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A Pluriatividade na Agricultura Familiar do Estado de Sergipe 1 Eliano Sérgio Azevedo Lopes 2 Professor do Mestrado em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe – UFS Introdução Nos últimos anos, vários estudos e pesquisas têm destacado uma série de mudanças importantes que vêm ocorrendo no meio rural, seja no que diz respeito a aspectos ocupacionais, seja na interpretação da noção ou significado que tais mudanças têm assumido na atualidade (Graziano da Silva, 1997, 1999; Carneiro, 1997; Wanderley, 1997; Moreira, 1999, Delgado, 2000). Como exemplo, são mencionadas as “novas funções” atribuídas ao meio rural (turismo, casas de segunda moradia, lazer, etc.), alterando não somente a paisagem, como também as relações e significados sociais no espaço agrário. É inegável o fato de que o espaço rural, em certas regiões, não pode mais ser visto como sendo caracterizado exclusivamente pela agricultura, o que tem levado alguns autores a afirmar que “rural” deixou de ser sinônimo de “agrícola”, haja vista que outras atividades, nem sempre relacionadas à agropecuária strictu sensu, vêm sendo desenvolvidas no campo, assim como práticas tradicionais estão assumindo novos significados, expressando um desejo da população rural de ali permanecer e melhorar o seu nível de bem-estar social. Essa nova percepção sobre o rural alterou a natureza do debate, colocando a questão da pluriatividade 3 no centro da discussão, seja na academia seja fora dela, na busca de compreender o sentido das transformações que estão ocorrendo atualmente no mundo rural. Como conseqüência, a necessidade de rever conceitos e buscar novas formas de compreensão e significados desse fenômeno, cuja característica mais relevante tem sido, em grande medida, a diminuição do peso das atividades agropecuárias na formação da renda dos agricultores. Por outro lado, tais transformações também colocaram a necessidade de identificar e procurar compreender melhor os fatores determinantes do surgimento de múltiplas atividades desenvolvidas pelas famílias em vários domicílios rurais e para onde apontam essas mudanças. 1 Resultante do Projeto de Pesquisa “A Pluriatividade na Agricultura Familiar do Estado de Sergipe”, financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Sergipe – FAP/SE. 2 Doutor em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA/UFRRJ. 3 Pluriatividade entendida como “a conjunção das atividades agrícolas com outras atividades que gerem ganhos monetários e não-monetários, independentemente de serem internos ou externos à exploração agropecuária. Isso permite considerar todas as atividades exercidas por todos os membros dos domicílios, inclusive as ocupações por conta própria, o trabalho assalariado e o não-assalariado, realizados dentro e/ou fora das explorações agropecuárias”.(Graziano da Silva, 2000). A professora Maria de Nazaré Wanderley, em palestra proferida no X Congresso Mundial de Sociologia Rural (30 de julho a 05 de agosto, no Rio de Janeiro), propõe que se trate não como pluriatividade, e sim como plurinserção, o processo recente de desenvolvimento agrícola que vem ocorrendo.

A Pluriatividade na Agricultura Familiar do Estado de ... · processos de produção, especialização da mão-de-obra e estabilidade no emprego. Atualmente, estamos assistindo a

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A Pluriatividade na Agricultura Familiardo Estado de Sergipe1

Eliano Sérgio Azevedo Lopes2

Professor do Mestrado em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe – UFS

Introdução

Nos últimos anos, vários estudos e pesquisas têm destacado uma série demudanças importantes que vêm ocorrendo no meio rural, seja no que diz respeito aaspectos ocupacionais, seja na interpretação da noção ou significado que tais mudançastêm assumido na atualidade (Graziano da Silva, 1997, 1999; Carneiro, 1997; Wanderley,1997; Moreira, 1999, Delgado, 2000). Como exemplo, são mencionadas as “novas funções”atribuídas ao meio rural (turismo, casas de segunda moradia, lazer, etc.), alterando nãosomente a paisagem, como também as relações e significados sociais no espaço agrário.

É inegável o fato de que o espaço rural, em certas regiões, não pode mais ser vistocomo sendo caracterizado exclusivamente pela agricultura, o que tem levado alguns autoresa afirmar que “rural” deixou de ser sinônimo de “agrícola”, haja vista que outras atividades,nem sempre relacionadas à agropecuária strictu sensu, vêm sendo desenvolvidas nocampo, assim como práticas tradicionais estão assumindo novos significados, expressandoum desejo da população rural de ali permanecer e melhorar o seu nível de bem-estar social.

Essa nova percepção sobre o rural alterou a natureza do debate, colocando aquestão da pluriatividade3 no centro da discussão, seja na academia seja fora dela, nabusca de compreender o sentido das transformações que estão ocorrendo atualmente nomundo rural. Como conseqüência, a necessidade de rever conceitos e buscar novas formasde compreensão e significados desse fenômeno, cuja característica mais relevante tem sido,em grande medida, a diminuição do peso das atividades agropecuárias na formação darenda dos agricultores.

Por outro lado, tais transformações também colocaram a necessidade de identificar eprocurar compreender melhor os fatores determinantes do surgimento de múltiplasatividades desenvolvidas pelas famílias em vários domicílios rurais e para onde apontamessas mudanças.

1 Resultante do Projeto de Pesquisa “A Pluriatividade na Agricultura Familiar do Estado de Sergipe”, financiadapela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Sergipe – FAP/SE. 2 Doutor em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA/UFRRJ.3 Pluriatividade entendida como “a conjunção das atividades agrícolas com outras atividades que geremganhos monetários e não-monetários, independentemente de serem internos ou externos à exploraçãoagropecuária. Isso permite considerar todas as atividades exercidas por todos os membros dos domicílios,inclusive as ocupações por conta própria, o trabalho assalariado e o não-assalariado, realizados dentro e/ou foradas explorações agropecuárias”.(Graziano da Silva, 2000). A professora Maria de Nazaré Wanderley, empalestra proferida no X Congresso Mundial de Sociologia Rural (30 de julho a 05 de agosto, no Rio de Janeiro),propõe que se trate não como pluriatividade, e sim como plurinserção, o processo recente de desenvolvimentoagrícola que vem ocorrendo.

No caso da chamada agricultura familiar, particularmente, é preciso verificar, combase em dados empíricos, se as ocupações em atividades não-agrícolas pelo chefe e/oumembros da família indicam a perda progressiva de sua condição e identidade deagricultores, ou se, na realidade, configuram estratégias de sobrevivências para suapermanência no campo, nos marcos do desenvolvimento capitalista que tomou conta doagro brasileiro.

Principalmente em se tratando de um país de dimensões continentais como o Brasil,marcado por acentuadas desigualdades regionais e diferentes níveis de desenvolvimento,renda e ocupações, esse cuidado é mais do que desejável, sob pena de se fazer inferênciasque empobreçam a análise da realidade, por não contemplar a diversidade e a riqueza desituações existentes no meio rural. Em outras palavras, o grande desafio imposto aosestudiosos do desenvolvimento rural no país parece ser o de construir uma tipologia dosespaços rurais capaz de não cair no fundamentalismo de tornar homogêneo o que arealidade nega.

Se, nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, é inquestionável o peso que asatividades não-agrícolas têm nas atividades rurais, o mesmo não pode ser dito para grandeparte das regiões Norte e Nordeste. As atividades não-agrícolas predominantes no meiorural dessas duas regiões não se configuram como “novas ocupações”, no sentido deestarem ligadas a empreendimentos modernos (fabris, comerciais, de lazer e turismo, etc.)instalados no/ou próximo a zona rural; são, na sua grande maioria, atividades de baixaqualificação e remuneração.

Assim, o presente estudo visa analisar as transformações recentes ocorridas no meiorural sergipano tendo como unidade de análise a pluriatividade da agricultura familiarestadual, destacando a natureza e as características das atividades não-agrícolasdesenvolvidas nas unidades de produção familiares e a importância e o significado que elastêm na reprodução social do grupo doméstico, principalmente na formação da renda familiar.

Espera-se, com isto, conhecer melhor os fatores que explicam a origem e odesenvolvimento da pluriatividade no campo sergipano, contribuindo para o debate teóricosobre essa temática, assim como para a formulação de políticas públicas que tenham comoobjetivo o fortalecimento da agricultura familiar, adequando-as às situações concretas queespelham os diferentes contextos rurais do estado de Sergipe.

1 – Agricultura familiar e pluriatividade4

A presença e a expansão das atividades não-agrícolas são um fenômeno em cursoem vários países do mundo. Para se ter uma idéia, cerca de 40 a 60% das explorações dospaíses mais industrializados obtiveram mais da metade de suas rendas fora da agriculturaem 1978 (Fuller, 1984; Gasson, 1988). Nos Estados Unidos, atualmente, apenas 10 % dopessoal ocupado no meio rural vive da agricultura (Castle, 1998). Na América Latina, o ruralnão-agrícola já ocupa entre 20 e 30% da população (Sachs & Abramovay, s.d.).

Como informam Schneider & Navarro (1998), um relatório da Organização deCooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 1996, destaca que, mesmo nasregiões consideradas “essencialmente rurais”, os setores não-agrícolas, especialmente osetor de serviços, são os que oferecem as maiores possibilidades de emprego no meio rural,ao passo em que o emprego agrícola está em declínio. Embora boa parte da população

4 Este capítulo reproduz, em grande parte, o contido no Projeto de Tese “Pluriatividade e Desenvolvimento Ruralno Estado do Rio de Janeiro: repensando a ruralidade para além das dualidades”, de Vanessa Lopes Teixeira,apresentado ao CPDA/UFRRJ, Agosto de 1999.

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permaneça residindo em áreas rurais, sua principal ocupação não está diretamenteassociada à agricultura.

Esse fenômeno da diminuição do peso das atividades agrícolas no emprego e nacomposição da renda das pessoas e famílias residentes no meio rural, dando lugar aosempregos múltiplos e fontes de renda diversificadas, tem sido identificado na literatura comopluriatividade e agricultura de tempo parcial5.

Ainda que a utilização da noção de pluriatividade apresente algumas dificuldades àsua formulação, o debate teórico aponta para um novo fenômeno em curso na agricultura.Na realidade, esta noção engloba categorias e processos sociais distintos que respondem adiferentes questões que são historicamente datadas, apreendendo uma multiplicidade deformas de trabalho e renda nas unidades agrícolas. No entanto, pensar a agricultura familiaratravés da noção de pluriatividade implica a possibilidade de ampliar o foco de análise,incorporando as novas relações entre o rural não-agrícola e a agricultura, a partir daobservação e análise da família.

Embora as práticas não-agrícolas sempre estivessem presentes na sociedade rural,o termo pluriatividade é recente na academia e tem sido utilizado para designar o processode ampliação do mercado de trabalho e de diversificação da produção ancorado numambiente social e econômico específico: a modernização e a especialização da agricultura6.Muitos estudos têm identificado este fenômeno à resposta aos impactos da modernizaçãoagrícola (tecnificação, especialização e crise de superprodutividade) nos países docapitalismo avançado, como também às mudanças ocorridas na economia como um todo,onde a descentralização industrial, verificada a partir dos anos 70, criou oportunidades deempregos não-agrícolas nas zonas rurais (Buttel, 1982; Fuller, 1984, 1990; Barllet, 1986;Minglione e Pugliese, 1987; Marsden, 1990; Pugliese, 1991; Carneiro, 1996; Schneider,1996).

As transformações recentes nos processos de industrialização e urbanizaçãocaracterizam-se pela dispersão espacial, pela multiplicação de pequenas cidades e peladescentralização das plantas industriais, contrapondo-se com o modelo fordista deprodução, baseado nas grandes empresas de produção em série, uniformização dosprocessos de produção, especialização da mão-de-obra e estabilidade no emprego.Atualmente, estamos assistindo a um decréscimo gradual do emprego total e um aumentodo emprego autônomo e, paralelamente a isso, a uma ampliação da informalidade e daprecariedade das relações de trabalho (Mingione e Pugliese, 1987). A especializaçãoprofissional exigida no modelo fordista está sendo substituída por uma crescentecombinação de atividades exercidas por uma única pessoa, ou seja, está ocorrendo umprocesso de “desdiferenciação” da divisão social do trabalho, para usar a expressão deMingione e Pugliese. Além disso, está havendo uma redução da dimensão média dasunidades fabris, ou seja, as pequenas e médias empresas podem absorver novastecnologias sem precisar aumentar a dimensão das fábricas.

A industrialização difusa é uma prática em curso na Europa Mediterrânea quepressupõe uma difusão de pequenas empresas nas áreas rurais, ou cidades de pequenoporte, num processo fragmentado de fases de produção, que se beneficia, dentre outros

5 Para uma análise mais apurada da conceituação e diferenciação da pluriatividade e “part-time farming”agricultura de tempo parcial, ver Fuller (1984, 1990); Kageyama (1998); Schneider (1994) e Carneiro (1996).6 Muitos autores têm questionado se estamos diante de um fenômeno antigo, que representa uma estratégiafamiliar adaptativa secular e que passou a ser objeto recente de interesse por parte dos investigadores, ou seestamos de fato presenciando um novo fenômeno em curso, que pode dar origem a uma nova categoria social.Em outros termos, a pluriatividade é um novo fenômeno ou um novo olhar sobre o mesmo rural? Concordamoscom Schneider (1994) e Carneiro (1994), quando argumentam que a pluriatividade é uma nova conformaçãosocial da organização familiar da produção agrícola, pois essas práticas não-agrícolas se desenvolvem em umambiente sócio-econômico específico.

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fatores, de um menor custo de reprodução da força de trabalho e de uma organizaçãosindical débil.

É nesse contexto de ampliação de novas oportunidades de trabalho proporcionadaspela industrialização difusa e crise de superprodutividade, experimentado pelos paíseseuropeus e EUA a partir dos anos 80, que o debate sobre a pluriatividade entra em cenacomo uma alternativa sadia para revolucionar vários problemas, tais como: reduzir aprodução agrícola e conter a crise gerada pela superprodutividade; manter as renda doagricultor sem pressionar excessivamente os cofres públicos; reter a população no campo;estimular a descentralização industrial; estimular o desenvolvimento rural com a viabilizaçãode novas atividades econômicas no campo (turismo, artesanato, etc.); e diminuir a pressãoda agricultura sobre os recursos naturais (Schneider, 1994).

O recurso aos empregos fora do estabelecimento por alguns membros da famíliarural pode ser uma estratégia de sustentar os níveis de renda que antes eram garantidosatravés do aumento de produtividade e pela política governamental que repassava os custospara a sociedade como um todo. Diante das mudanças da Política Agrícola Comum (PAC),sintetizadas na redução dos preços protegidos e na restrição a ampliar a dimensão dasatividades produtivas, alguns autores recorrem à noção de pluriatividade como uma opçãopossível para o desenvolvimento rural, visto como algo positivo por políticos e instituições(Person, 1983).

As novas preocupações latentes na sociedade sobre a preservação ambientaldestacam a pluriatividade como uma prática capaz de preservar a paisagem rural e aecologia agrícola, amenizando, assim, um problema de desertificação que tem ocorrido emalgumas regiões na Europa. Nesse sentido, reconhece-se a coexistência de diversasatividades no espaço rural (agricultura, turismo, artesanato, indústria, etc.), para a ampliaçãode renda e emprego no meio rural sem pressionar demasiadamente os recursos naturais,sobretudo nas zonas desfavorecidas-marginais (Brun, 1977 apud Olaizola & Manrique,1992).

Portanto, além de tornar-se uma nova forma de reprodução social e econômica dosagricultores familiares, a pluriatividade passou a ser constituir também como uma estratégiade política e desenvolvimento rural dos Estados Nacionais, sobretudo os membros do CEEe EUA, a partir do esgotamento do seu modelo de modernização agrícola produtivista.

No Brasil, o recurso a atividades não-agrícolas trata-se de uma prática antiga nasociedade rural brasileira e tem sido analisado como uma característica intrínseca àagricultura familiar, isto é, como uma estratégia de reprodução social do grupo doméstico,frente a situações adversas (Garcia Jr., 1989; Lovisolo, 1989; Seyferth, 1987)7. Todavia, sórecentemente (década de 90) alguns autores (Schneider, 1994; Anjos, 1995) recorreram àsnoções de colonos-operários, agricultura de tempo parcial ou pluriatividade, para analisar acomplementaridade da renda familiar como estratégia de reprodução social, em um contextocaracterizado pela integração dos mercados rurais e urbanos, modernas estratégias deexpansão industrial (interiorização e flexibilização do processo produtivo) e novas relaçõesde trabalho (terceirização e informalidade). Cabe acrescentar a interferência da crescenteurbanização do meio rural (moradia, turismo, lazer e outros serviços diversos), apreservação ambiental e a proliferação dos sítios de recreio, marcados pela

7 São vários os exemplos nas etnografias do campesinato brasileiro que retrataram a presença de atividadesnão-agrícolas entre agricultores em distintos locais e em diferentes contextos sócio-econômicos e culturais,dentre eles podemos citar: Garcia, M.F. (1984); Carneiro (1976); Peloso (1986) e Graziano, E. (1986). De umamaneira geral, esses estudos analisaram o recurso às atividades não-agrícolas, por parte dos membros do grupodoméstico, em situações em que os pequenos produtores sofriam algum tipo de dificuldade para se manterempor si só na agricultura. Todavia, temos outros exemplos que comprovam que o recurso a outras fontes derendas não se limita apenas às pequenas unidades com dificuldades de assegurar sua reprodução (Neves,1979, 1996).

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contemporaneidade da questão ecológica e valorização da natureza (Giuliani, 1990;Wanderley & Lourenço, 1994; Graziano da Silva, 1996, 1999; Graziano da Silva, Vilarinho &Dale, 1998; Teixeira, 1998). A pluriatividade é apontada como uma alternativa para ampliaras opções de renda e emprego nos assentamentos rurais. (Alentejano, 1997)

Graziano da Silva (1996), numa comparação da evolução da PEA rural e da PEAagrícola nos anos 90 no Brasil, verificou uma expressiva diminuição do trabalho assalariadoagrícola, que representa a mais baixa remuneração, quando comparado com os demaistrabalhos, e um aumento significativo do número de pessoas que se dedicam a atividadesagrícolas de tempo parcial e de autoconsumo, sobretudo no segmento da agriculturafamiliar. Diante desse quadro, o autor conclui que a criação de empregos não-agrícolas, noatual meio rural brasileiro, é a única estratégia possível para manter a população pobre nocampo e, ao mesmo tempo, aumentar o seu nível de renda.

Ao lado dessa diminuição do trabalho agrícola e das rendas insuficientes paramanter todas as pessoas ocupadas na agricultura em tempo integral, verifica-se, nos anos90, uma intensificação de “novas”8 atividades agrícolas e não-agrícolas no campo brasileiro,impulsionadas por demandas específicas das classes média e alta, urbana (Graziano et alli,1997). Essas novas atividades atuam em “nichos” específicos de mercado e se diferenciamdas nossas tradicionais “commodities” dirigidas aos mercados agropecuários nacionais einternacionais, respondendo, assim, por uma produção “pós-fordista”. São atividades como:piscicultura; criação de pequenos animais de alto valor agregado, como rã, scargot;produção orgânica de ervas medicinais e de temperos e condimentos; produção orgânica deverduras e legumes; turismo rural; hotel-fazenda e revitalização crescente de atividadestradicionais como o artesanato. Nesse contexto, um outro significado atribuído apluriatividade seria a diferenciação social e econômica das famílias agrícolas através dadiversificação de serviços, num ambiente caracterizado pelo renascimento do rural por partedos citadinos, que valorizam a natureza e a vida no campo9.

Através da análise de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios(Pnad), Graziano da Silva & Del Grossi (1999) e Laurenti & Del Grossi (1999) destacammudanças significativas no campo brasileiro nas últimas duas décadas. Os autoresconstataram uma reversão tanto na tendência de redução da população rural brasileira de10 anos ou mais de idade, como na sua ocupação observada nos anos 80. Nos anos de1981 a 1992, a população rural apresentava uma tendência de redução em torno de 0,2%ao ano e uma tendência de crescimento da PEA rural agrícola de cerca de 0,4% ao ano. Jáno período de 1992/ 97, esse quadro é revertido para uma tendência de crescimento dapopulação rural a uma taxa de 0,5% ao ano e uma redução da PEA rural agrícola em tornode 2,2% ao ano. Nesse contexto, o que manteve as pessoas no campo foi a crescenteimportância das atividades não-agrícolas, que apresentaram um extraordinário crescimentode 2,5% ao ano no período considerado. Em outros termos, já são mais de quatro milhõesde famílias com domicílio rural que exercem ocupações não-agrícolas e/ ou possuem fontesde rendas extra-agrícolas (aposentadorias, pensões) contra 3,7 milhões de famílias que sededicam exclusivamente à atividade agrícola. Portanto, a maioria das famílias residentes em1997 nas zonas rurais brasileiras já não dependiam mais apenas de ocupações agrícolaspara sua sobrevivência, ao mesmo tempo em que “está em curso um progressivo abandonodas atividades agrícolas por parte das famílias com residência rural” (Graziano da Silva eDel Grossi, 1999:12).

8 Graziano da Silva refere-se a “novas” (entre aspas) porque muitas dessas atividades são antigas no meio ruralbrasileiro, mas só recentemente passaram a ter importância economicamente e tornaram-se importantesalternativas de emprego e renda para a população rural.9 A diversificação e o desenvolvimento de atividades produtivas que buscam “nichos de mercado” no meio ruraltambém são realizados pelos “neo-rurais”, isto é, pessoas oriundas da classe média urbana que valorizam anatureza e a vida no campo, e reproduzem nesse espaço o modelo de produção capitalista. Esse fenômeno foiencontrado nos Municípios de Nova Friburgo e Teresópolis (RJ), numa pesquisa realizada por Giuliani (1990).

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Essas famílias estão se empregando, sobretudo, nos ramos da prestação deserviços, da indústria de transformação, do comércio de mercadorias, de atividades sociaise da indústria da construção civil, que respondem por cerca de 85% do total das ocupaçõesnão-agrícolas disponíveis no meio rural (Laurenti & Del Grossi, 1999).

As estimativas de rendimento para as pessoas ocupadas nas atividades agrícolas enão-agrícolas no Brasil mostram que as rendas advindas das atividades não-agrícolas sãobem maiores e têm permitido elevar a média das pessoas residentes no meio ruralbrasileiro10.

Não basta, entretanto, constatar o crescimento das atividades não-agrícolas no meiorural, mas a partir disso compreender sua natureza, características e como essas atividadessão impulsionadas e podem ser incluídas em uma política pública de desenvolvimento rural.

Laurenti & Del Grossi (1999) reconheceram várias dinâmicas específicas queimpulsionam o desenvolvimento das ocupações não-agrícolas no meio rural brasileiro. Estasdinâmicas estão associadas às mudanças no lado da oferta de bens e serviços, tanto noâmbito das atividades econômicas que contam com uma etapa agrícola no processo deprodução e circulação de mercadorias, como daquelas situadas fora do agronegócio e, pelolado da demanda, pela mudança no padrão de consumo da população. Das dinâmicas quenão estão vinculadas diretamente às atividades agropecuárias estão, por exemplo, oconsumo final não-agrícola da população urbana, como o artesanato, o turismo rural, etc; osserviços públicos nas áreas rurais; a demanda da população urbana de média e alta rendapor casas de segunda residência e de baixa renda por terrenos para autoconstrução desuas moradias.

Sintetizando, o meio rural “ampliou” suas “ocupações” e adquiriu “novos” tipos deatividades, responsáveis cada vez mais pela ocupação econômica do campo. Como apontaMuller, “o espaço rural não pode mais ser pensado apenas como um lugar produtor demercadorias agrárias e ofertador de mão-de-obra. Além de poder oferecer ar, égua, turismo,lazer e bens de saúde, possibilitando uma gestão multipropósito do espaço rural, oferece apossibilidade de, no espaço local-regional, combinar postos de trabalho com pequenas emédias empresas” (Muller, 1995).

O debate sobre a pluriatividade remete, portanto, a questões relevantes sobre ascondições de reprodução da agricultura familiar, como também sobre o desenvolvimentorural. Este último deixa de ser pensado exclusivamente como desenvolvimento agrícola, oucomo a única estratégia para a solução de emprego e da pobreza no campo, quando o meiorural apresenta novas alternativas de renda para a família agrícola. Tal perspectiva levatambém à redefinição do “rural”. A partir da unificação dos mercados de trabalho rural eurbano e do conseqüente desaparecimento da dicotomia campo-agricultura/cidade-indústria,o “rural” passa a incluir novos bens materiais e culturais advindos da expansão do comércio,do turismo e do lazer11. Em muitos casos, essas alterações nos padrões de consumopassam a orientar, sobretudo os jovens12, ao assalariamento em atividades extra-agrícolas.Muitas vezes, o trabalho agrícola é secundarizado e desvalorizado, passando a serconsiderado penoso e menos atraente, ou até mesmo uma coisa do passado.

10 A esse respeito, ver os trabalhos de Hoffman (1998). Graziano da Silva (1999) e Del Grossi (1999) com basenos dados da Pnad. E para uma análise mais qualitativa, ver Alentejano (1997) e Teixeira (1998).11 Os trabalhos de Person (1983) e Barbic (1983) argumentam que a agricultura de tempo parcial pode ser vistacomo um elo entre o rural e o urbano, e entre a agricultura e outros setores da economia.12 Atualmente, um número significativo de jovens rurais trabalham em atividades não-agrícolas na AméricaLatina. De acordo com Durston (1997), 50% dos jovens e 78% das mulheres jovens desenvolvem atividadesnão-agrícolas no México. No Brasil, essa proporção cai para 27% os homens e 39% para as mulheres na faixaetária entre 5 e 29 anos.

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Não devemos, portanto, negligenciar os significados desses novos bens materiais eculturais à disposição do grupo doméstico na reordenação de novas estratégias e posiçõessociais (Neves, 1996a), com conseqüências sobre a definição de novas identidades sociaisno campo. Assim, o “pluriativo” seria para Lamarche (1984) um categoria social inovadora edistinta, à medida que ela carrega consigo uma imbricação de valores urbanos e rurais, semeleger uma preferência, apresentando, assim, um modo de vida próprio e, portanto,contribuindo para a construção de uma nova sociedade rural.

Diante de um cenário em que o “urbano” não se apresenta mais como umaalternativa promissora de emprego e a retração de emprego agrícola, acompanhada deacentuada queda de rendimento das principais commodities (Lopes, 1996), tem sido umaconstante, o surgimento das atividades não-agrícolas no campo tem despertado um amplodebate no meio científico em busca de uma redefinição do espaço rural, apontado poralguns autores, em especial Graziano da Silva (1996), como um “novo rural brasileiro”.

Pesquisas recentes têm demonstrado, em diferentes estados brasileiros, aimportância dessas atividades não-agrícolas na ocupação da força de trabalho no campo,revelado pelo crescimento muito maior da População Economicamente Ativa (PEA) rural emrelação a PEA agrícola13 .

O Estado do Sergipe não foge à regra. Os domicílios pluriativos, de acordo com osresultados de uma pesquisa coordenada por Graziano da Silva (2000), representavam37,2% do total de domicílios agrícolas existentes em 1995 no estado, e 43,8% das pessoasque neles residiam. Porcentagens acima dos valores encontrados para o Brasil (37,0% e42,9%, respectivamente) e, entre os estado do Nordeste, abaixo apenas do Rio Grande doNorte (53,0% e 59,2%) e do Ceará (38,7% e 44,4%).

As ocupações não-agrícolas tendem a se concentrar em profissões que exigempouca qualificação, entre as quais sobressaem: os serviços domésticos, pedreiros, ajudantede pedreiro, serventes, pintores. Recentemente, tem-se constatado o engajamento depessoas residentes na zona rural em ocupações vinculadas ao setor industrial,principalmente calçadista e têxtil, ou que trabalham por conta própria na confecção de redese bordados.

Apesar das transformações ocorridas na economia e no campo sergipano, nosúltimos 30 anos, já ressaltadas anteriormente, estudos e pesquisas sobre as atividades não-agrícolas e sobre a pluriatividade na agricultura do estado são incipientes e incompletos, nosentido de permitir que se tenha um panorama mais amplo da presença e do significadodessas atividades no meio rural, e particularmente, no setor da agricultura familiar deSergipe. Quando não são tratadas tangencialmente, dado o objetivo dos estudos não teremcomo foco essa questão, os trabalhos sobre o assunto retratam casos particulares,referentes a municípios ou regiões específicas (Santos, 1995; Oliveira, 2003; Souza, 2004).

Em 1993, num relatório de pesquisa denominado “A Pequena Produção Não-Agrícola e as Intervenções para o Desenvolvimento na Região do Semi-Árido Sergipano”,elaborado pelo professor José Ferreira Irmão, com vistas a subsidiar a implantação do Pró-Sertão14, em 18 municípios do semi-árido sergipano, a preocupação com as atividades não-agrícolas no meio rural é tratada com destaque, dado que as atividades agrícolas napequena e micro-produção ocupam, segundo o autor, aproximadamente, 95 dias do ano doagricultor. Logo, diz ele, as atividades não-agrícolas e de agrotransformação deveriam

13 É o que vem mostrando os inúmeros trabalhos do Projeto “Caracterização do Novo Rural Brasileiro 1981/ 95”,coordenado por José Graziano da Silva, IE/ Unicamp. Entre eles, podemos citar: Graziano da Silva & Del Grossi,1997; Mattei, 1998; Schneider & Navarro, 1998; Del Grossi, 1999 e Graziano da Silva, 1999.14 Programa Especial com recursos do FIDA, executado pelo Governo de Sergipe entre 1994 e 2005.

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assumir um papel de maior significância na manutenção das famílias rurais, devendoreceber todo o apoio para assegurar aos microempreendedores formais/informais e artesãosfontes alternativas de recursos, de modo a possibilitar a geração de empregos e o aumentoda renda.

As atividades não-agrícolas com maior destaque na região estudada, segundo orelatório mencionado, são o emprego público (professores e serviços de apoio a escolas,como merendeira, vigilantes, etc.), o artesanato decorativo e utilitário tradicional (olaria,cerâmica, costura e bordados), o trabalho a domicílio (ofícios de pedreiro e de carpintaria),os pequenos comércios (bodegas, bares, lanchonetes, ambulantes).

Segundo aquele autor, a pequena produção de bens não-agrícolas é realizadadentro e fora da unidade de produção. Dentro da unidade, o processo de produção serealiza sob a direção do responsável da família (chefe da família) e utilizapredominantemente mão-de-obra familiar. É o caso, por exemplo, da fabricação de produtoscaseiros, elaboração de artigos de artesanato de maneira individual. Essas atividades estãorelacionadas com a manutenção da propriedade – formação de cercas e aguadas, aberturase conservação de caminhos -, a fabricação e o processamento de produtos, a elaboraçãode artigos de artesanato e a realização de pequenos comércios, atividades que devido aoseu caráter de produção individual, não atingem maior escala econômica. Quando setratam de pequenos produtores não-proprietários, a produção não-agrícola pode constituir aprincipal fonte de geração da renda familiar.

Fora dos estabelecimentos, a pequena produção não-agrícola é realizada por gruposcomunitários ou em microempresas da pequena produção capitalizada (casos mais raros naregião). A ocupação se dá através da venda de trabalho, de forma temporária oupermanente, de maneira independente, como no caso das atividades de transporte ecomércio ambulante, e de forma comunitária, em atividades geridas de forma coletiva noseio da comunidade. Vendem trabalho, com maior freqüência, os produtores com terrasinferiores a 10 hectares que, devido a sua precária disponibilidade de recursos, têmnecessidade de vender a sua força de trabalho a outras unidades econômicas paracomplementar a sua renda de subsistência.

O responsável e os filhos maiores trabalham normalmente todo o tempo ematividades agrícolas, enquanto a esposa e as filhas dividem o seu tempo entre amanutenção da casa e as atividades econômicas. Nas atividades produtivas, as mulheres seocupam principalmente em atividades não-agrícolas e dividem o seu tempo com asatividades agrícolas em períodos de maior demanda de mão-de-obra na agricultura.

As atividades não-agrícolas fora do estabelecimento podem ser de natureza

permanente ou temporária, em tempo parcial ou integral. Essas ocupações são umaalternativa de trabalho importante para os pequenos produtores nas áreas rurais,especialmente durante os períodos de menor demanda de mão-de-obra nos laboresagrícolas.

Fazendo a ressalva de que, a despeito da importância das atividades não-agrícolasna reprodução das unidades de produção familiares, não foi possível no relatório quantificara participação direta das mesmas na ocupação da força de trabalho, José Ferreira Irmãodestaca como as principais atividades observadas na região pesquisada, as de bodegueiro,carpinteiro, barbeiro, motorista, tratorista, professor, costureira, marchante, mecânico,borracheiro, bordadeira, cabeleireira, artesão, carroceiro, feirante, doceira, oleiro esapateiro.

Santos (1999), estudando os resultados do Pró-Sertão sobre a qualidade de vida dasmulheres beneficiárias do Programa de Micro-Crédito para Atividades Não-Agrícolas, mostra

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que a presença dessas atividades desenvolvidas por agricultores familiares e membros desua família são freqüentes.

Em dezembro de 2004, foi inaugurada uma fábrica de calçados da Azaléia, nopovoado Brasília, município de Lagarto. Provavelmente, tal como aconteceu quando daimplantação de sua matriz em Itaporanga D’Ajuda, é possível que jovens filhos deagricultores venham a ser recrutados pela empresa, ampliando as oportunidades deocupação da mão-de-obra local em atividades não-agrícolas na região.

2 – Procedimentos metodológicos

A pesquisa foi feita a partir de uma abordagem interdisciplinar, na qual foramcolhidos dados qualitativos e quantitativos relativos à agricultura familiar e às atividadesagrícolas e não-agrícolas existentes numa região em que a modernização agrícolaapresenta-se como traço revelador das transformações ocorridas no meio rural sergipano,desde os anos 70 do século passado.

Fontes primárias e secundárias deram o suporte para o estudo, permitindo queatravés da aplicação de um questionário semi-estruturado e roteiros de entrevistas, assimcomo do manuseio de bibliografias relacionadas às temáticas da agricultura familiar e dapluriatividade, fosse possível identificar os fatores e contextos regionais que favorecem odesenvolvimento da pluriatividade, captar melhor o perfil do mercado de trabalho local,verificar o peso e o significado da agricultura e das atividades não-agrícolas para a rendafamiliar, e perceber o lugar atribuído à agricultura nos projetos familiares.

Uma visita aos municípios de Salgado, Boquim e Lagarto, acompanhada de umaconversa com funcionários e dirigentes da Cooperativa do Treze, chefe do escritório local daEMDAGRO e técnicos do Programa Saúde da Família em Salgado e Boquim, com oobjetivo de identificar os povoados com maior concentração de agricultores familiares, bemcomo do número de domicílios rurais existentes em cada um deles, deu início à preparaçãodo trabalho de campo e à posterior aplicação de questionários e realização de entrevistascom agricultores selecionados e outros atores sociais presentes na região.

Na busca de tentar compreender as motivações e o significado que a pluriatividadetem para os membros da família, tomou-se como pressuposto que a mesma temsignificados diferentes quando se trata do chefe/responsável pela família ou de seus filhos.Se o pai/chefe da família é o pluriativo, isto acontece ou porque ele tem uma rendasatisfatória com a atividade agrícola, o que lhe permite utilizar o tempo disponível ocupando-se de outras atividades não-agrícolas, ou porque a sua renda é tão baixa que ele é obrigadoa buscar ocupação em atividades não-agrícolas como forma de incrementar a renda familiar.Já no caso dos filhos, o sentido da pluriatividade é diferente, faz parte do ciclo de vida dafamília, isto é, ao se tornarem adultos, naturalmente vão fazer escolhas, que podem muitobem ser a de trabalhar em atividades não-agrícolas, mesmo continuando a residir no meiorural ou migrar para as cidades.

A unidade básica da amostragem, o domicílio rural particular permanente, localizadoem áreas não metropolitanas, entendido como o local de moradia estruturalmente separadoe independente, constituído por um ou mais cômodos, destinado à habitação de umapessoa ou grupo de pessoas cujo relacionamento é feito por laços de parentesco,dependência doméstica ou, ainda, por normas de convivência.

A separação fica caracterizada quando o local de moradia é limitado por paredes,muros, cercas, etc., coberto por um teto, e permite que seus moradores se isolem. Aindependência fica caracterizada quando o local de moradia tem acesso direto, permitindo

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que seus moradores possam entrar e sair sem passar pelo interior da casa de outraspessoas.

Com base numa amostra intencional, foram escolhidos 100 estabelecimentos ruraiscaracterizados como pertencentes ao que se convencionou chamar de agricultura familiar,entendida como “a unidade de produção agrícola onde propriedade e trabalho estãointimamente ligados à família”(Lamarche,1993), distribuídos segundo a representatividadede cada um dos municípios objeto da pesquisa na área total de laranja15. Assim, aos trêsmunicípios maiores produtores de laranja no Estado couberam, respectivamente, o seguintenúmero de questionários: Lagarto, 45; Boquim, 28 e Salgado 27.

Desses municípios, fizeram parte da amostra os povoados/localidades Poção, Pistada Granja, Pista da Lagoa Seca, Pista do Baixão, Pista do Rio da Vacas, Pista Principal,Pista Três, Pista Quatro e Pista do Pau Grande, na Colônia Treze, município de Lagarto;Quebradas I, II e II, no município de Salgado, e Cabeça Dantas, Olhos D’Água e Romão, nomunicípio de Boquim.

A escolha dos estabelecimentos rurais pesquisados foi feita de forma aleatória. Parao município de Lagarto, tomou-se por base a relação nominal dos agricultores residentesnas áreas já mencionadas, fornecida pela Cooperativa de Eletrificação e DesenvolvimentoRural Centro Sul de Sergipe Ltda. Nos municípios de Boquim e Salgado, a escolha daspropriedades foi feita com base no número de residências rurais existentes em cada umadas localidades selecionadas, fornecido pelas Secretarias Municipais de Saúde dos doismunicípios. O critério seguido foi o de entrevistar uma casa sim, outra não, começando daprimeira rua/estrada vicinal e da primeira casa do lado direito, depois à primeira do ladoesquerdo, e assim sucessivamente.

As famílias residentes permanentes na zona rural constituem a unidade de análiseda pesquisa. Considera-se como família o conjunto de pessoas ligadas por laços deparentesco, dependência doméstica ou normas de convivência, que residem na mesmaunidade domiciliar e, também, a pessoa que more só em uma unidade domiciliar.

Entende-se por dependência doméstica a relação estabelecida entre a pessoa dereferência (responsável pela unidade domiciliar ou pela família, ou que assim é consideradapelos demais membros) e os empregados domésticos e agregados da família e por normasde convivência, as regras estabelecidas para o convívio de pessoas que morem juntas semestarem ligadas por laços de parentesco ou dependência doméstica.

Os principais instrumentos de investigação utilizados na pesquisa de campo foram oquestionário e roteiros de entrevistas, o primeiro adaptado do questionário utilizado peloProjeto Rurbano FASE III, por sua vez, baseado no questionário da PNAD. Além disso, foifeita uma revisão bibliográfica sobre os temas contemplados pela pesquisa, com o objetivode dar o suporte teórico e analítico ao objeto de estudo.

Foi utilizada, também, a metodologia proposta pelo Projeto Rurbano16, baseado noreprocessamento e compatibilização da série histórica dos microdados da PesquisaNacional por Amostra de Domicílios (PNAD), com intuito de apreender a evolução dasocupações (agrícolas e não-agrícolas) no meio rural do estado de Sergipe como um todo,

15 Dos 20.962 hectares de lavouras permanentes existentes nos 14 municípios que formam o pólo citricultor deSergipe, na sua grande maioria pomares de laranja, registrado pelo Censo Agropecuário do IBGE, em 1995-1996, quase um terço estava localizado nos municípios de Lagarto, Boquim e Salgado, onde 6.382 produtores sededicavam a esse tipo de atividade. 16 O Projeto Rurbano tem investigado a relevância analítica dos cortes rural/ urbano e agrícola/ não-agrícola,entre outros, na configuração do recente desenvolvimento rural brasileiro. Para maiores informações, ver DelGrossi (1999) e Graziano da Silva & Del Grossi (1999).

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durante as décadas de 80 e 90. Com os dados de pessoas das PNAD’s, é possível, entreoutras, analisar os ramos de atividades, os setores de atividades, os rendimentos, os níveisde escolaridade e as posições na ocupação, e, com as informações sobre as famílias, épossível ainda tentar apreender a lógica das combinações das atividades agrícolas com asnão-agrícolas.

3 - A modernização agrícola em Sergipe: a citricultura17

Desde a década de 1970, mudanças significativas vêm ocorrendo na economia doestado de Sergipe, e de modo particular no seu setor agrícola, alterando de formasignificativa o perfil do campo, em grande medida relacionadas com as transformaçõesporque passou a agricultura brasileira, naquilo que ficou conhecido como processo de“modernização conservadora da agricultura”.

De um lado, a ocorrência de sensíveis mudanças no nível de organização e demobilização dos trabalhadores do campo, fazendo emergir um conjunto de lutas envolvendodiferentes categorias de trabalhadores rurais – canavieiros, sem-terra, posseiros, pequenosarrendatários e parceiros - expressando um grau mais elevado de organização e deconscientização sobre sua posição na sociedade brasileira. De outro, mudanças naestrutura agrária e agrícola do estado, seja pela implementação de políticas governamentaisde colonização, criação de cooperativas agrícolas, perímetros irrigados para exploração darizicultura, hortaliças e fruticultura, seja pela constituição de assentamentos rurais com baseno I PNRA e sucedâneos, todos eles alicerçados na utilização de insumos modernos etecnologias geradas pela pesquisa – sementes certificadas e/ou melhoradas, fertilizantes,agrotóxicos, mecanização, etc. Tais transformações eram mais claramente observadas nasregiões Norte e Sul do estado, ainda que seus efeitos terminassem por reordenar todo oespaço rural sergipano.

No que se refere à região Norte, constatava-se que, uma vez estabilizado o processode expansão da agricultura canavieira ocorrido nos anos 1980, as mudanças eram dadaspela implementação de diversos projetos de irrigação que, a despeito de sua naturezaextremamente diferenciada, terminavam por reordenar a anterior estrutura produtiva,trazendo um conjunto de novas questões e demandas para aqueles que viviam etrabalhavam no campo.

Contudo, é no que tange à região Sul do estado que as mudanças ganhavam maiorvisibilidade. Com efeito, principalmente no correr dos anos 1980, tornou-se corrente no meiotécnico e acadêmico de Sergipe associar o campo sergipano ao desenvolvimento daagricultura da laranja. Sergipe havia se transformado, em um curto espaço de tempo, nosegundo maior produtor nacional de laranja. Os jornais de circulação estadual, e mesmonacional, passaram freqüentemente a veicular um conjunto de notícias enfatizando arelevância da citricultura para a economia do estado. A Festa da Laranja, anualmenterealizada no município de Boquim, havia se transformado em uma das principais atraçõesdo turismo oficial do estado.

A produção de laranja, circunscrita no final da década de 60 ao município de Boquim,expande-se nos anos subseqüentes e passa a ocupar os melhores solos do estado,localizados na região centro-sul de Sergipe, reunindo expressivo contingente de pequenosprodutores com propriedades de até cinco hectares, além de significativo número de

17 Este Capítulo está baseado no Relatório Final de Atividades da Pesquisa da Laranja – Sergipe, feita pelaComissão Pastoral da Terra – CPT e Centro Ecumênico de Documentação e Informação – CEDI, com apoio daCoordenação Ecumênica de Serviços – CESE, sob a coordenação do sociólogo Luciano Nunes Padrão, emmarço de 1995. O ineditismo da pesquisa e a atualidade das informações que ela traz sobre a região dacitricultura de Sergipe, justificam plenamente a sua utilização no presente estudo.

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trabalhadores rurais assalariados envolvidos na agricultura da laranja, sobretudo nosperíodos de colheita. Todavia, em função da profunda crise com que se depara desde 1995,o endividamento dos citricultores e a baixa produtividade dos pomares espelham o quadroatual da lavoura na região.

Nesse período, a zona citrícola no estado de Sergipe localiza-se nas microrregiõeshomogêneas do Agreste de Lagarto e Litoral Sul Sergipano, concentrando-se nosmunicípios de Boquim, Arauá, Itabaianinha, Pedrinhas e Riachão do Dantas, que juntoseram responsáveis por 92% da produção de laranjas no estado.

É nos anos 1970, sobretudo a partir de 1975, que a expansão da agricultura dalaranja no estado de Sergipe se dá de forma mais acelerada, momento em que a áreaplantada e a produção passam a crescer a taxas superiores a 20% a.a. Neste período,altera-se de forma substantiva o próprio perfil da “Região da Laranja” sergipana.

Por um lado, a citricultura expande-se regionalmente e passa a incorporar outrosmunicípios. A “região da laranja” sergipana deixaria, a partir de então, de estar circunscritaaos cinco municípios produtores, e passaria a envolver um total de 14 municípios, fazendocom que atividades agropecuárias tradicionalmente desenvolvidas, como os cultivos dofeijão, do fumo e da mandioca, cedessem espaços crescentes ao plantio da laranja. A partirdeste período, o estado de Sergipe passa a ocupar o primeiro lugar entre os estadosnordestinos produtores de laranja, passando a exportar o produto in natura parapraticamente todos os estados da região Nordeste, assim como para o Pará, Roraima,Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Chamam a atenção, sobretudo, os municípios de Lagarto e Salgado que, se no inícioda década de 70 não apresentavam uma citricultura significativa, passaram em um curtoperíodo a ocupar respectivamente a terceira e quarta posição entre os principais municípiosprodutores de laranja do estado de Sergipe.

No contexto da produção citrícola, dois municípios sergipanos destacam-se dosdemais: Boquim e Estância. O primeiro historicamente se constitui num dos maioresprodutores de laranja de Sergipe (em 1990, 94,6% da área agrícola do município eradestinada a citricultura) e, atualmente, também como o principal centro de comercialização edistribuição de laranja, abrigando cerca de 18 unidades de beneficiamento do produto parasua comercialização in natura.

O município de Estância, por sua vez, destaca-se dos demais por abrigar asagroindústrias processadoras da laranja no estado, a despeito desse município apresentaruma produção de laranja muito pouco significativa.

Com a introdução e expansão da citricultura é transformada a base técnica deprodução, a partir da introdução de novas tecnologias de cultivo e de novas variedades delaranja que paulatinamente foram sendo utilizadas, ainda que de forma diferenciada, pelosprodutores rurais e que terminaram por elevar significativamente os índices regionais deprodutividade.

Em termos de pessoal ocupado, a citricultura chegou a mobilizar cerca de 150 milpessoas num estado com 1,5 milhão de habitantes, o que corresponde a 30% do empregoda população economicamente ativa de Sergipe. Com a crise porque passa a citriculturasergipana, estima-se que, atualmente, o número de trabalhadores não passe dos 50 mil .

Do ponto de vista dos trabalhadores, as conseqüências do processo demodernização da agricultura no estado são, como no resto do país, bastante conhecidas: aexpropriação e expulsão de trabalhadores (moradores, arrendatários, foreiros, etc.) das

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terras que cultivavam, o aumento do assalariamento e a exclusão dos pequenos produtoresdo acesso às políticas governamentais para a agricultura.

No que diz respeito aos pequenos produtores rurais, constata-se que apenas umcontingente minoritário beneficiou-se de algumas medidas do modelo, no sentido demodernizar seu processo de produção. A grande maioria, porém, ficou excluída do acessoàs políticas governamentais para a agricultura, reproduzindo-se com base numa agriculturapredominantemente familiar, onde a manutenção da sua terra e sua condição de produtorestão constantemente ameaçados. Outro segmento foi expropriado e passou a engrossar ocontingente de trabalhadores sem terra.

Se hoje podemos falar num vasto segmento de trabalhadores que se reproduzem, asi e a sua família, estritamente a partir do trabalho assalariado, não se pode esquecer quehá no estado uma outra parcela, difícil de qualificar, mas seguramente não desprezível, depequenos produtores que se assalariam em determinadas épocas do ano para melhorar osrendimentos domésticos. São os “trabalhadores migrantes”, que nos últimos anos vêmaumentando em numero e têm sido vítimas freqüentes de relações de trabalhos análogas áescravidão.

Em 1978, instala-se no município de Estância a Frutene, de propriedade do grupobaiano Barreto de Araújo, tradicional na área industrial do papel e construção civil. No anode 1980, entra em operação no mesmo município a agroindústria Frutos Tropicaispertencente ao grupo empresarial pernambucano Paulo Coelho. Também nos primeirosanos da década de 80 duas outras agroindústrias processadoras instalaram-se próximas àregião, mais precisamente na região norte do estado da Bahia: a Cajuba, pertencente aogrupo baiano Ângelo Calmon de Sá, proprietário de diversas empresas no mercadofinanceiro (Banco Econômico, por exemplo), e a Utiara, também pertencente a um grupoempresarial baiano, o Joaquim de Carvalho, proprietário de diversas empresas produtoras ebeneficiadoras de cacau.

A penetração de diversos grupos empresariais, tradicionalmente envolvidos comoutros setores da economia, em atividades relacionadas a citricultura evidencia aatratividade da produção, beneficiamento e comercialização da laranja nos anos de 1980.De fato, os anos de 1980 registram vertiginosas elevações do preço do suco de laranjaconcentrado no mercado internacional, sobretudo a partir da ocorrência de sucessivasquedas na produção norte-americana em função de desastres climáticos na Flórida,principal pólo produtor mundial de laranja.

A entrada em operação de agroindústrias processadoras em torno da região sul doestado de Sergipe termina por imprimir um novo ritmo e dinâmica a esse cultivo. Dessaforma, a comercialização de laranja in natura destinada ao mercado interno foipaulatinamente cedendo lugar para a produção destinada a atender as crescentesdemandas do setor agroindustrial. Se no inicio dos anos de 1980 apenas 6,7% da produçãoestadual de laranja eram processadas, chega-se ao final desta década com cerca de 70%da produção absorvida pelas agroindústrias processadoras, que passaram a exportarvolumes crescentes de suco concentrado para os Estados Unidos, Canadá e alguns paísesda Europa.

Com isto, a dinâmica econômica da citricultura no estado passa, no correr da décadade 1980, a ser crescentemente ditada pelas agroindústrias, que dada sua capacidade deimpor preços, sistemas de produção e de comercialização, transforma-se em um dospersonagens econômica e politicamente mais fortes na região.

Estima-se ser relativamente baixo o volume de matéria-prima própria processadapelas duas agroindústrias localizadas no estado de Sergipe. Estima-se hoje que 95% da

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laranja processada por essas agroindústrias são provenientes de terceiros, isto é, pequenos,médios e grandes produtores rurais. Esta situação, contudo, tende a se alterar, uma vez queas duas agroindústrias iniciaram recentemente plantios próprios na região norte do estadoda Bahia e no Platô de Neópolis. Por outro lado, a situação não é a mesma quando se tratadaquelas localizadas no estado da Bahia que hoje opera, com uma significativa quantidadede laranja produzida em plantios próprios.

Quanto a isso, merece destaque o processo de crescente expansão da atividadecitrícula sergipana para municípios do norte baiano. De fato, os baixos preços da terra nestaregião têm levado grandes produtores rurais sergipanos, sobretudo aqueles do município deBoquim, a expandirem sua produção citrícula para os municípios de Rio Real, Esplanada eCruz das Almas. Grandes produtores entrevistados estimam que 10% da laranja processadaatualmente pelas agroindústrias sergipanas é proveniente de pomares localizados no estadoda Bahia.

Talvez o elemento chave da agricultura da laranja em Sergipe reside no fato de seresta uma atividade basicamente desenvolvida por pequenos produtores rurais, sobretudoaqueles que regionalmente são designados por minifundistas, cujas propriedades variam emmédia entre dois e 3 hectares. Os pequenos produtores rurais constituem-se hoje nosegmento de trabalhadores socialmente, isto é econômica e politicamente, mais expressivona agricultura da laranja no estado de Sergipe.

Tal fato mostra-se particularmente importante, na medida em que confere umasingularidade especialmente em relação ao perfil desta atividade em outras regiõesbrasileiras, onde a base da produção reside em médias e grandes propriedades portadorasde um elevado padrão técnico de produção.

A importância dos pequenos citricultores é dada pela sua expressiva participação naprodução total de laranja de Sergipe, sendo os mesmos responsáveis por cerca de 85% dototal do produto. No plano político constitui, juntamente com os sertanejos, o segmento quehistoricamente tem se mostrado mais ativo, seja no plano organizativo seja no que se refereàs lutas políticas empreendidas visando sua inclusão nas políticas públicas voltadas para aagricultura.

Por outro lado, também se constata a existência de um vasto contingente detrabalhadores dispondo de pouca ou nenhuma terra e que encontra no trabalho assalariadona laranja sua principal forma de reprodução social. Tal contingente envolve os chamados“diaristas”, expressão regional que designa os trabalhadores envolvidos na colheita dalaranja, segmento de pouca visibilidade social e de difícil quantificação, mas de proporçõesseguramente não desprezível, e os “carregadores”, contingente de trabalhadoresnumericamente menos expressivo, mas presente em toda a região nas tarefas queenvolvem o transporte da laranja dos sítios e fazendas às unidades locais debeneficiamento.

4 – Origem e caracterização dos municípios e áreas pesquisadas

A área de estudo situa-se nos municípios de Lagarto (Povoado Colônia Treze18),Boquim (Povoados Romão, Olhos D’Água e Cabeça D’Antas) e Salgado (Povoados

18 Nas duas últimas décadas, esta localidade assumiu a condição de pólo de referência para outros povoadosmenores em seu entorno, como Poção, Nova Descoberta e as Pistas que fazem parte da Colônia Treze, devidoà estrutura de serviços que passou a oferecer em seu núcleo urbano, como supermercados, açougues,farmácias, feira livre, bares, além de serviços bancários e de saúde, entre outros.

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Quebradas I, II e III). Áreas que foram sendo formadas a partir do processo de colonizaçãonas décadas de 1960 e 1970. Esta ocupação deve-se em parte ao forte impulso da políticade crédito concedido pelo Banco do Brasil e, no caso da Colônia Treze e das Quebradas, àintermediação da Cooperativa Mista de Agricultores do Treze Ltda. (COOPERTREZE), queoperacionalizou o processo de colonização destas localidades.

4.1 – Município de Lagarto

O município de Lagarto, no agreste sergipano, distante 78 quilômetros da capital,Aracaju, ocupa uma área de 962,5 km2, com uma população que vem crescendo desde1970, chegando a 83.334 pessoas no ano 2000, sendo 51,4% residentes na zona rural,conforme mostra o Quadro 1.

O período de chuvas ocorre entre março a julho. O solo é planasol, solos litóloicoseutróficos, podzólico vermelho amarelo, latsol. A vegetação é composta de campos limpos esujos, capoeira e caatinga.

Quadro 1Município de LagartoPopulação residente, taxa de crescimento, taxa de urbanização e densidade demográfica1970-2000

AnoPopulação residente

Total Urbana Rural

Taxa decresciment

o %

Taxa deurbanização

Densidadedemográfica

hab/km2

1970198019912000

51.13158.32072.14483.334

12.60919.32832.53840.527

38.52238.99239.60642.807

...1,321,951,60

24,6633,1045,10

-

53,1260,5074,9586,81

Fonte: IBGE – Censos Demográficos, 1970-2000.

Os historiados acreditam que a colonização chegou à área denominada atualmentede Lagarto por volta de 1540, com relatos de que religiosos tenham encontrado uma aldeiade índios Kiriris na confluência dos rios Piauí e Jacaré, sob o comando do Cacique Surubi.Em 1575, os jesuítas levantam uma capelinha com o nome de São Tomé e, posteriormente,as de Santo Antônio e de São Pedro e São Paulo, entre os jesuítas encontravam-se GasparLourenço e João Solônio. Góes observa os seguintes fatos:

Quando da invasão de Sergipe por Cristóvão de Barros, em 1590, asterras que formam o município de Lagarto já tinham sido doadas emforma de sesmarias para Gaspar d’Almeida e Gaspar de Menezes.Cristóvão também doou as terras a um de seus fiéis soldados,Antônio Gonçalves de Santana. Ele ergue a povoação de SantoAntônio a partir de maio de 1596. Outro nome importante nafundação de Lagarto é Muniz Álvares. Ele montou grandes fazendasde gado (GÓES, 2002, p. 122).

O povoamento iniciado em Santo Antônio prosperou até 1645, quando uma epidemiade varíola terminou matando uma parcela considerável de moradores, o que levou algunsdos sobreviventes a fugir para a região da atual Praça da Piedade, em Lagarto, por ser umaárea mais alta, onde existia um riacho, com pedras em formato de lagarto, a qual apopulação busca como referência para nomear o lugar, conforme descreve o Livro nº 1 doarquivo da Paróquia de Nossa Senhora da Piedade da Pedra do Lagarto (GÓES, 2002).

Em 1658, são criados três distritos militares fixos em Sergipe, nas povoações de SãoCristóvão, Itabaiana e Lagarto, com a finalidade de estabelecer a ordem, em decorrência da

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instabilidade causada pelo período da invasão holandesa. O distrito de Lagarto ficouinicialmente a cargo do Capitão Belchior Moreira, vulgo Muribeca, enquanto Comandante deOrdenanças.

Em 1674, são criados no povoamento a Entrada de Mocambos e Companhia dosHomens Pardos, órgãos militares formados com a intenção de “limpar” a região democambos, que naquela época eram responsabilizados por roubos e assassinatos nasfazendas. A esse respeito assevera Góes:

“Todas essas incumbências transformaram logo a povoação doLagarto num grande centro militar, populacional e econômico. Porvolta de 1679, a força chegava a se estender às povoações deJeremoabo e Itapicuru, hoje na Bahia. O resultado é que em 11 dedezembro de 1679, foi oficializada a criação da Freguesia de NossaSenhora da Piedade do Lagarto. Dois anos depois da criação daOuvidoria autônoma de Sergipe, já em 1698, a Coroa Portuguesadetermina que a freguesia se torne oficialmente Vila doLagarto”.(GÓES, 2002, p. 123).

Em 20 de abril de 1880, a Vila de Lagarto torna-se cidade, depois de perder terraspara a formação da freguesia de Nossa Senhora dos Campos, atual Tobias Barreto, em1718, depois para a criação da Freguesia de Nossa Senhora Santana (Simão Dias), em1834, e por fim, em 1855, perde outra parte para a formação da Freguesia de NossaSenhora do Amparo do Riachão, hoje Riachão do Dantas. Episódios que levaram omunicípio a perder divisas, somente recuperando a partir de 1930, quando retoma odesenvolvimento econômico, principalmente com a produção de fumo e mandioca e umparque industrial que chegava a 440 fábricas, que produziam diversos produtos, entre osquais destacavam-se manteiga, calçados, bebidas e algodão beneficiado, entre outros, alémde um rebanho de gado que ultrapassava 20 mil réis (GÓES, 2002).

Em 2000, o município de Lagarto encontrava-se na 3.769 posição do ranking doÍndice de Exclusão Social no Brasil, além de apresentar as seguintes taxas:

Quadro 2 Município de LagartoÍndices de Exclusão Social - 2000

RG UF

MU

NIC

ÍPIO

200

0

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ÃO

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IND

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SIG

UA

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DE

ÍND

ICE

DE

EX

CLU

OS

OC

IAL

NE SE Lagarto 3769 0,269 0,565 0,617 0,294 0,076 0,901 0,030 0,363

Fonte: POCHMANN; AMORIM, 2003, p. 143.

Com o asfaltamento da Rodovia Lourival Batista, que dá acesso a Lagarto, no finalda década de 1960, conjugado com a ampliação da área de agricultura e pecuária, omunicípio inicia um ciclo de prosperidade e crescimento. Neste contexto encontra-se o

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surgimento do Povoado Agrícola da Colônia Treze, que nasce com a vocação para aprodução de fumo e laranja, produtos voltados para a venda em outras regiões do país

.A história do povoado Colônia Treze, distante 15 Km de Lagarto, nasceu com o

processo de colonização iniciado em 1959, com a distribuição de lotes pelo Prefeito AntônioMartins, que resolveu dividir parte de sua propriedade em lotes de 10 tarefas (3 hectares) edistribuir para 10 famílias, decisão que em parte decorreu dos prejuízo que teve com alavoura de fumo em 1954, levando-o a desfazer-se da propriedade localizada nesta região.Acerca do processo que se ampliou em 1960, assevera Santana:

“Em 1960 mais 80 agricultores sem terra foram selecionados eagraciados com um lote de 10 tarefas (3 hectares), doados por seuproprietário, Sr. Antônio Martins de Menezes. Os 90 colonos quereceberam doação de terra através escritura pública, obtiveramtambém acesso ao Banco do Brasil S.A. e, com aval do próprioAntônio Martins, foram financiados para construção das casas ecusteio de suas lavouras, à época, fumo explorado economicamentee mandioca como subsistência da família” (SANTANA, p. 13).

Assentados, os colonos empreenderam o trabalho de desbravamento das terras,construção de moradias e formação de serviços básicos, alguns destes somenteencontrados na sede do município e, muitas vezes, somente nas segundas-feiras quando serealiza a feira livre em Lagarto, apesar de encontrar-se estrategicamente situado nasmargens da Rodovia Lourival Batista, aberta em 1969. A partir daí o povoamento ganhariacada vez mais projeção e se tornaria referência em cooperativismo, com a fundação daCooperativa Mista dos Agricultores do Treze Ltda. (COOPERTREZE), em 23 de setembrode 1962. Aos poucos a povoação iria ganhando o aspecto de povoado, com abertura daspistas, construção de casas, bodegas, mercearia, entre outros estabelecimentos de vendade produtos e serviços.

A COOPERTREZE conseguiu em pouco tempo demonstrar as potencialidades e odinamismo dos agricultores. Aos poucos foi montando uma estrutura de escoamento daprodução e a abertura de novas áreas de colonização (Nova Descoberta, Quebradas),favorecendo a chegada de novos moradores ao Treze, agora não mais como proprietáriosde terra, mas como agregados ou trabalhadores em períodos de preparação, plantio ecolheita.

Os associados trataram também de dotar o povoado de serviços básicos, como umposto médico, uma farmácia, um armazém para pequenas compras e uma escola de 1ºGrau, que recebeu o nome do funcionário do Banco do Brasil Luiz Alves de Oliveira, queintermediou uma das primeiras crises da COOPERTEZE, logo após o Golpe de 64, quandoo presidente eleito Marinho Correa dos Santos, foi acusado de ser comunista. A escola foifundada em 1972, visando inicialmente atender crianças da primeira à quarta série primária.Em seguida, a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC) instalou o ensino daquinta a oitava série com a fundação da Escola Cenecista Santa Luzia, com oferta regularde turmas até 1988, quando o Estado assumiu também o ensino nestas séries, levando aofechamento desta unidade no povoado, que também funcionava na Escola Luis Alves deOliveira, por cessão do espaço.

Ainda na década de 1970, foi construído pela Prefeitura Municipal de Lagarto aEscola José Vieira do Nascimento. Por questões políticas, a família Reis, adversária dosRibeiros, transferiu o nome desta unidade para o Povoado Poção e renomeou a unidadeque fica localizada na Praça Santa Luzia, na Colônia Treze, de Monsenhor Daltro.

Na década de 1990, o ensino na Colônia Treze se expande com abertura doEducandário Arco-Íris, instituição privada que atende crianças do jardim à quarta série do

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ensino fundamental. Nesta época também foi construído pelo Governo Albano Franco oColégio Estadual Jerônimo de Oliveira Reis, com turmas do ensino fundamental e médio, oque representou um marco para a educação da região, por disponibilizar ensino médio emum povoado, uma modalidade de ensino que não existia em muitas sedes de municípiossergipanos. Apesar disso, a construção da nova unidade foi seguida do descaso e dasdenúncias de corrupção na Secretaria de Estado da Educação, que culminou com a saídado Secretário Luiz Antônio Barreto. Assim, o antigo prédio da Escola Luiz Alves de Oliveiraficou abandonado por algum tempo e depois foi utilizado de forma parcial, perdendototalmente o seu encanto como espaço de referência na formação de gerações.

Neste cenário de crescimento da Coopertreze, aos poucos o povoado tambémcresce e consolida as instituições sociais. Assim, no final da década de 1970 e início dosanos 1980 a COOPERTEZE apresentava o seguinte patrimônio:

De modo geral a COOPERTREZE conta atualmente com uma sériede unidades produtivas como Supermercado, Posto de Gasolina,Churrascaria (estando atualmente sob o regime de arrendamento),Lojas de Reserva de Insumos, Farmácia, Entrepostos de Venda deprodutos no Nordeste, Beneficiadora de Laranja, Fábrica debeneficiamento de Fumo e mais recentemente adquiriu uma Fábricade Rações para aves, bovinos e suínos. Além dessas unidades, aSociedade conta com uma estrutura eminentemente social queabrange o atendimento ao homem e sua família nos setoreseducacional, através o supervisionamento de escolas estaduais emunicipais, Creches, Centro de Aprendizagem Comunitário, Hospitaldotado de médicos, dentistas, assistentes sociais, laboratoristas,etc., que garantem um atendimento perfeito diariamente ao corposocial da Cooperativa, além de mini-postos de saúde espalhados porpovoados da área de ação da Coopertreze. Logicamente que parasuportar tal volume de serviços, a Sociedade tem que possuir umaestrutura funcional mais ou menos dotada. Nos primeiros meses de1982 contava a Cooperativa com uma estrutura [...] um quadrofuncional composto de 229 funcionários, dois mini-comutadores euma frota de 27 veículos (SANTANA, 1982, p. 24-25).

Em 1982, quando se comemoraram os vinte anos da COOPERTREZE, a mesmaencontrava-se em um momento de crise, em parte decorrente do aumento dos juros e,conseqüentemente, com a queda da produção devido a intempéries da natureza (seca).Apesar disso, a população havia crescido sensivelmente, muitos dos colonos já iniciavam avenda de pequenos chãos de casa, da mesma forma a diretoria da COPERTREZE tambémcomeçava a se desfazer de parte de seu patrimônio, dando espaço à formação de umnúcleo urbano em torno de sua sede e da Praça da Igreja de Santa Luzia19, que surge dademolição das casas que ficavam em frente à Rodovia Lourival Batista e encobriamparcialmente à frente do templo.

Com a crise que se abateu sobre a COOPERTREZE, que consistia no orgulho dosseus associados, surgiu um pequeno comércio, que começava a competir com a estruturada cooperativa. Primeiro, o mercadinho de Zé Bispo (1986) e, com o agravamento epraticamente o aniquilamento de estrutura da cooperativa, o povoado já contava com umnúcleo urbano extremamente dinâmico, sendo sede da Paróquia de Santa Luzia do Treze(1984), que dividiu praticamente ao meio o município de Lagarto, num reconhecimento daIgreja Católica ao crescimento da região. Depois as ruas centrais foram calçadas, ganhouum colégio de 2º Grau e linhas telefônicas (1985), Sub-delegacia de Polícia, Posto Médico.

19 Templo em forma de formigueiro, inaugurada em 1975. A estrutura e o design da obra alude ao modelo daconstrução da Catedral de Brasília, apesar desta ser construída em argamassa, pedras e terra.

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O Treze não mais parecia um simples povoado e começava a apresentar certo ar deurbanidade.

A crise na citricultura e a queda nos preços do fumo ao longo das décadas de 1980 e1990, levaram os agricultores da região a procurar alternativas de sobrevivência.Inicialmente foi implementada a cultura da acerola, com a abertura de uma pequena fábricade beneficiamento. Depois surgiu a oportunidade de trabalhar com o acabamento desapatos da fábrica da Azaléia; por motivo de denúncias de que este tipo de atividadeenvolvia trabalho infantil e se dava sob condições análogas à escravidão, o mesmo deixoude ser executado. Apesar disso, muitos moradores trabalham em Lagarto, ou em Aracaju,além de um grande número de pessoas envolvidas com o comércio no povoado, quecresceu muito nos últimos anos, ou em pequenas fábricas de suco.

Atualmente, a Colônia do Treze é sinônimo de toda uma região, que tem o núcleourbano como referência para educação, saúde e comércio (açougue, farmácias, bares emercearias), serviços bancários, delegacia de polícia, posto de Polícia Rodoviária et., comruas calçadas e uma vida urbana bastante intensa.

Dentro do mesmo espírito da Coopertreze, existe a Cooperativa de EletrificaçãoRural do Centro-Oeste de Sergipe (CERCOS), que compra energia da ENERGIPE erepassa para seus associados. O dinamismo e o modo de vida das pessoas destalocalidade refletem em muito sua trajetória de luta pela sobrevivência e pela busca demelhores condições de vida.

A maior parte da população local tem na agricultura sua fonte de renda, apesar degrande número de habitantes viverem de atividades secundárias ou mesclarem comserviços ocasionais ou mesmo uma outra atividade de final de semana no comércio,vendendo em sua maioria gêneros alimentícios nas feiras livres.

O crescimento do povoado levou seus moradores a pleitearem, sem sucesso, em1989, quando da realização da Assembléia Constituinte Estadual, a emancipação dessaárea. Apesar disso, a oferta crescente de lotes urbanos tem crescido, com aberturas denovas ruas e casas comerciais, o que demonstra a peculiaridade deste espaço em relaçãoàs demais localidades estudadas. Ao longo dos últimos anos vem se formando em seuentorno povoações com condições precárias de sobrevivência, com moradores que atuamcomo empregados sazonais na agricultura e sobrevivem em condições extremas.

Deve-se salientar também que entre os grupos que migraram para a Colônia Treze,destaca-se a comunidade religiosa dos “Borboletas Azuis”, fundada por Roboão Ramalho,um paraibano que acreditava que o Mundo seria destruído por Deus no início da década de1980, além de ciganos, que têm adquirido “chãos de casa”.

Desde a década de 1980, o povoado tem conseguido eleger vereadores para aCâmara Municipal de Lagarto, chegando até mesmo à presidência da Casa, além de ser umdos maiores colégios eleitorais do município.

4.2 – Município de Salgado

Localizado a 67 quilômetros de Aracaju, na região centro-sul de Sergipe, o municípiode Salgado possui uma área de 255,8 km2 e uma população inferior a 20 mil habitantes, dosquais 73,6% moram na zona rural (Quadro 4).

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Com uma temperatura média anual de 24,6oC e período chuvoso durante os mesesde março a julho, o município possui solo podzólico vermelho amarelo, latsol, e umavegetação formada por capoeira e caatinga.

Quadro 4Município de SalgadoPopulação residente, taxa de crescimento, taxa de urbanização e densidade demográfica1970-2000

AnoPopulação residente

Total Urbana Rural

Taxa decresciment

o %

Taxa deurbanização

Densidadedemográfica

hab/km2

1970198019912000

8.46312.22516.71718.876

1.8742.2123.6294.983

6.58910.01313.08813.893

-3,752,891,40

22,1418,0921,71

-

33,0847,7965,3574,48

Fonte: IBGE – Censos Demográficos, 1970-2000.

A mais antiga menção à fundação da povoação de Salgado é do escritor LaudelinoFreire, no “Quadro Corográfico de Sergipe”, quando se refere à existência de uma fazendaàs margens do rio Piauitinga, pertencente ao município de Boquim, onde se localizava umafonte de águas medicinais. Sobre a existência da localidade ressalta Edivânia Freire:

A localidade só passou a merecer registro a partir da construção dalinha férrea, em 1911, sendo buscada pelos habitantes de Estância,por ser o melhor ponto para embarcação nos trens. O destino era osmunicípios baianos, onde eles preferiam fazer suas compras.Raramente eles vinham a Aracaju.Para facilitar o transporte dos estancianos até a nova povoação, foiprovidenciada uma empresa para construir e explorar a rodovia,mediante cobrança de pedágios. Portanto, foi com a construção darodovia e da estação ferroviária que a povoação começou a crescere o progresso acelerou-se, ficando conhecida em todo o Estadotambém pelas suas águas termais (FREIRE, 2002, p. 220).

Com o fluxo de passageiros que afluíam à localidade para se deslocarem para outrasregiões por meio dos trens, aos poucos foram erigindo a povoação, casas voltadas paraatender as pessoas que precisavam pernoitar e esperar as máquinas que passavam no finalda madrugadas, na maioria das vezes indo em direção a Salvador ou Aracaju, ou ainda ashospedarias que se formaram para atender aos veranistas que buscavam se banhar daságuas consideradas medicinais.

No dia 4 de outubro de 1927, a povoação se emancipa do município de Boquim,tornando-se sede de município, através da Lei nº 986, criado pelo governador ManuelCorrea Dantas, mas somente em 27 de março de 1938 passou de fato a categoria decidade. Em nível de Judiciário a cidade já foi da Comarca de Lagarto, Estância e atualmentepertence a Itaporanga d’Ajuda.

Somente em 1978, o então governador José Rollemberg Leite organizou o ComplexoBalneário de Salgado, com a implantação de um hotel e um complexo de piscinas equiosques, mas ao longo dos anos 1990 foi sendo abandonado e conseqüentemente perdeuimportância, enquanto a Igreja Católica passou a explorar o turismo religioso com aconstrução do Centro Pastoral João XXIII, uma espécie de hotel fazenda voltada para arealização de retiros espirituais. Edivânia Freire assevera que:

“Nas últimas décadas a cidade vem sofrendo o dissabor da crisevivida pela citricultura e dos desmantelos vividos pelo setor turístico.

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A única estância hidromineral do Estado tem hoje no seu cotidianoum belo hotel, que já foi marco de referência, fechado; uma festa queacontecia anualmente como forma de divulgar a agricultura já nãoexiste há mais de seis anos; o município vive na saudade da épocapróspera, onde por aqui se encontravam vários hóspedes ilustres,como o ex-governador João Alves, freqüentador do ainda hojeresistente Hotel Chácara João XXIII, administrado pela Arquidiocesede Estância (FREIRE, 2002, p. 221).

Apesar dos dissabores experimentados pelo município no campo turístico nestesúltimos anos, observa-se que o número de pessoas residindo na área urbana se expandiubastante, com abertura de novos bairros e ruas, além do comércio que vem sediversificando e ficando menos dependente da cidade de Lagarto, com abertura de casas dealimentação e um aumento considerável no número de barracas na feira livre que ocorreaos sábados na Praça do Mercado, de onde se avistam as piscinas do Balneário. Observa-se também que aos finais de semana do verão há um fluxo considerável de pessoas queainda afluem para o banho de sol e de piscinas na cidade.

Em 2000, o município de Salgado ocupava a 4.071 posição do ranking de exclusãosocial no Brasil, num universo de mais de cinco mil municípios no Brasil, demonstra o graude pobreza em que se encontra parte dos habitantes e que é corroborado pelas seguintestaxas:

Quadro 5 Município de SalgadoÍndice de Exclusão Social no Brasil 2000

RG UF

MU

NIC

ÍPIO

200

0

PO

SIÇ

ÃO

NO

RA

NK

ING

PIN

DIC

E D

E P

OB

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ZA

ÍND

ICE

DE

JU

VE

NT

UD

E

ÍND

ICE

DE

ALF

AB

ET

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ÇÃ

O

ÍND

ICE

DE

ES

CO

LAR

IDA

DE

ÍND

ICE

DE

EM

PR

EG

OF

OR

MA

L ÍND

ICE

DE

VIO

LÊN

CIA

ÍND

ICE

DE

DE

SIG

UA

LDA

DE

ÍND

ICE

DE

EX

CLU

OS

OC

IAL

NE SE Salgado 4071 0,263 0,495 0,603 0,263 0,051 0,957 0,022 0,349

Fonte: POCHMANN; AMORIM, 2003, p. 183.

Os povoados Quebradas I, II e III, localizados no município de Salgado, nasceram deprojetos de colonização desenvolvidos pela COOPERTREZE no final da década de 1970 einício dos anos 1980, destinados a assentar pequenos agricultores que não possuíamterras, com a finalidade de cultivar laranja, maracujá, fumo e roças de subsistência,principalmente mandioca, ou ainda, feijão e milho durante a época do inverno.

Cada uma destas localidades mantém especificidades, a ponto de se verificar que aQuebradas I é a que apresenta um maior desenvolvimento e formação de um núcleourbano, com a presença de bodegas, campo de futebol, escolas, templo católico. Nestepovoado as casas estão mais próximas umas das outras e da sede do município. Já aQuebradas II, possui templo católico e evangélico, escola, mas as casas são mais esparsas.E por fim, a Quebradas III, que se caracteriza pela existência de chácaras de pessoas que

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residem geralmente em Aracaju e vão a propriedade mais para descansar e passar finais desemana e férias.

4.3 – Município de Boquim

O município de Boquim faz parte da região centro-sul de Sergipe e está situado a 82quilômetros de Aracaju, a 164m acima do nível do mar e ocupa uma área de 213,6 (km2).Sua população é de 24.188 habitantes, com preponderância de pessoas residindo na zonaurbana (61,9%), conforme observa-se no Quadro 6.

A temperatura média anual é de 24,2oC e o período de chuvas ocorre de março aagosto. O solo é podzólico vermelho amarelo e a vegetação, formada por campos limpos esujos, capoeira e caatinga.

Quadro 6Município de BoquimPopulação residente, taxa de crescimento, taxa de urbanização e densidade demográfica1970-2000

AnoPopulação residente

Total Urbana Rural

Taxa decresciment

o %

Taxa deurbanização

Densidadedemográfica

hab/km2

1970198019912000

14.12718.32323.01524.188

4.9638.941

13.15114.975

9.1649.3829.8649.213

-2,632,090,60

35,1348,8057,14

-

66,1485,78107,75113,71

Fonte: IBGE – Censos Demográficos, 1970-2000.

O povoamento de Boquim, então pertencente à Freguesia de Nossa Senhora daPiedade do Lagarto, iniciou-se pela localidade denominada Lagoa Vermelha, distante uns 10quilômetros da atual sede, nome dado em decorrência do solo.

Antes mesmo de ganhar o status de freguesia, Lagoa Vermelha teve em suas terrasuma subdelegacia e um Distrito de Paz e, em 1835, foi criada uma escola para crianças dosexo masculino. Logo em seguida, foi elevada a condição de freguesia com o nome deNossa Senhora Santana da Lagoa Vermelha. Com o crescimento econômico alcançadomuito rapidamente, em 1857 passa a ser uma vila independente de Lagarto (GÓIS, 2002).

As inundações da Vila de Lagoa Vermelha pelo rio Piauí, e os prejuízos daídecorrentes, levaram o Padre Manoel Nogueira Cravo e os moradores a trabalharem pelamudança para a atual área, onde hoje é a sede do município de Boquim, contando com oapoio do coronel José Batista, do major Venâncio da Fonseca Dórea e dos comerciantesManoel Antônio da Fraga e Antônio Araújo. A esse respeito relata Góis:

“[...] Toda máquina administrativa e seus funcionários foramtransferidos para um grande terreno de um sítio chamado Boquinha

da Mata, que recebeu esse nome por ficar na boca de uma matadensa e verdejante (GÓIS, 2002, p. 34).

Em 21 de março de 1870, a Província reconheceu a extinção da vila de LagoaVermelha e elevou o novo povoamento, agora denominado de Boquim, à condição de vila,com a doação de terras feitas para a construção da nova igreja feita por Antônio Araújo e acerteza de que ali o solo era mais fértil e havia uma fonte de água mineral (Fonte de Mata).

Em 1913, com a chegada da linha férrea, a localidade experimentou umdesenvolvimento sem precedentes, não só pela rapidez no transporte de passageiros, maspelo volume de produtos e riquezas transportados por essa via, o que elevou em muito o

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comércio local e estimulou a produção agrícola, por ser uma via de escoamento muitoeficiente.

Alguns historiadores dizem que com a chegada do trem, aquelamáquina trouxe também mudanças nos hábitos sociais em Boquim.Os moradores esperavam os passageiros com suas melhoresroupas. Os hábitos eram os mais requintados e o reflexo também sevia na arquitetura com influência européia. A situação econômica deBoquim era tão confortável, que em 1918 a arrecadação domunicípio alcançou a maior de toda a região sul de Sergipe (GÓIS,2002, p. 35).

Na década de 1960, com a introdução dos laranjais, o município descobriria suamaior vocação e iniciaria assim um dos ciclos de desenvolvimento mais promissores, aponto de colocar a cidade como símbolo da cultura da laranja, com a abertura de empresase estrutura voltada para atender aos agricultores, como lojas de implementos, agênciasbancárias, distribuidores e beneficiadoras de frutos.

O desenvolvimento e a riqueza que a laranja propiciou à região, com emprego diretode mais de cem mil pessoas, a despeito da crise que abateu o setor no início dos anos1980, demonstraram como essa lavoura conseguiu diminuir a distância entre a miséria epobreza, por garantir, por mais de duas décadas, condições de vida melhores para os seusmoradores, diferentemente da situação de miséria que se visualizavam em outras regiões,como pode ser visto no Quadro a seguir:

Quadro 7Município de BoquimÍndice de Exclusão Social no Brasil 2000

RG UF

MU

NIC

ÍPIO

200

0

PO

SIÇ

ÃO

NO

RA

NK

ING

PIN

DIC

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E P

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LÊN

CIA

ÍND

ICE

DE

DE

SIG

UA

LDA

DE

ÍND

ICE

DE

EX

CLU

OS

OC

IAL

NE SE Boquim 3646 0,263 0,543 0,649 0,299 0,062 0,969 0,037 0,370

Fonte: POCHMANN; AMORIM, 2003, p. 96.

Assim, com a queda na sua produção, a região também passou a enfrentarproblemas de fome e miséria, com aumento significativo de barracos nos entornos dascidades e uma espécie de “favelamento rural”, com o inchaço dos núcleos dos povoados,conforme se verificou nestes municípios, nas localidades estudadas.

Entre os povoados estudados no município de Boquim, o Romão é o menor e maisisolado. Não é ponto de passagem para nenhuma sede de município, nem possui qualqueratrativo populacional, apesar de ser cortado pela antiga Ferrovia Leste Brasileira, com umpequeno arruado, com existência de templo católico e bodegas. A distância em relação àcidade termina produzindo um isolamento e ao mesmo tempo a agregação dos moradores

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em torno da vida pacata e voltada para as atividades agropecuárias. Muitos dos moradoresdo povoados são trabalhadores rurais.

A infra-estrutura do povoado é precária, com abastecimento de água através de poçoartesiano. É servido por linha telefônica e rede elétrica e mantém uma estreita dependênciacom a sede do município para a maior parte das compras e serviços.

Cortado ao meio pela Rodovia que liga as sedes dos municípios de Boquim aEstância, o povoado Cabeça D’antas possui algumas ruas calçadas, templo católico, alémde um conjunto residencial construído no Governo de Albano do Prado Franco (1998-2002).O povoado possui ainda escolas, bares e um pequeno comércio.

Por se encontrar a meio caminho da sede de dois municípios (Boquim e Estância),os moradores são beneficiados por transporte regular para se deslocarem para Aracaju, oumesmo para localidades próximas. A maior parte de seus moradores ainda tem naagricultura a sua fonte de subsistência.

A chegada ao povoado Olhos D’água é feita por uma rua calçada, ladeada porpequenas propriedades. Os moradores deste espaço possuem, em sua maioria, melhorescondições de vida, tendo acesso à telefonia, água encanada e energia.

Mais à frente no arruado, onde se encontram campo de futebol, associação demoradores, bares e mercadinho, observa-se que as residências adquirem o padrão deconstrução de cidades, com paredes coladas e um pequeno quintal. Os moradores, em suamaioria, trabalhadores rurais, procuram dotar suas residências de poços d’água, construídosem pequenos espaços que deixam entre a rua e a casa, na tentativa de diminuir os gastoscom o pagamento desse serviço à empresa estadual.

Diferentemente dos povoados dos municípios de Lagarto e de Salgado, aslocalidades estudadas em Boquim demonstram com maior vigor o quanto se encontravamenvolvidas com a cultura da laranja e como a crise na citricultura representou umempobrecimento imediato de sua população. E, conseqüentemente, o reflexo no processode formação de núcleos urbanos no campo, com agravamento de uma série denecessidades básicas como acesso a saúde e educação, além de transporte para odeslocamento para se trabalhar em outras localidades, principalmente em espaços urbanos,como é o caso de Boquim.

A crise da citricultura mudou em muito os costumes dos moradores, principalmentedos mais jovens, que passaram a buscar nas atividades urbanas respostas para asobrevivência, trabalhando no comércio, ou procurando desenvolver novas atividadessazonais, ou mesmo se preparando para atuarem em atividades industriais.

Ao longo da pesquisa ficou nítida a necessidade de um estudo que possa fazerfrente à inexistência de dados sobre os povoados de Sergipe, que tem crescido nos últimosanos, sem que os órgãos de pesquisa e estudos tenham se preocupado em organizarindicadores socioeconômicos que possam indicar as condições de vida dos habitantesresidentes nestas localidades.

5 - A pluriatividade como estratégia de reprodução da agricultura familiar: presença,dimensão e significados

Neste capítulo são apresentados os resultados globais da pesquisa de campo feitanos povoados dos municípios de Boquim, Lagarto e Salgado, selecionados na amostra,comparando-se as famílias de agricultores com as famílias pluriativas, procurando destacar

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semelhanças e diferenças existentes entre ambas, no que se refere a aspectos sócio-econômicos.

O objetivo é mostrar até que ponto a combinação de atividades agrícolas e não-agrícolas encontradas na agricultura familiar da região de maior dinamismo e modernizaçãoagrícola, denominada Centro-Sul e concentradora da produção de citrus, com destaque paraa laranja, ocorrida a partir dos anos 70 do século passado pode ser considerada comoexpressão de um “novo rural”, ou simplesmente revela estratégias de reprodução dessacategoria de produtores frente ao aprofundamento e alargamento, no espaço regional, dasrelações e da dinâmica capitalistas que tomam conta do campo sergipano.

Por outro lado, também pretende contribuir para esclarecer a natureza dasmotivações que impelem os agricultores familiares a lançarem mão da pluriatividade: são asmesmas para os pais ou responsáveis e para os filhos, ou representam, para cada umdesses sujeitos sociais, significados diferentes?

A tipificação feita entre agricultores e pluriativos considera aqueles como compondoas famílias cuja atividade laboral de todos os seus integrantes em idade ativa (acima de 10anos) está ligada única e exclusivamente à agropecuária, independentemente da maneiracomo se configuram as relações de trabalho – conta própria, assalariado, parceiro, etc. Nacategoria de pluriativos foram relacionadas às famílias que em 2003, além da atividadeagrícola, tiveram – excluídos os aposentados e pensionistas – um ou mais de seusmembros desenvolvendo atividades não-agrícolas dentro ou fora do estabelecimento.

Dos 100 questionários aplicados foram aproveitados, para a análise comparativaentre as famílias monoativas e pluriativas, 94 deles, sendo 71 de famílias que se dedicavamapenas a uma atividade, a maioria agrícola (75,5%) e 23 de pluriativos (24,5%). Os seisquestionários descartados o foram pelo fato de ninguém da família exercer qualquerocupação – a reprodução do grupo doméstico era garantida tão somente pelaaposentadoria/pensão que algum de seus membros recebia. Ressalte-se que 98% dosinformantes foram os próprios chefes da família ou responsáveis.

5.1 – Dados Gerais da Amostra

A pesquisa revelou que dos 100 domicílios rurais amostrados, onde residiam 449pessoas, mais da metade dos mesmos eram do tipo agrícola e a maioria dos seusresidentes tinha como principal ocupação o trabalho em atividades agropecuárias. Apluriatividade era exercida por um quarto do total de membros da família, em 23,0% dosdomicílios amostrados, enquanto atividades exclusivamente não-agrícolas foramencontradas em menos de 18,0% dos domicílios e desenvolvidas por 16,5% das pessoasresidentes. Os domicílios cujos membros não exerciam qualquer atividade, pois viviam tãosomente dos rendimentos oriundos de aposentadorias e/ou pensões – correspondiam a6,0% do total de domicílios pesquisados e a 3,3 % do número de pessoas que nele residiam(Tabela 1).

Cem por cento das residências das famílias pluriativas e mais de 90,0% dasmonoativas eram de alvenaria de tijolos, cobertas de telha e tinham seis cômodos. Em67,6% e 73,9%, respectivamente, das casas dessas famílias existia água encanada,proveniente de rede geral de abastecimento ou poço ou nascente.

Mais da metade das casas tinha fossa séptica e a quase totalidade era servida porenergia elétrica, da rede geral de eletricidade. O lixo era coletado diretamente pela prefeituraem pouco mais de 40,0% das residências, tanto de agricultores como de pluriativos; 30%queimavam e enterravam o lixo e 14% jogavam o mesmo em terreno baldio.

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Quanto à posse de bens de consumo duráveis e eletrodomésticos, era expressiva apresença nas residências das famílias pesquisadas de televisores (quase 90,0%), fogão agás (97,0%), geladeira (mais de 85,0%), rádio (83,0%) e antena parabólica (40,0%).

Tabela 1 Distribuição dos domicílios amostrados segundo o número de residentes

Tipos de Famílias Domicílios Pessoas

Número % Número %Agrícola 53 53,0 251 55,9Pluriativo 23 23,0 109 24,3

Não-agrícola 18 18,0 74 16,5Não-ocupado 6 6,0 15 3,3

Total 100 100,0 449 100,0Fonte: Pesquisa de campo

A ocupação principal de todos os residentes dos domicílios amostrados, fossem elespertencentes a famílias agrícolas ou pluriativas, era a agropecuária.

Entre as famílias pluriativas, a maioria de seus membros estava engajada ematividades não-agrícolas desqualificadas, o mesmo acontecendo com as famílias não-agrícolas.

Das famílias pluriativas agrícolas faziam parte três empregadores, 13 agricultoresconta própria e dois trabalhadores rurais. O trabalho não-agrícola qualificado era exercidopor sete professores, enquanto o trabalho não-agrícola desqualificado era representado porcaseiros, pequenos comerciantes (ambulantes, donos de lanchonete e bodegas),empregadas domésticas e serventes (Tabela 2).

Tabela 2 Distribuição dos domicílios amostrados segundo a ocupação no trabalho principal detodos os residentes, em 2003.

Tipos defamília

Trabalho principalAgrícola (%) Não-agrícola

qualificado (%)Não-agrícola

desqualificado (%)Total(%)

Agrícola 96,9 3,1 - 100,0Pluriativa 43,9 17,1 39,0 100,0

Não-agrícola - 36,4 63,6 100,0Não-ocupado - - - -

Fonte: Pesquisa de campo

Observou-se, ainda, que mais da metade dos domicílios pesquisados eramconstituídos por famílias de agricultores que trabalhavam por conta própria, vindo a seguiros que tinham no trabalho assalariado a reprodução da unidade familiar. Os empregadoresrepresentavam apenas 4,0% dos domicílios, enquanto as famílias de inativos correspondiama 12,0% das propriedades pesquisadas (Tabela 3).

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Tabela 3Tipos de família segundo a atividade e a posição na ocupação na amostra agregada

Tipos de família Domicílios ruraisNúmero %

Empregadora 4 4,0Conta própria 52 52,0Assalariados 32 32,0

Inativos 12 12,0Total 100 100,0

Agrícola 53 53,0Pluriativa 23 23,0

Não-agrícola 18 18,0Inativos 6 6,0

Total 100 100,0Fonte: Pesquisa de campo

Tomando-se a distribuição dos domicílios segundo a posição da pessoa dereferência (chefe ou responsável pela família), constatou-se que a maioria pertencia àcategoria conta própria, vindo, em segundo lugar, os empregados assalariados e, depois, osinativos. Apenas 4,3% dos entrevistados eram empregadores. Tanto entre as famílias deagricultores como nas de pluriativos, o trabalho por conta própria era o mais significativo,enquanto para os não-agrícolas o assalariamento era a ocupação principal de ondeprovinham os seus rendimentos para a reprodução da família (Tabela 4).

Tabela 4 Distribuição percentual dos domicílios segundo a posição da pessoa de referênciaCategoria Agrícola Pluriativo Não-agrícola TotalConta própria 62,3 69,6 16,7 55,3Empregadoassalariado

26,4 13,0 83,3 34,0

Empregador 1,9 13,0 - 4,3Inativo 9,4 4,3 - 6,4Total 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: Pesquisa de campo

Considerando-se como domicílios pobres aqueles que tinham renda per capita de atémeio salário-mínimo mensal (o valor do salário-mínimo, por ocasião da pesquisa, era de R$240,00), 58,5% do total da amostra se enquadram nessa categoria, enquanto a proporçãode pessoas pobres é da ordem de 67,1%.

O numero médio de residentes era de 4,7 pessoas, tendo a maioria das famíliasentre cinco e sete membros. A proporção de menores de 14 anos e maiores de 60 era de,respectivamente, 29,7% e 6,5%.

27

A renda domiciliar per capita média da amostra era pouco maior da metade dosalário-mínimo mensal, sendo de 0,66 s.m. para as famílias pluriativas e de 0,45% para asfamílias de agricultores.

Tomando-se por base as famílias pobres, constatou-se que 80,0% delas pertenciamà categoria das famílias monoativas, o mesmo acontecendo quando a variável analisada erao número de pessoas.

Observou-se, também, que a proporção da renda auferida pelas famílias pobres emrelação ao total da renda da amostra era de 31,8%; a participação dos salários dos pobresem relação ao total de salários era de pouco mais de um terço (37,5%), gerado por 65% dasfamílias pobres.

No que diz respeito à participação daquelas famílias no total da renda agropecuária,a pesquisa revelou que as famílias pobres contribuíam com 35,0%, e com 25,7% do valortotal das aposentadorias e pensões que eram recebidas por um quinto dessas famílias.

Por outro lado, a ocupação principal dos chefes ou responsáveis pelas famíliaspobres era a agropecuária, onde 47,3% eram agricultores conta própria e 29,1%trabalhadores rurais assalariados.

5.2 – Localização e Características do Estabelecimento do Produtor

Do total de famílias pluriativas, 56,5% residiam no município de Lagarto (ColôniaTreze), 30,4% no município de Salgado e 13,0% tinham residência permanente em Boquim.

Independentemente de sua condição de agricultor ou pluriativo, quase todos oschefes da família ou responsáveis utilizavam o estabelecimento como lar permanente.Apenas 4,3% das famílias pluriativas afirmaram ter o estabelecimento como um lugareventual de negócio/trabalho.

A maioria das propriedades pesquisadas tinha entre 1 e 3 hectares, embora 31,3%das famílias pluriativas fossem detentoras de estabelecimentos com área total acima de 10hectares, praticamente o dobro das famílias que se dedicavam exclusivamente à atividadeagropecuária (Tabela 5).

Ressalte-se, por fim, que tanto nas famílias de agricultores como nas pluriativaspredomina a condição de proprietário de terra, respectivamente 85,9% e 91,3%, sendo asdemais condições encontradas, como parceiro, cessionário, inquilino, etc. – poucosignificativas (Tabela 6). Talvez isso se deva ao fato de que os municípios da amostra têmcomo uma de suas características marcantes a existência de colônias agrícolas criadas porcooperativas (Coopertreze) e/ou pelo governo estadual quando da implementação deProgramas Especiais – em especial o POLONORDESTE - financiados pelo Banco Mundial(BIRD), nos anos 60 até meados dos 80 do século passado. A rotatividade de colonos sedeu via de regra pela compra do lote, além do que a sua reduzida área e o tipo de culturaplantada (a laranja e outros citrus) tornava praticamente impossível incorporar outraspessoas à propriedade (Tabela 5).

Tabela 5 - Distribuição dos estabelecimentos por estrato de área total (ha) – Em %Estrato de Área Agricultores Agricultores

PluriativosTotal

Menos de 1 ha 17,6 16,7 17,31 a 3 ha 38,2 22,2 32,7

3,01 a 5 ha 14,7 116,7 15,45,01 a 10 ha 11,8 16,7 13,510,1 a 20 ha 11,8 22,2 15,4

28

20,1 a 30 ha - 5,5 1,9Mais de 30 ha 5,9 - 3,8

Total 100,0 100,0 100,0Número de Famílias 34 18 52

Fonte: Pesquisa de campo, 2004.

Tabela 6 Condição de Produtor

Condição Agricultores AgricultoresPluriativos

Total

Proprietário 86,0 91,4 87,2Parceiro 1,4 - 1,1

Cessionário 5,6 - 4,3Inquilino 5,6 4,3 5,3

Inquilino e Caseiro 1,4 4,3 2,1Total 100,0 100,0 100,0

Número de Famílias 71 23 94Fonte: Pesquisa de campo, 2004.

Dos 61 proprietários, apenas dois tinham caseiros e ambos residiam empropriedades de famílias monoativas.

A condição de cessionários, no caso das famílias monoativas, talvez possa serexplicada pelas relações profundas de amizade, parentesco ou compadrio que puderam serobservadas entre os moradores dos povoados pesquisados. Embora aparentemente aexistência desse tipo de relação não implique em obrigações formais daquele que recebeu aterra para com o proprietário, observou-se que a cessão de um pedaço de terra para outrotrabalhar parece se alicerçar na confiança que tem o dono da terra naquele que precisa delapara plantar culturas de subsistência, traduzida em poder contar com o seu trabalho nomomento em que dele precisar. Quando isto acontece, o proprietário lhe remunera pelovalor da diária que paga a qualquer outro assalariado rural.

Residiam nos 94 domicílios rurais pesquisados um total de 434 pessoas, sendo 325

integrantes de famílias de agricultores e 109 de famílias pluriativas, com leve predomínio deelementos do sexo masculino em ambas as categorias de famílias tipificadas.

No que tange à estrutura etária, conforme pode ser visto na Tabela 7, os dois tiposde famílias apresentam duas diferenças significativas: a primeira entre aqueles que têmentre 15 e 19 anos, faixa na qual há 23,2% de membros das famílias pluriativas contra14,4% de agricultores; a outra se dá na faixa dos 30 a 39 anos, onde ocorre o inverso: aísão as pessoas integrantes das famílias de agricultores que apresentam a maiorporcentagem, quase 15% , enquanto as pluriativas somam 9,8%.

É importante ressaltar, ainda, a presença maior de jovens (15 a 29 anos) entre asfamílias pluriativas, e de crianças (9 a 14 anos) entre as famílias de agricultores. Nas demaisfaixas as diferenças são pouco significativas, embora as famílias pluriativas apresentem, noconjunto, idade média menor que as famílias de agricultores, e maior proporção de pessoasna faixa entre 10 e 59 anos.

Se tomarmos por base apenas os chefes ou responsáveis pela família, vemos que20,8% dos chefes de família de agricultores tinham entre 30 e 39 anos, enquanto que entreas famílias pluriativas mais da metade (52,2%) deles já tinham mais de 50 anos, o quesugere haver uma relação entre a pluriatividade, o tamanho da família e a idade dos seus

29

membros. Em síntese, a pluriatividade parece ocorrer com maior freqüência nas famíliasmaiores e cujos integrantes já passaram da fase da adolescência.

Tabela 7 Distribuição dos chefes de família por idade e sexo

FaixaEtária

Agricultores Agricultores Pluriativos

Masc. Fem. Total % Masc. Fem. Total %15 a 19Anos

1 - 1 1,4 - 1 1 4,3

20 a 29Anos

7 1 8 11,3 1 - 1 4,3

30 a 39Anos

16 3 19 20,8 4 - 4 17,4

40 a 49Anos

14 - 14 19,7 4 1 5 21,8

50 a 59Anos

10 5 15 21,1 5 1 6 26,1

60 anos emais

8 6 14 19,7 5 1 6 26,1

Total 56 15 71 100,0 19 4 23 100,0Fonte: Pesquisa de campo, 2004.

No que diz respeito à comparação entre os membros das famílias de agricultores ede pluriativos, segundo o sexo e a idade, constata-se que entre as pessoas do sexomasculino as principais diferenças estão nas faixas de 20 a 29 anos e 50 e 59 anos,respectivamente. Em ambas, a diferença entre eles é de quase o dobro, embora de maneirainversa: enquanto na faixa entre 20 e 29 anos a maior proporção de pessoas encontrada éde membros de famílias de agricultores, entre os que têm entre 50 e 59 anos a presençamaior é de pluriativos. Entre as mulheres, as principais diferenças encontradas foram nasfaixas de 15 a 19 anos, com maior porcentagem de integrantes de famílias pluriativas, eentre 30 e 39 anos, onde as mulheres das famílias de agricultores são 2,5 vezesproporcionalmente mais representativas do que as das famílias pluriativas (Tabela 8).

Tabela 8 Distribuição dos membros da família (incluindo o chefe), por idade.

Faixa Etária Agricultores AgricultoresPluriativos

No. % No. %

Total

0 a 9 Anos 47 14,5 12 11,0 5910 a 14 Anos 52 16,0 18 16,5 7015 a 19 Anos 45 13,8 14 12,8 5920 a 29 Anos 48 14,8 20 18,3 6830 a 39 Anos 51 15,7 15 13,8 6640 a 49 Anos 29 8,9 9 8,3 3850 a 59 Anos 25 7,7 11 10,1 36

60 Anos e mais 28 8,6 10 9,2 38Total 325 100,0 109 100,0 434

Fonte: Pesquisa de campo, 2004.

30

Na amostra pesquisada, predominam as famílias nucleares, formadas pelo pai, mãee filhos, tanto entre os agricultores como entre os pluriativos. A presença de outras pessoas,parentes ou não, foi pouco observada. Apenas nas famílias de agricultores foi constatada apresença de netos e agregados, conforme mostra a Tabela 9.

Os membros das famílias com mais de 10 anos e renda, incluindo os aposentadose/ou pensionistas, somavam 181 pessoas, sendo 69,6% oriundas de famílias monoativas e30,3% de pluriativas. Isto significa dizer que cada um dos membros de famílias monoativascom renda era responsável pelo sustento de mais 2,5 pessoas, enquanto a relação entre onúmero de braços e de bocas entre os membros das famílias pluriativas era igual a 2,0.Como será visto adiante, com rendas menores, as famílias monoativas tinham que sustentarum maior número de pessoas na casa do que as famílias pluriativas.

Outra característica importante diz respeito ao tamanho das famílias. As pluriativassão compostas de maior número de pessoas, ao contrário dos agricultores: 65,2% daquelestêm entre cinco e sete membros, contra 28,1% destas. Esse dado sugere a existência deuma relação entre a combinação de atividades agrícolas e não-agrícolas e o tamanho dafamília.

Tabela 9 Posição dos membros da família (incluindo o chefe) segundo o sexo

Posição Agricultores Agricultores PluriativosMasc Fem Total Masc Fem. Total

Chefe 55 16 71 20 5 25Cônjuge 3 51 54 2 17 19Filho(a) 95 67 162 31 19 50

Pai/Mãe/Sogro(a) 3 5 8 - 1 1Genro/Nora - 2 2 - - -

Neto(a) 12 5 17 4 2 6Agregado 2 1 3 - - -Outro (1) 3 5 8 2 6 8

Total 173 152 325 59 50 109 Fonte: Pesquisa de campo, 2004. (1) Irmão

5.3 - EscolaridadeQuanto à escolaridade, 26,8% dos chefes de família de agricultores eram

analfabetos e 23,9% não haviam concluído a 4ª. Série do Ensino Fundamental. Entre ospluriativos o índice de analfabetismo era de 17,4% e um quarto dos responsáveis tinhaestudado até a 4ª.Série incompleta (Tabela 9).

31

Tabela 9 - Distribuição dos chefes da família segundo a escolaridade

Ao serem incluídos, além do chefe, os demais integrantes da família, nota-se queentre os pluriativos o número de analfabetos é um pouco maior que entre os agricultores.Entretanto, no quadro geral, tem-se nas famílias de pluriativos níveis de instrução maiselevados que entre os agricultores. Por exemplo, enquanto 13,4% dos pluriativos tinhamescolaridade superior ao segundo grau completo, este índice não passava de 3,5% entre osagricultores (Tabela 10).

Tabela 10 Distribuição dos membros da família (incluindo o chefe) segundo a escolaridade

Fonte: Pesquisa de campo, 2004.

5.4 - Ocupação em atividades econômicas

Escolaridade Agricultores Agricultores Pluriativos

Número % Número %Analfabeto 18 25,5 5 21,7

Apenas lê e escreve 7 9,9 4 17,5Mobral 3 4,2 - -

1ª. a 4ª. sérieincompleto

15 21,1 5 21,7

1a. a 4ª. série completo 15 21,1 5 21,75ª. a 8ª. sérieincompleto

2 2,8 2 8,7

5a. a 8ª. série completo 2 2,8 - -2º. grau incompleto 2 2,8 - -2o. grau completo 3 4,2 2 8,7

Superior incompleto 3 4,2 - -Superior completo 1 1,4 - -Total de famílias 71 100,0 23 100,0

Escolaridade Agricultores Agricultores Pluriativos

Masc. Fem Total. % Masc. Fem. Total %Fora da idade escolar 12 10 22 6,8 2 1 3 2,8

Analfabeto 22 20 42 12,9 6 6 12 11,0Apenas lê e escreve 10 4 14 4,5 5 - 5 4,6

Mobral 1 3 4 1,2 - - - -1a. a 4ª. série

incompleto46 42 88 27,1 5 6 11 10,1

1ª. a 4ª. série completo 21 14 35 10,8 14 11 25 22,95ª. A 8ª série

incompleto33 33 66 20,3 17 11 28 25,7

5ª. a 8ª. série completo 10 4 14 4,3 - 1 1 0,92º. grau incompleto 8 11 19 5,8 3 4 7 6,42o. grau completo 4 2 6 1,8 5 6 11 10,1

Nível técnico - 1 1 0,3 - - - -Superior incompleto 3 1 4 1,2 1 2 3 2,8Superior completo - 1 1 0,3 - 1 1 0,9

Não informou 3 5 8 2,5 1 1 2 1,8Total 173 152 325 99,9 59 50 109 100,0

32

Nos municípios pesquisados a principal característica das atividades produtivasdesenvolvidas pelos agricultores familiares é a policultura, detectando-se a existência decerca de 14 produtos agrícolas cultivados, com predomínio de pomares de laranjaconsorciados com um ou dois outros cultivos, principalmente mandioca, fumo, milho emaracujá.

As culturas de subsistência encontradas foram as da mandioca (a mais freqüente),milho, feijão, macaxeira e batata, enquanto as culturas comerciais mais representativaseram a da laranja, em primeiro lugar, seguida das do fumo, maracujá, acerola, banana, cocoe mamão.

Do total de informantes que responderam a essa questão, 33 agricultores plantavamlaranja, 32 mandioca, 10 fumo, oito maracujá, seis milho, quatro macaxeira e dois, feijão,acerola e banana.

A ocupação principal da pessoa de referência (chefe ou responsável) das famíliasmonoativas e das pluriativas era a de agricultor conta própria, seguida da de trabalhadorrural assalariado e da de professor e outros servidores da educação (servente, motorista,vigilante, etc) para as famílias de agricultores. Para as pluriativas, a segunda maisimportante era a de proprietários de pequenos comércios (Tabela 11).

Tabela 11 Ocupação principal do chefe da família – Em %

Ocupação Agricultores AgricultoresPluriativos

Total

EmpregadorAgrícola 1,4 8,7 3,2Gerente/Adm. Não-

Agrícola1,4 - 1,1

Professor e Outros daEducação

5,6 8,7 6,4

Agricultor ContaPrópria(1)

46,5 47,8 46,8

Trabalhador Rural 22,5 - 17,0Comércio Não

Específico4,2 13,0 6,4

Motorista 4,2 8,7 5,3Outros Serviços

Pessoais Auxiliar deConta Própria

1,4 - 1,1

Sem Ocupação (2) 8,5 4,3 7,4Caseiro - 8,7 2,1

Entregador de frango 2,8 - 2,1Guarda municipal 1,4 - 1,1

Total 100,0 100,0 100,0Fonte: Pesquisa de campo, 2004. (1) No grupo encontra-se um inativo com renda, pertencente a famílias monoativas, que aindadesenvolve atividades agrícolas.(2) Trata-se de 6 aposentados ou inativos com renda, pertencentes a famílias monoativas, que nãomais se dedicam a qualquer atividade produtiva, seja ela agrícola ou não-agrícola.

No que tange à posição da pessoa de referência na ocupação principal, seja elapertencente à categoria das famílias monoativas ou pluriativas, a maioria trabalha por contaprópria, vindo a seguir os chefes ou responsáveis pela família que são empregadosassalariados. Quanto à categoria de empregadores, apenas entre as famílias pluriativas ela

33

tem uma certa significância, embora não chegue a 10%, ao contrário do que ocorre com osinativos com renda no caso das famílias de agricultores (Tabela 12).

Além das atividades principais já referidas anteriormente, outras como almoxarife,comprador de laranja, dono de bar e lanchonete, garçonete, empregado dos correios,marchante, guarda municipal, merendeira e produtor de mudas também foram encontradas.

Tabela 12 Posição na ocupação principal do chefe da família – Em %

Posição Agricultores AgricultoresPluriativos

Total

Trabalhador porconta própria

50,7 65,2 54,3

Empregador 1,4 8,7 3,2Empregadoassalariado

38,0 21,7 34,0

Inativo com renda 9,9 4,3 8,5Total 100,0 100,0 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2004.

Dos 94 chefes de família entrevistados, oito não tinham ocupação (eram somenteaposentados). Os 86 restantes tinham sua principal atividade vinculada aos seguintes ramosde atividades:

1 - agricultura: 47,6% tinham seu empreendimento localizado no próprio domicílio,34,9% contíguo ou vizinho ao domicílio e na zona rural, 15,9% fora/distante do domicílio ena zona rural e 1,6% fora/distante do domicílio e na zona urbana;

2 - indústria de transformação: era apenas 1 e sua ocupação ficava fora/distante dodomicílio e na zona rural;

3 - comércio: o local onde 42,9% trabalhavam ficava contíguo ou vizinho ao domicílioe na zona rural, 28,6 % contíguo ou vizinho ao domicílio e na zona urbana, o mesmoporcentual daqueles cuja ocupação ficava situada fora/distante do domicílio e na zonaurbana;

4 - transporte e comunicação: 60,0% fora/distante do domicílio e na zona urbana e orestante, contíguo ou vizinho ao domicílio e na zona urbana e fora/distante do domicílio e nazona rural;

5 - social: 77,8% contíguo ou vizinho ao domicílio e na zona rural ou urbana e 22,2%fora/distante do domicílio e na zona rural ou urbana. Eram em sua maioria funcionários daprefeitura ou de órgãos do governo estadual.

Tabela 13 Ramo de atividade do empreendimento principal do chefe da família – Em %

Atividade Agricultores Agricultores Pluriativos TotalAgricultura 76,6 68,2 74,4Indústria de

transformação1,6 - 1,2

Comércio 6,3 13,6 8,1Transportes eComunicações

4,7 9,1 5,8

Social 10,9 9,1 10,5Total 100,0 100,0 100,0

Número de Famílias 64 22 86Fonte: Pesquisa de campo, 2004.

Dos 71 chefes de famílias monoativas, apenas 13 tinham uma segunda ocupação(seis eram agricultores conta própria, cinco trabalhadores rurais, um trabalhava com

34

servente na construção civil e outro em casa de farinha). Já entre os 23 pluriativos, 10tinham uma segunda ocupação e eram todos agricultores conta própria.

Essa ocupação tinha localização, na maioria das vezes, contígua ou vizinha aodomicílio e na zona rural, para 66,7% dos agricultores, e fora/distante do domicílio e na zonaurbana, no caso de 45,5% dos pluriativos.

Na categoria dos empregadores, dos cinco responsáveis que se declararam comotal, quatro faziam parte de famílias pluriativas (três delas contratavam trabalhadorestemporários e uma, permanentes); apenas um chefe de família monoativa contratavatrabalhadores temporários.

Apenas um dos 94 entrevistados responsáveis pela família que se disse empregador,integrante de famílias monoativas, informou ter recebido rendimentos fixos mensais. Entreos conta própria, apenas um de cada tipo (monoativa e pluriativa), declarou ter recebidoesse tipo de rendimento, embora metade das famílias entrevistadas tenha informado terrecebido ajuda de pessoas não remuneradas. Das 35 famílias monoativas, 19 delasdisseram ter recebido ajuda de pessoas não remuneradas; das 15 pluriativas, seisreceberam esse tipo de ajuda.

Da categoria de empregados faziam parte 32 chefes de família, sendo 28 integrantesde famílias monoativas e quatro de pluriativas. Dos 28 chefes de famílias monoativas quetrabalharam como empregados, 16 foram contratados temporariamente (destes, 14recebiam diária e dois receberam por empreitada) e 12 de forma permanente (a quasetotalidade não recebia mais que um salário-mínimo). Os assalariados temporários,geralmente diaristas, eram empregados na colheita da laranja em sítios próximos ao seulocal de moradia.

Os chefes de famílias monoativas que trabalharam como empregados (assalariados)em atividades não-agrícolas representavam 39,3% do total e desempenhavam funçõescomo motorista, professor e outros trabalhadores da educação, comércio não específico,guarda municipal, gerente/administrador não-agrícola e outros serviços pessoais. A maioria(60,7%) trabalhava em atividades agrícolas, todos como trabalhadores rurais, sendo 51,8%como assalariados temporários e 48,2% contratados de forma permanente.

No caso dos filhos, 13 (uma mulher e 12 homens) eram empregados assalariados,sendo 11 em atividades agrícolas (todos eles como trabalhadores rurais) e dois ematividades não-agrícolas (pedreiro e comércio não específico); 69,2% eram assalariadostemporários e 30,8% trabalhadores. Cinco tinham entre 10 e 14 anos, seis entre 15 e 19 edois entre 40 e 49 anos.

Nas famílias pluriativas, os chefes de família assalariados eram quatro (três homense uma mulher), sendo dois deles trabalhadores em atividades agrícolas ( como caseiro) e osoutros dois em atividades não-agrícolas ( professor e merendeira). Todos eram assalariadospermanentes e, exceto o professor, recebiam um salário-mínimo como remuneraçãomensal. Dois deles tinham entre 30 e 39 anos, um entre 44 e 49 anos e o outro, entre 50 e59 anos. O professor possuía curso superior completo, os demais, escolaridade equivalenteà 1ª e 4ª Séries.

Os filhos que se assalariavam eram seis (três homens e três mulheres), todos ematividades não-agrícolas (um motorista, duas professoras, um empregado em uma indústriade transformação, uma costureira e um cantor). Quatro eram assalariados permanentes edois, temporários; três tinham carteira assinada e pagavam previdência; um tinha entre 10 e14 anos, três tinham entre 15 e 19 anos e dois, entre 20 e 29 anos. Um possuía o curso

35

superior completo, dois tinham o 2º. Grau completo, um não havia concluído o 2º. Grau eoutro tinha escolaridade equivalente a 5ª. e 8ª. Séries.

Mais de 80,0% dos informantes, independentemente de serem agricultores ou

pluriativos, estiveram ocupados durante os doze meses do ano de 2003 na sua ocupaçãoprincipal (Tabela 14).

Tabela 14 Quantos meses esteve ocupado (a) na ocupação remunerada principal, em 2003?

Meses Agricultores AgricultoresPluriativos

Total

Três 3,1 - 2,3Quatro - 4,5 1,1Cinco 3,1 - 2,3Seis 4,6 9,1 5,7Oito 4,6 - 3,4Nove 1,5 - 1,1Dez 1,5 - 1,1

Doze 81,5 86,4 82,8Total 100,0 100,0 100,0

Número deFamílias

65 22 87

Fonte: Pesquisa de campo, 2004.

No que diz respeito às atividades econômicas sem remuneração exercidas pelochefe ou responsável pela família em 2003, a maioria dos agricultores (57,6%) e pluriativos(63,6%) afirmaram ter realizado. Dos 88 responsáveis pela família que haviam se ocupadocom atividades sem remuneração em 2003, 55 informaram que elas eram atividades deautoconsumo (97,4% no caso dos agricultores e 100,0% dos pluriativos); 2,6% disseram ter-se dedicado a tarefas de autoconsumo e autoconstrução (todos integrantes de famíliasmonoativas).

5.5 – Rendas Monetárias

5.5.1 - Renda do chefe ou responsável pela família

Em 2003, mais de 96,6% dos chefes ou responsáveis pela família tiveramremuneração em dinheiro, produtos e/ou serviços, sendo 97,0% no caso de famílias deagricultores e 95,5% nas de pluriativos.

Na maioria dos casos, tanto para os agricultores como para os pluriativos, essesrendimentos tinham como objetivo exclusivo a constituição de uma espécie de fundo derenda da família, que lhes permitiria a manutenção de suas atividades e a reprodução daunidade doméstica (Tabela 15). Quem decidia pela aplicação dos recursos eram, emprimeiro lugar, os pais ou então, apenas somente o pai ou a mãe, o que demonstra apermanência, ainda hoje, da autoridade paterna nas decisões tomadas no seio das famíliasde agricultores familiares (Tabela 16).

Tabela 15

36

Destino dos rendimentos monetários do chefe da família em 2003Discriminação Agricultores Agricultores

PluriativosTotal

Apenas para uso próprio, porque não éusual compor um fundo de renda na

família.

3,1 - 2,3

Apenas para uso próprio, porque nãocontribui para o fundo usual de renda

da família

1,5 - 1,1

Uso próprio e uma parte repassadaregularmente para o fundo de renda da

família

7,7 13,6 6,8

Uso próprio e uma parte repassadaeventualmente para o fundo de renda

da família

1,5 - 1,1

Somente para o fundo de renda dafamília

86,2 86,4 88,6

Total 100,0 100,0 100,0Número de Famílias 65 22 87

Fonte: Pesquisa de campo, 2004.

Tabela 16 Quem decide pelo uso do fundo de renda da família, segundo o chefe.

Discriminação Agricultores AgricultoresPluriativos

Total

Todos da família, exceto ascrianças.

6,2 9,1 6,9

Os pais e os filhos quecontribuem para a formação da

renda

3,1 4,5 3,4

Os pais 36,9 50,0 40,2Somente o pai 36,9 22,7 33,4

Somente a mãe 9,2 13,6 10,3Somente o filho mais velho 1,5 - 1,2

Outros 6,2 - 4,6Total 100,0 100,0 100,0

Número de Famílias 65 22 87Fonte: Pesquisa de campo, 2004.

Além dos rendimentos obtidos das ocupações principal e/ou secundárias, outrasfontes de renda faziam parte do montante total à disposição dos chefes ou responsáveispelas famílias.

Das 94 famílias pesquisadas, 20 recebiam rendas fixas mensais de programassociais do governo federal, sendo 10 famílias do município de Boquim (ou 23,8% das 42famílias entrevistadas, das quais 11,5% recebiam recursos do Programa de Erradicação doTrabalho Infantil - PETI, porcentagem que alcança 25,0% quando se toma como baseapenas o total de famílias que recebem benefícios dos programas sociais já mencionados),sete de Salgado e três de Lagarto (Colônia Treze). Dessas famílias, 14 recebiam apenas umtipo de benefício, e seis delas, dois (quatro famílias de Salgado recebiam bolsa-escola evale-gás e, no caso de Boquim, uma recebia bolsa-alimentação e PETI e outra, bolsa-escolae vale-gás). Ressalte-se a presença do PETI, haja vista tratar-se de uma região onde o

37

emprego do trabalho infantil é muito elevado, principalmente na exploração da cultura dalaranja, cuja maior incidência de uso ocorre por ocasião da colheita.

O município de Boquim, não apenas por ser o maior produtor de laranja do estado deSergipe, mas principalmente devido à luta empreendida pelo sindicato de trabalhadores dacitricultura no combate ao trabalho infantil nos pomares locais, aparece como o que temmaior número de famílias se beneficiando do PETI. A luta do sindicato contra a exploraçãodo trabalho de crianças no município foi, para muitos, o pivô do assassinato do seupresidente, o vereador Carlos Gato, até hoje sem solução.

Todos esses programas, além de os benefícios sempre chegarem com atraso àsmãos dos beneficiários, têm sido alvo de várias denúncias, como a de que pessoas que nãose enquadram na categoria de pobres (funcionários da prefeitura, parentes de políticos, etc.)foram cadastrados e estão recebendo os benefícios, enquanto outros que verdadeiramenteprecisam ficaram de fora; ou ainda, que os benefícios estão sendo apropriados por outraspessoas que não as que se cadastraram e constam como estando recebendo regularmenteos mesmos.

5.5.2 – Composição e valor da renda familiar

No que se refere à composição e valor dos rendimentos monetários auferidos pelogrupo familiar em 2003, observou-se que a maior contribuição, no caso dos agricultores, aocontrário do que seria natural, não vem da renda obtida com a venda de produtosagropecuários, e sim de salários. O que significa que as receitas oriundas das atividadesestritamente agropecuárias desenvolvidas pela família têm sido insuficientes para garantir areprodução física e social do grupo doméstico, obrigando a que alguns de seus membrosbusquem outras ocupações fora da propriedade, trabalhando como assalariados.

A participação dos salários é mais que o dobro da renda proveniente das atividadesagrícolas, o que sugere uma situação de empobrecimento dessas famílias e a incapacidadede viverem apenas com as receitas obtidas dos produtos que retiram da roça. Reforça essasituação a participação das aposentadorias e/ou pensões na renda dessas famílias, quechega a ser superior a 25% do total da renda familiar.

Situação inversa ocorre com os pluriativos, onde a renda da agropecuária contribuicom 32,4%, contra 31,8% dos salários. Ressalte-se, nesse caso, a importância da rendaobtida como as atividades comerciais, da ordem de quase 14,0%. As aposentadorias e/oupensões também têm uma significativa presença na composição da renda dessas famílias,representando quase um quinto da renda total familiar.

Por outro lado, observa-se que a renda média mensal das famílias pluriativas é umavez e meia maior que a dos agricultores, o que vem confirmar pesquisas anteriores sobre otema realizadas no âmbito do Projeto Rurbano, já mencionado anteriormente (Tabela 17).

38

Tabela 17 Composição e valor dos rendimentos monetários obtidos pelos membros da famíliacom mais de 10 anos e renda em 2003

Tipo de rendimento Agricultores Agricultores PluriativosNo. De

InformantesValor

(R$1,00)% No. De

InformantesValor

(R$1,00)%

Agropecuária 36 85.063 20,0 19 67.280 32,4Salário 46 187.936 44,0 14 66.060 31,8

Comércio 3 26.400 6,2 9 28.720 13,9Industrialização/Beneficiamento - - - 2 3400 1,7

Aposentadoria/Pensão 28 117.600 27,6 8 40.320 19,4Outros rendimentos (1) 2 2.100 0,5 2 675 0,3

Renda recebida do governo(2) 17 7.089 1,7 3 1.080 0,5Total 71 426.188 100,0 23 207.535 100,0

Rendimento Médio Mensal daFamília

- 500,22 - - 751,94 -

Fonte: Pesquisa de campo, jun, 2004.(1) Costura, bordado, pintor. (2) PETI, Bolsa-escola, Bolsa-alimentação, Vale-gás.

Tomando-se como base de análise o conjunto das famílias entrevistadas, constata-se que a participação das parcelas componentes da renda domiciliar na amostra é aseguinte: - renda de ocupações (principal e secundárias): 73,4%- renda de aposentadorias e pensões: 24,9%- outras rendas: 1,7%- renda agrícola: 24,0%- renda não-agrícola: 76,0%.

A renda da pluriatividade (ocupações não-agrícolas) corresponde a 46,5% do totalgeral da renda das famílias pluriativas, enquanto a renda das ocupações secundárias é de1,6% da renda total das famílias de agricultores e pluriativas.

Quanto à origem da renda familiar, a pesquisa revelou que quase a metade dosdomicílios e das pessoas têm nas atividades agrícolas 50% ou mais de sua renda, seguidadas aposentadorias e/ou pensões e outras rendas e, por último, de atividades de origemnão-agrícolas (Tabela 18).

Tabela 18 Distribuição dos domicílios segundo o número de residentes

Origem da renda familiar Domicílios Pessoas

Número % Número %50% ou mais de origem

agrícola42 42,0 194 43,2

50% ou mais de origem não-agrícola

24 24,0 103 33,9

50% ou mais deaposentadorias e outras

rendas

28 28,0 116 25,8

Outras combinações 6 6,0 36 8,0Total 100 100,0 449 99,9

Fonte: Pesquisa de campo

39

Para os domicílios cuja renda familiar era oriunda, em sua maior parte, daagricultura, 91,7% dos seus residentes tinham como ocupação principal o trabalho agrícola,enquanto que naqueles cuja renda eram 50% ou mais de origem não-agrícola, 56,54% dosmembros da famílias trabalhavam em atividades não-agrícolas que exigiam baixa ounenhuma qualificação (Tabela 19).

Tabela 19 Distribuição dos domicílios amostrados segundo a ocupação principal de todos osresidentes.

Origem da renda familiar Trabalho principal

Agrícola(%)

Não-agrícolaqualificado

(%)

Não-agrícoladesqualificado

(%)

Total(%)

50% ou mais de origemagrícola

91,7 3,3 5,0 100,0

50% ou mais de origem não-agrícola

20,5 23,1 56,4 100,0

50% ou mais deaposentadorias e outras

rendas76,9 11,5 11,5 99,9

Outras combinações 57,1 14,3 28,6 100,0Total 65,9 11,4 22,7 100,0

Fonte: Pesquisa de campo

Considerando-se a relação tamanho da família x assalariamento, observa-se que64,8% das famílias monoativas têm na composição da renda familiar rendimentos obtidos dotrabalho assalariado (na maioria dos casos, temporário) do chefe e/ou de membro(s) dafamília, tendo sido observado que 52,4% delas são constituídas de duas a quatro pessoas.Parece haver uma relação inversa entre o tamanho da família e a busca de trabalhoacessório por parte de alguns de seus membros. Já no caso das famílias pluriativas, oassalariamento é encontrado em 60,9% das mesmas, sendo a ocupação em trabalhoacessório diretamente proporcional ao tamanho da família. Nas famílias pluriativaspesquisadas, 66,7% das que se assalariavam tinham entre cinco e sete pessoas.

As razões que levam ao assalariamento entre as famílias pluriativas e as monoativasparecem ter motivações distintas. Os dados da pesquisa sugerem que o assalariamentonas famílias monoativas parece estar ligado à necessidade de aumentar a renda familiarvisando prover as necessidades mais básicas da família, a partir de um emprego(geralmente temporário) numa atividade agrícola ou não-agrícola, enquanto que nas famíliaspluriativas ele parece ter mais a ver com o próprio ciclo de vida da família, tal comoestudado por Chayanov (1974).

Outro aspecto interessante é que entre as famílias pluriativas, aquelas que têm asmaiores rendas mensais em salários-mínimos são também as que têm maior número demembros. Das 23 famílias pesquisadas, 15 ou 65,2% tinham entre cinco e sete pessoas e,destas, nove tinham renda familiar de três a 10 salários-mínimos mensais; ressalte-se,ainda, que nenhuma entre as 15 tinha renda mensal de até um salário-mínimo (Tabela 20).

Das 44 famílias monoativas, ao contrário, 29 ou 65,9% delas recebiam, no máximo,dois salários-mínimos por mês, sendo que 16 delas ou 36,4% apresentavam renda familiarentre 0,5 e um salário-mínimo mensal.

40

Tabela 20 - Renda total da família, em salários-mínimos mensais (R$240,00) em 2003.Rendimentos Agricultores Agricultores

PluriativosTotal

Até 0,5 s.m. 1,4 - 1,11+ de 0,5 a 1 s.m. 28,2 4,3 25,5+ de 1 a 2 s.m. 32,4 13,0 26,6+ de 2 a 3 s.m. 21,1 17,4 21,3+ de 3 a 5 s.m. 11,3 47,8 18,1

+ de 5 a 10 s.m. 4,2 17,4 6,4+ de 10 s.m. 1,4 - 1,1

Total 100,0 100,0 100,0Número de Famílias 71 23 94

Fonte: Pesquisa de campo, 2004.

5.5.3 - Informações sobre os demais membros das famílias

Em 2003, 28 membros com mais de 10 anos e renda pertencentes a famíliasmonoativas estiveram ocupados e receberam remuneração em dinheiro, produtos e/ouserviços; cinco deles também trabalharam em atividades sem remuneração (autoconsumo).Entre as pluriativas, dos 23 membros, 19 estiveram ocupados e dois não; 18 receberamremuneração em dinheiro, produtos e/ou serviços (apenas dois se dedicaram a atividadesnão remuneradas, no caso, autoconsumo).

Para mais de 60,0% das pessoas que integravam as famílias de agricultores e umterço dos pluriativos, os rendimentos serviram para compor exclusivamente o fundo derenda familiar; 20,0% ficavam para o uso próprio do membro da família que o recebia e que,eventualmente, repassava uma parte para ajudar a constituir o fundo de renda familiar. Nocaso dos pluriativos, 20,0% dos rendimentos obtidos pelos membros da família no períodoficavam com os mesmos. (Tabela 21).

Tabela 21 Destino dos rendimentos monetários desse período – Em %

Destino Agricultores AgricultoresPluriativos

Total

Apenas para uso próprio, porque não éusual compor um fundo de renda

familiar.

8,0 20,0 13,3

Uso próprio e para o fundo de renda dafamília, repassa regularmente.

- 15,0 6,7

Uso próprio e para o fundo de renda dafamília, repassa eventualmente.

20,0 20,0 20,0

Somente para o fundo de renda dafamília

64,0 35,0 51,1

Apenas para uso próprio, porque nãocontribui para o fundo de renda familiar. 8,0 10,0 8,9

Total 25 20 45Fonte: Pesquisa de campo, 2004.

A maioria dessas pessoas, membros das famílias de agricultores ou pluriativas, eratrabalhador rural assalariado, outras trabalhavam como professores, merendeiras,trabalhadores da construção civil, domésticas, artesãs e motoristas, em locais contíguos ouvizinhos ao domicílio e na zona rural.

41

Do total de empregados contratado temporariamente, 12 pertenciam a famíliasmonoativas e quatro a pluriativas. Recebiam diárias que variavam entre R$12,00 e R$19,00,e somente um dos membros de famílias pluriativas pagava à Previdência. Os contratados deforma permanente eram 14, sendo 11 integrantes de famílias pluriativas, recebiam umsalário-médio que variavam entre R$ 341,39 e R$ 360,00; 12 tinham carteira assinada (doisde famílias de agricultores e 10 de pluriativas) e todos pagavam à Previdência. Dos queresponderam, metade (todos pluriativos) trabalhou em 2003, durante seis meses.

Apenas quatro membros de famílias monoativas e três de pluriativas tinham umasegunda ocupação com remuneração em dinheiro, produtos e/ou serviços.

Tabela 22 - Onde se localizava a ocupação principal

Fonte: Pesquisa de campo, 2004

Receberam rendimentos em dinheiro, produtos e/ou serviços mensais fixos em 2003,26 membros inativos de famílias monoativas (25 recebiam aposentadoria/pensão e um,transferências de pessoas da família). Dos inativos pertencentes a famílias pluriativas, 11receberam rendimentos mensais fixos, todos provenientes de aposentadoria/pensão. Odestino desses rendimentos era a constituição do fundo de renda familiar por parte dasfamílias.

É importante notar que 17 chefes ou responsáveis pela famílias, além decontinuarem trabalhando na roça, eram também inativos: 11 pertenciam a famíliasmonoativas e seis, a famílias pluriativas (Tabela 23).

Localização Agricultores AgricultoresPluriativos

Total

No domicílio 4 3 7Contíguo ou vizinho ao domicílio

e na zona rural 17 8 25Contíguo ou vizinho ao domicílio

e na zona urbana - - -Fora/distante do domicílio e na

zona rural 2 2 4Fora/distante do domicílio e na

zona urbana 2 5 6Total 25 18 43

42

Tabela 23 Destino dos rendimentos monetários desse período segundo as pessoas inativas

Destino Agricultores AgricultoresPluriativos

Total

Apenas para uso próprio, porquenão é usual compor um fundo de

renda familiar - - -Uso próprio e para o fundo de

renda da família, repassaregularmente - - -

Uso próprio e para o fundo derenda da família, repassa

eventualmente1 - 1

Somente para o fundo de renda dafamília 19 11 30

Apenas para uso próprio, porquenão contribui para o fundo de renda

familiar - - -

Total 20 11 31Fonte: Pesquisa de campo, 2004Obs.: Do total de 28, 20 responderam.

6 – Conclusões

Os dados da pesquisa revelaram que a pluriatividade na agricultura familiar deSergipe é bastante significativa, assim como as ocupações em atividades não-agrícolas àsquais têm recorrido constantemente os agricultores familiares da região citrícola estudada.

Mais da metade das famílias (53%) eram constituídas de agricultores, 23% erampluriativas, 18%, não-agrícolas e 6%, formadas por inativos com renda.

No que tange a posição na ocupação, 52% das famílias são de conta própria, 32%formadas por assalariados, 12% por inativos e apenas 4% são de empregadores.

As atividades não-agrícolas são geralmente ocupações de baixa qualificação –pedreiro, ambulante, pintor, etc. –, no caso de autônomos, ou de empregados no setorpúblico – professor, merendeira, servente, vigilante e motorista - e de baixa remuneração.

Geralmente, as atividades não-agrícolas dentro do estabelecimento estãorelacionadas com a manutenção da propriedade, como, por exemplo, a construção decercas e aguadas/barreiros de salvação, abertura e conservação de caminhos, fabricação eprocessamento de produtos agrícolas (farinha de mandioca, requeijão, manteiga, etc.),elaboração de artigos de artesanato e a realização de pequenos comércios, atividades que,devido ao seu caráter de produção individual, não atingem maior escala econômica. Quandose tratam de unidades de produção de pequenos produtores não proprietários, a produçãonão-agrícola pode constituir a principal fonte de geração da renda familiar (Irmão, 1993).

No caso das atividades não-agrícolas fora do estabelecimento, a ocupação se dáatravés da venda da força de trabalho dos agricultores familiares, de forma temporária (maisfreqüente) ou permanente; de maneira autônoma, caso de atividades de transporte ecomércio ambulante ou ainda de forma comunitária, como na confecção de roupas,artesanato de renda, bordados, etc.

43

A venda de trabalho pode ser em atividades agrícolas e não-agrícolas, sendo que osque mais vendem sua força de trabalho são aqueles agricultores cujo tamanho dapropriedade é inferior a 10 hectares que, devido a sua precária disponibilidade de recursos,têm necessidade de se assalariar a outras unidades econômicas para complementar a suarenda de subsistência.

O chefe ou responsável pela família e os filhos maiores trabalham normalmente todoo tempo em atividades agrícolas e não-agrícolas, enquanto a esposa e as filhas dividem oseu tempo entre a manutenção da casa e as atividades econômicas. Nas atividadesprodutivas, as mulheres se ocupam principalmente em atividades não-agrícolas e dividem oseu tempo com as atividades agrícolas em períodos de maior demanda de mão-de-obra naagricultura.

Destaca-se nesse contexto, o peso do trabalho assalariado na formação dorendimento familiar, ainda que, na grande maioria dos casos, seja o mesmo oriundo dasocupações em atividades agropecuárias, embora a expansão de empreendimentos denatureza industrial e/ou de serviços, nos últimos anos, venha ocupando lugar no meio ruralsergipano.

Observou-se, também, que o recurso a outras atividades não-agrícolas por parte dosagricultores familiares tem no reduzido tamanho das terras, na baixa produtividade dasexplorações agrícolas e no nível de renda insuficiente para garantir a reprodução física esocial da família, os principais fatores que explicam a sua origem e desenvolvimento, hajavista o perfil das ocupações não-agrícolas, que exigem pouca qualificação e remuneram malaqueles que se dedicam às atividades agropecuárias stricto senso.

Recentemente, tem-se constatado o engajamento de pessoas residentes na zonarural em ocupações vinculadas ao setor industrial, principalmente calçadista e têxtil, ou quetrabalham por conta própria na confecção de redes e bordados.

Observou-se que as famílias pluriativas têm um número maior de membros do queas famílias de agricultores, maior escolaridade e a renda média mensal 1,5 vezes maior doque das famílias agrícolas (R$ 751,93 contra R$ 500,20).

Do ponto de vista da composição das rendas monetárias, os salários contribuem coma maior parte da renda das famílias agrícolas (44%), vindo a seguir asaposentadorias/pensões (27,6%) e a renda da agropecuária (20,0%). Já no caso dasfamílias pluriativas, a atividade agropecuária apresenta-se como a mais importante naformação da renda familiar (32,4%), seguida dos salários (31,8%), dasaposentadorias/pensões (19,4%) e do comércio (13,9%).

Desponta, assim, um novo fator social no meio rural: as famílias pluriativas, ou seja,aquelas que têm pelo menos um membro que exerce uma outra atividade, além da principal,e/ou possui uma outra fonte de renda fora da agricultura, com exceção de transferênciassociais, aposentadorias e pensões.

44

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