32
FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas Zonas Rurais no Nordeste do Brasil, Séculos XVII ao XX. Fumdhamentos (2017), vol. XIX. PP. 1243. 12 ALÉM DA PEDRA: UTILIZAÇÃO DE ROCHAS EM ALVENARIAS NAS ZONAS RURAIS NO NORDESTE DO BRASIL, SÉCULOS XVII AO XX Jônatas Alves Ferreira 1 Mariana Freitas 1 Manuela Xavier Gomes de Matos 2 Paulo Martin Souto Maior 3 Resumo: Casa Grande, residências, cemitério, igreja, muros e reocupações de sítios préhistóricos construídos entre os séculos XVII e XX em zonas rurais do nordeste do Brasil compõem os objetos de estudo desta pesquisa. Embora em épocas e contextos diferentes essas construções guardam entre si similitudes que denotam o uso da rocha em alvenarias, de forma exclusiva ou também em conjunto com outros materiais. Descrever essas estruturas e identificar o elo comum entre elas foi o objetivo deste artigo, que introduz o estudo de algumas técnicas e tecnologias que foram eclipsadas pela cantaria artística e especializada de edificações públicas e de maior porte nos centros urbanos, a exemplo de fortificações, igrejas matrizes e palácios. A partir das circunstâncias geográficas e sociais dos contextos de cada caso apresentamse aqui construções menores e produzidas com matéria prima local em grande parte por seus próprios usuários. Palavraschaves: Alvenarias, Nordeste, Arqueologia Histórica. Abstract: A plantation ownner’s mansion, residences, cemetery, church, walls, and shelters in prehistoric sites built between the 17th and 20th centuries in rural areas of northeastern Brazil make up the objects of study of this research. Although in different times and contexts these constructions share similarities that denote the use of rock in masonry exclusively or in conjunction with other materials. To describe these structures and to identify the common link between them was the objective of this article, which introduces the study of some techniques and technologies that were eclipsed by the artistic and specialized masonry of public buildings and of greater size in the urban centers, such as fortifications, churches Matrices and palaces. From the geographic and social circumstances of the contexts of each case, smaller constructions are produced here and produced with local raw material in large part by its own users. Keywords: Rock in masonry, Northeastern Brazil, Historical Archeology. 1 Discente, Programa de Pósgraduação em Arqueologia e Preservação Patrimonial, UFPE. 2 Pesquisadora, Programa de Pósgraduação em Arqueologia e Preservação Patrimonial, UFPE. 3 Departamento de Arqueologia, UFPE.

ALÉM DA PEDRA: UTILIZAÇÃO DE ROCHAS EM ALVENARIAS NAS ... · FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas

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FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas Zonas Rurais no Nordeste do Brasil, Séculos XVII ao XX. 

Fumdhamentos (2017), vol. XIX. PP. 12‐43.    12 

 

ALÉM DA PEDRA: UTILIZAÇÃO DE ROCHAS EM ALVENARIAS NAS ZONAS 

RURAIS NO NORDESTE DO BRASIL, SÉCULOS XVII AO XX 

Jônatas  Alves  Ferreira1 

Mariana  Freitas1 

Manuela  Xavier  Gomes  de  Matos2 

Paulo  Martin  Souto  Maior3 

Resumo:  Casa  Grande,  residências,  cemitério,  igreja,  muros  e  reocupações  de  sítios  pré‐históricos construídos entre os séculos XVII e XX em zonas rurais do nordeste do Brasil compõem os objetos de estudo desta pesquisa. Embora em épocas e contextos diferentes essas construções guardam entre si similitudes que denotam o uso da rocha em alvenarias, de forma exclusiva ou também em conjunto com outros materiais. Descrever essas estruturas e  identificar o elo comum entre elas  foi o objetivo deste artigo,  que  introduz  o  estudo  de  algumas  técnicas  e  tecnologias  que  foram  eclipsadas  pela  cantaria artística e especializada de edificações públicas e de maior porte nos centros urbanos, a exemplo de fortificações,  igrejas matrizes e palácios. A partir das circunstâncias geográficas e sociais dos contextos de  cada  caso  apresentam‐se  aqui  construções menores  e  produzidas  com matéria  prima  local  em grande parte por seus próprios usuários. Palavras‐chaves: Alvenarias, Nordeste, Arqueologia Histórica. 

Abstract:  A  plantation  ownner’s  mansion,  residences,  cemetery,  church,  walls,  and  shelters  in prehistoric sites built between the 17th and 20th centuries in rural areas of northeastern Brazil make up the objects of study of this research. Although in different times and contexts these constructions share similarities that denote the use of rock in masonry ‐ exclusively or in conjunction with other materials. To describe these structures and to  identify the common  link between them was the objective of this article, which  introduces  the  study  of  some  techniques  and  technologies  that were  eclipsed  by  the artistic  and  specialized masonry of public buildings  and of  greater  size  in  the urban  centers,  such  as fortifications,  churches Matrices  and  palaces.  From  the  geographic  and  social  circumstances  of  the contexts of each case, smaller constructions are produced here and produced with local raw material in large part by its own users. Keywords: Rock in masonry, Northeastern Brazil, Historical Archeology. 

                                                            

1Discente, Programa de Pós‐graduação em Arqueologia e Preservação Patrimonial, UFPE.  2Pesquisadora, Programa de Pós‐graduação em Arqueologia e Preservação Patrimonial, UFPE. 3Departamento de Arqueologia, UFPE. 

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FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas Zonas Rurais no Nordeste do Brasil, Séculos XVII ao XX. 

Fumdhamentos (2017), vol. XIX. PP. 12‐43.    13 

 

Método  

A partir da análise de doze estruturas remanescentes dos séculos XVII, XVIII, XIX e XX em sete 

localidades  nos  estados  de  Pernambuco,  Piauí  e  Rio  Grande  do  Norte,  identificaram‐se 

aspectos  de  um  perfil  construtivo  ainda  pouco  estudado:  construções  em  alvenaria  que 

empregaram  rocha  em  zonas  rurais  ou  afastadas  dos  centros  urbanos.  Entretanto,  para 

compreender esse grupo de amostra — composto por diversos usos, entre os quais se incluem 

habitacional,  religioso,  abrigos,  cemitério  e muros —  procurou‐se  descrever  o  contexto  de 

cada caso com o  intuito de  identificar se há um elo comum a todas. Em outras palavras, que 

circunstâncias  influenciaram a manutenção da utilização de  rochas em paredes  sem ou com 

pouco  trabalho  de  cantaria  ao  longo  desses  séculos  no  interior  do  nordeste?  Para  tentar 

responder  essa  questão  foram  levadas  em  consideração  três  variáveis:  o  contexto  sócio 

econômico, a localização e o perfil técnico e tecnológico.  

Técnica de Pesquisa 

Com  esse  objetivo —  verificar  se  há  uma  relação  entre  esses  padrões  de  alvenarias  que 

utilizaram  rocha —  tratou‐se, primeiro, de coletar  informações de cada contexto histórico e 

geográfico para então se descrever os perfis técnicos desses vestígios materiais. Os exemplos 

descritos não são únicos ou exceções, mas casos particulares e pouco  recorrentes. Contudo, 

trata‐se  de  um modelo  construtivo  que  vêm  sendo  aplicado  desde  o  século  XVII.  Assim,  a 

descrição dos perfis técnicos considerou dados geométricos dos tijolos e rejuntes (paginações), 

dimensão das paredes e muros, planta baixa emateriais utilizados.  

Tabela 1: Resumo dos vestígios construtivos selecionados a partir da presença de rocha em alvenarias.  

Período  Localidade  Quant.  Tipo de Uso e Estruturas Construtivas  Sistemas Construtivos 

Séculos XVII ao XIX  Igarassu, PE  1  Casa Grande do Engenho 

Monjope Alvenaria com rocha e tijolo cerâmico com rejunte 

Séculos XVII ao XIX 

Pilar, Recife, PE  1  Cemitério  Alvenaria com rocha e tijolo 

cerâmico com rejunte 

Século XVIII  São João do Piauí, PI  1  Fazenda jesuíta  Alvenaria mista, de rocha e 

tijolo cerâmico com rejunte XIX e XX  Interior do  2  Muros com junta seca Alvenaria de rocha tipojunta 

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4 Os daP.M.S.;Grande

Final dséculoeinicioséculo

Século

RA, J.A.; FREITAS, Méculos XVII ao XX. 

amentos (2017), 

Grande do E

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a 1: Vista fron

                     

ados  apresentad MATOS, M.X.G.e do Engenho Mo

RidodePe

do o XIX o do o XX 

SãRaNoPaNaSeCa

o XX PePEzo

M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

Engenho Mo

dificação 

tal da Casa‐G

                      

dos  aqui  sobre  a .de. 2011.  Identionjope – PE. CLIO

io Grande o Norte e e ernambuco ão aimundo onato‐PI, arque acional erra da apivara esqueira, E,  ona rural 

e; MAIOR, P.M.S. A

43. 

onjope, Igara

rande do Eng

       

Casa Grande doficação de Padrõ Arqueológica, vo

ReemTodoToIgM

2  Re

Além da Pedra: Util

assu‐PE, Sécu

enho Monjop

o  Engenho Monjões e Etapas Conol. 26, n. 2, 3‐33. 

eocupações pm sítios arqueoca do João Sao Juazeiro, Tooca do Mulunrejinha, Toca 

Mulata, Toca d

esidências 

ização de Rochas e

ulos XVII ao 

pe, Igarassu –

jope  são o  resumnstrutivas em um 

ara moradias eológicos: abino, Toca ca do Marco, gu I, Toca da da Velha o Firmino 

m Alvenarias nas Z

XIX4 

PE. 

mo  de um  artigoma edificação de

seca

Taipa de malvenaria d

Alvenaria drejunte 

Zonas Rurais no Nor

o publicado  em: e Valor histórico:

mão com rochde rocha 

de rocha com

rdeste do 

14 

 

MAIOR, : A Casa 

a e 

 

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FERREIRBrasil, Sé

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Etapa

Figurasabercerâmde tijo

A  pri

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forma

RA, J.A.; FREITAS, Méculos XVII ao XX. 

amentos (2017), 

Engenho é u

Pernambuco

análise  da 

cificamente, 

itetônicos  e

de  do  Enge

mentos distint

as Construti

a 2: Desenho ,  em  ordem mico maciço), olo cerâmico m

imeira  etapa

izada no cen

ca‐se a pres

ma parede e

ar de  ter um

ato exato de

M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

uma proprie

. Na  sua  Ca

cadeia  oper

a  espacial

  de  engenh

enho  Monjo

tos. 

ivas 

da evolução da  ampliaçãAL01 (alvenamaciço) e AL1

a  construtiv

ntro da atual

sença de três

externa e, ju

ma boa quan

essa primitiva

e; MAIOR, P.M.S. A

43. 

dade rural d

sa Grande  i

ratória  e  do

lização  dos 

haria  permit

ope,  cada  u

cronológica dão  do  prédioria de tijolo c10, (alvenaria 

a  está mate

l edificação. 

s seteiras  ind

nto a essa pa

ntidade de a

a edificação 

Além da Pedra: Util

de valor histó

dentificaram

os  aspectos 

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tiram  identi

ma  com  ca

da edificação o:  AL04  (alvecerâmico macde tijolo cerâ

erializada  pe

É o núcleo 

dicando que

arede, há um

alvenarias pr

pela pouca r

ização de Rochas e

órico  localiza

m‐se  as  etap

mecânicos 

alvenaria  e

ificar  cinco 

aracterísticas

considerandonaria  com  roiço) e AL07, (mico maciço)

ela  alvenaria

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e, no momen

m piso 30 cm

reservadas, n

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m Alvenarias nas Z

ada no muni

as  construti

dos  elemen

a  presenç

etapas  con

s  diferentes 

 

o as seis alveocha),  AL02  (alvenaria mis. 

a  AL04,  (alve

sa e em uma

nto da sua co

 abaixo do p

não  foi possí

de alvenarias

Zonas Rurais no Nor

icípio de Iga

ivas  da  edifi

ntos  constru

ça  de  elem

nstrutivas  na

e  que  den

enarias estuda(alvenaria  desta), AL14 (alv

enaria  de  ro

a de suas pa

onstrução, a

piso atual. 

ível reconsti

s do mesmo 

rdeste do 

15 

rassu, 

icação 

utivos. 

mentos 

aCasa‐

notam 

adas, a e  tijolo venaria 

ocha), 

aredes 

aquela 

ituir o 

tipo. 

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FERREIRBrasil, Sé

Fumdh

 

Figuradas aargamvariadcondimelhodecorobra d

A seg

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etapa

e é e

que  i

esse 

RA, J.A.; FREITAS, Méculos XVII ao XX. 

amentos (2017), 

a 3: Exemploslvenarias ou, massa de barrdos,  sem  trazem  com  as orias  técnicarrentes da vicide cada época

gunda etapa 

ço), que tam

aanterior, re

struturada p

ncorpora a 

é a segunda 

M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

s de alvenariacomo em algro,  com  largutamento  de ampliações  (fs  ou  tecnolissitudes e cira. 

construtiva 

mbém está lo

elativa aalven

por doze colu

parede das s

etapa const

e; MAIOR, P.M.S. A

43. 

as  identificadagumas paredera  variando dsuperfície.  Dfases  construlógicas  linearcunstâncias e

é represent

ocalizada no 

naria AL04. E

unas de alve

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rutiva dentre

Além da Pedra: Util

as no engenhes, na sua totade 38 a 44  cmDa  esquerda tivas) do  casres  e  cresceeconômicas e 

ada pela alv

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Essa nova et

enaria. Como

mo área  inte

e as seis eta

ização de Rochas e

 

 

o Monjope. Aalidade. No dm. Essa alvenpara  a  direiarão e não  reentes,  mas da disponibili

venaria AL02

tual edificaçã

apa da edific

o há uma fila

rna dessa no

pas. 

m Alvenarias nas Z

A rocha é emetalhe a alvenaria utiliza  rota,  a  sequênepresentam  amodelos  condade de maté

, (alvenaria d

ão e a noroe

cação tem fo

a de colunas

ova edificaçã

Zonas Rurais no Nor

pregada no rnaria de rochochas de  tamncia  das  alveaprimoramennstrutivos  diéria prima e m

de tijolo cer

este, envolve

ormato retan

s mais a sudo

ão, conclui‐s

rdeste do 

16 

echeio ha com manhos enarias tos ou versos mão de 

âmico 

endo a 

ngular 

oeste, 

se que 

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Fumdhamentos (2017), vol. XIX. PP. 12‐43.    17 

 

A terceira etapa construtiva é representada pelas alvenarias AL01 (alvenaria de tijolo cerâmico 

maciço) e AL07,  (alvenaria mista), que  foram  construídas durante a mesma  intervenção,  ao 

lado  da  edificação  anterior,  ampliando‐a  no  sentido  nordeste  e  sudeste.  A  AL07  foi  ainda 

utilizada na construção das paredes externas de  todo o pavimento superior. Objetivamente, 

essa é a etapa onde não há dúvida que a casa‐grande já era um sobrado. 

Nessa nova etapa a edificaçãoassume formato retangular e ainda está íntegra. Seu formato foi 

reconstituído através de levantamento espacial. Pode‐se afirmar que essa etapa é posterior às 

duas anteriores, pois há superposição, visível na fachada a noroeste, de paredes da AL07 sobre 

paredes da AL04 e sobre colunas da AL02. E ainda podem‐se observar, em algumas colunas da 

AL02, marcas de cortes na alvenaria, para evitar haver partes salientes de alvenarias antigas 

nas novas paredes da AL07. 

A quarta etapa construtiva foi materializada pela alvenaria AL14, (alvenaria de tijolo cerâmico 

maciço) que  está  localizada no núcleo original da  casa, no meio do  espaço delimitado pela 

AL04  –  primeira  etapa  construtiva.  Consiste  em  duas  paredes  de  meia‐vez5,  que  estão 

dividindo o espaço em três cômodos. 

Finalmente, a quinta etapa construtiva  representada pela alvenaria AL10  (alvenaria de  tijolo 

cerâmico maciço) está localizada no centro da edificação atual, e consiste na abertura de duas 

arcadas de características iguais em duas paredes pertencentes a alvenarias diferentes. Pode‐

se afirmar, no entanto, que essa alvenaria é posterior à alvenaria AL14, pois uma das paredes 

em que a arcada foi aberta pertence à alvenaria AL14. 

Transformações tecnológicas 

A partir das alvenarias e de suas etapas construtivas percebe‐se que nas duas primeiras, além 

de  preocupações  com  o  rigor  na  construção,  os  construtores  dispunham  e  utilizavam 

instrumentos como linha, nível de pedreiro e fio de prumo. Nas etapas posteriores, o rigor e o 

uso de  instrumentos não  fizeram parte das preocupações da nova geração de  construtores. 

                                                            

5 São paredes que usam tijolos dispostos com sua face mais larga virada para baixo. 

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FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas Zonas Rurais no Nordeste do Brasil, Séculos XVII ao XX. 

Fumdhamentos (2017), vol. XIX. PP. 12‐43.    18 

 

Apenas na última etapa, na AL10, (alvenaria de tijolo cerâmico maciço), algumas das atividades 

foram realizadas com rigor, buscando resultados padronizados. 

As mesmas considerações são válidas quando se  trata de projetos e de execução das obras. 

Nenhuma das etapas recentes produziu um projeto tão cuidadoso quanto o que foi executado 

pela  AL02  (alvenaria  de  tijolo  cerâmico maciço).  A modulação  de  espaços  e  de  elementos 

estruturais  é  um  recurso  amplamente  utilizado  na  construção  civil  e  na  arquitetura,  e  que 

ainda faz parte das discussões atuais. Portanto, se houve modulação estética, estrutural e dos 

materiais,  pressupõe‐se  que  existiu  também  um  estudo,  uma  estratégia,  uma  previsão,  ou 

seja, um projeto. O que se pode entender aqui como tecnologia. 

Sítio do Pilar, Recife‐PE, Séculos XVII Ao XIX6 

Localização 

Desde o início dos trabalhos, em março de 2010, a equipe de Arqueologia da Fundação Seridó 

identificou  restos  de  estruturas  construtivas  em  alvenaria  de  tijolo,  alvenaria  de  rocha  e 

alvenaria  mista  e  grande  quantidade  de  fragmentos  de  utensílios  de  uso  cotidiano  das 

comunidades que ocuparam a área ao longo dos séculos XVII ao XXI. 

Em decorrência dos resultados apresentados nos relatórios parciais de atividades da pesquisa 

arqueológica, o conhecimento do cemitério colonial passou a integrar os objetivos da pesquisa 

arqueológica na quadra 55. Esse conhecimento permitiu, através da obtenção de dados sobre 

suas dimensões espaciais e temporais, compreendermos o número de indivíduos sepultados, a 

cultura  material  associada  —  incluindo  a  relação  com  as  estruturas  construtivas  —,  os 

processos  de  inumação  e  ainda  os  dados  antropológicos  que  nos  permitiram  conhecer  a 

origem,  as  patologias,  os  traumas  e  as  atividades  que  esses  indivíduos  desenvolviam  na 

Capitania. 

                                                            

6  Imagens e dados obtidos em: Acompanhamento e Pesquisa Arqueológica na área de  Implantação do Projeto Habitacional do Pilar. Bairro do Recife, Recife – Pernambuco,  relatório  técnico  final de atividades, 2014, Fundação Seridó, Recife, PE, 230. Cabe salientar que se publicou em 2013, na Revista Clio Arqueológica uma versão resumida desse relatório: PESSIS, A‐M; et al, 2013. Evidências de um Cemitério de Época Colonial no Pilar, Bairro do Recife‐PE. Clio Arqueológica, v. 28, n. 1. 

Page 8: ALÉM DA PEDRA: UTILIZAÇÃO DE ROCHAS EM ALVENARIAS NAS ... · FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas

FERREIRBrasil, Sé

Fumdh

 

Estru

A  esc

estru

alven

10 es

atual 

nível 

Figuraatual C do c

A  est

cama

A seg

mate

fragm

do so

A  pr

medi

escav

seu  in

estru

talha

RA, J.A.; FREITAS, Méculos XVII ao XX. 

amentos (2017), 

uturas na áre

cavação  para

turas de alv

naria com ro

struturas. To

 área centra

do meio fio.

a 4: A: Estrutuárea central dconjunto habi

tratigrafia  d

ada é arenos

gunda camad

erial de aterr

mentos, não 

olo atual já se

imeira  estru

ndo 72 cm d

vação eviden

nício ou seu

tura é comp

da (0). 

M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

ea da Cister

a  construção

venaria de tij

cha e 1 estru

odas essasalv

l do Recife; 

uras encontrado Recife; B: Ltacional Pilar,

da  área  ond

a com eleva

da é argilosa

ro. Sua espe

teve sua esp

e verificava a

utura  corres

de  largura e 

nciou 4,90 m

 fim, pois nã

posta por dua

e; MAIOR, P.M.S. A

43. 

rna – Bloco C

o  da  cistern

jolo cerâmic

utura em alv

venarias a 22

exceto as es

das na área dLocação das e, na atual área

e  foi  escava

da presença 

, de coloraçã

essura varia 

pessura  iden

a presença d

sponde  a  u

localizada a

m de comprim

ão se pode a

as paredes e

Além da Pedra: Util

na,  no  bloco 

co maciço e 

venaria de tij

2 cm abaixo

struturas em

da construçãoestruturas escaa central do R

ada  a  cister

 de óleo que

ão laranja e 

de 20 a 40 

ntificada, po

de água. 

uma  canalet

a 2 m abaixo

mento da ca

ampliar a es

em alvenaria

ização de Rochas e

C,  realizada

argamassa d

jolo cerâmic

 do nível do

m rocha e mis

o do bloco C davadas em reRecife. 

rna  apresen

eimado, cuja

rosa, largam

cm. A  tercei

is a partir de

ta  posiciona

o no nível do

analeta, mas

scavação par

 de tijolo e u

m Alvenarias nas Z

a  pela  const

de barro e c

co maciço e r

 meio fio da

sta que estão

do conjunto halação à área d

ta  três  cam

espessura v

ente utilizad

ira camada, 

e 0,8 m a 1 m

ada  no  sent

o meio fio, d

s não foi pos

ra além da v

um tampo em

Zonas Rurais no Nor

trutora,  reve

cal, 1 estrutu

rocha, totali

a rua do Bru

o a 2 m abai

abitacional Pida cisterna do

madas:  a  pri

varia de 5 a 1

da na região 

onde estava

m abaixo do

tido  Leste‐O

da rua do Br

ssível  identif

vala da ciste

m blocos de 

rdeste do 

19 

elou  8 

ura de 

zando 

m, na 

ixo do 

ilar, na o bloco 

meira 

15 cm. 

como 

am os 

o nível 

Oeste, 

um. A 

ficar o 

rna. A 

rocha 

Page 9: ALÉM DA PEDRA: UTILIZAÇÃO DE ROCHAS EM ALVENARIAS NAS ... · FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas

FERREIRBrasil, Sé

Fumdh

 

Na su

cister

leste,

estru

apres

a baix

Figura

Verifi

estru

nível 

argam

estru

mesm

indep

As es

meio

RA, J.A.; FREITAS, Méculos XVII ao XX. 

amentos (2017), 

ua porção oe

rna e alimen

,  verificou‐s

tura  1B,  de

senta um fur

xo e que dá s

a 5: Estrutura 

icou‐se, no e

turas que e

(a  2 m  do 

massa  de  c

turas 1A e 1

mo sistema c

pendentes es

struturas 2A 

 fio da rua d

M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

este, verifico

nta a canalet

se  uma  estr

e  formato  q

ro em curva 

suporte a um

1A e 1B e sua

entanto, que

stão encosta

nível  do m

cimento  Por

1B. As estrut

construtivo, 

struturalmen

e 2B estão 

do Brum. São

e; MAIOR, P.M.S. A

43. 

ou‐se uma m

ta, perpendi

rutura  comp

quadrangula

(formato “L”

ma manilha e

a relação com 

e as estrutur

adas nelas. A

meio  fio  da  R

rtland,  não 

turas 3, 4 e 5

nem estão n

nte. 

posicionada

o blocos de a

Além da Pedra: Util

manilha em c

icularmente,

plementar  e

r,  com  dim

”) medindo 8

em cerâmica

 as demais es

ras 1A e 1B n

As estrutura

Rua  do  Brum

apresentam

5, por sua v

no mesmo ní

as na porção

alvenaria de 

ização de Rochas e

erâmica que

, através da 

em  cerâmic

ensões  de 

8 cm de diâm

 que também

truturas. 

não têm rela

as 2A e 2B a

m)  e  terem 

m  qualquer 

ez, não têm 

ível de ocupa

o norte da va

pedra,reboc

m Alvenarias nas Z

e sai do perfi

sua parede 

a  maciça,  a

50  x  42  cm

metro que a 

m alimenta a

 

ção estrutur

apesar de es

na  sua  com

relação  es

os mesmos 

ação, mas pr

ala, a 2 m a

cados, sem fu

Zonas Rurais no Nor

il norte da v

norte. Na p

aqui  denom

m.  Essa  estr

atravessa de

a canaleta. 

ral com as d

starem no m

mposição  ro

strutural  co

s materiais, n

rincipalment

abaixo do nív

unção evide

rdeste do 

20 

ala da 

porção 

minada 

rutura 

e cima 

emais 

mesmo 

ocha  e 

om  as 

nem o 

e, são 

vel do 

nte. A 

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FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas Zonas Rurais no Nordeste do Brasil, Séculos XVII ao XX. 

Fumdhamentos (2017), vol. XIX. PP. 12‐43.    21 

 

estrutura  2A,  com  70  cm  de  largura,  84  cm  de  comprimento  e  30  cm  de  altura, 

aproximadamente, está em contato com a estrutura 1A (canaleta) na sua parte oeste, mas sem 

relação estrutural. A estrutura 2B, com 90 cm de  largura, 70 cm de comprimento e 30 cm de 

altura, aproximadamente, está em contato com a estrutura 1A, na  sua parte  leste, e  com a 

estrutura 1B. Com  já  foi citado, apesar de estarem em contato  físico com as estruturas 1A e 

1B,  e  de  estarem  no mesmo  nível  destas,  não  se  verificou  relação  estrutural  entre  elas. O 

sistema construtivo da referida alvenaria não apresenta fiadas, a estrutura parece organizar‐se 

como um conglomerado de rochas irregulares e argamassa de cimento Portland. 

Sítio Histórico São Joao do Piauí, PI, Fazenda Jesuíta, Século XVIII7 

Foram  identificados na  localidade de São João do Piauí, PI, algumas estruturas que utilizaram 

pedra  e  cal.8  Entre  elas  cabe  ressaltara  antiga Capela Grande,  também  chamada de Capela 

Nova.  Aexistência  de  um  lavabo  de  rocha,  datado  de  1939  e  de  uma  pia  de  água  benta, 

atestamque  essa  ruina  com  alvenaria  de  rocha  é  uma  construção  religiosa,  e  que 

possivelmente trata‐se da antiga residência dos Jesuítas nessa região. Reforça essa tese o fato 

de  ter  sido  encontrada  num  trecho  de  alvenaria  as  iniciais  SJB,  (São  João  Batista),  em 

referência  a  célebre  redução  jesuíta  fundada  pelo  padre  Antônio  Sepp  em  1697,  no  atual 

estado do Rio Grande Sul. 

Essa ruína, supostamente feita pelos jesuítas, mantêm algumas paredes ainda em pé mas com 

várias partes desmoronando. Podem ser identificados no local vários blocos de rocha dispersos 

tanto  no  seu  interior  quanto  no  exterior. O  conjunto  das  ruínas,  contendo  sete  cômodos, 

abrange uma extensão aproximada de 150 x 93 m. Observando as ruínas pode‐se  identificar 

alguns elementos que compõe o programa das construções  jesuíticas: a  igreja,  localizada no 

cômodo C; e, a cerca que conforma o pomar, a sudoeste das ruínas. Para os demais cômodos 

ainda  não  foi  identificadosuas  atividades  e  funções.  Cabe  lembrar  que  o  programa  padrão 

jesuíta ainda previa locais para a realização de trabalhos e a residência dos padres e que o grau 

                                                            

7 Imagens e dados obtidos a partir do relatório de escavação: GUIDON, Niède (coordenação geral), Relatório Parcial de Pesquisa Referente às Atividades de Campo no Sítio Histórico Brejo de São  João, Município de Pajeú do Piauí, Fumdham, São Raimundo Nonato ‐ PI, outubro de 2014. 8 FILHO, O.P.da S. 2007. Carnaúba, Pedra e Barro na Capitania de São Jose do Piauhy, Belo Horizonte: Ed. do Autor, 3v. 

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FERREIRBrasil, Sé

Fumdh

 

de im

nas a

de  Sã

cerâm

estab

uma 

interi

Figurajesuítcentraembo

RA, J.A.; FREITAS, Méculos XVII ao XX. 

amentos (2017), 

mportância o

alvenarias. Ta

ão  João  for

mico  maciço

belece o pom

paginação  s

ior do Norde

a 6: Planta baa, composta pal. Em amareora com forma

M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

u hierarquia

alvez por isso

ram  identific

o  e  alvenar

mar, no qual

semelhante a

este (0).  

ixa e detalhespor várias conlo, as paredeatos e tamanh

e; MAIOR, P.M.S. A

43. 

a de cada esp

o no conjunt

cados  quatr

ia  mistae  a

 blocos de p

aos padrões

s com indicaçãnstruções conts com alvenahos variados d

Além da Pedra: Util

paço determ

to das const

ro  modelos: 

alvenaria  de

pedras de di

s de muros d

ão de padrõestíguas entre saria de rocha.de rochas, ma

ização de Rochas e

minava també

ruções que c

alvenaria  d

e  pedra  com

ferentes tam

de  rocha co

 

s de alvenariasi, organizadas No detalhe nteve‐se o nív

m Alvenarias nas Z

ém o rigor té

compõe o sít

de  pedra,  al

m  junta  sec

manhos e fo

m  junta  seca

as nos vestígios em quadra, maior no altovel das pruma

Zonas Rurais no Nor

écnico empre

ítio histórico

lvenaria  de 

ca,  na  cerca

rmatos com

a encontrad

os da antiga faformando umo, exemplo noadas horizonta

rdeste do 

22 

egado 

Brejo 

tijolo 

a  que 

põem 

dos no 

 

azenda m pátio o qual, ais. 

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FERREIRBrasil, Sé

Fumdh

 

Entre

pecul

prum

Muro

Caicó

Ao pe

paisa

graní

detrít

de  pe

empi

argam

Figuraserido

Em lo

cerca

da cir

          

9 Regiãmicrorrmaioriaarbusti

RA, J.A.; FREITAS, Méculos XVII ao XX. 

amentos (2017), 

etanto, algum

liaridade.  Em

madas das fia

os com Junta

ó–RN 

ercorrer as e

gens comun

íticos, o solo

ticos compõ

edra  ou mu

lhamento de

massa ou rej

a 7: Vista  geroense, zona ru

ocais distante

as de arbusto

rcunstancia d

                     

ão  localizada na regiões  geográfica na unidade geova xerófita e pela

M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

mas paredes 

m  uma  aná

das, aos pru

a Seca em Ca

estradas que 

ns do semiár

o em muitas 

em o cenári

ros  de  junta

e blocos roc

unte. 

ral da grandeural de Caicó, 

es e sem ma

os, e que du

de falta de m

                      

porção centro‐sucas:  o  Seridó Ocomorfológica da a predominância 

e; MAIOR, P.M.S. A

43. 

sem rigor a

álise  mais  d

mo das pare

aicó‐RN e Pe

ligam as cid

rido brasileir

partes desg

o da utilizaç

a  seca.  Trata

hosos de tam

 extensão deRN e vista lat

atéria prima 

uram pouco 

madeira em t

       

ul do estado do cidental  e  o  Seridepressão sertande neossolos litó

Além da Pedra: Util

parente nas 

etalhada  pe

edes e à sele

esqueira‐PE

ades do Seri

ro. A vegeta

guarnecido d

ção de uma t

am‐se  de  es

manhos vari

esse  tipo de  cteral de um tr

manufaturad

e requerem 

tempos de es

Rio Grande do Ndó Oriental.  Abaneja, caracterizadólicos. (IBGE, 199

ização de Rochas e

alvenarias d

ercebe‐se  um

ção dos form

dó9 Potigua

ção arbustiv

de vegetação

técnica popu

struturas  line

ados sem a 

construção deecho da estru

da a solução

constante m

stiagem. 

Norte, sendo umaarcando  um  totada em grande pa0; Embrapa, 2014

m Alvenarias nas Z

do conjunto 

m  cuidado 

matos das roc

r pode ser ob

va ressecada

o e recoberto

ularmente ch

eares  constr

utilização de

e  “cerca de ptura. 

para delimit

manutenção,

a  região homogêal  de  17 municíprte pelo clima se4) 

Zonas Rurais no Nor

demonstram

maior  quan

chas (0). 

bservada um

a, os afloram

o por pavim

hamada de c

ruídas  a  par

e nenhum ti

pedra” na pai

tar terras er

, além do as

ênea composta ppios,  localizados emiárido, pela ve

rdeste do 

23 

m uma 

nto  às 

ma das 

mentos 

mentos 

cercas 

rtir  do 

po de 

sagem 

a com 

specto 

por duas em  sua 

egetação 

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FERREIRBrasil, Sé

Fumdh

 

No ca

popu

Essa 

Schne

mais 

trape

regist

as  lat

estru

decor

pequ

Figura

Os da

Serid

afirm

const

são  p

quan

micro

socio

RA, J.A.; FREITAS, Méculos XVII ao XX. 

amentos (2017), 

aso do Seridó

larmente co

técnica,  de

eider, 2013; 

larga,  comp

ezoidal  com 

trados aqui o

terais, ou se

tura  aumen

rrência da su

enas rochas

a 8: Detalhe tr

ados relacion

ó Potiguar e

mado  é  que 

truídas na re

produzidas  n

to  à  distrib

orregião  do

oeconômico d

M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

ó esses muro

omo “dique 

escrita  em 

Silva, 2006; 

posta  de  blo

aproximada

os muros são

eja, os dique

nta  sua  altu

upressão de 

ransversal do 

nados à orig

e sua distribu

os  registro

egião no con

nos  dias  atu

uição,  essas

  Seridó  Oc

da região de

e; MAIOR, P.M.S. A

43. 

os divisores d

duplo” e qu

estudos  est

et. al.), cons

ocos maiores

amente  1  m

o retos, ou s

s, são comp

ura  as  roch

rejunte o as

muro em alve

em e períod

uição espacia

os  consultad

ntexto de  im

uais, mesmo

s  parecem  e

cidental,  ma

sde a consol

Além da Pedra: Util

de terras for

e permanec

trangeiros  e

siste na cons

s  e  o  topo 

m  de  altura.

seja, com pru

postos por b

has  diminue

ssentamento

enariade roch

do de início d

al das estrutu

dos  indicam

mplantação d

o  que  por  u

estar mais  c

ais  próxima

lidação da oc

ização de Rochas e

ram construí

ce até os dia

e  nacionais 

strução da e

mais  estreit

.  No  caso  d

umo vertical

locos maiore

em  de  tam

o e a estabil

 

ha na zona rur

da aplicação

uras ainda sã

m  que  essas

de unidades 

uma  quantid

concentradas

s  ao  muni

cupação. 

m Alvenarias nas Z

ídos em um 

as atuais com

(Jenkins,  20

estrutura a p

o,  dotando‐a

dos  exemplo

l. Além do m

es na base, e

anho.  Cabe

idade da est

ral de Caicó, R

desse mode

ão impreciso

  estruturas 

produtivas r

dade  pequen

s  nas  propri

cípio  de  Ca

Zonas Rurais no Nor

padrão conh

m pouca var

010;  Post, 

partir de uma

a  de  um  fo

os  identifica

mais nesse m

e a medida 

e  ressaltar 

trutura é feit

RN. 

elo construti

os. O que pod

começam 

rurais e que 

na  de  artífic

iedades  rura

aicó,  RN,  c

rdeste do 

24 

hecido 

riação. 

2005; 

a base 

rmato 

dos  e 

modelo 

que a 

e  em 

ta por 

ivo no 

de ser 

a  ser 

ainda 

ces.  E 

ais  da 

centro 

Page 14: ALÉM DA PEDRA: UTILIZAÇÃO DE ROCHAS EM ALVENARIAS NAS ... · FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas

FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas Zonas Rurais no Nordeste do Brasil, Séculos XVII ao XX. 

Fumdhamentos (2017), vol. XIX. PP. 12‐43.    25 

 

Sabe‐se que o uso da pedra em construções humanas é quase tão antigo quanto nossa própria 

história.  No  entanto,  devido  a  circunstanciastais  como  a  mão  de  obra  necessária  para 

manipular essa matéria prima e o tempo demandado para execução dos projetos, esse uso fica 

mais  restrito  a  construções  oficiais  ou  de  interesse  coletivo,  como  palácios,  templos  e 

fortificações. Fugindo a esta regra, o exemplo das cercas de pedra no Seridó Potiguar se torna 

ainda maispeculiar, pois se se tratam de estruturas construídas pelo  interesse particular que, 

juntamente de outras construções não oficiais, começam a receber a devida atenção por parte 

da Arqueologia Histórica.  

Pesqueira–PE 

De forma semelhante ao exemplo registrado em Caicó – RN, no município de Pesqueira – PE o 

caso se repete. O modelo construtivo é praticamente igual e a variabilidade sobre esse padrão, 

comparando‐se os dois, se dá em  função da habilidade e do esmero de quem constrói e da 

oferta de  rochas no  entorno, mais do que  aspectos  culturais  e  tecnológicos.  E de  fato, um 

morador da região e que trabalhava na manutenção de um desses muros,ao perguntarmos se 

sabia quem o construiu, respondeu de forma contundente:  

“meu pai fazia de um jeito, eu faço de outro. É só botar as grandes embaixo e ir subindo”. 

Percebemos que o suposto  jeito do filho comparado ao do pai era, na verdade, uma questão 

de esmero. E esse esmero  se  traduz no  cuidado da  seleção das pedras maiores para  serem 

utilizadas na base, no preenchimento dos vazios com pedras menores e noprumo vertical da 

estrutura, assim como seu alinhamento horizontal na base superior. Achamos que podia haver 

mais de um padrão, mas ao  compararmos o  casode Pesqueira  com o de Caicó percebemos 

tratar‐se de um mesmo perfil técnico.  

   

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FERREIRBrasil, Sé

Fumdh

 

Descr

A  var

grupo

Pesqu

carac

apres

está a

••••

Obse

utiliza

mora

traba

Figuraestrut

RA, J.A.; FREITAS, Méculos XVII ao XX. 

amentos (2017), 

rição da est

riabilidade  c

o.  Por  isso, 

ueira e no d

cterística, seg

senta 0,62 m

apoiada no s

0,97 x 0,5 0,39 x 0,1 0,17 x 0,1 0,07 x 0,0

rva‐se  que 

adas nas  lin

adores,  essa

alhadas. A re

a 9: Corte trantura identifica

M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

trutura 

como  já  foi d

podemos  e

e Caicó as r

gundo os m

m de  largura 

solo. A estrut

50 m (compr15 m; 14 m;  07 m.  

a  linha  cen

has externas

as  rochas  fo

gularidade o

nsversal e detada na zona ru

e; MAIOR, P.M.S. A

43. 

dito, é uma 

nglobar  os 

ochas estão 

oradores  loc

e 1,08 m de

tura é compo

rimento e lar

ntral  é  form

s apresentam

oram  utilizad

observada é, 

talhe do muroural de Pesque

Além da Pedra: Util

questão de

dois  casos  e

apoiadas um

cais, é o que

e altura, e e

osta por três

rgura);  

mada  por  roc

m  face exte

das  como  e

portanto, re

 

o com alvenareira, PE. 

ização de Rochas e

e execução  i

em  um mes

mas nas out

e garante a 

está em prum

s linhas de ro

chas  de  me

rna  regular. 

encontradas

esultado do d

ria de rocha e 

m Alvenarias nas Z

ndividual ou

smo  grupo.T

ras sem folg

sua conserv

mo. Não há f

ocha de tama

enores  dime

Segundo as

no  ambien

desgaste nat

junta seca, el

Zonas Rurais no Nor

u de um peq

Tanto  no  ca

ga entre elas

vação. A estr

fundação, a 

anhos variad

ensões.  As  r

s  informaçõe

nte  e  não  f

tural. 

laborado a pa

rdeste do 

26 

queno 

so  de 

s. Essa 

rutura 

cerca 

dos:  

rochas 

es dos 

foram 

 

artir da 

Page 16: ALÉM DA PEDRA: UTILIZAÇÃO DE ROCHAS EM ALVENARIAS NAS ... · FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas

FERREIRBrasil, Sé

Fumdh

 

Figura

Figurapadrãindep

Resid

Em  P

ident

Cabe 

maté

inser

RA, J.A.; FREITAS, Méculos XVII ao XX. 

amentos (2017), 

a 10: Face sup

a 11: Muro dião  de  alvenpendentement

dências com

Pesqueira,  m

tificaram‐se c

  salientar  q

éria prima, re

idas em um 

M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

perior e vista l

ivisor de  lote aria  com  jute da irregula

 Alvenaria d

município  q

construções 

ue  alvenaria

ejuntes, pag

mesmo grup

e; MAIOR, P.M.S. A

43. 

ateral de mur

em um distriunta  seca.  Nridade geomé

de Rocha, Pe

que  fica  há

com alvenar

as  de  rocha

inações, dim

po, desde qu

Além da Pedra: Util

 

ro de rocha e 

ito na zona ruNote‐se  queétrica das roch

esqueira, PE

  200  Km  d

ria de rocha,

as,  também 

mensões, épo

e respeitada

ização de Rochas e

junta seca na

ural do munice  se  mantevhas.  

da  capital 

, com e sem 

diversas  e 

ocas, regiões

as as particul

m Alvenarias nas Z

zona rural de

 

cípio de Pesquve  um  prum

do  estado 

rejunte.  

com  grande

s e procedim

aridades de 

Zonas Rurais no Nor

e Pesqueira, P

ueira‐PE segumo  nessa  p

de  Pernam

e  variabilidad

mentos pode

cada caso.  

rdeste do 

27 

 

PE. 

indo o parede, 

mbuco, 

de  de 

em ser 

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FERREIRBrasil, Sé

Fumdh

 

FiguraNos  dseguedois c

A  res

popu

consi

né?  P

residê

Descr

Casas

edific

(com

varia,

ou  a 

pared

posic

de  u

medi

alven

alven

apres

rocha

RA, J.A.; FREITAS, Méculos XVII ao XX. 

amentos (2017), 

a 12: Casas codois  casos  peem o modelo casos a pagina

ssalva  é  vál

lar, a rocha 

derada mate

Por  isso mel

ências const

rição da con

s de  alvenar

cações  têm 

primento  e 

,em média, 4

falta  de  co

des externas

cionada em t

m  lado  para

ndo 9  cm d

naria de roch

naria de  roch

senta cerca d

a divididas em

M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

onstruídas coercebe‐se  a  aide emprego ação é irregula

ida,  pois  nã

da  forma co

erial nobre, 

lhor  é  ficar 

truídas com a

nstrução 

riade  rocha 

formato  ret

largura).  O

4 cm, ou 0,8

ontrole  dura

s  foram cons

terreno pouc

a  o  outro. 

e  largura, d

ha apresenta

ha. Segundo

de 1 m de p

m três grupo

e; MAIOR, P.M.S. A

43. 

m alvenaria dinda  a  presende rochas doar e as rochas 

ão  escapamo

omo é empr

pois como n

tudo  lisinho

alvenaria de 

e  argamassa

angular  e  ir

  comprimen

8%. Essa vari

nte  a  execu

struídas em 

co regular, r

Internament

e  tijolo  cerâ

a 0,36 m de 

  informaçõe

rofundidade

os de tamanh

Além da Pedra: Util

 

de rocha e rejnça  de  reboco entorno sem maiores fora

os  de  aspec

regada nos c

nos disse um

o─,  referindo

rocha. 

a de barro, 

rregular.  Esp

nto  varia,  e

ação demos

ução  da  obr

prumo,  já o

resultando n

te,  a  constr

âmico maciç

largura e fo

es do proprie

e. A estrutura

hos:  

ização de Rochas e

junte de barroo. As  alvenarm ou com poum colocadas n

ctos  culturai

casos aprese

 morador da

o‐se  ao  hábi

utilizando b

pecificamente

m  média,  1

stra ou a falt

a.  No  que  c

outras não, v

numa variaçã

rução  foi  div

o e argamas

i construída 

etário, que e

a das parede

m Alvenarias nas Z

o na zona rurrias  de  rocha uco trabalho na parte infer

is  e  empreg

entados nest

a região:─né 

to  de  reboc

arro de  form

e  a da direit

12  cm,  ou  1

a de instrum

concerne  ao

variando até

ão de altura 

vidida  com 

ssa de barro

sobre funda

edificou a ca

es é compos

Zonas Rurais no Nor

ral de Pesque  dessas  residde cantaria. Nrior.  

gando  o  ling

ta pesquisa 

muito bonit

car  as  pared

migueiro. As

ta mede  9  x

1,3%;  e  a  la

mento de me

o  prumo,  alg

é 8 cm. A ca

de 2,70 a 3

paredes  sin

o. A estrutu

ação, també

asa, sua  fun

sta por 2 linh

rdeste do 

28 

 

ira‐PE. dências Nesses 

guajar 

não é 

ta não 

des  de 

s duas 

x  5 m 

argura 

edição 

gumas 

asa  foi 

,05 m 

ngelas, 

ra em 

m em 

dação 

has de 

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FERREIRBrasil, Sé

Fumdh

 

•••

Nos 

rocha

dos m

foram

Figura

Mani

Conte

A ma

produ

          

10 Árvo

RA, J.A.; FREITAS, Méculos XVII ao XX. 

amentos (2017), 

Tamanho tamanho tamanho

encontros  e

as utilizadas 

moradores, e

m trabalhada

a 13: Planta ba

içobeiros (Sã

exto Socioec

aniçoba10é e

uzir  reservas

                     

ore do gênero bot

M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

o grande = 0, médio = 0,2 pequeno = 0

entre  as  par

nas linhas ex

essas rochas

as. A regulari

aixa, vista late

ão Raimundo

conômico 

ncontrada n

s de  látex n

                      

tânico Manihot, d

e; MAIOR, P.M.S. A

43. 

44 x 0,28 m26 x 0,15 m; 0,13 x 0,07 m

edes  as  roc

xternas apre

s foram utiliz

idade observ

eral e detalhe

o Nonato, PI

na  região No

as  raízes de 

       

da família das Eu

Além da Pedra: Util

(comprimen

m.  

chas  apresen

esentam face

zadas como 

vada é, porta

 

e da alvenaria

I) 

ordeste do B

  seus  caules

forbiáceas. 

ização de Rochas e

nto e largura

ntam  format

e externa reg

encontradas

anto, resulta

de rocha de r

Brasil, assim 

s  foi explora

m Alvenarias nas Z

);  

to  tendendo

gular. Segund

s no ambien

do do desga

residência em 

como no Ce

da  com  fins

Zonas Rurais no Nor

o  a  ortogon

do as inform

nte, portanto

ste natural. 

 Pesqueira‐PE

entro Oeste,

s  comerciais 

rdeste do 

29 

al.  As 

mações 

o, não 

 

E.  

, e ao 

pelas 

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FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas Zonas Rurais no Nordeste do Brasil, Séculos XVII ao XX. 

Fumdhamentos (2017), vol. XIX. PP. 12‐43.    30 

 

indústrias automobilísticas e elétricas entre o final do século XIX e o  início do século XX. Esse 

interessepromoveu, por um lado, um aparente crescimento econômico de algumas cidades.  

Esse contexto socioeconômico da extração da Maniçoba no Estado do Piauí pode ser dividido 

em dois momentos: o primeiro vai do  final do século XIX até as duas décadas do século XX, 

período de crescimento da comercialização do produto chegando a corresponder a 62% das 

exportações  piauienses  tendo  como  destinos  Inglaterra,  Estados  Unidos  e  França  (Oliveira, 

2014). A segunda fase teve início a partir da década de 1940, quando os japoneses dominaram 

os mercados asiáticos, pela demanda da Segunda Guerra Mundial. Os norte americanos, por 

esta razão, incentivaram novamente a produção, que permaneceu até a década de 1960, mas 

com baixo retorno financeiro para a economia do Estado. 

No final do séc. XIX a crise política e social em todo país após a proclamação da República, em 

1889,  e  em  decorrência  dos  períodos  de  grandes  secas  no  Nordeste, motivou  o  fluxo  de 

migrações  ocorridas  dessa  região  para  o  sudeste.  Entretanto,  as  populações  que 

permaneceram e na busca de um meio de subsistência, alguns grupos de trabalhadores foram 

para  as  regiões  do  Piauí,  tanto  na  primeira  como  na  segunda  fase  da Maniçoba  (Oliveira, 

2014). Então, o Governo Estadual do Piauí sofria com a  falta de mão‐de‐obra decorrente da 

abolição da escravatura,em 1888, e vislumbrou que a extração da Maniçoba seria uma forma 

de reestabelecer o trabalho braçale sem qualificação. 

No início do século XX a extração da maniçoba no Piauí começou a entrar em colapso. Alguns 

trabalhadores  atribuíram  o  fato  a  má  qualidade  da  borracha  produzida,  pois  alguns 

maniçobeiros misturavam  outros  tipos  de materiais  ao  látex  deixando  a  produção  suja.  A 

devastação da mata também contribuiu para o colapso. Não se respeitava o período de pausa 

da planta, que quando muito extraída parava de produzir o látex. Finalmente, os conflitos por 

terras entre os moradores  locais e os recém‐chegados ainda dificultaram o desenvolvimento 

dessa  atividade  econômica.  Nesse  contexto,  alguns  sítios  arqueológicos  foram  ocupados  e 

alguns grupos construíram estruturas rudimentares, mas com peculiaridades. 

Reocupação dos Sítios Arqueológicos 

A  ocupação  dos  sítiosarqueológicos  pelos  chamados  grupos maniçobeiros,  que  hoje  estão 

dentro  do  Parque Nacional  Serra da Capivara, ocorreu de  forma  gradativa,  desde  1897  até 

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FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas Zonas Rurais no Nordeste do Brasil, Séculos XVII ao XX. 

Fumdhamentos (2017), vol. XIX. PP. 12‐43.    31 

 

1913. Registra‐se ainda que à medida que as  famílias  iam chegando à região, optavam pelos 

melhores maniçobais e melhores  locais de moradia. Normalmente, eram escolhidos os  locais 

ocupados  pelos  “selvagens”:  abrigos  onde  a  formação  rochosa  propiciava  a  formação  de 

paredes e tetos (Landim, 2014). Muitos desses abrigos são sítios arqueológicos com registros 

rupestres. 

Esses  locais  foram  adaptados  como  moradias  pelas  famílias  dos  maniçobeiros  e  alguns 

permaneceram neles até a década de 1960. Geralmente as casas tinham dois cômodos (quarto 

e  sala), mas  verificou‐se  também  que  em  algumas  outras  havia  pequenos  depósitos  para 

armazenar  maniçoba  além  de  fornos  de  farinha,  que  ficavam  a  poucos  metros  da  casa, 

(Oliveira, 2014). 

Os  paredões  rochosos  foram  aproveitados  como  parte  das  casas,  constituindo  uma  das 

paredes e até mesmo o  teto. Os materiais utilizados  foram a  rocha, o barro e a madeira de 

vegetais  típicas da região. Nas paredes, utilizava‐se madeira e barro. Nos pisos,  terra batida. 

Na coberta, cascas ou folhas e terra ou capim. Segundo Oliveira (2014), quando as cascas de 

árvores mais resistentes não eram encontradas, as casas eram cobertas com folhas e terra, ou 

capim, sobre estruturas compostas a partir de  linhas, caibros e ripas. Essa relação do homem 

com  e  meio  ambiente  permitiu  o  estabelecimento  de  um  modo  de  viver  próprio  dos 

maniçobeiros, que não existe mais. 

Sítio Toca do João Sabino (taipa de mão com rocha) 

O sítio toca do João Sabino é um abrigo sob rocha posicionado na frente da serra localizado na 

região  da  Serra  Branca.  Era  um  ponto  de  encontro  onde  as  famílias  dos maniçobeiros  se 

reuniam  para  comemorar  as  festividades  de  São  João.  Abrange  uma  área  de  29  x  6,60 m, 

comprimento e  largura, a uma altitude de 355 m. O sítio possui duas estruturas de moradia 

além de um forno de farinha e fogões a  lenha. Todas as moradias utilizam o suporte rochoso 

como parte da estrutura, especificamente, as paredes de fundo e o teto. O suporte rochoso é 

inclinado, mas pouco profundo, portanto, expõe as estruturas aos efeitos da água das chuvas 

que tanto incidi diretamente na estrutura, quanto escorre pelo paredão. 

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FERREIRBrasil, Sé

Fumdh

 

Sistem

Origin

edific

const

contu

FiguraSabin

Toca

O Sít

abran

duas 

um a

fosse

pared

com 

na pr

posic

incidi

RA, J.A.; FREITAS, Méculos XVII ao XX. 

amentos (2017), 

ma construt

nalmente  as

cadas  em  ta

trutivo parec

udo em vez d

a 14: Situaçãoo e levantame

 do Juazeiro

io Toca do  J

nge uma áre

famílias dur

abrigo natura

e  construída 

de lateral dir

um depósito

rofundidade 

cionada  na  e

i diretament

M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

tivo das estr

s  estruturas

aipa  de  mã

ce originar‐s

de barro, ado

o atual da estento esquemá

o (taipa de m

Juazeiro é um

ea de 8,90 x 3

rante a extra

al, onde o  s

apenas uma

reita e esque

o, posicionad

quanto na 

entrada  da  t

te na estrutu

e; MAIOR, P.M.S. A

43. 

ruturas do S

s  construtiva

ão,  mas  com

se a partir d

otaram‐se pe

trutura constático da reocu

mão com ro

m abrigo so

3,50 m, de c

ação da man

suporte  roch

a parede  fro

erda, parede

do também 

altura. No  c

toca  ficando

ra, quanto e

Além da Pedra: Util

Sítio 

as  presente

m  o  fecham

a  taipa de m

edras no inte

trutiva em  taiupação do síti

ocha) 

b rocha  loca

comprimento

niçoba. Possu

hoso é  inclin

ontal para  se

e de fundo e

dentro de u

caso da estr

o  exposta  ao

escorre pelo 

ização de Rochas e

es  no  sítio  T

mento  em  b

mão, quanto

erior da gaio

ipa de mão co pré‐históric

alizado na re

o e largura. A

ui dois cômo

nado. O  form

e  ter uma m

 de teto da 

ma toca, ma

utura de mo

os  efeitos  da

paredão. 

m Alvenarias nas Z

Toca  do  Joã

barro  e  roc

o aos elemen

la.  

om  rocha no o.  

egião da Ser

A toca foi a a

odos (sala e q

mato da  toca

moradia. O p

habitação. O

ais de menor

oradia, a par

a  água  das  c

Zonas Rurais no Nor

ão  Sabino  f

cha.  Esse  sis

ntos em ma

o Sítio Toca d

rra Branca. O

antiga morad

quarto) dent

a possibilito

paredão  serv

O sítio conta 

r dimensão, 

rede edifica

chuvas  que 

rdeste do 

32 

foram 

stema 

adeira, 

o  João 

O sítio 

dia de 

tro de 

u que 

viu de 

ainda 

tanto 

da  foi 

tanto 

Page 22: ALÉM DA PEDRA: UTILIZAÇÃO DE ROCHAS EM ALVENARIAS NAS ... · FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas

FERREIRBrasil, Sé

Fumdh

 

FiguraJuaze

Com 

2006

mora

estru

Sistem

As  es

sistem

fecha

Toca

O  Sít

geom

(com

mani

foi po

como

ao  s

          

11 Fund

RA, J.A.; FREITAS, Méculos XVII ao XX. 

amentos (2017), 

a  15:  Situaçãoiro levantame

base no reg

, 2011, 2013

adia e de dep

turas. 

ma construt

struturas  co

mas  constru

amento em b

 do Marco (

tio  Toca  do

métrico. Loca

primento  e

çobeiros no 

osicionada e

o o suporte r

suporte  roch

                     

dação Museu do 

M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

o  atual  da  esento esquemá

gistro fotográ

3 e 2014,  fo

pósito ao lon

tivo das estr

onstrutivas  p

utivos  difere

barro e rocha

(alvenaria c

  Marco  é  u

alizado na reg

  largura).  P

final do séc

encostada ao

rochoso é  in

hoso  propic

                      

Homem America

e; MAIOR, P.M.S. A

43. 

strutura  constático da reocu

áfico realiza

oi possível  id

ngo dos anos

ruturas do S

presentes  no

ntes:  a  mor

a; e o depósi

om rocha co

um  sítio  com

gião da Serra

Pela  sua  co

ulo XIX, iníci

o paredão de

nclinado, fun

ciou  uma  c

       

ano. 

Além da Pedra: Util

 trutiva A,  emupação do sítio

do pela Fum

dentificar qu

s capazes de 

Sítio (alvena

o  sítio  Toca

radia  foi  co

ito, em alven

om caibros)

m  pintura  r

a Branca, ab

ondição  de 

io do século 

e rocha, que

ncionou tamb

certa  prote

ização de Rochas e

m  taipa  de mão pré‐histórico

mdham11 em 

ue não houv

prejudicar a

ria com roch

a  do  Juazeir

onstruída  em

naria com ro

rupestre  nã

brange uma á

abrigo  sob 

XX. A estrut

e passou a s

bém como t

ção  contra 

m Alvenarias nas Z

ão  com  rochao. 

diversas ép

e desgaste 

a originalidad

ha com caib

ro  foram  ed

m  taipa  de  m

cha.  

o  reconhecí

área de 13 x 

rocha  foi 

tura construí

servir de  fun

eto. Essa sit

os  efeitos

Zonas Rurais no Nor

a,  do  Sítio  To

pocas: 2001, 

nas estrutur

de construtiv

bros) 

dificadas  em

mão,  mas  c

íveis,  de  fo

 6 m de dim

reocupado 

ída nesse pe

ndo da mora

uação em re

s  causados 

rdeste do 

33 

oca  do 

2004, 

ras de 

va das 

m  dois 

com  o 

rmato 

ensão 

pelos 

eríodo 

adia, e 

elação 

pelas 

Page 23: ALÉM DA PEDRA: UTILIZAÇÃO DE ROCHAS EM ALVENARIAS NAS ... · FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas

FERREIRBrasil, Sé

Fumdh

 

intem

escor

Figuralevant

Sistem

A  est

const

fecha

argam

Toca

O Síti

Fumd

comp

sítio f

da  m

conhe

utiliza

RA, J.A.; FREITAS, Méculos XVII ao XX. 

amentos (2017), 

mpéries, ape

rrer pelo par

a 16: Situaçãotamento esqu

ma construt

trutura  cons

trutivos  dife

amento em b

massa.  

 da igrejinh

io da Toca d

dham.  Está 

primento po

foi reocupad

maniçoba,  os

ecida como 

ando‐o como

M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

sar de que, p

redão provoc

o atual da estruemático da re

tivo das estr

strutiva  exis

erentes:  um

barro e rocha

ha (alvenaria

a Igrejinha é

localizado  n

r 10,5 m de

do pelos ma

s  trabalhado

Igrejinha. A 

o fundo e co

e; MAIOR, P.M.S. A

43. 

pelas manch

cou danos à 

rutura construeocupação do

ruturas do S

stente  no  sí

a  das  pared

a; e a outra 

a de rocha)

é um sítio de

na  região  da

  largura, po

niçobeiros n

ores  levavam

estrutura fo

berta.  

Além da Pedra: Util

has que se ve

estrutura. 

utiva em taipao sítio pré‐hist

Sítio 

ítio  Toca  do

des  foi  con

parede, em 

e pinturas ru

a  Serra  Bran

sicionado a 

no final do sé

m  os  santo

oi construída

ização de Rochas e

erificam no s

a de mão comtórico. 

o  Marco  foi

nstruída  em 

alvenaria de

upestres que

nca,  e  abran

472 m de a

éculo XIX, in

os  para  esse

 encostada n

m Alvenarias nas Z

suporte, a ág

m rocha do Sít

  edificada  e

taipa  de  m

e rocha, mas 

e foi descobe

nge  uma  ár

ltitude em r

ício do sécu

e  espaço,  q

no paredão r

Zonas Rurais no Nor

gua das chuv

tio Toca do M

em  dois  sist

mão,  mas  c

 sem utilizaç

erto em 1983

rea  de  157 

relação ao m

lo XX. No pe

que  passou 

rochoso aren

rdeste do 

34 

vas ao 

 

Marco e 

temas 

om  o 

ção de 

3 pela 

m  de 

mar. O 

eríodo 

a  ser 

nítico, 

Page 24: ALÉM DA PEDRA: UTILIZAÇÃO DE ROCHAS EM ALVENARIAS NAS ... · FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas

FERREIRBrasil, Sé

Fumdh

 

FiguraIgrejin

Sistem

A est

uma 

sobre

Toca

O  sít

desco

de 30

estru

pared

pouca

mane

quan

Sistem

A est

seja, 

irregu

 

RA, J.A.; FREITAS, Méculos XVII ao XX. 

amentos (2017), 

a 17: Situaçãonha e levantam

ma construt

trutura const

estrutura fo

e argamassa.

 da Velha M

tio  Toca  da 

oberto em 20

00 m da estr

turas para s

dão  rochoso

a profundida

eira, exposta

to escorre p

ma construt

trutura cons

uma  estrut

ular, sobre a

M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

o atual da estmento esquem

tivo das estr

trutiva edific

rmada pela 

Mulata (alve

Velha Mula

001 pela Fum

rada de aces

ervir de mor

o,  que  serviu

ade do abrig

a aos efeitos

elo paredão

tivo das estr

trutiva edifi

ura  formada

rgamassa. 

e; MAIOR, P.M.S. A

43. 

trutura constrmático da reo

ruturas do S

cada no sítio

disposição d

enaria de ro

ata  é  um  ab

mdham. Está

sso. O sítio f

radia e de fo

u  não  apena

go não ofere

s da água da

ruturas do S

cada no  sítio

a  pela  dispo

Além da Pedra: Util

 rutiva em alveocupação do s

Sítio 

o Toca da  Ig

de camadas d

ocha) 

brigo  sob  ro

á localizado n

foi reocupad

ogão a lenha

as  de  parede

eceu grande 

as chuvas qu

Sítio 

o Toca da V

osição  de  ca

ização de Rochas e

enaria de rocítio pré‐histór

grejinha  foi a

de rocha, de 

ocha  com  pi

na região da 

o pelos man

a. A moradia

e  de  fundo,

proteção à 

ue  tanto  inci

Velha Mulata

madas  de  ro

m Alvenarias nas Z

ha com rejunrico. 

a Alvenaria d

formato e ta

inturas  e  gr

Serra Branca

niçobeiros qu

foi posicion

mas  de  tet

edificação q

de diretame

a  foi a alven

ocha,  de  for

Zonas Rurais no Nor

nte do Sítio To

de  rocha, ou

amanho irre

ravuras  rupe

a, a uma dist

ue ali constr

nada encosta

to. No  entan

ue ficou, de

ente na estr

naria de  roch

rmato  e  tam

rdeste do 

35 

oca da 

u seja, 

egular, 

estres, 

tância 

ruíram 

ada ao 

nto,  a 

 certa 

utura, 

ha, ou 

manho 

Page 25: ALÉM DA PEDRA: UTILIZAÇÃO DE ROCHAS EM ALVENARIAS NAS ... · FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas

FERREIRBrasil, Sé

Fumdh

 

FiguraVelha

Sítio 

O Síti

Foi o

const

rocho

2, po

servin

Figuralevant

DetaParqu

As es

revel

RA, J.A.; FREITAS, Méculos XVII ao XX. 

amentos (2017), 

a 18: Situação Mulata e leva

Toca do Fir

io Toca do F

cupado pelo

truída entre 

oso, inclinad

or sua vez, é 

ndo de fundo

a 19: Situaçãotamento esqu

lhamento  due Nacional

struturas con

am que não

M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

o atual da estantamento es

rmino 

Firmino é um

os maniçobe

duas rochas

o e baixo, se

um pouco m

o. 

o atual da estuemático da re

dos  perfis  tél Serra da Ca

nstruídas na

o houve padr

e; MAIOR, P.M.S. A

43. 

trutura constrsquemático da

m abrigo sob 

eiros no  final

 sobrepostas

erviu de pare

mais ampla, 

trutura constreocupação do

écnicos  dasapivara, PI

s reocupaçõ

ronização no

Além da Pedra: Util

rutiva em alvea reocupação

 rocha que e

l do século X

s, aproveitan

ede de fund

pois está ap

 

rutiva 2 em ao sítio pré‐hist

s  estruturas

ões do sítios 

o tamanho d

ização de Rochas e

enaria de rocdo sítio pré‐h

está localizad

XIX,  início do

ndo o espaço

do e de teto 

poiada no pa

alvenaria de rtórico. 

s  construída

pré‐históric

das rochas u

m Alvenarias nas Z

ha com rejunhistórico. 

do na região

o século XX.

o do abrigo n

da nova mo

aredão alto e

ocha do Sítio

as  nos  sítios

os em São R

tilizadas. A t

Zonas Rurais no Nor

nte do Sítio To

o da Serra B

. A Estrutura

natural. O su

oradia. A Estr

e pouco incli

o Toca do Firm

s  reocupado

Raimundo N

tolerância e

rdeste do 

36 

 

oca da 

ranca. 

a 1  foi 

uporte 

rutura 

inado, 

mino e 

os  no 

onato 

ntre a 

Page 26: ALÉM DA PEDRA: UTILIZAÇÃO DE ROCHAS EM ALVENARIAS NAS ... · FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas

FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas Zonas Rurais no Nordeste do Brasil, Séculos XVII ao XX. 

Fumdhamentos (2017), vol. XIX. PP. 12‐43.    37 

 

menor  e maior medida  é muito  elevada  seja  para  o  comprimento,  seja  para  a  altura  das 

rochas. Verificou‐se por outro  lado o uso de  fragmentos de  rocha de menor  tamanho para 

complementar espaços vazios. Uma consequência direta dessa não‐padronização das rochas é 

a  grande  variação  entre  as  medidas  dos  rejuntes  verticais  e  horizontais  e  a  falta  de 

alinhamento entre as camadas de rocha. 

A construção da alvenaria de rocha empregada pelos maniçobeiros nas estruturas no sudoeste 

do Piauí utilizou os mesmos materiais construtivos e procedimentos operacionais semelhantes 

aos  tradicionalmente  usados  em  outras  localidades.  Foram  edificadas  paredes  através  da 

sobreposição de  camadas de  rochas,  ligadas através de argamassa de barro, possivelmente, 

retirados das redondezas do Sítio. 

No  entanto,  de uma maneira  geral, observa‐se que  a  alvenaria de  rocha  reproduzida pelos 

maniçobeiros no sudoeste do Piauí se equipara à técnica popular uma vez que produziu uma 

estrutura  com  um  comportamento monolítico.  Como  já  foi  citado, materiais  construtivos  e 

procedimentos  são  equiparáveis, qualquer diferença pode  estar  relacionada  à qualidade da 

mão‐de‐obra e disponibilidade de matéria‐prima e instrumentos. 

De uma maneira geral, observa‐se que a taipa de mão reproduzida no interior do Nordeste se 

equipara  àquela  técnica  milenarmente  empregada  em  todo  o  mundo.  Isso  por  que  os 

materiais construtivos e procedimentos são equiparáveis e as diferençase peculiaridades assim 

como  nas  alvenarias  com  rocha  no  contexto  dos  exemplos  descritos  nesta  pesquisa  estão 

relacionadas à qualidade da mão‐de‐obra e disponibilidade de matéria‐prima e instrumentos. 

Como  já  foi citado, durante o  levantamento dos sítios  reocupados pelos maniçobeiros e das 

estruturas por eles edificadas  foram  identificados dois sistemas construtivos: taipa de mão e 

alvenaria  com  rocha. No entanto, verificou‐se que algumas das estruturas em  taipa de mão 

utilizavam também a rocha como revestimento, juntamente com o barro. Essa variação não é 

citada na bibliografia  corrente  sobre o  tema,  sugerindo  tratar‐se de um  sistema  construtivo 

particular utilizado por um grupo de emigrantes nordestinos, numa terra de clima seco, com 

vegetação de caatinga, num contexto sócio econômico de descaso, exclusão e sobrevivência. 

   

Page 27: ALÉM DA PEDRA: UTILIZAÇÃO DE ROCHAS EM ALVENARIAS NAS ... · FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas

FERREIRA, J.A.; FREITAS, M.; MATOS, M.X.G.de; MAIOR, P.M.S. Além da Pedra: Utilização de Rochas em Alvenarias nas Zonas Rurais no Nordeste do Brasil, Séculos XVII ao XX. 

Fumdhamentos (2017), vol. XIX. PP. 12‐43.    38 

 

 

Figura  20:  A.  Sistema  construtivo  em  taipa  de  mão  construída  a  partir  de  montantes  verticais  e horizontais,  em madeira,  recoberto  com  barro,  identificado  no  sítio  Toca  do Mulungu  I.  B.  Sistema construtivo  em  alvenaria  de  rocha  com  rejunte  em  barro,  do  Sítio  Toca  da  Igrejinha,  onde  não  se observa padrão de matéria‐prima, nem modulação na sua paginação:nos sítios Toca da Velha Mulata; Toca  do  Firmino;  Toca  do  Forno  da  Serra  Branca;  Toca  do Mulungu  II;  Toca  do  Zé  Paes  e  Toca  do Salustiano.  

Ao  levarmos  em  consideração  que  a  taipa  de mão  e  a  alvenaria  com  rocha  são modelos 

construtivos  independentes, embora  compartilhem o barro e a areia, a  identificação de um 

terceiro modelo insere‐se dentro do conceito de sincretismo tecnológico12. 

Assim,  rocha e  taipa de mão  foram empregadas de  forma conjunta  suscitando em um novo 

modelo. A questão que épor quê? A resposta talvez recaia na resistência e na manutenção. A 

taipa de mão requer constante manutenção, mas a trama vegetal permite corrigir e manter o 

prumo das paredes. Por outro  lado a pedra apresenta  resistência mecânica a  compressão e 

grande inércia térmica13, que para o clima do semiárido é adequada. 

Dentro desse modelo, foram edificadas habitações com varas de madeira, em forma de gaiola 

e  amarradas  entre  si  com  o  auxílio  de  fibras  vegetais  seguindo  o  padrão  convencional. 

Entretanto,  em  vez  do  recobrimento  com  barro,  esse  perfil  tecnológico  utilizou  rochas 

argamassadas com barro.  

                                                            

12 O conceito  foi construído através de pesquisa de mestrado e publicado  inicialmente em: LIMA  JÚNIOR, G.C.de B.L.; MAIOR, P.M.S. 2013. Perfil Tecnológico das Construções Praieiras do Nordeste do Brasil, Clio Arqueológica, v. 28, n. 2, UFPE, Recife‐PE. 13 Capacidade e particularidade de um material em absorver, armazenar e liberar calorias. Essa circunstância física contribui para o conforto da edificação. Um material adequado evita,durante o dia,  sobreaquecimento e, a noite, o  resfriamento no  interior. Basicamente  a  inércia  térmica  envolve dois  fenômenos:  atraso  térmico  (ou desfasamento)  e  redução da  amplitude  térmica.O atraso térmico indica‐nos a diferença de tempo entre uma variação de temperatura numa das superfícies do sistema construtivo e a manifestação dessa variação na face oposta, quando o sistema é sujeito a um regime variável de transmissão de calor. Soluções com um atraso térmico mais elevado contribuem para a melhoria do comportamento térmico de construções, visto que retardam a perda ou ganho de calor de uma estrutura. 

 

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M.; MATOS, M.X.G.d

vol. XIX. PP. 12‐4

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39 

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Fumdhamentos (2017), vol. XIX. PP. 12‐43.    40 

 

Assim, podemos resumir que suas características são: 

1. Estrutura da gaiola é semelhante a estrutura da gaiola da taipa de mão convencional. 

2. A composição do rejunte, ou seja, argila (elemento plástico) e areia (elemento antiplástico) 

demostra uma preocupação com a plasticidade, típica da taipa de mão convencional. 

3. A  introdução da  rocha como material de vedação elevou a  resistência da  taipa de mão à 

água  de  chuva,  uma  vez  que  esse  tipo  de  construção  convencional  é  menos  resistente. 

Portanto, a rocha imprimiu um caráter de maior durabilidade. 

4. Esse  tipo de  solução  (taipa de mão  com  rocha)  foi utilizado em  locais mais expostos, ou 

seja, menos protegidos daágua de chuva. Vale salientar que essas estruturas foram construídas 

sobre paredões rochosos, nos quais em períodos de chuva há uma maior quantidade de água 

que escorre por eles e,portanto, a pedra foi o material local mais adequado. 

Considerações Finais 

Respondendo ao questionamento  inicial, de quais circunstâncias  influenciaram a manutenção 

da utilização de  rochas  em paredes,  sem ou  com  pouco  trabalho de  cantaria  ao  longo dos 

séculos  XVII,  XVIII,  XIX  e  XXno  interior  do  Nordeste  do  Brasil,  identificam‐se  os  seguintes 

aspectosem comum nas doze estruturas analisadas: 

1. As pedras utilizadas, como são chamadas pela população, são do entorno imediato; 

2. As construções foram realizadas pelos próprios moradores ou por seus usuários; 

3. A posição das  rochas nas  alvenarias  leva em  consideração  seu  formato original, ou  seja, 

maiores na parte  inferior e menores na parte superior. Além do mais, em uma mesma  fiada 

são empregadas rochas de diversos tamanhos e formatos e o objetivo é vedar ao máximo os 

vazios. Mesmo  assim  alguns  casos  apresentados  fogem  a  esse  padrão,  expondo  o  fato  da 

variabilidade  nesse  tipo  de  construção  ocorrer  em  função  do  esmero  individual  ou  de 

pequenos grupos, mais do que características cultuais ou padrões técnicos; 

4. Todos os casos são ou da zona rural ou de fora portas (caso do sítio escavado próximo ao 

centro  do  Recife),  portanto  de  populações  e  grupos  com  dificuldade  de  acesso  às  novos 

processos e materiais, seja pela distância ou por circunstâncias econômicas; 

5. A  rocha utilizada não sofre nenhum  tratamento ou  transformação e assim matem‐se sua 

estabilidade energética, pois é empregada in natura; 

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6. Essas construções possuem baixo grau de manutenção; 

7. As estruturas são eficazes, pois servem ao objetivo para o qual foram construídas.  

Por  último  cabe  afirmar  que  vestígios  construtivos  com  perfis  técnicos  ou  tecnológicos 

semelhantes,  mas  em  diferentes  regiões,  podem  não  possuir  uma  mesma  raiz.  O  fator 

determinante nos casos estudados aqui  foi o meio ambiental e a disponibilidade de matéria 

prima.  Embora  se  trate  de  uma  região  que  comparta  historicamente  um  modelo  de 

colonização, um  idioma e a mesma  religião, esses aspectos  culturais encontram variações e 

diversidades que, como diz Cardwell, (1996:125), as inovações e modificações técnicas surgem 

e morrem várias vezes em função das necessidades e do meio ambiente. Atesta essa tese, que 

não  é  nova, o  livro  de André  Leroi‐Gourhan,  L'Homme  et  la matière,  no  qual  conjuntos  de 

matérias  primas  e  utencílios  disponíveis  são  elementos  fundamentais  na  configuração  dos 

perfis técnicos e tecnológicos. Assim um mesmo padrão construtivo pode ser identificado em 

grupos sem nenhum contato. Essas duas referências são válidas na medida em que justificam a 

possibilidade  das  construções  descritas,  embora  com  semelhanças  técnicas  e  até 

transformações  tecnológicas  (caso  da  taipa  de  mão  com  rocha),  não  possuirem 

necessariamente uma origem comum. Portanto, o meio e as circunstâncias geográficas foram 

determinantes para confirguração desses perfis construtivos.  

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