ANA CAROLINA GOUVÊA BERMUDES Resposta inflamatória

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  • ANA CAROLINA GOUVA BERMUDES

    Resposta inflamatria sistmica e alteraes no

    metabolismo lipdico em crianas e adolescentes

    gravemente doentes

    Dissertao apresentada Faculdade de

    Medicina da Universidade de So Paulo para

    obteno do ttulo de Mestre em Cincias

    Programa de Pediatria

    Orientador: Prof. Dr. Artur Figueiredo Delgado

    SO PAULO 2014

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Preparada pela Biblioteca da

    Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    reproduo autorizada pelo autor

    Bermudes, Ana Carolina Gouva

    Resposta inflamatria sistmica e alteraes no metabolismo lipdico em

    crianas e adolescentes gravemente doentes / Ana Carolina Gouva Bermudes. --

    So Paulo, 2014.

    Dissertao(mestrado)--Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo.

    Programa de Pediatria.

    Orientador: Artur Figueiredo Delgado.

    Descritores: 1.Metabolismo dos lipdeos 2.Unidades de terapia intensiva

    peditrica 3.Sepse 4.Lipoprotenas 5.Desnutrio 6.Criana 7.Adolescente

    USP/FM/DBD-454/14

  • Epgrafe

    "Agir, eis a inteligncia verdadeira. Serei o que

    quiser. Mas tenho que querer o que for. O xito est

    em ter xito, e no em ter condies de xito.

    Condies de palcio tem qualquer terra larga, mas

    onde estar o palcio se no o fizerem ali?"

    Fernando Pessoa

  • DEDICATRIA

    Dedico este trabalho:

    Aos meus amados pais, Emilton e Maria

    Anglica, que atravs de seu amor

    incondicional sempre acreditaram nos meus

    sonhos e lutaram incansavelmente para que

    eles pudessem ser realizados.

    Ao meu esposo Hugo, que esteve presente

    ao meu lado todos esses anos e que

    pacientemente compreendeu e apoiou,

    incondicionalmente, esta jornada tornando-a

    mais branda.

  • AGRADECIMENTOS

    Deus, que por sua bondade infinita guia-me pelos caminhos do

    bem, d-me fora para superar as dificuldades e sabedoria para enfrentar os

    problemas.

    Ao Professor Dr. Werther Brunow de Carvalho, Professor Titular da

    Terapia Intensiva/Neonatologia do Instituto da Criana, por seu exemplo de

    dedicao Medicina.

    Ao Dr. Artur Figueiredo Delgado, pelo incentivo, pacincia e carinho

    durante a orientao desta tese, pelos anos de convivncia que me fizeram

    aumentar-lhe a estima e a admirao.

    Ao Dr. Mrio Ccero Falco, Dra. Maria Esther Ceccon e Dr. Heitor

    Pons Leite, pelas sugestes e troca de conhecimentos oferecidos durante a

    banca de qualificao.

    Ao Professor Dr. Raul Cavalcante Maranho, responsvel pelo

    Laboratrio de Metabolismo de Lpides do Instituto do Corao (InCor) do

    Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da USP, pelas orientaes

    no desenho do estudo e anlise dos dados.

    assistente do Pronto Socorro do Hospital Universitrio da

    Universidade de So Paulo, Dra. Giovana Muramoto, pelo importante auxlio

    na realizao deste estudo.

    s mdicas preceptoras da UTI peditrica, Aline Menezes e Juliana

    Ferreira Ferranti, pelo convvio, amizade, carinho e incentivo.

    Ao meu querido irmo, que mesmo longe sempre apoiou e incentivou

    com todo amor e compreenso minhas decises.

  • minha famlia, que sempre acreditou em mim.

    nutricionista Patrcia Zamberlam, pela inestimvel ajuda fundamental

    para a realizao deste trabalho.

    secretria da ps-graduao do Departamento de Pediatria, Mnica

    Souza, pelo auxlio em manter os prazos e a burocracia institucional em

    ordem.

    bibliotecria Mariza Kazue, pelo auxlio bibliogrfico.

    A todos os pacientes e seus responsveis, que despojados de

    qualquer outro interesse, seno o de contribuir com os avanos mdicos

    participaram deste estudo.

    E a todos que, de alguma forma, contriburam para a realizao deste

    sonho.

  • Esta dissertao est de acordo com as seguintes normas, em vigor no momento desta publicao:

    Referncias: adaptado de International Committee of Medical Journals Editors (Vancouver).

    Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina. Servio de Biblioteca e Documentao.

    Guia de apresentao de dissertaes, teses e monografias.

    Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi, Maria F. Crestana,

    Marinalva de Souza Arago, Suely Campos Cardoso, Valria Vilhena. 3a

    ed. So Paulo: Diviso

    de Biblioteca e Documentaes; 2011.

    Abreviatura dos ttulos dos peridicos de acordo com List of Journals Indexed in Index Medicus.

  • SUMRIO

    Lista de abreviaturas e siglas Lista de figuras Lista de quadros Lista de tabelas Lista de grficos Resumo Abstract

    1 INTRODUO ............................................................................................... 1 1.1 Impacto da Subnutrio no Paciente Gravemente Doente ..................... 2 1.2 Lipdeos .................................................................................................. 5 1.3 Lipoprotenas .......................................................................................... 8 1.3.1 Quilomicrons ...................................................................................... 9 1.3.2 Lipoprotena de muito baixa densidade ............................................ 11 1.3.3 Lipoprotena de densidade intermediria ......................................... 12 1.3.4 Lipoprotena de baixa densidade ..................................................... 13 1.3.5 Lipoprotena de alta densidade ........................................................ 14 1.4 Papel das Lipoprotenas e Resposta Inflamatria Sistmica ................ 18 1.5 Alteraes do metabolismo lipdico na criana e adolescente

    gravemente doentes ............................................................................. 22 1.6 Mudanas Proaterognicas dos Lipdeos e Lipoprotenas

    Durante Infeco e Inflamao ............................................................. 27 1.7 Lipoprotenas como Biomarcadores nos Pacientes Gravemente

    Doentes ................................................................................................ 30 1.8 Justificativa ........................................................................................... 31 1.9 Hiptese ............................................................................................... 32

    2 OBJETIVOS ................................................................................................ 33 2.1 Principal ................................................................................................ 34 2.2 Secundrios ......................................................................................... 34

    3 MTODOS ................................................................................................. 35 3.1 Populao ............................................................................................ 36 3.2 Critrios de Incluso ............................................................................. 36 3.3 Critrios de excluso ............................................................................ 38 3.4 Clculo e Seleo da Amostra ............................................................. 38 3.5 Desenho do Estudo .............................................................................. 39 3.6 Anlise Estatstica ................................................................................ 47

    4 RESULTADOS ............................................................................................. 48

  • 5 DISCUSSO ............................................................................................... 62 5.1 Subnutrio nas Crianas e Adolescentes Gravemente Doentes ........ 63 5.2 Alteraes do Perfil Lipdico Admisso na UTI .................................. 67 5.3 Avaliao do Perfil Lipdico Durante a Internao (1 e 7 dias

    de estudo) na UTI ................................................................................. 71 5.4 Hipocolesterolemia e Baixas Concentraes de HDL como

    Marcadores Prognsticos na Sepse ..................................................... 75 5.5 HDL e apo A1 - Novos Agentes Teraputicos na Sepse? .................... 76

    6 CONCLUSES ............................................................................................ 78

    7 ANEXOS .................................................................................................... 81

    8 REFERNCIAS ............................................................................................ 94

    APNDICES ................................................................................................... 109

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABCA1 - ATP binding cassette A1 transporter

    AG - cidos graxos

    ALT - cido lipoteicico

    apo - Apolipoprotena

    CAPPesq - Comisso de tica para Anlise de Projetos de Pesquisa

    CETP - Protena transferidora de ster de colesterol

    CT - Colesterol total

    FAP-AH - Fator ativador de plaqueta acetil hidrolase

    HDL - Lipoprotena de alta densidade

    HU-USP - Hospital Universitrio da Universidade de So Paulo

    ICr - Instituto da Criana

    IDL - Lipoprotena de densidade intermediria

    IL - Interleucina

    LBP - Protena ligadora de lipopolissacardeo

    LCAT - Lecitina colesterol acetiltransferase

    LDL - Lipoprotena de baixa densidade

    LH - Lipase heptica

    LPS - Lipopolissacardeo

    OMS - Organizao Mundial de Sade

    PCR - Protena C reativa

    PLTP - Protena transferidora de fosfolpides

    PON - Enzimas paraoxonase

    PRISM - Pediatric Risk of Mortality

    PS - Pronto socorro

    SAA - Protena amiloide srico A

    SCB - Sociedade Brasileira de Cardiologia

    SIRS - Sndrome da resposta inflamatria sistmica

  • SR-BI - Scavenger receptor class B

    TG - Triglicerdeo

    TNF - Fator de necrose tumoral

    UTI - Unidade de terapia intensiva

    VLDL - Lipoprotena de muito baixa densidade

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Transporte e metabolismo exgeno dos lipdeos....................... 10

    Figura 2 - Estrutura e composio da VLDL .............................................. 12

    Figura 3 - Estrutura e composio da LDL ................................................. 14

    Figura 4 - Estrutura e composio da HDL ................................................ 15

    Figura 5 - Ativao da cascata inflamatria mediada pelo lipopolissacardeo ...................................................................... 21

    Figura 6 - Alteraes do perfil lipdico durante a sndrome da resposta inflamatria sistmica .................................................. 27

    Figura 7 - Fluxograma do estudo ............................................................... 46

    Figura 8 - Seleo da amostra dos pacientes internados na UTI ............... 49

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Mtodos, reagentes e analisadores utilizados para o processamento do colesterol total, HDL, LDL, TG e apolipopprotenas ...................................................................... 41

    Quadro 2 - Mtodos utilizados no Instituto da Criana para processamento dos exames ........................................................ 41

    Quadro 3 - Classificao nutricional pelo clculo do escore Z segundo curvas de crescimento e desenvolvimento da OMS (2006/2007) ................................................................................ 43

    Quadro 4 - Valores de referncia da dosagem de lipdeos em crianas entre 2 a 19 anos de idade segundo a V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Preveno da Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) ............................. 45

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Classificao do estado nutricional e resultado do teste comparativo entre o primeiro e stimo dias de internao na UTI ........................................................................................ 51

    Tabela 2 - Comparao da idade, gnero, perfil lipdico e PCR segundo grupos de pacientes (UTI e PS) no primeiro dia de avaliao (primeiras 24h) ...................................................... 52

    Tabela 3 - Anlise comparativa dos valores das medidas antropomtricas, lipdeos, apolipoprotenas, PCR, albumina, leuccitos e linfcitos analisados no 1 e 7 dias de estudo nos pacientes internados na UTI ....................... 57

    Tabela 4 - Resultado das correlaes entre apolipoprotenas, lipoprotenas, albumina, leuccitos e linfcitos no 1 dia de estudo na UTI com a PCR, escore de gravidade PRISM, idade e classificao nutricional ................................... 59

    Tabela 5 - Anlise de regresso linear entre as variveis do perfil lipdico, leuccitos e linfcitos em relao ao aumento da PCR ........................................................................................... 60

    Tabela 6 - Resultado das correlaes das alteraes do perfil lipdico durante o primeiro e stimo dias de estudo em relao s variveis PCR, peso, albumina, leuccitos e linfcitos ..................................................................................... 61

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 - Comparao dos valores de colesterol total no 1 dia de avaliao entre o grupo estudo (UTI) e grupo controle (PS) ............................................................................ 53

    Grfico 2 - Comparao dos valores de triglicerdeos no 1 dia de avaliao entre o grupo estudo (UTI) e grupo controle (PS).......................................................................................... 53

    Grfico 3 - Comparao dos valores de HDL no 1 dia de avaliao entre o grupo estudo (UTI) e grupo controle (PS).......................................................................................... 54

    Grfico 4 - Comparao dos valores de LDL no 1 dia de avaliao entre o grupo estudo (UTI) e grupo controle (PS) .................... 54

    Grfico 5 - Comparao dos valores de albumina no 1 dia de avaliao entre o grupo estudo (UTI) e grupo controle (PS).......................................................................................... 55

  • RESUMO

    Bermudes ACG. Resposta inflamatria sistmica e alteraes no

    metabolismo lipdico em crianas e adolescentes gravemente doentes

    [dissertao]. So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de So

    Paulo; 2014.

    Introduo: Durante a sndrome da resposta inflamatria sistmica

    acontecem importantes alteraes no metabolismo lipdico. Estas alteraes

    so descritas nos pacientes adultos com sepse grave, porm o perfil lipdico

    no paciente peditrico gravemente doente pouco conhecido. Alm disso,

    nos pacientes gravemente doentes baixas concentraes de colesterol

    foram associadas a maior gravidade da doena e aumento na mortalidade.

    Objetivos: Avaliar a relao entre a intensidade da reposta inflamatria e

    alteraes no perfil lipdico em crianas e adolescentes gravemente doentes

    admisso na UTI e se estas alteraes se atenuam medida que h

    resoluo do processo inflamatrio. Mtodos: Analisamos o perfil lipdico de

    40 pacientes com SIRS/sepse admitidos numa UTI Peditrica de nvel I. A

    Protena C Reativa (PCR) foi utilizada para caracterizar resposta

    inflamatria. Mensuramos os nveis sricos de triglicerdeos (TG), colesterol

    total (CT), lipoprotena de alta densidade (HDL), lipoprotena de baixa

    densidade (LDL) e apolipoprotenas admisso e no stimo dia de

    internao. Utilizamos um grupo controle de 42 pacientes peditricos

    avaliados no pronto socorro que no apresentavam sinais de sepse. Foi

    utilizado o Pediatric Risk of Mortality Score nos pacientes admitidos na UTI e

    realizada avaliao nutricional nos dois grupos. Resultados: As

    concentraes de PCR apresentaram-se bastante elevadas no 1 dia do

    estudo e tiveram uma reduo significativa durante a evoluo. Os pacientes

    internados na UTI tiveram nveis significativamente mais baixos de CT, HDL,

    LDL bem como concentraes mais altas de TG em comparao ao grupo

  • controle. Houve um aumento significativo nos nveis de CT, HDL, LDL e

    apolipoprotenas entre o primeiro e stimo dias de estudo. No houve

    relao entre a classificao nutricional e as concentraes de lipoprotenas.

    Concluso: Durante a resposta inflamatria encontramos nveis sricos

    mais baixos de lipdeos e apolipoprotenas com associao inversa em

    relao s concentraes de PCR. medida que houve resoluo da

    resposta inflamatria os nveis de CT, HDL, LDL e apolipoprotenas

    aumentaram mostrando relao direta entre as alteraes no perfil lipdico e

    a inflamao. As alteraes no perfil lipdico no se associaram ao estado

    nutricional.

    Descritores: Metabolismo dos lipdeos. Unidades de Terapia Intensiva

    Peditrica. Sepse. Lipoprotenas. Desnutrio. Criana.

    Adolescente.

  • ABSTRACT

    Bermudes ACG. Systemic inflammatory response and changes in lipid

    metabolism in critically ill children and adolescents [dissertation]. So Paulo:

    Faculdade de Medicina, Universidade de So Paulo; 2014.

    Introduction: During the course of systemic inflammatory response

    syndrome, there are important changes in lipid metabolism. These changes

    are described in adult patients with severe sepsis, but little is known about

    lipid profile in critically ill pediatric patients. Furthermore, in critically ill

    patients low cholesterol levels were shown to be correlated with the severity

    of disease and associated with higher mortality rates. Purpose: To evaluate

    the relationship among the intensity of the inflammatory response and

    changes in lipid profile in critically ill children and adolescents on admission

    to the PICU and whether these changes are attenuated as there is resolution

    of the inflammatory process. Materials and Methods: We analyzed the

    serum lipid in 40 patients with SIRS/sepsis admitted to the level I pediatric

    ICU. The C-reactive protein (CRP) was used to characterize the inflammatory

    response. We measured serum levels of triglyceride (TG), total cholesterol

    (TC), high density lipoprotein (HDL), low density lipoprotein (LDL) and

    apolipoprotein on admission and on the seventh day of hospitalization. We

    used a control group of 42 pediatric patients seen in emergency department

    without sepsis. Severity of disease was evaluated with Pediatric Risk of

    mortality score (PRISM) on admission and nutrition classification was

    performed in all patients. Results: CRP concentrations were very high on the

    first day of the study and had a significant reduction during evolution. On

    admission to the PICU, patients had significantly lower levels of TC, HDL,

    LDL as well as higher concentrations of TG in comparison with control group.

    There was a significant increase in the TC, HDL, LDL and apolipoprotein

    levels between the first and seventh days of the study. There was no

  • relationship between the nutritional classification and lipoproteins levels.

    Conclusions: During the systemic inflammatory response we found lower

    serum levels of lipids and apolipoproteins with negative correlation in relation

    to CRP. As improvement in the inflammatory response, the levels of CT,

    HDL, LDL and apolipoprotein increased showing a direct relationship among

    changes in lipid profile and inflammation. Changes in lipid profile were not

    associated with nutritional status.

    Descriptors: Lipid metabolism. Intensive Care Units, Pediatric. Sepsis.

    Lipoproteins. Malnutrition. Child. Adolescent.

  • 1 INTRODUO

  • INTRODUO - 2

    1.1 Impacto da Subnutrio no Paciente Gravemente Doente

    Muitos pacientes gravemente doentes admitidos na Unidade de

    Terapia Intensiva (UTI) apresentam balano energtico negativo durante os

    primeiros trs a quatro dias de internao, com potencial risco de

    deteriorao. A sndrome da resposta inflamatria sistmica (SRIS),

    frequentemente presente nestes pacientes, causa uma desregulao

    metablica que leva liberao de catecolaminas e citocinas com acentuado

    hipercatabolismo, protelise muscular e liplise, resultando em adicional

    subnutrio hospitalar (Delgado et al., 2000; Calder et al., 2010; Delgado et

    al., 2008).

    A subnutrio existente antes da admisso hospitalar piora o

    prognstico nas crianas gravemente doentes, alm disso, a presena de

    doenas graves tambm causa repercusses importantes no estado

    nutricional destes pacientes (Briassoulis et al., 2010). Vrios estudos

    demonstraram que a subnutrio aguda afeta 6% a 41% das crianas

    durante a internao hospitalar (Rocha et al., 2006; Joosten e Hulst, 2008),

    enquanto que a incidncia de subnutrio nas crianas e adolescentes

    gravemente doentes admitidas em UTI varia de 25% a 70% (Hulst et al.,

    2004; Botrn et al.,2011; Zamberlan et al., 2011). Hulst et al. (2004)

    avaliaram que o perodo de doena antes da admisso e ou a presena de

  • INTRODUO - 3

    doena de base poderia explicar 24% de incidncia de sinais de subnutrio

    aguda e ou crnica no momento da admisso hospitalar. Delgado et al.

    (2008), em um estudo retrospectivo envolvendo 1.077 crianas e

    adolescentes, mostraram uma alta prevalncia de subnutrio moderada

    e/ou grave admisso em UTI. Em outro estudo, Botrn et al. (2011)

    observaram que de 40% a 70% dos pacientes peditricos gravemente

    doentes apresentaram algum grau de subnutrio o que prejudica a resposta

    imune, aumenta a susceptibilidade s infeces e o incio da disfuno

    orgnica levando a um aumento substancial da mortalidade.

    A subnutrio pode se desenvolver durante internao na UTI e

    associada com aumento da morbidade e mortalidade. Sua prevalncia

    maior nas crianas abaixo de dois anos, nas que apresentam tempo de

    internao hospitalar prolongado e nas que requerem ventilao mecnica

    pulmonar (Zamberlan et al.,2011). Existem vrios fatores que contribuem para

    o incio da subnutrio ou deteriorao do estado nutricional nas crianas

    admitidas nas UTIs peditricas. Nas crianas gravemente doentes, ocorrem

    alteraes metablicas complexas no intuito de mobilizar substratos

    necessrios para a defesa do organismo. Estas mudanas levam a

    subnutrio energtico-proteica caracterizada pela perda de protena corprea

    e do depsito de gordura (Thibault e Pichard, 2010; Prieto e Cid, 2011).

    Briassoulis et al. (2010) mostraram em seu estudo que durante a resposta ao

    estresse ocorre aumento nos mediadores inflamatrios como as interleucinas

    (IL) 6, 10 e diminuio nos marcadores nutricionais proporcionalmente a

    gravidade da doena. Na resposta metablica ao estresse a sntese heptica

  • INTRODUO - 4

    modificada com produo preferencial de glicoprotenas hepticas recm-

    sintetizadas (como a protena C reativa [PCR]) e inibio dos marcadores

    nutricionais como a albumina. As interleucinas e os triglicerdeos esto

    aumentados nos pacientes com sepse e so correlacionados positivamente

    com a gravidade da doena. Alm das alteraes metablicas, fatores

    adicionais contribuem para o dficit energtico-proteico incluindo o atraso no

    incio da alimentao e oferta inadequada de calorias/protenas que ocorrem,

    muitas vezes, por intolerncia gastrointestinal ou necessidade de restrio

    fludica (Mehta e Duggan, 2009).

    As complicaes causadas pela subnutrio nos pacientes

    gravemente doentes decorrem das alteraes das funes sistmicas que

    incluem reduo da resposta imune; atrofia e aumento da permeabilidade da

    barreira epitelial intestinal que facilita a translocao bacteriana. A

    subnutrio hospitalar tem sido correlacionada a eventos adversos como:

    aumento do tempo de ventilao mecnica, aumento no tempo de

    internao hospitalar e durao da antibioticoterapia mais prolongada

    (Briassoulis et al., 2001; de Souza Menezes et al.,2011; Tappenden et al.,

    2013). Estes eventos levam a um aumento na taxa de mortalidade, tornando

    prioritria a introduo precoce da terapia nutricional (Delgado et al., 2000 e

    2008; Calder et al., 2010; Tappenden et al., 2013).

  • INTRODUO - 5

    1.2 Lipdeos

    Os lipdeos compreendem um grupo heterogneo de substncias que se

    encontram presentes nos alimentos de origem vegetal e animal (Lpori, 2003).

    Apesar de quimicamente diferentes entre si, exibem, como caractersticas

    definidoras e comuns, insolubilidade em gua (Nelson e Cox, 2002a). As

    funes biolgicas dos lipdeos so to diversas quanto sua estrutura qumica.

    Alguns lipdeos servem como componentes estruturais de membranas

    biolgicas como os fosfolipdeos e esteris ou como forma de armazenamento

    de combustveis, os quais so derivados dos cidos graxos (AG) (Nelson e

    Cox, 2002a; Guyton e Hall, 2002). Outros lipdeos, mesmo quando presentes

    em quantidades relativamente pequenas tm papis cruciais como pigmentos

    (retinol, caroteno), cofatores enzimticos (vitamina K), detergentes (sais

    biliares), transportadores (dolicis), hormnios (derivados da vitamina D,

    hormnios sexuais), mensageiros intra e extracelulares (eicosanoides e

    derivados do inositol) e, ainda, funcionam como ncoras para as protenas de

    membranas biolgicas (Nelson e Cox, 2002a).

    Os cidos graxos so cidos carboxlicos derivados dos hidrocarbonetos

    e os de ocorrncia mais frequente tm de 12 a 24 tomos de carbono em uma

    cadeia no ramificada (Nelson e Cox, 2002a). Podem ser classificados como

    saturados (no contm duplas ligaes), monossaturados e polinsaturados

    dependendo do nmero de duplas ligaes entre os tomos de carbono

    (Lpori, 2003). As propriedades fsicas dos cidos graxos e dos compostos que

    os contm so principalmente determinadas pelo comprimento e pelo grau de

    insaturao da cadeia de hidrocarboneto (Nelson e Cox, 2002a). Os lipdeos

  • INTRODUO - 6

    mais simples, construdos a partir de AG, so os triglicerdeos (TG). Estes so

    compostos de trs AG, cada um em ligao ster com o mesmo glicerol e so

    classificados como simples quando contm o mesmo tipo de AG nas trs

    posies ou mistos quando contm dois ou mais tipos de AG. A maior parte dos

    AG sintetizados ou ingeridos por um organismo tem um dos seguintes destinos:

    incorporao em triglicerdeos para armazenamento de energia metablica ou

    incorporao em fosfolipdeos componentes de membranas biolgicas

    (Nelson e Cox, 2002a; Guyton e Hall, 2002).

    A caracterstica central na arquitetura de membranas biolgicas a

    camada dupla de lipdeos, a qual age como uma barreira impedindo a

    passagem de molculas polares e ons (Nelson e Cox, 2002a). Os lipdeos

    da membrana so anfipticos, ou seja, um dos lados da molcula

    hidrofbico, o outro hidroflico. Os trs principais lipdeos de membrana so:

    glicerofosfolipdeos, nos quais as regies hidrofbicas so compostas por

    dois AG ligados a um glicerol; esfingolipdeos, nos quais um nico AG est

    ligado a uma amina graxa (esfingosina); e esteris, compostos

    caracterizados por um sistema rgido de quatro anis hidrocarbnicos

    fundidos (Nelson e Cox, 2002a; Guyton e Hall, 2002).

    O colesterol o esterol mais importante e est presente na maioria das

    membranas celulares nos tecidos animais. um lipdeo essencial para a

    sntese de membranas biolgicas, produo de hormnios esteroides e como

    precursor da vitamina D (Guyton e Hall, 2002). Em humanos, a maior parte da

    sntese do colesterol ocorre no fgado. Sua estrutura molecular composta de

    27 tomos de carbono e tem como o precursor o acetato (Nelson e Cox,

  • INTRODUO - 7

    2002a). Uma pequena frao do colesterol sintetizado no fgado incorporada

    nas membranas dos hepatcitos, mas a maior parte dele exportada em uma

    das trs formas: colesterol biliar, cidos biliares e steres do colesterol. Os

    cidos biliares e seus sais so derivados do colesterol relativamente

    hidroflico, so sintetizados no fgado e ajudam na digesto dos lipdeos. Os

    steres do colesterol so formados no fgado por meio da ao da enzima

    acil-CoA-colesterol acetiltransferase. Esta enzima catalisa a transferncia de

    um AG da coenzima A para o grupo hidroxila do colesterol, convertendo o

    colesterol numa substncia mais hidrofbica para ser transportado e

    armazenado (Nelson e Cox, 2002a e Guyton e Hall, 2002).

    A maior parte das gorduras da dieta so os triglicerdeos de origem

    vegetal e animal, o restante so steres de colesterol, fosfolipdeos e vitaminas

    lipossolveis. Os lipdeos permanecem em torno de trs horas no estmago

    quando a enzima lipase (lingual e gstrica) comea a hidrlise dos

    triglicerdeos. O principal local de digesto o intestino delgado onde os

    triglicerdeos so emulsificados pelos movimentos peristlticos e os sais biliares

    estabilizam a emulso formando uma micela. Assim, as micelas so

    degradadas pela lipase pancretica que hidrolisa os triglicerdeos, liberando

    cidos graxos. Outra enzima pancretica, fosfolipase A2, hidrolisa os

    fosfolipdeos com liberao de cidos graxos bem como, a enzima colesterol

    estearase que degrada os steres de colesterol formando o colesterol livre e os

    cidos graxos. Os cidos graxos com menos de 10 carbonos passam

    diretamente do lmen intestinal para os capilares da veia porta. Os cidos

    graxos de cadeias maiores atravessam as microvilosidades do entercito a

  • INTRODUO - 8

    favor de gradiente (Lpori, 2003). Dentro dos entercitos, a lipase intracelular

    completa a hidrlise dos produtos que no foram totalmente degradados. Uma

    vez absorvidos pelos entercitos, os produtos da degradao dos lipdeos da

    dieta so utilizados para ressintetizar triglicerdeos, fosfolipdeos e steres de

    colesterol no retculo endoplasmtico (Guyton e Hall, 2002; Lpori, 2003).

    1.3 Lipoprotenas

    O colesterol, ster de colesterol, triglicerdeo e fosfolipdeo so

    essencialmente insolveis em gua e precisam ser transportados do tecido

    de origem para os tecidos nos quais sero armazenados ou consumidos

    (Nelson e Cox, 2002b). Eles so transportados na forma de lipoprotenas

    plasmticas que so complexos macromoleculares sintetizados no fgado e

    intestino delgado, apresentando uma estrutura bsica esfrica com um

    centro hidrofbico formado por lipdeos neutros (ster de colesterol e

    triglicerdeo) e uma superfcie hidroflica rica em fosfolipdeo, colesterol livre

    e protenas de superfcie que solubilizam o centro lipdico hidrofbico (Rader,

    2006; Hoofnagle e Heinecke, 2009).

    Suas protenas de superfcie, apolipoprotenas (apo), alm do transporte

    dirigindo as lipoprotenas para tecidos especficos, desempenham funes

    metablicas importantes como a ativao de enzimas e a interao das

    lipoprotenas com seus receptores nas superfcies celulares. O metabolismo de

    cada classe de lipoprotena ditado pela sua maior protena estrutural (Rader,

    2006; Hoofnagle e Heinecke, 2009). Diferentes combinaes de lipdeos e

    protenas produzem partculas com densidades diferentes. As lipoprotenas so

  • INTRODUO - 9

    classificadas em cinco grupos de acordo com sua densidade: quilomicrons,

    lipoprotena de densidade muito baixa (VLDL), lipoprotena de densidade

    intermediria (IDL), lipoprotena de baixa densidade (LDL) e lipoprotena de alta

    densidade (HDL) (Guyton e Hall, 2002; Murch et al., 2006). Cada classe de

    lipoprotena tem sua funo especfica, determinada por seu lugar de sntese,

    composio lipdica e contedo de apolipoprotena. Pelo menos nove

    apolipoprotenas diferentes so encontradas entre as lipoprotenas do plasma

    humano (Nelson e Cox, 2002b).

    1.3.1 Quilomicrons

    Os quilomicrons so as lipoprotenas encarregadas de transportar os

    lipdeos exgenos. So as maiores lipoprotenas (> 100 nm) e as de menor

    densidade (< 0,96 g/mL), sendo compostos por 90% de triglicerdeos de

    origem exgena, 10% de fosfolipdeos e colesterol (Lpori, 2003). So

    sintetizados no retculo endoplasmtico das clulas epiteliais que recobrem a

    superfcie interna do intestino delgado e, ento, so transportadas atravs

    do sistema linftico e entram na corrente sangunea atravs da veia

    subclvia (Nelson e Cox, 2002). Quando os quilimicrons so despejados na

    corrente sangunea, comeam a interagir com outras lipoprotenas e seus

    lipdeos so substratos de diferentes sistemas enzimticos que degradam

    90% dos triglicerdeos transportados (Lpori, 2003).

    As apolipoprotenas dos quilomcrons incluem a apo B-48, apo E e

    apo C II. A apo C II ativa a lipase lipoprotica nos capilares do tecido

    adiposo, tecido cardaco, msculo esqueltico e glndula mamria em

  • INTRODUO - 10

    lactao, permitindo a liberao de AG livres para estes tecidos. Dessa

    forma, os quilomcrons transportam os AG obtidos na dieta para os tecidos

    em que sero consumidos ou armazenados como combustveis (Nelson e

    Cox, 2002; Guyton e Hall, 2002). Os remanescentes dos quilomcrons,

    privados da maior parte dos seus TG, mas ainda contendo colesterol, apo E

    e apo B-48, movem-se atravs da corrente sangunea at o fgado. Existem,

    no fgado, receptores que se ligam apo E dos remanescentes de

    quilomcrons e promovem sua absoro por endocitose, assim, liberam

    colesterol e so degradados nos lisossomos (Nelson e Cox, 2002).

    Figura 1 - Transporte e metabolismo exgeno dos lipdeos [Fonte: Lpori (2003)]

  • INTRODUO - 11

    1.3.2 Lipoprotena de muito baixa densidade

    Quando a dieta contm mais AG que a quantidade imediatamente

    necessria para ser utilizada como combustvel, estes so convertidos em

    TG no fgado para formar VLDL. Os carboidratos que chegam em excesso

    pela dieta tambm podem ser convertidos em TG no fgado e exportados

    como VLDL (Nelson e Cox, 2002). A VLDL apresenta dimetro de 30 nm a

    100 nm e sua densidade oscila em torno de 0,96 g/mL a 1,006 g/mL.

    Contm de 50% a 65% de triglicerdeos de origem endgena, 20% de

    colesterol e o restante so fosfolipdeos, bem como apo B-100, apo C-I, apo

    C-II, apo C-III e apo E (Lpori, 2003). Estas lipoprotenas so transportadas

    do fgado para os msculos e tecido adiposo, onde a ativao da lipase

    lipoprotica endotelial pela apo C-II provoca a liberao de AG livres a partir

    de seus TG. Os adipcitos captam estes AG, ressintetizam os TG a partir

    deles e armazenam os produtos em gotculas lipdicas intracelulares; j os

    micitos empregam estes AG na produo de energia por oxidao. A maior

    parte dos remanescentes de VLDL retirada da circulao pelos

    hepatcitos. Assim como os quilomcrons, esta captao depende da

    mediao de receptores e da presena de apo E nos remanescentes de

    VLDL (Nelson e Cox, 2002).

  • INTRODUO - 12

    Figura 2 - Estrutura e composio da VLDL [Fonte: Lpori (2003)]

    1.3.3 Lipoprotena de densidade intermediria

    A hidrlise dos triglicerdeos da VLDL pela lipoprotena lipase

    endotelial e a transferncia de ster de colesterol da HDL, a converte em

    remanescentes de VLDL tambm chamada de IDL. As IDL apresentam

    densidade de 1,006 g/mL a 1,009 g/mL e transportam 45% de colesterol e

    35% de triglicerdeos. Suas apoliprotenas so apo B e pequenas

    quantidades de apo C e E (Lpori, 2003). A IDL pode ter dois destinos

    metablicos: ser captada por receptores hepticos ou converter-se a LDL

    (Nelson e Cox, 2002).

  • INTRODUO - 13

    1.3.4 Lipoprotena de baixa densidade

    A LDL surge do catabolismo da IDL no plasma aps remoo de

    quase todos os TG (Guyton e Hall, 2002). So menores e apresentam

    densidade entre 1,019 g/mL a 1,063 g/mL. Estas lipoprotenas so muito

    ricas em colesterol, steres de colesterol, fosfolipdeos e contm apo B-100

    como sua principal apolipoprotena (Lpori, 2003). A LDL tem a funo de

    transportar o colesterol para os tecidos perifricos (outros tecidos que no

    fgado). Estes tecidos possuem protenas receptoras de superfcie

    especficas (receptores de LDL) que reconhecem a apo B-100 da LDL e

    intermedeiam a captao do colesterol e dos steres de colesterol a partir

    desta partcula. A ligao de LDL em um receptor de LDL inicia o processo

    de endocitose, o que leva a LDL e seu receptor associado para o interior da

    clula o qual contm enzimas que hidrolisam os steres de colesterol

    liberando o colesterol e cidos graxos. A apo B-100 tambm degradada

    em aminocidos, porm o receptor da LDL escapa da degradao e retorna

    para a superfcie celular onde pode funcionar novamente na captao de

    outra partcula (Nelson e Cox, 2002). O receptor de LDL no fgado, tambm

    se liga a apo E e desempenha um papel importante na captao heptica

    dos remanescentes dos quilomcrons e VLDL. Em altas concentraes

    sricas, a LDL tambm responsvel pelo acmulo de lipdeos nos

    macrfagos endoteliais levando a formao das clulas espumosas com

    consequente aparecimento de leses aterosclerticas na parede das artrias

    (Khovidhunkit et al., 2000; Guyton e Hall, 2002).

  • INTRODUO - 14

    Figura 3 - Estrutura e composio da LDL [Fonte: Lpori (2003)]

    1.3.5 Lipoprotena de alta densidade

    A HDL representa um amplo grupo de lipoprotenas plasmticas, a

    maioria em formato esferoidal, que exibem diversidades em tamanho,

    apolipoprotenas e composio lipdica. Apresenta densidade mdia entre

    1,063 g/mL a 1.21 gmL e dimetro que oscila entre 8 nm a 12 nm.

    composta por 40% de ster de colesterol, 60% de fosfolipdeos e escassos

    triglicerdeos (Lpori, 2003; Wu et al., 2004). Por ser menor que as outras

    lipoprotenas pode prontamente penetrar entre as clulas endoteliais

    permitindo altas concentraes nos fluidos teciduais (Wu et al., 2004).

    A HDL de origem heptica rica em apo E e a de origem intestinal

    rica em apo A1, a maior apolipoprotena presente na HDL e que fornece

    estabilidade estrutural a molcula esfrica (Lpori, 2003). Apolipoprotena A1

  • INTRODUO - 15

    constitui aproximadamente 70% das protenas da HDL e est presente em

    todas as suas partculas. sintetizada tanto no intestino quanto no fgado e

    em associao com fosfolipdeos e colesterol envolve um centro de ster de

    colesterol formando a lipoprotena. Alm da apo A1, o HDL tambm contm

    apo A2 e ambas so requeridas para sua biossntese normal.

    Apolipoprotena A2 constitui aproximadamente 20% das protenas da HDL,

    est presente em dois teros das partculas de HDL em humanos e

    sintetizada apenas no fgado (Rader, 2006).

    Figura 4 - Estrutura e composio da HDL [Fonte: Lpori (2003)]

    A HDL apresenta tambm, em sua superfcie, enzimas e protenas

    transferidoras que so essenciais para o transporte reverso do colesterol

    (transporte do colesterol do tecido perifrico para o fgado) como a: lecitina

    colesterol acetil transferase (LCAT), protena transferidora de ster de

  • INTRODUO - 16

    colesterol (CETP) e protena transferidora de fosfolpides (PLTP). Alm

    disso, a HDL carreia protenas antioxidantes como a paraoxonase, fator

    ativador de plaquetas acetil hidrolase (FAP-AH), protectina, transferrina e

    clusterina que servem para proteger as membranas celulares de radicais

    livres e inibir o processo oxidativo (Wu et al., 2004; Wendel et al., 2007).

    A HDL nascente, secretada pelo fgado ou intestino, no contm EC e

    apresenta formato discoide (Wu et al., 2004). Origina-se de apolipoprotenas

    livres de lipdeos ou pobres em lipdeos secretadas pelos entercitos ou

    hepatcitos e adquire a maioria de seus lipdeos nas clulas perifricas (Wu

    et al., 2004; Murch et al., 2007). Recebe os fosfolpides e colesterol de

    tecidos perifricos em um processo de lipidao promovido pela ATP binding

    cassette A1 transporter (ABCA1), protena transportadora presente nas

    clulas ricas em colesterol (Khovidhunkit et al., 2000; Murch et al., 2007;

    Contreras-Duarte et al., 2014). A apo A1 captada por estas clulas por

    endocitose e, ento, secretada com uma carga de colesterol formando a pr

    HDL discoide (Khovidhunkit et al., 2000; Nelson e Cox, 2002; Murch et al.,

    2007). A pr HDL recebe mais colesterol livre das clulas perifricas por

    mecanismo de difuso facilitada pelos receptores scavenger receptor class

    B type 1 (SR-BI), presentes nas clulas ricas em colesterol, que acionam o

    movimento passivo do colesterol da superfcie celular para a pr HDL

    (Khovidhunkit et al., 2000; Nelson e Cox, 2002; Contreras-Duarte et al.,

    2014). Este colesterol esterificado pela LCAT mantendo o gradiente de

    difuso do colesterol livre da membrana plasmtica para a HDL. Esta reao

    converte a pr HDL discoide em HDL esfrica (Khovidhunkit et al., 2000).

  • INTRODUO - 17

    A HDL remodelada pela CETP que transfere o ster de colesterol

    da HDL para outras lipoprotinas; e pela lipoprotena lipase que hidrolisa o

    triglicerdeo da HDL em um processo que reduz o tamanho da partcula e

    que leva a dissociao da pr HDL e apo A1 pobre em lipdeos

    (Khovidhunkit et al., 2000). A pr HDL e apo A1 pobre em lipdeos,

    tambm so geradas como produto do remodelamento da HDL pela PLTP

    que medeia troca de fosfolipdeo e colesterol entre as lipoprotenas ricas

    em TG e HDL (Wu et al., 2004).

    O maior local de captao da HDL o fgado e o melhor mecanismo

    entendido para a captao direta da HDL pelo fgado mediado pelos

    receptores SR-BI que tambm esto presentes nos tecidos hepticos e

    promovem a captao do colesterol e outros lipdeos da HDL sem mediar

    degradao das apolipoprotenas, um processo conhecido como captao

    seletiva. A partcula de HDL sem esses lipdeos se dissocia para recircular

    na corrente sangunea e extrair mais lipdeos dos remanescentes dos

    quilomcrons, das VLDL e dos tecidos extra-hepticos (Rader, 2006). Os

    lipdeos transportados dos tecidos perifricos pela HDL so

    subsequentemente secretados pela bile (Wu et al., 2004; Murch et al., 2007).

    As funes da HDL so mediadas por suas apolipoprotenas, enzimas

    e protenas transferidoras associadas. Uma das principais funes da HDL

    seu efeito antiaterognico, pois protege a LDL contra as modificaes

    oxidativas e medeia a remoo do colesterol das clulas espumosas por

    transportar este colesterol de volta para o fgado para metabolismo e/ou

    excreo atravs do transporte reverso de colesterol (Khovidhunkit et al.,

  • INTRODUO - 18

    2000). Alm disso, pesquisas recentes tm revelado que a HDL apresenta

    muitos mecanismos imunomodulatrios como: atenuao na expresso de

    molculas de adeso (VCAM-1, ICAM-1 e E-selectina) prevenindo a adeso

    de neutrfilos, transmigrao destas clulas e infiltrado inflamatrio;

    aumento da expresso do xido ntrico endotelial que leva a reduo da

    adeso dos moncitos e plaquetas ao endotlio diminuindo a leso tecidual

    e atividade antioxidante atravs das enzimas paraoxonase (PON) e FAP-AH

    que protegem as outras lipoprotenas contra oxidao (Wu et al., 2004;

    Contretas-Duarte et al., 2014).

    1.4 Papel das Lipoprotenas e Resposta Inflamatria Sistmica

    Vrios estudos recentes mostraram que todas as classes de

    lipoprotenas exercem aes anti-inflamatrias diretas por inibirem a

    expresso de molculas de adeso e citocinas pro-inflamatrias, por

    estimularem a liberao de xido ntrico endotelial e por aumentarem a

    atividade e expresso de protenas e enzimas anti-inflamatrias, bem como

    so responsveis pela ligao e neutralizao dos componentes externos da

    parede das clulas bacterianas (Wu et al., 2004; Berbe et al., 2006; Murch

    et al., 2007; Wendel et al., 2007).

    A capacidade das lipoprotenas em se ligarem e inativarem as

    endotoxinas modulada por suas apolipoprotenas (Wu et al., 2004). Tanto

    a apo A1 presente no HDL, apo B presente no LDL e apo E presente no

    VLDL, IDL e HDL so capazes de diretamente inativar a endotoxina

    diminuindo a liberao das citocinas (Fraunberger et al., 1999; Wu et al.,

  • INTRODUO - 19

    2004). Emancipator et al. (1992) mostraram que tanto apo B quando apo A1

    so capazes de se ligarem e neutralizarem os lipopolissacardeos (LPS). De

    Bont et al. (1999) mostraram em um estudo realizado em ratos deficientes

    de apo E que estes so mais susceptveis a endotoxemia e infeco por

    Klebsiella pneumoniae em relao ao grupo controle. Em outro estudo

    realizado em ratos, Van Oosten et al. (2001) mostraram que a administrao

    exgena de apo E em ratos deficientes desta apolipoprotena diminuiu a

    produo de citocinas inflamatrias induzidas pelo LPS havendo uma

    reduo significativa da mortalidade.

    O lipopolissacardeo, componente da membrana externa das

    bactrias GRAM negativas, o maior fator patognico na sepse causado por

    este grupo de bactrias. As bactrias GRAM positivas tambm liberam

    molculas citotxicas, incluindo endotoxinas, peptideoglicanos e cido

    lipoteicico (ALT) (Zhang et al., 2009). Estes fatores se ligam aos receptores

    das clulas alvo (macrfagos, moncitos e neutrfilos) e ativam a cascata

    inflamatria. Vrios estudos experimentais mostraram que o LPS e ALT se

    ligam e so neutralizados pelas lipoprotenas e esta ligao facilitada por

    protenas especficas transferidoras de lipdeos que incluem a protena

    ligadora do LPS (LBP), CEPT e PLTP (Wu et al., 2004; Murch et al., 2007;

    Contreras-Duarte et al., 2014). A LBP tem importncia crucial na interao

    destas endotoxinas com vrios sistemas imunes do hospedeiro. uma

    glicoprotena reagente de fase aguda que forma complexo de alta afinidade

    com o LPS e seu nvel srico aumenta at cem vezes durante a resposta

    inflamatria sistmica (Wu et al., 2004). A LBP circula no plasma associado

  • INTRODUO - 20

    s lipoprotenas, modula a ligao do LPS a estas lipoprotenas e age como

    cofator na neutralizao do LPS e outras endotoxinas por redirecion-las

    para as clulas parenquimatosas hepticas que sero subsequentemente

    secretadas na bile onde so inativadas (Contreras-Duarte et al., 2014).

    Consequentemente, os macrfagos se tornam menos ativados o que resulta

    numa reduo da produo e liberao de mediadores pr-inflamatrios (de

    Bont et al., 1999; Van Oosten et al., 2001; Contreras-Duarte et al., 2014).

    Wurfel et al. (1994) e Levels et al., (2001) mostraram que a maioria da LBP

    associada s lipoprotenas contendo apo A1 o que pode explicar a ligao

    preferencial entre a HDL e as endotoxinas. Estudo realizado por Vreugdenhil

    et al., (2001) observou que LBP associada principalmente a partculas

    contendo apo B (LDL e VLDL) em pacientes com inflamao sistmica.

    Entretanto a LBP apresenta tambm aes pr-inflamatrias, pois

    desempenham uma funo primordial na ligao do LPS ao CD14, uma

    protena componente do sistema imune que pode se apresentar de duas

    formas: solvel no plasma ou ancorada a membrana plasmtica de vrias

    clulas de defesa (moncitos, macrfagos e neutrfilos). O LPS se liga

    LBP e juntos formam um complexo de alta afinidade pelo CD14 e o receptor

    Toll-like 4, uma protena transmembrana tambm presente nestas clulas

    que desempenha papel importante na deteco e reconhecimento de

    patgenos microbianos (Figura 2). Esta ligao (LBP+ LPS+ CD14+ receptor

    Toll-like) causa a ativao destas clulas de defesa atravs de uma via de

    sinalizao que induz a liberao de mediadores inflamatrios como o fator

    de necrose tumoral alfa (TNF) e outras interleucinas que so responsveis

  • INTRODUO - 21

    pelas mudanas metablicas e fisiolgicas que levam finalmente s

    condies patolgicas na sepse (Van Oosten et al., 2001; Wu et al., 2004;

    Berbe et al., 2006; Levels et al., 2007). Tambm foi relatado que a ativao

    das clulas do sistema imune pela ALT, depende do CD14 e da via de

    sinalizao do receptor Toll-like mostrando que a LBP tambm necessria

    para a neutralizao das bactrias GRAM positivas (Jiao e Wu, 2008).

    Assim, LBP, CD14, TLR e as lipoprotenas desempenham um papel crucial

    no balano entre a neutralizao das endotoxinas e a ativao do sistema

    imune (Wu et al., 2004).

    Figura 5 - Ativao da cascata inflamatria mediada pelo lipopolissacardeo [Fonte: Nature Reviews/Microbiology

    1]

    1 Disponvel em: .

    Acesso em 30 out 2014.

  • INTRODUO - 22

    1.5 Alteraes do metabolismo lipdico na criana e adolescente

    gravemente doentes

    Grandes mudanas na composio corprea e consequente alterao

    no perfil plasmtico de lipdeos e lipoprotenas so descritas na SIRS/sepse

    (Wu et al., 2004; Murch et al., 2007; Wendel et al., 2007). As citocinas pr-

    inflamatrias como: TNF, IL 6, e IL 1, que so importantes mediadores da

    resposta inflamatria, so conhecidas por afetar a sntese heptica das

    apolipoprotenas e os reagentes de fase aguda (Cabana et al., 1989; Van

    Lenten et al., 2001; van Leeuwen et al., 2003; Wendel et al., 2007). Cabana

    et al., (1989), em um estudo feito em coelhos, mostraram as alteraes

    marcantes no padro plasmtico das lipoprotenas e que estas coincidem

    com o aumento das concentraes de PCR.

    A mudana mais caracterstica no metabolismo lipdico durante infeco

    e inflamao a hipertrigliceridemia (Khovidhunkit et al., 2000; Wu et al., 2004).

    Tipicamente, esta resposta induzida por citocinas pr-inflamatrias rapidamente

    induz a liplise do tecido adiposo e a sntese heptica de cidos graxos,

    caracterizada pelo aumento dos TG e da produo de VLDL (Khovidhunkit et

    al., 2000; Carpentier e Scruel, 2002). Alm disso, altas taxas de endotoxina

    deprimem a atividade da lipoprotena lipase, enzima responsvel pelo

    clareamento das protenas ricas em triglicerdeos, levando a uma reduo no

    clareamento de VLDL, assim como do triglicerdeo plasmtico (Khovidhunkit et

    al. 2000; Carpentier e Scruel, 2002; Wu et al., 2004; Wendel et al., 2007). Alm

    das mudanas nos nveis de VLDL e TG, a composio da VLDL tambm

    alterada durante infeco e inflamao tornando-a partcula rica em

    esfingolipdeos que pode aumentar sua capacidade aterognica (Khovidhunkit

    et al., 2000; Carpentier e Scruel, 2002).

  • INTRODUO - 23

    Durante a resposta inflamatria, alm do aumento nas concentraes de

    lipoprotenas ricas em triglicerdeos e hipertrigliceridemia, tambm ocorrem

    redues nos nveis sricos de colesterol total (CT), LDL e HDL devido

    principalmente reduo no contedo de ster de colesterol nestas

    lipoprotinas (Cabana et al., 1989; Fraunberger et al., 1999; Gordon et al.,

    2001; Carpentier e Scruel, 2002; van Leeuwen et al., 2003; Wu et al., 2004;

    Contreras-Duarte et al., 2014) (Figura 6). Vrios estudos clnicos demonstraram

    uma reduo importante nos nveis de CT, HDL, LDL, apo A1 e apo B

    admisso em UTI e estes nveis foram inversamente relacionados com as

    concentraes de procalcitonina e citocinas pr-inflamatrias, alm disso, a

    hipocolesterolemia grave foi associada maior gravidade da doena de base

    nestes pacientes (Gordon et al., 2001; Vermont et al., 2005; Yildiz et al., 2009).

    Os mecanismos de reduo dos nveis de HDL no foram totalmente

    esclarecidos. Um destes mecanismos seria a elevao dos nveis sricos de

    fosfolipase A2 secretria, uma protena de fase aguda, que aumenta o

    catabolismo do ster de colesterol e das apolipoprotenas da HDL, resultando

    na reduo dos nveis sricos da HDL (Wu et al., 2004; Vyroubal et al., 2008;

    Contreras-Duarte et al., 2014). Alm disso, as citocinas pr-inflamatrias

    diminuem a sntese ou secreo das apolipoprotenas pelas clulas hepticas

    reduzindo a formao da HDL (Wu et al., 2004; Vyroubal et al., 2008). Mais

    ainda, a diminuio da HDL na inflamao tem sido atribuda principalmente

    reduo da atividade da LCAT, levando a um comprometimento na formao

    do ster de colesterol e maturao da partcula de HDL (Barlage et al., 2001;

    Wu et al., 2004; Levels et al., 2007; Contreras-Duarte et al., 2014). Durante a

  • INTRODUO - 24

    resposta de fase aguda, muitos potenciais mecanismos para a reduo da

    atividade da LCAT tm sido relatados como: efeito regulatrio das citocinas (IL

    2) que suprimem a atividade e expresso da LCAT ou devido substituio da

    apo A1, principal ativador da LCAT, pela protena de fase aguda amilide srica

    A (SAA) (Barlage et al., 2001; Wu et al., 2004; Contreras-Duarte et al., 2014).

    Um estudo realizado por Barlage et al. (2001) em pacientes cirrgicos com

    SIRS mostraram que as partculas de HDL ricas em apo A1 estavam reduzidas

    ou mesmo ausentes durante a inflamao e que a atividade da LCAT estava

    diminuda nos pacientes com SIRS quando comparadas ao grupo controle e

    esta diminuio foi maior nos pacientes com sepse e sepse grave.

    A diminuio dos contedos do colesterol total, LDL e HDL ocorrem

    dentro de poucas horas aps o incio da resposta inflamatria e tem sido

    atribuda aos efeitos das endotoxinas e citocinas e associada gravidade da

    doena (Carpentier e Scruel, 2002; Vermont et al., 2005; Wendel et al., 2007;

    Chiara et al., 2010). Como observado no estudo realizado por Hudgins et al.

    (2003), em pacientes voluntrios que receberam uma dose de endotoxina, os

    pacientes em questo, desenvolveram sintomas leves de gripe e apresentaram

    aumento dos marcadores inflamatrios associados reduo dos nveis de CT,

    LDL, TG e apo B que retornaram aos nveis basais em 48-72h aps a injeo.

    Levels et al. (2007) mostraram em um estudo realizado em vinte pacientes

    adultos com sepse por GRAM negativo que os nveis circulantes de PCR, IL6,

    IL8, LBP e TNF estavam elevados no primeiro dia de internao e

    apresentaram correlao inversa com os nveis de TG, VLDL, apo A1, apo B e

    HDL que estavam abaixo dos valores normais no primeiro dia e aumentaram na

  • INTRODUO - 25

    evoluo. A atividade de LCAT foi drasticamente reduzida nos pacientes

    spticos em questo. Neste mesmo trabalho, os autores tambm mostraram

    em um estudo experimental realizado em voluntrios humanos com sepse

    induzida por Escherichia coli que a endotoxemia reduziu os nveis sricos de

    CT, TG, LDL e apo A1 e que o tratamento com HDL reconstituda aumentou os

    nveis sricos de CT, HDL e apo A1.

    As mudanas na composio e concentrao das lipoprotenas que

    acontecem na inflamao podem alterar a funo destas partculas tornando-as

    pr-inflamatrias (Cabana et al., 1989; Wu et al., 2004; Wendel et al., 2007).

    Ento, alm das alteraes quantitativas, acontecem tambm mudanas

    significantes na composio destas lipoprotenas, especialmente no caso da

    HDL que perde seu maior componente proteico, apo A1, que substituda por

    uma protena de fase aguda, a SAA que durante a inflamao representa 90%

    das apoprotenas presentes na HDL (Khovidhunkit et al., 2000; Carpentier e

    Scruel, 2002; Wendel et al., 2007; Zhang et al., 2009). A substituio da apo A1

    pela SAA associada com a converso da HDL em uma partcula pr-

    inflamatria, HDL de fase aguda (Khovidhunkit et al., 2000; Zhang et al., 2009).

    A SAA uma das trs maiores protenas de fase aguda associada HDL,

    produzida predominantemente pelos hepatcitos em reposta as citocinas pr-

    inflamatrias. A HDL de fase aguda menor em tamanho, contm menores

    quantidades de ster de colesterol, enriquecida de colesterol livre,

    triglicerdeos e esfingolipdeos (Wu et al., 2004). As enzimas como a

    paraoxonase e FAP-AH associadas HDL esto reduzidas, diminuindo assim

    sua capacidade antioxidante (Khovidhunkit et al., 2000; Wendel et al., 2007). A

  • INTRODUO - 26

    mudana no padro de apoprotena da HDL de fase aguda aumenta seu

    catabolismo levando ao declnio rpido de suas concentraes plasmticas

    durante a resposta inflamatria reduzindo marcadamente a capacidade de

    neutralizao das endotoxinas por esta lipoprotena (Murch et al., 2007; Wu et

    al., 2004; Contreras-Duarte et al., 2014). Chenaud et al. (2004) mostraram em

    um estudo prospectivo observacional com 63 pacientes que baixas

    concentraes plasmticas de HDL e apo A1 admisso, foram relacionadas

    com exacerbao da resposta inflamatria.

    A reduo na LDL durante a resposta de fase aguda no totalmente

    esclarecida, mas alguns estudos mostraram que citocinas pr-inflamatrias

    como TNF, IL6 e IL1 podem aumentar a degradao intracelular de apo B,

    reduzir a atividade da lipoprotena lipase e aumentar a atividade do receptor de

    LDL. Todas estas alteraes levam reduo na formao da LDL ou aumento

    de seu catabolismo (Fraunberger et al.; 1999). Alm disso, durante a

    inflamao surgem partculas pequenas e densas de LDL que facilmente

    atravessam o endotlio vascular, ligam-se aos proteoglicanos do espao

    subendotelial e so mais susceptveis a leses peroxidativas (Khovidhunkit et

    al., 2000; Carpentier e Scruel, 2002). Esta reteno na ntima vascular reduz os

    nveis circulantes de LDL durante a resposta inflamatria. Estudos mostraram

    que as apoprotenas quando comparadas com suas respectivas lipoprotenas,

    apresentam o mesmo padro de reduo o que sugere que durante a sepse

    grave no apenas o colesterol nas lipoprotenas diminui como tambm ocorre

    reduo na quantidade das lipoprotenas (Carpentier e Scruel, 2002; van

    Leeuwen et al., 2003).

  • INTRODUO - 27

    Figura 6 - Alteraes do perfil lipdico durante a sndrome da resposta inflamatria sistmica

    1.6 Mudanas Proaterognicas dos Lipdeos e Lipoprotenas Durante

    Infeco e Inflamao

    A leso aterosclertica na parede da artria caracterizada pelo

    acmulo de lipdeos nos macrfagos, resultando na formao das clulas

    espumosas. O desenvolvimento destas clulas primariamente regulado

    pela captao e remoo dos lipdeos. A hipercolesterolemia, especialmente

    nveis elevados de LDL, hipertrigliceridemia e nveis elevados de

    lipoprotenas ricas em TG so importantes fatores de risco para doena

    arterial coronariana. A LDL e possivelmente VLDL desempenham papel

    fundamental na captao de lipdeos pelas clulas perifricas e por outro

  • INTRODUO - 28

    lado, nveis sricos elevados de HDL so inversamente correlacionados com

    risco para aterosclerose sendo a HDL lipoprotena chave na remoo dos

    lipdeos dos macrfagos da parede arterial (Khovidhunkit et al., 2000).

    Muitas mudanas no metabolismo da LDL durante infeco e

    inflamao podem promover aterognese. Para que haja a formao das

    clulas espumosas, as partculas de LDL precisam sofrer oxidao. Embora

    os nveis de LDL diminuam durante a resposta inflamatria, ocorre o

    aparecimento de pequenas e densas partculas de LDL que acredita ser

    mais proaterognicas, pois so particularmente mais susceptveis

    oxidao, e por serem de menor tamanho, podem penetrar a barreira

    endotelial ligando-se aos proteoglicanos da ntima resultando na reteno de

    lipdeos na parede arterial (Khovidhunkit et al., 2000; Carpentier e Scruel,

    2002). Estas pequenas e densas partculas de LDL possuem menor

    afinidade de ligao pelo receptor de LDL, resultando no aumento da meia

    vida plasmtica e reduo no clareamento. Durante infeco e inflamao,

    as protenas associadas HDL que possuem efeitos antioxidantes como a

    paraoxonase, FAP-AH, ceruloplasmina e transferrina sofrem alteraes e

    estas mudanas afetam a capacidade de proteo da HDL contra a oxidao

    da LDL (Carpentier e Scruel, 2002; Contreras-Duarte et al., 2014).

    Pela reduo nas concentraes de HDL e apo A1 durante infeco e

    inflamao, pode ocorrer prejuzo na remoo do colesterol das clulas

    perifricas mediada pela apolipoprotena levando a uma reduo no

    transporte reverso de colesterol durante a resposta inflamatria. A atividade

    da LCAT est reduzida durante infeco e inflamao o que pode

  • INTRODUO - 29

    potencialmente prejudicar a remoo de colesterol pelo fato do gradiente de

    colesterol livre no ser eficientemente mantido para que ocorra difuso

    (Barlage et al., 2001; Wu et al., 2004; Levels et al., 2007; Contreras-Duarte

    et al., 2014). As atividades plasmticas de CETP e lipase heptica (LH)

    tambm esto reduzidas durante a resposta inflamatria, assim, a reduo

    da atividade da CETP pode limitar a transferncia do colesterol para a

    lipoprotena rica em TG para eliminao no fgado e a reduo da atividade

    da LH pode potencialmente reduzir a gerao da pr HDL o que poderia

    prejudicar a transferncia do colesterol celular para a HDL (Contreras-Duarte

    et al., 2014). Durante a infeco, a HDL de fase aguda mais rapidamente

    clareada da circulao que a HDL normal (Wu et al., 2004). Alm disso, a

    HDL de fase aguda pode ser redirecionada para o macrfago ao invs de

    ser captada pelo hepatcito tornando o colesterol na HDL menos disponvel

    para ser metabolizado e excretado na bile. Este colesterol redirecionado

    para o macrfago pode resultar na formao de clulas espumosas na

    parede arterial. A reduo nas concentraes de HDL pode presumidamente

    diminuir a remoo do colesterol celular (Khovidhunkit et al., 2000).

    Uma vez que as alteraes nas lipoprotenas durante infeco e

    inflamao so semelhantes s alteraes propostas para promover

    aterognese, estas mudanas podem iniciar ou agravar aterosclerose se o

    curso da resposta inflamatria for prolongado (Khovidhunkit et al., 2000).

  • INTRODUO - 30

    1.7 Lipoprotenas como Biomarcadores nos Pacientes Gravemente

    Doentes

    A presena de um biomarcador capaz de diferenciar resposta

    inflamatria sistmica causada por infeco de outros tipos de doenas

    inflamatrias e a possibilidade de identificar precocemente quadros spticos

    possibilitando a introduo rpida de antibioticoterapia melhoraria o

    prognstico destes doentes. Alguns biomarcadores como a PCR e a

    procalcitonina so usados para ajudar a identificar infeco nos pacientes

    gravemente doentes. Uma meta-anlise realizada por Simon mostrou que a

    procalcitonina foi mais sensvel e mais especfica que a PCR para diferenciar

    infeco bacteriana de inflamaes de causas no infecciosas (Simon et al.,

    2004). Arkader et al. (2006), num estudo prospectivo realizado em crianas

    spticas, demonstraram que a procalcitonina foi superior a PCR como

    marcador de sepse. Entretanto, Pvoa et al. (2005) revelaram que uma

    concentrao de PCR > 8,7 mg/dL oferece uma sensibilidade de 93,4 % e

    uma especificidade de 86,1 % para a infeco e a combinao de PCR > 8,7

    mg/dL e temperatura > 38,2C aumentou a especificidade do diagnstico de

    infeco para 100%. Um estudo realizado por Lthold et al. (2007), para

    avaliar a acurcia diagnstica das lipoprotenas na infeco, mostrou que

    houve diferenas significativas entre os pacientes sem infeco e pacientes

    com infeco em relao aos nveis sricos de CT, HDL, PCR, albumina,

    procalcitonia e IL6. Neste estudo, a maior acurcia diagnstica foi vista com

    a procalcitonina, porm, a HDL mostrou uma capacidade diagnstica que foi

    similar albumina, IL6 e no significativamente menor do que a capacidade

    diagnstica da PCR. Albumina e PCR so protenas de fase aguda bem

  • INTRODUO - 31

    conhecidas e a correlao com a HDL encontrada neste estudo, aponta para

    a HDL como um reagente de fase aguda.

    Os nveis de lipoprotenas caem dramaticamente durante a resposta

    inflamatria e a magnitude desta reduo pode estar associada com a

    gravidade e mortalidade na sepse. Um estudo realizado por Grion et al.

    (2010) mostrou que baixas concentraes de HDL colesterol podem ser fator

    de risco para sepse grave em pacientes hospitalizados. O estudo encontrou

    que concentraes mais baixas de HDL colesterol foram associadas com

    risco aumentado de desenvolver sepse grave durante a internao. Outro

    estudo realizado por Al-Zaidawi e Al-Hashimi (2014) em pacientes

    queimados, mostrou que todos os pacientes com nveis sricos de HDL

    colesterol

  • INTRODUO - 32

    1.9 Hiptese

    A sndrome da resposta inflamatria sistmica/sepse provoca

    marcantes alteraes no metabolismo lipdico nas crianas e adolescentes

    gravemente doentes.

  • 2 OBJETIVOS

  • OBJETIVOS - 34

    2.1 Principal

    Avaliar se as alteraes no metabolismo lipdico esto diretamente

    relacionadas resposta inflamatria em crianas e adolescentes

    gravemente doentes com SIRS/sepse e se estas alteraes se modificam

    durante o perodo de internao na UTI.

    2.2 Secundrios

    Analisar as modificaes nas concentraes especficas de colesterol

    total, TG, LDL, VLDL, HDL, apo A1, apo B, apo A2 e apo E entre o primeiro

    (maior intensidade da SIRS/sepse) e o stimo dias de internao na UTI

    Peditrica.

    Analisar a evoluo nutricional associada resposta inflamatria e s

    alteraes no metabolismo lipdico no primeiro e stimo dias de internao

    de forma comparativa.

  • 3 MTODOS

  • MTODOS - 36

    3.1 Populao

    O estudo foi realizado na Unidade de Terapia Intensiva Peditrica do

    Instituto da Criana, Professor Pedro de Alcantara, do Hospital das Clnicas

    da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo-SP. A UTI uma

    unidade fechada que contm quinze leitos clnicos e cirrgicos rotativos e

    oferece atendimento nvel I aos pacientes. A unidade cuidada por

    especialistas em medicina intensiva peditrica, estagirios, mdicos

    residentes de pediatria geral e mdicos residentes de medicina intensiva

    peditrica. A UTI peditrica do Instituto da Criana apresenta uma mdia de

    trinta internaes mensais com aproximadamente 30% destas internaes

    por quadros spticos.

    3.2 Critrios de Incluso

    Neste estudo foram includos crianas e adolescentes com idade

    entre dois meses e dezessete anos incompletos admitidos na UTI do

    Instituto da Criana (ICr) que preencheram os critrios de SIRS, sepse,

    sepse grave e choque sptico como descritos no International Pediatric

    Sepsis Consensus Conference pela Society of Critical Care

    Medicine/American College of Critical Care Medicine/American Academy of

  • MTODOS - 37

    Pediatrics (Goldstein et al., 2005). De acordo com o consenso, para a

    definio de SIRS deve haver a presena de pelo menos dois dos quatro

    seguintes critrios avaliados, um destes deve ser obrigatoriamente alterao

    na temperatura ou alterao na contagem de leuccitos. Os critrios so:

    temperatura > 38,5 C ou < 36 C; taquicardia definida como dois desvios

    padro acima do normal para idade na ausncia de estmulo externo ou em

    crianas menores de um ano bradicardia menor que o percentil 10 para

    idade; frequncia respiratria maior que dois desvios padro para idade ou

    ventilao mecnica para processo agudo; leucocitose ou leucopenia para

    idade (no secundrio a quimioterapia) ou mais do que 10 % de neutrfilos

    imaturos. A sepse definida como SIRS associada infeco suspeita ou

    confirmada. A sepse grave a sepse associada disfuno cardiovascular

    ou a sndrome do desconforto respiratrio agudo ou pelo menos duas das

    seguintes disfunes orgnicas: renal, hematolgica, neurolgica ou

    heptica (Goldstein et al., 2005). Para o diagnstico de choque sptico deve

    haver sinais clnicos de reduo da perfuso tecidual incluindo a diminuio

    dos pulsos perifricos comparados aos pulsos centrais (choque frio) ou

    pulsos oscilantes (choque quente), alterao do nvel de conscincia, tempo

    de enchimento capilar rpido (choque quente) ou tempo de enchimento

    capilar lento maior que dois segundos (choque frio), extremidades frias e

    dbito urinrio reduzido (menor que 1 mL/kg/h). Em pacientes peditricos, a

    definio de choque sptico no requer hipotenso sistmica para o

    diagnstico (Brierley et al., 2009).

  • MTODOS - 38

    3.3 Critrios de excluso

    Foram excludos do estudo os pacientes:

    a. Recm-nascidos.

    b. Que apresentaram idade maior que 18 anos.

    c. Em uso de terapia nutricional parenteral no momento da

    admisso.

    d. Com histria prvia de dislipidemia.

    e Com histrico e quadro clnico de disfuno heptica grave.

    f. Em investigao de morte enceflica.

    g. Em utilizao crnica de corticosteroides (superior a 30 dias).

    h. Em estgio de doena terminal.

    i. Que receberam tratamento recente de quimioterapia (< 30 dias).

    j. Que os pais no concordaram com o termo de consentimento livre

    e esclarecido (Anexo A).

    3.4 Clculo e Seleo da Amostra

    Com metodologia estatstica, visando encontrar diferena de pelo

    menos 10mg/dL de HDL em crianas com SIRS/sepse internadas na UTI em

    comparao s crianas que no apresentam sinais de infeco,

    considerando que a variabilidade da HDL de aproximadamente 15 mg/dL,

    com intervalo de confiana de 95% e poder do teste de 80%, foi estabelecida

    uma amostra (n) de 36 pacientes. Os testes foram realizados com nvel de

    significncia de 5%.

  • MTODOS - 39

    3.5 Desenho do Estudo

    O estudo foi aprovado pela Comisso de tica para Anlise de

    Projetos de Pesquisa (CAPPesq) na sesso datada de 28/09/2011 protocolo

    0669/11 (Anexo B).

    Este foi um estudo prospectivo, de seguimento com casos colhidos entre

    o perodo de setembro de 2012 a setembro de 2013, sendo realizadas

    avaliaes nas primeiras 24 horas de internao e no stimo dia de internao

    (Figura 7).

    Para avaliar a gravidade da doena dos pacientes envolvidos no

    estudo, foi calculado nas primeiras vinte e quatro horas de internao na UTI

    o escore de gravidade Pediatric Risk of Mortality Score (PRISM) (Pollak et

    al., 1988) (Apndice A). Um estudo realizado na prpria unidade por Costa

    et al. (2010) em 359 pacientes, mostraram que o escore de PRISM

    apresentou capacidade discriminatria adequada na avaliao do

    prognstico de pacientes peditricos internados em UTI de nvel I.

    Para a realizao do estudo, foram coletadas amostras de sangue

    dos pacientes que preencheram os critrios de incluso e estas amostras

    foram colhidas em duas ocasies:

    a. Nas primeiras 24 horas de internao na UTI do ICr foram

    colhidos exames para o clculo do PRISM (gasometria arterial,

    coagulograma, clcio total, bilirrubina total, potssio e glicemia) e

    exames para a avaliao dos nveis sricos de colesterol total,

    HDL, LDL, VLDL, apolipoprotenas (apo A1, apo A2, apo E, apo

    B), triglicerdeo, protena C reativa (PCR), albumina e hemograma

    priorizando a contagem de linfcitos totais.

  • MTODOS - 40

    b. No stimo dia de internao foram colhidas amostras para

    avaliao dos mesmos exames, exceto os utilizados para o

    clculo do PRISM (Anexo C).

    As avaliaes do CT, HDL, LDL, VLDL, TG e apolipoprotenas foram

    feitas no Laboratrio Central Diviso de Bioqumica Clnica do Hospital das

    Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo-SP. Os

    nveis sricos de CT, HDL, LDL, apo A1, apo B e TG foram quantificados

    atravs dos sistemas Roche/Hitachi cobas c com a utilizao de reagentes

    especficos conforme demonstrado no Quadro 1. Estes sistemas calculam

    automaticamente as concentraes dos analitos de cada amostra. A VLDL

    foi calculada dividindo o valor do triglicerdeo por cinco (TG/5). As

    determinaes quantitativas das apolipoprotenas A2 e E foram realizadas

    atravs de reao imunoqumica com a utilizao dos reagentes Anti-soros

    N para apo A2 e apo E humanas e analisadas pelo sistema BN (Siemens

    Healthcare Diagnostics). Os demais exames foram realizados no laboratrio

    do Instituto da Criana atravs dos mtodos especificados no Quadro 2.

  • MTODOS - 41

    Quadro 1 - Mtodos, reagentes e analisadores utilizados para o

    processamento do colesterol total, HDL, LDL, TG e

    apolipopprotenas

    Princpio do teste Reagente Analisador

    Colesterol total

    Enzimtico colorimtrico Cholesterol Gen.2 (Roche)

    Roche/Hitachi cobas c

    HDL Enzimtico colorimtrico homogneo

    HDL-Cholesterol plus 3rd generation (Roche)

    Roche/Hitachi cobas c

    LDL Enzimtico colorimtrico homogneo

    LDL-Cholesterol plus 2nd generation (Roche)

    Roche/Hitachi cobas c

    Triglicerdeo Enzimtico colorimtrico Triglycerides (Roche) Roche/Hitachi cobas c

    apo A1 Imunoturbidimtrico Tina-quant Apolipoprotein A-1 ver.2 (Roche)

    Roche/Hitachi cobas c

    apo B Imunoturbidimtrico Tina-quant Apolipoprotein B ver.2 (Roche)

    Roche/Hitachi cobas c

    apo A2 Reao imunoqumica Anti-soro N para apo A-2 humana

    Sistema B (Siemens Healthcare Diagnostics)

    apo E Reao imunoqumica Anti-soro N para apo E humana

    Sistema B (Siemens Healthcare Diagnostics)

    Quadro 2 - Mtodos utilizados no Instituto da Criana para processamento

    dos exames

    Exames Mtodos

    1 PRISM:

    1.1 Gasometria Membrana de on seletivo

    1.2 Clcio total Colorimtrico

    1.3 Potssio on eletrodo seletivo

    1.4 TTPa (coagulograma) Mtodo de Proctor Rapaport mod.

    1.5 TP (coagulograma) Mtodo de Quick modificado

    1.6 Glicemia Enzimtico colorimtrico

    1.7 Bilirrubina total e fraes Colorimtrico

    - PCR Imunoturbidimetria

    - Hemograma Automatizado

    - Albumina Colorimtrico

  • MTODOS - 42

    Alm dos exames laboratoriais, foi realizada avaliao nutricional

    antropomtrica destes pacientes nas primeiras 24 horas de internao e

    repetida no stimo dia de internao. Para minimizar a possibilidade de

    erros, todas as mensuraes foram feitas pela mesma profissional

    nutricionista da UTI peditrica com a utilizao dos seguintes dados: peso,

    estatura, prega cutnea tricipital e circunferncia muscular do brao. O peso

    foi medido por uma balana calibrada antes de cada utilizao. Os pacientes

    com mais de 16 kg eram pesados em p e os lactentes eram pesados

    sentados ou deitados numa balana com preciso de 5 g. As crianas que

    no puderam ser pesadas de forma independente ficavam no colo de um

    adulto para mensurao do peso. Nestes casos, o peso dos pacientes foi

    obtido subtraindo o peso do adulto do total de peso (criana mais adulto). O

    comprimento das crianas de at trs anos foi feito com antropmetro com

    preciso de 0,1 cm e nos pacientes acima de trs anos de idade, a estatura

    foi medida atravs de um estadimetro de madeira com preciso de 0,1 cm.

    Em crianas cujas condies clnicas impediram a utilizao de tcnicas de

    medies convencionais, a estatura foi prevista por frmulas a partir da

    medida entre o joelho e o tornozelo com a criana mantida em posio

    supina. A circunferncia muscular do brao foi medida com uma fita mtrica

    marcada em incremento de 0,5 cm. As medies foram realizadas no ponto

    mdio da distncia entre o acrmio e o olcrano com o brao estendido ao

    longo do corpo. A prega tricipital foi obtida usando um paqumetro de pregas

    cutneas (Cambridge Scientific Industries, Cambridge, MD) com uma

    presso constante de 10 g/mm2 sobre a superfcie de contato. A medio foi

  • MTODOS - 43

    feita na parte de trs do brao, paralelamente ao eixo longitudinal, no ponto

    mdio entre o acrmio e o olcrano. Foi usada a mdia de trs medies

    consecutivas.

    A classificao nutricional dos pacientes foi feita de acordo com as

    curvas de crescimento e desenvolvimento da Organizao Mundial de

    Sade 2006/2007. Para a realizao da classificao, foi utilizado o clculo

    de peso para estatura em crianas at dois anos e o ndice de massa

    corprea para idade em crianas acima de dois anos. Atravs destes

    clculos foram obtidos valores de escore Z e feita classificao nutricional

    conforme o Quadro 3. Para facilitar e dar maior preciso aos clculos foi

    utilizado o software WHO Anthro nas crianas at cinco anos de idade e do

    WHO Anthro Plus nas crianas maiores de cinco anos de idade. Estes

    softwares so fornecidos atravs dos sites: e .

    Quadro 3 - Classificao nutricional pelo clculo do escore Z segundo

    curvas de crescimento e desenvolvimento da OMS (2006/2007)

    Escore Z Menores de 5 anos

    (incompletos) Maiores de 5 anos

    e adolescentes

    < -3 Magreza acentuada Magreza acentuada

    > -3 a -2 Magreza Magreza

    > -2 a < +1 Eutrofia Eutrofia

    > +1 a +2 a < +3 Sobrepeso Obesidade

    > +3 Obesidade Obesidade grave

    Foi utilizado um grupo controle de pacientes peditricos com idade

    entre trs meses a quinze anos incompletos que no apresentavam sinais

    clnicos de SIRS/sepse e que foram atendidos no pronto socorro peditrico

  • MTODOS - 44

    (PS) do Hospital Universitrio da Universidade de So Paulo-SP (HU-USP)

    no mesmo perodo de estudo. Durante atendimento no PS, foram colhidas

    amostras de sangue para avaliao dos nveis sricos de PCR, CT, TG,

    HDL, LDL, albumina e glicemia em fita. As anlises foram feitas no

    laboratrio do HU-USP, com a utilizao das seguintes metodologias:

    - Colesterol total - colesterol oxidase automatizado.

    - HDL- direto automatizado.

    - LDL - clculo Friedewald.

    - Triglicerdeos - glicerol peroxidase automatizado.

    - Albumina - VBC (verde de bromocresol) automatizado.

    - PCR - nefelometria (CardioPhasehsCRP da Siemens Healthcare

    Diagnostics).

    - Glicemia capilar - aferida pelo aparelho Accu-Chek.

    Para o estudo, foram excludos do grupo controle os pacientes com

    histria de doena heptica, dislipidemia, diabetes, uso de corticosteroides

    ou aqueles cujos pais no aceitaram o termo de consentimento livre e

    esclarecido. Alm dos exames laboratoriais, tambm foram realizadas as

    avaliaes nutricionais destes pacientes de acordo com as medidas

    antropomtricas (peso e estatura), ndice de massa corprea e clculo do

    escore Z. A classificao nutricional destes pacientes tambm foi

    determinada de acordo com as curvas de crescimento e desenvolvimento da

    Organizao Mundial da Sade (OMS) 2006/2007.

    A interpretao dos resultados do perfil lipdico dos pacientes foi

    baseada na orientao da V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Preveno

  • MTODOS - 45

    da Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia publicada em

    outubro de 2013 (Xavier et al., 2013). Foram considerados normais os nveis

    desejveis pela classificao, ou seja, valores de colesterol total menor do

    que 150 mg/dL, HDL maior ou igual a 45 mg/dL, LDL menor do que 100

    mg/dL e TG menor do que 100 mg/dL. Os valores acima dos limites

    desejveis para CT, LDL e TG e abaixo dos desejveis para HDL foram

    considerados alterados. Estes nmeros foram extrapolados para as crianas

    com idade inferior a dois anos, pois no h referncia para esta faixa etria.

    Os valores esto expostos no Quadro 4.

    Quadro 4 - Valores de referncia da dosagem de lipdeos em crianas

    entre 2 a 19 anos de idade segundo a V Diretriz Brasileira de

    Dislipidemias e Preveno da Aterosclerose da Sociedade

    Brasileira de Cardiologia (SBC)

    Lipdeos Desejveis

    (mg/dL) Limtrofes

    (mg/dL) Aumentados

    (mg/dL)

    CT < 150 150 - 169 > 170

    LDL < 100 100 - 129 > 130

    HDL > 45

    TG < 100 100 - 129 > 130

  • MTODOS - 46

    Figura 7 - Fluxograma do estudo

  • MTODOS - 47

    3.6 Anlise Estatstica

    Foram descritos os indicadores lipdicos e inflamatrios no primeiro dia

    de avaliao com uso de medidas resumo (mdia, desvio padro, mediana,

    mnimo e mximo) e comparados com os do grupo controle (pacientes

    atendidos no PS do HU-USP), com o uso de teste t-Student ou teste Mann-

    Whitney. Para comparao de gnero entre os grupos estudo e controle foi

    utilizado o teste qui-quadrado (Neter et al., 1996; Kirkwood e Sterne, 2006).

    Foram calculadas as correlaes de Spearman do perfil lipdico em

    relao PCR. As variveis do estado nutricional e caractersticas pessoais

    nas crianas internadas na UTI foram ajustadas segundo os modelos de

    regresso linear de acordo com cada varivel do perfil lipdico. Foram mantidas

    nos modelos finais apenas as variveis com nveis descritivos inferiores a 5% (p

    < 0,05) e para cada modelo ajustado foi calculado o coeficiente de

    determinao (R2) (Neter et al., 1996; Kirkwood e Sterne, 2006).

    Os indicadores determinados de forma pareada entre o primeiro e

    stimo dias de internao, foram avaliados de forma paramtrica com uso de

    testes t-Student pareado ou de forma no paramtrica com o teste Wilcoxon

    pareado (Neter et al., 1996; Kirkwood e Sterne, 2006).

    Foram calculadas as correlaes de Spearman para as alteraes no

    perfil lipdico com relao s alteraes na resposta inflamatria e

    antropometria entre o primeiro e stimo dias de internao (Neter et al.,

    1996; Kirkwood e Sterne, 2006).

    Os testes foram realizados com nvel de significncia de 5%.

  • 4 RESULTADOS

  • RESULTADOS - 49

    Durante o perodo de estudo (setembro de 2012 a setembro de 2013),

    ocorreram trezentos e oitenta e quatro (384) internaes na UTI peditrica

    do ICR, sendo trinta por cento (30%) destas internaes por quadros

    spticos (n = 115). Dos cento e quinze pacientes elegveis para o estudo,

    setenta e cinco destes foram excludos, pois apresentavam algum(s) dos

    critrios de excluso descritos anteriormente. Sendo assim, foram

    analisados admisso na UTI, quarenta (n = 40) pacientes que

    preencheram os critrios de incluso (Figura 8).

    Figura 8 - Seleo da amostra dos pacientes internados na UTI

  • RESULTADOS - 50

    Dos quarenta pacientes que entraram no estudo, vinte e um eram do

    sexo masculino (52,1%) e a mediana de idade foi de trinta meses. Destes,

    92,5% (n = 37) necessitaram de ventilao mecnica invasiva, 70% (n = 28)

    receberam droga vasoativa e 55% (n = 22) apresentaram cultura positiva.

    Nas primeiras setenta e duas horas de internao foi iniciada dieta enteral

    para 31 pacientes, nutrio parenteral para cinco e quatro pacientes

    permaneceram em jejum. Cinco pacientes evoluram a bito na primeira

    semana de internao (12,5%), sendo assim, foram colhidas amostras de

    sangue de 35 pacientes no stimo dia do estudo para anlise comparativa.

    No estudo realizado no pronto socorro peditrico, com pacientes que

    no apresentavam critrios diagnsticos de SIRS/sepse, foram coletadas

    amostras de 42 pacientes, sendo vinte do sexo masculino (47,6%) e a

    mediana de idade sessenta e seis meses.

    admisso na UTI, 29 (72,5%) pacientes do estudo foram classificados

    como eutrficos, 7 (17,5%) como risco de sobrepeso/sobrepeso ou obeso

    e 4 (10%) foram classificados como magreza/magreza acentuada. No stimo

    dia de internao, 54,3% dos pacientes mantiveram-se classificados como

    eutrficos, 25,7% como risco de sobrepeso/sobrepeso ou obeso e 20% tiveram

    classificao nutricional de magreza/magreza acentuada. Apesar da reduo

    do percentual de pacientes eutrficos e aumento no percentual dos pacientes

    subnutridos entre o primeiro e stimo dias de internao, estas alteraes no

    foram estatisticamente significativas (p = 0,655) (Tabela 1). No grupo controle,

    76,5% dos pacientes foram classificados como eutrficos, 17% como

    sobrepeso ou obesos e 6,5% como magreza ou magreza acentuada.

  • RESULTADOS - 51

    Tabela 1 - Classificao do estado nutricional e resultado do teste

    comparativo entre o primeiro e stimo dias de internao na

    UTI

    Classificao 1 dia 7 dia

    p n % n %

    Magreza acentuada/Magreza 4 10,0 7 20,0

    0,655 Eutrfico 29 72,5 19 54,3

    Sobrepeso/Risco sobrepeso 5 12,5 7 20,0

    Obesidade 2 5,0 2 5,7

    Total 40 100 35 100

    Resultado do teste Wilcoxon pareado

    Dentre as medidas antropomtricas utilizadas para avaliao do estado

    nutricional, apenas a prega tricipital apresentou uma reduo estatisticamente

    significativa entre o primeiro e stimo dias de internao (p 0,05). O escore

    de gravidade PRISM apresentou uma mediana de 15 (1-78,6).

    Foi realizada comparao estatstica entre o perfil lipdico e o grau de

    inflamao, quantificado pelo nvel srico de PCR, entre os 40 pacientes

    admitidos na UTI com os 42 pacientes avaliados no PS. Os pacientes do

    grupo controle (PS) foram selecionados por apresentarem nveis sricos de

    PCR inferior a 5 mg/L enquanto os pacientes do grupo em estudo (UTI)

    apresentaram mediana dos nveis sricos de PCR 77,81 mg/L. A PCR e o

    perfil lipdico diferiram estatisticamente entre os dois grupos de pacientes

    (p 0,05). Os nveis sricos de PCR e triglicerdeos foram estatisticamente

    maiores nos pacientes internados em UTI em comparao aos pacientes

    avaliados no PS (p 0,05). A mediana dos nveis de TG nos pacientes do

    grupo estudo foi 108 mg/dL (44-925) e a mediana de TG no grupo controle

    foi 76 mg/dL (28-263).

  • RESULTADOS - 52

    Em contra partida, os nveis sricos de CT, HDL, LDL e albumina

    foram estatisticamente maiores nos pacientes avaliados no PS em

    comparao aos pacientes internados na UTI peditrica (p < 0,001). Os

    pacientes do grupo em estudo apresentaram medianas dos nveis de CT 96

    mg/dL (41-200), HDL 16,5 mg/dL (3-61), LDL 49,5 mg/dL (9-169) e albumina

    2,75 g/dL (2-6) enquanto os pacientes do grupo controle apresentaram

    medianas de CT 148mg/dL (89-223), HDL 40mg/dL (18-83), LDL 86,5 mg/dL

    (26-129) e albumina 4,4 g/dL (4-5) (Tabela 2).

    Os Grficos de 1 a 5 ilustram separadamente os resultados

    apresentados na Tabela 2 comparando os nveis sricos de CT,

    triglicerdeos, HDL, LDL e albumina entre o grupo estudo (UTI) e o grupo

    controle (PS).

    Tabela 2 - Comparao da idade, gnero, perfil lipdico e PCR segundo

    grupos de pacientes (UTI e PS) no primeiro dia de avaliao

    (primeiras 24h)

    Varivel Grupo Mdia DP Mediana Mnimo Mximo N p

    Idade (meses)

    UTI 59,7 63,9 30 2 200 40 0,386

    PS 71,0 53,8 66,5 3 177 42

    Gnero (mascul