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ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE Patrocínio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Apoio

ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE · plantio direto e a bioenergia, onde o sucesso do álcool traz grandes esperanças ... Precisamos adequar os marcos regulatórios ligados

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ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

Patrocínio

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Apoio

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

Fechamos o 4° Congresso Brasileiro de Agribusiness de forma muito prazerosa.

Os resultados atingidos satisfizeram plenamente em seus múltiplos aspectos.

Uma vez mais, contamos com um plenário rico em qualidade e quantidade. A

cobertura da mídia também foi privilegiada. Quanto ao desempenho dos presiden-

tes de mesa, moderadores e palestrantes, a garantia segura de apresentações e

debates de elevado gabarito profissional.

Vivemos um momento delicado na agricultura. Depois de quatro anos de sucessivo

crescimento, a safra 2004/05 de cereais e oleaginosas ficou comprometida em

termos de rentabilidade, em função da quebra na colheita, bem como dos baixos

preços na comercialização. Mesmo com a valorização do real frente ao dólar, as

exportações do agronegócio seguem em crescimento e carreiam importantes divisas

para o País.

Mas nem tudo são flores no agribusiness brasileiro. Muitos espinhos apontados

em várias oportunidades anteriores, continuam teimosamente a persistir. A manu-

tenção de problemas, sem esforços de solução, traz riscos e desenha um quadro

de frustração. O tempo passa e as soluções convincentes não aparecem. Embora

a Lei da Parceria Público-Privada tenha sido aprovada no final do ano passado e

exista capital externo e internos com interesse em investir e melhorar a frágil infra-

estrutura e logística nacional, em armazenagem, transporte e portos, não avançamos

praticamente nada. Fica impossível sustentar expansão com essa perspectiva.

CARTA DE APRESENTAÇÃO04

Valorização da imagem do agronegócio

Não obstante, é interessante notar que as projeções de produção na agricultura

oferecem expectativas alentadoras. O Brasil é considerado como uma das nações

mais beneficiadas com ciclo previsto de crescimento para o agronegócio. Essa

visão é compartilhada por especialistas de entidades e corporações de peso

internacional. Não podemos deixar essa oportunidade fugir pela falta de ação nas

negociações internacionais ou na ausência de políticas na área sanitária.

O mundo assiste admirado a expansão do agronegócio nacional, com práticas

tropicais de ponta, como a produção através da integração grão e pastagem, do

plantio direto e a bioenergia, onde o sucesso do álcool traz grandes esperanças

no biodiesel. Temos de nos esforçar em prol da valorização da imagem do

agronegócio, com posições pré-ativas. Mostrar as suas conquistas e capacidade

para ajudar no projeto de desenvolvimento nacional.

O agronegócio se desenvolve em três vertentes: a econômica, a de responsabilidade

social e a do equilíbrio ambiental. Precisamos adequar os marcos regulatórios ligados

às reservas legais e às áreas de preservação permanente de maneira pragmática

e compatível com a realidade. É um tiro no pé e uma inverdade as notícias sensa-

cionalistas e radicais de que o setor cresce a mercê do desmatamento descontrolado.

Cercados de desafios, mas confiante no futuro do agronegócio nacional, deixa-

mos o nosso agradecimento sincero aos nossos patrocinadores e apoiadores, e

a todos aqueles que têm colocado o Congresso Brasileiro de Agribusiness como

um evento de referência na agenda do setor.

CARLO LOVATELLIPresidente da Abag

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

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Cerimônia de AberturaCarlo Lovatelli Presidente da Associação Brasileira de Agribusiness – ABAGRoberto Rodrigues Ministro da Agricultura, Pecuária e AbastecimentoGeraldo Alckmin Governador do Estado de São Paulo

PainelPresidente da mesa: Carlo Lovatelli Presidente da Associação Brasileira de Agribusiness – ABAGALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADEWilliam Westman Conselheiro de Agricultura da Embaixada dos Estados Unidos no BrasilSilvio Crestana Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPAMarcos Azambuja Presidente da Fundação Casa França-BrasilRoberto Rodrigues Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

PalestraPresidente da mesa: Luiz Carlos Corrêa Carvalho Diretor da Usina Alto AlegreINTEGRAÇÃO: AGRICULTURA, FLORESTA E ENERGIAAntônio Ermírio de Moraes Presidente do Conselho de Administração do Grupo Votorantim

Homenagem ABAGPresidente da mesa: Evaristo C. Machado Netto Diretor da Carol / Presidente da OCESP“PERSONALIDADE DO AGRONEGÓCIO 2005”Homenageado: Fernando Penteado Cardoso Presidente da Fundação Agrisus – Agricultura SustentávelApresentação: Antonio Roque Dechen Diretor-presidente da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz – FEALQ

LançamentoLIVRO “RECURSOS HUMANOS E AGRONEGÓCIO – A EVOLUÇÃO DO PERFIL PROFISSIONAL”

Painel 1 – Bloco 1: Tendências MundiaisPresidente da mesa: Jonas Pinheiro Senador da RepúblicaModerador: Antônio Carlos Kfouri Aidar Diretor da GVConsult – FGVAÇÚCAR E ENERGIA RENOVÁVELJoão Carlos de Figueiredo Ferraz Presidente da CrystalsevBORRACHA NATURALJoão de Almeida Sampaio Filho Presidente da Sociedade Rural Brasileira – SRBALGODÃO E TÊXTEISJosué Christiano Gomes da Silva Presidente da Companhia de Tecidos Norte de Minas – Coteminas

Painel 1 – Bloco 2: Tendências MundiaisPresidente da mesa: Jonas Pinheiro Senador da RepúblicaModerador: Cristiano Walter Simon Presidente da Associação Nacional de Defesa Vegetal – ANDEFGRÃOS E CARNESAndré Pessôa Diretor da AgroconsultEXIGÊNCIAS SANITÁRIASGabriel Alves Maciel Secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

PalestraPresidente da mesa: César Borges de Sousa Vice-presidente da Caramuru AlimentosAMEAÇAS E OPORTUNIDADES AO AGRONEGÓCIOEduardo Giannetti da Fonseca Professor do IBMEC Educacional

Painel 2Presidente da mesa: Mário A. Barbosa Neto Presidente da Bunge FertilizantesModerador: Marcos Sawaya Jank Presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais – ICONEINFRA-ESTRUTURA E LOGÍSTICARenato Casali Pavan Presidente da MacrologísticaCOMÉRCIO INTERNACIONALFlávio Soares Damico Chefe da Divisão de Agricultura e Produtos de Base do Ministério das Relações Exteriores

LançamentoPlano Agrícola e Pecuário 2005/2006Ivan Wedekin Secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

PalestraPresidente da mesa: Urbano Campos Ribeiral Presidente da Agroceres Nutrição AnimalEXPECTATIVAS DO MERCADO INTERNACIONALLuiz Fernando Furlan Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

LançamentoNOVOS PADRÕES DE IDENTIDADE, QUALIDADE E SISTEMA DE CERTIFICAÇÃO DA CACHAÇA BRASILEIRA

Cerimônia de EncerramentoCarlo Lovatelli Presidente da Associação Brasileira de Agribusiness – ABAGLuiz Fernando Furlan Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio ExteriorRoberto Rodrigues Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

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ÍNDICE ANAIS2005 07

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

Homenagem ABAGPERSONALIDADE DO AGRONEGÓCIO 2005

LançamentoLIVRO “RECURSOS HUMANOS E AGRONEGÓCIO -A EVOLUÇÃO DO PERFIL PROFISSIONAL”

Painel 1 – Bloco 1TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Cerimônia de Abertura PainelALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

PalestraINTEGRAÇÃO: AGRICULTURA, FLORESTA E ENERGIA

Painel 1 – Bloco 2TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Mais de 700 participantes prestigiaram o 4º Congresso Brasileiro de Agribusiness

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EncerramentoLançamentoNOVOS PADRÕES DE IDENTIDADE, QUALIDADE E SISTEMADE CERTIFICAÇÃO DA CACHAÇA BRASILEIRA

PalestraAMEAÇAS E OPORTUNIDADES AO AGRONEGÓCIO

PainelINFRA-ESTRUTURA, LOGÍSTICA E COMÉRCIOINTERNACIONAL

LançamentoPLANO AGRÍCOLA E PECUÁRIO 2005/2006

PalestraEXPECTATIVAS DO MERCADO INTERNACIONAL

Alimentos, energia e sustentabilidade. Países desenvolvidos estabelecem diretrizes institucionais a favor de misturas de biocombustíveis em gasolina e diesel.. Protocolo de Kyoto levanta a bandeira para mudança na matriz energética e em prol de um meio ambiente mais limpo.. Políticas públicas para estimular a visão integrada da agricultura, floresta e energia.

Tendências mundiais. Seus diferentes impactos e as reações das cadeias produtivas do agronegócio.. Arranjos produtivos rompem com o passado e ressurgem no Brasil sob modelos competitivos globais.. A sinergia do governo e iniciativa privada para levar adiante os programas de sanidade vegetal e animal.

Ameaças e oportunidades. Os contratos como instrumento de crescimento e de fortalecimento das relações entre os elos das cadeias produtivas.. A chegada de investimentos para sanear as deficiências de infra-estrutura e logística numa produção agropecuária em crescimento.. A possibilidade da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio, avançar na liberação do comércio internacional de bens agropecuários.

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

É iniciado no Hotel Gran Meliá São Paulo o 4º Congresso Brasileiro deAgribusiness, uma realização da Associação Brasileira deAgribusiness (Abag), com o patrocínio da Agroceres, AssociaçãoNacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Bancodo Brasil, Bayer CropScience, Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F),Bunge Fertilizantes, Citrovita, Kepler Weber, Roundup Ready, Sadia eUnião da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), e o apoio doMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Agência Estado,Arthur D. Little, CMA - Consultoria Métodos Assessoria e Mercantil eInstituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev).

COMPOSIÇÃO DA MESA DOS TRABALHOS

GERALDO ALCKMINGovernador do Estado de São Paulo

ROBERTO RODRIGUESMinistro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

ANTONIO DUARTE NOGUEIRASecretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

CARLO LOVATELLIPresidente da Abag

CERIMÔNIA DE ABERTURA

CARLO LOVATELLIPresidente da Abag

O Congresso faz parte da agenda do agronegócio brasileiro. Na sua primeira edição, em2002, projetamos o potencial de crescimento do agronegócio para o ano 2010: produçãode 160 milhões de toneladas de grãos e 25 milhões de toneladas de carnes. Discutimostambém os instrumentos que deveriam ser desenvolvidos para que isso ocorresse.

No 2° Congresso, em 2003, com o tema “Construindo Estratégias”, debatemos aspectosrelevantes como:1 a qualificação dos recursos humanos e seu diferencial competitivo;2 novas alternativas para a comercialização, novas parcerias e possibilidades de

atração do capital privado;3 as perspectivas para a bioenergia;4 a obsolescência da logística de transporte e armazenagem, e5 a necessidade de definição de um marco regulatório para a área de biossegurança.

No 3° Congresso, no ano passado, com o tema “Criando Vantagens Competitivas”,tratamos de questões-chave para o desenvolvimento sistêmico das cadeias produtivasdo agronegócio, em seu contexto mais amplo, da prancheta do pesquisador às mãos doconsumidor, entre os quais:. a competitividade dos nossos produtos vis-à-vis a ineficiência logística, as políticas

tributária e fiscal, a ausência de um ambiente institucional favorável e de recursos

para o desenvolvimento da ciência, da pesquisa e da inovação;. os riscos advindos da inexistência de um programa eficaz de defesa sanitária e seusimpactos globais imediatos, com a imposição de novas barreiras não tarifárias nocomércio internacional e a conseqüente necessidade de formatação de um sistemanacional de certificação e rastreabilidade;. os tímidos avanços nas discussões dos grandes fóruns de negociaçõesinternacionais: Organização Mundial do Comércio (OMC), Área de LivreComércio das Américas (Alca), Mercosul-UE, principalmente no tocante ao acesso amercados e mecanismos para a redução do protecionismo distorcido, e. entre tantos problemas, um alento: o extraordinário potencial brasileiro para aagricultura energética, com destaque para os biocombustíveis, sua inclusão namatriz energética do País e a difusão e implantação de projetos de Mecanismo deDesenvolvimento Limpo (MDL), de interesse global, gerando créditos ambientais,ratificado pelo Protocolo de Kyoto.

Desde o último congresso, comemoramos avanços significativos em diversas áreas e,ao mesmo tempo, acompanhamos perplexos o desencadeamento de fatos que encontraramguarida na burocracia, na ideologia e na falta de compreensão da importância estratégicado agronegócio para o desenvolvimento do País.

O setor, infelizmente, vive novamente uma crise de renda de grandes proporções – depre-ciação do câmbio, elevada taxa de juros, regras de mercado, para citar alguns –, agravadapela ocorrência de fatores climáticos adversos, que subtraíram cerca de 20 milhões detoneladas de grãos da safra 2004/2005, representando perda efetiva de cerca de R$ 10bilhões na renda do produtor rural, por ausência de mecanismos de proteção.

Atendendo à solicitação do Ministro Roberto Rodrigues, a possibilidade de repactuaçãodas dívidas está sendo discutida caso a caso entre fornecedores de insumos e clientes. Éuma resposta à necessidade de fortalecimento das cadeias produtivas e uma fortesinalização de amadurecimento frente aos cumprimentos dos contratos. Chegamos aum patamar de produção acima de 130 milhões de toneladas e não podemos retroceder.

Temos um ideário levantado há três anos, no 1° Congresso, e não pretendemos perdê-lo de vista. Mas para a sua consolidação são necessárias ações públicas de interaçãoentre governo e iniciativa privada.

Nas áreas de logística e infra-estrutura, a deterioração vem crescendo a olhos vistos.Trata-se, sem dúvida, do principal calcanhar de Aquiles do agribusiness brasileiro. Amatriz de transportes no Brasil é desequilibrada e carece de maiores investimentos acurtíssimo prazo.

A maior concentração (60% do total) no transporte rodoviário, o mais dispendioso entretodos os modais, terrivelmente prejudicado pelo estado de conservação das nossasrodovias federais. Face a isso, a velocidade média dos caminhões caiu 40% em cincoanos, o que demanda investimento adicional para que seja mantido o mesmo fluxo detransporte de carga.

As nossas ferrovias, embora privatizadas, ainda necessitam de investimento em materialrodante, leito ferroviário e coordenação operacional. A extensão ferroviária atual é igualà de 60 anos atrás, cerca de 30 mil quilômetros. Os nossos portos, apesar de teremmelhorado bastante, ainda têm um custo operacional muito alto, mais do que o dobro denossos principais concorrentes exportadores de commodities: EUA e Argentina. Quantoà armazenagem, ainda temos um déficit de cerca de 37 milhões de toneladas.

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É imprescindível que vinguem as Parcerias Público-Privadas (PPPs), instrumentos relevantespara atrair investimento privado. Projetos existem, mas a velocidade das suas execuçõesdeixa a desejar – foram dois anos para a aprovação da Lei e até agora nenhum projetofederal saiu do papel, apenas algumas iniciativas estaduais. A burocracia, a ausência demarcos regulatórios e a definição de um fundo garantidor ajudam a emperrar os projetos.

Conseguimos aprovar a Lei do Seguro Rural, mas faltam recursos. O Brasil continua aser o único país agrícola importante que não dispõe de tal ferramenta.

E o que dizer da complexa e injusta política tributária que atinge negativamente tanto osetor privado como o público? Os incentivos fiscais não conferem racionalidade econô-mica às decisões empresariais.

Definitivamente, as políticas de defesa sanitária e de fiscalização devem ser seguidas,mas para isso também faltam recursos. Podemos realmente dizer que Deus é brasileiro,pois, com a redução de mais de 80% dos recursos orçamentários do Ministério da Agri-cultura para este ano, o potencial de risco de sérios problemas na área sanitária é extre-mamente elevado, daí a necessidade de estarmos atentos, organizados e coordenados.

Muitos de nossos produtos são barrados em grandes mercados, como acontece coma carne bovina, em razão da febre aftosa. Como exemplo, no ano passado, a Indonésiabarrou, por alguns meses, a entrada de farelo de soja brasileira, procedente de RioGrande, por duas ocorrências de febre aftosa no Pará e Amazonas, respectivamente.Na distância entre as ocorrências dos casos e o porto de Rio Grande cabe o continenteeuropeu. Portanto, achar que o farelo de soja poderia ser um veículo transmissor dadoença é um exagero.

Também no ano passado, como é do conhecimento de todos, o Brasil foi vítima doembargo das suas exportações de soja em grão para a China, com grandes prejuízos, deUS$ 600 milhões a US$ 1 bilhão em frete morto, multas, queda de preço (de cerca deUS$ 60/t – de US$ 320/t, para US$ 260/t) nitidamente configurado como uma manobrapara diminuir as cotações internacionais do grão, o que também se caracterizou comouma quebra de contratos, transgredindo as normas da OMC, pouco antes da Chinatornar-se dela integrante. As barreiras técnicas podem servir como um perverso instrumen-to de protecionismo de mercado.

Chamam a atenção ainda as constantes violações ao Estado de Direito. Impunidadefrente às invasões de terras produtivas, laudos errôneos de descumprimento de funçãosocial da terra, alicerçados, entre outros, em falsas alegações de ocorrência de trabalhoescravo, exigências ilegais de medidas em nome da preservação ambiental e proposiçãode índices de produtividade, que conseguem, ao mesmo tempo, figurar como aberrações,tanto agronômicas quanto ambientais.

Ao defendermos o uso econômico e sustentável das terras, concordamos com a necessidadede solucionar a questão fundiária no Brasil e de implementar mudanças, onde foremprocedentes, para garantir paz no campo. Discordamos, porém, do atual modelo empregado.Defendemos, outrossim, que tudo ocorra sob estreita observância das leis.

Impossível deixar de mencionar a questão referente ao desmatamento da Amazônia, quetem ocupado grande espaço nos principais jornais e revistas, tanto locais quantointernacionais. A Amazônia possui atualmente uma população de 20 milhões de pessoas(maior do que a população do Estado da Califórnia) e 65% deste contingente vivem nascidades. Atualmente, é a região que recebe o maior número de imigrantes. A Amazônia

desenvolveu agroindústrias locais e apresenta as maiores taxas de urbanização e decrescimento do PIB no Brasil. Está isolada logisticamente do resto do mundo e precisaproduzir comida e energia para toda aquela gente. O que falta por lá, tendo em vista anecessidade de ampliação da agricultura pioneira, é um programa detalhado deordenamento territorial, que concilie a produção agrícola com a preservação ambiental.

Uma informação relevante, recorrentemente deixada de lado, diz respeito ao fato de quemenos de 25% do território da Amazônia Legal pertence a particulares e, portanto, estásujeito a algum tipo de exploração. Os outros 75% são terras públicas, devolutas, reser-vas indígenas, parques e afins e, portanto, de preservação permanente. A Amazônia ditaLegal cobre 60% da área do nosso País e, neste total, a agricultura representa somente2%, basicamente no cerrado, 80% destes no Estado de Mato Grosso. A Amazônia énossa, é questão de planejamento e ainda dá tempo.

O planejamento territorial também se configura como a alternativa para a solução dacontroversa discussão sobre as mudanças do Código Florestal. Sucessivas MedidasProvisórias estabeleceram porcentagens que deveriam ser mantidas sem exploraçãoeconômica, a título de preservação. A Lei afeta diferentemente os diferentes estados epecou ao desconsiderar o histórico de desenvolvimento e ocupação dos mesmos, osecossistemas, biomas, etc. O problema foi agravado pela necessidade de averbação,que conflita com um dos direitos e garantias fundamentais da Constituição Federal: – odireito à propriedade.

A ausência de uma indenização constitucional prévia e justa configura confisco dopatrimônio particular. O primeiro passo é a realização do zoneamento ecológico eeconômico, o ZEE, que se traduz pelo emprego da ciência e da tecnologia de excelência,em contraponto à ideologia. Exemplo: a excelência da Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuária (EMBRAPA).

Problemas como os vividos com a questão da Amazônia e do Código Florestal decorremda insistência de tratar situações complexas e distintas com fórmulas genéricas criadasem gabinetes. O agronegócio moderno não permite esse raciocínio simplista. Imaginemse esta fórmula fixa funcionaria em países desenvolvidos? O agronegócio é muitoimportante para este país. Ele foi responsável pela totalidade do superávit da balançacomercial brasileira nos últimos anos, com capacidade incrível de geração de empregos,riquezas, arrecadação de impostos e, em especial, integração nacional.

No entanto, a percepção sobre as conquistas do agronegócio não tem sido compatívelcom o seu grau de contribuição. Temos que investir proativamente na alavancagem dasua imagem institucional, em nível doméstico e internacional.

Por outro lado, devemos ressaltar algumas conquistas e vitórias, como a aprovação daLei de Biossegurança, da resolução que autoriza a adição de biodiesel ao óleo diesel, aconsolidação da tecnologia flex fuel nos automóveis, o extraordinário crescimento doetanol e seu potencial gerador de divisas. Ressalte-se também a positiva e fundamentalpostura não intervencionista do Governo, abrindo perspectivas favoráveis ao mercado.

Ainda no âmbito internacional, destacamos as vitórias nos contenciosos do açúcar e doalgodão junto à OMC, o desempenho da balança comercial do agronegócio e o espaçoque o Brasil está ocupando no cenário global. A Organização para Cooperação eDesenvolvimento Econômico (OCDE), recentemente, comprovou que o nosso País nãosubsidia a produção agrícola e fornece, assim, um forte argumento a nosso favor para asnegociações mencionadas acima.

CERIMÔNIA DE ABERTURA ANAIS2005 11

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

A inclusão da posição brasileira no Protocolo de Cartagena, resultado da ação coordenadade entidades de representação do agronegócio, todas certamente presentes nesteplenário, atendeu os anseios do agronegócio brasileiro. Como é do conhecimento detodos, o Brasil é o único país agroexportador importante signatário do Protocolo. Nasexportações de produtos vegetais vivos, não há como garantir a ausência de traços deOrganismos Geneticamente Modificados (OGM’s). O cumprimento dessa exigênciateria duvidosa efetividade, além de elevado ônus operacional e financeiro.

Temos “feitos” marcantes, que vão do domínio e liderança da tecnologia tropical àsustentabilidade, mas que precisam ser melhor divulgados, como é o caso da adoção demodernas técnicas agronômicas, como o plantio direto, controle de pragas com inimigosnaturais, novos e mais eficientes insumos e adoção de tecnologias de ponta. Dos 11milhões de hectares somados a partir de 2001 à agricultura de grãos, cerca de 80%estavam em áreas de pastagem não eficientes. A integração grãos e carnes é outrogrande sucesso técnico, assim como é altamente desejada a da agricultura e da florestana produção de energia renovável.

Chegamos, agora, ao 4° Congresso Brasileiro de Agribusiness com uma extensa e ricaagenda pautada em temas que se configuram como ponto de partida, como um novoreferencial, quando as discussões versam sobre crescimento e desenvolvimento, emseus sentidos e entendimentos mais amplos.

Especialistas em diversas áreas ocuparão esta tribuna, nestes dois dias, e discorrerãosobre questões pontuais e palpitantes, que permeiam as cadeias produtivas do agronegócio.

“Eu gostaria de conclamar os amigos presidentes e moderadores de painéis que em suascoordenações considerem a lógica do diagnóstico que aqui apresentamos”.

Enfim, o passar dos olhos sobre a evolução dos últimos anos nos faz refletir sobre umtema essencial a este país. Aliás, foi essa motivação que fez todos os temas do Congressoversarem sobre coordenação e integração. Grande fragilidade nacional.

Pretendemos, ao final dos trabalhos, no dia de amanhã, extrair um documento-resenhadeste Congresso, com contribuições para o delineamento de políticas nas áreas dealimentos, energia e sustentabilidade.

CERIMÔNIA DE ABERTURA

ROBERTO RODRIGUESROBERTO RODRIGUESROBERTO RODRIGUESROBERTO RODRIGUESROBERTO RODRIGUESMinistro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

O discurso do Presidente Carlo Lovatelli me deu inveja e saudade dos tempos em queestava do outro lado da mesa e fazia diagnósticos completos, perfeitos e propostasrigorosas, como as que foram feitas. O agronegócio mundial vive, em termos de comércio,enormes transformações e mudanças determinadas por três fatores fundamentais. O primeiroé a distribuição de renda; o segundo, a crescente urbanização do planeta e o terceiro, aorganização dos mercados consumidores.

Ao mesmo tempo em que enormes contingentes humanos estão fora do mercado consu-midor por falta de renda, há, do outro lado, mudanças de exigências dos consumidoresmais ricos, com ênfase para produtos sustentáveis, alimentos funcionais, como carnesbrancas, legumes, verduras e frutas para produtos orgânicos. Há também novas demandas

quanto aos sabores, conveniência e autenticidade das marcas a serem consumidas.

Todos esses temas acabam desaguando em duas grandes áreas, cujas mudanças sãomais notáveis: a primeira é a produção e transformação dos alimentos; a segunda érepresentada pelos mecanismos de distribuição e consumo. Nesse contexto algumasquestões são determinantes.

A primeira delas é a distância entre o conceito e a implementação da cadeia produtiva. Oconceito está instalado e o importante numa cadeia produtiva é o seu resultado final –um produto sustentável do ponto de vista da qualidade e do seu preço para o consumidor.Infelizmente, nem sempre o conceito é aplicado na prática. As lideranças precisam darconta de que a resistência da cadeia estoura sempre no elo mais fraco e mais difuso: oprodutor rural.

O segundo ponto importante é a questão da concentração, cuja velocidade, sobretudo na áreado agronegócio, é impressionante. Nos últimos anos, no Brasil, o setor industrial de maiorconcentração foi o alimentar. Vivemos no mundo aquilo que eu colocava num artigo, lá naAgroanalysis, sobre o sanduíche do agronegócio. Uma fatia antes da porteira da fazenda eoutra depois da porteira, ambas se concentrando. O recheio fica apertado pelas duas fatiasem concentração. Uma das respostas a esse achatamento é o cooperativismo, como maneirade ampliar as condições negociais dos produtores rurais. A concentração tem como contra-partida a exclusão, crescente ameaça à democracia no interior de cada país e à paz universal.

Um terceiro ponto relevante é a mudança de exigências dos consumidores com a questãoda rastreabilidade e da certificação, bem como com o social e ambiental. Esses pontosreduzem a competição dos produtores de qualquer país.

Também as mudanças de hábitos alimentares e de desejos dos consumidores mais ricos,em busca de novas alternativas, entre as quais a de produtos orgânicos, determinamtransformações no comportamento dos produtores.

O quarto tema está ligado à segurança alimentar, confundida às vezes, embora completamentediferente, com a de alimentos e ambas determinadas pela questão da distribuição de renda.

O quinto tema é o das negociações internacionais, nas quais há diferenças de comporta-mento dos negociadores em função da segurança alimentar e da distribuição de renda. Oseuropeus, por exemplo, com competência e visão, defendem a multifuncionalidade daagricultura na proteção dos produtores. A agricultura multifuncional é boa lá e aqui. Perdemosvelocidade nessa discussão por causa de processos culturais do nosso comportamento.Vou dar um exemplo: o Animal Well Fair é um assunto cada vez mais relevante nas mesasde negociações. A preocupação com o bem-estar dos animais entabulados é diferente dequem se preocupa com o das crianças famintas. A visão sobre o Animal Well Fair difereentre inglês e etíope, brasileiro e canadense.

Questões culturais determinadas pelo maior ou menor grau de riqueza de cada povotêm influência relevante no comportamento e nas posturas comerciais. Não há comoquestionar esse fato. É preciso compreender esse background, reconhecer a sua existênciae veracidade na negociação.

Um sexto ponto é a entrada no mercado de gigantes como a China, segundo maiorparceiro comercial brasileiro na agricultura. O grande parceiro brasileiro do agronegócioé a União Européia. Enquanto país, os Estados Unidos são o primeiro, mas a China trans-formou-se no segundo em muito pouco tempo. Há repercussões de um comércio bastante

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CERIMÔNIA DE ABERTURA ANAIS2005 13

GERALDO ALCKMINGovernador do Estado de São Paulo

Um dia desse, um são-paulino fanático, o ex-governador Laudo Natel, me visitou efalou: “olha, vim fazer um pedido: a linha 4 do metrô, em construção, passa, ao lado doEstádio do São Paulo Futebol Clube. Existe uma estação do metrô chamada ItaqueraCorinthians, lá na Zona Leste. Então ,gostaria que a estação de Francisco Morato sechamasse Estação Morumbi São Paulo”. Eu falei: “olha governador, é possível, mas sódepois que o metrô chegar na Vila Belmiro”.

Quero dizer da alegria de participar do trabalho, discussão, reflexão e propostas dessacasa de desenvolvimento, emprego, da renda e do trabalho para o Estado de São Paulo.No ano passado, o PIB do Brasil cresceu 4,9%, do mundo, 5,8% e de São Paulo, 7,6%.

desregulamentado, dando origem, portanto, a ações e definições não convencionais ouortodoxas no comércio mundial.

O sétimo, e último tema, diz respeito às novas tecnologias e novos sistemas de produção.E aqui, vem a questão dos transgênicos, da agricultura de precisão, agroenergia, estruturafundiária, etc. Tudo isso deságua na necessidade de formulação de políticas agrícolasadequadas, definitivas, permanentes e estáveis. Cada vez mais me convenço disso ser umsonho inalcançável pela simples e boa razão de que a agricultura é sujeita a ciclos negociaispermanentes em qualquer país. Condições de clima ou de mercado mudam de um anopara outro. Uma política agrícola pode ser estável e permanente nos seus marcos macros,mas nunca consegue tratar de todos os assuntos no micro e de maneira definitiva.

Falta nessa conversa uma referência às relações entre o público e o privado. Não épossível mais tratar o Estado como um adversário algoz. Quando fui para o Ministério daAgricultura, achava que em seis meses deixaria tudo pronto. Foram dois anos e meio e nãofiz 20% daquilo que acho que deve ser feito. Não porque o Governo não quer. Há umaenorme interação de fatores para atender a demandas legítimas. Cada vez mais é precisoque o setor privado olhe o Estado como parceiro. Lembro do 2° Congresso da ABAG, láem Brasília, quando propus uma série de programas de parceria entre o público e o privado– poucos deles implementados, não porque o setor privado não queira (ou o Estado nãoqueira), mas porque as coisas são muito mais difíceis em relação aos nossos sonhos. Vejo,na platéia, amigos e companheiros de caminhada. A maioria já esteve nos três congressosanteriores da ABAG. Somos passageiros do trem que fará o agronegócio brasileiro o maisespecial do mundo. O Ministério da Agricultura tem plena confiança e plena certeza dojogo de parceria da ABAG. É uma aposta em que ninguém terá de pagar, será um jogoganha-ganha e positivo para todos, com uma definição substancial no momento presente.

Vivemos no agronegócio uma crise setorial e dramática. Não há crise na cafeicultura e naagroindústria açucareira, o setor de laranja começa a melhorar e as carnes estão razoavel-mente bem. Mas todos esses setores são igualmente afetados pelo crescimento dos custosde produção registrados nos últimos anos, em função da demanda por insumos, dólar,petróleo, aço, preço, secas, logística, etc. Contudo, esses setores não sofrem as crises dehoje do arroz, algodão, trigo, soja e milho. É difícil encontrar solução única. Temos deenfrentar juntos, com parceria e conceito de cadeia produtiva. Navegamos na direção deconstruir a ponte entre o bem-estar do agronegócio brasileiro nos últimos tempos e aquelevitorioso dos próximos anos.

Muito disso vem do agronegócio. A taxa de juros real, de 14%, freia qualquer expectativade crescimento mais forte, que deveríamos ter neste momento de “céu de Brigadeiro” nomundo. Aqui, em São Paulo, fazemos um esforço em várias áreas, prorrogamos por umano o crédito do Fundo de Expansão da Agropecuária Paulista (FEAP), cujos juros são de4% ao ano para o pequeno agricultor, e introduzimos o novo crédito na Agrishow deRibeirão Preto, chamado Moderfrota Paulista, para os pequenos e médios produtoresfinanciarem a aquisição de trator novo e usado. Somos o pioneiro do Seguro Rural, pa-gamos a metade do prêmio do seguro. Demos um grande estímulo à questão da pesquisa,com a nomeação de 382 novos pesquisadores, aprovados em concurso público, paracolocar um sangue novo nos nossos institutos.

No setor sucroalcooleiro somos o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo. Hoje,o carro flex fuel é uma realidade: mais da metade dos automóveis já são bicombustíveis.Há uma expectativa de que em três ou quatro anos não teremos carro à gasolina ou aálcool, mas exclusivamente bicombustível. O consumidor fica com a faca e o queijo namão: aumentou o petróleo: álcool, aumentou o álcool: gasolina. E para estimular essaenergia – limpa, verde, renovável, geradora de emprego –, reduzimos o ICMS do etanolde 25% para 12%, com aumento na arrecadação de 7%. Nem sempre a alíquota maisalta traz mais arrecadação.

Procuramos fazer um esforço na questão da exportação. Como o Estado de São Pauloresponde por 32% das exportações brasileiras, criamos o Conselho Estadual de RelaçõesInternacionais e Comércio Exterior. Uma parceira para estabelecer os esforços na questãoda exportação. Tem um escritório em Miami, um na Europa e outro na China, com aBM&F. Há a devolução do crédito do ICMS de acordo com a Lei Kandir. Devolvemos noano passado para os exportadores R$ 1,3 bilhão. Trabalhamos na dutovia para levar oálcool até o Porto de São Sebastião, o calado natural para grandes navios. E, através dasPPPs, o corredor de exportação e importação entre Campinas e São José dos Camposaté São Sebastião; com duplicação da Rodovia dos Tamoios; o contorno até São Sebastiãoe um segundo píer em águas profundas. Publicamos a licitação da asa sul do Rodoanel.Estamos na fase de pré-qualificação das empresas para tocar as obras até chegar naImigrantes, na Anchieta e até o ABC. Finalmente, a questão fiscal para desonerar o setorprodutivo. Nos setores têxtil, couro-calçadista, sapatos e artefatos de couro reduzimosa alíquota do ICMS de 18% para 12%. Temos na Assembléia Legislativa um Projeto deLei para reduzir a 0% trigo, farinha de trigo, pão, todos os tipos de macarrão e bolachapopular. Com financiamento do Banco Mundial, implementamos no Estado um grandeprograma de microbacias, em 471 municípios. Quase três milhões de hectares foramrecuperados com terraceamento, curvas de nível e recomposição das matas ciliares.

O Estado de São Paulo perdeu desde 1940 um milhão de hectares de cobertura vegetala cada 10 anos. Em 1992, o Estado tinha 3 milhões de hectares em cobertura vegetal. Secontinuasse nesse ritmo, em 30 anos zerava. Pela primeira vez, segundo o último dadoda Secretaria do Meio Ambiente, houve um ganho de 68 mil hectares de coberturavegetal. Estamos com um case, mesmo com essa metrópole de 18 milhões de pessoas,com a recomposição da Mata Atlântica, desde Parati até Cananéia. Quem viu na décadade 70 o pólo petroquímico de Cubatão, aquela Serra do Mar tostada pela chuva ácida,com toco de árvore, vê agora a exuberância da Mata Atlântica. Como 28 de julho é o Diado Agricultor, aproveitamos para, aqui da ABAG, casa do agronegócio, prestar nossahomenagem a todos que labutam na terra.

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

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COMPOSIÇÃO DA MESA DOS TRABALHOS

Presidente da Mesa:

CARLO LOVATELLIPresidente da Abag

Palestrantes:

WILLIAM WESTMANConselheiro de Agricultura da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil

SILVIO CRESTANAPresidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa

EMBAIXADOR MARCOS AZAMBUJAPresidente da Fundação Casa França-Brasil

ROBERTO RODRIGUESMinistro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

WILLIAM WESTMANConselheiro de Agricultura da Embaixada dos EUA no Brasil

A apresentação poderia ser uma perspectiva pessoal, porque, com meus cinco anos de Brasil,tenho visto grandes mudanças.

Sempre gosto de falar de parcerias. Essa é a situação entre Brasil e Estados Unidos. Vejoempresas americanas com investimentos no Brasil, como Bunge, ADM, Cargill, Monsanto,DuPont, Pioneer e Wal Mart. Há fazendeiros americanos com muito interesse no Brasil.Fizemos apresentações para 800 fazendeiros americanos com interesse em investir aqui.Gostaria de mencionar a parceria entre a Embrapa e o Departamento de Agricultura dos EUA,com intercâmbio de pesquisadores e programas para resolver os problemas de produtividade,escoamento de produtos, rentabilidade, fome, energia, em um sistema de sustentabilidade.

Temos fazendas com grandes extensões e de capital intensivo, onde se usam sementeshíbridas de alta tecnologia, agricultura de precisão, irrigação tipo pivô central. Para atenderàs necessidades da população, precisamos da tecnologia de alta produtividade para produzircomida e alimentos para todos. Nos últimos 40 anos, o aumento de produção une ospaíses em desenvolvimento. Usamos alta tecnologia e aumentamos a produtividade,melhoramos a qualidade das dietas e garantimos a segurança alimentar.

A utilização da terra nos Estados Unidos não mudou muito em 40 anos. Não há maisterra para usar e produzir. Utilizamos na agricultura 174 milhões de hectares: cerca de19% da área total. O Brasil usa 44 milhões de hectares, 5% de sua área total, mas podeusar mais 177 milhões de hectares de pastagem. O futuro com mais potencial na produçãoagrícola está no Brasil. Temos fome na África, desnutrição em vários países, demandaspor alimentos estagnados em mercados maduros, competição agressiva pelos exporta-

dores. O sucesso nas negociações comerciais afetará a produção. Os impactos do mer-cado da China, e do clima em geral, fazem parte dessa realidade.

A indústria agrícola pode gerar produtos de alto valor como matéria-prima para biomassa.Podemos ter pesquisas e estimar o potencial da biomassa. Precisamos ter a vontadepolítica de apoiar os produtores, respeitando o meio ambiente e a segurança nacional.Temos que expandir parcerias públicas e privadas para aumentar o investimento em pesquisae desenvolvimento. Criar incentivos, como a utilização obrigatória de produtos nãoalimentícios para complementar o consumo de energia. Nos EUA, a indústria de biocom-bustível tem de reduzir a dependência de óleo bruto importado. Lá, na indústria do etanol,há 84 usinas em operação e mais de 20 em construção, com uma capacidade de 3,9bilhões de galões. Em 2004, produzimos 3,4 bilhões de galões de etanol, tendo comomatéria-prima o milho. Há concentração da produção de etanol de milho, no meio-oeste,mas temos outras oportunidades no sul dos Estados Unidos, como a Louisiana e a Flórida.

Temos dois cenários, um para produzir 5 milhões de galões de etanol em 2012. O outro,com base na lei de energia americana, para chegar a 8 milhões de galões em 2012. Na

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indústria de biodiesel, em 2004, usamos somente 22% da nossa capacidade. Mais de 90%desse biodiesel é feito de óleo de soja, restos de gordura animal e descarte de óleosutilizados em restaurantes. O biodiesel favorece a criação de oportunidades de empregoe o aumento da renda agrícola, a redução de despesas do governo e do déficit comercial,além da menor dependência da ordem externa.

Sobre a sustentabilidade, temos um programa chamado Sustentable Agriculture ResearchEducation – Educação em Pesquisa de Agricultura Sustentável. Temos o site na internet comconhecimentos sobre brazilian agricultural, além de práticas lucrativas adequadas com omeio ambiente e à comunidade.

O setor agrícola fornece alimentos e matéria-prima para produtos não alimentícios. Novastecnologias convertem o excesso de commodities em matéria-prima de biomassa, embiocombustíveis e outros produtos. Aumento nos investimentos público e privado em pesquisae desenvolvimento avança na utilização de commodities agrícolas para a produção de produtosnão alimentícios. Com trabalho em parcerias declaradas teremos sucesso na oferta dealimentos e energia para um mundo melhor. Muito obrigado.

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SILVIO CRESTANAPresidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa

Esse é um momento de grande satisfação porque acompanho todos os congressosda Abag. Faço parte daquela locomotiva que o Ministro Roberto Rodrigues mencionou.Com muita visão, a Abag se preparou para esse momento em que vivemos hoje nopaís. Vemos o agronegócio crescer de forma maravilhosa e fantástica. Nos congres-sos desta entidade, os problemas nacionais e internacionais são bem colocados eequacionados de forma rigorosa. Essa clarividência com que a Abag se manifesta eexerce serve como alavanca ao desenvolvimento do agronegócio.

O primeiro problema é a questão da pesquisa e do crescimento. Pensamos que sótemos conflitos na miséria e na dificuldade. Mas há conflitos também no crescimento.É muito melhor ter conflitos de crescimento em relação à pobreza e à miséria.

Gostaria de lembrar uma palestra do professor da Universidade da Pensilvânia,professor Ian MacDiarmid (Prêmio Nobel de Química do ano 2000), que esteve emabril, em São Carlos, quando lançamos o Instituto de Inovação e Negócio, com onome dele. Os temas energia, alimentos e meio ambiente estão na lista dos 10maiores problemas enfrentados pela humanidade. Em 2003, tínhamos 6 bilhões depessoas. A previsão em 2050 é de 10 bilhões. Quando há uma pessoa muito próxi-ma há dificuldades para resolver. Energia, Água, Alimentos, Meio Ambiente, Pobreza,Educação, Democracia, População, Doença, Terrorismo e Guerra não são problemasdo Brasil e sim, do mundo.

Levantaremos dois conflitos da conjuntura brasileira. Primeiro é o espacial. O se-gundo é o ambiental. Os aumentos da produtividade agrícola e disponibilidade deterras têm atendido a produção de energia e de alimentos. Isso não é um problemapara o Brasil.

Junto com as curvas de crescimento de grãos, carne e açúcar poderíamos ter outras.Todas crescem de forma positiva. Nesses últimos anos, a taxa de crescimento naárea animal registrou expansão de 10%. A área de produção cresceu acima da áreaplantada. A área de pastagem diminuiu no Brasil e de forma importante. Temosanimais com 18 meses tirados para desfrute. A área de grãos cresce muito pouco, deforma não significativa comparada com a produção. A cana não tem um crescimentoimportante, em termos de área, em função da produção.

Outro conflito espacial, agora pensando nas providências. Alimentos precisam daevolução da atual plataforma tecnológica, com ajustes tópicos da política agrícola.Pensar como se relacionam e como o consumidor distingue a rastreabilidade, certifi-cação, rotulagem, segurança alimentar, nutrição e saúde.

Há grandes ajustes na política agrícola. É preciso ter um programa nacional deagroenergia. O programa de biodiesel é muito diferente de agroenergia, voltado àdistribuição e comercialização. Esquecemos como foi feito também com o Pró-álcool,de que para ter álcool precisa produzir cana. Ter sementes e oleaginosas para trans-formar biomassa e gerar energia. Esta parte está desguarnecida.

Trabalhamos para montar um Consórcio Nacional de Agroenergia. Criar um FundoNacional da ordem de US$ 20 milhões para dar a alavancada necessária. A Embrapa,

para trabalhar com o tema de forma organizada e institucional, precisa fazer issoatravés de uma unidade chamada de Embrapa Agroenergia.

Na plataforma tecnológica em Agroenergia, temos as fontes de energia e os desafiostecnológicos. Primeiro, a fóssil. Não há dúvida de que vai acabar. A pergunta é:quando? Segundo, no que diz respeito ao hidrogênio, há grandes problemas tecnoló-gicos, principalmente na armazenagem, durabilidade pequena e transporte de energia.Terceira, solar, em que há baixa eficiência na conversão. Quarto, biomassa, é aquestão da matéria-prima para produção. O problema da nuclear eu nem coloqueiaqui, devido aos riscos e à repulsa da população.

Quando observamos essas possibilidades, lembramos de uma nova matriz energéticaem 15 anos. As dificuldades estarão resolvidas pela ciência e a tecnologia. É esse ointervalo temporal para trabalhar e transformar a biomassa em energia, que é aagroenergia. Temos de ocupar esse espaço porque outras tecnologias virão.

Outra plataforma tecnológica para trabalhar é a cana, com eficiência produtiva nosul e sudeste, mas não ainda para o nordeste, centro-oeste e norte. A soja se viabili-zou, foi para o centro-oeste, norte e nordeste. Quando teremos alternativas paramamona, dendê e babaçu?

A cana tem uma conversão de 1 para 4: cada joule gasto gera 4 joules, no primeiromomento de transformação. Esse é o primeiro princípio da termodinâmica. No se-gundo, pode ser de 2 para 40, quando se faz hidrólise.

É muito difícil superar a cana. A fotossíntese ajuda e a cultura é de ciclo longo. Ospaíses de clima temperado são muito bons em cultura de ciclo curto, de um ano oumenos, porque possuem inverno e têm outras condições.

Temos uma situação privilegiada porque, com a cana já enraizada no segundo,terceiro, quarto ou quinto ano há grandes vantagens para trabalhar. Nas culturas demamona, dendê, babaçu, e outras, precisamos do balanço energético da conversão.Quanto eu gasto de energia para produzir outro tanto de energia? Temos um númeromuito pequeno de cultiváveis, é meia dúzia ou menos. Não aprendemos a plantar emgrande quantidade. Como ficarão as extensas plantações de mamona, dendê ebabaçu? E o risco de doença e praga? Quais são os cultiváveis mais produtivos?Quais as pesquisas e resultados que temos?

O que fazer com o resíduo industrial? Ao pesquisar a mamona, sabemos que elagera como subproduto, pós-conversão, a ricina e o glicerol. O glicerol tem mercado.O que fazer com a ricina, altamente tóxica, a ponto de ser proibida em vários paísesporque pode ser objeto até de terrorismo, ao cair, por exemplo, na caixa d’água deuma cidade.

Há outro problema: o isolamento científico. A pesquisa com mamona, dendê, babaçué feita por poucos países, diferente da soja e outras commodities. Quando aparecea ferrugem, não é um problema só do Brasil, é dos Estados Unidos, da Ásia e deoutros países. Ao invés de a gente pensar em transportar a energia líquida, seconseguíssemos a energia sólida viraríamos a mesa completamente, porque elaseria mais compacta e poderia ser transportada facilmente.

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O gás de cozinha, do propano, metano, etc, foi popularizado porque conseguiu setransformar em milhares de metros cúbicos em alguns poucos metros cúbicos numbujão de gás, transformar gás em líquido.

Outro conflito é o ambiental. A expansão da agricultura coloca em risco asustentabilidade ambiental. Evidências existem: o aumento de produtividade temreduzido a pressão para expandir a fronteira cultivada. Se não fosse assim, a florestaamazônica já teria acabado há muito tempo, para chegarmos à produção de hoje. Acompetitividade do agronegócio brasileiro está baseada em produtividade etecnologia, gestão competente dos agricultores e também renda. A busca daprodutividade e competitividade cria tecnologias de defesa ambiental. Há espaçopara ampliar o esforço de ciência, tecnologia e inovação com um ajuste nas políticassetoriais da agricultura, em favor da sustentabilidade.

Na questão da redução da sustentabilidade, os indicadores são: queimadas,desmatamentos e áreas degradadas. Na conta entra o desmatamento legal e oilegal, a agricultura tecnificada e a não tecnificada. Há muitas áreas hoje utilizadaspara lazer, o chamado novo rural, que não são necessariamente agrícolas, mas quecompetem também como espaço rural.

Em termos de negócios, as dimensões econômica, ambiental e social são claras.Vamos tomar o exemplo da cana. Como era antes e quando começou? Era positivado ponto de vista econômico e social, mas negativa na ótica ambiental. A queima dapalha, o vinhoto poluente e o emprego de bóias-frias, se é que empregar bóias-friasé um componente positivo socialmente, como muita gente considera. Agora ela é,sem dúvida, positiva do ponto de vista econômico; é ambiental, mas é pouco doponto de vista social.

Aconteceu a mecanização, o vinhoto virou adubo, o bagaço virou energia econtribuímos para o seqüestro de carbono. A questão social foi absorvida na cadeiaprodutiva, porque gerou outras frentes de trabalho, por sinal, até muito maisqualificadas do que a do bóia-fria da cana.

Tecnologias amigáveis têm conseqüência ambiental clara. Com as novas cultiváveis,de maior eficiência, foram melhorados os manejos, mapas de solos, zoneamentoagroecoló-gico, plantio direto, corte e trituração da capoeira, controle biológicointegrado de pragas e doenças; a integração pecuária lavoura-floresta, outra formamais sofisticada; sistemas agrosilvipastoris; o monitoramento orbital de queimadas;a ação antrópica que pode ser monitorada dessa forma; a fixação biológica denutrientes; a revegetação de áreas, principalmente degradadas; o manejo florestal eo sistema de gestão territorial.

Essas são algumas tecnologias que saíram da agricultura brasileira para o mundo,como plantio direto, controle biológico, etc. Temos, como exemplo, um sistema degestão territorial em execução, junto com a ABAG, na região de Ribeirão Preto. Omodelo pode ser levado a outras partes do Estado e do País. São 86 municípios, numaárea de 36 mil quilômetros quadrados. O mapeamento do uso e a cobertura dasterras, de 1988 a 2003, gera indicadores agro-sócio-econômicos, tem sistema deinformações geográficas e avalia os impactos ambientais do uso das terras e a simulaçãode cenários para políticas públicas. A tecnologia é viável e possível de ser feita.

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

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A Amazônia é um foco, hoje, nacional e internacional. Quando olhamos o mapacom os centros da Embrapa, centros do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet),da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), da CompanhiaNacional de Abastecimento (Conab) e da Defesa Animal, Vegetal e Sanitária, doMinistério da Agricultura, descobrimos que a maior rede de sustentabilidade existentena Amazônia pertence ao Mapa. Portanto, é importante ver que geração, transferênciade tecnologia, suporte à sustentabilidade, manejo e gestão, quem está fazendo issoé o Mapa. Isso, muitas vezes, está enfraquecido porque não há uma rede estadual depesquisa agrícola. Tem outras redes, como a das universidades, das ONG’s, daregião Norte, mas há uma preocupação maior com o diagnóstico e o prognóstico,mas não com o manejo.

Quem está trabalhando com manejo, desenvolvendo técnicas, formas de convivênciada agricultura com a floresta, solo, clima, etc, é a agricultura.

A política agrícola se preocupa mais com o manejo e com a produtividade e acompetitividade, sem um componente ambiental claro, por exemplo, de estímulo ede incentivo. Já a política ambiental preocupa-se com a preservação, controle e usolimitado. Mas como limitar, preservar, segurar e restringir?

Com a política industrial, a tecnologia e a produção industrial têm seus impactos. Apreocupação é bem limitada, é mais para produzir, e pensando, por exemplo, naenergia. A política de ciência e tecnologia é mais um avanço do conhecimento nodiagnóstico.

Quais seriam as providências para uni-las? Primeiro, ajustes nas políticas setoriais.Na agrícola, os incentivos na conservação ambiental são uma forma de estimular aconservação ambiental na política agrícola. Na área ambiental fica claro que sãonecessárias mais ciência e tecnologia. São importantes pesquisas com soluçõesambientais. Na ciência, tecnologia e área industrial, dar mais apoio à ciência etecnologia e inovação para o agro-ambiental. Na verdade, a agricultura fica muitona agricultura, a pesquisa, as técnicas, as soluções, são problemas só da agricultura,e não pode ser, deveria ser também de outros ministérios.

É importante que o Ministério de Ciência e Tecnologia considere a agricultura comoinovação, que precisa ser incentivada. Aqui, há uma clara convergência ecomplementaridade entre políticas setoriais e seus fundos. É necessário que issoaconteça. Porém essas questões não podem ser resolvidas só por um Ministério, enem cabe tudo a ele.

Na verdade, o Ministério da Agricultura é o que mais tem feito na área da conservaçãoambiental. Há necessidade de revitalizar o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária,porque, do contrário, falharemos nos estados e nos municípios. A rede de pesquisaprecisa acontecer de forma harmônica.

O setor privado tem um papel muito importante nos próximos passos que a agriculturaprecisar dar. Pesquisa desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE), num universo maior que mil empresas no Brasil, chegou a conclusão de queos que investem em pesquisa têm maior produtividade. A produtividade média dasempresas inovadoras está próxima de 70. Esse é o valor da transformação industrialpara o trabalhador. Naquelas que não são inovadoras, a margem é 25.

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EMBAIXADOR MARCOS AZAMBUJAPresidente da Fundação Casa França-Brasil

Escolhi como tema a crise na Europa, com a referência precisa para os interesses doagribusiness brasileiro. Uma coisa me parece nova, que não há mais separação entrepolítica externa e política interna. Antes, havia categorias: externo era o que acontecia lá,interno era o que acontecia aqui. Entre os dois mundos havia tênues ligações. Agora não,o reflexo é imediato e direto.

A Europa está em crise. Eu não vim fazer o obituário do velho continente, que não estáacabando. Há mais de um século, um grande personagem leu, num jornal americano, anotícia da sua morte. Ele escreveu uma carta para a redação sem desmentir a notícia damorte dele, mas disse apenas que a notícia era exagerada. A notícia do fim da Europa éexagerada, apesar de estar gravemente atingida.

A União Européia nasceu do horror da primeira e da segunda guerras mundiais, como sentimento de não suportar uma terceira guerra possível. Nasceu do entendimentoAlemanha-França, dois antigos adversários históricos e de uma idéia muito simples.Nesse casamento de interesses, enquanto a Alemanha tinha vantagens industriaisdecisivas, na França eram agrícolas. Um entendimento implícito de que na Europa quevai nascer a Alemanha terá um pouco a liderança industrial e a França terá a liderançaagrícola. Isso significa que o protecionismo agrícola europeu é pecado original: nasceno berço. Começa quando a França reclama para si esse privilégio. Tudo que vaiacontecer depois são desdobramentos.

Era uma Europa simples, de dois adversários feitos amigos. Passava por uma coisa muitosimples, que era aquela comunidade do carvão e do aço para a Europa dos 6, oriunda doTratado de Roma. Também é um jogo muito simples, entre países muito próximos e aliados.Depois, vai crescendo, numa velocidade que gera um metabolismo muito difícil de adminis-tração, de 6 a 9, de 12 a 16, e agora a 25, mantendo-se sempre em Bruxelas seu centrooperacional e administrativo. Fica uma babel de costumes, línguas e tradições. A Europasegue sempre, de certa maneira, uma grande impossibilidade jurídico-administrativa. Paradar um exemplo, agora que são 25, cada um dos países têm eleição, que não são nemsimultâneas, nem simétricas. Sempre 2 ou 3 elegem novas pessoas. É como se no Brasil,em vez das nossas eleições nacionais, estaduais, simultâneas, cada Estado tivesse umaeleição num certo mês, num certo ano, numa certa época. Viveríamos num tumultopermanente administrativo-político.

A Europa vive agora, sobretudo, com 25 países. Essa situação e a lei –imaginem umaUnião Federativa com 12 ou 14 idiomas oficiais – são dificuldades superpostas. Então,há dificuldades administrativas, políticas e econômicas crescentes. Há dificuldades parase adaptar à globalização. A Europa é uma construção, um edifício, do tempo em que erapossível pensar que o mundo se faria pela aglutinação de blocos regionais, quando aglobalização desfez muito isso.

A segunda é o conflito entre a Velha Europa e a Nova Europa. A Velha Europa é aquela dospaíses fundadores da União Européia: França, Itália, Alemanha e pouco mais tarde aInglaterra. E a Nova, são todos esses países da antiga cortina de ferro, da Europa central eoriental, sem comprometimentos com a Velha Europa, mas muito mais aliada dos EstadosUnidos, com o desejo de que a Europa seja, não o que foi até agora, mas sim uma parteintegrante de um jogo de globalização.

Hoje, há um grande conflito com dois expoentes muito claros. De um lado, Peter Mandelson,comissário europeu do comércio, que representa o espírito anglo-saxônico, modernizador,com a idéia de que a Europa deve se norte-americanizar um pouco em modelos decomportamento empresarial. E Pascal Lamy, diretor da OMC, uma expressão da VelhaEuropa, do espírito francês, com a idéia de fidelidade a uma certa maneira estadista de fazeras coisas, conforme sua formação cultural.

Então, há na Europa uma guerra entre o espírito francês e o anglo-saxão, que a Inglaterraexprime. Essas intrigas entre Blaire e Chirac ilustram duas maneiras diferentes de ver omundo. Essa Europa hoje, um emaranhado de interesses burocráticos, tem ainda umadicional, o próximo candidato a país membro, a Turquia, que leva uma abertura para omundo muçulmano, islâmico. Isso levaria o jogo a uma imensa complexidade.

Quais são os sintomas da Europa que não soube, talvez, se adequar inteiramente aosdesafios da globalização? Desemprego alto, baixo crescimento da economia e hipertrofiaregulatória. Quando, no Brasil, nos queixamos do nosso emaranhado burocrático, nãotemos idéia da burocracia internacional praticada por muitos atores não coordenados,determinando regras entre si. Nosso jogo passa a ser de uma simplicidade encantadora, demodo que é uma situação infinitamente mais complexa, sem que eles tenham os instrumentosque temos de atuação sobre Brasília, nossos funcionários, eleitos e devedores de fidelidade.

Uma outra coisa que surgiu, gravíssima, foi a Constituição Européia prematura, comreferendos em momentos de mal humor, quando há muito desemprego e pouco crescimento.Isso leva a uma rejeição, como aconteceu na França e na Holanda, de modo a outros nãolevarem avante seus referendos. O Brasil teve várias constituições, mas pelo menos deu aelas alguns anos de vida. Essa nasce morta, é a primeira Constituição que não precisou ser

A produtividade daquelas empresas inovadoras e que investem em pesquisa edesenvolvimento interno é de 86. Entre aquela que inova e tem departamento de pesquisae aquela que não inova de nenhuma forma, a relação é brutal. Isso, em termos demercado, inviabiliza aquelas que não fazem inovação. Aquelas que fazem somenteinovação, mas não têm um departamento de pesquisa internamente, está em torno de40, menos da metade daquelas que têm Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) interno.

Quem investe em pesquisa é mais rico – esse é um dado do Instituto de PesquisaEconômica Aplicada (IPEA), desse ano –, fatura 100 vezes mais, paga salários trêsvezes mais elevados e exporta a preços 30% maiores. Portanto, isso é algo importantea considerar, e aí é um setor produtivo investindo em inovação, em pesquisa, emdesenvolvimento.

Finalmente, quais seriam as providências a tomar? A primeira, do ponto de vista dosetor privado, seria as empresas se tornarem inovadoras. A questão das ParceriasPúblico-Privadas, assim como a lei de inovação tecnológica, ainda não regulamentada.É fundamental que isso aconteça, em prol da pesquisa e produção. Os paísesdesenvolvidos concorrem conosco e fazem inversão de capital de recursos eminovação, da ordem de 2%, 2,5% até 3% do PIB. Investimos menos que 1% do PIBem ciência e tecnologia no Brasil. A elasticidade do Governo e do Estado em ampliaresses investimentos é pequena, pode chegar a 2%, talvez em 1,5% do PIB no máximo.A diferença de 1%, 1,5% para chegar a 2%, 2,5% e 3%, tem que vir do setor privado.É o que os países desenvolvidos fazem. Precisamos arrumar fórmulas, fazer ParceriasPúblico-Privadas em inovação e juntar as duas coisas. Muito obrigado.

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

derrubada, não entrou em vigor, porque não corresponde ao espírito dos tempos. Umaimposição burocrática de um serviço público internacional em Bruxelas, que quis determinara um grande conjunto de nacionalidades como elas deviam se regular.

Outro problema muito sério na Europa é sua diminuição demográfica. Há 30 anos, apopulação correspondia a 15% do mundo. Hoje, são 8%, devido à imigração, pois, casocontrário, o componente demográfico europeu seria hoje ainda mais relevante. Portanto,estamos na situação de reexaminar nossas opções. Essa crise européia abre oportunidadesimportantes de chegar, pela primeira vez, a reformas que repensem os mecanismos desubsídio agrícola. Não houve uma mudança de coração. Acontece que é apenas impossível,com 25 membros, manter as taxas e as tarifas de protecionismo.

Portanto, há um movimento induzido pela própria impossibilidade de sustentar o quehavia antes e, sobretudo, porque dois novos países agrícolas entraram na Europa, aHungria e a Polônia. A Europa se move, imperceptivelmente na questão de acesso amercado, de nosso interesse. Há uma transferência de recursos dos subsídios, apenas aproteção de preços, para uma idéia de desenvolvimento rural. Isso é um progresso que,de fato, representa uma oportunidade.

Durante anos, o pecado brasileiro maior era o da retórica inócua, como se os discursossatisfizessem em si, fossem uma solução para fazermos apelos, clamarmos por justiça ereclamarmos da desigualdade. O efeito, realmente, tem sido pequeno. A retórica tem umresíduo de utilidade e permite que se faça, em certos fóruns, discursos mais ou menossonoros, mais ou menos adicionantes, mas não é um instrumento eficaz de mudança darealidade. A mudança de realidade se dá através de uma negociação corpo a corpo, olho noolho, com os atores. E o Brasil, agora, começa a aprender que mais do que se queixar, deveinfluenciar os processos. Ganhar no campo do adversário com as regras do jogo estabelecidas.

Não há um automatismo determinando que seremos sempre derrotados, porque há umaconspiração internacional. Ao fazer bem o dever de casa, com mobilização maior dasociedade no sentido de romper a dependência excessiva do governo. É preciso umacombinação de trabalho entre diplomatas e advogados, lobistas, especialistas em questõesagrícolas e tarifárias. O Brasil vai funcionar se for um time muito complexo de interesses.O governo tem um papel importante, mas não pode ser o autor solitário de soluções.Estamos aprendendo as regras do jogo.

Acho que o Brasil deve se aproximar cada vez mais dos órgãos definidores das regras dojogo, como OCDE e OMC, e se beneficiar da ampliação do G8. Acabamos atingidos porregras estabelecidas quando não estamos presentes para influenciar. Ou seja, é estardentro dos clubes onde as regras são formuladas, mesmo que não sejam as ideais. De fora,apenas recebemos marcos regulatórios. Temos de trabalhar com todos esses grupos,advogados, lobbies, especialistas, grupos técnicos, porque, sem isso, não ganhamos.

Outra coisa que nos importa muito é continuar com a aliança com o Mercosul. Deus sabeque o Mercosul é inadequado e não é o fim da nossa linha. É a primeira estação do nossotrem. O Brasil não acaba no Mercosul, o Brasil começa no Mercosul. Portanto, temos dejogar um jogo em que o Mercosul nos ajude a ter mais massa crítica e, sobretudo, dar umalegitimidade de falar com os vizinhos, mostrar que na nossa região temos capacidade deinfluenciar a ponto de falarmos com uma voz unida.

Quero indicar mais três ou quatro problemas. Primeiro, há uma tendência brasileira desuspeitar que todos os controles sanitários, de qualidade, de traçabilidade, de alimentos,de animais, de gado, são resultados de uma conspiração para nos excluir. Seria ingênuo

acreditar que todas as medidas são inocentes e maliciosas. Há uma mistura entre o legítimoe o pretexto. Não podemos evitar que essas regras de sustentabilidade ecológica e socialsejam decisivas. O mundo não aceitará mais comportamentos que não se coadunem como andamento dessa normatividade.

Veja nossa vulnerabilidade com a Amazônia, cujo grande pedaço é do Brasil. Territorial esoberanamente será sempre assim. Mas a região é um condomínio, entre diversos paísessul-americanos, com os quais teremos de ter todo o interesse em cooperar. Para impedirque a Amazônia se internacionalize, é preciso promover a sua regionalização. É precisoque através do Tratado de Cooperação Amazônica encontremos uma maneira de mostrarao mundo, nós, condôminos territoriais, Colômbia, Peru, Venezuela, Guianas, Bolívia, quesomos capazes de gerenciar aquilo de uma maneira eficaz e sem atentar a uma sensibilidademundial, hoje, irresistível.

Na imaginação mundial, a Amazônia é um conjunto que fere sensibilidades vindas da infân-cia; as crianças são educadas de maneira a ter uma preocupação com a Amazônia. Comisso, vem à tona um outro assunto preocupante com a expressão “Amazônia Legal”. Euentendo a necessidade de, em certas áreas, estendermos determinados tratamentos preferen-ciais, pela natureza das circunstâncias. Mas chamar de Amazônia tudo aquilo é ficar vulnerável.A preocupação mundial é com a floresta e a bacia amazônica. Fica a impressão quedestruímos aquela paisagem reconhecida como preferencial, como os igarapés.

Portanto, uma coisa a pensar é se encontraríamos uma outra denominação que fizesse comque a Amazônia, considerando aspectos ecológicos e ambientais, fosse uma coisa claramentedefinida, e tivéssemos uma margem de operação muito maior na nossa capacidade de atuar.

Retomando, os europeus tiveram, sobretudo os franceses, uma idéia diabólica de levantarum conceito perigoso e interessante, que é o da multifuncionalidade agrícola. Os francesessão tão competentes, que encontram uma maneira de exportar água. Quem vende águaengarrafada ao mundo mostra ter certas astúcias nessa área de exportação. Nunca ninguémconseguiu distinguir, claramente, a diferença de uma água francesa e de uma feita em SãoLourenço. Mas, de qualquer maneira, mostra a capacidade de vender.

Na Europa que tem preocupação com a administração territorial, com a divisão entrecidade e campo existe a idéia de que a agricultura, além de produzir alimentos, é umamaneira de ordenar o espaço nacional. Isso gera uma série de interesses que não são osque desejaríamos, mas não podemos ignorar.

Multifuncionalidade agrícola é e continuará sendo um dado. A Europa pretende manteruma certa proporção entre o urbano e o rural. Dependem disso, inclusive, os padrões devotação na política européia. Se não houvesse esse conceito de administração territorial,seria hoje uma outra Europa e um outro continente.

Com a derrota da Constituição, desemprego maciço, imigração imensa, em boa parte daEuropa o imigrante não tira emprego do europeu, ele faz apenas o serviço que o europeu nãodeseja mais exercer. Essa é a Europa, com uma hipertrofia da assistência social e uma perdada vontade de competir numa sociedade globalizada, o que leva à raiz da sua própria crise,que é como aceitar sociedades maduras e satisfeitas, num mundo em que a competição é aque o Brasil enfrenta. Estamos chegando crescentemente lá. Aí é que o agribusiness brasileirotem sido o carro-chefe. O Brasil, hoje, é uma potência plena na agricultura. Nas outras todas,somos candidatos aspirantes, em certos momentos quase chegamos lá, mas é só noagronegócio que o Brasil é visto como peso-pesado. E é para agradecer a todos que fazemdo Brasil esse peso-pesado, que eu vim aqui lhes dizer essas palavras. Muito obrigado.

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21PAINEL: ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE ANAIS2005

ROBERTO RODRIGUESMinistro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

O Financial Times publicou uma longa matéria mostrando as razões pelas quais o Brasildeve ser o maior produtor mundial de alimentos nos próximos dez anos, corroborando,aliás, uma posição já anunciada pela Organização para a Agricultura e a Alimentação(FAO) há dois anos. Caminhamos para isso. Passo alguns slides sobre a mecanização, aescala de produção e a emergência de lavouras como o algodão, que levam a platéia a ummisto de admiração, de medo e exclamação pela beleza da fotografia apenas. Sãodemonstrações claras, ao lado de outras que poderíamos passar em laranjais, canaviais,cafezais, pastos repletos de gado de primeira qualidade, aviários, tantas outras atividadesque o Brasil executa hoje com enorme competência.

Tem se transformado, ao mesmo tempo, num elemento de admiração pelo que o Brasil játem desenvolvido, mas também de resistência. Trabalharei num assunto mais específicoligado a agroenergia, porque faz parte da trilogia da nomenclatura desse evento,Agronegócio. Há, no mundo inteiro, um certo temor do Brasil agrícola. Estive na Cidade doMéxico, junto com lideranças da área privada e técnicos do Ministério da Agricultura, como objetivo de abrir o mercado mexicano para o leite brasileiro. O México é o maiorimportador mundial de leite e não importava um quilo de leite do Brasil.

O Ministro da Agricultura do México, durante uma parte da nossa conversa, fez duascitações. Na primeira, disse: “O México agrícola olha para o Brasil agrícola, hoje, comoo México futebolístico olhava para o Brasil futebolístico há 30 anos”. Quer dizer, colocamosos 11 debaixo da trave para não perder de goleada. O importante desse conceito é que oBrasil agrícola vai ganhar de goleada. Então, precisamos ficar na defensiva. Na segundafrase, disse – parafraseando Ann M. Veneman, ex-secretária da Agricultura dos EstadosUnidos – que quando fica preocupada em relação à concorrência agrícola mundial, pensana China. Mas quando fica sem dormir, pensa no Brasil.

Tivemos também alguns meses de negociação e, finalmente, conseguimos abrir o mercadojaponês para a manga brasileira, depois de 27 anos de lutas para que isso ocorresse.Então, isso nos enche de orgulho, evidentemente, nos dá uma expectativa de que somosefetivamente competitivos e temos uma condição maravilhosa de avançar. A reportagemdo Financial Times é fruto de uma visita (organizada por uma instituição brasileira dejornalistas americanos e europeus ao Brasil no mês passado) a vários estados brasileiros:Mato Grosso, São Paulo, Goiás e Paraná. Viram o que fazemos de maneira construtiva econsistente. Recentemente, saiu uma reportagem muito parecida no Le Monde francês.

Há, realmente, uma condição espetacular de competitividade e, na outra mão, uma reaçãoa essa condição, com a colocação de dificuldades para seu avanço e consolidação. Comisso, estabelecemos a missão para o Ministério da Agricultura de “promover odesenvolvimento sustentável do agronegócio, com estímulo à produtividade, à sanidade equalidade, tendo em vista a competitividade interna e externa, contribuindo para a reduçãodas desigualdades e a inclusão social”.

A definição da missão do Ministério da Agricultura coincide rigorosamente com o temáriodesse Congresso. Vamos romper o protocolo e, dentro do espírito cooperativista, convidarIsmar Cardona, chefe do setor de comunicação, para contar uma história.

ISMAR CARDONAAssessor Especial de Comunicação Social do Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento

É uma história do Velho Testamento, de José, bisneto de Abraão e filho de Jacó.Eram doze irmãos. José, desde cedo, mostrou capacidade de vidência e era umgrande intérprete dos sonhos. Isso, somado ao fato de ser o filho preferido deJacó, provocou a ira dos irmãos, que decidiram matá-lo. Foi lançado numacisterna, mas um dos irmãos ficou penalizado e tirou José de lá, decidindovendê-lo como escravo para um israelita que ia para o Egito, onde José ficou trêsanos preso. Nessa época, o Faraó teve dois sonhos. No primeiro, sonhou comsete vacas gordas, cruzando o Rio Nilo, em seguida com sete vacas magras quecomiam as sete vacas gordas. O resultado eram vacas mais magras e maisfeias. No outro, ele sonhou com sete espigas granadas de milho, em seguidavinham sete espigas desgranadas e pequenas, que comiam as granadas. E oresultado era uma espiga de milho ainda mais magra e desgranada.

O Faraó ficou sabendo que José, que estava preso, era um grande intérprete dossonhos. José, ao contrário dos magos do Egito e os videntes, conseguiuinterpretar o sonho: “Esses sonhos querem dizer que o Egito vai ter sete anos devacas gordas, seguidos de sete anos de vacas magras”. O Faraó ficouimpressionado e convidou José para administrar toda a logística de transporte earmazenagem de alimentos, comercialização e do financiamento. Montou-se umesquema de armazéns em cada cidade, o Estado controlava todos os estoques.Os produtores só ficavam com a parte dos grãos para garantir a suasobrevivência. A crise atingiu também a terra natal de José. Jacó, pai de José,premido pela fome, mandou os filhos para o Egito para comprar proventos aosaber que o Egito era o único país que tinha alimento para vender. Houve umareconciliação entre os irmãos, e José montou uma série de estratagemas para ospais e os irmãos irem para o Egito. É uma história fantástica.

Isso tudo sem esquecer que Jacó, pai de José, deu origem àquele velho e famoso poema“Sete anos de pastor”. Jacó serviu Alabão, pai de Raquel, serrana bela. Mas não servia aele, servia a ela, que a ela só de prêmio pretendia. O que significa que sete anos de vacasmagras e vacas gordas, e o amor por Raquel recebendo Isabel, é uma coisa histórica.Aconteceu a vida inteira e vai continuar acontecendo eternamente essa disputa de Jacópelas filhas de Alabão e a disputa de José pelo sucesso da agricultura nos seus países.

Em função da missão, estabelecemos 10 prioridades para o Ministério da Agricultura:1 controle sanitário2 tecnologia para agronegócio3 agroenergia4 qualidade de produtos e agregação de valor5 negociações internacionais e defesa comercial6 interlocução com a sociedade7 novos instrumentos de política agrícola e seguro rural8 desenvolvimento sustentável9 associativismo e cooperativismo como instrumento de inclusão social; e10 excelência administrativa.

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

Todos os temas estão inseridos no temário do Congresso da ABAG. Estamos bastanteafinados. E é por essa razão que, na minha abertura, falei na confiança que o MAPA tem naAbag e na condição de parceria.

Estamos diante de uma nova era, claramente caracterizada, em que a civilização do petróleoe de produtos fósseis de maneira geral caminha para o seu ocaso. E a biomassa, que foi agrande fonte de energia antes da emergência do petróleo, voltará a se transformar nagrande fonte de energia no futuro. A maior insânia coletiva da humanidade foi ficardependente de um produto fóssil, que vai acabar um dia, se submeter a um produto maldistribuído e manipulado por um pequeno grupo de grandes empresas mundiais.

É surpreendente como isso tem acontecido. Saltaremos para uma outra fórmula de energia,sobre a qual a academia mundial está debruçada. Qual será ela? Quanto tempo demorará?O mundo tem uma civilização automotiva e de transportes que é balizada por combustíveislíquidos. É preciso construir uma ponte entre a civilização do petróleo e a próxima, quepode eventualmente ser a biomassa para sempre.

a distância entre ricos e pobres. A disparidade de renda entre ricos e pobres é umapermanente e sistemática ameaça à paz universal.

Temos o exemplo extraordinário do álcool no Brasil. A questão de transformar oálcool numa nova commodity, passa por alguns desafios. Em primeiro lugar, por queprecisamos que seja uma commodity, passando por mecanismos de normas e definiçãode parâmetros para garantir uma oferta regular ao comércio mundial? Ninguémproduzirá competitivamente, como produzimos a partir da cana-de-açúcar. Éfundamental a entrada de outros parceiros produzindo esse produto. Ando pelo mundoafora pregando esse tipo de coisa.

Temos resultados muito importantes do etanol no Brasil, com relação à questãoambiental e econômica. Trabalhamos com um novo desafio da construção do programado biodiesel no Brasil. As primeiras experiências começaram nos anos 70, em conjuntocom a discussão do Pró-álcool. A primeira patente de biodiesel no mundo foi feita naUniversidade Federal do Ceará, em 1980.

Logo no começo do governo do Presidente Lula, tomei a liberdade de dizer a ele que umprograma ligado a agroenergia teria a cara do governo dele. Tínhamos o poder deproduzir biodiesel no semi-árido nordestino, na Amazônia, no Brasil inteirinho. Pedi quelevasse em consideração a agricultura familiar e empresarial num grande projeto degeração de energia renovável. Isso fazia parte do novo paradigma da agricultura mundial:a busca de uma alternativa energética de combustível líquido, melhor do que o petróleofóssil. Criou-se um Grupo de Trabalho, que terminou lançando no ano passado oprograma, envolvendo 14 ministérios e levando a um marco regulatório, que estabeleceque, em 2008, misturaremos 2% de biodiesel ao diesel, o que significa uma demanda de800 milhões de litros por ano. E em 2013, essa mistura irá para 5% mandatoriamente.

Isso representa uma definição clara do governo para que a produção seja comercializadadentro de padrões de preços aceitáveis para os produtores. Todo esse processo tem,por parte do Governo Lula, uma prioridade clara para o semi-árido nordestino, atravésda mamona, e para a região amazônica, através do óleo de palma. Nós vamos aindadefinir alguns critérios para a produção voltada ao alto consumo na região decooperativas agrícolas, sobretudo no semi-árido da Amazônia, e enfrentamos algunstestes muito importantes em relação à questão tecnológica.

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Um outro dado sobre essa questão é o fato da globalização da economia gerar umcrescimento brutal de comércio no mundo, com troca de mercadorias, transporte e,portanto, demanda por combustíveis. Não há dúvida de que os biocombustíveis serãoa grande ponte e a alternativa para essa nova civilização, com:1 ganhos ambientais, acerca do carbono, no menor nível de emissão de consumo;2 econômicos, em função da diferença de preço, ligados à renovação do produto;3 sociais, na direção de geração de empregos; e, principalmente,4 renda nos países em desenvolvimento.

O único Prêmio Nobel da Paz recebido para a agricultura foi de Norman Borlaug, nosanos 60, quando fez a Revolução Verde no México e criou a condição de combater afome em todo o continente centro-americano. A agroenergia talvez seja a possibilidadeda agricultura ganhar um Prêmio Nobel da Paz. Embora os biocombustíveis possamser produzidos em qualquer país, a biomassa é resultado de uma relação entre terra,água e sol. Logo, é aqui, no hemisfério sul, que os países terão a grande chance deavançar, positivamente, no crescimento de emprego, e riqueza e de renda, a partir daagroenergia. Um meio para reduzir isso é a maior chaga da humanidade no século 21:

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A Embrapa está envolvida nisso. No início do Pró-álcool, há 30 anos, quem pensouem fazer álcool e montou destilaria, sem plantar cana, quebrou a cara. Quem plantoucana primeiro e, depois, fez a destilaria, acertou. Então, pensar em agroenergia semagricultura é pensar em telhado sem parede.

Estamos criando o Consórcio Nacional de Agroenergia para integrar todos osinteressados no assunto em todo o Brasil. Já criamos na Escola Superior de AgriculturaLuiz de Queiroz (ESALQ), de Piracicaba, no ano passado, um Pólo Nacional deBiocombustíveis. No mês de maio deste ano, pela primeira vez, a indústriaautomobilística vendeu 51% de carros flex fuel, contra 49% de carros à gasolina ou aálcool. Em 2003, o primeiro ano do flex fuel, vendemos 48 mil unidades. Em 2004,330 mil. Foi um crescimento exponencial. Neste ano, até maio, já tinham sido vendidos228 mil veículos. Chegaremos facilmente a 500 mil neste ano. Caminharemos muitorapidamente para um flex fuel que incorpore o gás, como terceira alternativa.

Quais são as perspectivas da bioenergia, da agroenergia e dos biocombustíveis nomundo? Percebemos, numa reunião de altíssimo nível, organizada por uma instituiçãoligada a OCDE, em Paris, uma resistência em relação ao etanol como produto comoditi-zável, porque só serve para o Brasil. O argumento embute o temor de que o Brasilinunde o hemisfério norte com o etanol. Tenho um pouco de culpa disso. Nessa repor-tagem, do Financial Times, disse ao jornalista que não quero vender litros de etanol parao mundo, quero vender rios de etanol para o mundo. Para isso, é preciso comoditizar oetanol. Ano passado, tivemos uma reunião na Tailândia, do Asian Group, formado por14 países do lado da Ásia. Os países asiáticos, dependentes do petróleo, manifestarama preocupação com o petróleo. O álcool era a alternativa evidente para isso e o biodieselentrava nesse circuito de maneira secundária.

Técnicos europeus acham que o biodiesel tem pouca chance de avançar como umacommodity ambiental, porque o álcool é muito mais barato e pode ser misturado tambémao diesel. De qualquer maneira, os biocombustíveis e a agroenergia se colocam como umhorizonte formidável. A exposição do William Westman mostrou que os Estados Unidospensam nisso, assim como a Ásia toda pensa nisso, e o Japão, que criou com o PresidenteLula uma comissão de alto nível interministerial para definir as ações relativas à agroenergiae a biocombustíveis. Caminhamos para esse tempo importante do novo paradigma mundialem relação a agroenergia e a biocombustíveis.

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Há um horizonte do qual não podemos perder as expectativas. O Brasil tem umaexperiência fantástica em relação ao etanol, começa a ganhar uma experiência e,inclusive, intercambiando com países como Alemanha, que já tem uma boa visão debiodiesel, e a França. Conversamos com líderes empresariais suecos. A Suécia é umpaís que não tem mais gasolina, lá é gasool. Os ônibus urbanos de Estocolmo sãotocados 100% a etanol. Propomos ao governo da Alemanha, para a Copa do Mundode 2006, que todos os ônibus que levem as delegações de cada país do mundo paraos estádios, sejam movidos a álcool ou a biodiesel. Ergam propagandas para o mundointeiro olhar a agroenergia nos países em desenvolvimento. Muito obrigado.

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PALESTRA: INTEGRAÇÃO: AGRICULTURA, FLORESTA E ENERGIA24

COMPOSIÇÃO DA MESA DOS TRABALHOS

Presidente da Mesa:

LUIZ CARLOS CORRÊA CARVALHODiretor da Usina Alto Alegre

Palestrante:

ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAESPresidente do Conselho de Administração do Grupo Votorantim

ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAESPresidente do Conselho de Administração do Grupo Votorantim

Senhor Presidente da Mesa, Sr. Luiz Carlos Corrêa Carvalho, senhores e senhoras, épara mim motivo de grande honra comparecer a esse auditório para conversar sobreagricultura. A sorte de vocês é que fui para metalurgia. Se fosse jovem de novo, começariatudo na agricultura.

Realmente, vibro quando falo da agricultura. É a saída para o Brasil. Em primeiro lugar,porque temos muita água, terra e sol. Com isso, nada temos a temer.

O cerrado, por exemplo, é o tipo do lugar com praticamente 90 milhões de hectares àdisposição, praticamente virgem, sem a menor dificuldade no setor de água. O cerradoalimenta os rios Tocantins, Amazonas e o São Francisco. Desde o dia que plantamos sojano cerrado, o Brasil começou a caminhar para ser o maior produtor de soja do mundo.No ano passado, colhemos cerca de 50 milhões de toneladas de soja, contra 84 dosEstados Unidos. A previsão inicial era de 63 milhões de toneladas. As previsões são deque o Brasil, nos próximos dois ou três anos, assuma a liderança na oleaginosa. Acreditosinceramente nisso. Isso é entusiasmo.

Sou engenheiro metalúrgico, vibro quando o Brasil é enaltecido por pessoas que natural-mente querem bem essa nação. É um país com tudo para dar certo. Mesmo no campo dametalurgia, o Brasil, hoje, por exemplo, na indústria do aço, tem uma produção de 32milhões de toneladas por ano. Se amanhã um governo anunciar um plano de 50 milhõesde toneladas de aço por ano, acho perfeitamente viável. Se não temos carvão mineral deboa qualidade, a indústria do aço no Pará ou no Maranhão, com a utilização da estrada deferro de Carajás, pode importar o carvão e, depois, exportar o aço. Isso permite multiplicarpor três a exportação de minério de ferro. Está na cara que o Brasil tem que fazer e vai fazer.

Tenho certeza que o Brasil será respeitado no mundo inteiro. Temos um povo excelente,mas está faltando levar com mais seriedade a educação. Conversava agora com o meuamigo Wilson Quintella, colega de Rio Branco, nos idos de 1930. No nosso tempo, aeducação era mais respeitada. Não havia essa anarquia que existe no meio estudantil.Vários amigos professores pensam em deixar de ensinar porque não agüentam mais aindisciplina existente dentro das salas de aula. Isso é um reflexo péssimo, porque significaque na casa dos alunos a coisa não deve andar bem. Ter um setor mais rígido e difícil,

porque hoje praticamente ninguém mais repete de ano. O sujeito sai da escola e nãosabe nada. Isso está acontecendo, infelizmente, nas escolas. Não são todas, temosescolas boas.

Em agricultura, o Brasil tem escolas magníficas. Então, vocês estão bem representadosnesse aspecto, melhor que o resto do Brasil. Mas, sinceramente, acho que devemos, omais depressa possível, fazer um programa para a nossa agricultura se expandir, em altavelocidade, porque ela vai nos dar a receita para que possamos amanhã incrementaroutras áreas de desenvolvimento do Brasil.

Sinceramente, se fosse jovem, já tinha ido lá para o cerrado verificar quais são aspossibilidades de produzir bem e barato. Nós temos o cerrado, a terra em que se dizia:“Não é das melhores, mas não tem importância”. Temos muita água. Então, quer dizer,na hora que você remover e adubar a terra, isso vai melhorar. O Brasil não pode, dejeito nenhum, deixar a agricultura num segundo estágio, pois é a locomotiva quepuxará o progresso. Tenho certeza absoluta. Sempre pensei dessa maneira e escrevimuitos artigos sobre agricultura.

Exportamos 1,1% do mundo. O PIB brasileiro é 1% do PIB do mundo. Precisamos,naturalmente, sair dos grandes centros e começar a nos movimentar pelo interior dessepaís, que realmente está esperando por nós. E tenho certeza que isso vai se dar em curtoprazo. No começo da nossa produção de soja, em 1969, produzimos 1 milhão detoneladas. No ano passado, foram 66 milhões de toneladas. O Brasil tem o maiorpotencial hídrico do mundo, junto com a Rússia. A China não tem. Desenvolvemos opotencial hídrico do Brasil, no momento, em volta de 32%. Quando se gera energiahídrica, na área inundada, pode-se criar peixe, realizar uma piscicultura inteligente, usara água para gerar energia e fazer irrigação. O Brasil irrigava apenas 5% da área agrícola.Os outros países irrigam 45%, 50%, 60%. Vamos deixar de ser pessimistas e reservartodas as nossas forças para o desenvolvimento da agricultura. Antigamente, agriculturano Brasil era café. Hoje, isso acabou. Precisamos do café, mas também da soja. Importa-mos metade do nosso consumo. Produzimos metade, e metade é importada. Podemosproduzir todo o trigo aqui no Brasil.

É uma questão de acreditar e querer ir em frente e também do governo apoiar iniciativas.Acho que devíamos aproveitar esse potencial hídrico enorme, que não polui e gera umapossibilidade de alimentar, logicamente, por meio dos lagos com piscicultura. Aceiteiesse convite porque acredito realmente que a agricultura vai responder pelo Brasildurante muitos e muitos anos. Vai jogar o nome do País lá em cima, como a própriasiderurgia nos jogou. Temos pouco minério de níquel e zinco, mas abundância embauxita. É preciso fazer com que a agricultura vença mais esse obstáculo e nos ajude,naturalmente, a transpor essa barreira enorme que é do pouco preparo do nosso povo.Não inventemos outras coisas. Por enquanto, em primeiro lugar, vamos usar o nossopotencial hídrico. Depois pode usar, por exemplo, carvão, através da queima de floresta.

O nosso carvão, infelizmente, está aqui na zona Sul do país, mas é de má qualidade. Éum carvão difícil de ser queimado, que dá muita cinza. Não precisamos partir para ocarvão direto. É possível usar todo esse potencial hídrico e, depois, devagar, veremosaquilo que podemos fazer em outros setores de energia. É o caso do reciclo de produtos,como na própria cana-de-açúcar: somos o maior produtor de açúcar do mundo. Temosuma reserva enorme de resíduos de açúcar que poderiam ser utilizados. Isso será só umaquestão de tempo.

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25PALESTRA: INTEGRAÇÃO: AGRICULTURA, FLORESTA E ENERGIA ANAIS2005

O Brasil é hoje o maior plantador de florestas do mundo. Cerca de 64% das nossasflorestas são plantadas com eucalipto, uma árvore que cresce rapidamente, de bomrendimento. O eucalipto que vem da Austrália é fino e raquítico. Aqui, no Brasil, dá umaárvore robusta, excepcional e frondosa. Do ponto de vista energético, o Brasil não temproblema. Temos de pesquisar mais e encontrar tipos de carvão de melhor qualidade.Isso vai acontecer, é questão de tempo. Vamos lançar mão das oportunidades mais fáceise, nesse aspecto, acho que não se pode pensar em energia nuclear por enquanto. Servede discórdia para todos nós, vai fazer uma segunda, uma terceira, mas pára nisso. Omundo inteiro só irá para a nuclear quando não tiver outra alternativa. Na energianuclear, os resíduos são perigosos e, num governo em que as regras não são exatamentesimples, é mais fácil desistir de fazer. A energia nuclear tem de ser levada com muitacautela e, ao mesmo tempo, precisa de gente mais prática, para que se implante umprograma muito sólido e menos complicado. Se começa a complicar demais, o desânimoé total e se esquece da energia nuclear.

Por enquanto, como temos outros tipos de energia, isso não faz a menor diferença paranós. O Brasil gritará para o mundo normas sobre, naturalmente, o campo energético,como a agricultura. Responderá, através do agribusiness, que somos competentes.Quando vim para cá, tinha uma idéia de falar menos e ficar com mais tempo dedicado àsperguntas. Uma palestra muito grande pode cansar e não ser tão útil. Agora, comperguntas, saberão o meu ponto de vista. Fico à disposição para perguntas. Acho maiseficiente e divertido. Façam perguntas e saibam se sei ou não responder. Obrigado.

Presidente da Mesa:Luiz Carlos Corrêa CarvalhoLuiz Carlos Corrêa CarvalhoLuiz Carlos Corrêa CarvalhoLuiz Carlos Corrêa CarvalhoLuiz Carlos Corrêa CarvalhoDiretor da Usina Alto Alegre

O jornal Financial Times afirmou que o interior do Brasil possui fazendas paraalimentar o mundo. Que o Brasil está para a agricultura, como a Índia estápara a terceirização de serviços e a China para a área industrial. Umapotência, cujo tamanho e eficiência, poucos competidores podem se igualar.Qual é a sua opinião sobre a integração entre agricultura, floresta e energia?No nosso país temos o Ministério da Agricultura, o Ministério da Energia, oMinistério do Meio Ambiente que cuida da floresta e tem outro Ministério quecuida de Agricultura Familiar.É muito ministério para pouca coisa. Melhor concentrar isso, o mais depressapossível, na mão de uma pessoa responsável. Entendo bem a pergunta,quando se tem um problema sério, tem que se tratar com quatro ministérios.Um ministro pensa de uma maneira e o outro pensa de outra, completamenteoposta. Resultado: nada anda.

Qual é a sua opinião sobre a ocupação e o desenvolvimento da Amazônia?A Amazônia é uma coisa monstruosa, mas que até hoje nós, brasileiros, nãodemos o valor devido. É preciso ter, em primeiro lugar, um plano diretor, maspara ser executado, porque planos nós temos demais. É um plano que fiz em1935 e ninguém executa, então isso é ruim. As possibilidades são fantásticas.Precisamos sensibilizar a população, porque, às vezes, a gente fala que aeducação é importante, mas não mostramos o por quê.

Se mostrássemos que a educação traz dinheiro e, como conseqüência,melhor qualidade de vida e condições para todos, seria um bom rumo parapoder sensibilizar as autoridades e as pessoas sobre a sua importância?A educação é fator primordial para o sucesso. No passado, isso não era bemverdade, mas hoje, no mundo automatizado e científico, ou se educa ou se ficaeternamente para trás. Lutar contra a incompetência é lutar através daeducação.

O esgotamento do ciclo do petróleo é uma oportunidade ou uma ameaçapara o Brasil?Ameaça para o Brasil, não. Praticamente o Brasil hoje é auto-suficiente empetróleo. Lemos nos jornais que o Brasil tem em Santos uma enorme bacia degás, que dá mais recursos. Temos uma bacia grande de petróleo, de gás efizemos muito pouco até agora.

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

HOMENAGEM: “PERSONALIDADE DO AGRONEGÓCIO 2005”26

COMPOSIÇÃO DA MESA DOS TRABALHOS

Presidente da Mesa:

EVARISTO CÂMARA MACHADO NETTODiretor da Carol ePresidente da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp)Apresentação:

ANTONIO ROQUE DECHENDiretor-Presidente da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq)

Homenageado:

FERNANDO PENTEADO CARDOSOPresidente da Fundação Agrisus – Agricultura Sustentável

ANTONIO ROQUE DECHENDiretor-Presidente da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq)

O doutor Cardoso iniciou seus estudos em Agronomia na Escola Agrícola Luiz deQueiroz em 1933, quando ainda não existia a Universidade de São Paulo, fundada em1934. Ele era, portanto, aluno da Luiz de Queiroz no ano da fundação da USP. Formou-se em 1936, como primeiro aluno, com média superior a nove, feito conseguido porpoucos estudantes até hoje.

Após a formatura, em 1938, Cardoso e seu colega Eduardo Lacerda Camargo fundaramo escritório técnico agrícola que prestava assistência técnica e executava serviços deconservação do solo e iniciava a abertura de cerrados, sempre aplicando tecnologia evisando uma agricultura sustentável e o aproveitamento dos solos pobres de origem. Asterras esgotadas, após anos de cultivo, exigiam especial empenho quanto à reposição denutrientes. A guerra cortara importações, restringindo os adubos ao farelo de algodão, aosossos e resíduos animais e as cinzas, tanto de café, como as de tortas de oleaginosas apósa extração do óleo combustível.

Com especial empenho e com suprimento de cinzas ricas em fósforo, potássio emicro-nutriente, eles formulavam um produto excepcional para a penúria dos temposde guerra. Durante cinco anos, utilizaram antigos armazéns desativados em Descalvado,moendo, misturando com rodo e enxada, peneirando em telas inclinadas, ensacandoà pá, pesando, costurando, empilhando e carregando, a mãos e braços, numa operaçãoprimitiva, porém acompanhada por controle analítico para assegurar qualidade erespeitar as garantias anunciadas.

Com esse aprendizado e com algumas economias, em dezembro de 1947, Cardoso eCamargo fundaram a Manah S.A. Com 14 acionistas, os dois fundadores, oito membrosde suas famílias, três componentes de suas equipes e o dono de uma modesta casabancária que os financiava.

Quando discutiam um nome para substituir a marca Adubos FC, dona Margarida, amiga dafamília, que ouvia a discussão, sugeriu o termo bíblico manah, que foi registrado em 1946.As palavras da propaganda, “com manah, adubando dá”, foram uma combinação dasfrases de Monteiro Lobato que, ao fundar um de seus saborosos contos, deu palavras aocaboclo para justificar sua penúria: “uai, plantando dá”. E da frase de Pero Vaz de Caminhana carta do descobrimento. “Nesta terra, em se plantando, tudo dá”.

Começou assim a história de sucesso da Manah, enfrentando, galhardamente, percalçosquase que insuperáveis em sua trajetória. A produção insuficiente evoluiu, tanto em volumequanto em tecnologia. A primeira unidade, instalada no Ipiranga, em 1949, produzia 10toneladas por hora. Seguiram-se Campo Limpo, em 1957, com 20 toneladas/hora.Depois, Domingos de Moraes, também em São Paulo, com duas unidades; Porto Alegre,em 1966; Boituva, em 1979, além de outras misturadoras em Jaboatão, Salvador, Curitiba,Maceió e Belém. Investiu também na indústria química de acidulação em Cubatão, em1975; no Rio Grande, em 1980; em Uberaba, em 1981.

Na busca incessante e inovadora, ao procurar otimizar o uso dos fosfatos nacionais, ricosem ferro, a Manah iniciou e criou um novo fertilizante fosfático: o Multi Fosfato Magnesiano.Patenteado em 1988, deu origem à linha de produtos Fosmag. O empenho pela qualidadee pela confiabilidade dos processos resultou num honroso certificado ISO 9002 para duasunidades, fato único no país e esporádico no mundo dos fertilizantes. Razões, basicamente,fiscais levaram à diversificação, sempre baseada na vocação agronômica. Incentivos paravalorização da Amazônia propiciaram um projeto de pecuária de corte no Sul do Pará.Incentivos para reflorestamento originaram eucaliptos em Brotas, paralelos à formação depastagens para melhoramento da raça Nelore.

O processo Fosmag possibilitou a produção de suplementos minerais, com a marcaManafós. Fechou-se assim o ciclo do boi. Capins adubados com Fosmag, pastoreado porbois Nelores e suplementados com Manafós. Podiam produzir, a custos competitivos, umacarne vermelha provinda do verde natural. Manah foi reconhecida como marca notória e“adubando dá” tornou-se um slogan gravado no subconsciente de milhões de brasileiros.

O doutor Cardoso, em sua trajetória de empreendedor, nunca deixou de ser um empresáriorural e administra ainda hoje a Fazenda Aparecida, em Mogi Mirim. Desenvolveu atividadesclassistas como fundador e presidente da Associação Rural e Cooperativa Agrícola deDescalvado, diretor da Federação das Associações Rurais do Estado de São Paulo, presidentedo Sindicato da Indústria de Adubos do Estado de São Paulo, presidente da AssociaçãoNacional para Difusão de Adubos, membro do Conselho de Meio Ambiente da Fiesp.Exerceu atividades públicas: Secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, em 1964;presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo; membro do AltoConselho Agrícola do Estado de São Paulo; membro do Conselho Assessor da Embrapa.Desenvolveu atividades internacionais como delegado junto ao Conselho Interamericanode Produção e Comércio de Chicago; membro-fundador das Conferências Latino-Americanas para Produção dos Alimentos; membro do Conselho Diretor do InstitutoInternacional para Desenvolvimento de Fertilizantes.

Foi condecorado com a Medalha Ordem do Ipiranga; a Comenda Agrônomo do Ano, em1989; a Grande Medalha da Inconfidência e com o prêmio Mérito Científico do Governodo Estado de São Paulo.

Cardoso vendeu o controle acionário da Manah para o grupo Bunge no ano 2000. E, delá para cá manteve a sua missão, a favor da evolução sustentável da agricultura brasileira.Juntamente com a sua família, criou e preside, há quatro anos, a Fundação Agrisus – Agricultura

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Sustentável, que tem um orçamento anual de um milhão de reais para apoiar financeiramentepesquisas, estudos, eventos, congressos e capacitação acadêmica e profissional voltadasà promoção de práticas de agricultura sustentável relacionadas à fertilidade do solo que,por sua vez, tem no sistema de plantio direto a melhor tecnologia até hoje estabelecida.

O doutor Fernando tem a convicção de que devemos nos preparar para a fase dabiotecnologia e que a pesquisa agrícola é fundamental, tanto para a sustentabilidade dosistema como para a produção competitiva, e que nos cabe implementar o fluxo de produçãode alimentos, energia e manutenção da sustentabilidade, para o benefício do agribusinessnacional. Esta é, senhores, parte da extensa saga de Fernando Penteado Cardoso, bemlembrado pela ABAG, como Personalidade do Agronegócio 2005, cujo histórico de vidanos permite concluir que “com trabalho, dá!” Parabéns, doutor Fernando.

FERNANDO PENTEADO CARDOSOPresidente da Fundação Agrisus – Agricultura Sustentável

PERSONALIDADE DO AGRONEGÓCIO 2005

Ao longo dessa jornada pela vida profissional e familiar, evidentemente, enfrentamosglórias e desencantos, vitórias e frustrações, alegrias e desilusões. E o meu perfil, traçadogentilmente pelo colega Roque, me faz lembrar do início da ABAG, quando se classificavao agribusiness, como a atividade que vem antes da porteira, dentro da porteira e pós porteira.

O agribusiness compreende a interligação entre as atividades que fornecem insumos eequipamentos para a lavoura. O trabalho do lavrador, dentro da porteira, e o trabalho dobeneficiamento e comercialização da sua produção. Esses três grupos formam um todo,sendo que tive oportunidade de participar de dois deles. Antes da porteira e dentro daporteira. Acompanhando sempre, com o maior interesse, o que vinha depois da porteira,mas não necessariamente labutando nessa área.

Na Esalq – iniciativa de um empreendedor idealista, Luiz de Queiroz – recentemente, aoser paraninfo da última turma, tive a idéia de chamar a escola de um templo, onde podemossempre renovar a nossa fé, revigorar nossos propósitos e matar nossa saudade. A escolaestá lá, tem um convívio bastante freqüente e é uma grande alegria para mim ser umdiplomado pela Luiz de Queiroz. Tenho muito orgulho disso.

A minha formação profissional também foi altamente influenciada por um estágio nosEstados Unidos, no ano de 1939, onde a Secretaria da Agricultura me comissionou paraajudar citros, depois da colheita. E o meu grande relatório apresentado ao Secretário,grande no sentido de muitas páginas, se concentrou muito na industrialização das frutascítricas, mal sonhando que chegaria aos níveis fantásticos dos dias de hoje.

Esse trabalho, nos Estados Unidos, foi muito útil, porque me deu uma visão do trabalhosério, do trabalho responsável que se faz naquele país. Era muito jovem, mas foi um grandeimpacto pra mim apreciar o trabalho dos americanos. E me faz lembrar de um verso deCora Coralina, aquela poetiza de Goiás que disse: “Feliz aquele que transfere o que sabee aprende o que ensina”. Fiz muitos estudos de pós-graduação, mas não tive chance de umgrau de pós-graduado que hoje tem grande valor, não só no meio acadêmico, como nomeio industrial.

Como agrônomo, me lembro de algumas coisas extremamente importantes que ocorreramna minha jornada. Inventaram um herbicida. Década de 40, na Inglaterra, da ImperialQuimical, que criou a molécula do paraquato. Os herbicidas evoluíram e permitiram, emKentucky, visualizar a possibilidade de uma agricultura em que não se necessitava de solo,solto, livre de qualquer empecilho para combate mecânico das ervas daninhas. E começarama fazer agricultura e a plantar, baseada nos herbicidas sem tocar no solo.

Dessa prática no Kentucky surgiu o chamado plantio direto, que veio para o Brasil nadécada de 70, se expandiu tremendamente na década de 90. Hoje, se calcula que temos 22milhões de hectares totalmente protegidos, dentro do padrão de uma agricultura sustentável.

Outra invenção, que me parecia extremamente importante, é o PVC. Nós estamos acostu-mados com o PVC na sacola de objetos que levamos para casa, mas lembrem-se, hámilhões de hectares cobertos de PVC, criando um ambiente controlado para as culturas, asmais diversificadas. Tanto no Brasil como no mundo, foi criada a plasticultura, em que sepromove regulagem da temperatura e, inclusive, aumento do teor de gás carbônico. Maisrecentemente, os transgênicos. Perguntaram ao doutor Borlaug, na minha frente, o que eleachava, se estava criando, estabelecendo tecnologias de restauração dos solos esgotados,erosados, que nós chamamos de cansados.

Tive a aventura de participar e ser responsável por fazendas novas, em três situaçõesdiferentes. No Estado de São Paulo, em Brotas, uma fazenda de cerrado foi desbravada etransformada em pastagens de alto suporte. Na Amazônia, como já foi dito, tive a oportu-nidade de abrir floresta, não da melhor, mas uma floresta razoável, transformando empastagens altamente produtivas, também.

E, no Paraná, numa gleba pertencente à família da minha mulher, tive a aventura deplantar café do mesmo jeito que meus avós plantavam. Foi emocionante escolher asterras pelos padrões de árvores que indicavam alta fertilidade. Lá estavam as figueirasbrancas, as perobas grossas, o urtigão e outras espécies, mostrando que aquela terraera de alta fertilidade. Tirando amostras e analisando-as, pude comprovar que os antigossabiam onde a terra era realmente boa. Foi uma grande emoção abrir uma fazenda decafé nessas circunstâncias.

Também presenciei, como produtor, o fenômeno cerrado-soja. Foi mencionada anterior-mente, pelo doutor Antonio Ermírio de Moraes, a soja. O fenômeno cerrado-soja foiclassificado pelo doutor Borlaug junto aos jornalistas como o maior evento agrícolaagronômico do século 20. E quando lhe perguntei: e a revolução verde? Ele me respondeu:é diferente. Na Índia, ele, Borlaug, participou da recuperação de solos explorados hámuitos e muitos anos e que tinham se esgotado, melhorando a tecnologia do aproveitamentodesses solos. No Brasil, diz ele, vocês, pela primeira vez, abriram, transformaram terrasfracas da natureza em solos de alta fertilidade.

Também assisti ao binômio Nelore e Brachiaria. Quem é familiarizado com isso, comopoucos da pecuária, tem uma idéia do que é Nelore Brachiaria. E, neste sentido, tive aoportunidade de participar, com muita dedicação, do melhoramento da raça Nelore naquelafazenda que mencionei, em Brotas, com bastante sucesso. Como produtor, enxergo hojealgumas decepções. Uma é a dúvida sobre o direito de propriedade. Havendo uma espéciede aquiescência, há agressões ao direito de propriedade? Isso, realmente, é decepcionantepara mim. Também, olho com preocupação a curva antiprogresso e antitecnologia queperturba o desenvolvimento do país. Até dos contrários à abertura de estradas, nós enxer-gamos pronunciamentos.

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

Como empresário, já foi bem classificado o que foi feito pela Manah. Orgulha-me pensaro seguinte: ao longo da minha vida, à testa da Manah, juntamente com meus companheiros,devemos ter produzido e oferecido à lavoura 20 milhões de toneladas de fertilizantes. Deacordo com a Organização de Alimentos e de Agricultura das Nações Unidas (FAO),cada tonelada de fertilizante é responsável por 10 toneladas de alimentos. Significa,então, que participei da produção de 200 milhões de toneladas de alimentos e isso émuito confortante para mim.

Na Manah, conseguimos um renome que ainda hoje é preservado, pelos novos proprietários,de uma integridade técnica e comercial que muito me orgulha até agora. A palavra Manaharrasta em si a certeza de um produto de alta qualidade, tecnicamente bem recomendado.Fizemos escola na Manah. Muitas pessoas que deixaram a Manah para exercer outrasatividades, levaram para o seu setor e o seu trabalho, a filosofia e o aprendizado que tiveram.

Também, cerca de sete anos depois de sua fundação, tornamos todos os funcionários,desde o mais humilde operário, em acionistas da empresa. Somaram-se a eles algunsoutros acionistas, que nos honraram com a sua confiança e, quando se criou a figura daempresa de capital aberto, nós tínhamos o número de acionistas necessário para o registro,que foi um dos primeiros no país.

Inventamos o Fosmag. Não podia acreditar que se podia inventar um produto novo. Foi omultifosfato magnesiano, patenteado no Brasil, que deu origem à linha de produtos com amarca comercial Fosmag, que ainda hoje tem grande aceitação no país. Como cidadão,sempre defendi, da maneira que me foi possível, as idéias da liberal democracia.

Quando tomei posse, pela primeira vez, junto à presidência do Sindicato de Adubos, disseaos meus colegas no meu pequeno discurso: “só a democracia e a liberdade de iniciativatornarão este país uma grande nação”.

Mais tarde, na década de 80, quando idéias de todos os tipos afetavam as pessoas,inclusive, nossos funcionários, apresentei a eles uma definição do que era liberal-democracia,no sentido de que eles entendessem o que era o regime democrático. Terminei estaapresentação, que foi por escrito, com as palavras do Winston Churchill: “A democracia éo pior regime econômico e social que existe, até que se comece a comparar com osoutros”. Dentro dessas idéias está amarrada a liberdade de empreendimento.

Participei, com grande alegria e entusiasmo, da privatização do setor de fertilizantes, nadécada de 80. Como cidadão, dei meu trabalho, meu empenho, à Secretaria da Agricultura,no ano de 1964, quando o Marechal Castelo Branco impingia a todos nós grandeconfiança e esperança.

Dediquei-me ao Sindicato da Indústria de Adubos, sendo presidente por 24 anos e naManah tive a presidência por 30 anos. Era a nossa colaboração para com as indústrias defertilizantes. Participei de entidades no exterior, como foi relatado, que me deram grandeexperiência na vida. As minhas decepções nesse setor vêm de um tempo da mocidade,ainda na década de 30, quando me empenhei de corpo e alma na campanha do BrigadeiroEduardo Gomes e ele foi derrotado. Também, lá em Descalvado, me convidaram paracandidato a vereador. Aceitei, pensando ajudar a cidade e fui fragorosamente derrotado.

Nos dias de hoje, noto em nosso país duas deficiências marcantes. Há muitas deficiências,mas escolhi duas, para servir de exemplo. O nosso sistema representativo está falido. Onoticiário dos últimos 60 dias dá a vocês a idéia do por que deste conceito. É preciso, dequalquer maneira, aperfeiçoar o sistema representativo.

E nesse sentido, tenho também minhas idéias e sempre que posso as apregôo. Soufavorável à eleição distrital. Nós temos que conhecer os candidatos de perto. E, depois deelegê-los, tomar conta deles, porque eles têm que prestar conta ao seu distrito e não secomportar como desconhecendo quem os elegeu. E os eleitores nem sabem em quemvotaram. Esse sistema é falho. Nós temos que melhorar o sistema representativo.

Também olho com muita preocupação, o fato de que uma sociedade, para manter o seuequilíbrio, tem que ter um sistema judiciário eficiente. E ouço dos meus amigos e parentesadvogados, e de outras pessoas também, que a nossa justiça não funciona. Isso éextremamente preocupante no meu ponto de vista. Sou um privilegiado. Em primeiro lugar,pela saúde. Hoje, sou olhado com certa admiração por, aos 90 anos, me manter bastanteativo e dinâmico. Espero não ser transformado num objeto de curiosidade.

Essa saúde me mantém ativo, procurando servir à lavoura da maneira mais básica, quesempre me preocupei em toda a vida, que é a fertilidade do solo. A Fundação Agrisusfinancia todas as oportunidades de disseminação, de pesquisa e de assuntos relacionadosà sustentabilidade da agricultura, baseados na melhoria da fertilidade. Não se fala mais emconservação, não tem sentido conservar o sólido cerrado. O que aconteceu foi melhorá-lo para atingir altos níveis de fertilidade e, então, conservá-los. Enquanto tiver gás e saúde,prestarei os meus serviços à agricultura, através da Fundação.

Sou um privilegiado pela família. Além da esposa, que sempre me acompanhou, meinspirou, ouviu compreensivamente os meus momentos de desânimo e desgosto. Alémdela, tive seis filhos, que, por sua vez, me trouxeram 20 netos. Que por sua vez me trouxe-ram 10 bisnetos. Somos, ao todo, 38 pessoas. Somando os consortes, chegamos a umafamília de 52 pessoas.

Tenho ainda o privilégio de ter bons amigos que me prestigiam hoje, com essa homenagemtão carinhosa, não digo que justificada, mas muito emocionante para mim. E agradeço àAbag, entidade que muito admiro, nas palavras que mandei para o doutor Lovatelli, quandoanunciou o meu nome. Entendi esta homenagem, como extensiva a todos aqueles queparticiparam e participam do agronegócio brasileiro, representados pela saudosa memóriade um dos fundadores da Abag, Ney Bittencourt de Araújo.

Agradecendo, então, a paciência, volto a agradecer à Abag e os meus amigos por estadistinção que muito me comove, que não sei se é merecedora ou não, mas que servirásempre de uma palavra e de uma memória importante para os meus descendentes. Muitoobrigado a vocês todos. Muito obrigado à Abag.

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É uma atualização sobre a oferta e a demanda de profissionais para oagronegócio brasileiro, resultado de um trabalho realizado em conjunto com oMinistério da Ciência e Tecnologia, o CNPq, a ABAG e o Grupo de Estudos ePesquisas Agroindustriais da Universidade Federal de São Carlos.

Homenagem ao Dr. FERNANDO PENTEADO CARDOSO,Personalidade do Agronegócio 2005

Lançamento oficial do livro

RECURSOS HUMANOS E AGRONEGÓCIO,A EVOLUÇÃO DO PERFIL PROFISSIONAL

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

PAINEL 1 – BLOCO 1: TENDÊNCIAS MUNDIAIS30

COMPOSIÇÃO DA MESA DOS TRABALHOS

Presidente da Mesa:

SENADOR JONAS PINHEIROSenado Federal

Moderador:

ANTÔNIO CARLOS KFOURI AIDARDiretor da GVConsult – FGV

Palestrantes:

JOÃO CARLOS DE FIGUEIREDO FERRAZPresidente da Crystalsev

JOÃO DE ALMEIDA SAMPAIO FILHOPresidente da Sociedade Rural Brasileira – SRB

JOSUÉ CHRISTIANO GOMES DA SILVAPresidente da Companhia de Tecidos Norte de Minas – Coteminas

João Carlos de Figueiredo FerrazPresidente da Crystalsev

AÇÚCAR E ENERGIA RENOVÁVEL

O setor tratado neste painel está na mídia, ultimamente, pela grande capacidade de produçãoe competitividade conquistada nos últimos anos no cenário internacional. Trabalhamoscom dois produtos absolutamente diferentes sob o ponto de vista do consumidor: açúcare álcool. Possuem mercados diferentes, lógicas diferentes e finalidades específicas. Oaçúcar é uma antiga commodity, com evolução da ordem de 2% ao ano no mercadointernacional. O álcool, apesar de conhecermos bem no Brasil desde a década de 70, é umproduto relativamente novo sob o ponto de vista da demanda mundial. O mundo começaa conhecer o álcool, não porque o Protocolo de Kyoto criou uma consciência ecológicamundial, e sim porque o petróleo está US$ 60 o barril. Isso faz com que o produto sejaextremamente interessante sob todos os aspectos.

A produção brasileira de açúcar cresce de uma forma consistente ao longo desses anos.Saímos de uma produção da ordem de 6 a 7 milhões de toneladas na safra 1990/91, e hojeestamos na faixa de 27 milhões de toneladas de açúcar. O mercado interno é da ordem de7,5 a 8 milhões de toneladas, e o restante exportamos, onde somos líder.

Na atual safra, a expectativa é exportar cerca de 18 milhões de toneladas de açúcar. Nasafra de 2000, o Brasil participava com cerca de 18% do mercado internacional livre, omercado spot. Agora, participamos com 30%, 35%, tendendo a 40%. O Brasil é o maiorprodutor, depois vem a União Européia, Índia, China e Estados Unidos.

No ano passado, conseguimos uma vitória surpreendente na OMC. Provamos que aexportação Européia da Cota C carregava um subsídio interno. Agora, a Europa reformulaa sua política de subsídios para o açúcar. Como a comunidade européia cresceu muito, ossubsídios dados aos países ficam inviáveis em termos de sustentação econômica. Com alimitação na exportação da Cota C, deixarão de exportar cerca de 3 milhões de toneladasnos próximos dois anos, espaço que poderá ser preenchido pelo Brasil.

O consumo de açúcar no mundo é muito centrado nos países produtores ou nos paísesmais desenvolvidos. A China, ao consumir pouco, sofre um processo de urbanizaçãoenorme naquele país. À medida que as pessoas saem do campo e vão para a cidade,começam a consumir mais produtos industriais e também mais açúcar. O Brasilprovavelmente é o país com mais capacidade para atender a demanda, em função de suacapacidade de produção e custos.

Vivemos um cenário extremamente positivo, os preços internacionais estão nos seus pata-mares mais altos. Esse cenário deve se manter. Trabalhamos com preços bem remuneradores.O álcool tem uma lógica totalmente diferente do açúcar. É um mercado totalmente diferente,

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com outros incentivos. Começa a ter uma penetração e despertar um interesse muitogrande no cenário internacional. Muitos países nos procuram para conhecer nossa históriae experiência, as dificuldades e resultados dos sucessos alcançados, como superamos osproblemas da produção e da distribuição.

A Petrobras tem sido uma parceira, levamos a experiência brasileira para os outros paísescom bastante sucesso. Os países têm dificuldade de aceitar um programa de Estado, quedemanda uma garantia de suprimento. Existe sempre a dúvida com relação ao suprimentoe a dependência de um único país.

Estamos há quatro ou cinco anos em contato direto, com palestras, estudos, grupos detrabalho, com o Japão. O país está convencido da importância e da necessidade de entrarno álcool, mas tem colocado algumas reservas. Espera novos atores no cenário para quepossam ajudar a não ficarem dependentes de um único país.

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A produção de álcool no Brasil vem numa evolução. Tivemos, na década de 70 e 80, umconsumo muito grande. Na década de 90, o consumo diminuiu em função dos preços dopetróleo, que tornaram o álcool menos competitivo. Ultimamente, nos últimos cinco anos,novamente o álcool mostra ser muito competitivo.

O álcool assume um papel importante, não apenas como combustível. Hoje, dos 2,4bilhões de litros de álcool exportado pelo Brasil, mais da metade é destinada a indústriaquímica. O petróleo a US$ 60 o barril faz com que o álcool seja muito competitivo comrelação ao Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA). Nichos de mercadose abrem e mostram o desafio muito grande em atender essa demanda toda que surge.

É importante comentar também a energia renovável, a co-geração de energia, energiaelétrica gerada através da queima de bagaço. A grande competitividade no álcool é porquegeramos energia dentro das unidades para produzir o álcool. Consumimos de energiaexterna cerca de 0,3 unidades de energia para cada litro de álcool produzido. Nos EstadosUnidos, na produção de álcool de milho, o consumo é de 1,5 unidades de energia paracada uma unidade de energia. Eles consomem energia elétrica do sistema para a produção.Aqui no Brasil, a energia elétrica gerada nas plantas é co-gerada com bagaço. E temosexcedentes para exportação.

As 350 plantas na região Centro-Sul do Brasil, se trabalharem dentro da tecnologiaexistente, com geração de energia, gerariam o equivalente a uma Itaipu. É um fato importante,pois a previsão é do Brasil passar por sérias dificuldades em 2009.

Temos dois desafios: o primeiro é manter uma produção para garantir uma demandasustentável para esse mercado que está se abrindo e, o segundo, é não criar excedentesmuito grandes de produção. Muito obrigado.

JOÃO DE ALMEIDA SAMPAIO FILHOPresidente da Sociedade Rural Brasileira – SRB

BORRACHA NATURAL

O ciclo da borracha, no final do século 19, início do século 20, começou quando HarveyFirestone descobriu a vulcanização e viabilizou os pneus de carroça e automóveis. O Brasilera produtor de borracha extrativa retirada da Amazônia. Era um processo extremamenterudimentar. Chegamos a uma produção anual de 10 mil toneladas. Construíram os teatrosem Belém e Manaus. Foi um período de desenvolvimento. Conta-se que um sujeito inglês,chamado Henry Wickham, em 1876, levou da beira do rio Tapajós 70 mil sementes para oJardim Botânico de Londres, enviou depois para o antigo Ceilão, atualmente Malásia. Porvolta de 1910, a Malásia colhe a primeira grande safra e desbanca o Brasil. Na Amazônia,ainda hoje, um seringueiro anda 5, 10, 20 quilômetros por dia para cortar árvores. NaMalásia, os ingleses plantam uma árvore em seguida da outra. Um seringueiro cortava milárvores por dia andando muito menos. O Brasil terminou seu ciclo da borracha.

Nessa mesma época, Henry Ford, preocupado em garantir o suprimento de borracha paraseus automóveis, resolveu plantar no Brasil. Foi iniciado o projeto Fordlândia. Ele construiuuma cidade. O empreendimento foi um desastre, pois um fungo dizimou as plantações.Com isso, foi criada no Brasil uma imagem de que não teríamos competência para produzirborracha com seringueiras, com uma cultura agronômica e não extrativa.

Na época da Segunda Guerra Mundial, com a entrada do Japão na guerra, os aliados seviram arriscados. Privados de acesso a um insumo fundamental, estratégico para a produçãode armas dos tanques dos aviões, os japoneses bloquearam a saída da borracha que, atéentão, estava sendo produzida no sudeste asiático.

Nesse período, o Governo Vargas criou o exército da borracha, formado principalmente pornordestinos, deslocados para o Amazonas e Rondônia, para tentar extrair o máximo deborracha possível. Até hoje, infelizmente, temos ainda problemas de promessas não cumpridaspara esses soldados. De vez em quando, aparece na Amazônia uns familiares de seringueirosque se dizem donos daquelas terras, porque foram prometidas a eles pelo Governo Vargas.

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No período militar, o governo criou, em 1967, o que a gente chamava de Lei da Borracha,a Lei 5227. Foi instituída, entre outras coisas, o Pró-Borracha, para que se plantasseborracha. Tínhamos, nessa época, algum conhecimento e pesquisa para plantar borrachaem regiões não tradicionais. Então, foi iniciada a plantação na Bahia, no Mato Grosso,em Rondônia, no Paraná e Pará.

Na década de 70 e 80, graças à experiência e à pesquisa de técnicos como Dr. JaimeVasques, descobrimos que São Paulo e Mato Grosso poderiam ser a zona de escape,com plantio de seringueira sem incidência ou controle do fungo. Nesse período, o Brasilpretendia plantar de 300 a 400 mil hectares de seringueiras. Não chegamos a tanto,mas grande parte da área atual de hoje começou nesse período.

No governo Collor, tivemos o desmantelamento da Superintendência deDesenvolvimento da Borracha (Sudehevea). Tivemos o fim da Taxa de Organização eRegulamentação do Mercado de Borracha (TORB), que financiava a equalização depreços para a borracha. Era uma garantia para o Brasil ter condição de produzir. Em1993, a produção de borracha, oriunda de seringais de cultivo, superou pela primeira

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JOSUÉ CHRISTIANO GOMES DA SILVAPresidente da Coteminas

ALGODÃO E TÊXTEIS

O mundo produz hoje 65 milhões de toneladas de fibras têxteis. O algodão representa35% desse total. Os Estados Unidos, que consomem 38 quilos per capita, e crescem, emmédia 2% ao ano o seu consumo, representam quase 43% do consumo.

A Índia, país de população gigantesca, com mais de um bilhão de pessoas, tem um consumomuito pequeno, 3,9 quilos per capita de fibras têxteis, mas cresce 6% ao ano. A China temum consumo muito grande: 13,3 quilos per capita. É difícil imaginar na China um crescimentoacelerado no consumo per capita de têxteis. Isso vai se dar em países como Índia e Brasil.A América Latina consome apenas 5,5 quilos per capita, com crescimento de 3,5% ao ano.O Japão consome 20 quilos per capita e cresce apenas 1% ao ano.

Os produtores de algodão precisam ter como clientes os países em desenvolvimento,como o Brasil, a Índia, o Paquistão, a Turquia e mesmo a China. A China provavelmentenão será o grande destinatário do algodão brasileiro, apesar de ser o maior importador domundo e continuará a sê-lo, porque não tem área e nem água para plantar. A produçãodeles, da ordem de 5,5 milhões de toneladas, é muito aquém do consumo, 7 milhões detoneladas de algodão. Porém, o seu consumo per capita deverá ficar estável. O crescimentodo consumo será ocupado pelas fibras feitas pelo homem, tendo em vista os maciçosinvestimentos do país na produção de fibras sintéticas e artificiais.

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vez a de seringais nativos. A safra foi de 36 mil toneladas. No governo FernandoHenrique, a partir de 1994, a produção de borracha no Brasil estava com crise depreço enorme. Os seringais plantados na década de 80 não estavam maduros, comcustos elevados. Tivemos um período com subsídio e, hoje, os preços sãoremuneradores, com boas perspectivas para o setor.

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O produtor brasileiro precisa estar consciente de que o grande mercado para a venda defibra de algodão será o Brasil e os outros países da América Latina. A Índia e o Paquistão,embora sejam grandes produtores, às vezes, por problemas de deficiência de produtividadee tecnologia, produzem menos que seu próprio consumo. País como a Turquia, grandeconsumidor de algodão, será um grande exportador para os países desenvolvidos comoEuropa, Estados Unidos e Japão.

A indústria têxtil nacional não teme a competição com a China, mas defende a competiçãoleal. Infelizmente, existem diversas distorções na competição com a China, a começar,obviamente, pelas diferenças macroeconômicas entre os dois países. Na China, a taxa dejuros é muito baixa, às vezes até negativa. No Brasil a taxa de juros é indecente. Não hápaís no mundo, hoje, com uma taxa de juros dessa magnitude. Isso traz uma conseqüêncianefasta, a valorização do câmbio com efeitos negativos na indústria têxtil de confecção.

Indústrias extremamente competitivas de Santa Catarina fecharam postos de trabalho aosmilhares. São grandes empresas, tradicionais e exportadoras, que não conseguem maiscompetir com a valorização cambial. Além das distorções macroeconômicas entre o Brasile a China, existem os aspectos ambientais, trabalhistas e tributários (lá é 18% e aqui passade 37%). O mais grave é o comércio ilegal oriundo da China. De cada cem unidades quesaem da China com destino ao Brasil, o Brasil só registra como importação legal 40%.Quando a China exporta um produto de vestuário para os Estados Unidos a US$ 10 oquilo, o Brasil importa por US$ 2 o quilo. Somos bons negociadores, agora não sabíamosque éramos tão melhores que os Estados Unidos, que pagam, às vezes, 5 a 6 vezes mais.

Há um indício eloqüente de superfaturamento, ou no mínimo, de dumping. A indústria têxtilbrasileira domina a tecnologia, tem design, qualidade e custos competitivos. Será umagrande consumidora de algodão produzido aqui no Brasil. Para o algodão competir deforma eficaz com as fibras artificiais e sintéticas, o agricultor deve se preocupar com ganhosde produtividade e reduções de custos. A semente transgênica, que começa a ser aprovadano Brasil para o algodão, trará grande redução de custos. É preciso criar fibras comcaracterísticas cada vez melhores para os processos têxteis para competirem com algumasfibras artificiais e sintéticas. Como os Estados Unidos demonstraram, nós podemos aumentaro consumo final de algodão fazendo campanhas de marketing. Muito obrigado.

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Presidente da Mesa:Senador Jonas PinheiroSenado Federal

Como vamos lidar com a competitividade asiática em vestuário?JCGS – Há uma concepção equivocada dos custos na indústria têxtil.Se a indústria de confecção, em algumas etapas, é bastante intensiva emmão-de-obra, a indústria de fiação e tecelagem, e de beneficiamento têxtil,ou seja, tinturaria, estamparia e acabamento, não é mais de mão-de-obraintensiva.

Os principais custos são basicamente a matéria-prima, a energia e osprodutos químicos de acabamento e de beneficiamento. Portanto, ainda quea mão-de-obra, tendo em vista o regime de trabalho na China, que de fatofaz com que seus trabalhadores se dediquem 10 horas por dia, 29 dias pormês, não deveria ser grande preocupação. Há países com custos demão-de-obra muito mais barata que a deles, como Bangladesh, Índia e oPaquistão. O problema existe onde a mão-de-obra tem uma participaçãomaior nos custos.

A indústria têxtil é muito mais intensiva em capital do que emmão-de-obra. Emprega hoje muito pouco em relação ao que se empregavano passado. O Brasil, como país produtor e exportador de algodão, terácondições de competir com a China, que é um país importador de algodãoe continuará a ser. Agora, é claro que competir com eles em algunssegmentos sintéticos, tendo em vista seus grandes investimentos nafabricação de fibras sintéticas, se torna mais difícil.

Então, o Brasil, aliando custos como a energia elétrica mais barata, atéporque a fonte é iminente hidráulica e a deles é térmica – e temosquímicos, mais ou menos, de acabamento, no mesmo custo que o deles.Então, produtos em que nós possamos agregar design, e em que oconteúdo de mão-de-obra não é tão grande assim, a China não nospreocupa. Onde o conteúdo de mão-de-obra é grande, é muito mais emBangladesh, Índia e Paquistão.

Quantos projetos novos estão sendo implantados em São Paulo nessemomento?JCFF – São muitos os projetos no Centro-Sul, em São Paulo, Sul de Minas,no Triângulo Mineiro, no Mato Grosso do Sul. Temos cinco plantas emconstrução nesse momento.

Em área de terras caras do Estado de São Paulo, a taxa de retorno daborracha natural é atrativa?JASF – Quando se faz a conta, talvez a longo prazo, acho que empata coma cana.

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COMPOSIÇÃO DA MESA DOS TRABALHOS

Presidente da Mesa:

SENADOR JONAS PINHEIROSenado Federal

Moderador:

CRISTIANO WALTER SIMONPresidente da Associação Nacional de Defesa Vegetal – Andef

Palestrantes:

ANDRÉ PESSOADiretor da Agroconsult

GABRIEL ALVES MACIELSecretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento

ANDRÉ PESSOADiretor da Agroconsult

GRÃOS E CARNES

A avaliação tem como partida o desempenho do mercado consumidor de rações. A carnede suínos é a mais consumida no mundo, puxada exatamente pela China, com um consumode 45 milhões de toneladas por ano. A expectativa é, nos próximos 10 anos, de umcrescimento em torno de 2% ao ano. Um pouco maior no primeiro qüinqüênio e um poucomenor no segundo. Em frango, a expectativa é de um crescimento um pouco inferior, de2%, mas ainda com um desempenho bastante razoável. Em bovinos, numa trajetórialigeiramente acima de 1%.

Essas taxas são suficientes para gerar demandas derivadas para o farelo de soja e pormilho. Dividi o desempenho esperado entre os países desenvolvidos e os em desenvolvi-mento. Para carne bovina, a expectativa dos países em desenvolvimento é manter umatrajetória de crescimento de apenas 0,5% ao ano. É um mercado maduro, bastante satisfeitodo ponto de vista nutricional. Para os países em desenvolvimento, a taxa deve crescerpouco. Existem países importantes, como é o caso da Rússia, que nos anos recentesrecuperaram a necessidade de consumo de carnes. Uma das elasticidades mais fortes derenda está exatamente no grupo de proteínas. No total, na carne bovina a expectativa é decrescer à taxa de 1,6% ao ano, nos próximos anos.

Em frango, no mercado dos países desenvolvidos, a expectativa é de apenas 0,7% ao ano.Há uma influência bastante significativa dos problemas enfrentados na carne vermelha,sobretudo no que diz respeito à aftosa. O efeito positivo sobre a demanda de carne defrango, devido à vaca louca, deve arrefecer nos próximos anos. A taxa cai para 0,7% nos

países em desenvolvimento, que ficam com 0,6% de previsão para os próximos anos e ospaíses desenvolvidos, com 2,9% ao ano. A recuperação da demanda, sobretudo do lesteeuropeu, pode trazer uma taxa pouco mais expressiva nos próximos anos. Com as devidastransformações desses volumes, a demanda em ração cresce a uma taxa próxima de 2%.Isso nos próximos 10 anos, um acréscimo de quase 240 milhões de toneladas.

Para bovinos, apenas a metade da produção mundial será alimentada à base de ração, aoutra metade, produzida com pasto. No bloco de outros, além de leite e outros animais,está contemplado todo o plantel necessário para produzir a quantidade de carne con-sumida ano a ano. Consideramos, a grosso modo, que a composição das rações guardauma proporção de 70% de produtos energéticos, sobretudo milho, e a fonte protéicacerca de 30%, com destaque para o farelo de soja. A participação do milho, como fonteenergética, salta no horizonte de 2004 a 2015, de 63% para 65%, e, na soja, o farelopassa de 60% para 70%. As fontes de origem animal estão em processo de reduçãoacentuada em função do problema da vaca louca. A demanda por rações em farelo desoja cresce a uma taxa de 3,4% ao ano. Uma necessidade de colocar no mercadointernacional mais de 60 milhões de toneladas.

Se imaginarmos o farelo como o motor da demanda de soja no mundo, chegamos àexpectativa da produção necessária de grãos decorrente desse esmagamento e da produçãogerada de óleo. Precisaria a mais 1,4% ao ano de sementes. A demanda por outrosalimentos, também envolvidos com a cadeia soja, ficaria 4% maior, e os outros produtos,2%. E aí está incluído o biodiesel.

O biodiesel, como relevante regionalmente para alguns locais, seria significativo o uso desoja, sobretudo quando tem preços baixos. Quando fazemos um cenário de 10 anos,sobretudo do lado da oferta, é necessário imaginar que em algum momento enfrentaremosdificuldade climática. Há uma coincidência na convergência de três modelos climáticosdistintos. Temos muito conhecimento do comportamento dos El Niños e das La Niñas.Saímos, em fevereiro, de um El Niño fraco, moderado, mas que os meteorologistas dizemque para o clima dos Estados Unidos, mesmo depois do El Niño se desconfigurar, os seusefeitos permaneceram por até 14 meses. Embora haja uma expectativa de um clima irregularnos Estados Unidos, esse ano, com a ocorrência de alguns veranicos, como é o caso atualnos estados de Illinois e Indiana, é muito provável que o clima não seja favorável a umaseca das dimensões da que se teve em 2003. Não estando presente o El Niño no próximoano, cresce a probabilidade da configuração de uma La Niña, como ocorre em quase todosos períodos depois dos El Niños. Para o mercado americano isso significa uma probabilidademaior de ocorrência de um período seco mais pronunciado, até caracterizando uma seca.

Tem outro modelo, o Índice de Oscilação Decadal do Pacífico (ODP), chamado por algunsmeteorologistas de La Mama, ou seja, a mãe dos El Niños e das La Niñas. É uma avaliaçãodas anomalias que caracterizam o El Niño e a La Niña no Pacífico, só que entendidos eanalisados num período mais longo de tempo e, claramente, como uma caracterização deciclos de mais ou menos 20 anos.

Esses ciclos, durante sua fase quente, ocorrem quando a temperatura está elevada noPacífico, que ocupa um terço da superfície terrestre. Acabamos de sair de uma fase maisquente e entramos nessa fase mais fria. A fase mais quente se caracteriza por um períodomais intenso de ocorrências de El Niños e, portanto, de temperaturas mais elevadas, preci-pitações maiores e possibilidades de enchente, sobretudo no hemisfério norte.

O período frio, que entramos em 1999, é caracterizado por uma freqüência maior de LaNiñas, temperaturas mais baixas e precipitações menores. Nos seus primeiros cinco anos,

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em geral, a característica não é tão pronunciada e intensa. Mas a partir do sexto ano, nocaso, estaríamos dentro do período de maior probabilidade de ocorrência de estiagensmais prolongadas e acentuadas no hemisfério norte.

Tem outro modelo que é a questão dos círculos de manchas solares. A quantidade deexplosões solares afeta a radiação da terra. Isso tem um ciclo de cerca de 22 anos, comduas fases, de mais ou menos 11 anos cada. A caracterização dessas fases é de quequando se aproxima dos mínimos, em geral ocorrem secas. Trabalho de Craig Solberg, umdos meteorologistas da Ohio University, mostra que nos ciclos anteriores a esse vivemos,de 1996 a 2007, no meio-oeste americano de 3 a 6 secas num período de 11 anos.

Alguns fundos de investimentos possuem uma grande posição de compra para o início domercado climático da safra americana do ano que vem. É uma boa notícia, porque coincidecom a colheita brasileira. A quebra de safra foi assumida de uma eventual seca no ano quevem. Do lado do cenário de oferta pode construir um quadro com essa possibilidade dequebra. A produtividade de soja, portanto, nos Estados Unidos, inicia a série com umaquebra no próximo ano, e depois, volta para a linha de tendência. Se compararmos aprevisão para o ano de 2014/2015, como que aconteceu em 2004, a taxa de crescimentoseria zero. Da mesma forma, a expectativa em relação à área plantada é de uma pequenaredução nos próximos anos, dando espaço para o milho. O crescimento é muito suave nofinal, em 10 anos a área plantada inalterada: 57 mil hectares a mais.

A produção seria, no final da série – repetir a safra dita milagrosa obtida nos EstadosUnidos no ano passado, com uma excepcional produtividade – chegar a algo como 85milhões de toneladas. Para a Argentina a expectativa seria uma evolução de cerca de1,8% ao ano. São 3,1 milhões de hectares a mais incorporados ao processo. Uma taxabastante significativa se considerar as limitações de área de brejo do país. A produtividadecresce 1% ao ano. A produção tem um adicional de 14 milhões de toneladas nospróximos anos, para chegar ao redor de 53 milhões de toneladas, com quase 3% decrescimento ao ano.

A série do Brasil foi constituída por derivação. Aquilo que os americanos e os argentinos nãoatenderem será a nossa capacidade de atendimento no mercado. Os argentinos seguemmais competitivos em custos de produção e os americanos na logística. Para o Brasil, a áreacresceria 2,5% ao ano, ou seja, mais 7,0 milhões de hectares sobre a área do ano passado.Para 2005/2006, consideramos uma queda de quase 2,0 milhões de hectares de áreaplantada, ao redor de 9% da área. A produtividade segue a linha de tendência, expectativa deque em relação à produção, as taxas de crescimento ficam ao redor de 6% ao ano. É umdesafio hercúleo colocar no mundo mais 48 milhões de toneladas de grãos de soja no hori-zonte dos próximos 10 anos, ou ainda, dobrar a nossa produção. Não é só a cana que podedobrar a produção em 10 anos, mas também a soja teria um espaço, mesmo com taxasconservadoras do ponto de vista do consumo no mercado internacional.

Em relação à produção mundial, o crescimento ficaria ao redor de 3% ao ano. É um índiceabaixo do crescimento dos últimos 20 anos. Uma necessidade de 80 milhões de toneladaspara ser incorporada a esse mercado. Para enxergar as relações de estoque e uso, portanto,os reflexos sobre o preço, o estoque de farelo de soja foi fixado em 2%, ou seja, permaneceráconstante ao longo do período. A flutuação seria em estoques de óleo. A demanda defarelo de soja é atendida sem gerar excedente, quase da mão para a boca. No óleo, seriagerado um estoque, em patamares aceitáveis para não deprimir dramaticamente a margemdas empresas esmagadoras.

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No caso dos estoques de soja, mesmo com uma redução pronunciada da safra 2005/06,pelo menos da área plantada no Brasil, teríamos um acúmulo de um volume de estoque umpouco maior no início da série. Permaneceria relativamente alto alguns anos, com umabaixa um pouco maior no final da série. Lembrem que o consumo de carnes e, portanto, derações, seria mais intenso na segunda metade do período dos 10 anos. Os preços nãofugiriam das médias históricas, ao redor de US$ 6 o bushel, obviamente com muitavolatilidade. A participação do Brasil em produção cresceria de 23% para 33% do mercado.Os americanos perderiam exatamente esses 10 pontos percentuais e os argentinos semanteriam na mesma posição relativa, ao redor de 18% da produção.

Com relação ao milho, a taxa de crescimento da demanda ficaria em 2,2% ao ano. É umadicional de 125 milhões de toneladas no mercado internacional. O etanol já é exponencial.Deve chegar a um platô próximo de 18% da produção de milho. Hoje, estamos por voltade 13%. O crescimento não é dramático. Cerca de mais 12 milhões de toneladas de milhoforam deslocadas para o consumo de etanol.

A grande mudança no mercado de milho internacional vem da China, que apresenta umataxa média de crescimento projetada do consumo de 1,7% e a taxa da produção de apenas1%. Apesar de ser o segundo maior produtor mundial, teria dificuldade de acompanhar oritmo de crescimento do consumo. Como conseqüência, deixará de ser país exportadorpara ser importador. Foi estabelecida a premissa de manter os estoques na China em tornode 15%. Haveria uma importação em torno de 13 milhões de toneladas de milho. Nademanda por milho, o etanol cresceria pouco, a razão de 2,2%.

Do lado da oferta de milho, os americanos cederiam a área da soja para o milho nos próxi-mos anos, à razão de 0,5% ao ano. É o crescimento na área de milho nos Estados Unidos,de 1,7 milhão de hectares. Se considerarmos os máximos atingidos em cada estado, como plantio das oito principais lavouras de grãos, são 260 milhões de acres. No ano passado,foram plantados 247 milhões de acres. Se a produtividade crescer a 0,2% ao ano, no finalda série atingirá mais ou menos a produtividade da safra milagrosa do ano passado. Aprodução cresceria ao redor de 0,7% ao ano, ou um acréscimo de 23 milhões de toneladasno mercado internacional.

Se formos analisar, como ficará o comportamento do mercado internacional, osamericanos ainda teriam espaço para expandir seus volumes de exportação, bem comosua participação no mercado internacional de milho, de 60% para 70%. A Argentina, emfunção da orientação da área adicional, migrar para a soja, tendo em vista a suarentabilidade e liquidez, bem como os investimentos feitos pelas indústrias, as tradings eas processadoras nos últimos anos. Não há possibilidade de crescimento muito grandeda área de milho. A oferta se daria mais por uma contínua incorporação de produtividade,a razão de 1,6% ao ano, o que daria uma produção de mais 4 milhões de toneladas. Seimaginarmos o espaço que sobra no mercado internacional, para ser ocupado peloBrasil, significa um crescimento ao redor de 2,2%. O Brasil pode ocupar esse espaço,desde que se transforme num país exportador regular de milho. Para isso, precisa de umpreço de milho no mercado internacional ao redor de US$ 2,5 por bushel. É precisomudar a relação estoque-uso ao patamar de 11%.

Se analisarmos preços internacionais previstos, com a possibilidade de exportação doBrasil, há um espaço bastante significativo para ocupar, ao redor de 8 a 9 milhões detoneladas. Não é um crescimento extraordinário, mas é uma ocupação de um espaço queo mercado permitiria e o Brasil poderia ocupar. A área plantada de verão cresceria 1,7milhões de hectares. A produção cresceria 5% ao ano, com mais 21 milhões de toneladasincorporadas no processo. É absolutamente compatível colocar mais 8 a 9 milhões de

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toneladas no mercado internacional e seguir atendendo satisfatoriamente a demandadoméstica da indústria de aves e suínos.

A safrinha cresceria a uma taxa um pouco maior, principalmente na direção do Centro-Oeste, onde se daria o crescimento da área da soja. Abriria espaço para ter uma safrinhacomo safra de outono, com 1,3 milhões de hectares a mais. A posição do Brasil no mundo,como produtor mundial de milho, não cresceria muito, iria de 5% para 8%. O mercadoexiste e capacidade de produção o Brasil também tem.

Mas há alguns desafios para dobrar a produção de soja, crescer significativamente aprodução de milho, não só para atender o mercado interno, mas o mercado externo.Impõe uma agenda de ações que não pode, de forma alguma, ser colocada sobre osombros do governo ou do setor privado.

Para o Poder Executivo, claramente, o problema da logística é prioritário, mas tambémseguro agrícola, defesa sanitária, negociações internacionais e regularização fundiária.No Poder Legislativo, uma revisão das legislações trabalhista, ambiental e tributáriasobre o setor primário e as exportações. Ao Poder Judiciário cabe uma ação decidida emrelação à garantia do direito de propriedade.

À cadeia produtiva, destacaria manter a oferta de insumos, máquinas e serviços a custosrazoáveis. Isso significa mexer na tributação e logística. A liquidez para o mercado demilho passa necessariamente pela responsabilidade da cadeia de aves e suínos noBrasil. O produto representa até 60% do custo dessa cadeia, precisa planejar o seusuprimento. Não se trata de pagar preço acima do mercado internacional, mas de daraos produtores brasileiros a previsibilidade da rentabilidade que será possível alcançarcom o plantio de milho para a safra seguinte, como na soja, no algodão e na cana, sobpena de ficar sempre naquela curva “M” do milho. Um ano tem muito milho e poucopreço, no outro ano, tem muito preço e pouco milho. A questão é de visão de longoprazo. O entendimento da demanda internacional com mais precisão é um desafio paraa cadeia produtiva, para os produtores reduzirem os riscos de comercialização e nãoterem outro caminho: usar a opção de venda e compra.

Na redução do risco agronômico é importante a rotação de cultura, a integração lavoura/pecuária. Viabilizar a cultura e a rentabilidade do milho. Reduzir a alavancagem financeiranas vacas gordas, ou seja, virar banqueiro de si mesmo para capitalizar. Não dá parainvestir tudo e ficar com 110% do patrimônio tomado pelos investimentos. No períododas vacas magras vem a situação de desconforto como a crise atual. Os agricultores sereunirem para demandas mais contundentes quando a rentabilidade vai lá para baixo. Érecorrente colocar na mesma cesta de demanda, problemas diferentes, como por exemplo,as eternas renegociações de dívidas. Necessariamente, precisamos de um outro modelode política econômica para conduzir o país, com a inclusão do seguro agrícola. As taxasde câmbio e juros são insustentáveis, pelo menos do ponto de vista da agricultura e dosnegócios ligados a ela. Muito obrigado.

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GABRIEL ALVES MACIELSecretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento

EXIGÊNCIAS SANITÁRIAS

Precisamos de um programa atento de vigilância sanitária, fiscalização, defesa, em si,tanto animal como vegetal, para manter o crescimento em grãos e carne. Ter uma vigilân-cia sanitária permanente, para evitar a introdução de doenças exóticas. Fizemos umaviagem à China, e vimos a preocupação naquela área, com relação à questão dasEncelopatias Espongiforme Bovina (BSES) na carne bovina. A EMBRAPA, tem trabalhadona questão. O mesmo sucede com a influenza viária. No caso do Mato Grosso do Sul,envolvendo a avicultura, tivemos de responder para todos os países que exportamos.Houve atropelos, tanto local como em posição de resultados. Demos uma informação,apesar da União Européia dizer que o Brasil não é transparente em informações sanitárias.Pode até chamar de incompetência, mas transparência nós temos. Difícil é informaraquilo que não temos. Na área vegetal, há uma preocupação forte na questão do bicudodo algodão e da ferrugem asiática na soja.

Fiquei muito feliz como geneticista, de ver realmente o avanço da EMBRAPA com relaçãoà soja. Teremos no futuro novidades interessantes. O custo de produção com defensivona soja equivale a 10 sacas. Precisamos de alternativas a médio e longo prazos.

Existe a questão da garantia de uma segurança alimentar. Negociamos protocolos sanitáriose fitossanitários com as missões estrangeiras. Temos de ter uma preocupação com ainocuidade dos alimentos e a segurança alimentar e nutricional dos países para os quaisexportamos. Temos de ter um grupo permanente para atender as crises. Uma estruturadentro do ministério. Faremos com o que nós temos em casa e dentro dos órgãos estaduais.

Trabalhamos na questão da regulamentação e da regionalização dos sistemas de defesa.Sofremos uma cobrança muito forte na avicultura; trabalhamos para regionalizar a questãoNew Castle. Regionalizamos a aftosa, reconhecida pelo governo japonês. A aftosa é aprincipal prioridade na área animal do Ministério da Agricultura. Temos 57% do territórionacional livre de aftosa, com vacinação. Apenas Santa Catarina é o Estado livre, sem vaci-nação. Temos 78% do rebanho livre, com vacinação. O Acre recebeu seu certificado.

Estamos com um programa muito intenso e efetivo, compreendendo 43 municípios e umquantitativo em torno de 13 milhões de cabeças, no Sul do Pará, para colocar a regiãolivre de aftosa, com vacinação. Temos de fortalecer o sistema de defesa dos estados. Osgovernadores estão muito conscientes. Sabemos que o processo todo é vulnerável. NoNorte e Nordeste ainda temos limitações. Como o país é heterogêneo, corremos riscosde vulnerabilidade. Ao fortalecer as estruturas dos estados, teremos uma confiançamaior e, com certeza, perderemos muito menos sono.

Há dificuldade de apoiar os estados. Tivemos uma perspectiva muito boa em janeiro, deR$ 176 milhões para atender a defesa, dos quais R$ 65 milhões seriam exclusivos paraa febre aftosa. Veio o contingenciamento de 80%, sobrou pouco recurso. Recuperamosalguma coisa. Em junho, tivemos um sinal dos R$ 40 milhões prometidos pela equipeeconômica do governo. Começaremos de imediato a apoiar os estados para fazer jusao restante de R$ 60 milhões.

Dos 5.561 municípios, em mais de 1.200 temos pelos menos um veterinário. Em maisde 2.800 cidades há assistência, não com a presença permanente física, mas temporáriade técnicos, federal, estadual e municipal. Temos uma equipe em formação do Ministérioda Agricultura, tanto na área animal como na vegetal, para que a educação sanitária sejaa base, como a educação é a base de qualquer nação. Trabalhamos fortemente naregulamentação da Lei de Biossegurança. Temos uma CTNBio, hoje enfraquecida, e estáem formação o Conselho de Ministros, criado realmente para que funcione. Temos esseexemplo agora, de rotular o milho transgênico da Argentina para importação. O Conselhode Ministros vetou um evento similar da soja RR ou do milho RR. Então vai rotular, que éuma coisa estúpida. Não há um método para detectar leite ou carne de um animalalimentado por um produto transgênico. Mas isso é o que está sendo passado para nós,sendo cobrado do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Trabalhamos politicamente para alterar alguma coisa no artigo 3° do Decreto. Do contrário,teremos dificuldades e crises quando aparecem alternativas e soluções. Essa é a falta donosso planejamento estratégico. Enfrentamos a reforma trabalhada pelo Ministro RobertoRodrigues para melhorar a eficiência e a eficácia dos nossos processos. Não podemostrabalhar em processos, instruções normativas que não funcionem e não atendam ainiciativa privada. Tem que ter essa consonância.

Estamos com um grupo gestor dentro do ministério para levantar as pendências. Tive ainfelicidade e, naturalmente, até curioso, assinei um processo de 1975. Estamos comseis departamentos:1 de saúde animal2 de sanidade vegetal3 de inspeção de produtos de origem animal4 de inspeção de produtos de origem vegetal5 de fiscalização de insumos pecuários e6 de fiscalização de insumos agrícolas

Cinco coordenadorias gerais que tratam de aspectos importantes para apoiar o programae atender às exigências sanitárias de nossos compradores internacionais. Temos umacoordenação geral de laboratório, uma de resíduos e contaminantes, além da biossegurançae da vigilância internacional, em que fechamos a porta: porto, aeroporto e fronteiras.

Desenvolvemos um plano impossível e desestimulante. Você pega um colega de nívelsuperior para abrir mala em aeroporto. Isso é muito difícil de se conceber. Trabalhamosuma proposta para pegar essas pessoas e realmente desenvolver suas atividades dentrodesse foco, o de fechar a porta ou a porteira, na linguagem mais comum, para não tersurpresas, como estamos tendo.

Estamos muito avançados no ministério para atender as exigências sanitárias num planode gestão estratégica. A reforma criou uma assessoria de planejamento estratégico quevem trabalhando muito forte nessa questão, além da Secretaria de Relações Internacionais,que coordena a estrutura de negociação internacional e, tecnicamente, a Secretaria deDefesa Agropecuária. Estamos com um grupo de trabalho para aperfeiçoar a Lei deDefesa, de 1934. Muito obrigado.

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

COMPOSIÇÃO DA MESA DOS TRABALHOS

Presidente da Mesa:

CÉSAR BORGES DE SOUSAVice-Presidente da Caramuru Alimentos

Palestrante:

EDUARDO GIANNETTI DA FONSECAProfessor do IBMEC Educacional

PALESTRA: AMEAÇAS E OPORTUNIDADES AO AGRONEGÓCIO48

EDUARDO GIANNETTI DA FONSECAProfessor do IBMEC Educacional

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES AO AGRONEGÓCIO

O meu papel é trazer um pouco do contexto macroeconômico e da economia globaldentro do qual vão se desenvolver as atividades do agribusiness brasileiro. Dividirei aminha exposição em duas partes. Começarei com uma caracterização da situaçãoeconômica do Brasil, uma análise básica de onde estamos e para onde deveremos ir,a curto e médio prazos. Na segunda parte, tratarei das ameaças e oportunidades doagronegócio. Vamos do geral para o particular.

O quadro macroeconômico afeta o agronegócio por três canais fundamentais. Primeiro,a evolução da economia determinará a demanda doméstica por alimentos, matérias-primas e bioenergéticos. É uma variável de primeira ordem para o desempenho doagronegócio no Brasil: 70% de sua produção total é voltada para o mercado doméstico.O segunda é a questão do câmbio e dos juros. O terceiro faz a ligação entre a situaçãomacro e o agronegócio, na questão fiscal, crucial para uma avaliação das perspectivasde maior nível de investimento, o principal gargalo estratégico do setor de agronegócio,que é a infra-estrutura de armazenamento, transportes e sistema portuário.

O Brasil viveu uma recuperação cíclica no ano 2004. Do início da estabilização doreal para cá, houve apenas três anos em que o crescimento do PIB no Brasil superoua taxa de 4% ao ano. Tivemos 4,2% de crescimento em 1995; 4,4% em 2000; e 4,9%em 2004. O crescimento médio da última década no Brasil foi de apenas 2,4%. Com apopulação crescendo 1,5% ao ano, em média, isso significa que o PIB per capita noBrasil do real para cá, avançou apenas 1% ao ano. Um número muito baixo e preocupante.

A produção agropecuária cresceu, em média, no período 1995 a 2004, 3,9% ao ano.Um verdadeiro divisor de águas para o desempenho do agronegócio foi a mudança doregime cambial brasileiro em janeiro de 1999. A partir daí, a média de crescimento doagronegócio foi 5,3% ao ano. No período de 1995 a 1998, a média de crescimentohavia sido 1,9% ao ano. O cenário de 2004 não é um padrão básico. Os dados de PIBdo primeiro trimestre de 2005 mostram desaceleração do ritmo do crescimento, mastambém não há uma reversão de expectativas tão dramáticas. Tivemos três anos muitodifíceis a partir de 2000. A minha previsão de cenário é de um crescimento apenas

moderado. Não continuaremos no padrão de 2004, mas também não teremos algoparecido com a média da última década. Vamos para um crescimento intermediário, nafaixa de 3,0% a 3,5% ao ano em 2005 e 2006.

É importante entender a diferença entre recuperação cíclica e processo de crescimentosustentável. A palavra crescimento em economia esconde, no fundo, duas realidadesmuito distintas. O crescimento é sempre expansão da oferta e aumento da produção,em que por trás existem duas situações. Uma recuperação cíclica se dá quando umaeconomia opera abaixo do seu pleno potencial produtivo. Ela pode atender a demandacom aumento na oferta por uma redução da capacidade ociosa existente. Existe capitaldisponível pronto para ser mobilizado. Foi o que vivemos no ano passado. Esse tipode crescimento rapidamente se esgota. Chega um momento em que alguns setorescontinuam a expandir a oferta simplesmente reduzindo o grau de ociosidade no parqueprodutivo, porque já foi ocupado.

O crescimento sustentável depende de investimentos e formação de capital novo, decriação de capacidade produtiva que não existia no passado. É um movimento detransfe-rência de recursos do presente para o futuro. A sociedade se organiza econsegue, por meio da formação de capital, transferir recursos que não são consumidosimediatamente, mas que ampliarão as facilidades de produção e permitirão um aumentoconsistente da produção nos anos seguintes, à medida que for entrando em operação.

A melhor imagem, para entender a diferença de uma recuperação cíclica e um crescimentosustentado, é a de um copo com água. O volume líquido representa o volume deprodução da economia. Suponha que o copo não está totalmente cheio, com sobra, euma torneirinha para ser aberta ou fechada. Enquanto há uma sobra no copo, abre-se atorneira e o copo comporta este aumento. Chega um momento em que não há maissobra, o copo já está praticamente cheio. Se a torneira continuar aberta, transborda. Háum desequilíbrio. O Brasil viveu em 2004 o momento de redução da sobra que havia nocopo. O único jeito é aumentar o tamanho do copo. É um processo diferente, não é nabase da torneira. É na base do investimento. A torneira é o Banco Central, no uso dapolítica monetária. O Banco Central fez movimentos consistentes, razoavelmenteprolongados, em direções adequadas aos movimentos da economia.

No início do governo houve corretamente um forte aperto da política monetária paraconter a pressão inflacionária, que vinha com muita força da incerteza do quadrosucessório. O Brasil chegou a ter inflação na margem acima de 20% ao ano, noacumulado de 12 meses. A expectativa de inflação corria muito acima da meta para2003. O Banco Central apertou fortemente a política monetária e conseguiu umavitória espetacular no início de 2003, de fazer as expectativas de inflação futura voltarema convergir para dentro do intervalo da meta de inflação.

Dada a situação herdada muito difícil, muitos analistas eram céticos em relação à capacidadeda política monetária de produzir esse resultado. Em meados de 2003, tendo conseguidoessa vitória muito importante, o Banco Central deu início a uma nova etapa da políticamonetária, que é a torneira. Começou a abaixar o juro primário de meados de 2003 atésetembro de 2004. Reduziu o juro primário, permitindo maior liquidez e maior nível dedemanda doméstica no Brasil, especialmente nos setores mais sensíveis a juro, como bensde consumo duráveis e bens de capital. Houve uma recuperação cíclica. Havia espaço nocopo para subir a produção em curto prazo. Em setembro de 2004, o Banco Centralcomeçou a ficar preocupado com a intensidade do aquecimento da demanda, que passoua crescer ao longo do ano em quatro frentes simultâneas:

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49PALESTRA: AMEAÇAS E OPORTUNIDADES AO AGRONEGÓCIO ANAIS2005

1 a demanda externa por produtos brasileiros cresceu muito fortemente,com o setor de agronegócio tendo ótimo desempenho, em larga medida,por causa do câmbio favorecido, a enorme competitividade e a compra debens e serviços pela China;

2 a demanda doméstica crescendo, não apenas pela queda dos juros, feita apartir de meados de 2003, mas também por uma mudança institucional nomecanismo do crédito. O desconto em folha de salário e o desconto noINSS levaram a um volume de crédito, as famílias do Brasil em mais de 30%em termos reais durante 2004. Esse movimento forte beneficiou arecuperação cíclica;

3 crescimento na demanda do setor privado, os investimentos serecuperaram de um nível muito baixo, crescendo na margem;

4 aumento da demanda do setor público, porque o gasto público em 2004voltou a crescer em termos reais.

O governo, favorecido pelo próprio crescimento da economia, teve maior receita eaumentou em 10% o gasto real. Foi uma mudança de direção importante no gastopublico. Com esse movimento, coordenado e simultâneo de aumento de demanda, oBanco Central começou a se preocupar com o limite da recuperação cíclica no curtoprazo. Começou também a apertar a política monetária, que veio até exatamenteagora, junho de 2005, levando a taxa selic a esse número elevado de 19,75% ao ano.Podemos discutir a questão da dosagem.

Nenhum analista em sã consciência pode questionar a direção do movimento que oBanco Central fez ao mudar a direção da política monetária, buscando realmenteconter o crescimento da demanda. Podemos dizer, com razoável confiança, que apolítica monetária no Brasil mostrou a sua eficácia. A demanda foi contida, lamentavel-mente, no investimento do setor privado. O Brasil deveria ter aumentado o crédito aoinvestimento e não ao consumo. Houve uma queda forte no primeiro trimestre noinvestimento do setor privado. Isso coloca dúvidas quanto ao crescimento mais àfrente. Houve também um feito da política monetária que pega o agronegócio,seriamente. O diferencial de juro muito grande, entre o juro doméstico primário e ojuro internacional, com a queda do risco Brasil, trouxe um forte afluxo de capitais,buscando diferencial de juros na economia brasileira.

Isso provocou uma apreciação cambial, que embora atrapalhe o setor produtivo exporta-dor, ajuda o Banco Central num movimento de contenção da pressão inflacionária. Acapacidade da demanda continuar se expandindo fortemente, como ao longo de 2004,termina em junho desse ano. Na última reunião do Copom, o Banco Central reconheceque as expectativas de inflação voltam a ser declinantes. A tendência será de reduçãodo juro primário ao longo do segundo semestre do ano.

Com a recuperação cíclica terminando no primeiro trimestre de 2005, de agora emdiante o enredo de crescimento sustentado muito vai depender da capacidade demobilizarmos investimento para a formação de capital. O nível de investimento, emtorno de 19% ao ano, por mais que se sonhe, não dá para imaginar uma economiacrescendo mais do que 3,0% a 3,5% ao ano. Essa é velocidade de Cruzeiro.

O que precisaríamos fazer para melhorar este potencial de crescimento sustentado?Melhorarmos muito na questão da vulnerabilidade externa, que nos pegou em cheioem muitos episódios do passado, como por exemplo, em 2000, quando houve a criseArgentina e a recessão americana. Temos uma situação de balança comercial, de saldoem conta corrente, de investimento direto estrangeiro que nos deixa sensivelmente

menos vulneráveis a movimentos vindos de fora, que possam perturbar o crescimentoeconômico aqui dentro.

Continuamos com dois graves problemas. Um é a deterioração contínua das finançaspúblicas. Temos um problema fiscal e outro de ambiente institucional. As regras dojogo econômico no Brasil não são favoráveis, não animam o investidor privado a secomprometer em longo prazo com formação de capital físico e humano.

Primeiro limite forte a um crescimento sustentado mais elevado é o efeito de Crowdingwalk, jargão econômico que descreve o seguinte fenômeno: uma quantidade importantede recursos do setor privado, que, em condições adequadas, estaria disponível parainvestimento em expansão de capacidade produtiva, formação de capital físico e decapital humano, sendo deslocada para financiar gastos correntes no setor público.Uma das razões pelas quais nós investimos só 19% do PIB, enquanto países comoCoréia do Sul e Chile crescem 6% a 7% ao ano e investem mais de 30% do PIB ao ano.A carga tributária bruta no Brasil, de 36% do PIB, com um déficit nominal da ordem de3% do PIB. É uma carga tributária bruta, totalmente fora da curva se comparamos compaíses de renda média como o Brasil em qualquer lugar do mundo. Normalmente seriade 20% a 25% do PIB.

Se tivéssemos na outra ponta, o Estado contribuindo do lado certo, com a formação decapital para a expansão da capacidade produtiva do país, nós até poderíamoscompreender que o Estado intermedeie 40% da renda nacional, mas a sua capacidadede investimento em infra-estrutura, em capital físico, anda ao redor de pífios 2% a 3%do PIB. Isso deprime, em caráter muito estrutural, o crescimento sustentado possível,hoje, na economia brasileira.

Por trás desse mega Crowding walk temos pagamento de juros sobre a dívida internae externa, de 6% a 7% do PIB. Temos nos déficits da previdência, INSS e do RegimeEspecial do setor público, mais 6% do PIB. Temos um outro problema que deveria sero grande tópico de discussão no próximo processo sucessório: um modelo de Estadoindefinido na sua relação entre União, estados e municípios, que levou ao chamado“federalismo truncado”; uma enorme multiplicação de níveis de governo, desnecessáriapor conta de um erro de desenho constitucional, que não desmontou o velho Estadounitário do regime militar e colocou em cima dele, a partir de 1988, novas camadas desetor público nos estados e municípios, inclusive.

A multiplicação de municípios no Brasil é um dos efeitos desse processo, que levou auma expansão não justificada dos gastos públicos no Brasil, sem traduzir eminvestimento. Esse regime, de “federalismo truncado”, é uma das grandes razões pelasquais a corrupção no Brasil se tornou tão ampla e disseminada. O dinheiro transitandodo local arrecadado para Brasília – e de lá de volta para os estados e municípios – abreum leque espantoso de oportunidades de malversação e espantosa ineficiência naadministração dos recursos públicos.

Em relação ao ambiente institucional, há outro foco de preocupação em relação aocrescimento sustentado: observamos com muita preocupação o crescimento dainformalidade. Com o mercado de trabalho estagnado há muito tempo, as variaçõesobservadas no emprego formal são muito pequenas, perto do tamanho do desafio.Ficam na rabeira de um estudo recente feito pelo Banco Mundial.

Encerramos essa consideração sobre macroeconomia com uma análise um poucomais detalhada do câmbio. Se nós pegarmos a média do câmbio real, ou seja, relação

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

entre o real e o dólar e a relação entre o real e uma cesta de moedas, no período de1999 a 2004, constatamos que o câmbio a R$ 2,4 por dólar está apreciado em 13%,considerando a inflação no período entre Brasil e Estados Unidos. Em relação a umacesta de moedas, portanto, ao euro e às demais moedas relevantes no comércioexterior brasileiro, a apreciação é de 6%. A apreciação do real é muito mais forte emrelação ao dólar.

Isso nos prejudica, não só em relação ao comércio com os Estados Unidos, é evidente,mas também em relação ao comércio com os países que têm moeda atrelada ao dólar,como, por exemplo, a China, que em algum momento vai ter que romper essa ligação.Notem que o câmbio real hoje está menos apreciado do que no período de abril de2000 a abril de 2001. Se pegarmos essa mesma relação de câmbio real, veremos quea apreciação agora, embora exista, não é tão intensa quanto a que vivemos nesseperíodo de praticamente um ano, que foi a última recuperação cíclica brasileira.

O que podemos prever em relação ao câmbio, a partir dessa mudança importante nadireção do sinal da política monetária, na última reunião do Copom? Acho que podemosprever uma correção no segundo semestre dessa apreciação cambial que o Brasilviveu nos últimos meses. Não sei se vai ser integral, mas a tendência daqui para frenteé caminharmos para um câmbio mais competitivo.

Tudo indica que deve diminuir daqui para frente o diferencial de juros doméstico emrelação ao internacional. A liquidez internacional continuará elevada. Nós vamoscontinuar com bom resultado de balança comercial. O grande efeito financeiro, deapreciação do juro de curto prazo, fruto do diferencial de juros doméstico e internacional,deve caminhar para um estreitamento ao longo do segundo semestre.

Paralelamente, o risco Brasil, que vinha se mantendo muito baixo nos últimos meses,deve, à medida que nos aproximamos do quadro sucessório e que essa crise políticatambém caminhe sem que se saiba muito bem aonde chegar, mudar de patamar aolongo do segundo semestre. Isso também tem um efeito na direção certa de trazer ocâmbio real para um nível mais equilibrado.

Minha previsão é que podemos chegar até o final do ano com o câmbio muito maisperto do que seria hoje o câmbio de equilíbrio. Olhando para o que foi a média de1999 a 2004, seria um câmbio em torno de R$ 2,8 por dólar. Acho uma previsãorealista. A possibilidade sempre existe de acidentes de percurso. Se a crise política seagrava de maneira preocupante, leva a movimentos defensivos no mercado financeiro.Podemos ter até um over shutting na desvalorização. Não há nada menos provável nouniverso do que uma situação em que o cenário básico prevalece sempre.

Na questão das ameaças e oportunidades no agronegócio, depois de quatro anoscom alto crescimento e grande rentabilidade, o setor passa por um ano certamentebem mais difícil. Parte dessa dificuldade deriva, sem dúvida, da própria euforia dosanos anteriores. Projeções irrealistas baseadas no perigo da extrapolação; a idéia deextrapolar e projetar para o futuro anos bons, como se fossem continuar para sempre.Existe até um termo para isso, que é o chamado cenário “panglossiano”, inspiradonaquele personagem de Voltaire, no cândido doutor Pangloss, que, diante de qualqueracontecimento, dizia que tudo será para o melhor, no melhor dos mundos possíveis. Éum perigo na vida criarmos cenários “panglossianos”, animados por um período devacas gordas, de acontecimentos que nos animam e nos levam a estados de euforia.

Isso levou a decisões de plantio e expansão da produção,que não foram sancionadaspelos fatos objetivos; levou também a problemas de alavancagem excessiva, ou seja,operações de crédito e de financiamento nas vacas gordas. Vejam agora as sérias crisesde inadimplência, que infelizmente marcam hoje uma parte do setor do agronegócio.Essa crise de 2005, no entanto, deve muito provavelmente ter um caráter transitório etrazer também alguns benefícios. Há um processo de depuração. Aqueles que ingressaramno setor achando que eram favas contadas as rentabilidades, e que não precisavamrealmente investir em profissionalização e em competência, estão em risco. Há um efeitopedagógico à medida que a crise se traduzir em aprendizagem e amadurecimento.

Com relação às “Ameaças e Oportunidades”, temos duas grandes dimensões. Aquelassistêmicas, externas ao setor, como políticas públicas, contexto externo e evolução dademanda doméstica internacional. As internas, ligadas à organização e a qualidade dagestão e também à maneira como os tomadores de decisão no agronegócio seposicionam e decidem estrategicamente em relação ao quadro mais amplo.

A grande realidade, olhando primeiro para oportunidades do lado sistêmico, é que ademanda global por bens agropecuários, incluindo aqui certamente essa extraordinárianovidade que é a aceitação pelo mundo do biocombustível, do combustível de biomassa,deve continuar se expandindo nos próximos anos. A China e a Índia crescem a taxasmuito expressivas e se tornam grandes compradores. O preço do barril do petróleocontinuará pressionando, se não a US$ 60 o barril, certamente alto para os parâmetrosdos últimos anos. O preço do petróleo continuará sendo realmente alto em termosreais no futuro. A demanda por petróleo cresce de forma expressiva. O mundo está setornando cada vez mais dependente de novo dos países da Organização dos PaísesExportadores de Petróleo (Opep), o que cria mais estabilidade e volatilidade nessemercado. Devemos ter também um movimento, que acredito provável, de liberalizaçãoem diversos mercados no mundo do agronegócio. Redução, portanto, de barreiras ede subsídios. É lógico que cada caso é um caso, mas como tendência.

Imagino o mundo caminhando num ambiente multilateral e de integração regional,para maior integração e menos impedimentos ao livre comércio. O Brasil tem tudopara se tornar o maior beneficiário desse momento de expansão global de demanda.

Estudo recém-publicado pela OCDE e pela FAO, que tem a vantagem de ter umaperspectiva muito ampla, planetária, e não ser feito por brasileiros, foi objeto dematéria em vários jornais especializados. O Brasil deverá ser o grande ganhador dolado das exportações agrícolas nos próximos 10 anos, superando os Estados Unidosno comércio global de oleaginosas e a própria Austrália, na exportação mundial decarne bovina. Ao mesmo tempo, no açúcar o Brasil reforça ainda mais a sua liderança,tanto no produto não refinado quanto no branco.

As previsões de crescimento do estudo da OCDE e da FAO são de que as nossasexpor-tações subam 54% em volume até 2014. As exportações de carne bovina nãosobem muito, mas continuam elevadas. A Austrália terá queda muito forte, de 30% até2014, por falta de competitividade na exportação pecuária. E a previsão é de aumentode 44% nas exportações brasileiras de açúcar. Ao mesmo tempo, para a demanda poretanol e biocombustível, segundo o Ministério da Agricultura, se prevê um aumento de33% só do mercado doméstico até 2010.

Portanto, o potencial de expansão virá, mas exigirá trabalho constante, competência evisão de longo prazo para se materializar. A competitividade não é algo dado de umavez por todas. É uma tarefa permanente, precisa ser mantida, reconquistada a cada

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momento e ser sustentável no tempo. Alguém poderia ter extrapolado e imaginadoque o Brasil seria o líder mundial da borracha natural indefinidamente. Bastou uma inovaçãotecnológica e uma mudança organizacional, para, de repente, todo um setor desaparecerquase que da noite para o dia. O aumento na demanda global não vai significar uma vidatranqüila, com maiores preços ou maior rentabilidade. Pelo contrário, é perfeitamenteplausível um cenário em que aumente a demanda global, mas ao mesmo tempo os preçoscaiam e a rentabilidade do setor se torne bem mais apertada na margem.

Paralelamente ao aumento de demanda, há as condições de oferta, o aumento de com-petição planetária na oferta global entre exportadores de oleaginosas, açúcar, trigo,arroz e produtos animais. O aumento da produtividade inevitavelmente virá por contade ganhos de escala e pela incorporação de novas tecnologias. Vivemos uma revoluçãocientífica e tecnológica que afeta o coração do agronegócio, a biotecnologia, amodificação genética e a redução de subsídios em países desenvolvidos. Mesmo queparciais, todos esses fatores combinados levarão a um novo ciclo, a uma rodada dequeda de preços reais em muitos mercados no caso da agropecuária, não obstante,todo aquele expressivo e previsto aumento da demanda. Muito obrigado.

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

PAINEL 2: INFRA-ESTRUTURA, LOGÍSTICA E COMÉRCIO INTERNACIONAL52

COMPOSIÇÃO DA MESA DOS TRABALHOS

Presidente da Mesa:

MÁRIO A. BARBOSA NETOPresidente da Bunge Fertilizantes

Moderador:

MARCOS SAWAYA JANKPresidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone)

Palestrantes:

RENATO CASALI PAVANPresidente da Macrologística

FLÁVIO DAMICOChefe da Divisão de Agricultura e Produtos de Base do Ministério das Relações Exteriores

RENATO CASALI PAVANPresidente da Macrologística

INFRA-ESTRUTURA E LOGÍSTICA

Mostraremos a importância do agronegócio hoje para a sustentabilidade do desenvol-vimento brasileiro. O sucesso do agronegócio é a principal alavanca do desenvolvimentobrasileiro auto-sustentável: é responsável por 33% do PIB, 42% das exportações e 37%dos empregos. Qualquer problema com o agronegócio agravará a crise social brasileira.

O setor enfrenta um momento muito delicado e preocupante pela brutal redução da rendaocasionada pela superposição de uma série de fatores adversos. As últimas grandes safrasde grãos repuseram os estoques internacionais e impactaram negativamente nos preços. Aatual taxa de câmbio é desfavorável para a exportação. A alta do preço do petróleo refletiunos fretes terrestres e marítimos e no custo da produção. A seca nos principais estadosprodutores reduziu a safra de grãos.

A economia mundial globalizada está diante do novo paradigma de competitividade e daía importância da logística. A logística tem uma compreensão muito diversificada e, àsvezes, não muito correta do seu significado real: vem do grego “logistikós”, aquele quesabe calcular. Portanto, a logística tem uma abordagem sistêmica da origem até o destinofinal dos produtos, interna e externamente. Está inserida nas questões de suprimentos,transporte, impostos, distribuição, burocracia e, principalmente, de eficiência gerencial. Ogrande desafio do agronegócio é adequar a logística e a redução de custo.

Uma das grandes oportunidades para redução de custo é a utilização adequada danavegação transoceânica, que passa por grandes transformações. Os navios Post-Panamax,tanto para granéis quanto para containers, de maior velocidade e capacidade, calado de 16

a 18 metros, possuem um custo de transporte um terço menor do que os atuais navios. Issoexige rápida adequação dos portos brasileiros, que podem operar navios Post-Panamax,pois são altamente privilegiados nas questões geográfica e física.

Os portos brasileiros que podem operar navios Panamax são: Porto de Espadarte (PA) foicogitado quando da execução do projeto Carajás. Possui 25 metros de calado natural.Agora, a Companhia Docas do Pará desenvolve estudos para ver se há realmente viabilidadede transformá-lo na ponta de um sistema de logística, muito mais competitivo que opróprio sistema do rio Mississipi. Os outros são: Ponta da Madeira (MA), Pecém (CE),Suape (PE), Tubarão (ES), Sepetiba (RJ), São Sebastião (SP), Imbituba (SC) e Rio Grande (RS)são portos que podem operar navios Panamax.

O Canal de Panamá originou os navios Panamax. O Cabo da Boa Esperança originou osnavios Cape Size, de 120 mil toneladas. No Canal de Suez temos o navio SuezMax, de150 mil toneladas, que é mais utilizado para granéis líquidos e, finalmente, o Canal deMálaca, que gera os navios MalacaMax.

Os navios foram construídos para enfrentar as distâncias transoceânicas. A distância paraatingir o Japão pelo Atlântico é de 21.600 quilômetros, com a vantagem de ter vários portosCape Size. Pela Costa Oeste, a distância é de 17.800 km, mas os portos são pequenos eoperam navios Panamax. Os outros navios, usados no Brasil, são de 1.000 a 1.200 pés. Pésé a unidade de medida de transporte de container. Entre os navios graneleiros, chama atençãoo Panamax. Os novos navios pós-Panamax têm uma velocidade acima dos antigos Panamax,mesmo os Cape Size antigos. E há os navios de container de até 10 mil pés. Isso barateia otransporte internacional, não obstante a alta do petróleo e os outros insumos.

Os portos brasileiros que não se adequarem vão ser portos finders dos portos que játiverem esse calado. Em 1961, a Vale do Rio Doce tinha uma rodovia e um porto, ambosexcelentes. Mas o maior navio da época era o navio Liberty, de 18 mil toneladas. Erapreciso vender minério de ferro. O Japão tinha bem perto a Austrália, com os mesmosLiberty, para fornecer o minério de ferro. Somente com um grande navio para derrubar opreço e ser muito menor. O navio foi projetado, porém nenhum banco ou seguradoraqueriam assegurar a sua construção. A Vale bancou e foi um sucesso absoluto. Mudoutodo o conceito de logística no mundo e o minério de ferro foi colocado no Japão a US$5 a tonelada, enquanto a Austrália ficava em US$ 10 com o Liberty.

A logística é tudo que envolve custo, da origem até a casa do cliente. Não adianta terferrovia e porto excelentes. O sistema como um todo (supply chain) tem que ser competitivo.

A infra-estrutura econômica (energia, transporte, telemática) é decisiva para o crescimentodas empresas e do País. O Brasil não dispõe de infra-estrutura adequada, principalmentepara o transporte de carga. As principais causas são:1 falta de um planejamento estratégico 2 desbalanceamento na sua matriz detransporte 3 baixo nível de investimento público e privado 4 falta de decisão políticapara direcionar claramente os projetos prioritários a serem investidos.

O crescimento econômico esperado para os próximos anos só será possível com aeficiência do transporte de carga.

A última vez que o Brasil teve planejamento estratégico de infra-estrutura, foi em 1992,elaborado na Presidência da República, quando o Dr. Eliezer Batista era Ministro da Secretariade Assuntos Estratégicos. Projetos importantes como a Hidrovia do Rio Madeira, Ferronorte(ponte), Porto de Sepetiba e muitos outros tiveram origem nesse planejamento.

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Desde então, várias áreas do governo tentam de forma isolada a retomada do planejamentoestratégico da infra-estrutura. Ele deve ser retomado de forma permanente e dinâmica coma participação dos ministérios, associações, empresas etc, respaldado por uma decisão doPresidente da República.

O Brasil tem 60% de transporte rodoviário, contra 25% dos Estados Unidos; 21% ferroviário,contra 34%; 16% aquaviário, contra 25% e os outros, aeroviário e dutoviário, de 3% para15%. Há potencialidade para o Brasil crescer no sistema dutoviário.

Há um desbalanceamento de cerca de US$ 8 por mil TKU (tonelada transportadas por kmútil). Nos países com grande extensão territorial como o Brasil, o uso do transporterodoviário é pequeno. O valor adicional gasto por ano, pelo Brasil, é da ordem de US$ 8bilhões, enquanto o investimento necessário para poupar esse gasto custa US$ 16 bilhões,e pode ser dividido em 10 anos.

O Estado do Mato Grosso, com maior potencial agrícola, é hoje o maior produtor de sojae caminha para ser um dos maiores na área de milho e de outros produtos. O escoamentodas safras é feito através da Brasil Ferrovias, do Alto Araguaia e vem até Santos. Oproblema é exatamente a ponta portuária, a dificuldade de adequar Santos, o maior portobrasileiro, às condições de competitividade. É um funil com escoamento limitado. Quantomais carga, se não aumentar a saída, vai para a carroceria de caminhão.

O Porto de Santos está no seu limite, com quase 70 milhões de toneladas. Temos, a 248quilômetros, o Porto de Sepetiba, ocioso, com 15 milhões de metros quadrados deretroárea. Uma ferrovia ociosa até Barra Mansa pode ser o elo de ligação dessas cargas:o ferroanel, ligando a Ferronorte à MRS. Outra alternativa é a Ferronorte, via rodoviária,até Araguari, seguindo até o Porto de Tubarão ou de Sepetiba. Há um estrangulamento naSerra do Tigre que limita a passagem em torno de 3,6 milhões de toneladas. Tem umprojeto da Vale para ligar Patrocínio até Sete Lagoas e, praticamente, levar a Vitória deMinas até Araguari. A distância aumenta 300 km. Há um problema em Barra Mansa, queprecisaria de um terceiro trilho para chegar em Sepetiba.

O restante da carga sai pela hidrovia do Madeira e por Santarém, indo pela BR-364 atéSantarém. A outra parte continua na BR-163 até Maringá. Em Maringá entra na ferrovia evai para Paranaguá. Acontece que em Paranaguá há estrangulamento: em função da serra,não passam mais de 6,0 milhões de toneladas. Então, a alternativa estudada é uma PPPpara fazer do Porto de São Francisco do Sul uma alternativa, um compartilhamento comParanaguá. Mas o porto em 2012 também estará saturado. Haverá capacidade de 8milhões de toneladas, contra 3 milhões de toneladas atualmente.

Outro projeto a ser estudado é o de container e de nucleação de indústrias. O Porto deIbituba pode ser adequado para operar navio Cape Size. Temos o General Luz Pelotas paramelhorar as condições de transporte.

E vem a questão da saída norte. As saídas norte têm a BR-163, como modelagem paraprivatizar. Sua construção gerará uma economia de, no mínimo, US$ 20 por tonelada.Outra alternativa é a hidrovia do Tapajós-Teles Pires, que custará US$ 140 milhões, masviabiliza o Porto de Espadarte. Isso vai dar uma economia de quase US$ 40 por tonelada,porque usará a hidrovia. A distância dessa região até Cachoeira Rasteira é de 450quilômetros. A eclusa de Tucuruí, a ser inaugurada em junho de 2006, torna a hidroviaTocantins-Araguaia e navega até Santa Isabel. Outro projeto seria asfaltar a BR-158, deRibeirão Bonito até Santana, para entrar em Santa Isabel e ir pela hidrovia até o porto deVila do Conde ou mesmo Canal do Espadarte.

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Existe um outro projeto ferroviário de ligar Estreito a Colinas ao Porto Magalhães, peloasfaltamento da BR-158, e então o Porto de Itaqui via ferroviária. Outro projeto bastantedesenvolvido é o da ferrovia Carajás, do Sudeste, em bitola larga, com aproveitamentode um trecho da NovaOeste e da Ferroban, de Panorama até Itirapina. Um eixo ferroviáriobastante competitivo para atender o pólo siderúrgico e petroquímico de Corumbá, comminério de ferro e carga de soja.

Tem um projeto na Bahia para fazer uma ferrovia ligando Luiz Corrêa até Aratu. São osprojetos importantes para, através de parcerias público-privadas e investimento privado,serem executados. São R$ 16 bilhões para investir em rodovia, ferrovia, hidrovia e porto.Uma matriz de consistência priorizou alguns projetos em termos de taxas internas deretorno e do impacto econômico-social. O governo apóia e financia, mas não participa.Pode fazer uma PPP administrativa ou uma PPP patrocinada.

Entre os principais projetos escolhidos estão o primeiro ferroanel norte de São Paulo; asperimetrais rodoviárias do Porto de Santos; a adequação ferroviária de acesso ao Porto deSantos; o Rodoanel de São Paulo, trecho sul; O arco rodoviário do Rio de Janeiro; osterminais do Porto de Sepetiba; a ferrovia de Corumbá à Jundiaí; a adequação do PortoSão Francisco do Sul; o asfaltamento da BR-163 e BR-158; a eclusa de Tucuruí e doLajeado; a hidrovia Tapajós-Teles Pires. São projetos alvos de investimentos da ordem deR$ 5 bilhões. Uma proposta a ser discutida. O Brasil precisará de uma proposta global, delongo prazo, dentro do planejamento estratégico, onde tem interesse associações como aAbag, afetadas pela falta de infra-estrutura e de como gerar mais renda.

É possível detalhar uma redução de custo possível de se alcançar em 10 anos, com osinvestimentos na infra-estrutura do transporte de carga, pela adequação da matriz detransporte, redução de estoque e adequação dos terminais.

Em termos de recursos para investimentos, para implantar os projetos necessários àadequação da matriz do transporte de carga, através de investimentos na infra-estrutura edar competitividade à economia, é necessário despender durante 10 anos, 0,6% do PIB/ano adicionalmente. A redução de custo proporcionada por esta adequação, paga oinvestimento em dois anos.

Existem projetos que necessitam de 100% de recursos públicos, ou de 100% de recursos

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22privados e outros onde é adequado aplicar o modelo de PPPs, caracterizado pelo investimentosimultâneo do governo e iniciativa privada em um mesmo projeto. Projetos pontuais trazempouco impacto econômico e social. O Brasil necessita de um Projeto global, sistêmico, delongo prazo e decisão política de realizá-lo. Os custos com logística representam 30% doscustos operacionais do setor industrial. O Brasil despende 20% do PIB com logística, sendo2,7% em transporte enquanto a OCDE, na média, despende apenas 10% do PIB.

Por falta de infra-estrutura e de logística adequada, os níveis de estoque no Brasil situam-seentre 200% e 300% acima dos níveis da OCDE e EUA. Essa imobilização representa cercade 4% do PIB (US$ 20,0 bilhões). Uma redução de 25% do nível dos estoques, reduz o custoem US$ 5,0 bilhões/ano. Para cada redução de US$ 1,0 bilhão no custo, há necessidade dese investir US$ 2,0 bilhões na otimização do supply chain, gestão de estoques e na infra-estrutura da cadeia logística industrial, ou seja, US$ 10,0 bilhões (Público e Privado).

No transporte aquaviário, aumentar a participação de 16% para 25%. O custo do aquaviárioé de US$ 8,0/1.000 TKU enquanto o rodoviário em US$ 32,0/1.000 TKU. A redução nocusto do transporte será de US$ 2,3 bilhões/ano e aumento da quantidade transportada de90 bilhões de TKU. Os investimentos serão de US$ 4,5 bilhões (privado) em embarcações(Syndarma), de US$ 1,15 bilhões (público, privado e PPP) em infra-estrutura portuária eUS$ 1,40 bilhões (público, privado e PPP) em infra-estrutura aquaviária.

No transporte ferroviário, aumentar a participação de 21% para 34%. O custo do ferroviárioé US$ 16,0/1.000 TKU. A redução no custo do transporte será US$ 2,7 bilhões/ano eaumento da quantidade transportada pelo ferroviário de 130,0 bilhões de TKU. Osequipamentos necessários de 1.000 locomotivas e 40.000 vagões, exigem investimentoem equipamentos de US$ 3,0 bilhões (privado), infra-estrutura e via permanente de US$8,30 bilhões (público, privado e PPP).

No transporte rodoviário, com o aumento da participação dos outros modais sofrerá umaqueda na participação de 60% para 26% da matriz de transporte, em TKU e numa proporçãomenor em TU, operando nas pontas dos sistemas aquaviários e ferroviários, no transportede cargas fracionadas e de alto valor agregado, como ocorre nos países mais desenvolvidos.

No transporte aeroviário e dutoviário, a participação aumentará de 3,0% para 15%. O custodo transporte dutoviário é de US$ 9,0/1.000 TKU. A redução no custo será de US$ 3,0bilhões/ano, com aumento da quantidade transportada para 120 bilhões de TKU, maisinvestimentos em infra-estrutura aeroviária – INFRAERO (público) e na dutoviária aTRANSPETRO (público).

Nos terminais portuários, somente o agronegócio, pagou em 2004 cerca de US$ 1,0bilhão em demurrage (espera de navios nos portos), os terminais portuáriosmovimentaram, em 2004, 600 milhões de toneladas, sendo que parte delas geraram4.900.000 contêineres (TEU), os investimentos estimados nos Terminais Portuários sãode US$ 1,0 bilhão (público e privado) em 10 anos em equipamentos e serão responsáveispela diminuição de custo de US$ 2,0 bilhões/ano.

Os EUA possuem cerca de 3.000 terminais multimodais e o Brasil apenas 250. Executadospela iniciativa privada, os investimentos previstos entre equipamentos e infra-estrutura sãode US$ 500,0 milhões para uma redução de custo de US$ 1,50 bilhão/ano.

Na armazenagem de produtos agrícolas, o déficit, principalmente a nível de propriedade éde 40 milhões de toneladas representa um investimento de US$ 1,0 bilhão, proporcionandoao produtor vender por um preço melhor. Muito obrigado.

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FLÁVIO SOARES DAMICOChefe da Divisão de Agricultura e Produtos de Base do Ministério das Relações Exteriores

COMÉRCIO INTERNACIONAL

As reformas macroeconômicas, introduzidas a partir do final dos anos 80, início dos anos90, geraram uma série de oportunidades e o anticrescimento da agricultura foi revertido.Evidentemente, esse mesmo cenário macroeconômico também coloca algumas dificuldades,entre as quais a mais decorrente é a taxa de juros. O cenário ainda assim é positivo, poispermite ao Brasil estar muito próximo da liderança nas exportações de uma série decadeias produtivas. Somos uma multi commodity export de grande êxito e bastante invejável.Atualmente, cerca de 25% a 30% da produção brasileira vai ao exterior. E é necessáriolevar adiante o processo de abertura de novos mercados.

As ações tópicas e singulares de abertura de mercados encontram determinados limites.Os instrumentos usados, normalmente a diplomacia presidencial, as missões ministeriais,as ações de promoções de exportações, os contenciosos na OMC, as missões na áreade medidas sanitárias conseguem atacar algum dos gargalos com que nos defrontamos.Mas não são suficientes para enfrentar o enorme protecionismo agrícola decorrente detoda a história do sistema multilateral de comércio.

Fundamentalmente, o diagnóstico central é o da existência de um desequilíbrio básico nasregras do jogo. A permanência de subsídios na importação é uma excrescência, banida docomércio de bens industriais desde os anos 60. Há permanência de altíssimos níveis desubsídios internos distorcidos à produção e ao comércio, e os elevadíssimos níveis deproteção de fronteira estão muito acima daqueles vigentes nos bens industriais.

Uma das alternativas disponíveis seria a negociação dos chamados Acordos Regionais.Estudos do Banco Mundial, Global Economic Prospect, de 2005, apontam como fatorrecorrente dos acordos bilaterais de comércio – especialmente entre países desenvol-vidos e em desenvolvimento – a existência de regras de origem discriminatória e umacobertura limitada e de exclusão dos produtos agrícolas dos processos de liberalizaçãocomercial. Esses acordos não atacam as questões de regras, ou seja, não há disciplina-mento dos subsídios.

A prioridade eleita pelo governo brasileiro foi conferir ênfase às negociações comerciaismultilaterais no âmbito da OMC. O setor agrícola se situa no centro da agenda para odesenvolvimento de Doha. E se busca levar a cabo o processo de inclusão plena daagricultura nas disciplinas do sistema multilateral de comércio.

O acordo sobre a agricultura da Rodada Uruguai, em vigência desde 1995, iniciou oprocesso, fundamentalmente gradualista. Apenas com grande engajamento dos países emdesenvolvimento, em particular do Brasil, seria possível, pelo menos a partir de agora,vislumbrar a perspectiva de uma aceleração substancial desse processo.

A OCDE está para concluir um estudo sobre os ganhos possíveis para o Brasil na Rodada.Os números são importantes, mesmo com críticas à modelagem, pois dão uma idéia daordem de grandeza sobre os ganhos com a reforma da agricultura nos países desenvolvidos.

Os ganhos brasileiros variam com a reforma da agricultura nos países em desenvolvimento.Temos a Europa Ocidental, em particular a União Européia, com 41% das nossas exportações

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agrícolas. A Ásia Pacífica, fundamentalmente a China, com 18%. Há uma presença comercialbem razoável no Oriente Médio e no norte da África, superior mesmo ao comércio com osEstados Unidos e Canadá e com os demais países da América Latina e do Caribe.

É importante analisar por que o Brasil assumiu, recentemente, o papel de player central noprocesso negociador da Rodada Doha. Em primeiro lugar, a razão óbvia e evidente, é ofato de possuir interesses agrícolas poderosos. A presença e a pujança do agronegóciobrasileiro nos tornaram exportadores agrícolas mais dinâmicos, com o maior saldocomercial agrícola sobre comércio agrícola total do mundo, da ordem de 75%. No segundoitem surgem as credenciais políticas que decorrem do exercício da liderança desempenhadono âmbito do G20, que nos permite em nome de uma ampla coalizão, com autoridade einteresse relevante nas negociações comerciais. E o terceiro ponto é a capacitação técnicada nossa equipe negociadora e a sua legitimidade, decorrente de um amplo processo deconsultas, que mantemos em todos os ministérios setoriais envolvidos.

Para ilustrar um pouco a importância política e econômica do G20, a sua participação noPIB mundial em relação ao demais blocos é relativamente pequena. No entanto, emtermos de PIB agrícola, o G20 corresponde a mais da metade do PIB agrícola, em com-paração aos Estados Unidos e União Européia. Em termos de população rural, a disparidadechega a ser ainda mais gritante. Em termos de exportações agrícolas, o G20 já supera osEstados Unidos e a União Européia. Então, o interesse exportador do grupo se reproduz,na sua orientação mais ofensiva, em matérias de acesso a mercados. Em termos deimportação, também o G20 é um player importante. Ele importa mais do que os EstadosUnidos e tanto quanto União Européia. O G20, em termos de importações, reproduz amédia das opiniões da OMC, ou seja, a negociação interna aqui já propicia uma idéia deum acordo decente. A importante participação nas exportações capacita o G20 a serextremamente ofensivo nas áreas de subsídios internos e de exportação.

Em julho do ano passado, foi aprovado o chamado framework, o Acordo Quadro, quecontou com a concepção e base intelectual do G20. Ele prega a necessidade de incrementossubstanciais em acesso a mercado, redução substancial do apoio interno e eliminaçãogradual dos subsídios de exportação. Estamos todos comprometidos – e essa é a posiçãodo governo brasileiro – com o esforço de conferir as modalidades na Conferência Ministerialde Hong Kong, prevista para dezembro de 2005.

Do ponto de vista processualístico, estamos no chamado documento de primeiraaproximação das modalidades. São documentos que embutem a maneira pela qual osmembros da OMC implementarão os compromissos de redução de subsídios, de tarifas ede barreiras em geral, nas suas listas de compromissos tornadas públicas. Uma separaçãoentre as áreas efetivamente tratadas e a ambição, os números acordados a respeito decortes e as disciplinas acordadas para alguns dos temas, entre os quais, a caixa azul everde. A definição dos cortes, a ser feita no segundo semestre, é uma decisão política.Todos os números são interligados e a negociação agrícola não ocorre no vácuo.

Há outras frentes negociadoras se desdobrando simultaneamente em bens não industriais,serviços e também na área de regras, as chamadas antidumping, e ainda subsídios demedidas compensatórias. Entre os negociadores, há uma percepção bastante nítida sobrea necessidade de uma reunião ministerial importante, antes da de Hong Kong, para evitarque se chegue lá sem clareza a respeito de quais são as poucas questões sobre as quais osministros deverão se debruçar na Conferência Ministerial durante uma semana.

Sempre temos a perspectiva e a possibilidade, a exemplo do que aconteceu em Cancun e,seis meses depois, em Genebra, que se chegue a um acordo. Estamos bem posicionados.

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Há uma série de dificuldades no caminho. Há o estado de confusão na União Européiadepois da não ratificação da Constituição pela França, da rejeição também, em plebiscito,nos Países Baixos. O projeto europeu ficou um pouco combalido. Os grandes debates emtorno do orçamento indicam que a União Européia precisa de um esforço de reflexãointerna. A Política Agrícola Comum (PAC), é um dos alicerces da União Européia, está nocentro desses debates. Da parte especialmente do Reino Unido e da Alemanha, há umacerta reticência em financiar a PAC, com a expansão para o leste e a ingressarem, na UniãoEuropéia, um número bastante significativo de agricultores do Leste Europeu.

Do ponto de vista dos Estados Unidos, continua em aberto a decisão a respeito da apro-vação, pelo congresso do Acordo de Livre Comércio com os países centro-americanos, aquestão do Tratado de Livre Comércio com países da América Central e a RepúblicaDominicana (CAFTA) e se o lobby açucareiro aceitaria um aumento das importaçõesdaquele bloco. É um teste de força entre a administração e um lobby agrícola importantenorte-americano. O resultado desse embate dará um pouco a idéia da capacidade deiniciativa da administração norte-americana. E, enfim, chegar a uma composição, como ospróprios norte-americanos reconhecem e chamam de um mix.

O Brasil está mobilizado e, com ênfase no G20, atua em uma boa estatura e não hátensões maiores. Muito obrigado.

Presidente da MesaMário A. Barbosa NetoPresidente da Bunge Fertilizantes

Há um novo patamar no trato das questões de comércio internacional nesse país.Ganhamos seriedade, um trabalho de coordenação e foco. Manter o grupo doG20 integrado não é fácil. Há um grupo de um lado, Brasil e Argentina e, dooutro lado, China e Índia. Um pouco antes de Cancun se dizia que o grupo eraG20 ou G22. Em três semanas, viraria G2, com Brasil e Índia isolados. Depoisde dois anos, o grupo continua, com esforço do Itamaraty em coordenação comoutros ministérios, setores privados e com a pesquisa. Para ser um poucoprovocador, sentimos na política comercial pouco avanço concreto. Asnegociações regionais, a ALCA e a União Européia praticamente pararam de umano para cá. Em sua última reunião, o Mercosul mostrou problemas estruturaisgravíssimos. A integração da América do Sul e a aproximação com China e Índiacontinuam sendo vagas promessas. O mundo explode em acordos regionais ebilaterais, o Brasil faz pouco nessa área. O que há de mais concreto é a RodadaDoha. De fato, a conjuntura é muito complicada, mas a pergunta é se os esforçossão suficientes para produzir resultados concretos.

FSD – Temos alguns pontos positivos: o déficit fiscal crescente nos EstadosUnidos pode levar a uma reforma mais ambiciosa. A Alemanha e o Reino Unidocontra a França levaram a um processo de revisão das políticas européias. Osgrandes resultados da ponte comercial brasileira foram frutos do trabalho dosetor privado. Os contenciosos de açúcar e do algodão colocam patamares deambição na Rodada. O G20 também. Então há pontos positivos, mas hátambém muitos pontos negativos. Os produtores americanos são viciados emsubsídios. Por incrível que pareça, somos mais liberais que os americanos. Osamericanos que sempre buscaram o acesso aos mercados preferem receber ainjeção do subsídio na veia. É muito mais confortável manter o subsídio. Falam

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de uma crise em soja, porque os preços caíram, mas os americanos não têmpreço em baixa, só medianos, nunca em baixa. Na União Européia, com avotação da Constituição, a prioridade é interna, depois o alargamento delaprópria, a seguir os países pobres, quem sabe. Em lugar mais baixo aparece aOMC. Não há nenhum sinal concreto de acesso multilateral em agricultura pelaUnião Européia. E assim, também, Japão, Coréia e o resto da Europa.

O G20 tem contradições. A China não quer pagar nada em agricultura, acha quejá pagou demais para entrar no sistema. A Índia resiste em abrir os seusmercados. A Indonésia tem divergências internas espalhadas, por exemplo, nomomento da candidatura do embaixador Seixas, que não conseguiu apoio dopróprio grupo. A despeito da nossa liderança, o grupo não apoiou. O G90, ospaíses mais pobres, não é essencialmente livre comércio; muitos paísesdesejam proteção através de produtos especiais, salvaguardas, etc.

A Rodada começou nas areias do deserto do Quatar e corre o risco de terminarem água, no próprio jargão técnico, como serão feitos os cortes de 50% a 60%em tarifas e subsídios, a partir dos níveis consolidados e não dos aplicados. Narealidade não atingirão os níveis aplicados de tarifas de subsídios e nas tímidasofertas em serviço. Portanto a pergunta é: a Rodada será capaz de produzirresultados além do status quo das políticas comerciais? O Brasil está maisorganizado, propôs contencioso, mas como é resgatar a ambição do Mandato deDoha de 2001, de redução de subsídios e maior acesso a mercados? A outraquestão é: como se dará a implementação dos contenciosos? A Rodada vaiconseguir consolidar os resultados apontados pelos contenciosos?

O cenário não é destituído de turbulência. O produtor agrícola americano estácada vez mais preso aos subsídios, mas a Associação de Soja Norte-Americana percebe a fragilidade da situação, especialmente no que dizrespeito à competição com os produtores brasileiros. Eles sabem o efeito dossubsídios no aumento do valor da terra e na perda de produtividade. É contra opróprio espírito norte-americano imaginar um capitalista moderno quedepende do Estado para sua sobrevivência. A situação é de curto prazo. OsEstados Unidos ainda não estão focados no debate.

A conclusão da Rodada Doha vai acontecer no momento da provação do NAFTA.Na União Européia, a comissão tem bastante clara a noção em favor de umacordo, até para fornecer uma espécie de blindagem externa e para impediruma aliança um pouco santa entre os produtores franceses e poloneses. Esse é ogrande temor da Alemanha e do Reino Unido. Se, de fato o comérciointernacional, não é a primeira prioridade da União Européia, eles tambémsabem a importância de conservar a blindagem externa.

Do ponto de vista do G20 e demais grupos é sempre citado o tema de acesso amercados como a linha de fratura do grupo. Tenho uma visão oposta. O ponto demaior resistência é o ponto onde o grupo se diferencia. Somos forçados a irinternamente e fazer um processo de negociação. O resultado das liberações ficapalatável para todos os membros da organização.

O G20 funciona mais ou menos como uma mola. Atua melhor quandocomprimido ao reagir com igual intensidade à pressão sofrida. Foi assim no seu

momento heróico na criação do grupo. Estávamos sob ataque da coalizãoEstados Unidos e União Européia, mas, em menos de três meses, sentamos àmesa de negociação diretamente com eles e fomos considerados elementofundamental para chegar a um acordo. Os momentos de marasmo são poucomais perigosos, porque os particularismos podem se exacerbar. Confio, com onível de entendimentos e integração, ser possível superar essa fase e voltarmos aagir juntos no momento mais necessário.

Comente sobre o papel e o futuro das agências reguladoras com a AgênciaNacional de Transporte Terrestre (ANTT). E por que a análise não incluiu o Portode São Sebastião?RCP – O futuro das agências reguladoras com a ANTT é um assunto bastantecontrovertido. No Brasil, foram cometidos erros por falta de totaldesconhecimento. Um deles: por suspeição de corrupção, a Portobras foiliquidada e, na liquidação foi junto um acervo técnico. Perdemos uma memória.Havia as pesquisas das variações dos rios, das enchentes, projetos maravilhososna área de hidrovias e portos. A mesma coisa aconteceu com o Geipot, que foiextinto e não houve uma substituição. A previsão era de que as agênciassupririam esse trabalho.

Até hoje existe um grande conflito entre qual é o papel da agência e qual é opapel do ministério. Temos duas organizações parecidas com a mesmafinalidade. A agência, criada para fiscalizar os contratos de concessão, entra naárea de planejamento e determina as obras a serem feitas. É a questão demultimodalidade. Não adianta ter uma agência para cuidar do transporteterrestre e aquaviário, sem pensar no aeroviário. Precisamos de uma agênciaúnica, como as que existem em todos os países, com a função precípua degarantir o bom cumprimento do contrato de concessão e até com umdispositivo importante para a iniciativa privada investir. Como a iniciativaprivada vai investir se todos os dias saem resoluções novas das agênciasmudando o contrato? Realmente o São Sebastião foi incluído na apresentaçãocomo um dos portos brasileiros para operar navios Cape Size. O problema éseu porte pequeno e o fato de ser um grande terminal de líquidos da Petrobrase Intelbras. Foi um porto para compartilhar o crescimento de Santos. Mas aretroárea do Porto de São Sebastião tem apenas 200 mil metros quadrados eera preciso uma área de um milhão e quinhentos mil metros.

O Geipot desenvolveu um projeto para aterrarem os 1.500 metros, para contarcom a alternativa ferroviária. Tinha um projeto ferroviário para ligar o Perequêaté o Porto de São Sebastião através de túneis. Custava US$ 80 milhões. Seriaum porto graneleiro. A idéia deve deixar Santos para produtos de alto valoragregado. Quando tivesse navios maiores, com um calado acima de 15 metros,São Sebastião seria utilizado.Os recursos disponíveis de US$ 160 milhões forampara Sepetiba para fazer a dragagem e a infra-estrutura lá.

Há um projeto desenvolvido pelo Governo do Estado para aproveitar a retroáreado porto para exportar produtos de alto valor agregado, como automóveis eprodutos que operem volumes que compense para o armador carregar pelomenos mil containers por parada. Tem um projeto de dutovia até São Sebastiãopara exportação de álcool, encampado pela Transpetro. A idéia original era doprojeto ser privado, sem a participação da Petrobras.

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61LANÇAMENTO DO PLANO AGRÍCOLA E PECUÁRIO 2005/06 ANAIS2005

O governo acaba de aprovar o Plano Agrícola e Pecuário de 2005/06. Vamosressaltar alguns de seus pontos. Primeiro, com relação ao crédito rural, ogoverno lança um pacote de R$ 44,35 bilhões para a agricultura comercial. Aeste volume se somará mais R$ 9 bilhões para a agricultura familiar. Portanto,temos um pacote de R$ 53,35 bilhões.

Dos R$ 44,35 bilhões para a agricultura comercial, serão destacadospara o custeio R$ 32,2 bilhões, aumento de 15% em relação ao volumeprogramado para a safra 2004/05. Para o volume de recursos para custeio ecomercialização haverá um crescimento de 18% no total de recursoscontrolados, aplicado aos agricultores, à taxa de 8,75% ao ano.Há um crescimento maior dos recursos de taxas mais baixas do que ovolume de recursos livres.

Para os programas de investimento são R$ 11,15 bilhões, um crescimento de4% sobre os R$ 10,7 bilhões programados para a safra 2004/05. Apesar dasdificuldades do momento, batemos o recorde de investimentos na agriculturabrasileira na safra 2004/05. Passaremos de R$ 7,5 bilhões contra R$ 7bilhões no ano passado.

Um aspecto fundamental desse plano de safra é a continuidade nas aplicaçõesde crédito para investimento. Os agentes financeiros encerram, no dia 30 dejunho, as aplicações da safra velha e, automaticamente, poderão aplicar osrecursos da safra nova. Em 2004, gastamos 60 dias entre portarias do BancoCentral, do Tesouro e outras definições do BNDES, que atrapalharam muito aindústria e os agricultores na contratação dos investimentos.

Os programas de investimentos passam a ter um foco na agregaçãode valor e na adequação ambiental e sanitária. Uma preocupação maior com odesenvolvimento sustentável. Para as cooperativas, passaremos de R$ 20milhões para R$ 35 milhões, o limite para sacar do Programa deDesenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à Produção Agropecuária(PRODECOOP). No caso de cooperativas centrais, pode ser de R$ 70 milhões.

Os aspectos da preocupação ambiental residem em três pontos.Primeiro, os agricultores com reserva legal, áreas de preservaçãopermanente ou então com projetos de instalação, poderão sacar15% a mais em termos de crédito de custeio. Também os produtorescom rastreabilidade nos seus rebanhos poderão sacar um custeiopecuário de 15% a mais.

Como incentivo para a integração lavoura-pecuária, o produtorde milho pode sacar R$ 400 mil de custeio agrícola e o montante deR$ 60 mil de custeio pecuário.

Do ponto de vista de preços mínimos, a ênfase foi a correção de preçosmínimos regionais para produtores do Norte, do Nordeste brasileiro, decarnaúba, cera, sisal, guaraná, juta, malva e das lavouras de verão. O focofoi a correção de preço mínimo de arroz, de R$ 20 para R$ 22 e, no milho,com a correção no preço mínimo de Goiás, sendo que o Distrito Federal eMato Grosso do Sul se equivalem ao preço mínimo do Sul e Sudestebrasileiros, ambos, em R$ 14 a saca.

Outro aspecto é a questão do Programa Nacional de Garantia da AtividadeAgropecuária (Proagro) e do zoneamento agrícola, para reduzir o risco daprodução agrícola. O Ministério da Agricultura publicará os zoneamentosagrícolas de banana, caju e uva, com prêmio de risco de 3,5%; do café em4,7%; na cevada baixa de 11,7% para 5%, e até 2% no caso de irrigada,em São Paulo e Minas Gerais. Na maçã, o prêmio de seguro foi reduzidode 9,4% para 3,9%.

Em linhas gerais, é um plano de safra que coloca mais recursos para custeio ecomercialização. A expectativa é de uma safra agrícola entre 125 e 129milhões de toneladas. A maior oferta de dinheiro para investimento, a partir derecursos controlados, permitirá a construção de uma transição da agriculturarumo ao ano de 2006. Há, em paralelo, as medidas negociadas pelo MAPAcom relação às situações herdadas do passado e do presente. Muito obrigado.

Ivan Wedekin Secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Lançamento PLANO AGRÍCOLA E PECUÁRIO 2005/06

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

COMPOSIÇÃO DA MESA DOS TRABALHOS

Presidente da Mesa:

URBANO CAMPOS RIBEIRALPresidente da Agroceres Nutrição Animal

Palestrante:

LUIZ FERNANDO FURLANMinistro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

PALESTRA: EXPECTATIVAS DO MERCADO INTERNACIONAL62

LUIZ FERNANDO FURLANMinistro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

EXPECTATIVAS DO MERCADO INTERNACIONAL

Cumprimento a Abag. Quem viu a gênese dessa entidade, com Ney Bittencourt de Araújoe seus sucessores, vê como foi possível crescer uma associação com os diversos segmentosda produção do agronegócio brasileiro. Dividi a minha apresentação em duas partes: osdesafios dos fronts externo e interno.

No front externo, o grande desafio é o acesso a mercados. O tema de eliminação desubsídios à exportação se cristaliza fortemente. Em janeiro do ano passado, tivemos umareunião informal de ministros do comércio, no World Economic Forum, patrocinado peloentão Ministro do Comércio da Suíça. Era uma reunião informal para efetivamente tratarda eliminação de subsídios à exportação. O resultado concreto, da Rodada Doha, seráfixar um prazo para eliminação de subsídios à exportação. Se não for 2020, será um poucomais. É um tema no horizonte bastante firme.

Mas o tema de acesso a mercados é mais relevante, porque enfrentamos barreiras queinibem a expansão da produção nos chamados países emergentes e nos mais pobres.Temos muitos aliados nessa área, além das empresas, players mundiais, de governos,entidades e das ONGs. No fundo, é uma competição desleal, espalha pobreza. Um efeitobumerangue, pois os problemas do mundo em desenvolvimento estarão no mundodesenvolvido pela migração principalmente. À população será acrescentado nesses próximos25 anos, quase 2 bilhões de seres humanos, do lado pobre do mundo, não do rico. Nãoexiste altura de muros para separar rico e pobre.

O mundo em desenvolvimento terá chance de começar com a liberação do comércioagrícola e acesso a mercados. É a maneira mais fácil de providenciar a criação de postosde trabalho, na origem das pessoas, sem processo migratório. Fazemos menos acordoscomerciais do que o necessário. Nos últimos quatro ou cinco anos, o Acordo dasAméricas com a ALCA e a União Européia não teve avanços. E isso certamente prejudicao agronegócio. Será uma decepção chegarmos ao final de 2006, depois de quatro anosde governo, e constatarmos que as grandes negociações regionais não caminharam.

No ano passado, tínhamos a esperança de fechar um acordo com a União Européia atésetembro. Apesar do esforço do presidente e dos ministros, acabou não sendo possível,porque é um acordo do Mercosul e nem sempre seus membros tem uma convergência daimportância dos temas e dos benefícios para o desenvolvimento da região.

Neste ano, em 29 de janeiro, estivemos em Davos, na Suíça, com autoridades máximas daUnião Européia. Todos concordaram em fazer um grande esforço para levar a bom termoa negociação com a União Européia até o final de 2005. Combinamos uma reuniãoministerial, Europa e Mercosul, no final de março. Estamos em fim de junho e não há datamarcada. A ênfase dada pelos presidentes não é reproduzida nos níveis inferiores.

O setor empresarial está calmo e tranqüilo, sem colocar ênfase nos benefícios advindos deuma negociação desse tipo. Com relação à Alca, com dois presidentes representandoBrasil e Estados Unidos, portanto, metade da responsabilidade é nossa, metade é dohemisfério norte, não elaboramos uma estrutura para deslanchar o processo.

O segundo ponto de desafio no mercado externo é a qualidade. Aqueles com experiência dealgum tempo de conquista de mercados sabem que entregar aquilo que foi prometido éessencial para que haja credibilidade contínua e espacial. Temos condições de entregarqualidade, mas esse não deve ser apenas um compromisso nacional, mas empresarial e social.Um grande desafio é a questão da capacitação das empresas em relação ao mercado internacional.

Há setores protagonistas no exterior sem uma organização. Empresas brasileiras competementre si e depreciam o preço, muitas vezes baixando a qualidade. Quem perde é o Brasil.Há situações de empresas sem resultado positivo na exportação. Não advogo a criação decartéis, de monopólios, de oligopólios, mas simplesmente pensar no mercado mundial ossetores desorganizados. A corda arrebenta do lado mais fraco. E é muito comum vercompradores organizados do outro lado, e com o jogo de empurra para conseguir baixaros preços do Brasil, em situações não necessárias.

A organização da distribuição externa também é importante. Somos, historicamente, umpaís exportador de produtos FOB. Entrega no porto ou no silo. Nem se sabe para onde vaio produto. É importante o setor produtor acompanhar o produto e encurtar o caminhoentre produção e consumo, de maneira a reduzir o número de intermediações, conheceros seus clientes e como é utilizado o produto. Alguns setores se organizaram com logística,com armazenagem no exterior, mas outros não. Por exemplo, suco de laranja parece umsetor que se organizou externamente, mas o álcool precisa despertar. A agregação de valore a sustentabilidade em momento de crise tem a ver com a proximidade do cliente. Algunsdesafios externos são similares aos internos.

Talvez, o primeiro desafio seja a questão da logística. No ano passado, o Brasil gastou US$1,2 bilhão em diárias de navio, na espera para descarregar ou carregar em portos brasileiros.Uma verba para fazer muita coisa em todo lugar do mundo. Então, a questão da logística,do trânsito aduaneiro, da simplificação das normas é muito relevante para aumentar acompetitividade brasileira.

Outro ponto para aumentar a competitividade é a questão de desoneração. Defendemosconcretamente a desoneração dos investimentos e da produção. O Brasil será maiscompetitivo quando tiver o sistema tributário justo, sem penalizar a produção e o investimentooriginado do consumo e da renda, como a maioria dos países. A chamada MP do Bem, játocou em alguns pontos. Desonerou de IPI uma quantidade muito grande de equipamentos,embora ainda exista uma lista adicional a ser desonerada, inclusive da área agrícola, comoé o caso de alguns tipos de tratores. Temos, também, equipamentos, por exemplo, bombas

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63PALESTRA: EXPECTATIVAS DO MERCADO INTERNACIONAL ANAIS2005

hidráulicas de 500 HPs, industriais, para irrigação ou para petroquímica, não incluídos nadesoneração. Negociamos com a Fazenda em prol de uma lista adicional de insumos ebens de capital a serem desonerados. Desoneramos Pis e Cofins para equipamentos deplataformas de exportação, mas a meta é desonerar os bens de capital em geral.

Isso melhora a competitividade e tem um efeito multiplicador muito grande. Tive o prazerde, em Santos, presenciar o início de operação de um novo equipamento que aumenta em40% a produtividade de carga e descarga de containers de um terminal privado. Com oestímulo ao investimento, a modernização aumenta a produtividade de forma exponencial.

O outro desafio, em que o Ministro Roberto Rodrigues tem sido um arauto, é a questão dasanidade. Regiões do mundo estão sendo afetadas por problemas de saúde animal evegetal. O Brasil, pela localização geográfica, extensão rural e diversificação das zonas deprodução pode ser protagonista de um país livre de males mundiais. Especialistasprognosticam que a influenza aviária chegará aos Estados Unidos. É só uma questão detempo. Poderá se tornar uma nova peste, uma pandemia, muito semelhante à da gripeespanhola, que dizimou milhões e milhões de pessoas.

O trabalho feito na questão da febre aftosa e os convênios assinados no âmbito doMercosul nos dão uma blindagem. Na área de frutas e legumes, o Brasil está na fronteirapositiva da biotecnologia. Três países decodificaram o Genoma, Estados Unidos, Inglaterrae Brasil. A conquista pode ruir se não tivermos um sistema sanitário eficiente, comlaboratórios de controle, orçamento a ser cumprido e recursos para os técnicos einspetores certificarem os produtos.

Ainda em junho, retomaremos as negociações com a Rússia, em Genebra. Muitas vezessomos reféns de algum problema localizado, como aconteceu na Amazônia. O PresidenteLula, no mapa, mostrou ao Presidente Putin e disse: “Presidente Putin, olha aqui, o problemaque aconteceu na Amazônia equivale a uma distância, na geografia, da Espanha a Moscou. Osenhor acha que se tiver um problema na Espanha devemos fechar a Rússia?” A compreensãodas distâncias da geografia brasileira, das áreas livres, é muito relevante. Esse dom preciosode estarmos isentos de vaca louca, da febre aviária e de uma série de doenças, oriundas deoutras regiões do mundo, criam oportunidades para setores brasileiros na exportação.Precisamos preservar com trabalho consistente e que não faltem as verbas para comprometera exportação de proteína animal, que ultrapassará US$ 7 bilhões. Uma interrupção gerariauma crise social fantástica no Brasil, principalmente nas regiões de pequenas propriedades.

Um outro ponto é a agregação de valor. Recentemente, Roberto Rodrigues e eu estivemosna Alemanha, na Biofach, feira de produtos orgânicos. Há nichos de mercado que pagamprêmios e o Brasil começa a engatinhar nessa área. Com certificações de café e decachaça, através do apoio de diversos órgãos de governo e, principalmente, do Inmetro,no mundo. A Europa foi protagonista das chamadas denominações de origem. Temos noBrasil o Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, como o primeiro caso nacional. Domesmo modo, os homens quando compram a gravata olham a etiqueta e o design e nãoolham quanto custa a matéria-prima e a mão-de-obra. Uma gravata poderia ser feita porUS$ 1, com matéria-prima e mão-de-obra, mas aceitam pagar cem vezes mais, porque tememoção, qualidade e outras percepções que o usuário aceita pagar.

Precisamos reposicionar produtos. Um bom exemplo é o das havaianas: deixou de ser uminstrumento utilitário, a famosa sandália de dedo, para ser um objeto de moda. Pagam decinco a dez vezes o valor do produto básico. Nos supermercados dos EUA, aparecemcafés, produtos brasileiros, com o capricho da embalagem. Há uma promoção em dois milsupermercados franceses, de 150 produtos brasileiros, inclusive do agronegócio, com

embalagem, qualidade e selo do Brasil. A imagem vende. Ao entrar no supermercado dequalquer lugar, se vê o conceito da marca. A qualidade vende, é uma motivação para ousuário, cliente ou consumidor. A imagem do Brasil precisa ser levantada, porque, quandovisto de fora, é muito mais bonita do que o Brasil visto de dentro.

Outro ponto para trabalhar é a profissionalização. Lembro do tempo em que criar frango erauma atividade menor e ser invernista era uma atividade de prestígio. Imaginava assim, um dia,boi vira frango. É! Porque um centavo por ave é lucro. Anos atrás, uma grande empresa dosetor veterinário me visitou e trouxe um produto muito estimulante para a redução dacontaminação. Perguntei quanto custava a aplicação. A resposta foi um centavo por ave. SãoUS$ 4 milhões por ano, um bom dinheiro. O resultado da multiplicação do número de avesabatidas. Boi, antigamente, era uma atividade lúdica. Deixar um boi no pasto, de um ano parao outro, era comum. Desengordar o boi para depois retomar. Hoje não, passou a ser umaatividade profissional, que considera custos, investimentos, valor da terra, produção, etc.

E há setores na agricultura que ainda precisam se organizar. O Brasil tem um potencialfabuloso. A profissionalização e a capacitação das cadeias produtivas, da genética até oconsumidor, é a razão de sucesso das grandes organizações brasileiras. Esses não sãopequenos desafios. Há a questão da logística no mercado interno, das estradas em estadopenoso, que tiram uma parcela relevante da rentabilidade do agronegócio: é o custo damanutenção de veículos para trafegar a 20 km por hora. As ferrovias têm produtividademuito baixa. Ainda não conseguimos regulamentar a tributação sobre o transporteintermodal. Quando há um conflito de interesses entre estados e municípios, quando umamercadoria troca de modal, descarrega de um caminhão para uma hidrovia, há um fatorgerador novo, naquele município onde está havendo essa operação. E tem que tirar novosdocumentos fiscais e a questão tributária ainda não consegue ser resolvida.

Esses pontos todos constituem muito mais uma oportunidade do que uma dificuldade. Seo agronegócio brasileiro é competitivo nas circunstâncias atuais, será muito mais competitivoquando aplainar os caminhos e praticar ações de ganho de competitividade.

Ninguém imaginaria, principalmente em alguns segmentos do agronegócio, a performancede 2004 e 2005. Sonhei com uma exportação na área de aves de US$ 1 bilhão. Fui,durante quatro anos, dirigente da Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef),perseguindo a meta de US$ 1 bilhão. No penúltimo ano, chegamos a US$ 830 milhões.No ano seguinte, aumentamos 25% as exportações em volume, mas dinamitaram o preçoem alguns mercados. Vendemos, de novo, perto de US$ 800 milhões. Quando deixei apresidência dessa instituição, houve um salto para US$ 1,240 bilhão. No ano passado,ultrapassou US$ 2 bilhões e estamos a caminho de US$ 3 bilhões. No caso da carnebovina aconteceu alguma coisa muito parecida. O crescimento foi muito rápido. Na carnesuína, se resolvermos as questões sanitárias, abriremos os principais mercados do mundo,a começar pela Europa, Japão e Estados Unidos. Haverá um replay com a carne suína, doacontecido nos segmentos de carne bovina e de aves.

Coloco muita fé no etanol. Fizemos reuniões na Coréia e no Japão. Fui à Califórnia, comambição empresarial de toda a cadeia produtiva. Podemos ter na bionergia a commoditydo século 21. Somos o único país do mundo em condições de duplicar e triplicar aprodução de álcool, além de avançar no biodiesel, praticamente sem barreiras na área deprodução. Para isso, é necessário que governo e setor produtivo consolidem uma estratégiade conquista de mercados. Na reunião de Paris, foi feito o vôo de Ipanema, tocado a álcool.E foi vendido o primeiro, na Bahia. Colocar os pilares bem assentados, com solidez ondehá perspectiva para o futuro, é animador. Muito obrigado.

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

COMPOSIÇÃO DA MESA DOS TRABALHOS

LUIZ FERNANDO FURLANMinistro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

ROBERTO RODRIGUESMinistro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

JOÃO ALZIRO HERS DE JORDÂNIAPresidente do Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro)

RICARDO DA CUNHA CAVALCANTESecretário Executivo da Câmara Setorial da Cachaça

RAQUEL DE ALMEIDA SALGADOSuperintendente da Associação Brasileira de Exportadores e Importadores deAlimentos e de Bebidas

LANÇAMENTO DOS NOVOS PADRÕES DE IDENTIDADE, QUALIDADE

E SISTEMA DE CERTIFICAÇÃO DA CACHAÇA BRASILEIRA

64

LUIZ FERNANDO FURLANMinistro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Durante 10 anos, trabalhei no setor de importação de bebidas. Foi quando começou aentrar no Brasil o puro malte, o extract malt. Fui à Escócia, visitei destilarias, zona deprodução e fiquei maravilhado com o trabalho de marketing que os escoceses fizeram nomundo. O puro malte é uma cachaça feita de cereal, sem nenhuma mistura. Se aceitavapagar dez vezes o preço de um extract malt do que era pago por uma boa garrafa decachaça. A certificação consolida o projeto de reposicionamento de uma bebida característicado Brasil, muito comum, largada ao longo dos anos e que, devido a tributos elevados, teveum mercado paralelo muito forte. Vendemos um produto de alta qualidade, bem posicionadono mercado, com marca, embalagem e a identificação do Brasil.

É, de um lado, prazeroso viajar pelo mundo e ver que os cardápios incluem caipirinha. Eé, um desprazer, do outro lado, ver muitas vezes o produto servido, sem nada a ver coma nossa caipirinha, com aguardente diferente e inadequado uso de ingredientes e preparo.Talvez, a próxima etapa seja conseguirmos a denominação “caipirinha”, não só cachaça.Recentemente, vi um produto feito na Suíça, um refresco, com o nome de caipirinha.

O ponto é esse, queremos dar embasamento legal de qualidade de certificação e de selode garantia. Assim, criaremos valor para nós e também para os consumidores. Parabénsa todos, à equipe do Inmetro, a quem estimulei desde o início. Entre os muitos sonhosque a gente tem, um deles era de ter uma certificação de qualidade para a cachaça. Etrabalharam, arduamente, durante meses com a equipe do Roberto e com o apoio doSebrae e de outras instituições. Isso cria valor e emprego, gera renda e, ao mesmotempo, dá uma identidade para o Brasil de um produto de qualidade. Quem vai ao Sialna França, a Anuga, na Alemanha e a outras exposições, como a Biofach, onde tínhamosa caipirinha, o limão, o açúcar e a cachaça, tudo orgânico. Vale mais, tem gente que pagae transmite emoção. Estamos mudando de patamar para ser realmente um país deprimeiro mundo. Parabéns a todos vocês.

RAQUEL DE ALMEIDA SALGADOSuperintendente da Associação Brasileira de Exp. e Imp. de Alimentos e de Bebidas

Tenho aqui a função de agradecer por esse momento histórico para a cachaça, porquevivi dias terríveis da não aceitação e estigma da cachaça, considerada um produto menor.É o momento de oficialização dos padrões de identidade e qualidade e do sistema decertificação do produto. Os atos assinados favorecerão as conquistas de novos mercados,além de assegurar os conquistados.

Agradecemos também ao Dr. Ricardo Cavalcante, hoje Secretário Executivo da CâmaraSetorial da Cachaça, que conduziu de maneira democrática os trabalhos de elaboraçãodos novos piques da cachaça, permitindo a participação de diferentes segmentos eentidades do setor privado. A Câmara Setorial da Cachaça é o principal fórum dedebates e encaminhamento de propostas. Os trabalhos desenvolvidos pelos ministériosdo Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, da Agricultura e das RelaçõesExteriores, no sentido de consolidar internacionalmente a conquista da indicaçãogeográfica cachaça como bebida típica do Brasil. Esse marco histórico municiará o setorna luta contra a usurpação dessa indicação geográfica no mundo.

A Alemanha é um dos principais mercados da cachaça: de 20 marcas de cachaça,presentes no mercado alemão, oito são do Brasil. As demais vêm de outros países ou daprópria Alemanha, fazendo uso ou de cachaça ou de uma aguardente. Se vindo de outrospaíses, ou do álcool etílico, não é cachaça, é um outro produto qualquer, mas lá estáescrito cachaça. Trabalhamos na luta pela indicação geográfica, na defesa de umpatrimônio brasileiro. Muito obrigada.

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

ENCERRAMENTO DO 4º CONGRESSO BRASILEIRO DE AGRIBUSINESS66

Senhor Ministro Roberto Rodrigues, neste ato representando o Presidente Luiz Inácio Lulada Silva, Senhor Ministro Luiz Fernando Furlan, autoridades presentes, senhoras e senhores.

Nestes dois dias de intensos trabalhos debatemos assuntos de extrema relevância e,seguramente, cruciais e estratégicos para o norteamento das políticas públicas nas áreasde alimentos, energia e sustentabilidade.

Percorremos temas que são recorrentes na história recente do agronegócio brasileiro eque afetam sua competitividade.

O agronegócio também se ressente da falta de reformas essenciais à economia brasileira.Por vezes, o sentimento que temos é de que caminhamos lentamente e em círculos, poisnão raro nos deparamos com a ausência de soluções para o passivo, também recorrente,já exaustivamente diagnosticado e para o qual sabemos existirem soluções exeqüíveis, quedependem de coordenação entre os setores público e privado e de alguma dose de boavontade.

Também foram significativos os avanços, dos quais os senhores ministros e outros tantospresentes neste plenário protagonizaram com perseverança e total abnegação.

Neste 4° Congresso Brasileiro de Agribusiness buscamos trilhar o caminho com o olharno futuro, para alimentos e energia, com sustentabilidade, como contribuição para aoperacionalização de um efetivo planejamento estratégico, que levará ao desejadodesenvolvimento econômico e social.

Vimos aqui o desfilar dos valores, razão e emoção daqueles que fazem o Brasil. E quefazem com a determinação dos que acreditam e com a competência que fez desse país ogrande exemplo do agronegócio desse planeta. Aliás, planeta que implora sustentabilidade,que é o grande desafio dos países em desenvolvimento e dos industrializados.

Produzir alimentos e energia, com critérios equilibrados que sustentem o padrão dosrecursos naturais e que gerem empregos, renda e favorável balança comercial; que atue demaneira competitiva, respeitando o direito constitucional; com políticas públicas sensatasno campo tributário e ambiental; com o posicionamento privado de compromissos; comcoordenação e integração.

Essa é a nossa pauta, o “norte” que nos une e que alimentará os esforços da Abag nointeresse maior do agronegócio, considerado em toda a extensão das cadeias produtivas.A Abag segue assim, cumprindo a sua missão. Quiséramos nós, no CBA do próximo ano,podermos comemorar a mudança do patamar referencial de nossas discussões.

Gostaríamos de agradecer aos nossos patrocinadores – Agroceres, Anfavea, Banco doBrasil, Bayer CropScience, BM&F, Bunge, Citrovita, KeplerWeber, Roundup Ready, Sadia eUnica – e o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Agência Estado,Arthur D. Little, CMA e Inpev, aos senhores ministros, demais autoridades, aos presidentesde mesa, moderadores, palestrantes que trouxeram novas idéias, contribuições,questionamentos e experiências pessoais.

Muito obrigado a todos os presentes, à equipe Abag e à equipe de apoio.

CARLO LOVATELLIPresidente da Abag

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67ENCERRAMENTO DO 4º CONGRESSO BRASILEIRO DE AGRIBUSINESS ANAIS2005

Manifestei a confiança do governo brasileiro no papel da Abag, na razão direta da visãoclara de articulação, de interdependência, uma palavra referida pelo Presidente Clinton, nanova fase das negociações e da vida internacional. Terminamos um congresso, mais umavez, da maior qualidade pela participação de todos aqui presentes.

A quase totalidade das posições aqui colocadas indicam uma direção consentânea parasoluções e equacionamento de problemas. Isto faz parte do envelhecimento de todosnós. Não se preocupem nunca com o envelhecimento. Velho tem 20 anos ou mais quea gente. O critério móvel de senilidade é muito importante, jogamos para frente essapossibilidade. Ao participar dos eventos da Abag, juntamos experiência, ouvimos unsaos outros. Isso leva ao alinhamento.

Quando se fala em experiência, me lembro sempre de uma reunião de agrônomos, há 40anos, com o Secretário da Agricultura, Glauco Pinto Viegas, um assessor e advogadochamado Rui de Oliveira. Na conversa, um veterano engenheiro agrônomo tomou umaposição, contra a qual me coloquei. O homem devia ter uns 50 anos. Achava que eravelho. Ele disse: “Rapaz, você quer discutir comigo, com a experiência que tenho nesseassunto, você não sabe nada, rapaz, e quer discutir comigo?”. E esse argumento me calou.“Eu tenho experiência”. E o Rui de Oliveira falou: “A experiência nada mais é do que a somados fracassos. Tomar um copo de água não dá experiência nenhuma, mas tomar um copode caco de vidro moído dá muita experiência”.

Muitas das nossas experiências são frutos de cicatrizes, acumuladas ao longo da história.Talvez há 20 anos, não tivéssemos um congresso como esse. Teríamos pessoas tão divergentessem a possibilidade de chegar a uma possível articulação de propostas em conjunto. Érealmente muito prazeroso participar de um evento dessa natureza. A Abag soma entidadesde outras áreas da cadeia produtiva para na interdependência ou na integração encontrar,pela veteranice dos participantes, muito mais condições de articulação e adequação daspropostas. A integração e a articulação aparecem de maneira fortíssima, nos trabalhos que oFurlan e eu desenvolvemos em conjunto, em prol dos interesses do agronegócio.

Quanto ao Plano de Safra da Agricultura e Pecuária 2005/06, quero ressaltar, apenasquatro pontos. Primeiro, o volume de recursos será maior e o mix de juros será menor emrelação ao ano passado. O governo está preocupado com a crise da agricultura.

Segundo, a idéia é ter agilidade dos processos, com a firmeza do BNDES, nessa não soluçãode continuidade na aplicação dos recursos para investimento. Terceiro, é a questão dasustentabilidade. Colocamos uma condição adicional para quem trabalhar com rastreabilidadee certificação, reserva legal, matas ciliares, etc. Quarto, a integração lavoura-pecuária, comum programa formidável de modernização do agronegócio brasileiro, relacionado comaberturas das áreas consideradas difíceis, como é a área da Amazônia. É um projeto realmentemoderno de políticas públicas. Nos preços mínimos, conseguimos melhorar um pouco paraprodutos regionais. Para milho e arroz avançamos em algumas posições complicadas.

Os problemas que vêm de traz se devem aos fatores cíclicos da agricultura e precisam serresolvidos. A agricultura é uma atividade cíclica no mundo inteiro. Quando há escassez deproduto, os preços sobem. Em conseqüência, as pessoas plantam mais, o custo de produçãosobe porque a demanda pelos insumos aumenta. Aí, o preço cai porque sobra produto.Vivemos, esse ano, um momento cíclico de um pedaço do agronegócio brasileiro. Todasas cadeias produtivas foram afetadas pelo aumento de custo de produção, indiscrimina-damente, por causa de petróleo, do aço, etc. Mas os preços caíram por conta do excessomundial. A dívida aumentou em razão da crença dos produtores na conjuntura do anopassado. E a produção caiu, por causa da seca nas diversas regiões do país.

Quatro fatores se somaram à crise de renda. No ano passado, com a soja a US$ 18 osaco, era possível ficar uma semana na fila de Paranaguá e pagar pelo custo do navio e fretedo caminhão. Com soja a US$ 9 o saco, o ralo da logística e da infra-estrutura consomea renda. Somaram-se as questões do câmbio e financeira. A crise se traduziu por trêsorigens diferentes: a seca, o excesso de produção e outra, mais difusa, de quem não fechaa conta. Estamos tratando de resolver a questão e hoje tivemos algumas definições muitoclaras, principalmente no algodão e arroz.

Recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Fat) foram colocados no Rio Grande doSul, na ordem de R$ 1 bilhão, engrossados com mais recursos do Fat e do próprio BNDES,com volume três vezes maior. Um esforço para resolver o problema dramático da negociaçãoprivada entre produtores e cooperativas com as empresas de insumos, fora do créditorural, sem condições de serem atendidas em prorrogações de nenhuma natureza.

Tentamos resolver mais duas questões: o endividamento e a redução de custo da produção.Um instrumento legal foi enviado pelo Executivo ao Parlamento para a abertura do Institutode Resseguro do Brasil (IRB), para o resseguro. O Presidente determinou a organização dofundo de catástrofe. Construir o seguro rural, o único instrumento que nos falta de eficiência,na área comercial, de produção e de proteção contra clima. Outras questões estruturaisencaminhadas são dos defensivos agrícolas e seus registros. Decidimos pela revisão doDecreto Lei 4074, que criou o CTA.

Também decidimos por um estudo sobre a tributação dos insumos agrícolas, para reduçãoeventual de valores, bem como a questão dos genéricos. Na questão da dívida, há queseparar o joio do trigo. Quem não pode pagar, quem é correto, vem pagando sistematica-mente, deverá ter um tratamento. Quem não paga sistematicamente, tem que ter outrotratamento, ou não tem que ter tratamento nenhum. As questões que levam ao equaciona-mento das principais questões que afetam a crise na agricultura nesse momento, coroa dealguma forma os esforços da Abag e de todos nós. Esperamos, para o próximo Congresso,ter mais coisas para celebrar do que para lamentar. Muito obrigado.

ROBERTO RODRIGUESMinistro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Representando o Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

João Carlos de Figueiredo FerrazPresidente da Crystalsev

João de Almeida Sampaio FilhoPresidente da Sociedade RuralBrasileira – SRB

Flávio Soares DamicoChefe da Divisão deAgricultura e Produtos deBase do Ministério dasRelações Exteriores

Gabriel Alves MacielSecretário de DefesaAgropecuária do Ministério daAgricultura, Pecuária eAbastecimento

Geraldo AlckminGovernador do Estadode São Paulo

Fernando Penteado CardosoPresidente da Fundação Agrisus– Agricultura Sustentável

César Borges de SousaVice-presidente da CaramuruAlimentos

Cristiano Walter SimonPresidente da AssociaçãoNacional de Defesa Vegetal –ANDEF

Eduardo Giannetti da FonsecaProfessor do IBMEC Educacional

Evaristo C. Machado NettoDiretor da CarolPresidente da OCESP

André PessôaDiretor da Agroconsult

Antônio Carlos Kfouri AidarDiretor da GVConsult – FGV

Antônio Ermírio de MoraesPresidente do Conselho deAdministração do GrupoVotorantim

Antônio Roque DechenDiretor-Presidente da Fundaçãode Estudos Agrários Luiz deQueiroz – FEALQ

Carlo LovatelliPresidente da AssociaçãoBrasileira de Agribusiness –ABAG

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Josué Christiano Gomes da SilvaPresidente da Companhiade Tecidos Norte de Minas –Coteminas

Jonas PinheiroSenador da República

Marcos AzambujaPresidente da Fundação CasaFrança-Brasil

Marcos Sawaya JankPresidente do Instituto de Estudosdo Comércio e NegociaçõesInternacionais – ICONE

Roberto RodriguesMinistro da Agricultura, Pecuáriae Abastecimento

Silvio CrestanaPresidente da Empresa Brasileirade Pesquisa Agropecuária –EMBRAPA

Luiz Fernando FurlanMinistro do Desenvolvimento,Indústria e Comércio Exterior

Luiz Carlos Corrêa CarvalhoDiretor da Usina Alto Alegre

Mário A. Barbosa NetoPresidente da Bunge Fertilizantes

Renato Casali PavanPresidente da Macrologística

Urbano Campos RibeiralPresidente da Agroceres NutriçãoAnimal

William WestmanConselheiro de Agricultura daEmbaixada dos EUA no Brasil

69ANAIS2005

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4º Congresso Brasileiro de Agribusiness ALIMENTOS, ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

ASSOCIADAS MANTENEDORAS

ADM do Brasil Ltda.AGCO do BrasilAgência EstadoAgroceres Nutrição Animal Ltda.Algar S.A. Empreendimentos e ParticipaçõesArthur D. Little Ltda.Associação Brasileira da Batata – ABBAAssociação Nacional de Defesa Vegetal – ANDEFBanco Cooperativo do Brasil S.A. – BANCOOBBanco Cooperativo Sicredi S.A. – BANSICREDIBanco do Brasil S.A.Banco do Estado de São Paulo S.A. – BANESPABasf S.A.Bayer Cropscience Ltda.Bolsa de Mercadorias e Futuros – BM&FBunge Alimentos S.A.Bunge Fertilizantes S.A.Caramuru Alimentos S.A.Cargill Agrícola S.A.Ceres Consultoria S/C. Ltda.CMA – Consultoria, Métodos, Assessoria e Mercantil Ltda.CNH Latin América Ltda.Companhia de Tecidos Norte de Minas – COTEMINASCooperativa Agropecuária de Araxá – CAPALCooperativa Agropecuária Cascavel Ltda – COOPAVEL.Cooperativa de Agricultores da Região de Orlândia – CAROLCooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá Ltda. – COCAMARCooperativa dos Produtores de Cana, Açúcar e Álcool do Estado de SP – COPERSUCARCooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano Ltda. – COMIGOCooperativa Regional dos Cafeicultores de Guaxupé Ltda. – COOXUPÉCooperativa Tritícola Mista Alto Jacuí Ltda. – COTRIJALDu Pont do Brasil S.A.Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPAFederação das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul – Fecoagro/FecotrigoFerronorte S/A Ferrovias Norte BrasilFertibrás S.A.FMC Química do Brasil Ltda.Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz – FEALQGoodyear do Brasil Produtos de Borracha Ltda.Grupo Kepler WeberJohn Deere Brasil S.A.Maeda S. A. – AgroindustrialMalteria do Vale S.A.Máquinas Agrícolas Jacto S.A.Marchesan Implementos e Máquinas Agrícolas Tatu S.A.Monsanto do Brasil Ltda.MRS Logística S.APioneer SementesPirelli Pneus S.A.Publie Publicações e EventosSadia S.A.Seara Alimentos S.A.Sindicato Indústria do Fumo no Estado RS – SINDIFUMOSindicato Nacional da Indústria de Defensivos Agrícolas – SINDAGSipcam Agro S.A.Syngenta Proteção de Cultivo Ltda.Syngenta Seeds Ltda.TV Globo Ltda.União da Agroindústria Canavieira de São Paulo – UNICAUsina Alto Alegre S/A. – Açúcar e Álcool

DIRETORIA EXECUTIVA ABAG

TRIÊNIO 2002-2005

PRESIDENTE:CARLO LOVATELLI (BUNGE)

VICE-PRESIDENTES:CRISTIANO WALTER SIMON (ANDEF)EVARISTO CÂMARA MACHADO NETTO (CAROL)

DIRETORES:CÉSAR BORGES DE SOUSA (CARAMURU)FELIX SCHOUCHANA (BM&F)LUIZ CARLOS CORRÊA CARVALHO (ALTO ALEGRE)MÔNIKA BERGAMASCHI (ABAG/RP)PÉRSIO LUIZ PASTRE (CNH)SHIRO NISHIMURA (JACTO)URBANO CAMPOS RIBEIRAL (AGROCERES)

DIRETOR EXECUTIVO:ALEXANDRE ABBUD

DIRETOR DO IEAG:LUIZ ANTONIO PINAZZA

Anais do 4° Congresso Brasileiro de AgribusinessCoordenação: Luiz Antonio PinazzaSecretaria: Elizabeth MochizukiImprensa: Ana PurchioProdução: Wenter EventosDesign e Produção Gráfica: LUC Comunicação IntegradaFotos: Clóvis Ferreira / Digna ImagemFotolitos: PostscriptImpressão: Landgraf