntica orientação

poderá ser aplicada a outros tributos, computados tanto na

base de cálculo da COFINS, quanto da contribuição ao PIS,

até a presente data. Há um voto desfavorável exarado pelo

Ministro Eros Grau e o julgamento encontra-se suspenso por

força de pedido de vista formulado pelo Ministro Gilmar

Ferreira Mendes, na mesma sessão de 24.08.2006;

(iii) com dois votos favoráveis proferidos pelos ministros

Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence, foi retomado, em

28.09.06, o julgamento da Ação Declaratória de

Inconstitucionalidade 2.588, que questiona a

constitucionalidade do art. 74 (caput e parágrafo único) da

Medida Provisória 2.159-35/01, que estabeleceu a cobrança

de Imposto de Renda (IR) e da Contribuição Social sobre o

Lucro Líquido (CSLL) sobre os lucros auferidos por empresas

controladas ou coligadas no exterior, independentemente de

sua efetiva disponibilização à controlada/coligada no Brasil.

O julgamento foi iniciado em fevereiro de 2003, quando a

Ministra Ellen Gracie (relatora) manifestou-se pelo

acolhimento parcial do pedido liminar, para declarar a

inconstitucionalidade da tributação apenas em função das

empresas coligadas. Em dezembro de 2004, a matéria

retornou ao plenário para voto-vista do ex-Ministro Nelson

Jobim, que entendeu estar a cobrança em conformidade com

a Constituição. O julgamento encontra-se suspenso por

pedido de vista formulado pelo Ministro Ricardo

Lewandowski, na mesma sessão de 28.09.2006 ;

(iv) com dois votos favoráveis proferidos pelos ministros

Cezar Peluso e Ricardo Lewandowski no julgamento da

Ação Declaratória de Inconstitucionalidade 2.777-8/SP,

surge novamente à apreciação do plenário a discussão

acerca da obrigatoriedade dos Estados restituírem valores

de ICMS recolhidos a maior em operações sujeitas ao

regime de substituição tributária para frente. O tema já

havia sido examinado e decidido contrariamente aos

contribuintes por ocasião do julgamento da Ação

Declaratória de Inconstitucionalidade 1.851, relatada pelo

ex-Ministro Ilmar Galvão. Há um voto desfavorável

proferido pelo ex-Ministro Nelson Jobim. O julgamento

encontra-se suspenso por conta de pedido de vista

formulado pelo Ministro Eros Grau, em 05.10.2006.

As questões acima mencionadas não esgotam o rol das recentes

discussões em matéria tributária trazidas ao plenário do STF,

mas bem demonstram o quanto as últimas mudanças na

composição da nossa corte constitucional têm gerado reflexos

extremamente relevantes na matéria tributária. Para os

contribuintes, particularmente, abrem-se novas possibilidades

que devem ser exploradas em toda sua potencialidade.

Page 5: ADMINISTRAÇÃO DAS RELAÇÕES TRABALHISTAS COLOCA

5

A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO NAS EMPRESAS FAMILIARES

A evolução legislativa vem tornando cada vez mais difícil, nas

empresas familiares, preservar a existência de um bloco definido

de controle e assegurar a sua manutenção dentro da família, em

caso de sucessão. Primeiro, a Lei n° 10.303, de 31 de outubro de

2001, alterou o artigo 15, § 2°, da Lei das Sociedades Anônimas

para limitar a 50% das ações emitidas o número máximo de

ações preferenciais sem direito de voto, fazendo aumentar o

tamanho mínimo do bloco de controle de uma sociedade

anônima, ainda que de capital fechado. Na mesma direção, o

novo Código Civil, em vigor desde janeiro de 2003, estabeleceu

novo regramento para as sociedades limitadas, incluindo, dentre

outras, regras de quorum mínimo para determinadas

deliberações, o qual pode chegar a 75% do capital social (art.

1.076, inciso I). Em paralelo, o Código Civil também incluiu

cônjuges e companheiros entre os herdeiros necessários (art.

1.829 e seguintes), assim ampliando o número daqueles que

concorrem na partilha do patrimônio em caso de sucessão e

dificultando, assim, a manutenção do bloco de controle no seio

da família. Somem-se a este rol, ainda, as regras fiscais que

desestimulam a utilização de sociedades “holdings” de controle,

submetendo-as a tributação mais onerosa (como por exemplo, o

Decreto n° 5.164, de 30 de julho de 2004, sobre incidência de PIS

e Cofins sobre receita de juros sobre capital próprio).

Tal conjunto de fatores justifica o aumento da demanda por

planejamentos sucessórios. Estes variam desde simples

testamentos até complexas e sofisticadas reorganizações

societárias, freqüentemente também abrangendo doações,

com ou sem reserva de usufruto. Através desses mecanismos

é possível assegurar a destinação desejada de bens, de forma

mais rápida e segura, com menor risco de questionamentos e

disputas judiciais, pré-definindo-se e disciplinando-se o

funcionamento da futura estrutura de controle, ao mesmo

tempo em que se preserva a situação patrimonial e os

interesses de todos os herdeiros, incluindo aqueles que

eventualmente não devam participar da condução da

empresa. Isso pode ser obtido com a segregação de bens

patrimoniais, estabelecimento de regras de governança,

políticas de dividendos e um sem número de mecanismos da

prática societária – sempre visando à preservação da

harmonia familiar e da empresa, pois ambas costumam

sofrer nos casos em que não há uma sucessão estruturada.

O planejamento sucessório pode ser ainda mais importante

nas hipóteses em que haja herdeiros menores, filhos de casais

separados. Se nada for feito, a administração da herança dos

filhos menores pode sair da família, introduzindo estranhos

no seio decisório da empresa. Realmente, nos termos do

Código Civil, a regra é de que a administração dos bens dos

filhos menores seja feita pelos pais, e em caso de ausência de

um dos pais, seja feita pelo cônjuge sobrevivente (arts. 1.689

e 1.690). À falta de disposição em contrário, a regra prevalece

mesmo para filhos de casais já separados, ainda que o ex-

cônjuge já tenha contraído novas núpcias.

Por sua vez, o instituto da doação é utilizado ainda com duas

finalidades específicas, quais sejam, acelerar a partilha e

proteger contra a eventual elevação dos custos de transmissão

de bens. Realmente, quanto maior o patrimônio, mais

demorado costuma ser o processo de inventário e partilha de

bens, que pode durar anos. Enquanto isso, a indefinição

quanto ao comando da empresa, que fica enfraquecida, pode

fazer com que a empresa enfrente dificuldades de

concorrência e até mesmo de crédito. Compare-se a

morosidade desse processo com a rapidez da sucessão

mediante doação com reserva de usufruto, em que os

herdeiros passam a ser “nu-proprietários” dos bens e o doador

transforma-se em usufrutuário. O falecimento do doador

usufrutuário acarreta, automaticamente, a consolidação da

propriedade plena em mãos do nu-proprietário herdeiro, com

todos os direitos e benefícios daí decorrentes.

Na questão dos custos, observa-se uma tendência de

majoração do Imposto sobre a Transmissão causa mortis e por

Doação de quaisquer bens e direitos (ITD). No passado a

alíquota já foi de 0,75%, e incidia apenas sobre os bens

imóveis integrantes do monte. Hoje, o imposto incide sobre

todos os bens, móveis e imóveis, corpóreos e incorpóreos, à

alíquota de 4%, na maioria dos estados brasileiros. Já há

estados, porém, levando o ITD além, como o Rio Grande do

Sul, que hoje pratica uma alíquota de 8%. Aliás, a alíquota de

8% já está autorizada para todos os estados brasileiros,

conforme a Resolução do Senado n° 9. Assim, sendo a doação

desde logo feita, evita-se o futuro aumento de alíquota – sem

embargo de outras discussões, que ainda podem surgir, sobre

a própria validade do ITD.

É, pois, fácil perceber que os benefícios do planejamento

sucessório não são poucos. Além de estruturar a empresa para

a sucessão e garantir sua continuidade e manutenção dentro

da família, pode-se também diminuir o patrimônio a partilhar

por meio de inventário, reduzindo os custos daí decorrentes e

o tempo do processo, inclusive com o aproveitamento da

alíquota de 4% do ITD, atualmente vigente na maioria dos

estados brasileiros. Famílias e empresas, portanto, só têm a

ganhar com essa atuação preventiva.

Silvia Lacerda | [email protected]

Page 6: ADMINISTRAÇÃO DAS RELAÇÕES TRABALHISTAS COLOCA

Foram recentemente publicados dois importantes acórdãos do

Superior Tribunal de Justiça, reconhecendo que as sociedades de

economia mista podem utilizar a arbitragem para solucionar

problemas surgidos em contratos dos quais participam.

A primeira decisão foi proferida no julgamento do Recurso Especial nº

612.439-RS, que dizia respeito a um suposto descumprimento de

obrigações constantes de contrato de aquisição de energia elétrica

firmado entre a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE),

sociedade de economia mista sediada no Rio Grande do Sul, e a

companhia AES Uruguaiana Empreendimento Ltda. (AES).

Diante de uma ação iniciada perante o Poder Judiciário, a AES opôs

a existência de cláusula compromissória no contrato, exigindo a

extinção do processo sem julgamento de mérito, o que foi negado

em primeira e segunda instâncias, sob o argumento de que a

arbitragem era mera faculdade das partes e que por ser a CEEE

empresa prestadora de serviço público essencial, o direito seria

indisponível de submissão à arbitragem. A questão foi levada ao

STJ, e a Corte decidiu que, uma vez pactuada de comum acordo

entre os contratantes, a cláusula compromissória impõe a via

arbitral, conforme previsto na Lei de Arbitragem.

O STJ ressaltou que a estrutura jurídica das sociedades de economia

mista é regida pelas regras de direito privado e, no que diz respeito

à disponibilidade dos direitos envolvidos, entendeu que o objeto do

contrato em tela, isto é, atividade econômica de produção ou

comercialização de bens, suscetíveis de produzir renda e lucro, é

transacionável e, portanto, passível de sujeição à arbitragem. O STJ,

assim, distinguiu as atividades econômicas sujeitas ao regime

jurídico de direito privado daquelas atividades que decorreriam do

poder de império da Administração Publica, cuja consecução estaria

diretamente relacionada ao interesse publico primário, sendo

indisponíveis e, portanto, não sujeitas a arbitragem.

O acórdão, que teve como Relator o Min. João Otavio de Noronha,

respondeu aos anseios da doutrina e reforçou, mais uma vez, o

instituto da arbitragem no Brasil, corroborando o prestígio que o

instituto tem alcançado no Supremo Tribunal Federal. Depois do caso

AES v. CEEE, o STJ confirmou seu entendimento em outro julgado,

envolvendo direitos relacionados a arrendamento de terminal

portuário (Agravo Regimental no Mandado de Segurança nº 11308-

DF). É extremamente significativo notar que, nestes caso, a decisão foi

proferida pela Primeira Seção do STJ, a qual se manifestou por

unanimidade no sentido da manutenção da decisão monocrática

proferida pelo relator do novo julgamento, Ministro Luiz Fux.

CONSELHO EDITORIAL

Paulo Cezar Aragão, FranciscoAntunes Maciel Müssnich,Plínio Simões Barbosa.

EDITORIA EXECUTIVABM&A Pesquisa

PRODUÇÃOTaciana CorreaDaniela ChristovãoGlaucio Santoro

PROJETO GRÁFICOE DIAGRAMAÇÃOSoter Design

FOTOLITO Davanzzo

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FECHAMENTO 17.11.06

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E X P E D I E N T E

STJ CONFIRMA ENTENDIMENTOSOBRE POSSIBILIDADE DEARBITRAGEM PARA ASSOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA

Octávio Fragata M. de Barros | [email protected]

A empresa brasileira Net Serviçosde Comunicação e a mexicanaDesarrolladora Homex foram asvencedoras da primeira edição do"Prêmio Garrigues-Affinitas de BoaGovernança Corporativa naAmérica Latina". A entrega dosprêmios ocorreu em 16 denovembro no Hotel Intercontinentalde Madri, durante o oitavo ForoLatibex, que reuniu mais de 70empresas latino-americanas. Latibexé um mercado internacionalformado só por empresaslatinoamericanas que negociam emeuros na Bolsa de Valores de Madri.

A Net Serviços de Comunicação foipremiada na categoria "Empresa doLatibex" e a Desarrolladora Homexna categoria "Empresalatinoamericana registrada, mas nãoincluída no Latibex, com sede naAmérica Latina". A premiação temcomo objetivo o reconhecimento dosesforços por parte de empresaslatino-americanas na implementaçãode políticas de boa governança etransparência. O júri desta primeiraedição foi presidido por AntonioGarrigues, contando ainda com aparticipação de Paulo Cezar Aragão,sócio do BM&A.

Constituída em 2004, a Affinitas éuma aliança internacional que reúneBarbosa, Müssnich & AragãoAdvogados e escritórios da Espanha,Argentina, México, Portugal, Chile,Colômbia e Peru. Com essa aliança,os escritórios visam a corresponder àcrescente globalização dos clientes esua demanda por serviços emdiferentes países. A Affinitas contaatualmente com 2.500 profissionaisque operam em 40 escritórios.

Affinitas premiaempresas latino-americanas porexcelência emgovernança corporativa