Agenda 21 Alentejo

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CINCIAS DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL

Agenda 21 Local.O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

Maria Jos Almeida Dias de Sousa

MESTRADO EM CINCIAS E TECNOLOGIAS DO AMBIENTE

Lisboa 2009

UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CINCIAS DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL

Agenda 21 Local.O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

Maria Jos Almeida Dias de Sousa

DISSERTAO ORIENTADA PELO PROFESSOR DOUTOR FILIPE DUARTE SANTOS E PELO PROFESSOR DOUTOR JOO FARINHA.

MESTRADO EM CINCIAS E TECNOLOGIAS DO AMBIENTE Lisboa 2009

Agradecimentos

Foram vrias as pessoas que me apoiaram e que tornaram possvel a realizao desta dissertao e, s quais, gostaria agora de agradecer. Em primeiro lugar aos meus orientadores, o Professor Doutor Filipe Duarte Santos e ao Professor Doutor Joo Farinha, por todo o apoio, amizade e disponibilidade demonstrada. A todos os Presidentes de Cmara, Vice-Presidentes e tcnicos dos vrios municpios envolvidos no projecto Agendas 21 Locais do Norte Alentejano, pela disponibilidade e importante contributo para a concretizao deste trabalho. Um agradecimento muito especial aos tcnicos Ricardo Aparcio, Marta Aldrabinha, Snia Carrilho, Nuno Ferreira, Guilhermina Castanho, Esmeralda Almeida e Rosrio Rodrigues. Aos amigos e colegas Evelina Moura, Teresa Calvo, Carmen Quaresma, Ana Lavado, Jos Carlos Ferreira e Felicidade Ferreira pela ajuda, amizade e fora nos momentos mais difceis. Aos meus pais, pelo carinho e pelo apoio incondicional, sem os quais seria impossvel ter conseguido chegar aqui. O meu Muito Obrigado!

i

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

Resumo

A presente dissertao tira partido do trabalho realizado em Agendas 21 Locais em que a autora participou e que foi desenvolvido ao longo de cerca de dois anos em doze municpios do Norte Alentejano. Este trabalho revisita o processo identificando os principais pontos fortes e fracos e os efeitos decorrentes da Agenda. Para tal, recorre a um conjunto de entrevistas aos lderes polticos e tcnicos locais envolvidos no processo. Existe um importante consenso que o desenvolvimento sustentvel no conseguir ser alcanado sem a participao dos actores locais. De facto, tem-se argumentado que o planeamento e a tomada de deciso devem ser estratgicos e participados. A Agenda 21 Local (A21L) um meio para alcanar este desgnio e o esforo feito por cada municpio para o atingir pode ser medido atravs do seu grau de implementao (Garcia-Sanchz & Prado-Lorenzo, 2009). O Norte Alentejano um territrio rural com problemas de desertificao humana e elevado envelhecimento populacional, nveis de escolaridade baixos, incapaz de fixar os mais jovens e qualificados e com escassos recursos. Estas caractersticas do territrio so vistas como factores crticos para a implementao deste tipo de processos (Kern et al., 2004; Evans et al., 2006). A presente dissertao argumenta que este foi um processo de aprendizagem introduzindo novas dinmicas territoriais e trazendo novas aces e estratgias de desenvolvimento local sustentvel. Dois anos aps a sua concluso, o grau de concretizao da Agenda considerado reduzido mantendo, no entanto, uma importncia elevada para o futuro. Como factores de sucesso so identificados a integrao da Agenda e dos seus princpios em planos e programas locais e a sua utilizao como documento base para o desenvolvimento de candidaturas a fundos comunitrios. Finalmente, experincias, so extradas os lies para o e futuro, procurando as disseminar e

aumentar

conhecimentos

melhorar

capacidades

competncias em A21L.

Palavras-chave:

Desenvolvimento

sustentvel,

Agenda

21

Local,

participao, Norte Alentejano, municpios.

ii

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

ABSTRACT

This essay draws on work carried out in Local Agenda 21 (LA21) which was developed over nearly two years in twelve municipalities of the Norte Alentejano and in which the author participated. This work revisits the process by identifying strengths and weaknesses and the effects of the Agenda. With this aim, it was done a set of interviews to political leaders and technicians that are involved in the process. There is a considerable consensus that sustainable development can not be achieved without the participation of local people. In fact, it has been argued that the planning and decision-making should be strategic and participated. The LA21 is a means to achieve such goal and the effort made by each municipality to reach it can be measured by the degree of implementation of the LA21 (Garcia-Sanchz & Prado-Lorenzo, 2009). The Norte Alentejano is a rural area with problems of depopulation and highly aged population, low education levels, unable to settle the skilled younger generations and scarce resources. These territorial characteristics are seen as critical factors for the implementation of such processes (Kern et al., 2004, Evans et al., 2006). In this essay, it is argued that this was a learning process wich introduced new territorial dynamics and brought new actions and strategies for sustainable local development. Two years after its completion, the degree of implementation of the Agenda is considered poor while maintaining a high importance for the future. As factors of the process success are identifies the integration of the Agenda and of its principles into local plans and programs and its use as a guideline document for the development of applications for European Union funds. Finally, lessons are drawn out for the future, with expected sharing experiences, increasing the knowledge and improving skills and competencies in LA21.

Keywords: Sustainable development, Local Agenda 21, participation, Norte Alentejano, municipalities.

iii

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

SIMBOLOGIA E NOTAES

A21L Agenda 21 Local ADRAL Agncia de Deesnvolvimento Regional do Alto Alentejo BGRI Base Geogrfica de Referenciao de Informao CCDR Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional do Alentejo CIVITAS Centro de Estudos sobre Cidades e Vilas Sustentveis CNUAD - Conferncia das Naes Unidas subordinada ao tema Ambiente e Desenvolvimento DCEA Departamento de Cincias e Engenharia do Ambiente DGOTDU Direco-geral do Ordenamento do Territrio e Desenvolvimento Urbano DS Desenvolvimento Sustentvel ENDS Estratgia Nacional de Desenvolvimento Sustentvel ESCTC European Sustainable Cities and Towns Campaign FCT Faculdade de Cincias e Tecnologia ICLEI International Coucil for Local Environment Initiatives. INALENTEJO Programa Operacional Regional do Alentejo (2007-2013) INE Instituto Nacional de Estatstica IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change MAOTDR Ministrio do Ambiente, do Ordenamento do Territrio e do Desenvolvimento Regional

ONU Organizao das Naes Unidas PIENDS Plano de Implementao da Estratgia Nacional de Desenvolvimento Sustentvel QREN Quadro de Referncia Estratgico Nacional UNCED United Nations Conference on Environment and Development UNEP United Nations Environment Programme UNL Universidade Nova de Lisboa WCED World Commission on Environment and Development

iv

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

NDICE DE MATRIAS

Agradecimentos ................................................................................................ i Resumo .......................................................................................................... ii ABSTRACT ........................................................................................................ iii SIMBOLOGIA E NOTAES ............................................................................... iv NDICE DE MATRIAS ....................................................................................... v NDICE DE FIGURAS ........................................................................................vii NDICE DE TABELAS E DE GRFICOS .................................................................. x CAPTULO I INTRODUO............................................................................... 11.1. Enquadramento ...................................................................................................1 1.2. Objectivos ..........................................................................................................4 1.3. Metodologia ........................................................................................................5 1.4. Estrutura e Organizao da Tese ............................................................................7

CAPTULO II A AGENDA 21 LOCAL COMO INSTRUMENTO PROMOTOR DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL .................................................................. 102.1. Desenvolvimento Sustentvel: Um Novo Paradigma ................................................ 10 2.2. A Agenda 21 Local ............................................................................................. 13 2.2.1. Origem e Percurso na Europa ........................................................................ 13 2.2.2. O Processo de Elaborao ............................................................................. 18 2.2.3. A Participao e o Envolvimento das Comunidades ........................................... 27 2.2.4. A Evoluo da Agenda 21 Local em Portugal .................................................... 30 2.2.5. A Experincia Europeia e os Factores Condicionantes da Agenda 21 Local ............ 35

CAPTULO III CARACTERIZAO DO TERRITRIO EM ANLISE .......................... 393.1. Introduo e Contexto Territorial.......................................................................... 39 3.2. Populao e Dinmicas Demogrficas.................................................................... 40 3.3. O Patrimnio Natural .......................................................................................... 47 3.4. Nvel de Instruo e Actividades Econmicas.......................................................... 55

CAPTULO IV A ELABORAO DAS AGENDAS 21 LOCAIS DO NORTE ALENTEJANO 604.1. Introduo ........................................................................................................ 60v

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

4.2. Contexto e Objectivos ........................................................................................ 61 4.3. Metodologia Adoptada ........................................................................................ 62 4.4. Rumo Sustentabilidade Local............................................................................. 64 4.4.1. Mobilizar e Envolver ..................................................................................... 64 4.4.2. Diagnstico do Estado do Desenvolvimento Sustentvel Local ............................ 66 4.4.3 Construo da Viso e Definio dos Vectores Estratgicos ................................. 71 4.4.4 A Construo dos Planos de Aco .................................................................. 76 4.4.5 A Avaliao do Processo Participativo .............................................................. 87

CAPTULO V ANLISE DOS EFEITOS DE CADA AGENDA ..................................... 995.1. Metodologia Adoptada ........................................................................................ 99 5.2. Avaliao Participada com Base em Entrevistas .................................................... 102 5.2.1 Principais Pontos Fortes e Fracos e Factores de Sucesso ................................... 102 5.2.2. Balano da Implementao das Agendas ....................................................... 111

CAPTULO VI CONCLUSES FINAIS E DESAFIOS FUTUROS .............................. 129 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................... 133 ANEXOS ...................................................................................................... 139ANEXO I: Listagem de Municpios com Agenda 21 Local ou Planos Municipais de Ambiente em Portugal ............................................................................................................... 139 ANEXO II: Modelo do Questionrio Avaliao do Processo da A21L .............................. 143 ANEXO IV: Guio de Entrevista aos Tcnicos Locais ..................................................... 146

vi

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

NDICE DE FIGURASFigura 1.1 Esquema metodolgico adoptado..................................................... 6 Figura 1.2 Esquema sntese da estrutura e organizao da dissertao. ............... 9 Figura 2.1: Integrao das quatro componentes do desenvolvimento Sustentvel.Fonte: Farinha, 2005. ..................................................................................................... 15

Figura 2.2. O Processo de Implementao dos Compromissos de Aalborg.

Fonte : The

Aalborg Commitments Implementation Guide; ICLEI, 2006. ..................................................

16

Figura 2.3 Marcos histricos da Campanha Europeia de Cidades e Vilas Sustentveis. ................................................................................................. 18 Figura 2.4 Interdependncia entre o local e o global........................................ 19 Figura 2.5 - Esquema das quatro fases do processo de planeamento da Agenda 21 Local.Fonte: (Farinha, 2005)....................................................................................................... 20 Fonte: Farinha, 2005.

Figura 2.6 Estrutura organizativa de Apoio A21L.

............... 21Fonte: Farinha,

Figura 2.7 Elementos para a realizao do pr-diagnstico da A21L.

2005. .............................................................................................................

22

Figura 2.8 Elaborao do Diagnstico Selectivo por Vector da A21L.

Fonte: Farinha,

2005. .............................................................................................................

23

Figura 2.9 - Exemplo de um Ficha de Aco. ..................................................... 23 Figura 2.10 - Esquema do mtodo de auto-avaliao da Agenda 21 Local disponvel na Internet. Fonte: Farinha, 2005. ......................................................................... 26 Figura 2.11 Etapas da elaborao da Agenda 21 Local. .................................... 26 Figura 2.12- Esquema do Plano de Participao em Fruns. Fonte: Farinha, 2005. ....... 29 Figura 2.13 - Representatividade dos Fruns de participao da Agenda 21 Local.Fonte: Farinha, 2005............................................................................................

29

Figura 2.14 Municpios com Agenda 21 Local ou Planos Municipais de Ambiente em Portugal.Fonte: Quaresma, 2009. ..........................................................................

35

Figura 2. 15 Os factores que condicionam a implementao e disseminao da A21L. ........................................................................................................... 38 Figura 3.1 Os doze municpios envolvidos nas Agendas 21 Locais do Norte Alentejano. .................................................................................................... 40

vii

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

Figura 3.2 Densidade populacional (hab./km2) dos doze municpios do Norte Alentejano, em 2001.Fonte: BGRI, 2001.

............................................................. 43

Figura 3.3 Estrutura etria da populao residente em 2001 do territrio em anlise.Fonte: BGRI, 2001. .................................................................................. Fonte: BGRI, 2001. ...

45 46

Figura 3.4 Retrato territorial do envelhecimento populacional. Figura 3.5 Uso e ocupao do solo do territrio em anlise.

Fonte: Plano Especfico de

Ordenamento Florestal para o Alentejo, 2001. .................................................................

47

Figura 3.6 Unidades biogeogrficas do territrio em anlise.

Fonte: Costa et al., 1998;

Rivas-Martnez et al., 1990. .....................................................................................

49

Figura 3. 7 Unidades de paisagem do territrio em anlise.

Fonte: Costa et al., 1998;

Rivas-Martnez et al., 1990. .....................................................................................

54

Figura 3.8 Stios Rede Natura e ZPEs do territrio em estudo.

Fonte: Plano Especfico

de Ordenamento Florestal para o Alentejo, 2001............................................................................... 55

Figura 3.9 - Nvel de instruo da populao residente no territrio, em percentagem.Fonte: BGRI, 2001. .............................................................................................

56

Figura 3.10 Representatividades dos sectores de actividade do territrio em anlise.Fonte: BGRI, 2001. .................................................................................

59

Figura 4.1 Constituio da Equipa Tcnica da Agenda 21 Local.......................... 61 Figura 4.2 Esquema metodolgico adoptado na elaborao das Agendas 21 Locais do Norte Alentejano. ....................................................................................... 63 Figura 4.3 Imagens da sesso de arranque das Agendas 21 Locais do Norte Alentejo. ....................................................................................................... 65 Figura 4.4 Estrutura de Gesto Interna da A21L constituda em cada municpio. . 65 Figura 4.5 Os logtipos da Agenda 21 Local de cada municpio. ........................ 66 Figura 4.6. Articulao da A21L com os planos, estratgias sectoriais e projectos da autarquia. ..................................................................................................... 68 Figura 4.7 Esquema sobre os vrios nveis de abordagem das A21L do Norte Alentejano. .................................................................................................... 69 Figura 4.8 Elementos do Diagnstico Sinttico da Freguesia. ............................ 70 Figura 4.9 Documentos que constituem o Diagnstico Sinttico do Concelho. ..... 71 Figura 4.10 Principais momentos da Sesso Plenria Inicial.............................. 72 Figura 4.11 A construo da viso e a gerao de projectos para a alcanar. ...... 73viii

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

Figura 4.12 Imagens da Sesso de Trabalhos de Grupo e do Plenrio Final. ........ 74 Figura 4.13 A construo da viso e a definio dos vectores estratgicos.......... 76 Figura 4.14 Actividades iniciais das sesses temticas regionais. ...................... 78 Figura 4.15 Esquema sntese dos principais momentos do plenrio inicial. .......... 79 Figura 4.16 Imagens dos grupos de trabalho e do plenrio final das sesses temticas regionais......................................................................................... 80 Figura 4.17 Esquema sntese das Sesses Temticas Regionais. ....................... 81 Figura 4.18 Descrio da Ficha de Aco. ...................................................... 82 Figura 4.19 Imagens dos momentos mais marcantes dos Fruns finais da A21L. . 84 Figura 4.20 A construo dos Planos de Aco da A21L. .................................. 84 Figura 4.21 Representatividade territorial nos Fruns Temticos. ...................... 92 Figura 5.1 Percepes dos entrevistados em relao aos principais pontos fortes da A21L. ......................................................................................................... 104 Figura 5.2 - Percepes dos entrevistados em relao aos principais pontos fracos da A21L. ......................................................................................................... 106 Figura 5.3 Pontos fortes e fracos das Agendas 21 Locais do Norte Alentejano. .. 107

ix

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

NDICE DE TABELAS E DE GRFICOS

Grfico 3.1 Dinmicas populacionais da NUTS III Alentejo (1900-2001).

Fonte: INE.

................................................................................................................... 41 Grfico 3.2 Taxa de variao da populao residente (1991-2001) no continente, na regio Alentejo e nos doze municpios em anlise, em percentagem.2001, INE. Fonte: Censos

....................................................................................................... 41Fonte: Censos 2001, INE. .................

Grfico 3.3 Populao residente por municpio.

42

Grfico 3.4 - Evoluo da densidade populacional, de 2001 a 2008, de cada um dos doze municpios em anlise, da NUTS III Alto Alentejo e da NUTS II Alentejo.Estimativas Anuais da Populao Residente, INE. Fonte:

............................................................. 44 entre 1900 e 44

Grfico 3.5 Evoluo da estrutura etria da populao residente 2001, em percentagem.

Fonte: INE, 2001. .............................................................

Grfico 3.6 ndices de envelhecimento por municpio, em percentagem.

Fonte:

Censos 2001, INE. ...............................................................................................

46

Tabela 3.A Uso e ocupao do solo, em percentagem. ..................................... 48 Tabela 3.B Espcies florestais predominantes, em percentagem........................ 48 Tabela 3.C Unidades de paisagem do territrio em anlise. .............................. 52 Grfico 3.7 Taxa de analfabetismo, em percentagem. Fonte: Censos 2001, INE. ........ 56 Grfico 3.8 Taxa de actividade do territrio em anlise, em percentagem.Fonte:

Censos 2001, INE. ...............................................................................................

57

Grfico 3.9 - Sectores de actividade em Portugal continental, no Alentejo e no Territrio em anlise.Fonte: BGRI, 2001. ...............................................................

58

Tabela 4.A Cronograma da fase de elaborao das Agendas 21 Locais do Norte Alentejano. .................................................................................................... 64 Tabela 4.B Nmero de questionrios realizados por municpio........................... 67 Grfico 4.1 Frequncia dos cinco temas mais votados no conjunto dos dez municpios. .................................................................................................... 77 Grfico 4.2 Nmero de participantes por Frum inicial em cada municpio. ......... 88 Grfico 4.3 Taxa de participao de cada um dos dez municpios, em percentagem. ................................................................................................................... 89

x

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

Grfico 4.4 Representatividade dos Fruns iniciais da A21L em termos globais, em percentagem. ................................................................................................ 89 Grfico 4.5 - Representatividade dos Fruns iniciais por municpio, em percentagem. ................................................................................................................... 90 Grfico 4.6 Representatividade dos Fruns Regionais, em percentagem. ............ 90 Grfico 4.7 Representatividades de cada um dos 3 Fruns Regionais, em percentagem. ................................................................................................ 91 Grfico 4.8 Nmero de participantes por Frum final em cada municpio. ........... 93 Grfico 4.9 Taxa de participao de cada municpio, em percentagem. .............. 93 Grfico 4.10 Representatividade global dos Fruns finais, em percentagem. ....... 94 Grfico 4.11 - Representatividade dos Fruns finais por municpio, em percentagem. ................................................................................................................... 94 Grfico 4.12 Nvel de satisfao dos participantes com o processo da A21L, numa escala de 1 a 10. ............................................................................................ 95 Grfico 4.13 Resultado sobre a qualidade de vida no municpio se todas as propostas de aco forem concretizadas, numa escala de 1 a 10. .......................... 96 Grfico 4.14 Probabilidade de implementao das propostas de aco, numa escala de 1 a 10. ..................................................................................................... 96 Grfico 4.15 Importncia da A21L na aprendizagem individual e colectiva, numa escala de 1 a 10. ............................................................................................ 97 Grfico 4.16 Contribuio dos actores locais para a concretizao das propostas de aco, numa escala de 1 a 4. ........................................................................... 97 Grfico 4.17 Disponibilidade para participar em aces de voluntariado

demonstrada pelos participantes, numa escala de 1 a 10. .................................... 98 Tabela 4.C - Mdia, desvio padro e varincia dos resultados dos inquritos. ......... 98 Grfico 5. 1 Frequncia dos cinco pontos fortes mais referidos pelos entrevistados, em nmero. ................................................................................................ 103 Grfico 5.2 Frequncia dos quatro pontos fracos mais referidos pelos entrevistados, em nmero. ................................................................................................ 105 Grfico 5.3 Grau de concretizao de cada vector do Plano de Aco de Alter do Cho, numa escala de 1 a 6. .......................................................................... 112 Grfico 5.4 Grau de importncia de cada vector do Plano de Aco de Alter do Cho, numa escala de 1 a 6. .......................................................................... 113xi

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

Grfico 5.5 Distncia entre a importncia do vector e a sua concretizao (Alter do Cho). ........................................................................................................ 113 Grfico 5.6 Balano sntese do Plano de Aco de Alter do Cho, numa escala de 1 a 6. ............................................................................................................ 114 Grfico 5.7 Grau de concretizao de cada vector do Plano de Aco de Arronches, numa escala de 1 a 6. ................................................................................... 114 Grfico 5.8 Grau de importncia de cada vector do Plano de Aco de Arronches, numa escala de 1 a 6. ................................................................................... 115 Grfico 5.9 Distncia entre a importncia do vector e a sua concretizao (Arronches). ................................................................................................ 116 Grfico 5.10 Balano sntese do Plano de Aco de Arronches, numa escala de 1 a 6................................................................................................................ 116 Grfico 5.11 Grau de concretizao de cada vector do Plano de Aco do municpio de Avis, numa escala de 1 a 6. ....................................................................... 117 Grfico 5.13 Distncia entre a importncia do vector e a sua concretizao (Avis). ................................................................................................................. 118 Grfico 5.14 Balano sntese do Plano de Aco de Avis, numa escala de 1 a 6. 118 Grfico 5.15 Grau de concretizao de cada vector do Plano de Aco de Gavio, numa escala de 1 a 6. ................................................................................... 119 Grfico 5.16 Grau de importncia de cada vector do Plano de Aco de Gavio, numa escala de 1 a 6. ................................................................................... 119 Grfico 5.17 Distncia entre a importncia do vector e a sua concretizao (Gavio). .................................................................................................... 120 Grfico 5.18 Balano sntese da Agenda de Gavio, numa escala de 1 a 6. ....... 120 Grfico 5.19 Grau de concretizao de cada vector do Plano de Aco de Marvo, numa escala de 1 a 6. ................................................................................... 121 Grfico 5.20 Grau de importncia de cada vector do Plano de Aco de Marvo, numa escala de 1 a 6 .................................................................................... 121 Grfico 5.21 Distncia entre a importncia do vector e a sua concretizao (Marvo). .................................................................................................... 122 Grfico 5.22 Balano sntese da Agenda de Marvo, numa escala de 1 a 6. ...... 122 Grfico 5.23 Grau de concretizao de cada vector do Plano de Aco de Nisa, numa escala de 1 a 6. ................................................................................... 123xii

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

Grfico 5.24 Grau de importncia de cada vector do Plano de Aco de Nisa, numa escala de 1 a 6. ........................................................................................... 123 Grfico 5.25 Distncia entre a importncia do vector e a sua concretizao (Nisa). ................................................................................................................. 124 Grfico 5.26 Balano sntese da Agenda de Nisa, numa escala de 1 a 6. .......... 124 Grfico 5.27 Grau de concretizao de cada vector do Plano de Aco de Sousel, numa escala de 1 a 6. ................................................................................... 125 Grfico 5.28 Grau de importncia de cada vector do Plano de Aco de Sousel, numa escala de 1 a 6. ................................................................................... 126 Grfico 5.29 Distncia entre a importncia do vector e a sua concretizao (Sousel). ..................................................................................................... 126 Grfico 5.30 Balano sntese da Agenda de Sousel, numa escala de 1 a 6. ....... 127 Grfico 5.31 Comparao entre o grau de concretizao e o grau de importncia das setes Agendas analisadas, numa escala de 1 a 6. ........................................ 127

xiii

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

CAPTULO I INTRODUO

1.1. EnquadramentoO crescimento econmico baseado na explorao descontrolada dos recursos naturais para fazer face crescente procura de bens e servios tem sido o modelo predominante de desenvolvimento. Este desenvolvimento trouxe graves consequncias ambientais e sociais. a partir da dcada de 70 do sculo XX que a relao entre ambiente e desenvolvimento emerge colocando a problemtica ambiental num contexto global mobilizando quer a comunidade cientfica quer a sociedade em geral. A publicao do Relatrio Brundtland, como o em 1987, popularizou o conceito satisfaz de as

desenvolvimento

sustentvel,

"(...)

desenvolvimento

que

necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das geraes vindouras satisfazerem as suas prprias necessidades" (WCED, 1987). A Cimeira do Rio consagrou o desenvolvimento sustentvel como um desgnio global. Para o alcanar, os pases participantes adoptaram a Agenda 21, o Programa de Aco Global para o Desenvolvimento Sustentvel. Os protagonistas desta nova parceria global so os governos centrais, as administraes locais, os grupos de interesse, ONGs e a sociedade civil. O grande impulso para a implementao da Agenda 21 Local (A21L) na Europa foi dado com a Campanha Europeia das Cidades e Vilas Sustentveis iniciada em 1994 em Aalborg. No documento fundador desta campanha, a Carta de Aalborg, as cidades, vilas e unidades territoriais da Europa comprometem-se a desenvolver e a implementar a sua prpria Agenda 21 Local (ESCTC, 1994). A Agenda 21 apela s autoridades locais de cada pas para que desenvolvam um processo consultivo e consensual com as suas comunidades, sob a forma da sua verso local, a Agenda 21 Local (CIVITAS, 2000). A A21L nasce, assim, da constatao de que o nvel local por estar mais prximo das comunidades, dos seus problemas e dos seus interesses e solues, ganha uma importncia acrescida na implementao do desenvolvimento sustentvel a nvel local (WCED, 1992). a participao das comunidades e dos seus actores locais na construo do futuro colectivo visando alcanar comunidades sustentveis (Farinha, 2005). Para que esta participao seja efectiva, as autoridades locais devem informar, educar e sensibilizar as suas comunidades sobre a A21L. Por outro lado, tambm importante que essas autoridades locais tambm estejam informadas e sensibilizadas sobre o processo.

1

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

O processo de elaborao da Agenda 21 Local leva ao estabelecimento de um novo dilogo entre o poder local, os cidados e os actores locais. Esta nova forma de trabalho cria consensos e parcerias e introduz novas dinmicas no territrio. Se, por um lado, a aco a nvel local que desencadeia um processo de desenvolvimento sustentvel (WCED, 1992), por outro lado, h uma resistncia dos municpios em integrar a participao dos actores locais nos processos de tomada de deciso, em geral, e na definio de estratgias de sustentabilidade, em particular (Santos, 2005). O compromisso poltico dos lderes locais crucial para o processo. A autoridade local ao iniciar a Agenda 21 Local revela coragem e viso poltica porque est disposta a ouvir e a partilhar e indica uma mudana nas formas tradicionais de governao passando de uma democracia deliberativa para uma democracia participativa (Vasconcelos, 2003). Existe uma forte assumpo que a Agenda 21 Local fundamentalmente um processo em vez de um produto, isto , a forma inclusiva pelo qual alcanado torna-se mais eficaz na mudana de atitudes e comportamentos. O desenvolvimento sustentvel s se poder atingir com a contribuio e a co-responsabilizao de todos, pois tem a ver com alteraes de atitudes e de padres de consumo que comeam a nvel individual (Vasconcelos, 2003), no entanto, essa mudana de atitudes e de comportamentos pode levar uma gerao para ser alcanada (Selman, 2000). Alguns dos desenvolvimentos mais promissores ocorreram ao nvel das cidades e municpios onde as iniciativas de AL21 predominaram (CIVITAS, 2000) e a informao e experincia de todos os sectores da comunidade devem estar envolvidos no processo de preparao de planos de aco locais que devem contribuir substancialmente para a sustentabilidade (Coenen, 1998). O continente europeu o continente lder na implementao da Agenda 21 Local. Da experincia desenvolvida na Europa, parece existir uma relao directa e positiva entre a difuso e implementao dos processos de Agenda 21 Local e os recursos e capacidades locais. Os recursos so encarados como o stock de factores financeiros, fsicos, humanos, organizacionais e tecnolgicos que o governo local possua ou controle (Grant, 1992) enquanto as capacidades referem-se ao conhecimento e cultura organizacional que fazem uma organizao agir de um modo particular como resposta a certos estmulos como os processos de Agenda 21 Local (Teece, 1982 in Echebarria et al., 2007). Kern et al. (2004), analisando o caso Alemo destacam trs factores determinantes para a difuso da Agenda 21 Local: os recursos e as capacidades dos governos locais; o financiamento e o apoio poltico nacional ou regional; e a existncia de instituies de transferncia da agenda que promovam o intercmbio de experincias e a difuso de boas prticas. No entender destes autores so os municpios de maiores dimenses os2

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

que tm uma maior disponibilidade de recursos e de capacidades, o que levaria a uma maior implementao e disseminao da Agenda 21 Local nesses territrios (as chamadas cidades e regies pioneiras). O apoio dos governos centrais tem sido fortemente enfatizado em diferentes contextos como na Sucia (Lindstrm e Johnsson, 2003), nos Pases Baixos (Coenen, 2001) e em Espanha (Echebarria et al., 2007) na medida em que estimulam e incentivam as autoridades locais a criarem e a implementarem a sua Agenda 21 Local. Alguns autores como ARE (2005) consideram que o facto de existir uma base legal especfica para a implementao da Agenda 21 Local, como na Dinamarca e no Reino Unido, assegura a continuidade deste tipo de processos e a sua implementao. A existncia de tcnicos nos municpios destinados exclusivamente Agenda 21 Local tem sido assinalada por diversos autores como um factor facilitador e impulsionador destes tipo de processos. O trabalho desenvolvido na Sucia por Eckeberg & Dahlgren (2007) conclui que os municpios onde existe um coordenador responsvel pela Agenda 21 Local so mais activos e promovem mais a participao da comunidade. Acrescentam ainda um outro factor de sucesso que a capacitao dos municpios atravs da informao e formao em Agenda 21 Local dirigida aos tcnicos e aos cargos polticos. Nos pases do Sul da Europa, como Portugal e Espanha, os processos de Agenda 21 Local apresentam algumas semelhanas. Nestes pases, os governos centrais no tiveram um papel fundamental deixando a iniciativa de implementao da A21L nas autoridades locais e regionais. Assim, tm sido as Comunidades Autnomas em Espanha e as Associaes de Municpios de mbito regional em Portugal, a grande fora motriz dos processos de A21L (Barrutia et al., 2007; Fidlis et al., 2009). Estas instituies de transferncia desempenham um papel impulsionador e facilitador deste tipo de processos e so determinantes para a disseminao da Agenda 21 Local. Echebarria et al. (2007), consideram que o apoio do governo central mais eficaz na implementao dos processos de Agenda 21 Local se for estabelecido atravs de redes de polticas envolvendo as Associaes de Municpios, a sociedade civil e associaes de mbito local. Em Portugal, a implementao da A21L tem sido lenta. Um estudo recente da Universidade de Aveiro (Fidlis et al., 2009) envolvendo 57% dos municpios de Portugal continental conclui que tem havido um aumento significativo do nmero de municpios com processos de Agenda 21 Local. Dada a falta de campanhas nacionais e de apoio do governo central a implementao da A21L em Portugal surge de iniciativas locais voluntrias de municpios com menos populao, menos presses ambientais e com maiores problemas econmicos e sociais (Fidlis et al., 2009). Esta realidade contrasta claramente com as experincias europeias. Este estudo conclui, ainda, que o principal3

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

impulso implementao da Agenda 21 Local em Portugal tem sido dado pelas Associaes de Municpios que fornecem informao, apoio tcnico e financeiro (atravs de fundos comunitrios) s autoridades locais, funcionando como instituies de transferncia que permitem a criao de plataformas de interaco intermunicipal. Alm destes, outros factores que promovem e impulsionam os processos de Agenda 21 Local tm sido referidos, entre eles, a tradio participativa da comunidade como na Sucia e Holanda (Eckeberg, 2007; Gomila, 2000) e a existncia de actores locais chave que actuem como lderes do processo (Barrutia et al., 2007; Joas et al., 2007). De acordo com a literatura revista, existem vrios factores que condicionam o sucesso da Agenda 21 Local e um importante consenso que o desenvolvimento sustentvel no conseguir ser alcanado sem a participao dos actores locais (Echebarria et al., 2009). De facto, tem-se argumentado que o planeamento e a tomada de deciso devem ser estratgicos e participados. A A21L um meio para alcanar este desgnio e o esforo feito por cada municpio para o atingir pode ser medido atravs do grau de implementao da sua A21L (Garcia-Sanchz & Prado-Lorenzo, 2009). O Norte Alentejano um territrio rural de acentuada interioridade, com problemas de desertificao humana e elevado envelhecimento populacional, nveis de escolaridade baixos, incapaz de fixar os mais jovens e qualificados e com escassos recursos. Estas caractersticas do territrio so vistas como factores condicionantes implementao deste tipo de processos (Kern et al., 2004; Evans et al., 2006).

1.2. ObjectivosEste projecto, co-financiado pela Iniciativa Transfronteiria Interreg III-A, envolveu uma parceria entre a Faculdade de Cincias e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT/UNL), a Associao de Municpios do Norte Alentejano (AMNA) e doze Cmaras Municipais do Norte Alentejano: Avis, Alter do Cho, Arronches, Campo Maior, Castelo de Vide, Crato, Elvas, Gavio, Marvo, Monforte, Nisa e Sousel. A fase de elaborao das doze Agendas 21 Locais do Norte Alentejano decorreu durante 20 meses, entre Julho de 2006 e Fevereiro de 2008, e envolveu mais de 1000 actores locais (empresrios e suas associaes, lderes locais, ONGs, associaes locais, instituies pblicas de mbito local e regional e cidados) representando cerca de 1% da populao residente nos doze municpios envolvidos. Decorridos quase dois anos aps a concluso do processo de elaborao das Agendas 21 Locais do Norte Alentejano a presente dissertao visa efectuar uma anlise ex-post e retirar da os devidos ensinamentos.

4

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

Este trabalho visa recolher as percepes e as opinies dos lderes polticos e dos tcnicos autrquicos sobre o processo de elaborao da A21L do seu municpio. Qual o nvel de ancoragem da Agenda na autarquia e qual o seu grau de implementao, quais os pontos fortes e fracos e os factores de sucesso da Agenda 21 Local. Que novas formas de trabalho e que estruturas foram criadas a nvel autrquico para a implementao da Agenda e que efeitos advm da. Os objectivos complementares da presente dissertao so extrair lies para o futuro procurando disseminar experincias, aumentar os conhecimentos e melhorar as capacidades e competncias em Agenda 21 Local.

1.3. MetodologiaA metodologia de abordagem ao caso de estudo foi desenvolvida de acordo com prticas e mtodos de investigao qualitativa usuais em cincias sociais. Este tipo de investigao indutiva e descritiva, contempla uma viso holstica e adequada a contextos complexos. Os mtodos qualitativos empregam, na sua generalidade, procedimentos interpretativos, no experimentais, com valorizao dos pressupostos relativistas e a representao verbal dos dados (privilegia a anlise de caso ou contedo). Utilizaram-se vrias fontes de evidncia ou dados permitindo, por um lado, assegurar as diferentes perspectivas dos participantes e, por outro lado, criando condies para uma triangulao dos dados durante a fase de anlise dos mesmos, acreditando que, desta forma, obtm-se uma melhor compreenso de todo o processo. Para alcanar os objectivos propostos a presente dissertao recorre pesquisa e reviso bibliogrfica, revisitao do processo e de todos os documentos e resultados obtidos no mesmo, consulta das pginas Web dos municpios envolvidos, de documentos e publicaes municipais locais e regionais, e avaliao participada com base em entrevistas. O presente trabalho tira partido do envolvimento e participao activa da autora durante o processo desenvolvendo um conjunto de entrevistas semi-estruturadas aos tcnicos e decisores polticos dos municpios envolvidos e que participaram activamente no processo. Esta amostra justificada pelo papel central atribudo s autoridades locais na A21L, principalmente, em municpios onde partida os recursos e as capacidades existentes so limitados quer seja devido s caractersticas intrnsecas das populaes locais (elevado envelhecimento, nveis de escolaridade reduzidos, fracos nveis de confiana e de associativismo, fracos nveis de participao, entre outros) quer seja pelas capacidades e competncias existentes nas prprias autarquias. Estes factores so

5

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

considerados por vrios autores (Eckeberg & Dahlgren, 2007; Evans et al., 2006; Kern et al., 2004) como condicionantes implementao e disseminao da Agenda a nvel local. Os efeitos decorrentes da Agenda so analisados em sete dos doze municpios1 envolvidos no processo das Agendas 21 Locais do Norte Alentejano atravs de uma avaliao participada com base em entrevistas e na avaliao da implementao do Plano de Aco de cada municpio. As entrevistas decorreram de 3 de Agosto a 21 de Setembro do presente ano. Na fase inicial, a autora revisitou os doze municpios envolvidos e realizou entrevistas directas. Recorreu-se, tambm, ao envio de correio electrnico e aos contactos telefnicos sempre que no foi possvel obter uma entrevista directa. Para avaliar o nvel de implementao das Agendas recorreu-se ao mtodo Balano de Implementao do Plano. Esta metodologia, desenvolvida pela equipa da FCT/UNL (Farinha, 2005), permite verificar o grau de concretizao de cada uma das aces previstas, agregando depois os resultados em termos globais e dando uma perspectiva do grau de implementao de cada vector e do Plano de Aco. Oferece, assim, uma anlise dos avanos realizados em termos globais e em cada um dos vectores estratgicos em particular. So tambm indicadas as reas que eventualmente tenham recebido menor ateno. Apresenta-se, em seguida, o esquema metodolgico adoptado na presente dissertao.O Processo das Agendas 21 Locais do Norte Alentejano Conceptualizao e Problemtica Identificao de Objectivos

...

Envolvimento activo no processo

Pesquisa bibliogrfica

Caracterizao do Territrio do Norte Alentajano Descrio do Processo de Elaborao das Agendas 21 Locais Avaliao do Processo Participativo

N S

Anlise dos Efeitos da Agenda

Realizao de entrevistas aos lderes polticos e aos tcnicos locais

Concluses e Recomendaes FuturasFigura 1.1 Esquema metodolgico adoptado.

1

Alter do Cho, Arronches, Avis, Gavio, Marvo, Nisa e Sousel. 6

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

1.4. Estrutura e Organizao da TeseA presente dissertao encontra-se estruturada em seis captulos: Captulo I Apresenta o enquadramento do tema em anlise, os objectivos, a metodologia adoptada e a estrutura e organizao da dissertao. Captulo II Efectua o enquadramento conceptual do desenvolvimento sustentvel e da Agenda 21 Local, apresenta o percurso da A21L na Europa e em Portugal, identificando factores condicionantes da A21L. Estes factores foram divididos em duas categorias: os factores endgenos e os factores exgenos. Para a concretizao deste captulo efectuou-se uma reviso da literatura existente sobre desenvolvimento sustentvel e A21L na Europa e em Portugal. Captulo III Caracteriza o territrio em anlise olhando para os principais aspectos socioeconmicos, territoriais e ambientais que o caracterizam. No pretende ser exaustiva e procura dar uma perspectiva do territrio e das suas dinmicas mais recentes. Para a sua concretizao, recorreu-se a informao estatstica do INE, da Base Geogrfica de Referenciao de Informao (BGRI, 2001) e consulta de documentos territoriais e programas existentes a nvel local e regional. Captulo IV Apresenta o caso de estudo e descreve todo o processo de elaborao das Agendas 21 Locais do Norte Alentejano. Avalia tambm o processo participativo nomeadamente os seus momentos chave, os Fruns de Participao. Esta avaliao baseada nos nveis de participao e representatividade das comunidades locais em cada Frum de Participao e na percepo e opinio dos participantes dada no Frum final realizado em cada municpio. Para a concretizao deste captulo procedeu-se compilao de toda a documentao existente sobre o processo das Agendas 21 Locais do Norte Alentejano, incluindo os diversos relatrios produzidos e elaborados pela equipa da FCT/UNL - AMNA no mbito do mesmo, e apoiada na experincia adquirida na elaborao e acompanhamento de Agendas 21 Locais como investigadora no Centro de Estudos sobre Cidades e Vilas Sustentveis (CIVITAS) sediado7

no

Departamento

de

Cincias

e

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

Engenharia do Ambiente (DCEA) da Faculdade de Cincias e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT/UNL). Captulo V Analisa os efeitos decorrentes das Agendas em sete dos doze municpios envolvidos entrevistas. Para a concretizao deste captulo, a autora revisitou os doze municpios envolvidos no processo realizando, sempre que possvel, entrevistas directas aos decisores polticos e aos tcnicos locais envolvidos no processo de elaborao das Agendas 21 Locais do Norte Alentejano. Numa segunda fase, recorreu-se ao envio de E-mails e realizao de contactos telefnicos. Foram sentidas algumas dificuldades na sua concretizao devido fraca adeso e participao dos Presidentes de Cmara. Os factores condicionantes foram a dimenso territorial da amostra e o tempo disponvel para a realizao das entrevistas. Captulo VI Apresenta as principais concluses do trabalho, respondendo aos objectivos da investigao: identificar os pontos fortes e fracos, os factores de sucesso da A21L e os efeitos decorrentes da Agenda em cada municpio. O grande desafio futuro prende-se com a necessidade de se aumentar a adeso A21L, aos seus princpios e a novos mtodos de trabalho, reestruturando as formas tradicionais de governao, passando para novas abordagens aos processos de deciso e de co-responsabilizao colectiva. De entre outros aspectos, deve ser criada uma estrutura regional que promova e monitorize a A21L, o seu grau de implementao e os impactes a nvel local e regional, que sensibilize e informe as comunidades locais e que promova a formao e actualizao profissional dos decisores polticos e tcnicos locais. Deve promover, ainda, a criao de uma rede de municpios para troca de experincias em A21L e disseminao de casos de sucesso, quebrando o isolamento e abrindo canais de circulao de informao. Finalmente, so extradas lies para o futuro, procurando disseminar experincias, aumentar os conhecimentos e melhorar as capacidades e competncias em A21L. atravs de uma avaliao participada com base em

8

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

A Figura 1.2 esquematiza a estrutura sntese da presente dissertao.CAPTULO I - INTRODUO Enquadramento Metodologia Objectivos Estrutura e Organizao da Dissertao CAPTULO II - A AGENDA 21 LOCAL COMO INSTRUMENTO PROMOTOR DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL O Desenvolvimento Sustentvel e a A21L O Processo de Elaborao da A21L A Participao e o Envolvimento das Comunidades A Evoluo da A21L em Portugal A Experincia Europeia e os Factores Crticos da Agenda 21 Local CAPTULO III CARACTERIZAO DO TERRITRIO EM ANLISE O Contexto Territorial Populao e Dinmicas Demogrficas O Patrimnio Natural Nvel de Instruo e Actividades Econmicas CAPTULO IV A ELABORAO DAS AGENDAS 21 LOCAIS DO NORTE ALENTEJANO Contexto, Objectivos e Metodologia O Processo de Elaborao das Agendas 21 Locais do Norte Alentejano Avaliao do Processo Participativo CAPTULO V - AVALIAO DOS EFEITOS DE CADA AGENDA Metodologia Principais Pontos Fortes e Fracos e Factores de Sucesso Balano de Implementao das Agendas CAPTULO VI CONCLUSES FINAIS E DESAFIOS FUTUROS Principais Concluses Recomendaes e Desafios Futuros

Figura 1.2 Esquema sntese da estrutura e organizao da dissertao.

9

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

CAPTULO II A AGENDA 21 LOCAL COMO INSTRUMENTO PROMOTOR DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

2.1. Desenvolvimento Sustentvel: Um Novo ParadigmaO crescimento econmico baseado na explorao descontrolada dos recursos naturais para fazer face crescente procura de bens e servios tem sido o modelo predominante de desenvolvimento. Este desenvolvimento trouxe graves consequncias ambientais e sociais e coloca em causa a prpria sobrevivncia humana. Morin, Bocchi & Ceruti (1996) ao reflectirem sobre os problemas do final do sculo XX, afirmaram: Estamos numa era agnica, de morte e de nascimento, onde como nunca at hoje as ameaas convergem sobre o planeta, a sua biosfera, os seus seres humanos, as nossas culturas, a nossa civilizao. O mais trgico, ou cmico, que todas estas novas ameaas (desastres ecolgicos, o perigo de um acidente nuclear, etc.) provm dos prprios desenvolvimentos da nossa civilizao. (...) Trata-se actualmente de controlar o desenvolvimento descontrolado da nossa era planetria. A Terra-Ptria est em perigo. Estamos em perigo, e o inimigo, podemos finalmente apreend-lo hoje, no outro seno ns prprios. As preocupaes com o ambiente despontam nos anos 60 do sculo XX impulsionadas pela publicao do livro Silent Spring de Rachel Carson (1962). Este livro marca a consciencializao pblica de que a natureza vulnervel interveno humana. No entanto, a partir da dcada de 70 do sculo XX que as questes ambientais emergem motivadas por grandes desastres ecolgicos. As primeiras grandes mars negras que afectaram o Ocidente (Torrey Canyon em 1967 e Santa Barbara em 1969); a extino em massa de espcies; os graves problemas de contaminao do ar, da gua e do solo; os desastres ambientais escala global (o acidente industrial de Seveso (1976), o acidente nuclear de Chernobyl (1986) e o derrame do petroleiro Exxon Valdez (1989)), colocaram a problemtica ambiental num contexto global mobilizando quer a comunidade cientfica quer a sociedade em geral. Mais recentemente a questo das alteraes climticas e os relatrios produzidos pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) demonstram que na relao da humanidade com o ambiente h uma interaco causa/efeito mais directa e mais rpida, uma acelerao cumulativa.

10

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

J no ano de 1848, John Stuart Mill chamava a ateno para o facto de o aumento em riqueza (material) no ser ilimitado e propunha que a comunidade caminhasse para um estado estacionrio (Soromenho-Marques, 2005). Kenneth Boulding, no seu livro The Economics of the Coming Spaceship Earth de 1966, antevendo a crise dos anos 70 do sculo XX, compara o nosso planeta a uma grande nave espacial afirmando no ser possvel manter o mito de um crescimento exponencial perptuo baseado em recursos naturais finitos. Em 1972, o Relatrio do Clube de Roma, Limits to Growth (Meadows et al., 1972) questiona abertamente o progresso vinculado explorao ilimitada dos recursos do planeta, abrindo um profundo e controverso debate sobre crescimento e ambiente no seio da comunidade cientfica e da sociedade em geral (Cole, 2007).

O Nascimento Em Junho de 1972 realizou-se em Estocolmo, sob a gide das Naes Unidas, a primeira Conferncia Mundial sobre Ambiente Humano. A Conferncia de Estocolmo reuniu, pela primeira vez, a comunidade cientfica mundial para discutir a relao entre ambiente e desenvolvimento econmico. Desta conferncia resultou a Declarao de Estocolmo e a criao do Programa das Naes Unidas para o Ambiente (PNUA), sedeado em Nairbi. A Declarao de Estocolmo convida os governos e os cidados a empenharem-se num esforo comum para preservar e melhorar o meio ambiente, em benefcio de todos os povos e das geraes futuras (UNEP, 1972). Em 1982, o PNUA promoveu um encontro para avaliao dos dez anos ps-Estocolmo que resultou na criao, em 1983, da Comisso Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento (WCED, sigla em ingls). Em 1987 publicado o Relatrio da WCED, Our Common Future, construdo sobre o que tinha sido alcanado em Estocolmo. Deste relatrio, que ficou conhecido como Relatrio Brundtland, surgiu a definio politicamente mais significativa de todas as definies de desenvolvimento sustentvel (Vogler, 2007). Desenvolvimento sustentvel o "(...) desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das geraes vindouras satisfazerem as suas prprias necessidades" (WCED, 1987). Este conceito de desenvolvimento sustentvel, que se tornou o mais popular, no deixa de ser ambguo pela carga conceptual que encerra: desenvolvimento que implica um crescimento econmico perptuo, e sustentvel entendido como a garantia da sustentabilidade dos recursos naturais (Duarte Santos, 2007). O desenvolvimento sustentvel surge, assim, como um contraste ao modelo de desenvolvimento tradicional baseado no crescimento econmico infinito e em recursos11

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

ilimitados. O que est em jogo mais do que apenas um novo programa econmico ou apenas mais um conceito emanado das preocupaes ambientais ou da conservao da natureza (Pawlowski, 2007). O progresso rumo ao desenvolvimento sustentvel est fundamentalmente ligado integrao das componentes econmicas, ecolgicas e sociais a todas as escalas do global para o local (Fahy et al., 2007). O Relatrio Bruntland identifica trs principais princpios interligados e

interdependentes: a eficincia ambiental, a justia social inter e intrageracional e a participao na tomada de deciso (Jansen, 2003). Existem inmeras definies de desenvolvimento sustentvel no existindo um consenso sobre o mesmo, no entanto, parece haver uma questo central comum: o caminho pelo qual os frutos do desenvolvimento so partilhados pelas geraes futuras (Atkinson et al., 2007). No pretendendo apurar qual a melhor definio para o conceito adopta-se a proposta da Comisso para o Desenvolvimento Sustentvel das Naes Unidas (CDS/ONU) que considera existirem quatro dimenses fundamentais que contribuem para o desenvolvimento sustentvel: a dimenso institucional, a dimenso econmica, a dimenso social e a dimenso ecolgica. Segundo Ferro et al. (2004) as quatro dimenses podem ser definidas como: i) Dimenso institucional: funcionamento e estrutura das instituies pblicas, cvicas e da sociedade civil (v.g., Organizaes No Governamentais - ONG) quer ainda no campo do sector privado e das empresas; ii) Dimenso econmica: conseguir o progresso econmico sem pr em causa as condies de vida das populaes e os recursos naturais. Para tal, o desenvolvimento econmico ter de basear-se num uso mais racional e eficiente das matrias-primas e dos recursos naturais em geral e, simultaneamente, manter estruturas e capacidades sociais que possibilitem a actividade produtiva; c) Dimenso social: a melhoria das condies sociais implica uma generalizao a toda a humanidade (incluindo as geraes futuras) de patamares de bem-estar social e condies de vida dignos mas conciliveis com a preservao de recursos. Trata-se, afinal, de promover a igualdade de oportunidades e uma distribuio mais equitativa dos recursos, do bem-estar e da qualidade de vida. O desenvolvimento social ser tanto mais sustentvel quanto maior for o uso eficiente, equitativo e racional dos recursos, pelo que a mudana de comportamentos se tornou um dos principais objectivos; d) Dimenso ecolgica: refere a conservao da base de sustentao da vida no planeta e, consequentemente, da prpria sociedade humana. Esto envolvidas, neste caso, a proteco ambiental, a preservao da biodiversidade, a limitao da poluio12

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

ambiental e a gesto equilibrada de recursos renovveis e no renovveis. Pretende-se que as capacidades de carga e de regenerao do planeta sejam levadas em conta, sublinhando os limites que, a serem ultrapassados, podero pr em causa as possibilidades de desenvolvimento econmico e social e, em ltima anlise, a sobrevivncia da prpria humanidade. Estas dimenses interagem numa dinmica de interdependncias que implica que qualquer alterao ou desenvolvimento numa delas se repercutir sempre, de algum modo, nas restantes. O desenvolvimento sustentvel , assim, um processo dinmico de transformao (Soromenho-Marques, 2005) que tem implcito um compromisso de solidariedade para com as geraes do futuro no sentido de assegurar a transmisso do patrimnio capaz de satisfazer as suas necessidades. Implica a integrao equilibrada dos sistemas econmico, scio-cultural e ambiental e dos aspectos institucionais relacionados com o conceito actual de governncia (Farinha, 2005). A governncia pretende ser uma nova resposta para novas preocupaes, uma soluo diferente para problemas especiais (...) atravs de formas menos autoritrias, hierarquizadas e formalizadas, das quais se espera uma maior legitimidade e eficcia, mas tambm maior responsabilizao, partilha, coerncia, etc. (Arago, 2005 in DGOTDU, 2009).

2.2. A Agenda 21 Local

2.2.1. Origem e Percurso na Europa A Conferncia das Naes Unidas subordinada ao tema Ambiente e Desenvolvimento (CNUAD) realizada em 1992 no Rio de Janeiro, tambm conhecida como Cimeira do Rio, consagrou o desenvolvimento sustentvel como um desgnio global. Vinte anos aps Estocolmo a Conferncia do Rio interligou definitivamente as questes do ambiente e do desenvolvimento e concentrou a ateno mundial na necessidade de promover o desenvolvimento sustentvel escala global. A Cimeira do Rio marcou o grande impulso poltico e lanou as fundaes do desenvolvimento sustentvel atravs do estabelecimento de um amplo acordo entre os vrios governantes envolvidos, a Agenda 21. A Agenda 21, o Programa de Aco para o Desenvolvimento Sustentvel Global, constitudo por quarenta captulos distribudos por quatro seces: Dimenses Sociais e Econmicas; Conservao e Gesto dos Recursos para o Desenvolvimento; Reforo do Papel dos Principais Parceiros e Meios de Implementao. A Agenda 21 visa estabelecer a coordenao, ao nvel internacional, de uma srie de resolues conducentes obteno de um tipo de desenvolvimento que possa vir a ser sustentvel no sculo XXI, representando, de certa maneira o consenso13

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

internacional, obtido at ao momento, sobre as aces necessrias para mover o mundo no sentido da meta proposta (Arrais da Costa, 2000). O Captulo 28 dedicado Agenda 21 Local (UNCED, 1992). Os protagonistas desta nova parceria global para o desenvolvimento sustentvel so os governos centrais, as administraes locais, grupos de interesse, ONGs e a sociedade civil. Todos so chamados a intervir. O Captulo 28 da Agenda 21 apela s autoridades locais e atribuilhes a responsabilidade da implementao do desenvolvimento sustentvel a nvel local: Porque muitos dos problemas e solues tratados na Agenda 21 tm as suas razes nas actividades locais, a participao e cooperao das autoridades locais ser um factor determinante na realizao dos seus objectivos. As autoridades locais constroem, operaram e mantm as infra-estruturas econmicas, sociais e ambientais, estabelecem as polticas e os regulamentos ambientais e auxiliam na implementao de polticas ambientais nacionais e subnacionais. Como o nvel de governo mais prximo do povo, desempenham um papel vital na educao, mobilizao e resposta ao pblico, para promover o desenvolvimento sustentvel. (UNCED, 1992). Esta uma declarao breve mas eficaz do papel dos governos locais na promoo da sustentabilidade ao nvel municipal (Selman & Parker, 1999). A Agenda 21 apela participao e envolvimento de todos na construo de comunidades mais sustentveis, cabendo s autoridades locais o dever de a iniciar: Cada autoridade local deve iniciar um dilogo com os seus cidados, organizaes locais e empresas privadas e elaborar uma Agenda 21 local. Atravs de consulta e de consenso, as autoridades locais ouviro os cidados e as instituies locais, cvicas, comunitrias, organizaes empresariais e industriais, a fim de adquirir os conhecimentos necessrios para formular as melhores estratgias. (UNCED, 1992). Este um apelo s autoridades locais de cada pas para que desenvolvam um processo consultivo e consensual com as suas comunidades sob a forma de uma verso local da Agenda 21, a Agenda 21 Local (CIVITAS, 2000). A Agenda 21 Local nasce, assim, da constatao de que o nvel local, por estar mais prximo das comunidades, dos seus problemas e dos seus interesses e solues, ganha uma importncia acrescida na implementao do desenvolvimento sustentvel a nvel local. Segundo Farinha (2005), o grande objectivo da Agenda 21 Local alcanar comunidades sustentveis, ou seja, comunidades com uma economia local forte e vivel; socialmente justas, inclusivas e em paz; eco-eficientes; com governncia; capazes de enfrentar a adversidade. Este modelo de desenvolvimento integra os aspectos ambientais, sociais e econmicos, tendo por elemento central a participao e o envolvimento dos actores locais (Figura 2.1).

14

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

GOVERNNCIA Transparncia e credibilidade Participao e envolvimento dos actores locais Redes e partilha de informao Economia local forte e vivel Eco-eficincia Conhecimento, tecnologia e inovao

EconomiaScio Economia

Economia Ambiental

Proteco dos recursos naturais e do ambiente Equidade geracional Combate degradao ambiental Biodiversidade Alteraes climticas

DS

Ambiente

Scio Ambien tal

Sociedade

Comunidades socialmente justas, inclusivas e em paz Emprego e qualificao Combate pobreza Capital social

Figura 2.1: Integrao das quatro componentes do desenvolvimento Sustentvel. Fonte: Farinha, 2005.

A Agenda 21 Local pode, ento, ser definida como um processo dinmico em que as autoridade locais trabalham em parceria com todos os sectores da sociedade na elaborao e implementao de um Plano de Aco de longo prazo tendo por objectivo alcanar comunidades sustentveis (Farinha, 2005).

O Percurso da Agenda 21 Local na Europa Na Europa, o grande passo para a implementao da Agenda 21 Local (A21L) foi dado com a realizao da Primeira Conferncia Europeia de Cidades e Vilas Sustentveis (CECVS) que decorreu em 1994 na cidade de Aalborg, na Dinamarca, e que deu incio Campanha Europeia das Cidades e Vilas Sustentveis. Durante a CECVS os participantes discutiram e aprovaram a Carta das Cidades e Vilas Europeias para a Sustentabilidade a Carta de Aalborg o documento fundador da Campanha. Com a assinatura da Carta de Aalborg, as cidades, vilas e unidades territoriais da Europa comprometem-se a desenvolver e a implementar a sua prpria Agenda 21 Local (ESCTC, 1994). O processo do tipo botton-up, no qual os actores locais so activamente envolvidos no planeamento e implementao da Agenda 21 local atravs de processos de participao pblica. A Agenda 21 Local resulta, assim, num programa de aco estratgico contendo os princpios para a aco, os objectivos a alcanar, os projectos ou aces a desenvolver e os meios necessrios para a sua concretizao (Farinha, 2005).

15

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

A Segunda Conferncia Europeia de Cidades e Vilas Sustentveis decorreu em Lisboa em 1996. Desta Conferncia resultou o Plano de Aco de Lisboa (da Carta Aco) que traduz os princpios da Carta de Aalborg em aces concretas (CIVITAS, 2000). Quatro anos volvidos, os municpios voltaram a juntar-se para a Terceira Conferncia Europeia de Cidades e Vilas Sustentveis em Hanver (2000), Alemanha. Desta reunio resultou a Declarao de Hanver dos Presidentes de Municpios Europeus Na Viragem para o Sculo XXI para avaliar os progressos das cidades rumo sustentabilidade e para chegar a acordo na direco a seguir na viragem do sculo XXI (ESCTC, 2003). Assinalando os dez anos sobre a Carta de Aalborg realizou-se em 2004, na cidade de Aalborg, a Quarta Conferncia Europeia de Cidades e Vilas Sustentveis sob o tema Inspirando o Futuro Aalborg +10. Desta Conferncia resultaram os Compromissos de Aalborg, uma ferramenta til s autoridades locais que decidam enfrentar os desafios do desenvolvimento sustentvel e que chamem a si a responsabilidade de assegurar no seu territrio esse desenvolvimento (ESCTC, 2004). Esta Conferncia constitui um passo decisivo na concretizao da Carta Aco. Os Compromissos de Aalborg so inspirados na Carta de Aalborg e estabelecem orientaes flexveis e uma abordagem integrada e transversal dos problemas locais. O processo exige vrios passos integrados que vo desde a caracterizao do estado do desenvolvimento local, ao estabelecimento de metas e monitorizao e avaliao do processo, o chamado Ciclo de Sustentabilidade (Figura 2.2).Pr-DiagnsticoDocumento central:

Relatrio do Estado do DS Local

Avaliao e ComunicaoDocumento central:

Fixao de MetasDocumento central:

Relatrios de Avaliao e Progresso

Objectivos e Metas da Sustentabilidade

Implementao e MonitorizaoDocumento central:

Compromisso PolticoDocumento central:

Plano de Aco para a Sustentabilidade

Aprovao Poltica do Documento

Figura 2.2. O Processo de Implementao dos Compromissos de Aalborg. Fonte : The Aalborg CommitmentsImplementation Guide; ICLEI, 2006.

A primeira etapa do ciclo de sustentabilidade consiste na caracterizao do estado do desenvolvimento local de acordo com os 10 Compromissos (ESCTC, 2004): 1. Governncia; 2. Gesto local para a sustentabilidade; 3. Bens comuns naturais;

16

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

4. Consumo responsvel e opes de estilos de vida; 5. Planeamento e desenho urbano; 6. Melhor mobilidade, menos trfego; 7. Aco local para a sade; 8. Economia local dinmica e sustentvel; 9. Equidade e justia social; 10. Do local para o global. Os Compromissos de Aalborg esto sistematizados em 50 rubricas de anlise, cinco por cada um dos compromissos. A segunda etapa dos Compromissos de Aalborg consiste em dinamizar um processo participativo para o estabelecimento de metas e objectivos a atingir em horizontes temporais determinados. Segue-se o Compromisso Poltico da Autoridade Local, a Implementao, Monitorizao e Avaliao. Em 2007 o ICLEI lanou um guia de implementao dos Compromissos de Aalborg2 que visa apoiar e dotar os signatrios de conhecimentos, recursos e outras ferramentas para facilitar a sua implementao. Neste mesmo ano, realizou-se em Sevilha a Quinta Conferncia Europeia de Cidades e Vilas Sustentveis de onde saiu o Esprito de Sevilha, a reafirmao do compromisso dos governos locais com o desenvolvimento sustentvel e os Compromissos de Aalborg (ESCTC, 2007). A Sexta Conferncia de Cidades e Vilas Sustentveis est agendada para Maio de 2010 na cidade de Dunquerque, em Frana. Esta Conferncia ir explorar como a sustentabilidade local pode representar uma resposta actual conjectura econmica, social e ambiental e como pode continuar a ser implementada a nvel europeu no mbito do actual quadro financeiro e poltico. Ser tambm uma oportunidade nica para avaliar o progresso e os resultados locais no campo do desenvolvimento sustentvel3. A Figura 2.3 apresenta os principais marcos da Campanha Europeia de Cidades e Vilas Sustentveis iniciada em 1994 na cidade dinamarquesa de Aalborg.

2 3

Disponvel em Local Sustainability: http://www.localsustainability.eu/index.php?id=4260 Retirado de http://www.iclei-europe.org/index.php?id=6058 17

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

Campanha Europeia de Cidades e Vilas Sustentveis

1. Conferncia Europeia de Cidades e Vilas Sustentveis 2. Conferncia Europeia de Cidades e Vilas Sustentveis

Aalborg, 1994

Carta de Aalborg

Lisboa, 1996

Plano de Aco de Lisboa

3. Conferncia Europeia de Cidades e Vilas Sustentveis 4. Conferncia Europeia de Cidades e Vilas Sustentveis

Hanver, 2000

Declarao de Hanver

Aalborg, 2004

Compromissos de Aalborg

5. Conferncia Europeia de Cidades e Vilas Sustentveis

Sevilha, 2007

Esprito de Sevilha

6. Conferncia Europeia de Cidades e Vilas Sustentveis

Dunkerque, 2010

?????

Figura 2.3 Marcos histricos da Campanha Europeia de Cidades e Vilas Sustentveis.

At data de 31 de Agosto de 2009, mais de 2700 governos locais de cerca de 40 pases europeus assinaram a Carta de Aalborg4 comprometendo-se com os seus objectivos e integrando a Campanha Europeia das Cidades e Vilas Sustentveis, a maior iniciativa europeia para a sustentabilidade a nvel local (CIVITAS, 2000).

2.2.2. O Processo de Elaborao A tarefa de implementao do desenvolvimento sustentvel a nvel global foi deixada aos governos locais pela proximidade ao territrio, populao e aos seus problemas, interesses e solues. Da Cimeira Mundial sobre Desenvolvimento Sustentvel (CMDS) realizada em Joanesburgo, em 2002, surgiu a Declarao de Joanesburgo que reitera a importncia dos governos locais na implementao do desenvolvimento sustentvel e o reconhecimento que o local e o global esto interligados e so interdependentes5. O xito da Agenda 21 a nvel global s se conseguir atingir atravs do xito ao nvel local. Deste modo, reconhece-se que o mbito local tem responsabilidades sobre o global e viceversa devido interrelao existente entre os processos globais e as aces locais (Selman, 1998).

4 5

Consultado em http://www.aalborgplus10.dk/media/short_list_18-02-2009_1_.pdf http://www.iclei-europe.org/fileadmin/user_upload/Advocacy/Local_Government_Declaration.pdf 18

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

Nvel Global

Nvel Local

Figura 2.4 Interdependncia entre o local e o global.

A Agenda 21 Local actua sobre os principais problemas de uma comunidade dos quais depende o bem-estar presente mas tambm o bem-estar das geraes futuras. Estas necessidades incluem problemas relacionados com o ambiente e o desenvolvimento, o consumo e a produo, as atitudes e os comportamentos individuais e colectivos. A cooperao internacional, nacional, regional e local e o comprometimento poltico ao mais alto nvel so elementos chave que suportam e complementam os esforos nacionais (Garcia-Sanchz & Prado-Lorenzo, 2008) e os processos de Agenda 21 Local. A Agenda 21 Local procura mobilizar todas as capacidades institucionais e da sociedade civil locais num processo transparente, eficiente, construtivo e virado para a aco tendo por objectivo fundamental aumentar a qualidade de vida da populao presente sem hipotecar a qualidade de vida das geraes futuras (Farinha, 2005). A Agenda 21 Local no segue normas nem padres rgidos nem existem receitas para a sua implementao. No entanto, deve ser baseada num processo que envolve i) o compromisso dos vrios intervenientes do territrio na preparao de um plano de aco de longo prazo visando o desenvolvimento sustentvel; ii) a consulta comunidade e s organizaes de mbito local; iii) o diagnstico participado das condies sociais, econmicas e ambientais e das necessidades locais; iii) a construo participada da viso e dos objectivos locais; e iv) a realizao de processos de acompanhamento e de avaliao, assim como, de informao do processo (Selman, 2000). O processo da Agenda 21 Local tem uma abordagem diferente dos modos tradicionais de planeamento. Ela abrangente, estratgica, focada no prioritrio, centrada na qualidade de vida da comunidade local, virada para a aco, participada, geradora de parcerias e fcil de entender e atraente para o cidado comum (Farinha, 2005). O mesmo autor acrescenta ainda que a Agenda 21 Local coloca as perguntas fundamentais sobre o futuro da comunidade local e procura as respostas estratgicas em parceria com toda a comunidade para chegar a projectos e aces concretos. O Plano de Aco da Agenda 21 Local, o seu principal documento, um compromisso local (estabelecido entre

19

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

os agentes institucionais e a sociedade civil), assumido atravs de consensos e parcerias, para a implementao do Plano rumo ao desenvolvimento sustentvel.

O Ciclo de Planeamento da Agenda 21 Local Farinha (2005), considera que existem quatro fases principais no ciclo de Planeamento da Agenda 21 Local: Fase 1: a Elaborao da Agenda 21 Local, onde se inclui a construo da viso, a definio dos objectivos e da estratgia, o plano de aco e as respectivas fichas de aces prioritrias. Fase 2: a Implementao, em que se tomam decises guiadas pela estratgia e se implementam as aces no terreno. Fase 3: a Avaliao, em que se medem e monitorizam os resultados alcanados e se comparam os resultados com as metas e objectivos prestabelecidos. Fase 4: de Aprendizagem, em que se aumentam os conhecimentos e se melhoram as capacidades dos diversos intervenientes relativamente A21L. A Figura 2.5 esquematiza as quatro fases do processo da Agenda 21 Local.4 . A u m e n t a r a s C a p a c id a d e s e C o n h e c im e n t o s c o m a A 2 1 LC a p a c id a d e s In s t it u cio n a is p a ra o D e s e n v o lv im e nt o S u s t e n t v e l (D S ) C a p a c id a d e s S o c ia is p a ra o D S

1 . E la b o r a r a A 2 1 LC ria r a E s t ru t u ra d e G e s t o D ia g n s t ic o e V e c t o re s E s tra t g ic o s P ro p o s t a d e P la n o d e A c o

43 . A v a lia r a A 2 1 LM o n it o ra r e m e d ir re s u lt a d o s C o m p a ra r re s u lt a d o s e m e ta s D iv u lg a r re s u lt a d o s d e a v a lia o

1 22 . I m p le m e n t a r a A 2 1 LA d o p t a r in c re m e n t a lism o p ra g m tico C o n c re t iz a r a c e s e p ro je c to s C o m u n ic a r o s b o n s re su lt a d o s

3

Figura 2.5 - Esquema das quatro fases do processo de planeamento da Agenda 21 Local.Fonte: (Farinha, 2005).

As quatro fases esto esquematizadas num crculo do tipo "bolo de quatro fatias" em que todas as fatias tm um tamanho igual, cabendo ao gestor do processo decidir, de acordo com a realidade local e a abordagem escolhida, a dimenso (durao temporal, recursos envolvidos) a atribuir a cada uma das fases, permitindo flexibilizar o processo metodolgico (Farinha, 2005).

20

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

De acordo com este planeamento, a fase inicial do processo a Elaborao da Agenda 21 Local. Esta fase deve comear por mobilizar os quadros tcnicos e os eleitos locais atravs da realizao de uma sesso de apresentao ao executivo municipal, devendo ser criada uma Estrutura de Gesto da Agenda 21 Local de modo a ancorar o processo no interior da autarquia. Esta Estrutura de Gesto, constituda por eleitos e por tcnicos dos vrios departamentos / divises da autarquia, ter por misso a gesto e coordenao tcnica do processo no interior da autarquia, devendo estar prxima ou na dependncia do Presidente da Cmara. Caber a esta estrutura a identificao do Quadro de Actores Locais, constitudo pelos principais intervenientes no territrio (ex. empresas, instituies educativas, culturais, desportivas, religiosas, associaes e organizaes locais, lderes de opinio e cidados) que devero ser mobilizados desde o incio e ao longo de todo processo (Farinha, 2005). Alm desta estrutura interna deve ser institudo o Frum de Actores que pode ter um formato varivel (plenrio ou sectorial) e constitudo pelos actores locais mais relevantes, sendo por excelncia o seu espao de participao (Farinha, 2005). Alguns autores tambm se referem constituio de um Frum com representantes da autarquia e de vrios grupos sociais com responsabilidades e competncias bem definidas no processo da Agenda 21 Local (UCP, 2002; DGOTDU, 2000). A Figura 2.6 esquematiza a Estrutura Organizativa de Apoio Agenda 21 Local (EOA-A21L).

ESTRUTURA ORGANIZATIVA DE APOIO AGENDA 21 LOCAL

Estrutura de Gesto da A21L (EGA21L) Eleitos locais e tcnicos dos vrios departamentos/divises da autarquia

Frum de Actores Locais Plenrio ou Sectorial

INTERNO

EXTERNO EXTERNO

Grupo Tcnico Interdepartamental

Equipa Tcnica

Figura 2.6 Estrutura organizativa de Apoio A21L. Fonte: Farinha, 2005.

Ainda nesta fase inicial devem ser delineados o Plano de Participao e o Plano de Comunicao. Do Plano de Participao fazem parte os Fruns, a realizao de questionrios populao e de entrevistas aos actores locais mais relevantes, a anlise de notcias e de documentos existentes, o envolvimento das escolas, a promoo do voluntariado, entre outros. O Plano de Comunicao muito importante para dar21

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

visibilidade e credibilidade ao processo e envolve a divulgao de contedos e de aces a desenvolver em jornais e revistas locais, pela Internet (nomeadamente usando o stio do municpio), a utilizao de folhetos e cartazes colocados em pontos estratgicos (Juntas de Freguesia, locais e espaos de encontro, paragens de autocarro), a criao de uma newsletter com tiragem regular, entre outros. Para a elaborao do Pr-diagnstico do Estado de Desenvolvimento Sustentvel Local (Figura 2.7) vo contribuir os resultados dos questionrios, das entrevistas, da leitura de documentos j existentes, da observao directa da realidade local pela equipa tcnica do plano, da constituio de SWOTs (Farinha, 2005). Este diagnstico deve ser incisivo procurando captar os conhecimentos e as perspectivas dos actores locais mais relevantes.Pr-Diagnstico do Desenvolvimento Sustentvel Local

Entrevistas a Actores Locais Chave

Questionrios em todas as Freguesias

Observao Directa da Realidade

SWOT para cada Freguesia

SWOT para o Concelho

1. Frum

Figura 2.7 Elementos para a realizao do pr-diagnstico da A21L. Fonte: Farinha, 2005.

No primeiro momento forte de participao, o Frum inicial, os participantes so convidados a construir a viso de futuro por eles desejada para o concelho e a identificarem os principais Vectores Estratgicos. A viso de futuro exprime de forma sucinta e partilhada os objectivos de qualidade de vida a longo prazo desejados para o concelho. Sendo reconhecida por todos tem a virtude de permitir, em qualquer situao, apontar a direco em que se deve caminhar independentemente do tempo que o percurso possa demorar (UCP, 2002). Neste primeiro Frum os participantes elegem os vectores estratgicos, constroem a viso de futuro desejada e propem aces para caminharem da situao actual para o futuro desejado. Os vectores e as aces propostas pelos participantes devem ser respeitadas tanto quanto possvel, no entanto, devero ser alvo de concertao e de ajustamento, de forma a garantir aspectos de carcter tcnico, regras de boa prtica e objectivos gerais do desenvolvimento sustentvel (Farinha, 2005). Depois de consolidados os vectores, elaborado um Diagnstico Selectivo para cada um deles, de forma a caracterizar a situao actual e a identificar os principais projectos22

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

existentes no tema e os actores mais relevantes, colocando em destaque as iniciativas locais de mrito (Farinha, 2005). Os diagnsticos selectivos so validados em sesses de participao pblica, uma por vector, onde os participantes so convidados a sugerir aces que intervenham no tema em discusso e que contribuam para o desenvolvimento sustentvel do concelho.

Vectores Estratgicos e Diagnstico Selectivo por Vector

4 ou 5 Vectores Prioritrios

Diagnstico Selectivo por Vector

4 ou 5 Sesses de Participao, uma por cada vector

Identificao de Linhas de Interveno para a Aco

Figura 2.8 Elaborao do Diagnstico Selectivo por Vector da A21L. Fonte: Farinha, 2005.

Estas e outras aces propostas pela equipa tcnica do plano constituiro o Plano de Aco da Agenda 21 Local. Cada proposta de aco deve ser sistematizada numa ficha contendo os objectivos, o contedo detalhado e as suas sub-aces, o tipo de aco, os meios humanos e financeiros necessrios para a sua concretizao, os parceiros envolvidos, o prazo para a sua implementao, o enquadramento em programas de financiamento e um balano dos pontos fortes e fracos da aco (Figura 2.9).TTULO DA PROPOSTA DE ACO Objectivos: Identificao dos fins a atingir com a aco proposta. Contedo: Resumo do contedo da proposta de aco. Tipo de Aco: Indicao do tipo de interveno: estudo, plano, projecto de execuo, obra, actividade organizativa, etc. Instrumentos e meios a utilizar: Explicitao dos instrumentos e meios a utilizar para realizar a aco. Parceiros: Identificao dos parceiros a envolver para a concretizao da aco e descrio das responsabilidades a atribuir aos diversos parceiros, tcnicos e financeiros. Prazo de Execuo: Estimativa dos prazos necessrios para implementar a aco. Custos: Se possvel, uma estimativa dos custos e outros recursos necessrios para realizar a aco. Enquadramento em Programas de Financiamento: Identificao de possveis fontes de financiamento, nomeadamente de mbito comunitrio. Principais Pontos Fracos da Aco: Descrio das principais ameaas realizao da aco ou dos pontos crticos a dedicar especial ateno. Principais Pontos Fortes da Aco: Identificao dos oportunidades e os principais apoios que potenciam a aco. principais mritos, principais

Figura 2.9 - Exemplo de um Ficha de Aco.

23

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

Estas aces devero ser articuladas com todos os departamentos/divises da autarquia para que no surjam aces duplicadas e para envolver os vrios tcnicos e decisores internos. Esta afinao das propostas tambm deve ser concertada e articulada com os principais actores locais, sobretudo nos aspectos em que se prev o seu envolvimento na sua implementao e concretizao (Farinha, 2005). O documento final, o Plano de Aco da Agenda 21 Local que contm as linhas estratgicas e as propostas de aco, deve ser apresentado para debate, validao e atribuio de prioridades de interveno ao plenrio do Frum de actores. A fase de elaborao termina, assim, com a obteno do documento mais importante da Agenda 21 Local, o seu Plano de Aco. A Fase 2, Implementar a Agenda 21 Local, sem dvida a mais difcil porque necessrio alocar meios e recursos e desenvolver estratgias de aco: a passagem Aco 21 Local. O Grupo Tcnico Interdepartamental (GTI) a estrutura que dever dinamizar e impulsionar a implementao do Plano de Aco j que integra vrios sectores de competncias e atribuies na autarquia permitindo uma abordagem sistmica e a integrao dos desafios do desenvolvimento sustentvel. O GTI, alm de dinamizar e impulsionar internamente, dever envolver tambm os parceiros na implementao de aces concretas com a formao de parcerias pblico-privado envolvendo o tecido empresarial local e regional. Numa fase inicial, podem ser adoptadas aces que j estejam numa fase adiantada que cumpram os critrios de sustentabilidade e que se insiram nos objectivos da Agenda 21 Local (Farinha, 2005). Nesta fase, o estabelecimento de parcerias assegura a implementao das aces criando situaes ganhadoras para o sistema natural, social e econmico local. necessrio dar visibilidade s aces implementadas para reforar a adeso ao processo por parte da comunidade, celebrando os sucessos conjuntos e reconhecendo o esforo e o trabalho de todos os actores locais envolvidos. A Fase 3 do processo a fase de Avaliao e Monitorizao que tem como objectivo avaliar a implementao do Plano de Aco e analisar os resultados de modo a perceber como estamos perante os objectivos e as metas estabelecidas inicialmente (Farinha, 2005). Esta avaliao deve espelhar o local e deve ser construda de forma participada procurando obter o consenso dos actores locais. Os critrios a adoptar devem ser slidos e transparentes. Para a monitorizao do processo fundamental a definio de um painel de indicadores que indique a evoluo da A21L, o seu grau de implementao e os desvios em relao s metas estabelecidas ajudando a aferir a necessidade de introduzir ajustamentos nas medidas tomadas.

24

Agenda 21 Local. O Caso de Estudo do Norte Alentejano.

Os indicadores devem (UCP, 2002): Ser relevantes para a comunidade local; Reflectirem os princpios da sustentabilidade; Estabelecer uma relao com a meta que se pretende atingir e avaliar; Ser facilmente compreensveis; Ser mensurveis de uma forma prtica e regular; Ser econmica e humanamente viveis.

Os indicadores adoptados podero basear-se nos principais sistemas de indicadores existentes em Portugal, como o Sistema de Indicadores de Desenvolvimento Sustentvel (SIDS - Portugal)6 e os indicadores de monitorizao do Plano de Implementao da Estratgia Nacional de Desenvolvimento Sustentvel (PIENDS). Para que este processo evolua, necessrio avaliar de que modo os municpios e os seus lderes polticos esto a incorporar a Agenda 21 Local. Esta avaliao poder ser feita ao processo em si e/ou ao grau de implementao do Plano de Aco a nvel local. Para a avaliao do processo, destaca-se a ferramenta Local Evaluation 21, que resultou do projecto de investigao Auto-Avaliao da Agenda 21 Local das Autoridades Locais (LASALA), financiado pela Unio Europeia e liderado pelo ICLEI, tendo sido a FCT/UNL um dos parceiros deste projecto. O projecto LASALA um ferramenta de autoavaliao que mede o nvel de implementao da A21L nos municpios europeus (Evans & Theobald, 2003). Esta ferramenta gratuita e est disponvel na Internet (http://www.localevaluation21.org) em 20 lnguas diferentes, tendo o utilizador apenas que se registar. O Local Evaluation 21 um instrumento disponibilizado aos tcnicos e decisores polticos locais para avaliao da evoluo do desenvolvimento sustentvel baseado num conjunto de onze critrios de qualidade da Agenda 21 local, Local

internacionalmente aceites, de dez grupos de questes e de um sistema de clculo automtico. A cada resposta dada pela autarquia atribuda uma pontuao que gera, atravs do sistema de clculo automtico, um relatrio sobre o caso em anlise. Este mtodo de auto-avaliao est representado de forma esquemtica na Figura 2.10. O Relatrio da Auto-Avaliao sobre o processo permite autarquia a identificao das reas onde obteve maior sucesso e das que necessitam de uma maior ateno, de forma a alcanar os objectivos de desenvolvimento sustentvel local definidos a