124
ANÁLISE UNIDIMENSIONAL DA GASEIFICAÇÃO DE BAGAÇO DE CANA EM REATOR DE LEITO FLUIDIZADO CIRCULANTE Vinícius Gama Lidoino Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica. Orientadores: Albino José Kalab Leiroz Manuel Ernani de Carvalho Cruz Rio de Janeiro Junho de 2015

ANÁLISE UNIDIMENSIONAL DA GASEIFICAÇÃO DE BAGAÇO …w2.files.scire.net.br/atrio/ufrj-pem_upl//THESIS/1485/pemufrj2015... · one-dimensional analysis of sugarcane bagasse gasification

Embed Size (px)

Citation preview

ANÁLISE UNIDIMENSIONAL DA GASEIFICAÇÃO DE BAGAÇO DE CANA EM

REATOR DE LEITO FLUIDIZADO CIRCULANTE

Vinícius Gama Lidoino

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa

de Pós-graduação em Engenharia Mecânica,

COPPE, da Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Mestre em Engenharia

Mecânica.

Orientadores: Albino José Kalab Leiroz

Manuel Ernani de Carvalho Cruz

Rio de Janeiro

Junho de 2015

ANÁLISE UNIDIMENSIONAL DA GASEIFICAÇÃO DE BAGAÇO DE CANA EM

REATOR DE LEITO FLUIDIZADO CIRCULANTE

Vinícius Gama Lidoino

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO

LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE)

DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM

CIÊNCIAS EM ENGENHARIA MECÂNICA.

Examinada por:

________________________________________________

Prof. Manuel Ernani de Carvalho Cruz, Ph.D.

________________________________________________

Prof. Albino José Kalab Leiroz, Ph.D.

________________________________________________

Prof. Amaro Gomes Barreto Jr., D.Sc.

________________________________________________

Prof. Marcos Roberto Teixeira Halasz, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

JUNHO DE 2015

iii

Lidoino, Vinícius Gama

Análise Unidimensional da Gaseificação de Bagaço de

Cana em Reator de Leito Fluidizado Circulante/ Vinícius

Gama Lidoino. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2015.

XVIII, 106 p.: il.; 29,7 cm.

Orientadores: Albino José Kalab Leiroz

Manuel Ernani de Carvalho Cruz

Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de

Engenharia Mecânica, 2015.

Referências Bibliográficas: p. 97-100.

1. Gaseificação. 2. Análise Unidimensional. 3.

Biomassa. I. Leiroz, Albino José Kalab et al. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa

de Engenharia Mecânica. III. Título.

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos orientadores, Albino José Kalab Leiroz e Manuel Ernani de

Carvalho Cruz, pelo apoio, aprendizado, amizade e orientação nestes anos de curso.

Aos meus pais, Paulo e Piedade, minha irmã Paula e toda minha família e amigos

pelos conselhos, apoio e amizade.

Ao Dr. Marco Antônio e o Eng. Marcelo da área de processos de conversão de

biomassa da PETROBRAS, pelo auxílio e colaboração ao fornecer os dados

experimentais.

Aos colegas e amigos do laboratório de máquinas térmicas (LMT), em especial

ao Gabriel e ao Alex pelas conversas e sugestões que ajudaram na conclusão deste

trabalho.

A todos os colegas da COPPE e professores da Universidade Federal do Rio de

Janeiro.

A FAPERJ, através do programa de bolsas, pelo apoio financeiro.

v

Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

ANÁLISE UNIDIMENSIONAL DA GASEIFICAÇÃO DE BAGAÇO DE CANA EM

REATOR DE LEITO FLUIDIZADO CIRCULANTE

Vinícius Gama Lidoino

Junho/2015

Orientadores: Albino José Kalab Leiroz

Manuel Ernani de Carvalho Cruz

Programa: Engenharia Mecânica

O objetivo do trabalho é estudar o processo de gaseificação do bagaço de cana-

de-açúcar em um reator de leito fluidizado circulante, visando à predição da composição

e avaliação da qualidade do gás de síntese. O programa comercial CeSFaMB™ é utilizado

na simulação de 16 testes experimentais disponíveis na literatura, e também em um plano

de simulação realizado com base na faixa de operação do reator estudado. O programa

possui um modelo de fluidização baseado em correlações semiempíricas, além de

considerar condições de regime permanente e abordagem unidimensional. A análise

comparativa dos resultados experimentais e computacionais sugere que as simulações são

capazes de capturar o comportamento das variações dos componentes e das propriedades

do gás de síntese quando as variáveis de entrada se modificam. Foram observadas maiores

discrepâncias em relação à quantificação do metano, tal que o valor predito supera em

muito o experimental. Com um desvio médio de 3,9% as frações de CO2 se aproximam

das frações reais. Já o hidrogênio obteve desvio de 13,4% e o CO de 17,5%. Os casos

planejados indicam que para favorecer o processo de gaseificação e evitar a combustão

deve-se optar por uma menor razão Ar/Combustível. Foi verificado um aumento na

concentração final de hidrogênio com a alimentação de vapor junto ao agente

gaseificante.

vi

Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

ONE-DIMENSIONAL ANALYSIS OF SUGARCANE BAGASSE GASIFICATION

IN CIRCULATING FLUIDIZED BED REACTOR

Vinícius Gama Lidoino

June/2015

Advisors: Albino José Kalab Leiroz

Manuel Ernani de Carvalho Cruz

Department: Mechanical Engineering

The objective of this work is to study the sugarcane bagasse gasification process

in a circulating fluidized bed reactor, aimed at predicting the composition and evaluating

the quality of the syngas. The CeSFaMB™ commercial software is used to simulate 16

experimental tests available in the literature, as well as to perform a simulation plan based

on the reactor operating range. The program fluidization model is based on semi-

empirical correlations, in addition to considering steady-state conditions and one-

dimensional approach. The comparative analysis of the experimental and computational

results suggests that the simulations are able to capture the behavior of the variations in

the composition and properties of the syngas, as the input variables are modified. Larger

discrepancies were verified in the quantification of methane, such that the predicted value

far overestimates the experimental. With an average deviation of 3.9% the CO2 fractions

approach the real ones. In the case of hydrogen the deviation of 13.4% is obtained, while

17.5% is verified for CO. The simulation plan indicates that to aid the gasification process

and prevent combustion, one should opt for a smaller air/fuel ratio. An increase in the

hydrogen final concentration has been observed when water vapor is fed together with

the gasifying agent.

vii

Sumário

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1

1.1 Revisão Bibliográfica ............................................................................. 2

1.2 Conclusão da Revisão Bibliográfica ........................................................... 7

2 GASEIFICAÇÃO .......................................................................................... 9

2.1 O Processo de Gaseificação ...................................................................... 9

Secagem ......................................................................................... 10

Pirólise ........................................................................................... 13

Combustão ..................................................................................... 19

Gaseificação ................................................................................... 20

2.2 Tipos de Gaseificadores .......................................................................... 21

3 FLUIDIZAÇÃO ........................................................................................... 27

3.1 Velocidade mínima de fluidização ........................................................... 27

3.2 Velocidade terminal ............................................................................... 28

3.3 Propriedades das partículas ..................................................................... 29

3.4 Modelos de Fluidização .......................................................................... 32

4 O MODELO MATEMÁTICO ....................................................................... 34

4.1 Modelagem no CeSFaMB ....................................................................... 35

Modelo fenomenológico, unidimensional e estacionário ...................... 36

Fases na região densa....................................................................... 38

Reações químicas e modelo de devolatilização ................................... 39

Transferências convectivas e composição de partículas sólidas............. 41

Variação granulométrica das partículas no regime permanente ............. 41

4.2 Equações básicas ................................................................................... 42

5 DESCRIÇÃO DO GASEIFICADOR ............................................................. 45

6 ANÁLISE COMPARATIVA ........................................................................ 49

viii

6.1 Descrição dos Experimentos ................................................................... 49

6.2 Dados de Entrada do CeSFaMB .............................................................. 50

Parâmetros de convergência numérica ............................................... 50

Parâmetros geométricos e físicos do equipamento ............................... 53

Dados do equipamento – jaqueta de aquecimento ............................... 57

Caracterização dos sólidos ............................................................... 58

Caracterização das correntes gasosas ................................................. 66

6.3 Validação .............................................................................................. 66

Conclusões da validação .................................................................. 70

6.4 Simulação dos experimentos ................................................................... 72

Composição do gás de síntese ........................................................... 74

Qualidade do gás ............................................................................. 78

6.5 Conclusão das simulações ....................................................................... 83

7 CASOS PLANEJADOS ................................................................................ 84

7.1 Simulações com a utilização da corrente de N2.......................................... 85

Composição do gás de síntese ........................................................... 85

Qualidade do gás de síntese .............................................................. 90

Efeito da temperatura ....................................................................... 92

7.2 Simulações sem adição da corrente de Nitrogênio ..................................... 93

7.3 Conclusão do planejamento de casos e sugestões futuras ............................ 95

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 97

ANEXO A – CONJUNTO DE PARÂMETROS DE ENTRADA DO CeSFaMB ..... 101

ix

Lista de Figuras

Figura 1.1: Processos de conversão termoquímica de biomassa (adaptado de BALAT et

al., 2009).............................................................................................................. 4

Figura 1.2: Bagaço de cana-de-açúcar (Fonte: Adaptado de IEPEC e Canal da Cana). .. 5

Figura 1.3: Participação dos 20 principais produtos no valor da produção do Brasil – 2012

(Fonte: IBGE ,2013). ............................................................................................. 6

Figura 2.1: Processos no gaseificador (adaptado de GÓMEZ-BAREA e LECKNER,

2010). ................................................................................................................ 10

Figura 2.2: Representação da umidade no interior de um sólido poroso (adaptado de

FOUST, 1980). ................................................................................................... 11

Figura 2.3: Curva de secagem típica, teor de umidade em função do tempo (adaptado de

FOUST, 1980). ................................................................................................... 12

Figura 2.4: Curva de taxa de secagem em função do teor de umidade (adaptado de

FOUST, 1980). ................................................................................................... 12

Figura 2.5: Processo de decomposição de moléculas grandes de hidrocarbonetos em

moléculas menores, durante a pirólise (Fonte: adaptado de BASU, 2010). ................ 14

Figura 2.6: Processo de pirólise sofrido por partícula de biomassa( Fonte: adaptado de

NEVES et al., 2011). ........................................................................................... 15

Figura 2.7: Pirólise em uma partícula de biomassa (Fonte: adaptado de BASU, 2010). 16

Figura 2.8: Diferentes regimes de fluidização (adaptado de SIEDLECKI, 2011). ....... 23

Figura 2.9: Esquema de reator de leito fluidizado borbulhante e circulante (adaptado de

MENG, 2012). .................................................................................................... 24

Figura 3.1: Envelopamento de uma partícula porosa (Fonte: LENÇO, 2010). ............ 30

Figura 3.2: Classificação de partículas de Geldart (Fonte: Adaptado de Geldart, 1973).

......................................................................................................................... 31

Figura 4.1: Esquema de regime laminar (a) e regime plug-flow (b) (adaptado de SOUZA-

SANTOS, 2010) ................................................................................................. 37

Figura 4.2: Fases da região densa: bolha e emulsão (adaptado de GAO et al., 2013). .. 38

x

Figura 4.3: Modelos de núcleo não exposto (a) e núcleo exposto (b) para reações

heterogêneas gás-sólido (adaptado de Souza-Santos, 2010). .................................... 40

Figura 5.1: Imagem do gaseificador de leito fluidizado circulante de TUDelft (adaptado

de LEITE,2014). ................................................................................................. 45

Figura 5.2: Esquema do gaseificador CFB modelado (adaptado de MENG, 2012). .... 46

Figura 6.1: Interface do CeSFaMB – entrada dos parâmetros de convergência numérica.

......................................................................................................................... 53

Figura 6.2: Principais parâmetros geométricos e físicos que definem um gaseificador para

o CeSFaMB© (adaptado de SOUZA-SANTOS, 2012). ........................................... 54

Figura 6.3: Esquema de um gaseificador de geometria não constante (adaptado de

SOUZA-SANTOS, 2012). ................................................................................... 55

Figura 6.4: Esquema de um distribuidor com flautas genérico (adaptado de SOUZA-

SANTOS, 2012). ................................................................................................ 56

Figura 6.5: Interface introdução dos principais parâmetros geométricos no simulador. 56

Figura 6.6: Montagem dos principais parâmetros referentes ao aquecimento externo do

gaseificador. ....................................................................................................... 57

Figura 6.7: Parâmetros de alimentação do combustível (interface gráfica CeSFaMB). 58

Figura 6.8: Bomba calorimétrica (adaptado de KRISHNAMURTHY et al., 2014) ..... 59

Figura 6.9: Composição imediata e elementar do combustível (Interface gráfica do

CeSFaMB). ........................................................................................................ 61

Figura 6.10: Densidades do combustível alimentado (interface gráfica do CeSFaMB). 62

Figura 6.11: Série de peneiras de abertura de malhas conhecidas (ABNT/NBR 5734/80)

(Fonte: Site UFSM). ............................................................................................ 63

Figura 6.12: Distribuição granulométrica do combustível alimentado (Interface gráfica do

CeSFaMB). ........................................................................................................ 64

Figura 6.13: Perfil de temperatura do conjunto de validação ao longo do reator ......... 71

Figura 6.14: Perfil de temperatura do conjunto de validação modificado ao longo do reator

......................................................................................................................... 71

Figura 6.15: Comparação experimental, composição de H2 livre de N2. .................... 76

xi

Figura 6.16: Comparação experimental, composição de CO livre de N2. ................... 77

Figura 6.17: Comparação experimental, composição de CH4 livre de N2. .................. 77

Figura 6.18: Comparação experimental, composição de CO2 livre de N2. .................. 77

Figura 6.19: Comparação propriedades do gás - Conversão de carbono..................... 80

Figura 6.20: Comparação propriedades do gás - Eficiência a frio. ............................ 80

Figura 6.21: Comparação propriedades do gás - H2/CO. .......................................... 80

Figura 6.22: Comparação propriedades do gás - PCI. .............................................. 81

Figura 7.1: Perfil longitudinal da fração molar do gás hidrogênio (H2) ao longo do

gaseificador. ....................................................................................................... 87

Figura 7.2: Perfil longitudinal da fração molar de vapor d'água ao longo do reator. .... 87

Figura 7.3: Perfil da fração molar de O2 ao longo do gaseificador. ........................... 88

Figura 7.4: Perfil da fração molar de CO2 ao longo do gaseificador. ......................... 89

Figura 7.5: Perfil da taxa da reação H2+O2 ao longo do reator. ................................ 89

Figura 7.6: Perfil da taxa da reação CO+O2 ao longo da região densa. ...................... 90

Figura 7.7: Perfis de temperatura dos casos planejados. ........................................... 93

xii

Lista de Tabelas

Tabela 2.1: Características de alguns processos de pirólise ( Fonte: adaptado de BASU,

2010 e BALAT et al., 2009). ................................................................................ 18

Tabela 2.2: Principais reações do processo de gaseificação. ..................................... 20

Tabela 2.3: Vantagens e desvantagens dos principais gaseificadores (adaptado de

ZHANG et al., 2010). .......................................................................................... 22

Tabela 2.4: Principais diferenças entre o gaseificador de leito fluidizado borbulhante e o

leito fluidizado circulante (adaptado de SIEDLECKI , 2011). .................................. 25

Tabela 3.1: Constantes experimentais (Fonte: adaptado de MELO, 2008) ................. 28

Tabela 4.1: Níveis de abordagem de um modelo de gaseificação em leito fluidizado. . 34

Tabela 4.2: Alguns trabalhos que utilizaram o modelo CeSFaMB. ........................... 36

Tabela 5.1: Resumo dos métodos analíticos e componentes medidos (LEITE, 2014). . 48

Tabela 6.1: Variáveis experimentais (Adaptado de LEITE, 2014). ............................ 50

Tabela 6.2: Principais parâmetros físicos e geométricos do gaseificador. .................. 55

Tabela 6.3: Poder calorífico do bagaço de cana-de-açúcar (base seca). ...................... 60

Tabela 6.4: Análise elementar (base seca) do bagaço (LEITE, 2014). ....................... 62

Tabela 6.5 Análise imediata do bagaço (LEITE, 2014). ........................................... 62

Tabela 6.6: Composição do leito de magnesita (LEITE,2014). ................................. 64

Tabela 6.7: Propriedades do material inerte do leito (Adaptado de LEITE,214; MENG,

2012; SIEDLECKI 2011). .................................................................................... 65

Tabela 6.8: Análise granulométrica do material inerte (LEITE, 2014). ...................... 65

Tabela 6.9: Propriedades das correntes gasosas alimentadas. ................................... 66

Tabela 6.10: Grupo de experimentos para validação do simulador (adaptado de LEITE,

2014) ................................................................................................................. 67

Tabela 6.11: Principais parâmetros de entrada do conjunto validação ....................... 67

Tabela 6.12: Resultados das primeiras simulações do conjunto de validação. ............ 68

xiii

Tabela 6.13: Resultados de temperatura das primeiras simulações do conjunto de

validação. ........................................................................................................... 68

Tabela 6.14: Parâmetros modificados para o conjunto de validação. ......................... 69

Tabela 6.15: Resultados do conjunto validação modificado. .................................... 69

Tabela 6.16: Resultados de temperatura do conjunto de validação modificado. .......... 70

Tabela 6.17: Média dos desvios para os conjuntos de validação. .............................. 70

Tabela 6.18: Principais resultados das simulações dos 16 experimentos no CeSFaMB.

......................................................................................................................... 72

Tabela 6.19: Principais resultados do conjunto simulação modificado....................... 73

Tabela 6.20: Principais componentes do gás de síntese (%vol) (adaptado de LEITE,

2014). ................................................................................................................ 74

Tabela 6.21: Comparação da composição do gás de síntese simulação modificado x

experimental. ...................................................................................................... 75

Tabela 6.22: Comparação da composição do gás de síntese simulação modificado x

experimental (sem N2). ........................................................................................ 76

Tabela 6.23: Resultado experimental: qualidade do gás (adaptado de LEITE, 2014). .. 78

Tabela 6.24: Comparação simulação modificado x experimental: qualidade do gás. ... 79

Tabela 6.25: Comparação experimental da temperatura (°C). ................................... 81

Tabela 6.26: Média dos desvios relativos da simulação no CeSFaMB. ...................... 82

Tabela 7.1: Variáveis independentes do estudo. ...................................................... 84

Tabela 7.2: Plano de simulação. ............................................................................ 84

Tabela 7.3: Fração molar do gás de síntese (base úmida). ........................................ 85

Tabela 7.4: Fração molar do gás de síntese (base seca). ........................................... 86

Tabela 7.5: Reações de formação de H2 a partir de vapor. ....................................... 86

Tabela 7.6: Qualidade do gás de síntese (base úmida). ............................................ 90

Tabela 7.7: Efeito da temperatura na qualidade do processo e do produto. ................. 92

Tabela 7.8: Fração molar do gás de síntese sem adição de N2 (base úmida). .............. 93

xiv

Tabela 7.9: Qualidade do gás de síntese (base úmida e sem N2). .............................. 94

Tabela 7.10: Comparação da qualidade do gás de síntese com e sem N2 (%). ............ 94

xv

Lista de Símbolos

ABREVIAÇÕES

BBM Modelos caixa preta

BFB Leito fluidizado borbulhante

CeSFaMB™ Comprehensive simulator of fluidized and moving

bed equipment

CF Carbono Fixo

CFB Leito fluidizado circulante

CFDM Modelos computacionais fluidodinâmicos

CONAB Companhia nacional de abastecimento

FM Modelo de fluidização

GLF Gaseificação em leito fluidizado

IBGE Instituto brasileiro de geografia e estatísticas

PAM Produção agrícola municipal

TUDelft Universidade Técnica de Delft, localizada em

Delft,Holanda

SÍMBOLOS

𝑋′ Teor de umidade

�� Velocidade da reação

A Cinzas

a Constante experimental ou coeficiente

representativo da formula do carbonizado

D Coeficiente de difusão (m2/s)

d Diâmetro (m)

F Vazão mássica (kg/s)

xvi

g Aceleração da gravidade (m/s2)

K Fase (sólido ou gás)

k Coeficiente cinético

LHV Entalpia de combustão (MJ/kg)

M Massa (kg)

M Massa molar (kg/kmol)

NAR Número de Arquimedes

NRe Número de Reynolds

P Pressão (Pa)

PCI Poder calorífico inferior (MJ/kg)

PCS Poder calorífico superior (MJ/kg)

R Taxa de produção ou consumo (kg/m3.s)

S Área da seção transversal do gaseificador (m2)

SB Razão vapor/biomassa

T Temperatura (°C ou K)

U Velocidade (m/s)

V Volume (m3)

VL Voláteis

W Umidade

W Fração mássica

Z Altura (m)

LETRAS GREGAS

Β Coeficiente de distribuição

ε Porosidade

η Eficiência do equipamento (%)

xvii

λ Fator estequiométrico

ρ Densidade (kg/m3)

Coeficiente estequiométrico

φ Esfericidade

Φ Propriedades de transporte

µ Viscosidade (kg/m.s)

𝛤 Taxa de produção de finos devido ao atrito das

partículas ( kg/s)

SUBSCRITOS

app Aparente

av Média

B Bolha

bulk A granel ou total

D Leito ou região densa

DRY Base seca

e emulsão

E Equilíbrio

f Fluido

F Região diluída ou pobre

het Relacionado às reações heterogêneas

hom Relacionado às reações homogêneas

G Referente ao gás

i Espécie química

j Componente

L Tamanho da partícula

l Condição de alimentação

m Tipo de partícula

mf Condição de mínima fluidização

p Referente à partícula

xviii

S Referente ao combustível sólido

t Terminal

WET Base úmida

Y Arrasto de partículas

1

1 INTRODUÇÃO

Apenas há pouco mais de 100 anos a biomassa começou a perder sua liderança

histórica como insumo energético, inicialmente para a energia do carvão, e depois, com

o crescimento contínuo do uso de petróleo e do gás natural (CORTEZ et al., 2008). Porém

hoje, fica evidente a crescente preocupação de diversos países com os níveis de emissões

de poluentes causados pela queima de combustíveis fósseis. Neste cenário ressurgem os

investimentos e trabalhos voltados à utilização de biomassa para a geração energia e

combustíveis.

A biomassa é atrativa na obtenção de energia por ser renovável e apresentar baixas

emissões globais de CO2 para a atmosfera. Além disso, a biomassa pode ser quase que

totalmente utilizada em processos industriais. A cana de açúcar, por exemplo, é utilizada

para produção de etanol e seu bagaço (rejeito) têm sido empregado em processos

termoquímicos para obtenção de energia.

Dentre estes processos, destaca-se a gaseificação que converte um insumo sólido

ou líquido em um gás com características basicamente combustíveis, através de sua

oxidação parcial a temperaturas intermediárias (CORTEZ et al., 2008). O gás de produto

ou gás de síntese produzido a partir da gaseificação de biomassa é uma alternativa “amiga

do ambiente” para os combustíveis petroquímicos convencionais na produção de

eletricidade, hidrogênio, biocombustíveis sintéticos de transporte e outros produtos

químicos (MENG, 2012).

Os gaseificadores de leito fluidizado possuem vantagens, especialmente no que

diz respeito à mistura, as velocidades de reação, e a possibilidade de ser construído em

dimensões muito superiores aos dos gaseificadores de leito fixo. Os leitos circulantes se

sobressaem na medida em que a reciclagem de finos conduz a uma maior eficiência de

conversão de carbono, aumentando o tempo de permanência das partículas (GÓMEZ-

BAREA e LECKNER, 2010).

Estudar o processo de gaseificação e entender os efeitos das variáveis do processo

no gás de síntese obtido pode se tornar uma tarefa dispendiosa experimentalmente.

Experimentos, especialmente em larga escala, muitas vezes são caros e complexos.

Estudos de modelagem podem economizar tempo e dinheiro, e podem apoiar a preparação

2

e otimização de experimentos a serem realizados em um sistema real (GÓMEZ-BAREA

e LECKNER, 2010).

Desta forma o presente trabalho tem como objetivo geral estudar o processo de

gaseificação do bagaço de cana-de-açúcar em um reator de leito fluidizado circulante

(CFB). A fim de determinar a composição do gás de síntese utilizando o programa

comercial CeSFaMB™. Por consequência os seguintes objetivos específicos devem ser

alcançados:

a) realizar simulações de reatores de leito fluidizado circulante com o

CeSFaMB™;

b) comparar os resultados obtidos com resultados experimentais disponíveis na

literatura;

c) realizar um estudo de efeito das variáveis independentes do processo de

gaseificação em reatores de leito fluidizado circulante.

1.1 Revisão Bibliográfica

A biomassa é uma fonte de energia renovável, potencialmente sustentável e tem

muitas aplicações possíveis, variando de geração de calor, para a produção de avançados

portadores de energia secundária (SIEDLECKI et al., 2011). Ela é formada a partir de

seres vivos, como plantas e animais, ou seja, tudo o que agora está vivo ou foi vivo há

pouco tempo. Origina-se logo que uma semente germina ou um organismo nasce (BASU,

2010).

A biomassa pode ser obtida de vegetais não-lenhosos, e lenhosos, como é o caso

da madeira e seus resíduos, e também de resíduos orgânicos, nos quais encontramos os

resíduos agrícolas, urbanos e industriais. Assim como também se pode obter biomassa

dos bio-fluidos, como os óleos vegetais (por exemplo, mamona e soja) (CORTEZ et al.,

2008).

De acordo com BALAT et al. (2009) foi a partir da crise energética da década de

1970 que surgiram interesses em biomassa como fonte de combustível para expandir o

desenvolvimento de fontes renováveis de energia doméstica e reduzir os impactos

ambientais da produção energética.

3

SOUZA-SANTOS (2010) lista algumas características importantes que fazem da

biomassa uma opção atrativa para substituir os combustíveis fósseis:

Uma fonte renovável e sua aplicação, como combustível, proporciona baixas

emissões globais de CO2 ao meio ambiente.

Em sua grande maioria, a biomassa possui baixos teores de cinzas presentes, o

que diminui os problemas relacionados à eliminação de resíduos, limpeza do

equipamento e outros aspectos operacionais;

A utilização de biomassa para geração de energia, permite que as florestas

energéticas sejam definidas perto das usinas, e não o contrário, como acontece

com as usinas a bases de carvão.

Unidades industriais que utilizam biomassa para outros fins principais podem

gerar energia para consumo próprio ou como subproduto a partir de seus

rejeitos. Por exemplo o trabalho de ANDRADE et al. (2007) avaliou a

produção de energia a partir de um gaseificador operando com casca de arroz,

rejeito do beneficiamento do arroz, como combustível.

Tendo em vista estas características, diversos estudos e trabalhos vêm sendo

desenvolvidos utilizando algum dos tipos de biomassa citados anteriormente para

produção de energia ou produtos combustíveis. Porém, para este fim, se faz necessário o

uso de métodos de conversão termoquímica.

Os métodos disponíveis para se obter energia a partir de biomassa podem ser

divididos em duas categorias principais: as rotas de conversão biológicas e as

termoquímicas (BALAT et al., 2009)

ZHANG et al. (2010) vê na energia a partir de biomassa, a bioenergia, como uma

fonte de perspectiva para substituir os combustíveis fósseis no futuro. Em seu trabalho

fornece uma visão geral das principais características dos quatro processos

termoquímicos fundamentais, combustão, pirólise, gaseificação e liquefação.

Os processos termoquímicos diferem entre si, principalmente, pelo uso ou não de

oxigênio (ar) e o tipo e qualidade do produto obtido. A Fig.1.1 resume as diferenças entre

os principais processos.

4

Figura 1.1: Processos de conversão termoquímica de biomassa (adaptado de BALAT et

al., 2009).

DI CARLO et al. (2013), destacam o uso do combustível renovável como uma

solução para geração de energia limpa para o futuro. O estudo busca prever o

comportamento dos componentes de uma planta de energia específica, composta

principalmente por um gaseificador indiretamente aquecido por uma célula combustível

de óxido sólido. O gaseificador é alimentado por castanha coppice, biomassa disponível

em abundância na Itália.

Muitos pesquisadores estão desenvolvendo tecnologias com base no potencial

energético do bagaço de cana-de-açúcar, no seu poder de renovação, na neutralidade de

emissões de CO2 e a possibilidade de conversão em produtos de maior valor agregado

(ARTEAGA-PÉREZ et al., 2014).

O bagaço de cana é o resíduo produzido após a extração do caldo nas usinas de

açúcar e destilarias de álcool etílico no Brasil. De acordo com a CONAB (2011), de um

modo geral, o bagaço em uso no Brasil apresenta de 270 a 290 kg de bagaço (com 50%

de umidade) em cada tonelada de cana processada. A Fig. 1.2 ilustra o bagaço e a grande

quantidade que pode ser produzida nas usinas e destilarias.

5

Figura 1.2: Bagaço de cana-de-açúcar (Fonte: Adaptado de IEPEC e Canal da Cana).

O bagaço de cana-de-açúcar começou a aparecer no cenário nacional a partir dos

anos 70 com o início do programa pro-álcool. Nesta ocasião o até então rejeito, deixou

de ser descartado para ser empregado na geração de vapor destinado a produção de

energia elétrica, utilizando-se o ciclo Rankine. Nos últimos anos descobriu-se o grande

potencial do bagaço como matéria-prima para produção de combustíveis derivados a

partir de processos de conversão. Desta forma, esse subproduto deixou de ser considerado

um resíduo e constituiu-se em um insumo energético importante (LENÇO, 2010).

No Brasil a cana-de-açúcar se destaca entre as principais culturas cultivadas. A

área cultivada que será colhida e destinada à atividade sucroalcooleira na safra 2014/15

será de aproximadamente 9,1 milhões hectares o que representa um aumento de 3,3% em

relação à safra passada (CONAB, 2014). Em termos de produtividade este número remete

a 659,10 milhões de toneladas de cana processada.

De acordo com a última pesquisa do IBGE através da Produção Agrícola

Municipal – PAM, referente ao ano de 2012 a cana-de-açúcar aparece como um dos

principais produtos agrícolas do Brasil, como se observa na Fig. 1.3.

6

Figura 1.3: Participação dos 20 principais produtos no valor da produção do Brasil –

2012 (Fonte: IBGE ,2013).

Logo, com os números citados acima, fica evidente a oportunidade que o bagaço

de cana-de-açúcar proporciona à geração de energia ou produtos de maior valor agregado,

devido não somente à abundância da espécie no cenário brasileiro, como também aos

diversos métodos de conversão que podem ser aplicados.

PARTHASARATHY e NARAYANAN (2014) realizaram um estudo sobre a

produção de hidrogênio a partir de gaseificação de biomassa. Eles afirmam que a

gaseificação com vapor d’água oferece um caminho eficaz e econômico para a produção

de hidrogênio a partir de biomassa, deixando uma pegada ambiental mínima.

Recentemente reatores de leito fluidizado tem demonstrado aplicação em

gaseificação de biomassa, como se pode notar nos trabalhos de LI et al. (2004),

PARTHASARATHY e NARAYANAN (2014), ARTEAGA-PÉREZ et al. (2014),

SIEDLECKI et al. (2011). No entanto, devido ao seu elevado grau de mistura de sólidos,

bem como o arraste de partículas, um leito fluidizado simples não pode atingir uma

7

elevada conversão de sólidos. O leito fluidizado circulante (CFB) é uma extensão natural

do conceito do leito borbulhante, com ciclones ou outros separadores usados para capturar

e reciclar os sólidos, a fim de prolongar o seu tempo de residência, e, assim, elevar a

conversão de carbono (LI et al., 2004).

Com a evolução tecnológica começam a surgir diversos pacotes comerciais que

permitem a modelagem de diferentes fenômenos envolvendo mecânica dos fluidos,

transferência de calor e cinética química. Especificamente para o caso da gaseificação

existe um pacote comercial denominado CeSFaMB™ que se propõe a modelar reatores

de leito fluidizado, tais como caldeiras e gaseificadores (MELO, 2008).

Nos últimos anos diversos trabalhos tem utilizado o CeSFaMB™ para modelagem

de gaseificadores. Em SOUZA-SANTOS (2008) o programa é utilizado na modelagem

de um processo de gaseificação de madeira em leito fluidizado circulante. MENDOZA

(2009) também modela um reator de leito fluidizado circulante, mas operando a partir de

bagaço-de-açúcar. DYAKOV et al. (2014) utilizam o programa para uma comparação

experimental com uma planta-piloto de gaseificação de pelotas de madeira.

1.2 Conclusão da Revisão Bibliográfica

Da revisão bibliográfica apresentada uma série de conclusões podem ser tiradas.

Atualmente a biomassa vem sendo utilizada como fonte de energia e geração de

compostos de maior valor agregado, principalmente combustíveis e produtos químicos.

No caso da gaseificação, a biomassa produz o gás de síntese que pode ser utilizado na

reação de Fischer-Tropsch e produção de hidrocarbonetos.

A biomassa tem ser tornado atrativa basicamente por reunir duas características

importantes. Primeiro por apresentar baixas emissões de poluentes, e depois por se tratar

de uma fonte renovável. A cana-de-açúcar se destaca no Brasil como uma das principais

culturas cultivadas. Ao longo do tempo o bagaço passou de um rejeito para um atraente

insumo energético, disponível em grandes quantidades no país.

Dentre os processos de conversão termoquímica a gaseificação vem sendo

utilizada para converter a biomassa em energia ou produtos de valor agregado. E com o

avanço da tecnologia modelos capazes de simular o processo de gaseificação estão

8

surgindo. O simulador CeSFaMB tem sido empregado na modelagem de processos de

gaseificação operante a base de biomassa por diversos autores.

Desta forma a modelagem se mostra importante para o estudo de processos de

gaseificação. Trabalhos estão utilizando deste artifício para entender os principais

parâmetros do processo, economizando tempo e dinheiro.

9

2 GASEIFICAÇÃO

Gaseificação é a conversão da matéria-prima sólida ou líquida útil e conveniente

para combustível gasoso ou matéria-prima química. O combustível pode ser queimado

para liberar energia, enquanto a matéria-prima pode ser utilizada para a produção de

produtos químicos de valor agregado (BASU, 2010).

De um modo geral, podemos dizer que existem duas principais rotas de interesse

para a produção e expansão em escala da tecnologia de gaseificação. A primeira é a

produção combinada de calor e energia elétrica. A segunda rota é a obtenção de gás de

síntese de elevada qualidade que pode ser posteriormente utilizado para obtenção de

combustíveis líquidos, hidrocarbonetos, álcoois, hidrogênio, além de alguns insumos

químicos e espécies químicas como ésteres e amônia. (CORTEZ et al., 2008).

A qualidade e a composição do gás de síntese dependem de algumas variáveis

como o agente gaseificador, tipo de biomassa e o gaseificador propriamente dito. Caso a

gaseificação ocorra em presença de ar, o gás final será diluído em N2, o que reduz seu

poder calorífico. Se o processo ocorre em presença somente de oxigênio, não ocorre

diluição, aumentando seu poder calorífico. Ainda é comum a incorporação de quantidades

relativas de vapor superaquecido ao agente de gaseificação (oxigênio ou ar) para obter

um gás rico em hidrogênio (CORTEZ et al., 2008).

Dentre os processos de conversão termoquímica da biomassa, a gaseificação se

mostra como a que menos agride o meio ambiente devido às menores emissões de gases

tóxicos para a atmosfera (ZHANG et al., 2010).

2.1 O Processo de Gaseificação

Conforme GÓMEZ-BAREA e LECKNER (2010), uma partícula de biomassa

sofre uma série de processos de conversão durante a gaseificação: inicialmente secagem

e devolatilização ou pirólise. Posteriormente, ocorre a oxidação dos compostos voláteis e

carbonizados e finalmente a gaseificação. A Fig. 2.1 ilustra os processos sofridos por uma

partícula de combustível (comb.) no gaseificador.

10

Figura 2.1: Processos no gaseificador (adaptado de GÓMEZ-BAREA e LECKNER,

2010).

Desta forma os autores costumam desmembrar este processo em etapas. BASU

(2010) divide um procedimento típico de gaseificação em:

Pré-aquecimento e secagem;

Pirólise;

Combustão;

Gaseificação.

Secagem

É muito importante uma etapa preliminar de secagem antes que a biomassa seja

alimentada ao gaseificador. Já que cada quilograma de umidade na biomassa tira um

mínimo de 2260 kJ de energia extra do gaseificador, para vaporizar a água. E a biomassa,

em geral, é caracterizada por possuir altos teores de umidade, dependendo do tipo,

podendo chegar em até 90% em massa (BASU, 2010).

Assim, CASTELLANOS (2012) informa que para obter um gás de síntese com

um poder calorífico razoável, recomenda-se que a biomassa seja alimentada no

gaseificador com umidade entre 10 e 20% em massa.

11

A secagem se constitui no primeiro processo a ocorrer durante o aquecimento de

um combustível sólido. De acordo com SOUZA-SANTOS (2010), em condições de

pressão atmosférica, ocorre em um intervalo que vai da temperatura ambiente à cerca de

380K.

O processo parece simples, porém, quando se trata de sólidos porosos, é

considerado além da umidade superficial o teor de água presente no interior dos poros e

do combustível sólido. A Fig. 2.2 representa a umidade contida no interior de um sólido

poroso.

Figura 2.2: Representação da umidade no interior de um sólido poroso (adaptado de

FOUST, 1980).

Em FOUST (1980), é apresentado de forma detalhada todo o processo de

secagem. Simplificadamente ocorre o aquecimento do sólido com uma taxa de

aquecimento crescente até que a temperatura do sólido atinja a temperatura de bulbo

úmido do gás, quando a temperatura permanece bem estável e a taxa de secagem

permanece constante. Este é conhecido como período de secagem à taxa constante. O

período termina assim que o sólido atinge o teor de umidade crítico. Além deste ponto a

temperatura da superfície eleva-se e a taxa de secagem cai. O período de taxa decrescente

pode ser mais dilatado que o de taxa crescente, porém a remoção de umidade é muito

menor. A taxa se aproxima de zero em um certo teor de umidade de equilíbrio (𝑋′𝐸), que

corresponde ao menor teor de umidade atingível em um processo de secagem, sem que

se alterem as condições a que o processo está submetido. O teor de umidade (𝑋′) é

defidino por:

��′ = massa de líquido

massa de sólido seco (2.1)

12

As Figs. 2.3 e 2.4 mostram curvas típicas de secagem, uma na base teor de

umidade (𝑋′) contra o tempo e outra na base taxa de secagem contra o tempo, que é obtida

derivando-se a curva da Fig. 2.3.

Figura 2.3: Curva de secagem típica, teor de umidade em função do tempo (adaptado de

FOUST, 1980).

Figura 2.4: Curva de taxa de secagem em função do teor de umidade (adaptado de

FOUST, 1980).

13

Observando-se os gráficos anteriores, o segmento AB representa o aquecimento

da partícula sólida, que ocorre em regime não permanente. O trecho BC representa o

período com taxa de secagem constante, neste período toda a superfície exposta do sólido

está saturada de água. De forma simplificada, o líquido armazenado no interior dos poros

do sólido migra para a superfície, proporcionando uma face continuamente coberta de

uma fina película de água. Desta forma, neste período a taxa de secagem independe da

natureza da partícula. No ponto C o teor de umidade é o mínimo para suprir inteiramente

a superfície dando origem ao segmento CD que é conhecido como período de secagem

decrescente. A crosta da partícula fica pobre em líquido já que a velocidade de movimento

do líquido para a superfície é menor do que a velocidade de transferência de massa a partir

da mesma. No ponto D já não há uma área significativa de líquido saturado na superfície

do sólido. A parte em que ainda resta algum vestígio de umidade, seca pela transferência

convectiva de calor e de massa para a corrente gasosa. O líquido ainda presente no interior

se difunde para a superfície e para o gás numa velocidade bem menor às transferências

convectivas que ocorrem na superfície saturada. Este processo continua até que se atinja

o teor de umidade de equilíbrio (𝑋′𝐸), já mencionado.

Pirólise

A pirólise consiste na decomposição térmica dos materiais, na ausência de

oxigênio, ou quando se utiliza significativamente menos oxigênio do que o necessário

para a combustão completa (BALAT et al., 2009). Basicamente, é a quebra de grandes

moléculas de combustível em moléculas pequenas, por degradação térmica (vide Fig. 2.5)

e é uma das etapas observadas na gaseificação.

Para BASU (2010), a pirólise possui certa semelhança com alguns processos como

craqueamento e carbonização, mas não tem qualquer semelhança com o processo de

gaseificação, que envolve reações químicas com um agente externo conhecido como

agente gaseificante. A pirólise ocorre em um intervalo de temperatura relativamente baixo

de 300 a 650°C enquanto a gaseificação ocorre entre 800 e 1000°C.

14

Figura 2.5: Processo de decomposição de moléculas grandes de hidrocarbonetos em

moléculas menores, durante a pirólise (Fonte: adaptado de BASU, 2010).

Segundo SIEDLECKI et al. (2011), nesta etapa a fração volátil de constituintes

do combustível é liberada na fase gasosa, e o sólido restante é o carbonizado, ou seja,

carbono fixo e cinzas. Desta forma:

𝐶𝑜𝑚𝑏𝑢𝑠𝑡í𝑣𝑒𝑙 𝑠𝑒𝑐𝑜 → 𝑔𝑎𝑠𝑒𝑠 + 𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟(𝑎𝑙𝑐𝑎𝑡𝑟ã𝑜/𝑡𝑎𝑟) + 𝑐𝑎𝑟𝑏𝑜𝑛𝑖𝑧𝑎𝑑𝑜 (R.1)

A pirólise é uma etapa importante da gaseificação, responsável pela

devolatilização do combustível sólido. Este passo é, em geral, relativamente rápido,

especialmente em reatores de mistura rápida, como o leito circulante. BASU (2010),

representa esta etapa pela seguinte reação genérica:

𝐶𝑛𝐻𝑚𝑂𝑝(𝐵𝐼𝑂𝑀𝐴𝑆𝑆𝐴)𝐶𝐴𝐿𝑂𝑅→ ∑ 𝐶𝑥𝐻𝑦𝑂𝑧𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 + ∑ 𝐶𝑎𝐻𝑏𝑂𝑐𝐺á𝑠 + 𝐻2𝑂 + (R.2)

𝐶(𝑐𝑎𝑟𝑏𝑜𝑛𝑖𝑧𝑎𝑑𝑜)

15

A Fig. 2.6 ilustra o processo de pirólise imposto a uma partícula de biomassa.

Com o aumento da temperatura ocorre a secagem e posteriormente a liberação de voláteis

(fase de pirólise primária “1”). Esses são produzidos a partir da cisão térmica de ligações

químicas nos constituintes individuais de biomassa, que são celulose, hemicelulose,

lignina e extrativos. No entanto, caso o combustível seja convertido em altas

temperaturas, alguns dos voláteis primários podem sofrer uma série de reações e formar

o produto “2” (Fig. 2.6). Reações heterogêneas e homogêneas podem ocorrer

paralelamente, como, por exemplo, reformação, desidratação, oxidação, reações de

gaseificação, entre outras. Assim as reações primárias e secundárias podem ocorrer

simultaneamente em diferentes partes de uma partícula de combustível (NEVES et al.,

2011).

Figura 2.6: Processo de pirólise sofrido por partícula de biomassa( Fonte: adaptado de

NEVES et al., 2011).

Os produtos iniciais da pirólise são os gases condensáveis e o carbonizado sólido

(char), como mostra a Fig. 2.7. Os gases condensáveis podem se decompor ainda mais

em gases não condensáveis (CO, CO2, H2 e CH4), líquido e carbonizado.

16

Figura 2.7: Pirólise em uma partícula de biomassa (Fonte: adaptado de BASU, 2010).

Para BALAT et al. (2009), o processo pode ser ajustado para favorecer a formação

de carvão, líquidos de pirólise ou gás. Estes produtos são de interesse como possíveis

fontes alternativas de energia.

Sólidos

O produto sólido não volátil da pirólise é o chamado carbonizado, que é rico em

carbono, mas possui também uma parcela de matéria mineral do combustível precursor.

De acordo com BASU (2010) o sólido é composto de aproximadamente 85% de carbono,

podendo conter algum oxigênio e hidrogênio. Porém, ao contrário de combustíveis

fósseis, a biomassa contém pouquíssimas cinzas inorgânicas.

Formação do carbonizado consiste na conversão da biomassa em um resíduo

sólido que apresenta uma estrutura aromática policíclica. As principais etapas na

formação deste sólido são a formação de anéis de benzeno, e a combinação destes anéis

em uma estrutura policíclica. É geralmente aceito que uma baixa taxa de aquecimento

favorece a formação de carvão (COLLARD e BLIN, 2014).

17

Líquidos

O produto líquido da pirólise possui diversas denominações, tais como, alcatrão,

óleo de pirólise, bio-óleo, ácido pirolenhoso, entre outros. Para BALAT et al. (2009) esta

fração líquida consiste em duas fases: uma fase aquosa contendo uma grande variedade

de compostos organo-oxigenados de baixo peso molecular e uma fase não aquosa

contendo compostos orgânicos insolúveis de peso molecular elevado (principalmente

compostos aromáticos). A esta segunda fase muitos autores denominam de alcatrão.

As características do bio-óleo costumam variar de acordo com o tipo de biomassa,

mas comumente são descritos como um líquido escuro e viscoso cujos principais

componentes são os ácidos orgânicos, aldeídos, cetonas, fenóis e quantidades substanciais

de água, de 20 a 25% (BASU, 2010 e BALAT et al., 2009). O teor de água contribui para

sua baixa densidade de energia, enquanto a biomassa original possui um PCI na faixa de

19,5 a 21 MJ/kg base seca, o seu rendimento líquido possui cerca de 13 a 18MJ/kg base

úmida (BASU, 2010).

Um importante produto da pirólise é o alcatrão formado através da condensação

do vapor condensável produzido no processo. O alcatrão é um líquido pegajoso que cria

uma grande dificuldade no uso industrial do produto de gaseificação (BASU, 2010).

PARTHASARATHY e NARAYANAN (2014), relatam que a condensação do alcatrão

produz uma emulsão oleosa, que é complicada de tratar e provoca problemas de obstrução

dos equipamentos a jusante.

Gás

O rendimento de gases da pirólise pode ser dividido em duas partes: os gases

condensáveis (vapor), que são líquidos nas condições ambientes, e os gases permanentes.

Os vapores (alcatrão e água) são compostos de moléculas mais pesadas que se condensam

com o resfriamento, incorporando ao rendimento dos líquidos da pirólise. Já os

permanentes são constituídos por moléculas mais leves que não se condensam com o

arrefecimento. São exemplos deste grupo, principalmente, os hidrocarbonetos de cadeia

pequena, CH4, CO, CO2 e H2.

O rendimento dos produtos resultantes da pirólise de biomassa pode ser

potencializado da seguinte maneira: o carbonizado é favorecido em baixas temperaturas

e reduzidas taxas de aquecimento. Os produtos líquidos também são beneficiados em

processos operantes a baixas temperaturas, mas com alta taxa de aquecimento e curto

18

tempo de residência. Já os gases, são os principais produtos, quando altas temperaturas,

baixa taxa de aquecimento e longos tempos de residência são alcançados (BALAT et al.,

2009).

Com base na taxa de aquecimento, a pirólise pode ser amplamente classificada

como lenta e rápida. Considera-se lenta se o tempo necessário para aquecer o combustível

para a temperatura de pirólise é muito mais longo do que o tempo de reação característico

de pirólise, e vice-versa (BASU, 2010).

Pirólise rápida ocorre com uma alta taxa de aquecimento e curto tempo de

residência que particularmente favorece a formação de produtos líquidos, mas inibe a

formação de sólidos. Já o processo de pirólise lenta é caracterizado pelo longo tempo de

residência e baixa taxa de aquecimento, e vem sendo utilizado ao longo de muitos anos

para produção de carvão (ZHANG et al., 2010). Por vezes este processo recebe o nome

de pirólise moderada ou convencional.

Com o aumento da taxa de aquecimento o processo de pirólise pode ainda ser

classificado como flash ou ultra rápida. A Tab. 2.1 ilustra as principais classificações de

pirólise, baseada na taxa de aquecimento. Para CASTELLANOS (2012), se a taxa de

aquecimento é rápida, os voláteis não se acumulam em torno da partícula, já que a pirólise

e a gaseificação ocorrem simultaneamente, favorecendo a pirólise secundária e, portanto,

produz um gás mais limpo que o produzido em pirólise lenta. Dessa forma, quanto maior

a taxa de aquecimento mais limpo será o produto.

Tabela 2.1: Características de alguns processos de pirólise ( Fonte: adaptado de BASU,

2010 e BALAT et al., 2009).

Processo Tempo de

residência

Taxa de

aquecimento

(K/s)

Temperatura

final (°K) Produtos

Carbonização Dias Muito baixa ~ 650 Carvão

Lenta 5 – 30 min 0.1 – 1 550 – 950

Carbonizado,

bio – óleo e

gás

Rápida < 2s 10 – 200 850 – 1250 Bio – óleo

Flash < 1s >1000 1050 – 1300 Gases

19

Combustão

Os produtos da etapa de pirólise reagem com um oxidante fornecido

externamente. O oxidante mais comum é o oxigênio, que é utilizado a partir do ar

(enriquecido), ou na forma pura. Vapor e CO2 também podem atuar como agentes

oxidantes (SIEDLECKI et al., 2011)

As reações de pirólise e de gaseificação são endotérmicas. Logo, necessitam que

energia seja fornecida para ocorrerem. Desta forma, o calor necessário para estes

processos, como também para a secagem, normalmente é obtido permitindo-se algumas

reações de combustão do combustível sólido alimentado no gaseificador.

De forma geral, as principais reações de combustão comuns no processo de

gaseificação estão expostas na Tab. 2.2 (R.4) a (R.8). SOUZA-SANTOS (2010) destaca

as reações de oxidação do carbono (R.7) e (R.8) como as principais na etapa de

combustão. Com relação a predominância entre a combustão completa ou parcial, é

apresentada a seguinte reação:

𝐶(𝑠) + 𝛽𝑂2 → (2𝛽 − 1)𝐶𝑂2 + (2 − 2𝛽)𝐶𝑂 (R.3)

O coeficiente de distribuição 𝛽 é dado por:

𝛽 = 2+ 𝛽′

2+2𝛽′ (2.2)

onde,

𝛽′ = 2500 𝑒𝑥𝑝 (−6240

𝑇) (2.3)

Para temperaturas mais elevadas, como no processo de gaseificação, o coeficiente

𝛽 aproxima-se de 0,5. Logo a combustão parcial, reação (R.8) na Tab. 2.2, é preterida.

20

Gaseificação

Na gaseificação em leito fluidizado não se observam zonas separadas de pirólise,

oxidação e redução. Todos os processos acontecem em todo o volume do leito

simultaneamente (CORTEZ et al., 2008).

A Tab. 2.2 resume as principais reações químicas (BASU, 2010;

CASTELLANOS, 2012; GÓMEZ-BAREA e LECKNER, 2010 e SOUZA-SANTOS,

2010) que estão presentes durante todo o processo de gaseificação.

Tabela 2.2: Principais reações do processo de gaseificação.

Reação H

(kJ/mol) Nome Número

Oxidação

𝐶𝑂 + 1

2𝑂2 𝐶𝑂2 -284 Oxidação do CO R.4

𝐶𝐻4 + 2𝑂2𝐶𝑂2 + 2𝐻2𝑂 -803 Oxidação do metano R.5

𝐻2 + 1

2𝑂2 → 𝐻2𝑂 -242 Oxidação do hidrogênio R.6

𝐶(𝑠) + 𝑂2 → 𝐶𝑂2 -394 Combustão completa do

carbonizado R.7

𝐶(𝑠) +1

2 𝑂2 → 𝐶𝑂 -111

Combustão parcial do

carbonizado R.8

Reações de gaseificação

𝐶𝐻4 + 𝐶𝑂2 → 2𝐶𝑂 + 2𝐻2 247 Reação de reforma seca R.9

𝐶𝐻4 + 𝐻2𝑂 → 𝐶𝑂 + 3𝐻2 206 Reação de reforma a

vapor R.10

𝐶𝑂 + 𝐻2𝑂 → 𝐶𝑂2 + 𝐻2 -41,2 Reação homogênea de

deslocamento de água R.11

𝐶(𝑠) + 𝐻2𝑂 → 𝐶𝑂 + 𝐻2 131 Gaseificação com vapor R.12

𝐶(𝑠) + 𝐶𝑂2 → 2𝐶𝑂 172 Reação de Boudouard R.13

𝐶(𝑠) + 2𝐻2 → 𝐶𝐻4 -75 Hidro gaseificação R.14

21

Das inúmeras reações de gaseificação as reações R.12 a R.13 se destacam pela

formação de gases combustíveis essenciais para originar o gás de síntese.

2.2 Tipos de Gaseificadores

Gaseificadores são os equipamentos em que as reações de gaseificação ocorrem.

Com base nos tipos de reações, um gaseificador soprador de ar típico pode ser dividido

em quatro zonas de processo: zona de secagem, onde a água presente na biomassa é

evaporada, a zona de pirólise, no qual a biomassa é pirolisada em gases voláteis de médio

poder calorífico, líquido e carvão, a zona de combustão, região que ocorrem as reações

de combustão com ar/oxigênio limitado, e a zona de redução que produz CO e H2

(ZHANG et al., 2010).

De modo geral os gaseificadores podem ser classificados de acordo com a direção

de movimento relativo da biomassa e do agente gaseificador:

leito fixo ou móvel;

leito fluidizado;

leito arrastado.

Dentre estes, os reatores de leito fluidizado tem se mostrado mais atraentes que os

demais. GÓMEZ-BAREA e LECKNER (2010) afirmam que gaseificadores de leito

fluidizado têm inúmeras vantagens sobre os leitos fixos, especialmente no que diz respeito

à mistura, velocidade de reação e a possibilidade de ser construído em dimensões muito

superiores aos dos gaseificadores de leito fixo.

Já os reatores de leito de arraste possuem algumas limitações quanto ao

processamento de biomassa: a dificuldade de redução do tamanho da partícula de

combustível, a corrosão do revestimento do reator e as limitações inerentes ao tamanho

do equipamento.

A Tab. 2.3 é adaptada de ZHANG et al.(2010) e resume as principais vantagens e

desvantagens dos principais tipos de gaseificadores.

22

Tabela 2.3: Vantagens e desvantagens dos principais gaseificadores (adaptado de

ZHANG et al., 2010).

Tipo de gaseificador Vantagem Desvantagem

Leito fixo/móvel, updraft

Processo simples e barato,

temperatura de saída de

gases na média de 250°C,

funciona satisfatoriamente

sob pressão, alta eficiência

de conversão de carbono,

baixos níveis de partículas

no gás e alta eficiência

térmica.

Grande produção de

alcatrão, pequeno tamanho

de alimentação, potencial

de canalização e transição.

Leito fixo/móvel,

downdraft

Processo simples, apenas

vestígios de alcatrão no

gás de produto.

Tamanho mínimo de

alimentação, teor de

cinzas limitado permitido

na alimentação, limitação

para aumento de escala,

potencial de transição.

Leito fluidizado

Taxa e composição de

alimentação flexíveis,

aceita combustíveis com

alto teor de cinzas,

possível de se pressurizar,

alto teor de CH4 no gás

produto, alta capacidade

volumétrica e fácil

controle de temperatura.

Temperatura de operação

limitada pela

clinquerização de cinzas,

alta temperatura do gás

produto, muito alcatrão e

finos presente no gás,

possibilidade de alto teor

de carbono nas cinzas

flutuantes.

Leito fluidizado circulante

Processo flexível,

temperatura de operação

de até 850 °C.

Problemas de corrosão e

atrito, pobre controle

operacional a partir da

biomassa.

Leito de arraste

Baixos teores de alcatrão e

CO2, flexível para matéria

prima e temperatura de

saída de gases.

Baixo teor de CH4,

extrema redução do

tamanho das partículas de

alimentação requerida,

complexo controle

operacional, perda de

carbono com cinzas,

formação de escórias pelas

cinzas.

Um fator determinante na gaseificação em leito fluidizado é a velocidade

superficial do fluído U que é definida como a velocidade média do fluido na direção axial

ou vertical que vai determinar os diferentes regimes de fluidização, como os ilustrados na

Fig. 2.8.

23

Figura 2.8: Diferentes regimes de fluidização (adaptado de SIEDLECKI, 2011).

Observando a Fig. 2.8 a ocorrência do leito fluidizado só se torna possível quando

o gás atinge a chamada velocidade de mínima fluidização (Fig.2.8-b). O aumento da

velocidade superficial do gás conduzirá a um leito de turbulência (Fig. 2.8-g) e a um

posterior transporte pneumático (Fig. 2.8-h). A formação de bolhas de gás no leito,

enquanto a sua superfície ainda é claramente visível vai indicar o regime de fluidização

24

borbulhante (Fig. 2.8-d) (SIEDLECKI, 2011). Entre o regime de turbulência e o de

transporte pneumático ocorre ainda um regime de rápida fluidização característico nos

gaseificadores CFB.

Nos gaseificadores de leito fluidizado, as partículas do combustível são mantidas

suspensas em um leito de partículas inertes (areia, sílica ou alumina). Estas partículas são

fluidizadas pelo fluxo do agente gaseificador, que cria melhores condições de

transferência de calor e a homogeneidade da temperatura na câmara de reações (leito

isotérmico) (CORTEZ et al., 2008). Estes gaseificadores se diferem entre borbulhante

(BFB) e circulante (CFB).

Nos gaseificadores BFB as partículas arrastadas pelo processo não são enviadas

de volta para o leito e trabalham com velocidades menores que a de transporte pneumático

(Fig. 2.8-h). Já no CFB as partículas arrastadas pelos gases são enviadas de volta ao leito

através de um ciclone, mantendo-se em circulação, vide Fig. 2.9. O reator CFB opera

próximo ao regime de transporte pneumático (ANDRADE et al., 2007).

Figura 2.9: Esquema de reator de leito fluidizado borbulhante e circulante (adaptado de

MENG, 2012).

25

Devido à recirculação das partículas, o gaseificador CFB possui maior tempo de

residência das partículas combustíveis no reator. Tal fato resulta em uma melhor

conversão de carbono e maior eficiência se comparado ao BFB.

A eficiência do gaseificador η pode ser definida por,

𝜂 =𝐹𝐺𝐿𝐻𝑉𝐺

𝐹𝑆𝐿𝐻𝑉𝑆 (2.4)

onde, FG é a vazão mássica de gás de síntese que sai do reator e FS corresponde à vazão

mássica de combustível sólido alimentado no gaseificador. A entalpia de combustão do

gás corresponde a 𝐿𝐻𝑉𝐺 e a do combustível sólido é 𝐿𝐻𝑉𝑆.

De forma simplificada a Tab. 2.4 resume as principais diferenças entre os dois

gaseificadores de leito fluidizado.

Tabela 2.4: Principais diferenças entre o gaseificador de leito fluidizado borbulhante e o

leito fluidizado circulante (adaptado de SIEDLECKI , 2011).

Propriedades BFB CFB

Regime de fluidização Leito borbulhante Leito rápido

Mistura Boa Excelente

Flexibilidade de

alimentação de sólidos

(tamanho)

Finos não desejáveis Finos e material grosso

Produção alcatrão (g m-3) Média de 12 Média de 8

Conversão de carbono (%) Menos que o CFB 88-96

Perda de carbono por

arraste Significante Baixo

Concentração de partículas

no gás (g m-3) Média de 4 Média de 20

Altura do leito/ zona de

queima de combustível 1 – 2 10 – 30

Taxa de transferência

térmica (MW/m2) 1,2 – 1,6 5 – 7

Controle do processo Menos complexo Mais complexo

Potencial scale-up Bom Muito bom

A partir da Tab. 2.4 é evidente que os CFBs têm características ligeiramente

melhores (conversão mais elevada de carbono, menos alcatrão no produto gasoso, maior

26

flexibilidade de combustível, melhor potencial de aumento de escala) em comparação

com os BFBs (SIEDLECKI et al., 2011).

27

3 FLUIDIZAÇÃO

Como visto no capítulo anterior, os reatores de leito fluidizado se diferem pela

velocidade e regime de fluidização. Para que ocorra a fluidização do leito, o processo

depende do agente gaseificador, da velocidade de fluidização e do tamanho e forma da

partícula. Neste capitulo serão apresentados alguns destes conceitos básicos para o

entendimento do fenômeno de fluidização.

3.1 Velocidade mínima de fluidização

A Fig. 2.8 já introduziu o conceito de velocidade de mínima fluidização (Umf) e

dos regimes de fluidização. A velocidade Umf é um parâmetro importante já que indica o

início do regime de fluidização. Caso a velocidade superficial U do gás seja menor que

Umf as partícula se comportam como um leito fixo. De acordo com a literatura este

parâmetro é obtido por:

𝑈𝑚𝑓 =𝑁𝑅𝑒,𝑚𝑓 𝜇𝐺,𝑎𝑣

𝑑𝑝,𝑎𝑣 𝜌𝐺,𝑎𝑣 (3.1)

onde o número de Reynolds na condição de mínima fluidização é definido por:

𝑁𝑅𝑒,𝑚𝑓 = (𝑎12 + 𝑎2𝑁𝐴𝑟)

1

2 − 𝑎1 (3.2)

O número de Arquimedes NAr é dado pela expressão:

𝑁𝐴𝑟 =𝑔𝑑𝑝,𝑎𝑣

3 𝜌𝐺,𝑎𝑣 (𝜌𝑝,𝑎𝑣−𝜌𝐺,𝑎𝑣)

𝜇𝐺,𝑎𝑣 (3.3)

28

As constantes a1 e a2 são obtidas experimentalmente e MELO (2008) apresenta

a Tab. 3.1 que mostra alguns valores disponibilizados por diferentes autores.

Tabela 3.1: Constantes experimentais (Fonte: adaptado de MELO, 2008)

a1 a2 Referência

32,09 0,0415 SANTANA E D’ ÁVILA(1986)

33,70 0,0408 WEN E YU (1966)

25,25 0,0651 SOUZA-SANTOS (1996)

Como é detalhado em SOUZA-SANTOS (2010), as equações acima podem ser

derivadas da equação de Ergun, desenvolvida para prever a perda de carga em processos

de fluidização.

∆𝑃𝐷

𝑍𝐷=

150(1− 𝜀𝐷)2

𝜀𝐷3

𝜇𝐺,𝑎𝑣

(𝜑𝑝,𝑎𝑣 𝑑𝑝,𝑎𝑣)2 𝑈 + 1,75

1−𝜀𝐷

𝜀𝐷3

𝜌𝐺,𝑎𝑣

𝜑𝑝,𝑎𝑣 𝑑𝑝,𝑎𝑣𝑈2 (3.4)

3.2 Velocidade terminal

A velocidade terminal é outro parâmetro importante da fluidização, pois

determina o limite máximo de ocorrência do leito fluidizado, ponto a partir do qual ocorre

o rompimento do leito de partículas.

O trabalho de BROD (2003), demonstra a metodologia experimental para

obtenção da velocidade terminal (Ut). O método se baseia em observar a velocidade onde

ocorre o arraste das partículas em um leito fluidizado estabelecido.

SOUZA-SANTOS (2010), utiliza um método iterativo baseado nas equações a

seguir para a determinação do parâmetro de forma teórica.

𝑈𝑡 = 𝑔𝑑𝑝

2(𝜌𝑝−𝜌𝐺)

18𝜇𝐺, 𝑁𝑅𝑒 ≤ 2 (3.5)

29

𝑈𝑡 = [𝑔𝑑𝑝

1,6(𝜌𝑝−𝜌𝐺)

13,9𝜌𝐺0,4𝜇𝐺

0,6 ]0.71

, 2 ≤ 𝑁𝑅𝑒 ≤ 500 (3.6)

𝑈𝑡 = [3,03𝑔𝑑𝑝

1,6(𝜌𝑝−𝜌𝐺)

𝜌𝐺]0.5

, 𝑁𝑅𝑒 > 500 (3.7)

onde o Reynolds é definido por:

𝑁𝑅𝑒 = 𝑑𝑝𝜌𝐺𝑈𝑡

𝜇𝐺 (3.8)

Uma partícula em queda na presença de um fluxo de ar ascendente fica sujeita a

três forças: a força peso para baixo e as forças devido ao empuxo e a resistência do ar

para cima. Quando essas três forças estiverem em equilíbrio, a velocidade da partícula

será constante, denominada velocidade terminal (BROD, 2003).

3.3 Propriedades das partículas

O sólido presente no processo de fluidização possui uma série de características

importantes, como densidade, granulometria, porosidade e esfericidade. Várias definições

de densidade associadas a uma partícula podem ser encontradas.

Densidade a granel ou total

𝜌p.bulk =m

𝑉 (3.9)

Definida como a massa total das partículas sobre o volume ocupado pelas mesmas.

Não considera o volume dos poros nem fração de vazios. No caso das partículas do leito,

m é massa total do leito e V o volume resultante da soma do volume das partículas

individuais e o espaço vazio entre elas.

30

Densidade real

A densidade real ou simplesmente densidade de uma partícula, é definida como

sendo a razão entre a massa da partícula sólida pelo volume do material sólido que

compõe a partícula, não incluindo o volume dos poros (Vporos) que eventualmente possam

compor a estrutura sólida da partícula (LENÇO, 2010).

𝜌𝑝,𝑟𝑒𝑎𝑙 =𝑚𝑝

𝑉𝑝−𝑉𝑝𝑜𝑟𝑜𝑠 (3.10)

Densidade aparente

𝜌𝑝,𝑎𝑝𝑝 =𝑚𝑝

𝑉𝑝 (3.11)

onde mp é a massa da partícula e Vp o volume total da partícula, ou volume do

envelopamento da partícula (Fig. 3.1).

Figura 3.1: Envelopamento de uma partícula porosa (Fonte: LENÇO, 2010).

31

Segundo SOUZA-SANTOS (2010), a densidade total ou a granel introduz o

conceito de fração de vazios ou porosidade do leito, que é fornecido pela Eq. (3.12).

𝜀 =𝑉𝐺

𝑉= 1 −

𝑉𝑠

𝑉 (3.12)

em que VG corresponde ao volume ocupado pelo gás no leito e Vs é o volume ocupado

pelas partículas sólidas no leito.

Tendo em vista a grande variedade de partículas e o fato que dependendo de suas

características a fluidização ocorre de diferentes formas, torna-se necessário uma

padronização. GELDART (1973) classifica o comportamento de sólidos fluidizados por

gases em quatro grupos, caracterizados pela diferença de densidade entre o sólido e o

fluido (ρS - ρf) e o tamanho médio da partícula. A metodologia completa para a

classificação pode ser encontrado em seu trabalho e a Fig. 3.2 exibe o diagrama de Geldart

para a classificação de partículas.

Figura 3.2: Classificação de partículas de Geldart (Fonte: Adaptado de Geldart, 1973).

32

Resumidamente o grupo A se caracteriza por particulados que iniciam sua

fluidização nas condições de mínima fluidização e passam para o modo de fluidização

borbulhante com o aumento da velocidade. Já o grupo B, ao atingir a Umf, dão início ao

leito borbulhante. O grupo C apresenta partículas que possuem dificuldades em fluidizar

e o grupo D as que podem formar leito de jorro.

3.4 Modelos de Fluidização

A construção de um modelo para gaseificação em leito fluidizado (GLF) não é

uma tarefa trivial. Existem diversas variáveis a serem consideradas no processo. Espera-

se que o modelo seja o mais próximo possível da realidade e represente um determinado

processo ou fenômeno com desvios aceitáveis para propósitos de engenharia.

GÓMEZ-BAREA e LECKNER (2010) afirmam que as ferramentas disponíveis

para este tipo de modelagem são as equações de conservação de massa, energia e

quantidade de movimento linear complementadas por condições de contorno, relações

constitutivas e termos que expressam as fontes e sumidouros do sistema. Porém, se faz

necessário ainda o uso das leis de velocidade para os processos de conversão química,

além da utilização de dados termodinâmicos úteis para a estimativa de propriedades

térmicas.

Desta forma, MELO (2008), lembra que para que seja possível a idealização de

um modelo há a necessidade de se fazer algumas considerações, pois do contrário, a

solução do problema seria complexa.

Para GÓMEZ-BAREA e LECKNER (2010), os modelos de fluidização podem

ser classificados a partir do modo como consideram a fluidodinâmica do processo. A

representação mais real seria a solução do balanço das propriedades de transporte

formuladas e resolvidas para cada fase, que é descrito de forma resumida pela Eq. (3.13):

𝜕𝛷𝑘

𝜕𝑡+ 𝑑𝑖𝑣(𝑈𝑘𝛷𝑘) = 𝑑𝑖𝑣(𝐷𝛷𝑘𝑔𝑟𝑎𝑑𝜑𝑘) + 𝑆𝛷,𝑘 (3.13)

33

sendo Φ uma propriedade de transporte, como densidade ou concentração, entalpia e

velocidade;

U, representa a velocidade;

D, representa o coeficiente de difusão;

k, representa as fases (gás e sólido).

Nos modelos de dinâmica dos fluidos computacionais (CFDM) a mecânica dos

fluidos é tratada de forma detalhada. Desta forma, o CFDM envolve a resolução das

equações de conservação de massa, espécie, energia e quantidade de movimento ao longo

de um domínio ou região definida. Portanto, o modelo é capaz de prever a distribuição de

temperatura, concentração e o comportamento fluidodinâmico ao longo do gaseificador.

Além disto, os modelos CFD resolvem a Eq. (3.13) adotando certas hipóteses para

interação entre as fases, são relativamente novos e com pouca utilização para modelagem

de gaseificadores de leito fluidizado, apresentando elevado custo computacional.

Em contrapartida aos modelos CFD, existem os chamados “caixa-preta” (BBM).

A grande vantagem dos modelos BBM é o reduzido gasto computacional, já que este tipo

de modelo não resolve os fenômenos no interior do gaseificador. Ao invés disto, o modelo

se baseia em balanços globais de massa e energia. Normalmente, duas abordagens são

utilizadas. Na primeira adotam-se relações de equilíbrio e na segunda, essas relações são

complementadas por correlações empíricas. Conforme GÓMEZ-BAREA e LECKNER

(2010) os BBM são úteis em alguns casos, principalmente para uma primeira

aproximação. Porém sua capacidade de previsão é inferior aos CFDM e FM.

Os Modelos de Fluidização (FM) estão entre os mais comuns para o processo de

gaseificação em leito fluidizado. Para CASTELLANOS (2012), entre os três tipos de

modelos, os FM congregam exatidão e baixa complexidade devido às simplificações

introduzidas. GÓMEZ-BAREA e LECKNER (2010) reportam que o FM é um

compromisso entre o BBM e CFDM. O FM evita os detalhes da complexa dinâmica gás-

sólido, mas ainda mantém os efeitos fluidodinâmicos ao assumir um padrão multifásico

no leito (geralmente duas fases). As equações de conservação de quantidade de

movimento não são resolvidas, ao invés disto o modelo fluidodinâmico é descrito por

correlações semiempíricas.

34

4 O MODELO MATEMÁTICO

SOUZA-SANTOS (2010) descreve que o processo em GLF envolve uma

quantidade grande de aspectos térmicos. Cada um desses aspectos pode ser abordado em

vários níveis, conforme a Tab. 4.1.

Tabela 4.1: Níveis de abordagem de um modelo de gaseificação em leito fluidizado.

Fases no leito

Uma fase. Duas fases: bolha e emulsão. Três fases: nuvem, bolha e emulsão.

Regime do fluxo de gás

Zero dimensional. Unidimensional ou plug-flow. Bidimensional.

Regime do fluxo de sólidos

Bem agitado. Bem agitado em

compartimento.

Combinação de

bem e mal agitado. Bidimensional.

Reações químicas

Instantânea ou apenas equilíbrio. Considera taxas mais algum tipo de controle.

Devolatilização

Não

considerada. Instantânea.

Liberação

homogênea.

Proporcional à

mistura ou taxa de

alimentação.

Difusão e cinética

controlada.

Transferência de calor

Entre as fases. Entre as fases e superfícies imersas.

Distribuição do tamanho de partículas

Variação não incluída. Variação devida às

reações químicas.

Variações devidas ás reações, atrito

e arraste para o freeboard.

Processos no freeboard

Não

considerado.

Considera apenas

o fluxo

descendente de

partículas.

Considera apenas o fluxo

descendente de partículas e

reações químicas.

Considera os itens

anteriores além de

transferência de calor

para os tubos.

GÓMEZ-BAREA e LECKNER (2010) resumem que a maioria dos modelos GLF

dispostos na literatura são unidimensionais e de estado estacionário baseados na teoria de

duas fases de fluidização.

35

4.1 Modelagem no CeSFaMB

O modelo matemático utilizado é o disponível no programa de simulação

CeSFaMB™ (Comprehensive Simulator of Fluidized and Moving Bed Equipment), que

desde sua versão original (1987) tem os seus resultados comparados com dados de várias

operações reais em diversas escalas, sempre alcançando desvios baixos entre os

resultados da simulação e condições reais de operação. Constantemente são feitas

melhorias e atualizações no modelo acarretando a diminuição gradual no nível dos

desvios (SOUZA-SANTOS, 2012).

No manual da versão 58.0 SOUZA-SANTOS (2014) salienta que o CeSFaMB™

constitui um programa abrangente de simulação para leitos fluidizados borbulhantes e

circulantes, assim como para equipamentos de leito móvel de corrente ascendente e

descendente.

O CeSFaMB inclui fenômenos relevantes ao processo, mas apresenta

simplificações importantes como, por exemplo, regime permanente e escoamento

unidimensional. Considera que os fenômenos difusivos são desprezíveis se comparados

com os convectivos, devido à velocidade de escoamento do agente gaseificador

(CASTELLANOS, 2012). Destarte, o programa é um compromisso entre a acurácia ideal

da simulação e o tempo de processamento.

De acordo com GÓMEZ-BAREA e LECKNER (2010), o modelo desenvolvido

pelo professor Márcio de Souza Santos é um dos mais avançados e validados para

gaseificadores de leito fluidizado. MOUTSOGLOU (2012) utilizou o modelo para

gaseificação em leito fluidizado borbulhante e afirma ter obtido êxito em simular o reator

em questão. Em SOUZA-SANTOS (2008) foi publicado que expansões do modelo e do

programa de simulação permitiram reproduzir o funcionamento real com unidades de

leito fluidizado circulante. De forma geral a Tab. 4.2 mostra alguns trabalhos que

ajudaram a validar o CeSFaMB nesses últimos anos.

Nos tópicos seguintes será mostrado um resumo das premissas básicas do modelo

para leito fluidizado circulante e as principais equações adotadas para descrever o

processo de gaseificação em CFB.

36

Tabela 4.2: Alguns trabalhos que utilizaram o modelo CeSFaMB.

Trabalhos Autores

Estudos preliminares sobre a geração de

energia avançadas baseadas em ciclo

combinado usando uma única caldeira de

leito fluidizado de alta pressão e consumo

de bagaço de cana

SOUZA-SANTOS e CHAVEZ (2012)

A comparação entre pradaria cordgrass e

gramíneas como biomassa para a

produção de gás de síntese

MOUTSOGLOU (2012)

Comprehensive Simulator (CSFMB)

Aplicado a caldeiras e gaseificadores de

leito fluidizado circulante

SOUZA-SANTOS (2008b)

Análise unidimensional detalhada da

gaseificação de bagaço de cana em reator

de leito fluidizado borbulhante

CASTELLANOS (2012)

Projeto e avaliação computacional do

desempenho de um gaseificador de leito

fluidizado circulante para obtenção de gás

de síntese a partir de bagaço de cana de

açúcar

MENDOZA (2009)

Avaliação computacional de um sistema

de gaseificação em leito fluidizado

utilizando o software CSFB

MELO (2008)

Modelo fenomenológico, unidimensional e estacionário

Dentre os modelos de fluidodinâmica, destacados por GÓMEZ-BAREA e

LECKNER (2010) e resumidos no capítulo anterior, o modelo utilizado no presente

trabalho se classifica como fenomenológico. De acordo com o seu criador SOUZA-

SANTOS (2010), o modelo aplicado no programa é um FM e como tal é baseado em

equações fundamentais, como as leis da termodinâmica, as leis de conservação, e

equações constitutivas que são fundamentadas em correlações empíricas ou

semiempíricas.

O modelo impõe que todas as propriedades ou condições dentro do equipamento

variam apenas em uma coordenada do espaço. Como resultado desta hipótese o modelo

simplifica os cálculos e o tempo de computação, mas pode se privar na representação de

alguns processos ou casos a serem simulados.

37

Na verdade a adoção do modelo unidimensional é uma consequência da escolha

de regime plug-flow (pistonado), vide Fig. 4.1, para modelar o fluxo de gás que atravessa

o leito.

Observando-se a Fig. 4.1, fica evidente que para um regime laminar de

escoamento (Fig. 4.1-a) uma abordagem bidimensional é exigida, já que há variações

tanto na direção radial como na vertical. Porém, quando o modelo pistonado (Fig. 4.1-b)

é adotado, despreza-se as variações na direção radial em detrimento das variações no

sentido axial (SOUZA-SANTOS, 2010).

Figura 4.1: Esquema de regime laminar (a) e regime plug-flow (b) (adaptado de

SOUZA-SANTOS, 2010)

Para Souza-Santos, a operação no regime estacionário pode ser adotada para o

modelo. Segundo ele, as taxas de alimentação e saída de gás e sólido são relativamente

constantes. Alguns casos possuem intervalos, que caracterizariam fora do regime

permanente, porém as variações causadas são mantidas dentro de 10% do valor total.

Logo, a operação pode ser encarada como estado estacionário (SOUZA-SANTOS, 2010).

38

Fases na região densa

O gaseificador é separado em duas regiões: a região densa e a região diluída. Um

dos aspectos abordados na modelagem do processo em questão é o número de fases a se

considerar na região densa. No CeSFaMB, o modelo utilizado é o de Toomey e Jonhstone

de 1952 que considera a região como constituída de duas fases: emulsão e bolha.

A fase de emulsão é constituída de partículas sólidas e gás intersticial. Nesta fase

estão presentes quase todas as partículas, sendo conhecida como região densa e onde

ocorrem a maior parte das reações gás-sólido. Já a fase de bolha é praticamente livre de

sólidos, as bolhas crescem no leito a partir do distribuidor (fundo) e ganham velocidade

para a parte superior, o que ocasiona uma diferença de pressão entre a parte superior e a

inferior da bolha. Desta forma, pequenas partículas da emulsão são arrastadas para a

região de menor pressão da bolha, porém essas partículas não representam uma porção

significativa nesta fase.

Embora o regime de fluidização rápida, comum em casos de leito circulante,

permita que alguma partícula exista no interior da bolha, as reações gás-sólido são

negligenciadas para este caso. A Fig. 4.2 representa as fases consideradas no leito.

Figura 4.2: Fases da região densa: bolha e emulsão (adaptado de GAO et al., 2013).

A distribuição de fluxo de gás entre as duas fases é importante, especialmente em

sistemas reativos, pois o gás na emulsão está em contato direto com as partículas sólidas,

39

enquanto o gás na bolha não (CASTELLANOS ,2012). Conforme DESHMUKH et al.

(2005), a teoria de Toomey e Johnstone sugere que o fluxo de gás na fase de bolha é igual

ao excesso de fluxo de gás acima do que é exigido para mínima fluidização.

Reações químicas e modelo de devolatilização

O processo de gaseificação é constituído tanto de reações homogêneas como de

reações heterogêneas. O modelo utilizado no programa dispõe de um conjunto de mais

de 100 reações, cujas principais foram apresentadas no segundo capítulo.

Para cada tipo de reação química (i), a taxa de produção ou consumo (R) de um

determinado componente (j) pode ser descrito por:

𝑅𝑡𝑖𝑝𝑜,𝑗 = 𝑀𝑗 ∑ 𝑣𝑖𝑗𝑟��𝑖 (4.1)

onde 𝑟�� é a velocidade da reação e é descrita pela cinética de cada reação específica. Um

estudo mais detalhado dos cálculos de cinética química pode ser encontrado em

CASTELLANOS (2012), SOUZA-SANTOS (2010), TURNS (2000).

As reações heterogêneas envolvem duas fases distintas de reagentes, neste caso o

combustível sólido reage com o gás fluidizante. Sendo assim, as taxas das reações

dependem e podem ser limitadas pela transferência de massa entre as fases. O programa

permite a escolha entre dois modelos limitantes para situações de reações heterogêneas

gás-sólido: o modelo de núcleo exposto e o modelo de núcleo não exposto.

No modelo de núcleo não exposto (Fig. 4.3-a), para que as reações se iniciem, o

gás deve sobrepujar uma camada de material inerte reagido até que alcance o núcleo

reativo da partícula. Já no modelo de núcleo exposto (Fig. 4.3-b), a camada envoltória do

núcleo é decomposta em partículas muito pequenas. Logo, o núcleo está sempre exposto

ao ambiente gasoso.

40

Figura 4.3: Modelos de núcleo não exposto (a) e núcleo exposto (b) para reações

heterogêneas gás-sólido (adaptado de Souza-Santos, 2010).

Como mencionado na seção 2.1, a pirólise consiste na quebra ou devolatilização

das moléculas maiores de combustível em produtos de menores cadeias moleculares. As

taxas nas quais estes produtos são formados consistem na cinética da devolatilização.

Alguns autores destacam o modelo de cinética que pode ser baseado em apenas uma

reação global (FIORI et al., 2012) ou em uma série de reações em paralelo (NUNN et al.,

1985).

O programa utiliza, para o caso de biomassa, o modelo de pirólise proposto por

NUNN et al. (1985) para calcular o rendimento de voláteis:

d𝑤𝑗

𝑑𝑡= 𝑘𝑗(𝑤𝑗,𝑙𝑖𝑚 −𝑤𝑗) (4.2)

aqui, wj representa a fração mássica de um determinado composto volátil j produzido por

sua reação. wj,lim consiste na fração mássica da espécie de gás j na mistura gasosa que

seria obtida caso a temperatura de pirólise seja mantida durante um tempo numa

determinada temperatura limite. Já o coeficiente kj é obtido por Arrhenius:

kj = k0,jexp (−Ej

R T) (4.3)

41

Este modelo baseado em uma série de reações impõe que cada componente de

devolatilização é produzido/consumido por uma reação individual. De acordo com

SOUZA-SANTOS (2014), em processos de gaseificação, devido às altas temperaturas, o

processo de pirólise rápida ocorre e todo material volátil deixa a matriz sólida pouco

tempo após a entrada no leito.

Transferências convectivas e composição de partículas sólidas

Nas equações de transporte é suposto que, devido às altas velocidades de

circulação de partículas e elevados fluxos de massa de gás, a transferência de massa por

difusão e de energia por condução na direção axial é desprezível se comparada com as

transferências convectivas.

Devido à alta taxa de circulação de partículas, pode-se considerar a composição

da região densa como homogênea.

Variação granulométrica das partículas no regime permanente

No processo de gaseificação existe uma série de fatores que contribuem para

variação na distribuição granulométrica original das partículas. Os efeitos são: redução

de tamanho devido a reações químicas, a geração de finos por atrito entre as partículas e

componentes internos do reator e, o incremento no tamanho médio das partículas

ocasionado pelo arraste de finos ao freeboard.

SOUZA-SANTOS (2010) baseia-se nestes fatores para desenvolver um balanço

de massa que considera diferentes tipos (m) e tamanhos (L) de partículas:

𝑤𝑚,𝐿𝐹𝑆𝐿,𝑚 + 𝛤𝑚,𝐿 = 𝑤𝐼,𝑚,𝐿𝐹𝐼,𝑚 + 𝛤𝑚,𝐿+1 + (𝐹𝑌,𝑚,𝐿,𝑧=𝑧𝐷 − 𝐹𝑌,𝑚,𝐿,𝑧=𝑧𝐹) +

𝐹𝑅,𝑚,𝐿 (4.4)

42

O primeiro termo da esquerda representa a perda de partículas por correntes que

deixam o leito. Já o segundo indica a taxa de produção de finos, ou seja, é a perda de

partículas de tamanho L que por atrito tonam-se L-1.

Do lado direito, o primeiro termo refere-se a entrada de partículas tipo m e

tamanho L no leito devido à alimentação (I). O termo seguinte simula o ganho de

partículas m,L ocasionado pelo atrito das partículas de tamanho L+1. O terceiro termo

indica o retorno das partículas que não deixaram o sistema pelo topo do freeboard.

Finalmente, tem-se as partículas que são recirculadas ao leito.

O fluxo de massa das partículas que deixam o leito pode ser obtido por:

𝐹𝑆𝐿,𝑚 = 𝐹𝐿,𝑚 + 𝐹𝑅,𝑚 + 𝐹𝑌,𝑚,𝑧=𝑧𝐷 − 𝐹𝑌,𝑚,𝑧=𝑧𝐹 (4.5)

4.2 Equações básicas

O CeSFaMB tem sido utilizado por alguns autores, por exemplo,

CASTELLANOS (2012) e MELO (2008), para operações em leito fluidizado

borbulhante. Porém, em SOUZA-SANTOS (2008) o programa é utilizado para reproduzir

as operações em leito fluidizado circulante e são apresentados detalhes de considerações

e critérios que devem ser adotados para adaptar o modelo ao leito circulante.

A primeira adaptação importante é a substituição dos termos leito e freeboard para

região densa e região diluída, respectivamente. As diferenças mais significativas entre os

dois métodos de leito fluidizado são:

A velocidade superficial do gás é maior nos equipamentos de leito circulante, para

um leito composto de partículas de mesmo tamanho médio e densidade.

No regime de leito circulante, as bolhas formadas são maiores e muitas vezes

ocorre a formação do fluxo slugging ou até mesmo de fluidização turbulenta. Esse

fato ocasiona uma grande presença de partículas na região diluída. Logo, uma

porção considerável de reações gás-sólido também incidem nesta região.

Sendo assim, a adaptação do modelo para casos circulantes possui como maior

preocupação o fato de que uma grande parte das partículas estão presentes na região

diluída (ou freeeboard para leitos borbulhantes). Assim as equações relacionadas com a

43

dinâmica são diferentes. Para o caso de gaseificação em leito fluidizado circulante,

SOUZA-SANTOS (2007) utiliza as relações aplicadas por WEN e CHEN (1982). As

principais estão relacionadas a seguir.

Taxa de arraste:

𝐹𝑌,𝑚,𝑙 = 𝐹𝑋,𝑚,𝑙 + (𝐹𝑌,𝑚,𝑙,𝑧=𝑧𝐷 − 𝐹𝑋,𝑚,𝑙)exp [−𝑎𝑌(𝑧 − 𝑧𝐷)] (4.6)

A taxa de elutriação:

𝐹𝑋,𝑚,𝑙 = 𝑤𝑚,𝑙 𝜌 𝑚(1 – 𝜀𝐹,𝑚,𝑙) (𝑈𝐺 – 𝑈𝑡,𝑚,𝑙) 𝑆 (4.7)

E a taxa de arrasto no topo da região densa, é fornecida por:

𝐹𝑌,𝑚,𝑙,𝑧=𝑧𝐷 = 3,07𝑥10−9𝑆2𝑑𝐵,𝑧=𝑧𝐷 𝜌𝐺

3,5𝑔0,5𝑥 (𝑈𝐺−𝑈𝐺,𝑚𝑓)𝑧=𝑧𝐷

2,5

𝜇𝐺2,5 𝑓𝑚 (4.8)

Outras equações importantes, são as de conservação de massa e energia para as

regiões densa e diluída.

Balanço de massa para o gás na emulsão:

𝑑𝐹𝐺𝐸

𝑑𝑧= ∑ 𝑅ℎ𝑒𝑡,𝑠𝑒,𝑖

𝑑𝑆𝑠𝑒,𝑚

𝑑𝑧+3

𝑚=1 𝑅ℎ𝑜𝑚,𝑔𝑒𝑏,𝑖𝑑𝑉𝑔𝑒

𝑑𝑧− 𝐹𝐵−𝐺𝑒,𝑖

𝑑𝑆𝐵

𝑑𝑧 (4.9)

O primeiro termo da parte direita da equação é a contribuição devido a produção

(ou consumo) do componente i por meio das reações heterogêneas (gás-sólido). O

segundo termo se refere a contribuição das reações homogêneas (gás-gás). Já o último

termo está relacionado à transferência de massa do componente entre as fases (bolha e

emulsão).

44

Balanço de massa na bolha:

𝑑𝐹𝑖,𝐵

𝑑𝑧= 𝑅ℎ𝑜𝑚,𝑏,𝑖

𝑑𝑉𝐵

𝑑𝑧− 𝐹𝐵−𝐺𝑒,𝑖

𝑑𝑆𝐵

𝑑𝑧 (4.10)

Os termos desta equação se assemelham aos da Eq. 4.9, porém graças as

suposições do tópico 4.1.2, não existe nenhum termo que envolve a produção ou consumo

devido às reações heterogêneas. Em CASTELLANOS (2012), SOUZA-SANTOS (2010),

SOUZA-SANTOS (2007) estão disponíveis mais detalhes, como as equações de

conservação de energia que são aplicadas no modelo.

45

5 DESCRIÇÃO DO GASEIFICADOR

O sistema de gaseificação a ser modelado é uma planta piloto da Universidade

Técnica de Delft (TUDelft). A planta piloto tem sido utilizada em pesquisas de

gaseificação, como as de SIEDLECKI (2011), MENG (2012) e LEITE (2014). Esses

estudos anteriores apresentam uma visão detalhada do gaseificador. A Fig.5.1 representa

parte do sistema de gaseificação disponível em TUDelft.

Figura 5.1: Imagem do gaseificador de leito fluidizado circulante de TUDelft (adaptado

de LEITE,2014).

46

Aqui são expostas apenas as características necessárias à modelagem do

equipamento no programa CeSFaMB™. A Fig.5.2 representa um esquema do

gaseificador modelado.

Figura 5.2: Esquema do gaseificador CFB modelado (adaptado de MENG, 2012).

No que concerne à geometria, o gaseificador consiste de um tubo de subida (riser)

de 5,5 m de comprimento e 83 mm de diâmetro interno. O reator é de leito fluidizado

circulante e conforme LEITE (2014) é composto de três sistemas principais: sistema de

alimentação, sistema de gaseificação e sistema de aquecimento.

O sistema de gaseificação (Fig.5.2) é constituído por:

riser, o reator de escoamento ascendente, onde ocorrem as reações químicas,

secagem e pirólise;

ciclone, que é responsável pela separação entre sólido e gás; o gás é

encaminhado ao sistema de limpeza e os sólidos retornam ao riser; possui

diâmetro interno de 102 mm; atura total de 630 mm, sem o flange; dimensões

47

de entrada de 21x50 mm (largura x altura); saída de gases com diâmetro de 54

mm e saída de sólidos de 45mm de diâmetro interno;

downcomer é o tubo de descida responsável pelo retorno dos sólidos

provenientes do ciclone para o reator;

válvula L, responsável pelo controle da taxa de recirculação e por evitar que os

gases ascendam pelo downcomer.

O sistema de alimentação é responsável pela entrada do agente gaseificador,

necessário para as reações de gaseificação no riser, e pela alimentação de sólidos

(combustível e inerte):

alimentação de sólidos é responsável pela adição de três tipos de sólidos no

riser, o combustível, o material do leito e algum aditivo; possui uma taxa

máxima de alimentação de biomassa de 20 kg/h e dois pontos de admissão de

combustível, um imediatamente acima da placa de distribuição de gás e outro

a 900 mm da placa; o sistema de alimentação é constantemente varrido por uma

corrente de nitrogênio para garantir condições de atmosfera inerte.

alimentação de gases, que consiste no agente gaseificante, se dá através da

placa de distribuição (z = 0); o distribuidor consiste de nove tubos de injeção

com diâmetro interno de 4 mm e externo de 6mm, cada tubo possui dois

orifícios de saída de gases de 2 mm cada.

Para o aquecimento do reator, é utilizado um sistema de resistências elétricas e

fitas de aquecimento. No total são 20 aquecedores de resistência no riser e mais 20 no

downcomer. Cada resistência possui 400 mm de comprimento e potência de 2,4 kW. A

temperatura máxima de operação fica em torno dos 1200 °C. O ciclone tem um aquecedor

de 2,4 kW e o topo do riser e os tubos de gás têm fitas de aquecimento com temperatura

máxima de operação de 1000 °C.

O sistema de limpeza de gases é composto de dois filtros de vela, e posteriormente

o gás é enviado para o sistema analítico para a medição de componentes. Em resumo a

Tab. 5.1 mostra as análises e componentes medidos nos testes.

48

Tabela 5.1: Resumo dos métodos analíticos e componentes medidos (LEITE, 2014).

Instrumento/Técnica

analítica

Componentes

medidos Acurácia

Desvio padrão

repetibilidade

Hartman & Braun

URAS10P

Espectroscopia de

infravermelho não

dispersivo (NDIR)

CO2 e CO 98% 0,5%

Hartman & Braun

Magnos6G Analisador

Paramagnético (PM)

O2 98% 0,5%

Varian CP 4900 μGC

módulo CP-Sil 5CB, 4m

Benzeno, Tolueno e

Xileno (BTX) n/a 1%

Varian CP 4900 μGC

módulo CP-COX, 1m

N2, CO, CO2, H2,

CH4 98% 1%

Espectroscopia de

infravermelho por

transformada de Fourier

(FTIR) ThermoElectron

Nicolet 5700 célula

aquecida de gás (150°C)

CO2, CH4, C2H4, CO,

C2H2 98% 10%

Espectroscopia de

infravermelho por

transformada de

Fourier (FTIR)

ThermoElectron

Nicolet 5700 célula

aquecida de gás

(150°C)

CO2, CH4, C2H4, CO,

C2H2, COS, HCN,

H2O, NH3

98% 10%

Teor de água por

gravimetria H2O n/d n/d

Adsorção por fase sólida

(SPA) P.A.H, fenólicos 94% 1,7%

49

6 ANÁLISE COMPARATIVA

O simulador CeSFaMB™ é utilizado na tentativa de reproduzir um conjunto de

resultados experimentais. A contribuição de LEITE (2014), que realizou uma série de

experimentos com o gaseificador descrito no Cap. 5, foi essencial para atingir os

objetivos.

6.1 Descrição dos Experimentos

A metodologia completa para a realização dos experimentos na planta de

gaseificação está disponível em LEITE (2014). Com base em experimentos prévios

realizados em TUDelft, três fatores foram escolhidos como variáveis independentes: as

vazões mássicas de oxigênio, de vapor e de biomassa. Foi utilizado um planejamento

experimental de 2 níveis, que define o número de experimentos como 2k com k sendo o

número de variáveis. Desta forma seriam 8 experimentos (23), porém foi realizada uma

réplica dobrando os experimentos para 16, e ainda foram realizados mais dois

experimentos no ponto central, resultando assim em 18 experimentos mais um

experimento exploratório.

Outra estratégia utilizada por LEITE (2014) foi adimensionalizar as variáveis

independentes, fazendo com que os fatores k sejam 2.

Fator estequiométrico (λ): corresponde à razão entre a quantidade de oxigênio

presente no processo e a quantidade estequiométrica necessária para a

combustão completa do combustível.

Razão vapor/biomassa (SB): razão entre a quantidade de vapor e de biomassa

que entra no sistema.

Assim, o número de experimentos se reduz para 2k=2 = 4. Foi também adotada a

utilização de 4 pontos centrais e mais 2 réplicas. Desta forma, o número total de

experimentos realizados são: 16 experimentos mais 1 exploratório. No que diz respeito

às simulações efetuadas, o experimento exploratório não foi simulado. Logo, são 16

experimentos simulados no CeSFaMB™.

50

A Tab. 6.1 expõe os valores das variáveis independentes nos casos experimentais.

Além disto, a gaseificação realizada contou com uma corrente de N2 de cerca de 3,96 kg/h

e o gaseificador foi aquecido até no máximo 850°C, por motivos de segurança.

Tabela 6.1: Variáveis experimentais (Adaptado de LEITE, 2014).

Experimentos Biomassa,

kg/h

Oxigênio,

kg/h

Vapor,

kg/h λ S/B

1 15,65 7,00 9,91 0,38 0,63

2 15,20 4,00 14,70 0,22 0,98

3 14,61 6,40 14,41 0,37 0,99

4 14,87 6,60 9,91 0,37 0,67

5 14,15 6,00 11,40 0,36 0,81

6 13,86 5,99 11,40 0,36 0,82

7 13,28 4,00 14,70 0,25 1,11

8 14,04 6,24 13,95 0,38 1,00

9 15,09 6,40 8,71 0,36 0,58

10 14,97 6,00 11,40 0,34 0,76

11 14,64 6,28 14,43 0,36 0,99

12 14,44 4,00 14,70 0,23 1,02

13 23,61 7,00 12,60 0,25 0,53

14 15,08 6,00 11,40 0,33 0,76

15 19,67 6,40 10,50 0,27 0,53

16 19,39 6,15 10,34 0,27 0,53

6.2 Dados de Entrada do CeSFaMB

Para a realização das simulações no CeSFaMB outros dados de entrada são

necessários. Os principais dados são os parâmetros de convergência numérica, os dados

geométricos do reator, as características dos sólidos (inerte e biomassa), a vazão, a

composição do agente gaseificador utilizado e mais alguns parâmetros operacionais como

pressão e temperatura de alimentação, por exemplo. O conjunto completo com todos os

dados de entrada está presente no anexo A.

Parâmetros de convergência numérica

São os dados utilizados pelo programa para alimentar o algoritmo de solução

numérica do sistema de equações. Os parâmetros mais importantes definem o intervalo

de busca da solução, o desvio máximo permitido na solução, a tolerância máxima

51

permitida para a integração numérica, a forma de determinar a região de devolatilização

no leito, o método de integração das equações diferenciais e o método para solução das

equações diferenciais não lineares (CASTELLANOS, 2012). Logo, os principais

parâmetros são listados a seguir:

CCMINP: Porcentagem mínima suposta de conversão de carbono no leito. É

uma estimativa que define o valor mínimo esperado de conversão de carbono

sólido em gases no interior do leito. O carbono está disponível na fração de

voláteis e de carbono fixo no combustível sólido, porém devido aos processos

físicos e químicos parte passa para forma gasosa, presente em vários compostos

como CO2, CO e hidrocarbonetos (SOUZA-SANTOS, 2012).

CCMAXP: Porcentagem máxima suposta de conversão de carbono no leito. É

a estimativa para o valor esperado de conversão de carbono no leito.

CCDEVP: Desvio máximo para a conversão de carbono fixo no leito. É a

tolerância necessária para os cálculos de convergência de carbono fixo no leito.

O manual do simulador adverte o usuário a se atentar à relação tempo de

computação e o valor necessário para este parâmetro. Valores pequenos são

preferidos por maiores precisões, mas acarretam em maior tempo

computacional. Durante as simulações observou-se que em alguns casos são

necessários aumentos desta tolerância para obtenção de convergência

numérica.

TOLMB: Critério de convergência para a integração numérica nos balanços de

massa e energia. O parâmetro controla a convergência da integração numérica.

Este dado serve como tolerância para a integração do sistema de balanço

diferencial de massa e energia no gaseificador. À medida que TOLMB diminui,

o erro acumulado durante a integração também diminui. Entretanto, para este

termo deve-se ter o mesmo cuidado que CCDEVP, para que não se aumente

excessivamente o tempo de computação (SOUZA-SANTOS, 2012).

Os parâmetros acima afetam o número de iterações necessárias para a

convergência numérica do programa. O CCMINP é utilizado para a primeira iteração. Já

que com este valor o programa calcula as conversões do combustível sólido e as equações

diferenciais de equilíbrio de massa e energia. Uma vez concluída a integração no leito, o

valor de conversão de carbono fixo no combustível sólido é calculado e comparado com

o CCMINP. Caso o valor seja maior, o programa segue para a próxima iteração utilizando

52

o CCMAXP. Se o novo valor calculado for menor que o CCMAXP a próxima iteração se

inicia utilizando-se novamente o CCMINP e assim sucessivamente.

Caso o valor para conversão de carbono fixo calculado seja menor que o CCMINP

ou maior que o CCMAXP, o simulador cessa a execução e indica ao usuário que utilize

outros valores iniciais. O programa alcança a convergência quando a diferença entre o

valor suposto seja menor que o parâmetro CCDEVP.

A rotina de integração resolve um sistema de equações diferenciais acopladas a

cada passagem através da região densa. O número destas passagens completas ao longo

da região depende do CCDEVP desejado, e o quão próximos estão os valores supostos

(CCMINP e CCMAXP) (SOUZA-SANTOS, 2012).

Já os parâmetros apresentados abaixo referem-se à forma como o simulador

resolverá as equações diferenciais e a determinação da região de devolatilização. Estes

são um conjunto de parâmetros que podem ajudar a promover a convergência,

simbolizados de ICONV.

INCONV(1): Define a estratégia básica para o balanço de energia usado para

definir as condições de contorno na base do leito. Requer um valor de teste para

a temperatura média do leito próxima ao distribuidor. O padrão, utilizado nas

simulações, instrui o programa para aplicar uma estratégia mais simples com

base no valor do poder calorífico do combustível e na conversão de carbono ou

energia liberada durante a combustão.

INCONV(2): Define a forma como é determinada a região das reações

especiais (devolatilização e secagem). Por exemplo, as reações de

devolatilização (pirólise) tendem a ocorrer próximo da posição de alimentação

de combustível. No entanto, estas reações tendem a ocorrer muito rapidamente

a elevadas temperaturas. O CeSFaMB utiliza-se de dois modos para estimar a

região na qual essas reações ocorrem. O método usual, segundo SOUZA-

SANTOS (2012), se baseia em cálculos complexos com base nas velocidades

das reações e a taxa de circulação de partículas. Caso as reações de pirólise

sejam mais rápidas que as taxas de circulação, a região de devolatilização em

torno do ponto de alimentação de combustível aumenta. O segundo método,

considerado padrão para o simulador, utiliza a faixa de temperatura, onde

ocorre a pirólise, por exemplo, (600 – 1200K), para estimar a região em torno

53

da alimentação afetada pela devolatilização. Da mesma forma ocorre para a

secagem.

INCONV (6): Permite ao usuário ajustar o método de resolução das equações

diferenciais não lineares, para o caso de equações mais rígidas.

Figura 6.1: Interface do CeSFaMB – entrada dos parâmetros de convergência numérica.

Parâmetros geométricos e físicos do equipamento

A geometria básica do gaseificador utilizado é descrita no Cap. 5. Aqui será

descrito como e quais parâmetros são necessários para a compilação no simulador. O

simulador possui uma grande quantidade de parâmetros geométricos que podem ser

desconhecidos ou mesmo não relacionados ao reator real. Para isto, o manual do

CeSFaMB (SOUZA-SANTOS, 2012), dispõe de valores padrões que devem ser

adotados.

De forma geral, a Fig. 6.2 demonstra os principais dados geométricos e físicos

exigidos para simulação e que definem um gaseificador de leito fluidizado.

54

Figura 6.2: Principais parâmetros geométricos e físicos que definem um gaseificador

para o CeSFaMB© (adaptado de SOUZA-SANTOS, 2012).

A Fig.6.2 representa um gaseificador de leito fluidizado genérico que também

pode ser utilizada para ilustrar os aspectos básicos do equipamento de leito circulante.

Basta substituir as palavras leito e freeboard por região densa e região diluída,

respectivamente.

A Tab. 6.2 traz as principais características do reator, utilizado por LEITE( 2014)

na realização dos experimentos de gaseificação, que se fizeram necessárias para

implementação no simulador.

55

Tabela 6.2: Principais parâmetros físicos e geométricos do gaseificador.

Parâmetro Símbolo no

CeSFaMB Valor

Diâmetro interno do equipamento DIAME 0,083 m

Posição z relativa ao diâmetro interno ZPOSE 0 – 5,4 m

Comprimento do leito ZD 0,05 m

Posição da principal saída de gases ZF 5,4 m

Diâmetro dos orifícios no distribuidor DOD 0,003 m

Número de orifícios no distribuidor NOD 18

Diâmetro interno das flautas no distribuidor DIFLUT 0,004

Diâmetro externo das flautas no distribuidor DOFLUT 0,005

Número de flautas no distribuidor NFLUT 9

Número de ciclones NCY 1

Diâmetro interno da região cilíndrica do

ciclone DCY 0.102 m

DIAME, na Tab. 6.2 corresponde a uma matriz que descreve o diâmetro interno

do equipamento em várias posições. ZPOSE é a matriz que descreve as posições dos

respectivos DIAME. Portanto, o simulador permite que o usuário defina detalhadamente

o perfil geométrico do equipamento. A Figura 6.3 demonstra um esquema para a definição

dos parâmetros citados numa geometria não constante.

Figura 6.3: Esquema de um gaseificador de geometria não constante (adaptado de

SOUZA-SANTOS, 2012).

56

O comprimento da região densa (ZD), deve ser medido da superfície do

distribuidor para o topo da região densa. A principal posição de retirada de gás (ZF), na

maioria dos casos, coincide com o comprimento total do espaço interno do equipamento

ocupado pelas regiões densa e diluída.

Para as informações referentes ao distribuidor foi utilizado o trabalho de

(SIEDLECKI, 2011) que expõe mais detalhes do equipamento. A placa de distribuição

de gás, que é do tipo da Fig. 6.4, é constituída de nove flautas (NFLUT) com dois orifícios

em cada, totalizando 18 (NOD).

Figura 6.4: Esquema de um distribuidor com flautas genérico (adaptado de SOUZA-

SANTOS, 2012).

Por fim, de ilustração, a Figura 6.5 demonstra a interface do simulador onde estes

dados geométricos são inseridos.

Figura 6.5: Interface introdução dos principais parâmetros geométricos no simulador.

57

Dados do equipamento – jaqueta de aquecimento

No sistema de aquecimento da planta de TuDelft, cada parte do gaseificado (riser,

downcormer, ciclone e tubos de saída de gás) possui seu próprio equipamento de

aquecimento. MENG (2012), SIEDLECKI (2011) e LEITE (2014) possuem uma

descrição detalhada do sistema de aquecimento. Basicamente, o riser, downcorner e o

ciclone são aquecidos por meio de aquecedores de fibra de cerâmica que podem alcançar

a temperatura máxima de 1200 °C. Além disto, a parte superior do riser e os tubos de

saída de gases possuem outro sistema de aquecimento a parte. O agente gaseificador é

pré-aquecido normalmente a 360 °C, podendo atingir temperaturas de 400 °C.

No simulador existem algumas opções de jaqueta de aquecimento para o reator,

que são correspondentes ao parâmetro JACKET. As duas primeiras consistem em se

alimentar água líquida e gerar vapor saturado. Outra opção é utilizar um fluxo de gás

forçado na jaqueta. Por último, o CeSFaMB™ modela um sistema de aquecimento

elétrico que pode ser definido em torno de todo o riser, ou em uma parte dele. Testes

preliminares realizados no simulador mostraram que a opção de aquecimento elétrico

proporcionou melhores resultados. Esta opção permite um melhor controle da

temperatura do reator, ao admitir que taxa de energia (AHRJK) seja adicionada ou

retirada do interior do gaseificador.

A Figura 6.6 refere-se a uma montagem da interface do simulador para a inclusão

dos principais dados da jaqueta de aquecimento.

Figura 6.6: Montagem dos principais parâmetros referentes ao aquecimento externo do

gaseificador.

58

Caracterização dos sólidos

Entre os sólidos possíveis e permitidos pelo programa para o processo de

gaseificação, estão o combustível, absorventes, se houver, e o material inerte que compõe

o leito de partículas. Estes tipos são diferenciados pelo índice m = 1, 2 ou 3

respectivamente.

O combustível sólido (m = 1) utilizado para as simulações, bem como nos

experimentos de LEITE (2014) é o bagaço de cana de açúcar. O simulador permite uma

variedade de materiais carbonáceos, como combustível para o processo que são definidos

pelo símbolo MTKINDC(i). Para o bagaço de cana MTKINDC(i) = 8.

Os primeiros parâmetros para a caracterização do combustível são os parâmetros

físicos e de alimentação (Fig. 6.7):

Figura 6.7: Parâmetros de alimentação do combustível (interface gráfica CeSFaMB).

Poder calorífico superior.

No programa, representado pelo símbolo HHVDBC, o poder calorífico superior

em base seca é definido como o calor liberado quando uma unidade de quantidade de

combustível é completamente queimada e os produtos da combustão são arrefecidos até

a temperatura em que se encontravam os reagentes, a qual normalmente é a temperatura

ambiente (KRISHNAMURTHY et al., 2014).

Procedimentos experimentais normalmente informam apenas o poder calorífico

superior (PCS) em base seca (DRY). Um dos métodos mais utilizados para esta

59

determinação faz uso de uma bomba calorimétrica (Fig. 6.8) e de cálculos de calorimetria,

(KRISHNAMURTHY et al., 2014). O programa calcula o valor em base úmida por:

𝑃𝐶𝑆𝑊𝐸𝑇 = [1 − 𝐴𝑀𝑇𝑃𝐸𝑆(1)

100] 𝑃𝐶𝑆𝐷𝑅𝑌 (6.1)

em que:

PCSWET é o poder calorifico superior (base úmida) da biomassa;

AMTPES(1) corresponde ao percentual em massa de umidade na biomassa

.

Figura 6.8: Bomba calorimétrica (adaptado de KRISHNAMURTHY et al., 2014)

O PCS pode ainda ser encontrado através de correlações baseadas na composição

elementar do combustível. CHANNIWALA e PARIKH (2002) apresentam uma equação

geral para um grande número de combustíveis, que inclui o bagaço de cana-de-açúcar,

com um erro na ordem de 1,45%:

𝑃𝐶𝑆 = 0,3491𝐶 + 1,1783𝐻 + 0,1005𝑆 − 0,1034𝑂 − 0,0151𝑁 − 0,0211𝐴 (6.2)

60

Com a Eq. 6.2 deve-se atentar para os seguintes fatos: os valores inseridos e o

obtido são em base seca, o poder calorífico sai em MJ/kg e as composições devem estar

entre uma faixa de valores definidos no trabalho dos autores.

LENÇO (2010) traz uma série de equações que também são capazes de calcular o

PCS de um combustível, porém, desta vez, através da análise imediata e de acordo com

ele a que se ajusta melhor ao bagaço é a Eq. 6.3 oriunda do trabalho de CORDERO et al.

(2001).

𝑃𝐶𝑆 = 354,3𝐶𝐹 + 170,8𝑉𝐿 (6.3)

Desta forma a equação acima fica em função do teor de carbono fixo (CF) e de

material volátil (VL) presente no bagaço, e o valor encontrado em kJ/kg. A Tab. 6.3 reúne

alguns dos valores de poder calorífico superior encontrado na literatura e também os

calculados pelas Eqs. 6.2 e 6.3, utilizando as análises disponibilizadas por LEITE (2014)

para o bagaço de cana-de-açúcar.

Tabela 6.3: Poder calorífico do bagaço de cana-de-açúcar (base seca).

PCS (MJ/kg) Fonte

16,73 LEITE (2014)

18,53* Calculado pela

Eq.7.2

17,03* Calculado pela

Eq.7.3

18,25 SILVA e MORAIS

(2008)

18,90** Calculado a partir de

(BEN, 2014)

*Valor calculado com base nas análises elementar e imediata de LEITE (2014)

* *Valor calculado pela equação 6.1, com o valor de PCSwet com 50% de umidade

disponível em BEN (2014)

Como o objetivo é reproduzir os resultados experimentais obtidos em LEITE

(2014), o valor utilizado nas simulações é o de 16,73MJ/kg para o poder calorífico do

bagaço em base seca.

61

Vazão mássica, temperatura e posição de alimentação do combustível

Os próximos valores inseridos no programa são os valores de vazão mássica

(FMTESC) em kg/s, temperatura (TPESC) em K e a posição (ZFEEDC) em metros

relativos à condição de alimentação do combustível.

A vazão de alimentação é baseada nos experimentos simulados e nos casos

planejados (capítulo 7). Já a temperatura de entrada é tida como a ambiente, considerada

como 300 K. A posição de alimentação do combustível é tomada de acordo com o

gaseificador de TUDelft, sendo medida a partir do distribuído (z = 0) e corresponde ao

valor de 0,9 m.

Análises imediata e elementar

Conforme CORTEZ et al. (2008) a composição elementar de uma amostra é o

conteúdo em porcentagem de massa de carbono (C), hidrogênio (H), enxofre (S), oxigênio

(O), nitrogênio (N), umidade (W) e material residual (cinzas) (A). Já a composição

imediata de uma amostra é o conteúdo em porcentagem de massa de carbono fixo (CF),

voláteis (VL), umidade (W) e cinzas (A). A Fig. 6.9 ilustra como o programa computa os

dados de análise imediata e elementar

Figura 6.9: Composição imediata e elementar do combustível (Interface gráfica do

CeSFaMB).

62

Os dados das análises foram resultado da caracterização do bagaço realizada por

LEITE (2014). Nas Tabs. 6.4 e 6.5 são mostradas as análises elementar e imediata,

respectivamente, fornecidas.

Tabela 6.4: Análise elementar (base seca) do bagaço (LEITE, 2014).

Elemento C O H N S Cl

% massa 46,200 41,200 5,600 0,270 0,032 0,040

Tabela 6.5 Análise imediata do bagaço (LEITE, 2014).

Análise imediata Voláteis Cinzas Carbono fixo

%massa 77,9 6,6 15,5

Observando-se as tabelas acima e a Fig. 6.9 é possível constatar alguma

discrepância nos valores utilizados. A diferença ocorre pois o CeSFaMB pede alguns

compostos ou elementos que não estão incluídos na análise. Por exemplo, na análise

elementar o programa necessita da inclusão das cinzas, o que não está de acordo com a

análise disponível na literatura utilizada. O mesmo ocorre com a análise imediata, o

CeSFaMB precisa da inclusão da umidade e os dados disponíveis estão em base seca.

Para resolver este problema, foi utilizado um grupo de valores (Fig.6.9) disponibilizados

pela equipe de gaseificação da PETROBRAS.

Densidade, esfericidade e forma básica da partícula

O programa demanda ainda de características físicas do combustível alimentado.

Os primeiros parâmetros são relativos às densidades a granel, aparente e real que são

exibidos na Fig. 6.10.

Figura 6.10: Densidades do combustível alimentado (interface gráfica do CeSFaMB).

63

Outro fator importante que deve ser inserido pelo usuário é a esfericidade (FISPC)

da partícula, assim como a forma básica (ISHAPEC). A esfericidade é definida pela razão

entre a área superficial de uma partícula esférica com o mesmo volume de uma partícula

de combustível alimentado e a área superficial da partícula de combustível alimentado.

O programa permite a escolha entre três formas possíveis. Para ISHAPEC = 0 a

forma de placa ou disco deve ser considerada; ISHAPEC = 1 a forma adotada é cilíndrica

ou agulha e deve ser utilizada quando o comprimento da partícula é considerado muito

maior que o diâmetro da mesma; por último, ISHAPEC = 2 quando a forma básica

esférica é utilizada.

Análise granulométrica do combustível

É necessário informar a distribuição granulométrica das partículas de combustível

alimentado. A granulometria ou análise granulométrica de sólidos é o processo que visa

definir, para determinadas faixas pré-estabelecidas de tamanho de grãos, a percentagem

em massa que cada fração possui em relação à massa total da amostra em análise. A Fig.

6.11 representa uma série de peneiras de abertura de malhas conhecidas e a Fig. 6.12

indica como os dados de granulometria são inseridos no CeSFaMB.

Figura 6.11: Série de peneiras de abertura de malhas conhecidas (ABNT/NBR 5734/80)

(Fonte: Site UFSM).

64

Figura 6.12: Distribuição granulométrica do combustível alimentado (Interface gráfica

do CeSFaMB).

Na Fig.6.12 nota-se que um diâmetro médio foi utilizado. O mais comum nos

trabalhos de engenharia é o diâmetro médio de Sauter, que pode ser definido por:

�� = 1

∑𝛥𝑥𝑖𝑑𝑖𝑖

onde xi é a fração mássica retida entre duas peneiras e di é a média entre as aberturas

dessas peneiras.

Após a descrição do combustível utilizado, características referentes ao material

inerte que compõe o leito são exigidas. O material utilizado nos experimentos foi a

magnesita, com a composição apresentada na Tab. 6.6.

Tabela 6.6: Composição do leito de magnesita (LEITE,2014).

Composição %massa

MgO 86,65

CaO 4,76

SiO2 0,26

Fe2O3 7,57

Al2O3 0,18

As <10 ppm

Cd <0,1 ppm

Hg <0,1 ppm

Pb <10 ppm

65

Assim como para o combustível, dados referentes a temperatura e posição de

entrada são necessários para o inerte. Propriedades como densidade, esfericidade,

granulometria também são importantes. De forma geral, a Tab. 6.7 resume as

propriedades do material do leito, necessárias para simulação, e a Tab. 6.8 expõe a análise

granulométrica do mesmo.

Tabela 6.7: Propriedades do material inerte do leito (Adaptado de LEITE,214; MENG,

2012; SIEDLECKI 2011).

Propriedade Simbologia do CeSFaMB Valor/Tipo

Tipo de alimentação IBATCHI Contínua (IBATCHI = 0)

Massa de inerte

colocada no interior do

leito

AMASSI 9 kg

Temperatura de

alimentação TEPESI 298 K

Posição de

alimentação ZFEEDI 0,9 m

Densidade a granel ROBESI 1315 kg/m3

Densidade aparente ROPESI 1841 kg/m3

Densidade verdadeira RORESI 2630 kg/m3

Esfericidade FISPI 0,98

Tabela 6.8: Análise granulométrica do material inerte (LEITE, 2014).

Faixa de

diâmetros

(µm)

Diâmetro

médio (µm)

Massa retida

(g)

Fração

mássica

(kg/kg)

%

> 850 44,8 3,1E-02 3,14

600-850 725 138,7 9,7E-02 9,73

500-600 550 100,3 7,0E-02 7,03

425-500 463 91,2 6,4E-02 6,40

300-425 362,5 227,9 1,6E-01 15,98

200-300 250 279,3 2,0E-01 19,59

150-200 175 171,8 1,2E-01 12,05

90-150 120 230,2 1,6E-01 16,14

<90 141,6 9,9E-02 9,93

n.d. 0,1 7,0E-05 0,01

Total 1425,8 100,00

66

Caracterização das correntes gasosas

Há vários registros na literatura que indicam as vazões de entrada dos gases

componentes do agente gaseificante como as variáveis mais importantes do processo

(CASTELLANOS, 2012; SOUZA-SANTOS, 2012).

Nos experimentos o agente era composto por O2 e vapor d’água, que são

alimentados pela placa distribuidora logo abaixo do leito. Além disto, é utilizada uma

corrente de N2, alimentada na base do sistema de gaseificação. A Tab. 6.9 mostra como

os principais dados referentes à caracterização das correntes gasosas que foram

alimentadas no programa.

Tabela 6.9: Propriedades das correntes gasosas alimentadas.

Propriedade Simbologia do

CeSFaMB Valor/Tipo

Fluxo do principal gás alimentado no

distribuidor FMGID

Varia de

acordo com os

experimentos

Fluxo de vapor d’água alimentado no

distribuidor FMSFG

Varia de

acordo com os

experimentos

Temperatura de alimentação do gás principal TEGID 633 K

Temperatura de alimentação do vapor TESFG 633 K

Vazão de alimentação de gás intermediário

(N2) FMGI 1,9x10-3 kg/s

Posição de alimentação do gás intermediário ZGI 0,01 m

6.3 Validação

O objetivo nesta fase foi realizar uma série de simulações que buscaram não só os

menores desvios com relação à composição e as propriedades do gás de síntese, mas

também a aproximação da temperatura ao longo do gaseificador. Nos casos experimentais

a temperatura do gaseificador foi mantida a no máximo 850 °C.

Inicialmente, um grupo composto de 3 resultados experimentais foram fornecidos

para que a calibração e adaptação com o programa de simulação fossem realizados. Este

grupo de experimentos (Tab. 6.10) foi retirado aleatoriamente dos 16 experimentos

disponíveis em LEITE (2014).

67

Tabela 6.10: Grupo de experimentos para validação do simulador (adaptado de LEITE,

2014)

Experimento

validação A

Experimento

validação B

Experimento

validação C

Dados de

entrada (kg/h)

Biomassa 16,66 12,27 19,44

Oxigênio 4,00 3,99 6,40

Vapor 14,70 14,69 10,49

Resultado

experimental

(% em volume)

H2 24,11 26,80 27,60

N2 23,51 19,80 13,50

CO 13,64 10,80 14,80

CH4 5,12 4,70 5,20

CO2 28,55 31,90 35,40

As primeiras simulações de validação realizadas, tiveram como ponto de partida

as simulações realizadas por CASTELLANOS (2012), que utilizou o CeSFaMB para

modelar um gaseificador de leito fluidizado borbulhante. Com estes dados foram

encontrados problemas de convergência. Os principais dados de entrada que permitiram

a convergência do conjunto de experimentos de validação seguem na Tab. 6.11.

Tabela 6.11: Principais parâmetros de entrada do conjunto validação

Parâmetro Valor

CCDEVP 2

TGUESS 3000 K

ICONV 5 1

ICONV 6 2

TPRCY 1023 K

ZTJK 4 m

ARHJK 50 kW

TEGID 633 K

TESFG 633 K

TGI 300 K

TPESC 300 K

ISHAPEC Esférico

Com os parâmetros da Tab. 6.11 os primeiros resultados de validação foram

obtidos e organizados na Tab. 6.12. Nesta tabela o termo simulação de validação A

corresponde ao experimento de validação A e assim respectivamente.

68

Tabela 6.12: Resultados das primeiras simulações do conjunto de validação.

Simulação de

validação A

Simulação de

validação B

Simulação de

validação C

Molécula Simulação

A

Desvio

(%)

Simulação

B

Desvio

(%)

Simulação

C

Desvio

(%)

H2 28,0 16,2 27,5 2,5 23,9 13,2

N2 2,7 88,5 3,6 81,9 2,4 82,2

CO 12,8 5,8 9,8 9,2 16,1 8,6

CH4 18,2 255,9 16,7 256,0 17,4 235,3

CO2 36,9 29,3 39,9 25,2 38,9 10,0

Média 79,1 74,9 69,9

Além dos resultados de composição do gás de síntese, a temperatura também foi

analisada e as temperaturas anotadas ao longo do reator para os três casos de validação

encontram-se a seguir:

Tabela 6.13: Resultados de temperatura das primeiras simulações do conjunto de

validação.

Posição do reator

Temperatura (°C)

simulação

validação A

Temperatura (°C)

simulação

validação B

Temperatura (°C)

simulação

validação C

Distribuidor 1435 1179 909

Meio da região

densa 1235 1149 834

Topo da região

densa 1211 1130 959

Topo da região

diluída 1759 3072 2077

Ponto de reciclo 1727 1727 1727

Média 1473 1651 1301

Na Tab. 6.13 observou-se que elevadas temperaturas foram alcançadas nas

simulações. Tendo em vista que as temperaturas dos experimentos foram mantidas

próximas a 850 °C, novas simulações foram realizadas. O objetivo das novas simulações

de validação (validação modificado) é reduzir a distância entre a temperatura média

prevista e a experimental, além de buscar menores desvios na composição do gás de

síntese.

69

O novo conjunto de simulações de validação (validação modificado) apresenta

algumas modificações nos parâmetros de entrada. A Tab. 6.14 compara as alterações

efetivadas entre o primeiro conjunto de validação e o conjunto validação modificado.

Tabela 6.14: Parâmetros modificados para o conjunto de validação.

Parâmetros Validação Validação modificado

CCDEVP 2 2.8

TGUESS 3000 K 0

ICONV 3 0 2

ICONV 5 1 0

ICONV 6 2 2

TPRCY 1023 K 0

ZTJK 4 m 4 m

ARHJK 50 kW 16 kW

TEGID 633 K 633 K

TESFG 633 K 633 K

TGI 300 K 300 K

TPESC 300 K 300 K

ISHAPEC Esférico Cilíndrico

Da Tab. 6.12 observam-se elevados desvios na composição de N2. A literatura

utilizada não disponibiliza os valores da corrente do gás inerte utilizada em cada

experimento. Desta forma, a corrente de nitrogênio foi calibrada nas simulações até que

os valores previstos na composição do gás de síntese se aproximassem dos reais. O valor

que resultou nos melhores resultados foi de 1,9 x 10-3 kg/s.

Desta forma modificando os parâmetros de acordo com a Tab. 6.14 e ajustando a

corrente de entrada do gás N2 para 1,9 x 10-3 kg/s o conjunto de validação modificado

obteve os resultados apresentados nas Tabs. 6.15 e 6.16.

Tabela 6.15: Resultados do conjunto validação modificado.

Simulação de

validação A

Simulação de

validação B

Simulação de

validação C

Molécula Simulação

A

Desvio

(%)

Simulação

B

Desvio

(%)

Simulação

C

Desvio

(%)

H2 20,2 16,3 20,0 25,3 21,8 20,9

N2 24,0 2,2 20,1 1,7 13,7 1,7

CO 12,3 10,1 11,8 9,0 12,7 14,4

CH4 15,0 193,3 14,6 210,3 15,4 194,7

CO2 27,9 2,4 32,8 2,8 35,6 0,6

Média 44,8 49,8 46,5

70

Tabela 6.16: Resultados de temperatura do conjunto de validação modificado.

Posição do reator

Temperatura (°C)

simulação

validação A

Temperatura (°C)

simulação

validação B

Temperatura (°C)

simulação

validação C

Distribuidor 774 790 732

Meio da região

densa 705 718 700

Topo da região

densa 660 691 818

Topo da região

diluída 1027 1102 1298

Ponto de reciclo 1014 1088 1283

Média 836 878 966

Conclusões da validação

As simulações de validação foram importantes para o ajuste dos dados de entrada

do CeSFaMB e também para a adaptação com a utilização do mesmo. Os desvios obtidos

nas simulações de validação foram organizados na Tab. 6.17.

Tabela 6.17: Média dos desvios para os conjuntos de validação.

Desvio médio

validação

Desvio médio

validação modificado

Molécula Absoluto Relativo

(%) Absoluto

Relativo

(%)

H2 2,7 10,6 5,5 20,9

N2 16,0 84,2 0,4 1,9

CO 1,0 7,8 1,5 11,2

CH4 12,5 249,1 10,0 199,5

CO2 6,7 21,5 0,6 1,9

Desvio geral - 74,6 - 47,1

Os resultados do conjunto de validação modificado apresentaram menores

desvios, com uma média geral de 47,1%. Isto indica que a média dos desvios das

composições foi de 47,1 %. Outro fator levado em consideração foi a temperatura, os

experimentos realizados por LEITE (2014) tomam o cuidado de manter a temperatura até

850°C por motivos de segurança na operação da planta piloto.

71

Na literatura fica evidente a influência da temperatura nos produtos de

gaseificação. MIAO et al.(2014), indica que o PCI é significativamente sensível à

temperatura do leito. BASU (2010), CASTELLANOS (2012); GÓMEZ-BAREA e

LECKNER (2010), também indicam que a composição do gás sintetizado é influenciado

pela temperatura. Destarte a temperatura deve ser controlada e próxima da experimental.

Figura 6.13: Perfil de temperatura do conjunto de validação ao longo do reator

A Fig. 6.13 indica que a temperatura não foi bem ajustada à condição

experimental, apresentando valores elevados. Temperaturas muito altas podem ocasionar

o colapso do leito, inviabilizando todo o processo de gaseificação.

Figura 6.14: Perfil de temperatura do conjunto de validação modificado ao longo do

reator

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0

Tem

pe

ratu

ra (°C

)

z (m)

simulação de validação A

simulação de validação B

simulação de validação C

450

550

650

750

850

950

1050

1150

1250

1350

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0

Tem

pera

tura

(°C

)

z (m)

simulação de validação A

simulação de validação B

simulação de validação C

72

Já os resultados para o conjunto de validação modificado foram considerados

satisfatórios, embora não estejam nos 850 °C almejados, estão mais próximos do valor.

Como o objetivo aqui é observar a resposta do modelo às alterações realizadas nos dados

de entrada do programa, os perfis de temperatura foram considerados aceitáveis.

6.4 Simulação dos experimentos

Com os resultados das simulações de validação, os dados propostos para o

conjunto validação modificado (Tab. 6.14) foram selecionados para começar as

simulações dos 16 experimentos (Tab. 6.1). Os resultados obtidos são expostos na Tab.

6.18.

Tabela 6.18: Principais resultados das simulações dos 16 experimentos no CeSFaMB.

Testes % H2 %N2 %CO %CH4 %CO2 T média

(°C)

T saída de

gases (°C)

1 16,9 25,8 10,1 11,7 34,8 1214 1619

2 20,2 24,0 12,3 15,0 27,9 837 1266

3 21,2 17,1 7,9 13,0 40,1 956 1251

4 18,9 17,4 11,1 13,1 38,6 1260 1859

5 20,5 17,9 8,8 13,1 39,0 998 1280

6 20,3 18,0 9,2 13,0 38,7 1094 1376

7 20,0 20,2 11,8 14,7 32,8 878 1094

8 16,8 18,7 13,2 13,5 37,1 893 1159

9 19,0 17,8 11,0 12,9 38,2 929 1423

10 21,1 17,3 9,2 13,3 38,4 910 1244

11 21,6 16,8 8,2 13,3 39,3 958 1289

12 20,9 17,6 13,8 15,9 31,2 869 1094

13 18,5 12,2 19,3 17,1 31,7 860 1104

14 21,2 16,9 9,6 13,7 38,1 960 1280

15 21,9 13,6 12,9 15,5 35,4 1001 1293

16 21,8 13,7 12,7 15,4 35,6 966 1281

T média 974 1307

Com uma análise dos valores na tabela 6.18, percebem-se elevadas temperaturas

de saída de gases e, em alguns casos, até a temperatura média do reator. O simulador não

dispõe de formas para fixar a temperatura requerida ao longo do reator, como o sistema

de resistência elétrica utilizado para manter a temperatura do setpoint no caso

experimental.

73

Como estratégia adotada para contornar este problema de controle, e a fim de se

reduzir a temperatura de saída e média do reator, os parâmetros ZTJK e ARHJK, que

controlam o comprimento e a potência de aquecimento da jaqueta, respectivamente,

foram ajustados de acordo com os resultados de temperatura observados

experimentalmente. Neste caso, estes parâmetros foram reduzidos ao máximo possível

para se obter temperaturas próximas às experimentais, até um ponto em que a redução

excessiva de ZTJK e ARHJK não permite a volatilização da biomassa, inviabilizando o

processo.

Os resultados destas novas simulações constituem os conjuntos simulação

modificado e são apresentados na Tab. 6.19.

Tabela 6.19: Principais resultados do conjunto simulação modificado.

Testes %

H2

%

N2

%

CO

%

CH4

%

CO2

T

média

(°C)

T saída

de gases

(°C)

ZTJK

(m)

ARHJK

(kW)

1 15,1 26,5 11,2 12,2 34,4 747 882 3,0 22

2 21,0 23,6 11,5 14,9 28,5 840 926 2,0 40

3 20,1 17,4 9,0 13,3 39,6 812 862 3,0 27

4 18,1 18,1 11,4 12,9 38,8 763 894 1,5 20

5 20,5 17,7 8,5 12,9 39,7 750 893 1,5 30

6 19,2 18,7 9,8 12,8 38,7 737 866 1,5 18

7 22,8 19,6 7,0 14,0 35,7 708 783 1,5 25

8 18,7 18,4 9,8 13,1 39,2 759 921 1,5 18

9 16,4 18,4 14,9 13,7 35,8 770 1040 1,5 25

10 19,3 17,4 11,6 13,8 37,4 734 904 1,5 22

11 19,1 17,8 10,8 13,3 38,3 816 972 1,0 30

12 25,5 16,9 6,9 14,8 35,4 693 877 1,5 25

13 19,7 12,1 17,6 16,8 32,8 809 999 3,0 35

14 19,9 17,2 11,5 13,7 36,8 779 972 1,5 25

15 19,3 14,3 16,4 15,7 33,5 760 976 1,5 25

16 19,5 14,4 16,0 15,7 33,7 760 960 1,5 25

T média 765 920

Como pode ser observado na Tab. 6.19, os resultados de temperatura estão mais

próximos do desejado, embora o caso 9 ainda esteja com temperatura de saída acima dos

1000 °C. Como as temperaturas médias dos testes ficaram abaixo dos 850 °C os

resultados foram considerados satisfatórios para a temperatura. Para facilitar a

comparação simulação/experimental, os resultados foram divididos em grupos.

74

Composição do gás de síntese

O primeiro grupo a ser analisado será o dos principais componentes do gás

produto, e os resultados de composição dos 16 experimentos realizados por LEITE (2014)

estão expostos na Tab. 6.20.

Tabela 6.20: Principais componentes do gás de síntese (%vol) (adaptado de LEITE,

2014).

Base seca Base seca e livre de Nitrogênio

Exp. H2 N2 CO CH4 CO2 H2 CO CH4 CO2

1 21,0 16,5 13,9 5,2 39,6 25,1 16,7 6,2 47,4

2 23,6 23,7 14,0 5,3 29,9 30,4 18,8 7,2 41,0

3 18,6 26,3 11,2 4,5 37,5 24,5 15,7 6,2 50,5

4 20,1 17,6 14,9 5,3 39,3 21,6 18,4 6,2 45,4

5 22,2 18,2 12,8 5,1 39,3 27,1 15 ,6 6,3 48,0

6 22,3 18,1 12,2 4,9 39,0 27,1 15,3 6,2 47,5

7 27,0 20,7 11,4 5,0 32,7 33,8 14,5 6,2 40,6

8 20,7 18,9 10,4 4,4 38,6 24,9 13,1 5,6 48,1

9 20,9 19,3 12,0 4,7 37,9 25,5 14,5 5,8 47,4

10 21,5 21,5 12,2 4,9 37,2 26,5 16,2 6,3 47,3

11 20,7 19,6 11,3 4,8 39,9 26,2 14,1 6,0 49,5

12 24,7 20,1 13,4 5,3 32,5 31,9 15,9 6,4 40,8

13 27,1 13,2 16,8 5,7 34,5 31,3 19,3 6,6 39,8

14 22,5 18,5 12,9 5,3 38,5 27,9 15,6 6,4 47,3

15 25,7 14,2 16,2 5,8 35,5 29,9 19,0 6,8 41,3

16 25,0 14,1 16,0 5,8 35,9 29,2 18,6 6,7 41,7

Os resultados de composição molar, em base seca, do conjunto simulação

modificado foram comparados com os experimentais, a Tab. 6.21 demonstra os resultados

e os desvios relativos calculados (D).

75

Tabela 6.21: Comparação da composição do gás de síntese simulação modificado x

experimental.

Simulação H2 D(%) N2 D(%) CO D(%) CH4 D(%) CO2 D(%)

1 15,1 27,9 26,5 61,0 11,2 19,9 12,2 135,1 39,6 13,3

2 21,0 11,4 23,6 0,3 11,5 18,1 14,9 180,1 28,5 4,6

3 20,1 8,4 17,4 33,8 9,0 19,4 13,3 199,0 39,6 5,6

4 18,1 10,0 18,1 2,4 11,4 23,6 12,9 143,7 38,8 1,4

5 20,5 7,3 17,7 3,1 8,5 33,5 12,9 151,6 39,7 1,0

6 19,2 14,0 18,7 2,9 9,8 7,0 12,8 162,0 38,7 0,8

7 22,8 15,7 19,6 5,5 7,0 38,2 14,0 182,7 35,7 9,1

8 18,7 9,6 18,4 2,7 9,8 5,5 13,1 196,9 39,2 1,4

9 16,4 21,5 18,4 4,7 14,9 24,9 13,7 193,1 35,8 5,4

10 19,3 10,5 17,4 19,1 11,6 5,0 13,8 181,2 37,4 0,4

11 19,1 8,0 17,8 9,1 10,8 4,5 13,3 178,1 38,3 4,1

12 25,5 3,2 16,9 15,8 6,9 48,2 14,8 180,3 35,4 8,9

13 19,7 27,5 12,1 8,2 17,6 5,1 16,8 193,8 32,8 5,0

14 19,9 11,7 17,2 7,3 11,5 10,7 13,7 160,5 36,8 4,4

15 19,3 24,9 14,3 0,7 16,4 1,2 15,7 168,6 33,5 5,6

16 19,5 21,8 14,4 1,9 16,0 0,1 15,7 171,7 33,7 6,1

Média - 14,6 - 11,2 - 16,6 - 173,7 - 4,8

DP - 7,5 - 15,4 - 13,8 - 18,4 - 3,4

Na tabela é possível observar que o N2, mesmo sendo um gás inerte, apresenta

alguns desvios consideráveis. Os desvios ocorrem pois a corrente de entrada de nitrogênio

para cada caso experimental não é fornecida. O valores utilizados foram os definidos na

etapa de validação. Desta forma é possível que para cada caso isolado tenha sido utilizada

uma corrente diferente de N2.

Buscando uma melhor comparação, os dados da Tab. 6.21 foram utilizados para

a construção da Tab. 6.22 que demonstra os valores excluindo-se o gás inerte. Nota-se

que ao se excluir o nitrogênio da análise, os desvios das demais composições diminuem.

76

Tabela 6.22: Comparação da composição do gás de síntese simulação modificado x

experimental (sem N2).

Simulação H2 D(%) CO D(%) CH4 D(%) CO2 D(%)

1 20,8 17,3 15,3 8,1 16,7 169,7 47,2 0,5

2 27,7 10,7 15,1 17,5 19,6 182,0 37,6 4,0

3 24,6 2,5 11,0 27,6 16,2 168,7 48,2 5,0

4 22,3 8,7 14,0 22,6 15,9 147,0 47,7 0,0

5 25,2 7,1 10,4 33,4 15,8 152,3 48,6 1,2

6 23,8 12,5 12,2 18,5 16,0 166,3 48,0 0,9

7 28,6 16,0 8,8 38,4 17,6 181,4 44,9 8,8

8 23,2 9,2 12,2 5,3 16,2 197,7 48,5 1,7

9 20,3 21,5 18,5 24,8 16,9 192,8 44,3 5,6

10 23,5 14,3 14,1 9,1 16,9 168,9 45,5 3,9

11 23,4 9,2 13,3 5,8 16,3 174,7 47,0 5,3

12 30,8 0,1 8,4 49,8 18,0 171,2 42,8 5,4

13 22,6 27,6 20,3 5,0 19,3 193,3 37,7 5,1

14 24,3 12,2 14,1 11,2 16,7 158,7 45,0 4,9

15 22,7 24,1 19,3 2,3 18,5 171,5 39,5 4,6

16 23,0 20,9 18,9 1,2 18,5 174,7 39,7 5,1

Média - 13,4 - 17,5 - 173,2 - 3,9

DP - 7,3 - 13,8 - 13,6 - 2,3

Com os resultados constata-se que o simulador utilizado prevê com razoável

precisão as composições de hidrogênio, monóxido e dióxido de carbono, com médias de

desvios relativos de 13,4, 17,5 e 3,9, respectivamente. Contudo, com relação ao metano,

o modelo não apresentou bons resultados, apontando o alto desvio médio de 173,2%

Figura 6.15: Comparação experimental, composição de H2 livre de N2.

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

40,0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

Co

mp

osi

ção

Testes

experimental simulação

77

Figura 6.16: Comparação experimental, composição de CO livre de N2.

Figura 6.17: Comparação experimental, composição de CH4 livre de N2.

Figura 6.18: Comparação experimental, composição de CO2 livre de N2.

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

Co

mp

osi

ção

Testes

experimental simulação

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

Co

mp

osi

ção

Testes

experimental simulação

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

40,0

45,0

50,0

55,0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

Co

mp

osi

ção

Testes

experimental simulação

78

As Figs. 6.15 – 6.18 mostram que na maior parte dos casos, as previsões de

hidrogênio estão abaixo dos dados experimentais, e os de CO2 bem próximos. Porém, até

nos casos de maiores desvios (CH4), é possível notar que as simulações conseguem

capturar a mesma tendência no comportamento das composições experimentais.

Qualidade do gás

Um conjunto de parâmetros permite analisar a qualidade do processo e do produto

da gaseificação. A Tab. 6.23 exibe este conjunto de propriedades obtido

experimentalmente e a Tab. 6.24 o compara com os resultados de simulação com seus

devidos desvios relativos.

Tabela 6.23: Resultado experimental: qualidade do gás (adaptado de LEITE, 2014).

Exp. Conversão de carbono

(%)

Eficiência a

frio (%)

Razão H 2 /

CO

PCI

MJ/Nm3

1 83,6 67,4 1,5 5,9

2 76,3 85,2 1,7 6,2

3 73,8 63,6 1,7 5,0

4 82,4 67,4 1,4 5,9

5 81,8 68,8 1,7 5,8

6 81,9 68,5 1,8 5,7

7 79,3 84,0 2,4 6,1

8 81,1 64,6 2,0 5,1

9 80,8 67,2 1,8 5,4

10 78,6 69,7 1,8 5,6

11 80,4 64,6 1,8 5,4

12 80,0 82,3 1,8 6,2

13 86,8 83,8 1,6 9,3

14 81,5 70,6 1,7 5,9

15 85,8 80,9 1,6 6,9

16 85,9 79,2 1,6 6,8

79

Tabela 6.24: Comparação simulação modificado x experimental: qualidade do gás.

Simulação CC

(%)

Desvio

(%)

EF

(%)

Desvio

(%) H2/CO

Desvio

(%)

PCI

MJ/Nm3

Desvio

(%)

1 94,1 12,7 49,7 26,3 1,4 9,3 6,4 9,6

2 94,0 23,1 52,9 37,9 1,8 8,3 8,0 29,6

3 95,0 28,8 45,8 28,0 2,2 34,3 6,7 34,5

4 92,5 12,3 48,3 28,3 1,6 17,8 7,0 17,2

5 96,0 17,4 44,4 35,4 2,4 39,9 6,5 11,5

6 93,7 14,4 49,9 27,1 2,0 7,7 6,8 19,9

7 93,4 17,8 49,1 41,6 3,2 36,3 7,1 17,1

8 94,1 16,1 49,4 23,6 1,9 4,5 6,6 29,8

9 91,7 13,6 47,4 29,4 1,1 37,1 7,4 37,3

10 94,4 20,2 50,7 27,2 1,7 5,7 7,3 29,6

11 93,9 16,7 44,3 31,5 1,8 3,8 6,8 27,5

12 92,0 15,0 54,3 34,0 3,7 99,5 7,5 20,1

13 93,2 7,3 57,9 30,9 1,1 30,9 9,4 1,3

14 94,2 15,6 50,0 29,2 1,7 1,2 7,2 22,1

15 91,6 6,8 57,0 29,5 1,2 25,8 8,8 27,5

16 91,7 6,8 56,7 28,5 1,2 21,8 8,7 28,3

Média - 15,3 - 30,5 - 24,0 - 22,7

DP - 5,6 - 4,5 - 23,5 - 9,4

Dos parâmetros acima, a conversão de carbono (CC) se destaca apresentando a

menor média de desvio (15,3) e um desvio padrão de 5,6 %. O baixo desvio padrão indica

uma dispersão estatística baixa em relação à média. A razão H2/CO e o PCI do gás

demonstram desvios semelhantes, porém o primeiro possui um alto desvio padrão,

demonstrando que os valores variam bastante em torno da média. Por último a eficiência

a frio (EF) foi responsável pelos maiores desvios do grupo analisado.

As Figs. 6.19 – 6.22 auxiliam a visualização do comportamento das propriedades

com as variações de cada caso. É visível que a conversão de carbono se mantém quase

que constante nas simulações, enquanto a eficiência e o poder calorífico acompanham o

comportamento resultante dos experimentos. Já a razão H2/CO flutua nos resultados

experimentais, com alguns pontos quase que coincidentes.

80

Figura 6.19: Comparação propriedades do gás - Conversão de carbono.

Figura 6.20: Comparação propriedades do gás - Eficiência a frio.

Figura 6.21: Comparação propriedades do gás - H2/CO.

0

20

40

60

80

100

120

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

Co

nve

rsão

de

carb

on

o

Testes

experimental simulação

0

20

40

60

80

100

1 3 5 7 9 11 13 15

Efic

iên

cia

Testes

experimental simulação

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

H2/

CO

Testes

experimental simulação

81

Figura 6.22: Comparação propriedades do gás - PCI.

Levando em conta o difícil controle da temperatura no simulador, os resultados

da Tab. 6.25 são bem positivos. Como a temperatura do gás do experimento 1 não foi

exibida por LEITE (2014), a mesma foi excluída da comparação.

Tabela 6.25: Comparação experimental da temperatura (°C).

Exp. Tmédia

riser exp.

Tmédia riser

simu.

Desvio

(%)

T gás

exp.

T gás

simu.

Desvio

(%)

1 871 747 14,3 - 882 -

2 864 840 2,8 770 926 20,3

3 828 812 1,9 767 862 12,4

4 851 763 10,4 774 894 15,5

5 853 750 12,1 777 893 14,9

6 853 737 13,6 779 866 11,2

7 835 708 15,2 775 783 1,0

8 869 759 12,7 777 921 18,6

9 873 770 11,8 778 1040 33,7

10 883 734 16,9 779 904 16,1

11 876 816 6,9 779 972 24,7

12 826 693 16,1 771 877 13,7

13 859 809 5,9 777 999 28,5

14 889 779 12,4 779 972 24,7

15 866 760 12,3 782 976 24,8

16 864 760 12,0 785 960 22,3

Desvio médio 10,85 10,9

DP 4,33 4,3

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

PC

I

Testes

experimental simulação

82

Por fim, um conjunto formado pelos principais componentes, propriedades do gás

de síntese e do processo simulado foi reunido e disposto na Tab. 6.26 com os desvios

médios da simulação no CeSFaMB. SIEDLECKI (2011) realizou uma série de

simulações com diferentes tipos de biomassa no CeSFaMB, e para título de comparação

os desvios obtidos também se encontram na tabela.

Tabela 6.26: Média dos desvios relativos da simulação no CeSFaMB.

Este trabalho Adaptado de Siedlecki (2011)

Propriedades Desvio

médio

Desvio

padrão

CeSFaMB

padrão

CeSFaMB

modificado

% H2 14,6 7,5 78,2 5,9

% N2 11,2 15,4 5,3 5,7

% CO 16,6 13,8 35,6 1,8

% CH4 173,7 18,4 94,9 34,6

% CO2 4,8 3,4 51,8 8,9

% H2 sem N2 13,4 7,3 - -

% CO sem N2 17,5 13,8 - -

% CH4 sem N2 173,2 13,6 - -

% CO2 sem N2 3,9 2,3 - -

PCI gás, MJ/Nm3 22,7 9,4 - -

Conversão de

carbono, % 15,3 5,6 17,4 8,9

Eficiência a frio 30,5 4,5 - -

H2/CO 24,0 23,5 - -

Temperatura riser 10,9 4,3 - -

T gás saída 18,8 7,8 - -

PCI gás, MJ/Nm3 14,6 7,5 - -

SIEDLECKI (2011) realizou duas simulações. A primeira (padrão) com os fatores

pré-exponencias das reações químicas intactos, ou seja, manteve os valores padrões do

programa. Já na segunda simulação (modificado) esses valores foram alterados, de forma

a favorecer uma reação em detrimento da outra, conforme os resultados da primeira

simulação.

Ao se analisar a simulação padrão, nota-se que este trabalho apresentou desvios

menores aos encontrados em SIEDLECKI, porém ao se modificar os fatores das reações

químicas os desvios foram bem menores. Ainda é possível notar que o trabalho de

SIEDLECKI (2012) também obteve os maiores desvios na concentração de metano.

83

6.5 Conclusão das simulações

Com os primeiros conjuntos de simulação ficou perceptível a dificuldade de tomar

a temperatura do riser, ou do gás, como uma variável de entrada. O programa

disponibiliza o controle da temperatura através do uso da jaqueta de aquecimento, mas

não permite a fixação do valor desejado. Porém, os resultados obtidos na simulação 3

indicam, com um desvio médio de 10,8% temperatura do riser, que alterações na potência

e comprimento da jaqueta podem aproximar a temperatura predita da real.

Grandes discrepâncias resultaram da fração de CH4, os valores computacionais

superaram, em muito, os reais em todos os casos. MENDOZA (2009) sugere que o

metano participa de muitas reações e é produzido na reação entre carbono e hidrogênio,

assim como na pirólise, tornando-o uma função difícil de ser estudada mediante análises

unidimensionais. O modelo consegue prever bem a fração de CO2, que obteve o menor

desvio médio (3,8%) e com maior desvio a de H2 (13,4%) e CO (17,5%).

O programa faz uso de uma extensa lista de dados de entrada, que alimentam a

simulação. Por vezes muitos dos dados referentes ao equipamento e os componentes do

processo, são desconhecidos. Aproximações disponíveis na literatura, ou em exemplos

do programa, são recorrentes. Fato que contribui com os desvios encontrados.

Considerando os desvios apresentados, o CeSFaMB consegue capturar bem o

comportamento das variações dos componentes e das propriedades do gás de síntese.

Portanto, o programa pode ser utilizado no estudo do processo de gaseificação ou em uma

etapa primária de escalonamento de um gaseificador, onde uma aproximação é necessária.

A grande vantagem do CeSFaMB™ está no tempo de simulação, visto que em média

gastou-se de 40 a 60 minutos por simulação. Simuladores baseados em CFD podem gastar

semanas.

84

7 CASOS PLANEJADOS

Neste capitulo o objetivo é avaliar a influência das vazões de biomassa, oxigênio

e vapor na composição e na qualidade do gás de síntese. A Tab. 7.1 indica o intervalo de

operação das variáveis analisadas no gaseificador utilizado e descrito no Cap. 6.

Tabela 7.1: Variáveis independentes do estudo.

Variável Símbolo Faixa de operação

Vazão de oxigênio QO2 2,49 – 7,43 kg/h

Vazão de vapor QS 11,60 – 26,70 kg/h

Vazão de biomassa QB 7,97 – 27,20 kg/h

Com o intuito de se obter uma distribuição uniforme de pontos para simulação ao

longo da faixa total de operação do gaseificador (Tab. 7.1), os casos simulados foram

baseados em um plano fatorial clássico para três variáveis e dois níveis com uma

avaliação no ponto central, resultando em 23 +1 = 9 simulações. A Tab. 7.2 apresenta o

plano de simulação estabelecido.

Tabela 7.2: Plano de simulação.

Caso QO2 (kg/h) QS (kg/h) QB (kg/h)

1 2,49 11,60 7,97

2 2,49 11,60 27,20

3 2,49 26,70 7,97

4 2,49 26,70 27,20

5 7,32 11,60 7,97

6 7,32 11,60 27,20

7 7,32 26,70 7,97

8 7,32 26,70 27,20

9 4,90 19,15 17,58

É comum que processos GLF utilizem uma corrente de Nitrogênio para ajudar na

fluidização do leito e para manter a condição de atmosfera inerte. Neste capitulo também

é avaliada a influência desta corrente de azoto na composição e qualidade do gás de

síntese. Desta forma, dois planos de simulações são analisados, um com alimentação de

N2 e outro sem.

85

7.1 Simulações com a utilização da corrente de N2

De primeira, as simulações foram realizadas de acordo com a Tab. 7.2 e com uma

vazão adicional de nitrogênio de acordo com os casos experimentais, descritos

anteriormente, de 1,9x10-3 kg/s. A seguir, os resultados das simulações são discutidos.

Composição do gás de síntese

A Tab. 7.3 apresenta os resultados obtidos nas simulações dos casos planejados.

Os valores são referentes à fração molar do gás de síntese.

Tabela 7.3: Fração molar do gás de síntese (base úmida).

Caso QO2

(kg/h)

QS

(kg/h)

QB

(kg/h)

H2O

(%)

H2

(%)

CO

(%)

CO2

(%)

CH4

(%)

N2

(%)

Outros

(%)

1 2,49 11,60 7,97 49,35 9,3 2,6 13,6 5,4 19,4 0,4

2 2,49 11,60 27,20 45,79 10,5 1,1 15,1 6,5 17,6 3,5

3 2,49 26,70 7,97 69,96 5,2 1,5 8,2 3,4 11,7 0,2

4 2,49 26,70 27,20 45,48 14,0 7,8 13,9 9,8 8,6 0,5

5 7,32 11,60 7,97 58,27 3,0 1,0 18,0 1,7 17,8 0,2

6 7,32 11,60 27,20 34,22 10,7 14,0 17,8 11,0 11,7 0,6

7 7,32 26,70 7,97 73,55 2,9 0,6 11,2 0,6 11,0 0,1

8 7,32 26,70 27,20 50,08 10,3 7,3 15,5 8,1 8,3 0,4

9 4,90 19,15 17,58 49,59 10,2 5,8 15,1 7,4 11,6 0,3

Em geral conclui-se que a utilização de uma mistura de oxigênio com vapor no

gaseificador de leito fluidizado circulante aumenta o conteúdo de H2 (CORTEZ et al.,

2008; SIEDLECKI, 2011).

Logo, é esperado que o aumento da vazão de vapor d’água resulte no acréscimo

de H2 na composição final do gás. A priori, alguns casos não seguem esta tendência (casos

5x7 e 6x8), a possibilidade é que a adição de vapor dilua o gás de síntese. A Tab. 7.4

demonstra a composição em base seca. Ao se comparar os casos 2x4, 5x7 e 6x8 da

Tab.7.4, nota-se que realmente as frações de H2 aumentam. Assim, o comportamento está

de acordo com o relatado por CORTEZ et al. (2008) e SIEDLECKI (2011).

86

Tabela 7.4: Fração molar do gás de síntese (base seca).

Base com N2 (%) Base livre de N2 (%)

Caso H2 CO CO2 CH4 N2 H2 CO CO2 CH4

1 18,4 5,1 26,8 10,7 38,3 30,1 8,4 44,0 17,5

2 19,3 2,1 27,8 11,9 32,4 29,0 3,2 41,6 17,8

3 17,2 4,9 27,3 11,2 38,9 28,4 8,0 45,0 18,5

4 25,7 14,2 25,5 17,9 15,8 30,8 17,1 30,6 21,5

5 7,1 2,3 43,2 4,0 42,7 12,6 4,1 76,2 7,0

6 16,3 21,3 27,1 16,7 17,7 20,0 26,2 33,3 20,5

7 11,0 2,1 42,4 2,9 41,7 18,8 3,7 72,5 5,0

8 20,6 14,6 31,1 16,3 16,6 24,9 17,7 37,6 19,7

9 20,1 11,5 30,0 14,7 23,0 26,3 15,1 39,3 19,3

O aumento de H2 pelo incremento de vapor se deve às reações (R.10), (R.11) e

(R.12), reunidas na Tab. 7.5. O vapor reage com o metano, com o monóxido de carbono

e com o carbonizado para formar hidrogênio.

Tabela 7.5: Reações de formação de H2 a partir de vapor.

Reação ΔH (kJ/mol) Número Nome

𝐶𝐻4 + 𝐻2𝑂 → 𝐶𝑂 + 3𝐻2 206 R.10 Reação de reforma a vapor

𝐶𝑂 + 𝐻2𝑂 → 𝐶𝑂2 + 𝐻2 - 41,2 R.11 Reação homogênea de

deslocamento da água

𝐶(𝑠) + 𝐻2𝑂 → 𝐶𝑂 + 𝐻2 131 R.12 Reação de gaseificação com

vapor

As Figs. 7.1 e 7.2 representam a concentração de gás hidrogênio e de vapor d’água

ao longo do gaseificador. É possível notar o crescimento da fração molar de H2 quase que

simultâneo ao decréscimo da fração de vapor, indicando a produção de hidrogênio a partir

do consumo de vapor.

87

Figura 7.1: Perfil longitudinal da fração molar do gás hidrogênio (H2) ao longo do

gaseificador.

Figura 7.2: Perfil longitudinal da fração molar de vapor d'água ao longo do reator.

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0,14

0,16

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0

Fra

ção

mo

lar

de H

2

Altura do gaseificador (m)

Caso1 caso 2 caso 3 caso 4 caso 5

caso 6 caso 7 caso 8 caso 9

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0

Fra

ção

mo

lar

de

H2O

Altura do gaseificador (m)

caso 1 caso 2 caso 3 caso 4 caso 5

caso 6 caso 7 caso 8 caso 9

88

Outro efeito a se considerar do aumento da vazão de vapor, está na concentração

de CO no produto final. Ao se comparar os casos 1, 5 e 6 com os 3, 7 e 8 respectivamente,

nota-se redução do monóxido de carbono com o aumento de vapor no gaseificador. Como

visto na Tab. 7.5, o vapor reage com o monóxido de carbono para formar hidrogênio,

resultando na redução de CO com o acréscimo de vapor d’água.

A análise de influência do oxigênio é feita comparando os casos 1 com o 5; 2 com

o 6; 3 com o 7 e 4 com o 8. GÓMEZ-BAREA e LECKNER (2010) reportam que a

quantidade de gás de síntese aumenta com a redução da razão oxigênio/biomassa. De fato,

nos casos com menor quantidade de oxigênio, o produto final é mais rico em H2, CO e

CO2, com exceção do caso 6.

A Fig. 7.3 demonstra o perfil da concentração de oxigênio ao longo do

gaseificador. É possível notar que rapidamente o gás é consumido, com maior oferta de

O2 no gaseificador. A combustão completa é favorecida e ocorre o aumento de CO2.

Figura 7.3: Perfil da fração molar de O2 ao longo do gaseificador.

Na Fig. 7.4 ressalta-se que os casos com maior alimentação de oxigênio (5, 6, 7 e

8) se comparados com os casos de menor alimentação deste gás (1, 2, 3 e 4), exibem

maiores concentrações de dióxido de carbono.

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

Fra

ção

mo

lar

de O

2

Altura do gaseificador (m)

caso 1

caso 2

caso 3

caso 4

caso 5

caso 6

caso 7

caso 8

caso 9

89

Figura 7.4: Perfil da fração molar de CO2 ao longo do gaseificador.

Com a presença de O2 em excesso também acontece a combustão dos gases

combustíveis como H2 e CO. A presença destas reações é confirmada nas Figs. 7.5 e 7.6.

Figura 7.5: Perfil da taxa da reação H2+O2 ao longo do reator.

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0,14

0,16

0,18

0,20

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0

Fra

ção

mo

lar

de C

O2

Altura do gaseificador (m)

caso 1 caso 2 caso 3 caso 4 caso 5

caso 6 caso 7 caso 8 caso 9

0,00,51,01,52,02,53,03,54,04,55,05,56,06,57,07,58,08,59,09,5

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5

Taxa d

a r

eação

(km

ol/m

3/s

)

Altura do gaseificador (m)

caso 1

caso 2

caso 3

caso 4

caso 5

caso 6

caso 7

caso 8

caso 9

90

Figura 7.6: Perfil da taxa da reação CO+O2 ao longo da região densa.

Qualidade do gás de síntese

Na gaseificação, um gás de síntese de maior qualidade é tido como aquele de

elevado poder calorífico. Desta forma, uma maior concentração de gases combustíveis é

essencial para a qualidade do gás. A Tab. 7.6 resume um conjunto de parâmetros que

possibilitam a análise sobre a qualidade do gás produzido.

Tabela 7.6: Qualidade do gás de síntese (base úmida).

Casos 1 2 3 4 5 6 7 8 9

QO2 (kg/h) 2,5 2,5 2,5 2,5 7,3 7,3 7,3 7,3 4,9

QS (kg/h) 11,6 11,6 26,7 26,7 11,6 11,6 26,7 26,7 19,2

QB (kg/h) 8,0 27,2 8,0 27,2 8,0 27,2 8,0 27,2 17,6

O2/B 0,3 0,1 0,3 0,1 0,9 0,3 0,9 0,3 0,3

H2/CO 3,6 9,2 3,6 1,8 3,1 0,8 5,1 1,4 1,7

H2+CO (%) 11,9 11,6 6,6 21,8 4,0 24,7 3,5 17,6 16,0

H2/CO2 0,7 0,7 0,6 1,0 0,2 0,6 0,3 0,7 0,7

CO2/CO 5,2 13,2 5,6 1,8 18,6 1,3 19,7 2,1 2,6

H2/H2O 0,2 0,2 0,1 0,3 0,1 0,3 0,0 0,2 0,2

CO/H2O 0,1 0,0 0,0 0,2 0,0 0,4 0,0 0,2 0,1

PCI (MJ/kg) 5,6 4,9 5,6 10,8 1,7 9,2 1,6 8,8 7,8

Eficiência a

frio (%) 30,7 15,2 29,3 64,7 10,5 56,3 9,4 54,9 47,0

0,000

0,050

0,100

0,150

0,200

0,250

0,300

0,350

0,400

0,450

0,500

0,0 0,5

Taxa d

a r

eação

(km

ol/m

3/s

)

Altura da região densa (m)

caso 1

caso 2

caso 3

caso 4

caso 5

caso 6

caso 7

caso 8

caso 9

91

O caso 4 se destaca dos demais por produzir um gás de maior poder calorifico

inferior (PCI) e por resultar num processo de gaseificação mais eficiente (64,7%). Os

casos 6 e 8 também apresentam bons rendimentos com 56,3 e 54,9 % de eficiência e 9,2

e 8,8 MJ/kg de PCI, respectivamente.

A eficiência do processo é definida por Souza-Santos (2004) como:

SS

GG

hF

hF (7.1)

onde FG e hG são o fluxo de massa e a entalpia do gás produzido, respectivamente, e FS e

hS são o fluxo de massa e a entalpia para o combustível sólido.

De acordo com CASTELLANOS (2012) o poder calorífico do gás de síntese e a

eficiência do equipamento aumentam na medida em que a razão oxigênio/combustível

diminui. De fato, o comportamento é confirmado no caso 4, porém um atento é

necessário. O caso 2 possui a mesma razão O2/Biomassa mas ao invés de proporcionar

bons resultados, como no caso 4, resulta num processo de baixa eficiência e em um gás

de PCI pequeno. A possível causa deste efeito é que no caso 4 a vazão de vapor d’água é

superior, finalizando na maior produção de H2 que é um importante gás combustível.

Uma razão oxigênio/combustível pequena é preferida, porém deve-se atentar à

necessidade de permitir que parte das reações de combustão, que geram energia para o

processo, aconteçam. Caso contrário, um gás pobre pode ser resultado do processo.

Os casos 6 e 8 também possuem bons resultados, como pode ser visto na Tab. 7.6.

Eles possuem baixas razões O2/combustível se comparado com os outros casos. Como

era de se esperar, os piores rendimentos se deram para os casos 5 e 7. Nestes casos, a

abundância do gás oxidante resulta na combustão dos gases combustíveis (CO e H2) sendo

responsável por uma menor quantidade e qualidade do gás de síntese resultante.

92

Efeito da temperatura

A seguir será abordado o efeito das vazões na temperatura do processo, e como

este parâmetro se correlaciona com as propriedades do gás e a eficiência da gaseificação.

Para isto a Tab. 7.7 auxilia na compreensão e discussão dos resultados.

Tabela 7.7: Efeito da temperatura na qualidade do processo e do produto.

Casos 1 2 3 4 5 6 7 8 9

QO2 (kg/h) 2,5 2,5 2,5 2,5 7,3 7,3 7,3 7,3 4,9

QS (kg/h) 11,6 11,6 26,7 26,7 11,6 11,6 26,7 26,7 19,2

QB (kg/h) 8,0 27,2 8,0 27,2 8,0 27,2 8,0 27,2 17,6

O2/B 0,3 0,1 0,3 0,1 0,9 0,3 0,9 0,3 0,3

Conversão C 94,5 54,4 94,3 90,8 97,7 92,2 94,8 92,4 93,4

PCI (MJ/kg) 5,6 4,9 5,6 10,8 1,7 9,2 1,6 8,8 7,8

Eficiência a

frio (%) 30,7 15,2 29,3 64,7 10,5 56,3 9,4 54,9 47,0

Tm riser (°C) 1219 582 949 833 1259 824 1389 1030 907

T saída gases

(°C) 1398 492 1119 972 1465 1186 1449 1171 1035

Fica evidente que as maiores relações O2/B (casos 5 e 7) foram responsáveis pelas

temperaturas mais elevadas. Ademais, as maiores temperaturas coincidem com

conversões de carbono superiores, todavia, parecem prejudicar a eficiência do processo e

o PCI do gás produto.

A respeito da composição, nota-se que a temperatura segue o comportamento da

razão O2/B, ou seja, razões elevadas resultam em elevadas temperaturas que convém com

altas concentrações de CO2 e baixas de H2 e CO. A Fig. 7.7 demonstra que os casos que

atingem maiores temperaturas (5 e 7) são aqueles de maior razão oxigênio/biomassa.

93

Figura 7.7: Perfis de temperatura dos casos planejados.

7.2 Simulações sem adição da corrente de Nitrogênio

Agora com o intuito de descobrir o rendimento do gás de síntese sem a

interferência de um agente inerte, que acaba por diluir o produto final, um novo conjunto

de simulação foi testado. Este conjunto possui as mesmas variações nas correntes de O2,

biomassa e vapor d’água, a diferença é que não haverá uma corrente de alimentação de

nitrogênio como no caso anterior.

Desta forma as simulações foram realizadas com um aquecimento de 50 kW na

jaqueta e os resultados são organizados na Tab. 7.8 (base úmida).

Tabela 7.8: Fração molar do gás de síntese sem adição de N2 (base úmida).

Caso QO2

(kg/h)

QS

(kg/h)

QB

(kg/h)

H2O

(%)

H2

(%)

CO

(%)

CO2

(%)

CH4

(%)

N2

(%)

Outros

(%)

1 2,5 11,6 8,0 60,8 11,7 3,4 16,9 6,8 0,02 0,4

2 2,5 11,6 27,2 28,5 20,2 14,8 20,1 15,6 0,03 0,9

3 2,5 26,7 8,0 78,3 6,8 1,0 9,9 3,7 0,01 0,2

4 2,5 26,7 27,2 50,2 14,5 9,2 15,2 10,5 0,01 0,5

5 7,3 11,6 8,0 70,7 3,8 1,3 21,9 2,0 0,01 0,3

6 7,3 11,6 27,2 34,6 16,2 12,3 23,7 12,4 0,04 0,7

7 7,3 26,7 8,0 83,9 1,9 0,3 12,8 1,0 0,01 0,2

8 7,3 26,7 27,2 53,5 12,3 7,2 17,8 8,9 0,02 0,3

9 4,9 19,2 17,6 55,4 12,1 6,2 17,6 8,4 0,02 0,3

150

350

550

750

950

1150

1350

1550

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0

TE

MP

ER

AT

UR

A (°C

)

ALTURA (M)

caso 1 caso 2 caso 3 caso 4 caso 5

caso 6 caso 7 caso 8 caso 9

94

É normal que alguns resultados da Tab. 7.8 sejam maiores que os da Tab. 7.3, já

que sem a presença de N2 o aumento nas concentrações dos outros gases é esperado. Por

conseguinte, uma comparação da qualidade do gás se torna mais viável, do que apenas as

composições finais.

Pensando nisso a Tab. 7.9, que revela os parâmetros de qualidade do gás de síntese

para uma corrente de alimentação ausente de azoto, foi construída para que se compare a

qualidade do gás obtido com a do item 7.1.2.

Tabela 7.9: Qualidade do gás de síntese (base úmida e sem N2).

Casos 1 2 3 4 5 6 7 8 9

QO2 (kg/h) 2,5 2,5 2,5 2,5 7,3 7,3 7,3 7,3 4,9

QS (kg/h) 11,6 11,6 26,7 26,7 11,6 11,6 26,7 26,7 19,2

QB (kg/h) 8,0 27,2 8,0 27,2 8,0 27,2 8,0 27,2 17,6

O2/B 0,3 0,1 0,3 0,1 0,9 0,3 0,9 0,3 0,3

H2/CO 3,5 1,4 6,9 1,6 2,9 1,3 6,7 1,7 2,0

H2+CO (%) 15,1 35,0 7,8 23,7 5,1 28,5 2,1 19,4 18,3

H2/CO2 0,7 1,0 0,7 1,0 0,2 0,7 0,1 0,7 0,7

CO2/CO 5,0 1,4 10,0 1,7 16,6 1,9 46,1 2,5 2,9

H2/H2O 0,2 0,7 0,1 0,3 0,1 0,5 0,0 0,2 0,2

CO/H2O 0,1 0,5 0,0 0,2 0,0 0,4 0,0 0,1 0,1

PCI (MJ/kg) 9,5 13,8 9,2 13,0 2,8 10,8 2,3 10,5 10,3

Eficiência a

frio (%) 31,2 65,7 29,2 64,3 10,9 56,1 8,6 55,0 47,2

Com os dados da Tab. 7.9 e tomando por base a Tab. 7.6 foi feita uma análise

comparativa entre os casos. A Tab. 7.10 exibe a variação percentual do caso sem adição

de nitrogênio para o caso com a corrente do inerte.

Tabela 7.10: Comparação da qualidade do gás de síntese com e sem N2 (%).

Casos 1 2 3 4 5 6 7 8 9

H2/CO -3,16 -85,12 93,32 -

12,54 -6,53 72,61 31,04 21,45 13,12

H2+CO 26,36 200,86 17,92 8,92 29,37 15,51 -38,51 10,28 14,34

H2/CO2 0,06 43,84 9,30 -5,41 1,71 13,63 -44,15 4,15 2,60

CO2/CO -3,81 -89,71 77,65 -7,95 -10,71 51,50 133,89 17,51 10,12

H2/H2O 1,16 208,48 24,57 -6,65 7,20 50,74 -44,75 9,14 9,30

CO/H2O 10,80 1633,67 -36,50 7,53 -6,50 -13,10 -67,00 -10,73 -7,42

PCI 68,98 183,37 64,86 20,52 63,01 17,57 43,48 20,21 32,22

Eficiência a

frio 1,43 332,87 -0,34 -0,60 3,53 -0,20 -9,03 0,26 0,38

95

Percebe-se que todos os casos testados tiveram aumento de poder calorifico

inferior no gás de síntese. Todavia, excluindo-se o caso 2, que alcançou um excessivo

incremento, a maioria dos casos não teve grandes mudanças quanto à eficiência do

processo. O acréscimo no PCI é relativo ao incremento no parâmetro H2+CO.

7.3 Conclusão do planejamento de casos e sugestões futuras

Pelo conjunto de simulações planejadas e simuladas, uma série de conclusões

pode ser tirada. Fica evidente que para favorecer o processo de gaseificação e evitar a

combustão deve-se optar por uma menor razão Ar/Combustível, ou neste caso O2/B.

Porém, para casos com limitado fornecimento externo de energia, deve-se considerar

permitir que uma parte do combustível sofra as reações exotérmicas de oxidação, que

fomentam o processo.

O segundo ponto importante está na adição de vapor junto ao agente gaseificante.

Nota-se o crescimento da produção de H2 no produto final que pode ser mascarado pela

diluição provocada pelo vapor. Porém, foi observado um decréscimo da concentração de

CO. Desta forma, deve-se atentar ao objetivo do processo.

Dos casos simulados, os melhores resultados são para o caso 4, que apresenta a

menor razão O2/B, que resulta em uma maior eficiência do processo, produzindo mais

gases combustíveis, estando de acordo com os resultados de LI et al. (2004). Este

resultado conclui que espécies como CO2 e H2O aumentam com o acréscimo da proporção

de ar, reduzindo espécies H2, CH4 e CO. Porém, os casos simulados tiveram uma fonte

de energia externa provendo o sistema. Nota-se que o caso 2 possui a mesma razão O2/B

do caso 4 (0,09), porém resultou em baixa eficiência e PCI. Assim, para sistemas com

deficiência de suprimento de energia aconselha-se uma razão em torno de 0,27 a 0,28,

que apresentaram bons resultados de eficiência e PCI.

Por último, foi testada a influência do gás inerte. A ausência do nitrogênio causou

o aumento do poder calorífico do gás de síntese. Na verdade, por se tratar de um gás inerte

o N2 não é responsável diretamente pela formação ou consumo de nenhum composto,

entretanto, a sua presença dilui o produto final e com isso reduz o PCI do mesmo. Já no

que diz respeito à eficiência do processo, não foram encontradas grandes variações na

ausência do N2.

96

Nos processos reais, o azoto geralmente é considerado por duas razões. Para

ajudar como fluidizante, influindo na velocidade superficial do gás a fim de se alcançar

as condições de fluidização. Também, quando é alimentado como constituinte do ar, neste

caso ele é inserido por consequência da utilização de um agente gaseificante mais barato.

Desta forma, deve-se ter em conta os efeitos descritos antes da utilização do gás inerte.

Por fim, o programa se mostrou capaz de reproduzir os efeitos esperados pela

variação das vazões de alimentação do agente gaseificante (O2 e vapor) e da biomassa.

Por se tratar de um modelo fenomenológico, alguns parâmetros não são precisos

quantitativamente, porém o CeSFaMB™ se mostrou útil para uma análise qualitativa, que

permite entender o processo de gaseificação.

Como sugestão para futuros trabalhos, os resultados e conclusões obtidas a partir

de simulações com CeSFaMB™ podem ser utilizados para uma comparação com

resultados de modelos CFD com cinética química apropriada para o bagaço de cana-de-

açúcar.

O plano de simulações do Cap. 7 é um plano fatorial ortogonal e como tal pode

ser utilizado para um estudo detalhado de efeitos das variáveis de independentes. Em

particular, os efeitos de cada uma das variáveis podem ser avaliados individualmente,

bem como os efeitos destas variáveis combinadas. Desta forma, é possível identificar as

variáveis que exercem maior influência na composição do gás de síntese. Este estudo

mais detalhado, não realizado no presente trabalho, também fica como sugestão para

futuros desenvolvimentos.

97

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, R. V; LORA, E. S. L; MELO, B. A. et al. “Gaseificação de biomassa em

leito fluidizado: avaliação de um reator operando com casca de arroz como combustível”.

8° Congresso Iberoamericano de Engenharia Mecânica. Cusco. Peru, 2007.

ARTEAGA-PÉREZ, L. E; CASAS-LEDÓN. Y; PRINS, W. et al. “Thermodynamic

predictions of performance of a bagasse integrated gasification combined cycle under

quasi-equilibrium conditions”, Chemical Engineering Journal v. 258, pp. 402–411,

2014.

BALAT, M; BALAT, M; KIRTAY, E. et al. “Main routes for the thermo-conversion of

biomass into fuels and chemicals. Part 2: Gasification systems”, Energy Conversion and

Management v. 50, n. 12, pp. 3147–3157, 2009.

BASU, P. Biomass gasification and pyrolysis: practical design and theory. Ed.

Academic Press. Burling, MA, 2010.

BEN. Balanço energético nacional 2014 – ano base 2013: relatório final. In: Ministério

de Minas e Energia (MME), Brasília, 2014.

BROD, F. P. R; Construção e teste de um secador vibroflluidizado. Tese de D.Sc.,

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP, Brasil, 2003.

CASTELLANOS, A. B. V. Análise Unidimensional Detalhada da Gaseificação de

Bagaço de Cana em Reator de Leito Fluidizado Borbulhante. Dissertação de M. Sc.,

UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, 2012.

CANAL DA CANA. Energia da cana é alternativa para diversificar a matriz elétrica

do país. Disponível em: <http://www.canaldacana.com.br/noticias-

detalhes/cogeracao/6005/#.VZMS1PlViko>. Acesso em: 23/04/2013.

CHANNIWALA, S.A.; PARIKH, P.P. "A unified correlation for estimating HHV of

solid, liquid and gaseous fuels". Fuel v. 81, n. 8, pp. 1051–1063, 2002.

COLLARD, F. X.; BLIN, J. "A review on pyrolysis of biomass constituents: Mechanisms

and composition of the products obtained from the conversion of cellulose,

hemicelluloses and lignin". Renewable and Sustainable Energy Reviews v. 38, pp.

594–608, 2014.

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Acompanhamento

da Safra Brasileira de Cana-de-Açúcar, Segundo Levantamento, 2014.

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). A geração

termoelétrica com a queima do bagaço de cana-de-açúcar no Brasil, 2011.

98

CORDERO, T.; MARQUEZ, F.; RODRIGUEZ-MIRASOL, J. et al. "Predicting heating

values of lignocellulosics and carbonaceous materials from proximate analysis". Fuel v.

80, n. 11, pp. 1567–1571, 2001.

CORTEZ, L. A. B.; LORA, E. E. S.; GOMEZ, E. O. Biomassa para energia. Ed.

Unicamp, Campinas, 2008.

DESHMUKH, S. A. R. K.; LAVERMAN, J. A.; CENTS, A. H. G. et al. "Development

of a Membrane-Assisted Fluidized Bed Reactor. 1. Gas Phase Back-Mixing and Bubble-

to-Emulsion Phase Mass Transfer Using Tracer Injection and Ultrasound Experiments".

Industrial & Engineering Chemistry Research v. 44, n. 16, pp. 5955–5965, 2005.

DI CARLO, A.; BOCCI, E.; NASO, V. "Process simulation of a SOFC and double

bubbling fluidized bed gasifier power plant". International Journal of Hydrogen

Energy v. 38, n. 1, pp. 532–542, 2013.

DYAKOV, I.V.; BARON, G. V.; BRAM, S. et al. “Experimental measurements and

modeling using cesfambtm software of the product gas components on the 2MWTH

gasifier plant”. Energy Research Journal v. 5, n.1, pp 26-32, 2014.

FIORI, L.; VALBUSA, M.; LORENZI, D. et al. "Modeling of the devolatilization

kinetics during pyrolysis of grape residues". Bioresource Technology v. 103, n. 1, pp.

389–397, 2012.

FOUST, A. S. Principles of unit operations. 2 ed. New York, Wiley, 1980.

GAO, X.; WANG, L.; WU, C. et al. "Novel Bubble–Emulsion Hydrodynamic Model for

Gas–Solid Bubbling Fluidized Beds". Industrial & Engineering Chemistry Research

v. 52, n. 31, pp. 10835–10844, 2013.

GELDART, D. “Types of Gas Fluidization”. Powder Technology 7. pp 285 – 292, 1973.

GÓMEZ-BAREA, A.; LECKNER, B. "Modeling of biomass gasification in fluidized

bed". Progress in Energy and Combustion Science v. 36, n. 4, pp. 444–509, 2010.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Produção Agrícola Municipal,

culturas temporárias e permanentes 2012. Rio de Janeiro, 2013.

IEPEC. Cana-de-açúcar mais uréia, tecnologia de baixo custo e alta sustentabilidade.

Disponível em: <http://iepec.com/cana-de-acucar-mais-ureia-tecnologia-de-baixo-custo-

e-alta-sustentabilidade/>. Acesso em 25/05/2013.

KRISHNAMURTHY, N.; VALLINAYAGAM, P.; MADHAVAN, D. Engineering

Chemistry. 3 ed. Delhi, Prentice-Hall of India Private Limited, 2014.

LEITE, M. A. H. Gaseificação de bagaço de cana-de-açúcar: estudo experimental e

simulação computacional. Tese de D. Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil,

2014.

99

LENÇO, P. C. Caracterização do bagaço de cana-de-açúcar para geração de energia.

Tese de D.Sc., Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010.

LI, X.T.; GRACE, J. R.; LIM, C. J. et al. "Biomass gasification in a circulating fluidized

bed". Biomass and Bioenergy v. 26, n. 2, p. 171–193, 2004.

MELO, B A. Avaliação Computacional de um Sistema de Gaseificação em Leito

Fluidizado Utilizando o software CSFB. Dissertação de M.Sc., Universidade Federal

de Itajubá, Minas Gerais, Brasil, 2008.

MENDOZA, M. A. G. Projeto e avaliação computacional do desempenho de um

gaseificador de leito fluidizado circulante para obtenção de gás de síntese a partir

de bagaço de cana de açúcar, Dissertação de M. Sc., Universidade Federal de Itajubá,

Itajubá, 2009.

MENG, X. Biomass gasification: the understanding of sulfur, tar, and char reaction

in fluidized bed gasifiers, PhD thesis, Faculty 3mE, Delft University of Technology,

Netherlands, 2012.

MIAO, Q.; ZHU, J.; BARGHI, S. et al. "Model validation of a CFB biomass gasification

model", Renewable Energy. v. 63, pp. 317–323, 2014.

MOUTSOGLOU, A. "A comparison of prairie cordgrass and switchgrass as a biomass

for syngas production", Fuel v. 95, pp. 573–577, 2012.

NEVES, D.; THUNMAN, H.; MATOS, A. et al. "Characterization and prediction of

biomass pyrolysis products", Progress in Energy and Combustion Science v. 37, n. 5,

pp. 611–630, 2011.

NUNN, T. R.; HOWARD, J. B.; LONGWELL. J. P. et al. "Product compositions and

kinetics in the rapid pyrolysis of milled wood lignin", Industrial & Engineering

Chemistry Process Design and Development v. 24, n. 3, pp. 844–852, 1985.

PARTHASARATHY, P.; NARAYANAN, K. S. "Hydrogen production from steam

gasification of biomass: Influence of process parameters on hydrogen yield – A review",

Renewable Energy v. 66, pp. 570–579, 2014.

SIEDLECKI, M. On the gasification of biomass in a steam-oxygen blown CFB

gasifier with the focus on gas quality upgrading: technology back ground,

experiments and mathematical modeling, PhD. thesis, Faculty 3mE, Delft University

of Technology, Netherlands, 2011.

SIEDLECKI, M.; DE JONG, W.; VERKOOIJEN, A. H. M. "Fluidized Bed Gasification

as a Mature and Reliable Technology for the Production of Bio-Syngas and Applied in

the Production of Liquid Transportation Fuels—A Review", Energies v. 4, n. 12, pp.

389–434, 2011.

SILVA, M. B.; MORAIS, A. S. "Avaliação energética do bagaço de cana em diferentes

níveis de umidade e graus de compactação", In: Anais do XXVII Encontro Nacional de

Engenharia de Produção (ENEGEP, 2008), Rio de Janeiro, Brasil, 2008.

100

SOUZA-SANTOS, M. L. "A new version of CSFB, comprehensive simulator for

fluidised bed equipment", Fuel v. 86, n. 12-13, pp. 1684–1709, 2007.

SOUZA-SANTOS, M. L. "Comprehensive Simulator (CSFMB) Applied to Circulating

Fluidized Bed Boilers and Gasifiers", The Open Chemical Engineering Journal v. 2,

n. 1, pp. 106–118, 2008.

SOUZA-SANTOS, M. L. Solid fuels combustion and gasification: modeling,

simulation, and equipment operations. 2 ed. Boca Raton, FL, CRC Press, Taylor &

Francis, 2010.

SOUZA-SANTOS, M. L. CeSFaMB™/CSFMB© Comprehensive Simulator of

Fluidized and Moving Bed Equipment, Series 54, 2012.

SOUZA-SANTOS, M. L.; CHAVEZ, J. V. "Preliminary studies on advanced power

generation based on combined cycle using a single high-pressure fluidized bed boiler and

consuming sugar-cane bagasse", Fuel v. 95, pp. 221–225, 2012

SOUZA-SANTOS, M. L. CeSFaMB™/CSFMB© Comprehensive Simulator of

Fluidized and Moving Bed Equipment, Series 58, 2014.

TURNS, S. R. An introduction to combustion: concepts and applications. 2 ed.

Boston, WCB/McGraw-Hill, 2000.

WEN, C. Y.; CHEN, L. H. "Fluidized bed freeboard phenomena: Entrainment and

elutriation". AIChE Journal v. 28, n. 1, pp. 117–128, 1982.

ZHANG, L; XU, C.; CHAMPAGNE, P. “Overview of recent advances in thermo-

chemical conversion of biomass”, Energy Conversion and Management v. 51, n. 5, p.

969–982, 2010.

101

ANEXO A – CONJUNTO DE PARÂMETROS DE

ENTRADA DO CeSFaMB

A seguir são exibidos todos os parâmetros utilizados nas simulações. Todos os

parâmetros ausentes devem ser considerados 0.

SIMBOLO Valor normalmente utilizado nas simulações

Parâmetros de convergência numérica

CCMINP Varia de simulação para simulação.

CCMAXP Varia de simulação para simulação.

CCDEVP 1.0 a 2.0

ABSCP 0

VOLCP 0.1

AVDEVP 0

TGUESS 0

TOLMB 1x10-6 a 1x10-5

ICONV (3) 2

ICONV (6) 2

MAXNIT 90

Parâmetros geométricos

IGASF 2

IEQUIP 4

102

ISCSD 2

ISCSF 1

DIAME(1) 0.083

DIAME(2) 0.083

ZPOSE(1) 0

ZPOSE(2) 5.4

ZD 0

ZF 5.4

DOD 0.003

NOD 18

EPPP 0

DPOR 0

DIFLUT 0.004

DOFLUT 0.005

NFLUT 9

XISD(1) 0.1

AKISD(1) 0.2

EPSF 0.9

XISFI(1) 0.1

AKISF(1) 0.2

EPSF 0.9

103

XISDI(1) 0.1

AKISDI(1) 0.2

IRCY Ativo

RCY 1.0

NCY 1

DCY 0.102

HCY 0.175

HCYC 0.176

XICY(1) 0.1

AKICY(1) 0.2

EPSCY 0.2

NRCY 1

DRCY 0.054

ALRCY 5.65

XIRCY 0.1

AKIRCY 0.2

EPSRCY 0.9

ZRCY 0.25

TPRCY 0

Dados da jaqueta de aquecimento

JACKET 5

104

KWHERE 0

SBJK 0.005

ZBJK 0

ZTJK Normalmente de 1.5 a 3.0

ARHJK 16

Caracterização dos gases do distribuidor

FMGID 1.944 x 10-03

TEGID 633

PEGID 110

FMSFG 2.753 x 10-03

TESFG 633

PESFG 642

PYGID(10) 100

ZGI(1) 0.01

FMGI(1) 1.9 x 10-03

TGI(1) 300

PYGI(8) 100

POPER 103

TAMB 290

Caracterização do combustível sólido

MTKINDC(1) 8

105

HHVDBC(1) 16.730

FMTESC(1) 4.347D-03

TPESC(1) 300

ZFEEDC(1) 0.9

AMTPESC 4.26

VOLATC 78.5

CARFIX 10.22

ASHESC 7.02

PWPDBC(I,1) 45.6

PWPDBC(I,2) 5.9

PWPDBC(I,3) 0.4

PWPDBC(I,4) 40.78

PWPDBC(I,5) 0.3

PWPDBC(I,6) 7.02

ROBESC 310

ROPESC 434

RORESC 620

FISPC 0.7

ISHAPEC 2

MODLRC 1

Caracterização das partículas de inerte

106

AMASSI 9

TPESI 298

ZFEEDI 0.9

ROBESI 1315

ROPESI 1841

RORESI 2630

FISPI 0.98

ISHAPEI 3