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CARACTERIZAÇÃO DA REFLEXÃO SONORA DE BARREIRAS ACÚSTICAS COM SUPERFÍCIES CORRUGADAS PERIÓDICAS Daniel Ferreira de Panta Pazos Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Engenharia Mecânica. Orientador: Ricardo Eduardo Musafir Rio de Janeiro Outubro de 2015

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CARACTERIZAÇÃO DA REFLEXÃO SONORA DE BARREIRAS ACÚSTICAS

COM SUPERFÍCIES CORRUGADAS PERIÓDICAS

Daniel Ferreira de Panta Pazos

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de

Pós-graduação em Engenharia Mecânica,

COPPE, da Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Doutor em Engenharia

Mecânica.

Orientador: Ricardo Eduardo Musafir

Rio de Janeiro

Outubro de 2015

CARACTERIZAÇÃO DA REFLEXÃO SONORA DE BARREIRAS ACÚSTICAS

COM SUPERFÍCIES CORRUGADAS PERIÓDICAS

Daniel Ferreira de Panta Pazos

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ

COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM

CIÊNCIAS EM ENGENHARIA MECÂNICA.

Examinada por:

________________________________________________

Prof. Ricardo Eduardo Musafir, D.Sc.

________________________________________________ Prof. Jules Ghislain Slama, D.Sc.

________________________________________________ Prof. Roberto Aizik Tenenbaum, D.Sc.

________________________________________________ Prof. Moyses Zindeluk, D.Sc

________________________________________________ Prof. Júlio Apolinário Cordioli, Dr.Eng.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

OUTUBRO DE 2015

iii

Pazos, Daniel Ferreira de Panta

Caracterização da Reflexão Sonora de Barreiras

Acústicas com Superfícies Corrugadas Periódicas/ Daniel

Ferreira de Panta Pazos. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE,

2015.

IX, 200 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Ricardo Eduardo Musafir

Tese (doutorado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de

Engenharia Mecânica, 2015.

Referências Bibliográficas: p. 181-192.

1. Reflexão sonora. 2. Espalhamento sonoro.

3. Barreiras acústicas. 4. Método de função de

transferência entre microfones. I. Musafir, Ricardo

Eduardo. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,

COPPE, Programa de Engenharia Mecânica. III. Título.

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Instituto Fraunhofer de Física de Edificações (IBP) de Stuttgart,

Alemanha, onde iniciei esta investigação como pesquisador visitante entre 2004 e 2008.

Meus agradecimentos ao Dr. Philip Leistner e ao Dr. Lutz Weber do Departamento de

Acústica daquele instituto, que me apresentaram ao assunto da pesquisa. Meu obrigado

também vai ao Prof. Klaus Sedlbauer, diretor do IBP e então professor da cadeira de

Física de Edificações da Universität Stuttgart, à Fundação Daimler und Benz e à

Fundação Federal Alemã do Meio-Ambiente (DBU), pela concessão de bolsas durante

minha estadia na Alemanha.

Gostaria de agradecer igualmente ao Prof. Ricardo Musafir, que prontamente

aceitou me orientar com grande atenção neste doutorado na COPPE/UFRJ, iniciado

com bolsa da CAPES, após meu regresso ao Brasil. Meus agradecimentos também ao

INMETRO, onde trabalho desde 2012 como servidor no Laboratório de Ensaios

Acústicos (Laena). Portanto, quero aqui deixar meu obrigado aos doutores Marco

Nabuco, chefe do laboratório na ocasião deste trabalho, por ter facilitado sua execução,

e Paulo Massarani, que muito me auxiliou no início dos ensaios e do processamento de

sinais dos resultados, concretizados através do financiamento da FAPERJ solicitado por

ele. Não poderia deixar de agradecer também aos demais colegas de trabalho, pelo

companheirismo, além das equipes da oficina mecânica e da carpintaria do Inmetro,

pela construção de itens essenciais aos experimentos. À banca examinadora também

minha gratidão pela discussão do tema e pelas valiosas sugestões para conclusão do

texto da tese.

Por fim, mas não menos importante, quero agradecer a Deus e à minha família.

A meus pais Celia e Paul e a meu irmão Pablo pelo bom incentivo no início da

investigação na Alemanha. A meus avós, em memória, que creio que estão felizes por

eu ter chegado até aqui. À Pilar, residente de Munique, e toda sua família pela grande

hospitalidade e acolhida em terras germânicas em diversas oportunidades. A meus

sogros Irani e Carlos, que me apoiaram e me auxiliaram em diversos assuntos,

permitindo, assim, que eu me concentrasse bastante na pesquisa. E finalmente à minha

esposa Priscila, minha grande apoiadora e incentivadora, me fazendo sempre acreditar

neste trabalho. Por isso, esta tese é dedicada a ela. Obrigado, Pris!

v

Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários

para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)

CARACTERIZAÇÃO DA REFLEXÃO SONORA DE BARREIRAS ACÚSTICAS

COM SUPERFÍCIES CORRUGADAS PERIÓDICAS

Daniel Ferreira de Panta Pazos

Outubro/2015

Orientador: Ricardo Eduardo Musafir

Programa: Engenharia Mecânica

Este estudo tem como objetivo propor um método de medição do coeficiente de

reflexão sonora de barreiras acústicas com superfícies corrugadas periódicas, para

aplicação in-situ. O campo acústico refletido por tais superfícies é calculado pelo

método analítico de Holford-Urusovskii, para estudo da dependência com a geometria

da corrugação. A partir da análise dos métodos de medição existentes do coeficiente de

reflexão de superfícies, é escolhido o método de função de transferência entre

microfones, o qual pode ser aplicado em campo aberto e para superfícies corrugadas.

Com um sistema de experimental especialmente projetado, numa câmara reverberante

são conduzidas medições de respostas impulsivas junto a superfícies, aplicando-se

janelamento temporal para selecionar os componentes de interesse. Da comparação

entre as respostas impulsivas obtidas de uma superfície corrugada e de uma superfície

lisa de referência, são selecionados os trechos iniciais de ambos os casos com mesma

energia acústica e duração. É assim delimitado o trecho especular da resposta impulsiva

da superfície corrugada e, com duas posições de microfones, determinado o respectivo

coeficiente de reflexão especular. Os resultados sugerem a viabilidade da aplicação in-

situ do método e também que o uso de médias de medições obtidas em diferentes pontos

ao longo da corrugação pode dispensar a necessidade de comparação com respostas

impulsivas de uma superfície lisa de referência.

vi

Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)

CHARACTERIZATION OF SOUND REFLECTION OF ACOUSTIC BARRIERS

WITH PERIODIC CORRUGATED SURFACES

Daniel Ferreira de Panta Pazos

October/2015

Advisor: Ricardo Eduardo Musafir

Department: Mechanical Engineering

This study aims at proposing a method for measuring the sound reflection

coefficient of noise barriers with periodic corrugated surfaces, for in-situ applications.

The reflected field from such surfaces is calculated by the Holford-Urusovskii analytical

method, in order to investigate the dependency on the corrugation geometry. From the

analysis of the existing measuring methods for the reflection coefficient of surfaces, the

transfer-function method between microphones is chosen, which can be applied in open

field and to the case of corrugated surfaces. With a specially designed measuring

system, impulse response measurements close to surfaces are carried out in a

reverberant room, applying time windowing in order to select the components of

interest. From the comparison between the impulse responses obtained from a

corrugated surface and from a reference flat surface, the corresponding initial parts

having the same sound energy and duration are selected. Thus, the specular part of the

impulse response from a corrugated surface is defined and, with two microphone

positions, the respective specular reflection coefficient is found. Results suggest the

viability of the in-situ application of the proposed method and also that, by taking

averages of measurements obtained at different locations along the corrugation, one

could avoid the comparison with impulse responses from a reference flat surface.

vii

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO .................................................................................... 1

1.1. REFLEXÃO SONORA EM BARREIRAS ACÚSTICAS ............................ 1

1.2. BARREIRAS COM SUPERFÍCIES CORRUGADAS ................................ 4

1.3. CARACTERIZAÇÃO DA REFLEXÃO SONORA DE BARREIRAS ......... 7

1.4. OBJETIVO E METODOLOGIA DA TESE ............................................. 12 CAPÍTULO 2 – REFLEXÃO SONORA DE SUPERFÍCIES ................................... 14

2.1. IMPEDÂNCIA ACÚSTICA .................................................................... 14

2.1.1. Impedância de Campo e Impedância do Meio ....................................... 15

2.1.2. Impedância de Superfície ..................................................................... 16

2.2. FENÔMENOS DE INTERFACE: LEIS DE SNELL, REAÇÃO DE

SUPERFÍCIES E ONDAS EVANESCENTES ................................................ 20

2.3. REFLEXÃO SONORA ........................................................................... 21

2.3.1. Coeficiente de Reflexão de Ondas Planas ............................................. 22

2.3.2. Balanço de Energia sobre a Superfície ................................................. 23

2.3.3. Coeficiente de Reflexão de Ondas Esféricas ......................................... 25

2.3.4. Função de Transferência de Superfície ................................................. 28

2.3.5. Superfícies Finitas: Difração, Campo Próximo e Campo Afastado ........ 29

2.4. ABSORÇÃO SONORA .......................................................................... 33

2.4.1. Coeficiente de Absorção ...................................................................... 34

2.4.2. Impedância de Meio e de Superfície de Materiais Absorvedores ........... 36

2.5. ESPALHAMENTO SONORO DE SUPERFÍCIES DIFUSORAS .............. 37 CAPÍTULO 3 – CÁLCULO DA REFLEXÃO ESPALHADA POR SUPE RFÍCIES CORRUGADAS PERIÓDICAS .................................................................................. 43

3.1. MÉTODO DOS ELEMENTOS DE CONTORNO .................................... 44

3.1.1. Resultados do MEC aplicado a Barreiras Corrugadas Periódicas ........... 46

3.2. SUPERFÍCIES CORRUGADAS PERIÓDICAS INFINITAS ................... 49

3.2.1. Método de Holford-Urusovskii............................................................. 53

3.2.2. Implementação do Método ................................................................... 56

> Perfis senoidais .......................................................................................... 59

> Demais perfis periódicos ............................................................................ 60

3.2.3. Resultados do Método de Holford-Urusovskii ...................................... 61

> Campos de reflexão .................................................................................... 62

> Coeficientes de reflexão e de espalhamento ................................................ 63

3.2. SUPERFÍCIES CORRUGADAS PERIÓDICAS FINITAS ....................... 65

viii

CAPÍTULO 4 – MÉTODOS DE MEDIÇÃO DA REFLEXÃO SONORA DE SUPERFÍCIES ............................................................................................................... 70

4.1. MÉTODO DE CÂMARA REVERBERANTE .......................................... 71

4.2. MÉTODO DE TUBO DE IMPEDÂNCIA ................................................ 74

4.2.1. Variante de Onda Estacionária ............................................................. 75

4.2.2. Variante de Função de Transferência ................................................... 76

4.3. CEN/TS 1794-5: MEDIÇÃO IN-SITU DA REFLEXÃO SONORA DE

BARREIRAS ................................................................................................ 78

4.3.1. Método Adrienne ................................................................................. 79

> Índice de reflexão (RI) e valor único de reflexão sonora (DLRI) ................... 84

> Técnica MLS: obtenção de respostas impulsivas e boa relação sinal-ruído .. 85

> Aplicabilidade e limitações do método Adrienne ........................................ 87

4.3.2. Método Quiesst ................................................................................... 90

> Método Quiesst de campo próximo ............................................................. 91

> Avanços introduzidos para o cálculo de RI ................................................. 94

> Método Quiesst para estimativa da reflexão em campo afastado .................. 97

4.5. MÉTODO DA FUNÇÃO DE TRANSFERÊNCIA ENTRE MICROFONES

EM CAMPO ABERTO .................................................................................. 99

4.5.1. Método de Dois Microfones ................................................................. 99

4.5.1. Método de Multi (Posições de) Microfones .........................................104

4.4. MÉTODOS ALTERNATIVOS DE MEDIÇÃO .......................................106

4.6. RESUMO DOS MÉTODOS ...................................................................107 CAPÍTULO 5 – DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO DE MEDIÇÃO ............ 108

5.1. PRINCÍPIO DO MÉTODO ....................................................................110

5.1.1. Descrição Analítica do Método de Dois Microfones ............................111

5.2. SISTEMA EXPERIMENTAL ................................................................113

5.2.1. Equipamento de Medição ....................................................................113

5.2.2. Sistema Computacional e Equipamento Eletrônico de Medição............118

5.3. PRIMEIROS TESTES DO SISTEMA EXPERIMENTAL .......................118

5.3.1. Posicionamento e Alinhamento do Sistema de Medição .......................119

5.3.2. Sinal de Excitação ..............................................................................120

5.3.3. Direcionalidade do Alto-Falante .........................................................121

5.3.4. Perdas na Propagação .........................................................................122

5.3.5. Correção C1 sem Superfície (R = 0).....................................................123

5.3.6. Resíduos na Subtração ........................................................................125

5.3.7. Teste com Superfície Lisa Rígida (R ≈ 1) ............................................127

ix

CAPÍTULO 6 – MEDIÇÕES JUNTO A SUPERFÍES CORRUGADAS .............. 131

6.1. CONSIDERAÇÕES EXPERIMENTAIS .................................................131

6.1.2. Tamanho da Amostra (B) ....................................................................131

6.1.3. Distância (L) e Orientação entre a Fonte e a Superfície .......................131

6.1.4. Extensão e Período (Λ) da Corrugação ................................................133

6.1.1. Espaçamento entre Microfones (s) ......................................................135

6.2. AMOSTRAS .........................................................................................136

6.3. RESULTADOS DAS MEDIÇÕES .........................................................138

6.3.1. Posicionamento das Amostras e do Equipamento de Medição ..............138

6.3.2. Resposta Impulsiva junto à Superfície Corrugada de Perfil Quadrado ..140

6.3.3. Influência do Perfil .............................................................................142

6.3.4. Influência do Período, da Largura e da Profundidade da Corrugação ...144

6.3.5. Influência da Extensão do Perfil Periódico ..........................................149

6.3.6. Influência da Posição de Medição junto à Superfície ...........................155

6.3.7. Definição de uma Janela de Reflexão Especular ..................................157

> Janelamento (seleção) temporal .................................................................159

6.3.8. Coeficiente de Reflexão Especular da Superfície de Perfil Quadrado ...164

6.4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................................170 CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES ............................................................................... 173 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 181 APÊNDICE – MÉTODOS ALTERNATIVOS DE MEDIÇÃO DA REFLE XÃO SONORA DE SUPERFÍCIES .................................................................................... 193

A.1. MÉTODOS DE INTENSIDADE SONORA ........ ..................................193

A.2. MÉTODOS DE IMPEDÂNCIA DE SUPERFÍCIE COM SONDA P-U ...195

A.3. MÉTODOS DE FUNÇÃO DE TRANSFERÊNCIA OU EXCESSO DE

ATENUAÇÃO DE SUPERFÍCIE ..................................................................196

A.3.1. Método de Diferenças de Níveis Sonoros com e sem Amostra de

Superfície ....................................................................................................196

A.3.2. Método de Nocke ...............................................................................198

A.4. MÉTODO DE HOLOGRAFIA ACÚSTICA (MÉTODO DE TAMURA). 199

1

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1.1. REFLEXÃO SONORA EM BARREIRAS ACÚSTICAS

Barreiras acústicas são instaladas para mitigar níveis de ruído em locais onde se

situam receptores junto a fontes sonoras. O desempenho ou atenuação acústica desses

anteparos depende basicamente de quatro efeitos físicos [1], ilustrados na Fig.1.1: a

difração do som nas suas bordas, a transmissão sonora através deles, a absorção ou

dissipação de energia pelo material constituinte e a reflexão acústica da sua superfície.

Figura 1.1: Efeitos físicos relacionados a barreiras acústicas, representados pelos

caminhos da onda sonora difratada, transmitida e refletida e pela dissipação de energia

absorvida pela barreira.

Os três últimos efeitos estão relacionados entre si, pois ao atingir a superfície da

barreira, fora da região de borda, a difração pode ser desprezada e a energia sonora da

onda incidente é transmitida na forma de ondas sonoras através da barreira, absorvida

pelo seu material constituinte, sendo transformada em calor, e refletida pela superfície,

ou seja, desviada igualmente na forma de ondas sonoras à frente dela. Como em

barreiras a transmissão sonora é em geral muito menor que os demais efeitos, a reflexão

e absorção são praticamente complementares, ou seja, quanto mais a barreira absorve o

som, menos ela o reflete e vice-versa, de acordo com as propriedades da superfície.

Deve-se notar, no entanto, que a refletividade de uma barreira depende não só da

incapacidade do material constituinte da superfície externa em absorver energia sonora,

mas também de uma “absorção aparente”. Esta é observada em determinadas direções e

Difração

Transmissão

Reflexão

Barreira

Receptores atrás da barreira

Fonte Sonora Absorção

2

frequências e é dependente da geometria da superfície e da posição do receptor.

Esses efeitos são muito importantes, pois a reflexão sonora pode causar elevação

considerável de níveis de ruído em até 5 dB [1]-[4] no local de imissão, onde estão os

receptores, degradando a atenuação de barreiras. Esta é expressa pela perda por

inserção, dada pela diferença entre os níveis sonoros com e sem barreira em uma dada

posição. Ao incidir sobre a superfície plana de uma barreira altamente refletora, o som é

refletido, i.e., desviado, na direção especular à de incidência, sendo idealizado como

proveniente de uma fonte imagem localizada simetricamente à fonte real com relação à

superfície (Fig. 1.2). As ondas refletidas podem chegar ao local de imissão de forma

direta ou indireta através de múltiplas reflexões entre outras superfícies.

Figura 1.2: Reflexão sonora especular: fonte real e fonte imagem.

Em geral, podem ocorrer três tipos de situações específicas envolvendo

reflexões sonoras em superfícies externas de barreiras. Uma é referente às reflexões

diretas de uma barreira para receptores à frente dela, localizados no lado oposto de uma

via, não protegidos por esta barreira, (Fig. 1.3.a). A segunda situação refere-se às

múltiplas reflexões entre barreiras paralelas, que atingem receptores protegidos por elas,

diminuindo, assim, a região de sombra, podendo degradar a eficiência do conjunto

(Fig.1.3.b). A terceira situação é relativa às múltiplas reflexões do som entre a barreira e

veículos altos como caminhões, ônibus e trens, ou prédios próximos à sua frente, que,

de forma semelhante ao caso de barreiras paralelas, diminuem a região de sombra e a

eficiência da barreira (Fig.1.3.c).

Há ainda uma quarta situação envolvendo reflexões sonoras em barreiras, porém

nas superfícies internas, quando há prédios logo atrás delas (Fig. 1.3.d). Múltiplas

reflexões das ondas difratadas pelo topo da barreira entre tais construções e a superfície

interna da barreira podem também degradar a perda por inserção para receptores

localizados em pavimentos inferiores da construção ou no nível do solo [5],[6].

θ

θ θ

Fonte Real Fonte Imagem

Barreira

3

Figura 1.3: Reflexão sonora em barreiras acústicas.

O aumento de nível sonoro junto a barreiras devido a reflexões está relacionado

com o material, a forma, a altura, além da distância entre barreiras paralelas ou prédios

próximos. Na 1ª situação onde os receptores estão localizados à frente do anteparo, não

protegidos por outras barreiras, reflexões diretas na superfície da barreira causam em

geral elevações de nível sonoro à frente delas de apenas 1 ou 2 dB(A). O aumento

máximo, caso a fonte sonora esteja localizada colada à superfície ou para receptores

extremamente longe da barreira, poderia ser de até 3 dB(A) [4]. Por outro lado, estudos

mostram que múltiplas reflexões entre as superfícies de barreiras paralelas (2ª situação)

ou ainda de prédios e de veículos altos à frente de uma barreira (3ª situação), podem

aumentar consideravelmente os níveis sonoros atrás dela de 2 a até 6 dB(A) [1],[4]. Para

o caso de construções logo atrás de barreira com superfície interna altamente refletora

(4ª situação), pode haver uma degradação da atenuação de até 4 dB(A) em receptores

em pisos inferiores [5]. A degradação devido às múltiplas reflexões são muito

importantes, em vista dos valores limitados de perda por inserção em geral até cerca de

10 dB, podendo significar a diminuição de até a metade e até mesmo a nulidade ou a

inversão da eficiência da barreira atuando sozinha, sem a presença de outras superfícies

paralelas refletoras nas proximidades. Ou seja, ao invés de diminuição, pode haver

aumento de níveis sonoros devido à inserção da barreira, o que em si já é extremamente

indesejável, tornando-se ainda pior devido elevados custos de instalação envolvidos.

a) b)

c) d) Diminuição da sombra acústica

Diminuição da sombra acústica Barreira

Paralela

Fonte sonora alta

Prédio atrás da barreira

Prédio à frente da barreira

4

Medidas básicas para o problema de reflexões sonoras em superfícies de

barreiras acústicas incluem [2],[3],[7]: o aumento da distância entre barreiras paralelas

(Fig.1.4.a), a elevação de suas alturas (Fig.1.4.b); a aplicação de material absorvedor

nas superfícies (Fig.1.4.c), a construção de barreiras centrais absorvedoras entre

barreiras paralelas; o uso de superfícies expostas ao ruído com geometrias especiais

(Fig.1.4.d), como inclinadas, curvadas ou corrugadas.

Figura 1.4: Soluções para diminuir os efeitos de refleões sonoras em barreiras

acústicas: (a) afastamento de barreiras paralelas, (b) elevação da altura de barreiras

paralelas, (c) aplicação de material absorvedor nas superfícies e (d) barreiras com

geometrias especiais (inclinadas, curvadas ou corrugadas).

1.2. BARREIRAS COM SUPERFÍCIES CORRUGADAS

Embora a aplicação de material absorvedor seja muito comum para evitar

reflexões sonoras à frente de barreiras, isto sempre envolve grandes gastos de

manutenção após certo período. Assim, uma opção interessante é o emprego de

barreiras acústicas com superfícies corrugadas, com protuberâncias ou corrugações

estruturalmente rígidas, no lado exposto ao ruído (Fig. 1.5).

As corrugações têm duas funções. Uma é promover o espalhamento do som

refletido, desviando-o para diversas direções, além da especular, conforme a forma da

corrugação (Fig. 1.6). Como a energia sonora refletida é espalhada, a corrugação pode

diminuir a reflexão em determinadas direções, proporcionando uma chamada “absorção

aparente” da superfície. A segunda função da corrugação é favorecer o aumento da

b)

d)

c)

a)

5

absorção real de superfícies compostas por material absorvedor rígido, tal como

concreto leve poroso, já que ela promove o aumento da área de absorção de som.

Figura 1.5: Barreiras acústicas corrugadas.

Figura 1.6: Reflexão direcionada em superfície plana (à esquerda) e reflexão espalhada

em superfície corrugada (à direita).

A capacidade de uma superfície corrugada em espalhar o som refletido depende

do comprimento de onda do som incidente, da forma e das dimensões das corrugações.

Para comprimentos de onda grandes (baixas frequências) em comparação às dimensões

e ao período das corrugações (no caso de superfícies periódicas), a superfície corrugada

apresenta reflexão especular tal como uma superfície plana. Por outro lado, quando o

comprimento de onda é comparável ou menor (altas frequências) que as dimensões das

corrugações, tem-se reflexão espalhada. Além disso, determinadas geometrias, i.e.,

formas de perfis, favorecem um maior espalhamento que outras, o qual também

depende do ângulo de incidência.

As corrugações podem ser arranjadas aleatória ou periodicamente, sendo este

último um tipo muito encontrado no mercado, talvez pela facilidade de fabricação,

razões estéticas, estruturais e de uniformização de seu desempenho de espalhamento e

de absorção ao longo da superfície. O arranjo periódico pode ser vertical, ao longo da

altura da barreira, e/ou horizontal, ao longo de seu comprimento ou largura. Barreiras

corrugadas podem apresentar corrugações com largura e período na ordem de 10 a

6

80 cm e profundidades entre 5 e 20 cm (Fig. 1.7 [8]). A protuberância da corrugação

pode ter diversas formas, como triangular (ou zigue-zague), dente de serra, retangular,

trapezoidal (muito comum [9]), meio-cilíndrica, senoidal, QRD (difusor residual

quadrático), aleatória, etc. Elas podem ser feitas de diversos materiais, incluindo

alumínio, vidro e concreto, em combinação ou não com materiais absorvedores [9].

Figura 1.7: Dimensões de uma barreira corrugada trapezoidal [8].

MAY e OSMAN [4] realizaram medições que apontaram que a aplicação de

superfície corrugada periódica senoidal em barreiras paralelas não apresentou

diminuição significativa na degradação da perda por inserção devido a múltiplas

reflexões. Contudo, isto é certamente creditado à pequena dimensão das corrugações de

apenas 0,08 m, ou seja, muito menor que o comprimento de onda da banda de 500 Hz

(λ ~ 0,68 m), predominante no espectro de ruído de tráfego, utilizado nos experimentos.

Assim, as superfícies corrugadas aplicadas comportaram-se como superfícies planas

para a maior parte do espectro.

Por outro lado, investigações téoricas e experimentais comprovam a eficiência

da aplicação de superfícies corrugadas com dimensões apropriadas para o aumento da

atenuação de barreiras paralelas. Um estudo experimental conduzido por CIANFRINI et

al. [10] testou a aplicação de corrugações aleatórias com profundidades entre 5 e 15 cm

na superfície externa de barreiras paralelas de 3 m de altura, distantes entre si de 10 m.

Obteve-se assim, em comparação com o caso de barreiras planas, aumento da perda por

inserção (“atenuação extra”) de até 5 dB, principalmente para frequências entre 500 e

1600 Hz. Foi observado que a chamada “atenuação extra” aumenta com a distância do

Vista (lado altamente absorvedor)

Corte A-A

Camada unilateral de armação

Variável até

Variável até

Onda 50/35

Passadores 2 Ø6

7

receptor à barreira e que ocorre não só para receptores na região de sombra, mas

também um pouco acima dela, na transição com a região iluminada, com valores até

2 dB. A partir dessa região, adentrando-se na região iluminada, já é observada uma

diminuição da perda por inserção de até 2 dB, em comparação com o caso de barreiras

planas, pois o som refletido pelas superfícies corrugadas é eventualmente redirecionado

acima das barreiras. Assim, cuidado também deve ser tomado para receptores em

prédios altos junto a barreiras corrugadas paralelas.

Já MONAZZAM e NASSIRI [11] utilizaram um modelo teórico bidimensional

de barreiras paralelas verticais de 3 m, separadas entre si em 40 m. Simulou-se com o

método de elementos de contorno (MEC) a aplicação de difusores residuais quadráticos

(QRD) na face externa de apenas uma barreira paralela. Foram empregados difusores

diferentes, sintonizados para espalhamento uniforme em torno de 400 Hz e de 1000 Hz.

Para a geometria escolhida, a configuração que proporcionou menor degradação de

perda por inserção foi o QRD sintonizado para 400 Hz. Para este caso, obteve-se uma

diminuição média de degradação devido a reflexões nas barreiras paralelas planas, ou

seja, proporcionou-se uma atenuação extra, de 5,8 dB.

1.3. CARACTERIZAÇÃO DA REFLEXÃO SONORA DE BARREIRAS

A caracterização das reflexões sonoras em superfícies de barreiras acústicas é de

grande relevância para aqueles envolvidos no projeto e avaliação de barreiras. Para a

mensuração da reflexão sonora de superfícies, diferentes procedimentos de medição são

conhecidos, em laboratório ou em campo, i.e., in-situ.

Segundo a norma brasileira ABNT NBR 14313 [12], as superfícies das barreiras

podem ser classificadas quanto à atenuação máxima ∆LA,α,RT de ruído refletido em

relação ao incidente, dada em dB(A), calculada a partir dos coeficientes de absorção

sonora da superfície sob incidência aleatória em 1/3 de oitava de 100 a 5000 Hz, obtidos

através de ensaio em câmara reverberante, prescrito na norma internacional ISO 354

[13]. Os níveis sonoros equivalentes à parcela refletida e à incidente na barreira são

ponderados por um espectro de ruído médio de tráfego descrito pela norma, para

obtenção de um valor único representativo. Já a norma europeia EN 1793-1 [14]

também propõe a classificação através de um valor único da absorção sonora DLa, dado

em dB, obtido a partir dos coeficientes de absorção sonora em câmara reverberante da

superfície da barreira exposta à fonte de ruído, de forma semelhante ao ∆LA,α,RT da

8

ABNT NBR 14313, porém ponderando de forma diferente, por outro espectro de ruído

de tráfego normalizado pela norma EN 1793-3 [15].

A ideia do valor da atenuação da reflexão ∆LA,α,RT ou do valor único de absorção

sonora DLa de uma barreira acústica seria indicar o quanto o nível sonoro no ponto de

recepção seria reduzido em comparação com uma barreira totalmente refletora se

apenas o som refletido pela barreira em questão atingisse esse ponto. Entretanto, em

situações reais de campo, no ponto de imissão atingem também outras parcelas

refletidas por outras superfícies, que se sobrepõem sobre a parcela refletida pela

barreira, de modo que o nível sonoro total já não é modificado na mesma quantidade

∆LA,α,RT ou DLa da parcela refletida pela barreira, porém em um valor menor. Tome-se,

por exemplo, duas barreiras altamente absorventes, sendo uma com atenuação por

absorção ∆LA,α,RT de 8 dB e a outra com 10 dB. Segundo essa classificação, se apenas a

reflexão nas superfícies das barreiras fosse considerada, a barreira com ∆LA,α,RT de

10 dB deveria levar a níveis menores em até 2 dB com relação à com ∆LA,α,RT de 8 dB.

Porém, segundo SCHOLL [16], medições em campo mostram que a barreira com maior

atenuação por absorção leva a diminuição de níveis no local de imissão em apenas 0,3 a

0,7 dB, o que é imperceptível aos ouvidos humanos.

Além disso, os valores de ∆LA,α,RT e de DLa, são obtidos através de ensaio em

câmara reverberante, que considera campo incidente difuso, enquanto na prática tem-se

que a incidência sonora em barreiras é geralmente direcionada, principalmente de baixo

para cima, já que numa determinada faixa de velocidade do tráfego, a principal fonte de

ruído vem do rolamento entre o pneu do carro e o asfalto da rodovia ou entre a roda do

trem e o trilho da ferrovia. Assim, salvo em situações específicas de túneis ou cânions

viários profundos (mergulhões), nas quais se tem um campo acústico mais próximo do

difuso, tais valores de ∆LA,α,RT e de DLa não fornecem uma ideia exata e prática de

quanto a barreira reflete ou reduz o som refletido, mas sim uma noção mais qualitativa.

Portanto, medições in-situ são de grande relevância prática. Elas são requeridas

não só para se verificar a absorção ou a reflexão sonora de barreiras acústicas em

situações e condições reais de campo, depois de sua instalação, como também para

monitorar seu desempenho ao longo do tempo para, caso esta esteja se deteriorando,

providenciar a manutenção ou a substituição da barreira. Além disso, certos produtos

têm restrições para serem medidos em laboratório devido a suas dimensões que

dificultam o deslocamento para o interior de uma câmara reverberante, por exemplo.

9

Por outro lado, a medição de uma pequena amostra do produto em laboratório pode não

ser representativa do desempenho da barreira como um todo.

Nesse sentido, em 1998 o chamado método Adrienne [17] foi uma proposta de

medição in-situ da reflexão sonora de barreiras planas e não planas (corrugadas)

presentes no mercado da União Europeia, publicado na especificação técnica

CEN/TS 1793-5 [18]. Através desse procedimento, propriedades de reflexão e absorção

sonora de barreiras podem ser determinadas diretamente em seu local de aplicação, após

a instalação. Assim, determina-se um chamado índice de reflexão RI adimensional em

1/3 de oitava de 100 a 5000 Hz, dado pela razão entre a energia sonora refletida e a

incidente. Estas são obtidas dos respectivos componentes impulsivos medidos através

de um dispositivo alto-falante-microfone direcionado e junto (a 0,25 m) da superfície da

barreira, sob diversos ângulos de incidência (Fig. 1.8.a), como também voltado contra a

mesma (chamada de “medição de campo livre” – Fig. 1.8.b).

Figura 1.8: Esquema de medição pelo método Adrienne, para medição do componente

impulsivo refletido (a) e direto (b).

Para isso, são utilizadas respostas impulsivas, obtidas pela correlação cruzada

entre o sinal medido junto à barreira e o sinal de excitação MLS (maximum length

sequence). Tal sinal é composto de sequências binárias pseudo-aleatórias de

comprimento máximo, e, além de ser um sinal reprodutível, apresenta boa relação

sinal/ruído, desejável para a supressão de ruído de fundo, que pode adulterar medições

in-situ. Técnicas de janelamento temporal e de subtração de sinais permitem separar o

componente refletido pela superfície do incidente e de demais perturbações. Os

resultados também são expressos por um valor único da reflexão sonora DLRI em dB,

a) b)

10

através da ponderação dos índices de reflexão RI em 1/3 de oitava pelos níveis sonoros

relativos do espectro de tráfego normalizado pela EN 1793-3.

O método Adrienne fornece bons resultados para barreiras com superfícies

planas, dentro da faixa 0 ≤ RI ≤ 1 [17]. Além disso, são mais realísticos que os obtidos

pelo método de câmara reverberante. GARAI e GUIDORZI [19] mostraram que, para a

mesma barreira altamente absorvedora, enquanto resultados em laboratório pelo método

de câmara reverberante apontam valores exagerados DLα de até 20 dB, resultados in-situ

pelo método Adrienne fornecem valores razoáveis de DLRI de 5 a 7 dB.

Apesar de ter sido publicado em especificação técnica pelo Comitê Europeu de

Normalização (CEN), o método nunca chegou a um consenso geral dentro do cenário

europeu entre as partes envolvidas com o desempenho de barreiras (fabricantes,

administradores de rodovias e ferrovias, laboratórios e centros de pesquisa), para tornar-

se de fato uma norma europeia (EN). Assim, o método tem sido mais utilizado até o

presente para propósitos puramente investigativos e não propriamente para a

averiguação rotineira in-situ [20]. A razão disso são certos déficits no método.

Demonstra-se, por exemplo, que o método não funciona adequadamente para

barreiras refletoras com superfícies corrugadas [21]. Isto se deve, sobretudo, ao fato de

que, devido à reflexão espalhada, no campo próximo à corrugação acontece forte

interferência acústica e com ela a focalização, o que afeta consideravelmente os valores

medidos. A focalização é a convergência construtiva em determinado(s) local(is) de

diversas ondas que trafegam em direções diferentes. Em tais locais, há interferência

construtiva e a energia total é fortemente intensificada. Assim, medições em campo

próximo são fortemente afetadas por efeitos de focalização. Por isso, o método

Adrienne fornece índices de reflexão até mesmo maiores do que a unidade (RI > 1)

quando aplicado a superfícies corrugadas refletoras, o que não ocorre para barreiras

planas [17]. Isto sugeriria que a barreira reflete mais energia do que sobre ela incide, o

que não é fisicamente possível.

Valores de RI > 1 podem ser possíveis localmente em campo próximo, mas não

integralmente, como em campo afastado, onde efeitos de focalização são menos

intensos. Desta forma, medições em campo próximo seriam, em princípio, inadequadas

para a caracterização de barreiras corrugadas. Para este propósito, dever-se-ia

determinar a reflexão ou a absorção sonora de preferência no campo afastado, em

distâncias suficientes (maiores que 20 ou 30 m) da barreira. Contudo, em medições in-

situ no campo afastado, além da dificuldade de suprimir reflexões espúrias de outras

11

superfícies, que chegam junto com o sinal refletido da barreira, existe ainda o problema

da supressão de ruído de fundo, que adultera os resultados. O método Adrienne

pressupõe medições junto à superfície em campo próximo, devido não só à facilidade de

separação de reflexões espúrias, como também à aplicação da técnica MLS, cuja

imunidade ao ruído de fundo é sensível a pequenas variações das condições ambientais,

como vento e temperatura, que ocorrem quando se realiza medições a distâncias

maiores entre alto-falante, barreira e microfone. Em medições em campo afastado, o

sinal do alto-falante e o medido já não apresentam alta correlação como no campo

próximo, e assim a supressão de ruído de fundo pela técnica MLS é prejudicada [21].

Recentemente, entre 2010 e 2012, foi desenvolvido dentro do escopo do 7º

Programa de Estrutura de Trabalho (FP7/2007-2013) da Comissão Europeia um novo

método de medição in-situ da reflexão sonora de barreiras acústicas, o método Quiesst

(Quietening the Environment of Sustainable Surface Transport) [22], no intuito de sanar

déficits do método Adrienne, e que está sendo proposto na revisão da CEN/TS 1793-5.

O método Quiesst é uma versão melhorada de seu antecessor, sendo assim, o princípio

de medição é muito semelhante, como aplicação de técnica de resposta impulsiva, a

partir de sinal de excitação MLS. Porém, faz uso de técnicas mais avançadas, como

multi-canais para registro de sinais simultaneamente em diferentes posições também a

0,25 m junto da superfície da barreira, com um dispositivo malha de microfones.

Ademais, utiliza técnicas mais apuradas de subtração de componentes incidentes e

emprega fatores de correção referentes à direcionalidade de fonte e à diferença de

amplitudes dos sinais entre medições em campo livre e junto da barreira. Assim,

resultam índices de reflexão RI e de valor único de reflexão sonora DLRI, expresso em

dB, tal como no método Adrienne, porém de forma muito mais confiável.

O método Quiesst propõe adicionalmente um procedimento de engenharia para a

estimativa da refletividade em campo afastado (a 100 m da barreira e em 5 alturas

diferentes), a partir da medição in-situ em campo próximo e de informações

geométricas e de material da barreira. Com esses dados de entrada, é feita a

transferência dos resultados do campo próximo para o afastado, utilizando também

bancos de dados de resultados em campo próximo e afastado, obtidos de simulações

numéricas, para diversos tipos de barreiras [20].

No entanto, por se tratar igualmente de um método de medição em campo

próximo e que considera em sua formulação reflexão especular da superfície, medições

com o método Quiesst também fornecem valores fisicamente não consistentes para

12

barreiras acústicas com superfícies corrugadas [20], como seu antecessor. Assim, ainda

existe a lacuna de se obter resultados plausíveis para barreiras corrugadas diretamente

em campo próximo.

1.4. OBJETIVO E METODOLOGIA DA TESE

Da questão apresentada, resulta a demanda de uma caracterização adequada da

reflexão sonora de barreiras acústicas com superfície corrugada. Serão tratadas neste

trabalho somente superfícies periódicas. O objetivo principal da pesquisa é propor um

método alternativo de medição da reflexão sonora de barreiras acústicas com superfícies

periodicamente corrugadas. O método de medição deve possibilitar uma descrição

representativa e prática da reflexão desse tipo de barreira. Do objetivo acima descrito,

resultam as seguintes etapas principais do trabalho:

1. Cálculo do campo acústico junto a superfícies periodicamente corrugadas;

2. Análise dos métodos de medição da reflexão sonora de superfícies;

3. Desenvolvimento de um método de medição do coeficiente de reflexão de

superfícies de barreiras, que possa ser aplicado in-situ;

4. Aplicação do método de medição desenvolvido junto a superfícies

periodicamente corrugadas.

A tese compreende um total de sete capítulos. Neste primeiro capítulo é

apresentada uma introdução ao tema da pesquisa. No Capítulo 2 são apresentados

conceitos teóricos sobre reflexão e absorção sonora de superfícies e a questão do

espalhamento sonoro de superfícies difusoras, como as corrugadas.

O Capítulo 3 refere-se à primeira etapa da pesquisa propriamente dita,

abrangendo o cálculo do campo acústico junto a superfícies periodicamente corrugadas.

São assim obtidas informações sobre como a forma e a dimensão da corrugação

influenciam o campo acústico em frente à barreira, o que é de importância crucial na

interpretação de medições. São apresentados métodos de cálculo do campo acústico em

frente a superfícies periodicamente corrugadas com resultados. Estes são obtidos pelo

método numérico de Elementos de Contorno, provenientes de outra investigação, e

também pelo método de Holford-Urusovskii, um método analítico para o caso de

superfície corrugada periódica infinita. Os resultados obtidos por este útlimo método

são exclusivamente feitos para esta investigação. Ademais, através da aproximação de

Fraunhofer, para estimativa da refletividade em campo afastado de superfícies finitas, é

13

investigada analiticamente uma possível relação entre os resultados do campo próximo

e do campo afastado de barreiras acústicas corrugadas periódicas.

No Capítulo 4 é abordada a segunda etapa do trabalho: a análise dos métodos de

medição existentes da reflexão sonora de superfícies. Através de uma revisão

bibliográfica, os métodos são descritos segundo a adequação para o objetivo proposto.

Os respectivos limites de aplicação são traçados, bem como mostradas as vantagens e

desvantagens práticas de cada um. O objetivo dessa etapa é ganhar um vasto panorama

do estado da arte e obter a base para o desenvolvimento do método de medição. Na

etapa seguinte, é escolhido um dos métodos investigados à aplicação almejada.

A seguir, chega-se ao Capítulo 5, relacionado à terceira etapa da pesquisa, o

desenvolvimento de um método de medição do coeficiente de reflexão de barreiras

periodicamente corrugadas que possa ser aplicado in-situ. Nessa etapa, emprega-se

como ponto de partida o método de função de transferência entre microfones (método

de dois microfones) que foi apresentado na etapa anterior, de modo a adequá-lo para

atender ao objetivo proposto. Com um sistema experimental especialmente projetado,

inicialmente com este método são realizadas medições somente junto a superfícies lisas,

para as quais o campo refletido é mais simples. Para pesquisar a influência de

parâmetros de medição (distâncias do microfone e da fonte sonora, direcionalidade da

fonte, etc.) sem variações de condições ambientais e perturbações de ruído de fundo,

são realizadas investigações numa câmera reverberante. Através de janelamento

temporal, pode-se selecionar o componente incidente e o refletido das superfícies,

descartando reflexões espúrias provenientes de outros objetos presentes na câmara.

O Capítulo 6 é associado à quarta e última etapa da investigação, ou seja, a

aplicação do método desenvolvido junto a amostras de barreiras com superfícies

corrugadas. Nesse capítulo, são mostrados os resultados de medições com o método

junto a superfícies corrugadas na mesma câmara reverberante utilizada na etapa

anterior. Em ensaios escolhidos, são alterados diversos parâmetros das superfícies e da

posição de medição, de modo a investigar como estes afetam os resultados. Verifica-se

experimentalmente o espalhamento à frente das superfícies, que foi realizada na parte

anterior do trabalho. Por fim, é determinado o coeficiente de reflexão das superfícies

através de um procedimento proposto, utilizando o método de dois microfones.

Finalmente, no Capítulo 7 são apresentadas as conclusões do trabalho e

propostas sugestões para investigações futuras. Resultados preliminares da pesquisa

foram apresentados em congressos de acústica entre 2006 e 2014 [23]-[30].

14

CAPÍTULO 2

REFLEXÃO SONORA DE SUPERFÍCIES

Neste capítulo, são apresentados definições e conceitos teóricos essenciais para

a caracterização da reflexão sonora de superfícies. Ademais, é dado um panorama sobre

a questão do espalhamento sonoro em superfícies difusoras, tais como as

periodicamente corrugadas. Embora abordagens similares possam ser encontradas em

livros-texto de acústica [31]-[34] e os leitores familiarizados com esse tema possam

inclusive omitir este capítulo, ele serve para definir nomenclaturas e símbolos a serem

empregados durante o texto da tese.

Como já mencionado no Capítulo 1, ao incidir sobre a superfície de uma

barreira, a energia sonora de uma onda propagando-se no ar, sofre basicamente quatro

fenômenos típicos, sendo parcialmente refletida, absorvida, transmitida através da

barreira e ainda difratada nos seus cantos (Fig.1.4). A reflexão e a transmissão sonora

ocorrem na fronteira entre dois meios quaisquer com propriedades acústicas diferentes,

como, por exemplo, o ar à frente da superfície da barreira e esta propriamente dita. Já a

absorção ocorre quando o material da (superfície da) barreira possui propriedades

absorventes, transformando energia sonora em térmica, diminuindo a reflexão sonora.

Para a análise desses efeitos, apresenta-se a seguir uma descrição matemática da

onda sonora trafegando em um meio homogêneo ao encontrar uma fronteira plana com

outro meio homogêneo de características acústicas distintas, descritas pela impedância

acústica.

2.1. IMPEDÂNCIA ACÚSTICA

Considere uma onda sonora monocromática propagando-se pelo ar na direção do

vetor unitário en, descrito em um sistema de coordenadas cartesianas x, y, z. O ar é tido

como um meio homogêneo com massa específica ρ0 e velocidade de propagação da

onda c0. Seja f a frequência da onda, ω = 2πf sua frequência angular, λ0 = c0/f o

comprimento de onda e k0 = ω/c0 o número de onda. Numa posição descrita pelo

vetor r = (x, y, z) no sistema de coordenadas, a pressão sonora da onda pode ser

15

expressa pela parte real da pressão complexa (p), sendo j a unidade imaginária e t o

tempo

( ) ( )[ ]nktjPtp err ⋅−= 0exp, ω . (2.1)

A amplitude de pressão complexa é Φ= jePP , sendo |P| a magnitude e Φ sua

respectiva fase. De acordo com a equação linearizada de Euler (relativa à quantidade de

movimento e equivalente à 2ª Lei de Newton), válida para processos acústicos de

amplitudes pequenas, o produto da massa específica do meio pela derivada temporal do

vetor velocidade de partícula (aceleração) é igual a menos o gradiente espacial de

pressão sonora. Então, tem-se

( ) ( )tpt

t,

,0 r

ru −∇=∂

∂ρ . (2.2)

A componente do vetor de velocidade complexa de partículas no ar na mesma

posição na direção de en é, portanto

( ) ( )[ ]nn ktjc

Ptu r.er 0

00

exp, −= ωρ

. (2.3)

A amplitude da velocidade de partícula é então ( )00cPU ρ= .

2.1.1. Impedância de Campo e Impedância do Meio

A razão entre as amplitudes de pressão sonora e de velocidade de partícula é

chamada de impedância acústica de campo (zc). No caso de propagação de onda plana,

esta é dada simplesmente pelo produto da massa específica pela velocidade de

propagação do som no meio. Então a partir das Eqs. (2.1) e (2.3)

00cUPzc ρ== . (2.4)

Embora a impedância de campo apresente valor real para ondas planas, pois

pressão acústica e velocidade de partícula estão em fase, isso nem sempre ocorre para

16

outros tipos de onda, como as esféricas, podendo assumir valores imaginários. Logo, a

impedância de campo tem, em geral, valor complexo, da seguinte forma

ImRe jzzzc += . (2.5)

onde zRe é a componente resistiva ou resistência acústica de campo e zIm é a componente

reativa ou reatância acústica de campo.

Para ondas esféricas, por exemplo, a impedância acústica de campo é dada pelo

produto entre ρ0c0 e um fator complexo de campo, que se aproxima da unidade para

distância suficientemente grande da fonte sonora. O produto da massa específica do

meio pela velocidade de propagação do som (ρ0c0 = z0) é chamado de impedância

acústica característica do meio, pois não depende do campo, i.e., do tipo da onda, mas

somente do meio. Para o ar à temperatura de 20°C e sob a pressão atmosférica, sua

massa específica é 1,21 kg/m³ e a velocidade do som é 343 m/s, o que resulta no valor

de 415 Pa s/m (Rayls) para a impedância característica do ar nessas condições.

A impedância acústica fornece uma medida da resistência do meio ao

deslocamento da partícula ao se imprimir uma pressão acústica sobre ela, em outras

palavras “o quão difícil é fazer a partícula desse meio se mover” [32]. A partir da

impedância acústica pode-se compreender os fenômenos físicos que ocorrem na

incidência da onda trafegando de um meio para outro: a reflexão, a absorção e a

transmissão sonora.

Em muitas situações, é conveniente trabalhar com o inverso da impedância, a

chamada admitância. Assim, a admitância acústica característica do meio é uma

medida da facilidade de propagação da onda no meio e é definida por

( )0000 11 cz ρβ == . (2.6)

2.1.2. Impedância de Superfície

Considere a mesma onda sonora no ar incidindo sobre a superfície de barreira

plana ao longo do eixo y, localizada em x = 0, sob o ângulo φi em relação à superfície,

i.e., o ângulo entre a direção y e a de en (obs.: em muitos textos, o ângulo de incidência

é medido a partir da normal da superfície, ou seja, trata-se do ângulo complementar a φi,

θ = 90° – φi, assim nas equações as funções senos tornam-se cossenos e vice-versa).

17

Admite-se que o sentido positivo de x está orientado para trás da barreira e que não há

propagação no eixo z, somente no plano x-y (Fig. 2.1). Omitindo-se o termo temporal

ejωt, tem-se que, a pressão complexa da onda sonora incidente de amplitude Pi é

( ) ( )[ ]iiii yxjkPyxp ϕϕ cossinexp, 0 +−= . (2.7)

Da equação de quantidade de movimento, tem-se que a velocidade de partícula

na direção normal à superfície (direção x) ui,x é expressa por

( ) ( )[ ]iiii

xi yxjkc

Pyxu ϕϕ

ρϕ

cossinexpsin

, 000

, +−= . (2.8)

Assume-se uma superfície de extensão infinita ou que o ponto de incidência

considerado está a uma distância das extremidades da barreira muito maior que o

comprimento de onda, de tal forma que a contribuição da difração nos cantos e de

reflexões de outras superfícies seja desprezível nesse local.

Figura 2.1: Esquema representativo da geometria representando a onda incidente, a

refletida pela barreira e a transmitida através dela.

O material da barreira é outro meio de propagação acústica, sendo sua densidade

média ρ1 e a velocidade de propagação de onda sonora c1. A impedância acústica

característica desse meio é z1 = ρ1c1, diferente da do ar. Então, ao incidir sobre a

φr

φi

φt

y

x

onda incidente

onda refletida

pt , ut

Barreira, ρ1c1 Ar, ρ0c0 pi , ui

pr , ur onda transmitida

18

barreira, a onda sonora é submetida a uma resistência diferente de propagação, o que,

dependendo da relação entre as impedâncias características do ar e do material da

barreira, além do ângulo de incidência, gera uma onda refletida no ar (chamado aqui de

meio 0) e uma onda transmitida para o material da barreira (meio 1).

Considere que a onda refletida propague-se no meio 0 sob um ângulo φr em

relação ao eixo y no quadrante adjacente a φi e que a onda transmitida trafegue no meio

1 sob um ângulo φt em relação ao mesmo eixo (Fig. 2.1), com número de onda dado por

k1. Sendo Pr e Pt as amplitudes das pressões sonoras refletida e transmitida, suas

respectivas pressões sonoras complexas podem ser expressas por:

( ) ( )[ ]rrrr yxjkPyxp ϕϕ cossinexp, 0 +−−= ; (2.9.a)

( ) ( )[ ]tttt yxjkPyxp ϕϕ cossinexp, 1 +−= . (2.9.b)

e as respectivas velocidades de partículas na direção normal à superfície (direção x) são

dadas por:

( ) ( )[ ]rrrr

xr yxjkc

Pyxu ϕϕ

ρϕ

cossinexpsin

, 000

, +−−−= ; (2.10.a)

( ) ( )[ ]tttt

xt yxjkc

Pyxu ϕϕ

ρϕ

cossinexpsin

, 111

, +−= . (2.10.b)

Há duas condições que precisam ser sempre satisfeitas ao longo de toda a

interface de contato entre os dois meios: (1) as pressões em ambos os lados devem ser

iguais e (2) as velocidades de partícula normais à interface em ambos os lados devem

ser iguais também. A primeira condição, continuidade de pressão, significa que não

deve haver força líquida no plano que separa os meios, senão haveria deslocamento

efetivo da interface. A segunda condição, continuidade de velocidade, refere-se ao fato

de que os meios devem sempre estar em contato um com o outro, caso contrário haveria

vácuo entre eles e não haveria propagação da onda sonora.

Sendo um problema linear, tem-se que a frequência f = ω/2π da onda transmitida

no meio 1 deve ser a mesma da incidente e da refletida no meio 0. Entretanto, devido à

diferença de velocidade de propagação do som em ambos os meios, os comprimentos de

19

onda (λ0 = c0/f e λ1 = c1/f) e, em consequência, seus respectivos números de onda

(k0 = ω/c0 e k1 = ω/c1) são diferentes entre si.

Equacionando as condições de contorno enunciadas, na interface (x = 0) tem-se:

tri ppp =+ ; (2.11.a)

xtxrxi uuu ,,, =+ . (2.11.b)

Dividindo ambos os membros da Eq. (2.11.a) pelos respectivos da Eq. (2.11.b)

tem-se a razão entre as amplitudes de pressão sonora e de velocidade de partícula

normal num ponto na interface, definindo, assim, a impedância acústica normal à

superfície ou simplesmente impedância acústica de superfície zs [35]. No caso de ondas

planas, é dada simplesmente pela razão entre a impedância característica do meio 1 e o

seno do ângulo de transmissão (ou o cosseno caso este seja medido a partir da normal à

superfície)

( ) ( ) 0 emsin

1

,,,

==∴==++

xz

zzu

p

uu

pp

ttsts

xt

t

xrxi

ri

ϕϕϕ . (2.12)

Define-se ainda a impedância acústica normalizada de superfície (Z) dada em

relação à impedância característica do ar, z0, que neste caso de ondas planas é

( ) ( ) ( )t

tts

t z

zZ

z

zZ

ϕϕϕϕ

sinou

0

1

0

== . (2.13)

A impedância da superfície depende também do tipo de onda incidente e do

material da superfície. Pode variar com a frequência e ainda ser complexa, mesmo para

ondas planas, já que a velocidade de partícula pode não estar em fase com a pressão

acústica na superfície.

Caso a velocidade de partícula na superfície seja nula, a impedância da

superfície assume valores muito grandes, tendendo a infinito (zs → ∞). Tais superfícies

são ditas acusticamente rígidas ou duras, como no caso de barreiras de vidro, metal ou

concreto. Caso a pressão sonora seja nula, a impedância de superfície é zero (zs = 0) e

tem-se uma superfície dita macia.

20

2.2. FENÔMENOS DE INTERFACE: LEIS DE SNELL, REAÇÃO DE

SUPERFÍCIES E ONDAS EVANESCENTES

Da primeira condição de contorno (Eq. 2.11.a), em x = 0, vem a equação

[ ] [ ] [ ]ttrrii yjkPyjkPyjkP ϕϕϕ cosexpcosexpcosexp 100 −=−+− . (2.14)

Para a Eq. (2.14) ser satisfeita ao longo da superfície toda (para todo y), as

exponenciais precisam ser sempre iguais. Assim, resulta que a soma das amplitudes de

pressão sonora incidente e refletida é igual à amplitude da pressão sonora transmitida

tri PPP =+ . (2.15)

Para tanto, os argumentos das exponenciais devem ser iguais entre si, no que resulta que

os ângulos de incidência, reflexão e transmissão devem obedecer a relações, conhecidas

como as leis de Snell:

irir ϕϕϕϕ =∴= coscos ; (2.16.a)

( ) it cc ϕϕ coscos 01= . (2.16.b)

ou seja, o ângulo de reflexão é igual ao ângulo de incidência (porém medido no

quadrante adjacente), já que não há mudança de impedância no eixo y, justificando o

uso do conceito de fonte imagem para explicar a reflexão sonora especular em

superfícies planas, apresentado no Capítulo 1. Além disso, o ângulo de transmissão,

muitas vezes chamado de ângulo de refração, possui cosseno relacionado com o cosseno

do ângulo de incidência pela razão entre as velocidades de propagação do som em

ambos os meios. Esta última lei é também chamada de lei da refração.

As leis de Snell revelam ainda a seguinte relação entre o ângulo de transmissão e

o ângulo de incidência

( )[ ] 2/12201

2/12 cos/1)cos1(sin itt cc ϕϕϕ −=−= . (2.17)

21

Se a velocidade de propagação sonora na barreira for menor que a do ar, c1 < c0,

pela Eq. (2.16.b), o ângulo de transmissão φt é real e maior que o ângulo de incidência

φi. Agora, se a velocidade do som na barreira for muito menor que a do ar, c1 << c0,

como é o caso de uma barreira revestida por uma superfície de material poroso

absorvente, tem-se φt ≈ 90°. Ou seja, a onda sonora é transmitida nesse material sempre

na direção normal à superfície, não importando o ângulo de incidência. Assim, da

Eq. (2.12), para ondas planas a impedância de superfície de tal material assume o valor

da impedância característica do meio, zs = z1 = ρ1c1, não importando o ângulo de

incidência. Isto significa que para qualquer ângulo de incidência, tem-se um único valor

caracterizando a impedância da superfície. Tal tipo de interface é dita localmente

reativa, típica de materiais absorventes porosos. Isto ocorre porque nesses materiais, as

seções adjacentes que o compõe não estão fortemente conectadas entre si, de modo que

a onda transmitida num dado ponto da superfície não é influenciada por outras partes da

superfície, propagando-se no material apenas na direção normal [36].

Por outro lado, caso a velocidade de propagação sonora na barreira seja maior

que a do ar, c1 > c0, como para materiais rígidos, tem-se que pela Eq. (2.16.b) o ângulo

de transmissão é menor que o de incidência, afastando-se da normal à superfície. Neste

caso, da Eq. (2.12), o valor da impedância de superfície é igual à impedância do meio

dividida pelo seno do ângulo de transmissão, zs(φi) = z1/sinφt = ρ1c1/[1 –(c1/c0)2cos2φi]

1/2.

Ou seja, a impedância de superfície depende do ângulo de incidência, não sendo

caracterizada por um só valor. Tal tipo de interface é dita extensivamente reativa ou não

localmente reativa, sendo a onda transmitida num dado ponto da superfície dependente

dos pontos vizinhos, já que as seções do material da superfície estão fortemente

concetadas entre si, podendo, portanto, propagar-se em direções além da normal [36].

Note-se que pela Eq. (2.17) para c1 > c0 há um ângulo mínimo crítico de

incidência φic, dado por cosφic = c0/c1, para o qual o ângulo de transmissão φt é real e

nulo, i.e. φt = 0°. Mas se o ângulo de incidência é menor que o ângulo crítico, φi < φic, a

Eq. (2.17) revela que o seno do ângulo de transmissão sinφt é imaginário e que seu

cosseno cosφt é real e maior que 1. Da Eq. (2.9.b), a onda transmitida propaga-se

exclusivamente na direção y, paralela à superfície, e sua amplitude decai na direção x,

perpendicular a ela. Tais ondas transmitidas são chamadas evanescentes ou de

superfície, não transmitindo energia para longe da interface. O conceito de ondas de

superfície é importante também na descrição da reflexão sonora de superfícies

periodicamente corrugadas, abordado em detalhe no Capítulo 3.

22

2.3. REFLEXÃO SONORA

Para quantificar diretamente a refletividade da superfície, define-se o coeficiente

de reflexão sonora R pela razão entre as amplitudes de pressão de onda sonora refletida

e incidente no plano da superfície

ir PPR /= . (2.18)

Assim, o coeficiente de reflexão é um número complexo, que carrega tanto

informação de magnitude, dada por |R| = |Pr| / |Pi|, quanto de fase entre a onda incidente

e a refletida. Considerando um regime estacionário, dada a reflexão na superfície, o

campo sonoro total à frente da barreira é a soma da onda incidente e da refletida, i.e.,

( ) ( ) ( )yxpyxpyxp ritot ,,, += . Portanto, pela lei de Snell a pressão total é

( ) ( )[ ] ( )[ ]iiiiiitot yxjkPRyxjkPyxp ϕϕϕϕ cossinexpcossinexp, 00 +−−++−= . (2.19)

2.3.1. Coeficiente de Reflexão para Ondas Planas

Da segunda condição de contorno (Eq. 2.11.b), em x = 0 resulta

ti

trit

i

tri P

z

zPPP

c

cPP

ϕϕ

ϕϕ

ρρ

sin

sinou

sin

sin

1

0

11

00 =−=− . (2.20)

Substituindo a Eq. (2.15) (primeira condição de contorno) na Eq. (2.20) tem-se

( )rii

tri PP

z

zPP +=−

ϕϕ

sin

sin

1

0 . (2.21)

A partir da Eq. (2.21), obtém-se o coeficiente de reflexão sonora de ondas planas

R de uma superfície, que depende da impedância de superfície e do ângulo de incidência

( ) ( ) ( )( ) 1sin

1sinou

sinsin

sinsin

01

01

+−

=+−

=ii

iii

ti

tii Z

ZR

zz

zzR

ϕϕϕϕϕ

ϕϕϕϕϕ . (2.22)

Pela Eq. (2.22), caso a impedância do meio 1 do material da barreira seja muito

maior que a do meio 0 (o ar), i.e., z1 >> z0 como é o caso de uma barreira de vidro, de

23

metal ou de concreto, o coeficiente de reflexão é aproximadamente igual à unidade

(R ≈ 1), ou seja, o som incidente é totalmente refletido pela barreira, não sendo

transmitido. Tais materiais são ditos rígidos, duros ou perfeitamente refletores.

Para materiais porosos absorventes, a superfície é localmente reativa, com

φt = 90°. Então o coeficiente de reflexão (Eq. 2.22) para este caso é dado por

R = [(z1/z0)sinφi – 1)] / [(z1/z0)sinφi + 1)].

Se z1 = z0, que significa que a onda incidente não experimenta mudança de

meios de propagação, tem-se sinφt = sinφi e R = 0, ou seja, nenhuma onda é refletida e

tem-se transmissão total.

Por outro lado, no caso de a impedância do meio 1 ser muito menor que a do

meio 0, z1 << z0, tem-se que o coeficiente de reflexão aproxima-se de –1, significando

que a pressão sonora total em frente da superfície torna-se nula (superfície macia),

estando a onda refletida em oposição à onda incidente.

Para ângulos de incidência menores que o ângulo crítico φi < φic, não há

propagação para dentro da barreira, apenas ondas evanescentes ao longo da superfície,

sendo assim, o ângulo de transmissão é nulo, φt = 0°, e pela Eq. (2.22) tem-se que o

coeficiente de reflexão também é igual à unidade (R = 1), ou seja, a superfície

comporta-se como perfeitamente refletora.

Se o ângulo de incidência for próximo de zero, ou seja para incidência rasante

(φi = 0°), pela Eq. (2.22) obtém-se coeficiente de reflexão R = –1 e, pela Eq. (2.19), a

pressão total em frente à superfície seria nula. Na realidade, isso não é observado para

superfícies rígidas [36], obtendo-se pelo contrário reflexão total em fase com a onda

incidente (R = +1). Esse é o chamado “paradoxo de ondas planas”, que é explicado

considerando ondas esféricas para incidência rasante, como será abordado mais à frente.

O módulo ou magnitude do coeficiente de reflexão para qualquer tipo de

material é sempre menor ou igual a 1 (|R| ≤ 1), ou seja, o módulo da amplitude de

pressão sonora refletida é sempre menor ou igual ao da incidente, o que é justificado

pela conservação de energia, como será visto a seguir.

2.3.2. Balanço de Energia sobre a Superfície

Aplicando o princípio de conservação de energia, ao incidir sobre uma seção de

área A da superfície da barreira, a energia sonora de um feixe de onda incidente (Ei) se

divide entre a refletida (Er) e a transmitida (Et). A energia transportada pela onda pode

24

ser expressa pelo produto da intensidade acústica instânea pela seção de área

perpendicular à direção de propagação através da qual o feixe passa (Fig. 2.2).

Figura 2.2: Feixes de onda incidente, refletida e transmitida sobre uma seção de área A

da superfície da barreira.

A intensidade acústica instantânea (I) é o produto da pressão sonora pela

velocidade de partícula. As seções de área perpendiculares às de propagação, na direção

de incidência (Ai), de reflexão (Ar) ou de transmissão (At), são dadas pelo produto da

área de incidência na interface (A) pelos senos dos respectivos ângulos de propagação.

Considerando ondas planas e que a intensidade acústica é constante ao longo da área de

incidência, tem-se o balanço de energia incidente, refletida e transmitida pela superfície:

ttrrtriii AIAIEEAIE +=+== ;

tt

rr

ii A

c

PA

c

PA

c

ρϕ

ρϕ

ρsinsinsin

11

2

00

2

00

2

+= . (2.23)

Aplicando a lei de Snell e definindo o coeficiente de transmissão T como a razão

entre as amplitudes da pressão sonora transmitida e a incidente, i.e., T = Pt / Pi, com

magnitude |T| = |Pt|/|Pi|, obtém-se a relação a partir da Eq. (2.23)

2

1

02

sin

sin1 T

z

zR

i

t

ϕϕ+= . (2.24)

φr

φi

φt

y

x

Feixe incidente

Ei

Feixe refletido

Er

Barreira, ρ1c1 Ar, ρ0c0

Feixe transmitido

Et

Área atingida da barreira

A

Ar = Asinφr

Ai = Asinφi

At = Asinφt

25

2.3.3. Coeficiente de Reflexão de Ondas Esféricas

Até aqui foi considerada uma onda plana incidindo sobre a superfície de uma

barreira. Entretanto, em testes in-situ de barreiras acústicas, tem-se muitas vezes ondas

incidentes mais próximas a esféricas do que a planas, já que, por questões metrológicas

(ver Capítulo 4), fonte sonora e pontos de medição precisam situar-se relativamente

próximos à superfície da barreira.

A refletividade de superfícies descrita através da consideração de ondas planas é

apenas uma simplificação para o caso quando a fonte está longe do receptor e da

barreira. Por outro lado, a situação da incidência rasante (φi = 0°) corresponde ao caso

extremo em que fonte e receptor estão bem próximos da superfície. Porém, como

anteriormente mencionado, a Eq.(2.22) não fornece resultados plausíveis para esta

condição, obtendo-se sempre R = –1, o chamado paradoxo de ondas planas.

Seja uma fonte sonora próxima à superfície plana de uma barreira. Qualquer

ponto de recepção em frente da superfície da barreira é atingido por uma onda incidente

e uma refletida, cada qual tendo percorrido respectivamente distâncias r i e rr (= r1 + r2),

a primeira diretamente da fonte sonora e a segunda desviada pela superfície no ponto de

incidência sob ângulo φ0, segundo a lei de Snell (Fig. 2.3).

Figura 2.3: Esquema da emissão de ondas esféricas próximas à barreira.

Considerando ondas esféricas, devido à divergência espacial, as amplitudes da

onda esférica incidente e refletida, Pis e Prs, decaem com a distância percorrida. Então,

as pressões sonoras de onda incidente e de onda refletida num ponto de recepção são:

r i

rr = r1 + r2

yf

xr

xf

x

y

Barreira

Fonte imagem Fonte

Receptor

r1

r2

26

( ) [ ]ii

isiis rjk

r

Prp 0exp−= ; (2.25)

( ) [ ]rr

rsrrs rjk

r

Prp 0exp−= . (2.26)

Definindo-se o coeficiente complexo de reflexão sonora para ondas esféricas Q

como a razão entre as amplitudes de pressão de onda esférica refletida e incidente, i.e.,

Q = Prs / Pis, o campo total resultante numa posição de receptor à frente da barreira pode

ser representada por

( ) [ ] [ ])(exp)(

)(exp)( 00 r

rr

rr r

r

isi

i

istot rjk

r

PQrjk

r

Pp −+−= . (2.27)

São encontradas na literatura diversas expressões para o coeficiente de reflexão

de ondas esféricas Q, tanto para superfícies localmente reativas quanto para

extensivamente reativas, tais como esta [36]

( ) ( )WFRRQ −+= 1 . (2.28)

onde R é o coeficiente de reflexão para ondas planas, dado pela Eq. (2.22), F(W) é

conhecido como fator de perda de superfície, que pode ser interpretado como uma

medida da diferença entre os coeficientes de reflexão para onda plana e esférica e W é

conhecido como distância numérica e é função da impedância de superfície e da

localização da fonte e do receptor, com relação à superfície.

De acordo com FERNANDÉZ [36], o fator de perda e a distância numérica

podem ser expressos respectivamente por

( ) ( )jWWejWF W −+= − erfc12

π ; (2.29.a)

( )iNrrjkW ϕβ sin2

12/1

0 +

= ; (2.29.b)

onde ( ) ( )∫ −−=x

dttx0

2 ][Exp21erfc π é a função erro complementar e βN é a

admitância normalizada de superfície (βN = 1/Z = ρ0c0/zs). As expressões Eq. (2.29.a) e

(2.29.b) são válidas para pequenos valores de admitâncias, tais que |βN| << 1 (i.e.,

27

impedâncias grandes) e para altas frequências ou grandes distâncias da superfície, tal

que k0rr >> 1, mas também se reporta boa validade para k0rr > 0,1 para incidência

rasante e k0rr > 5 para incidência de 45°[36].

A descrição da propagação sonora em frente de uma superfície através do fator

de reflexão sonora para ondas esféricas é mais complexa do que para ondas planas

(Eq. (2.22)), pois, além do ângulo de incidência e da impedância da superfície, as

distâncias entre fonte sonora, receptor e superfície, fora a frequência, através do termo

k0rr, têm forte influência sobre o campo. Note-se que uma diferença básica entre os

coeficientes de reflexão de ondas planas e esféricas, R e Q, é que o último varia com a

frequência, mesmo com impedância de superfície independente desse parâmetro [35].

O paradoxo de ondas planas pode ser resolvido com a hipótese de ondas

esféricas. Para ângulos de incidência próximos de zero, i.e., incidência praticamente

rasante (sinφi ≈ 0°) e para pequenos valores de admitâncias de superfície (superfície

refletora), as expressões indicam que |W| será pequeno, levando a F(W) ≈ 1 e o

coeficiente de reflexão de onda esférica aproxima-se da unidade positiva, Q ≈ +1,

obtendo-se, portanto, Prs = Pis não dependendo do coeficiente R dado pela Eq. (2.22).

Por outro lado, para superfícies refletoras, grandes ângulos de incidência (mais

próximos à normal da superfície) e valores altos de k0rr (fonte distante do receptor e da

superfície e altas frequências), obtém-se |W| >> 1 e F(W) ≈ 0, e o coeficiente de onda

esférica assemelha-se ao de onda plana, i.e. Q ≈ R. É importante notar que embora para

incidência normal os coeficientes assemelhem-se, mesmo assim podem apresentar

diferenças significativas para valores baixos de k0rr (fonte próxima do receptor e da

superfície e/ou baixas frequências).

Conforme é mostrado em [35], fora da incidência rasante, para diversas

condições praticamente não existe diferença entre os coeficientes de reflexão esférica Q

e de ondas planas R de superfícies totalmente rígidas (Z → ∞). Mas, conforme a

impedância da superfície vai diminuindo, as diferenças entre ambos os coeficientes vão

aumentando principalmente para baixas frequências, obtendo-se |Q| ≥ |R|.

Simulações mostraram que para superfícies rígidas a aproximação Q = R tem

alta exatidão para uma ampla faixa de distâncias entre a superfície, a fonte sonora e o

receptor (exceto para incidências próximas da rasante), para frequências superiores a

2 kHz. Se o receptor e a fonte estão distantes da superfície em mais de 0,3 m, o limite

inferior é estendido para 400 Hz [36].

28

2.3.4. Função de Transferência de Superfície

Outra forma de se avaliar a refletividade de uma superfície é através da função

de transferência associada (H), em um local de recepção à frente da mesma. Também

chamada de função de excesso de atenuação [35], ela é definida como a razão entre a

pressão sonora total num ponto à frente da superfície (pi + pr) e a pressão sonora

incidente nesse mesmo ponto (pi), i.e., H = (pi + pr)/pi. Neste caso, a pressão sonora

incidente é a mesma que se propaga em campo livre, sem a presença da superfície. Para

ondas esféricas, a função de transferência complexa é dada por

[ ]rjkfQr

rfrrH

r

iri ∆−+= 0exp)(1),,( , (2.30)

onde ∆r = rr – r i é a diferença de percurso entre a onda refletida e a incidente desde a

fonte ao receptor. Se xf e xr são as distâncias da fonte sonora e do receptor à superfície,

respectivamente, e yf é a projeção sobre a superfície da distância r i percorrida pela onda

incidente (Fig. 2.3), tem-se que a diferença de percurso é expressa por

( ) ( )2222rffrff xxyxxyr −+−++=∆ . (2.31)

Se a fonte e o receptor estão longe um do outro tem-se, r i/rr ≈ 1 e se, além disso,

a fonte está distante da superfície, ∆r ≈ 2xrsinφi. Assim, tem-se aproximadamente ondas

planas chegando ao receptor, i.e., Q ≈ R, de modo que

[ ]irxjkRH ϕsin2exp1 0−+≈ . (2.32)

Logo, a função de transferência H é um número complexo, cuja magnitude

assume valores 0 ≤ |H| ≤ 2. Se |H| = 0, significa que a onda refletida está em oposição de

fase com a incidente (interferência destrutiva), e para |H| = 2, a onda refletida é

totalmente somada à incidente (interferência construtiva).

O problema em se avaliar a refletividade da superfície através da função de

transferência é que ela é muito dependente da geometria do problema [37]. Quando a

pressão sonora refletida e a incidente se combinam, formando a pressão total, ocorre

interferência no campo, com máximos e mínimos, relacionados com a frequência e as

amplitudes da onda incidente e da refletida (o chamado efeito “comb-filter”).

29

2.3.5. Superfícies Finitas: Difração, Campo Próximo e Campo Afastado

Até aqui, por questões de simplicidade, a reflexão sonora de uma superfície foi

tratada considerando uma superfície de extensão infinita, o que obviamente não

corresponde à realidade. O tamanho ou extensão da superfície influencia a refletividade

da barreira, pois em suas bordas ocorre difração das ondas sonoras.

A difração é o espalhamento ou desvio na direção de propagação das ondas ao

atingirem um canto ou ao passarem por uma abertura de um anteparo [32]. Esse

fenômeno físico pode ser interpretado à luz do princípio de Huygens para frentes de

onda. Assim, assume-se que cada frente é composta por uma infinidade de fontes

secundárias, que geram pequenas frentes de onda, formando a envoltória da frente de

onda seguinte e assim sucessivamente. Analogamente, a frente de onda incidente sobre

a superfície gera uma frente de onda refletida que pode ser vista como proveninete de

uma série de fontes imaginárias sobre a superfície irradiando ondas concêntricas não só

à frente da superfície como também para as laterais, ocorrendo, portanto, a difração nos

cantos de superfícies finitas (Fig. 2.4).

Figura 2.4: Esquema simplificado de frentes de onda refletidas e difratadas sob

incidência normal pelo princípio de Huygens aplicado sobre a superfície finita. Obs: as

frentes de onda incidentes foram omitidas para melhor clareza.

O cálculo do campo difratado por uma superfície de extensão finita pode ser

feito através da integral de Kirchhoff-Helmholtz, que é uma soma das contribuições de

cada fonte sonora imaginária infinitesimal sobre a área considerada, representando a

frente de onda proveniente das fontes sobre a superfície. A integral pode ser

simplificada para o caso do campo afastado (i.e., onde as distâncias superfície-

observador são bem maiores que as dimensões da superfície e que o comprimento de

Fontes imaginárias da onda refletida pela superfície da barreira

Direção das frentes de onda refletidas especulares Direções das frentes de onda difratadas

Direções das frentes de onda difratadas

30

onda), chegando-se à aproximação de Fraunhofer. Considere, pois, uma onda sonora

incidindo sob ângulo φi = φ0 sobre o centro geométrico (O) de uma amostra de

superfície plana de dimensões B, proveniente de uma fonte a uma distância r0 (Fig. 2.5).

Figura 2.5: Geometria de propagação sobre uma superfície finita de dimensão B.

No campo afastado, pode-se expressar a pressão sonora refletida numa direção φ

(0° ≤ φ ≤ 180°) como diretamente proporcional ao produto da pressão sonora incidente

sobre a superfície por um termo direcional (ou angular), além de termos de fase e radial,

referentes à distância percorrida r pela onda refletida desde o centro da superfície

( )r

eBkFrprp

rjk

sir

0

),,()( 000

∝ ϕϕ . (2.33)

A função Fs refere-se à direcionalidade da superfície. Nesse caso de superfície plana é

dada pela chamada função de abertura Fa (Fs = Fa), expressa para uma superfície

quadrada de lado B e para uma superfície circular de raio D, por [32],[33]:

( )( )

( )

( ) ( )[ ]( )[ ] circular, superfície

coscos

coscos2,,

quadrada; superfíciecoscos

2

coscos2

sen,,

00

00100

00

00

00

ϕϕϕϕϕϕ

ϕϕ

ϕϕϕϕ

−−=

−=

Dk

DkJDkF

Bk

Bk

BkF

a

a

(2.34)

onde J1 é a função de Bessel de primeira espécie e ordem 1.

φ

φ0

Fonte

Receptor

Amostra

r0

r

pi(r0)

pr(r)

B

O

Normal à superfície a partir do seu centro geométrico O

31

Da Eq. (2.33), tem-se que no campo afastado a magnitude do coeficiente de

reflexão sonora de uma superfície de extensão finita é diretamente proporcional à

função de direcionalidade Fs

),,(|),,(| 0000 ϕϕϕϕ BkFBkR s∝ . (2.35)

A função de abertura faz com que o campo de reflexão afastado de uma

superfície finita possa apresentar espalhamento, mesmo para uma superfície plana. A

função de abertura depende, além do ângulo de incidência, da relação entre o

comprimento de onda e as dimensões da superfície, através do número de Helmholz,

dado pelo produto k0B (= 2πB/λ). Para baixas frequências, tem-se k0B << 1, o que

implica que numerador e denominador da função de abertura quase se igualam, de

modo que ela se aproxima da unidade (Fa ≈ 1), tornando o campo refletido mais

uniforme para todos os ângulos ou direções no campo afastado. Porém, conforme a

frequência da onda incidente aumenta ou aumenta-se a dimensão da superfície, tem-se

k0B >> 1 e aparecem máximos e mínimos em determinadas direções, formando lóbulos

e nós, respectivamente, sendo sempre o máximo principal na direção de reflexão

especular. Da Eq. (2.34), as direções de mínimos e de máximo são dadas por:

.,1

,...;2,1coscos,0

0maxmax,

0minmin,

ϕϕλϕϕ

==±±=+==

a

a

F

mBmF (2.36)

A Fig 2.6 mostra um gráfico polar da função de abertura quadrada em função do

ângulo a partir da normal à superfície (θ = 90° – φ) para incidência normal e diferentes

valores de k0B. No caso extremo em que o valor é muito grande (k0B → ∞), que

corresponderia a uma superfície infinita, a direcionalidade é nula em todas as direções,

exceto na direção especular, φ = φ0, para a qual Fa = 1.

O campo próximo varia bastante no espaço, uma vez que as contribuições das

diversas ondas provenientes de diversos pontos da superfície, conforme o princípio de

Huygens, estão fortemente fora de fase entre si. À medida que um receptor afasta-se da

superfície, vai diminuindo a diferença entre os caminhos percorridos desde o ponto mais

distante e o próximo da superfície. Pode-se considerar que um receptor está no campo

afastado quando essa diferença é pequena em comparação ao comprimento de onda e,

32

além disso, as distâncias são muito maiores que λ. No campo afastado, a função de

direcionalidade é independente da distância da superfície [37].

Figura 2.6: Espalhamento de superfície finita sob incidência normal: direcionalidade

(função de abertura Fa) no campo afastado, ao longo de – 90° ≤ θ ≤ 90° (θ = 90° – φ)

para k0B = 9,24 e k0B = 18,48.

Para uma determinada direção, quando a diferença entre a distância máxima e a

distância mínima desde a superfície até o receptor é menor que meio comprimento de

onda, as fases das ondas provenientes dos pontos individuais sobre a superfície

começam a se alinhar mais entre si. Para receptores ao longo do eixo perpendicular, ao

centro da amostra plana de dimensão B, a condição de campo afastado é, portanto [37]:

λ422 Br > (2.37)

ou seja, depende do tamanho da amostra e do comprimento de onda. Isto pode ser

quantificado através da razão B/λ ou pelo número de Helmoltz kB. Quanto mais alta a

frequência e quanto maior a amostra, mais distante é o campo afastado. Na prática, para

amostras de tamanhos usuais, o campo afastado verdadeiro é obtido somente a centenas

de metros das amostras [37]. Obviamente para o caso hipotético de uma superfície de

extensão infinita, o campo afastado localiza-se infinitamente longe dela, existindo

apenas um campo único próximo.

k0B = 18,48 k0B = 9,24

33

2.4. ABSORÇÃO SONORA

Por absorção sonora entende-se a transformação de energia sonora em térmica.

Em superfícies de barreiras, acontecem basicamente dois processos de absorção sonora:

a porosa e a por ressonância. A absorção porosa se dá pela incidência de som sobre

materiais tanto porosos quanto fibrosos, que permitem a passagem de ar através de sua

estrutura interna, formada por malhas de pequenos poros ou espaços intersticiais

interconectados (Fig. 2.7.a). Durante a propagação do som, promove-se fricção do ar

com a estrutura e, consequentemente, perda de energia sonora sob a forma de energia

térmica. Há também uma perda adicional de energia devido à troca de calor entre o ar

comprimido aquecido ou ar rarefeito resfriado e a estrutura sólida do material. A

absorção porosa aumenta com a espessura do material, entre outras variáveis. Dessa

forma, ondas de frequências baixas sofrem menos absorção, pois seus comprimentos de

onda são geralmente muito maiores que as espessuras de materiais aplicados.

Já a absorção por ressonância é feita por dispositivos conhecidos como

ressoadores de Helmholz e absorvedores de membrana, que funcionam com

mecanismos análogos ao do sistema massa-mola-amortecedor. No caso do ressoador de

Helmoltz (Fig. 2.7.b), são formados por cavidade(s) aberta(s) ao meio externo por

pequena(s) passagem(ns), ou no caso do absorvedor de membrana (Fig. 2.7.c) por

cavidade(s) fechada(s) por uma membrana vibrante. Em ambos os casos, o elemento

rigidez (mola) é o ar dentro da cavidade do dispositivo. O elemento massa no ressoador

de Helmholtz é a massa de ar na(s) pequena(s) abertura(s) do ressoador que é excitada

pelo som incidente e a absorção se dá através do atrito do ar na(s) superfície(s)

interna(s) da(s) abertura(s), que pode ser incrementado com a aplicação de material

absorvedor poroso ou fibroso ou ainda com a diminuição das aberturas, formando

microporos. No absorvedor de membrana, a massa é a própria membrana que se põe a

vibrar com o som incidente e a absorção é dada pelas perdas mecânicas internas na

membrana vibrante, que pode ser aumentada com a aplicação de material dissipativo ou

ainda pela aplicação de material absorvedor poroso na cavidade. Na frequência de

ressonância de tais dispositivos, a massa de ar ou a membrana são mais excitadas e

ocorre maior absorção sonora, fazendo-os alcançar boa eficiência em baixas e médias

frequências, conforme suas dimensões.

34

a) b) c)

Figura 2.7: Processos de absorção sonora: a) Material absorvedor poroso; b) Ressoador

de Helmholz; c) Ressoador de membrana.

2.4.1. Coeficiente de Absorção

Como visto anteriormente, para uma onda incidindo sobre a superfície de uma

barreira, produz-se uma onda refletida e uma transmitida. Se a superfície é composta de

material ou dispositivo com propriedades absorventes, a onda transmitida sofre

absorção. Logo, no balanço de energia sonora sobre a barreira (Eq. (2.23)), deve-se

acrescentar uma parcela de energia absorvida (Ea)

atri EEEE ++= . (2.38)

A quantificação da porção de energia incidente dissipada por um absorvedor

pode ser dada pelo coeficiente de absorção (α), que é a razão entre a energia sonora

absorvida e a energia sonora incidente

i

a

E

E=α . (2.39)

O coeficiente de absorção deve variar entre 0 e 1 (0 ≤ α ≤ 1), os extremos significando

nenhuma e total absorção.

Normalmente, materiais ou dispositivos absorvedores de som são instalados

sobre superfícies de barreiras rígidas, de modo que se pode ignorar a energia transmitida

por esta (Et ≈ 0). Nesse caso, a energia absorvida é dada apenas pela energia incidente

menos a refletida (Ea = Ei – Er). Logo, ignorando a transmissão sonora, para onda plana

Membrana vibrante

Cavidade Cavidade

Passagens de ar Poros

35

de frequência f, incidindo sobre superfície absorvedora de impedância Z sob um ângulo

φi tem-se da Eq. (2.39) α = 1 – (|Pr|/|Pi|)2 ou

( ) ( ) ( ) ( )( )

22

1sin

1sin1,,ou,,,1,,

+−

−=−=i

iiii fZ

fZfZfZRfZ

ϕϕϕαϕϕα . (2.40)

Nota-se que o coeficiente de absorção depende do coeficiente de reflexão

sonora, que, por sua vez, depende do ângulo de incidência e da impedância da

superfície, que pode ainda variar com a frequência do som, como já visto. O coeficiente

de absorção é normalmente relacionado ao coeficiente de reflexão para ondas planas.

De forma semelhante à impedância, o coeficiente de absorção pode ser utilizado

com diferentes significados, conforme sua aplicação [35]. Por exemplo, se se considera

uma onda plana incidente normal à superfície, tem-se o coeficiente de reflexão de

incidência normal, R(φi,Z) = R(90°,Z) = R90°, e o coeficiente de absorção de incidência

normal α90°, dado por

( ) .1

1)(1ou,1

2

90

2

9090 +−−=−= °°° fZ

fZR αα (2.41)

Para incidência aleatória em todas as direções, como em campo difuso, é

definido o coeficiente de absorção de incidência aleatória αst, determinado pela fórmula

de Paris, a partir dos coeficientes de absorção em campo livre α(φi) para incidência sob

ângulos φi entre 0° e 90° sobre uma superfície plana de extensão infinita

( ) iiist dϕϕϕααπ

∫=2/

02sin . (2.42)

Em acústica de salas, é frequentemente empregado o coeficiente de absorção da

fórmula de Sabine (αSab), que fornece um valor médio por banda de frequência da

absorção de uma amostra de determinado material em campo difuso. O coeficiente é

medido em câmara reverberante, dentro da qual se assumem determinados pré-

requisitos, tais como campo sonoro perfeitamente difuso, volume suficiente da câmara,

baixa atenuação aérea do som, etc. O coeficiente de absorção de Sabine de amostra(s)

36

de material ou objeto absorvedor é a razão entre a área de absorção equivalente da(s)

amostra(s) (As) e sua área total (Sa). A área equivalente de absorção por sua vez é dada

pela soma dos produtos entre os coeficientes de absorção individuais (αi) das n amostras

contidas na câmara e suas respectivas áreas de superfície (Si)

∑∑

=

===n

i i

n

i ii

a

SSab

S

S

S

A

1

α . (2.43)

Essa grandeza pode ser determinada experimentalmente através do volume da

câmara, da área das superfícies da câmara, dos tempos de reverberação sem e com

amostra na câmara. No próximo capítulo, é brevemente descrito o método de medição

da absorção sonora em câmara reverberante [13], através do qual é obtida tal grandeza.

Uma comparação direta entre o coeficiente de absorção de Sabine obtido

experimentalmente e o coeficiente de absorção teórico de incidência aleatória pela

Eq. (2.42) é muitas vezes incompatível, pois além de outras questões, o campo sonoro

numa câmara reverberante nunca é completamente difuso e existem efeitos de difração

do som nos cantos das amostras, que podem aumentar a absorção sonora.

2.4.2. Impedância de Meio e de Superfície de Materiais Absorvedores

Em materiais porosos e fibrosos, a onda sonora se propaga por entre os poros e

interstícios, sendo parcialmente absorvida. Além da espessura (d) do material, outros

fatores têm forte influência sobre a absorção, quais sejam, a porosidade do material, a

resistência específica ao fluxo e o fator estrutural. A porosidade (Ω) de uma amostra de

material é definida como a razão entre o volume dos poros na parte interna e o volume

total ocupado pela amostra. A resistência específica ao fluxo (Ξ) é a razão entre a

diferença de pressão em ambos os lados da amostra ao se forçar a passagem de ar

através dela e o produto da velocidade do fluxo de ar passante pela espessura. O fator

estrutural (X), também chamado de tortuosidade, refere-se à complexidade da malha de

poros e interstícios do material.

Para a modelagem da propagação do som dentro de material absorvedor poroso

ou fibroso, existem modelos empíricos e teóricos, com resultados bem semelhantes

dentro de certas faixas de frequências [37]. Tais modelos exprimem a impedância

característica do meio absorvedor zA, dada pela razão entre a pressão sonora e a

37

velocidade de partícula dentro do material, e número de onda kA, em função dos fatores

acima listados e dos respectivos valores para o ar (z0 e k0).

Segundo MECHEL [38], pode-se modelar o material absorvente como um fluido

equivalente de meio homogêneo, assumindo que a sua estrutura interna é rígida.

Desprezando o mecanismo de transferência de calor na compressão e na rarefação do ar

entre este e a estrutura do absorvedor, o módulo de compressão do ar (B) assume seu

valor adiabático (B = ρ0c02), permitindo, assim, expressar a impedância e o número de

onda do meio absorvente de forma simplificada por:

0

0

ωρΞΩ−

Ω= jX

zzA ; (2.44.a)

00 ωρ

ΞΩ−= jXkkA . (2.44.b)

Se o material absorvedor de espessura d está sobre uma superfície rígida e ainda

assume-se reação local (φt = 90°), tem-se que a impedância de superfície é dada por:

( )dkjzz AAsA cot−= (2.45)

o que mostra como a impedância de superfície e, consequentemente, os coeficientes de

reflexão e de absorção são dependentes da frequência do som.

2.5. ESPALHAMENTO SONORO DE SUPERFÍCIES DIFUSORAS

Como mencionado no Capítulo 1, para superfícies difusoras corrugadas, cujas

dimensões da corrugação são iguais ou maiores que o comprimento de onda incidente,

ocorre espalhamento do som refletido, dependendo ainda do ângulo de incidência. O

espalhamento pode ocorrer ainda devido a variações da impedância de superfície ao

longo de uma superfície plana ou devido à aplicação intercalada de material absorvedor

em espaços comparáveis ao comprimento de onda sobre uma superfície rígida

(difusores híbridos). Há também o espalhamento devido às dimensões finitas de

amostras (planas ou corrugadas), como já mencionado.

38

Considerando o espalhamento somente num plano x-y, perpendicular à

superfície, parte do som é refletida na direção especular φr = φi = φ0 e outra parte é

espalhada, para diversos ângulos φs dentro de uma faixa angular cobrindo todo ou

trechos angulares de um semicírculo à frente da superfície de 0° a 180° (Fig. 2.8).

Portanto, a energia sonora refletida total (Er) pode ser dividida em energia especular

(Er0) e em espalhada (Es)

srr EEE += 0 . (2.46)

Figura 2.8: Espalhamento de energia sonora por superfície difusora corrugada.

Então, considerando o balanço de energia sonora sobre uma superfície difusora

com camada absorvedora ao ser atingida por uma onda plana, tem-se

tasrtari EEEEEEEE +++=++= 0 . (2.47)

Assumindo que a intensidade acústica é uniforme numa área de incidência na

interface, cada parcela de energia propagante à frente da superfície é dada pelo produto

do componente de intensidade acústica correspondente pela área de incidência (A) e

pelos senos dos respectivos ângulos de propagação

( ) ( )tas

ssi EEAc

PA

c

PA

c

P s

s

s

+++= ∑°=

°=

180)(

0 00

2

000

02

00

00

20

sinsinsinϕ

ϕϕ

ϕϕ

ρϕ

ϕρ

ϕϕ

ρ. (2.48)

onde o primeiro termo do lado direito refere-se à energia refletida especularmente e o

segundo, à energia refletida de forma espalhada, dada por um somatório ou ainda uma

φs

φ0

Er0

Es(φs)

Ei

φ0

y

x

39

integral, no caso de espalhamento contínuo, ao longo de um semicírculo ou de faixa(s)

angular(es) à frente da superfície, excluindo-se a direção especular φ0.

Define-se o coeficiente de reflexão especular (R0) como a razão entre as

amplitudes de pressão sonora refletida na direção especular (P0) e a de pressão sonora

incidente, de tal forma que sua magnitude é |R0| = |P0|/|Pi|. Da mesma forma, o

coeficiente de reflexão sonora espalhada numa direção φs (Rs(φs)) é definido como a

razão entre as amplitudes de pressão sonora refletida na direção φs e a de pressão sonora

incidente, com magnitude dada por |Rs(φs)| = |Ps(φs) |/|Pi|. Assim, dividindo a Eq. (2.47)

pela energia incidente (Ei), obtém-se a relação

( )i

tsss E

ERR

s

s

s

+++= ∑°=

°=

αϕϕϕ

ϕϕϕ

ϕ

180)(

0 0

22

0

0

sin

sin1 . (2.49)

Para o caso de uma superfície anterior rígida, a energia transmitida pela barreira

é desprezível (Et ≈ 0) e obtém-se para o coeficiente de absorção

( ) 2180

)(

0 0

22

0 1sin

sin1

0

RRRs

s

s

sss −=−−= ∑

°=≠

°=

ϕϕϕ

ϕ ϕϕϕα , (2.50)

sendo R o coeficiente de reflexão total da superfície, referente a todas as ondas

refletidas.

Para superfície puramente rígida sem material absorvedor (α = 0 e |R| = 1), tem-

se que toda energia incidente é refletida, e o balanço de energia (Eq. (2.47)) é dado

simplesmente por

( )∑°=

°=

+=180

)(

0 0

22

0

0

sin

sin1

s

s

s

sssRR

ϕϕϕ

ϕ ϕϕϕ . (2.51)

Da Eq. (2.46) e considerando uma onda plana incidente, a magnitude do

coeficiente de reflexão total da superfície difusora (|R| = |Pr|/|Pi|) pode ser separada, em

uma parcela especular (|R0|) e uma parcela não-especular ou espalhada (|Rs|)

22

0

2

sRRR += , (2.52)

40

onde, pela Eq. (2.50), a parcela espalhada pode ser dada por um somatório (ou integral),

ao longo de um semicírculo ou de faixa(s) angular(es) à frente da superfície excluindo-

se a direção especular

( ) ( )∑°=

°=

=180

)(

00

22

0

sinsins

s

s

ssss RRϕ

ϕϕ

ϕϕϕϕ . (2.52)

A determinação exata dos coeficientes de reflexão espalhada, Rs(φs), requer um

cálculo complexo que, para superfícies corrugadas periódicas infinitas, é abordado no

próximo capítulo. Será obtida também uma estimativa da refletividade em campo

afastado de superfícies corrugadas periódicas finitas através da aproximação de

Fraunhofer. Por hora, serão apresentados dois parâmetros que também servem para

caracterizar a refletividade de uma superfície difusora: o coeficiente de espalhamento

(δ) e o coeficiente de difusão (D).

O coeficiente de espalhamento sonoro (δ) é a razão entre a energia sonora

espalhada fora da direção especular e a energia refletida total, i.e., δ = Es / Er. Assim, ele

pode ser expresso em função dos coeficientes de reflexão especular e total da superfície

2

2

00 11R

R

E

E

r

r −=−=δ . (2.53)

O coeficiente de espalhamento varia entre 0 e 1. Se δ = 1, toda a energia é

refletida fora da direção especular (|R0| = 0) e se δ = 0, tem-se reflexão puramente

especular (|R| = |R0|). Nota-se que, se a superfície for rígida, Z → ∞, a energia refletida

total é igual à incidente (Er = Ei) e a magnitude do coeficiente de reflexão total é

unitária (|R| = 1), de modo que para superfícies difusoras rígidas, a partir da Eq. (2.53),

tem-se simplesmente

2

01 R−=δ . (2.54)

Para o caso de uma superfície difusora absorvente, a razão entre a energia

refletida total e a energia incidente pode ser expressa em termos do coeficiente de

absorção sonora (α)

41

α−= 1ir EE . (2.55)

Por sua vez, a razão entre a energia refletida especular e a energia incidente, pode ser

relacionada a um coeficiente de absorção especular aparente (α0)

00 1 α−=ir EE , (2.56)

permitindo expressar a razão entre a energia refletida especular e a refletida total como

( ) ( )αα −−= 11 00 rr EE . (2.57)

Assim, da Eq. (2.53), pode-se também expressar o coeficiente de espalhamento em

função dos coeficientes de absorção especular e total

αααδ

−−

=1

0 . (2.58)

O coeficiente de espalhamento fornece uma ideia quantitativa do espalhamento

da superfície difusora, sendo normalmente utilizado para modelagem de salas por

programas computacionais [37]. Ele é relacionado à quantidade de energia removida da

direção especular, não fornecendo uma ideia de como essa energia é espalhada e não

medindo, portanto, a qualidade da dispersão.

Para este propósito, o espalhamento de superfície difusora deve ser avaliado

através do coeficiente de difusão sonora (D), que é uma medida da qualidade e da

uniformidade do som refletido. Ele exprime a similaridade entre a resposta polar do

difusor em questão e uma reflexão espalhada de distribuição uniforme. Este parâmetro é

utilizado normalmente por desenvolvedores de difusores para comparar o desempenho

de superfícies difusoras [37].

Para avaliar a difusão de uma superfície, a forma mais utilizada é o coeficiente

de autocorrelação de difusão, obtido a partir de n níveis sonoros (Li) medidos em

ângulos distintos ao redor de um semicírculo ou hemisfério sobre a superfície [37]

42

( )

( ) ( )∑

∑∑

=

==

=n

i

L

n

i

Ln

i

L

i

ii

nD

1

210

1

210

2

1

10

101

1010

. (2.59)

O coeficiente de difusão é dependente do ângulo de incidência e da frequência,

variando entre 0 e 1. Se D = 1 significa que os níveis sonoros são todos iguais e a

superfície espalha o som uniformemente em todas as direções, tal como uma superfície

convexa ou um difusor de Schroeder ideal para determinada faixa de frequência. No

outro extremo, se D = 0 tem-se a focalização em apenas um ponto, como para uma

superfície côncava, ou ainda em apenas uma direção, como a reflexão especular para

uma superfície plana extensa. Valores intermediários não têm um significado muito

claro ainda [37].

Medições do coeficiente de espalhamento e do coeficiente de difusão podem ser

feitas tanto em campo livre, quanto em campo reverberante, por métodos normalizados

[39]-[41] que não serão detalhados neste trabalho.

43

CAPÍTULO 3

CÁLCULO DA REFLEXÃO ESPALHADA

POR SUPERFÍCIES CORRUGADAS PERIÓDICAS

Já foi mencionado que a reflexão sonora de superfícies corrugadas pode ser

especular e espalhada, conforme seus parâmetros geométricos e a frequência da onda

incidente. Dessa maneira, vêm à tona perguntas de como o perfil e a geometria da

corrugação influenciam o campo sonoro refletido e se ocorrem direções predominantes

de reflexão, dependentes da frequência e do ângulo de incidência. Além disso, se for

possível relacionar o campo próximo de superfícies corrugadas com o afastado, pode-se

esperar que os resultados de medição próximas à barreira corrugada forneçam

informações importantes sobre a distribuição do nível sonoro longe dela, que são de

interesse para sua avaliação em campo. É, portanto, importante investigar o campo

acústico refletido pela superfície, para o desenvolvimento de um método de medição da

reflexão sonora de barreiras, de modo a auxiliar na interpretação dos resultados das

medições.

Para tal, o campo de reflexão sonora espalhada por superfícies corrugadas será

calculado num plano perpendicular à barreira, ou seja, serão estudados aqui somente

problemas bidimensionais, além de não se considerar efeitos do piso, nem efeitos de

borda, para tratar exclusivamente do espalhamento. O cálculo do espalhamento pode ser

feito através de métodos numéricos e/ou analíticos. Geralmente, métodos numéricos

permitem considerar geometrias mais complexas, entretanto, tendem a ser mais

morosos, por exigirem grande esforço computacional. Pode-se citar o método de

elementos de contorno (MEC). Por outro lado, métodos analíticos, que podem ser

exatos ou aproximados, geralmente consideram geometrias mais simples e tendem a ser

mais rápidos que os numéricos, devido a simplificações adotadas na formulação. Pode-

se citar os métodos de Rayleigh, Holford-Urusovskii para superfícies periódicas

infinitas e a simplificação de Fraunhofer para o campo afastado. A seguir, serão

apresentados alguns métodos de cálculo do campo refletido espalhado por superfícies

difusoras e seus resultados para determinadas situações escolhidas. Para uma visão mais

completa sobre métodos de cálculo do espalhamento, recomenda-se a referência [37].

44

3.1. MÉTODO DOS ELEMENTOS DE CONTORNO

O Método de Elementos de Contorno (MEC ou BEM, de Boundary Element

Method em inglês) é muito utilizado na acústica para determinar o campo sonoro dentro

de um domínio definido, cujas condições de contorno ou fronteira são conhecidas. Além

disso, o método pressupõe que se conhece a função de Green de campo livre na

ausência de fronteiras e as propriedades do meio no interior do domínio, que deve ser

homogêneo e estar em repouso. Com o MEC pode-se conseguir boa precisão a um custo

moderado de esforço computacional, principalmente para baixas a médias frequências e

superfícies não muito extensas [37].

O núcleo do MEC é a equação integral de Kirchhoff-Helmoltz, que descreve o

campo acústico em um ponto qualquer dentro de um domínio limitado por fronteiras,

dadas por superfícies, no caso 3D, ou por linhas, no caso 2D. Seja o domínio à frente de

uma barreira, limitado pelo contorno de sua superfície e pelo contorno de um hemisfério

de raio infinito ao redor dela. Tem-se que a pressão sonora em um dado ponto dentro

desse domínio é dada através da combinação da pressão incidente diretamente de fontes

sonoras em seu interior e uma integral da pressão acústica e suas derivadas no contorno

da superfície. Assim, a equação integral de Kirchhoff-Helmoltz é dada por

′∂′∂′−

′∂′∂′+=

S

inc dSn

pG

n

Gppp

)()

)()()()(

2

)( rr,r(

r,rrrr

σ, (3.1)

onde p é a pressão sonora total numa dada posição no domínio V, inclusive no contorno;

pinc é a pressão sonora incidente diretamente da fonte numa posição no domínio V; G é a

função de Green de campo livre, conhecida; S é o contorno do domínio V, que, nesse

caso, representa a superfície da barreira; r é a posição de um receptor dentro do domínio

V, incluindo seu contorno; r’ é uma posição qualquer no contorno S; σ(r ) é o ângulo

(em rad) entre dois elementos do contorno a ser discretizado, caso r ∈ S, caso contrário

se r ∉ S, i.e., fora do contorno, σ(r ) = 2π; ∂/∂n’ é a derivada na direção normal para

fora do domínio na posição r’ no contorno S.

A integral de contorno na Eq. (3.1) representa a pressão refletida pela superfície

pr. A função de Green de campo livre bidimensional é dada pela função de Hankel

45

( ) ( )rrrr, ′−−=′ kHj

G )1(04

1, (3.2)

onde H0(1) é a função de Hankel de primeira espécie e ordem 0, dada por,

H0(1) = J0 + jY0, sendo J0 e Y0 respectivamente as funções de Bessel de primeira e de

segunda espécie de ordem zero, e k é o número de onda no ar, i.e., k = k0.

Segundo [37], se a superfície da barreira for localmente reativa, tem-se que, pela

equação linearizada de Euler (Eq. (2.2)) e pelas condições de contorno entre dois meios

(Eq. (2.11)), a pressão sonora no contorno é relacionada com a derivada da pressão com

respeito à normal na superfície

)()()(

rrr ′′−=′∂′∂

pkjn

pNη , (3.3)

onde ηN é a admitância normalizada da superfície da barreira.

Para a solução da equação integral de Kirchhoff-Helmholtz (Eq. (3.1)) pelo

MEC, uma vez aplicadas a função de Green e as condições de contorno na equação,

primeiramente dicretiza-se o contorno em N elementos e calcula-se as pressões sonoras

p(r’ ) nos elementos de contorno. A partir da solução no contorno, pode-se determinar o

campo total p(r ) no interior do domínio V, em frente da superfície, aplicando novamente

a equação integral de Kirchhoff-Helmoltz.

O contorno S da superfície é discretizado em um determinado número de

elementos. Os elementos precisam ter dimensões pequenas o suficiente para evitar erros

ao se representar a variação contínua de pressão entre os pontos em valores discretos.

Isso normalmente é conseguido fazendo os elementos serem menores que ¼ do

comprimento de onda da frequência mais alta de interesse para superfícies simples; para

superfícies mais complexas, é mais seguro usar elementos do tamanho 1/8 do

comprimento de onda ou menores ainda. No caso de uma superfície infinita, sua

extensão a ser discretizada deve ir até um ponto em que a variação de pressão sonora

seja pequena o suficiente e utilizar uma integração aproximada para pontos mais

afastados [37].

Cada ponto do contorno discretizado fornece uma equação de Kirchhoff-

Helmholtz e, assim, tem-se um sistema de equações, que, na forma matricial, pode ser

escrito por:

46

( )( ) ( ) ,

;0

;1

;2

1

,

,

,

∫ +∂

∂=

≠===

=

+

S

mNmm

mn

mn

mn

dSjkGn

GA

nm

nm

η

δδ

r',rr'r',r

PPAδ

nn

i

(3.4)

onde P é uma matriz ou vetor de (1 x N) elementos de pressão superficial, sendo N o

número de elementos ou nós da superfície discretizada; Pi é uma matriz de (1 x N)

elementos de pressão incidente na superfície; A é a matriz de (N x N) elementos An,m, δ

é a matriz identidade (N x N), composta pelos elementos δn,m; rn é a posição do n-ésimo

elemento da superfície dSm; ηm e ∂/∂nm são os valores de admitância normalizada de

superfície ηN e a derivada na direção normal de superfície no m-ésimo elemento.

Utilizando técnicas apropriadas de discretização e técnicas numéricas de

integração, resolve-se o sistema de equações para cada elemento discretizado do

contorno da superfície, considerando todos os pontos do contorno juntos. Por exemplo,

caso haja simetria entre fonte sonora e superfície, pode-se facilitar a resolução ao se

discretizar somente a metade da quantidade de pontos na superfície inteira.

3.1.1. Resultados do MEC aplicado a Barreiras Corrugadas Periódicas

O MEC foi aplicado durante o desenvolvimento do método de medição

Adrienne, com o programa CESAR-LCPC, em estudos do campo refletido realizados

por SGARD e BEAUMONT [42],[45] e por AFFONSO [44],[45] para predição do

“índice de reflexão” de barreiras planas e corrugadas periódicas triangulares (zigue-

zague). A superfície corrugada foi modelada com período Λ = 0,56 m e profundidade

H = 0,28 m, i.e., Λ/H = 2, assumida em simulações distintas como totalmente refletora

(superfície de impedância infinita), altamente absorvedora (superfície coberta com

material de impedância complexa) ou mista (superfície com corrugações alternadamente

refletoras e absorvedoras). A extensão da barreira foi grande o suficiente para diminuir

efeitos de borda nas posições de recepção, possuindo, por exemplo, em determinadas

simulações [44],[45] dimensão de B = 24 m (42 períodos) para frequências menores que

500 Hz e B = 9 m (16 períodos) para frequências maiores que 500 Hz.

Nas simulações foi adotada a distância entre fonte e uma parte mais protuberante

da superfície (topo) de D = 1,25 m, além de distância entre fonte e receptor (O) de

47

r = 1,0 m (i.e., a distância entre receptor a parte mais protuberante da superfície na

orientação normal foi de dM = 0,25 m). A fonte foi posicionada sobre um topo (S1) e um

rebaixo ou recesso (S2) da corrugação em simulações distintas. Foram consideradas as

mesmas posições de receptores do método Adrienne, numa faixa angular ∆θ de ±40°

(Fig. 3.1) em torno da normal à superfície, em passos de 10° (totalizando 9 posições) e

também em passos de 2,5° (totalizando 33 posições) para verificar a variação do campo

dentro de um passo angular mais estreito. A faixa de frequência analisada compreendeu

um intervalo de 100 Hz até 5000 Hz. Alguns resultados dessas simulações referentes a

médias nas faixas angulares estão reproduzidos a seguir.

Figura 3.1: Geometria do perfil triangular, com as distâncias utilizadas para os

cálculos: posições da fonte em S1 e S2 e do receptor em O [45].

Na Fig. 3.2, são apresentadas as médias do nível de pressão sonora (relativo a

uma mesma referência arbitrária) nas posições em frente das superfícies na faixa de

frequência de 100 a 500 Hz, da simulação de SGARD e BEAUMONT [43]. Para a

superfície refletora plana (RP), a média do nível de pressão sonora é aproximadamente

constante na faixa de frequência analisada, como esperado. Já para a superfície refletora

de perfil triangular (RT), a média do nível é praticamente igual à da superfície plana até

300 Hz, sendo que a partir daí torna-se maior. Para a geometria da corrugação

considerada, a frequência de 300 Hz corresponde aproximadamente à frequência f a

partir da qual ocorre reflexão espalhada (mais adiante, será mostrado que para

incidência rasante, essa frequência corresponde a f = c0/2Λ). Assim, em vista de efeitos

de focalização causados pela reflexão da superfície corrugada, a média do nível de

O

48

pressão sonora aumenta a partir dessa frequência. A média do nível em frente à

superfície absorverdora plana (AP) é, como esperado, menor do que a da superfície

refletora plana e diminui com o aumento da frequência. Em frente à superfície

absorvedora triangular (AT), a média é ainda menor, devido à maior área de absorção

proporcionada pela corrugação, sendo novamente observado que em torno de 300 Hz há

uma leve elevação em vista da reflexão espalhada.

Figura 3.2: Média do nível de pressão sonora, calculado em frente às superfícies [43].

Na Fig. 3.3.a tem-se o “índice de reflexão” RI, a partir da simulação de

AFFONSO [45], para as diversas posições angulares em frente à superfície triangular

refletora na frequência de 2 kHz. O índice foi calculado pela razão entre a energia

refletida e a incidente, considerando a divergência esférica. São constatados os efeitos

de interferência, evidenciados pelas flutuações do campo, e os efeitos de focalização,

que levam à ocorrência de valores maiores que a unidade. Para esta frequência, embora

as flutuações sejam aparentemente mais suaves em passos de 10° (com 9 receptores,

conforme o método Adrienne), com um passo mais estreito de 2,5° (com 33 receptores),

nota-se claramente a maior severidade de tais efeitos.

Na Fig. 3.3.b estão apresentadas médias angulares dos índices de reflexão de

superfícies corrugadas triangulares com diferentes propriedades acústicas para

frequências de 500 Hz até 5 kHz e 9 receptores, a partir da mesma simulação de

AFFONSO [45]. Para a superfície absorvedora, o índice de reflexão possui um valor

médio ao longo da faixa de frequência de cerca de 0,1, enquanto que para a superfície

mista 0,5 e para a refletora 2,3, i.e., bem maior do que 1. No caso da superfície refletora,

isto significaria que a barreira reflete mais energia do que sobre ela incide e demonstra

novamente efeitos de focalização numa região junto à superfície corrugada da barreira,

já que as posições de receptores investigadas encontram-se no campo próximo.

Frequência

49

Figura 3.3: a) Índice de reflexão (RI) para diversas posições angulares em frente à

superfície corrugada refletora (RT) para a freqüência de 2 kHz. b) Média do índice de

reflexão (RI), determinado em frente de superfícies de perfil triangular refletoras (RT),

absorventes (AT) e mistas (MT) para frequências de 500 Hz a 5 kHz [45].

3.2. SUPERFÍCIES CORRUGADAS PERIÓDICAS INFINITAS

Pelo fato de que barreiras difusoras geralmente possuem corrugação periódica,

como mencionado no Capítulo 1, na simulação do campo refletido por suas superfícies,

pode-se explorar esse fato para se reduzir o esforço computacional, resolvendo a

equação integral de Kirchhoff-Helmholtz através de métodos analíticos de cálculo,

baseados em séries de Fourier.

A solução por métodos analíticos é geralmente mais simples, possibilitando

relacionar o campo sonoro refletido por superfícies corrugadas diretamente à forma da

corrugação e, claro, a suas propriedades acústicas. Com este objetivo, foram realizados

cálculos com o método analítico de Holford-Urusovskii [46] (H.-U.), que fornece uma

solução exata para o problema da reflexão espalhada de uma onda plana que incide

sobre uma superfície infinita corrugada de perfil periódico.

Seja então o perfil corrugado da superfície descrito por uma função periódica

z = ξ(x) em um sistema de coordenadas x-z; a superfície tem período de corrugação na

direção x de Λ = 2π/K (onde K é chamado de número de corrugação, de forma análoga

ao número de onda) e profundidade de corrugação na direção z, perpendicular à direção

x, H = 2h, sendo h a amplitude máxima da corrugação (Fig. 3.4).

RI

RI

Índice

Refletora

Mista

Absorvedora

9 Pontos 33 Pontos

50

Figura 3.4: Onda plana incide sobre superfície periódica: reflexão espalhada.

Uma onda sonora plana pinc, com amplitude igual à unidade por conveniência

(i.e., Pinc = 1), freqüência f e comprimento de onda λ = 2π/k, propaga-se no plano (x-z) e

incide sobre a superfície sob um ângulo ϕi com relação ao eixo x, dentro da faixa

angular 0° ≤ ϕi ≤ 90° (Fig. 3.4)

. (3.5)

Ao atingir a superfície, esta onda é refletida, sendo o campo total ptot à frente da mesma

dado pela soma do campo direto ou incidente (pinc) e do campo refletido (pref)

),(),(),( zxpzxpzxp refinctot += . (3.6)

Devido à peridiocidade da superfície na direção x, pode-se afirmar que o campo

refletido pref é também periódico em x, com o mesmo período da corrugação Λ [46].

Logo, esse campo pode ser dado por uma série de Fourier, na forma de uma soma

infinita de ondas planas, cada qual com amplitude complexa Rn e que se propagam a

partir da superfície sob ângulos ϕn, sendo aqui medidos no sentido oposto ao do ângulo

de incidência ϕi, a partir do plano de referência (Fig. 3.4)

( )∑+∞

−∞=

+=n

nnnref

zxjkeRp ϕϕ sincos , n =0, ±1, ±2,... . (3.7)

Note-se que no caso de amplitude de onda incidente complexa igual à unidade (i.e.,

Pinc = 1), as amplitudes complexas Rn das ondas espalhadas correspondem aos

respectivos coeficientes de reflexão.

51

Cada ângulo de reflexão ϕn corresponde a um modo ou ordem de reflexão de índice n,

um número inteiro positivo ou negativo (Fig. 3.4). De modo que n = 0 refere-se à ordem

de reflexão especular (φ0), n > 0 a ordens de reflexão com ângulos menores que o

ângulo especular (φn < φ0) e n < 0 a ordens de reflexão com ângulos maiores que o

especular (φn > φ0). Devido à periodicidade da superfície na direção x, os cossenos e os

senos dos ângulos ϕn, que definem os termos αn e γn, são respectivamente dados por

[46]:

( ) .,...2,1,0,1sen

;coscos212 ±±==−=

=Λ+=

n

n

nnn

nin

γαϕ

αλϕϕ (3.8)

Então, os termos α0 = cosϕ0 e γ0 = senϕ0 referem-se ao ângulo da reflexão especular ϕ0,

já que ϕ0 = ϕi. Os ângulos ϕn são também chamados de chamados de autodireções ou

direções características de espalhamento. Uma vez que a diferença de percurso entre

dois raios que incidem sobre períodos adjacentes sob o ângulo ϕi e são espalhados pelo

ângulo ϕ é dada por ∆ = (Λ cosϕ – Λ cosϕi), a Eq. (3.8) mostra que as autodireções de

espelhamento ϕn são aquelas para as quais essa diferença de percurso é igual a um

múltiplo inteiro do comprimento de onda [46], i.e., ∆ = nλ, n = 0, ±1, ±2, ... .

Substituindo a Eq. (3.7) na Eq. (3.6) e notando que cosϕi = α0 e senϕi = γ0, tem-

se que o campo total à frente da superfície ptot pode ser reescrito como

( ) ( )∑+∞

−∞=

+− +=+=n

nnnrefinctot

zxjkzxjkeReppp γαγα 00 n = 0, ±1, ±2,… . (3.9)

A Eq. (3.9) mostra que para valores reais dos senos γn (i.e., |cosϕn| = |αn| ≤ 1),

tem-se ondas refletidas propagantes, enquanto que quando os senos γn são imaginários

(i.e., |cosϕn| = |αn| > 1), tem-se ondas exponencialmente atenuadas ao longo da direção z

ao se afastarem da superfície, ou seja, ondas evanescentes.

Visto que as ondas refletidas propagantes ocorrem para |cosϕn| ≤ 1, no limiar do

espalhamento, a autodireção referente ao modo n = –1, deve ocorrer sob o ângulo

ϕ –1 = 180° (i.e., cosϕ –1 = –1), dependendo do ângulo de incidência ϕi e da relação λ/Λ.

Logo, substituindo esses valores na Eq. (3.8), tem-se que o espalhamento é dado para

frequências ou comprimentos de onda incidente tais que

52

( ) ( )Λ+≤∴Λ+

≥ 1cos1cos

0i

i

cf ϕλ

ϕ. (3.10)

Para valores fora desses intervalos, a reflexão será apenas especular, na direção

de reflexão ϕ0. Nos limites da faixa angular de incidência (Fig. 3.5), tem-se ϕi = 0°

(incidência rasante) e ϕi = 90° (incidência normal), de modo que a reflexão espalhada

ocorre sempre que:

normal), (inc.10cos90

rasante); (inc.221cos0

0

0

≤Λ∴Λ≥⇒=∴°=≤Λ∴Λ≥⇒=∴°=

λϕϕλϕϕ

cf

cf

ii

ii (3.11)

(obs.: para incidência no quadrante oposto, i.e 90° < ϕi ≤ 180°, tem-se um espalhamento

simétrico ao eixo perpendicular à superfície). Então, para a mesma geometria da

superfície, o espalhamento aumenta, fazendo surgir mais modos ou autodireções, para

frequências mais altas e menores ângulos de incidência, mais próximos da incidência

rasante.

Figura 3.5: Ordens mínimas de espalhamento para incidência rasante e normal.

Portanto, das Eq. (3.8) e (3.10) dado um ângulo de incidência ϕi, a ocorrência e

as direções ϕn de espalhamento dependem apenas da frequência f de onda e do período

da corrugação Λ, i.e., da relação λ/Λ. A profundidade H e a forma ξ(x) da corrugação

afetam somente a distribuição de energia em cada auto-direção ϕn, ou seja, as

amplitudes Rn das ondas refletidas. Então, mesmo que o espalhamento seja teoricamente

possível para uma dada relação λ/Λ, o efeito pode ser amenizado devido aos demais

parâmetros geométricos da superfície. Uma investigação experimental sobre os efeitos

da forma e parâmetros geométricos da corrugação sobre o espalhamento em função da

frequência e do ângulo de incidência foi realizada por MEYER e BOHN [47].

Onda refletida Modo n = –1

Onda incidente

Onda refletida Modo n = –1

Onda incidente

h

–h –h

h

53

3.2.1. Método de Holford-Urusovskii

O método de Holford-Urusovskii [46] refere-se ao procedimento de solução das

amplitudes complexas Rn das ondas refletidas de superfícies periódicas infinitas, nas

auto-direções ϕn. O método recorre também à equação integral de Kirchhoff-Helmoltz

(Eq. (3.1)) aplicada na superfície, sendo que, devido à periodicidade da corrugação da

superfície infinita, o campo refletido pode ser expresso por séries de Fourier. Assim,

formula-se um sistema de equações, cujas incógnitas a serem determinadas são os

coeficientes de Fourier que descrevem o campo periódico na superfície. A partir desses

coeficientes e dos parâmetros do problema em questão, como a forma, a geometria e a

impedância da superfície, além do ângulo de incidência e da frequência da onda,

determinam-se, então, as amplitudes Rn das ondas refletidas.

Recorrendo à equação de Kirchhoff-Helmoltz (Eq. (3.1)), são aplicadas a função

de Green bidimensional (Eq. (3.2)) e a condição de contorno na superfície da barreira

(Eq. (3.3)). Considerando uma superfície descrita pela função z = ξ(x), a equação de

Kirchhoff-Helmoltz para receptores nessa superfície pode ser reescrita como

( ) ( ) ( )( ) ( ) ( ) ( ) ( )∫

+∞

∞−

′′

′+

′∂∂′+= xd

xd

dSkHxjk

n

kHx

jxx Sinc ρηρφφφ 1

0

10

4

1

2

1, (3.12)

onde φ(x) = ptot(x, ξ(x)) = p(r ) é a pressão sonora total no receptor na superfície;

φinc(x) = pinc(x, ξ(x)) = pinc(r ) = exp[j k(α0 x – γ0 ξ(x))] é a pressão sonora incidente no

receptor na superfície; x é a coordenada horizontal do receptor na superfície da barreira,

onde se deseja calcular o campo; x’ é a coordenada horizontal de qualquer outro ponto

na superfície; z = ξ(x) é a coordenada vertical do receptor na superfície; r = (x, ξ(x)) é a

posição do receptor na superfície no sistema x-z, cujo módulo ou distância à origem é

|r| = r = [x 2 + z2]1/2 = [x 2 + ξ(x)2]1/2; χ = x – x’ é a distância horizontal entre o receptor e

um ponto qualquer na superfície; r (x, χ) = |r – r’ | = [χ 2 + (ξ(x) – ξ(x –χ))2]1/2 é a

distância entre o receptor e um ponto qualquer na superfície (ver Fig. 3.7).

54

Figura 3.7: Parâmetros geométricos da integral na superfície periódica (Eq. 3.12).

A Eq. (3.12) pode ser representada de forma simplificada, usando as igualdades:

∂H0(1)(w)/∂w = H1

(1)(w), onde w é uma variável qualquer; dS/dx’ = [1 + (∂ξ(x)/∂x’)2]1/2;

[∑H0(1)(kr)/∑n’]( dS/dx’) = [–∑H0

(1)(kr)/∑z + ∂ξ(x)/ ∂x ∑H0(1)(kr)/∑x’]. Assim, a integral

na Eq. (3.12) pode ser reescrita como

( )( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )∫

+∞

∞−

∂∂+′+

∂∂−−+′ xdkH

x

xxjk

x

xxx

kHx N ρξηξχξχξ

ρρφ 1

0

2/1211 1 .

(3.13)

De modo que a equação integral de Kirchhoff-Helmoltz para receptores na superfície

(Eq. (3.12)) pode ser representada simplificadamente por

( ) ( ) ( ) ( )xxdxQxx incφχφφ 2, =′′− ∫+∞

∞−

, (3.14)

onde o integrando Q(χ, x) é dado, conforme a Eq. (3.13), por

( ) ( ).)(1)(

)()()(

)(

2, )1(

0

2)1(1

∂∂+−

∂∂−−+= ρξηξχξχξ

ρρχ kH

x

xxj

x

xxx

kHkjxQ N

(3.15)

Como a pressão total em frente à superfície é também periódica, pode-se

descrever o campo na superfície φ(x) e a função Q(χ, x) por séries de Fourier [46]

( ) ( )∫∑Λ+∞

−∞=

Λ==

0

1onde, dxexex xjkxjk n

nn

nn

αα φφφφ , (3.16)

χ

χ

χ

55

e

( ) ( )∫∑Λ+∞

−∞=

Λ==

0

,1

onde,, dxexQQeQxQ jnKxjnKxn

nn χχ . (3.17)

Assim, multiplicando ambos os lados da Eq. (3.14) por ( )∫Λ −Λ0

1 dxe xmjα , tem-

se um sistema infinito de equações, cujas incógnitas são os coeficientes φn (ou φm) da

série de Fourier que descreve o campo total na superfície φ(x)

, …, , m, n =U mnmnm 210,ˆ2-n

, ±=− ∑+∞

∞=φφφ , (3.18)

onde os termos Um,n referem-se às integrais em χ e em x de Q(χ, x), sendo dados por

( )∫ ∫Λ +∞

∞−

−−−

Λ=

2/

0

,)(,

1dxedexQU xKnmjkj m

nm χχ χα (3.19)

e mφ são os coeficientes da série de Fourier que descreve a pressão sonora incidente

sobre a superfície, que é conhecida

( ) ( )[ ]∫∫ΛΛ

+−−

Λ=

Λ=

0

0

0

11ˆ dxedxex mKxxkjxjk mincm

ξγαφφ . (3.20)

Resolvendo o sistema da Eq. (3.18), os coeficientes φm são determinados, e

assim, as amplitudes Rn das ondas refletidas são calculadas através da rearrumação da

equação do campo de pressão sonora total em frente da superfície (Eq. (3.9))

( ) ( ),...2,1,0,,

2

10 ±±=

+

−+= ∑

+∞

−∞=− mn

k

KnmkCR

n m

mmmnmn

mm η

γαγγφ

γ, (3.21)

com Cm-n(kγm) dada por

( ) ( ) ( )[ ]∫Λ

−−+−

Λ=

0

1dxekC Kxnmxkj m

mnmξγγ . (3.22)

56

3.2.2. Implementação do Método

HOLFORD [46] mostra que o sistema de infinitas equações (3.18) é

convergente, ou seja, a partir de determinada ordem m ou n = N de equações obtém-se

resultados com certo grau de convergência, podendo-se então encerrar a resolução do

sistema. Resolvendo o sistema até uma ordem N, tem-se 2N + 1 equações, que na forma

matricial pode ser expresso por

[ ] φφ ˆ2=− UI , (3.23)

onde I é a matriz identidade (2N + 1) × (2N + 1), U é a matriz (2N + 1) × (2N + 1) de

elementos Um,n, φ e φ são respectivamente vetores de (2N + 1) coeficientes φm

incógnitos e de coeficientes mφ conhecidos e que dependem do tipo de perfil.

Para se verificar a convergência na solução, pode-se adotar algum critério de

teste. Seja, por exemplo, uma superfície rígida (totalmente refletora). Sendo ε = Eref/Einc

a razão entre a energia refletida propagante e a incidente na superfície, conforme a

Eq. (2.51), a conservação da energia garante a igualdade

1real

2

0

== ∑n

nn R

γ γγ

ε , (3.24)

que significa que a soma da energia das ondas refletidas propagantes (γn real) deve ser

igual à da energia da onda incidente. Assim, como critério para convergência do sistema

de equações (3.18), para uma superfície totalmente refletora, pode-se assumir um

número mínimo de equações para que o balanço de energia (Eq. (3.24)) seja satisfeito

com um erro de no máximo 1%, conforme EMBRECHTS et al. [48], ou até 5%

(adotado aqui para simplificar o esforço computacional para perfis periódicos não

senoidais, que podem ser representados por somatórios de muitos elementos, conforme

suas séries de Fourier).

Adotado um critério de convergência, a maior dificuldade para a solução do

campo refletido pelo método de Holford Urusoviskii é a determinação dos elementos

Um,n (Eq. (3.19)), que envolvem integrais nos domínios χ e x difíceis de se resolver

analiticamente. Contudo, essas integrais podem ser estimadas por integração numérica e

aproximações analíticas. Uma técnica para se determinar os coeficientes Um,n foi

57

apresentada por Embrechts e é descrita a seguir. Inicialmente, a integral em x em [0, L],

é dividida em duas integrais nos domínios [0, L/2] e ]L/2, L], i.e.,

( ) ( ) .,,1

2/

)(

2/

0

)(,

+

Λ= ∫ ∫∫ ∫

Λ

Λ

−−

+∞

∞−

Λ

−−

+∞

∞−

− dxedexQdxedexQU xKnmjjkxKnmjkjnm

mm χχχχ χαχα

(3.25)

Ambas as integrais cancelam-se para valores pares do índice (m – n) e têm o

mesmo valor para valores ímpares. Portanto, os termos Um,n podem ser reescritos por:

( )

( ) ( )

Λ=∫ ∫

Λ

−−

∞+

∞−

− ímpar. ,,2

par; ,02/

0

)(, m-ndxedexQ

m-n

U xKnmjkjnm m χχ χα (3.26)

Os termos Um,n não nulos, para (m – n) ímpar, são então divididos em dois

termos Vm,n e Wm,n, tais que Um,n = Vm,n + Wm,n, cada qual relativo a integrais em

diferentes regiões do domínio χ. O primeiro termo, Vm,n, é referente à integral até um

certo valor de |χ| ≤ A, onde A é um valor real positivo suficientemente grande, i.e., à

integral em [–A; +A], e o segundo, Wm,n, refere-se à integral para valores |χ| > A, i.e., à

integral nos intervalos [–¶; –A[ e ]+A; +¶]. Esses termos são, portanto, dados por:

( )

( ) ( ) .,,2

;,2

2/

0

)(,

2/

0

)(,

∫ ∫ ∫

∫ ∫Λ

−−

∞−

∞+

+

−−

Λ

−−

+

+

Λ=

Λ=

dxedexQdexQW

dxedexQV

xKnmj

A

A

jkjknm

xKnmj

A

A

kjnm

mm

m

χχχχ

χχ

χαχα

χα

(3.27)

Os termos Vm,n podem ser computados por integração numérica, usando, por

exemplo, o método dos retângulos, no qual os intervalos [0, L/2] para x e [–A, +A] para

χ são discretizados em pequenos subintervalos Dx e Dχ, suficientemente pequenos

(como por exemplo, 1/8 do comprimento de onda) de modo que o resultado final

alcance convergência para a equação de conservação de energia (Eq. (3.24)). Assim os

pontos discretos nos domínios χ e x são dados por

58

.2

,0,,...,3,2,1,0,

;2

,,,...,3,2,1,0,

00

00

dxM

xxMqxqxx

dM

AAMii

xxq

i

≈Λ=∆==∆+=

≈=∆−==∆+= χχχχχχχ

χ

(3.28)

Dessa forma, as integrais em x e em χ tornam-se somatórios finitos de Mx + 1 e

Mt + 1 termos, respectivamente, sendo Mx e Mχ números inteiros positivos

suficientemente grandes, de tal forma que os termos Vm,n podem ser aproximados por

( )∑∑= =

−−−≈χ

χα

χ

χM

i

M

q

xKnmjkjqi

xnm

xqim eexQ

MM

AV

0 0

)(, ,

12 (3.29)

Considerando uma superfície totalmente refletora (ηN(x) = 0), tem-se que o

integrando Q(χ, x), conforme a Eq. (3.15), assume a forma

( )

∂∂−−+=

x

xxx

kHkjxQ

)()()(

)(

2,

)1(1 ξχξχξ

ρρχ , (3.30)

resultando, assim, na expressão aproximada para os termos Vm,n

( )( ) .

)()()(

,

),(

0 0

)()1(

1, ∑∑

= =

−−−

∂∂

−−+≈τ χ

χα

χ

ξχξχξ

χρχρM

i

M

q

kjxKnmjqiqiq

iq

iq

xnm

imq eex

xxx

x

xkH

MM

kAjV

(3.31)

Deve-se notar que para o cômputo dos termos Vm,n há uma singularidade no

integrando Q(χ, x) (que já está incluído na Eq.(3.31), ver Eqs.(3.29)) quando χ

aproxima-se de zero, que deve ser resolvida tomando-se o limite correspondente para

cada tipo de perfil ξ(x).

Já os termos Wm,n podem ser estimados analiticamente, também conforme o tipo

de perfil, buscando uma aproximação para o integrando Q(χ, x) (Eq. (3.30)) para kr bem

grande, i.e. para kr ≥ k|χ| ≥ k A >> 1. Antes de tudo, deve-se notar que para kA

suficientemente grande (na prática kA > 40), tem-se a seguinte aproximação para a

função de Hankel que ocorre em Q(χ,x) (Eq. (3.30)) [48]

59

)75,0()1(1

2)( πρ

ρπρ −≈ kje

kkH . (3.32)

Partindo dessa aproximação (Eq. (3.32)), pode-se obter estimativas para os

termos Wm,n para perfis senoidais e perfis periódicos quaisquer, uma vez que estes

podem ser expressos em termos de séries de Fourier, i.e., somatórios de perfis senoidais.

Perfis senoidais

Considerando que a corrugação tenha forma senoidal, ξ(x) = h cos(K x), que

k A >> 1 e que A >> h, onde h = H/2 é a amplitude da corrugação (segundo [48],

rigorosamente é necessário que A > 200 kh2), r pode ser aproximado por |χ| nas

Eqs. (3.30) e (3.32). Essas aproximações simplificam bastante a integração de Q(χ, x),

obtendo-se expressões como a abaixo para cada uma das parcelas da integral em x de

Wm,n, considerando uma superfície perfeitamente refletora, (ηN(x) = 0)

( )[ ]∫Λ

−− +Λ

0

)( cos1

dxaxKe xKnmj , (3.33)

sendo a = 0, χ ou –p/2K, dependendo da parcela do integrando Q(χ, x) (Eq. (3.30)).

Dessa expressão, nota-se que as parcelas da integral em x anulam-se, exceto para

n = m ≤ 1. Fazendo outras aproximações e considerações, obtém-se finalmente

expressões simplificadas para Wm,n, considerando uma superfície senoidal refletora [48]:

( ) ( ) ( )[ ] ,1,sincos2

1

1

;1,0

75,0

2,

,

±=−−

±≠=

− mnAkjAkeAk

KhjW

mnW

mmmAkj

m

nm

nm

αααπα

πm

(3.34)

sendo

( ) [ ]

±±=

nm

hkkAαα 1,1min

50,200,40max 2 . (3.35)

60

Para resolver o sistema de equações da Eq. (3.18), é ainda necessário conhecer os

coeficientes de Fourier mφ do campo incidente sobre a superfície (Eq. (3.20)). Para um

perfil senoidal, eles assumem a forma de funções de Bessel de 1ª espécie de ordem m

( )0)(ˆ γφ khJj mm

m −= . (3.36)

Finalmente, para o cômputo dos termos Vm,n, deve-se considerar ainda a

singularidade do integrando Q(χ, x) quando χ aproxima-se de zero, ao se tomar o limite

correspondente [48], onde ∂x representa a derivada em x

( ) ( )[ ]

( )[ ]

.)cos()sin()sin(1

)sin(3)cos(

2

)()()(1

)(3

)(

2

1,lim,0

232

2

22

32

0

KxKxhKKxhK

KxKKxhK

xxx

xxxQxQ

xxx

xx

χχ

π

ξξχξ

ξχξ

πχ

χ

++−

−≈

∂∂+∂+

∂+∂≈=

→ (3.37)

Demais perfis periódicos

O campo espalhado por perfis periódicos quaisquer pode também ser calculado

pelo método de Holford-Urusovskii, levando em consideração que estes podem ser

descritos por séries de Fourier, i.e., somas infinitas de perfis senoidais. A solução para

perfis periódicos genéricos foi desenvolvida exclusivamente nesta pesquisa, baseada no

trabalho de EMBRECHTS et at. [48], tendo sido publicada em [29], com resultados que

serão mostrados na sequência. Seja um perfil periódico qualquer de amplitude máxima

h = H/2, expresso por sua série de Fourier ξ(x) = ∑l hl cos(lKx), l = 1, 2,…, +∞; os

coeficientes hl são os l-ésimos coeficientes da série de Fourier que descreve o perfil

periódico. Para perfis triangulares e retangulares, por exemplo, eles vêm a ser:

).retangularou r triangula(perfilpar ,0

);retangular (perfilímpar ,4

sin4

cos16

r); triangula(perfilímpar ,8

3

22

lh

llll

hh

ll

hh

l

l

l

=

=

=

πππ

π

(3.38)

Substituindo a série de Fourier que descreve ξ(x) e suas derivadas (∂ξ(x)/∂x) no

integrando Q(χ, x) (Eq. (3.15)), obtém-se expressões como a Eq. (3.33) para kA >> 1.

61

Nessas expressões, as parcelas da integral em x anulam-se, exceto para n – m ímpar.

Então, considerando uma superfície totalmente refletora (ηN(x) = 0), os termos Wm,n

podem ser aproximados, para os mesmos valores de kA das condições da Eq. (3.35) por:

( ) ( ) ( )[ ] ímpar.,sincos2

1

1

par;,0

75,0

2,

,

lmnAkjAkeAk

hKljW

lmnW

mmmAkj

m

lnm

nm

±=−−−

±=−=

− αααπα

πm

(3.39)

Os coeficientes de Fourier mφ do campo incidente sobre a superfície (Eq. (3.20))

para perfis triangulares e retangulares tem as seguintes expressões:

( ) ( ) ( )[ ]

( ) ( ).retangular perfil,

2

2sin

2

2sinˆ

r; triangulaperfil ,2

11ˆ

0

0

0

0)2/3(

4)2/1(22 00

++

+−

−=

+++−−=

+−+−

γπγπ

γπγπ

φ

πφ

ππ

γππππγπ

khm

khm

khm

khmee

m

eeeeje

jmjm

m

khmjjmjmjmkhmj

m

(3.40)

Finalmente, para o cômputo dos termos Vm,n, a singularidade do integrando

Q(χ, x) quando χ aproxima-se de zero é resolvida, de forma similar ao caso de superfície

senoidal, ao se tomar o limite correspondente [29]

( ) ( )( )

.

)cos()sin()sin(1

)sin(3)cos(

2,lim,0

1

2

1

3

2

1

1

3

1

22

0

∑∑∑

∑∑∞+

=

∞+

=

∞+

=

+∞

=

+∞

=

⋅+

+

−−≈=

ll

ll

ll

ll

ll

lKxhllKxhlKlKxhlK

lKxhlKlKxhlK

xQxQ

χ

χ

πχ

χ

(3.41)

3.2.3. Resultados do Método de Holford-Urusovskii

O método de Holford-Urusovskii foi implementado no programa Mathematica e

foram calculados os campos refletidos de uma superfície infinita e rígida (η0 = 0), com

corrugação senoidal e triangular, de período Λ = 0,188 m e amplitude h = 0,047 m (i.e.,

profundidade H = 0,094 m, h/Λ = 0,25 ou H/Λ = 0,5). Foram considerados ângulos de

incidência de ϕi = 20°, 45° e 90° e ondas com frequências de 2000 Hz (λ/Λ ≈ 0,9) e de

5000 Hz (λ/Λ ≈ 0,36), de modo que ocorre reflexão espalhada em todos os casos. A

amplitude de onda incidente foi adotada como a unidade (i.e., Pinc = 1), para simplificar.

62

Campos de Reflexão

Os campos de reflexão calculados (dados pela parte real da Eq. (3.7), i.e.,

Re[pref]) para cada perfil podem ser visualizados através de “mapas de reflexão” e

“fatias do campo”, dados repectivamente por diagramas de contorno no plano x-z e por

gráficos do campo refletido ao longo de uma dada direção.

Na Fig. 3.8, são apresentados mapas de reflexão para a região de –2Λ ≤ x ≤ 2Λ e

h ≤ z ≤ 12h, para f = 2000 Hz e incidência normal, ϕi = 90°, relativos aos dois perfis. As

cores mais claras representam valores positivos, enquanto que as mais escuras valores

negativos. Para ambos os casos, são observadas flutuações nos campos refletidos, que

apresentam os mesmos períodos espaciais Λ na direção x, e de cerca de 26 h na direção

z (fora da área mostrada). Apesar de as direções características φn, relacionadas apenas

ao ângulo de incidência e a múltiplos inteiros da relação λ/Λ (Eq. (3.8)), serem as

mesmas para ambos os campos, há diferenças marcantes no padrão espacial de cada um.

Nota-se, por exemplo, que o campo refletido pelo perfil senoidal apresenta mais

oscilações na direção z do que o do triangular.

Figura 3.8: Mapas de reflexão para f = 2000 Hz, ϕi = 90°: a) senoidal e b) triangular.

Na Figura 3.9, estão mostradas fatias do campo refletido para o caso de perfil

senoidal e de perfil triangular na direção z em x = 0, i.e., Re[pref(0, z)], na região

h ≤ z ≤ 60h, para f = 2000 Hz e ϕi = 90°. Nos dois casos, pode-se observar valores

maiores que a unidade (|Re[pref(0,z)]| > 1), indicando efeitos de focalização em

determinadas posições. Aqui, pode-se constatar que o período espacial na direção z é

igual para ambos os perfis (neste caso, aproximadamente 26 h ou 6,5 Λ). Entretanto,

como já visto pelos mapas de reflexão, o padrão espacial de interferência difere para os

dois. Nesse caso específico, embora possuam o mesmo período, o campo referente ao

z z

x x

–2Λ –3/2Λ –Λ –1/2Λ 0 1/2Λ Λ 3/2Λ 2Λ –2Λ –3/2Λ –Λ –1/2Λ 0 1/2Λ Λ 3/2Λ 2Λ

–2Λ –3/2Λ –Λ –1/2Λ 0 1/2Λ Λ 3/2Λ 2Λ –2Λ –3/2Λ –Λ –1/2Λ 0 1/2Λ Λ 3/2Λ 2Λ

10h 7,5h 5h 2,5h h

10h 7,5h 5h 2,5h h

10h 7,5h 5h 2,5h h

10h 7,5h 5h 2,5h h

63

perfil senoidal mostra mais oscilações na direção z do que o do triangular, porém com

amplitudes menores, ou seja, os efeitos de focalização são menos intensos.

Figura 3.9: Fatias de campo de reflexão Re[pref(0, z)], para f = 2000 Hz, ϕi = 90°: perfil

senoidal (----) e triangular (····).

Coeficientes de reflexão e de espalhamento

Nas Figuras 3.10 a 3.12 as magnitudes dos coeficientes de reflexão |Rn| para os

casos analisados são apresentados. No topo de cada figura estão indicados os

correspondentes ângulos (em graus) das autodireções de espalhamento (Eq. (3.8)).

Para f = 2000 Hz, o componente especular |R0| ainda desempenha um papel

importante para o perfil senoidal, exceto para ϕi = 20°, incidência próxima da rasante,

para a qual o espalhamento é mais intenso (Fig. 3.10 esquerda). Para f = 5000 Hz,

devido ao menor comprimento de onda, nota-se que, especialmente para o perfil

triangular, o maior coeficiente de reflexão |Rn| ocorre aproximadamente na direção na

qual a onda incidente é refletida geometricamente pelas cunhas da superfície, que estão

inclinadas a 45°. Para incidência a ϕi = 20° e 45° (Figs. 3.10 e 3.11 direitas), tais

reflexões geométricas seriam a 110° e 135° respectivamente, uma vez que a onda, ao

atingir a cunha inclinada a 45°, seria refletida geometricamente na direção (90° + ϕi).

Entretanto, devido à periodicidade da superfície, as autodireções vêm a ser 120,5° e

137,7° em cada caso, conforme a Eq. (3.8). Para incidência normal, ϕi = 90°, (Fig. 3.12

direita), a maior magnitude do coeficiente de reflexão é, no entanto, o da direção

especular |R0|, uma vez que ao atingir a cunha de 45°, a onda é refletida

geometricamente a 180° (90° + ϕi) ou a 0° (90° – ϕi) para as cunhas adjacentes, as

quais, por sua vez, a refletem de volta a 90°, ou seja, na reflexão especular. Embora esse

fenômeno de dupla reflexão também possa ser observado nos resultados do perfil

senoidal, ele é mais fraco, devido à forma do perfil, que distribui mais uniformemente a

energia pelas autodireções.

Senoidal Triangular f = 2000 Hz, ϕi = 90°

p ref(0

, z)

z

h 5h 10h 15h 20h 25h 30h 35h 40h 45h 50h 55h 60h

h 5h 10h 15h 20h 25h 30h 35h 40h 45h 50h 55h 60h

64

Figura 3.10: Coeficientes de reflexão (|Rn|) e suas respectivas autodireções (ϕn), para

ângulo de incidência ϕi = 20°, f = 2000 Hz (esquerda) e 5000 Hz (direita): perfil

senoidal () e triangular ().

Figura 3.11: Coeficientes de reflexão (|Rn|) e suas respectivas autodireções (ϕn), para

ângulo de incidência ϕi = 45°, f = 2000 Hz (esquerda) e 5000 Hz (direita): perfil

senoidal () e triangular ().

Figura 3.12: Coeficientes de reflexão (|Rn|) e suas respectivas autodireções (ϕn), para

ângulo de incidência ϕi = 90°, f = 2000 Hz (esquerda) e 5000 Hz (direita): perfil

senoidal () e triangular ().

ϕn (°) ϕn (°)

ϕn (°) ϕn (°)

ϕn (°) ϕn (°)

|Rn| |Rn|

|Rn| |Rn|

|Rn| |Rn|

65

A Figura 3.13 mostra os coeficientes de espalhamento (δ) correspondentes,

calculados conforme a Eq. (2.54) e que indicam a fração de energia incidente que não é

refletida na direção especular. É constatado que o espalhamento normalmente aumenta

para a frequência mais alta, porém para o perfil triangular sob incidência normal

ϕi = 90°, há uma redução do fenômeno, devido à dupla reflexão nas cunhas na alta

frequência, como já comentado acima.

Figura 3.13: Coeficientes de espalhamento (δ), para ângulos de incidência ϕi = 90°, 45°

e 20° e frequências f = 2000 Hz e 5000 Hz: perfil senoidal (–––) e triangular (– · –). As

linhas unindo os pontos são apenas para facilitar a identificação de cada caso, não

retratando a variação de δ entre essas frequências.

3.3. SUPERFÍCIES CORRUGADAS PERIÓDICAS FINITAS

Conforme visto no Capítulo 2 (Seção 2.3.6), o campo refletido por uma

superfície corrugada finita possui uma região próxima, onde há forte interferência entre

as ondas refletidas provenientes de fontes imaginárias ao longo dela (princípio de

Huygens), ocorrendo focalização, e uma região afastada, onde esses efeitos são menores

(Fig. 3.14). Por outro lado, quando a superfície é infinita, como pressuposto na

formulação do método de Holford-Urusovskii, torna-se também infinito o campo

próximo, já que a extensão dessa região é diretamente proporcional à dimensão da

superfície, conforme a Eq. (2.37). Portanto, pelo método de Holford-Urusovsski, não se

obtém nenhuma informação sobre o campo refletido afastado de superfícies finitas. Em

vista de que normalmente receptores à frente de barreiras localizam-se pelo menos a

Frequência (Hz)

Coeficiente de espalhamentoδ

Senoidal, ϕi = 90° Triangular, ϕi = 90° Senoidal, ϕi = 45° Triangular, ϕi = 45° Senoidal, ϕi = 20° Triangular, ϕi = 20°

66

algumas dezenas de metros longe delas, uma descrição do campo afastado é também

muito importante.

Figura 3.14: Representação simplificada de onda incidente sobre superfície finita,

gerando a onda refletida e regiões de campo próximo e de campo afastado.

Como já mencionado no Capítulo 2, o cálculo do campo afastado de uma

superfície finita qualquer pode ser simplificado pela aproximação de Fraunhofer.

Assim, nessa região, pode-se exprimir a pressão sonora refletida pr em termos do

produto da pressão sonora incidente pi sobre a superfície pela função de direcionalidade

de campo afastado Fs (que no caso de superfície plana é dada apenas pela função de

abertura Fa) e por termos de fase e de propagação esférica (Eq. (2.33)). Para o caso de

uma superfície corrugada periódica finita, pode-se aplicar a mesma aproximação para se

obter a direcionalidade de campo afastado, de forma semelhante ao caso de malhas de

difração, como na ótica. Conforme MEYER e BOHN [47], esta pode ser expressa por

um produto de três funções de direcionalidade ou de difração, referentes a distintos

parâmetros da superfície corrugada periódica: as corrugações isoladamente, a diferença

de percurso entre a parte superior e inferior de cada corrugação (topos e rebaixos) e o

conjunto periódico de corrugações.

Seja uma onda incidente pi atingindo uma superfície corrugada finita numa

direção φ0, proveniente de uma fonte à distância r1 do centro da superfície. O perfil

corrugado tem período Λ e N corrugações (i.e., largura total da superfície B = NΛ), cada

qual com profundidade H e largura b (Fig. 3.15). No campo afastado, a pressão sonora

da onda refletida pr, a uma distância r2 do centro da superfície numa direção φ, pode

então ser expressa por

67

( )2

00000012

20

),,,,(),,,,(),,,()(r

eNkFHkFbkFrprp

rjk

gpair

ΛΛ∝ ϕϕϕϕϕϕ , (3.42)

onde Fa é a função de abertura, referente à forma de cada corrugação isolada; Fp é a

função de profundidade, referente à diferença de percurso entre a parte superior e

inferior de cada corrugação; Fg é a função de malha, referente ao conjunto periódico

corrugado de N corrugações;

Figura 3.15: Superfície corrugada periódica finita.

O espalhamento de campo afastado de uma superfície periódica é então dado

pela modulação das funções de difração, de acordo com a forma e a geometria do perfil,

além da frequência e do ângulo de incidência do som. Da Eq. (3.42), se a superfície for

totalmente refletora (R = 1), a magnitude do coeficiente de reflexão |R| no campo

afastado é então expresso simplesmente pelo produto entre as funções de difração [47]

( ) ),,,,(),,,,(),,,(,,,,,, 00000000 NkFHkFbkFHNbkR gpa ΛΛ=Λ ϕϕϕϕϕϕϕϕ . (3.43)

As funções de difração são obtidas a partir da aproximação de Fraunhofer para

cada tipo de perfil. No Capítulo 2, foi apresentada a função de abertura Fa para

superfícies planas e semi-circulares, dada pela Eq. (2.34), sendo seus respectivos

mínimos Fa,min e máximos Fa,max ocorrendo nas direções φa,min e φa,max dadas pela

Eq. (2.36), dependentes da relação λ/b (ao se substituir a largura total da superfície B

pela das corrugações b):

B =

corrugações

68

.,1

,...;2,1coscos,0

max,max,

min,min,

oaa

oaa

F

mbmF

ϕϕλϕϕ

==±±=+==

(3.44)

A função de profundidade Fp é, por sua vez, expressa por [47]

( ) ( )

2

sinsincoscos2

cos1

),,,,(000

00

++−Λ+=Λ

ϕϕϕϕϕϕ

Hk

HkFp , (3.45)

de forma que seus mínimos Fp,min e máximos Fp,max, além de suas respectivas direções

φp,min e φp,max, que dependem da profundidade H da corrugação, vêm a ser:

( ) ( ) ( )

( ) ( ) .,3,2,1sinsincoscos2

,1

;,3,2,1212sinsincoscos2

,2

1

max,0max,0max,

min,0min,0min,

...qqHF

...qqHF

ppp

ppp

==++−Λ=

=−=++−Λ=

λϕϕϕϕ

λϕϕϕϕ

(3.46)

Finalmente, a função de malha ou de grade Fg é dada por [47]

( )

( )

−Λ

−Λ

=Λϕϕ

ϕϕϕϕ

coscos2

sin

coscos2

sin),,,,(

0

0

00

o

o

g kN

kN

NkF , (3.47)

sendo os mínimos Fg,min e máximos Fg,max, nas respectivas direções φg,min e φg,max,

dependentes da relação λ/Λ, expressos por:

.,...2,1,0coscos,1

);1(cos,...2,1,0coscos,0

max,max,

min,min,

±±=Λ+==

≤±±=Λ+==

nnF

nNnF

ogg

ogg

λϕϕϕλϕϕ

(3.48)

Na Fig. 3.16, é mostrada a função de malha (Fg) de uma superfície corrugada

finita, com Λ = 0,177 m e N = 5 corrugações, em função do ângulo ϕ em relação ao

plano da superfície para f = 4000 Hz e ângulo de incidência de 45°. Pela Eq. (3.48), os

máximos de Fg estão a 45°, que corresponde à reflexão especular (modo n = 0), e a

76,9° (n = +1), 104,7° (n = +2) e 137,2° (n = +3).

69

Figura 3.16: Função de malha Fg de superfície periódica finita com Λ = 0,177 m e

N = 5 corrugações para f = 4000 Hz e φi = 45°, dependente do ângulo ϕ à superfície.

A Eq. (3.48) evidencia que os máximos da função de malha de superfície

periódica finita ocorrem nas mesmas autodireções de espalhamento de superfícies

periódicas infinitas, definidas na Eq. (3.8), ou seja, φg,max = φn. Da Eq. (3.47), tem-se

que para uma superfície com muitos elementos (i.e., N → ∞), Fg assume valores

próximos a zero, exceto nas direções de seus máximos φg,max, onde sempre se obtém

Fg = 1. A partir da Eq. (3.43), nessas direções a magnitude do coeficiente de reflexão no

campo afastado |R| é então modulado apenas pelas funções de abertura Fa e de

profundidade Fp, sendo aproximadamente nulo nas demais direções

( )

Λ+≠

Λ+=Λ⋅≈

.coscos,0

;coscos,),,,,(),,,(,,,,,

0

0000 λϕϕ

λϕϕϕϕϕϕϕϕ

n

nHkFbkFHbknR

pa (3.49)

Portanto, o campo afastado de uma superfície finita com uma quantidade grande

de corrugações, apresenta coeficiente de reflexão não nulo, ou seja, espalhamento,

quase exclusivamente nas mesmas autodireções ϕn das ondas refletidas de superfícies

corrugadas periódicas infinitas, dadas pela Eq. (3.8), para as quais só existe o campo

próximo. Este fato sugere que os resultados obtidos a partir de medições próximas a

barreiras corrugadas possam ser utilizados após correções para representar resultados

que seriam obtidos em medições longe delas, no local de imissão, onde se deseja de fato

saber qual a eficiência de reflexão de uma barreira acústica.

70

CAPÍTULO 4

MÉTODOS DE MEDIÇÃO DA

REFLEXÃO SONORA DE SUPERFÍCIES

Como visto no Capítulo 2, a refletividade de superfícies pode ser caracterizada

tanto através de seu coeficiente de reflexão, de absorção, de sua impedância ou ainda de

sua função de transferência associada, uma vez que essas propriedades estão

relacionadas entre si. Visando o desenvolvimento de um método de medição do

coeficiente de reflexão sonora de superfície de barreiras corrugadas, que possa ser

aplicado in-situ, serão apresentados neste capítulo os principais métodos de medição de

propriedades de reflexão de superfícies. Não é o propósito aqui apresentar todos os

métodos existentes, sendo para tal recomendada as referências [23],[35],[37],

[49],[50],[51], mas apenas dar um panorama do estado da arte da medição, abordando

os principais para o objetivo desse trabalho. No apêndice, no final deste trabalho, são

apresentados também alguns métodos que não se julga apropriados para a aplicação.

De acordo com GARAI [49], pode-se classificar os métodos de medição, de

acordo com o local onde são realizados, como métodos de laboratório e de campo (in-

situ), ou ainda, de acordo com o tipo de sinal aplicado, como métodos de sinal

estacionário (como o ruído branco ou rosa) e de sinal transiente (por ex. estouros tonais

ou de disparo de arma de fogo, MLS ou varredura de frequências - sweep). Os

resultados dos métodos que utilizam sinais estacionários são muito dependentes do

ambiente no qual são realizados; dessa forma, são mais bem executados num ambiente

controlado de laboratório. Já os resultados dos métodos que aplicam sinais transientes e

determinísticos, através de janelamento temporal e pós-processamento, podem ser de

menos dependentes do ambiente no qual são realizados, por isso são adequados para

medições in-situ.

Pode-se citar algumas características importantes dos métodos de medição [49]:

a área ativa, entendidada como a área da superfície do objeto sob teste que contribui

com o sinal refletido detectado pelo equipamento de medição, dentro da janela temporal

de análise; a imunidade ao ruído de fundo, especialmente para medições in-situ; a

robustez do equipamento; a facilidade de aplicação; a rapidez de medição; a precisão de

medição; a faixa de frequências úteis; etc.

71

4.1. MÉTODO DE CÂMARA REVERBERANTE

O método de câmara reverberante é descrito na norma ISO 354 [13]. Por esse

método, determina-se o coeficiente de absorção sonora de materiais em terças de oitava

sob incidência sonora difusa, ou seja, idealizando ondas sonoras provenientes

igualmente de todas as direções. Um campo aproximadamente difuso para este

propósito pode ser obtido por uma fonte sonora emitindo dentro de uma câmara

reverberante (Fig. 4.1), com volume de no mínimo 200 m³ e forma apropriadamente

projetada (com paredes não paralelas e difusores pendurados no teto, por exemplo),

além de apresentar baixíssima absorção de suas superfícies internas.

Figura 4.1: Câmara reverberante do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).

O método baseia-se na teoria de reverberação de Sabine que, em campo difuso,

ao se cessar o sinal emitido por uma fonte sonora há uma relação linear entre o nível de

pressão sonora e o tempo, que dependem da área de absorção total dos materiais dentro

da câmara. Assim, pode-se calcular a absorção sonora sob incidência difusa ao se medir

o tempo de reverberação, referente ao decaimento dos níveis sonoros em 60 dB (T60) na

câmara sem e com a(s) amostra(s) de material em seu interior. No segundo caso, a(s)

amostra(s) é (são) posicionada(s) sobre o piso e deve(m) ter área total entre 10 e 12 m²

para volume de câmara de 200 m³ [13].

Os respectivos tempos de reverberação ao se cessar a fonte são obtidos pelos

registros da pressão sonora nessas duas situações. Como um campo difuso em toda a

câmara reverberante nunca é perfeitamente atingido, são realizadas médias de medições

em diversas posições dentro dela (mínimo de três) que devem atender a pré-requisitos

72

concernentes a distâncias entre si, das paredes da câmara e da amostra. Posiciona-se a

fonte sonora também em diversas posições (mínimo de duas), que igualmente devem

atender a certos pré-requisitos, de modo a se obter no mínimo doze medições

independentes. A norma ISO 354 descreve dois procedimentos de medição.

O primeiro é o de ruído interrompido, no qual se utiliza uma fonte alimentada

por sinal de banda larga (tal como ruído branco ou rosa) apresentando um espectro

contínuo e com diferenças entre os níveis em bandas de terça de oitava adjacentes de

não mais de 6 dB. A fonte deve ser ligada por tempo suficiente a se obter um estado

estacionário do campo dentro da câmara e, em seguida, desligada, obtendo-se as curvas

de decaimento. O nível do sinal de excitação antes do decaimento deve ser alto o

suficiente para que seja pelo menos 10 dB acima do nível de ruído de fundo.

O segundo procedimento é o de resposta impulsiva integrada, que tem duas

variantes chamadas de direta e de indireta. Na variante direta, utiliza-se uma fonte de

ruído impulsivo, como por exemplo, um disparo de pistola, um estouro de balão, ou

qualquer outra fonte impulsiva com características de largura de banda e de energia

semelhantes às do procedimento de ruído interrompido. Na variante indireta, utiliza-se

sinais de excitação determinísticos tais como os sweeps ou o MLS, através dos quais

pode-se obter a resposta impulsiva após processamento de sinal medido pelo microfone.

O sinal deve ter espectro razoavelmente plano na banda de terça de oitava medida,

atendendo aos mesmos requisitos do procedimento de ruído interrompido.

Obtidos os tempos de reverberação, são calculadas as áreas de absorção sonora

equivalentes (Ai) da câmara em terças de oitava sem e com amostra(s) na câmara,

através da fórmula de Sabine, incluindo a absorção de propagação no ar

2,1 ,43,55

0

=−= iVmTc

VA i

ii , (4.1)

onde o íncide i = 1 refere-se a valores obtidos sem amostra na câmara e i = 2 a valores

obtidos com amostra(s), V é o volume da câmara, c0 é a velocidade do som em metros

por segundo dentro da câmara sob as condições ambientais dos ensaios, Ti é o tempo de

reverberação em segundos para a terça de oitava e mi é o coeficiente de atenuação de

energia em metros recíprocos (m-1) sob as condições climáticas do ensaio, dado por

m = β/[10 log(e)], sendo β o coeficiente de atenuação do ar dado pela ISO 9613-1 e e o

número neperiano.

73

A partir da subtração das áreas equivalentes da câmara sem (A1) e com amostra

(A2), é determinada a área de absorção sonora equivalente (AS) da amostra de teste, que

teoricamente corresponderia ao somatório dos produtos entre os coeficientes de

absorção (αq) e as áreas (Sq) de cada uma das Q amostras do ensaio

∑ ==−= Q

q qqS SAAA112 α . (4.2)

Por fim, calcula-se o coeficiente de absorção sonora difusa (ou de Sabine) αSab

da(s) amostra(s) sob teste em terças de oitava de 100 a 5000 Hz pela razão entre a área

equivalente de absorção (AS) e a área total coberta pela(s) amostra(s), i.e. Sa = ∑qSq

a

SSab S

A=α . (4.3)

Por este método não se pode obter a fase do coeficiente de reflexão nem a

impedância de superfície. Os resultados são muito influenciados pela câmara (pois o

campo não é perfeitamente difuso), e geralmente apresentam baixa reprodutibilidade em

comparações interlaboratoriais com o mesmo objeto de prova, especialmente em baixas

frequências. Além disso, pode-se obter valores implausíveis de coeficientes de absorção

maiores que a unidade (αSab > 1), o que é creditado ser devido a efeitos de borda das

amostras [35]. Outro ponto negativo é que o método de câmara reverberante necessita

de estabelecimentos de medições grandes e custosos de construir.

Ainda assim, o método é muito difundido, sendo inclusive referenciado na

norma europeia EN 1793-1 [14] e na norma brasileira ABNT NBR 14313 [12] para a

determinação das propriedades absorvedoras de barreiras acústicas em laboratório.

Conforme mencionado no Capítulo 1, pela EN 1793-1 as superfícies de barreiras são

classificadas, a partir de seus coeficientes de absorção sonora em câmara reverberante

pela ISO 354 em terças de oitava (αSi), através do valor único da absorção sonora DLa,

obtido da seguinte fórmula

−−=∑

=

=18

1

1,0

18

1

1,0

10

10.

1log10

q

L

q

LSi

aq

q

DL

α, (4.4)

74

onde Lq é nível de pressão sonora do espectro de tráfego ponderado pela curva A em dB

da q-ésima banda de terça de oitava de 100 a 5000 Hz, normalizado pela EN 1793-3

[15]. Como teoricamente 0 ≤ αSi ≤ 1, deve-se obter DLa ≥ 0 e quanto maiores os valores

de absorção sonora em terças de oitava αSi, maior o DLa. Valores implausíveis de αSi < 0

acarretam |R| > 1 e DLa < 0, que também não têm sentido físico.

É importante ressaltar que por esse método, as amostras são ensaiadas em

laboratório sob campo difuso, o que, apesar de se aproximar de situações reais em

recintos fechados, como salas de aula ou de concertos, não é representativo do campo

incidente sobre barreiras acústicas in-situ, no qual, exceto em túneis, predomina a

incidência oblíqua de baixo para cima.

4.2. MÉTODO DE TUBO DE IMPEDÂNCIA

Outro método de laboratório normalizado muito difundido é o método de tubo

de impedância, o qual é descrito nas normas ISO 10534-1 [52] e 10534-2 [53], cada

uma referente a uma variante do procedimento de medição. Através desse método,

pode-se determinar o coeficiente de reflexão sob incidência normal, em módulo e em

fase, a impedância de superfície e o coeficiente de absorção de amostras de materiais

acústicos em terças de oitava.

Para tanto, utiliza-se um tubo reto selado de material rígido, que serve como um

guia de onda plana. Esta é gerada por um alto-falante, localizado em uma extremidade

do tubo, e que incide sobre a amostra de material sob teste, localizada no extremo

oposto do tubo (Figs. 4.2 e 4.3). O tubo deve ser longo o suficiente para se gerar uma

onda plana dentro dele e seu tamanho e a forma da seção transversal, que pode ser

circular ou retangular, determinam o limite inferior fi e o superior fs de frequência

mensuráveis. Assim, para tubos circulares de diâmetro interno D, a frequência superior

deve ser fs ≤ 200/D (D em m, f em Hz). Já o limite inferior de frequência deve ser tal

que seu comprimento de onda seja comparável às da dimensão do comprimento L (em

metros) do tubo (fi ≥ 340/L). A norma ISO 10534-1 recomenda que se considere ainda

o diâmetro interno (ou maior aresta) do tubo, tal que fi ≥ 250/(L – 3D). As amostras

devem ser recortadas para se ajustarem à seção transversal do tubo. Tipicamente, as

amostras possuem entre 3 e 40 cm de aresta ou diâmetro e a faixa de frequência alcança

entre 50 e 2000-3000 Hz [35], podendo ser necessários pelo menos dois tubos de

dimensões apropriadas para se cobrir uma faixa ampla de frequências.

75

Algumas tentativas de aplicação do método de tubo de impedância in-situ foram

realizadas, ao se conectar o tubo diretamente na superfície de teste. Reporta-se,

entretanto, problemas quanto à formação de um microclima próximo à superfície de

solos, o que prejudica os resultados. Baseado nessas experiências, a norma

ISO 13472-2:2002 descreve um método de medição in-situ do coeficiente de reflexão

sob incidência normal de superfícies de rodovias de baixa absorção (até 0,15), usando

um tubo in-loco montado através de um dispositivo de selagem de ar, cobrindo a faixa

de frequência de 250 a 1600 Hz em terças de oitava [49].

O método de tubo de impedância é considerado um procedimento com boa

precisão, obtendo-se resultados bem consistentes e reprodutíveis. Pode ser realizado

com um tubo sobre uma bancada de uma sala simples de laboratório, sem a necessidade

de infraestrutura custosa. Entretanto, necessita de amostras pequenas que se ajustem

dentro do tubo, precisando ser recortadas para tal. Sendo assim, os resultados podem

não ser representativos de um determinado produto como um todo, quando instalado in-

loco. Por exemplo, se o produto possui superfície corrugada, pode ser que a amostra

recortada não cubra uma extensão suficiente da corrugação para caracterizar a reflexão

sonora por espalhamento. Além disso, o método só permite a determinação de

propriedades acústicas sob incidência normal, o que pode não ser representativo de

situações reais como as de barreiras acústicas, por exemplo. A seguir, serão descritas as

duas variantes do método: a de onda estacionária e a de função de transferência.

4.2.1. Variante de Onda Estacionária

A norma ISO 10534-1 [52] descreve um procedimento de medição, também

chamado de método de onda estacionária, baseado no padrão de interferência de ondas

estacionárias. Esse padrão é formado pela sobreposição da onda incidente e da refletida

na amostra, gerando mínimos e máximos ao longo do tubo (Fig. 4.2).

São medidas as posições do primeiro mínimo (zmin,1) e do primeiro máximo

(zmax,1) em frente da amostra e de suas respectivas magnitudes (|pmin,1| e |pmax,1|) com um

microfone móvel ao longo do eixo do tubo, anexado, por exemplo, a uma sonda que é

movimentada por fora do tubo e conectada a uma escala de comprimento. Assim,

determina-se a relação de onda estacionária ROE, dada pela razão entre as magnitudes

de pressão máxima e mínima, e a fase entre a onda incidente e a refletida (Φ), das quais

se extraem o coeficiente de reflexão complexo de incidência normal

76

(R90 = |R|ejΦ = RRe + jRIm), o coeficiente de absorção de incidência normal (α90°) e a

impedância normalizada de superfície (Z = zs/z0 = ZRe + jZIm):

( )

( ) ( ).

1

2,

1

1

;1

4

;sin,cos,1

1

;14

,

2Im

2Re

2Im

Im2Im

2Re

2Im

2Re

Re

290

ImRe90

0

1min,

1min,

1max,

RR

RZ

RR

RRZ

ROE

ROE

RRRRROE

ROER

z

p

pROE

+−=

+−−−

=

+=

Φ=Φ=+−=

−=Φ=

α

λπ

(4.5)

Nessa variante do método, utiliza-se um alto-falante que emite frequências bem

definidas, sendo determinados para cada banda de frequência os mensurandos (zmin,1,

|pmin,1| e |pmax,1|), pois para cada uma tem-se padrões de interferência diferentes. É

demandado, assim, muito tempo na caracterização de uma determinada amostra para

todas as bandas de frequências de interesse.

Figura 4.2: Método de tubo de impedância: variante de onda estacionária [52].

4.2.2. Variante de Função de Transferência

Para reduzir o tempo de medição, a variante do método de tudo de impedância

descrita na norma ISO 10534-2 [53] faz uso de técnicas de processamento de sinais

mais avançadas, através do emprego de sinais de banda larga como ruído branco, MLS

77

ou sweeps. Com um ou dois microfones, as respostas impulsivas da amostra sob teste

são medidas em duas posições distintas z1 e z2 fixas e pré-determinadas no interior do

tubo de impedância (Fig. 4.3). São calculados os respectivos espectros (p1(f) e p2(f))

pela aplicação de transformadas rápidas de Fourier (FFT).

A partir dessas grandezas, determina-se a função de transferência complexa

(H12(f)) entre os sinais das duas posições (H12(f) = p2(f)/p1(f)), que também pode ser

determinada a partir da razão entre os espectros cruzados (S12(f) e S21(f)) e os auto-

espectros (S11(f) e S22(f)) das respostas impulsivas medidas (H12 = S12/S11 = S22/S21).

Obs.: O espectro cruzado entre dois sinais determinísticos a e b é o produto entre o

espectro do último pelo conjugado do primeiro, i.e. Sab(f) = pb(f)pa* (f), onde “*” denota

o complexo conjugado.

Figura 4.3: Método de tubo de impedância: variante de função de transferência [53].

A posição de medição (z1) mais próxima da amostra deve estar distante da

mesma de pelo menos metade do diâmetro ou da aresta (p/ tubos de seção circular ou de

seção retangular), i.e., z1 ≥ D/2. A distância entre as posições de medição (∆z = z2 – z1)

influencia os limites de frequência para a determinação das grandezas em questão. Se as

posições de medição estão muito próximas entre si, a função de transferência será

imprecisa, porque variações de pressão acústica entre as duas posições serão muito

pequenas para serem medidas com boa exatidão. Recomenda-se distância mínima de

5% do comprimento de onda de interesse. Entretanto, se as posições de medição estão

muito separadas entre si, quando o espaçamento aproxima-se de meio comprimento de

onda, os sinais de ambas as posições tornam-se muito semelhantes. Verifica-se que a

menor variância nas medições é obtida quando a distância entre as posições for ¼ do

comprimento de onda, i.e., f∆z = 0,25c0 [34]. Assim, para se obter resultados com boa

exatidão, aconselha-se satisfazer a seguinte condição: 0,05c0 ≤ f.∆z ≤ 0,45c0.

78

As medições podem ser realizadas tanto com um ou dois microfones. Ao se

utilizar dois microfones, embora se promova maior exatidão de posicionamento dos

mesmos, mais rapidez e facilidade de medição, deve-se determinar um fator de

calibração entre os microfones para se compensar as suas respostas na função de

transferência em amplitude e fase, através de um procedimento de medição prévio em

que os microfones são intercambiados de posição. Ao se utilizar apenas um microfone,

dispensa-se essa etapa e interfere-se no campo o mínimo possível, sem a presença de

mais um microfone durante a medição. Nesse caso, a fonte sonora deve gerar um sinal

determinístico para se obter a resposta impulsiva, já que são realizadas duas medições

em sequência.

Realizada(s) a(s) medição(ões), determina-se a função de transferência complexa

entre ambas as posições de medição (H12) e obtém-se o coeficiente de reflexão

complexo (R90), o coeficiente de absorção (α90) de incidência normal e a impedância de

normalizada de superfície da amostra de material (Z):

.1

1/

;11

;

90

90ImRe0

2Im

2Re

2

9090

2

12)(

)(12

ImRe9010

210

210

R

RjZZzzZ

RRR

eHe

eHeRjRRR

s

zjk

zzjk

zzjkj

−+

=+==

+−=−=

−−

==+= −

−−Φ

α (4.6)

4.3. CEN/TS 1793-5: MEDIÇÃO IN-SITU DA REFLEXÃO DE BARRE IRAS

A especificação técnica europeia CEN/TS 1793-5 [18] refere-se à medição in-

situ da reflexão sonora de dispositivos de redução de ruído (NRD), utilizados como

barreiras acústicas. O objetivo é a determinação da refletividade de superfícies de

barreiras em campo após sua instalação, para comprovar sua eficiência quando

instaladas ou após longo tempo de instalação e, se for o caso, requerer sua manutenção

ou até substituição. A especificação foi lançada em 2003, baseada no método Adrienne,

mas atualmente está sendo reformulada por outro método, o Quiesst, em muitos

aspectos mais avançado [22], visando cobrir déficits deste procedimento.

79

4.3.1. Método Adrienne

O método Adrienne baseia-se no método da reflexão, também chamado de

impulso-eco, através do qual se determina o índice de reflexão da superfície a partir de

respostas impulsivas. Incide-se um sinal impulsivo (ou com características impulsivas)

sobre a barreira e mede-se a pressão sonora em suas proximidades. Dessa forma, obtém-

se os traços dos componentes de interesse, ou seja, os pulsos incidentes e refletidos, que

são identificados através de seus picos pronunciados e diferenças de fase. Reflexões

espúrias de outros objetos são eliminadas através de seleção temporal. A razão entre as

energias dos componentes de interesse fornece o índice de reflexão da superfície.

A ideia do método da reflexão remonta ao trabalho de SPANDÖCK de 1934

[54] e foi inclusive a base da antiga norma francesa AFNOR NFS 31-089 de 1990 [55]

para medição in-situ da reflexão sonora de barreiras acústicas planas, utilizando sinais

impulsivos de disparo de pistola. O método descrito por essa norma é muito semelhante

ao Adrienne, porém menos robusto em muitos aspectos já que, entre outros detalhes,

não se utiliza subtração do sinal incidente. Além disso, o sinal de excitação é impulsivo

não determinístico, como por exemplo, gerado por um disparo de arma de fogo, que,

embora tenha que obedecer a certos pré-requisitos, tem baixa repetibilidade e

reprodutibilidade, não permitindo assim obter um resultado suficientemente confiável.

Somente com o advento de modernas técnicas de processamento de sinais ao

longo dos anos 90 é que o método da reflexão mostrou-se realmente eficaz para a

medição in-situ, resultando no método Adrienne em 1998 e na criação da especificação

técnica CEN/TS 1793-5 em 2003 para barreiras planas e corrugadas. O princípio do

método Adrienne é também aplicado para a medição in-situ da absorção sonora de

superfície de rodagens, normalizada pela norma ISO 13472-1:2002 [56].

O método Adrienne é inspirado nos trabalhos de WILMS e HEINZ [57],

GARAI [58] e MOMMERTZ [59]. Wilms e Heinz e Garai empregaram um sinal

pseudo-aleatório determinístico (MLS) no método da reflexão para obtenção da resposta

impulsiva de superfícies, que permite obter boa relação sinal/ruído, ideal para medições

in-situ. Utilizando ainda técnicas de seleção (janelamento) temporal, separa-se o

componente direto do refletido, além de reflexões espúrias, e com compensação de

propagação esférica, obtém-se o coeficiente de reflexão sonora de superfícies no

domínio da frequência pela transformada de Fourier. Já Mommertz incrementou a

técnica, removendo o componente direto pela técnica de subtração, obtido de uma

medição de referência em “campo livre”, longe da superfície em questão (Fig. 4.4).

80

Dessa forma, o limite de frequência inferior, imposto ao se aplicar janelas curtas para a

separação do sinal direto do refletido pela técnica original, pode ser reduzido,

possibilitando abranger frequências mais baixas. A subtração de sinais permite também

posicionar o microfone bem junto à amostra, onde componentes direto e refletido quase

se sobrepõem, o que é favorável para se reduzir efeitos de direcionalidade do alto-

falante em medições de incidência oblíqua com apenas um microfone.

Figura 4.4: Princípio do Método Adrienne: janelamento temporal e subtração de

componente direto de respostas impulsivas [18].

Para as medições deve-se utilizar um dispositivo composto por um alto-falante

sobre um tripé e conectado a um microfone à frente dele, através de uma estrutura rígida

para manter fixas suas posições relativas (Fig. 4.5.a) em 1,25 m (dSM). O dispositivo

ainda deve permitir que o alto-falante e o microfone possam girar juntos nos planos

vertical e horizontal, a fim de se obter em cada plano medições em 9 ângulos de

incidência de ±50° em passos de 10°, cujo conjunto de medições é chamado de rotação

de medição, sendo 90° referente à incidência normal (orientação normal), ver Fig. 4.5.b.

81

Esse dispositivo é colocado à frente da barreira sob teste e o mais afastado

possível de suas laterais (ou entre eventuais postes de união adjacentes), no lado

exposto ao ruído, de modo que a altura do centro do alto-falante ao piso (hS) seja de

metade da altura da barreira sob teste (hB), i.e., hS = hB/2 (Fig. 4.5.b). Além disso, deve

ser de 1,50 m o raio (dS) do círculo de referência, o círculo com centro no ponto de

rotação do alto-falante e que tangencia a parte mais protuberante da superfície. Dada a

distância fixa entre alto-falante e microfone (dSM), a distância do microfone (dM) a esse

círculo deve ser de 0,25 m (dM = dS – dSM). Obs.: Com o dispositivo apontado para

incidência normal, para barreiras verticais planas, dS e dM são as distâncias do alto-

falante e do microfone à própria superfície e, para superfícies corrugadas, as distâncias

ao ponto mais protuberante da corrugação (Fig. 4.5.b).

Figura 4.5: (a) Medição pelo método Adrienne; configurações de medição [49]

(b) junto à barreira e (c) de campo livre.

b) c)

a)

-50°

82

Para barreiras com superfície corrugada, deve-se ainda realizar medições com o

dispositivo posicionado em mais de uma posição à frente da barreira: sobre uma

protuberância, sobre um canto e sobre um rebaixo da corrugação. Para cada uma dessas

posições, realiza-se uma rotação de medição. Uma superfície é considerada corrugada

pela CEN/TS 1793-5:2003 caso a profundidade de corrugação b seja maior que 85 mm,

o que corresponde a ¼ do comprimento de onda da frequência 1000 Hz, cuja banda de

terça de oitava possui o maior nível do espectro de ruído de tráfego normalizado pela

EN 1793-3 [15].

Afastando ou simplesmente apontando o dispositivo de medição para longe da

barreira e de qualquer outro objeto refletor, realiza-se a medição de campo livre,

obtendo-se assim apenas o componente direto e as reflexões espúrias (Fig. 4.5.c). A

medição de campo livre deve ser realizada em local não muito longe da barreira, sob as

mesmas condições ambientais e dentro de um intervalo de tempo de não mais de 20

minutos da medição direcionada à barreira. Assim, garante-se que a componente direta

da resposta impulsiva de campo livre seja bem semelhante à da obtida com o dispositivo

direcionado à barreira, diminindo resquícios na subtração dessa componente.

Para se eliminar as reflexões espúrias das respostas impulsivas obtidas tanto da

medição de campo livre quanto da direcionada para a barreira, deve-se aplicar às

respostas uma seleção temporal, chamada de janela Adrienne, definida por uma função

no tempo w(t), devidamente defasada conforme o componente de interesse (Fig. 4.4 e

4.6). Considerando as distâncias entre alto-falante e microfone e o tamanho da barreira,

a janela deve ter uma duração total mínima de TW,Adr = 7,9 ms (Fig. 4.6). É composta

por um flanco, i.e., uma extremidade ou corte, anterior (FA) na forma de uma meia

janela esquerda de Blackman-Harris de 0,5 ms, seguida de uma porção plana de

5,18 ms, chamado de corpo principal (CP), onde w(t) = 1 e cujo início é chamado de

ponto de marcação (MP), e um flanco posterior (FP) na forma de uma meia janela

direita de Blackman-Harris de 2,22 ms (Fig. 4.6). Em casos excepcionais, como para

medições de amostras de maiores dimensões, pode-se aumentar o tamanho da janela

para se melhorar o limite inferior de frequência, porém mantendo a proporção entre a

duração do corpo principal e do flanco posterior de 7/3 [18]. A função janela é nula fora

do intervalo temporal definido, ou seja, w(t) = 0.

Para a seleção da parcela direta na medição de campo livre (medição de

referência), a janela Adrienne é defasada ou posicionada de modo que o ponto de

marcação MP comece 0,2 ms antes do primeiro pico do componente de interesse da

83

resposta impulsiva. Para a seleção do componente refletido da medição direcionada à

barreira (medição com barreira), após a subtração do componente direto, é identificado

o instante do ponto de marcação MP associado à medição de referência e defasado de

um intervalo igual a 2dM/c0. O novo ponto de marcação da janela Adrienne é então tido

como o instante resultante da defasagem, que teoricamente deve estar posicionado a

0,2 ms antes do primeiro pico de reflexão.

Figura 4.6: Função janela temporal Adrienne w(t): flanco anterior (FA), corpo principal

(CP) e flanco posterior (FP) [18].

O comprimento da janela Adrienne e o tamanho da barreira influenciam o limite

de frequência inferior de resultados confiáveis. Uma barreira muito pequena irá requerer

uma janela muito curta para eliminar os traços devido à difração nas bordas do objeto

no sinal medido e, consequentemente, aumentar o limite de frequência inferior.

Segundo a especificação CEN/TS 1793-5:2003, as barreiras inteiras ou elementos de

barreiras entre junções com outros elementos devem ter dimensões mínimas de 4 x 4 m²

(altura x largura). Para essas dimensões e janelamento temporal de 7,9 ms, como

recomendado pela CEN/TS 1793-5:2003, obtém-se um limite inferior de 173 Hz sob

incidência normal, i.e., as medições são válidas a partir da banda de terça de oitava de

200 Hz. Para se obter limites inferiores ainda menores (o projeto Adrienne objetivava

inicialmente um limite de 100 Hz), seria necessário alongar um pouco mais a janela

temporal, mas isso pode fazer com que a difração nas bordas e reflexões espúrias, como

as do piso, não sejam totalmente eliminadas do sinal medido junto à barreira.

Para tanto, as medições devem ser realizadas garantindo que nenhum objeto

estranho refletor ou que as bordas da barreira estejam localizados dentro de um círculo

FA CP FP

84

de raio ra suficiente, com centro no ponto de incidência da barreira. Esse círculo limita a

área ativa da superfície e seu raio é determinado pelas distâncias dS, dM e pela largura da

janela temporal TW, tal que para incidência normal é dado por

( ) WWMW

SW

MSWMS

a TcTcdTc

dTc

ddTcdd

r 0000

0

222

1 +

+

++++

= . (4.7)

Para os valores especificados na CEN/TS 1793-5:2003, obtém-se

ra = 1,96 m ≈ 2 m, daí serem recomendadas barreiras de dimensões mínimas de 4 x 4 m2

para as medições. Para limite inferior até 100 Hz, seria necessária uma barreira de no

mínimo 7 x 7 m2 [21], ou seja, uma barreira de altura muito maior do que a média.

Índice de reflexão (RI) e valor único de reflexão sonora (DLRI)

Realizadas as medições e processados os sinais obtidos, calcula-se o índice de

reflexão em terças de oitava, RIq, como a razão entre a média da energia sonora refletida

medida junto à barreira para cada posição angular e a energia sonora direta medida em

campo livre, através da expressão

( ) ( )[ ]

( ) ( )[ ]∑∫

=

∆=q

q

q

n

k

f

ii

f

rkr

qq

dftwthtF

dftwthtF

nRI

12

2

,

1, (4.8)

onde q é o índice de banda de terça de oitava correspondente entre 100 Hz a 5 kHz

(q = 1 a 18); nq é o número de ângulos da rotação de medição (nq = 1 ou 9), utilizados

para a realizar a média e que dependem da banda considerada, conforme tabela

apresentada na norma (para frequências entre 100 e 200 Hz, é considerada apenas a

incidência normal e para frequências acima de 500 Hz, são incluídos todos os 9

ângulos); hr,k(t) é a componente refletida da resposta impulsiva do k-ésimo ângulo (já

efetuada a subtração); hi(t) é o componente incidente (direto) da resposta impulsiva de

campo livre; wi(t) é a função da janela temporal Adrienne para o componente incidente

de campo livre; wr(t) é a função da janela temporal Adrienne para o componente

refletido; F é a transformada de Fourier; ∆fq é a largura da q-ésima banda; e t é o tempo

85

decorrido a partir do envio do sinal da fonte sonora, para se compensar a divergência

geométrica de cada componente, assumindo uma fonte pontual.

Por fim, calcula-se o valor único da reflexão sonora DLRI em dB, a partir dos

índices de reflexão em terça de oitava, RIq, ponderando-os com os níveis Lq das bandas

de terças do espectro de ruído de tráfego normalizado pela EN 1793-3 [15], a partir da

banda de terça de oitava de 200 Hz (i.e. q ≥ 4)

−=∑

=

=18

4

1,0

18

4

1,0

10

10.

log10

q

L

q

Lq

RIq

qRI

DL . (4.9)

Como, em princípio, 0 ≤ RI ≤ 1, obtém-se DLRI ≥ 0. Assim, seria possível

comparar o DLRI com o valor único de absorção em câmara reverberante DLa

(Eq. (4.4)), definido pela EN 1793-1, embora sejam obtidos por metodologias

totalmente diferentes, considerando campos incidentes distintos. Obs.: caso obtenha-se

valores implausíveis de RI > 1, como para barreiras corrugadas, serão obtidos DLRI < 0.

Técnica MLS: obtenção de respostas impulsivas e boa relação sinal-ruído

Para obtenção das respostas impulsivas e boa relação sinal-ruído, a CEN/TS

1793-5 recomenda aplicação de sinal de excitação MLS (Maximum Length Sequence).

Entretanto, o documento não restringe ao uso desse tipo de sinal, permitindo se utilizar

qualquer outro sinal determinístico, reprodutível, com o qual se obtenha uma resposta

impulsiva de campo livre de, no máximo, 3 ms de duração e com boa planicidade no

domínio da frequência, além de uma relação sinal-ruído de pelo menos 10 dB. Na época

da elaboração da referida especificação técnica, o sinal MLS estava em voga devido a

suas vantagens nesses quesitos. Atualmente, sabe-se que os sinais sweep apresentam

grandes vantagens em relação ao MLS, tais como melhor relação sinal-ruído e

eliminação de distorção harmônica de frequência, típicas de fontes sonoras [60].

A obtenção de respostas impulsivas com boa relação sinal-ruído a partir de um

sinal determinístico será ilustrada com a técnica MLS. Esse sinal é composto por

sequências binárias pseudo-aleatórias de pulsos, mapeadas por valores –1 e +1,

periódicas de comprimento dado por L = 2N – 1, onde N é a ordem do MLS, um número

inteiro. O sinal MLS tem a propriedade de que sua auto-correlação (Φs,s) resulta

aproximadamente num impulso (δn) e a correlação cruzada (Φs,n) com um sinal que não

86

tem a estrutura de um MLS, como um ruído qualquer, fornece valores muito pequenos,

podendo ser desprezíveis. Para tanto, N precisa ser grande o suficiente, de modo que o

comprimento L da sequência seja suficientemente longo para que a auto-correlação do

MLS forneça aproximadamente um impulso [34]. Normalmente utiliza-se N = 15 ou 16,

resultando em L = 32.767 e 65.535 pontos respectivamente.

Seja então s(t) o sinal MLS gerado pela fonte sonora, composto pela sequência

binária pseudo-aleatória sn = –1, –1, +1, –1, +1,..,+1. O sinal medido pelo microfone

pm(t), amostrado à taxa ∆t dos pulsos da sequência MLS, é dado pela convolução

(representada aqui pelo sinal “*”) do sinal de excitação s(t) pela resposta impulsiva h(t)

do sistema do qual se deseja determinar as propriedades – nesse caso, o sistema da

medição com a barreira ou da medição de campo livre – além do ruído de fundo hn(t)

( ) )()()( tnhtnhtnstnp nm ∆+∆∗∆=∆ . (4.10)

Correlacionar o sinal do microfone, amostrado à taxa ∆t, pm(n∆t), com o sinal

MLS gerado pela fonte, amostrado à mesma taxa, s(n∆t), equivale a fazer convolução

com o mesmo sinal invertido no tempo, i.e., s(–n∆t). O resultado é a autocorrelação do

sinal MLS (Φs,s) e a correlação cruzada do MLS com o ruído de fundo (Φs,n). Assim,

das propriedades referentes à autocorrelação (Φs,s ≈ δn) e à correlação cruzada (Φs,n ≈ 0)

do MLS, a correlação Φs,m entre o sinal medido e o gerado resulta aproximadamente na

resposta impulsiva do sistema à taxa ∆t do MLS, h(n∆t), livre de ruído de fundo:

( ) ( )[ ]).()()(

;)()()()(

,,,

,

tnhtnhtnh

tnhtnhtnstnstnptns

nnsssms

nmms

∆≈∆∗≈Φ+∆∗Φ=Φ∆+∆∗∆∗∆−=∆∗∆−=Φ

δ (4.11)

Entretanto, para a obtenção da resposta impulsiva, é necessário que o sinal do

alto-falante e o captado pelo microfone sejam bem correlacionados para que sua

autocorrelação resulte aproximadamente num impulso. Isso é conseguido quando as

posições do alto-falante, do microfone e da barreira estão próximas uma da outra, para

que o som medido não seja degradado por grandes variações nas condições ambientais

como vento e gradientes de temperatura, durante a propagação do som. Assim, as

medições in-situ pressupõem certos limites nas condições ambientais para serem

executadas com sucesso. Para se melhorar ainda mais a relação sinal-ruído, pode-se

realizar diversas repetições de medições, efetuando-se médias de seus resultados [18].

87

Aplicabilidade e limitações do método Adrienne

Em comparação com os demais métodos normalizados (câmara anecóica e tubo

de impedância), o método Adrienne mostrou boa correspondência de resultados dentro

de condições semelhantes, com a vantagem de ser o único a representar situações de

barreiras instaladas em campo. No desenvolvimento do método, resultados obtidos para

o coeficiente de absorção de amostra plana absorvedora (lã de rocha) apenas para

incidência normal (α90) foram comparados com os do método de tubo de impedância,

conforme a ISO 17534-1, obtendo-se boa semelhança, exceto para frequências abaixo

de 200 Hz [17], que foi estabelecida como o limite inferior de frequência para a

configuração proposta, conforme a janela Adrienne e o tamanho da amostra.

GARAI e GUIDORZI [61] confrontaram resultados do valor único de reflexão

sonora pelo método Adrienne (DLRI) com resultados do valor único de absorção sonora

em câmara reverberante (DLα), realizados conforme a ISO 354 e a EN 1793-1, para

diversos tipos de barreiras (de concreto, metálicas, de madeira e compostas). Foram

verificadas grandes diferenças quantitativas entre os resultados, chegando a casos

extremos de até 15 dB (os resultados da câmara reverberante são geralmente maiores),

porém como os resultados obtidos dos dois parâmetros seguem uma mesma tendência,

eles podem ser razoavelmente relacionados entre si com um certo grau de correlação.

As diferenças são atribuídas principalmente aos campos incidentes distintos utilizados

nas medições por ambos os métodos.

Por outro lado, há diversos quesitos deficientes no método Adrienne. Como, por

exemplo, pode-se citar o fato de que a janela temporal pode incluir a reflexão no piso

para a medição de –50°, com o dispositivo apontado mais para baixo da barreira [21].

TRONCHIN et al. [62] mostraram que, ao se considerar essa disposição, a barreira

deveria ter uma altura mínima de 5,35 m para excluir totalmente o efeito do piso. Além

disso, para barreiras corrugadas, o tamanho da janela Adrienne poderia ser insuficiente

para contabilizar toda a energia refletida espalhada pela barreira que chega atrasada ao

microfone. Para corrigir esse aspecto, poderia ser necessária uma janela temporal mais

longa, o que, porém, pode fazer com que reflexões no piso sejam incluídas dentro da

mesma. Alternativamente, poder-se-ia multiplicar o RI para cada ângulo de incidência

(Eq. (4.8)) por um fator de correção associado, dado pela razão entre a energia refletida

total da barreira e a energia refletida dentro da janela Adrienne. Como na maioria dos

casos não se sabe a priori a energia refletida total da barreira, tal correção é

impraticável.

88

Ainda assim, o método Adrienne geralmente apresenta resultados plausíveis

para barreiras planas. Mas para barreiras corrugadas altamente refletoras, são

verificados resultados inconsistentes, obtendo-se RI > 1 [17], o que significaria que a

barreira reflete mais energia do que sobre ela incide (Fig. 4.7). Esses resultados são

referentes a médias em diversos ângulos de incidência, ou seja, não se tratam de

medições em direções ou posições desfavoráveis e foram inclusive confirmados em

simulações computacionais no decorrer do desenvolvimento do método, portanto

tampouco se trata de erros de medições. Como já mencionado no Capítulo 1, tais

resultados são decorrentes, sobretudo, de efeitos de focalização em campo próximo à

barreira corrugada, onde as medições pelo método são realizadas, devido ao emprego da

técnica de MLS para obtenção de boa relação sinal-ruído e à necessidade de suficiente

atraso de fase de reflexões espúrias, para sua exclusão por janelamento.

Figura 4.7: RI pelo método Adrienne para barreiras corrugadas [17].

Devido aos problemas de focalização em campo próximo de barreiras

corrugadas, a medição das propriedades acústicas de barreiras poderia ser feita

preferencialmente em campo afastado, onde tais efeitos são desprezíveis. Como

mencionado no Capítulo 2, sabe-se que a partir de certa distância da barreira a

direcionalidade do campo sonoro torna-se constante, dependente das dimensões e do

perfil da superfície, como analisado no Capítulo 3.

89

Com o propósito de caracterizar a refletividade de barreiras no campo afastado,

foram empreendidas medições por SCHUPP et al. [21], aplicando sinal MLS e método

de impulso-eco, a 10, 15 e 25 m de uma barreira plana com 11 m de altura, a distâncias

ao piso de 4 até 8 m (Fig. 4.8.a). O alto-falante foi colocado diretamente sobre o piso

(para se obter direcionalidade semelhante à de ruído proveniente de rolamento de pneu)

sobre uma cobertura absorvedora (para evitar reflexão no piso) e a 5 m da barreira.

Como microfone e alto-falante podem estar distantes de até 20 m entre si, não puderam

ser fixos um ao outro, como no método Adrienne, e optou-se por não usar a técnica da

subtração, senão apenas janelamento temporal das componentes direta e refletida (isso é

relativamente fácil de conseguir, uma vez que elas estão bem separadas entre si). Para a

obtenção do coeficiente de reflexão R, realizou-se também uma medição de campo livre

com o alto-falante apontado ao microfone e girado contra a barreira. Os resultados,

entretanto, foram muito prejudicados pela falta de coerência entre o sinal refletido e o

incidente, apresentando muita variação nas medições sob as mesmas condições e R > 1

até mesmo para a barreira plana (Figs. 4.8.b e 4.8.c). Dessa forma, essa tentativa de

realização de medições em campo afastado tampouco apresentou resultados plausíveis.

Figura 4.8: Medições em campo afastado de barreiras acústicas: a) disposição de

medição e coeficiente de reflexão medido a 10, 15 e 25 m da barreira, b) a 4 m e

c) a 8 m de altura do piso: R > 1 [21].

a)

c)

b)

90

4.3.2. Método Quiesst

Ao longo de cerca de 10 anos de experiência europeia com o método Adrienne,

descrito na especificação técnica CEN/TS 1793-5:2003 [18], foram verificadas diversas

limitações para a avaliação da refletividade de barreiras acústicas, não só para as

corrugadas, como já mencionado, mas também para as planas. Essas limitações estão

relacionadas à subtração do sinal incidente, à direcionalidade da fonte, às reflexões no

piso e ao limite inferior de frequência. Além disso, o método fornece valores de

medições em campo próximo, quando na prática dever-se-ia avaliar a refletividade de

barreiras no campo afastado, no local de imissão. Para barreiras corrugadas, essa

necessidade de medição em campo afastado é ainda maior, dados os valores insensatos

de índice de reflexão obtidos, devido aos efeitos de campo próximo. Talvez devido a

esses problemas, o método Adrienne tem sido aplicado, sobretudo para fins

investigativos e não para o uso prático rotineiro, sendo ainda muito utilizado o método

de câmara reverberante conforme a EN 1793-1 [14] para a avaliação da refletividade de

barreiras antes da instalação.

Dentro desse cenário, em 2009 a Comissão Europeia lançou uma investigação

[22] no escopo do 7º Programa de Estrutura de Trabalho (FP7/2007-2013) com o intuito

de se obter um melhor entendimento sobre o desempenho efetivo de dispositivos de

redução de ruído (NRD’s) situados junto a rodovias e ferrovias, sob o nome de Quiesst

(Quietening the Environment for a Sustainable Surface Transport). Assim, além de se

almejar sanar os déficits do método Adrienne para medições em campo próximo,

objetivou-se também obter uma relação entre resultados da eficiência de barreiras

acústicas em campo próximo e afastado.

Dessa investigação, entre 2009 e 2012, na qual participou um consórcio de

laboratórios e instituições europeias, assim como seu antecessor, surgiu o método

Quiesst para a caracterização da refletividade e do isolamento acústico de NRD’s, que

está atualmente servindo para a reformulação da CEN/TS 1793-5:2003 a fim de

estabelecê-la de fato como uma norma europeia. O método Quiesst inclui não só uma

versão mais sofisticada do método Adrienne, com medições in-situ junto à barreira, mas

também um método de engenharia para a estimativa de valores em campo afastado,

baseado em simulações numéricas, a partir da extrapolação de resultados das medições

de campo próximo.

91

Método Quiesst de campo próximo

O método de medição em campo próximo [63],[64] baseia-se também no

método da reflexão, com aplicação de sinal determinístico, tal como MLS ou sweeps,

para a obtenção de respostas impulsivas e boa imunidade de ruído de fundo. Mantém o

uso da técnica da subtração de componente incidente, a partir de medições de referência

de campo livre, e de janelamento temporal, tal como o método Adrienne. Porém, foram

aplicadas sofisticações para obter resultados mais práticos e robustos.

Uma diferença básica com seu antecessor é o uso de multicanais de medição ao

invés de rotação e medições em diversos ângulos de incidência com apenas 1

microfone. Assim, utilizam-se 9 microfones dispostos num mesmo plano paralelo à

frente do alto-falante, numa malha quadrada de 3 x 3 microfones, separados por um

espaçamento s = 0,40 m, i.e., uma malha de 0,80 x 0,80 m (Fig. 4.9). Outra diferença é

que alto-falante e microfones não são mais conectados fixamente entre si, porém

desacoplados, sendo suportados por tripés distintos.

Figura 4.9: Malha de microfones do método Quiesst [63].

Para a medição, o alto-falante permanece sempre apontado na direção normal ao

plano da malha de microfones, com o microfone central (mic. 5) alinhado com o eixo do

alto-falante (Fig. 4.10). Para medições de incidência oblíqua, pode-se deslocar a malha

de medição para as laterais, tanto para a direita quanto para a esquerda em 1,20 m de

distância (ou seja, em 3s), mantendo fixa a posição e a orientação do alto-falante. Nesse

caso, para cada uma dessas posições da malha de microfone, deve-se realizar uma

medição de campo livre na mesma configuração, para se efetuar a subtração da

respectiva componente incidente. Caso a superfície seja corrugada (com profundidade

92

de corrugação b ≥ 85 mm), deve-se posicionar o alto falante e a malha de medição

alinhados em frente a uma protuberância, a um canto e a um rebaixo da corrugação, tal

como o dispositivo de medição utilizado no método Adrienne.

O método pressupõe também que as barreiras devem ter dimensões mínimas de

4 x 4 m² para superfícies planas. No caso de barreiras corrugadas periódicas, a partir das

dimensões mínimas de 4 x 4 m², se a corrugação for na direção vertical, e de 6 x 6 m²,

se for na direção horizontal, acrescenta-se na referida direção a dimensão de pelo menos

1 período de corrugação. Não se obteve conhecimento no presente trabalho da razão

dessa modificação e requerimento.

O método considera um plano de referência, de forma semelhante ao círculo de

referência do método Adrienne, tomado como o plano (não necessariamente vertical)

que tangencia a parte mais protuberante da barreira (Fig. 4.10). As distâncias do alto-

falante e do microfone central da malha de medição ao plano de referência continuam

sendo, respectivamente, dS = 1,50 m e dM = 0,25 m, ou seja uma distância entre alto-

falante e microfone central dSM de 1,25 m. As alturas do alto-falante e do microfone

central ao piso permanecem iguais à metade da altura da barreira a ser medida

(hS = hM = hB/2).

Figura 4.10: Medição e distâncias de medição pelo método Quiesst apontada à barreira

[63]: a) foto de montagem in-loco e b) esquema da montagem com distâncias

empregadas.

a) b)

93

No cálculo do índice de reflexão, foram adicionadas algumas correções, que

serão detalhadas na próxima seção. Assim, obtém-se o índice de reflexão em terças de

oitava (RIq), através da média entre as razões entre a energia refletida e a incidente em

cada microfone, multiplicada por fatores de correção

( ) ( )[ ]

( ) ( )[ ]( ) ( )∑

=

∆∆=q

q

q

n

kgkganqkdirkgeo

f

kiki

f

krkr

qq fCfCC

dftwthF

dftwthF

nRI

1,,,2

,,

2

,,

1, (4.12)

onde q é o índice de banda de terça de oitava correspondente entre 100 Hz a 5 kHz

(q = 1 a 18); nq é o número total de posições de medição (6 ≤ nq ≤ 9) utilizados para a

realizar a média e que dependem da banda considerada; hi,k(t) é o componente incidente

(direto) da resposta impulsiva da medição de campo livre de referência na k-ésima

posição (microfone); hr,k(t) é a componente refletida da resposta impulsiva obtida da

medição junto à barreira na k-ésima posição (já efetuada a subtração); wi,k(t) é a função

da janela temporal Adrienne para o componente incidente da medição de campo livre de

referência na k-ésima posição; wr,k(t) é a função da janela temporal Adrienne para o

componente refletido da medição junto à barreira na k-ésima posição; F é a

transformada de Fourier; ∆fq é a largura da q-ésima banda; t é o tempo decorrido a partir

do envio do impulso da fonte sonora; Cgeo,k é a correção de propagação geométrica para

o k-ésimo microfone; Cdir,k(∆fq) é a correção de direcionalidade para o k-ésimo

microfone; e Cgan,k(∆fq) é a correção de eventuais ganhos de sinais entre a medição de

referência e a medição à barreira para o k-ésimo microfone.

Calcula-se também o valor único de reflexão sonora DLRI, em dB, da barreira

sob teste, a partir dos índices de reflexão determinados em terça de oitava (RIq),

ponderando-os com os níveis Lq do espectro de ruído de tráfego normalizado pela

EN 1793-1, de forma semelhante ao método Adrienne (Eq. (4.9)).

O método Quiesst apresentou boa reprodutibilidade e repetibilidade em

medições interlaboratoriais [65]. Fornece valores correlacionados com os de câmara

reverberante e compatíveis com os de seu antecessor principalmente em médias

frequências, porém muito mais confiáveis em baixas e em altas frequências, devido às

melhorias e correções adotadas [66]. Entretanto, para barreiras corrugadas, ainda podem

ser encontrados valores inconsistentes (RI > 1) [20], visto que se trata de um método de

94

campo próximo. A confiabilidade real do método Quiesst para a medição in-situ da

reflexão sonora em campo próximo à superfície de barreiras acústicas planas ou

corrugadas será comprovada com sua aplicação prática no decorrer de seu uso.

Avanços introduzidos para o cálculo do RI

Para o cálculo do RI pelo método Adrienne, a divergência geométrica dos sinais

medidos era compensada pela simples multiplicação das respostas impulsivas pelo

tempo decorrido t (Eq. (4.8)). Isto representa a correção de propagação esférica sob a

hipótese de fonte pontual [64]. Entretanto, como o alto-falante pode não se comportar

como uma fonte pontual, exibindo direcionalidade, no método Quiesst é feita uma

correção de direcionalidade, que será vista a seguir. Já a correção geométrica Cgeo,k é

dada fora da transformada de Fourier pelo quadrado da razão entre as distâncias

percorridas pela onda refletida especularmente e pela onda incidente da fonte ao k-

ésimo microfone, tal que

2

,

,,

=

ki

krkgeo d

dC , (4.13)

onde di,k é a distância da parte frontal do alto-falante ao k-ésimo microfone e dr,k é a

distância da parte frontal do alto-falante ao plano de referência e de volta ao k-ésimo

microfone, seguindo a reflexão especular. Note-se que para superfícies corrugadas

dever-se-ia considerar outros caminhos percorridos pela onda refletida, porém como

estes são difíceis de serem previstos, não são considerados por esta correção.

Já a correção de direcionalidade da fonte sonora Cdir,k(∆fq) visa corrigir o desvio

de resultados de reflexão sonora para diferentes alto-falantes, em função da sua resposta

polar [66]. Considerando uma superfície plana, o som refletido que atinge um

microfone junto à barreira, pode ser proveniente de uma direção de incidência sobre a

superfície diferente da componente diretamente incidente sobre o microfone (Fig. 4.11).

Essas direções podem exibir intensidades diferentes, conforme a direcionalidade da

fonte. Para a correção de direcionalidade, utiliza-se então uma medição prévia in-situ

“de campo livre especular” com a malha de microfones a uma distância de 1,75 m da

fonte (ou seja, deslocada de 0,50 m = 2 dM além da distância utilizada nas medições

junto à barreira e de campo livre de referência), para se medir o som direto que chega

95

aos microfones na direção de reflexão especular. Assim, está se considerando o ângulo e

a distância percorrida pelas ondas sonoras refletidas, como reflexão especular de

superfícies planas. Deve-se notar, entretanto, que esse modelo não contabiliza a reflexão

espalhada que ocorre para superfícies corrugadas. O fator de correção de

direcionalidade Cdir,k é dado então pela razão entre as energias sonoras da componente

incidente da medição de campo livre de referência e da componente incidente da

medição de campo livre especular

( )( ) ( )[ ]

( ) ( )[ ]∫

∆=∆

q

q

f

kikki

f

kikki

qkdirdftwthF

dftwthF

fC2

,,

2

,,

,,

,

β

θ

, (4.14)

onde θk é o ângulo entre a linha que conecta o alto-falante ao microfone 5 (central) e a

linha que conecta o alto-falante ao k-ésimo microfone na medição de campo livre de

referência; βk é o ângulo entre a linha que conecta o alto-falante ao microfone 5 (central)

e a linha que conecta o alto-falante ao k-ésimo microfone na medição de campo livre

especular; hi,k(t,θk) é a componente incidente da resposta impulsiva de campo livre de

referência na k-ésima posição, referente ao ângulo θk; hi,k(t,βk) é a componente incidente

da resposta impulsiva de campo livre especular na k-ésima posição, referente ao ângulo

βk.

Figura 4.11: Ângulos de medição de campo livre de referência e de campo livre

especular para a determinação da correção de direcionalidade Cdir,k [66].

96

Por fim, a correção de ganho Cgan,k é um fator usado para compensar eventuais

diferenças de ganho de amplificação de sinais entre a medição junto à barreira e a de

campo livre. Ela pode ser usada também como um critério para revelar uma eventual

mudança indesejável na distância relativa entre a fonte sonora e a malha de microfones.

É definida como a razão entre a amplitude dos espectros do componente incidente

(direto) da medição junto à barreira, obtido por janelamento, e do componente direto de

campo livre

( )( ) ( )[ ]

( ) ( )[ ]∫

∆=∆

q

q

f

kiFki

f

kiDki

qkgaindftwthF

dftwthF

fC2

,,,

2

,,,

, , (4.15)

onde hi,k,D(t) é o componente incidente (direto) da resposta impulsiva da medição junto à

barreira de teste na k-ésima posição, obtida por janelamento, e hi,k,F(t) é o componente

incidente da resposta impulsiva de referência (campo livre) na k-ésima posição. Como o

janelamento pode afetar os resultados de baixas e altas frequências, os valores de Cgan,k

devem ser calculados para bandas de frequência ∆fq entre 500 Hz e 2 kHz, i.e., q = 8 a

14. Se Cgan,k diferir menos de 5% da unidade, ele pode ser considerado como igual a 1.

Se Cgan,k diferir entre 5% a 20% da unidade, seu valor deve ser mantido conforme

calculado pela Eq. (4.15). Se Cgan,k diferir em mais de 20% da unidade em pelo menos

uma banda de terça de oitava, então isso pode ser considerado um alerta de que as

configurações do sistema de medição mudaram substancialmente entre a medição de

campo livre e a medição junto à barreira e é recomendável verificar os dados.

Devido ao desacoplamento entre fonte sonora e microfones, foi elaborado um

algoritmo para otimizar a subtração do componente incidente (direto) da medição junto

à barreira. Dessa forma, a resposta impulsiva da medição de campo livre hi,k(t) é

deslocada num pequeno intervalo de tempo ∆τ consideravelmente menor do que o

intervalo ∆t = tj+1 – tj entre os pontos discretos tj do sinal (normalmente ∆τ ≈∆t/50).

Obtém-se a resposta defasada hi,k(tj + ∆τ) e são efetuadas as diferenças entre cada uma

das 9 respostas impulsivas da medição junto à barreira hr,k(t). Obtém-se a seguir as

somas dos quadrados de cada diferença, ou seja, ∑j(hi,k(tj + ∆τ) – hr,k(tj))2. O

procedimento é repetido n vezes ao se defasar a resposta impulsiva de campo livre no

intervalo de tempo ∆τ até se encontrar o mínimo dos quadrados das diferenças. Por fim,

97

desloca-se a resposta impulsiva de campo livre no passo temporal de n∆τ, ou seja,

hi,k(tj + n∆τ), e sua amplitude é ajustada de tal forma que seu primeiro e principal pico

seja exatamente igual ao primeiro pico incidente da resposta impulsiva da medição

junto à barreira, efetuando-se então a subtração das duas respostas impulsivas, i.e., dos

componentes incidentes. Com esse procedimento, além de se obter um resquício

insignificante antes do pico referente à reflexão na resposta impulsiva junto à barreira,

os desalinhamentos inevitáveis das respostas impulsivas medidas junto à barreira e em

campo livre com o mesmo microfone podem ser compensados desde que o erro no

posicionamento da malha de medição nas duas medições seja menor que 5 cm [67].

Além dessas sofisticações, outro avanço no método Quiesst em comparação ao

Adrienne é a possibilidade de se obter resultados válidos até 100 Hz para barreiras de

dimensões mínimas de 4 m. Isto é conseguido alterando o comprimento da janela

Adrienne e o número de canais da malha de microfones, conforme a faixa de frequência

desejada para o cálculo do índice de reflexão RI. Assim, para as bandas de frequência de

100, 125 e 160 Hz, é utilizada uma janela de comprimento total de 7,9 ms e são

consideradas apenas as 6 posições superiores (nq = 6). Já para as bandas acima de

200 Hz, é aplicada uma janela de comprimento total de 6 ms e são incluídos todas as 9

posições (nq = 9). Para as distâncias predeterminadas dS, dM e hS, essas especificações

garantem que as reflexões do piso sejam excluídas da janela de análise quando aplicada

à resposta impulsiva da medição junto à barreira.

Método Quiesst para estimativa da reflexão em campo afastado

A investigação Quiesst objetivou também formular um método de avaliação da

refletividade de barreiras acústicas em campo afastado, no local de imissão. Entretanto,

medições em campo afastado são difíceis de realizar devido à contaminação dos sinais a

serem medidos por reflexões espúrias, além da dificuldade de se eliminar o ruído de

fundo. Devido a tais dificuldades, medições realizadas por WEHR et al. [68] em campo

afastado ao longo da investigação (com duas técnicas distintas: pela medição da

resposta impulsiva obtida a partir de um sinal MLS e pela medição do nível de pressão

sonora de sinal de ruído rosa estacionário) tampouco resultaram em valores conclusivos,

com muita discrepância e inconsistência nos resultados.

Paralelamente, foi desenvolvido um método de engenharia para estimativa de

valores de campo afastado, baseado num banco de dados de simulações numéricas 2D

do campo refletido próximo e afastado de barreiras acústicas com o método de

98

elementos de contorno [69],[70]. Foram considerados diversos tipos de barreiras (planas

verticais, inclinadas e corrugadas) de diferentes materiais (totalizando 1196 variantes),

de modo a representar a diversidade de produtos presentes no mercado europeu. Nas

simulações, a fonte sonora foi posicionada diretamente sobre o piso a 5 m à frente de

barreiras de 4 m de altura. Desse banco de dados, foram formulados algoritmos de

extrapolação, a partir de valores de campo próximo, de propriedades do material e do

tipo da barreira, para obtenção de valores de campo afastado. Assim, a transferência dos

resultados de uma região do campo para outra é realizada, através de polinômios

desenvolvidos para cada tipo de barreira e material da superfície.

Do método resultam valores únicos de reflexão sonora de campo afastado

DLRI,ff, em dB, da barreira sob teste para 5 alturas de imissão diferentes (1,5 m, 5 m,

10 m, 20 m e 40 m) a 100 m da barreira, calculados conforme a Eq. (4.9), porém a partir

dos valores de índice de reflexão em campo afastado RIff, definido como a razão entre a

energia refletida pela barreira em questão em campo afastado e a energia refletida por

uma barreira de referência plana, vertical e rígida de 4 m de altura, em campo afastado,

também simulada. O resultado final são dois valores únicos de reflexão sonora de

campo afastado da barreira sob teste: o valor único de reflexão de campo afastado para

construções baixas DLRI,ff,LR, que é a média dos DLRI,ff para as 3 alturas mais baixas, e o

valor único de reflexão de campo afastado para construções altas DLRI,ff,HR, a média dos

DLRI,ff para as 2 alturas mais altas (Fig. 4.12).

Figura 4.12: Posições de receptores e da fonte sonora para estimativa da refletividade

de barreiras em campo afastado [70].

99

O método funciona da seguinte forma: os valores em terças de oitavas das

medições com o método Quiesst no campo próximo da barreira sob teste são

comparados com valores simulados de campo próximo do banco de dados, referentes

aos tipos de barreiras (de diversos materiais) com a geometria que mais se aproxima

daquela da barreira sob teste. Dessa comparação, é escolhida a variante de barreira que

apresente a menor diferença entre os valores simulados e medidos e obtém-se um valor

único de reflexão de campo próximo ajustado DLRI,fitted, baseado apenas nos valores

simulados até 1 kHz. As propriedades do material da barreira escolhida são então

estimadas a partir dos valores simulados do banco de dados da variante escolhida. Dessa

estimativa das propriedades do material e com os parâmetros geométricos da barreira

testada, os valores únicos de campo afastado DLRI,ff (para as 5 alturas, agrupando-os em

valores de construções baixas e de construções altas) são calculados, através dos

polinômios de extrapolação, previamente formulados para cada variante de barreira.

O método de engenharia foi testado, colocando como entrada valores de

medições interlaboratoriais pelo método Quiesst no campo próximo com 16 variações

de barreiras de diversos tipos e materiais. Assim, foi estimada uma incerteza de

aproximadamente 1,4 dB para os valores únicos de campo afastado extrapolados pelo

método para a maioria das barreiras testadas (exceto para uma variante altamente

absorvedora, para qual a incerteza foi de até 3 dB). Foi constatado que os valores únicos

de campo afastado DLRI,ff nem sempre seguem os valores únicos de campo próximo

DLRI,nf das medições, podendo apresentar grandes diferenças. Para barreiras corrugadas

refletoras, por exemplo, enquanto os valores de campo próximo apresentam valores

negativos (DLRI,nf < 0), que seriam inconsistentes (RI > 1), os valores de campo afastado

apresentam valores positivos (DLRI,ff > 0), que são plausíveis indicando uma absorção

aparente, devido ao espalhamento.

4.4. MÉTODO DA FUNÇÃO DE TRANSFERÊNCIA ENTRE MICROFONES

EM CAMPO ABERTO

4.4.1. Método de Dois Microfones

Este método [71],[72] baseia-se no mesmo princípio de medição do método de

tubo de impedância com dois microfones, para ser realizado em campo aberto sob

incidência oblíqua sem utilização de tubo ou guia de onda. A medição pode ser feita em

campo (semi-) livre, como numa câmara anecóica ou semi-anecóica, ou até mesmo

100

numa sala bem grande, conquanto que janelamento temporal seja usado para remover

reflexões indesejáveis de outras superfícies. Sua aplicação in-situ é relatada em [73].

Considere uma amostra plana sobre a qual incidem ondas sonoras irradiadas por

um alto-falante a uma distância r0 (Fig. 4.13), de modo que as ondas possam ser

consideradas planas quando atingem a superfície. Além disso, para uma amostra grande,

pode ser assumido que as ondas refletidas pela superfície também são planas.

Entretanto, devido ao tamanho finito da amostra, a difração nos cantos implica que para

baixas frequências, isso já não será verdade. Uma estimativa grosseira do limite de

baixa frequência é quando meio comprimento de onda equivale à menor dimensão da

amostra B; assim, deve-se garantir que os comprimentos de onda sejam λ ≤ 2B [37].

Uma alternativa quando não se dispõe de amostras grandes o suficiente é posicionar a

fonte sonora próxima à superfície, de modo a tornar o efeito de difração nos cantos

menos importantes para medições no meio da amostra. Nesse caso, é necessário

considerar ondas esféricas ao invés de planas na formulação das equações para a

determinação das propriedades refletoras da amostra.

Figura 4.13: Método de função de transferência de dois microfones em campo aberto.

São utilizados dois microfones M1 e M2, como uma sonda p-p, ou,

alternativamente, apenas um microfone em posições distintas sobre o centro da

superfície da amostra (Fig. 4.13). Tipicamente, as posições situam-se a poucos

centímetros de sua superfície, separadas por um espaçamento de também alguns

centímetros que pode variar conforme a faixa de frequência desejada, usando os

critérios de limites de baixa e de alta frequência semelhantes aos do método de tubo de

impedância de dois microfones. Os microfones devem ser pequenos o suficiente para

não causar grandes perturbações no campo junto à amostra. Microfones de ¼” são

101

adequados para tal. Embora seja possível utilizar dois microfones, o uso de apenas um

deslocando-se entre as duas posições é preferível, para se perturbar o campo o mínimo

possível durante a medição. Nesse caso, um sinal determinístico, tal como um MLS ou

um sweep é requerido.

Considerando ondas planas e apenas reflexão especular, as equações para a

medição da função de transferência no tubo de impedância podem ser aplicadas

diretamente para o campo aberto. Sob incidência oblíqua de ângulo φ, tem-se então a

seguinte equação para a função de transferência entre os dois microfones H12(f)

)sincos()sincos(

)sincos()sincos(

1

212 110110

220220

)(

)(

)()(

)(ii

i

ii

ii

i

ii

zxjkzxjk

zxjkzxjk

efRe

efRe

fp

fpfH ϕϕ

ϕϕϕ

ϕϕϕ

ϕϕ

+−−−

+−−−

++

== . (4.16)

Se as medições são realizadas na mesma linha perpendicular à superfície, como

é de costume para se alinhar ambos os microfones ao centro da amostra a fim de se

afastar o máximo possível dos cantos, tem-se x1 = x2. Obtém-se, então, a equação

simplificada para a função de transferência entre os microfones

i

i

i

i

i

i

zjkzjk

zjkzjk

efRe

efRe

fp

fpfH ϕ

ϕϕ

ϕϕ

ϕ

sinsin

sinsin

1

212 1010

2020

)(

)(

)()(

)( −

++

== . (4.17)

Por simples manipulação algébrica da Eq. (4.17), o coeficiente de reflexão

sonora especular sob o ângulo φi, Rφi(f), é dado então por:

.)(

)()(

;)(

)()(

sin2

12sin

sin12

sin12

sin

sinsin12

10

0

0

1020

2010

i

i

ii

ii

i

zkj

zjk

zjk

zjkzjk

zjkzjk

efHe

efHfR

efHe

eefHfR

ϕϕ

ϕ

ϕ

ϕϕ

ϕϕ

ϕ

−−

=

−−

=

∆−

−−

(4.18)

A impedância de superfície e a absorção sonora sob o ângulo φi podem ser

calculadas a partir daí como:

)(1)(;)(1

)(1

sin00 fRf

fR

fRcz

ii

i

i

is ϕϕ

ϕ

ϕ αϕ

ρ −=−+

= . (4.19)

102

LI et al. [72] e MASSARANI e ARAÚJO [74] apresentaram a formulação para

coeficiente de reflexão, considerando o decaimento geométrico da amplitude de pressão

sonora, a partir da hipótese de ondas esféricas. Sejam ∆r a diferença de percurso entre

as ondas incidentes da fonte sonora aos microfones M1 e M2 e ∆r’ a diferença de

percurso entre as ondas refletidas que chegam aos microfones. Considere ainda que os

microfones estão alinhados na vertical à superfície sobre o centro da amostra, separados

por um espaçamento s, sendo l a distância do microfone M1 à superfície (z1 = l).

Considerando φi o ângulo de incidência sonora sobre o centro da amostra e que a fonte

sonora está bem distante, as diferenças de percurso se aproximam de

∆r = –∆r’ ≈ ±s sinφi. As correções de propagação geométrica entre as ondas incidentes e

refletidas são dadas por r1/r2 e r1’ /r2’ . Já a diferença de percurso entre a onda incidente e

a refletida no microfone M1 é aproximadamente r1 – r1’ ≈ –2l sinφi e a correção

geométrica entre as amplitudes dessas ondas é r1’ / r1. Portanto, o coeficiente de reflexão

é expresso por

i

i

i

i

ljk

sjk

sjk

er

r

fHer

r

er

rfH

fR ϕ

ϕ

ϕ

ϕsin2

1

1

12sin

2

1

sin

2

112

0

0

0

'

)(''

)(

)( −

−= . (4.20)

LI et al. [72] mediram o coeficiente de reflexão de amostras de lã de vidro de

1,2 x 1,2 m2 com o método de dois microfones através da formulação de ondas planas e

ondas esféricas em câmaras anecóica e não-anecóica. As distâncias de alto-falante ao

centro da amostra r0 foram de 31 cm, 56 cm e 71 cm. O microfone mais próximo estava

a 2 cm da superfície. A distância entre os microfones s foi variada, conforme a faixa de

frequência a ser determinada: 10 cm para 300 a 600 Hz, 5 cm para 600 a 1200 Hz, 1 cm

para 1200 a 5800 Hz e 0,5 cm para 5800 a 14000 Hz. Mostra-se que a formulação cujo

coeficiente de reflexão apresenta maiores diferenças com valores teoricamente

calculados é a de onda plana, especialmente para baixas frequências (f < 1000 Hz) e

menores valores de distância entre alto-falante e amostra (r0 = 31 cm).

Uma vantagem do método de dois microfones é que se dispensam medições de

campo livre de referência para a subtração de componente incidente do refletido na

medição junto à superfície, o que sempre envolve erros nos posicionamento de

microfone e do alto-falante nas medições com métodos de impulso-eco. Aqui,

103

diferentemente, a subtração dos componentes é feita entre os sinais obtidos das duas

posições de medição, mantendo a fonte sonora fixa. De fato, para incidência normal

(φi = 90°), pode-se reescrever o coeficiente de reflexão especular (Eq. (4.18)) na forma

ljksjk

sjk

efpefp

efpfpfR

i

0

0

02

21

12

)()(

)()()(

−−=

ϕ . (4.21)

A equação mostra que, no domínio do tempo, o numerador do coeficiente de

reflexão é dado pela subtração do sinal do microfone M2 pelo sinal do microfone M1

adiantado de s/c0, i.e., p2(t) – p1(t – s/c0), enquanto que o denominador é dado pela

subtração do sinal do microfone M1 atrasado de s/c0 pelo sinal do microfone M2, i.e.,

p1(t + s/c0) – p2(t). Lidando com respostas impulsivas, MASSARANI e ARAÚJO [74]

analisaram graficamente os sinais que compõem o numerador e o denominador

(Fig. 4.14). Foi notado que o resultado dessas subtrações é um par de pulsos refletidos

no numerador e um par de pulsos incidentes no denominador, sendo que os pulsos de

cada par estão espaçados entre si de 2s/c0. O par de pulsos refletidos no numerador está

defasado de 2l/c0 do par incidente do denominador, porque o ponto de referência é o

ponto médio entre os microfones. Daí a aplicação do termo de fase ejk02l/c0, para alinhar

os pares de pulsos resultantes e assim determinar corretamente a fase do coeficiente.

Figura 4.14: Representação no tempo do numerador e do denominador da Eq. (4.21),

mostrando os pulsos incidentes i(n) e refletidos r(n) nas posições M1 e M2.

t t

i(2)

i(1)

r(2)

r(1)

-r(1)

-i(1)

r(2)

r(1)

- i(2)

-r(2)

numerador denominador

i(2)

i(1)

s/c0

2s/c0

2s/c0

p(t) p(t) p1(t)

p2(t)

p1(t) p2(t)

2l/c0

104

A distância entre os microfones s é um parâmetro que limita a aplicação do

método, tal como no tubo de impedância. Valores grandes de s limitam a aplicação para

altas frequências, pois os valores dos sinais dos dois microfones tornam-se muito

semelhantes quando o espaçamento entre eles se aproxima de meio comprimento de

onda. Pequenos valores de s são vantajosos para o desempenho dos ensaios, porque se

garante uma maior coerência entre as funções de transferência. Por outro lado, quanto

menor o valor de s, maior a exigência na exatidão do posicionamento dos microfones, o

que se torna difícil de conseguir, prejudicando resultados em baixas frequências.

Além disso, deve-se notar que sinais com padrão de dois pulsos produzem um

efeito de interferência na função de transferência correspondente, conhecido por “comb

filter effect” ou efeito de filtro pente, que faz com que a função de transferência

apresente vales de amplitude em determinadas frequências, dependentes de s/c0. O

coeficiente de reflexão nas frequências onde são localizados os vales não podem ser

determinados [74].

4.4.2. Método de Multi (Posições de) Microfones

Para superfícies difusoras como as corrugadas existe, além da reflexão

especular, reflexões espalhadas em outras direções. Se as amplitudes das ondas

espalhadas forem inexpressivas, o método de dois microfones, com o qual se obtém o

coeficiente de reflexão especular através de apenas uma função de transferência entre

duas posições de medição, pode ser suficiente [75]. Porém quando o espalhamento

torna-se expressivo, principalmente para altas frequências, é necessário utilizar mais de

duas posições de medição, conforme a complexidade do espalhamento para se

determinar todos os coeficientes de reflexão, referentes às distintas direções de reflexão

[37],[75],[76]. Quando não se sabe a quantidade exata de ondas refletidas, para a

determinação de cada coeficiente de reflexão, pode ser necessário um número muito

grande de microfones ou posições de microfones, tal como o método de Holografia

Acústica (ver apêndice).

Porém, como visto no capítulo anterior, no caso de superfícies corrugadas

periódicas muito extensas, a reflexão espalhada pode ser aproximada por um

determinado número N de ondas refletidas, de modo que no campo afastado tem-se N

lóbulos de reflexão estreitos e bem definidos (Fig. 4.15). As direções de espalhamento

(φn) são dadas pela Eq. (3.8) e dependem do ângulo de incidência (φi) e da relação entre

o comprimento de onda e o período de corrugação (λ/Λ).

105

Figura 4.15: Reflexão espalhada em superfície corrugada.

Sejam nmin e nmax, a menor e a maior ordem de reflexão respectivamente para

ondas propagantes, i.e., |cosϕn| ≤ 1. Dessa forma, contando com a reflexão especular, o

número total de ondas refletidas propagantes é N = nmax – nmin + 1, o que permite

escrever o campo total em frente à superfície como

( ) ( )[ ] ( )[ ]∑=

=

+−−++−=max

min

sincosexpsincosexp, 00

nn

nnnmnmnimimm zxjkRzxjkyxp ϕϕϕϕ .

(4.22)

Medindo a pressão sonora em duas posições de medição, m e m+1, à frente da

superfície, tem-se que a função de transferência entre seus sinais é dada por

∑=

=

+−−−

=

=

+−−−

++

+

+==

++++

max

min

00

max

min

110110

)sincos()sincos(

)sincos()sincos(

11,

)(

)(

)()(

)( nn

nn

zxjkn

zxjk

nn

nn

zxjkn

zxjk

m

mmm

nmnmimim

nmnmimim

efRe

efRe

fp

fpfH

ϕϕϕϕ

ϕϕϕϕ

. (4.23)

Rearrumando os termos da função de transferência, obtém-se a seguinte

equação:

[ ].)(

)()(

)sincos()sincos(1,

)sincos(1,

)sincos(

1100

max

min

0110

imimimim

nmnmnmnm

zxjkzxjkmm

nn

nn

zxjkmm

zxjkn

eefH

efHefR

ϕϕϕϕ

ϕϕϕϕ

++

++

−−−−+

=

=

+−+

+−

−=

−∑ (4.24)

106

Assim, tem-se N incógnitas a serem determinadas, os N coeficientes de reflexão

Rn. Quando apenas o componente especular está presente (N = 1), necessita-se de

apenas uma função de transferência entre os sinais de duas posições de medição à frente

da superfície para determinar o respectivo coeficiente de reflexão. Portanto, para a

determinação de N coeficientes de reflexão da superfície difusora, necessita-se de N

funções de transferência diferentes, obtidas pela medição da pressão sonora em

M = N + 1 posições distintas adjacentes à frente da superfície. Tem-se assim um sistema

de equações, através do qual é possível determinar os N coeficientes de reflexão e o

coeficiente de absorção da superfície, tal como a Eq. (2.50).

A escolha das posições de medição é crítica. Um posicionamento bem preciso é

necessário para se computar corretamente as fases dos sinais, reduzindo erros de

medição. O método de multi-microfones pode ser muito sensível a ondas evanescentes,

que estão presentes junto à superfície e se atenuam à medida que se afasta dela. Como

essas ondas não são consideradas na formulação, os microfones devem estar

posicionados a distâncias suficientes da superfície, de modo que elas estejam

suficientemente atenuadas. Porém, se os microfones estiverem muito longe da

superfície, a difração nos cantos da amostra poderá causar problemas [37].

Esse método pode se mostrar interessante para barreiras corrugadas, mas existe

ainda pouca experiência, principalmente em medições in-situ. WU et al. [75] relatam

boa concordância de medições de absorção sonora de superfície difusora de Schröder

com 3 microfones em câmara anecóica sob ângulo de incidência de 60° com simulações

computacionais pelo método dos elementos de contorno.

4.5. MÉTODOS ALTERNATIVOS DE MEDIÇÃO

São encontrados na literatura uma variedade de outros métodos de medição da

reflexão sonora de superfícies, que neste trabalho são chamados de alternativos, pois

julga-se serem pouco adequados para o objetivo proposto. Esses procedimentos utilizam

técnicas com limitações de aplicação in-situ, sensores especiais ou a medição em muitos

pontos à frente da superfície, o que pode dificultar a aplicação prática.

No Apêndice, ao final deste trabalho, a título de curiosidade são apresentados os

procedimentos: métodos de intesidade sonora [62],[77],[78]; métodos com sonda p-u

[78]-[80]; métodos de função de transferência ou excesso de atenuação [81]-[84];

método da holografia acústica [85]-[87].

107

4.6. RESUMO DOS MÉTODOS

Na tabela abaixo, é apresentado um resumo dos principais métodos de medição

investigados, conforme algumas características, tais como aplicação in-situ ou em

laboratório, faixa de frequências, ângulo de incidência e adequação para medição junto

a superfícies corrugadas.

Tabela 4.1: Principais métodos de medição de propriedades refletoras de superfícies.

Característica

Método de Medição

Aplicação

Faixa de

frequências [Hz]

Ângulo de incidência

[°]

Adequação para medição junto a

superfícies corrugadas

Câmara reverberante Em

laboratório

Conforme o tamanho da

câmara

Incidência difusa

Resultados não informam o quanto

é refletido numa dada direção

Tubo de impedância Em

laboratório

Conforme o tamanho do tubo e o espaçamento entre microfones

90° Não adequado,

necessitaria tubos muito grandes

Adrienne In-situ 200 – 5000 Diversos (±50°)

Resultados inconsistentes;

fornecem um valor médio obtido de

medições em diversos ângulos

Quiesst In-situ 100 – 5000 Diversos

Resultados inconsistentes;

fornecem um valor médio obtido de

medições em diversos ângulos

Função de transferência entre

microfones em campo aberto

Em laboratório ou in-Situ

Conforme o espaçamento

entre microfones Diversos

Resultados podem informar o quanto é refletido numa ou mais direções

108

CAPÍTULO 5

DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO DE MEDIÇÃO

Na sequência às investigações, chega-se ao desenvolvimento do método de

medição da reflexão sonora de barreiras com superfícies corrugadas a ser aplicado in-

situ. Essa etapa compreende as seguintes tarefas: formulação dos princípios do método,

construção do sistema experimental e os primeiros testes com casos de referência.

A equipe do Laboratório de Ensaios Acústicos do Inmetro (Laena) já possui

experiência prévia em ensaios de absorção e reflexão sonora em laboratório e in situ.

Dessa forma, na construção do equipamento de medição deste trabalho, foi aproveitada

a experiência do laboratório no desenvolvimento de outros dois sistemas anteriores.

Um dos sistemas foi um dispositivo de medição in-situ que aplicava a técnica da

subtração descrita originalmente por MOMMERTZ [59]. Tal sistema, conhecido

informalmente como “Maracangalha”, foi utilizado com sucesso em laboratório em

2000 (Fig. 5.1.a), sendo inclusive tema de tese de doutorado de MASSARANI [88].

Porém, quando foi adaptado para cumprir as exigências da norma ISO 13472-1 [56],

que havia sido recém-publicada, apresentou dificuldades em ensaios de campo junto a

uma pista de asfalto rígida para medições de ruído veicular [89] (Fig. 5.1.b), tais como

problemas na subtração de sinais devido à falta de rigidez da estrutura do sistema

adaptado, o que levou à dispersão de resultados.

Figura 5.1: Dispositivo para medição pelo método da subtração desenvolvido no

Inmetro em 2000: a) medição em labotório e b) medição em campo.

a) b)

109

Mais recentemente em 2008 [74], através de respostas impulsivas foi realizada

uma implementação inovadora da técnica de medição em tubos (Fig. 5.2), conhecida

como método da função de transferência, descrita na norma ISO 10534-2 [53]. Dessa

experiência, foi intepretada uma relação entre o método da subtração e o método da

função de transferência, através de processamento de sinais, o que pode viabilizar

aplicações in-situ sem a necessidade de um tubo, ou seja, a aplicação do método de dois

microfones em campo aberto.

Figura 5.2: Esquema de medição pelo método da função de transferência com duas

posições de microfone.

Como apontado no Capítulo 4, a vantagem da aplicação do método da função de

tranferência entre microfones em campo aberto em relação ao método da subtração para

ensaios in-situ está na simplificação do projeto do dispositivo de medição, com

consequente otimização no procedimento de ensaio. O método da subtração requer que

sejam integrados em uma mesma estrutura mecânica um alto-falante e um microfone, de

forma a permitir que sejam realizadas duas medições em sequência: uma com o

dispositivo longe de qualquer superfície e outra com o dispositivo apontado para a

superfície sob teste. Já no caso do método de função de transferência, os mesmos dois

componentes, alto-falante e microfone, têm estruturas mecânicas independentes.

Igualmente, são necessárias ao menos duas medições em sequência, porém entre elas

altera-se somente a posição do microfone através de uma pequena distância.

Assim, com suporte financeiro concedido pela FAPERJ, através de chamada

ADT-1 de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico, foi projetado e desenvolvido no

Laena ao longo de 2013 e 2014 um sistema de medição do coeficiente de reflexão de

superfícies, utilizando o método de função de transferência entre microfones de campo

110

aberto. Nesse projeto, foram adquiridos materiais e dispositivos e confeccionados outros

itens do sistema experimental, além de amostras de superfícies corrugadas, cujos

coeficientes de reflexão serão medidos com o sistema desenvolvido (ver Capítulo 6).

5.1. PRINCÍPIO DO MÉTODO

Será empregado o método de função de transferência entre microfones em

campo aberto para a medição das propriedades de absorção de superfícies sob teste,

descrito no Capítulo 4, devido a suas vantagens. Ele é basicamente o mesmo método da

função de transferência em tubo com duas posições de microfone. A fonte gera uma

onda sonora que se propaga em direção à superfície, incidindo e refletindo nela, sendo o

campo resultante composto pela interferência entre o componente incidente e o(s)

componente(s) refletido(s). Assim, em uma dada posição de medição, o sinal captado da

pressão sonora contém o componente incidente, relativo à trajetória de propagação

direta entre a fonte e o microfone, e o(s) componente(s) refletido(s), relativo(s) à

trajetória de propagação da fonte até a superfície, complementada pela(s) trajetória(s)

desta até o mesmo microfone sob o(s) ângulo(s) de reflexão. Mantendo-se o mesmo

campo sonoro e alterando-se a posição do microfone será percebido um sinal diverso,

porém com mecanismo semelhante de interferência.

Os sinais captados pelo microfone em posições distintas são em resposta a uma

fonte emitindo um campo sonoro de banda larga. Para o método descrito neste projeto,

utiliza-se sinal de excitação composto de uma varredura de frequências (sweep), um

seno com frequência acrescida continuamente, para a obtenção da resposta impulsiva do

sistema a ser medido, através de técnicas de processamento de sinais [60].

A partir do conhecimento teórico das trajetórias de propagação, considerando-se

a velocidade do som (c) e as distâncias entre os elementos, é possível determinar, por

manipulação algébrica dos sinais medidos em posições distintas, o(s) coeficiente(s) de

reflexão da superfície. Considerando que a reflexão é somente especular, o respectivo

coeficiente pode ser então expresso por uma divisão entre um numerador e um

denominador, os quais são subtrações entre os sinais de ambos os microfones defasados

e corrigidos para considerar as perdas de propagação em cada posição de microfone

para a onda incidente e para a onda refletida. Através dessas subtrações e correções, no

numerador então se obtém pares de pulsos refletidos e no denominador, pares de pulsos

incidentes, conforme descrito na Seção 4.4.1.

111

Assim, uma vez formados os pares de pulsos incidentes e refletidos das

respostas impulsivas, é necessário aplicar uma adequada janela temporal ao numerador

e ao denominador, de modo a eliminar reflexões oriundas de outras superfícies

presentes no ambiente de ensaio, selecionando os componentes de interesse.

Janelados o numerador e o denominador, utiliza-se então a transforma rápida de

Fourier, FFT, para a obtenção de seus espectros no domínio da frequência. É então

efetuada a divisão entre os espectros do numerador e do denominador janelados para a

determinação do coeficiente de reflexão da superfície.

5.1.1. Descrição Analítica do Método de dois Microfones

Considerando apenas a reflexão especular, mede-se sucessivamente as respostas

impulsivas P1 e P2 em duas posições M1 e M2, alinhadas à normal à superfície de uma

amostra, sobre o ponto O, seu centro geométrico (Fig. 5.3).

Figura 5.3: Método de dois microfones.

As posições estão respectivamente a distâncias r1,inc e r2,inc da fonte sonora,

também à frente da superfície, e a posição M1, a mais afastada da fonte, está à distância

l da superfície ou de seu ponto mais protuberante, para superfícies corrugadas. O

espaçamento entre os microfones é s. Os percursos das ondas refletidas especulares em

cada posição são r1,ref e r2,ref. Das medições em cada posição, identifica-se o pulso

incidente e o refletido, defasados temporalmente de forma proporcional a suas

trajetórias espaciais de propagação. Sejam Pi(f) o espectro do campo emitido pelo alto-

falante e R(f) o coeficiente de reflexão complexo da superfície da amostra. Admitindo

112

ainda que o decaimento de propagação é esférico e que o ruído de fundo é

suficientemente baixo, no trecho inicial das respostas impulsivas, antes da ocorrência

das reflexões espúrias provenientes de outras superfícies ou objetos, os sinais em cada

posição são:

+=−−

ref

ikr

inc

ikr

i r

efR

r

efPfP

refinc

,1,11

,1,1

)()()( ; (5.1)

+=−−

ref

ikr

inc

ikr

i r

efR

r

efPfP

refinc

,2,22

,2,2

)()()( . (5.2)

A fonte está orientada de modo que ondas sonoras atinjam o ponto O da

superfície sob ângulo φi. Se ela também está suficientemente distante da superfície e dos

microfones, i.e., a distância L da fonte até a superfície é muito maior do que a distância l

(L >> l), a diferença de percurso entre os pulsos incidentes em ambas as posições de

microfone é dado por r2,inc – r1,inc = s senφi. As distâncias percorridas pelos pulsos

refletidos especulares em cada posição podem ser aproximadas respectivamente por

r1,ref = r1,inc + 2l senφi e r2,ref = r2,inc + 2(l – s) senφi. A diferença de percurso entre os

pulsos refletidos em ambas as posições é então r2,ref – r1,ref = –s senφi (o sinal negativo

indica que o percurso do pulso refletido até a posição M1 é maior do que até a posição

M2, mais próxima da superfície). A diferença de percurso entre o pulso refletido

especular e o incidente na posição M1 é, portanto, r1,ref – r1,inc = 2l senφi. Por simples

manipulação algébrica das Eqs. (5.1) e (5.2), o coeficiente de reflexão especular da

superfície sob incidência normal (φi = 90°), pode ser então dado pela expressão a seguir,

que no domínio do tempo indica uma razão entre pares de pulsos de sinais opostos

refletidos no numerador (Pn) e de incidentes no denominador (Pd) nas posições M1 e

M2, espaçados entre si pelo intervalo de tempo 2s/c

( ) ( ) ( )[ ]( ) ( ) 2 e 1 mics. nos incidentes pulsos

2 e 1 mics. nos refletidos pulsos

)(

)(

221

23112 ==

−−

=−

fP

fP

fPeCfP

eCeCfPfPfR

d

niks

likiks

, (5.3)

onde as correções teóricas de propagação são: C1 = r1,inc/r2,inc, a correção de amplitude

entre os pulsos incidentes nas duas posições; C2 = r1,ref/r2,ref a correção de amplitude

entre os pulsos refletidos especulares em ambas posições; C3 = r1,ref/r1,inc a correção de

amplitude entre o pulso refletido especular e o pulso incidente na posição M1. O termo

e–iks refere-se a um adiantamento de fase da pressão medida na posição M1 e o termo e

113

eiks a um atraso de fase da pressão medida na posição M1, de modo a alinhar e eliminar,

através das subtrações, os pulsos incidentes das posições M1 e M2 no numerador e os

refletidos no denominador. Já o termo eik2l refere-se à diferença de fase entre o par de

pulsos refletidos especulares resultantes no numerador e o par de pulsos incidentes

resultantes no denominador, para alinhá-los entre si.

5.2. SISTEMA EXPERIMENTAL

5.2.1. Equipamento de Medição

A ideia básica para o equipamento de ensaio foi a de ter em separado dois

suportes, um para a fonte sonora e outro para o microfone. Tais suportes deveriam ser

capazes de mantê-los alinhados a superfícies sob ensaio posicionadas tanto na

horizontal quanto na vertical. Considerou-se também que os pontos de medição

poderiam estar distantes do piso (Fig. 5.4).

Figura 5.4: Geometria com os componentes e distâncias do equipamento de ensaio.

A solução adotada foi a aquisição de suportes para acessórios de iluminação

para fotografias ou filmagens, comumente conhecidas como tripés tipo girafas ou gruas.

Elas permitem regular altura e direção de sua ponta, na qual se conecta a fonte sonora

ou o microfone, alterando-se posições e o comprimento de uma haste retrátil cruzada no

suporte central, apoiado sobre o tripé. As ofertas comerciais encontradas para a

aquisição dos tripés girafas permitiram selecionar parâmetros, tais como: peso,

capacidade de carga, dimensões para alcance e diâmetros das hastes. O peso dos tripés é

fator importante para a portabilidade do equipamento. A capacidade de carga limita

114

principalmente a seleção dos alto-falantes, já que o microfone é muito mais leve. Esses

suportes permitem o uso de contrapesos colocados em bolsas apropriadas penduradas

nas extremidades opostas às do alto-falante e do microfone para estabilizá-los em

função do comprimento da haste. Assim, foram adquiridos pesos de halteres (anilhas),

além de cabos de aço e esticadores para uma eventual necessidade de aumentar a rigidez

do tripé girafa de suporte do alto-falante durante ensaios em áreas abertas. Os diâmetros

das hastes dos tripés girafas definem o peso e a capacidade de carga, mas também se

considerou que não podem ser excessivamente grandes, devido à possível influência das

hastes na reflexão sonora interferente nos resultados das medições. Desta forma, optou-

se pelos tripés CowboyStudio Light Stand W-501 (Fig. 5.5).

Figura 5.5: Principais componentes adquiridos para o equipamento de ensaio.

Com relação à fonte sonora, a busca foi por um conjunto de alto-falantes

direcionais, com feixe concentrado de energia sonora para incidir nas amostras,

minimizando a influência das reflexões sonoras oriundas de outras superfícies sem

interesse e dos efeitos de borda das amostras. Esse tipo de caixa acústica é muito

utilizado em sistemas domésticos de som e vídeo (home theather) como projetores

frontais ou laterais para reproduzir sensações auditivas direcionais. Ao mesmo tempo,

foi importante pensar em fontes pequenas e leves de modo a aliviar a carga no tripé

girafa. Algumas linhas de modelos comerciais são intencionalmente projetadas para

serem pequenas e leves por razões estéticas e para aproveitamento dos espaços

interiores de edificações. Conhecia-se uma configuração clássica de caixa acústica

D’Appolito composta por 3 alto-falantes, sendo dois alto-falantes idênticos de médias

tweeter médio 1/4”

115

frequências equidistantes e em linha com um alto-falante central de altas frequências do

tipo “ribbon tweeter”. Assim configurada, tem-se uma fonte que gera um campo sonoro

bem uniforme no eixo transversal, enquanto que ao longo do eixo longitudinal o campo

sofre interferência destrutiva crescente com a distância do eixo central. Assim, o alto-

falante escolhido foi o GoldenEar Technology SuperSat 3C (Fig. 5.5), que, segundo o

fabricante, tem uma resposta em frequência de 80 Hz a 35 kHz de ±3 dB e uma

sensibilidade de 92 dB (Re 1W/1 m). Possui dimensões de 30,5 cm x 12,1 cm x 6,9 cm.

Para o microfone, a busca foi por modelos de pequeno diâmetro e longo

comprimento, para minimizar a interferência do suporte no campo sonoro. Soluções

desse tipo casam com a oferta de microfones de baixo custo de 1/4 de polegada de

diâmetro para medições em acústica de salas. O sinal elétrico do microfone é utilizado

para cálculo de funções de transferências em duas posições distintas do mesmo

transdutor, não sendo necessário, assim, dispor da sua sensibilidade. O que mais

interessa no caso é que o microfone tenha uma resposta bem comportada na faixa de

frequência de interesse dos ensaios. Foi então selecionado o microfone de ¼” de eletreto

pré-polarizado de campo livre Isemcon EMX-7150 (Fig. 5.5), com um comprimento de

152 mm, uma faixa de frequência de 10 Hz a 20 kHz e faixa dinâmica de 30 a 140 dB.

Para o deslocamento linear do microfone entre dois pontos próximos optou-se

por manter fixo o tripé girafa de suporte e dispor de um mecanismo simples localizado

na extremidade de fixação, que permitisse pequenos deslocamentos, sem alterar a

direção do microfone (Fig. 5.4). Mais uma vez, tal solução pode ser encontrada pronta

na oferta comercial de cabeças acessórias de tripés fotográficos. A opção selecionada,

um suporte linear Benro MPB 150-T em conjunto com um Benro PC-0 (Fig. 5.5),

permite translação linear referenciada a uma escala milimétrica impressa, com

deslocamentos de até 12 cm e rotações de 360° sobre o eixo de suporte, para facilitar

alinhamento com alto-falante. Convenientemente, as roscas padrões de fixação de tripés

de câmeras fotográficas são compatíveis com as dos suportes de apoio dos microfones.

Era também necessário um acessório para orientar o alinhamento entre fonte,

microfone e superfície de amostra. Além de trenas e réguas com marcação para medição

das distâncias, foram investigadas as ofertas de guias ou niveladoras a laser, utilizadas

normalmente em obras de acabamento. Dependendo do modelo, esse acessório projeta

linhas finas de luz laser perpendiculares, uma alinhada com a vertical e outra com a

horizontal, e centradas na altura em que for fixada a niveladora. Foi escolhido então o

guia laser Bosch GLL2 Professional para tal função. Além da aquisição de um desses

116

dispositivos, foi providenciado um tripé Benro A2970T Mg-Aluminium de fotografia

para o suporte da guia laser com controle de ângulo de inclinação da haste central, de

modo a promover maior flexibilidade de ajuste do seu nível (Fig. 5.5).

Além dos itens adquiridos, foi necessário dispor de conexões dos tripés girafas

com a fonte sonora e com o conjunto de deslocamento linear do microfone, de tal forma

que possibilitassem o ajuste de posição e alinhamento desses componentes para

execução das medições. Projetou-se então em programa de computador conexões

articuladas que permitissem compatibilizar as dimensões dos componentes de suporte e

que aumentassem os graus de liberdade do sistema. A partir daí, foram comprados os

materiais constituintes e depois foi solicitada sua fabricação na oficina mecânica do

Inmetro. Cada conexão é composta por 3 partes ou falanges, feitas de tubos cilíndricos

maciços de alumínio torneados, de aproximadamente 2 cm de diâmetro e de 6 a 8 cm de

comprimento total. As falanges são conectadas e articuladas entre si através de

articulações na forma de garfos e de elos fixados por parafusos e porcas de níquel. Os

parafusos conectores foram convenientemente projetados com uma “cabeça” de

alumínio recartilhada para facilitar o aperto manual (Fig. 5.6).

Figura 5.6: Projeto das conexões articuladas e detalhes dos acoplamentos com a fonte

sonora e com os suportes do microfone.

Na extremidade das conexões que se conecta ao tripé girafa, a respectiva falange

é adequadamente torneada, de modo que seu diâmetro possa se ajustar com pouca folga

dentro do diâmetro interno da haste tubular do tripé girafa à qual se conecta e aí fixada

através de um mecanismo de aperto da própria haste. Na outra extremidade, para a

117

conexão ao suporte do microfone, a mesma falange é rosqueada diretamente no furo

roscado do suporte. Já para a conexão ao alto-falante, devido a seu maior peso e

dimensão, a falange é rosqueada a uma placa de alumínio usinada de aproximadamente

6 cm x 5 cm x 1 cm, de forma a promover maior estabilidade e sustentação à união entre

os elementos. A placa é fixada por um parafuso adequado à parte traseira do alto-

falante, que também possui um furo roscado. Na Fig. 5.7 estão mostradas fotos das

conexões conectadas a seus respectivos itens.

Figura 5.7: Detalhe do alto-falante, do microfone e de suas conexões articuladas.

Na Fig. 5.8 é apresentada uma visão geral do equipamento de medição montado

na câmara reverberante II do Inmetro, junto com alguns de seus acessórios, além das

amostras corrugadas que serão utilizadas para os ensaios (Capítulo 6). O equipamento

assim concebido foi batizado informalmente com o nome de “Maracangalha 2”, em

homenagem a seu antecessor construído no Laena [88].

Figura 5.8: Equipamento de medição: alto-falante e microfone acoplados aos tripés

girafas na câmara reverberante, além de acessórios e amostras a serem utilizadas.

Fonte Sonora

Conexão articulada para a fonte

Microfone

Nível a laser

Suporte para translação do

microfone

Conexão para o microfone

Fonte Sonora

Tripé girafa

Microfone

Suporte do mic.

Tripé da guia laser

Bolsa c/ contrapeso

Tripé girafa

Anilha de contrapeso

Amostra a ser ensaiada

118

5.2.2. Sistema Computacional e Equipamento Eletrônico de Medição

O sistema computacional de medição utilizado foi o programa “Monkey Forest”

de uso corrente nos laboratórios de acústica do Inmetro. O programa é uma ferramenta

de processamento de sinais com funções personalizadas, apto para medições de

respostas impulsivas e funções de transferência com varreduras de frequências como

sinal de excitação. O autor do programa, o pesquisador Swen Müller, atualmente no

Inmetro, desenvolveu também um equipamento eletrônico, o hardware Compact

Measurement Frontend (CMF-82), montado numa caixa portátil de dimensões

aproximadas a um laptop, para funcionamento em conjunto que realiza as funções de

conversão analógica/digital (AD/DA), amplificação de áudio e captação de sinais de

microfones.

Foram confeccionados cabos longos de ligação do CMF-82 à fonte sonora e ao

microfone. Foi utilizada uma placa de interface de áudio PCMCIA Tipo II RME HDSP

CardBus para conexão entre um computador portátil com o sistema “Monkey forest” e o

CMF-82. Considerando a necessidade de controle das condições ambientais,

principalmente para os ensaios fora do laboratório, foi comprado um sensor de

temperatura e umidade relativa do ar (termo-higrômetro) Huato Eletronic USB Data

Logger, com capacidade de gravação de dados e interface de transferência destes para o

computador. O processamento dos resultados utiliza o valor da velocidade de

propagação do som no ar, que depende da temperatura durante o ensaio.

5.3. PRIMEIROS TESTES DO SISTEMA EXPERIMENTAL

Foram realizados alguns ensaios com o objetivo de testar o equipamento e a

metodologia em condições controladas. Assim, o equipamento de medição foi colocado

dentro da câmara reverberante II do Inmetro, protegida de ruídos externos e variações

climáticas. Com cerca de 200 m³, ela é espaçosa o suficiente para evitar que reflexões

espúrias afetem os resultados, através de adequado janelamento temporal dos sinais

registrados, desde que o equipamento de medição esteja longe o suficiente de suas

superfícies internas. O CMF-82 e o computador foram mantidos em outra sala vizinha e

os cabos de amplificação da fonte sonora e de captação do microfone foram passados

por pequenos orifícios já existentes para tal propósito.

Os primeiros passos consistiram na experimentação dos ajustes dos tripés girafas

e no procedimento de alinhamento. Cada uma dos tripés girafas, seja a da fonte sonora

119

ou a do microfone, possui muitos graus de liberdade e possibilidades de

posicionamento. Entram então em cena ajustes de altura, dos comprimentos e dos

ângulos das hastes, das rotações das juntas articuladas, da estabilização com

contrapesos, da posição das escalas e do posicionamento do nível a laser. Foram

necessárias além do uso de trenas, fitas adesivas para marcações auxiliares no piso da

câmara. Foram feitos exercícios prevendo posicionamentos tanto para superfícies sob

teste em posições verticais quanto em posições horizontais. Considerou-se também

nessas tentativas iniciais a acessibilidade ao mecanismo de translação linear do

microfone.

A princípio, foram realizados ensaios em dois conjuntos em condições

teoricamente ideais. No primeiro caso, o equipamento foi mantido distante de qualquer

superfície, correspondendo a uma medição de campo livre ou a uma superfície sob teste

perfeitamente absorvedora (R = 0). No segundo caso, o equipamento foi posicionado de

forma a ensaiar a porta de aço de grandes dimensões da câmara reverberante que pode

ser considerado como o caso de uma superfície altamente refletora (R ≈ 1).

5.3.1. Posicionamento e Alinhamento do Sistema de Medição

Montado o sistema experimental no local de medição, antes de qualquer ensaio,

é necessário posicionar e alinhar os principais elementos que o compõem (fonte sonora

e microfone) e a superfície a ser ensaiada, a fim de garantir as posições e orientações

entre eles, i.e., as distâncias percorridas e os ângulos de incidência das ondas sonoras. A

guia laser montada sobre o respectivo tripé auxilia para esse propósito.

O procedimento é iniciado alinhando-se uma das linhas laser da guia com um

dos elementos do sistema experimental pré-posicionado no local de medição, tomando-

se como uma referência, por exemplo, algum eixo ou linha do alto falante, do microfone

ou da superfície. Mantendo fixa a guia e o elemento de referência, são movimentados os

tripés girafas e as conexões e, assim, os demais elementos são posicionados em relação

a essa marcação ótica, por exemplo, através da distância ou da coincidência de algum

eixo ou linha com o feixe laser. Para se determinar a distância entre os elementos, pode-

se usar réguas ou trenas comuns ou a laser, com o auxílio de fitas adesivas coladas ao

longo de linhas sobre superfícies de referência, como o piso ou paredes, por exemplo.

Deve-se repetir o mesmo procedimento de alinhamento e posicionamento em outra(s)

direção(ões) perpendicular(es), tomando-se outra referência qualquer dos elementos, até

alinhá-los satisfatoriamente entre si, conforme se deseja (Fig. 5.9).

120

Para o alinhamento do alto-falante, além de alinhá-lo em duas direções

perpendiculares tomando como referência seus dois eixos de simetria frontais

(longitudinal e transversal), deve-se também orientar seu eixo central através de suas

laterais. Isto pode ser feito com o auxílio da guia laser, eventualmente em conjunto com

fitas adesivas sobre superfícies de referência. O mesmo vale para o alinhamento do eixo

da guia de deslocamento do microfone entre as posições de medição. A altura da fonte e

do microfone ao piso ou à amostra pode ser tomada pela linha horizontal da guia laser.

Figura 5.9: Alinhamento com auxílio da guia laser do microfone sobre uma superfície a

ser ensaiada e da fonte sonora com marcação auxiliar de fitas adesivas no piso.

O procedimento ao todo pode ser um tanto moroso, dependendo do cuidado e da

habilidade que se tem no alinhamento e no posicionamento. A utilização simultânea de

uma segunda guia laser pode acelerar substancialmente o processo, já que, assim, pode-

se demarcar direções perpendiculares ao mesmo tempo.

5.3.2. Sinal de Excitação

Dentro da câmara, à distância r inc de 1 m da fonte sonora no eixo central (altura

ao piso de 1,60 m) foi medida a respectiva resposta impulsiva em “campo livre

artificial”, obtido através de adequado janelamento temporal das reflexões nas

superfícies da sala. Para a obtenção da resposta impulsiva da fonte, foi utilizado um

sinal de excitação devidamente “personalizado” em função da resposta dos alto-falantes,

otimizando a relação entre o sinal e o ruído para uma faixa de frequência útil aos

ensaios. Assim, foi sintetizada uma varredura de frequências, cobrindo até 24 kHz com

Microfone e suporte

Niveladora laser

Alinhamento da fonte sonora

Fonte sonora

Tripé girafa

Marcação auxiliar no piso c/ fitas adesivas

Long.

Trans.

121

duração total de cerca de 3,5 s, que compensou quedas de níveis em frequência típicas

do modelo de fonte adquirido, de modo a se obter uma resposta impulsiva com espectro

suficientemente plano na faixa de cerca de 100 Hz a 10 kHz (Fig. 5.10). As etapas

necessárias para o cálculo do coeficiente de reflexão, determinadas pela Eq. (5.3), foram

programadas através de funções macro do programa “Monkey Forest”, que basicamente

são uma gravação das operações em sequência atribuídas, disparadas pelo acionamento

de uma tecla de computador.

Figura 5.10: Telas do “Monkey Forest” mostrando a varredura de frequências, utilizada

como sinal de excitação, nos domínios do tempo (a) e da frequência (b).

5.3.3. Direcionalidade do Alto-Falante

A razão da seleção de um conjunto direcional de alto-falantes como fonte sonora

foi a expectativa de testar superfícies de áreas reduzidas, minimizando a influência de

reflexões parasitas de suas bordas. Nesse sentido, a direcionalidade da fonte cumpre um

papel muito importante. Para estimar sua característica direcional, foram obtidas a

princípio respostas a mesma distância r inc de 1 m entre fonte e microfone no eixo central

com deslocamentos para as laterais do eixo de até 15 cm em passos de 5 cm. Foram

realizadas medições sequenciais com a fonte sonora orientada em torno de seu eixo

central de duas maneiras distintas giradas de 90° entre si, chamadas de orientação “A”

(fonte deitada ao longo do eixo longitudinal) e orientação “B” (fonte em pé ao longo do

eixo transversal).

A Fig. 5.11 apresenta o nível de pressão sonora para as duas orientações do

conjunto em função da distância do eixo central para diferentes frequências (o nível é

dado em relação ao do eixo central). Verifica-se uma notável direcionalidade no eixo

central na orientação “A”, i.e. ,ao longo de seu eixo longitudinal. Na orientação “B”,

a) b)

122

i.e., ao longo do eixo transversal, por outro lado, a direcionalidade é baixa. Nas duas

orientações, a direcionalidade parece ser maior para frequências mais altas. Percebe-se

também uma leve assimetria nos níveis registrados ao se deslocar para um lado ou para

o outro em relação ao eixo central, entretanto tal diferença possivelmente é devida mais

à imprecisão de posicionamento do microfone do que às características da fonte.

Figura 5.11: Nível de pressão sonora em pequenos deslocamentos laterais do eixo

central a 1 m da fonte em função da frequência: orientação “A” (a) e orientação “B” (b).

5.3.4. Perdas na Propagação

Considerando que a fonte sonora é pontual e que as ondas sonoras por ela

geradas propagam-se de forma esférica sem intereferências, a amplitude da pressão

sonora decai proporcionalmente ao inverso da distância percorrida, conforme as

Eqs. (5.1) e (5.2). Mas, tendo em conta que a fonte sonora do equipamento não é

estritamente uma fonte pontual e que inevitavelmente existem obstáculos à propagação

direta por causa da presença dos suportes, foram planejados ensaios para verificar a

dependência da perda na propagação com a distância entre a fonte e o microfone.

Assim, foram obtidas respostas impulsivas em 5 distâncias r inc entre fonte e microfone

no eixo central de alinhamento, à altura de 1,60 m do piso: 0,70 m, 0,80 m, 0,90 m,

1,00 m e 1,10 m.

Cada resposta obtida foi janelada no tempo para fornecer respostas em campo

livre. Os valores em relação ao da distância de 1 m da fonte (P (r inc)/P (r inc = 1 m)), para

algumas bandas de 1/3 de oitava selecionadas estão apresentados na Fig. 5.12, sendo

comparados com os respectivos valores teóricos (= 1/r inc). A concordância foi alta em

a) b)

Distância do eixo central (cm)

NP

S (

dB

) re

f ei

xo c

entr

al

Distância do eixo central (cm)

NP

S (

dB

) re

f ei

xo c

entr

al

123

bandas de frequência acima de 500 Hz, comprovando a hipótese de decaimento do

campo sonoro inversamente proporcional à distância ao alto-falante, conforme as

Eqs. (5.1) e (5.2).

Figura 5.12: Perda na propagação com a distância entre fonte e microfone teórica e

experimental por bandas de 1/3 de oitava.

5.3.5. Correção C1 sem Superfície (R = 0)

No intuito de se verificar a correção teórica C1 (Eq. (5.3)) de propagação de

onda incidente normal (φi = 90°) entre duas posições de microfone M1 e M2, espaçadas

pela distância s, em cada uma das 5 posições r1,inc do item 5.3.4 (i.e., 0,70 m, 0,80 m,

0,90 m, 1,00 m e 1,10 m), foram realizadas mais 3 medições em sequência, deslocando

o microfone linearmente no eixo central até 3 cm, em passos de 1 cm. As configurações

dos ensaios estão apresentadas na Fig. 5.13.

Figura 5.13: Configurações dos ensaios de verificação, avaliando perda entre posições

de microfone M1 e M2 no eixo central, para diversas distâncias entre fonte e microfone.

M1

M2

Distância r inc entre fonte e microfone (m)

1/r

inc

124

A correção C1 da Eq. (5.3) é dada por

sr

r

r

rC

inc

inc

inc

inc

+==

,1

,1

,2

,11

. (5.4)

Embora as correções de amplitude e de fase entre dois sinais medidos em

posições distintas possam ser determinadas graficamente pela diferença entre eles, estas

também podem ser previstas teoricamente. A Tabela 1 apresenta a correção C1 para

várias distâncias fonte-microfone (r1,inc) e vários espaçamentos (s) entre microfones,

bem como as respectivas defasagens teóricas temporais de chegada da onda incidente

entre as posições M1 e M2, dadas pela razão s/c, considerando c = 345 m/s a

temperatura T = 24°C na câmara reverberante.

Tabela 5.1: Fator de correção C1 para diversas distâncias fonte-microfone (r1,inc) e

espaçamento entre microfones (s).

r1,inc (m) s (m)

0,01 0,02 0,03 C1

0,70 0,9862 0,9718 0,9588 0,80 0,9872 0,9756 0,9634 0,90 0,9891 0,9785 0,9681 1,00 0,9901 0,9804 0,9709 1,10 0,9911 0,9823 0,9737 1,20 0,9921 0,9833 0,9756 1,30 0,9921 0,9852 0,9775

s/c (ms) 0,0290 0,0580 0,0870

Percebe-se que não são previstas variações significativas da correção na faixa de

distâncias testadas entre fonte e microfone e entre as duas posições de microfones,

sendo estas de no máximo 4% em torno da unidade (C1 ≈ 1). A correção é obviamente

menor para menores distâncias entre microfones e para maiores distâncias entre fonte e

microfone, com desvios de somente cerca de 1% para a distância de r1,inc = 1,30 m para

s = 1 cm.

Obtidas a pressão sonora em duas posições das medições sequenciais (P1 e P2),

pode-se determinar experimentalmente a correção C1, incluindo a fase –k.s. Esse caso

corresponde à ausência de superfície refletora ou à presença de superfície altamente

absorvedora, ou seja, considerando R = 0 na Eq. (5.3), o que implicará na relação

125

ikseCHP

P −== 1121

2 . (5.5)

A Figura 5.14 apresenta as diferenças em função da frequência entre os valores

teóricos calculados pela Eq. (5.4) e os valores experimentais obtidos pela Eq. (5.5) da

correção C1, e de fase –k.s, para distância entre fonte e microfone M1 de 1 metro

(r1,inc = 1 m) e para os espaçamentos entre microfones da Tabela 5.1. Com deslocamento

do microfone na menor distância testada, s = 1 cm, houve maior coincidência entre os

valores teóricos e experimentais em uma faixa de frequência mais extensa.

Figura 5.14: Diferenças entre valores de C1 (a) e de fase –k.s (b) experimentais

(Eq.(5.5)) e teóricos (Eq. (5.4)) para distância fonte-microfone de 1 m.

5.3.6. Resíduos na Subtração

As subtrações envolvidas no numerador e no denominador da Eq. (5.3) para a

determinação do coeficiente de reflexão de uma superfície visam eliminar pulsos

incidentes e refletidos respectivamente. Entretanto, na prática, ocorrem resíduos da

subtração por erros no posicionamento de microfone e nos valores de correção teórica

da propagação, como se pode ver na Fig. 5.15, que apresenta no domínio do tempo,

respostas impulsivas em duas posições de microfones junto a uma superfície plana

rígida antes e depois da subtração para a formação do numerador e do denominador. Em

cada um deles deveriam restar respectivamente dois pulsos incidentes e dois pulsos

refletidos idênticos de sinais opostos e sincronizados. No entanto, na prática, ocorrem

imperfeições no resultado das subtrações, como é observado pela figura mais à direita,

na qual há desalinhamentos dos pulsos restantes e resíduos das subtrações, na forma de

pequenas oscilações antes ou depois dos pulsos esperados.

a) b)

126

Figura 5.15: Respostas impulsivas de reflexão especular da esquerda para a direita:

antes da subtração do numerador da Eq. (5.3); antes da subtração do denominador;

numerador alinhado com denominador, após correções e subtrações, ocorrendo

imperfeições.

Sem a presença da superfície (R = 0) é possível avaliar experimentalmente o

resíduo dependente da frequência. Para isso, pode-se efetuar, por exemplo, a razão entre

o resultado da subtração no numerador da Eq. (5.3), ou seja, a subtração entre picos

incidentes em duas posições devidamente corrigidos em amplitude e fase, e o pulso

original incidente na posição de microfone M1. Pelo exame da Fig. 5.16, que apresenta

essa razão, em dB, para diferentes distâncias entre fonte e o microfone M1

(r1,inc = 0,80 m, 0,90 m e 1,10 m) com espaçamento entre microfones de s = 2 cm, assim

como para r1,inc = 0,90 m com diferentes espaçamentos entre microfones (s = 0,01 m,

0,02 m e 0,03 m), observa-se que o resíduo aumenta com a frequência e também com a

distância entre posições de microfone.

Figura 5.16: Resíduos de subtração do componente incidente entre duas posições de

microfone em campo livre: a) s = 2 cm, variando r1,inc; b) para r1,inc = 90 cm por banda

de 1/3 de oitava, variando s.

a) b)

1 2 3 4 5 (ms) 1 2 3 4 5 (ms) 1 2 3 4 5 (ms)

V20

10

0

-10

-20

V20

10

0

-10

-20

V20

10

0

-10

-20

Espaçamento entre microfones

127

5.3.7. Teste com Superfície Lisa Rígida (R ≈ 1)

Para verificar o desempenho do procedimento no ensaio de superfícies optou-se

por selecionar uma idealmente rígida e lisa, para a qual o coeficiente de reflexão seja

aproximadamente a unidade, i.e., R ≈ 1. Foi então escolhida a pesada porta de aço da

câmara reverberante onde ocorreram os ensaios, que ocupa boa porção de área de uma

parede plana, posicionando o equipamento de ensaio de modo a se obter incidência

normal (φi = 90°) sobre a superfície (Fig. 5.17). Para os testes foi adotada a distância

fonte-superfície de L = 1,1 m e variou-se a distância de M1 até superfície em l = 0,1 m,

0,2 m e 0,3 m, além do espaçamento entre microfones em s = 0,01 m, 0,02 m e 0,03 m.

Figura 5.17: Montagem do equipamento de medição junto à porta de aço da câmara

reverberante.

Nessa situação, os fatores de correção C2 e C3, da Eq. (5.3), são dados por:

slL

lL

r

rC

ref

ref

−++==

,2

,12 ; (5.6)

lL

lL

r

rC

inc

ref

−+==

,1

,13 . (5.7)

As distâncias utilizadas e os fatores de correção C2 e C3, bem como a defasagem

teórica 2l/c entre o pulso refletido e incidente na posição M1, estão apresentados na

Tabela 5.2.

l Fonte

Mic.

Porta

s

128

Tabela 5.2: Fatores de correção C2 e C3 e defasagem 2l/c.

L (m) l (m) s (m)

C3 2l/c (ms) 0,01 0,02 0,03

C2

1,1 0,1 1,008 1,017 1,026 1,20 0,580 0,2 1,008 1,016 1,024 1,44 1,159 0,3 1,007 1,014 1,022 1,75 1,739

Conforme mencionado no Capítulo 4, tipicamente as subtrações no numerador e

no denominador da Eq. (5.3) geram um padrão de interferência nos seus espectros,

conhecido como efeito comb-filter. Esse efeito é causado pela interferência entre os

pares de pulsos resultantes no numerador e no denominador, os quais apresentam sinais

opostos defasados entre si por intervalo de tempo correspondente à propagação de som

na distância de duas vezes o espaço s entre posições de microfones. Na Figura 5.18,

estão representadas as magnitudes de espectros teoricamente traçados para s = 1 cm,

2 cm e 3 cm, descritos pela equação ( )[ ]cfsfP /4cos12)( π−= , para o caso de ondas

planas (i.e., desconsiderando o decaimento geométrico). Os níveis em dB são dados em

relação ao valor máximo obtido pela equação, para o qual ocorre interferência

construtiva. Nos acentuados vales dos espectros, os valores do coeficiente de reflexão

sonora R, a partir da Eq. (5.3), serão indeterminados, pois qualquer desalinhamento

mínimo entre numerador e denominador fará com que R oscile fortemente, extrapolando

bastante a unidade, limitando assim a faixa de frequência útil de resultados pelo método

de dois microfones. A figura mostra que para maiores espaçamento entre microfones, os

vales ocorrem em frequências mais baixas, reduzindo assim a frequência útil superior.

Figura 5.18: Espectro teórico dos pulsos após subtrações, para distintos s.

129

Na Figura 5.19 são mostrados a magnitude dos espectros do numerador e do

denominador da Eq. (5.3), obtidos experimentalmente na medição junto à porta da

câmara, com exclusão das reflexões parasitas, através de janelamento temporal, para

uma distância do microfone M1 até a superfície de l = 20 cm e para os três valores do

espaçamento s. O padrão de espectros no numerador e no denominador, previsto

teoricamente na Fig. 5.18, é verificado. Mostra-se que para cada espaçamento entre

microfones, também é possível perceber pequenas oscilações, que nem sempre são

coincidentes para o numerador e para o denominador. Essas oscilações aumentam com a

frequência e com a distância entre microfones e, portanto, são oriundas da presença de

resíduos da subtração, como já visto. Limitando a faixa de frequências útil até 5 kHz, o

espaçamento de s = 2 cm parece ser suficiente, sem comprometer muito a precisão em

baixa frequências, o que pode acontecer com espaçamentos cada vez menores, como já

comentado no Capítulo 4.

Figura 5.19: Magnitude dos espectros do numerador e do denominador para l = 20 cm

variando-se: s = 1, 2 e 3 cm.

Na Figura 5.20 são apresentadas as magnitudes e as fases do coeficiente de

reflexão da porta de aço calculadas para os diferentes espaçamentos s entre microfones,

É importante apontar que os valores obtidos oscilaram ao redor dos valores esperados,

com magnitude próxima a 1 e com fase próxima de 0, na faixa de frequência útil do

ensaio entre 100 e 5000 Hz para s = 2 cm. Como visto na Fig. 5.19, acima de 5000 Hz,

ocorrem vales acentuados tanto no numerador quanto no denominador da Eq. (5.3),

devido ao efeito comb-filter. Assim, nessa região de frequência, os pequenos

desalinhamentos e oscilações dos resíduos das subtrações geram valores discrepantes de

|R|, que oscilam fortemente, sendo indeterminados.

Numer.

Denom.

s = 1 cm

s = 2 cm

s = 3 cm

0,2 0,5 1 2 5 (kHz) 0,2 0,5 1 2 5(kHz) 0,2 0,5 1 2 5(kHz)

dB0

-10

-20

-30

-40

-50

dB0

-10

-20

-30

-40

-50

dB0

-10

-20

-30

-40

-50

130

Figura 5.20: Magnitude (a) e fase (b) do coeficiente de reflexão R da porta de aço para

l = 20 cm, s = 1 cm, s = 2 cm e s = 3 cm.

Por fim, foram calculados valores médios e desvios padrão das magnitudes do

coeficiente de reflexão da porta de aço com l = 10 cm , 20 cm e 30 cm e s = 1 cm, 2 cm

e 3 cm para relacionar as oscilações e outras fontes de erros com a geometria do

equipamento. A Figura 5.21 mostra que valores mais próximos do esperado (|R| = 1)

ocorreram para a menor das distâncias (l = 10 cm) entre o microfone M1 e a superfície

sob teste, o que pode ser creditado aos menores fatores de correção.

Figura 5.21: Médias (a) e desvios padrão (b) da magnitude do coeficiente de reflexão

na faixa entre 100 Hz e 4 kHz, para l = 10, 20 e 30 cm.

Testes adicionais com superfícies corrugadas construídas foram então

conduzidos e serão apresentados em detalhe no próximo capítulo.

|R| ΦR

a) b)

a) b)

s = 1 cm

s = 2 cm

s = 3 cm

s = 1 cm

s = 2 cm

s = 3 cm

131

CAPÍTULO 6

MEDIÇÕES JUNTO A SUPERFÍCIES CORRUGADAS

Realizados ensaios preliminares em situações de referência, o passo seguinte foi

aplicar, dentro da mesma câmara reverberante, o procedimento de função de

transferência junto a amostras construídas com superfícies corrugadas, a fim de

determinar o respectivo coeficiente de reflexão. Antes de tudo, porém, serão listadas

algumas considerações importantes para o projeto das amostras e para a realização dos

ensaios e analisadas as respostas impulsivas obtidas, variando uma série de parâmetros

geométricos da superfície e do ponto de medição.

6.1. CONSIDERAÇÕES EXPERIMENTAIS

6.1.1. Tamanho da Amostra (B)

Na determinação do coeficiente de reflexão pela Eq. (5.3), admite-se uma

superfície bem extensa, de modo que reflexões das bordas devido à difração

praticamente não interferem no sinal refletido pela superfície. Isso pode ser conseguido

em última instância com adequado janelamento temporal do sinal medido para excluir o

sinal resultante desse efeito. Além disso, com superfícies mais extensas podem ser

usadas janelas temporais mais largas, o que é favorável para a resolução em baixas

frequências. Antes de tudo, porém, deve-se garantir que a extensão da superfície (B)

seja suficientemente grande com relação aos comprimentos de onda do sinal de

excitação, sendo que um valor de meio comprimento de onda já bastaria para que o

sinal refletido pela superfície seja significativo (i.e. B ≥ λ/2) [37]. Assim, para uma

frequência mínima de f = 100 Hz, seria necessária uma superfície de extensão B ≥ 1,7 m

e, para f = 500 Hz, B ≥ 0,34 m.

6.1.2. Distância (L) e Orientação entre a Fonte e a Superfície

Apesar de que o coeficiente de reflexão obtido pela Eq. (5.3) parte da hipótese

de ondas esféricas, as aproximações das diferenças de fase entre as ondas incidentes e

refletidas nos microfones admitem que uma frente de onda relativamente plana incide

sobre a superfície. A princípio, ondas esféricas podem ser aproximadas por ondas

132

planas para distâncias de propagação muito maiores que o comprimento de onda

(L >> λ), sendo que para distâncias de 10λ, já se alcançaria uma boa aproximação [90].

Esse pré-requisito implicaria que a fonte deveria ser posicionada a dezenas de metros da

superfície para baixas frequências, o que é impraticável.

Por outro lado, a aproximação da reflexão sonora de onda incidente esférica em

onda plana depende não só do comprimento de onda e da distância entre a fonte e a

superfície (L), mas também da dimensão desta (B), o que vai afetar a faixa angular de

incidência. Segundo FERNANDÉZ [36], a faixa angular de incidência de uma frente de

onda sobre uma superfície finita influencia sua absorção e reflexão sonora, de modo que

o coeficiente de reflexão de onda plana incidente tende a ser menor que o coeficiente de

onda esférica.

Para entender isso, deve-se levar em conta que um trecho de uma frente de onda

qualquer pode ser decomposto em um somatório infinito de frente de ondas planas, cada

qual se propagando em distintas direções ao longo da faixa angular a partir da fonte

sonora. Logo, o campo que atinge uma superfície pode ser aproximado ao de onda plana

incidente sob a direção do eixo central da faixa angular de incidência, caso esta não seja

muito ampla (Fig. 6.1). Para incidência normal de ondas esféricas no centro da amostra,

a aproximação do coeficiente de reflexão pelo de ondas planas é válida para ângulos de

incidência φi entre 90° e ±50°, para superfície localmente reativa, e entre 90° e ±60°

para superfície extensivamente reativa [36].

Figura 6.1: Faixa angular de incidência de onda esférica sobre superfície de extensão B.

φi φi

L

B/2 B/2

Fonte

Superfície

133

Consequentemente, a distância da fonte (L) e a própria extensão da superfície

(B), influenciam nessa aproximação. Se uma fonte pontual omnidirecional está muito

próxima ao centro da superfície e/ou esta é muito extensa, as frentes de onda esféricas

provenientes da fonte atingem a superfície sob uma faixa angular muito ampla, desde a

incidência normal até ângulos de incidência muito pequenos. Afastando a fonte do

centro da superfície na direção normal e/ou diminuindo a extensão desta, a faixa angular

de incidência estreita-se. A relação L/B determina, portanto, a faixa angular sob a qual a

onda esférica incide sobre a superfície e, dessa forma, a semelhança do coeficiente de

reflexão da superfície ao de ondas planas.

Considerando as faixas angulares de incidência sobre uma superfície para as

quais seu coeficiente de reflexão de incidência de onda esférica aproxima-se ao de onda

plana, tem-se que para superfícies localmente reativas, essa aproximação é válida para

L/B ≥ 0,6. Já para superfícies extensivamente reativas, para L/B ≥ 0,8. Assim, para uma

superfície de extensão B = 2 m, a distância fonte-superfície deve ser L ≥ 1,2 m para

superfícies localmente reativas e L ≥ 1,6 m para extensivamente reativas.

Com relação à orientação da fonte sonora em relação à amostra, deve-se levar

em conta a direcionalidade específica ao longo de cada eixo. Para se evitar efeitos de

borda, caso a amostra seja retangular, pode-se orientar a fonte de modo a que seu eixo

de maior direcionalidade esteja alinhado com a aresta menor, enquanto que o eixo de

menor direcionalidade esteja alinhado com a aresta maior.

6.1.3. Extensão e Período (Λ) da Corrugação

Para caracterizar superfícies corrugadas, a amostra deve ainda apresentar uma

quantidade suficiente de períodos para que o espalhamento seja devido principalmente à

periodicidade da corrugação e não à difração nas bordas. Foi visto no Capítulo 3 que no

campo afastado quanto maior o número de períodos, mais estreitos são os lóbulos de

direcionalidade, mais se aproximando ao espalhamento de uma superfície periódica

infinita. A partir do estudo numérico conduzido por KOSAKA e SAKUMA [91],

estima-se que uma amostra com 10 períodos já seria suficiente para caracterizar o

coeficiente de espalhamento ao de uma superfície periódica infinita.

Na prática, superfícies de barreiras podem ter extensão de dezenas de metros, o

que implicaria que uma fonte de ondas esféricas deveria estar a algumas dezenas de

metros também para que a incidência sobre toda a extensão seja semelhante à de onda

plana, como foi visto na seção anterior. Contudo, admitindo-se que para caracterizar o

134

espalhamento da superfície no mínimo 10 períodos da corrugação devem ser atingidos

pela frente de onda, na prática bastaria que a distância entre fonte e superfície fosse tal

que a faixa angular de incidência sobre apenas 10 períodos permitisse a aproximação ao

coeficiente de reflexão de ondas planas.

No Capítulo 5 foram apresentados resultados da estimativa da direcionalidade da

fonte-sonora selecionada e detectou-se que ao longo do eixo transversal (orientação

“B”), esta é menos direcional (i.e., mais uniforme) do que ao longo do eixo longitudinal

(orientação “A”). Assim, nos ensaios junto a superfícies corrugadas, para que as ondas

sonoras atinjam as corrugações de forma mais próxima a ondas planas, pode ser

interessante posicionar a fonte de modo que seu eixo transversal esteja alinhado à

direção de corrugação (orientação “B”), obtendo-se então uma incidência mais uniforme

ao longo de sua extensão.

Para testar como as ondas sonoras geradas pela fonte sonora selecionada atingem

uma região extensa que pode ocupar a amostra a uma dada distância L, foram realizadas

medições de varredura espacial em torno do eixo central da fonte, de forma muito

semelhante às da Seção 5.3.3, porém somente ao longo do eixo transversal. Assim, a

partir de determinadas distâncias da fonte (L = 1,00 m, 1,50 m, 1,75 m e 2,00 m) foram

feitas medições em passos de 10 cm, totalizando 23 posições para cada distância (11

para cada lado do eixo central), cobrindo uma extensão de 2,2 m (Fig. 6.2).

Figura 6.2: Nível de pressão sonora para diversas frequências ao longo do eixo

transversal da fonte sonora a distâncias (L) de 1,00 m, 1,50 m, 1,75m e 2,00 m.

Pontos ao longo do eixo transversal da fonte sonora

NP

S (

dB

) re

f ei

xo c

entr

al

100 Hz

125 Hz

200 Hz

500 Hz

1 kHz

2 kHz

4 kHz L = 1,75 m

L = 1,50 m L = 2,00 m

L = 1,00 m

-1,1 -1,0 -0,9 -0,8 -0,7 -0,6 -0,5 -0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1

-1,1 -1,0 -0,9 -0,8 -0,7 -0,6 -0,5 -0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1

-1,1 -1,0 -0,9 -0,8 -0,7 -0,6 -0,5 -0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1

-1,1 -1,0 -0,9 -0,8 -0,7 -0,6 -0,5 -0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 0

-1

-2

-3

-4

-5

-6

-7

-8

-9

-10

0

-1

-2

-3

-4

-5

-6

-7

-8

-9

-10

0

-1

-2

-3

-4

-5

-6

-7

-8

-9

-10

1

0

-1

-2

-3

-4

-5

-6

-7

-8

-9

-10

Orient. “B”

135

É constatada a característica direcional mais suave nessa orientação da fonte,

sendo obviamente ainda menos direcional, à medida que se aumenta a distância da

fonte. A partir de L = 1,50 m, até uma extensão de 0,5 m do eixo da fonte (marcadas nas

figuras), as diferenças de níveis com relação ao do ponto central alcançam no máximo

cerca de 1 dB para frequências de 250 a 4000 Hz. Então, a partir dessa distância da

fonte sonora, dentro da extensão de 1 m centrada no eixo central, pode-se dizer que a

incidência sonora normal estaria próxima da de onda plana numa boa faixa de

frequência. Para que pelo menos 10 períodos de uma superfície corrugada ocupem essa

extensão, seu valor unitário deveria ser então no mínimo Λ = 1 m/10 = 0,1 m. Com esse

período e considerando apenas a incidência normal no ponto central de uma superfície

corrugada, conforme a Eq. (3.10), espera-se obter espalhamento a partir da frequência

mínima de aproximadamente 3400 Hz, o que está dentro da faixa útil dos resultados do.

6.1.4. Espaçamento entre Microfones (s)

Conforme foi visto no capítulo anterior, o efeito de comb-filter, relacionado ao

espaçamento de microfones, limita a faixa útil dos resultados obtidos pelo método.Se,

por um lado, quanto maior o espaçamento de microfones, maior a frequência superior

da faixa útil, quanto menor ele for, a precisão em baixas frequências diminui, como

visto no Capítulo 4. Em [34] recomenda-se um valor de espaçamento de cerca de ¼ do

comprimento de onda a ser medida para se obter a menor variância entre os resultados,

mas ainda seria possível obter variâncias aceitáveis dentro de uma faixa entre

0,05λ ≤ s ≤ 0,45λ. Baseando-se nessa premissa, na Tabela 6.1 são apresentadas as

faixas de frequência f que proporcionam a menor variância de resultados para os

espaçamentos de s = 1 cm, 2 cm e 3 cm, previamente testados, considerando-se

velocidade do som à temperatura de 24°C de c = 345,4 m/s. Para s = 2 cm, a faixa de

frequência de 860 Hz ≤ f ≤ 7745 Hz para as quais teoricamente obtém-se a menor

variância com a frequência média de 4300 Hz, para a qual s = ¼λ, é a que melhor

coincide com a faixa de interesse dos ensaios de f ≤ 5 kHz.

Tabela 6.1: Faixas de frequências com menor variância de resultados para vários s.

s (m) Faixa de frequência f (Hz) f min f med f max

0,01 1720 8605 15490 0,02 860 4300 7745 0,03 580 2870 5165

136

6.2. AMOSTRAS

Com base nas considerações experimentais, foram projetadas em programa de

computador amostras de barreiras acústicas com perfis quadrado e triangular, no intuito

de testar o método junto a superfícies corrugadas de perfis diferentes, porém com

parâmetros geométricos semelhantes. Foi, então, adquirida a matéria-prima e depois

solicitada a fabricação na carpintaria do Inmetro de duas amostras, uma de cada perfil

(Fig. 6.3).

As amostras foram feitas de madeira, utilizando placas retangulares lisas de

compensado de aproximadamente 2,20 m x 1,48 m x 0,02 m (extensão x largura x

espessura) para a base e caibros de madeira pinus de cerca de 1,48 m de comprimento e

de 5 cm de lado para as corrugações. Os caibros foram postos sobre a base ao longo de

sua extensão B = 2,20 m, paralelos entre si com repetição ou período de Λ ≈ 10 cm e

fixados nas bordas com elementos de fixação. Assim, podem ser facilmente removidos

para se mudar o período da corrugação, por exemplo. Cada amostra tem massa de

aproximadamente 60 kg.

Todas as superfícies da base e dos caibros foram revestidas com fórmica, para

vedar eventuais ranhuras das madeiras, no intuito de promover maior reflexão sonora. A

parte traseira de cada amostra é lisa e também revestida com fórmica, o que permite

testar o coeficiente de reflexão sonora de superfície plana do mesmo material

constituinte das superfícies corrugadas, ao se realizar medições sobre esse lado das

amostras.

Figura 6.3: Construção das superfícies corrugadas e alojamento no local dos ensaios.

137

A superfície de perfil quadrado foi composta por 21 corrugações quadradas

(caibros) de cerca de 5,3 cm de aresta, i.e., largura (b) e altura (profundidade H),

espaçadas entre si por 5,3 cm. Assim, o período da corrugação Λ é de

aproximadamente 10,6 cm (Fig. 6.4).

Figura 6.4: Projeto da superfície corrugada com perfil quadrado.

A superfície de perfil triangular foi composta por 23 corrugações triangulares

(caibros cortados diagonalmente ao meio em 45°) de aprox. 9,5 cm de largura (b) e

4,7 cm de altura (profundidade H), posicionadas uma colada à outra, formando um

ângulo de aproximadamente 90° entre duas corrugações adjacentes. Dessa forma, possui

um período de corrugação Λ de cerca de 9,5 cm (Fig. 6.5).

Figura 6.5: Projeto da superfície corrugada com perfil triangular.

138

6.3. RESULTADOS DAS MEDIÇÕES

6.3.1. Posicionamento das Amostras e do Equipamento de Medição

Para minimizar reflexões de outras superfícies, as amostras foram colocadas

deitadas sobre o piso da câmara e posicionadas suficientemente distantes das paredes

(Fig. 6.6) no centro da sala, com o auxílio da guia laser. Tendo sido assim alocada a

primeira amostra a ser testada, foi então demarcado no piso o seu contorno com fitas

adesivas, para que medições subsequentes com a outra amostra, após a remoção daquela

primeira através de arrasto lateral, fossem realizadas na mesma posição, sem a

necessidade de mover o alto-falante e o microfone que foram posicionados a seguir.

Para auxiliar no posicionamento desses elementos, foram demarcadas sobre as

superfícies da amostra linhas de referência centrais. Também com a guia laser foram

então posicionados os dois tripés girafas, junto às laterais mais extensas da amostra,

(B = 2,20 m) ao longo das quais está a corrugação. O eixo central do alto-falante foi

alinhado com a normal da superfície e apontado ao topo da corrugação central da

amostra, para se obter incidência normal sobre este ponto. A guia linear do microfone

foi igualmente alinhada com a normal da superfície para o microfone se deslocar nessa

direção entre as medições com sua extremidade sobre o topo da protuberância central da

amostra, i.e., alinhada também com o eixo da fonte sonora.

Figura 6.6: Posicionamento, com auxílio da guia laser, de amostras corrugadas deitadas

no centro do piso da câmara reverberante e alinhadas ao equipamento de medição.

139

A partir do estudo da direcionalidade da fonte sonora e levando em conta a

maior extensão B = 2,20 m da amostra, a fonte foi posicionada à distância L = 1,77 m

sobre o topo de sua corrugação central. A essa distância e estando a fonte sonora com

seu eixo transversal paralelo à direção de corrugação (Fig.6.7), a onda sonora incidente

exibe uma distribuição de amplitude razoavelmente uniforme, numa ampla faixa de

frequências, ao longo de 5 períodos de corrugação em torno do centro de incidência, ou

seja, ao longo de 10 períodos centrais. Além disso, o ângulo de incidência desde a fonte

sonora até as bordas da corrugação é de 58°, enquanto que até a uma extensão de

aproximadamente 5 períodos para cada lado, que corresponde a aproximadamente ¼ da

extensão da corrugação (≈ B/4) este é de 72°, o que está bem dentro da faixa angular

para a aproximação da reflexão sonora por ondas planas incidentes. Por outro lado, na

direção do eixo longitudinal da fonte sonora, a onda atinge a superfície com alta

direcionalidade ao longo de sua menor dimensão C = 1,48 m, de modo que efeitos de

borda e a influência dos tripés girafas nas laterais devem ter menor influência nos sinais

medidos.

Nas medições junto à superfície plana da porta de aço da câmara (Capítulo 5), a

maior precisão de resultados foi obtida com a distância l = 10 cm do microfone M1 até a

superfície. Então, nos ensaios com as superfícies corrugadas, a distância máxima de M1

até o topo da superfície foi adotada como l1 = 15 cm (Fig.6.7). Como a guia linear do

microfone permite deslocamentos verticais de até 12 cm, a partir dessa posição, pode-se

mover o microfone até a distância de 3 cm do topo da amostra, com o passo s escolhido.

No entanto, deve-se manter o microfone a uma determinada distância da superfície para

que seja mínima a influência de possíveis ondas de superfície nas medições.

Figura 6.7: (a) Faixa angular de incidência sonora desde a fonte na orientação “B”

transversal à direção de corrugação e (b) detalhe do microfone sobre a amostra.

58° 72°

10Λ

l1 = 15 cm

L = 1,77 m

a) b)

140

6.3.2. Resposta Impulsiva junto à Superfície Corrugada de Perfil Quadrado

A primeira amostra a ser testada foi a de perfil quadrado, sob incidência normal

sobre o topo de sua corrugação central. É interessante para a análise da resposta

impulsiva junto à superfície corrugada compará-la com a obtida junto à superfície lisa

de mesmo material e dimensões. Assim, após as medições com a superfície corrugada

de perfil quadrado, a amostra foi virada ao contrário na mesma posição dentro da

câmara demarcada no piso e deitada sobre a superfície corrugada, expondo sua face lisa

(Fig. 6.8). As posições e orientações de fonte sonora e microfone com relação ao centro

da amostra foram assim mantidas as mesmas e as novas medições foram efetuadas.

Figura 6.8: Configuração das medições de incidência normal a l = 15 cm sobre o topo

central da superfície de perfil quadrado e sobre o centro da superfície lisa da amostra.

A Figura 6.9 mostra as respostas impulsivas obtidas com o microfone M1 a

l = 15 cm sobre o topo central da superfície de perfil quadrado e sobre sua face traseira

lisa. Como após a medição, o Monkey Forest apresenta a resposta em frequência, a

resposta impulsiva é obtida após aplicação de transformada inversa IFFT do registro

espectral. No Monkey Forest, a pressão é exibida em Volts (V). A escala temporal foi

convertida para fornecer uma escala espacial, ao multiplicá-la pelo valor da velocidade

do som de c = 345,4 m/s nas condições ambientais de medição na câmara. Essa

conversão de escala é conveniente para se identificar de forma mais direta os pulsos

pela sua distância percorrida desde o alto-falante até o microfone, sejam incidentes ou

refletidos. Apresenta-se o gráfico até c t = 3,20 m, distância correspondente à percorrida

pelo pulso refletido na extremidade da corrugação.

141

Figura 6.9: Respostas impulsivas (escala espacial) das medições a l = 15 cm sobre o

topo central da superfície de perfil quadrado e sobre o centro da superfície de perfil liso

da amostra.

Após o decaimento o pico direto do alto-falante, ocorrendo a 1,62 m (i.e., à

distância da fonte ao microfone: r inc,1 = L – l), pode-se identificar em ambas as respostas

um primeiro pico positivo refletido a aproximadamente 1,92 m, referente à reflexão

especular (i.e., à distância: rref,1 = L + l). Para a superfície corrugada, essa reflexão

ocorre no topo da corrugação central da superfície com amplitude bem menor que a da

superfície lisa. Isto é devido à menor área de reflexão nesse caso, já que a largura do

topo da corrugação é b ≈ 5,0 cm, proporcionando valor de pico de pouco menos da

metade daquele da superfície lisa.

Enquanto que na superfície lisa este pico de reflexão é atenuado rapidamente

após sua ocorrência, na corrugada é seguido por uma série de picos adjacentes, devido

ao espalhamento provocado pelas demais corrugações, que refletem o som em direções

além da especular. Entretanto, os primeiros picos positivos subsequentes, cerca de dois

ou três, são claramente devido às descontinuidades geométricas da superfície ainda no

primeiro período de corrugação. Isso pode ser comprovado pelo registro do terceiro pico

positivo de reflexão a cerca de 2,03 m, que corresponde à distância da reflexão

especular no rebaixo da corrugação central, que tem profundidade H ≈ 5 cm

Perfil quadrado (topo central)

b Λ l H

Perfil liso

l

i

1 3

2

2H 2l

1.6 1.8 2.0 2.2 2.4 2.6 2.8 3.0 c t (m)

p (V) 20 10 0 10 20

142

(rref,1 = L + l + 2H). Este pico apresenta-se bem pronunciado, bem maior que o pico da

reflexão especular no topo central, provavelmente por ser devido à reflexão conjunta

nos dois rebaixos adjacentes ao topo central sobre o qual o microfone foi posicionado

nessa medição, gerando interferência construtiva. Além disso, baixas frequências, que

não foram refletidas pelo topo da corrugação, são refletidas nesses rebaixos. O pico

positivo intermediário a 1,95 m pode se referir à reflexão na quina do topo central.

6.3.3. Influência do Perfil

Para investigar o quanto a forma do perfil influencia a resposta impulsiva, foi

removida a amostra de perfil quadrado e colocada em seu lugar a amostra de perfil

triangular, construída com período e profundidade semelhantes. Foram então medidas

respostas impulsivas com fonte e microfone às mesmas distâncias do topo central de

suas superfícies.

A Fig. 6.10 mostra a comparação entre as respostas impulsivas obtidas sobre

superfícies de perfil triangular, quadrado e liso a l = 15 cm, somente a partir do trecho

em que se inicia a reflexão, já que o pulso incidente é, em princípio, idêntico para todos

os casos.

Figura 6.10: Trechos de reflexão das respostas impulsivas (escala espacial) das

medições a l = 15 cm sobre as superfícies de perfil liso, quadrado e triangular.

Perfil quadrado (topo central)

b Λ l H

Perfil triangular (topo central)

l Λ H

Perfil liso

l

~ Λ

1.9 2.0 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 c t (m)

p (V) 20 10 0

-10

-20

143

Analisando os registros, nota-se que, ao contrário do que ocorre para o perfil liso

e para o quadrado, para os quais o primeiro pico de reflexão especular aparece

claramente a 1,92 m (embora com amplitudes distintas), para o perfil triangular a esse

mesmo instante-distância não há praticamente nenhum sinal desse pico. Isto é devido ao

topo triangular ter largura praticamente nula (b ≈ 0 cm), o qual quase não contribui para

a resposta impulsiva na faixa de frequências do sweep que vai até 24 kHz. Contudo, a

partir daí na direção da amostra, a corrugação vai se alargando e, por isso, a reflexão

aumenta levemente até cerca de 1,97 m, onde há a ocorrência de um pico de amplitude

baixa, semelhante à do primeiro pico de reflexão da superfície de perfil quadrado (a

1,92 m). Tal distância corresponde à do pulso especularmente refletido na metade da

profundidade (H/2 ≈ 2,4 cm) até o microfone: rref,1 = L + l + H. Esse pico suave deve ser

devido à dupla reflexão nas corrugações em forma de cunhas de 90°, como visto na

simulação teórica (Capítulo 3). Imediatamente após, há uma queda brusca da pressão

sonora, porém novamente à distância de cerca de 2,02 m há um pico positivo bem

pronunciado, tal como na amostra de perfil quadrado, que corresponde à distância das

reflexões especulares nos dois rebaixos adjacentes da corrugação central.

Na sequência desses primeiros picos positivos de reflexão, provenientes da

corrugação central sobre a qual o microfone foi posicionado, seguem-se uma série de

outros picos devido às corrugações adjacentes, i.e. reflexões em outras direções além da

especular. Esses picos ocorrem claramente espaçados de aproximadamente um período

de corrugação (Λ ≈ 10 cm) no trecho inicial, porém, à medida que se distanciam, o

espaçamento entre eles aumenta devido à maior distância percorrida por esses pulsos.

Em comparação com o registro da amostra de perfil quadrado, a triangular

apresenta picos posteriores muito mais pronunciados, que perduram por um bom trecho,

decaindo numa taxa muito menor com a distância. O trecho desde o primeiro pico

refletido na corrugação central até o refletido na extremidade da amostra tem energia

21% maior para o perfil triangular do que para o quadrado. Por outro lado, o trecho da

reflexão na corrugação central, somente até a reflexão dos rebaixos laterais, apresenta

somente 45% da energia do mesmo trecho para superfície de perfil quadrado e 44% da

superfície lisa. Portanto, como esperado devido à sua geometria, o perfil triangular

proporciona maior espalhamento em comparação ao perfil quadrado, que apesar de

também apresentar fracionamento do pico de reflexão especular, ainda assim favorece

mais a direção especular de reflexão, haja vista a concentração de energia nos primeiros

picos refletidos, comparável ao da superfície lisa, e a menor amplitude dos demais.

144

6.3.4. Influência do Período, da Largura e da Profundidade da Corrugação

Para analisar o quanto a geometria de um dado perfil influencia nas respostas

impulsivas, foram realizadas medições com a amostra de perfil quadrado com

parâmetros geométricos dobrados separada ou simultaneamente em relação à sua

configuração original: período, largura e/ou profundidade da corrugação. Isto foi feito

após se remover alternadamente 10 caibros e/ou reposicioná-los com relação aos 11

remanescentes fixos na amostra (Fig. 6.11). Para os casos em que os caibros removidos

foram recolocados na amostra, foi providenciado um caibro extra de mesmas

dimensões, para formar pares exatos com todos os caibros fixos.

Figura 6.11: Superfície de perfil quadrado com parâmetros geométricos modificados:

a) dobro do período; b) dobro da largura de topo e do período; c) dobro da profundidade

e do período; d) detalhe do caso anterior.

Os casos testados foram comparados com o da amostra de geometria original,

tida como referência, às mesmas distâncias de medição sobre a corrugação central. As

medições foram realizadas para diversas posições e aqui são mostradas apenas as

a) b)

c) d)

2Λ 2Λ 2b

2H

2H

145

respostas impulsivas para l = 10 cm. A fonte sonora foi mantida na mesma posição, à

distância de L = 1,77 m sobre o topo central da amostra, exceto no caso em que se

alterou a profundidade da corrugação. Nesse caso, devido a essa alteração e, mantendo-

se fixa a fonte, essa distância foi de L = 1,72 m.

Na Fig. 6.12 são apresentados os resultados de uma medição, realizada após se

remover alternadamente os 10 caibros da amostra, de forma a se obter o dobro do

período de corrugação da original, i.e., Λ2 = 2Λ = 21,3 cm, porém com a mesma largura

de topo b = 5,3 cm e mesma profundidade H = 5,3 cm (Fig. 6.11.a).

Figura 6.12: Trechos de reflexão de respostas impulsivas (escala espacial) de medições

a l = 10 cm sobre a superfície de perfil quadrado original e com o dobro do período.

Comparando com a resposta impulsiva obtida da amostra de geometria original,

o trecho inicial referente à reflexão na corrugação central apresenta tempos de chegada

e amplitudes do primeiro e do terceiro picos positivos muito semelhantes. Na escala

espacial, estes ocorrem a 1,86 m e a 1,98 m respectivamente, que, como visto,

correspondem aproximadamente às distâncias das reflexões no topo da corrugação

central (rref = L + l) e nos rebaixos centrais adjacentes (rref,1 = L + l + 2d), que em ambos

os casos não foram alteradas. Já o segundo pico positivo, apesar de ocorrer na mesma

Perfil quadrado modif.: 2Λ, b, H

b 2Λ l H

Perfil quadrado original: Λ, b, H

b Λ l H

1 2

3

Λ

1.9 2.0 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 c t (m)

p (V) 20 10 0

-10

-20

146

posição em ambos os registros (a 1,91 m), no caso com dobro do período apresenta

amplitude de cerca de 1/3 do original. Isto mostra que esse pico pode ser proveniente

não só da quina da protuberância central, mas também das quinas ou das superfícies

laterais das duas protuberâncias imediatamente adjacentes, que nesse caso estão mais

afastadas. Como o perfil quadrado favorece pouco o espalhamento, após estes três

primeiros picos positivos, em ambos os casos seguem-se pequenos picos devido às

demais corrugações, com amplitude de no máximo metade da do primeiro pico refletido

e que vão decaindo com a distância. Esses picos nem sempre são coincidentes para os

dois casos. Na amostra original, o quarto pico positivo, por exemplo, ocorre a 2,04 m,

enquanto que na amostra com o dobro do período de corrugação, este só ocorre cerca de

10 cm após, i.e., a 2,14 m, coincidindo com o quinto pico positivo do caso original,

devido ao dobro de espaçamento entre as corrugações.

Na Fig. 6.13 são mostrados resultados da medição, na qual os caibros retirados

foram recolocados, porém deslocados, faceando-os com os caibros adjacentes que

tinham permanecido fixos. Assim, a corrugação apresentou o dobro do período

Λ2 = 2Λ = 21,3 cm e o dobro de largura da original b2 = 2b = 10,6 cm, porém com a

mesma profundidade H = 5,3 cm (Fig. 6.11.b). Deslocou-se levemente a amostra na

direção de corrugação, de modo alinhar as faces de contato entre os caibros centrais, o

centro do topo de largura 2b, ao eixo de medição microfone-fonte.

Novamente, os três primeiros picos positivos referentes ao topo central são

identificados, porém desta vez todos com marcantes diferenças com os do caso da

amostra original. Na amostra de geometria modificada, o primeiro pico a 1,86 m

apresenta amplitude máxima 1,8 vezes maior que o da geometria original. Isto é devido

ao dobro da extensão da largura da corrugação, que faz a reflexão no topo ser mais

sensível para uma faixa maior de frequências mais baixas. O segundo pico mostra-se

novamente menor em relação ao original, tal como no caso anterior. Como foi visto,

este pico intermediário é devido, além da corrugação central, ao efeito da corrugação

seguinte, que aqui também está deslocada com o dobro do período. Já o terceiro pico,

referente aos rebaixos adjacentes, mostra-se mais alargado e levemente atrasado ao da

situação original, pois devido ao dobro da largura de corrugação, a distância percorrida

pela frente de onda refletida foi um tanto maior. Sua amplitude é, além disso, 65% da do

pico correspondente do caso original, como também do primeiro pico da reflexão da

geometria modificada. Isso difere sensivelmente do padrão de reflexão da resposta

impulsiva obtida com a geometria original, onde o terceiro pico positivo era quase o

147

dobro do primeiro, o que é creditado ao fato de grande parte da energia incidente já ter

sido refletida no topo da corrugação mais larga.

Figura 6.13: Trechos de reflexão de respostas impulsivas (escala espacial) de medições

a l = 10 cm sobre a superfície de perfil quadrado original e com o dobro do período e da

largura de topo.

Por fim, na Fig. 6.14, apresenta-se o trecho refletido da resposta impulsiva da

medição na qual os caibros retirados foram recolocados sobre cada caibro não removido

fixo na amostra. Assim, aumentou-se a profundidade de corrugação para o dobro

H2 = 2H = 10,6 cm, com o dobro do período Λ2 = 2Λ = 21,3 cm e a mesma largura

b = 5,3 cm da amostra original (Fig. 6.11.c). Como já mencionado, devido ao aumento

da profundidade de corrugação, a distância entre o topo central e a fonte sonora,

mantida fixa, foi automaticamente alterada para L2 = L – H = 1,72 m. Logo, numa

mesma distância de medição l ao topo da corrugação, ainda que igualmente espaçados

entre si de 2l/c, o pico incidente e o primeiro refletido chegam adiantados de cerca de

∆t = H/c em relação aos mesmos do ensaio original. Então, para facilitar a comparação

com o registro do ensaio com a amostra original a l = 10 cm, o registro da amostra com

o dobro da profundidade foi convenientemente defasado com tal intervalo de tempo ∆t,

a fim de sincronizar os primeiros picos refletidos.

Perfil quadrado original: Λ, b, d

b Λ l H

Perfil quadrado modif.: 2Λ, 2b, d

2b 2Λ l H

1

2

3

1.9 2.0 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 c t (m)

p (V) 20 10 0

-10

-20

148

A figura mostra, portanto, que, aplicando a defasagem, os instantes de

ocorrência do primeiro e do segundo pico positivo coincidiram para ambas as medições,

respectivamente a 1,86 m e a 1,91 m. O primeiro pico tem amplitude praticamente

idêntica, já que a largura do topo é a mesma. A amplitude do segundo é de novo

notavelmente menor no caso de geometria modificada, em vista do maior espaçamento

entre as corrugações. Finalmente, nesse último caso, o terceiro pico de reflexão aparece

defasado de 10,5 cm em relação ao da geometria original, i.e., aproximadamente a

distância 2H, devido ao dobro da profundidade do rebaixo. Sua amplitude é apenas

levemente inferior, proporcionalmente à maior distância percorrida. Os demais picos de

reflexão, referentes às corrugações seguintes, seguem o padrão de amplitudes bem

inferiores, em razão do pouco espalhamento proporcionado pelo perfil quadrado, com

decaimento à medida que se afastam da corrugação central. Suas ocorrências são

novamente nem sempre coincidentes às da amostra original, em função ao dobro do

período de corrugação.

Figura 6.14: Trechos de reflexão de respostas impulsivas (escala espacial) de medições

a l = 10 cm sobre a superfície de perfil quadrado, na configuração original e com o

dobro do período e da profundidade de corrugação.

Perfil quadrado original: Λ, b, d

b Λ l H

Perfil quadrado modif.: 2Λ, b, 2d

b 2Λ l

2H

1 2 3 3

2H 2H

1.9 2.0 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 c t (m)

p (V) 20 10 0

-10

-20

149

6.3.5. Influência da Extensão do Perfil Periódico

Ainda a respeito da influência de parâmetros geométricos de uma corrugação

sobre a resposta impulsiva, falta esclarecer a questão da extensão do perfil periódico.

Será válida a afirmação de que 10 períodos seriam suficientes para a caracterização do

espalhamento de uma amostra periodicamente corrugada para os experimentos

realizados? Qual o impacto da diminuição da extensão do perfil, i.e., da corrugação

total, sobre as respostas impulsivas numa dada posição de medição?

Para se obter respostas rápidas e práticas dessas e doutras questões, foram

realizadas medições com as amostras de perfil quadrado e triangular nas geometrias

originais, cada qual com 21 e 23 períodos, encobrindo-as com material absorvedor,

variando a área de cobertura. Dessa forma, a extensão da corrugação diretamente

exposta ao campo incidente foi também modificada. Para tal, foram deitadas sobre as

corrugações das amostras placas retangulares de lã de vidro, cada uma com 0,60 m de

largura por 1,20 m de comprimento, espessura de 5 cm e massa específica nominal de

32 kg/m³. Foram testadas as seguintes condições (Fig. 6.15): amostra totalmente

encoberta; apenas uma metade da corrugação encoberta; apenas o topo central exposto;

apenas o período central exposto; 3 períodos centrais expostos; e finalmente 9 períodos

centrais expostos. Todos os casos testados foram comparados com a medição junto à

amostra descoberta na mesma posição de microfone a l = 15 cm do topo central.

A Fig. 6.16 mostra o trecho de reflexão da resposta impulsiva medida com a

amostra de perfil quadrado totalmente encoberta. Em comparação com o registro da

amostra descoberta, o que se nota é que as placas de lã de vidro absorvem bem o pulso

incidente sobre a superfície e os refletidos, já que estes apresentam amplitudes bem

mais baixas. O trecho que contém os 3 primeiros picos positivos de reflexão tem valor

RMS cerca de 87% menor do que no caso da amostra descoberta. Outra observação é

que há uma defasagem de cerca de 1 cm na ocorrência desses picos. Isto é em razão da

maior impedância característica do material absorvedor em relação à do ar, o que

proporciona menor velocidade de propagação em seu interior, afetando a reflexão na

amostra. Os demais picos de reflexão são extremamente atenuados, praticamente

imperceptíveis, decaindo com a distância. Portanto, pode-se dizer que as placas de lã de

vidro cumprem bem o papel de encurtar a extensão da corrugação, conforme se encobre

a amostra.

150

Figura 6.15: Amostra corrugada encoberta com placas de lã de vidro: a) totalmente; b)

parcialmente em um dos lados; c) expondo apenas o topo central; d) expondo apenas 1

período; e) expondo apenas 3 períodos; f) expondo apenas 9 períodos.

Na Fig. 6.16 também é mostrado o mesmo trecho de reflexão da resposta

impulsiva com a amostra de perfil quadrado parcialmente encoberta com material

absorvedor em apenas uma metade da corrugação, i.e., as placas foram retiradas do

outro lado, que ficou totalmente exposto. O material absorvedor permaneceu sobre

apenas um dos lados até a metade do topo central, ou seja, a fonte sonora e o microfone

ficaram alinhados sobre o canto da respectiva placa limítrofe. Todos os picos de

reflexão coincidem na sua ocorrência espaço-temporal com os mesmos picos da amostra

a) b)

d) c)

f) e)

151

de perfil quadrado sem absorção. Contudo, como esperado, suas amplitudes são

notavelmente inferiores em até metade do valor, já que agora metade da corrugação está

encoberta. No trecho analisado de 1,80 m a 2,60 m, o valor RMS da resposta impulsiva

é de 52% do valor sem absorção. Assim, comprova-se que, devido à simetria da amostra

no ponto de medição, cada pico de reflexão é resultante da ação conjunta das

corrugações simétricas de cada lado.

Figura 6.16: Trechos de reflexão das respostas impulsivas (escala espacial) de

medições a l = 15 cm sobre a superfície de perfil quadrado descoberta, totalmente

encoberta e parcialmente em apenas um lado com material absorvedor.

Recolocando material absorvedor sobre os dois lados da amostra de perfil

quadrado, de modo a expor somente o topo central, a corrugação foi parcialmente

encoberta nos dois lados a partir dos rebaixos laterais centrais. Tem-se na Fig. 6.17 o

trecho de reflexão da resposta impulsiva nessa situação. Fica claro que a ocorrência do

primeiro e do segundo picos positivos de reflexão coincidem bem com o caso sem

absorção, sendo somente o último levemente defasado. A amplitude de pressão sonora

do trecho correspondente a esses picos é apenas levemente menor, com cerca de 72% do

valor RMS sem absorção, em virtude da espessura das laterais das placas absorvedoras,

que foram colocadas bem em cima de uma das quinas do topo. Assim, a onda sonora

incidente e refletida pela superfície do topo é lateralmente absorvida pelas placas

limítrofes, reduzindo um pouco a amplitude do primeiro e segundo picos, referentes

Perfil quadrado descoberto Perfil quadrado totalmente encoberto Perfil quadrado parcialmente encoberto (1 lado)

1 2

3

1.9 2.0 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 c t (m)

p(V) 20 10 0

-10

-20

152

respectivamente às reflexões na parte plana (topo) e na quina da protuberância central,

como já visto. O terceiro pico é levemente atrasado e bem atenuado, com amplitude

cerca de apenas 17% do valor sem absorção, já que os rebaixos centrais se encontram

encobertos pelas placas. Os picos seguintes, tal como no caso de amostra totalmente

encoberta, são também atrasados e de amplitude muito inferiores.

Na Fig. 6.17 tem-se também o trecho de reflexão da resposta impulsiva ao se

afastar as placas absorvedoras da parte central, de modo a expor somente o período

central inteiro, i.e., a corrugação foi parcialmente encoberta nos dois lados a partir das

protuberâncias laterais. Nesse caso, a amplitude do primeiro e do segundo picos

positivos são bem semelhantes às do caso sem absorção. Suas ocorrências espaço-

temporal também são coincidentes, entretanto, o segundo pico é levemente defasado,

em virtude da absorção nas laterais das placas limítrofes. Já o terceiro pico de reflexão,

ainda que de ocorrência bem coincidente com seu correspondente do caso sem

absorção, mostra amplitude um tanto inferior (65% do valor), também em virtude da

absorção nas laterais das placas. A partir daí, os demais picos de reflexão são, de forma

geral, extremamente atenuados. Esses resultados confirmam que os três primeiros picos

referem-se exclusivamente ao período de corrugação central, próximo ao microfone.

Figura 6.17: Trechos de reflexão das respostas impulsivas (escala espacial) de

medições a l = 15 cm sobre a superfície de perfil quadrado descoberto e parcialmente

encoberto com material absorvedor, expondo apenas o topo e o período central.

Perfil quadrado descoberto Perfil quadrado parcialmente encoberto (topo central exposto) Perfil quadrado parcialmente encoberto (período central exposto)

1 2

3

1.9 2.0 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 c t (m)

p(V) 20 10 0

-10

-20

153

Na Fig. 6.18, estão os trechos de reflexão das respostas impulsivas ao se afastar

ainda mais as placas da parte central da amostra, de modo a se expor 3 e 9 períodos

centrais inteiros, encobrindo parcialmente a corrugação nos dois lados. Nessas

situações, os 3 primeiros picos positivos de reflexão são semelhantes em amplitude e

coincidentes na ocorrência espaço-temporal, já que o material absorvedor encontrava-se

bem afastado da protuberância central. Os demais picos de reflexão têm ocorrência e

amplitude mais próximas do caso sem absorção, sendo que visualmente parece haver

maior semelhança pelo menos até cerca de 2,15 m e 2,40 m para os casos em que 3 e 9

períodos ficaram expostos, respectivamente. No trecho analisado até 3,20 m, ou seja, até

o instante de chegada da reflexão na extremidade da corrugação completa, a energia

refletida ( ( )∫= 2

1

2)(1

ct

ctref cdtctpcE ) de cada caso é respectivamente 84% e 97% da

obtida na resposta da amostra sem absorção com 21 períodos, enquanto que seus valores

RMS correspondem a 92% e 98% do valor obtido sem absorção.

Figura 6.18: Trechos de reflexão das respostas impulsivas (escala espacial) de

medições a l = 15 cm sobre a superfície de perfil quadrado descoberto e parcialmente

encoberto nas laterais com material absorvedor, expondo 3 e 9 períodos centrais.

Por fim, na Fig. 6.19, é apresentado o trecho de reflexão da resposta impulsiva

expondo 9 períodos centrais inteiros da amostra de perfil triangular, encobrindo

parcialmente a corrugação nos dois lados. Em comparação com o caso sem absorção, os

picos de reflexão coincidem e assemelham-se bem até uma distância de quase 2,40 m,

Perfil quadrado descoberto Perfil quadrado parcialmente encoberto (3 períodos centrais expostos) Perfil quadrado parcialmente encoberto (9 períodos centrais expostos)

2.0 2.2 2.4 2.6 2.8 3.0 c t (m)

p(V) 20 10 0

-10

-20

154

tal como a amostra de perfil quadrado com apenas 9 períodos expostos. A energia total

até 3,20 m é 90% da do caso descoberto, enquanto que o valor RMS, 94% do mesmo

caso. Portanto, cerca de 10 períodos parecem ser representativos do espalhamento

sonoro da superfície corrugada periódica. As amostras de perfil quadrado e triangular

com períodos de Λ ≈ 10 cm foram adequadamente projetadas para tal, estando a fonte à

distância de L = 1,77 m até elas.

Também na Fig. 6.19 mostra-se uma medição sem material absorvedor sobre a

amostra de perfil triangular obtida após se girar a fonte sonora de 90° em relação ao

eixo central, de modo a posicioná-la na orientação “A”, de maior direcionalidade, na

direção das corrugações. Comparando com a medição com fonte na orientação “B”, de

menor direcionalidade, alinhada com as corrugações, como foi adotado em todas as

demais medições, obtém-se a partir do quarto pico de reflexão a 2,23 m, amplitudes

sensivelmente menores. Isto é um efeito semelhante ao de se colocar o material

absorvedor sobre parte da amostra ou se encurtar sua corrugação para poucos períodos,

como já visto. Portanto, os ensaios com a fonte na orientação “B” na direção das

corrugações é de fato a mais indicada para a representatividade do espalhamento de

superfície periódica, pois um número maior de períodos é atingido mais uniformemente.

Figura 6.19: Trechos de reflexão das respostas impulsivas (escala espacial) de

medições com fonte na orientação “B” a l = 15 cm sobre a superfície de perfil triangular

descoberto e encoberto com material absorvedor, expondo 9 períodos centrais, e na

mesma posição sobre a superfície descoberta com fonte na orientação “A”.

Perfil triangular descoberto (orien. “B”) Perfil triangular parcialmente encoberto (9 períodos centrais expostos) Perfil triangular descoberto (fonte na orientação “A”)

2.0 2.2 2.4 2.6 2.8 3.0 c t (m)

p(V) 20 10 0

-10

-20

155

6.3.6. Influência da Posição de Medição junto à Superfície

Até aqui foram apresentados resultados de medições apenas sobre o topo central

da corrugação. Então, outra questão a ser elucidada é o quanto a resposta impulsiva das

amostras depende da posição do microfone sobre a superfície. Nesse sentido, foram

também empreendidas medições com fonte e microfone alinhados sobre uma quina e

um rebaixo central da amostra de perfil quadrado, após arrastá-la na direção do eixo

transversal da fonte sonora. Manteve-se assim a incidência normal e as posições de

fonte e microfone fixas entre si e com relação ao plano de referência das protuberâncias,

i.e., L = 1,77 m e l = 10 cm, porém os pontos de incidência sonora e de medição foram

alterados (Fig. 6.20).

No trecho de reflexão da medição sobre a quina central, detecta-se o primeiro

pico de reflexão praticamente coincidente e com amplitude semelhante à do caso sobre

o topo central. Contudo, o pico que corresponderia ao segundo, referente à reflexão na

quina, é inexistente, já que o microfone está agora sobre a própria quina, fazendo com

que o respectivo pico de reflexão coincida com o do topo. Nesse caso, o segundo pico

de reflexão, que corresponde ao terceiro da medição sobre o topo central, referente aos

rebaixos laterais, ocorre na mesma posição a 1,98 m, porém com amplitude

sensivelmente menor com 65% do valor original, já que aqui este é devido somente ao

rebaixo dessa quina. Os picos seguintes, referentes aos demais períodos mostram quase

nenhuma correspondência com os da medição sobre o topo central, pois aqui já não há

simetria geométrica da corrugação à linha de medição, devido à medição sobre a quina.

Já no trecho de reflexão da medição sobre um rebaixo da corrugação central, o

primeiro pico de reflexão é também levemente defasado, porém tem amplitude 1,3

vezes maior em relação ao da medição sobre o topo. Nesse caso, ele se refere à reflexão

nos topos das duas protuberâncias adjacentes e nas suas quinas laterais. Por isso, aqui

também não ocorre um pico correspondente ao segundo pico de reflexão da medição

sobre a protuberância central. Na sequência, o segundo pico de reflexão, correspondente

ao terceiro da medição sobre o topo central, ocorre praticamente na mesma posição a

1,98 m. Sua amplitude é novamente inferior, com 65% do valor original, já que aqui se

refere a apenas um rebaixo. Logo em seguida, a 2,02 m, ocorre um notável terceiro pico

positivo, de amplitude levemente maior em relação ao último, que se atribui à reflexão

nos rebaixos adjacentes. Seguindo a resposta impulsiva, os demais picos de amplitudes

muito inferiores também apresentam quase nenhuma correspondência com os da

medição sobre o topo central, apesar da simetria geométrica à linha de medição.

156

Figura 6.20: Trechos de reflexão das respostas impulsivas (escala espacial) de

medições a l = 10 cm sobre o topo, uma quina e um rebaixo central da superfície de

perfil quadrado.

A falta de correspondência ou correlação entre os picos seguintes após os

primeiros da corrugação central em posições diferentes de medição sobre uma

superfície corrugada mostra uma semelhança com o princípio do método de medição de

coeficiente de espalhamento, descrito em [39]. Nesse método de laboratório (câmara

reverberante), a amostra corrugada sob teste é girada em ângulos específicos através de

uma mesa giratória e mede-se o tempo de reverberação referentes a cada um desses

ângulos. Através da média entre as distintas medições, pode-se determinar o coeficiente

de reflexão especular da amostra, já que os respectivos picos estão sempre

correlacionados entre si, enquanto os restantes não. Isto foi visto aqui também de certa

forma com a correspondência entre até os dois primeiros picos positivos de reflexão da

corrugação central, referentes à reflexão especular, em diferentes posições sobre ela.

Para encerrar a análise sobre a influência da posição de medição, variou-se a

distância do microfone sobre o topo central. Foram então medidas as respostas

impulsivas em 3 posições com espaçamento de s = 3 cm: l = 13 cm, 10 cm e 7 cm.

Na Fig. 6.21, estão apresentadas as respostas impulsivas obtidas nessas

medições, incluindo o trecho do pulso incidente. Para cada posição de medição, são

registrados os 3 primeiros picos positivos de reflexão, referentes à corrugação central.

Topo central incidência Quina central normal Rebaixo central l

quina rebaixo

1.9 2.0 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 c t (m)

p(V)

20 10 0

-10

-20

157

Quanto mais próximo está o microfone da fonte sonora, o pico incidente ocorre mais

cedo, enquanto que os picos refletidos mais tardiamente, devido à maior distância da

superfície. Entre as posições de medição espaçadas entre si de s, cada pico incidente ou

refletido está espaçado de seu respectivo pico da mesma distância. Para uma dada

posição de medição, os picos que seguem os 3 primeiros refletidos, referentes às

corrugações lateriais, têm amplitude bem inferior e os mais tardios, coincidem cada vez

mais entre si. Essa maior coincidência ou correlação entre picos mais tardios de

diferentes posições de medição é atribuída aos menores ângulos entre as direções dos

trajetos desses pulsos, desde a reflexão em corrugações mais distantes até os

microfones, resultando assim em menores defasagens entre eles. Deve-se notar ainda

que a correlação entre os picos posteriores ao se variar apenas a distância de medição

até a superfície é porque aqui não se está alterando o ponto de incidência da onda

sonora sobre a mesma, como foi feito anteriormente.

Figura 6.21: Trechos de reflexão das respostas impulsivas (escala espacial) de

medições a l = 13 cm, 10 cm e 7 cm sobre o topo central da superfície de perfil

quadrado.

6.3.7. Definição de uma Janela de Reflexão Especular

A análise dos sinais medidos junto a superfícies corrugadas mostrou que as

respectivas respostas impulsivas são compostas por pulsos refletidos especulares

l1 = 13 cm s = 3 cm l2 = 10 cm l3 = 7 cm l

s s

s

1.8 2.0 2.2 2.4 2.6 c t (m)

p(V) 20 10 0

-10

-20

158

fracionados, os quais sob incidência normal são provenientes de uma região de

corrugação próxima ao ponto de medição sobre a superfície, seguido por uma série de

pulsos de reflexões originários das corrugações laterais. Já no Capítulo 3, foi vista que

na descrição do campo refletido pelo método de Holford-Urusovskii (H-U), na qual se

pressupõe um tom puro e incidência de onda plana, o espalhamento a partir de uma

superfície corrugada periódica infinita é tratado como sendo composto por uma

quantidade finita de ondas propagantes, cada qual em uma dada autodireção de reflexão

φn, que depende do período da corrugação, do ângulo de incidência e da frequência. No

entanto, devido à extensão finita da corrugação, é importante notar que o espalhamento

das amostras não deve ser exclusivamente nas autodireções, mas em faixas angulares

em torno desses ângulos. Além disso, a incidência sonora nas medições não é

exclusivamente normal, i.e., somente a φ0 = 90°, mas numa faixa angular ∆φ0 desde 90°

a ±58°, em vista da distância limitada entre fonte e superfície e da extensão desta.

O sinal sweep utilizado, que permite obter a resposta impulsiva acústica do

sistema, excita uma gama de frequências. Segundo a teoria de H-U, para cada

frequência acima da mínima de espalhamento (f ≥ c/[(1 + cosφ0)Λ]), há determinadas

ondas espalhadas em autodireções de reflexão φn, conforme a Eq. (3.8), cuja quantidade

aumenta com a frequência. Além disso, as fases das ondas refletidas espalhadas também

variam com a frequência. Portanto, tem-se que pelo método de multi-microfones

(Seção 4.4.2) para se determinar os coeficientes de reflexão referentes a cada

componente espalhado, as correções de amplitude e de fase, a serem aplicadas nos

espectros das respostas impulsivas, deverão ser igualmente dependentes da frequência.

Devido a essas questões que precisam ser detalhadamente tratadas, apesar do

equipamento de medição permitir o deslocamento do microfone em diversas posições

sobre a superfície e filtragem por bandas, não será utilizado por enquanto o método de

multi-microfones descrito no Capítulo 4, com o qual em princípio seria possível

determinar os coeficientes de reflexão de cada autodireção de espalhamento para uma

determinada (banda de) frequência. Para tal, deverá ser necessário aplicar um

processamento de sinal mais elaborado para as respostas impulsivas medidas em mais

de duas posições separadamente para cada banda, o que poderá ser feito futuramente.

De qualquer forma, com as respostas impulsivas medidas em apenas duas

posições, ou seja, com o método de dois microfones, pode-se ter uma estimativa do

coeficiente de reflexão especular R0 das superfícies corrugadas. Para tal, pode-se janelar

159

no tempo, i.e., selecionar, o trecho de reflexão das respostas impulsivas que contenha os

picos de reflexão especular.

• Janelamento (seleção) temporal

Para a determinação do coeficiente de reflexão de uma superfície qualquer, é

sempre necessário descartar dos sinais medidos reflexões espúrias subsequentes de

outras superfícies, além da difração nas próprias bordas da amostra, pela aplicação de

uma janela temporal, de modo a selecionar os pulsos de interesse, sejam eles incidentes

ou refletidos. Deve-se notar ainda que os sinais sweep exibem uma excelente relação

sinal-ruído e, além disso, no método de dois microfones, no numerador (Pn) da Eq. (5.3)

os pulsos incidentes em ambas as posições de medição são eliminados por subtração.

Dessa forma, para essa separação ou descarte em princípio não é necessário se

preocupar com o trecho anterior aos pulsos de interesse, fazendo assim a janela atuar a

partir do tempo t = 0. Basta então aplicar apenas um corte adequado do sinal após os

pulsos de interesse, estabelecendo como nulo o trecho subsequente a eles.

Um janelamento abrupto, com um corte retangular logo após os pulsos de

interesse, leva a uma grande perda de resolução principalmente em baixas frequências,

já que componentes de banda larga são automaticamente inseridos no sinal com essa

operação [88]. Portanto, é preferível que os cortes das janelas sejam suavizados, através

da aplicação de janelas híbridas, que combinem um trecho retangular de valor unitário

onde estão os componentes de interesse, com cortes suavizados nas extremidades.

Meias janelas de Blackman-Harris, descritas por um polinômio de cossenos das

amostras do sinal, cumprem bem o papel de prolongar e suavizar a extremidade da

janela retangular junto à qual são aplicadas. Quanto mais largos forem a janela e o corte,

melhor a resolução em baixas frequências. Porém, obviamente eles não podem ser

indefinidamente largos, devido à limitação da ocorrência de reflexões espúrias e de

efeitos de borda num determinado instante após os pulsos de interesse.

Não foram encontradas informações sobre um critério exato para o

posicionamento do início e do final do corte de janela temporal a ser aplica em respostas

impulsivas. Em [88], são citados critérios segundo o tempo médio e o desvio padrão dos

componentes de interesse. Simplificadamente, para picos bem definidos, como os da

reflexão sobre uma superfície lisa, a posição inicial pode ser logo após o último pico do

componente de interesse, tão logo haja um decaimento considerável. Já o final do corte

160

pode ser posicionado a partir do ponto onde a energia do sinal for baixa o suficiente em

relação ao valor de pico.

De qualquer forma, o final do corte precisa ser antes da ocorrência de reflexões

espúrias das bordas. Portanto, considerando uma medição à distância l do centro da

amostra, este deverá ser no máximo num dado instante tf = xc/c, sendo xc a distância

percorrida pelo pulso que reflete na extremidade de menor dimensão C da amostra, i.e.,

( ) ( )44 22222 ClCLxc +++= . Assim, ainda que para um microfone localizado, por

exemplo, a l = 15 cm, a distância percorrida pelo pulso refletido na extremidade das

amostras de extensão total B = 2,20 m seja de xb = 3,19 m, em princípio o mais

adequado seria posicionar o fim do corte no máximo à distância xc = 2,68 m, referente à

reflexão na borda do lado de menor dimensão C = 1,48 m. Contudo, se as medições

forem realizadas com o eixo longitudinal da fonte sonora (sob orientação “A”), de

maior direcionalidade, paralelo ao lado de menor dimensão (como tem sido feito), as

reflexões na respectiva borda já são bem atenuadas antes de chegarem ao microfone,

permitindo estender este limite máximo para um pouco além dessa posição ou instante

se for necessário. Portanto, pode-se aumentar um pouco a largura da janela, o que é

favorável para a resolução de baixas frequências.

Na Fig. 6.22, apresenta-se níveis de pressão sonora em dB, em relação a uma

amplitude unitária (re = 1 V), dos trechos de reflexão das respostas impulsivas medidas

à distância de l = 15 cm do centro da superfície lisa e do topo central da de perfil

quadrado, cujas amplitudes já foram apresentadas anteriormente na Fig. 6.9.

Diferentemente da superfície lisa, no caso da corrugada, não ocorre uma acentuada

queda de nível após os primeiros picos de reflexão especular provenientes da

corrugação central, sendo estes quase imediatamente sobrepostos por reflexões das

corrugações adjacentes. Isso traz limitações para o janelamento do trecho inicial

especular da resposta impulsiva da superfície corrugada, pois este deverá ser

extremamente estreito, comprometendo principalmente as baixas frequências.

Atrasando o início do corte para o instante em que o nível do sinal tenha atingido

um valor suficientemente baixo, i.e., quando o nível dos picos das reflexões adjacentes

já estiver muito abaixo do dos picos iniciais, faria com que o trecho refletido janelado

contivesse muito mais energia do que o trecho incidente, o qual também se seleciona

por janelamento. Como além da energia da reflexão especular, energia das reflexões

espalhadas estaria contida no trecho selecionado, não resultaria daí um coeficiente de

161

reflexão puramente especular, com valores fisicamente insensatos de R > 1 para altas

frequências.

Figura 6.22: Níveis de pressão sonora em dB dos trechos de reflexão das respostas

impulsivas medidas à distância de l = 15 cm do centro da superfície lisa e do topo

central da superfície de perfil quadrado.

Na Figura 6.23, tem-se o espectro em dB do trecho de reflexão da resposta

impulsiva medida a l = 15 cm sobre a superfície corrugada quadrada, aplicando uma

janela temporal híbrida com uma porção retangular sobre os pulsos refletidos

(especulares e espalhados), que estão mostrados na Fig. 6.22. Essa porção retangular foi

cortada com uma meia-janela direita de Blackman-Harris de 4 termos de 1 ms pouco

antes dos pulsos das bordas a 3,19 m (9,22 ms). Foi também excluído o pulso incidente

no microfone, através de um corte temporal similar com meia-janela esquerda

imediatamente antes dos pulsos refletidos, objetivando selecionar apenas o trecho

refletido da amostra com o mínimo de traço do pulso direto, já que aqui não se está

aplicando subtração deste pulso medido em outra posição. Compara-se com o trecho

refletido da resposta impulsiva medida na mesma posição sobre a superfície lisa

igualmente janelada, com cortes nos mesmos instantes.

Sup. lisa Sup. de perfil quadrado (topo)

Primeiros picos de reflexão

2.0 2.2 2.4 2.6 2.8 3.0 c t (m)

L(dB) 20 10 0 -10 -20 -30 -40 -50

162

Figura 6.23: Espectros em dB de trechos de reflexão janelados das respostas impulsivas

medidas à distância de l = 15 cm do centro da superfície lisa e do topo central da

superfície de perfil quadrado.

O gráfico inicia-se em 500 Hz, já que os cortes extremamente estreitos nas duas

extremidades da janela retangular degradaram bastante os resultados em baixas

frequências, e vai até 10 kHz, o limite da planicidade da resposta impulsiva. Percebe-se

que ambos os espectros têm níveis mais ou menos constantes com energias totais

equiparáveis, até cerca de 2400 Hz. A partir daí, enquanto o espectro da reflexão da

superfície lisa não mostra variações significativas, o espectro correspondente à

superfície corrugada apresenta uma queda brusca, certamente devido à interferência

entre picos refletidos, seguida de grandes oscilações e um grande incremento de energia

com a frequência. A frequência de 2400 Hz coincide com aquela para a qual pode

começar de fato o espalhamento na corrugação da superfície como um todo, segundo a

Eq. (3.10), levando em consideração que o ângulo de incidência não é exclusivamente a

90°, mas até ±58° nas extremidades da corrugação. O incremento de energia com a

frequência observado no trecho de reflexão da resposta impulsiva medida junto à

superfície corrugada é então devido ao espalhamento teoricamente previsto.

Através das medições realizadas, variando-se diversos parâmetros geométricos

das superfícies corrugadas e da posição de medição sobre o topo, o trecho contendo até

os três primeiros picos de reflexão foi identificado como referente à reflexão especular,

Sup. lisa Sup. de perfil quadrado (topo)

espalhamento

1 2 3 4 5 6 7 f (kHz)

L(dB) 45 40 35 30 25

163

proveniente da corrugação central para os casos analisados sob incidência normal.

Portanto, para se obter um trecho puramente especular, poder-se-ia buscar uma janela

temporal adequada a ser aplicada às respostas impulsivas medidas à mesma distância l

sobre a superfície corrugada e a superfície lisa, de modo que os respectivos trechos

janelados contenham a mesma energia e mesma duração.

Assim, após diversas tentativas, foram selecionados trechos de respostas

impulsivas obtidas junto à superfície lisa e à de perfil quadrado a l = 15 cm, que

satisfazem razoavelmente a essa condição, aplicando-se janelas híbridas com um corte

de meia janela direita de Blackman-Harris de 4 termos, entre ti = 5,70 ms e tf = 6,70 ms,

ou seja, de 1,97 m a 2,31 m na escala espacial. Na Figura 6.24 estão as respostas

impulsivas assim janeladas, incluindo os pulsos incidentes, mostrando as posições do

corte (ti e tf ) e o formato aproximado da janela temporal de seleção.

Figura 6.24: Trechos janelados das respostas impulsivas obtidas sobre a superfície lisa

e sobre o topo central da superfície de perfil quadrado a l = 15 cm, mostrando as

posições do corte ti e tf e a forma aproximada da janela temporal de seleção.

A diferença de energia dos trechos janelados das respostas impulsivas temporais

junto à superfície lisa e da superfície corrugada é menor que 3%. O corte de 1 ms é de

fato um tanto estreito, à custa de perda de resolução em baixas frequências, porém sua

pequena duração é necessária devido à quase imediata sobreposição de reflexões

Sup. lisa (janelada) Sup. de perfil quadrado (janelada)

p(V) 20 10 0

-10

-20

5,0 5,5 ti 6,0 6,5 tf t (ms)

Meia-janela de Blackman-Harris Janela retangular

164

provenientes de corrugações adjacentes. Levando em consideração que o pico refletido

da superfície lisa ocorre a 5,54 ms (i.e., a 1,92 m na escala espacial), o corte se inicia

em ti após sua ocorrência, num nível 12 dB abaixo de seu valor de pico, e termina em tf

num nível 20 dB abaixo do mesmo. Na resposta da superfície corrugada, o início do

corte no instante ti ocorre entre o segundo e o terceiro pico refletido especular. O final

do corte e tf é posicionado após este último, proveniente do rebaixo da corrugação, de

modo que este pico é atenuado durante a extensão da janela, juntamente com algumas

reflexões imediatamente adjacentes que ocorrem no final do corte.

Na realidade, a duração e o posicionamento da janela, juntamente com seus

cortes, poderão ser dependentes do perfil, do ponto de incidência e da posição do ponto

de medição sobre a superfície, uma vez que para cada configuração de medição obtém-

se uma resposta impulsiva diferente. Deve-se notar, no entanto, que variando somente a

distância à superfície de um dado perfil, os primeiros picos refletidos, referentes à

reflexão especular, ocorrem igualmente espaçados, porém com tempos de chegada

diferentes. Assim, em outras distâncias à superfície sobre o mesmo ponto de incidência,

para se obter trechos janelados com mesma energia que os da superfície lisa, o corte da

janela determinado para uma dada posição poderá ser apenas adequadamente deslocado

no tempo, mantendo sua duração de 1 ms.

6.3.8. Coeficiente de Reflexão Especular da Superfície de Perfil Quadrado

A partir da definição de uma janela temporal de reflexão especular para a

resposta impulsiva numa posição sobre o topo da superfície corrugada de perfil

quadrado, será estimado o respectivo coeficiente de reflexão especular sob incidência

normal pelo método de dois microfones com o equipamento construído.

Será utilizado aqui o espaçamento entre os microfones de s = 2 cm, já que o

estudo preliminar na Seção 6.1.4, indicou esse como o que poderia cobrir

satisfatoriamente a faixa de frequência de interesse para determinação de coeficiente de

reflexão até cerca de 5 kHz, além de não degradar tanto a precisão dos resultados em

baixas frequências. Embora para a determinação do coeficiente de reflexão sejam

utilizadas apenas duas posições, a fim de se comparar o resultado obtido a partir de

pares diferentes, a resposta impulsiva foi medida no total em quatro posições sobre o

topo da corrugação central: l1 = 15 cm, l2 = 13 cm, l3 = 11 cm e l4 = 9 cm, identificadas

respectivamente por M1, M2, M3 e M4.

165

Na Fig. 6.25 estão os registros espaço-temporais das respostas impulsivas

medidas. Visualmente percebe-se que o posicionamento dos microfones foi satisfatório,

uma vez que os picos relativos a uma dada posição de medição encontram-se

igualmente espaçados em torno de s = 2 cm com seus correspondentes de posições

adjacentes.

Figura 6.25: Trechos de respostas impulsivas (escala espacial) de medições a

l = 15 cm, 13 cm, 11 cm e 9 cm sobre o topo central da superfície de perfil quadrado.

A Tabela 6.1 mostra a posição da ocorrência na escala espacial dos picos

incidentes (rm,inc) e dos três primeiros picos positivos refletidos (r(n)m,ref, sendo n = 1, 2,

3 a ordem do n-ésimo pico refletido) na m-ésima posição de microfone (m = 1, 2, 3 e 4).

Tabela 6.1: Posições de ocorrência na escala espacial dos picos incidentes (rm,inc) e dos

três primeiros picos positivos refletidos (r(n)m,ref) na m-ésima posição de microfone

(arredondados em duas casas decimais).

mic. M1 M2 M3 M4

rm,inc (m) 1,62 1,64 1,66 1,68

r(1)m,ref (m) 1,91 1,89 1,87 1,85

r(2)m,ref (m) 1,95 1,93 1,91 1,89

r(3)m,ref (m) 2,03 2,01 1,99 1,96

s = 2 cm: l1 = 15 cm l2 = 13 cm l3 = 11 cm l4 = 9 cm

1,6 1,8 2,0 2,2 c t (m)

p(V) 20 10 0

-10

-20

i

r

166

A partir das posições dos picos, na Tabela 6.2, tem-se as devidas correções

C1,m = rm,inc/rm+1,inc para os pulsos incidentes e C2,m = r(1)m,ref/r

(1)m+1,ref para os primeiros

pulsos refletidos de ordem 1 (n = 1) a serem aplicadas para os sinais dos pares de

microfones M1-M2, M2-M3 e M3-M4. As respectivas defasagens temporais ±s/c a

serem empregadas entre eles também estão na tabela, levando-se em consideração o

mesmo espaçamento entre microfones em todos os pares. Os valores são apresentados

com até quatro casas decimais.

Tabela 6.2: Correções entre picos incidentes (C1,m) e entre os primeiros picos refletidos

(C2,m) de ordem 1, n = 1, e defasagens temporais para os pares de microfones adjacentes

(com quatro casas decimais).

par de mics. M1-M2 M2-M3 M3-M4 ±s/c (s)

C1,m 0,9878 0,9880 0,9881 – 5,7894E-05

C2,m 1,0106 1,0107 1,0108 5,7894E-05

Na Tabela 6.3, estão as correções C3,m = r(1)m,ref/rm,inc e a respectiva defasagem

temporal 2lm/c entre o primeiro pulso refletido (n = 1) e o incidente na m-ésima posição

de microfone, sendo lm a distância do microfone ao topo da corrugação.

Tabela 6.3: Correção entre o primeiro pico refletido (n = 1) e o incidente (C3,m) na m-

ésima posição de microfone e sua respectiva defasagem temporal (quatro casas

decimais)

mic. M1 M2 M3 M4

C3,m 0,8482 0,8677 0,8877 0,9081

2lm/c (s) 8,3946E-04 7,2367E-04 6,0789E-04 4,9210E-04

Com base nesses valores, aplicam-se as devidas correções e subtrações para os

sinais de cada par de microfones e são assim formados os numeradores (Pn) e os

denominadores (Pd) da Eq. (5.3), i.e., respectivamente os pulsos refletidos especulares e

os pulsos incidentes, a serem utilizados na determinação do coeficiente de reflexão

especular, conforme a equação. A Fig. 6.26 mostra o numerador e o denominador para o

167

par M1-M2, antes do janelamento, cujo formato aproximado da respectiva função está

mostrado na figura. Os pulsos incidentes e os pulsos refletidos especulares já estão

alinhados entre si, com a aplicação da correção C3,1 e da defasagem 2l1/c.

Figura 6.26: Numerador (Pn) e denominador (Pd) da Eq. (5.3) para o par M1-M2 de

medições a l1 = 15 cm e l2 = 13 cm sobre o topo central da superfície de perfil quadrado.

Nota-se que efetuada a subtração dos pulsos incidentes no numerador (Pn), há

um pequeno resquício dos mesmos antes dos picos refletidos, porém por conter pouca

energia em comparação aos picos de interesse (quase 30 dB abaixo), pouco deve afetar

os resultados. Já no denominador (Pd), o resíduo da subtração dos pulsos refletidos

especulares fracionados é bem maior e é devido à não completa correção e alinhamento

de todos eles entre dois microfones. Deve-se notar que aqui se está apenas aplicando a

correção C2,1 para o primeiro pico refletido e sua respectiva defasagem s/c. Entretanto, o

janelamento com corte à direita dos picos de interesse pode descartar esses resíduos

eficientemente.

Foi então aplicada ao numerador (Pn) e ao denominador (Pd) obtidos a partir das

respostas de cada par de microfones uma janela temporal híbrida com trecho retangular

até os componentes de interesse, combinado com um corte de 1 ms com meia-janela

direita de Blackman-Harris de 4 termos após sua ocorrência (Fig. 6.26). Esse corte foi

adequadamente deslocado no tempo para o numerador e o denominador relativos a cada

par de microfones, já que em cada um deles os componentes de interesse ocorrem em

Numerador para M1-M2 (pares de pulsos refletidos) Denominador para M1-M2 (pares de pulsos incidentes)

Trecho do corte: 5,70 a 6,70 ms

Resquícios da subtração dos pulsos incidentes

p(V) 20 10 0

-10

-20

5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 t(ms)

168

instantes diferentes, porém igualmente espaçados entre si. Como já visto, os limites

iniciais e finais da meia janela foram estabelecidos de modo que o trecho janelado no

numerador, que contém os pulsos refletidos, apresentasse a mesma energia do

numerador janelado obtido da medição sobre a superfície lisa com o mesmo par de

microfones. Na Tabela 6.4, tem-se os limites das meia-janelas para cada par, conforme

esse critério. Os instantes dos cortes das meias janelas coincidiram para os pares

M1-M2 e M2-M3, devido à pequena diferença de fase entre os picos de cada um deles.

Na Fig. 6.26 estão indicados os limites do corte relativo ao par M1-M2.

Tabela 6.2: Limites temporais do corte após os trechos de interesse para o numerador e

o denominador da Eq. (5.3) relativo a cada par de microfones.

par de mics. 1-2 2-3 3-4

ti (ms) 5,7083 5,7083 5,6458

tf (ms) 6,7083 6,7083 6,6458

Na Fig. 6.27 são mostrados os registros temporais dos trechos janelados do

numerador e do denominador relativos ao par M1-M2 e seus respectivos espectros. Os

espectros dos numeradores (Pn) e denominadores (Pd) obtidos a partir de cada par assim

janelados foram então divididos entre si, para a se obter coeficientes de reflexão

especulares da superfície de perfil quadrado sob incidência normal, pela Eq. (5.3).

Figura 6.27: Registros temporais janelados do numerador e do denominador a partir do

par M1-M2 sobre o topo central da superfície de perfil quadrado e seus espectros.

Na Fig. 6.28 estão os resultados da magnitude do coeficiente de reflexão

especular |R0| assim obtidos para cada par numa faixa de 300 Hz a 7 kHz. São também

Numer. (janelado) Denom. (janelado)

Reg. temporais janelados Espectros

169

apresentadas a média geral dos resultados e a maginitude do coeficiente de reflexão |R|

para o par M1-M2 sobre a superfície lisa do lado aposto da amostra, aplicando-se a

mesma janela temporal que foi utilizada para o caso da superfície corrugada.

Figura 6.28: Magnitude do coeficiente de reflexão especular |R0| da superfície de perfil

quadrado determinada a partir de três pares de microfones, bem como a média geral dos

resultados e o coeficiente de reflexão da superfície lisa do lado aposto da amostra.

A magnitude do coeficiente de reflexão especular |R0| da superfície de perfil

quadrado assim determinado segue a mesma tendência para todos os pares. Até 5 kHz,

oscila entre valores cerca de 0,3 e 1,4, com média geral de 0,833 para os três pares e

médias de 0,885 para o par M1-M2, 0,874 para o par M2-M3 e 0,784 para o par

M3-M4. Ou seja, há uma pequena diminuição da média dos valores para pares mais

próximos da superfície. Já para a superfície lisa de mesmo material da parte traseira da

amostra, os valores são próximos da unidade, com média de 0,975 mostrando que o

material é bom refletor ao longo de toda a faixa de frequências. Assim, as magnitudes

médias do coeficiente de reflexão especular da superfície corrugada ficaram um pouco

abaixo das da superfície lisa de mesmo material nessa faixa de frequência, devido ao

fracionamento dos picos especulares, o que provoca uma absorção aparente,

especialmente em médias frequências.

Como o trecho janelado ou selecionado no tempo cobre somente os picos de

reflexão provenientes da corrugação central, deve-se notar que em frequências mais

Coef. de reflexão |R0|: par M1-M2 par M2-M3 par M3-M4 média geral sup. lisa (|R|)

0,5 1 2 3 4 5 f (kHz)

|R0| 1,5 1,0

0,5

Perda de resolução:

janelamento

Absorção aparente: interferência entre

picos refletidos especulares

Dispersão de valores: espalhamento a partir de frequências mais baixas

Oscilações de valores: fora da faixa útil de

frequências

170

baixas, a reflexão é predominantemente nos rebaixos laterais, enquanto que a reflexão

no topo da corrugação é predominante para frequências mais altas. Para médias

frequências, há uma transição entre esses pontos de reflexão.

Para baixas frequências em torno de até 400 Hz, os valores ultrapassam a

unidade somente para os pares M2-M3 e M3-M4, mais próximos da superfície

corrugada. Isto pode ser creditado à pouca resolução em baixas frequências, devido ao

janelamento de 1 ms. É observada então uma queda uniforme dos valores até cerca de

1200 Hz para todos os pares, convergindo para até 0,3, indicando uma absorção

aparente devido à interferência entre os pulsos refletidos no topo e no rebaixo da

corrugação. A energia refletida especular foi espalhada para outras faixas de frequência.

A partir daí, os valores aumentam uniformemente de forma convergente para

todos os pares até 2400 Hz, onde atingem cerca de 0,9, ou seja, próximo do valor médio

da superfície lisa, e começam a apresentar dispersão. Essa é, curiosamente, a mesma

frequência para a qual pode começar de fato o espalhamento na corrugação da

superfície como um todo, como visto anteriormente. Para os pares M1-M2 e M2-M3

mais distantes, os valores seguem um pouco mais juntos até 4500 Hz, alcançando um

pouco acima da unidade, enquanto que para o par M3-M4 mais próximo da superfície,

mantêm-se abaixo da unidade. Em torno de 5 kHz, há uma grande elevação dos valores

de todos os pares, porém em intensidades diferentes. Acima dessa frequência, há uma

grande oscilação e dispersão de resultados, que já se encontram fora da faixa de

frequências útil do método com espaçamento de 2 cm entre microfones.

6.4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O coeficiente de reflexão especular obtido através do procedimento proposto,

pelo método de dois microfones com aplicação de seleção temporal do trecho especular

de resposta impulsiva de superfície corrugada, mostra resultados bem consistentes

dentro da faixa de frequência útil nos casos analisados. Falta ainda, porém, testar o

procedimento com a amostra de perfil triangular. Além disso, cabe mencionar que

apesar de que somente o coeficiente de reflexão especular tenha sido estimado, com as

medições realizadas em quatro posições diferentes de microfones, é em princípio

possível a obtenção de coeficientes de reflexão referentes a ondas refletidas em até duas

direções espalhadas além da especular (i.e., no total de três coeficientes), através de

adequado processamento de sinal com método de multi-microfones.

171

Nesse sentido, no intuito de promover maior espalhamento sonoro devido à

superfície corrugada, nas medições o alto-falante tipo d’Appolito foi girado de modo

que seu eixo transversal, ao longo do qual o campo é mais uniforme, fosse alinhado com

a direção de corrugação da superfície. Contudo, deve-se notar que para a obtenção

apenas do coeficiente de reflexão especular, esta orientação de alto-falante pode não ser

a mais favorável em vista da ocorrência de reflexões espalhadas da superfície corrugada

imediatamente após a especular, o que implica em aplicação de um corte bem estreito

de janela temporal. Como visto nos casos analisados de incidência normal, o trecho

refletido especular da resposta impulsiva é proveniente de uma pequena região de

corrugação ao redor do ponto de incidência, referente a um ou dois períodos. Logo, se o

espalhamento puder ser de alguma forma reduzido, seja por colocação de material

absorvedor lateralmente ao ponto de incidência ou por incidência sonora mais direcional

sobre essa região, pode-se aplicar um corte mais longo de janela temporal, o que é

favorável à obtenção de resultados com maior resolução em baixas frequências. Assim,

se o alto-falante for girado em 90°, ou seja, de modo que seu eixo longitudinal, ao longo

do qual o campo é mais direcional, seja alinhado com a direção de corrugação da

superfície, pode-se favorecer a determinação do respectivo coeficiente de reflexão

especular através do procedimento proposto.

Mesmo que as reflexões espalhadas sejam assim reduzidas, para a obtenção do

coeficiente de reflexão especular da superfície corrugada pelo procedimento é ainda

necessário primeiro comparar as respectivas respostas impulsivas com as de uma

superfície de referência lisa de mesmo material para a determinação da janela temporal

a ser aplicada. Em vista de que na prática nem sempre tais superfícies estão disponíveis,

seria muito útil uma forma de se obter um trecho de reflexão especular das respostas

impulsivas medidas junto a superfícies corrugadas sem esse artifício. Na seção 6.3.6, foi

visto que a resposta impulsiva medida sobre diferentes pontos de incidência apresenta

picos de reflexão especular bem coerentes entre si, enquanto que os picos referentes à

reflexão espalhada, devido às outras corrugações, são pouco correlacionados com os

correspondentes obtidos em distintos pontos de medição. Essa pode ser a chave para

uma obtenção direta de um trecho refletido especular, tal como em métodos de medição

do coeficiente de espalhamento de superfícies corrugadas [39],[40], entretanto sem girar

a amostra, como é feito nesses procedimentos, o que inviabilizaria a aplicação in-situ.

Na Figura 6.29 é apresentada uma média das respostas impulsivas das medições

nas três posições sobre a corrugação central: topo, quina e rebaixo a l = 10 cm,

172

mostradas na seção 6.3.6. Percebe-se que os picos de reflexões das demais corrugações

são bem atenuados, enquanto que os picos das reflexões no topo e no rebaixo da

corrugação central se sobressaem. No mesmo gráfico, é mostrada a resposta impulsiva

da medição sobre a superfície lisa, como referência, e nota-se que após os componentes

de reflexão especular, as respostas impulsivas se assemelham, mostrando como as

reflexões das demais corrugações são suprimidas através da média. É interessante notar

que no trecho de reflexão, a energia da média das respostas impulsivas medidas sobre a

superfície corrugada é cerca de 60% da energia da resposta sobre a lisa, enquanto que o

valor RMS da média das respostas da superfície corrugada é 78% do valor da resposta

sobre a lisa, o que pode indicar que nem toda energia é refletida na direção especular.

Figura 6.29: Trechos de reflexão da média de respostas impulsivas (escala espacial) de

medições a l = 10 cm sobre o topo, uma quina e um rebaixo central da superfície de

perfil quadrado e sobre a superfície lisa.

Em vista desse resultado, poderia ser proposto um procedimento alternativo para

a determinação do coeficiente de reflexão especular de superfície corrugada pelo

método de dois microfones, nos quais os sinais nas duas posições de medição sobre a

superfície são médias de respostas impulsivas obtidas em diferentes pontos à mesma

distância da superfície sobre a região de reflexão especular. Assim, uma vez obtidas os

sinais médios, seria aplicado o método de dois microfones com esses sinais. A

quantidade de pontos de medição a serem utilizados deve ainda ser investigada.

Sup. lisa Sup. de perfil quadrado: média sobre o topo, a quina e o rebaixo centrais

incidência normal

l

2,0 2,2 2,4 2,6 2,8 3,0 t.c (m)

p(V) 20 10 0

-10

-20

173

CAPÍTULO 7

CONCLUSÕES

No presente trabalho foi conduzido um estudo teórico e experimental sobre o

espalhamento sonoro por superfícies corrugadas periódicas empregadas em barreiras

acústicas difusoras, visando o desenvolvimento de um método de medição do

coeficiente de reflexão sonora dessas barreiras, a ser aplicado in-situ. A investigação foi

baseada em simulações computacionais, numa revisão bibliográfica, na concepção de

equipamento e metodologia de medição e em medições em laboratório.

Foram apresentados resultados de simulações anteriormente realizadoas com o

método dos Elementos de Contorno sobre o campo refletido espalhado, nos quais são

observados efeitos de focalização e intensa interferência acústica à frente de tais

superfícies. A partir daí, foi aplicado o método de Holford-Urusovskii para o cálculo do

campo em frente de superfícies periódicas infinitas, no intuito de analisar o efeito da

geometria e da forma da corrugação. Esse método assume que, devido à periodicidade

dessas superfícies, o espalhamento sonoro ocorre exclusivamente em autodireções, que

dependem do comprimento de onda, do período da corrugação e do ângulo de

incidência. O cálculo do campo pelo método envolve um sistema complexo de

equações, que pode ser solucionado por aproximações numéricas e analíticas. Foi

desenvolvido neste trabalho, a partir de séries de Fourier, a implementação do método

de Holford-Urusovskii para perfis periódicos quaisquer além do senoidal. Foram então

calculados os campos referentes a diferentes perfis periódicos. Os resultados mostraram

que, além dos efeitos de focalização, a quantidade de autodireções de espalhamento

aumenta para altas frequências e menores ângulos de incidência, sendo a distribuição de

energia sonora em cada uma dessas direções dependente da forma do perfil. Um perfil

senoidal, por exemplo, distribui mais uniformemente a energia refletida do que um

triangular. Este último, apesar de apresentar espalhamento nas mesmas autodireções,

favorece direções específicas de reflexão, tais como a própria reflexão especular, devido

a efeitos de dupla reflexão entre as cunhas ou protuberâncias.

Ao se analisar o campo afastado de reflexão de superfícies corrugadas periódicas

finitas pela aproximação de Fraunhofer, foi constatado que as direções dos lóbulos de

máximos da função de direcionalidade de reflexão de tais superfícies são as mesmas

174

autodireções de espalhamento previstas pelo método de Holford-Urusovskii para

superfícies infinitas. Conforme se aumenta o número de períodos e, com isto, a extensão

da corrugação, mais estreitos tornam-se os lóbulos, enquanto que nas demais direções, o

campo é suprimido. Desta forma, no campo afastado de superfícies finitas com um

número suficiente de corrugações, tem-se que o espalhamento é quase exclusivamente

nas autodireções previstas para superfícies infinitas, para as quais existe apenas o campo

próximo. Estando o campo próximo assim relacionado com o campo afastado, é de se

esperar que resultados de medições realizadas próximas à superfície possam ser

utilizados, após a introdução de correções, para representar resultados que seriam

obtidos longe da mesma, no local de imissão.

Foi feita uma revisão dos principais métodos de medição de propriedades

refletoras e absorventes de superfícies de barreiras acústicas. Foram assim apresentados

detalhes de métodos clássicos de laboratório, o método de câmara reverberante e de

tubo de impedância, bem como os in-situ, representados por dois métodos europeus, o

método Adrienne e seu sucessor, o método Quiesst. Foram vistas as deficiências dos

atuais métodos in-situ junto a barreiras corrugadas, tais como produzir valores de

“índice de reflexão” maiores que a unidade, indicando que a energia refletida seria

maior do que a incidente na barreira. Isso acontece devido às medições serem

conduzidas em campo próximo, onde ocorrem efeitos de focalização como previsto

teoricamente. A possibilidade de relação entre campo próximo e afastado sugerida neste

trabalho concorda com a ideia do procedimento de engenharia, formulado na

investigação do método Quiesst, com o qual é possível estimar valores de campo

afastado a partir das medições de campo próximo. Assim, apesar de as medições em

campo próximo ainda fornecerem resultados inconsistentes para superfícies corrugadas,

com esse método obtém-se resultados plausíveis em campo afastado através de

polinômios de extrapolação e de bancos de dados de situações previamente simuladas.

No entanto, medições in-situ em campo afastado ainda não foram bem sucedidas,

devido às dificuldades metrológicas inerentes, tais como reflexões espúrias que chegam

ao local de medição sobrepostas aos componentes de interesse, correspondentes à onda

incidente e à refletida pela barreira, para a determinação de um coeficiente de reflexão.

A pesquisa bibliográfica dos métodos in-situ europeus pode ter a contribuir para

a atualização da norma brasileira sobre barreiras acústicas [12], que está sendo

planejada no momento. Ressalta-se aqui que a norma atual menciona apenas o

175

procedimento de laboratório em câmara reverberante para a avaliação da refletividade

de barreiras, cujos resultados, como visto, não são representativos de valores de campo.

Foi também apresentado o método de função de transferência entre microfones

em campo aberto, que pode ser aplicado in-situ. Uma vantagem desse procedimento de

medição é a simplicidade no que diz respeito à eliminação do componente incidente.

Esta é feita ao se manipular os sinais medidos em distintas posições próximas entre si e

da superfície, evitando, assim, a necessidade e os erros inerentes de medições de campo

livre na ausência de superfície sob teste, tal como nos métodos Adrienne e Quiesst.

Além disso, esse método, que originalmente utiliza apenas duas posições de microfones

(método de dois microfones), pode ser estendido para o caso de superfícies corrugadas

periódicas, medindo-se em mais posições de microfones (método de multi-microfones),

conforme a quantidade de autodireções de espalhamento, para determinar os respectivos

coeficientes de reflexão.

Baseado nesse método, foi então projetado e construído um sistema

experimental para medição de propriedades refletoras de superfícies, que em princípio

pode ser aplicado in-situ. O sistema é composto por equipamento que utiliza um alto-

falante e um microfone de ¼’’ suportados por tripés tipo girafa independentes. Foi

utilizada uma niveladora laser para auxiliar o posicionamento dos itens do equipamento,

mas para agilizar esse procedimento, uma segunda niveladora poderia ser bem útil. Uma

vez posicionados os itens no local de ensaio, medições consecutivas foram facilmente

realizadas.

O sinal de excitação utilizado foi do tipo sweep, adequadamente compensado

para se obter uma resposta impulsiva com espectro plano numa ampla faixa de

frequências e que apresenta várias vantagens com relação ao MLS anteriormente

utilizado no método Adrienne, como eliminação de distorção harmônica e maior

imunidade a ruído de fundo, ideal para medições in-situ. A fonte sonora do tipo

D’Appolito escolhida apresenta direcionalidade maior num dos eixos de simetria

frontais, o que favorece testar superfícies de menores dimensões, já que, ao se alinhar o

eixo de maior direcionalidade da fonte com a direção de menor dimensão da amostra,

efeitos de borda podem ser facilmente suprimidos.

Testes preliminares com o sistema experimental mostraram que os sinais obtidos

pouco são afetados por reflexões espúrias dos tripés e suportes do equipamento. A perda

geométrica da pressão sonora, idealizada no cálculo do coeficiente de reflexão, foi

comprovada. Foi observado que a eliminação por alinhamento e subtração de

176

componentes incidentes e refletidos deixa pequenos resquícios destes nos sinais

medidos, mas que não compromentem a qualidade dos resultados como um todo. Isso

poderia ser melhorado, por exemplo, com o emprego da otimização da subtração do

método Quiesst, ao se deslocar no tempo, i.e., defasar, o sinal a ser subtraído

previamente alinhado em pequenos passos, até se obter o mínimo dos quadrados dos

resquícios. Essa técnica de otimização de subtração, no entanto, não foi utilizada neste

estudo por ser um tanto laboriosa, porém nada impede que possa ser aplicada no futuro,

caso seja adequado.

O procedimento de dois microfones foi utilizado para medições junto a uma

superfície lisa e rígida numa câmara reverberante, excluindo reflexões espúrias com

adequada seleção temporal (“janelamento”). Foram obtidos resultados satisfatórios com

magnitude e fase do coeficiente de reflexão de aproximadamente |R| = 1 e Φ = 0°,

respectivamente. Foi determinado que um espaçamento de s = 2 cm entre as posições de

microfones poderia cobrir satisfatoriamente uma faixa de frequências até 5 kHz, sem

prejudicar muito a precisão dos resultados em baixas frequências. Melhores resultados

foram obtidos com microfone mais afastado à distância da superfície de l = 10 cm.

Na mesma câmara reverberante foram então investigadas respostas impulsivas

sob incidência normal obtidas junto a superfícies corrugadas fabricadas de madeira,

uma de perfil quadrado e outra de perfil triangular, com parâmentros geométricos

semelhantes: período, profundidade e extensão da corrugação. Através de modelos

teóricos e resultados experimentais da direcionalidade da fonte sonora, foram

determinados os valores do período (Λ) e extensão (B) das amostras e da distância (L)

entre fonte e superfície, de modo a se obter um campo razoavelmente uniforme ao longo

de 10 períodos de corrugação. Estes foram cerca de Λ = 10 cm, B = 2,2 m e L = 1,77 m.

A profundidade das corrugações foi H = 5,5 cm e a largura das mesmas foi de

b = 5,5 cm para a amostra de perfil quadrado e b = 9,5 cm para a amostra de perfil

triangular. Portanto, a primeira foi composta de 21 períodos, enquanto a segunda de 23.

As medições mostraram que, em oposição à resposta impulsiva da superfície

plana do verso das amostras, que apresenta um único componente impulsivo refletido

(especular), a de superfícies corrugadas apresenta diversos componentes impulsivos

refletidos, devido ao espalhamento sonoro. Como esperado, devido à sua forma, o perfil

quadrado não espalha tanto quanto o triangular, haja vista a concentração de energia da

sua resposta impulsiva no trecho inicial que contém os três primeiros picos positivos

refletidos. Já a energia da resposta impulsiva obtida com o perfil triangular é mais

177

distribuída ao longo dos diversos picos refletidos, até os mais atrasados, provenientes de

corrugações mais distantes do ponto de medição.

Os picos refletidos das respostas impulsivas obtidas com ambos os perfis podem

ser facilmente relacionados com as partes das corrugações, tais como topos e rebaixos,

através do tempo ou da distância percorrida desde estas até o microfone. Assim, através

de medições teste nas quais foram dobrados separada ou simultaneamente parâmetros

geométricos tais como período, largura de topo e profundidade de corrugação, pôde-se

mostrar que os três primeiros picos positivos refletidos da superfície de perfil quadrado,

provenientes da região próxima ao microfone, referem-se predominantemente à reflexão

especular sob incidência normal.

Ao se colocar material absorvente sobre as superfícies, de modo a encobrir parte

ou toda a extensão de corrugação, foi possível comprovar que cerca de 10 períodos são

suficientes para caracterizar o espalhamento sonoro por superfícies corrugadas,

conforme trabalho numérico realizado anteriormente por outros pesquisadores [91].

A dependência das respostas impulsivas com a posição do microfone foi

analisada com medições em que esta, juntamente com a da fonte, foi alterada

horizontalmente, modificando-se o ponto de incidência, i.e., o ponto na superfície para o

qual a fonte sonora está apontada (para tal, foram considerados um topo, uma quina e

um rebaixo da corrugação central). Em outra análise, somente a posição do microfone

foi alterada verticalmente sobre o topo central da corrugação, para investigar a

dependência das respostas impulsivas com a distância até a superfície. No primeiro

caso, os primeiros picos de reflexão pouco são alterados com relação a seu instante de

chegada, porém os demais apresentam pouca correlação de fase entre si. No segundo,

ocorre o oposto, ou seja, os primeiros pulsos não são coincidentes, mas aparecem

defasados de intervalos aproximadamente proporcionais ao espaçamento entre

microfones, enquanto as reflexões provenientes de corrugações mais distantes se

sincronizam, devido a diferenças de percursos cada vez menores.

Para a determinação da reflexão sonora das superfícies corrugadas, o método de

multi-microfones, baseado nas autodireções de espalhamento, embora seja, em

princípio, possível de ser aplicado, não foi utilizado nesta pesquisa, pois requer um

processamento de sinais mais elaborado, aplicando correções e defasagens dependentes

da frequência. Tal processamento seria um tanto dispendioso, além de demandar mais

investigações. Entretanto, almeja-se num futuro próximo, com as medições já

realizadas, verificar a aplicação de tal método para a determinação dos coeficientes de

178

reflexão relativos às autodireções de espalhamento em bandas de frequência que

compõem as respostas impulsivas. De qualquer forma, pelos espectros de trechos

temporais refletidos selecionados (“janelados”) de uma resposta impulsiva junto à

superfície de perfil quadrado foi possível verificar experimentalmente a ocorrência do

espalhamento a partir da frequência de 2400 Hz, levando em consideração o período da

corrugação e os ângulos de incidência, que não são simplesmente de 90°, mas de até

cerca de ±58°, devido à distância da fonte à superfície e à extensão desta.

Para obtenção do coeficiente de reflexão especular da superfície de perfil

quadrado, foi então proposto um procedimento com duas posições de microfones

(método de dois microfones) através de seleção temporal do trecho das respostas

impulsivas associadas que contém os picos referentes a reflexões especulares. O corte

do intervalo foi definido a partir da comparação com a resposta impulsiva obtida da

superfície lisa do verso da amostra, de modo que os trechos selecionados das respostas

impulsivas de ambos os casos contivessem a mesma energia e duração. Assim, foi

definida uma janela híbrida composta por um trecho retangular, onde está a maior parte

dos componentes especulares de interesse, seguida de um corte de 1 ms na forma de

meia janela de Blackman-Harris de 4 termos. A curta duração do corte foi necessária

devido à quase imediata sobreposição de reflexões espúrias de outras corrugações na

resposta impulsiva da superfície corrugada, que não se referem à reflexão especular.

Foram então apresentadas as magnitudes dos coeficientes de reflexão assim

calculados a partir de três diferentes pares de microfones, separados entre si por

s = 2 cm a distâncias de l = 9 a 15 cm sobre o topo da corrugação central da superfície.

Na faixa de frequência de 300 Hz a 5 kHz, os valores seguiram uma mesma tendência,

oscilando entre 0,3 e 1,4 e, na média, ficaram um pouco abaixo daqueles do coeficiente

de reflexão da superfície lisa obtido com o par mais distante da superfície, referente

apenas à reflexão especular, para o qual obteve-se valores constantes próximos da

unidade. A interferência entre os picos fracionados de reflexão especular da superfície

corrugada é a causa de uma absorção aparente em médias frequências. Os resultados em

baixas frequências foram um tanto prejudicados devido ao corte de janela temporal bem

curto empregado.

O procedimento de se tomar a média dos trechos refletidos de respostas obtidas

de medições em que se alterou a posição horizontal do microfone e da fonte sonora

sobre a corrugação, i.e., o ponto de incidência, resulta em que os picos refletidos

especulares se sobressaem, enquanto que os demais são praticamente extintos, devido à

179

incoerência entre eles. Esse é o mesmo princípio para a determinação do coeficiente de

espalhamento por métodos normalizados de laboratório, embora neles a amostra seja

girada em torno de um eixo central. Assim, pode ser possível que, com suficientes

medições ao longo da corrugação à mesma distância da superfície, se possa realizar uma

média adequada das respostas impulsivas obtidas para determinação de um trecho

refletido especular, sem a presença de reflexões espalhadas. Assim, seria dispensada a

necessidade não só de aplicação do corte tão curto do trecho especular de resposta

impulsiva obtida de superfície corrugada, como o realizado na investigação, mas

também de uma superfície lisa disponível para a comparação com a resposta impulsiva

correspondente. Mais investigações são requeridas para estabelecer os locais e a

quantidade mínima de pontos de medição sobre a corrugação.

Considera-se esta uma primeira investigação para o desenvolvimento de um

método de medição que possa ser aplicado de fato in-situ. Apesar de ter sido testado

apenas em câmara reverberante, onde as condições ambientais são controladas, por

outro lado, a medição nesse tipo de câmara, na qual a presença de reflexões espúrias de

outros objetos é bem intensa, mostra que o adequado janelamento dos componentes de

interesse permite obter facilmente resultados plausíveis. Por apresentarem uma

excelente imunidade ao ruído de fundo através do sinal sweep, as respostas impulsivas

não devem ser prejudicadas por esse quesito em medições in-situ, conquanto as

distâncias entre fonte, microfone e superfície não sejam muito grandes, cujos limites

devem ser investigados.

Assim, em vista dos resultados promissores obtidos são grandes as expectativas

de que o procedimento possa ser aplicado in-situ e assim ser uma alternativa viável para

a medição de barreiras acústicas lisas e corrugadas. Para superfícies lisas, como já

mencionado, a grande vantagem deste método em relação aos atuais é o fato de

dispensar a medição de referência de campo livre, na qual se altera posição de

microfone e de fonte sonora, para a supressão do componente incidente na medição

junto à barreira. Ademais, através da aplicação do método de multi-microfones, embora

não testada nesta investigação, poder-se-ia determinar coeficientes de reflexão relativos

às autodireções de espalhamento de superfícies corrugadas periódicas.

Espera-se que investigações e medições complementares que podem ser

realizadas em curto prazo tanto em laboratório, como in-situ, abordando diversos

aspectos tais como ensaios junto à amostra de perfil triangular, aplicação do método de

multi-microfones, incidência acústica oblíqua, influência de ruído de fundo, condições

180

ambientais, repetibilidade e incerteza de medição, além de comparação com resultado

de outros métodos sobre o mesmo objeto de prova, possam comprovar esta proposta de

medição in-situ. A comparação com resultados de simulações computacionais pode

também contribuir no desenvolvimento do método, atestando resultados experimentais.

Para a investigação dos resultados de medições sob incidência oblíqua, por

exemplo, pode-se também realizar primeiramente medições em câmara reverberante

junto a superfícies lisas e corrugadas. Ao contrário da incidência normal, deve-se notar

que para superfícies corrugadas, pode ser que alguns componentes especulares não

cheguem necessariamente antes que alguns componentes espalhados, provenientes de

regiões de corrugação mais próximas do microfone. Sendo assim, para a determinação

do coeficiente de reflexão com o método de dois microfones, a seleção temporal de

componentes especulares com uma janela iniciando no tempo t = 0, como foi feita para

incidência normal, pode não ser adequada, pois esses componentes espalhados pré-

especulares estariam contidos na janela temporal. Nesse caso, a média de respostas

impulsivas obtidas de medições em diferentes pontos ao longo da corrugação, à mesma

distância da superfície, poderia ser essencial para a supressão desses componentes

espalhados.

Outra alternativa de medição a ser considerada é a aplicação do método de

multi-microfones, com adequado processamento de sinais, de forma a ser possível

determinar coeficientes de reflexão de superfície corrugadas periódicas relativos a suas

autodireções de espalhamento. A complexidade do processamento desse método pode,

entretanto, limitar sua aplicação prática. Portanto, a aplicação do método de dois

microfones para determinação de coeficiente de reflexão especular de superfícies

corrugadas pode representar uma vantagem na simplificação da medição e na obtenção

de resultados.

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193

APÊNDICE

MÉTODOS ALTERNATIVOS DE MEDIÇÃO DA

REFLEXÃO SONORA DE SUPERFÍCIES

A.1. MÉTODOS DE INTENSIDADE SONORA

Este métodos usam sondas de intensidade sonora para a medição da refletividade

de superfícies [49],[62],[77]. Eles se classificam em métodos de sondas p-p, que medem

a pressão acústica com dois ou mais microfones casados, e em sondas p-u, que medem a

pressão acústica e a velocidade de partícula, respectivamente, com um microfone e um

sensor de velocidade.

Com a sonda p-p pode-se estimar a intensidade sonora IM no ponto médio M

entre dois microfones M1 e M2, separados pela distância ∆z. Isto é feito a partir das

estimativas da pressão sonora pM e da velocidade de partícula uM nesse ponto, pelas

diferenças finitas entre as pressões sonoras complexas medidas p1 e p2:

[ ].)()(Re2

1)(

;)()(

)(

;2

)()()(

*

0

21

21

fvfpfI

zi

fpfpfv

fpfpfp

MMM

M

M

=

∆−

=

+=

ρω (A.1)

Já a com a sonda a p-u, que será detalhada no próximo método a ser comentado,

pode-se determinar a pressão sonora e a velocidade de partícula diretamente com um

microfone acoplado a um anemômetro atuando como sensor de velocidade de partícula,

introduzida no mercado pela Microflown [78]. Pode ser uma alternativa interessante à

sonda p-p, pois a intensidade sonora é determinada diretamente em apenas um ponto.

Os métodos partem do princípio de que a intensidade sonora absorvida Ia por

uma superfície exposta a um campo sonoro incidente é dada pela diferença entre a

componente normal de intensidade sonora incidente I i e a refletida Ir sobre a superfície,

ou seja, Ia = I i – Ir. Pode-se medir as intensidades tanto para incidência randômica

quanto para incidência normal.

194

Para incidência randômica, a amostra é posta num campo difuso, como numa

câmara reverberante, onde um alto-falante emite ruído randômico estacionário. A média

espacial da intensidade sonora absorvida pela superfície < Ia > é determinada efetuando

uma varredura espacial com a sonda p-p nas proximidades da superfície. A média da

intensidade sonora incidente < Ii > sobre a superfície, por outro lado, é determinada

medindo a média espacial da pressão sonora RMS < pRMS2 > em frente à superfície,

através de

00

2

4

)()(

c

fpfI

RMS

i ρ= . (A.2)

Assim, o coeficiente de absorção sonora é obtido por

)(

)()(

)(

)()(

fI

fIfI

fI

fIf

i

ri

i

an

−==α . (A.3)

A concordância com resultados do método normalizado da câmara reverberante

(ISO 354) é razoável, mas o procedimento de medição, incluindo a média, é muito mais

moroso [49].

Para incidência normal, a amostra sob teste é colocada em campo livre, como

em uma câmara anecóica, onde um alto-falante emite ruído randômico estacionário de

banda larga. Efetuando uma varredura espacial com a sonda p-p nas proximidades da

superfície obtém-se a média espacial da intensidade sonora absorvida pela superfície

< Ia >. A média espacial da intensidade sonora incidente sobre a superfície < Ii > pode

ser medida ao se remover a amostra e varrendo a sonda sobre a mesma área ocupada por

ela.

Os resultados são comparáveis aos do tubo de impedância, porém abaixo de

400 Hz os valores são superestimados [49]. TRONCHIN et al. [62] relatam a aplicação

in-situ do método de incidência normal para a determinação da refletividade de barreiras

corrugadas. O alto-falante irradiava ruído rosa e foram feitas duas varreduras ao se

mover a sonda de intensidade sonora bem próxima à barreira, mantendo-se uma

distância mínima do piso, do topo da barreira e dos postes de união dos painéis que

compunham a barreira. O procedimento durou cerca de dois minutos e foi feita uma

média dos valores. Resultados mostraram valores consistentes de coeficiente de

195

absorção (0 ≤ α ≤ 1) e de reflexão sonora (0 ≤ R ≤ 1). Por outro lado, não há informação

sobre a aplicação do método in-situ sob condições normais de ruído de fundo, ou seja,

sob ruído de tráfego.

A.2. MEDIÇÃO DE IMPEDÂNCIA DE SUPERFÍCIE COM SONDA P-U

A impedância de superfície e seus respectivos coeficientes de reflexão e

absorção sonora podem ser medidos com a utilização de sensores de velocidade e de

pressão sonora, com a sonda p-u [78],[79],[80], composta por um mini-microfone e um

sensor de velocidade. O sensor de velocidade é um anemômetro de dois arames

aquecidos, cuja resistência elétrica depende da temperatura. A flutuação de velocidade

de partícula devido à passagem da onda sonora promove uma variação na distribuição

de temperatura entre os arames, o que resulta numa mudança da resistência do circuito

proporcional à velocidade de partícula, podendo, assim, ser medida. O método requer

calibração cuidadosa antes do uso, pois o sinal do microfone e o do sensor de

velocidade têm respostas de amplitude e fase totalmente diferentes. A calibração pode

ser feita tanto em tubo de impedância ou em câmara anecóica e é um tanto laborioso

[49].

A partir da medição da impedância de superfície diretamente junto à superfície

de teste, o coeficiente de reflexão da mesma pode ser obtido através do modelo de

propagação do som, considerando ondas planas ou esféricas e incidência oblíqua [80].

Em laboratório, os resultados são compatíveis com os do método de tudo de impedância

para incidência normal e os de função de transferência de dois microfones em campo

aberto e para incidência oblíqua [79]. As medições podem ser feitas in-situ, porém os

resultados são muito afetados por ruído de fundo [49].

Para superfícies absorventes pode-se realizar a medição diretamente sobre a

amostra, mas, para superfícies rígidas, deve-se afastá-la um pouco, pois o pequeno valor

de velocidade de partícula junto à superfície pode influenciar a medição. Para tal, deve-

se calcular a impedância de superfície a partir do valor de impedância do meio, obtido

de medição a uma dada distância do sensor até a superfície, segundo a Eq. (2.45).

Próximo a barreiras não planas, o campo sonoro pode ser muito complexo e

fazer com que as medições sejam imprecisas. Os dados publicados até agora sugerem

que a repetibilidade e a reprodutibilidade do método precisam ser melhoradas [49].

196

A.3. MÉTODOS DE FUNÇÃO DE TRANSFERÊNCIA OU EXCESSO DE

ATENUAÇÃO DE SUPERFÍCIE

A.3.1. Método de Diferenças de Níveis Sonoros com e sem Amostra de Superfície

Esse método, proposto por ZHOU et al. [81], [82], faz uso do padrão de

interferência em frente da superfície para medir seu coeficiente de reflexão ou absorção

sonora em câmara anecóica. O nível de pressão sonora gerada por um alto-falante (L)

emitindo ruído rosa é medido em uma mesma posição (M) com e sem a amostra de

teste, cujo coeficiente de reflexão é R (Fig. A.1.a). Analisando ambas as medições no

domínio da frequência, tem-se que, ao contrário do espectro da medição sem a amostra,

o da medição com a superfície apresenta máximos e mínimos expressivos em

frequências específicas, caracterizando o efeito de comb-filter (Fig. A.1.b).

Figura A.1: Método de função excesso de atenuação: configuração de medição com

amostra e espectros de nível sonoro com e sem amostra [81].

Sejam Pd a amplitude de pressão sonora da onda direta ao microfone, rd e rr as

distâncias percorridas desde o alto-falante até o microfone pela onda direta e pela

refletida na amostra, respectivamente, e ∆r a diferença entre essas distâncias

(∆r = rr –rd). O quadrado da magnitude de pressão (|P|2) à frente da superfície e a

magnitude da função de transferência de superfície ou excesso de atenuação (|Hs|)

podem ser expressos respectivamente por:

b) a)

197

.2

cos21)(

)()(

;2

cos21)()(

2/1

0

22

0

2222

∆+

+==

∆+

+=

c

rf

r

rR

r

rR

fP

fPfH

c

rf

r

rR

r

rRfPfP

r

d

r

d

ds

r

d

r

dd

π

π

(A.4)

Portanto, as magnitudes máximas da função excesso de atenuação,

|Hs,Max|= |Pmax|/|Pd| = [1 + (rd/rr)|R|], ocorrem em frequências tais que fmax = (n – 1)c0/∆r,

onde n é um número inteiro. Já as magnitudes mínimas da função excesso de atenuação,

|Hs,min|= |Pmin|/|Pd| = [1 – (rd/rr) |R|], ocorrem em fmin = (2n –1)c0/(2∆r). Nas frequências

de máximos, a diferença entre os níveis de pressão das medições com e sem amostra é

dada por ∆Lmax = 20 log(|Pmax|/|Pd|) = 20 log[1 + (rd/rr)|R|] e nas frequências de

mínimos, essa diferença resulta em ∆Lmin = 20 log(|Pmin|/|Pd|) = 20 log[1 – (rd/rr)|R|].

Assim, o coeficiente de absorção sonora e a magnitude do coeficiente de

reflexão da superfície podem ser determinados a partir da diferença entre os níveis

sonoros medidos com e sem amostra, nas frequências de máximos e mínimos dos

espectros da medição com amostra:

=

−−

=

−−

=−=∆

.,110

1

;,101

1

)(1)(

min

220

max

220

2

min

max

ffrr

ffrr

fRf

rd

L

rd

L

α (A.5)

Medições em câmara anecóica foram realizadas com fonte sonora e microfone à

mesma distância d = 1,5 m da superfície de materiais absorvedores com dimensões de

4 m x 4 m [81],[82]. Variando a distância entre fonte sonora e microfone, o ângulo de

incidência foi alterado entre 34° e 81° (Fig. A.1.a). Foram obtidos resultados bem

plausíveis, nos quais o coeficiente de absorção aumenta à medida que se aproxima da

incidência normal. O método requer uma fonte de ruído estacionário suficientemente

onidirecional num feixe de 45° em torno de seu eixo principal para que o sinal direto

seja compatível ao refletido pela superfície a menos da propagação geométrica. É um

método simples e prático de laboratório em câmara anecóica, que permite a obtenção

apenas do coeficiente de absorção e da magnitude do coeficiente de reflexão sonora de

superfícies sob incidência oblíqua para determinadas frequências.

198

A.3.2. Método de Nocke

O método proposto por NOCKE [35],[83],[84] objetiva a medição in-situ da

impedância de superfícies, fazendo também uso da função de transferência de superfície

ou excesso de atenuação entre o campo à frente da mesma, composto pelo sinal refletido

pr e direto pi, e o campo sem a superfície de teste, composto apenas pelo sinal direto pi.

Tal como no método anterior, o procedimento consiste em duas medições de

pressão sonora, uma junto à superfície sob teste e outra de campo livre, longe da

superfície sob teste e de qualquer outra. A medição junto à superfície pode ser realizada

sob diversos ângulos de incidência ou posições acima da superfície, enquanto que a

medição de campo livre precisa ser feita apenas uma vez com a mesma distância entre

microfone e alto-falante r i. Reflexões parasitárias são removidas com janelamento

temporal adequado às dimensões da amostra. Através da razão dos espectros obtidos nas

duas medições janeladas, a função de transferência de superfície

Hs(f) = (pi(f) + pr(f))/pi(f) é determinada. Com essa grandeza, o valor do coeficiente de

reflexão esférica Q da superfície é então facilmente determinado através da Eq. (2.30).

A seguir, os valores medidos da magnitude e da fase do coeficiente são

comparados com os valores teóricos obtidos de estimativas da admitância normalizada

de superfície βN e da distância numérica W para a geometria da medição. Após

sucessivas interações entre o valor medido e o valor teórico com uma rotina que

minimiza os erros, obtém-se finalmente o valor de impedância normalizada de

superfície Z a partir dos valores finais estimados de βN e de W que melhor ajustam o

valor teórico ao valor medido de Q.

Nocke apresentou resultados de medições, mostrando boa correlação entre os

medidos in-situ com seu método e os medidos com o método de tubo de impedância,

principalmente para superfícies de materiais localmente reativos e baixas frequências.

As medições foram realizadas com distância fonte-superfície de 0,35 m e 0,2 m e

distâncias de microfones à superfície de 0,13 m e 0,05 m, para ângulos de incidência

entre 83° e 72°. Utilizou-se sinal de excitação MLS nas medições. Um posicionamento

bem exato do alto-falante e do microfone em ambas as medições é muito importante, já

que o componente direto, contido nos sinais obtidos, não deve ser alterado. Para auxiliar

nessa operação, pode-se utilizar guias (niveladoras) a laser.

Uma vantagem desse método com relação aos de impulso-eco com subtração, é

que esta não é necessária, diminuindo erros devido a mau posicionamento do alto-

falante e do microfone entre medições. Comparado a outros métodos, nenhuma restrição

199

devido aos efeitos de frentes de ondas esféricas influencia as medições, já que estes são

explicitamente explorados pelo método. Especialmente em baixas frequências, métodos

que se baseiam na consideração de ondas planas apresentam falhas. O método pode ser

aplicado a frequências de 80 a 4000 Hz.

Para superfícies corrugadas, Nocke apresentou resultados de impedância e de

coeficiente de absorção efetivos, que representam os valores de uma superfície plana e

homogênea equivalente, pois devido à complexidade do campo refletido, seriam

necessárias mais posições de microfones, de modo a se obter diversas funções de

transferência para caracterizar a superfície.

A.4. MÉTODO DE HOLOGRAFIA ACÚSTICA (MÉTODO DE TAMURA)

Todos os métodos até aqui apresentados se baseiam em modelos do campo

refletido. Contudo, quando não se sabe a natureza exata do campo refletido por uma

superfície qualquer, o método de TAMURA [85],[86],[87], também chamado de

holografia acústica de campo próximo, é uma opção. Baseia-se no fato de que qualquer

distribuição de pressão sonora em planos ou linhas paralelas à superfície de teste pode

ser decomposta em uma integral (ou uma soma) de infinitas ondas planas no domínio do

número de onda, através da transformada espacial de Fourier do campo.

Mede-se a pressão sonora em N posições em dois planos ou linhas paralelas à

superfície, a distâncias z1 e z2 da mesma. Em cada plano ou linha, as posições de

medição são separadas de passos de ∆x. Se for assumida simetria acústica a partir da

normal entre a fonte sonora e a superfície de teste, pode-se tomar essa referência para

adotar x = 0, e mede-se somente em um lado simétrico até uma distância

x = Xmax = N ∆x, onde o campo sonoro no caso ideal seria desprezível (Fig. A.2).

Figura A.2: Pontos de medição à frente de superfície pelo método de Tamura [87].

φn

k0 kn

200

Para medições em linhas, são obtidos assim dois conjuntos de dados p(n∆x, z1) e

p(n∆x, z2), referentes às pressões sonoras em cada linha, onde n é um número inteiro de

0 a N. Sendo kn = k0cosφn o número de onda na direção x, paralela à superfície, de uma

eventual onda refletida sob o ângulo φn entre o plano da superfície e a linha que conecta

a referência ao ponto de medição n, a transformada espacial discreta de Fourier do

campo na direção x, P(kn, zi), a partir dos conjuntos de dados de cada linha i = 1 ou 2, é

( ) ∑∫=

∆−+∞

∞−

− ∆∆≈=N

n

xnjki

xjkiin xezxnpdxezxpzkP n

0

coscos 00 ),(),(, ϕϕ . (A.6)

Portanto, da mesma forma que na formulação de ondas planas o coeficiente de

reflexão de uma superfície pode ser obtido pelos espectros da medição em dois pontos

sobre a superfície, como no método de função de transferência entre microfones

[71]-[74], o mesmo pode ser calculado através das transformadas espaciais de Fourier

P(kn, zi), obtidas a partir dos conjuntos de pontos

2010

1020

),(),(

),(),()(

11

21zjk

nzjk

n

zjkn

zjkn

n ezkPezkP

ezkPezkPkR

i −−

=−−

ϕ . (A.7)

Embora possa ser aplicado a superfícies de impedância variável ou corrugadas

em laboratório (câmara anecóica) [36], trata-se de um método que demanda muitos

pontos de medição (algumas centenas) e uma amostra grande o suficiente para se

construir transformadas de Fourier discretas que representem o campo no domínio do

número de onda com boa precisão. Além disso, não foram encontrados relatos de

aplicação in-situ do método.