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AGRICULTURA FAMILIAR E A PLURIATIVIDADE Regina Nogueira da Silva Professora Universitária Marcelo Rodrigo da Silva Neves Bacharel em Administração INTRODUÇAO Atualmente, a discussão direcionada a agricultura familiar, vem ganhando a cada dia a legitimidade social, política e acadêmica no Brasil, passando a ser utilizada com freqüência nos debates dos movimentos sociais rurais, pelos órgãos governamentais e também sendo debatida por segmentos do pensamento acadêmicos, principalmente por estudiosos das Ciências Sociais que ocupam e se preocupam com a agricultura e principalmente do mundo rural. Se comparada à tradição dos estudos sobre o tema em questão nos paises desenvolvidos, embora de forma tardia, a emergência da expressão “agricultura familiar” emergiu no contexto brasileiro a partir da década de l990. Neste período ocorreram a dois eventos que tiveram um impacto social e político muito significativo no meio rural, de forma especial na região Centro-sul. De um lado, no campo pol´tiico, a adoção da expressão parece ter sido encaminhada como uma nova categoria-sintese dos movimentos sociais do campo, capitaneados pelo sindicalismo rural ligado à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura. A AGRICULTURA FAMILIAR E TECNOLOGIA Todas as agriculturas praticas no Brasil são igualmente importantes para a pesquisa agropecuária. Se a diversidade de contextos – históricos, ecológicos, socioculturais, econômicos e policitos-institucinais – é constitutiva da realidade do País, não existe uma senão muitas agriculturas. Todas dão contribuições relevantes à sociedade, a partir do contexto singular que lhes coloca vários desafios, exige muitas funções, concede algumas potencialidades e impõe certos limites. Isso revela a complementaridade e interdependência dessas agriculturas. Entre elas, a agricultura familiar ocupa um lugar de destaque, cuja

AGRICULTURA FAMILIAR E A PLURIATIVIDADE - … · Juntos, esses mapas são úteis para apoiar a construção de cenários e tendências dos distintos biomas e da agricultura neles

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AGRICULTURA FAMILIAR E A PLURIATIVIDADE

Regina Nogueira da Silva Professora Universitária

Marcelo Rodrigo da Silva Neves

Bacharel em Administração

INTRODUÇAO

Atualmente, a discussão direcionada a agricultura familiar, vem ganhando a cada dia a

legitimidade social, política e acadêmica no Brasil, passando a ser utilizada com freqüência

nos debates dos movimentos sociais rurais, pelos órgãos governamentais e também sendo

debatida por segmentos do pensamento acadêmicos, principalmente por estudiosos das

Ciências Sociais que ocupam e se preocupam com a agricultura e principalmente do mundo

rural.

Se comparada à tradição dos estudos sobre o tema em questão nos paises

desenvolvidos, embora de forma tardia, a emergência da expressão “agricultura familiar”

emergiu no contexto brasileiro a partir da década de l990. Neste período ocorreram a dois

eventos que tiveram um impacto social e político muito significativo no meio rural, de forma

especial na região Centro-sul. De um lado, no campo pol´tiico, a adoção da expressão parece

ter sido encaminhada como uma nova categoria-sintese dos movimentos sociais do campo,

capitaneados pelo sindicalismo rural ligado à Confederação Nacional dos Trabalhadores na

Agricultura.

A AGRICULTURA FAMILIAR E TECNOLOGIA

Todas as agriculturas praticas no Brasil são igualmente importantes para a pesquisa

agropecuária. Se a diversidade de contextos – históricos, ecológicos, socioculturais,

econômicos e policitos-institucinais – é constitutiva da realidade do País, não existe uma

senão muitas agriculturas. Todas dão contribuições relevantes à sociedade, a partir do

contexto singular que lhes coloca vários desafios, exige muitas funções, concede algumas

potencialidades e impõe certos limites. Isso revela a complementaridade e interdependência

dessas agriculturas. Entre elas, a agricultura familiar ocupa um lugar de destaque, cuja

institucionalidade ocorreu com a Lei nr 11.322 de 24 de julho de 2006, Lei da Agricultura

Familiar.

A definição legal conceitua o agricultor familiar ou empreendedor rual como aquele

que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, a quatro requisitos, quais

sejam:

Não tenha, a qualquer título, área maior do que quatro módulos fiscais

Utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades

econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento

Tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas

vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento.

Dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.

Desde o século passado, ciência e tecnologia tem sua presença garantida nas

atividades agropecuárias e florestais. Mais do que isso, estão intimamente imbricadas dentro e

fora das atividades no campo. A ciência moderna já não pode ser bem-sucedida sem as

contribuições instrumentais da tecnologia moderna, nem essa consegue dar saltos qualitativos

sem a contribuição teórica da primeira (BUSCH, 1984).

O processo de descobertas cientificas, ou de elaboração de tecnológicas, é algo

complexo e abrangente. Ele não é apenas composto de laboratórios, cientistas, tecnólogos,

balanças de precisão, reagentes, computadores e cadernos de anotações, entre outros, mas

também de personagens diversos como aliados, financiadores, empregadores, auxiliares e

sociais e institucionais, que nem sempre são comprometidos com todas as aspirações de

interação social para que os autores co-responsáveis pela relevância e pela governança da

agricultura brasileira, em geral, e da agricultura familiar, em particular possam influenciar o

desenvolvimento rural que mais interessa à sociedade.

A fama variada de elementos externos e internos à atividade cientifico tecnológica

dão bem uma noção das articulações necessárias para a obtenção de tecnologias, produtos e

serviços cada vez mais adequados às realidades dos seus consumidores. Tais articulações são

também fundamentais para o aumento do grau de percepção das instituições na busca de

soluções e novidades, novos produtos e processos. Diferentes análises das mudanças globais

que estão transformando a agricultura e o sistema alimentar mundial fundamentam tal

constatação. Esse é o caso de trabalho, tais como Friedlando et. Al (l991); Friedmann (l993);

Bonnano et al (l994), l995).

Ao mesmo tempo que contribui para a transformação da agricultura e do sistema

alimentar mundial, a própria atividade cientifico-tecnologica está sendo transformada no

mundo (NOWOTNY et al., 2001), como profundas implicações para as pesquisas

agropecuárias global (BONTE-FRIEDHEIM; SHERIDAN 1996), na América Latina

(CASTRO ET AL., 2005) E NO Brasil (LIMA et al., 2005), atingindo principalmente áreas

estratégicas para o desenvolvimento da agricultura, como o caso do melhoramento.

O ENFOQUE ECORREGIONAL

Os grandes biomas brasileiros, com seus respectivos ecossistemas e paisagens,

revelam a magnitude da complexidade e diversidade biológicas presentes em cada uma dessas

ecorregioes, limitando e, ao mesmo tempo, dando condições especificas para a ação

antrópica. A agricultura familiar e a tecnologia agropecuária praticadas nesses biomas

distintos não devem ignorar as especificidades de uso e de preservação desses diferentes

contextos.

Os biomas, ecossistemas e paisagens, não são apenas características de uma certa

estética territorial do mosaico brasileiro dadas pela natureza. Eles são, principalmente, fontes

primordiais de problemas e desafios, restrições e potencialidades, limites e oportunidades que

influenciam, em diferentes graus e distintas formas, quaisquer atividades florestais,

agropecuárias e agroindustriais ali praticadas. Além disso, são também fonte de inspiração e

de orientação para o desenvolvimento de inovações tecnológicas tão variadas quanto aos

contextos a que estas devem integrar e transformar.

As relações recíprocas entre natureza e sociedade, entre o meio natural e o cultural,

entre a idéia de influencia do meio ambiente sobre o homem e do homem como agente de

formação geográfica (GLACKEN, 1967) possuem um ponto de observaçao privilegiado nas

atividades relacionadas à agricultura.

A localização dos grandes biomas brasileiros não se cingem às regiões geográficas,

ou quaisquer critérios de ordem política. Eles simplesmente lá existem, fruto das

transformações, físicas e biológicas, por que passaram os continentes. Por meio de uma

frutífera parceria interinstitucional, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o

Ministério do Meio Ambiente (MMA) Desenvolveram o Mapa Biomas do Brasil, que se

junta à série Mapas Rurais, do I BGE, que in clui também o Mapa de Vegetação do Brasil.

Juntos, esses mapas são úteis para apoiar a construção de cenários e tendências dos distintos

biomas e da agricultura neles praticada.

O referido mapa conceitua bioma como “um conjunto de vida (vegetal e animal)

constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala

regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que

resulta em diversidade biológica própria”. São seis os biomas continentais no Brasil;

Amazonas (49,29%), Cerrado (23,92%), Mata Atlântica (ou Zonas Costeiras) (13,04%),

Caatinga (,9,92%), Pampa (2,07%) e Pantanal (1,76%).

Os nomes dados aos biomas são os mais usuais e populares. Eles procuram, ao

mesmo tempo, ser claro e coerente com o vocabulário empregado pela maioria das pessoas.

O Bioma Amazônia é definido pela unidade de clima, fisionomia florestal e

localização geográfica. Constitui a maior reserva biológica do planeta, é o maior bioma do

Brasil em extensão,k ocupa 2/5 da América do Sul (com sua área de 6,5 milhões de

quilômetros quadrados) e abriga a maior rede hidrográfica do mundo, que escoa cerca de 2/5

da América do Sul (com sua área de 6,5 milhões de quilômetros quadrados) e abriga a maior

rede hidrográfica do mundo, que escoa cerca de 1/5 do volume de água doce do planeta.

O Bioma Cerrado caracteriza-se, principalmente, por sua vegetação singular

(estepes, savanas). Ocupa a totalidade do Distrito Federal, mais da metade dos estados de

Goiás (97%), do Maranhão (65%), de Mato Grosso do Sul (61%), de Minas Gerais (57%) e

de Tocantins (91%), além de parte de outros seis estados da Federação.

O Bioma Mata Atlântica esta presente na faixa continental atlântica leste do País,

pela vegetação florestal predominante e relevo diversificado que se estendem para o interior

no Sudeste e Sul do Brasil. Ocupa integralmente três estados – Espírito Santo, Rio de Janeiro

e Santa Catarina – e 98% do Paraná, além de parte de outros 11 estados.

O Bioma Caatinga (Mata Branca, em tupi-guarani) é típico do clima semi-árido do

sertão nordestino. Ocupa a totalidade do Estado do Ceará e mais da metade da Bahia (54%),

da Paraíba (92%), de Pernambuco (83%), do Piaui (63%) e do Rio Grande do Norte (95%),

quase metade de Alagoas (48%) e Sergipe (49%), além de pequenas porções de Minas Gerais

(2%) e do Maranhão (1%).

O Bioma Pampa é caracterizado por sua vegetação e relevo de planície. Está

restrito ao Rio Grande do Sul, ocupando 63% do seu território.

O Bioma Pantanal brasileiro é assim denominada pelo fenômeno que o torna a

maior superfície inundável interiorana do planeta. Com seus 150.000 km2.

O desenvolvimento da agricultura familiar não segue um modelo universal ou

transversal a esses biomas. Isto é assim, principalmente, porque sua natureza e dinâmica são

contextuais. Dessa forma, o conhecimento profundo dos biomas (e de seus respectivos

ecossistemas e paisagens) onde a agricultura familiar se encontra localizada e praticada é

imprescindível de duas formas relevantes. No momento dos diagnósticos de problemas e

desafios, o contexto particular condicionado pela natureza e dinâmica de um bioma oferece

informações para compreender porque certo problema ou desafio se manifesta de forma

particular e não de outra maneira. Igualmente, no momento da concepção das soluções dos

referidos problemas e desafios, esse contexto singular oferece informações cruciais para

inspirar e orientar a construção de opções em correspondência - sintonia – com as realidades,

necessidades, saberes, experiências, histórias, desafios e aspirações locais.

Em resumo, um bioma não influencia apenas o desempenho das atividades

agrícolas, pecuárias, florestais e agroindustriais. Muito frequentemente, o conjunto dos

aspectos interdependentes envolvidos influenciam atré os modos de ser, sentir, pensar, fazer e

falar das pessoas. Frente à complexidades para os atores sociais e institucionais co-

responsáveis pelo desempenho das relações ciência, tecnologia e sociedade.

Da perspectiva da agroecololgia, a constituição de um bioma inclui

agroecossistemas, que devem ser compreendidos para permitir “o desenvolvimento de

sistemas que potencializem os fluxos e ciclos naturais para que eles interatuem em favor do

desempenho produtivo de cultivos e criações” (MARCO..., 2006, p.17). A sustentabilidade e

manejo dos agroecossistemas é a estratégia essencial da agroecologia.

O Marco Referencial em Agroecologia (MARCO..., 2006) busca ser uma das fontes

de inspiração e orientação para pesquisadores e outros atores comprometidos com a

agricultura familiar. A prática do referido marco exige mudança na visão de mundo de seus

seguidores, porque a complexidade da realidade requer enfoque sistêmico que valorize o

contexto. Essa visão holística – contextual – estimula, por exemplo, a multi, inter e

trandisciplinaridade, o diálogo de saberes entre o conhecimento cientifico e o conhecimento

tácito local dos agricultores familiares, a premissa de que os agricultores familiares não são

objetos senão sujeitos da pesquisa, a prevalência de pesquisas para a geração de tecnologias

de processo, a importância critica da agrobiodiversidade e a busca da sustentabilidade

socioambiental por meio da sustentabilidade da diversidade ecológica e cultural.

O CONCEITO DE EIXO TECNOLÓGICO ECORREGIONAL

O conceito de eixo tecnológico fundamenta-se na argumentação das influencias

mútuas entre natureza e sociedade, entre meio físico-natural e a ação antrópica. Ele é útil para

inspirar e orientar certas interpretações,k diagnósticos, prognósticos, políticas, planos,

estratégias e prioridades nas macrorregiões do Pais. No seu conjunto, tais eixos são utilizados

como parâmetros organizativo das tecnologias, exceto para aquelas cuja flexibilidade lhes dá

um caráter transversal, porque podem ser usadas com benefícios em dois ou mais eixos

ecorregionais.

Um eixo tecnológico ecorregional emerge da fusão entre as características de uma

ecorregiao que mais influenciam a natureza e a dinâmica das atividades agrícola, pecuária,

florestal, agrossilvipastorial, agroindustrial e comercial. Portanto, um eixo tecnológico

ecorregional refere-se ao conjunto coerente e dinâmico das complexas condições, relações e

significados ecoambientais, historio-culturais, socioeconômicos e político-institucionais que

emergem desta combinação entre região e domínios ambientais, e que dão identidade e

sentido às agriculturas aí praticadas.

O enfoque ecorregional não é o único nem necessariamente o mais importante

marco interpretativo da realidade das agriculturas de uma macrorregiao. Porém, é o marco

conceitual macro que permite compreender a fotografia geral a partir da qual as interpretações

particulares se inspiram e ganham coerência, por considerar primeiro a influencia critica das

múltiplas dimensões, fenômenos, fatores e razoes que prevalecem num certo contexto

regional.

Este enfoque é como um telescópio que, de uma distancia prudente e privilegiada,

oferece visão ampla e coerente do todo, sem dispensar a necessidade de visita-lo , usando até

lupas e microscópios, se for o caso para construir mapas específicos das várias paisagens

constitutivas do quebra-cabeça total. Fechando o foco metafórico, não passa de uma

fotografia aérea de uma floresta, que não dispensa a necessidade de fazer incursões no terreno

para distinguir os diferentes tipos de árvores que integram as distintas comunidades

silvestres constitutivas da identidade da referida floresta, sem falar da fauna que dela faz parte

e que, apesar de não poder ser observada na fotografia aérea, é indispensável para sua

conservação e reprodução.

A TRANSVERSALIDADE DAS TECNOLOGIAS E SUA IMPORTANCIA

ESTRATÉGICA

O eixo tecnológico ecorregonal é um artefato intelectual criado para facilitar a visão

da complexidade de uma região e de nela intervir para transforma-la. Contudo, ele não é

suficiente para delimitar um território exclusivo para determinadas tecnologias. Um eixo

ecorregional não existe de forma objetiva, no sentido de que qualquer um possa encontrar a

fronteira exata entre um eixo e outro, com uma linha clara e precisa que divide a

exclusividade de cada um deles. Ao contrário, as supostas fronteiras entre as regiões do Brasil

são emergência a realidades particulares que resultam da transição entre as principais

características de ambos. Todavia, assim côo existem tecnologias especificas para problemas

particulares, que ocorrem somente em certas partes de uma região, há também tecnologias

dirigidas a certas atividades, temas, aspectos e fenômenos que se reproduzem de forma

similar em duas ou mais regiões.

Assim, apesar da complexidade, diversidade e diferenças do território brasileiro,

algumas tecnologias, por suas próprias características, são relevantes em diferentes paisagens

de distintos ecossistemas de um mesmo bioma, e, eventualmente, em mais de um bioma.

Como ignorar a abrangência de tecnologias associadas a certas áreas criticas de

pesquisa para a produtividade, competitividade e sustentabilidade das agriculturas brasileiras,

incluindo a agricultura familiar? Como ignorar as contribuições atuais e potenciais das

pesquisas em áreas transversais estratégicas, tais como biotecnologia, nanotecnologia

administração rural, informática agropecuária, agroenergia, agroecologia, agrobiologia,

agrossilvicultura, agroecoturismo, zoenamento, qualidade funcional dos alimentos, segurança

alimentar e nutricional, máquinas, equipamentos e instrumentação? Nesse elenco estão áreas

ou dispositivos do que se considera tecnologias portadoras de futuro.

Entre outras implicações, a existência de tecnologias de caráter transversal deve

inspirar e orientar políticas, prioridades e estratégias tanto de pesquisa e difusão quanto de

apoio e financiamento para sua adoção em distintos biomas do território nacional. Diferente

de tecnologias com abrangência imitada a contextos específicos, as tecnologias transversais

permitem a formulação e implementação de políticas, planos, estratégias e prioridades

interregionais e, muitas vezes, nacionais.

Em outras palavras, as tecnologias transversais são de interesse de agricultores,

gestores, técnicos, pesquisadores e outros profissionais em várias regiões, porque o

conhecimento gerado na sua criação é essencial para inspirar e orientar outras ações de

pesquisa, transferência, formação e desenvolvimento. Tecnicamente, certas tecnologias desse

tipo permitem políticas de financiamento e programas de capacitação para sua transferência e

adoção, de caráter nacional, cuja implementação pode ocorrer em menos tempo e com baixo

custo.

Politicamente, elas podem facilitar a concepção integrada de políticas, planos e

programas para seu financiamento, transferência e adoção, cuja implementação requer a

colaboração entre os poderes federal, estaduais e locais. Institucionalmente, considerando a

globalização dos padrões internacionais do comercio global (BINGEN; BUSCH, 2006),

algumas dessas tecnologias contribuem ao melhor atendimento de determinadas leis, normas e

procedimentos associados aos momentos produtivo, industrial, comercial e de consumo da

agricultura brasileira. Socialmente, as tecnologias transversais beneficiam um número

ampliado de atores sociais, econômicos, políticos e institucionais em distintas regiões.

A PLURIATIVIDADE COMO ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL

A presença e generalização das atividades não agrícolas são fenômenos em curso em

vários paises do mundo. Conforme mencionado por Teixeira (l998), cerca de 40 a 60% das

explorações dos paises mais industrializados, obtém mais da metade de suas renda fora da

agricultura em l978. Nos Estados Unidos, atualmente, apenas l0% do pessoal ocupado no

meio rural vive da agricultura. Já na América latina o rural não-agricola ocupa entre 20 a

30% da população

Portanto, percebe-se que esse fenômeno da diminuição do peso das atividades

agrícolas no emprego e na composição da renda das pessoas e famílias residentes no meio

rural tem dado lugar aos empregos múltiplos e fontes de rendas diversificadas, tem sido

identificado na literatura como pluriatividade e agricultura de tempo parcial.

As famílias monoativas são aquelas em que a força de trabalho é empregada somente

nas atividades agropecuárias, mas não estão isentas de outras fontes de renda, como

aposentadorias e pensões.

Portanto, as famílias pluriativas, como analisa Teixeira (l998), são aquelas em que um

ou mais membros do grupo doméstico exercem alguma atividades extra-agricola ou possui

uma fonte de renda fora da agricultura.

Com a expansão do turismo, foram criadas novas possibilidades de trabalho,

especialmente ligadas às áreas de construção civil e de serviços para o conjunto da Mao-de-

obra familiar. Trabalhos como pedreiros, caseiros, jardineiros, faxineiras e cozinheiras, tem se

tornado constantes e importantes fontes de rendas para o orçamento familiar dos produtores

agrícolas, que vêem obrigados cada vez mais a exercer a pluriatividade para sobreviverem. Já

os produtores que tem algum capital, investir em casas de aluguel, pousadas ou restaurantes

tornou-se uma estratégia reprodutiva significativa.

No Brasil, o recurso a atividade não-agricola é uma prática antiga na sociedade, e tem

sido analisada como uma característica intrínseca à agricultura familiar, Istoé, como uma

estratégia de reprodução social do grupo doméstico, frente a situações adversas. Segundo

Teixeira (l998), só recentemente, na década de 90, que alguns autores recorreram às noções de

agricultura de tempo parcial ou pluriatividade, para analisar a complementação da renda

famliar como mecanismo de estratégia de reprodução social, em um contexto caracterizado

pela integração dos mercados rurais e urganos, modernas estratégias de expansão industrial

(interiorização e flexibilização do processo produtivo) e novas relações de trabalho

(terceirização e informalidade). Cabe acrescentar a interferência da crescente urbanização do

meio rural (moradia, turismo, lazer e outros serviços), a preservação ambiental, e a

proliferação dos sítios de recreio, marcados pela contemporaneidade da questão ecológica e

valorização da natureza. A pluriatividade também é apontada como uma alternativa para

ampliar as opções de renda e emprego nos assentamos rurais.

CONSIDERAÇOES FINAIS

Observa-se portanto, que recentes pesquisas indicam que, em muitas áreas rurais, a

dinâmica social se dissocia da idéia clássica e que ela sempre tendem a perder

competitividade e população para as áreas urbanas. Conseqüentemente, estão recebendo ovos

investimentos e atraindo empresas industriais e de serviços, de forma a diversificar cada vez

mais as atividades econômicas. Como resultado, há um incremento de produção da população

rural que pasa a não depender exclusivamente da renda advinda da atividade agrícola. A

tradidicional divisão social do trabalho entre as cidades e as áreas rurais torna-se cada vez

mais imprecisa.

É importante lembrar também que, principalmente nos ultios aos, além dos elogios as

contribuições positivas da ciência para a maioria das esferas da existência humana, soam alto

as criticas à sua possível participação na construção de desigualdades econoicas e sociais e de

vulnerabilidade para a humanidade e o planet. Essas criticas continuam ecoando nos espaços

de reflexão sobre o futuro.

A sociedade civil continua criticando a distancia, ainda inaceitável, entre as

instituições cientificas e a realidade para a qual investigam.

A agricultura familiar é uma dessas áreas em que a ciência tem recebido tanto elogios

quanto criticas, principalmente quando se abordam os desafios e possibilidades do

desenvolvimento rural sustentável, da segurança alimentar e da soberania tecnologia.

E certo que a terra e a atividade agrícola passam a adquirir novos contornos. A terra

continua sendo lugar de moradia e meio para produção de alimentos de subsistência. Ale,

disso, os usos dos solos diversificam-se multiplicando os usos alternativos e aumentando

também a especulação. A antiga ocupação agrícola por as vez, dá lugar a uma diversidade de

funções e ocupações, como: sítios de receio, pousadas, hotel-fazenda, proporcionados pela

relativa proximidade da cidade e a valorização do espaço agrário.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

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