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METODOLOGIA PARA PROJETOS DE SISTEMAS MECATRÔNICOS Paulo Roberto da Silva Fonseca Rio de Janeiro Agosto de 2015 Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica. Orientador: Max Suell Dutra

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METODOLOGIA PARA PROJETOS DE SISTEMAS MECATRÔNICOS

Paulo Roberto da Silva Fonseca

Rio de Janeiro

Agosto de 2015

Dissertação de Mestrado apresentada

ao Programa de Pós-graduação em

Engenharia Mecânica, COPPE, da

Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de

Mestre em Engenharia Mecânica.

Orientador: Max Suell Dutra

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METODOLOGIA PARA PROJETOS DE SISTEMAS MECATRÔNICOS

Paulo Roberto da Silva Fonseca

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO

LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE)

DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM

CIÊNCIAS EM ENGENHARIA MECÂNICA.

Examinada por:

________________________________________________

Prof. Max Suell Dutra, Dr.-Ing.

________________________________________________

Prof. Jules Ghislain Slama, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Carlos Alberto Nunes Cosenza, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

AGOSTO DE 2015

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Fonseca, Paulo Roberto da Silva

Metodologia para Projetos de Sistemas

Mecatrônicos/ Paulo Roberto da Silva Fonseca. – Rio de

Janeiro: UFRJ/COPPE, 2015.

XV, 109 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Max Suell Dutra

Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa

de Engenharia Mecânica, 2015.

Referências Bibliográficas: p. 104-107.

1. Mecatrônica. 2. Projetos Mecatrônicos. 3.

Metodologia. I. Dutra, Max Suell. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de

Engenharia Mecânica. III. Título.

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Dedico essa dissertação aos meus pais pelo apoio incessante de toda a vida,

ao meu avô Orlando pela companhia e pelo afeto quando mais precisei,

aos meus irmãos por me darem suporte e por todo amor,

a minha noiva por todo amor, auxilio e compreensão,

e aos meus amigos pelas palavras encorajadoras.

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v

Primeiramente agradeço a Deus pela presença constante e pela ajuda inefável,

guiando-me entre tantos desafios e obstáculos,

provendo-me com a força necessária,

proporcionando meu crescimento e

livrando-me de males da vida;

Agradeço ao Professor Max Suel Dutra por ter me dado essa oportunidade,

pelas palavras motivadoras em momentos difíceis e

por toda paciência dedicada; e

Agradeço a todas pessoas que fizeram parte desse aprendizado,

Muito obrigado!

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vi

“Algumas pessoas acham que foco significa dizer sim para a coisa em que

você irá se focar. Mas não é nada disso. Significa dizer não

às centenas de outras boas ideias que existem.

Você precisa selecionar cuidadosamente."

Steve Jobs

“Você podia tirar de mim as minhas fábricas, queimar os meus prédios, mas se

me der o meu pessoal, eu construirei outra vez todos os meus negócios.”

Henry Ford

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Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

METODOLOGIA PARA PROJETOS DE SISTEMAS MECATRÔNICOS

Paulo Roberto da Silva Fonseca

Agosto/2015

Orientador: Max Suell Dutra

Programa: Engenharia Mecânica

Essa dissertação apresenta inicialmente conceitos básicos de mecatrônica e

projetos, bem como expõe a importância da utilização de metodologias para

desenvolvimento de projetos de sistemas mecatrônicos e os aspectos metodológicos

utilizados para o seu desenvolvimento. Uma revisão bibliográfica acerca da

mecatrônica trata mais detalhadamente essa área do conhecimento, explicando que

esses sistemas não compreendem somente robôs, cujo objetivo é substituir a mão de

obra humana, mas também sistemas projetados para realizar tarefas tecnicamente

inviáveis para realização humana. Além disso, expõe-se a importância da mecatrônica

frente ao desenvolvimento tecnológico e explica-se a importância de projetos para as

organizações, abordando o Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP).

Posteriormente, projetos de sistemas mecatrônicos são tratados, expondo-se um

conjunto de metodologias e padrões para o desenvolvimento técnico e gerencial

desses projetos. Por fim, uma pesquisa com docentes quanto à participação desses

em projetos de sistemas mecatrônicos é apresentada e explana-se a metodologia

desenvolvida com orientação para organizações de projeto, enfatizando-se as

principais atividades, os processos de decisão e a divisão de responsabilidades.

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Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

METHODOLOGY FOR MECHATRONICS SYSTEMS PROJECTS

Paulo Roberto da Silva Fonseca

August/2015

Advisor: Max Suell Dutra

Department: Mechanical Engineering

This dissertation initially presents basic concepts of mechatronics and projects,

as well as exposes the importance of using methodologies for mechatronic systems'

projects and methodological aspects used for their development. A literature review

about the mechatronics approaches more deeply this area of knowledge, explaining

that these systems includes not only robots, which aims to replace human labor, but

also systems designed to perform tasks that are technically impracticable for humans.

In addition, the importance of mechatronics, given the world technological

development, is discussed and the importance of projects for organizations is

explained, covering up the Product Development Process (PDP). Subsequently,

mechatronics systems projects are approached by exposing a set of methodologies

and standards for technical and managerial development of these projects. Finally, a

survey study about professors’ participation on mechatronic systems' projects is

presented and the developed methodology with orientation for projects' organizations is

explained, highlighting the main activities, decisions and the division of responsibilities.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1

1.1. RELEVÂNCIA DA PESQUISA ................................................................................. 6

1.2. OBJETIVOS DA PESQUISA .................................................................................... 9

1.3. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ......................................................................... 10

1.4. CONTEÚDO ENVOLVIDO ..................................................................................... 11

2. REVISÃO TEÓRICA .................................................................................................. 18

2.1. SISTEMAS MECATRÔNICOS ............................................................................... 18

2.1.1. Robótica .......................................................................................................... 20

2.1.2. Importância da Mecatrônica ............................................................................ 23

2.1.3. Outros Aspectos da Mecatrônica ..................................................................... 24

2.2. PROJETOS ............................................................................................................ 26

2.2.1. Programas e Portfólios .................................................................................... 28

2.2.2. Importância dos Projetos ................................................................................. 29

2.2.3. Desenvolvimento de Produtos e Projetos ........................................................ 33

3. ANÁLISE EXPLORATÓRIA ....................................................................................... 38

3.1. PROJETOS DE SISTEMAS MECATRÔNICOS ..................................................... 38

3.1.1. Desafios e Tendências .................................................................................... 38

3.1.2. Boas Práticas .................................................................................................. 41

3.1.3. Metodologia Clássica ...................................................................................... 44

3.1.4. Integração nas Metodologias........................................................................... 45

3.2. MÉTODOS DESCRITOS NA LITERATURA .......................................................... 48

3.2.1. MRM ............................................................................................................... 48

3.2.2. Modelo V ......................................................................................................... 50

3.2.3. Modelo Hierárquico ......................................................................................... 51

3.2.4. Modelo de 3-Ciclos .......................................................................................... 53

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3.3. PADRÕES E METODOLOGIAS PARA GESTÃO DE PROJETOS ........................ 54

3.3.1. PRINCE2™ ..................................................................................................... 55

3.3.2. Scrum .............................................................................................................. 58

3.3.3. PMBoK ............................................................................................................ 61

3.3.4. ISO 10006 ....................................................................................................... 64

3.4. GERENCIAMENTO DE PROJETOS DE SISTEMAS MECATRÔNICOS ............... 67

4. METODOLOGIA PARA PROJETOS DE SISTEMAS MECATRÔNICOS................... 70

4.1. DIFUSÃO DAS METODOLOGIAS E PRÁTICAS ................................................... 70

4.2. PRINCIPAIS ATIVIDADES E DECISÕES .............................................................. 72

4.2.1. Fase 1 – Captação do Projeto ......................................................................... 73

4.2.2. Fase 2 – Iniciação do Projeto .......................................................................... 78

4.2.3. Fase 3 – Projeto Conceitual ............................................................................ 81

4.2.4. Fase 4 – Projeto Básico .................................................................................. 84

4.2.5. Fase 5 – Projeto Detalhado ............................................................................. 87

4.2.6. Fase 6 – Testes e Validação ........................................................................... 90

4.3. DEFINIÇÃO DOS ENVOLVIDOS E DAS RESPONSABILIDADES ........................ 93

4.4. COMPARAÇÃO COM MODELOS EXISTENTES .................................................. 98

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 100

5.1. EXECUÇÃO DOS OBJETIVOS ........................................................................... 100

5.2. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 101

5.3. TRABALHOS FUTUROS ..................................................................................... 103

REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO .................................................................................... 104

APÊNDICE A..................................................................................................................... 108

APÊNDICE B..................................................................................................................... 109

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Simplificação de um sistema mecatrônico............................................................. 2

Figura 2 – Matriz FOFA. ........................................................................................................ 3

Figura 3 – Tríplice restrição. .................................................................................................. 5

Figura 4 – Cinco características do ser humano. ................................................................. 18

Figura 5 – Sistema mecatrônico .......................................................................................... 20

Figura 6 – Classificação dos sistemas mecatrônicos por forma de atuação. ........................ 21

Figura 7 – Classificação dos sistemas mecatrônicos por meio em que atuam. .................... 22

Figura 8 – Relação entre projetos, programas e portifólios. ................................................. 28

Figura 9 – Relação de partes interessadas em um projeto. ................................................. 30

Figura 10 – Estruturas organizacionais. ............................................................................... 31

Figura 11 – Estrutura projetizada. ........................................................................................ 32

Figura 12 – Ciclos de vida do produto e do projeto. ............................................................. 35

Figura 13 – Método de Kepner e Tregoe para PDP. ............................................................ 36

Figura 14 – Técnicas para projetar sistemas mecatrônicos. ................................................. 42

Figura 15 – Comparação de metodologias quanto a interação das fases dos projetos. ....... 44

Figura 16 – Integração entre as fases de um projeto. .......................................................... 47

Figura 17 – Resultado do projeto de uma mão robótica. ...................................................... 47

Figura 18 – Fases do desenvolvimento de uma solução. ..................................................... 49

Figura 19 – Modelo V. .......................................................................................................... 51

Figura 20 – Módulo Mecatrônico. ......................................................................................... 52

Figura 21 – Modelo de 3-Ciclos. .......................................................................................... 53

Figura 22 – PRINCE2™. ...................................................................................................... 56

Figura 23 – Papéis, eventos e objetos do Scrum. ................................................................ 59

Figura 24 – Burndown Chart. ............................................................................................... 60

Figura 25 – Áreas de Conhecimento do PMBoK. ................................................................. 62

Figura 26 – Interação de processos de um projeto de sistemas mecatrônicos..................... 68

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Figura 27 – Fases da Metodologia. ...................................................................................... 73

Figura 28 – Legenda para os fluxogramas da metodologia. ................................................. 73

Figura 29 – Fluxograma das etapas antecedentes aos projetos. ......................................... 74

Figura 30 – Fluxograma: Captação do projeto. .................................................................... 76

Figura 31 – Fluxograma: Iniciação do projeto. ..................................................................... 79

Figura 32 – Fluxograma: Projeto conceitual. ........................................................................ 83

Figura 33 – Fluxograma: Projeto básico............................................................................... 86

Figura 34 – Fluxograma: Projeto detalhado. ........................................................................ 88

Figura 35 – Fluxograma: Testes e validação. ...................................................................... 91

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Revistas para publicações sobre mechatronics pelo índice h5. ......................... 13

Quadro 2 – Processos de gerenciamento de projetos - PMBoK. ......................................... 62

Quadro 3 - Processos de gerenciamento de projetos - ISO 10006. ..................................... 65

Quadro 4 – Formação de envolvidos nos projetos de sistemas mecatrônicos. .................... 72

Quadro 5 – Matriz de responsabilidades para principais atores da metodologia. ................. 93

Quadro 6 – Comparação de Métodos. ................................................................................. 98

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xiv

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Comparativo entre riscos e custo de mudanças em projetos. .............................. 4

Gráfico 2 – Desafios do desenvolvimento de projetos de sistemas mecatrônicos. ................. 7

Gráfico 3 – Sucesso nos projetos de empresas de engenharia no Brasil. .............................. 8

Gráfico 4 – Empresas de engenharia no Brasil que possuem PMO. ...................................... 9

Gráfico 5 – Resultados para mechatronics design nas últimas décadas. ............................. 12

Gráfico 6 – Distribuição das publicações consultadas ao longo dos anos. ........................... 14

Gráfico 7 – Publicações consultadas de acordo com o portal de consulta ou editora........... 14

Gráfico 8 – Distribuição das publicações consultadas segundo o tema e foco. .................... 15

Gráfico 9 – Publicações consultadas de acordo com tipo e organizadora. ........................... 16

Gráfico 10 – Empresas de engenharia brasileiras por tipo de estrutura funcional. ............... 33

Gráfico 11 – Avanço da alocação de recursos durante fases de um projeto. ....................... 34

Gráfico 12 – Integração entre processos de um projeto. ...................................................... 46

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xv

LISTA DE SIGLAS

3D - Três Dimensões

AAF - Análise da Árvore de Falhas

ANSI - American National Standard Institute

CAD - Computer Aided Design

DIP – Documentação de Iniciação do Projeto

FMEA - Failure Mode and Effect Analysis

GAP - Gestão Ágil de Projetos

GL - Graus de Liberdade

IEEE - Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos

ISO - International Organization for Standardization

MEF – Método dos Elementos Finitos

MRM - Modelo de Referência para o Desenvolvimento de Produtos Mecatrônicos

P – Proporcional

PD – Proporcional Derivativo

PDP - Processo de Desenvolvimento de Produtos

PI – Proporcional Integral

PID – Proporcional integral Derivativo

PMBoK - Project Management Book of Knowledge

PMI - Project Management Institute

PMO - Project Management Office

PRINCE2™ - Project In a Controlled Environment

RCA - Root Cause Analysis

TI - Tecnologia da Informação

VANT - Veículos Aéreos Não Tripulados

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1. INTRODUÇÃO

O mundo está cada vez mais interconectado. O grande aumento das conexões

entre toda a população mundial, iniciado com a popularização da internet a partir da

década de noventa, deu início a uma nova onda revolucionária para humanidade,

chamada de revolução da informação ou revolução digital. Bem como as revoluções

agrícola e industrial, a digital está modificando a forma de interação do homem com o

ambiente em que vive, tendo como fator principal um progresso severo da tecnosfera.

Entretanto, a principal característica da revolução digital, o que a difere das

passadas, é sua característica integradora no que diz respeito às interfaces homem-

máquina, através da qual se possibilitou redução das distâncias. Além disso, com a

revolução digital a disponibilidade de informações tem aumentado exponencialmente,

de modo que as informações passaram a ser tratadas como matéria prima para

processos.

Bem como ocorreu na revolução industrial, há hoje a facilitação da realização

de tarefas que envolvem muito esforço humano. Entretanto, além dos esforços físicos,

a atual revolução também tem reduzido o envolvimento humano em atividade que

demandam muito esforço psicológico, como atividades muito repetitivas, diminuindo

assim a exposição do homem a atividades de risco a sua saúde. Assim, a tecnologia é

vista como fator facilitador das atividades humanas, estando envolvida em grande

parte das atividades cotidianas das pessoas e tendendo a convergir em sistemas

integrados compartilhados.

O desenvolver dessa onda revolucionária atualmente tende a integrar o mundo

digital com o físico, como apontam alguns especialistas, como o gerente de novas

tecnologias da IBM, Cezar Taurion em seu texto que denomina esse tipo de interação

de “Internet das Coisas”. Segundo Taurion1 a Internet das Coisas adicionará

inteligência à infraestrutura física que molda nossa sociedade, possibilitando que os

objetos físicos, com identidades digitais únicas, comuniquem-se e interajam com

entidades do meio virtual, sejam outros objetos ou pessoas.

No que tange ao trabalho, a necessidade pela integração das informações é

manifesta e grandes empresas já utilizam sistemas integrados de gestão para unificar

os dados de seus subsistemas, gerenciar seus fluxos de informação, e conseguir

1 TAURION, Cezar. A Internet das Coisas. Disponível em: http://www.ibm.com/midmarket/br/pt/pm/internet_coisas.html. Acesso em: 17 ago. 2014.

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vantagens competitivas. Nesse meio, cada vez mais se valorizam os processos pelos

quais se agrega valor aos insumos. A automação industrial, muito empregada nos dias

atuais, é um exemplo, essa torna possível à produção em massa sem que se

configurem discrepâncias relacionadas à conformidade de seus produtos finais. Além

disso, dados os avanços tecnológicos esperados para as próximas décadas, espera-

se que o nível de automação das indústrias aumente substancialmente nesse período.

Por sua vez, os sistemas mecatrônicos têm papel fundamental nessa revolução

já que representam a união entre mecanismos, eletrônicos e tecnologias da

informação. Um sistema mecatrônico de acordo com autores como Pang et al. (2011),

abrange uma ampla gama de disciplinas técnicas e conhecimentos, sendo altamente

integrado e colaborativo. Um esquema simplificado do funcionamento de um sistema

mecatrônico pode ser visto a seguir na figura 1, podendo-se visualizar a relação

indicada por autores como Buur (1989), Isermann (1996), Barbalho (2006), Paula e

Santos (2008), Roloff, Sá e Bento (2010), Gheorghe et al. (2011), Andreeva e

Topolova (2011) e Chami et al. (2013) entre aspectos mecânicos, eletrônicos e de

Tecnologia da Informação (TI).

Figura 1 – Simplificação de um sistema mecatrônico. Fonte: Adaptado de Isermann et al., 1996.

Assim, grande parte dos objetos interagindo no meio virtual da “Internet das

Coisas” será composta por esses sistemas que farão parte da vida cotidiana da

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sociedade seja em sua vida pessoal ou profissional. Desse modo, acredita-se que haja

uma demanda crescente e exponencial por novos produtos mecatrônicos nas décadas

que sucedem, sendo primordial que as indústrias estejam atentas a esse novo cenário

e preparadas para lidar com os desafios que estão por vir.

Atualmente o ciclo de vida típico de produção de um sistema mecatrônico, nas

indústrias transformadoras, inicia-se com a determinação das especificações para a

próxima geração de sistemas. Essas especificações são oriundas de atividades

desenvolvidas pelas indústrias para determinar as demandas dos mercados em que

atuam, além de estarem diretamente alinhadas com o planejamento estratégico

dessas. Uma ferramenta comumente empregada para determinação dos objetivos

estratégicos das organizações é a representada na figura 2, a ferramenta que permite

identificação das forças e fraquezas existentes na empresa e os riscos associados às

oportunidades e ameaças para a mesma, denominada matriz FOFA.

Figura 2 – Matriz FOFA. Fonte: Elaborado pelo autor.

Posteriormente a realização da análise de suas forças e fraquezas, associadas

ao planejamento estratégico, e de suas oportunidades e ameaças, associadas aos

dados do mercado, as indústrias reformulam seu planejamento para que esse esteja

em conformidade com o cenário vigente. Dessa forma, novos objetivos são

estabelecidos e com o intuito de atingir esses objetivos empreendem-se esforços que

devem ser planejados, executados e finalizados. Esses esforços, de caráter

temporário, são denominados projetos.

Entretanto, algumas etapas devem ser concluidas entre a identificação dos

novos objetivos e o início de um projeto. Uma dessas atividades é o estudo de

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viabilidade técnica e econômica do projeto que permitirá a alta administração da

indústria em questão avaliar se o projeto será ou não iniciado, considerando as outras

oportunidades para investimento do capital necessário.

Após a seleção de um projeto para desenvolvimento de um novo sistema

mecatrônico, durante a análise de viabilidade técnica, Pang et al. (2011) destacam que

os requisitos inicialmente gerados para os projetos convertem-se em esforços de

pesquisa que posteriormente serão decompostos em especificações e requisitos

específicos para o sistema. Essa é uma etapa chave, embora conceitual e

imediatamente anteior ao início do projeto, na qual a experiência, a capacidade de

entender os desejos dos interessados - seja o mercado ou a alta admistração da

indústria - e a criatividade dos participantes definirão parte das entradas do escopo do

projeto.

A grande importância que é dada a esta etapa está associada aos riscos e

incertezas naturais ao pouco desenvolvimento desta e aos custos associados a

alterações futuras no escopo do projeto, uma vez que alterações desse tipo podem

mudar completamente o foco dos trabalhos em andamento, tendendo a causar

retrabalho e desperdícios de recursos. O gráfico 1 demonstra como se dá a evolução

dos custos da mudança de escopo em um projeto após seu início, fazendo uma

comparação com o grau de riscos e incertezas associados ao mesmo, desde o início

até o fim do seu ciclo de vida.

Gráfico 1 – Comparativo entre riscos e custo de mudanças em projetos. Fonte: Project Management Institute, 2013.

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Pode se ter como um exemplo o mencionado por Middendorf et al. (2006) ao

relatar que a maioria das avaliações ambientais e de ciclo de vida de um produto é

feita na fase posterior à de desenvolvimento, dadas às dificuldades de se prever os

impactos ambientais e a confiabilidade na fase conceitual dos projetos, o que dificulta

a realização de ajustes no projeto, uma vez que as limitações existentes de tempo e

orçamento os tornam mais onerosos. Por isso, os autores afirmam que quanto mais

cedo forem detectados riscos ambientais em projetos, maior será a capacidade de

atender as demandas do mercado.

Apesar da comparação entre os custos e riscos de um projeto estabelecida

anteriormente pelo Project Management Institute (PMI), esse mesmo instituto estipula

outras oito áreas de conhecimento a serem consideradas ao se iniciar um projeto,

sendo custo uma das três áreas apontadas como pertencente a tríplice restrição

juntamente as outras duas áreas: escopo e tempo. Essas três áreas, representadas na

figura 3, são consideradas como essenciais a um projeto, seu tratamento como

restrições se deve ao fato de que caso se modifique o que foi inicialmente definido

para uma delas será necessário, também, que se modifique, no mínimo, uma das

outras duas.

Figura 3 – Tríplice restrição. Fonte: Vargas, 2006.

A listagem completa de áreas apontadas pelo PMI contempla: escopo;

stakeholders; custo; tempo; risco; qualidade; pessoas; comunicação; aquisições e;

integração. Portanto, uma gestão integrada de todas as áreas é a recomendada pelo

PMI. Outros autores também defendem a utilização de metodologias integradas, em

contrapartida às tradicionais, individualistas, tidas como inadequadas aos cenários

iterativos da atualidade.

O presente trabalho analisa as propostas de metodologias existentes na

literatura para projetos de sistemas mecatrônicos, comparando-as e apontando as

práticas consideradas como fator de sucesso em cada uma para, em seguida, unifica-

las em uma proposta atual, tendo em vista o atual cenário nacional no que concerne

ao tratamento desses projetos. Espera-se que o trabalho gerado sirva de apoio às

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indústrias que agregam valor a economia nacional e desenvolvem projetos de

sistemas mecatrônicos de modo a facilitar o atendimento da crescente demanda por

esses.

1.1. RELEVÂNCIA DA PESQUISA

O Brasil é formado por uma complexa rede de subsistemas interligados

constituintes de sua infraestrutura básica. Sabe-se que o desenvolvimento adequado

da infraestrutura de um país é de suma importância para sustentar seu crescimento

econômico. O estudo dos desafios para o desenvolvimento do Brasil, aos quais devem

ser propostas soluções específicas devido às suas características únicas, torna-se

absolutamente complexo para que ocorra de maneira inteligente e próspera. Muitos

desses desafios configuram-se diferentes de acordo com cada região do país, mas de

um modo geral pode-se afirmar que sua infraestrutura apresenta uma oportunidade de

melhoria quando comparada as de outros países desenvolvidos.

Os recentes avanços tecnológicos gerados na revolução digital têm permitido

que se encontrem soluções inovadoras, permitindo uma melhor instrumentação das

infraestruturas. Com isso, o mercado vem demandando a implementação de novas

tecnologias em setores diversos, sendo essas em grande parte sistemas que utilizam

em conjunto sistemas mecânicos, eletrônicos e de informação.

Um exemplo disso está nas redes logísticas do país. Atualmente há demanda

pela rastreabilidade de produtos durante a maior parte de sua cadeia, uma vez que,

principalmente após o advento do e-commerce, os consumidores desejam saber

informações detalhadas do andamento de seus pedidos. O desafio de atender a essa

demanda é grande, pois para que as empresas ofertem esse tipo de serviço elas

precisam ter implantado um sistema logístico integrado e rigorosamente controlado.

Esse tipo de sistema vem sendo melhorado continuamente pelas empresas graças ao

desenvolvimento de equipamentos eletrônicos que quando aplicados aos mecanismos

de transporte de cargas em associação a sistemas de informação permitem o controle

da localização exata dessas cargas.

Os sistemas mecatrônicos têm importante papel no processo de modernização

das empresas, como em projetos de substituição de processos produtivos ineficientes

por sistemas automatizados inteligentes. Além disso, a implantação de empresas de

alta tecnologia em território nacional depende, dentre outros fatores, da disponibilidade

desses sistemas. Outro fator importante, relacionado aos sistemas mecatrônicos, é o

fato desses serem vistos como fundamentais para o aumento do nível de

produtividade e competitividade das pequenas e médias indústrias instaladas no país.

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7

A capacidade de desenvolvimento de sistemas mecatrônicos no Brasil depende

da competência dos departamentos de engenharia das indústrias para desenvolverem

esses projetos. Entretanto, os rápidos avanços tecnológicos, proporcionados pelo

compartilhamento global de informações, reduziram drasticamente não só o tempo de

vida dos produtos no que diz respeito a sua obsolescência, como também

configuraram um novo cenário para o projeto dos mesmos no qual veio à tona a

necessidade de redução de prazos dos projetos de novas tecnologias. Por

consequência, essa necessidade se estende aos projetos de sistemas mecatrônicos,

que enfrentam ainda o desafio de integrar, de modo harmônico, três grandes áreas do

conhecimento de modo que as necessidades do mercado sejam supridas.

Sabe-se que qualquer processo de modernização dos meios produtivos

depende principalmente do modo como são projetados. Os projetos de sistemas

mecatrônicos apresentam desafios comuns a qualquer projeto, mas também

particulares devido ao alto nível de integração necessário entre áreas do

conhecimento distintas. Em uma pesquisa realizada por Andreeva e Topalova (2011)

verificaram-se quais são os cinco principais desafios apontados para o

desenvolvimento desses projetos em empresas russas, como pode ser visto no gráfico

2, três dos principais motivos relacionavam-se a integração, enquanto os demais

podem ocorrer em qualquer tipo de projeto.

Gráfico 2 – Desafios do desenvolvimento de projetos de sistemas mecatrônicos. Fonte: Adaptado de Andreeva e Topalova, 2011.

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8

Entretanto, com exceção do segundo desafio, ausência de profissionais

especializados, todos os demais desafios apontados na pesquisa de Andreeva e

Topalova (2011) podem ser tratados com a utilização de uma metodologia bem

definida para o gerenciamento e desenvolvimento desses projetos. Além disso, ao se

analisar os resultados obtidos em pesquisa ao site pmsurvey.org2, uma iniciativa do

PMI, com filtro para empresas de engenharia do Brasil, é possível averiguar a

influência da existência de escritórios de gerenciamento de projetos, em inglês Project

Management Office (PMO), na obtenção de sucesso nos projetos desenvolvidos

nessas empresas.

O gráfico 3 demonstra os percentuais de empresas que declararam obter

sucesso em seus projetos em quatro categorias: sempre, na maioria das vezes,

raramente e nunca. É importante notar que as empresas apresentam um retrospecto

positivo, ou seja, obtém sucesso sempre ou na maioria das vezes, representam 57%

do total da amostra.

Gráfico 3 – Sucesso nos projetos de empresas de engenharia no Brasil. Fonte: Adaptado de pmsurvey.org, 2013.

Analisando o gráfico 4 que demonstra a divisão da amostra coletada pelo

pmsurvey.org quanto à presença de PMO nas empresas, nota-se que, igualmente,

57% da mesma possui PMO. Porém, apesar da semelhança dos dados apresentados,

é importante esclarecer que não é possível afirmar categoricamente que a existência

2 Fonte: PMSURVEY.ORG, Project Management Institute Chapters. 2013. Disponível em: http://www.pmsurvey.org. Acesso em: 07 ago. 2014.

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9

de um PMO é responsável pelo sucesso dos projetos apenas com os dados em

questão, pois para tal se faz necessária à realização de estudos mais aprofundados.

Gráfico 4 – Empresas de engenharia no Brasil que possuem PMO. Fonte: Adaptado de pmsurvey.org, 2013.

Tendo em vista o exposto, percebe-se que embora a pesquisa indique que

mais da metade das empresas obtém sucesso na maior parte dos projetos que

desenvolvem, observa-se que ainda há um amplo campo para melhorias a ser

explorado. Assim sendo, para cumprir o objetivo desta dissertação, a pretensão desse

trabalho é responder à questão que segue:

Quais são as metodologias existentes na literatura para orientação de

projetos de sistemas mecatrônicos que podem ser adotadas por

organizações de projetos?

1.2. OBJETIVOS DA PESQUISA

Objetivo Geral:

Propor uma metodologia para o desenvolvimento de projetos de sistemas

mecatrônicos aplicável às organizações de projetos.

Objetivos Específicos:

Estudar os principais temas que envolvem o desenvolvimento de

projetos de sistemas mecatrônicos;

Identificar as práticas essenciais para o desenvolvimento de

projetos de sistemas mecatrônicos em organizações de projetos;

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10

Pesquisar sobre as metodologias e boas práticas de

desenvolvimento e gerenciamento de projetos cabíveis a

sistemas mecatrônicos propostas pela academia nacional e

internacional; e

Avaliar a capacidade de universidades quanto à disseminação

do conhecimento referente ao desenvolvimento e gerenciamento

desses projetos.

1.3. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Visando atingir o que foi previamente estabelecido como objetivo desse

trabalho, estruturar-se-á o conteúdo textual da dissertação em cinco capítulos:

introdução, revisão teórica, análise exploratória, metodologias para projetos de

sistemas mecatrônicos e considerações finais.

O primeiro desses capítulos, tendo abordado uma contextualização do tema a

ser tratado, apontado os objetivos da dissertação e sua importância perante a

sociedade e a academia, bem como os aspectos metodológicos que serão aplicados,

apresenta nesse subcapítulo a estruturação da dissertação. Logo ao fim do presente

subcapítulo, concluir-se-á esse capítulo com a apresentação do processo para

obtenção do conteúdo utilizado por parte do autor, explanando assim os aspectos

metodológicos envolvidos no desenvolvimento da dissertação e apresentando uma

análise desse conteúdo.

Nos capítulos seguintes, referentes ao desenvolvimento do trabalho, será

abordada a revisão bibliográfica, uma análise exploratória e a metodologia para

projetos de sistemas mecatrônicos desenvolvida. Sendo assim, o capítulo referente à

revisão teórica realizada é o segundo capítulo dessa dissertação e aborda sistemas

mecatrônicos, explicando a diferença entre robótica e mecatrônica, apontando a

importância desses sistemas para o avanço tecnológico da humanidade, entre outros

aspectos.

O terceiro capítulo, denominado análise exploratória, apresenta uma análise

envolvendo as principais temáticas dessa dissertação, contando com quatro

subcapítulos, sendo estes: projetos de sistemas mecatrônicos, que envolve os

desafios e tendências desses projetos, boas práticas, um breve relato sobre a

metodologia clássica, e a integração em metodologias; métodos descritos na literatura,

apontando os quatro principais métodos encontrados; padrões e metodologias para

gestão de projetos, abordando as metodologias Project In a Controlled Environment

(PRINCE2™) e Scrum, além do padrão Project Management Book of Knowledge

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11

(PMBoK) e do definido pela International Organization for Standardization (ISO), ISO

10006; e um breve subcapítulo especificamente sobre gerenciamento de projetos de

sistemas mecatrônicos.

No capítulo 4 apresenta-se uma pesquisa realizada junto a docentes de

diversos cursos de engenharia de uma renomada universidade para averiguar a

experiência desses com projetos e sistemas mecatrônicos, e, por consequência,

proporcionar a realização de inferências acerca da transferência de know-how para

profissionais recém-formados. Além disso, expõe-se nesse capítulo a metodologia

para projetos de sistemas mecatrônicos desenvolvida como resultado dos esforços de

pesquisa dessa dissertação, tratando das principais atividades e dos processos de

tomada de decisão da metodologia. Na sequência, trata-se especificamente da divisão

de responsabilidades da metodologia, desde a captação do projeto até o fim de seu

desenvolvimento. No subcapítulo final é realizada uma comparação entre a

metodologia proposta nessa dissertação e as demais presentes na literatura.

Em um último capítulo, considerações finais, realiza-se a discussão de todo

conteúdo apresentado até então, em contraponto com o que se definiu como sendo os

objetivos dessa dissertação, apresentado no subcapítulo anterior. São, ainda,

considerados possíveis trabalhos futuros para aprimoramento do que foi desenvolvido

para que se colabore com o avanço da área em questão. E, por fim, apresentam-se as

conclusões do autor, tendo em vista o que foi estudado e pesquisado durante o

desenrolar da dissertação.

1.4. CONTEÚDO ENVOLVIDO

Esse capítulo destina-se a esclarecer os métodos a serem seguidos nesta

dissertação para proporcionar o cumprimento dos objetivos estabelecidos

previamente. Para cada objetivo específico um grupo de atividades distintas devem

ser realizadas vizando a obtenção do resultado desejado.

A fim de pesquisar as metodologias já propostas pela academia nacional e

internacional, fez-se necessária a realização de buscas por conteúdo em livros,

normas, teses, dissertações, monografias e artigos que tratassem do tema. Para tal,

selecionou-se a ferramenta Google Acadêmico que reúne informações sobre

lançamentos nacionais e internacionais do que é publicado pelo meio científico e

direciona os usuários às páginas em que se podem encontrar os documentos.

Baseado na pesquisa, o gráfico 5 apresenta o percentual encontrado nessa

plataforma de buscas para o termo mechatronics design nas últimas décadas. Nesse

comparativo observa-se que o crescimento de publicações envolvendo o tema vem

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aumentando década após década, com perspectiva de crescimento contínuo. Apenas

as publicações mais recentes, encontradas do início de 2010 até meados de 2015, já

correspondem a 37% do total de publicações encontradas desde 1980, havendo assim

uma tendência de que até 2019 esse percentual supere o encontrado para a década

anterior.

Gráfico 5 – Resultados para mechatronics design nas últimas décadas. Fonte: Elaborado pelo autor.

Para avaliar a influência dos vários artigos recentes relacionados ao termo

mechatronics em publicações acadêmicas, foi utilizada a ferramenta Google Scholar

Metrics3. Essa ferramenta realiza uma contagem de citações recentes de publicações

relacionadas a um determinado tema e classifica os periódicos de acordo com a sua

relevância, através do índice de Hirsch4, usando apenas os artigos publicados nos

últimos 5 anos completos recentes, sendo então denominado índice h5. Dessa forma,

as buscas realizadas no desenvolvimento de um trabalho acadêmico podem ser

direcionadas para os periódicos mais relevantes dentro da área de pesquisa. O quadro

1 mostra o resultado encontrado para a consulta realizada de acordo com o exposto a

cima.

3 A ferramenta considera somente os artigos postados em sites que seguem uma política de inclusão proposta pelo Google e alguns outros artigos dispersos que sejam indexáveis. Disponível em: http://scholar.google.com/citations?hl=pt-BR&view_op=search_venues&vq=mechatronics. Acesso em: 08 jul. 2014. 4 O uso do índice pelo Google Scholar Metrics é feito atribuindo-se aos periódicos um número h considerando o maior número h de artigos em um periódico que foram citados no mínimo h vezes. Esse mesmo índice pode também ser usado para avaliar a qualidade da produção de pesquisadores.

37%

48%

14%

1%

2010 - 2015 (15/mai)

2000 - 2009

1990 - 1999

1980 - 1989

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13

Quadro 1 – Revistas para publicações sobre mechatronics pelo índice h5.

Posição Publicação Índice

h5

1 IEEE/ASME Transactions on Mechatronics 40

2 Mechatronics 30

3 IEEE/ASME International Conference on Advanced Intelligent

Mechatronics 15

4 IEEE International Conference on Mechatronics 14

5 International Conference on Measuring Technology and

Mechatronics Automation 14

6 International Conference on Mechatronics and Automation 14

7 IEEE Conference on Robotics, Automation and Mechatronics 11

8 Journal of Robotics and Mechatronics 11

9 International Conference on Industrial Mechatronics and

Automation (ICIMA) 9

10 International Journal of Advanced Mechatronic Systems 8

Fonte: Google Scholar Metrics, 2014.

Na lista dos dez periódicos mais influentes, presentes no quadro, quatro são

organizados pelo Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), estando

três destes entre os quatro primeiros dessa listagem. Tendo em vista a importância

das publicações realizadas por esses periódicos, optou-se por concentrar as buscas

por artigos no portal IEEE Xplore5. Além disso, nota-se que as publicações

organizadas pela IEEE/ASME e as da revista Mechatronics, publicada pela Elsevier

são, individualmente as três melhores classificadas pelo ranking.

Dentre as várias publicações encontradas no Google Acadêmico e no IEEE

Xplore, bem como livros, teses, dissertações e normas apontados como altamente

relevantes, 27 referências foram selecionadas, para servir como base para o

desenvolvimento da disertação, sendo outras 14 adicionadas posteriormente para

compor o referncial teórico dessa dissertação. A distribuição ao longo dos anos das 41

referências utilizadas nesse trabalho pode ser vislumbrada no gráfico 6.

5 Esse portal pode ser acessado através do link: http://ieeexplore.ieee.org/Xplore/home.jsp.

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14

Gráfico 6 – Distribuição das publicações consultadas ao longo dos anos. Fonte: Elaborado pelo autor.

O gráfico 7 proporciona a avaliação das publicações selecionadas de acordo

com o responsável por sua publicação, seja esse um portal ou uma editora. Uma

análise desse gráfico permite que se note a importância do portal do IEEE no tema da

busca por publicações, pois das vinte e cinco publicações selecionadas, dez foram

encontradas atráves desse portal. Sendo o portal da Elsevier, responsável pela

publicação da revista Mechatronics, o segundo com mais publicações utilizadas,

juntamente com a editora Springer. Fato que em associação ao exposto no quadro 1

valoriza ainda mais as referências utilizadas nessa dissertação.

Gráfico 7 – Publicações consultadas de acordo com o portal de consulta ou editora. Fonte: Elaborado pelo autor.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

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15

Embora o primeiro classificado na listagem seja o Google Acadêmico, é

importante ressaltar que todas as publicações selecionadas, com exceção dos livros,

podem ser encontradas por meio dessa ferramenta de busca. Porém, para realização

da comparação, utilizou-se os portais nos quais as publicações encontram-se

hospedadas. Pelo fato de algumas das publicações ficarem indexadas fora de um

portal, para facilitar a visualização gráfica da distribuição dessas, prefiriu-se então

consolida-las em um grupo denominado Google Acadêmico.

Estratificando o conjunto de publicações de acordo com seu tema e foco

principal elaborou-se o gráfico 8. Neste, as barras estão classificadas primariamente

de acordo com o tema das publicações e secundariamente de acordo com o foco

notado por esse autor. Para facilitar a visualização dos dados mais relevantes, apenas

os focos que se repetem são apresentados nesse gráfico, tendo sido filtrados os

demais. Então, observa-se que prevalecem as publicações sobre projetos de sistemas

mecatrônicos com foco em metodologia, além de Outros, grupo que compreende focos

encontrados apenas em uma referência. O tema projetos, de um modo geral, com

enfoque em gerenciamento também constitui boa parte das referências.

Gráfico 8 – Distribuição das publicações consultadas segundo o tema e foco. Fonte: Elaborado pelo autor.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Metodologia Gerenciamento

Geral Desenvolvimento de Produto

Tomada de Decisão Outros

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16

Em uma última estratificação, o gráfico 9 demonstra como se deu a divisão das

publicações utilizadas quanto ao seu tipo: artigo, livro e tese. Além disso, de modo

auxiliar essas foram separadas de acordo com as instituições organizadoras ou

eventos na qual foram expostas. Comparando as origens das publicações, é nítida a

maior quantidade originária do periódico IEEE/ASME Transactions on Mechatronics,

representado abaixo como IEEE/ASME.

Gráfico 9 – Publicações consultadas de acordo com tipo e organizadora. Fonte: Elaborado pelo autor.

O grupo Outros referente aos organizadores, que se destaca dentre os demais,

representa aqueles aos quais apenas um artigo foi utilizado, tendo sido criado para

melhorar a visualização gráfica das informações, reduzindo a quantidade de itens

presentes no eixo horizontal desse gráfico.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

Artigo Livro Tese

Dissertação Monografia Norma

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17

O estudo das várias publicações selecionadas possibilitou a identificação e

análise das práticas associadas às metodologias encontradas, sendo fundamental

para composição da metodologia apresentada nessa dissertação.

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18

2. REVISÃO TEÓRICA

Esse capítulo apresenta o conteúdo básico necessário para o entendimento

dos assuntos tratados nessa dissertação. Para tal, esse está estruturado em dois

subcapítulos, como pode ser visto a seguir: sistemas mecatrônicos e projetos.

2.1. SISTEMAS MECATRÔNICOS

Grande parte das novas conquistas que vem surgindo na indústria no que se

refere ao aumento da capacidade produtiva foi conseguida por meio do

desenvolvimento de soluções tecnológicas. Essas soluções compõem-se de

conhecimentos em mecânica e eletrônica, integrados por meio da TI, capaz de unir os

sistemas eletromecânicos e a inteligência humana. Para Shetty e Kolk (2011), uma

importante característica de sistemas mecatrônicos é sua inteligência intrínseca.

A integração entre essas três áreas do conhecimento forma uma quarta,

denominada mecatrônica. Os primeiros estudos sobre a mecatrônica foram realizados

na década de 80, sendo a maior parte das aplicações subsequentes realizadas pela

indústria japonesa. Buur (1989), bem como Siciliano et al. (2009), mencionam em seu

livro uma comparação entre sistemas mecatrônicos e seres humanos, demonstrada na

figura 4.

Figura 4 – Cinco características do ser humano. Fonte: Adaptado de Kajitani (1986 apud BUUR, 1989).

Na figura 4, à esquerda, analisa-se o ser humano como um sistema composto

de cinco partes distintas, com o propósito de estabelecer uma comparação com os

sistemas mecatrônicos, representados à direita por uma composição semelhante.

Nessa análise são considerados: as fontes que geram energia para os sistemas; os

meios físicos utilizados para interação com o meio; as estruturas responsáveis pela

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sustentação física; os meios de captar informações do ambiente; e o sistema capaz de

processar informações e unir todos os demais elementos. As partes similares estão

igualmente posicionadas e coloridas para provocar a comparação.

Quanto ao sistema de controle presente em sistemas mecatrônicos e

comparado com o cérebro humano, Dorf e Bishop (2001 apud BARBALHO, 2006)

explicam que esses interconectam componentes, formando uma configuração de

sistemas que produzirá uma resposta desejada. Eles explicam ainda que as entradas

dos sistemas são convertidas em sinais e processados por um componente que gera

um sinal de saída variável, normalmente amplificado. Além disso, esses autores

classificam esses sistemas em dois, um de malha aberta e outro de malha fechada.

Os sistemas de controle de malha aberta utilizam um dispositivo de atuação para

controlar diretamente um processo. Já um sistema de malha fechada, além de possuir

um dispositivo de atuação, conta com sensores para identificar a eficácia da ação

realizada e faz uso da retroação, sendo capaz de atuar continuamente para manter o

resultado desejado.

Entretanto, considerando todos os aspectos mencionados na comparação

anterior, é importante que se note que esses sistemas não necessariamente são

modelados para parecer com seres humanos, embora isso ocorra no projeto de robôs

humanoides. Há sistemas mecatrônicos inspirados em outros tipos de vida, como há

aqueles que foram desenvolvidos pura e simplesmente para realizar uma determinada

função, sem que se tenha dado tanta importância a aspectos de aparência física.

Tratando de sistemas mecatrônicos projetados especificamente para realizar

funções, Li, Zhang e Chen (2001) explanam que o comportamento desses sistemas,

não se baseia somente na concepção de seus algoritmos de controle, dependendo

também da concepção de suas estruturas mecânicas.

Portanto, os sistemas mecatrônicos podem ser projetados para que se

comportem de diferentes maneiras, dependendo de sua finalidade. Desse modo, a

quantidade de requisitos básicos solicitados para os novos sistemas têm crescido

rapidamente, tornando cada vez mais complexo o processo de integração entre as

áreas.

É importante reconhecer que cada uma das áreas, quando tratadas

individualmente já apresentam certa complexidade em sua composição. Levy,

Lengerke e Dutra (2011) apontam com maior detalhamento os componentes de um

sistema mecatrônico, citando atuadores, sensores, módulos de aquisição de dados,

indicadores, monitores, gravadores e fontes de energia.

A figura 5 apresenta uma simplificação de como se dá o funcionamento

integrado entre mecânica, eletrônica e TI em um sistema mecatrônico para a

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realização de uma tarefa, considerando-se o fluxo de informações, energia e o

controle. Essa figura mostra ainda todas as entradas e saídas desses sistemas, sejam

essas desejadas ou não, como é o caso dos distúrbios e desperdícios.

Figura 5 – Sistema mecatrônico Fonte: Adaptado de Kajitani (1986 apud BUUR, 1989).

Além da divisão em componentes e áreas da ciência, a mecatrônica pode ser

subdividida de outras maneiras. Em uma dessas divisões, apresenta-se dentre os

sistemas mecatrônicos, um tipo em especial que é comumente tratado pela população

geral, sendo alvo constante de filmes de ficção científica, os robôs.

2.1.1. Robótica

Durante a revolução industrial, a automação visava substituir o ser humano nas

tarefas laborais. Por seu significado usual, automação é, então, a síntese de

tecnologias industriais típicas do processo de fabricação e tecnologias de computação

que permitem o gerenciamento de informações. Avanços na automação deram origem

à robótica, essa compreende sistemas mecatrônicos capazes de substituir os seres

humanos na execução de uma tarefa, podendo ser tanto uma atividade física, quanto

uma tomada de decisão. (SICILIANO et al., 2009)

A robótica, segundo Siciliano et al. (2009), é comumente definida como a

ciência que estuda a conexão inteligente entre percepção e ação. Com referência a

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21

esta definição, um sistema robótico é, na realidade, um sistema complexo,

funcionalmente representado por múltiplos subsistemas.

Assim como nos demais sistemas mecatrônicos, nos robôs a capacidade de

exercer uma ação, tanto locomoção quanto manipulação, é assegurada por um

sistema de acionamento que excita os componentes mecânicos do robô, atuadores

que envolvem servomotores, acionamentos e transmissões. Da mesma forma, a

capacidade de percepção é confiada a um sistema sensorial que pode adquirir dados

sobre o estado interno do sistema mecânico e da situação do ambiente externo. De

modo que a capacidade de conectar inteligentemente a percepção e a ação é

fornecida por um sistema de controle capaz de comandar a execução da ação em

relação ao estabelecido, bem como das restrições impostas pelo robô e ambiente.

(SICILIANO et al., 2009)

Siciliano et al. (2009) consideram, ainda, o sistema mecânico como o

componente essencial de um robô, sendo esse, de um modo geral, dotado de um

aparelho de locomoção, ou base fixa, e um aparelho de manipulação. Dessa maneira,

quanto a sua estrutura mecânica, os robôs podem ser classificados como robô

manipulador, os que possuem base fixa, e robôs móveis, aqueles capazes de se

locomover utilizando apenas seus dispositivos integrados.

Na figura 6 pode-se observar como esses sistemas são classificados quanto a

sua forma de atuação, havendo sistemas fixos, mais comumente encontrados nas

indústrias, e móveis.

Figura 6 – Classificação dos sistemas mecatrônicos por forma de atuação. Fonte: Adaptado de Siciliano et al., 2009.

Com relação aos sistemas fixos, de acordo com Siciliano et al. (2009), a

estrutura mecânica de um robô manipulador, consiste de uma sequência de corpos

rígidos, denominados elos, interligados por articulações, chamadas de juntas. Um

manipulador é caracterizado por um braço que assegura a mobilidade, um pulso que

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confere destreza, e uma extremidade atuante, conhecida como atuador, que realiza a

tarefa exigida do robô.

A estrutura fundamental de um manipulador é a cadeia cinemática de série ou

aberto. De um ponto de vista topológico, a cadeia cinemática é denominada aberta

quando existe apenas uma sequência de ligações entre suas duas extremidades.

Alternativamente, uma cadeia cinemática fechada é uma sequência de ligações que

formam um circuito. (SICILIANO et al,. 2009)

Dentre os sistemas móveis acima mencionados, os mais empregados são os

que se locomovem por meio de rodas, uma vez que os demais costumam apresentar

maiores desafios aos projetistas. Entretanto, recentemente, os sistemas

propulsionados vêm ganhando espaço no mercado para atuação em ambientes nos

quais os movidos por rodas são inviáveis ou pouco práticos, sendo o caso de muitos

sistemas aquáticos e aéreos.

Os sistemas mecatrônicos podem ser também classificados de acordo com o

meio onde atuam, sendo esses os que se demonstram na figura 7.

Figura 7 – Classificação dos sistemas mecatrônicos por meio em que atuam. Fonte: Autor.

Conforme pode ser visto na figura 7, são cinco os tipos de ambiente onde

podem atuar os sistemas mecatrônicos. Desses, uma conquista mais recente diz

respeito ao ambiente aéreo que apresenta um “boom” de aplicações com o

desenvolvimento dos Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT), em sigla inglesa UAV e

mundialmente conhecidos como drones.

O “boom” mencionado para os VANTs relaciona-se com o advento da

revolução digital, pois com esse não só as indústrias passaram a apresentar demanda

por produtos de alta tecnologia, como a população também o fez. Desse modo, o

desenvolvimento tecnológico dos sistemas mecatrônicos foi beneficiado. Mas, por

outro lado, novos desafios têm surgido, pois esses clientes têm se mostrado mais

exigentes quanto às funcionalidades e interfaces dos sistemas.

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2.1.2. Importância da Mecatrônica

Para Shetty e Kolk (2011) o sucesso da mecatrônica pode levar produtos

extremamente atraentes para o consumidor em termos de qualidade e rentabilidade.

Isso se dá graças à capacidade desses sistemas, altamente integrativos, de oferecer

diversas soluções aos problemas cotidianos das pessoas. Esses sistemas podem

tanto substituir o homem em tarefas que exigem esforço físico, como também realizar

tarefas as quais o homem não é capaz.

Com relação aos requisitos ergonômicos, Horikawa et al. (2002) apontam o

estudo da integração entre operadores humanos e robôs em sistemas de trabalho

como vital. Pois, exceto em algumas fábricas totalmente automatizadas, operadores

sempre interagem com robôs em atividades como:

Monitoramento dos sistemas;

Intervenção para inicialização, reconfiguração, manutenção, etc.;

Supervisão, gerenciamento e planejamento;

Inspeção para controle de qualidade; e

Trabalhos em sinergia como em montagem ou controle supervisório de

robôs.

A utilização dos sistemas de produção enxuta, segundo Shetty e Kolk (2011),

criou uma demanda por sistemas autônomos inteligentes de inspeção, fabricação e

tomadas de decisão que executem testes sem intervenção humana direta, como é o

caso da atividade de monitoramento.

Shetty e Kolk (2011) definem o monitoramento como a determinação do estado

ou das condições de sistemas e suas mudanças com o tempo. O monitoramento e

análise das condições de uma máquina constituem uma ferramenta valiosa para

estabelecer um cronograma de manutenção. O monitoramento da qualidade fornece

às plantas industriais a capacidade de tomar ações corretivas rápidas na origem de

seus problemas. Em continuação as afirmações prévias, eles citam que outro nível de

garantia de qualidade se dá através de monitoramento on-line da qualidade,

complementando um projeto robusto e métodos de controle estatístico.

Sistemas de monitoramento mecatrônicos têm sido aplicados em várias

indústrias, como de aviação, automotiva, médica, de bens de consumo, aeroespacial e

sistemas de produção industrial, entre outras. Estes sistemas são projetados para

medir parâmetros da planta, estados de plantas, e estados de produção. (SHETTY;

KOLK, 2011)

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A tendência em mecatrônica é aperfeiçoar os processos de produção global, do

projeto do produto à inspeção da fabricação, ao integrar todas as informações em um

banco de dados comum, citam Shetty e Kolk (2011). Assim, informações de vários

sensores relacionados ao processo podem ser integradas para melhorar a

confiabilidade e a qualidade dos dados do sensor. Esta informação comum pode ser

usada, por exemplo, na seleção de melhores processos de usinagem, ferramentas e

operações de acabamento.

Shetty e Kolk (2011) afirmam que o sistema global envolvido na combinação do

controle automático de desgaste das ferramentas e da inspeção de qualidade, ajuda a

garantir que os processos de produção atinjam a eficiência e que os produtos tenham

maior qualidade. Segundo eles, isto acaba por reduzir o custo total de produção,

aumentando as possibilidades de obtenção de maiores margens de lucro.

2.1.3. Outros Aspectos da Mecatrônica

Em seu trabalho Ghanghi et al. (2011) trata da importância da mecatrônica em

associação com a nanotecnologia para o desenvolvimento tecnológico. Tendo em

vista o enorme potencial do mercado doméstico para os sistemas mecatrônicos

apontados por Prassler e Kosuge (2008), cerca de centenas de milhões de clientes, o

campo está se desenvolvendo de maneira bastante dinâmica. Sendo comum que

novos produtos e novas empresas surjam e desapareçam com bastante frequência.

Um produto industrial é, de acordo com Roloff, Sá e Bento (2010), um artefato

desenvolvido por projetistas para satisfazer necessidades humanas, ou seja, as

pessoas compram o que atenderá a alguma de suas necessidades, sendo que quanto

maior o número de pessoas que tiverem a mesma necessidade, maior será o mercado

para o produto em questão.

Vale notar que nem sempre uma necessidade é nítida aos consumidores, ela

pode estar sendo parcialmente atendida, ou mascarada com o uso de mais de um

produto, como era o caso anterior ao surgimento dos smartphones. Nesses casos o

mercado não oferta produtos adequados ao seu suprimento da necessidade

específica, identifica uma demanda latente, ou atende-o parcialmente, havendo uma

oportunidade de melhoria, ou seja, espaço para uma inovação. Quando há demanda

latente por um produto e essa é restrita a um determinado grupo de indivíduos, isso

caracteriza um nicho de mercado. Sistemas mecatrônicos podem surgir para

responder a necessidades de alguns desses nichos.

Horikawa et al. (2002) declaram que os sistemas mecatrônicos forçam a

reavaliação do processo produtivo por poderem substituir a mão de obra humana, e

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proporcionarem as indústrias certa flexibilidade para atender aos picos de demanda do

mercado, por serem reprogramáveis, o que também possibilita a extensão de sua vida

útil dentro do sistema de produção.

De maneira geral, o tempo de implantação desses sistemas deverá ser o

menor possível, uma vez que novos produtos requerem novos requisitos em relação à

automação e esses vêm aparecendo cada vez mais rápido no mercado. (MOORE et

al., 2003 apud PAULA; SANTOS, 2008)

Para Horikawa et al. (2002) a seleção do sistema mecatrônico certo para uma

aplicação específica vem se tornando mais difícil a cada momento devido à grande

variedade de equipamentos existentes nesta área. Além disso, sem experiência

anterior na área, é difícil para os projetistas escolherem e avaliarem os aspectos

relevantes a serem levados em conta na longa lista de dados que acompanham as

especificações de cada sistema mecatrônico. Para facilitar, Horikawa et al. (2002),

Naveiro (2002) e Siciliano et al. (2009) destacam alguns parâmetros a serem levados

em conta durante o projeto de um sistema mecatrônico:

Espaço de Trabalho - O espaço de trabalho representa a parte do

ambiente atingível pelo atuador do manipulador. A forma e volume

desse espaço dependem da estrutura do manipulador e das suas

limitações mecânicas.

Repetibilidade – Capacidade de realizar a repetição das mesmas

operações com o atuador, retornando sempre ao ponto desejado dentro

de uma faixa de tolerância;

Grau de Liberdade - Os Graus de Liberdade (GL), devem ser

adequadamente distribuídos ao longo da estrutura mecânica, a fim de

ter um número suficiente para executar uma dada tarefa. No caso mais

geral de uma tarefa que consiste em posicionar um objeto em Três

Dimensões (3D) do espaço, são necessários seis GLs, três para o

posicionamento e três para orientação. Se houver mais GLs do que

variáveis de tarefas, o manipulador é chamado de redundante;

Atuador - A seleção do atuador deve estar de acordo com a tarefa a ser

realizada;

Sensores - A qualidade de um sistema depende muito dos sensores

que são utilizados;

Velocidade de Trabalho - A velocidade de trabalho deve ser planejada

considerando a taxa de produção requerida e outras restrições quanto à

integração com outros subsistemas;

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Precisão - Especificação da resolução de posicionamento, trajetória e

força;

Carga - Especificação da carga máxima suportada pela estrutura,

considerando as diversas velocidades de trabalho e amplitudes de

movimento;

Programação - Especificação dos métodos de programação

necessários;

Interface - Especificação dos requisitos de interface com outras

máquinas, pessoas, atividades, redes, etc;

Custo - Especificação do custo máximo aceitável incluindo instalação,

treinamento, manutenção e sucateamento;

Fatores Ambientais - Especificação dos requisitos do ambiente, como

temperatura, limpeza, etc.

Segurança e confiabilidade - Especificação dos requisitos necessários

para garantir determinados níveis de segurança e confiabilidade;

Treinamento - Especificação do treinamento necessário para operação

e manutenção do sistema; e

Infraestrutura - Tipo de linhas de energia elétrica, rede pneumática,

base de montagem, etc. necessários para a operação robotizada.

Além desses princípios gerais para projetos desses sistemas, Nogueira e

Lepikson (2006) afirmam que existem regras específicas de projeto que conduzem a

um melhor produto final.

2.2. PROJETOS

Projetar, para Budynas e Nisbett (2011) é formular um plano para satisfazer

uma necessidade específica ou para resolver um problema.

Define-se um projeto como: “Processo único, consistindo de um grupo de

atividades coordenadas e controladas com datas para início e término, empreendido

para alcance de um objetivo conforme requisitos específicos, incluindo limitações de

tempo, custo e recursos.” Entendendo-se como processo “um conjunto de recursos e

atividades inter-relacionadas que transformam insumos em resultados”.

(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2000, p. 2)

Hedeman, van Heemst e Fredriksz (2007) descrevem um projeto como sendo

um ambiente de gestão temporária criado com o propósito de entregar um ou mais

produtos de acordo com uma circunstância empresarial especifica.

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De acordo com o Project Management Institute (2013, p. 3), “projeto é um

esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado

exclusivo”. Ainda segundo o Project Management Institute (2013), a natureza

temporária de um projeto se dá pelo fato de ter início e término definidos, podendo um

projeto ser encerrado com o cumprimento dos objetivos, por seus objetivos não serem

mais alcançáveis, ou por desejo do cliente.

A exclusividade mencionada na definição do Project Management Institute

(2013) se deve ao fato de cada projeto apresentar um conjunto de fatores distintos

com poder de influência que varia de projeto para projeto, mesmo em projetos de

natureza similares. Um desses fatores, conforme aponta o Project Management

Institute (2013), é o nível de experiência dos membros da equipe de projetos nas

atividades a serem realizadas, o que pode exigir um planejamento mais dedicado para

que o resultado final do projeto não seja comprometido. Se esse resultado consistir na

criação de algo físico, então será gerado através do projeto um produto que segundo

Budynas e Nisbett (2011) deverá ser funcional, seguro, confiável, competitivo,

utilizável, fabricável e comercializável.

Porém, esse resultado, embora seja muitas vezes tratado como tal, não

necessariamente será um produto, podendo ser um serviço, ou outra coisa intangível,

como a melhoria da produtividade de uma indústria. Além disso, ocorrem projetos nos

vários níveis hierárquicos de uma organização, podendo envolver uma única pessoa

ou muitas pessoas, uma única organização ou diversas unidades de negócios de

organizações distintas. (PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, 2013)

Considerando a natureza dos projetos, Vargas (2006) aborda os desafios

inerentes a um projeto, dada a complexidade intrínseca ou o curto prazo ou o baixo

orçamento, concluindo que qualquer projeto requer níveis de gerenciamento e controle

não usuais. Assim, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2000) relata que em

alguns casos, os objetivos de um projeto e as características do produto são

aperfeiçoados e definidos progressivamente, conforme se dá o desenvolvimento do

projeto.

Um conjunto de conhecimentos amplamente reconhecidos como boas práticas

para gerenciamento de projetos é encontrado no Guia PMBoK do Project Management

Institute (2013). Existe um consenso em relação ao valor e a utilidade desse guia, pois

as práticas descritas nele auxiliaram gerentes de projetos passados a obter sucesso.

O que para Hedeman, van Heemst e Fredriksz (2007), ocorre em um projeto se todos

os interessados ficam satisfeitos com seu resultado.

Entretanto, o Project Management Institute (2013) destaca que cabe a cada

organização e equipe de projetos, caso haja uma, determinar quais práticas serão

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utilizadas em seu portfólio de projetos, definindo-se, então, uma metodologia a ser

seguida em cada projeto. Ainda assim, admite-se que haja variações dentre as

práticas utilizadas para os projetos de um mesmo portfólio, dada a característica de

exclusividade desses.

2.2.1. Programas e Portfólios

Define-se um portfólio como um conjunto de projetos, subprogramas,

programas, subportfólios e operações gerenciados conjuntamente para se atingir

objetivos estratégicos definidos. Os projetos individuais, dentro ou fora de um

programa, são considerados parte de um portfólio. Nesse portfólio, os projetos e

programas, mesmo sendo independentes, estão ligados ao plano estratégico da

organização. (PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, 2013)

A relação descrita entre portfólio, programa e projeto pode ser melhor

apreciada na figura 8.

Figura 8 – Relação entre projetos, programas e portifólios. Fonte: Adaptado de Project Management Institute, 2013.

Portfólios, programas e projetos individuais são vinculados e possuem relações

diretas com as estratégias e prioridades organizacionais, define o Project Management

Institute (2013). Assim, o planejamento organizacional impacta diretamente nos

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projetos através de priorização baseada em fatores como riscos, custos e outros

igualmente relevantes.

Ainda de acordo com o Project Management Institute (2013), as organizações

gerenciam os portfólios com base em seu plano estratégico, com intuito de maximizar

seu valor através de exame cuidadoso dos programas e projetos integrantes. Desse

modo, componentes com baixa contribuição para os objetivos estratégicos podem ser

excluídos, tornando assim o plano estratégico de uma organização o fator principal de

orientação para investimentos em projetos. Ao mesmo tempo, as necessidades de

recursos dos projetos e programas são reunidas e comunicadas ao nível do portfólio,

auxiliando na determinação e orientação do planejamento organizacional.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (2000) destaca a necessidade de,

também, os projetos estarem alinhados com a estratégia organizacional. Para

Stanleigh (2003) somente os projetos estrategicamente alinhados com a organização

serão tratados com alta prioridade. Portanto, projetos que não estiverem ligados à

estratégia organizacional correm risco de falhar, por serem colocados no final da lista

de prioridades da organização.

2.2.2. Importância dos Projetos

O crescimento, bem como a sobrevivência de qualquer organização está

diretamente atrelada aos seus projetos. Esses traduzem ações organizacionais

visando modificar o posicionamento atual da organização com relação ao mercado e

seus concorrentes, agregando valor e conhecimento através da melhoria de

processos, criação de produtos e desenvolvimento de serviços.

Paula e Santos (2008) relatam que com a globalização e consequente

crescimento da competitividade empresarial, as empresas estão sendo forçadas a

reduzir o tempo entre lançamentos de novos produtos, além de reduzir seus custos

para oferecer preços mais competitivos. Os autores apontam ainda, alguns dos

principais desafios atualmente encarados pelas empresas como as flutuações de

demanda, o curto ciclo de vida dos produtos, a frequente introdução de novas

demandas e o crescimento das expectativas dos clientes. Para superarem tais

desafios e permanecerem competitivas no mercado é preciso que essas empresas

tenham claros seus objetivos e planejem suas estratégias.

No contexto de um plano estratégico, o Project Management Institute (2013) dá

ênfase ao fato de os projetos representarem uma forma de se alcançar as metas e os

objetivos organizacionais, mencionando que a autorização para realização desses,

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normalmente, se dá como resultado de uma ou mais das considerações estratégicas

listadas a baixo:

Demanda de mercado;

Oportunidade/necessidade estratégica de negócios;

Necessidade de natureza social;

Consideração ambiental;

Solicitação de cliente;

Avanço tecnológico; e

Requisito legal.

Como se pode notar pelo acima descrito, o início de qualquer projeto é

precedido por uma etapa estratégica na qual são tomadas decisões chave para o

futuro. Tendo em vista a importância dessas decisões, devem ser levadas em

consideração todas as partes interessadas, pois essas cercam e interferem

diretamente em qualquer projeto. Na figura 9, podem-se ver as principais partes

interessadas em projetos, de um modo geral.

Figura 9 – Relação de partes interessadas em um projeto. Fonte: Project Management Institute, 2013.

Vale notar que, diferentes importâncias devem ser aplicadas a cada um dos

interessados em cada projeto, de modo a classificá-los e a priorizar o tratamento dos

interesses com maior potencial de impacto no projeto.

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Além disso, dependendo de fatores como o meio em que o projeto está

inserido e a estrutura organizacional adotada pela empresa, alguns dos interessados

apontados na figura 9 podem não existir, podendo até mesmo o gerente de projetos

ser um desses, o que ocorre em empresas com estrutura organizacional funcional.

Além da estrutura organizacional funcional, outros quatro tipos de estrutura

podem ser encontrados nas empresas e como pode ser notado, esse tipo de

estruturação impactará diretamente na condução dos projetos da empresa.

É importante ressaltar a distinção feita pela Associação Brasileira de Normas

Técnicas (2000) quanto à organização empreendedora e a que executa o projeto,

conhecida como organização do projeto, pois essa pode ser constituída como uma

joint-venture, um consórcio e etc., ou uma parte da organização empreendedora. A

figura 10 demonstra quatro tipos de estruturação empresarial, estando cada uma

representada por uma letra, nas quais se destacam as organizações executoras.

Figura 10 – Estruturas organizacionais. Fonte: Adaptado de Project Management Institute, 2013.

Em a) pode-se identificar a estrutura funcional, previamente comentada, onde

não há o cargo de gerente de projetos. Nesse tipo de estrutura os projetos são

coordenados pelos gerentes funcionais que contam com auxílio de alguns de seus

subordinados.

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A estrutura apresentada em b) é denominada de matricial fraca. Esse tipo de

estruturação é bem semelhante ao definido anteriormente, com a distinção de que

quem coordena os projetos não são os gerentes funcionais e sim os seus

subordinados.

Uma estrutura matricial balanceada é apresentada em c), a principal

característica dessa estrutura é a presença de um gerente de projetos. Porém, esse

gerente está subordinado a um gerente funcional, de tal modo que não possui

autonomia suficiente para influir efetivamente o gerenciamento do projeto, tendo

muitas vezes que acatar ordens que contrapõem os interesses do projeto

passivamente.

A última das estruturas listadas pode ser observada em d). Esta corresponde a

matricial forte e nela pode-se notar a presença de vários gerentes de projetos que

estão reunidos e subordinados a um chefe dos gerentes de projetos, e não a um

gerente funcional, no que corresponde a um PMO. Desse modo, os gerentes de

projetos têm mais autonomia para trabalhar em prol do desenvolvimento dos projetos,

mas ainda enfrentam dificuldades por utilizar recursos humanos pertencentes aos

departamentos dos gerentes funcionais.

Além das quatro estruturas previamente mencionadas, há uma utilizada pelas

empresas com foco em projetos, essa estrutura denomina-se projetizada e pode ser

vista na figura 11.

Figura 11 – Estrutura projetizada. Fonte: Adaptado de Project Management Institute, 2013.

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Em uma estrutura organizacional desse tipo não há a divisão convencional na

empresa por departamentos e sim equipes que atuam em diferentes projetos, de modo

que o gerente de projetos possui autonomia quase que completa para coordenar os

projetos junto a uma equipe que se dedica exclusivamente ao projeto em curso.

Apesar de ser a estrutura normalmente indicada para empresas que trabalham

com muitos projetos, nem sempre a estrutura projetizada é adotada por essas. Como

exemplo, pode-se citar o caso das empresas brasileiras de engenharia, na pesquisa,

vista no gráfico 10, realizada pela pmsurvey.com, uma iniciativa do PMI, ao aplicar os

filtros necessários para avaliar apenas os resultados relativos a essas empresas

averígua-se que dentre elas, embora a estrutura mais utilizada seja a projetizada, essa

corresponde a apenas 44% do total da amostra e a segunda estrutura mais utilizada é

a funcional, onde nem mesmo há um gerente de projetos.

Gráfico 10 – Empresas de engenharia brasileiras por tipo de estrutura funcional. Fonte: Adaptado de pmsurvey.org, 2013.

Outro fato nítido na pesquisa é que empresas que utilizam uma estrutura

matricial balanceada não foram representativas. Considerando-se as empresas que

possuem gerenciamento de projetos, com base nesses dados, pode-se deduzir que

essas representem 56% das empresas, valor próximo ao indicado no gráfico 4, na

página 9, para empresas que possuem um escritório dedicado exclusivamente ao

gerenciamento e ao desenvolvimento de projetos.

2.2.3. Desenvolvimento de Produtos e Projetos

De acordo com o apresentado pelo Project Management Institute (2013), o

ciclo de vida do projeto deve levar em consideração a fase atual do ciclo de vida do

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produto a ser gerado. Isso se deve principalmente à tendência contínua de redução

por obsolescência do ciclo de vida dos produtos. Ainda o Project Management Institute

(2013), aponta a complexidade dos projetos como outro ponto a ser considerado, uma

vez que projetos grandes e complexos podem requerer um nível adicional de controle

para suas entregas principais. De modo que o gerenciamento desses projetos pode

ser beneficiado por uma divisão em fases. Ao demonstrar o avanço da utilização de

recursos financeiros e humanos em projetos, o gráfico 11 demonstra a proposta

apresentada pelo Project Management Institute (2013) de divisão em fases formais de

um projeto.

Gráfico 11 – Avanço da alocação de recursos durante fases de um projeto.

Fonte: Project Management Institute, 2013.

A estruturação do projeto em fases representa a segmentação do trabalho em

subconjuntos lógicos para facilitar o gerenciamento, o planejamento e controle.

Geralmente as fases são sequenciais, mas dependendo de sua natureza essas podem

ser sobrepostas em algumas situações. O número de fases em que se divide um

projeto varia de acordo com a necessidade existente. Sendo uma opção a utilização

da divisão em quatro fases, apontada no gráfico anterior. (PROJECT MANAGEMENT

INSTITUTE, 2013)

Além da divisão em fases, é importante notar a curva de avanço dos custos

quanto aos recursos financeiros e mão de obra empregada nos projetos. O Project

Management Institute (2013) demonstra que geralmente os projetos alocam a maior

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quantidade desses recursos na etapa de execução, na qual também se investe a

maior parte do tempo de um projeto.

Entretanto, antes mesmo de se iniciar um projeto, são despendidas horas de

mão obra em uma etapa que concentra importantes análises estratégicas para que

sejam tomadas decisões referentes aos projetos que irão compor um portfólio. A figura

12 demonstra, basicamente, quais etapas do desenvolvimento de um produto compõe

efetivamente o ciclo de vida de um projeto, em contraponto ao ciclo de vida de um

produto.

Figura 12 – Ciclos de vida do produto e do projeto.

Fonte: Adaptado de Hedeman, van Heemst e Fredriksz, 2007.

Como pode ser visto, o ciclo de vida de um produto compreende uma maior

quantidade de etapas, sendo o ciclo de vida de um projeto apenas uma parte desse,

tendo início apenas após uma definição do que será produzido. Dependendo do

projeto e da solicitação do cliente, seja ele a alta administração de uma empresa ou

uma empresa a qual se presta um serviço, o encerramento do ciclo de vida do projeto

pode ter como saída a entrega de um protótipo funcional, manuais de uso e a

documentação necessária para produção.

Há um conjunto de fases que diz respeito às atividades e práticas de

desenvolvimento de produtos, também conhecido na literatura como Processo de

Desenvolvimento de Produtos (PDP), que abrange todo o processo e pode ser visto

com maiores detalhes nos trabalhos de Barbalho (2006) e Pahl et al. (2007). Em uma

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breve síntese, Pang et al. (2011), avaliam o PDP em quatro fases, que são

apresentadas a seguir e podem ser vistas a seguir:

Na fase inicial, relacionada à identificação das necessidades dos

clientes, é fator preponderante a definição do problema, ou seja, o

entendimento do escopo a ser tratado;

Posteriormente devem-se estabelecer métricas para o desempenho das

atividades envolvidas no projeto para que possa ser efetuado o controle

das mesmas quanto a questões relacionadas à realização do escopo, a

qualidade, o custo e o prazo;

Em outra fase é necessário que se realize a análise das funções

objetivadas para o produto final do projeto, e os requisitos existentes

para que seja possível a realização das funções pretendidas; e

Finalmente, uma fase é destinada a análise e melhoria do produto, após

a finalização do projeto.

As fases acima relatadas fornecem informações importantes sobre o PDP,

entretanto a metodologia desenvolvida por Kepner e Tregoe, (1981 apud BUUR, 1989)

permite um maior detalhamento desse processo. Essa metodologia, conforme exposto

na figura 13, contém dez atividades que almejam a obtenção de melhores resultados

no PDP.

Figura 13 – Método de Kepner e Tregoe para PDP. Fonte: Adaptado de Kepner e Tregoe (1981 apud BUUR, 1989).

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Embora seja de fácil confusão, existem diferenças sutis entre o que se entende

por projeto e por PDP. Projetos não se limitam apenas a produtos, abrangendo

também a área de serviços. Por outro lado, com relação aos processos envolvidos, a

abordagem por PDP é mais abrangente que a por projetos, que só inicia após a

decisão do que será realizado, enquanto a abordagem por PDP engloba esse

processo de decisão.

Outro ponto em que a abordagem do PDP se diferencia da de projetos está no

que se refere ao acompanhamento posterior do que foi desenvolvido. A última fase do

PDP, mencionada por Pang et al. (2011), não está compreendida na abordagem por

projetos, sendo comum que nessa etapa do PDP novos projetos surjam, voltados para

melhoria do produto de um projeto inicial.

É importante expor que as etapas posteriores ao encerramento dos projetos

escapam ao escopo planejado para essa dissertação e não serão abordadas pelo

autor, embora as etapas pré-projeto sejam tratadas.

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3. ANÁLISE EXPLORATÓRIA

Esse capítulo apresenta em detalhes grande parte do conhecimento utilizado

para basear a metodologia proposta nessa dissertação para projetos de sistemas

mecatrônicos, considerando tanto aspectos técnicos desses projetos, quanto os que

envolvem a gestão desses projetos. Para tal, essa análise exploratória está

estruturada em dois subcapítulos: projetos de sistemas mecatrônicos e; padrões e

metodologias para gestão de projetos.

3.1. PROJETOS DE SISTEMAS MECATRÔNICOS

Sistemas multidisciplinares, segundo Shetty e Kolk (2011), não representam

uma novidade, pois têm sido projetados e utilizados por muitos anos. Os autores

apontam ainda que a principal diferença entre sistemas mecatrônicos e

multidisciplinares não está no que os constitui, mas sim na forma como seus projetos

são conduzidos.

Uma vez que o papel dos projetistas consiste na produção de um sistema

mecatrônico que cumpra todos os requisitos e especificações solicitadas pelos

clientes, Angeles e Park (2008) articulam que os desafios enfrentados pelos

projetistas, consequentes da multidisciplinariedade, se refletirão como incertezas nas

tarefas operacionais a serem executadas pelo sistema.

O projeto de um sistema mecatrônico é considerado por Chami et al. (2013) um

dos desafios mais difíceis na indústria, principalmente devido à natureza

multidisciplinar do processo de desenvolvimento que requer a integração de disciplinas

de gestão de projeto e de negócios, além das várias disciplinas de engenharia

frequentemente citadas por muitos autores. Para assegurar o sucesso em qualquer

projeto é recomendado por Horikawa et al. (2002) e por Pahl et al. (2007) que os

desenvolvimentos desses sejam abordados de forma sistemática, ou seja, que seja

utilizado um conjunto ordenado de práticas.

3.1.1. Desafios e Tendências

Assim como em outros projetos, o primeiro passo no desenvolvimento de

sistemas mecatrônicos é analisar as necessidades dos clientes, conforme apontam

vários autores como Pahl et al. (2007), Budynas e Nisbett (2011) e Shetty e Kolk

(2011). O primeiro afirma que reconhecer a necessidade e descrever a necessidade

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muitas vezes constitui um ato altamente criativo, porque a necessidade pode ser

apenas um vago descontentamento.

Entretanto, voltando-se aos aspectos técnicos, Nogueira e Lepikson (2006)

assinalam que o projeto de um sistema mecatrônico deve se ater as seguintes

considerações sobre esses sistemas:

Envolvem muitos componentes, exigindo a divisão em módulos ou

subsistemas;

Possui interação funcional e integração espacial;

Seus componentes mecânicos possuem formas complexas e de baixa

tolerância geométrica, exigindo o uso de modelagem em CAD; e

Possui software embarcado, capaz de realizar funções de controle,

adquirir e manipular dados, podendo também apresentar interfaces para

outros sistemas.

Para Shetty e Kolk (2011) outro fator a ser considerado é, ainda, o ambiente

técnico em que o sistema será integrado, já que os sistemas mecatrônicos interagem

diretamente com o meio em que estão inseridos com seus sensores, recolhendo

dados e os processando, e seus atuadores, realizando ações.

Em um contexto voltado a projetos industriais Horikawa et al. (2002) declaram

que a utilização dos sistemas mecatrônicos no setor é geralmente realizada sob uma

de duas possíveis circunstâncias: uma nova instalação física e/ou novo processo

produtivo, sendo os sistemas mecatrônicos incorporados no planejamento inicial,

permitindo maior flexibilidade nas decisões; e uma incorporação a processos já

existentes visando ganho de produtividade e/ou qualidade das tarefas, o que implica

em maior complexidade para os projetos, dado as restrições geradas pelo sistema em

funcionamento.

O aumento do grau de complexidade encontrado no processo de

desenvolvimento dos sistemas mecatrônicos são tratados por Stefanov (2011) como

consequência do crescimento contínuo das expectativas dos clientes. Parte dessa

complexidade é considerada intrínseca aos sistemas mecatrônicos, conforme afirmam

Nogueira e Lepikson (2006) ao apontarem que a interação entre funções e a

integração dos componentes trazem a esses sistemas necessidades como as que

seguem:

Presença de interconexões mecânicas e elétricas entre os sensores, os

atuadores e o sistema computacional;

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Adensamento espacial como resposta a exigência por portabilidade;

Presença de um chassi, base ou carcaça para abrigar ou suportar as

conexões e os componentes eletrônicos, mecanismos, etc.;

Precisão de movimentos e facilidade de montagem;

Interação efetiva entre subsistemas;

Tolerâncias dimensionais e geométricas tipicamente abaixo de 0,01

mm;

Acabamento externo priorizando a forma e o acesso a controles e

conexões; e

Utilização máxima da simetria, para reduzir os custos nas fases de

projeto, simulação, modelagem, fabricação e montagem.

Para Shetty e Kolk (2011) muitos dos altos custos na fabricação de produtos

são oriundos do próprio estágio de projeto. Assim, Horikawa et al. (2002) enfatizam a

importância da realização da análise de viabilidade econômica e financeira dos

projetos de sistemas mecatrônicos, de forma análoga a de qualquer outro projeto. As

principais etapas para realizar-se uma análise econômica específica de um projeto de

robotização podem ser analisadas em seu trabalho.

Ainda sobre custos, Erbe (2002 apud PAULA; SANTOS, 2008) identifica que

pequenas empresas encontram dificuldades para manter sistemas mecatrônicos em

razão dos custos para eventuais reprogramações, do tempo ocioso de equipamentos e

do alto custo da manutenção especializada. Isso caracteriza um nicho de mercado,

voltado a sistemas mais flexíveis e de baixo custo de manutenção.

Além disso, no que tange aos fatores humanos, o caráter multidisciplinar dos

projetos de sistemas mecatrônicos exige também a formação de uma equipe que

possa planejar e desenvolver o trabalho de forma interdisciplinar e sinérgica.

(NOGUEIRA; LEPIKSON, 2006)

Em seu trabalho Middendorf et al. (2006) apontam três fortes tendências, ainda

atuais, para o desenvolvimento de sistemas mecatrônicos. Uma dessas é a redução

dos ciclos de inovação, o que acaba por comprimir o calendário dos projetos, uma vez

que esses precisam ser desenvolvidos em menor tempo para atender as demandas de

mercado e as estratégias empresariais. Outra tendência concerne à inserção de novas

funcionalidades nos produtos, uma vez que o mercado tem apresentado cada vez

mais necessidade por dispositivos que integrem múltiplas funções, facilitando as

atividades cotidianas da população. Por fim, o aumento da variedade de produtos

também é apontado, tendência que diz respeito à natural segmentação do mercado,

consequente a sua expansão.

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Gheorghe et al. (2011) apontam ainda desafios quanto à necessidade futura

por uma nova filosofia e metodologia para concepção e desenvolvimento de conceitos

de micro e nano sistemas de alta complexidade e elevado grau de integração

associados à inteligência artificial. Os autores ainda mencionam algumas das áreas as

quais a aplicação desses sistemas pode trazer melhorias como: proteção ambiental,

medicina, dispositivos eletrônicos, automações, telecomunicações, domínio da

metrologia, sistemas de transmissão, tecnologia de produção industrial e etc..

Outros desafios são apontados por Kutz (2007) para o mercado futuro de

produtos, considerando seus impactos ambientais. O autor relata que há muitas

maneiras de minimizar os impactos ambientais de um produto, mas que, no entanto, a

melhor das oportunidades se dá durante a fase conceitual de projeto do produto. Para

ele, o produto ambientalmente ideal é aquele que não causa danos ecológicos durante

sua produção e utilização, converte quaisquer condições precárias existentes em seu

ambiente de utilização e ao fim de sua vida útil se torna matéria útil para a produção

de outro produto sem gerar resíduos.

Dados tais desafios e tendências, Horikawa et al. (2002) consideram que

conceitos de ergonomia podem ser utilizados no projeto conceitual para a correta

introdução de sistemas mecatrônicos em ambientes como os industriais, devendo ser

observado que o planejamento das atividades realizadas por esses sistemas traz

características totalmente distintas quando comparados à ergonomia do trabalho

exclusivamente humano.

3.1.2. Boas Práticas

Dentro da fase de projeto conceitual, Middendorf et al. (2006) propõem a

utilização de um conjunto de técnicas de especificação para projetar os sistemas

mecatrônicos, considerando-se os aspectos que podem ser vistos na figura 14 abaixo:

Requisitos: apresenta um conjunto estruturado de requisitos que

precisam ser cumpridos durante o desenvolvimento do produto;

Ambiente: descreve as condições técnicas do sistema a ser

desenvolvido e sua incorporação no ambiente operacional;

Funções: diz respeito à subdivisão hierárquica da funcionalidade;

Estrutura Ativa: descreve os elementos do sistema, seus atributos e

relações, além de definir a estrutura base do sistema, incluindo todas as

suas configurações;

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Forma: possibilita as primeiras definições de formato do sistema.

Atualmente utilizam-se sistemas do tipo Computer Aided Design (CAD)

com recursos 3D para realizar a modelagem;

Cenários de aplicação: concretizam o comportamento do sistema em

um estado ou situação específica, caracterizando algum problema; e

Comportamento: modela os estados do sistema e as transições de

estado. Dependendo do projeto, especificam-se fatores como

cinemática, dinâmica e estática.

Figura 14 – Técnicas para projetar sistemas mecatrônicos. Fonte: Adaptado de Middendorf et al., 2006.

Mesmo considerando todos os aspectos destacados acima, é importante

destacar o que menciona Naveiro (2002), pois não se pode desprezar o planejamento

de detalhes, como por exemplo, o posicionamento de cabos de alimentação em

projetos de sistemas mecatrônicos inseridos em um ambiente industrial em que haverá

interação com humanos e outros sistemas.

Como pode ser visto, um sistema mecatrônico abrange uma ampla gama de

componentes, tecnologias de interconexão e software de aplicação específica. Esses

permitem a realização de novas funções ou a substituição de soluções presentes. No

projeto de um sistema mecatrônico exercitam-se domínios envolvendo diversas áreas

da engenharia. No passado, as formas e funcionalidades eram o principal foco do

desenvolvimento desses projetos. Porém, hoje em dia também enfoca-se o

desempenho ambiental e a confiabilidade dos sistemas, a fim de criar um produto

sustentável. (MIDDENDORF et al., 2006)

Frequentemente, os fatores de confiabilidade para mecatrônica estão ligados a

sua estrutura mecânica, como é o caso do estresse térmico e do estresse

termomecânico, apontam Middendorf et al. (2006). Já Angeles e Park (2008) definem

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seis etapas, no que tange estrutura mecânica, que interagem para o desenvolvimento

de um projeto mecatrônico, como segue:

Determinar a topologia da cadeia cinemática e suas configurações, bem

como os tipos de junta;

Definir as dimensões geométricas dos diversos elos;

Determinar o dimensionamento estrutural dos elos e juntas, para

atender aos requisitos de carga estática;

Dimensionar a estrutura dos elos e juntas, para atender aos requisitos

de carga dinâmica;

Determinar o dimensionamento elastodinâmico da estrutura mecânica

em geral, incluindo a dinâmica dos atuadores; e

Selecionar os atuadores e suas transmissões mecânicas de acordo com

as condições operacionais definidas, considerando as incertezas da

tarefa.

Middendorf et al. (2006) acrescentam que caso haja na organização uma base

de conhecimentos de projetos anteriores, essa deve ser consultada, para aplicação de

cálculos simplificados dimensionais e outros para que se estabeleçam comparações

com estruturas desenvolvidas anteriormente. Recomendam-se ainda métodos como o

Método dos Elementos Finitos (MEF) para que sejam realizadas simulações da

estrutura.

Apesar da grande importância dos aspectos técnicos, durante o projeto de um

sistema mecatrônico não se podem desprezar os fatores humanos envolvidos. Um

erro cometido por projetistas é não considerar o ponto de vista do usuário final quanto

à utilização de um sistema, o que pode acarretar futuramente em solicitações de

mudança do escopo do projeto, ou ainda em seu fracasso. Como, apesar de já

haverem esforços de pesquisa nesse sentido, ainda é difícil determinar o momento

mais adequado para consideração dos fatores humanos no projeto, recomenda-se que

a participação dos usuários no trabalho da equipe do projeto seja considerada nas

etapas iniciais da metodologia empregada nos projetos de sistemas mecatrônicos.

(COELHO et al., 2008)

De acordo com Shetty e Kolk (2011), uma metodologia é um conjunto de

práticas, procedimento e regras utilizadas para realização de um trabalho em

particular. Assim sendo, as práticas acima mencionadas, mesmo não tendo caráter de

obrigatoriedade, devem ser consideradas durante o desenvolvimento dos projetos de

sistemas mecatrônicos, uma vez que tendem a melhorar os resultados gerados.

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3.1.3. Metodologia Clássica

De acordo com Shetty e Kolk (2011), historicamente, projetos de sistemas

multidisciplinares seguiam uma abordagem sequencial, disciplina por disciplina em

que cada uma delas era tratada como um subprojeto dependente apenas das

informações do anterior. Nessa metodologia, como não há interação entre os

subprojetos durante seus desenvolvimentos, os processos de criação ficam restritos a

um conjunto de fatores indicados pelo subprojeto antecessor sem que seja

considerado se aquela configuração está entre as melhores para o sistema como um

todo, ou seja, conforme Shetty e Kolk (2011) declaram, o problema dessa abordagem

é que ao se fixarem vários subprojetos em sequência, novas restrições são geradas e

passadas aos subprojetos seguintes.

Já Li, Zhang e Chen (2001) explicam mais a fundo porque isso ocorre na

metodologia de concepção clássica. Segundo eles, a estrutura mecânica do sistema

mecatrônico é normalmente determinada separadamente, a partir do controlador, e o

desenho da estrutura está orientado apenas para os aspectos mecânicos como a

cinemática, a dinâmica e a estática. Assim, devido à limitação de hardware, a melhor

ação de controle dificilmente é atingida.

Buur (1989) aponta ainda que a abordagem sequencial, embora favoreça o

gerenciamento de riscos, costuma aumentar a duração total de um projeto, pois a

presença de gargalos em qualquer uma das fazes atrasa o projeto como um todo.

Nogueira e Lepikson (2006) também citam o longo ciclo de vida do projeto como uma

das restrições presentes na metodologia tradicional. A figura 15 ilustra o

desenvolvimento das metodologias em três diferentes fases, uma em que não havia

interações, outra com interações no início e fim de cada etapa e uma última altamente

interativa.

Figura 15 – Comparação de metodologias quanto a interação das fases dos projetos. Fonte: Takeuchi e Nonaka (1988 apud BUUR, 1989).

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A Associação Brasileira de Normas Técnicas (2000) aborda a divisão em fases

afirmando que essa permite uma melhor supervisão quanto à realização dos objetivos,

bem como uma melhor percepção dos riscos associados ao projeto. A associação

relata ainda que durante o ciclo de vida dos projetos podem ocorrer superposições

entre fases significativas.

Desse modo, com o passar do tempo, a metodologia clássica perdeu força e

passou a ser substituída por outras mais interativas, pois os projetos de sistemas

mecatrônicos precisaram ser conduzidos de forma cada vez mais veloz. As

metodologias mais interativas e, por consequente, mais integradas também podem ser

apontadas como vantajosas por proporcionarem aumento da qualidade do resultado

gerado, além de ganhos de tempo.

3.1.4. Integração nas Metodologias

Nogueira e Lepikson (2006) e Pahl et al. (2007) aludem à complexidade das

várias etapas dos projetos de sistemas mecatrônicos e sua natureza interdisciplinar

concluindo que esses exigem métodos específicos e sistematizados. Pahl et al. (2007)

reiteram, no entanto, que esses devem ser aplicados com flexibilidade, considerando

os conhecimentos e terminologias das diversas disciplinas envolvidas.

Uma metodologia sistematizada e simultânea pode ser observada nos projetos

preliminares de sistemas de engenharia, afirmam Shetty e Kolk (2011), e, de certa

forma, a mecatrônica é uma extensão desses sistemas, complementada com sistemas

de informação, devendo esses serem considerados em todas as fases do projeto, não

apenas na preliminar.

Pil e Asada (1996) já alertavam sobre a necessidade de haver uma maior

integração na concepção dos mecanismos e do controle nos sistemas mecatrônicos.

De acordo com suas pesquisas, existem interações significativas e relações

intrínsecas entre a estrutura mecânica, a dinâmica e o controle desses sistemas,

devendo o desenvolvimento mecânico e do controle ser integrado e executado

simultaneamente, havendo interações entre os dois.

Segundo Pahl et al. (2007) o ideal é que não seja possível distinguir as áreas

de conhecimento envolvidas nos projetos de sistemas mecatrônicos, pois a natureza

integradora desses projetos deve tornar fluidos os limites entre as áreas. Uma

abordagem flexível e iterativa para projetos de sistemas mecatrônicos, avaliada por

Stefanov (2011) proporciona aos sistemas mecânicos, eletrônicos e de controle que

sejam concebidos em conjunto, tendo em conta a influência entre eles, os requisitos

tecnológicos e as necessidades dos clientes.

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Li, Zhang e Chen (2001), afirmam que a metodologia integrada de projetos tem

o potencial de obter um desempenho ideal do sistema como um todo. Seguindo essa

linha, Shetty e Kolk (2011) explicam que a sinergia da integração entre o sistema

elétrico, o sistema mecânico e o sistema de informação é gerada pela combinação

adequada de parâmetros e possibilita que o produto final seja melhor do que apenas a

soma de suas partes, o que resulta em características de desempenho que antes

eram difíceis de alcançar.

Seguindo essa linha, Coelho et al. (2008) defendem que a integração aconteça

o mais cedo possível no projeto de sistemas mecatrônicos. Para tal, é necessário que

esta seja contemplada pelos processos da metodologia utilizada.

Os grupos de processos de uma metodologia são integrados através da

sobreposição de atividades ao longo de todo o projeto, em que, geralmente, cada fase

foca um subconjunto de atividades. O gráfico 12 mostra como os grupos de processos

interagem e o nível de sobreposição em diversas ocasiões. (PROJECT

MANAGEMENT INSTITUTE, 2013)

Gráfico 12 – Integração entre processos de um projeto. Fonte: Project Management Institute, 2013.

Budynas e Nisbett (2011) enfatizam que o desenvolvimento de um projeto é um

processo interativo em que se procede por várias etapas, se avalia os resultados e,

em seguida, retorna para uma fase anterior do procedimento. Segundo o Project

Management Institute (2013), os grupos de processos de gerenciamento de projetos

estão vinculados pelas saídas que produzem, de modo que a saída de um processo,

em geral, torna-se uma entrada em outro. Além disso, é normal que sejam realizadas

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verificações na transição entre as fases, o que pode acarretar em loops, como pode

ser visto na figura 16.

Figura 16 – Integração entre as fases de um projeto. Fonte: Project Management Institute, 2013.

Em seu trabalho, Chen (2012) projetou e produziu uma mão robótica utilizando

uma metodologia integrada para o desenvolvimento do modelo mecânico, do

eletrônico, e do sistema de controle. Ao fim de seu trabalho, demonstrado na figura 17,

ele concluiu que o compartilhamento de informações e a reutilização de modelos

construídos em diferentes fases do projeto configuram uma grande vantagem dessa

metodologia, uma vez que poupa tempo e reduz o risco de erros nas transferências de

dados entre as fases.

Figura 17 – Resultado do projeto de uma mão robótica. Fonte: Chen, 2012.

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Para suprir de forma pontual alguns dos desafios mencionados, uma série de

outras metodologias voltadas para projetos de engenharia foram propostas pela

academia, dentre essas, algumas voltadas para casos específicos como as orientadas

ao custo, à manutenção e ao meio ambiente, estando essas detalhadas em livros

como os de Kutz (2007) e de Pahl et al. (2007).

Entretanto, no que tange especificamente aos projetos de sistemas

mecatrônicos, Chami et al. (2013) discorrem a respeito da variedade de metodologias

que têm sido propostas na literatura e conclui que ainda não há consenso quanto a

uma a ser adotada e que, com isso, na prática as empresas desenvolvem

individualmente suas próprias técnicas. Apesar do relato de Chami, na prática, a maior

parte das metodologias encontradas na literatura são variações de um seleto conjunto

de metodologias, sendo as principais destas mencionadas no subcapítulo a seguir.

3.2. MÉTODOS DESCRITOS NA LITERATURA

De acordo com Pahl et al. (2007), para o efetivo gerenciamento de projetos de

sistemas mecatrônicos é necessária a utilização de modelos e procedimentos

adequados, dada a complexidade exigida para desenvolvê-los com raciocínio

interdisciplinar de forma integrada.

Um fator crucial no desenvolvimento dos sistemas mecatrônicos é a integração

rigorosa das disciplinas envolvidas desde a concepção do sistema. Conforme afirmado

por Gausemeier et al. (2011) e Carrasco (2013) outro importante fator a ser

considerado na concepção de sistemas mecatrônicos é o processo de fabricação,

sendo importante que essa preocupação se dê desde a fase conceitual do projeto.

Tais fatores só aumentam a complexidade do desenvolvimento desses projetos.

Assim, faz-se necessário o uso de um método de desenvolvimento sistematizado.

A seguir são apresentados três métodos presentes na literatura: o Modelo de

Referência para o Desenvolvimento de Produtos Mecatrônicos (MRM), desenvolvido

por Barbalho (2006); o Modelo V, proposto Vasic e Lazarevic (2008); o Modelo

Hierárquico, proposto por Hehenberger et al. (2010); e o Modelo de 3-Ciclos, proposto

por Gausemeier et al. (2011). Tendo todos esses métodos sido também abordados por

Carrasco (2013) e Leite (2014).

3.2.1. MRM

O MRM foi apresentado por Barbalho (2006) em sua tese de doutorado em

engenharia mecânica na Escola de Engenharia de São Carlos e posteriormente

validado em um artigo científico por Barbalho e Rozenfeld (2013). O modelo consiste

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na reunião de boas práticas encontradas na literatura e trata o desenvolvimento de

produtos mecatrônicos pela abordagem do PDP. Além disso, o MRM tem foco em

empresas produtoras de bens, no caso produtos mecatrônicos.

A figura 18 demonstra as doze etapas nas quais se dividem os esforços

empreendidos por uma empresa que faça uso do MRM, partindo da estratégia

empresarial e finalizando com o monitoramento do produto final junto a seus usuários.

Em seu trabalho, Barbalho (2006) emprega essas fases, entretanto alerta-se nessa

dissertação que apesar de ser utilizado o termo otimização para designar uma dessas

fases, a mesma não necessariamente envolve o uso de algoritmos ou outras técnicas

de otimização. Dessa forma, nesse trabalho tomou-se a liberdade de substituir o

mesmo pelo termo “melhoria”, na descrição das fases propostas por Barbalho (2006),

que podem ser vistas abaixo:

Figura 18 – Fases do desenvolvimento de uma solução. Fonte: Barbalho, 2006.

1. Estratégia – planejamento da estratégia para as linhas de produtos;

2. Portfólio – montagem do portfólio dessas linhas;

3. Especificações – definição das especificações dos produtos;

4. Planejamento do projeto – elaboração do plano dos projetos;

5. Concepção – entendimento dos principais componentes e funções do

produto;

6. Planejamento técnico – detalhamento do plano de projeto;

7. Projeto técnico – detalhamento das soluções técnicas para as funções

definidas;

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8. Melhoria – realização de testes e análises visando o aumento da

robustez e confiabilidade do produto;

9. Homologação – homologação do resultado do projeto;

10. Validação – recebimento de aceite formal e certificação do resultado

gerado;

11. Lançamento – introdução do produto no mercado; e

12. Monitoramento: acompanhamento dos resultados e gerenciamento das

modificações solicitadas.

O modelo propõe também a utilização de gates entre as fases, decisões ou

entregas, que servem para validar o resultado de uma fase e definir seu encerramento

e o início da posterior, ou o encerramento de todo o processo em alguns casos

especiais. Esses gates são representados pelos losangos ao fim dos cortes verticais

na figura 18.

O tipo de cada gate difere de acordo com a cor de seu respectivo losango,

sendo os das fases estratégia e portfólio relativos a decisões empresariais

estratégicas inerentes ao portfólio da organização. Os gates das fases concepção e

projeto técnico estão relacionados com a viabilidade técnica e atendimento dos

requisitos do produto. O gate da fase lançamento, na realidade se trata de um relatório

final e uma lista de lições aprendidas. Todos demais gates envolvem decisões quanto

à continuidade ou cancelamento dos esforços de desenvolvimento, envolvendo a alta

administração da organização.

É relevante que se note que o MRM foi desenvolvido a partir de boas práticas

presentes na literatura da época e do conhecimento do autor que durante o

desenvolvimento do modelo esteve imerso no ambiente de uma empresa cuja

atividade fim era a produção de produtos mecatrônicos, tendo essa metodologia sido

implementada e validada nessa mesma empresa.

3.2.2. Modelo V

A proposta de Vasic e Lazarevic (2008), também abordada por Stefanov (2011)

e Carrasco (2013), consiste inicialmente em analisar os requisitos do sistema, suas

subfunções, seus subsistemas e seus componentes definindo-os, processo

demonstrado na parte esquerda do Modelo V. O modelo pode ser visto na figura 19 e,

como relata Stefanov (2011), tem como resultado um protótipo virtual do sistema.

Então, as equipes colaborativas desenvolvem simultaneamente os subsistemas

mecânicos, eletrônicos e de TI.

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Figura 19 – Modelo V. Fonte: Stefanov, 2011.

Já na segunda etapa, lado direito do Modelo V, Stefanov (2011) afirma que

desenvolve-se um protótipo físico do sistema, integrando-se gradativamente os

componentes e subsistemas. Ao término dessa fase, verifica-se o executado

comparando-o com os requisitos esperados e, por fim, busca-se validar o sistema

integrado, verificando se há necessidade de melhoria. Caso alguma melhoria seja

solicitada, repete-se a operação desde a primeira fase.

O Modelo V, concebido como processo iterativo, segundo Carrasco (2013) tem

como objetivo estabelecer um conceito de solução que descreva as principais

características físicas e operacionais do sistema a ser desenvolvido.

3.2.3. Modelo Hierárquico

O Modelo Hierárquico para projetos de sistemas mecatrônicos foi apresentado

por Hehenberger et al. (2010) e mencionado posteriormente no trabalho de Carrasco

(2013) e Leite (2014). Uma representação do modelo pode ser vista na figura 20. O

Modelo Hierárquico é baseado nos três pilares que seguem:

Módulos mecatrônicos – Hehenberger et al. (2010) propõe a

decomposição do sistema mecatrônico através de uma espécie de

estrutura analítica do produto. Assim, representam-se os módulos

separadamente, de acordo com suas áreas de conhecimento, como

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mecânica, eletrônica e controle. Sendo cada um desses módulos

detalhados em estruturas com vários níveis hierárquicos.

Figura 20 – Módulo Mecatrônico. Fonte: Hehenberger et al., 2010.

Modelos hierárquicos para projeto conceitual – Tanto Carrasco (2013)

quanto Leite (2014), mencionam que o modelo é único e tem o objetivo

específico de servir como ferramenta para que se encontre uma solução

do projeto em questão. Esses modelos são constituídos por um

conjunto de requisitos e um conjunto de relações lógicas entre eles. A

elaboração dos modelos representa um grande desafio, exigindo

trabalho criativo.

Projeto hierárquico de parâmetros – A hierarquia de parâmetros de

projeto, como apresentado por Hehenberger et al. (2010), é estudada

de forma individual para cada área do conhecimento, sendo a fase de

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concepção feita através de vários estágios do projeto intermediário. Ao

fim dessa fase, obtém-se toda a documentação do sistema

desenvolvido. O Método Hierárquico classifica os requisitos dos projetos

em externos, possibilitam o desenvolvimento do nível hierárquico

superior, e internos, requisitos para o dimensionamento dos

componentes da camada hierárquica inferior.

3.2.4. Modelo de 3-Ciclos

Em seus estudos acerca da Engenharia de Produto, Gausemeier et al. (2011)

apresentam um modelo para o desenvolvimento de produtos mecatrônicos, composto

por três etapas de natureza iterativa, sendo assim denominadas ciclos. Esses ciclos

são focados respectivamente no planejamento estratégico do produto, no

desenvolvimento do produto e no desenvolvimento dos sistemas de produção para

aquele produto. A figura 21, localizada a seguir, sintetiza o modelo.

Figura 21 – Modelo de 3-Ciclos. Fonte: Gausemeier et al., 2011.

Um resumo sobre o funcionamento de cada um desses ciclos está descrito

abaixo:

O ciclo inicial, planejamento estratégico do produto, busca estudar o

potencial de sucesso do sistema a ser desenvolvido e avaliar se o

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projeto de produto é promissor, representando o que o autor denomina

como princípio de solução. Esse ciclo se baseia em quatro tarefas:

foresight (estudos prospectivos); definição do produto; projeto

conceitual do produto; e planejamento de negócios.

O segundo ciclo, também chamado de desenvolvimento do produto,

compreende três fases: projeto conceitual do produto, etapa em que há

grande interação com o primeiro ciclo; concretização das áreas de

conhecimento específicas, quando desenvolvem-se os sistemas de

cada uma dessas áreas; e integração dos sistemas, ao se unir os

sistemas da fase anterior gera-se uma solução global, sendo essa

consolidada em um protótipo virtual.

O terceiro ciclo, desenvolvimento do sistema de produção, compreende:

o projeto conceitual do sistema de produção, tendo como resultado o

princípio de solução do sistema de produção; a concretização do

domínio-especifico voltada para o planejamento do processo, do local

de trabalho, da logística de produção e do dispositivo de trabalho; e a

fase de integração dos sistemas de produção, combinando os

resultados do planejamento do domínio-especifico para obter uma

solução dos sistemas de produção.

3.3. PADRÕES E METODOLOGIAS PARA GESTÃO DE PROJETOS

O gerenciamento de projetos, para a Associação Brasileira de Normas

Técnicas (2000), deve incluir o planejamento, a organização, a supervisão e o controle

de todos os aspectos de um projeto, de forma contínua, visando garantir o atingimento

de seus objetivos. O Project Management Institute (2013) aponta o gerenciamento de

projetos como uma disciplina estratégica crítica para as organizações.

O elo entre a estratégia adotada por uma organização e a equipe de execução

é o gerente de projetos, de acordo com o Project Management Institute (2013), por ser

a pessoa alocada para liderar a equipe. O instituto afirma ainda que ele é o principal

responsável por alcançar os objetivos do projeto e um dos principais tomadores de

decisão no que tange aos esforços do projeto, devendo conhecer e ser capaz de

adaptar diferentes metodologias de gestão a realidade organizacional. Uma vez que

equipes que não compartilham uma metodologia tendem a ser ineficientes, segundo

Xavier (2009).

Entretanto, ao se implementar novas metodologias em uma organização pode

haver dificuldades relacionadas ao desconforto gerado nos indivíduos que constituem

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a organização, conforme Varaschim (2009) expõe em seu trabalho. Assim o fator

cultural jamais deve ser desprezado durante a definição da metodologia a ser utilizada.

Xavier (2009) afirma que não existe uma metodologia que possa ser utilizada

em qualquer empresa ou projeto. Dessa forma, de acordo com o Project Management

Institute (2013) é fundamental que essas organizações busquem adaptar os melhores

processos e práticas existentes durante a gestão de seus projetos à cultura interna.

Para Xavier (2009) essa adaptação deve considerar não só a realidade dos projetos

da organização, como também as práticas existentes no mercado, as propostas

presentes na literatura e as experiências vivenciadas por gerentes de projetos,

devendo ela ser criteriosa de forma que compense o esforço de gerenciamento em

relação aos correspondentes resultados esperados.

É muito importante que essa adaptação seja realizada, uma vez que cada

projeto apresenta características únicas e distintas, havendo, por exemplo, projetos de

complexidade muito elevada com longa duração e escopo extenso, bem como projetos

de escopo mediano, mas com prazos de execução inflexíveis e curtíssimos. O

conteúdo de metodologias consagradas pode não ser o mais apropriado para projetos

com características singulares.

Por isso, faz-se necessária a adequação das práticas existentes para distintas

organizações e seus projetos. Comprovam essa necessidade, o surgimento e a

evolução de métodos novos para facilitar a realização de projetos que, por natureza,

exijam maior flexibilidade e baixo encargo burocrático. O Scrum, uma metodologia de

Gestão Ágil de Projetos (GAP), é uma dessas metodologias e vem recentemente

tendo sua aplicação estudada para o gerenciamento de projetos de sistemas

mecatrônicos.

Com o intuito de facilitar o trabalho dos gestores de projetos de sistemas

mecatrônicos, esse capítulo aborda alguns dos principais padrões e metodologias

utilizados atualmente para o gerenciamento de projetos, bem como suas vantagens e

desvantagens.

3.3.1. PRINCE2™

O PRINCE2™ é um método para gerenciamento de projetos que pode ser

adaptado a qualquer tipo ou tamanho de projeto. Esse método foi lançado para o

gerenciamento de projetos pelo governo britânico em 1996 e trata das atividades de

gerenciamento, controle e organização dos projetos.

Visando gerenciar projetos em ambiente de mudanças com base

principalmente nas circunstâncias de negócios, o PRINCE2™ gerencia os processos e

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busca contemplar todas as partes interessadas. O método ressalta a gestão dos

processos frente aos objetivos iniciais. O PRINCE2™ trabalha com a gestão de riscos

como parte integral de todos seus processos, relacionando o projeto com o ambiente

organizacional, a gestão de riscos é utilizada para controle de incertezas no projeto e

em seu entorno. (HEDEMAN; VAN HEEMST; FREDRIKSZ, 2007)

É mencionado por Siegelaub (2004) que o PRINCE2™ não é composto por um

"núcleo" mais processos "facilitadores", mas possui um conjunto de componentes e

processos integrados em um único fluxo, o que torna clara as relações entre todos

eles. Sendo assim, os processos que compõem essa metodologia, bem como as

áreas abordadas por ela podem ser vistas na figura 22.

Figura 22 – PRINCE2™. Fonte: Hedeman, van Heemst e Fredriksz (2007).

Para que se obtenha maior compreensão desses processos, os mesmos são

abordados abaixo, seguindo o descrito nos trabalhos de Siegelaub (2004) e Hedeman,

van Heemst e Fredriksz (2007).

“Preparando um Projeto” – Permitindo uma partida controlada para o

projeto, esse processo fornece as bases para a gestão de projetos,

supervisão e análise de viabilidade. Para isso, ele cria o Comitê Diretor

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do Projeto e assegura que os requisitos de recursos são compreendidos

e comprometidos com a fase “Iniciando um projeto”.

“Dirigindo um Projeto” – Opera durante todo o projeto, e define as

responsabilidades do Comitê Diretor do Projeto na sua supervisão, ele

fica acima dos outros processos e interage com muitos desses. Ele

fornece os mecanismos para autorizar o projeto, que aprova a

continuidade após a conclusão de cada etapa, e do encerramento do

projeto (todas baseadas na circunstância empresarial). Este é o único

processo no qual o Comitê Diretor do Projeto está ativo.

“Iniciando um Projeto” – É um processo de ocorrência única durante o

ciclo de vida do projeto, expondo a visão global de como o projeto deve

ser gerenciado, e o define em um “contrato” chamado Documentação

de Iniciação do Projeto (DIP). A intenção do DIP é o de proporcionar

uma compreensão comum dos elementos críticos do projeto. Além

disso, é importante mencionar que durante o primeiro estágio de

desenvolvimento do projeto esse processo precisa fazer uso de

recursos da alta administração da organização.

“Planejando” – Processo comum para vários outros processos em

PRINCE2™, a elaboração dos planos busca identificar as entregas do

projeto, as atividades e os recursos necessários para criá-los, além dos

requisitos de gestão e qualidade em um nível compatível com o descrito

no DIP. Outro ponto importante desse processo é que o uso de um

módulo comum destaca o conceito de uma abordagem consistente e

coerente para todo o planejamento.

“Controlando um Estágio” - Esse é um processo de natureza iterativa,

ele é repetido em cada estágio de desenvolvimento do projeto,

fornecendo orientação ao gestor do projeto na gestão do projeto em seu

dia-a-dia. Inclui: autorização de trabalho e recebimento de trabalho;

emissão e gestão da mudança; coleta de status, análise e elaboração

de relatórios; viabilidade e consideração; ação corretiva; e escalada de

preocupações para a alta administração e outros recursos.

“Gerenciando Entrega do Produto” – É o mecanismo usado, entre

outras coisas, para que se chegue a um acordo com os profissionais da

área técnica sobre o trabalho a ser realizado. Ele ocorre sempre que os

pacotes de trabalho são autorizados e faz parte do sistema de

autorização de trabalho do PRINCE2™.

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“Gerenciando Limites dos Estágios” – Esse é o processo de

gerenciamento das transições entre as conclusões de estágios de

trabalho e o início dos seguintes, incluindo a garantia de que todo

trabalho definido para o estágio tenha sido concluído conforme

planejado. Por ser um processo de controle, esse fornece informações,

para o Comitê Diretor do Projeto, a serem utilizadas nas avaliações de

viabilidade do projeto, no desenvolvimento de planos de ação, na

avaliação de autorização de continuidade para o estágio seguinte e

para que sejam registradas as lições aprendidas durante o

desenvolvimento do projeto.

“Encerrando um Projeto” – O objetivo desse processo é garantir que: o

trabalho foi concluído garantindo a satisfação do cliente e da alta

administração; todos os produtos esperados foram entregues e aceitos

pelo cliente, e que; os recursos de apoio e operação do projeto foram

desmobilizados. É imprescindível que o processo que encerra o projeto,

seja pela conclusão da obra, ou por rescisão prematura, em qualquer

caso o encerramento deve registrar lições aprendidas e experiências do

projeto para agregar conhecimento à organização.

3.3.2. Scrum

Além das metodologias tradicionais mencionadas anteriormente nessa

dissertação, atualmente as metodologias GAP vem ganhando espaço junto às novas

empresas. Essas surgiram para melhorar a forma com que eram desenvolvidos

softwares, sendo assim originária da área de TI.

De acordo com Varaschim (2009), somente a partir de 2001 houve uma maior

clareza relacionada aos modelos ágeis de desenvolvimento, com a publicação do

Manifesto para o Desenvolvimento Ágil. Esse manifesto valorizava os fatores

humanos, a desburocratização, a maior participação dos clientes e a revisão contínua

do escopo nos projetos de TI.

Pinto (2010) destaca a crescente adoção dos princípios ágeis e menciona os

principais métodos existentes. Dentre os métodos mencionados, a aplicação do Scrum

passou recentemente a ser estudada para o emprego em projetos de sistemas

mecatrônicos, como mencionado nos estudos de Ovesen (2013) e Mulder, Verlinden e

Maruyama (2014).

O Scrum é um framework de base empírica com forma iterativa e incremental

de avaliação contínua, originado da necessidade de práticas de gerenciamento

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voltadas para projetos mais dinâmicos e flexíveis, com alto índice de incertezas. O

Scrum permite que a equipe de desenvolvimento reveja continuamente a solução

proposta ao longo do projeto. (OVESEN, 2013)

Varaschim (2009) destaca que as práticas do Scrum objetivam manter o

gerenciamento do projeto visível aos usuários do modelo. O autor menciona também

que a metodologia não resolve os problemas da empresa, nem detalha o que deve ser

feito, mas dá visibilidade aos problemas, servindo como guia para a resolução destes.

O Scrum Guide, conforme relata Ovesen (2013), defende a utilização de

equipes interdisciplinares e de uma estrutura hierárquica plana, com equipes auto-

organizadas. Assim o supervisor, denominado Scrum Master, tem papel de facilitador

do processo, devendo apenas orientar a evolução dos comportamentos da equipe,

fornecendo a esses o apoio necessário para a execução das tarefas, chamadas de

Sprints. Ovesen (2013) aponta ainda que na última edição do Scrum Guide, descreve-

se uma série de papéis, objetos e eventos, apresentados na Figura 23.

Figura 23 – Papéis, eventos e objetos do Scrum. Fonte: Ovesen, 2013.

Sintetizando o descrito nos trabalhos de autores como Varaschim (2009) e

Pinto (2010), descreve-se o processo do Scrum nos seis passos a seguir:

Ao início de um Sprint realiza-se uma reunião de planejamento, Sprint

Planning Meeting, na qual define-se o que será desenvolvido com a

participação das principais partes interessadas do projeto, sendo

indispensável a presença dos: Product Owner, cliente; Scrum Master,

gerente do projeto e; Development Team, equipe de desenvolvimento.

Nessa primeira reunião define-se a lista, Sprint Backlog, com todas as

tarefas que a equipe se compromete a realizar durante o próximo

Sprint. Essa lista é gerada a partir da lista, Product Backlog, com todos

os requisitos do produto e falhas a serem corrigidas no sistema,

priorizada pelo Product Owner.

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Durante o Sprint, são realizadas reuniões diárias com a equipe, Daily

Scrum, com duração média de 15 minutos, para acompanhamento e

controle do progresso do projeto, bem como identificação de possíveis

dificuldades encaradas pela equipe. É comum nessas reuniões que se

utilize a ferramenta gráfica conhecida como Burndown Chart,

representado na figura 24, que facilita a visualização do andamento do

projeto.

Figura 24 – Burndown Chart. Fonte: Varaschim, 2009.

Ao final de cada Sprint, uma entrega deve ser realizada. Por isso, é

recomendado que as atividades do Sprint Backlog não sejam

desenvolvidas paralelamente, evitando que tarefas fiquem quase

prontas, mas não haja nenhuma completamente terminada ao fim de

um Sprint. Qualquer tarefa não concluída em um Sprint deve retornar ao

Product Backlog.

Antes que se inicie outro Sprint é realizada uma reunião, a Sprint

Review Meeting, na qual são apresentados os avanços alcançados no

último Sprint para a avaliação do Product Owner, verificando se o

objetivo do Sprint foi atingido.

Por fim, uma última reunião acontece entre a equipe e o Scrum Master.

Denominada Sprint Retrospective, essa reunião tem por objetivo que os

participantes analisem o Sprint, promovendo a discussão de acertos e

erros para buscar formas de melhorar futuros Sprints.

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Existem ainda outras práticas como a utilização do Burndown Chart,

consideradas incrementos ao método, mais detalhes sobre essas práticas podem ser

encontradas no trabalho de Varaschim (2009).

Ao fim de sua análise dos métodos do Scrum, Ovesen (2013) diz que o Scrum

traz maior foco e eficiência para a equipe, bem como melhorias significativas na

comunicação interna e na atitude, pois incentiva os participantes a ter um papel mais

ativo durante o projeto.

Além disso, Varaschim (2009) verificou que o Scrum é altamente recomendável

para empresas que tenham no seu ciclo de projetos produtos dinâmicos e que

possuam alta taxa de mudança de requisitos, o que também ocorre com os projetos de

sistemas mecatrônicos.

Mas, por outro lado, ainda Ovesen (2013) relata que alguns gestores podem

avaliar o Scrum negativamente quanto ao planejamento de longo prazo, dependendo

das práticas adotadas. Porém, o autor afirma que a utilização de um Scrum mais

completo pode incluir processos para o planejamento de longo prazo. Ele afirma ainda

que o Scrum pode ser aplicado em diferentes projetos e, em muitos casos ser utilizado

conjuntamente com as ferramentas de gestão tradicionais.

Pensando no Scrum para aplicação em projetos de sistemas físicos, Pinto

(2010) argumenta que como o Scrum é um processo de gestão de projetos de TI, essa

aplicação faz mais sentido quando complementada com outros processos mais ligados

às práticas de engenharia.

3.3.3. PMBoK

O PMBoK é um guia de conhecimentos para o gerenciamento de projetos,

desenvolvido pelo PMI. Sua finalidade é promover o conhecimento e as boas práticas

referentes ao gerenciamento de projetos. Estando presente em 185 países, o PMI

busca difundir esses conhecimentos ao redor do mundo.

O PMI é uma referência na área de gerenciamento de projetos, tendo sido

acreditado como desenvolvedor de padrões pelo American National Standard Institute

(ANSI), em outubro de 1998. Os conhecimentos e práticas descritos no PMBoK,

conforme afirma Stanleigh (2003, p. 2), “aplicam-se à maioria dos projetos, na maioria

das vezes e que há amplo consenso sobre seu valor e aplicabilidade”. Desse modo, o

PMBoK não é uma metodologia para o gerenciamento de projetos e sim um padrão

que identifica e descreve os processos recomendados para tal, sendo utilizado para o

desenvolvimento de metodologias nessa área. O guia distribuído pelo Project

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Management Institute (2013) propõe a utilização de nove áreas de conhecimento,

conforme pode-se ver na figura 25.

Figura 25 – Áreas de Conhecimento do PMBoK. Fonte: Autor

O conjunto de processos que podem ser utilizados no gerenciamento de um

projeto, apresentados pelo Project Management Institute (2013), são divididos de

acordo com as áreas de conhecimento já demonstradas e estão expostos no quadro 2.

Quadro 2 – Processos de gerenciamento de projetos - PMBoK.

Áreas de Conhecimento

Grupos de processos de gerenciamento de projetos

Grupo de processos

de iniciação

Grupo de processos de planejamento

Grupo de processos de

execução

Grupo de processos de

monitoramento e controle

Grupo de processos de encerramento

Gerenciamento da

integração do projeto

Desenvolver o termo de abertura do projeto.

Desenvolver o plano de gerenciamento do projeto.

Orientar e gerenciar o trabalho do projeto.

Monitorar e controlar o trabalho do projeto; Realizar o controle integrado de mudanças.

Encerrar o projeto ou fase.

Gerenciamento do escopo do projeto

Planejar o gerenciamento do escopo; Coletar os requisitos; Definir o escopo; Criar a estrutura analítica do projeto (EAP).

Validar o escopo; Controlar o escopo.

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Áreas de

Conhecimento

Grupos de processos de gerenciamento de projetos

Grupo de processos

de iniciação

Grupo de processos de planejamento

Grupo de processos de

execução

Grupo de processos de

monitoramento e controle

Grupo de processos de encerramento

Gerenciamento do tempo do

projeto

Planejar o gerenciamento do cronograma; Definir as atividades; Sequenciar as atividades; Estimar os recursos das atividades; Estimar as durações das atividades; Desenvolver o cronograma.

Controlar o cronograma.

Gerenciamento dos custos

do projeto

Planejar o gerenciamento dos custos; Estimar os custos; Determinar o orçamento.

Controlar os custos.

Gerenciamento da qualidade

do projeto

Planejar o gerenciamento da qualidade.

Realizar a garantia da qualidade.

Controlar a qualidade.

Gerenciamento dos recursos humanos do

projeto

Planejar o gerenciamento dos recursos humanos.

Mobilizar a equipe do projeto; Desenvolver a equipe do projeto; Gerenciar a equipe do projeto.

Gerenciamento dos recursos

de comunicações

do projeto

Planejar o gerenciamento das comunicações.

Gerenciar as comunicações.

Controlar as comunicações.

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Áreas de

Conhecimento

Grupos de processos de gerenciamento de projetos

Grupo de processos

de iniciação

Grupo de processos de planejamento

Grupo de processos de

execução

Grupo de processos de

monitoramento e controle

Grupo de processos de encerramento

Gerenciamento dos riscos do

projeto

Planejar o gerenciamento dos riscos; Identificar os riscos; Realizar a análise qualitativa dos riscos; Realizar a análise quantitativa dos riscos; Planejar as respostas aos riscos.

Controlar os riscos.

Gerenciamento das

aquisições do projeto

Planejar o gerenciamento das aquisições.

Conduzir as aquisições.

Controlar as aquisições.

Encerrar as aquisições.

Gerenciamento das partes interessadas

no projeto

Identificar as partes interessadas.

Planejar o gerenciamento das partes interessadas.

Gerenciar o engajamento das partes interessadas.

Controlar o engajamento das partes interessadas.

Fonte: Adaptado de Project Management Institute, 2013.

Esse conjunto de 47 atividades é considerado essencial para um pleno

gerenciamento de projetos, sendo a sua adoção reconhecida como boa prática entre

os profissionais que atuam com projetos. A utilização desses processos é

recomendável para qualquer projeto, mas é principalmente recomendado para projetos

que apresentam alto grau de complexidade, como é o caso dos projetos de sistemas

mecatrônicos, tratados por essa dissertação.

3.3.4. ISO 10006

De acordo com Associação Brasileira de Normas Técnicas (2000) e Stanleigh,

(2003), a norma ISO 10006 define como é a relação entre as práticas da gestão da

qualidade e o gerenciamento de projetos, fornecendo diretrizes para ampla aplicação

em projetos acerca de pontos importantes dos mesmos. Podendo essas diretrizes

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serem aplicadas a projetos, programas ou portfólios, de diversas complexidades,

portes e tamanhos, sejam eles gerenciados por um indivíduo ou por uma equipe.

As diretrizes mencionadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas

(2000) empregam os processos de gerenciamento de projetos para discutir as suas

aplicações. O quadro 3 apresenta uma relação e um resumo dos processos de

gerenciamento de projetos propostos pela ISO 10006.

Quadro 3 - Processos de gerenciamento de projetos - ISO 10006.

ÁREA PROCESSO DESCRIÇÃO

Processo Estratégico

Processo estratégico

Define a direção do Projeto e gerencia a realização de outros processos do Projeto.

Processos de Gerenciamento de Interdependências

Iniciação do Projeto e desenvolvimento do plano de Projeto

Avaliação dos requisitos do cliente e outras partes interessadas, preparando um plano do Projeto e iniciando outros processos.

Gerenciamento das interações

Gerenciamento das interações durante o Projeto.

Gerenciamento das mudanças

Antecipação a mudanças e gerenciamento destas ao longo de todos os processos.

Encerramento Conclusão dos processos e obtenção de retroalimentação (feedback)

Processos Relacionados ao

Escopo

Desenvolvimento conceitual

Definição das linhas gerais sobre o que produto do Projeto irá fazer.

Desenvolvimento e controle do escopo

Documentação das características do produto do Projeto em termos mensuráveis e controle dos mesmos.

Definição das atividades

Identificação e documentação das atividades e etapas necessárias para se alcançarem os objetivos do Projeto.

Controle das atividades

Controle do trabalho efetivo realizado no Projeto.

Processos Relacionados ao

Tempo

Planejamento de dependência das atividades

Identificação das inter-relações, interações lógicas e dependências entre as atividades do Projeto.

Estimativa de duração

Estimativa da duração de cada atividade em conexão com atividades específicas e com os recursos necessários.

Desenvolvimento do cronograma

Inter-relação dos objetivos de prazo do Projeto, dependências das atividades e suas durações como estrutura para o desenvolvimento de cronogramas gerais e detalhados.

Controle do cronograma

Controle da realização das atividades do Projeto, para confirmação do cronograma proposto ou para realizar as ações apropriadas para recuperar atrasos.

Processos Relacionados ao

Estimativa de custos

Desenvolvimento de estimativa de custos para o Projeto.

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ÁREA PROCESSO DESCRIÇÃO

Custo Orçamento

Utilização de resultados provenientes da estimativa de custos para elaboração do orçamento do Projeto.

Controle de custos

Controle de custos e desvios ao orçamento do Projeto.

Processos Relacionados aos

Recursos

Planejamento de recursos

Identificação, estimativa, cronograma e alocação de todos os recursos principais.

Controle dos recursos

Comparação da utilização real e planejada de recursos corrigindo, se necessário.

Processos Relacionados ao

Pessoal

Definição de estrutura organizacional

Definição de uma estrutura organizacional para o Projeto, baseada no atendimento às necessidades de Projeto, incluindo a identificação das funções e definindo autoridades e responsabilidades.

Alocação da equipe

Seleção e nomeação de pessoal suficiente com a competência apropriada para atender as necessidades do Projeto.

Desenvolvimento da equipe

Desenvolvimento de habilidades individuais e coletivas para aperfeiçoar o desempenho do Projeto.

Processos Relacionados à Comunicação

Planejamento da comunicação

Planejamento dos sistemas de informação e comunicação do Projeto.

Gerenciamento das informações

Tornar disponíveis as informações necessárias da organização do Projeto aos membros e outras partes interessadas

Controle da comunicação

Controle da comunicação de acordo com o sistema de comunicações planejado.

Processos Relacionados ao

Risco

Identificação de riscos

Determinação de riscos no Projeto.

Avaliação de riscos

Avaliação da probabilidade de ocorrência de eventos de risco e o impacto destes sobre o Projeto.

Desenvolvimento de reação ao risco

Desenvolvimento de planos para reação ao risco.

Controle de riscos Implementação e atualização dos planos de risco.

Processos Relacionados a

Suprimentos

Planejamento e controle de suprimentos

Identificação e controle do que deve ser adquirido e quando.

Documentação dos requisitos

Compilação das condições comerciais e requisitos técnicos.

Avaliação dos fornecedores

Avaliação e determinação de quais fornecedores devem ser convidados a fornecer produtos.

Subcontratação Publicação dos convites à proposta, avaliação das propostas, negociação, preparação e assinatura do contrato.

Controle do contrato

Preparação e assinatura do contrato.

Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2000.

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Em um projeto particular, não existirão necessariamente todos os processos

discutidos na ISO 10006, porém, dependendo do projeto, pode ser necessária a

utilização de outros processos, esclarece a Associação Brasileira de Normas Técnicas

(2000).

Stanleigh (2003) afirma que a ISO 10006 não deve ser usada para fins de

certificação ou registro por ser um documento de diretrizes, sendo seu objetivo geral o

de criar e manter a qualidade em projetos através da sistematização de processos.

Assim, as diretrizes da ISO 10006 vêm sendo utilizadas para realização de auditorias

em projetos para garantir a aderência das práticas empregadas com o estabelecido

pela norma.

Uma comparação entre o que se apresenta na ISO 10006 e no PMBoK, quanto

a: definição de projeto, características de um projeto, definição de plano de qualidade,

alinhamento estratégico da gestão da qualidade, comprometimento da alta

administração, foco nas partes interessadas, liderança, envolvimento de pessoas,

processos, entre outros, pode ser encontrada em detalhes no trabalho de Stanleigh

(2003).

3.4. GERENCIAMENTO DE PROJETOS DE SISTEMAS MECATRÔNICOS

De acordo com o Project Management Institute (2013), como o trabalho

executado em cada fase é geralmente de caráter diferente das anteriores, as

habilidades exigidas da equipe do projeto podem variar entre essas fases. Assim, para

gerar um sistema eficiente, Chami et al. (2013) afirmam que os projetos de sistemas

mecatrônicos enfrentam um grande desafio no que tange a integração dos fatores

humanos envolvidos quanto a seus procedimentos, linguagens, métodos de

modelagem e habilidades com softwares.

Budynas e Nisbett (2011) destacam a importância das atividades de

comunicação entre os profissionais envolvidos em um projeto, através de palavras e

imagens, e defendem que as organizações empreguem esforços para que essa

comunicação seja o mais eficaz possível, uma vez que o sucesso dos projetos

depende diretamente disso. Além disso, é a comunicação dos integrantes que gera o

fluxo de informações do projeto.

Como Shetty e Kolk (2011) apontam, para um bom desenvolvimento de

projetos é necessário que haja um adequado fluxo coordenado de conhecimentos e

informações importantes entre diferentes grupos de especialistas. Desse modo, a falta

de uma linguagem comum de interface torna difícil essa troca de informações em

processos de engenharia simultânea, dependendo o sucesso desses esforços,

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também, de como se lida com as barreiras organizacionais para favorecer a

cooperação entre funcionários. Eles apontam ainda que as características da

engenharia simultânea são:

Melhor definição do produto sem alterações de última hora;

Projeto para fabricação e montagem realizadas na fase inicial do

projeto;

Processo de como o desenvolvimento de produtos é bem definida;

Estimativas de custo melhor; e

Decréscimo das barreiras entre design e manufatura.

Para Pahl et al. (2007) as equipes devem ser formadas por profissionais de

engenharia mecânica, eletrônica, controle, software e de outras disciplinas relevantes.

O funcionamento da relação entre as equipes de desenvolvimento dos projetos de

sistemas mecatrônicos e a equipe de manufatura é apontado nos estudos realizados

por Pang et al. (2011), como pode ser visto na figura 26.

Figura 26 – Interação de processos de um projeto de sistemas mecatrônicos. Fonte: Pang et al., 2011.

Para Kutz (2007) essa relação proporciona a troca de informações sobre o

projeto e pode ocorrer diretamente entre os membros das equipes e por meio de um

repositório de dados e informações. Ele relata ainda que, além de facilitar a

comunicação do projeto, os engenheiros de projeto que trabalharem com produtos

similares poderão se beneficiar ao usar as informações do repositório para tomar

melhores decisões, essas informações também são importantes para os projetos das

gerações seguintes de produtos.

De acordo com Associação Brasileira de Normas Técnicas (2000) para que,

dentro das organizações envolvidas em projetos, a qualidade abranja todos os níveis

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responsáveis por seus processos e produtos, a gerência deve empenhar-se para

assegurar que os projetos estejam de acordo com os padrões de qualidade desejados.

Ao se unir um conjunto de boas práticas, procedimento e regras, como os que

já foram citados nesse capítulo, constituiu-se uma metodologia voltada a projetos

mecatrônicos na dissertação em questão, seguindo a metodologia descrita no capitulo

a seguir.

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4. METODOLOGIA PARA PROJETOS

DE SISTEMAS MECATRÔNICOS

Sabe-se que há na atual literatura distintos métodos para desenvolvimento de

produtos mecatrônicos, bem como métodos e padrões para o gerenciamento de

projetos, conforme mencionado nos capítulos anteriores dessa dissertação.

Entretanto, não se encontra na literatura uma metodologia que diga respeito

simultaneamente aos aspectos técnicos e gerenciais dos projetos de sistemas

mecatrônicos podendo ser utilizada pelas organizações de projeto especificamente,

como é o caso das empresas de engenharia que trabalham apenas com

desenvolvimento de projetos como prestação de serviço.

Tendo em vista o preenchimento dessa lacuna, após realizar uma extensa

análise das boas práticas contidas na literatura, apresenta-se a seguir uma

metodologia a ser utilizada por profissionais de gerenciamento de projetos e

empreendedores que trabalhem com projetos de sistemas mecatrônicos, a fim de

facilitar o desenvolvimento de seus projetos ou, até mesmo, de suas próprias

metodologias de trabalho.

4.1. DIFUSÃO DAS METODOLOGIAS E PRÁTICAS

Com o intuito de verificar o quanto as metodologias e práticas, presentes no

conteúdo utilizado como referencial teórico dessa dissertação, estão sendo difundidas

na indústria nacional, através da transmissão de conhecimentos para novos

profissionais formados nas universidades, foi realizada uma pesquisa junto aos

docentes de uma universidade federal para averiguar sua experiência com projetos de

sistemas mecatrônicos e metodologias de gerenciamento de projetos. O método de

pesquisa utilizado foi o survey de corte-transversal6 e descritivo, aplicado por meio de

questionários.

6 O método de pesquisa survey corte transversal é um método quantitativo baseado em questionários ou entrevistas que ocorre em determinado momento para que seja averiguado o estado das variáveis sob estudo. Uma pesquisa survey pode ainda, concomitantemente, ser do tipo explanatória, quando pretende-se testar uma teoria e as relações causais aplicadas, e do tipo descritiva, quando se deseja identificar opiniões manifestadas em um grupo de pessoas.

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O questionário foi elaborado com 11 questões, sendo 1 opcional e 10

obrigatórias, 2 abertas e 9 fechadas, de modo que uma era opcional e aberta e visava

identificação do participante para caso houvesse interesse do mesmo em uma

participação futura na pesquisa. Além disso, o questionário contava com um espaço

aberto para observações e sugestões.

O questionário foi disponibilizado virtualmente como formulário através da

ferramenta Google Drive e distribuído por e-mail para 350 docentes dos diversos

programas de engenharia da universidade em questão no dia 14 de janeiro, coletando-

se resultados até o dia 10 de fevereiro de 2015. Entretanto, de todas as solicitações

enviadas, apenas 50 foram respondidas, dentre as quais 13 respostas foram

negativas. Desse modo 37 docentes participaram da pesquisa respondendo ao

questionário.

Dos questionários respondidos pode-se averiguar, de acordo com o afirmado

pelos participantes, que houve uma média de participação em 3,6 projetos por docente

nos últimos 5 anos. Um fato notório é que dentre os 33 docentes que não afirmaram

terem participado de projetos nos quais foram utilizadas metodologias para o

gerenciamento dos projetos, apenas 3 geraram patente em pelo menos um projeto,

enquanto dentre os 4 que afirmaram ter sido utilizada alguma metodologia, 2 geraram

alguma patente.

Com relação a participação em projetos de sistemas mecatrônicos, porém,

apenas 6 dos participantes afirmaram já ter participado. Dentre esses: 2 alegaram que

a organização do projeto possuía certificação de qualidade; 1 afirmou que foi utilizada

uma metodologia para o gerenciamento do projeto, Scrum; 1 respondeu que já utilizou

engenharia simultânea em algum projeto e; 1 disse que um dos projetos em que

participou gerou uma patente. Destaque-se, então, o fato de que o docente que

utilizou uma metodologia de gerenciamento de projetos, Scrum, e que trabalhou com

uma instituição com certificação de qualidade, ter sido o mesmo que gerou patente.

Além disso, pode-se verificar o envolvimento de profissionais de diferentes

formações nos projetos de sistemas mecatrônicos. O quadro 4 demonstra como se

deu a participação desses profissionais nesses projetos, de acordo com o respondido

na pesquisa.

Dentro da amostra, percebe-se que quatro dos seis docentes com experiência

em projetos de sistemas mecatrônicos, relataram o envolvimento de engenheiros

biomédicos em algum dos projetos que participaram, o que denota um maior know-

how dos docentes quanto ao desenvolvimento de projetos de sistemas mecatrônicos

voltados para a área médica.

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Quadro 4 – Formação de envolvidos nos projetos de sistemas mecatrônicos.

Engenharia Elétrica

Engenharia Mecânica

Ciências da Computação

Outras Eng.

Técnicos (Mec., Eltr. TI.)

Outros Áreas

Sim - - Biomédica - -

Sim Sim Sim Metalúrgica - Direito

Sim Sim Sim Biomédica - Saúde

Sim Sim - Biomédica - -

Sim - Sim Biomédica Eletrônica Saúde

- Sim - Nuclear - Física

Fonte: Autor.

A pesquisa revelou que são poucos os docentes com plena experiência em

projetos de sistemas mecatrônicos, sendo raros os que simultaneamente possuem

know-how com metodologias de gerenciamento de projetos. Desse modo, é difícil

assumir que os profissionais recém-formados tenham sido expostos, por tempo

suficiente, aos conhecimentos que envolvem projetos de sistema mecatrônicos e as

metodologias que envolvem seu desenvolvimento técnico e gerenciamento. Assim,

cabe aos profissionais que desejarem atuar na área, e até mesmo àqueles que já

atuam, mas que precisam desenvolver mais conhecimento na área, buscar cursos

específicos, ou por conteúdos para consulta e estudo, como o que se apresenta nessa

dissertação.

Para propiciar uma análise mais detalhada dos resultados da pesquisa, o

questionário utilizado para essa pesquisa está exposto no apêndice A dessa

dissertação, enquanto um infográfico com todas as respostas, para as principais

questões do questionário, pode ser visualizado no apêndice B.

4.2. PRINCIPAIS ATIVIDADES E DECISÕES

Os subcapítulos a seguir tratam da metodologia proposta, apresentando

fluxogramas com as atividades da metodologia e suas decisões. Da mesma maneira

que a metodologia se divide em fases, esse subcapítulo está dividido em seis partes

correspondentes. As fases da metodologia estão apresentadas na figura 27 e são as

que seguem: Captação da Projeto; Iniciação do Projeto; Projeto Conceitual; Projeto

Básico; Projeto Detalhado; e Testes e Validação.

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Figura 27 – Fases da Metodologia. Fonte: Autor.

Antes de introduzir o leitor aos fluxogramas apresentados nos subcapítulos a

seguir, para auxiliar seu entendimento, a figura 28 apresenta uma legenda para o que

será encontrado.

Figura 28 – Legenda para os fluxogramas da metodologia. Fonte: Autor.

Essa legenda serve para os fluxogramas desse subcapítulo, 5.1., que trata das

principais atividades e decisões envolvidas nos processos do projeto de um sistema

mecatrônico seguindo a metodologia proposta.

4.2.1. Fase 1 – Captação do Projeto

Antes do início de qualquer projeto há uma etapa organizacional estratégica.

Em qualquer organização o fluxo dessa etapa começa com uma análise conjunta do

plano estratégico da empresa em associação aos dados do mercado, resultando em

informações como as que se referem às atuais demandas do mercado, capacidade

interna para atendê-las, possíveis nichos de mercado a serem explorados e etc.

Para empresas orientadas a produção de bens de consumo, Barbalho (2006)

demonstrou como se dá o fluxograma dos processos envolvidos nessa etapa inicial, o

que pode ser visualizado na figura 29, na qual se aponta que as entradas para o

processo podem vir tanto do planejamento estratégico da empresa, quanto de dados

do mercado. É importante destacar que as etapas que envolvem projetos, projeto

conceitual e início do planejamento do projeto, são uma adaptação dessa dissertação.

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Os dados gerados nessa primeira análise servem como diretriz para uma

seguinte, envolvendo as linhas de produtos, conforme pode ser visto no trabalho de

Barbalho (2006), tendo Barbalho e Rozenfeld (2013) reiterado essa posição. Uma

prática comum nessa etapa é que se avaliem as reações do mercado às ofertas

passadas e estudem-se eventuais tendências.

Ainda, uma terceira análise identifica as forças e fraquezas da organização,

nessa etapa costuma-se ainda identificar oportunidades e ameaças em um exercício

em que a alta administração busca se preparar para futuras mudanças de cenário.

Com base em todas as informações geradas, então, definem-se os objetivos

para as linhas de produto. Nessa última etapa pode ser gerado um documento com as

diretrizes para o portfólio da empresa com informações sobre quais produtos serão

continuados, descontinuados, melhorados, desenvolvidos e inseridos no mercado.

Figura 29 – Fluxograma das etapas antecedentes aos projetos. Fonte: Adaptado de Barbalho, 2006.

A partir de então, iniciam os trabalhos para direcionar as estratégias funcionais.

Essa etapa marca o início das atividades conceituais dos projetos, quando, embora as

equipes de projeto ainda não estejam formadas, já há conceituação acerca do produto

final.

Chami et al. (2013) explicam que durante essa fase os engenheiros

transformam os objetivos das partes interessadas em requisitos do sistema, a fim de

começar a analisar a solução conceitual mais adequada. Horikawa et al. (2002)

defendem que essa análise, além de se configurar fator fundamental para comparação

das diversas alternativas, permite a seleção das melhores. Assim, os projetos

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selecionados ao fim dessa etapa, ou seja, as estratégias que serão adotadas pela

indústria, deverão ser documentadas e continuadas.

Nesse ponto, normalmente, a organização empreendedora decide se executará

o projeto ou se terceirizará sua execução, considerando o risco estratégico associado

ao projeto e sua qualificação com relação aos possíveis prestadores de serviço, entre

outros fatores. Caso a decisão tomada seja pela execução do projeto, o MRM

apresentado por Barbalho (2006) poderá ser empregado pela organização

empreendedora e de projeto, preferencialmente em associação a norma ISO 10006

e/ou ao guia PMBoK. Dependendo das características desse projeto, pode-se ainda

utilizar em paralelo as práticas da metodologia Scrum, bem como o modelo V durante

o desenvolvimento técnico do produto.

Se a decisão da organização empreendedora for por terceirizar o

desenvolvimento do projeto a uma empresa de engenharia, essa terá nessa

dissertação a base de conhecimentos necessária para o desenvolver desse projeto,

sendo recomendável a utilização da norma ISSO 10006 e/ou do guia PMBoK, bem

como da literatura indicada para a metodologia escolhido para o gerenciamento do

projeto, seja essa uma metodologia convencional ou uma GAP.

A figura 30 exibe os processos da primeira fase, denominada Captação do

Projeto da metodologia desenvolvida nessa dissertação, orientada para o

desenvolvimento de projetos de sistemas mecatrônicos pela organização do projeto,

seja essa parte da organização empreendedora ou não. Essa fase recebe esse nome,

por ocorrer antes do início do projeto.

Previamente ao início dos esforços do projeto objetiva-se, principalmente, obter

um entendimento pleno quanto aos requisitos necessários para o desenvolvimento do

sistema, de acordo com as necessidades e os desejos do cliente. Essa etapa tem

como principal entrega uma proposta de serviço que deve conter os requisitos

solicitados pelo cliente, tendo-se o cuidado de especificar o que não será realizado

pela organização do projeto.

O processo de captar as necessidades e desejos do cliente, normalmente

ocorre em reuniões com o cliente nas quais deve-se tomar nota do maior número

possível de percepções sobre o que está sendo exposto. É imprescindível que os

participantes desse processo estejam atentos a todas as expressões do cliente, pois

além do que se diz, a forma com que é dito pode trazer um entendimento melhor sobre

as prioridades do cliente. Ao se avaliar as pretensões do cliente, devem ser

considerados para o sistema não apenas fatores como o serviço a ser realizado, o

custo de desenvolvimento e a produtividade, como também os referentes ao

desempenho energético e ambiental.

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Figura 30 – Fluxograma: Captação do projeto. Fonte: Autor.

Sempre que possível, é recomendável que antes das reuniões seja acordado

com o cliente a quantidade de pessoas que participará da reunião, buscando-se levar

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mais de uma pessoa por parte da organização do projeto a fim de se reunir o maior

número de observações possíveis.

Uma vez tendo tomado nota dos desejos e necessidades do cliente, o primeiro

passo a ser tomado é a mobilização dos principais profissionais que participarão do

projeto, caso seja iniciado, sendo esses os membros com mais conhecimento

relacionados às áreas de conhecimento envolvidas no projeto.

Em seguida, devem-se converter essas observações em requisitos para o

sistema. É importante que essas observações sejam escalonadas de acordo com a

percepção de prioridade do cliente, a fim de separá-las em requisitos primários e

secundários. Normalmente, as observações mais prioritárias compõem o grupo de

necessidades do cliente e são convertidas em requisitos primários, de modo que as

demais observações serão transformadas em requisitos secundários.

Nesse momento, os requisitos não são necessariamente tecnicamente

refinados, o mais importante aqui é que haja consenso entre o percebido pela

organização do projeto e o exposto pelo cliente. Para assegurar essa ocorrência é

recomendado que seja realizada uma verificação junto ao cliente dos requisitos

registrados. Caso não haja esse consenso, deve ser feito o alinhamento entre as

partes para evitar descontentamentos futuros.

Após se ter alinhado as necessidades e desejos dos clientes com os requisitos

registrados para o projeto, deve-se avaliar se a execução do projeto estará de acordo

com o planejamento estratégico da organização do projeto. Nesse ponto é importante

que a organização considere além dos riscos associados aos aspectos técnicos e

financeiros, os humanos e políticos e culturais, relativos não só aos envolvidos no

desenvolvimento do projeto, como também a todas demais partes interessadas, ou

seja, aquelas que serão afetadas direta ou indiretamente pelo projeto.

Caso haja algum empecilho que vá de encontro ao interesse estratégico da

organização do projeto, esse ponto deve ser negociado com o cliente em busca de

uma adaptação dos requisitos que viabilize a elaboração da proposta de prestação de

serviço. Se a organização do projeto e o cliente não chegarem a um acordo, os

esforços devem ser suspensos, registrando-se as lições aprendidas. Entretanto, se

houver um consenso deve-se prosseguir para a elaboração da proposta.

A proposta de prestação de serviço deve ser elaborada conforme orientações

dadas pelo cliente, afinal, se o cliente for externo, ou seja, se a organização

empreendedora não compreender a organização o projeto, ele poderá receber

diversas propostas de serviço. Nessa situação, uma proposta que fuja dos padrões de

elaboração adotados por ele pode ser descartada, sem mesmo ser analisada.

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Após sua elaboração, a proposta deve ser apresentada, entregue e submetida

à análise do cliente, último processo da fase Captação do Projeto. Se a proposta não

for aceita, suspendem-se os esforços e registram-se as lições aprendidas. Para

efetuar esse registro, é importante que se busque um retorno do cliente sobre o motivo

da recusa da proposta, caso possa ser explicado. Uma vez que a proposta seja aceita

pelo cliente, as partes devem formalizar seus compromissos por meio de um contrato

e em seguida iniciar os esforços de projeto, prosseguindo para a fase dois da

metodologia.

4.2.2. Fase 2 – Iniciação do Projeto

A fase de iniciação do projeto é estratégica para a execução do mesmo, é

também, dentre todas outras, a que envolve mais detalhes e tomadas de decisões,

embora não seja uma fase que demande muito trabalho quando comparada as

demais. Isso se dá por essa ser a fase na qual se define o escopo do projeto, bem

como o escopo do sistema mecatrônico a ser desenvolvido por meio da tradução do

que foi percebido na fase anterior para termos técnicos.

Para evitar erros, que se cometidos nessa fase podem ser propagados

despercebidamente através das demais etapas do projeto, gerando desperdícios de

recursos e insatisfações com os resultados finais, essa fase deve ser tratada com o

máximo de cautela por parte da organização do projeto. Sendo altamente

recomendável o envolvimento de profissionais experientes nas tomadas de decisão

contidas na mesma.

O que marca o final bem sucedido dessa fase é a entrega de uma proposta

técnica, contendo o escopo do projeto, o escopo do sistema mecatrônico, o orçamento

e o cronograma base. O escopo do projeto delimita quais esforços serão despendidos

pela organização do projeto, deixando nítido o que será e o que não será realizado. Já

o escopo do sistema trata dos requisitos técnicos do sistema que devem ser

atendidos.

Tendo os esforços do projeto sido iniciados, deve-se realizar um estudo do

estado da arte para o problema em questão, devendo-se averiguar se já são

encontradas soluções tecnológicas no mercado que permitam o desenvolvimento do

sistema proposto e em caso positivo se já foram produzidos sistemas semelhantes. A

figura 31 demonstra o fluxograma de todas as atividades envolvidas na fase da

metodologia proposta pelo autor.

Nessa fase de estudos, buscam-se soluções para todos os requisitos presentes

na proposta, bem como para aqueles que não foram descritos, mas que se fazem

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necessários para o cumprimento daquilo que foi solicitado, complementando a

proposta.

Figura 31 – Fluxograma: Iniciação do projeto. Fonte: Autor.

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Essa complementação é realizada tendo como referência os requisitos

primários para o sistema, após a realização de uma análise técnica da proposta.

Embora nem sempre a complementação da proposta faça-se necessária, quando

assim o for, deverá então ser conceitualizada uma nova solução, cabendo então a

solicitação de alteração do escopo.

Ao surgir uma solicitação de alteração de escopo para a proposta, com foco

nos requisitos primários do projeto deve-se arquivar a versão antiga da proposta e

avaliar a viabilidade econômica para a organização do projeto da nova versão da

proposta, com escopo alterado, cabendo a decisão final sobre a continuidade dos

esforços a alta administração da organização do projeto.

Caso os esforços venham a ser descontinuados, nessa ou em qualquer outra

das fases a seguir, deve-se informar os interessados sobre o cancelamento do projeto

e registrar as lições aprendidas.

Assim como a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2000) recomenda

para as organizações empreendedoras que essas possuam um sistema capaz de

adquirir, armazenar, atualizar e recuperar informações sobre os diversos projetos,

garantindo que estas informações venham a ser utilizadas.

Recomenda-se aqui que as organizações dos projetos que por acaso não

sejam parte das organizações empreendedoras, dos projetos em questão, também

sigam essa diretriz, registrando o conhecimento gerado durante os projetos

executados e fazendo uso desse material sempre que forem executar novos projetos.

O fato de a proposta do projeto compreender todos os requisitos primários para

que se componha uma solução, não implica na possibilidade de desenvolvimento

dessa solução, tendo em vista que pode haver alguma restrição impeditiva para que a

organização do projeto desenvolva aquele sistema, esteja essa relacionada à

escassez de acesso a recursos materiais ou humanos, ou ainda pelo fato do

desenvolvimento da solução ir de encontro a algum outro compromisso contratual da

organização do projeto, entre outras restrições.

Além disso, algum dos requisitos primários pode ser tecnicamente inviável para

o desenvolvimento da solução. Nesse caso, bem como caso haja uma restrição

impeditiva, a organização do projeto deve negociar junto à organização

empreendedora uma alteração de escopo que possibilite o desenvolvimento do

sistema. Se for solicitada uma alteração, deve-se repetir o processo já mencionado

para conceitualização de uma nova solução e caso contrário, repete-se então o

procedimento para cancelamento do projeto.

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Estando a proposta de acordo com os requisitos, não havendo restrições

impeditivas e essa sendo tecnicamente viável7, devem-se analisar os requisitos

secundários, os que ainda não foram agregados ao escopo da proposta, e verificar se

há possibilidade de ampliação do escopo para que a proposta atenda a esses

requisitos. Após essa verificação, caso seja possível melhorar a proposta, ampliando o

escopo, deve-se especificar a possibilidade de melhoria e consultar o cliente para

saber se ele tem interesse nas possíveis alterações, informando-lhe que essa

alteração acarretará em alteração do prazo e custo do projeto.

Caso o cliente esteja de acordo, deve-se solicitar a alteração do escopo. Se a

alta administração da organização do projeto não aprovar a melhoria, informa-se o

cliente sobre a inviabilidade econômica da alteração de escopo e prepara-se o

orçamento e o cronograma base para o projeto, com base na versão atual da

proposta, sem melhoria. Sendo a solicitação de alteração aceita, devem-se pular as

atividades previstas no fluxograma até a atividade de preparação do orçamento e do

cronograma base.

Entretanto, se não houver requisito secundário, não for possível atender aos

que restarem, ou se o cliente não possuir interesse na ampliação do escopo da

proposta, devem-se iniciar imediatamente os esforços para elaboração do orçamento

e do cronograma base do projeto. Para tal, pode-se utilizar o Microsoft Excel, o

Microsoft Project e o Primavera Project, três das ferramentas mais utilizadas nessa

área, sendo a primeira mais geral e as duas últimas específicas para projetos. Ao fim

dessa atividade, o orçamento e o cronograma devem ser anexados a última versão da

proposta, com o escopo básico do sistema mecatrônico a ser desenvolvido, devendo

esse conjunto de documentos ser, então, submetido à aprovação do cliente.

Se a documentação não for aprovada, deve-se abrir negociação com o cliente,

passando pelo conjunto de atividades já descritos anteriormente, decorrente dessa

atividade. Porém, quando obtida a aprovação da documentação, parte-se, finalmente,

para a fase seguinte dessa metodologia, o desenvolvimento do projeto conceitual.

4.2.3. Fase 3 – Projeto Conceitual

A terceira fase dessa metodologia, projeto conceitual, concentra atividades

voltadas para o planejamento tático do projeto. Nessa fase toda a equipe que

7 É interessante expressar que embora, o método descrito por essa dissertação destine-se ao projeto do sistema, não abrangendo a sua fabricação, esse ponto deve ser considerado durante as análises de viabilidade técnicas do sistema proposto.

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participará do projeto deve ser mobilizada, é nela que se define a primeira versão do

conceito físico do sistema e o método de gerenciamento de projetos. Essa opção fica

a critério da organização do projeto uma vez que cada projeto apresenta

características únicas, devendo assim ser gerenciadas de modos distintos. Além do já

mencionado, esclarece-se que essa fase tem como entrega o conjunto de planos do

projeto e o projeto conceitual do sistema mecatrônico.

A primeira ação a ser tomada nessa fase deve ser a mobilização do restante do

pessoal que participará do projeto. A partir de então, deve-se detalhar tecnicamente os

requisitos apresentados na proposta técnica. Dependendo do tipo de sistema

mecatrônico que se pretende desenvolver, um conjunto de diferentes atividades

deverá ser realizado nessa etapa. Fora o fluxograma das atividades dessa fase, a

figura 32 traz uma lista de subatividades que deverão ser realizadas durante o

detalhamento técnico dos requisitos da maior parte dos sistemas, sendo possível que

outras atividades além das descritas sejam necessárias.

Depois do detalhamento técnico dos requisitos deve-se definir uma forma e

corpo conceitual para o sistema em desenvolvimento, tendo em vista os requisitos

técnicos. Existem diversas ferramentas que facilitam esse processo, como o AutoCAD

e o Inventor da Autodesk e o SolidWorks da Dassault Systemes, que permitem o

desenho do sistema e seus componentes em duas e três dimensões. Com exceção do

AutoCAD, essas ferramentas permitem ainda a realização de simulações quanto à

movimentação do sistema, permitindo inclusive que sejam gerados vídeos, o que

potencializa a apresentação do projeto do sistema.

Uma vez que o desenho do sistema esteja pronto, esse deverá ser

apresentado ao cliente. Essa atividade tende a gerar um loop em que ocorrerão

iterações até que o cliente se satisfaça com o desenho apresentado. Portanto, é

recomendável que se apresente o desenho do sistema em reuniões que permitam um

diálogo mais aberto com o cliente.

Logo que se apresente um desenho que o cliente considere aceitável, deve-se

prosseguir para a definição do método de gerenciamento que será utilizado. No

subcapítulo 3.3. dessa dissertação foram apresentadas duas metodologias distintas

que podem ser aplicadas: PRINCE2™; e Scrum. Existem outras metodologias que

podem ser utilizadas, entretanto é recomendável que, independentemente da

metodologia adotada, pelo menos um dos padrões para gerenciamento de projetos,

guia PMBoK e ISO 10006, seja adotado.

Resolvida a questão relacionada ao método de gestão, deve-se elaborar o

cronograma físico-financeiro definitivo do projeto, tomando como base o escopo do

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projeto e do sistema. É recomendável que se monte anteriormente a EAP do projeto e

que se listem todas as atividades que deverão ser realizadas.

Figura 32 – Fluxograma: Projeto conceitual. Fonte: Autor.

Outro ponto importante, é que se tenha uma relação de recursos que serão

alocados durante o desenvolvimento do projeto, bem como as quantidades de esforço

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que os recursos humanos precisarão desprender para realização de cada atividade.

Diretrizes mais detalhadas para essa atividade podem ser encontradas na metodologia

escolhida para a gestão do projeto, bem como nas normas aplicáveis.

Após a elaboração do cronograma físico-financeiro do projeto, deve-se

submeter o mesmo a alta administração da organização, bem como ao cliente para

que se verifique se ambos estão de acordo com o conteúdo do mesmo. Se alguma

das partes discordar sobre o que se definiu e for solicitada a alteração do documento,

deve-se então avaliar a viabilidade da alteração. Se a alteração tornar o projeto

inviável, seja econômica ou tecnicamente, as partes envolvidas devem ser informadas

e o processo de encerramento deve ser realizado, registrando-se as lições aprendidas

e desmobilizando-se toda a equipe gerencial e técnica.

As normas e metodologias de gerenciamento de projetos utilizadas também

auxiliarão na definição dos processos a serem tratados nos planos do projeto, sendo

indispensável que se abordem questões como integração, prazo, custo e escopo.

Dependendo do projeto e do ambiente em que estiver inserido, além desses

processos é recomendado que se utilizem os demais processos mencionados nos

subcapítulos 3.3.3. e/ou 3.3.4., bem como se tenha planejado procedimentos

específicos para o tratamento de solicitações de mudança no escopo e para a gestão

de conhecimento.

4.2.4. Fase 4 – Projeto Básico

Iniciando a fase do projeto básico dessa metodologia é recomendável que se

modele a solução conceitualizada para o sistema em algum software de CAD, a

menos que já se tenha elaborado um modelo para apresentação ao cliente na fase

anterior.

Com o sistema modelado em CAD, recomenda-se então que sejam descritos

possíveis cenários de atuação para o sistema. É recomendado, também, que sejam

descritos cenários inadequados para o uso do sistema, sendo interessante que se

aborde o maior número de possibilidades imaginável e suas consequências. A

impossibilidade de operação nesses cenários deve ser claramente explicada ao cliente

e futuramente exposta no manual do sistema e na documentação do projeto.

Também se recomenda que todos esses cenários sejam apresentados ao

cliente, uma vez que ele pode conhecer melhor do que a equipe de desenvolvimento

qual uso será feito do sistema ao fim do projeto, podendo sua colaboração nessa

etapa ser crucial para cessar possibilidades de futuros desentendimentos quanto ao

mau uso do sistema.

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Até que o cliente esteja de acordo com os cenários apresentados, deve-se

reavaliar a viabilidade do projeto quando forem solicitadas alterações de escopo e

sendo viável, remodelar o sistema e/ou descrever novos cenários de atuação. Caso o

cliente discorde do apresentado e não seja solicitada alteração de escopo, ou a

alteração solicitada torne o projeto inviável, deve-se encerrá-lo, considerando as

atividades mencionadas no fluxograma da figura 33.

Terminado o ciclo, uma série de atividades técnicas deverá ser realizada,

iniciando pela especificação das interfaces entre o sistema e o usuário, ou seja, como

será a interação entre o usuário e o sistema. Essa atividade marca o início do

desenvolvimento do sistema de controle e busca responder, entre outras, questões

como as que seguem:

O sistema será autônomo ou controlado pelo usuário?

Se for controlado, o que os usuários poderão controlar?

Será utilizado uma sistema de controle de malha aberta ou fechada?

Para malhas fechadas, quais tipos de controladores serão utilizados?

Proporcional (P), Proporcional Derivativo (PD), Proporcional Integral (PI)

ou Proporcional Integral Derivativo (PID)?

Será utilizada a lógica booleana, ou a lógica fuzzy?

Se for autônomo, o sistema será programado antes de ser entregue ao

usuário final?

O usuário final poderá modificar a programação do sistema?

A possibilidade de programação para o usuário final será

completamente aberta, ou restrita a algumas possibilidades pré-

programadas?

É recomendável que se dê um foco ao usuário do sistema durante essa

atividade e se for possível, que se envolvam alguns dos futuros usuários em potencial

para que se tenha a noção mais próxima possível do que eles desejam para essa

interface.

Dando continuidade ao projeto, é imprescindível que se façam análises sobre o

comportamento do sistema. Essa análise envolve estudos sobre a cinemática, estática

e dinâmica do sistema, que servirão como base, junto aos requisitos, ao modelo e aos

cenários de atuação para o detalhamento técnico do sistema.

A atividade seguinte envolve o detalhamento do pior cenário de atuação para o

sistema, de modo que embase a definição de seus coeficientes de segurança. A

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definição desses cenários pode ser facilitada pelo uso de simulações e/ou protótipos

do sistema.

Figura 33 – Fluxograma: Projeto básico. Fonte: Autor.

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Na melhor das hipóteses, simulações e prototipagens devem ser utilizadas em

associação para se obter resultados mais próximos possíveis da realidade que o

sistema encontrará. Entretanto, como essa atividade será realizada dependerá, entre

alguns fatores, principalmente do que está estabelecido no cronograma físico-

financeiro frente ao avanço do projeto e da quantidade disponível de recursos

financeiros.

Assim, ao se definirem os coeficientes de segurança do sistema encerra-se a

fase 4 do projeto, tendo-se agregado ao projeto quatro importantes informações, os

coeficientes de segurança, o comportamento do sistema, o conceito de interface e o

modelo em CAD atualizado. Caso o gerente do projeto queira definir um marco para o

fim dessa fase, sugere-se a elaboração de um relatório técnico que contenha as

informações mencionadas.

4.2.5. Fase 5 – Projeto Detalhado

A quinta fase dessa metodologia, representada na figura 34, envolve o

detalhamento técnico do sistema, para que esse atinja um nível de desenvolvimento

mínimo capaz de possibilitar a execução com a confiabilidade das tarefas pretendidas

para esse sistema, devendo essas terem sido especificadas na proposta entregue

inicialmente ao cliente, evitando conflitos futuros quanto aos parâmetros de

confiabilidade adequados para o sistema projetado.

Middendorf et al. (2006) trata da importância da confiabilidade ao relatar que

essa é um fator essencial para qualquer sistema, sendo de entendimento geral no que

diz respeito a perspectivas técnicas como tempo de vida útil, qualidade, segurança e

manutenção. Mencionando, ainda, que recentemente a dimensão ambiental da

confiabilidade passou a ser reconhecida por sua contribuição para a eficiência de

recursos dos produtos de vida longa. Com isso em vista, é recomendado que a

confiabilidade do sistema resultante seja considerada.

Ao se iniciar essa fase, é muito importante que se verifique se alguma

alteração de escopo ocorrida na fase anterior deverá acarretar em alterações nos

planos do projeto, pois dependendo da alteração podem haver novas partes

interessadas no projeto, bem como pode ser necessária a utilização de recursos que

não haviam sido previstos, entre outras situações.

Na atividade seguinte, devem-se definir os materiais e componentes que serão

utilizados para a composição do sistema. No fluxo apresentado, são propostas oito

subatividades para essa atividade, ficando a critério do gerente do projeto a definição

da ordem com que serão executadas, bem como se serão executadas

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simultaneamente ou não. Entretanto, dependendo da natureza do projeto em questão,

outras subatividades podem ser necessárias.

Figura 34 – Fluxograma: Projeto detalhado. Fonte: Autor.

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Recomenda-se, porém, que as áreas do conhecimento envolvidas não sejam

tratadas isoladamente e que haja o maior grau possível de interatividade entre os

profissionais responsáveis pelo desenvolvimento de cada uma dessas subatividades,

encorajando-se assim a troca de informações sobre as tarefas executadas.

Ainda, sobre essa atividade, recomenda-se ao gerente de projeto que sejam

estabelecidas práticas cautelosas para o controle dos riscos associados a sua

execução. Afinal, essa atividade é crítica para o sucesso do projeto, sendo

normalmente a que mais exigirá horas de trabalho dos recursos humanos.

A ocorrência de falhas não detectadas na atividade de definição dos materiais

e componentes que serão utilizados para a composição do sistema poderá acarretar

na necessidade de realização de muitas horas de retrabalho, o que pode inviabilizar a

continuação do projeto e poderá denegrir a imagem da organização junto ao cliente.

Durante o desenvolvimento dessa atividade é interessante que seja elaborado

parcialmente e disponibilizado para os participantes do projeto, um documento

contendo o conjunto de definições técnicas realizadas, para facilitar o controle do

gerente e a fomentar a interação entre os participantes. Também pode-se utilizar uma

ferramenta como Burndown Chart da metodologia Scrum para esse mesmo fim.

Tendo-se finalizado a atividade anterior, devem-se reavaliar todos os possíveis

cenários de atuação do sistema para garantir que esses estejam de acordo com o

projeto detalhado, bem como a listagem de cenários em que o sistema não poderá

atuar. Assim, se for necessária a atualização do pior cenário definido, deve-se também

revisar os coeficientes de segurança do sistema.

Em seguida, devem ser pensadas soluções para possíveis falhas no sistema,

sendo uma ferramenta útil para realização dessa tarefa a análise dos modos e efeitos

de falhas, conhecida pelo termo Failure Mode and Effect Analysis (FMEA). Essa

atividade tem o objetivo de evitar que essas falhas venham a impossibilitar a

continuação da operação com a substituição do sistema e impeçam seu resgate, além

de reduzir os impactos ambientais gerados, principalmente no caso de um descarte

acidental do sistema. Mesmo que essas situações não sejam esperadas, recomenda-

se que as soluções sejam pensadas inclusive para possíveis situações em que o

sistema for utilizado nos cenários listados como inadequados. Com isso, deve-se

buscar a implantação dessas soluções no sistema.

Posteriormente, deve-se iniciar a programação do software que será utilizado

para o controle do sistema, de acordo com as informações já obtidas. Selecionando-se

em seguida, junto ao mercado, as peças e equipamentos que deverão ser adquiridas

para composição do sistema e com base nos pareceres técnicos da equipe de

desenvolvimento.

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Com o conjunto de informações gerados nessa fase, poderá, então, ser

preparada uma nova versão do modelo em CAD do sistema, dessa vez com maior

detalhamento. Assim, devem ser elaborados o modelo 3D do sistema e seus

desenhos técnicos, que serão apresentados ao cliente. Essa apresentação deve

conter todos os aspectos conhecidos do sistema, garantindo o entendimento do

cliente, cabendo então uma aprovação formal do trabalho realizado. Além disso, os

desenhos técnicos comporão a entrega final do projeto ao cliente e deverão ser

utilizados no caso de registro de patente.

Caso o cliente não aprove o apresentado, deverá repetir-se o mesmo conjunto

de decisões apresentado na fase anterior que poderá ter como consequência o

encerramento prematuro do projeto, ou o retorno a etapa de definição de materiais e

componentes. Dessa forma, recomenda-se que durante a apresentação do sistema ao

cliente, seja esmiuçada qualquer dúvida do mesmo e que, se for solicitada alguma

alteração, busque-se entender os mínimos detalhes do que causou o incômodo, para

que o mesmo não venha a se repetir e para reduzir o retrabalho necessário e

consequentemente evitar que o projeto torne-se inviável.

4.2.6. Fase 6 – Testes e Validação

Com a provação do cliente, deve-se iniciar a fase de teste e validação do

sistema, última fase dessa metodologia, representada na figura 35. A primeira

atividade dessa fase já consiste na realização de um conjunto de simulações virtuais

do funcionamento do sistema, considerando a sua forma final e todos os componentes

e materiais especificados na fase anterior e aprovados pelo cliente. É recomendável

que se utilize durante as simulações o sistema operacional que será utilizado para o

controle do sistema físico.

Durante as simulações, deve-se avaliar como o sistema reage atuando sob as

condições que enfrentará em diferentes ambientes, considerando-se o pior cenário de

atuação, inclusive. Espera-se que o sistema comporte-se como aguardado e seja

funcional em todas as simulações.

Recomenda-se que sejam avaliadas, também, as situações em que o sistema

for submetido à atuação naqueles cenários listados anteriormente como inadequados,

de modo que possam ser detalhadamente descritas suas consequências.

Se durante as simulações para os cenários em que o sistema deverá atuar,

inclusive o pior cenário, o sistema não for funcional, ou seja, for ineficiente durante a

operação das tarefas solicitadas, deverá ser realizada uma análise de falhas. Dentre

outras ferramentas, podem ser utilizadas a análise da árvore de falhas (AAF) e a

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análise da causa raiz da falha, em inglês Root Cause Analysis (RCA) e o diagrama de

Ishikawa.

Figura 35 – Fluxograma: Testes e validação. Fonte: Autor.

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Caso não se identifique um erro de projeto, deve-se repetir a simulação

verificando todas as configurações, os dados inseridos no software utilizado e a

integridade do mesmo, pois provavelmente ocorreu um erro durante o processo.

Porém, havendo um erro de projeto deve-se verificar a possibilidade de correção e sua

viabilidade econômica, se por possível e viável, o projeto deve ser corrigido e as

simulações refeitas. Entretanto, se não for possível, ou se não for viável, deve-se

prosseguir com o processo de encerramento do projeto.

Contudo, se durante as simulações o sistema demonstrar-se funcional até para

atuação no pior cenário, deve-se dar continuidade. As atividades seguintes levam a

implantação do sistema operacional em um protótipo físico do sistema. Em seguida

esse protótipo deverá ser testado quanto a sua funcionalidade. Recomenda-se a

realização de testes em cenários semelhantes aos do pior caso de atuação. Se o

sistema falhar deve-se verificar a origem da falha e se houve erro de projeto e sendo

identificado um erro de projeto, deverão ser repetidas as etapas descritas

anteriormente. Não havendo erro de projeto o protótipo deverá ser desmontado e

remontado minuciosamente, o sistema operacional deverá ser instalado com cautela e

o conjunto deverá ser testado novamente.

Tanto para o ciclo mencionado acima, quanto para o descrito anteriormente,

caso não sejam apontadas falhas de projeto e o sistema volte a falhar nos testes, é

recomendável que o gerente de projetos aloque outros recursos para auxiliar a

realização das atividades e verificar se não está ocorrendo falha humana ou das

ferramentas empregadas nos processos.

Uma vez que o protótipo seja aprovado nos testes, o projeto estará em suas

atividades de encerramento previsto, devendo ser elaborado o manual do sistema

mecatrônico gerado. O manual deve ser anexado a documentação do projeto exigida

pelo cliente e o conjunto entregue ao mesmo. Se o cliente solicitar alguma

documentação extra, ou correção do que foi entregue, deve-se verificar o que cabe ser

feito, tendo em vista o contrato do serviço e/ou as possíveis vantagens de se realizar

uma entrega não planejada.

Sendo a documentação aceita pelo cliente, em seguida, deve-se buscar um

retorno junto ao cliente quanto a sua satisfação com os processos do projeto e o

resultado gerado, registrar as lições aprendidas e desmobilizar toda a equipe do

projeto.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (2000) afirma que anteriormente a

conclusão do projeto, a organização empreendedora documente análises críticas

quanto ao desempenho do projeto, colocando em evidencia aquilo que possa ser

utilizado em projetos futuros, preferencialmente envolvendo o cliente e outras

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principais partes interessadas. Dessa maneira, recomenda-se, para o caso em que a

organização empreendedora é também o cliente do projeto, que a organização do

projeto siga o indicado.

4.3. DEFINIÇÃO DOS ENVOLVIDOS E DAS RESPONSABILIDADES

No presente subcapítulo são expostas em maiores detalhes as divisões de

responsabilidade das atividades dessa metodologia, apresentadas no subcapítulo

anterior, através de uma matriz de responsabilidades, presente no quadro 5. Essa

matriz apresenta todas as atividades já mencionadas, uma por linha, estando as linhas

agrupadas por fase.

As siglas vistas na matriz indicam o papel dos atores, estando descritas abaixo:

A – Parte responsável por avaliar e aprovar ou reprovar o resultado da

atividade;

R – Ator responsável pela atividade, devendo acompanhar e controlar

seu desenvolvimento para garantir que será realizada de modo

eficiente.

E – Aquele que é responsável por executar a atividade.

P – Um participante da atividade, não é o responsável pela execução,

mas tem o intuito de facilitar o seu desenvolvimento, ou de conhecer

seus resultados enquanto ela é desenvolvida.

I – Responsável por informar os resultados da atividade.

EI – Parte que é informada sobre os resultados gerados.

Vale notar que para uma atividade, é imprescindível que haja ao menos um

responsável, um executor e um avaliador, podendo essas funções serem cumulativas.

Outro fator importante é que, sempre que uma das partes necessitar ser informada

sobre o resultado de uma atividade, coexistirá um responsável pela transmissão desta

informação.

Quadro 5 – Matriz de responsabilidades para principais atores da metodologia.

Fase Atividade Equipe do

projeto PMO

Alta administração

Cliente

Captação do projeto

Captar Necessidades e Desejos do Cliente

- EI R/E/I A

Mobilizar principais membros da equipe

- P R/E/A -

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Fase Atividade Equipe do

projeto PMO

Alta administração

Cliente

Converter necessidades em requisitos primários e desejos em requisitos secundários

- E R/P A

Verificar requisitos com o cliente

- E R/P A

Negociar possíveis modificações para viabilizar o projeto

- EI R/E/I P/A

Elaborar proposta - E R/P A

Apresentar proposta - P R/E A

Registrar lições aprendidas

- E R/A -

Iniciação do

Projeto

Estudar estado da arte - E R/A -

Estudar proposta - E R/A -

Analisar requisitos secundários

- E R/P A

Preparar orçamento e cronograma base

- E R/P A

Especificar possibilidade de melhoria

- E R A

Negociar alterações - P R/E/A P/A

Conceitualizar nova solução

- E R/A -

Solicitar alteração de escopo

- R/E E/A -

Avaliar viabilidade econômica com alteração

- P R/E/A -

Informar cliente sobre a inviabilidade econômica da alteração

- EI R/E/I/A EI

Informar cliente sobre encerramento do projeto

- EI R/E/I/A EI

Registrar lições aprendidas e desmobilizar equipe

- P R/E/A -

Projeto conceitual

Mobilizar demais membros da equipe

P R/E A -

Detalhar requisitos E R/A - -

Definir forma do corpo e desenhar o sistema

E R/I EI A

Definir método de gerenciamento

P R/E A -

Elaborar cronograma físico-financeiro

EI R/E/I A A

Elaborar planos do projeto

EI R/E/I A -

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Fase Atividade Equipe do

projeto PMO

Alta administração

Cliente

Informar envolvidos sobre encerramento do projeto

EI P R/E/I/A EI

Registrar lições aprendidas e desmobilizar equipe

EI P R/E/I/A EI

Projeto básico

Elaborar modelo em CAD

E R/A - -

Descrever possíveis cenários de atuação

E R/I EI A

Especificar interfaces entre o sistema e o usuário

E R/A - -

Analisar como o sistema se comporta

E R/A - -

Detalhar pior cenário de atuação

E R/A - -

Definir coeficientes de segurança

E R/A - -

Informar envolvidos sobre encerramento do projeto

EI P R/E/I/A EI

Registrar lições aprendidas e desmobilizar equipe

EI P R/E/I/A EI

Projeto detalhado

Revisar planos do projeto

- R/E A -

Definir materiais e componentes a serem utilizados

E R/A - -

Revisar cenários de atuação e coeficientes de segurança

E R/A - -

Definir soluções para falhas operacionais e descarte

E R/A - -

Programar sistema operacional

E R/A - -

Escolher componentes e equipamentos para aquisição

E R/A - -

Preparar desenho técnico e modelo 3D detalhados

E R/I EI A

Informar envolvidos sobre encerramento do projeto

EI P R/E/I/A EI

Registrar lições aprendidas e desmobilizar equipe

EI P R/E/I/A EI

Testes e validação

Simular funcionamento integrado do sistema

E R/A - -

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Fase Atividade Equipe do

projeto PMO

Alta administração

Cliente

Preparar protótipo E R/A - -

Implementar sistema operacional

E R/A - -

Testar o protótipo E R/A - -

Verificar origem da falha E R/A - -

Corrigir projeto E R/A - -

Elaborar Manual E R/A - -

Entregar documentação ao cliente

EI EI R/E/I A

Informar envolvidos sobre encerramento do projeto

EI P R/E/I/A EI

Registrar lições aprendidas e desmobilizar equipe

EI P R/E/I/A EI

Fonte: Autor.

Embora não seja recomendado, em alguns casos, pode haver mais de um ator

com o mesmo papel, sendo necessária uma gestão diferenciada para essas atividades

para que não haja conflito que prejudique o resultado desejado durante a realização

dos papeis. Esse é o caso das atividades: Negociar alterações; e Elaborar cronograma

físico-financeiro. Nessas atividades o cliente e a alta administração dividem o papel de

avaliador, de modo que deve haver um consenso entre ambas as partes para que o

resultado da atividade seja aceito. Caso uma das partes se recuse a dar seu aceite,

então o resultado é recusado.

Além dos casos citados acima, na atividade de mobilização dos principais

membros da equipe, realizada na fase de captação do projeto, pode haver a

necessidade de aprovação por parte do cliente, dependendo dos requisitos solicitados

para a execução do projeto. Pode ocorrer de o cliente exigir que profissionais com

determinadas habilidades participem de todo o desenvolvimento do projeto, exigindo

como garantia a presença desses nas reuniões preliminares.

Para um melhor entendimento dos leitores, esclarece-se que as colunas a

direita da lista de atividades compreendendo os principais atores envolvidos nos

projetos, pelo ponto de vista da organização do projeto, consiste no que segue:

Alta administração – também denominada alta gerência e alta direção

por outros autores, sendo representada pelo mais alto nível hierárquico

da organização envolvido com o projeto, ou seja, os profissionais com

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maior poder de decisão no âmbito do projeto e que também estão

envolvidos com decisões estratégicas da organização;

Equipe do projeto – os recursos humanos envolvidos com o

desenvolvimento técnico do projeto. Muitas vezes essa equipe é

composta por engenheiros de especialidades afins as áreas de

conhecimento envolvidas no projeto. Normalmente essas

especialidades são mecânica, eletrônica, mecatrônica e computação,

mas além dos engenheiros, recomenta-se a participação de outros

profissionais com expertise nessas e em outras áreas compor essa

equipe, dependendo do projeto em questão. Além disso, possíveis

usuários do sistemas a ser projetado também devem ter participações,

mesmo que esporádicas, nessa equipe a fim de reduzir o risco de má

aceitação do sistema gerado ao fim do projeto;

PMO – composto pela média gerência, são os profissionais

responsáveis pela gestão direta do projeto e por fazer a ligação entre a

alta administração e a equipe do projeto, sendo na maior parte das

vezes responsabilizados pelo sucesso ou fracasso do projeto. Assim,

recomenda-se que os profissionais que compuserem o PMO da

organização devem estar sempre em busca de maior entendimento

quanto a boas práticas que podem ser empregadas nos projetos em

que participam; e

Cliente – Seguindo o ponto de vista da organização do projeto, trata-se

por clientes aquelas partes interessadas externas a organização do

projeto que tem poder de decisão quanto à continuidade e ao

cancelamento dos esforços do projeto, podendo assim serem divididos

em dois principais grupos, a organização empreendedora e as demais

partes interessadas que possuam tal poder, como, por exemplo,

eventuais patrocinadores (sponsors) e órgãos regulatórios.

Uma vez tendo-se reunido um conjunto de boas práticas em uma metodologia

e explanado as indicações dessa metodologia quanto às atividades a serem

desenvolvidas, seus fluxos e a distribuição das responsabilidades dentre os atores do

projeto, concluir-se-á os trabalhos dessa dissertação.

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4.4. COMPARAÇÃO COM MODELOS EXISTENTES

Com o objetivo de comparar as metodologias apresentadas para o

desenvolvimento de sistemas mecatrônicos apresentadas no subcapítulo 3.2. dessa

dissertação, MRM, Modelo V, Modelo Hierárquico e Modelo de 3-Ciclos, com a que foi

proposta nessa dissertação, elaborou-se o quadro 6 abaixo, apontando características

das mesmas.

Quadro 6 – Comparação de Métodos.

Método Características

MRM

Abrange todo o PDP mecatrônico;

Envolve atividades técnicas e gerenciais;

Método validado em uma indústria;

Foco em organizações produtoras de linhas de produtos

mecatrônicos; e

Desenvolvimento linear dos produtos, com interação entre as fases.

Modelo V

Aborda os aspectos técnicos;

Ênfase na integração;

Processo iterativo; e

Desenvolvimento por subsistemas.

Modelo

Hierárquico

Ênfase no projeto conceitual e nos parâmetros de design;

Processo iterativo;

Desenvolvimento de modo integrado ou por subsistemas; e

Utilizado para modelagem de um sistema mecatrônico.

Modelo de

3-Ciclos

Abrange todo o PDP mecatrônico;

Baseado no Modelo V;

Aborda os aspectos técnicos;

Ênfase na integração;

Processo iterativo; e

Desenvolvimento por subsistemas.

Metodologia

proposta

Foco em organizações de projeto;

Orientado ao projeto de sistemas mecatrônicos e não ao PDP;

Não trata de fases posteriores ao fim do projeto;

Aborda os aspectos técnicos e tomadas de decisão;

Desenvolvimento de modo integrado; e

Desenvolvimento linear dos produtos, com etapas iterativas.

Fonte: Autor.

Todos os modelos analisados partem de uma avaliação da ideia do sistema,

com intuito de verificar os requisitos técnicos necessários, para que se obtenha o

sistema desejado, e tem seu desenvolvimento estruturado iniciando-se pelos

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componentes para futuramente compor o sistema pretendido, havendo a necessidade

de uma ou mais etapas de integração.

O MRM e o Modelo Hierárquico, seguem um desenvolvimento linear com

interações entre as fases, já a metodologia proposta nessa dissertação, apesar de

também seguir um desenvolvimento linear, dependendo das características do projeto

e dos resultados encontrados em cada etapa, pode envolver ciclos de aprimoramento

e/ou retrabalho. Já os demais modelos possuem abordagens iterativas com interações

entre as fases.

Percebeu-se durante a análise que o modelo de 3-Ciclos é baseado no Modelo

V, sendo uma extensão do mesmo. A diferença entre eles está no fato de o Modelo V

ser restrito ao desenvolvimento do produto, iniciando-se na concepção do sistema e

estendendo-se até o projeto detalhado do mesmo, enquanto o modelo de 3-Ciclos

demonstra-se mais amplo, abrangendo além da fase de desenvolvimento do sistema

mecatrônico, o estudo de mercado e seleção de ideias para concepção do sistema,

bem como o projeto das facilidades necessárias para produção.

O MRM apresenta uma abordagem ainda mais completa do PDP mecatrônico

que o Modelo de 3-Ciclos. O grande diferencial do MRM em comparação a esse

modelo é relativo ao tratamento tanto de aspectos técnicos que envolvem o

desenvolvimento dos sistemas, quanto dos gerenciais. Assim, o MRM, diferentemente

do Modelo de 3-Ciclos, aborda aspectos posteriores à produção do sistema. Outro

ponto forte do MRM se constitui do fato do mesmo ter sido validado junto a uma

indústria, por meio de sua implementação com consequentes resultados positivos para

os resultados estratégicos e operacionais da mesma.

Embora não tenha sido implementado em uma indústria, o Modelo Hierárquico

foi utilizado durante o desenvolvimento conceitual de um sistema mecatrônico, sendo

sua eficácia validada com o resultado gerado, o projeto conceitual de uma máquina

síncrona. É importante destacar que dada a sua ênfase no desenvolvimento conceitual

dos projetos, esse modelo é o único que não se aprofunda nas questões técnicas do

desenvolvimento dos sistemas.

De todos os modelos, apenas o MRM e a metodologia proposta abordam as

atividades gerenciais necessárias para o desenvolvimento pleno dos projetos, sendo

que o MRM apresenta mais definições sobre o que deve ser feito, enquanto nessa

dissertação deixa-se essa decisão a cargo dos gerentes de projetos, apenas

orientando-os quanto ao que pode ser feito, tendo em vista que as características

únicas apresentadas em diferentes projetos podem exigir a aplicação de práticas

distintas.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O último capítulo dessa dissertação é subdividido em quatro subcapítulos. No

primeiro desses, realiza-se a discussão de todo conteúdo apresentado nos capítulos

anteriores, contrapondo-os com os objetivos, geral e específicos, definidos para essa

dissertação, apresentados no capítulo introdutório. O segundo subcapítulo apresenta

uma comparação entre a metodologia proposta no quarto capítulo e as apresentadas

no terceiro capítulo. A possibilidade de trabalhos futuros é levantada no quarto

subcapítulo, visando o aprimoramento do conhecimento desenvolvido de forma a se

colaborar com os avanços da área em questão. Finalizando a dissertação, o quarto

subcapítulo traz as conclusões quanto à realização desse trabalho para tudo o que foi

estudado e pesquisado durante a sua composição.

5.1. EXECUÇÃO DOS OBJETIVOS

Os objetivos específicos são atingidos durante o desenrolar da dissertação,

respectivamente de acordo com o que segue:

Durante a elaboração dos dois primeiros capítulos foi realizado um

estudo referente aos principais temas que envolvem o desenvolvimento

dos projetos de sistemas mecatrônicos, abordando-se mecatrônica,

robótica e projetos;

A identificação de práticas essenciais para o desenvolvimento de

projetos de sistemas mecatrônicos em organizações de projetos ocorre

durante o desenvolvimento dos três primeiros capítulos da dissertação,

havendo maior ênfase durante o desenvolvimento do que se apresenta

no terceiro capítulo;

Uma pesquisa quanto às metodologias e boas práticas aplicáveis ao

desenvolvimento e gerenciamento de projetos de sistemas

mecatrônicos encontradas em literatura nacional e internacional foi

utilizada para a composição do terceiro capítulo; e

No subcapítulo 4.1. é apresentada uma pesquisa, realizada junto a

docentes de engenharia de uma universidade, cujos resultados

permitem que se tenha uma noção da capacidade nacional de

disseminação do conhecimento referente ao desenvolvimento e

gerenciamento dos projetos de sistema mecatrônicos, através de suas

universidades;

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O apresentado no capítulo quatro dessa dissertação, uma metodologia para o

desenvolvimento de sistemas mecatrônicos com foco nas organizações de projeto

proposta pelo autor, cumpre com o objetivo geral dessa dissertação.

5.2. CONCLUSÃO

O trabalho desenvolvido nessa dissertação teve como principal objetivo propor

uma metodologia para o desenvolvimento de projetos de sistemas mecatrônicos

orientada a organizações de projetos. Metodologias com esse fim específico não

puderam ser encontradas nas pesquisas realizadas para a revisão bibliográfica e

durante o desenvolvimento de toda essa dissertação.

O desenvolvimento dessa metodologia foi motivado pelo fato de existirem

poucas metodologias para desenvolvimento de sistemas mecatrônicos na literatura.

Essas metodologias possuem diferentes orientações, sendo a única detalhada a nível

de atividades, orientada a organizações empreendedoras e voltada para o PDP

mecatrônico. Além disso, grande parte das metodologias existentes é baseada no

Modelo V, apresentando então grandes semelhanças com o mesmo.

Embora a literatura aponte que as metodologias existentes não são utilizadas

pelas organizações e que essas desenvolvem as suas próprias metodologias, não fica

claro se a causa para tal se dá pelo desconhecimento por parte da indústria quanto a

existência dessas metodologias ou pela rejeição das existentes.

Assim, outro fator que destaca a relevância dessa dissertação está no fato da

mesma expor os resultados de uma pesquisa realizada junto a docentes, de uma das

maiores universidades do Brasil, através do qual pode-se creditar o fato da não

empregabilidade das metodologias presentes na literatura à pouca capacidade de

disseminação e desenvolvimento dessas metodologias em cursos universitários,

responsáveis por transmitir indiretamente conhecimentos gerados no meio acadêmico

para o mercado, através de profissionais recém-formados.

Dessa forma, o ideal para essa metodologia, como para quaisquer outras

metodologias é que seja cada vez mais trabalhada e apresentada nas universidades.

De modo que, além de consistir numa importante referência para empresas, essa

metodologia passará a ser efetivamente conhecida pelas organizações de projeto,

como por exemplo, empresas de engenharia que desenvolvam projetos de sistemas

mecatrônicos de forma terceirizada para outras organizações e pretendam implantar

uma metodologia, seja para fins de melhoria de seus processos e resultados, para

poder adequar-se a solicitações de contratantes, ou ainda para buscar uma

certificação em qualidade, como a ISO 9000.

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A metodologia pode também ser utilizada em departamentos de

desenvolvimento de novos produtos de empresas que não possuam experiência

prévia com o desenvolvimento de sistemas mecatrônicos, facilitando a atuação dos

envolvidos no gerenciamento do projeto, uma vez que contém as atividades básicas a

serem realizadas e um conjunto de decisões e ações a serem tomadas.

É essencial que se tenha em mente que se fará necessária à utilização de uma

metodologia de gerenciamento de projetos em associação a metodologia proposta

para que se tenham maiores chances de sucesso para o projeto a se desenvolver.

Além disso, como já fora mencionado anteriormente nessa dissertação, é

recomendável a utilização de uma norma sobre gerenciamento de projetos, visando

garantir a utilização das melhores práticas no gerenciamento do projeto em questão.

Foram apresentadas duas metodologias de características distintas para o

gerenciamento de projetos no capítulo 3. Sendo a metodologia Scrum, de acordo com

o que se apresenta na literatura, mais recomendada para projetos de menor porte,

facilitando que esses sejam realizados em menor tempo. Embora essa seja uma

metodologia originária da área de desenvolvimento de programas de computador, já

existem estudos sobre sua empregabilidade em pequenos projetos acadêmicos de

sistemas mecatrônicos, havendo relatos de sucesso. Dessa maneira, existe uma

expectativa de que esse método de gerenciamento seja testado para projetos de

sistemas mecatrônicos de maiores portes.

Apesar de ter sido apresentada a metodologia de gerenciamento de projeto

PRINCE2™, não foram encontrados relatos de sua utilização em projetos de sistemas

mecatrônicos. Muito pouco pode ser encontrado na literatura sobre o gerenciamento

desses projetos, mas pelos relatos da ampla utilização dessa metodologia em

projetos, de um modo geral, pode-se assumir que sua utilização em projeto de

sistemas mecatrônicos seja plausível.

É consistente considerar que assim como a utilização de métodos para o

desenvolvimento e gerenciamento desses projetos, o fato das organizações de projeto

contarem com o apoio estratégico da alta administração é essencial para que esses

projetos sejam bem sucedidos. Por isso, a metodologia proposta nessa dissertação

não deixou de considerar a fase anterior ao início dos projetos, na qual a participação

da alta administração é importantíssima e indispensável.

Além disso, a metodologia proposta deixa claro em todas as etapas que pode

ser necessário o cancelamento dos projetos e expõe as principais decisões que

envolvem esse processo, baseadas em análises de viabilidade e negociações diretas

com os clientes. Ainda para esse processo de encerramento abreviado de um projeto,

são consideradas importantes atividades que impactarão outros projetos da

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organização, como o registro de lições aprendidas, que agrega o conhecimento

adquirido com o executado ao capital intelectual da organização.

Nessa metodologia, a participação dos clientes é solicitada em todas as etapas

do projeto, sempre buscando sua aprovação para o que está sendo desenvolvido, de

modo a evitar desacordos futuros e aumentar o contentamento deles com o resultado

dos projetos.

Outro ponto abordado, já na primeira e mais a fundo na quinta fase da

metodologia, se refere à preocupação com o resíduo gerado pelo sistema projetado ao

fim de sua vida útil. Preocupação essa que se faz muito importante, tendo em vista os

possíveis impactos ambientais gerados, o que vem ganhando cada vez mais escala no

cenário atual no que diz respeito às demandas do mercado.

5.3. TRABALHOS FUTUROS

Como possíveis trabalhos futuros, pode ocorrer a validação da metodologia

proposta através de sua utilização durante o desenvolvimento de projetos de sistemas

mecatrônicos, em associação a uma metodologia de gerenciamento de projetos e

seguindo as diretrizes do PMBoK e/ou da ISO 10006. Podendo assim serem avaliadas

as consequências de sua implantação para os resultados de um projeto real e as

organizações envolvidas.

Além disso, podem-se buscar melhorias para a metodologia desenvolvida ao

submetê-la ao conhecimento tácito de profissionais que possuam experiência como

gerente no desenvolvimento de projetos de sistemas mecatrônicos, aumentando-se o

detalhamento das possíveis atividades técnicas de desenvolvimento para os sistemas.

Ainda considerando esses conhecimentos, pode-se ainda ampliar o

detalhamento ao se propor práticas específicas apontadas como intrínsecas para o

gerenciamento de projetos de sistemas mecatrônicos. Porém, essa proposta mais

detalhada deve ser desenvolvida evitando-se o enrijecimento dos processos, tendo em

vista a necessária flexibilidade decorrente da ampla variabilidade de características

apresentadas pelos projetos de sistemas mecatrônicos.

Uma vez que a metodologia tenha sido validada e lapidada, pode-se também

desenvolver um software focado na gestão e no desenvolvimento de projetos de

sistemas mecatrônicos para atender às organizações de projetos, de modo a facilitar a

comunicação e transferência de dados entre as diferentes áreas da organização

durante o desenvolvimento desses projetos.

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APÊNDICE A

QUESTIONÁRIO – PROJETOS DE SISTEMAS MECATRÔNICOS

1. Qual seu nome e e-mail?

Opcional para quem tiver interesse e disponibilidade para auxiliar futuramente na pesquisa.

2. Atualmente trabalha na:

( ) COPPE ( ) INICIATIVA PRIVADA ( ) INICIATIVA PÚBLICA ( ) OUTRO:____________

3. Qual sua formação acadêmica?

Informar área de graduação, mestrado e/ou doutorado.

4. Participou de algum projeto nos últimos cinco anos? Quantos?

( ) NENHUM ( ) UM ( ) DOIS ( ) TRÈS ( ) QUATRO ( ) MAIS ___________

5. A organização na qual os projetos foram desenvolvidos possuia certificação de qualidade?

( ) SIM ( ) NÃO

6. Foi utilizada alguma metodologia especifica para o gerenciamento dos projetos?

( ) SIM ( ) NÃO ( ) OUTRO:_________________________________________

7. Utilizou-se engenharia simultânea (paralelismo) durante algum dos projetos?

( ) SIM ( ) NÃO ( ) OUTRO:_________________________________________

8. Algum dos projetos desenvolvidos tinha como produto final um sistema mecatrônico?

( ) SIM ( ) NÃO

9. Em caso de resposta afirmativa na questão 8. Houve preocupação com relação aos resíduos gerados ao fim da vida útil do sistema desenvolvido?

( ) SIM ( ) NÃO

10. Algum dos projetos gerou patentes? Quantos?

( ) NENHUM ( ) UM ( ) DOIS ( ) TRÊS ( ) OUTRO: ____________________________

11. O desenvolvimento dos projetos envolveu profissionais de quais áreas do conhecimento?

( ) Administração de Empresas ( ) Ciências da Computação ( ) Design ( ) Engenharia Civil ( ) Engenharia de Produção ( ) Engenharia Elétrica ( ) Engenharia Mecânica ( ) Marketing ( )Outro:_____________________________________________________________________

12. Sugestão?

Caso deseje deixar alguma sugestão para os pesquisadores, por favor, utilize esse espaço.

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APÊNDICE B

INFOGRÁFICO – RESPOSTAS A PESQUISA SOBRE A EXPERIÊNCIA DE

DOCENTES COM GERENCIAMENTO DE PROJETOS.

Abaixo se apresentam as respostas obtidas através do questionário presente

no apêndice A, demonstrando-as graficamente em círculos cuja área aumenta

conforme a participação em projetos do docente nos últimos cinco anos. Além disso,

na legenda abaixo os itens gerenciamento, patente, mecatrônica, qualidade, resíduo e

paralelismo correspondem respectivamente às respostas das questões 6, 10, 8, 5, 9 e

7 do questionário, de modo que a presença desses símbolos em um círculo representa

uma resposta afirmativa quanto à referida questão.