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TIPOS DE PLURIATIVIDADE NA AGRICULTURA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO RURAL Marcelo Antonio Conterato Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Mestre em Desenvolvimento Rural e doutorando junto ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) www.ufrgs.br/pgdr [email protected] Sergio Schneider Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Professor junto ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) www.ufrgs.br/pgdr [email protected] Área temática 7 – Agricultura Familiar Análises econômicas, sociais e ambientais ligadas à pequena produção e à agricultura familiar e extensão rural Forma de apresentação Oral

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TIPOS DE PLURIATIVIDADE NA AGRICULTURA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO RURAL

Marcelo Antonio Conterato Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Mestre em Desenvolvimento Rural e doutorando junto ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR)

www.ufrgs.br/pgdr [email protected]

Sergio Schneider Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Professor junto ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) www.ufrgs.br/pgdr [email protected]

Área temática 7 – Agricultura Familiar

Análises econômicas, sociais e ambientais ligadas à pequena produção e à agricultura familiar e extensão rural

Forma de apresentação Oral

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TIPOS DE PLURIATIVIDADE NA AGRICULTURA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO RURAL

Resumo A consolidação do debate acerca do desenvolvimento rural e da agricultura familiar no Brasil tem se pautado, entre outros pontos, pelas possibilidades da pluriatividade no fortalecimento das estratégias individuais e familiares bem como para o desenvolvimento das áreas rurais. Este trabalho objetiva contribuir com este debate apresentando indicadores da importância que assume as atividades não-agrícolas e a pluriatividade no meio rural, tomando como universo empírico o estado do Rio Grande do Sul. Através de dados coletados em quatro regiões deste estado, observa-se distintas dinâmicas de desenvolvimento rural e de expressões da própria pluriatividade, sendo esta analisada como parte integrante das estratégias de diversificação dos modos de vida estabelecidas pelos agricultores familiares. Palavras-chave: desenvolvimento rural, agricultura familiar, pluriatividade

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TIPOS DE PLURIATIVIDADE NA AGRICULTURA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO RURAL

Introdução

O debate sobre o desenvolvimento rural no Brasil tem se pautado, entre outros pontos, com uma preocupação acerca do papel e da capacidade da agricultura familiar promover o desenvolvimento em áreas rurais. O desenvolvimento rural, por sua vez, não pode ser compreendido ou, conforme Veiga (2000), não existe como fenômeno concreto e separado do desenvolvimento urbano, já que as trocas entre estes dois ambientes são crescentes. Por conta disso, a perspectiva de Van der Ploeg et al (2000) parece dar conta do significado que o desenvolvimento rural deve assumir. Este deve significar a busca de um modelo para o setor agrícola, incluindo-se aí a produção de bens públicos, como a paisagem, a valorização das economias de escopo em detrimento das economias de escala, a pluriatividade das famílias rurais, a democratização dos espaços rurais, entre outros. É a complexidade dos processos sociais que caracteriza a promoção do desenvolvimento rural, o que significa dizer que se trata de um processo dinâmico e pode assumir distintas facetas em função da heterogeneidade social, econômica, cultural e política que é típica do meio rural. Neste debate, a pluriatividade assume um papel primordial a partir do seu reconhecimento como estratégia de reprodução, de fortalecimento das estratégias de vivência e diversificação das atividades desenvolvidas pelos agricultores familiares.

Por conta disso, a pluriatividade passa a ser reconhecida como uma importante estratégia de reprodução dos agricultores familiares e de promoção do desenvolvimento rural, principalmente naquelas regiões onde a agricultura familiar se apresenta como a forma social hegemônica, contribuindo decisivamente para o fortalecimento das economias locais, para a permanência dos agricultores no meio rural, para geração de renda e até como um mecanismo que permite fortalecer o modo de vida dos agricultores familiares.

O objetivo deste trabalho consiste em refletir sobre os traços distintivos e potencialidades da pluriatividade para se pensar na redefinição do modelo de desenvolvimento atualmente hegemônico. Este trabalho utiliza-se de dados de uma pesquisa recente sobre as famílias pluriativas no estado do Rio Grande do Sul obtidos em quatro distintas regiões (ver Figura 1).

O trabalho estrutura-se em três seções, além das considerações finais, que buscam demonstrar que o debate sobre o desenvolvimento rural deve se pautar pelo reconhecimento das potencialidades ou especificidades de cada território em estimular o desenvolvimento em áreas rurais, haja vista as dinâmicas distintas deste processo. Na primeira são apresentadas algumas referências sobre o desenvolvimento rural e a pluriatividade. A segunda seção dedica-se a análise da pluriatividade com base em uma distinção entre intersetorial e de base agrária, dada a existência de distintas dinâmicas territoriais de desenvolvimento e de inserção mercantil da agricultura familiar. Na terceira seção são apresentados e analisados dados sobre dinâmicas territoriais da agricultura familiar e os tipos de pluriatividade a partir de recente pesquisa realizada no Rio Grande do Sul, procurando-se apresentar evidências que sustentam o argumento das suas potencialidades para o desenvolvimento rural.

Desenvolvimento rural e pluriatividade

Nos anos recentes assiste-se a um interesse crescente no Brasil acerca da problemática do desenvolvimento rural. Neste debate, a agricultura familiar passou a centralizar as análises tornando-se quase uma prerrogativa nas discussões sobre o desenvolvimento rural. O debate assenta-se principalmente nos limites do desenvolvimento agrícola em promover o desenvolvimento em áreas rurais e o debate sobre a importância das atividades não-agrícolas e da pluriatividade para as populações que vivem nestas áreas.

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Conforme já salientado, entre as dimensões que tem sido indicadas na literatura como características da abordagem do desenvolvimento rural pode ser indicada a necessidade da diversificação das estratégias de reprodução, na democratização dos espaços rurais, na incorporação das questões ambientais. Como limites, pode-se citar as limitações dos processos democráticos, a subordinação dos agricultores às cadeias agroalimentares mundiais, a queda dos preços mundiais das commodities agrícolas. Estas dimensões têm impacto distinto para cada país ou região, mas no seu conjunto assume papel primordial no desenvolvimento rural.

Neste sentido, é cada vez mais urgente a necessidade de pensar e reconhecer o rural como lócus para o desenvolvimento rural e não apenas como base material ou funcional de ampliação da produtividade da agropecuária através da incorporação de modernas tecnologias aos processos produtivos. Esta concepção de desenvolvimento rural associa o rural ao agrícola e o seu desenvolvimento à uma racionalidade empresarial de gestão dos fatores de produção, negando os diferentes graus de mercantilização e a diversidade de modos de vida rurais existentes em todas as regiões do Brasil. O desenvolvimento rural, ao contrário, caracteriza-se, conforme Van der Ploeg, et all., em “uma saída para as limitações e falta de perspectivas intrínsecas ao paradigma da modernização e ao acelerado aumento de escala e industrialização que ele impõe” (2000, p. 395).

O aspecto fundamental que se tem observado e reconhecido é o desenvolvimento rural como um processo multifacetado, onde sua construção depende tanto das suas características endógenas como exógenas. O que se assiste hoje são processos distintos de mercantilização, integração e interação com os mercados, seja via produtos e serviços ou mercado de trabalho.

Trata-se de reconhecer, conforme lembra Martins (2002), que na sociedade capitalista, o agricultor familiar deve ter algum vínculo com o mercado, com o dinheiro e, portanto, com o capital. Martins mostra que há uma tendência crescente das populações camponesas serem cada vez mais influenciadas pelo mercado e pelo capital, portanto, para o estabelecimento de trocas. Ou seja, a sociedade assiste a um processo crescente de mercantilização das formas sociais de trabalho e produção no meio rural que não podem ser desconsideradas ou simplesmente tomadas como um fato “natural” das sociedades capitalistas (p. 65 – 67). Reconhecer as transformações, as metamorfoses é também conceder à agricultura familiar a capacidade de se reproduzir em ambientes marcadamente capitalistas sem, no entanto, deixar de ser familiar mas, ao contrário, se fortalecer em ambientes competitivos.

Em face das transformações estruturais as quais tem sido submetidos os agricultores, como a adoção do progresso tecnológico, seja no melhoramento genético ou em máquinas e equipamentos, alguns pesquisadores passaram a preconizar a necessidade de repensar as abordagens analíticas e os enfoques que até então eram utilizados como referências teóricas para definir o desenvolvimento rural. Particularmente, este é o caso da abordagem das estratégias de sobrevivência familiares e a diversificação dos modos de vida rurais (household strategies and rural livelihood diversification), de Ellis (2001; 2000; 1998).

Segundo Ellis, o desenvolvimento rural consiste em um conjunto de iniciativas que visam gerar impactos significativos na melhoria das condições de vida dessas populações e ampliar suas perspectivas de garantir a reprodução social e econômica, o que se dá fundamentalmente via diversificação das ações estabelecidas pelos indivíduos e famílias. Para Ellis, a diversificação não implica apenas em ampliação das possibilidades de obtenção de ingressos monetários, especialmente rendas (agrícolas, não-agrícolas, ou outras) mas representa, sobretudo, uma situação em que a reprodução social, econômica e cultural é garantida mediante a combinação de um repertório variado de ações, iniciativas, escolhas, enfim, estratégias (2000, p. 25; 2001, p.443).

Este esforço reflexivo tem conduzido ao entendimento de uma interpretação mais flexível e alargada do desenvolvimento rural, implicando na superação da idéia de que há um

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caminho único e imperativo ao fortalecimento do desenvolvimento em áreas rurais. Por conta disso, o paradigma da modernização da agricultura, que dominou a teoria, as práticas e as políticas, como a principal ferramenta para elevar a renda e o desenvolvimento das comunidades rurais, vem sendo substituído pelo desenvolvimento rural (Veiga, 2002; 2004). Este novo modelo busca valorizar as economias de escopo em detrimento das economias de escala, a pluriatividade das famílias rurais, a participação dos atores sociais, entre outros.

Mesmo reconhecendo as características multidimensionais a serem consideradas, para que se possa identificar uma determinada situação ou processo segundo os princípios alinhados ao desenvolvimento rural, a preocupação com o emprego e as formas de ocupação continuam a ser variáveis fundamentais a serem consideradas. Neste sentido, assume um interesse crescente dos estudiosos do desenvolvimento rural pela pluriatividade, que constitui-se na combinação da ocupação agrícola com outras não-agrícolas por pessoas que residem no meio rural e pertencem a uma mesma família. Portanto, trata-se de famílias que acabam se tornando pluri ocupadas em razão da diversidade de atividades praticadas pelos membros que as compõem. No entanto, o exercício de uma segunda atividade não é arbitrado, exclusivamente, pela vontade dos indivíduos. Há que se levar em consideração as condições estruturais em que se insere a agricultura familiar como, por exemplo, a existência de um mercado de trabalho não-agrícola capaz de absorver a força de trabalho existente no meio rural, sem que esses deixem de ser agricultores.

Antes de desenvolver argumentos mais detalhados sobre a pluriatividade, vale a pena uma breve digressão que permita entender alguns dos fatores causais que estão na raiz da emergência das novas formas de emprego e obtenção de rendas para os agricultores. Entre as razões apontadas para explicar as mudanças nas formas de ocupação no meio rural e o crescimento da pluriatividade destacam-se os seguintes fatores:

a) a modernização técnico-produtiva na agricultura ou dos sistemas produtivos agrícolas: o intenso processo de modernização tecnológica experimentado pelas atividades agropecuárias e a crescente externalização de etapas dos processos produtivos tornaram as práticas produtivas no meio rural cada vez mais individualizada, resultando, invariavelmente, em redução da utilização da mão-de-obra total das famílias rurais;

b) a queda das rendas agrícolas: em decorrência do aumento dos custos de produção agrícola e da dependência de inovações tecnológicas,as atividades agrícolas caracterizam-se cada vez mais pelo aumento dos índices de produtividade (da terra e do trabalho), fundamentalmente a partir do incremento em capital imobilizado (maquinário e benfeitorias) e do aumento da utilização de insumos industriais (adubos, defensivos, etc.). Não obstante, o incremento na capacidade tecnica e produtiva na agricultura não tem se traduzido em maior rentabilidade, pois os agricultores perdem por completo o controle sobre os custos de produção e ficam a mercê das oscilações palpitantes dos preços dos produtos agropecuários estabelecidos nos mercados internacionais;

c) contenção dos fluxos migratórios: a literatura especializada, sobretudo a sociologia rural, já demonstrou fortemente que os fluxos migratórios com origem no meio rural decorrem, fundamentalmente, da adoção de processos produtivos pouco intensivos em mão-de-obra, como aqueles existentes nas tradicionais regiões produtoras de grãos e outras commodities agrícolas. Estas regiões caracterizam-se, mesmo nos anos recentes, por alimentar fluxos migratórios com origem no meio rural. Estes fluxos associam-se fortemente ao produtivismo agrícola a ao progresso tecnológico que orientam os processos produtivos O exercício de atividades agrícolas associadas à não-agrícolas

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tem permitido senão eliminar, mas reduzir consideravelmente as migrações, contribuindo para a manutenção da família e da propriedade;

d) o reconhecimento da importância crescente da agricultura familiar para o desenvolvimento rural e fortalecimento das economias locais: estudiosos das transformações contemporâneas do rural passaram a perceber que não só a agricultura familiar tem capacidade de persistir em face à crescente mercantilização produtiva e inserção em mercados como, efetivamente, ela passou a ser a principal forma social presente nos espaços rurais dos países capitalistas mais desenvolvidos (Abramovay, 1992; Lamarche, 1993). Neste contexto, a pluriatividade passou a ser percebida como uma das estratégias fundamentais de reprodução da agricultura familiar e adaptação às transformações macro-estruturais na agricultura (Fuller, 1990; Marsden, 1995). No Brasil, Schneider (1999;2003), Sacco dos Anjos (2003) demonstraram que o exercício de várias atividades dentro de um mesmo estabelecimento seria uma característica intrínseca ao “modo de funcionamento” de unidades de trabalho que organizam-se sob a égide do trabalho familiar e não uma demonstração de fraqueza ou definhamento desta forma social.

Neste sentido, é necessário perfilar argumentos em favor das potencialidades da pluriatividade como um dos caminhos para promover estratégias sustentáveis de diversificação dos modos de vivências das famílias rurais (Ellis, 2000). Acredita-se que através da pluriatividade os agricultores familiares possam estabelecer iniciativas de diversificação das ocupações e das fontes de acesso à renda. No entanto, as restrições a este recurso devem ser tomadas como um bom indicador da dinâmica das economias locais e regionais. O desenvolvimento rural emerge então como uma categoria analítica para dar conta das interpretações e reconhecimento da diversidade de processos sociais associados à reprodução das populações que vivem no meio rural.

Tipos de pluriatividade: intersetorial e de base agrária

A pluriatividade caracteriza-se pela combinação de múltiplas inserções ocupacionais das pessoas que pertencem a uma mesma família. A emergência da pluriatividade ocorre em situações em que os membros que compõem as famílias domiciliadas nos espaços rurais combinam a atividade agrícola com outras formas de ocupação em atividades não-agrícolas. A pluriatividade resulta da interação entre as decisões individuais e familiares com o contexto social e econômico em que estas estão inseridas. Objetivamente, a pluriatividade refere-se à um fenômeno que pressupõe a combinação de duas ou mais atividades, sendo uma delas a agricultura (Schneider, 2003). Esta interação entre atividades agrícolas e não-agrícolas tende a ser mais intensa à medida que mais complexas e diversificadas forem as relações entre os agricultores e o ambiente social e econômico em que estiverem situados. Isto faz com que a pluriatividade seja um fenômeno heterogêneo e diversificado que está ligado, de um lado, as estratégias sociais e produtivas que vierem a ser adotadas pela família e por seus membros e, de outro, dependerá das características do contexto em que estiverem inseridas. Ou seja, a própria pluriatividade na agricultura familiar pode se expressar de diferentes maneiras, levando-se em consideração as distintas dinâmicas territoriais de desenvolvimento.

Essa combinação permanente de atividades agrícolas e não-agrícolas, em uma mesma família, é que caracteriza e define o fenômeno da pluriatividade, que tanto pode ser um recurso do qual a família faz uso para garantir a reprodução social do grupo ou do coletivo que lhe corresponde como também pode representar uma estratégia individual, dos membros que constituem a unidade doméstica. A pluriatividade também pode adquirir significados diversos e servir para satisfazer projetos coletivos ou como resposta às decisões individuais. Além disso, as características da pluriatividade variam de acordo com o indivíduo-membro

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que a exerce, pois tal processo social acarreta efeitos distintos sobre o grupo doméstico e sobre a unidade produtiva, de acordo com variáveis como o sexo ou posição na hierarquia da família de quem a pratica. O mesmo pode-se dizer das condições sociais e econômicas locais, do ambiente ou do contexto, em que ocorre a pluriatividade. Nesse caso, variáveis exógenas à unidade familiar, como o mercado de trabalho e a infra-estrutura disponível, entre outros, são fatores determinantes da evolução e tendências de tais fenômenos.

A pluriatividade não ocorre de forma apenas marginal ou transitória, confinada à determinadas situações particulares, assim como também não representa um processo com tendência à generalização para todas as áreas rurais. A pluriatividade aparece em contextos e situações onde a integração dos agricultores à divisão social do trabalho passa a ocorrer não mais exclusivamente através de sua inserção nos circuitos mercantis via processos de produção agropecuários ou mesmo pelas relações de trabalho (assalariamento) em atividades exclusivamente agrícolas. A pluriatividade tende a se desenvolver como uma característica ou uma estratégia de reprodução das famílias de agricultores que residem em áreas rurais situadas em contextos onde sua articulação com o mercado se dá através de atividades não-agrícolas ou para-agrícolas.

Nos contextos em que a agricultura familiar é a forma social hegemônica, o aparecimento da pluriatividade tende a estar acompanhado de um processo de mercantilização (Van der Ploeg, 1990;1992). Por mercantilização entende-se o processo de redução crescente da autonomia das famílias rurais e sua inserção crescente em circuitos onde predominam as trocas mercantis. Neste processo, as estratégias de reprodução social tornaram-se cada vez mais subordinadas e dependentes e se amplia a interação mercantil com o ambiente social e econômico externo. Desse modo, o reconhecimento da pluriatividade como estratégia de reprodução na agricultura familiar passa, necessariamente, pela consideração dos distintos graus de mercantilização na agricultura de base familiar.

Portanto, a pluriatividade manifesta-se naquelas situações em que a integração dos membros das famílias de agricultores aos mercados passa a ocorre também pela via do mercado de trabalho. Este processo pode ocorrer tanto naquelas situações em que os agricultores já estiverem inseridos em mercados de produtos (no geral ligados à agropecuária), bens e serviços ou em outros em que a integração produtiva é muito incipiente e a venda da força de trabalho passa a ser a principal mercadoria de troca dos agricultores com o mercado. Isto significa, primeiro, que este processo promove e aprofunda a inserção do agricultor familiar aos circuitos mercantis e, segundo, que esta inserção ocorre segundo as características previamente existentes nos territórios, podendo se dar concomitantemente em mercados de produtos (nas situações em que vigora o sistema de integração agroindustrial, por exemplo) e de trabalho ou apenas através da venda da força de trabalho.

Contudo, para compreender a ampla diversidade de formas que assume a pluriatividade em face dos condicionantes internos à unidade familiar (grau de tecnificação, número e idade dos membros da família, sistemas de produção desenvolvidos, tamanho do estabelecimento, etc) e ao ambiente social e econômico em que se encontra, considera-se necessário e adequado recorrer à uma classificação destas famílias segundo o tipo de atividade.

Até recentemente, a maior parte dos estudos, especialmente europeus, focalizou a pluriatividade apenas como aquela situação em que pessoas de uma mesma família rural combinam a ocupação nas atividades agrícolas com outras não-agrícolas vinculados à outros setores e ramos econômicos como a indústria, o comércio, os serviços, etc. Este tipo de pluriatividade configura a situação “clássica” de interação intersetorial da agricultura com outras atividades econômicas.

Contudo, com a disseminação de estudos sobre a pluriatividade no Brasil, começaram a aparecer questionamentos e críticas baseadas no argumento de que esta situação típica da

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pluriatividade intersetorial somente seria encontrada em algumas regiões específicas. Basicamente, o argumento se assenta na idéia de que a pluriatividade seria um fenômeno absolutamente dependente e tributário do ambiente social em que se insere. Não havendo ali a possibilidade de integração intersetorial entre os mercado de trabalho agrícola e não-agrícola, não haveria a pluriatividade. Tendo em vista que no Brasil existem várias regiões que dependem fundamentalmente da agricultura para se desenvolver, nestes contextos a pluriatividade jamais poderia aparecer e se constituir como uma estratégia de ocupação e renda para as populações.

Não obstante, neste trabalho pretende-se demonstrar que mesmo nas regiões que são fortemente dependentes e tributárias da agropecuárias para gerar empregos e ocupações, também nestas pode aparecer o fenômeno da pluriatividade, ainda que de forma distinta daquela amplamente reconhecida pela literatura, caracterizando situações de integração entre a agricultura e outro setor de atividade econômica.

Neste sentido, alguns estudiosos passaram a argumentar que mesmo nas situações em que não ocorre a integração intersetorial podem ser encontradas formas de combinação de atividades e ocupações que caracterizariam um novo tipo de pluriatividade, denominado de pluriatividade de base agrária.

Os primeiros pesquisadores a referi-se à este tipo de pluriatividade foram os espanhóis, reconhecendo a combinação de atividades diretamente ligadas à agropecuária dentro e fora do estabelecimento (Sampedro Gallego, 1996; Etxezarreta, 1988:1995; Brun, 1987)1. Trata-se, de acordo com Sampedro Gallego (1996), de uma pluriatividade “interna” ao setor agropecuário, que se expressa principalmente em sistemas agrários caracterizados por uma estrutura de posse das propriedades muito desequilibrada que acaba por desvelar, na maioria das vezes, uma realidade de intensa diferenciação social e econômica na agricultura e no meio rural, principalmente em relação à posse da terra e dos demais fatores de produção.

As atividades que caracterizam a pluriatividade de base agrária, como a venda de serviços de máquina ou equipamentos agrícolas em períodos de plantio, colheita ou manejo, bem como em atividades sazonais manuais de plantio, colheita ou manejo, representam “extensões” do espaço laboral da exploração agropecuária, pois sua realização se dá pelo uso de fatores, meios de produção e outros recursos existentes no próprio estabelecimento agropecuário.

No Brasil, os estudos sobre a pluriatividade de base agrária ainda são embrionários, carecendo de estudos mais numerosos para que se reconheça esta forma de pluriatividade como uma realidade no meio rural. O primeiro trabalho conhecido que operou com esta tipificação foi Conterato (2004). Para o autor, a pluriatividade de base agrária decorre da externalização de atividades do processo produtivo agrícola, porque emerge em um ambiente social e econômico onde predomina um padrão exclusivamente agrícola de desenvolvimento. Neste sentido, conforme Van de Ploeg (1992), as transformações da agricultura familiar devem ser analisadas e compreendidas a partir do desenvolvimento do próprio capitalismo na agricultura através da mercantilização das relações de produção, da externalização do processo produtivo. O progresso tecnológico acaba resultando em uma externalização crescente das etapas dos processos produtivos estabelecidos, multiplicando as relações mercantis junto a agricultura familiar2. 1 Isto não significa que outros termos como “atividades complementares”, “prestadores de serviços” e outros não tenham sido utilizadas por estudiosos para caracterizar o mesmo fenômeno. O fato é que estes tipos de atividades não eram consideradas como pluriativas pelo fato de ocorrer no setor agropecuário. 2 Para Van der Ploeg (1992), la producción agrícola presupone uma reproducción continua del trabajo,de los objetos de trabajo y de los instrumentos (...). Una vez que tiene lugar la cresciente esternalización de las tareas y la producción implica una involucración cresciente de las relaciones de intercambio, los objetos mismos de trabajo, los instrumentos y, progresivamente, el trabajo también, entran en el proceso de producción en calidad de mercancías y así alcanzan simultáneamente un valor de uso y un valor de cambio. De este modo las relaciones

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A pluriatividade de base agrária emerge exatamente naquelas situações onde a mercantilização da agricultura familiar se dá fundamentalmente via mercado de produtos e serviços necessários aos processos produtivos, fortalecendo-se na medida em que as atividades produtivas desenvolvidas se voltarem para a especialização.

À medida que se externalizam etapas do processo de produção, amplia-se o recurso à contratação de serviços de máquinas e equipamentos agrícolas. A contratação dos serviços de máquinas e mesmo de pessoas é uma situação típica de terceirização de fases dos processos produtivos agrícolas, o que acaba gerando o aparecimento de novas ocupações remuneradas para pessoas com domicílio no meio rural que antes só trabalhavam em seus próprios empreendimentos. Entre os raros trabalhos realizados no Brasil sobre os processos de externalização produtiva, Laurenti (2000) mostrou como a terceirização, estabelecida pela externalização dos processos produtivos, é uma prática corrente no meio rural brasileiro, principalmente naquelas regiões onde predominam os cultivos de commodities, como soja, milho e trigo, ou outras culturas exigentes em tecnologias e poupadoras de mão-de-obra.

De uma maneira geral, pode-se afirmar que esta realidade decorre da apropriação do progresso técnico pelos agricultores, mesmo que em níveis diferenciados. Trata-se de um processo que delega a agentes externos tarefas previamente realizadas no interior das unidades pelos próprios agricultores. Por ser utilizada durante curtos espaços de tempo (invariavelmente poucos dias ou semanas durante um ano), a “terceirização” através da prestação de serviços de máquinas ou equipamentos agrícolas nem sempre resulta em incrementos significativos na renda. Não obstante, em situações onde a agricultura de base familiar dedica-se principalmente aos monocultivos estas situações são típicas e desvelam um processo significativo de diferenciação econômico-produtiva.

Um aspecto comum aos dois tipos de pluriatividade, a intersetorial e a de base agrária, é o fato de que ambas ampliam o processo de interação dos agricultores com os mercados, quer seja através da venda da força de trabalho ou da prestação de serviços. Como antes destacado, a mercantilização não é um processo linear, pois ocorre em graus variados e distintos, segundo o tipo de atividade, as características internas das famílias e do estabelecimento e do contexto social e econômico em que se encontra.

Para Marsden (1995), a pluriatividade no meio rural expressa as mutações nas relações de trabalho na sociedade contemporânea, seja ela urbana ou rural. Para o autor, o espaço rural, que durante o fordismo se limitara a cumprir suas funções produtivas agrícolas e alimentares, vai ganhando novas atribuições e aparece como ambiente onde se desenvolvem múltiplas atividades produtivas, surgindo novas funções no espaço rural antes destinado exclusivamente a produção de alimentos. De acordo com Marsden (1995), para se compreender o rural é preciso ir além da perspectiva do sistema agroalimentar como foco de análise dos processos socioeconômicos no meio rural. A pluriatividade seria então um fenômeno decorrente da reestruturação do capitalismo, implicando em transformações do mercado de trabalho também no meio rural.

Em trabalho recente, Schneider e Conterato (2005) desenvolvem de maneira mais ampla as potencialidades da pluriatividade que aqui são apenas citadas. Neste trabalho, assume-se a pluriatividade como um importante componente para o fortalecimento da agricultura familiar e do desenvolvimento rural, permitindo que as famílias incrementem significativamente os ingressos financeiros e busquem uma maior autonomia em relação a dependência exclusiva dos rendimentos provenientes das atividades agrícolas.

No Brasil, parece haver uma percepção que se encaminha para um consenso entre estudiosos, formuladores de políticas públicas e atores sociais no sentido de que está em andamento um processo de transformação estrutural da agricultura e do espaço rural e que já mercantiles penetran hasta el centro del proceso productivo y comienzan a mercantilizar el proceso de trabajo mismo (p. 171-2).

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não é mais possível reduzir um ao outro. Neste sentido, conforme já dissertado anteriormente é necessário perfilar argumentos em favor das potencialidades da pluriatividade como um dos caminhos para promover estratégias sustentáveis de diversificação dos modos de vivências das famílias rurais (Ellis, 2001). Acredita-se que através da pluriatividade os agricultores familiares possam estabelecer iniciativas de diversificação das ocupações e das fontes de acesso à renda que venham a fortalecer ainda mais a agricultura familiar enquanto forma social de trabalho e produção.

Neste sentido, estima-se que a pluriatividade tenha um papel importante na promoção do desenvolvimento rural. O desafio em promover o desenvolvimento rural levando-se em consideração o papel da pluriatividade dar-se-ia na medida em que ela poderia apresentar alternativas a alguns dos principais problemas que afetam as populações rurais, tais como a questão do emprego, da renda, a sazonalidade, o êxodo dos mais jovens, a gestão interna da unidade familiar, entre outros. Segundo alguns estudiosos (Schneider, 2003; Graziano da Silva, 1999; Echeverría, 2001; Berdegué, et.alii. 2001; Kinsella, et alii, 2000), a pluriatividade pode apresentar alternativas à um conjunto de problemas que afetam as populações rurais. Entre as alternativas pode-se citar: elevar a renda familiar no meio rural; estabilizar a renda em face da sazonalidade dos ingressos na agricultura; diversificação das fontes de ingresso monetárias; contribuir na geração de emprego no espaço rural; reduzir as migrações campo-cidade; estimular os mercados locais e desenvolver os territórios rurais; contribuir para estimular mudanças nas relações de poder e gênero e; modificar o sentido da terra e do rural.

Segundo Kinsella et alii (2000), a pluriatividade se constitui em um fenômeno estrutural e central para o futuro do desenvolvimento rural. Ellis (2000; 1998), também considera que a pluriatividade fortalece as estratégias de sobrevivência familiares e contribui no processo de diversificação dos modos de vida rurais. Neste sentido, a pluriatividade pode ser considerada como parte constituinte dos modos de vida das populações rurais e não como algo efêmero ou conjuntural. O reconhecimento da importância da pluriatividade é fundamental para identificar as dinâmicas regionais de reprodução da agricultura familiar.

Dinâmicas territoriais da pluriatividade: “aproximações ao caso gaúcho”

Os dados a seguir apresentados foram coletados mediante uma pesquisa de campo realizada no período 2002/2003 em quatro regiões distintas do Rio Grande do Sul3, intitulada Agricultura Familiar, Desenvolvimento Local e Pluriatividade no Rio Grande do Sul, a emergencia de uma nova ruralidade (AFDLP), com recursos do CNPq, indicadas e destacadas na Figura 1 abaixo. A escolha das regiões e dos municípios procurou respeitar a diversidade de dinâmicas da agricultura familiar existentes neste Estado, uma vez que o desenvolvimento rural se dá pela diversidade e não pela homogeneidade de relações estabelecidas pelos indivíduos com a sociedade.

Na Figura 1, a seguir, são indicadas as regiões e os respectivos municípios escolhidos: Colonial da Serra ou Microrregião de Caxias do Sul e município escolhido Veranópolis (1); Serra do Sudeste ou Microrregião de Pelotas e município de Morro Redondo (2); Missões ou Microrregião de Cerro Largo e município de Salvador das Missões (3); Alto Uruguai ou Microrregião de Frederico Westaphalen e município escolhido de Três Palmeiras (4). A escolha dos municípios representativos de cada região obedeceu a critérios processos históricos de ocupação/colonização, importância da agricultura familiar para o município, número de estabelecimentos agropecuários, entre outros que permitissem tomar o município como representativo da dinâmica regional. A metodologia utilizada foi a amostral (sistemática por comunidade rural, que são as localidades que constituem a unidade municipal)

3 Dados mais detalhados sobre métodos e técnicas podem ser obtidos em Conterato (2004).

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representando, aproximadamente, 11% das unidades agrícolas familiares em cada um dos quatro municípios representativos das dinâmicas territoriais.

A referida pesquisa vem permitindo identificar, entre outros aspectos ligados à agricultura familiar e o desenvolvimento rural, a abrangência, a importância e os tipos de pluriatividade no meio rural do Rio Grande do Sul. A partir da análise dos resultados, constatou-se que a combinação de atividades agrícolas e não-agrícolas pelos agricultores familiares caracteriza-se por uma diversidade de situações em contextos e regiões específicas. A análise que segue buscará discutir algumas destas particularidades e destacar o papel dos tipos de pluriatividade para o desenvolvimento rural.

Antes de adentrar à análise dos dados da pesquisa citada, considera-se importante apresentar, mesmo que sinteticamente, algumas informações sintéticas sobre os municípios estudados. No que diz respeito a densidade demográfica, apenas Veranópolis destoa dos demais, onde segundo o IBGE (2000) esta é de 70,4 hab/km2 enquanto os demais fica entorno de 25 hab/km2. Os dados sobre a população rural em relação a total também são destoantes apenas em relação a Veranópolis, onde o percentual da população rural em relação a total é 17,7%, enquanto para os demais municípios fica entorno de 65%. Na participação da agropecuária no Produto Interno Bruto (PIB) há diferenças importantes entre os municípios. De acordo com a Fundação de Economia e Estatística (FEE) para o ano de 2001, a participação da agropecuária no PIB municipal de Veranópolis era de 10,2%, enquanto em Três Palmeiras alcançava 51,4%. Para Salvador das Missões este percentual era de 45,2% e para Morro redondo de 20,4%.

No que tange a área média dos estabelecimentos agropecuários municipais, observa-se, de acordo com o Censo Agropecuário 1995/96, valores aproximados, corroborando para a predominância da agricultura de base familiar no meio rural destes municípios. Veranópolis apresentou a maior média entre os estabelecimentos, com 23,2 hectares, seguido de Morro Redondo com 22,8 hectares, Três Palmeiras com 19,8 hectares e Salvador das Missões com 14,1 hectares. Em relação ao Valor Bruto da Produção (VBP) por estabelecimento agropecuário observa-se diferenças importantes, servindo como um indicador das distintas dinâmicas da agricultura familiar nestes municípios e nas próprias regiões. A partir dos dados apresentados pelo Censo Agropecuário 1995/96, observa-se duas dinâmicas. A primeira é representada exclusivamente pelo município de Veranópolis, onde o VBP por estabelecimento agrícola foi superior a 20 mil reais. A outra dinâmica engloba os demais municípios, onde esse valor ficou entorno de 8 mil reais para Morro Redondo e 9 mil reais para Salvador das Missões e Três Palmeiras. Após sintética apresentação de alguns dados comparativos municipais, far-se-á a análise da pesquisa propriamente dita.

A pesquisa realizada nos quatro municípios contabilizou um total de 238 agricultores familiares entrevistados4. Os dados mostram que a pluriatividade está presente em 44,1% das famílias de agricultores familiares, indicando ainda a predominância das famílias monoativas na agricultura familiar, ou seja, aquelas que se ocupam exclusivamente na agricultura,

4 Em Koppe (2004) encontra-se uma análise mais detalhada sobre estratificação social e pluriatividade na agricultura familiar gaúcha, demonstrando a heterogeneidade das famílias pluriativas.

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representando 56% do total5. Mesmo assim, os dados demonstram a abrangência e a importância que assume a pluriatividade na agricultura familiar do Rio Grande do Sul6. Figura 1: Localização das regiões de estudo sobre a agricultura familiar no estado do Rio Grande do Sul/Brasil.

Apesar de, no conjunto, as famílias monoativas predominarem em relação as demais,

examinando-se os dados de forma desagregada para cada uma das quatro regiões, verifica-se que a pluriatividade assume características distintas em cada uma delas. A primeira diferença é que a pluriatividade varia de intensidade segundo as regiões, o que ratifica o argumento antes apontado de que a combinação de múltiplas ocupações por pessoas que pertencem a 5 A unidade de análise é a família e não o indivíduo. Considera-se pluriativa a família em que pelo menos um dos membros está ocupado em atividade estranha à agricultura (Schneider, 2003, p. 174). A pluriatividade supõe que haja combinação de atividades por indivíduos de uma mesma família, atividades estas que correspondam aos diferentes setores da economia. A pluriatividade refere-se estritamente ao tipo de ocupação dos indivíduos que integram uma unidade de produção ou grupo doméstico. Esta definição desconsidera o tempo de trabalho (part ou full time) e o tipo de renda. Considera-se família monoativa aquela que se dedica exclusivamente ao trabalho agrícola na unidade de produção, comercializando apenas produtos agropecuários in natura. Podem ser famílias dedicadas exclusivamente ao autoconsumo. 6 Segundo a FAO (1995), no Rio Grande do Sul existem cerca de 394.000 unidades agrícolas familiares representando mais de 90% do total de estabelecimentos e quase 60% do Valor Bruto da Produção agropecuária.

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uma mesma família depende não apenas da vontade individual dos seus membros mas, também, do contexto social e econômico em que se localiza e das características do mercado local de trabalho. Analisando-se os dados da Tabela 1 (e utilizando o mapa para acompanhar a localização) percebe-se que a região da Serra Gaúcha, localizada geograficamente no nordeste do Estado, onde quase 60% das famílias são pluriativas, ao passo que no Alto Uruguai, localizado geograficamente no extremo norte do estado gaúcho, a pluriatividade está presente em menos de 29% das famílias rurais (Tabela 1). Já nas demais regiões (Serra e Sul do RS) há pouca discrepância no que diz respeito a condição de atividade das famílias, mas prevalecendo as monoativas.

Tabela 1. Classificação das famílias na agricultura familiar em cada uma das regiões pesquisadas no Rio Grande do Sul, segundo condição de atividade (%). Tipos de famílias de agricultores familiares Total Serra

Veranópolis Sul do RS

Morro Redondo

Missões Salvador das

Missões

Alto UruguaiTrês Palmeiras

Monoativas 55,9 40,6 58,1 53,4 71,2 Pluriativas 44,1 59,4 41,9 46,6 28,8 Total 100 100 100 100 100 Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003.

Estas características distintas entre as regiões, no que se refere à condição de

atividade, ocorrem em função do tipo de inserção mercantil estabelecido pelos agricultores familiares. Enquanto na Serra Gaúcha historicamente há a possibilidade dos indivíduos que habitam o meio rural buscarem emprego no meio urbano sem a necessidade de estabelecer fluxos migratórios, no Alto Uruguai a inserção mercantil da agricultura familiar se dá fundamentalmente através do mercado de produtos e serviços agropecuários, restringindo o exercício da pluriatividade as atividades ligadas ao serviço público ou, no caso da pluriatividade de base agrária, as atividades sazonais, como aquelas ligadas a prestação de serviços de máquinas e equipamentos agrícolas e serviços manuais temporários ligados as atividades agropecuárias fora do estabelecimento (Conterato, 2004).

A segunda diferença que aparece na análise comparada das dinâmicas regionais da pluriatividade é que ela varia segundo o tipo conforme a localização. Tomando-se apenas as famílias que são pluriativas, verifica-se que 77% são de tipo pluriativas intersetorial e 23% são pluriativas de base agrária, o que caracteriza a pluriatividade interna ao setor agropecuário (Tabela 2). Conforme já indicado, esta pluriatividade interna emerge em contextos específicos, desvelando características socioeconômicas regionais que permitem o seu exercício. Estes contextos, invariavelmente, são caracterizados pela desigual posse e distribuição das terras bem como capital imobilizado em máquinas e equipamentos, o que acaba levando a situações típicas de diferenciação social na agricultura e entre as famílias.

No que diz respeito aos tipos de pluriatividade na agricultura familiar em cada uma das regiões pesquisadas percebe-se diferenças significativas em relação às suas dimensões empíricas. Novamente aparecem como situações quase opostas as regiões da Serra e do Alto Uruguai. Na Serra, prevalece a pluriatividade de tipo intersetorial, representando mais de 91% dos casos. Esta região se caracteriza por uma forte integração laboral entre a agricultura e outros setores da economia, principalmente via indústria calçadista e no setor de serviços. A região também se caracteriza por forte presença de pequenas e médias empresas do tipo familiar, o que acaba resultando em grande oferta de postos de trabalho para aquela população “sobrante” no meio rural, além de atrair populações de outras regiões do estado e mesmo do país.

Por sua vez, o Alto Uruguai, além de apresentar-se como a região onde a pluriatividade tem a menor expressão em relação às demais, é aquela onde a pluriatividade de

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tipo ou base agrária é mais freqüente, representando 47% das famílias (Tabela 2). Esta região, constitui-se na última fronteira agrícola do estado e apresenta alguns dos piores indicadores de qualidade de vida da população, principalmente aquela residente no meio rural (Schneider e Waquil, 2001). Em estudo recente, Conterato (2004) demonstrou que no Alto Uruguai a pluriatividade de base agrária está fortemente associada à desigual distribuição da posse da terra e ao acesso ao progresso tecnológico, situações que derivam, principalmente, dos sistemas de produção adotados pelos agricultores familiares, que baseados na produção de commodities agropecuárias não dão o retorno econômico satisfatório em função dos altos cultos de produção e da incapacidade de obter escalas de produção, haja vista, principalmente, o tamanho reduzido dos estabelecimentos.

Tabela 2: Tipos de pluriatividade em cada uma das regiões pesquisadas no Rio Grande do Sul, segundo condição de atividade (%). Tipos de famílias pluriativas Total Serra

Veranópolis

Sul do RS Morro

Redondo

Missões Salvador das

Missões

Alto UruguaiTrês

Palmeiras Pluriativas intersetorial 77,1 91,4 73,1 77,7 53,0 Pluriativas base agrária 22,9 8,6 26,9 22,3 47,0 Total 100 100 100 100 100 Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003.

A terceira diferença diz respeito a composição das rendas.7 das famílias entrevistadas.

No conjunto das quatro regiões do Estado do Rio Grande do Sul as Rendas Agrícolas (RA) continuam a ser decisivas para a maioria dos agricultores familiares, respondendo por praticamente 59% da Renda Total (RT), seguidas das rendas auferidas das Transferências Sociais (RTS), especialmente aposentadorias, que alcançam 19,6%. Mas as rendas de atividades não-agrícolas (RñA) estão em terceiro lugar, respondendo por 17,5% do total da renda das famílias de agricultores, o que revela a sua importância como elemento dinamizador da qualidade de vida das populações e do próprio desenvolvimento rural (Gráfico 1).

Outra fonte de ingresso familiar importante, principalmente para as famílias pluriativas de base agrária, são as Outras Rendas do Trabalho (ORT), oriundas de atividades desenvolvidas internamente ao setor agropecuário. Apesar de no conjunto elas representarem apenas 2,6% da RT, há diferenças regionais, verificando-se que é justamente no Alto Uruguai onde ela tem a maior participação (Tabela 3).

7 Renda agrícola (RA): É a renda que provem exclusivamente das atividades agropecuárias realizadas dentro da Unidade de Produção (UP), como cultivos e criações animais, bem como das atividades para-agrícolas, associadas a transformação caseira de matérias-primas animais ou vegetais. Renda não-agrícola (RñA): Trata-se da renda como origem nas atividades não-agrícolas, podendo serem realizadas fora ou dentro da UP, na condição de empregado, empregador ou conta-própria, tais como motorista, costureiro de bolas ou calçados, servidor público, professor, etc. Outras rendas do trabalho (ORT): São rendas obtidas necessariamente fora da UP e de atividades inerentes ao setor agropecuário. Embora os trabalhos temporários sejam mais recorrentes, atividades permanentes também ocorrem, como a venda da força de trabalho na agricultura ou prestação de serviços agrícolas, etc. Rendas de outras fontes (ROF): Estas provem de aluguéis, juros, aplicações, arrendamentos, doações. Rendas de transferências sociais (RTS): Resultam de transferências governamentais diretas, tais como aposentadorias, pensões, programas assistenciais, como bolsa-escola, cartão-alimentação ou outros.

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Gráfico 1. Composição da Renda Total (RT) na agricultura familiar do Rio Grande do Sul (%).

58,6%17,5%

19,6%

2,6% 1,8%Renda Agrícola

Renda Não-agrícola

Transferências Sociais

Outras Rendas do Trabalho

Renda de Outras Fontes

Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003. Em trabalho recente, Conterato (2004) demonstrou que são as ORT que indicam a

existência da pluriatividade de base agrária no meio rural, pois tratam-se de rendas obtidas fora da unidade de produção através, principalmente, da prestação de serviços de máquinas e equipamentos agrícolas em períodos de maior demanda, estabelecida pelos agricultores familiares que não conseguiram acompanhar o progresso tecnológico de forma ampliada, registrada nos períodos de plantio e colheita. Neste sentido, conforme Conterato (2004), há uma tendência de que nas regiões onde a importância da renda agrícola é maior haja condições para emergência da pluriatividade de base agrária, uma vez que esta é fortemente condicionada à desigual distribuição e acesso a fatores de produção como capital em máquinas e equipamentos e terra.

Em cada um dos quatro territórios estudados o comportamento das diversas fontes de renda e o seu significado são distintos. Chama atenção, por exemplo, o fato de que enquanto na Serra Gaúcha a renda de atividades não-agrícolas representa 21% sobre a renda total e a renda agrícola 54,5%, no Alto Uruguai, esta proporção é de 6,6% e 72,9%, respectivamente, revelando que nesta região há uma dependência quase absoluta dos agricultores familiares das atividades agropecuárias. Outro aspecto a ser salientado é a importância, ainda que diferenciada, que assumem as Transferências Sociais (aposentadorias e pensões) na renda das famílias, representando, no município de Morro Redondo, localizado na Microrregião de Pelotas, praticamente 27% da RT das famílias. Para o Estado este percentual chega praticamente a 20% (Tabela 3).

Tabela 3. Composição da renda total da agricultura familiar em municípios selecionados e no Rio Grande do Sul (%). municípios representativos e total

Renda Agrícola

Renda Não-agrícola

Renda de Outras Fontes

Transferências Sociais

Outras Rendas do Trabalho

RendaTotal

Veranópolis 54,5 21,1 2,8 20,2 1,4 100

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Morro Redondo 49,5 18,7 1,6 26,8 3,4 100 Salvador das Missões 62,5 17,7 1,0 16,2 2,6 100 Três Palmeiras 72,9 6,6 0,8 15,3 4,3 100 Total 58,6 17,5 1,8 19,6 2,6 100 Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003.

A composição diferenciada da RT acaba revelando que existem distintas dinâmicas

territoriais da agricultura familiar, dadas pelos distintos graus e tipos de mercantilização. O que há são distintas formas de inserção mercantil que podem ser mais ou menos favoráveis em função de uma séria de fatores, como o tamanho da área explorada, o tipo de cultivo predominante, o exercício de atividades não-agrícolas, o acesso a crédito, etc. Este ambiente pode ser favorável para a manutenção de estratégias estritamente agrícolas como para o exercício da pluriatividade. Muitas vezes a diversificação das estratégias ou mesmo a manutenção daquelas já desempenhadas foge ao controle dos agricultores familiares, ou mesmo que o exercício da pluriatividade não seja a melhor opção para todas as famílias. Quer-se dizer com isso que o exercício de atividades não-agrícolas não pode ser tomado como uma estratégia a ser estabelecida em todos os contextos regionais e para todos os indivíduos ou famílias. A pluriatividade pode ser assumida, em contextos determinados, como uma possibilidade de diversificação das rendas e para o fortalecimento do desenvolvimento rural. Contudo, o seu exercício não pressupõe o abandono de outras estratégias, mas a diversificação.

Analisando-se o número médio de pessoas por estabelecimento agrícola familiar por condição de atividade (Tabela 4), verifica-se que as famílias monoativas possuem em média o menor número de membros (em média 3,8). Já as famílias pluriativas possuem em média o maior número de membros (4,8). Já as famílias pluriativas de base agrária estão em posição intermediária, mas ainda assim acima das famílias monoativas, o que pode indicar que apesar de depender da atividade agropecuária, as atividades desenvolvidas pelos membros estariam permitindo a permanência dos mesmos no meio rural.

Em relação à renda agrícola (RA) e à renda total (RT) não se observam grandes discrepâncias, a não ser o fato das famílias pluriativas possuírem a menor RA, o que não significa fragilidade, mas uma menor dependência desta fonte de recurso. Isso se comprova quando se analisa a RT das famílias, pois é justamente entre as famílias pluriativas que se encontram as maiores rendas. Desconsiderando-se o tipo de pluriatividade, se intersetorial ou de base agrária, observa-se que as famílias que se encontram nestas condições de atividade possuem uma RT média superior a das famílias monoativas, corroborando com a hipótese inicial do trabalho de que a pluriatividade contribui para o incremento dos ingressos monetários junto as famílias.

Na comparação entre os tipos de famílias pluriativas verifica-se que as de base agrária são mais dependentes da RA, enquanto as pluriativas intersetoriais obtêm o maior volume de ingressos monetários de atividades fora da agricultura, aumentando a RT em quase 3 vezes em relação à RA, o que acaba reduzindo a dependência em relação ao ingresso de recursos monetários. Neste sentido, pode-se ressaltar que aí está mais uma importante contribuição da pluriatividade para o desenvolvimento rural, qual seja; o aumento da renda familiar e individual e a redução da fragilidade das famílias em relação aos potenciais imperativos climáticos e de mercado que acometem os agricultores. Neste sentido, pode-se considerar que a pluriatividade permite estabilizar a renda das famílias, mesmo frente a situações climáticas e de mercado negativas.

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Tabela 4: Número médio de pessoas por estabelecimento agrícola familiar, rendimento agrícola e total no Rio Grande do Sul segundo condição de atividade.

Classificação das Famílias Nº médio

pessoas/estab(A)

RA média familiar* (R$)

(B)

RT média familiar* (R$)

(C)

RA média individual*

B/A (R$)

RT média individual*C/A (R$)

Monoativas 3,8 10.555 14.378 2.741 3.734 Pluriativas intersetorial 4,8 8.656 21.526 1.781 4.429 Pluriativas base agrária 4,2 11.093 16.390 2.660 3.930

Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003. *Valores médios anuais

Na Tabela 5, a seguir, pode-se observar as diferenças em relação à participação que

cada fonte de renda assume na formação da renda total das famílias, segundo condição de atividade. Em relação às famílias monoativas, além da grande dependência em relação à RA, o que as expõem à sazonalidade dos ingressos e a vulnerabilização decorrente dos imperativos climáticos e de mercado, há uma forte participação das transferências sociais. Se, por um lado, isso indica a importância das políticas públicas através da Previdência Social, por outro, desvela uma certa fragilidade já que estas famílias tornam-se reféns de apenas duas fontes de renda. Isso não ocorre em relação às famílias pluriativas, já que estas possuem, graças ao exercício de atividades não-agrícolas (interna ou externamente à agricultura) uma diversidade maior de ingressos monetários. Merece destaque a importância das rendas oriundas de atividades não agrícolas (RñA) para as famílias de pluriatividade intersetorial, representando mais de 40% da sua RT. Em relação às famílias pluriativas de base agrária destaca-se além da RA, com participação de 68% da RT, as ORT, que representam 17% do ingresso total de recursos monetários.

Tabela 5: Participação percentual média das fontes de renda na renda total na agricultura familiar do Rio Grande do Sul segundo condição de atividade (%). Classificação das famílias RA/RT RñA/RT RTS/RT ORT/RT ROF/RT Total Monoativas 73,4 0,0 24,0 0,6 2,0 100 Pluriativas intersetorial 40,2 40,5 16,2 1,6 2,0 100 Pluriativas base agrária 68,0 1,2 14,5 17,0 0,0 100 Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003.

A principal consideração em relação à composição da RT das famílias é o fato de que

ainda prevalece entre as famílias monoativas e pluriativas de base agrária a forte dependência das rendas advindas da agricultura. Apesar disso, as famílias monoativas podem ser consideradas as mais vulneráveis, pois os rendimentos agrícolas dependem de uma série de fatores que não são controlados pelos agricultores. Ou seja, ficam a mercê de oscilações dos preços das commodities que são estabelecidos nos mercados internacionais, da compra dos insumos e mesmo da venda dos produtos. Conforme salientou Ellis (2000), as famílias pluriativas dispõem de um portfólio diversificado de estratégias de vivência, em que esta diversificação não implica apenas em uma ampliação das possibilidades de obtenção de

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ingressos mas, sobretudo, uma situação em que a reprodução social, econômica e cultural, é garantida mediante a combinação de um repertório variado de ações, iniciativas e escolhas.

Além da dimensão econômica assumida pela pluriatividade, há uma quarta diferença no que diz respeito às suas dinâmicas territoriais junto as famílias rurais. Esta diz respeito as potencialidades em modificar o sentido da terra e do rural para as famílias. A propriedade não é apenas um local de produção de gêneros alimentícios. Isso pode ser verificado demonstrando-se que nas famílias pluriativas intersetoriais o trabalho na agricultura e a importância de produzir alimentos (fatores determinantes da mercantilização da agricultura familiar e dos espaços rurais dados pela dependência crescente da renda agrícola) assumem menor importância em comparação as demais famílias, com 16% das respostas. Reflete-se até mesmo na sociabilidade, onde os vizinhos e a comunidade em que vivem passam a ser aspectos importantes para o fortalecimento das relações sociais e trocas simbólicas, uma vez que é entre estas famílias que tal aspecto é mais valorizado, com 23,5% das respostas.

Tabela 6: Aspectos mais valorizados pelos agricultores familiares no meio rural do Rio Grande do Sul segundo condição de atividade (%).

Famílias segundo condição de atividadeAspectos considerados Pluriativas

base agrária Pluriativas

intersetorial Monoativas

A paisagem 4,2 3,7 3,0 Os animais e as plantas - 9,9 14,3 O trabalho na agricultura e importância de produzir alimento 25,0 16,0 21,1

A tranqüilidade 58,3 44,4 42,1 Os vizinhos e a comunidade em que vive 12,5 23,5 17,3 Não sabe/sem resposta - 2,5 2,3 Total 100 100 100

Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003. Entre as famílias pluriativas de base agrária merece destaque a importância que

assumem os aspectos de tranqüilidade, o trabalho na agricultura e a importância de produzir alimentos e a pequena valorização dos vizinhos e da comunidade em que vivem. Em relação à este aspecto, a dimensão explicativa desta “sociabilidade restrita” ao nível de comunidade pode estar relacionada ao regime concorrencial a que estão submetidos os agricultores familiares. A mercantilização social e econômica da agricultura familiar pode estar levando a uma maior individualidade nas relações de produção. A mercantilização transforma a sociabilidade dos indivíduos e das famílias bem como as concepções do meio rural e das atividades desenvolvidas.

Os diferentes graus de mercantilização e exposição aos mercados da agricultura familiar podem ser observados através das estratégias adotadas pelos agricultores familiares frente a uma suposta situação de crise na agricultura e no meio rural (Tabela 7).

Tabela 7: Estratégia adotada na agricultura familiar frente situações de crise na agricultura e no meio rural segundo condição de atividade (%).

Estratégia adotada Pluriativas base agrária

Pluriativas intersetorial Monoativas

Continuar a fazer o mesmo e esperar a crise passar 20,8 37,0 39,1 Deixar de trabalhar na agricultura e vender a terra 8,3 1,2 3,8 Aperfeiçoar as tecnologias p/ melhorar a produção 58,3 43,2 33,8 Procurar emprego em atividade não-agrícola 12,5 14,8 19,5 Não sabe/sem resposta - 3,7 -

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Total 100 100 100 Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003.

Pode-se observar, com significativo destaque, a busca de aperfeiçoamento tecnológico

para melhorar a produção (leia-se necessidade de elevar os índices de produtividade da terra e do trabalho objetivando, invariavelmente, aumento da renda agrícola), particularmente por parte das famílias pluriativas intersetoriais e de base agrária. Isso reforça o argumento de que a pluriatividade não gera o abandono das atividades agrícolas, mas uma complementaridade destas em função de interesses individuais e familiares. Além da busca por aperfeiçoamento tecnológico, “continuar a fazer o mesmo e esperar a crise passar” também surgem como estratégias frente a situações adversas, principalmente entre as famílias pluriativas intersetoriais e monoativas. Pode-se considerar também as famílias monoativas como as mais frágeis do ponto de vista da sua reprodução social, pois é entre estas que se observa a maior impossibilidade de fazer frente a situações adversas, pois quase 40% delas simplesmente continuariam a fazer o mesmo e esperariam a crise passar. Ou seja, assume-se, deliberadamente, que pouco ou nada pode-se fazer frente a adversidades climáticas ou imperfeições no mercado, ficando a mercê de situações conjunturais que resultam geralmente em queda das rendas. Considerações finais

Neste trabalho procurou-se vincular a discussão da pluriatividade ao debate acerca do desenvolvimento rural com base em dados da agricultura familiar de quatro regiões do meio rural gaúcho. Tratou-se de demonstrar que a pluriatividade define-se pela situação em que os membros das famílias residentes em áreas rurais e ocupadas no setor agropecuário passam a combinar esta atividade com outras não-agrícolas. Uma consideração importante refere-se ao reconhecimento de que as formas desta combinação são variáveis e heterogêneas, podendo ocorrer dentro ou fora do estabelecimento rural não sendo, portanto, possível de uma definição universal e válida para o meio rural como um todo.

Também foi apresentada a importância crescente que as atividades não-agrícolas estão assumindo em diferentes contextos, já sendo possível afirmar que existe uma segmentação do mercado de trabalho rural entre ocupações agrícolas e não-agrícolas. Na maioria das vezes, são as atividades não-agrícolas que geram novas oportunidades de ocupação e renda, o que indica que se trata de uma estratégia de reprodução das famílias rurais e exerce influência na definição dos modos de vida das populações rurais.

Não obstante a importância do crescimento das atividades não-agrícolas e a difusão do fenômeno da pluriatividade, o trabalho também chama a atenção ao fato de que nem sempre o aumento das ocupações em atividades não-agrícolas gera famílias pluriativas. Neste sentido, sugere-se tomar cuidado para não confundir o que é próprio e específico das mudanças nos mercados de trabalho, notadamente a ampliação das ocupações não-agrícolas, do fenômeno da pluriatividade, que somente ocorre em situações em que a família e seus membros constituintes decidem manter uma dupla inserção ocupacional, combinando o exercício de atividades agrícolas com outras ocupações não-agrícolas. Buscou-se também reconhecer que a pluriatividade se expressa distintamente em cada região, permitindo reconhecer e existência da pluriatividade de base agrária, distinta da intersetorial a qual a literatura tem dedicado especial atenção.

Por outro lado, a partir das contribuições de Ellis (2000) sobre a importância da diversidade de alternativas de reprodução da agricultura familiar para promover o desenvolvimento rural, reconhece-se a importância que assume a pluriatividade neste processo. Não apenas a pluriatividade intersetorial, mas também a de base agrária ou

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“interna”, permitem maiores ingressos familiares bem como diversificar o modo de vida destas famílias.

Mesmo sendo relativamente restrita a um número pequeno de famílias, acredita-se que a pluriatividade ajuda a desvelar a complexidade de estratégias que envolve a reprodução das famílias rurais. Neste processo, a diversificação representa um horizonte possível, fugindo da monoatividade, uma vez que esta condição invariavelmente representa a fragilidade para a maioria das famílias. Desse modo, a diversificação dos modos de vida não depende mais exclusivamente do interesse familiar, mas de sua capacidade de interação com as condições existentes no entorno social e econômico em que se encontram assumindo traços distintivos em cada território.

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