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anestesicos-quimica farmaceutica
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II
Janice Henriques da Silva
Efeito dos anestsicos inalatrios no transportador de dopamina em
fatias de crtex cerebral de ratos
Tese apresentada ao curso de Ps-graduao em Cincias Biolgicas: Farmacologia Bioqumica e Molecular da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para obteno do ttulo de Doutor em Cincias Biolgicas.
Orientadora: Profa. Cristina Guatimosim Fonseca
Co-Orientador: Prof. Renato Santiago Gomez
BELO HORIZONTE
2006
II
SUPORTE FINANCEIRO Este trabalho foi realizado no Laboratrio de Neurofarmacologia do Departamento de Farmacologia do Instituto de Cincias Biolgicas da Universidade Federal de Minas Gerais, com o auxlio das seguintes instituies: Agncia Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq). Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES). Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). Pr-Reitoria de Pesquisa da UFMG (PRPq-UFMG). Programa Avanado de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (PADCT). Programa de Ncleos de Excelncia (PRONEX).
III
Ao meu marido Pedro, pelo amor, compreenso e apoio.
Aos meus pais, Rosa de Maio e Jos Henriques, sempre presentes.
IV
AGRADECIMENTOS Deus, primeiramente, que sempre ilumina meus passos.
Ao professor Marcus Vincius Gomez que me acolheu no laboratrio de Neurofarmacologia, pela ateno, boa vontade, esclarecimentos de minhas dvidas e suporte cientfico que possibilitou o desenvolvimento deste trabalho. Obrigada por tudo. Aos meus orientadores, Cristina Guatimosim Fonseca e Renato Santiago Gomez, pela iniciao no campo da pesquisa, confiana, ensinamentos e orientao na realizao deste trabalho. Aos professores Antnio Mourth Filho e Edmundo Pereira que foram meus maiores incentivadores, pelos conselhos e amizade. professora Virgnia M. Vidigal Fernandes pela contribuio neste trabalho, conselhos e amizade. Muito obrigada. Aos professores Marco Antnio Mximo Prado e Helton Reis pelas sugestes para a finalizao deste trabalho. Aos alunos de iniciao cientfica Paulo Henrique Diniz e Juliara Mrcia Henriques da Silva pela ajuda na realizao dos experimentos e pelas sugestes cientficas.. A Adriane Aparecida pela amizade e ajuda no dia-a-dia do laboratrio. s minhas amigas especiais: Aninha, Mel e Lucimar pela sincera amizade, conselhos e sugestes que contriburam para este trabalho. s minhas novas amigas Luciene, Grace e Andria por estarem sempre disponveis para solucionar minhas dificuldades, pela ajuda nas diversas situaes e pela amizade. s minhas maravilhosas irms: Jnia e Juliara pelo carinho em todos os momentos importantes de minha vida. Aos meus amigos do laboratrio : Cristina Martins , Brulio, Clio, Daniela, Hernani, Bento, Dbora, Renan, Fabiana, Bruno Resende, Alan, Monaliza, Rodrigo, pela tima convivncia e amizade. Aos amigos e colegas da PUC MINAS, FUMEC e UNINCOR pelo apoio consistente e incentivo carinhoso.
V
Sumrio
Lista de Abreviaturas .................................................................................................... IX
Lista de Figuras.................................................................................................................X
Lista de Tabelas............................................................................................................XIII
Lista de Quadros .......................................................................................................... XIV
Resumo............................................................................................................................XV
Abstract ........................................................................................................................ XVI
1 Introduo
1.1 Anestsicos inalatrios .................................................................................02
1.1.1 Efeito dos anestsicos inalatrios no Sistema Nervoso Central ..........03
1.1.2 Mecanismo de ao dos anestsicos inalatrios ..................................05
1.1.3 Efeitos dos anestsicos inalatrios na liberao de dopamina.............08
1.2 Transmisso dopaminrgica..........................................................................10
1.2.1 Localizao dos neurnios dopaminrgicos ........................................10
1.2.2 Sntese e metabolismo da DA..............................................................11
1.2.3 Liberao de dopamina.................................................... ....................12
1.2.3.1 Liberao dependente de clcio ...............................................12
1.2.3.2 Liberao independente de Ca2+ ..............................................14
1.2.4 Receptores Dopaminrgicos......................................... .......................17
1.2.5 Relevncia Clnica............................................................................ ...18
VI
2 Objetivos
2.1- Objetivo Geral ................................................................................................21
2.2- Objetivos Especficos .....................................................................................21
3 Material e Mtodos
3.1 Drogas e Reagentes..........................................................................................24
3.2 Solues ...........................................................................................................25
3.3 Animais ............................................................................................................27
3.4 Determinao da liberao de DA em fatias de crtex cerebral de ratos ........28
3.4.1 Obteno das fatias de crtex cerebral de ratos ...................................28
3.4.2 Marcao das fatias com [3H]-DA.......................................................28
3.4.3 Lavagem das fatias com DA no radioativa .......................................28
3.4.4 Incubao das fatias ............................................................................29
3.4.5 Administrao e mensurao da concentrao do sevoflurano e
halotano..................................................................................................................29
3.4.6 Contagem da radioatividade do sobrenadante .....................................30
3.4.7 Anlise estatstica dos resultados.........................................................30
3.5 Mensurao de fosfato em fatias de crtex cerebral de ratos .......................30
3.5.1 Obteno das fatias de crtex cerebral de ratos.......................... .........31
3.5.2 Incubao das fatias e administrao das drogas..................... ............32
3.5.3 Mensurao de fosfato no meio de incubao .....................................32
3.5.4 Anlise estatstica dos resultados ........................................................33
VII
4 Resultados
4.1 Liberao de [3H]-DA em fatias de crtex cerebral de ratos na presena do
sevoflurano e halotano ...........................................................................................35
4.2 Efeito do tempo de incubao na liberao de [3H]-DA induzida pelo
sevoflurano e halotano em fatias de crtex cerebral de ratos ................................39
4.3 Determinao do papel do on clcio na liberao de [3H]-DA induzida por
sevoflurano e halotano em fatias de crtex cerebral de ratos ................................42
4.4 Participao dos canais de sdio sensveis TTX na liberao de [3H]-DA
induzida pelo sevoflurano e halotano em fatias de crtex cerebral de ratos..........46
4.5 Liberao de [3H]-DA induzida por sevoflurano e halotano em fatias de crtex
cerebral de ratos na presena da reserpina.............................................................49
4.6 Liberao de [3H]-DA induzida por sevoflurano e halotano em fatias de crtex
cerebral de ratos em baixa temperatura (12 C).....................................................52 4.7 Efeito do gradiente de Na+ na liberao de [3H]-DA induzida pelo sevoflurano
e halotano em fatias de crtex cerebral de ratos ....................................................55
4.8 Liberao de [3H]-DA induzida por sevoflurano e halotano em fatias de crtex
cerebral de ratos na presena de inibidores do DAT ................... .........................58
4.9 O papel do transportador de noradrenalina (NET) na liberao de dopamina
induzida pelo sevoflurano e halotano em fatias de crtex cerebral de ratos..........61
4.10 Liberao de [3H]-DA induzida por sevoflurano e halotano em fatias de
crtex cerebral de ratos na presena da ouabana. .................................................64
4.11 A participao da bomba Na+/K+ ATPase na liberao de DA induzida pelo
sevoflurano e halotano em fatias de crtex cerebral de ratos................ ................68
VIII
4.12 Efeito do sevoflurano, halotano e GBR12909 na captao da DA em fatias
de crtex cerebral de ratos .......................................................................... .........72
5 Discusso e Concluso .........................................................................................76
6 Referncias Bibliogrficas...................................................................................92
IX
LISTA DE ABREVIATURAS
Ci micro Curie M micro Molar [3H]dopamina dopamina triciada [Ca2+]i concentrao de clcio livre no citosol [Na+]i concentrao de sdio livre no citosol AMPc Monofosfato de adenosina cclico ANOVA Anlise de varincia ATP adenosina trifosfato BABTA-AM 1,2-bis (O-aminofenoxi) etano-N,N,N,,N, cido tetra
(acetoximetil) ster BIS ndice biespectral Ca2+ ons clcio
Cd2+ Cdmio
CCSV canais de clcio sensveis voltagem Cl - ons cloreto COMT enzima catecol-O -metiltransferase CSSV canais de sdio sensveis voltagem DA dopamina DAG diacilglicerol DAT transportador de dopamina Dpm desintegrao por minuto EC50 concentrao efetiva capaz de liberar 50% da liberao
mxima EGTA cido etileno glicol-bis (-amino ter) N,N,N,N,-tetraactico EEG Eletroencefalograma
EPM erro padro da mdia GABA cido -aminobutrico KCl cloreto de potssio MAO enzima monoaminoxidase NA noradrenalina Na+ ons sdio Na+/Ca2+ trocador sdio-clcio NMDA N,metil D-aspartato POPOP 1,4-bis 2 (5-feniloxazolil) benzeno PPO 2,5-difeniloxazol Rpm rotao por minuto SNC sistema nervoso central SRAA sistema reticular ativador ascendente TTX tetrodotoxina VMAT transportador vesicular das monoaminas
X
Lista de Figuras
Figura 1: Dose-resposta do sevoflurano na liberao de [3H]-DA em fatias de crtex
cerebral de ratos.. .............................................................................................................. 37
Figura 2: Dose-resposta do halotano na liberao de [3H]-DA em fatias de crtexcerebral
de ratos ...............................................................................................................................38
Figura 3: Curva de tempo de incubao do sevoflurano na liberao de [3H]-DA em fatias
de crtex cerebral de ratos .................................................................................................40
Figura 4: Curva de tempo de incubao do halotano na liberao de [3H]-DA em fatias de
crtex cerebral de rato........................................................................................................41
Figura 5: Efeito do EGTA, Cd+2 e BAPTA na liberao de [3H]-DA induzida por
sevoflurano em fatias de crtex cerebral de ratos..............................................................43
Figura 6: Efeito do EGTA, Cd+2 e BAPTA na liberao de [3H]-DA induzida por
halotano em fatias de crtex cerebral de ratos ...................................................................44
Figura 7: Efeito do EGTA, Cd+2 e BAPTA na liberao de [3H]-DA induzida por KCl
em fatias de crtex cerebral de ratos..................................................................................45
Figura 8: Efeito da TTX na liberao de [3H]-DA induzida por sevoflurano em fatias de
crtex cerebral de ratos .....................................................................................................47
Figura 9: Efeito da TTX na liberao de [3H]-DA induzida por halotano em fatias de
crtex cerebral de ratos ......................................................................................................48
XI
Figura 10: Efeito da reserpina na liberao de [3H]-DA induzida por sevoflurano em
fatias de crtex cerebral de ratos........................................................................................50
Figura 11: Efeito da reserpina na liberao de [3H]-DA induzida por halotano em fatias
de crtex cerebral de ratos .................................................................................................51
Figura 12: Liberao de [3H]-DA induzida por sevoflurano em fatias de crtex cerebral
de ratos em baixa temperatura (12 C) ..............................................................................53
Figura 13: Liberao de [3H]-DA induzida por halotano em fatias de crtex cerebral de
ratos em baixa temperatura (12 C) ...................................................................................54
Figura 14: Efeito do gradiente de Na+ na liberao de [3H]-DA induzida pelo sevoflurano
em fatias de crtex cerebral de ratos..................................................................................56
Figura 15: Efeito do gradiente de Na+ na liberao de [3H]-DA induzida pelo halotano
em fatias de crtex cerebral de ratos..................................................................................57
Figura 16 : Efeito da nomifensina e do GBR12909 na liberao de [3H]-DA induzida por
sevoflurano em fatias de crtex cerebral de ratos..............................................................59
Figura 17 : Efeito da nomifensina e do GBR12909 na liberao de [3H]-DA induzida por
halotano em fatias de crtex cerebral de ratos ...................................................................60
Figura 18 : Efeito da nisoxetina na liberao de [3H]-DA induzida por sevoflurano em
fatias de crtex cerebral de ratos........................................................................................62
Figura 19 : Efeito da nisoxetina na liberao de [3H]-DA induzida por halotano em fatias
de crtex cerebral de ratos .................................................................................................63
XII
Figura 20: Liberao de [3H]-DA induzida por sevoflurano em fatias de crtex cerebral
de ratos na presena de ouabana .......................................................................................66
Figura 21: Liberao de [3H]-DA induzida por halotano em fatias de crtex cerebral de
ratos na presena de ouabana ...........................................................................................67
Figura 22: Liberao de fosfato inorgnico em fatias de crtex cerebral de ratos na
presena de ouabana e/ou sevoflurano .............................................................................70
Figura 23: Liberao de fosfato inorgnico em fatias de crtex cerebral de ratos na
presena de ouabana e/ou halotano ..................................................................................71
XIII
Lista de Tabelas
TABELA 1 - Contagem da radioatividade das fatias de crtex cerebral de ratos na
presena do sevoflurano.....................................................................................................74
TABELA 2 Contagem da radioatividade das fatias de crtex cerebral de ratos na
presena do halotano..........................................................................................................75
XIV
Lista de Quadros
QUADRO 1 Vias dopaminrgicas do SNC........................................................................... 11
XV
Resumo
Os anestsicos inalatrios parecem afetar a transmisso sinptica, mas suas
aes no sistema nervoso central permanecem obscuras. A dopamina um
neurotransmissor catecolaminrgico que exerce importantes funes no sistema nervoso
central e, assim , possvel que a sua liberao possa ser modulada pelos anestsicos
inalatrios. Dessa forma, a investigao dos efeitos dos anestsicos na liberao deste
neurotransmissor pode fornecer informaes adicionais em relao aos mecanismos que
contribuem com as aes destes agentes durante a anestesia. No presente estudo, fatias de
crtex cerebral de ratos foram marcadas com [3H]dopamina objetivando-se estudar o
efeito dos anestsicos inalatrios, sevoflurano e halotano, na liberao deste
neurotransmissor. O sevoflurano (0,46 mM) e o halotano (0,048 mM) aumentaram
significativamente a liberao de [3H]dopamina em fatias de crtex cerebral de ratos.
Esse efeito foi independente do clcio extra e intracelular, alm de no ter sido afetado
pela presena da TTX (bloqueador dos canais de sdio sensveis a voltagem) e reserpina
(inibidor do transportador vesicular das monoaminas). Esses dados sugerem que a
liberao de dopamina induzida pelos anestsicos independente dos processo
exocittico e que, possivelmente, essa liberao pode ser via transportador de dopamina.
Experimentos realizados em baixa temperatura ou com diminuio do on sdio no meio
de incubao indicaram que a liberao de dopamina induzida pelos anestsicos foi
significativamente reduzida. Esse efeito tambm foi observado quando utilizou-se
inibidores do transportador de dopamina e noradrenalina (GBR12909 e nisoxetina,
respectivamente). A ouabana, um inibidor da bomba Na+/K+ ATPase, conhecida por
estimular a liberao de dopamina via transportador de membrana. Na presena desta
drogra a resposta evocada pelos anestsicos foi reduzida. No entanto, experimentos
adicionais mostraram que os anestsico halotano e sevoflurano no inibem a bomba de
Na+/K+ ATPase. Em concluso, este estudo indica que o sevoflurano e o halotano
aumentam a liberao de dopamina em fatias de crtex cerebral de ratos principalmente a
partir de transportadores de membrana desse neurotransmissor.
XVI
Abstract
Inhalatory anesthetics affect synaptic transmission, but little is known about
their actions in the central nervous system.
Dopamine is a catecholaminergic neurotransmitter that has important functions in the
central nervous system and it is possible that its release can be modulated by inhalatory
anesthetics. The study of inhalatory anesthetics effects in the neurotransmitter release
could provide further information about the mechanisms that contribute with the actions
of these agents during anesthesia. In this study, cortical slices of rat brain were labeled
with [3H] dopamine to observe the effects of sevoflurane and halothane in the release of
this neurotransmitter. Dopamine release was significantly increased in the presence of
sevoflurane (0,46 mM) and halothane (0,048 mM) were incubed. This effect was
independent of extracellular or intracellular calcium, and it was not affected by TTX
(blocker of voltage dependent sodium channels) or reserpine (an blocker of vesicular
monoamine transporter). These data suggest that dopamine release induced by anesthetics
is independent of the exocytotic process and that this release would be mediated by the
dopamine transporter. Experiments using low temperature or by decreasing sodium
concentration in the incubation media indicated that dopamine release induced by
anesthetics was considerably reduced. The same effect was also observed when dopamine
and noradrenaline transporter inhibitors were used (GBR12909 and nisoxetine,
respectively). Ouabain, Na+/K+ ATPase pump inhibitor, is known for stimulating
dopamine release through the membrane transporter. In its presence, the evoked response
by anesthetics was decreased. Nevertheless, further experiments demonstrated that
halothane and sevoflurane did not inhibit the Na+/K+ ATPase pump. In conclusion, our
study strongly suggests that halothane and sevoflurane increase dopamine release in
cortical slices of rat brain and that this release is mediated by the dopamine transporter
present in the plasma membrane.
1. Introduo
21.1 Anestsicos inalatrios
Os anestsicos inalatrios so utilizados como auxiliares em procedimentos
cirrgicos visando deixar o paciente inconsciente e insensvel aos estmulos dolorosos. Em
1846, o dentista William W. Morton introduziu a anestesia com ter em cirurgias. Assim, a
anestesia geral , por razes histricas, uma tcnica inalatria que, atravs do estudo dos
diversos anestsicos volteis que foram surgindo, possibilitou o desenvolvimento e o
aperfeioamento de muitas especialidades cirrgicas. No entanto, apesar de passado mais
de um sculo, o mecanismo de ao desses agentes volteis no est bem esclarecido e
permanece controverso (Antlkowiak, 2001).
Os anestsicos inalatrios constituem um grupo heterogneo de agentes, incluindo
o ter, o halotano, o sevoflurano, o isoflurano, dentre outros. O halotano, introduzido em
1956, foi o primeiro de uma srie de agentes anestsicos no inflamveis. Ele possui
propriedades que permitem uma perda de conscincia rpida, entretanto a sua margem de
segurana no ampla. Dentre as reaes adversas desse anestsico podemos citar a
depresso cardiovascular com queda da presso sangunea e frequncia cardaca (Saraiva e
cols., 2002). O sevoflurano um agente anestsico halogenado caracterizado por um baixo
coeficiente de partio sangue:gs, permitindo uma rpida induo e recuperao
anestsica. Esse anestsico foi sintetizado nos Estados Unidos em 1968 e, somente em
1990 foi liberado para uso clnico no Japo e se tornou disponvel na Inglaterra e Amrica
em 1995. Atualmente, esse anestsico inalatrio tem sido largamente utilizado na prtica
clnica, pois alm de possuir baixo coeficiente de solubilidade no sangue e no tecido
adiposo, proporciona pouca irritao respiratria durante a induo e o seu cheiro mais
aceitvel pelos pacientes. Alm disso, uma caracterstica clnica importante observada na
presena de sevoflurano que, ao contrrio de outros anestsicos volteis, como o halotano
e isoflurano, este no altera a freqncia cardaca (Patel e cols., 1996; revisto por Duffy &
Matta, 2000).
31.1.1 Efeito dos anestsicos inalatrios no Sistema Nervoso Central
Os anestsicos inalatrios so administrados sistemicamente e exercem seus
principais efeitos sobre o sistema nervoso central (SNC). Estabelecer como os anestsicos
inalatrios agem se torna difcil, principalmente pelo fato de que o SNC extremamente
complexo e, apesar dos progressos obtidos, temos apenas um conhecimento rudimentar
sobre a sua fisiologia. H relatos em diversos estudos de que os anestsicos volteis atuam
em diferentes locais do SNC (Collins e cols., 1995; Antognini e cols., 2000). No entanto,
ainda no foi possvel explicar de modo especfico onde se inicia a descontinuidade da
conduo do impulso nervoso para produzir amnsia, inconscincia e imobilidade.
Atualmente existem muitos estudos em animais demostrando que os anestsicos
inalatrios atuam na medula espinal dificultando a transmisso do impulso nervoso para o
tlamo e crtex cerebral (Antognini e cols., 2000). Sendo a medula uma regio que recebe
estmulos e envia respostas maior parte do corpo, possvel que a ao imobilizante
destes agentes se processe inicialmente nas estruturas medulares, mas a inconscincia e
amnsia ocorrem como resultado da ao dos anestsicos volteis em regies supraespinais
(Eger e cols., 1997).
Os anestsicos inalatrios diminuem de forma global o fluxo sanguneo e o
metabolismo de glicose e deprimem, seletivamente, vrias regies supraespinais. Por
exemplo, baixas concentraes de isoflurano reduzem a ativao cerebral em vrias
regies distintas do crtex. No entanto, a atividade no crtex motor, crtex visual e regies
subcorticais permanece inalterada (Heinke e cols., 2001). Um outro estudo demonstra que
os anestsicos inalatrios, como o enflurano, o isoflurano e o sevoflurano, diminuem o
metabolismo cortical e induzem a inconscincia em concentraes abaixo daquelas
necessrias para suprimir a resposta motora ao estmulo doloroso (Campagna e cols.,
2003).
4Apesar de no se saber quais as regies especficas do encfalo que so alvos dos
anestsicos inalatrios, uma ateno especial tem sido focalizada nas estruturas que
desempenham papel relevante na regulao da conscincia. Vrias hipteses sobre o estado
da conscincia tm sido postuladas nas ltimas dcadas, mas ainda no esto bem
estabelecidas as regies do SNC responsveis pela regulao desse estado (John, 2001).
Acredita-se que a conscincia seja uma funo integrativa de muitas reas do crebro,
incluindo o crtex pr-frontal, frontal, pr-central e para-central, alm do tlamo, sistema
lmbico e gnglios da base segundo a teoria integrativa (theorethical framework)
(Edelman, 2003). De acordo com essa teoria, a conscincia resulta da integrao de muitos
inputs oriundos de diferentes reas cerebrais e esta integrao ocorreria em um perodo
de tempo menor que 500 ms. Assim, os anestsicos inalatrios podem induzir a perda da
conscincia pela inibio de uma rea especfica ou pela depresso de vrias reas
integradas conscincia.
Os estudos tm focalizado os ncleos intralaminares do tlamo como centro de
integrao da conscincia atravs das diversas conexes com o crtex e o sistema reticular
ativador ascendente (SRAA) (revisto por Perry e cols., 1999). importante ressaltar
tambm que o tlamo, h muito tempo, considerado como rgo integrante das vias
ascendentes, sendo admitido que o centro da percepo da dor parte de sua estrutura que
tem conexes com o crtex cerebral onde a sensibilidade dolorosa conscientizada e
classificada. Alm disso, a avaliao tomogrfica das regies de consumo de glicose em
voluntrios com anestesia profunda indica que o tlamo e o SRAA do tronco enceflico
tm metabolismo de glicose mais alterado que outras regies (Campagna e cols, 2003).
Assim, possvel que a ao dos anestsicos gerais se relacione com a inibio da
sensibilidade dolorosa no tlamo.
O SRAA, o tlamo,a ponte,a amgdala e o hipocampo esto envolvidos na
cognio, memria, aprendizagem, sono e viglia. H evidncias da ao dos anestsicos
5inalatrios sobre o SRAA. Sendo esta estrutura muito importante no estado de viglia,
possvel que os frmacos que induzem o sono e a inconscincia possam ter ao sobre a
mesma. Dados experimentais demonstraram inibio reversa do SRAA do tronco
enceflico pelos anestsicos gerais (Clark & Rosner, 1973). Entretanto, foi demonstrado
que leses extensas no SRAA suprimem a resposta eletroencefalogrfica estimulao,
porm os animais continuam completamente despertos (Feldman & Waller, 1962).
Portanto no h evidncias experimentais de que o SRAA seja o nico ou mesmo o local
principal de ao dos anestsicos inalatrios.
Estudos realizados com eletroneuromonitorao proporcionaram novas evidncias
para o local e o mecanismo de ao dos anestsicos gerais. Esses agentes alteram a
amplitude e a latncia das ondas do eletroencefalograma (EEG), indicando que h ao
desses frmacos principalmente sobre o crtex cerebral. A anlise biespectral do EEG
expressa pelo ndice biespectral (BIS) que tem valores de 0 a 100, sendo que 100
corresponde ao mximo de viglia e 0 ao mximo de inconscincia. Durante o estado
anestsico o BIS est sempre abaixo de 50, geralmente em torno de 40. Ao despertar est
prximo de 90 (Sebel e cols., 1997).
Contudo, embora existam muitos dados sobre os efeitos anestsicos nas vrias
regies do encfalo, nenhum conjunto de dados suficientemente completo ou consistente
a ponto de permitir a concluso de que os anestsicos produzem suas aes atravs de um
efeito especfico em determinada regio do SNC.
1.1.2 Mecanismo de ao dos anestsicos inalatrios
Os anestsicos inalatrios como ter, xido nitroso, xennio, halotano, sevoflurano,
entre outros, constituem um grupo heterogneo de substncias que, juntas, no pertencem a
6nenhuma classe qumica reconhecvel. As teorias sobre a anestesia geral surgiram na
tentativa de explicar como compostos to diversos podem produzir o mesmo efeito global.
As hipteses sobre as bases moleculares da anestesia geral, no decorrer da sua
histria, mudaram consideravelmente. Meyer e Overton foram os primeiros a propor um
mecanismo molecular da ao anestsica, a hiptese lipdica. De acordo com a mesma, o
mecanismo da anestesia relaciona-se intimamente com a propriedade destes agentes de se
dissolverem na bicamada lipdica, causando, assim, mudanas crticas nas propriedades
fsico-qumicas da membrana celular (Miller e cols., 1961).
A hiptese lipdica foi universalmente aceita por mais de 60 anos. Entretanto,
Franks e Lieb (1981, 1978) propuseram que os anestsicos gerais atuariam diretamente em
protenas da membrana celular ao invs de interagirem com a bicamada lipdica. A
hiptese protica surgiu a partir da observao do fenmeno da interrupo, em que ocorre
uma perda da atividade anestsica alm de um determinado limite de aumento no
comprimento da cadeia de hidrocarboneto, muito embora a solubilidade lipdica continue a
aumentar. Essa hiptese foi reforada atravs da observao de que vrios anestsicos
modulavam a atividade de uma protena, a luciferase do pirilampo (vaga-lume). Os
anestsicos se ligariam a um domnio hidrofbico desta protena inibindo sua funo de
emisso de luz (Franks & Lieb, 1984). Alm disso, a descoberta de que estereoismeros de
anestsicos, igualmente solveis em lipdios, podem ser diferentemente efetivos em causar
anestesia tambm corroborou com a hiptese protica (Franks & Lieb, 1991; Harris e cols.,
1992; revisto por Franks, 2006). Assim, a partir da correlao da potncia anestsica com
solubilidade lipdica e da capacidade de ligao protica dos anestsicos inalatrios,
acredita-se que, provavelmente, ocorra uma ligao destes agentes a domnios hidrofbicos
especficos das protenas, especialmente canais proticos (Franks & Lieb, 1994).
Nos ltimos 40 anos os canais inicos tm sido considerados os principais alvos de
ao dos anestsicos no SNC de mamferos, uma vez que estes desempenham um
7importante papel na transmisso neuronal. Os canais inicos diferem tanto na sua
seletividade para ons como no seu mecanismo de abertura. Tem se tornado cada vez mais
evidente que a maioria dos anestsicos gerais afetam um grande nmero de diferentes
canais inicos (Franks & Lieb, 1994; Antkowiak, 2001; Hemmings e cols., 2005; revisto
por Franks, 2006). Os canais inicos podem ser subdivididos em canais operados por
voltagem, em que o mecanismo de abertura do canal controlado pela variao da
voltagem na membrana plasmtica, e nos canais operados por ligante, onde uma molcula
se ligaria a um receptor associado a um canal inico.
Segundo Franks & Lieb (1994), grande parte dos canais inicos operados por
voltagem so relativamente insensveis a concentraes clinicamente relevantes de
anestsicos gerais. No entanto, foi demonstrado que os anestsicos volteis podem
deprimir as correntes dos canais de clcio voltagem dependente e, conseqentemente,
inibir a transmisso sinptica (Yamakage e cols, 1995).
Quando um potencial de ao se propaga at o terminal nervoso, a membrana
despolariza-se e canais de clcio sensveis voltagem (CCSV) se abrem. O influxo de
clcio atravs destes canais dispara a exocitose de vesculas sinpticas com conseqente
liberao do neurotransmissor (Katz & Miledi, 1967; revisto por Neher, 1998). Assim,
posssvel que os CCSV possam ser um alvo pr-sinptico dos anestsicos inalatrios,
interferindo, assim, na transmisso sinptica.
Baseado em critrios farmacolgicos e eletrofisiolgicos, seis tipos de correntes de
CCSV so identificados: L, N, P, Q, R e T. Os CCSV so divididos em canais ativados
por baixa voltagem e inativados rapidamente (tipo T), e canais ativados por alta voltagem,
no qual necessitam de grande voltagem para serem ativados e so inativados lentamente
(L, N ,P ,Q e R) (revisto por Meir e cols.,1999). Dados da literatura sugerem que os canais
de clcio do tipo N, P, e Q esto envolvidos na regulao da excitabilidade e so essenciais
na transmisso sinptica e, conseqentemente, na liberao de neurotransmissores (Dunlap
8e cols, 1995). Portanto, alguns estudos investigaram se esses canais so alvos dos
anestsicos inalatrios no SNC, porm, resultados contraditrios foram observados. Study
(1994) investigou o efeito do isoflurano nas correntes de clcio em neurnios de
hipocampo. Esse autor demonstrou que o isoflurano, em concentraes clinicamente
relevantes, inibiu as correntes de clcio ativadas por baixa e alta voltagem. No entanto,
Hall e cols (1994) observaram que os CCSV do tipo P so insensveis a uma variedade de
anestsicos gerais (halotano, isoflurano, tiopental, pentobarbital e propofol).
Os canais inicos operados por ligantes tambm parecem desempenhar um papel
importante na anestesia. Os receptores ionotrpicos como o para GABA (cido -
aminobutrico) do tipo A, para acetilcolina do tipo nicotnico e para glutamato so
considerados stios de ao dos anestsicos gerais (Campagna e cols, 2003).
1.1.3 Efeito dos anestsicos inalatrios na liberao de dopamina
A ao farmacolgica dos anestsicos inalatrios descrita com base nos seus
efeitos clnicos. Como j mencionado anteriormente, at hoje o mecanismo de ao dessas
drogas permanece ainda bastante desconhecido. Estudos clnicos e experimentais foram
realizados com o objetivo de identificar os locais de atuao dos anestsicos e quais as
alteraes funcionais que esses frmacos produzem nas estruturas do SNC que seriam
determinantes do estado de anestesia observado clinicamente. Um possvel stio de ao
para os anestsicos o terminal neuronal pr-sinptico, como sugerido por dados
experimentais que mostram que a transmisso sinptica mais sensvel aos efeitos dos
anestsicos inalatrios que a conduo axonal (Eger e cols., 1997; revisto por Franks,
2006). Alteraes na liberao de neurotransmissores podem estar diretamente
relacionadas com a interao dos anestsicos com canais inicos ou com qualquer outra
protena de membrana. Dessa forma, a investigao dos efeitos dos anestsicos na
9liberao de neurotransmissores pode contribuir para a elucidao do mecanismo de ao
dos anestsicos.
A dopamina (DA) est presente em regies restritas do SNC, mas exerce
importantes funes tais como atividade motora, conscincia e processos cognitivos.
Estudos indicaram que a anestesia geral est frequentemente associada a mudanas
significativas na concentrao extracelular desse neurotransmissor (Segal e cols., 1990;
Irifune e cols., 1997; Becker e cols., 2003).
Embora existam alguns trabalhos a respeito da ao dos anestsicos volteis na
liberao de DA, os resultados so bastante contraditrios. Estudos in vivo demonstraram
que um aumento na concentrao de DA no SNC observado aps anestesia induzida pelo
halotano e isoflurano (Miyano e cols., 1993). Alm disso, Stahle e cols., (1990),
observaram que no s a concentrao de DA extracelular foi significativamente
aumentada por concentraes clnicas de halotano e isoflurano no corpo estriado de ratos,
como tambm os metablitos da DA. No entanto, Adachi e cols. (2000), utilizando tcnica
de microdilise in vivo, demonstraram que o halotano diminui os nveis extracelulares de
DA no corpo estriado de ratos.
Grande parte dos estudos in vitro sobre a ao dos anestsicos inalatrios na
transmisso dopaminrgica utilizam preparaes semi-intactas, como preparaes de fatias
e sinaptosomas. Keita e cols. (1999) mostraram que o halotano e isoflurano aumentam a
liberao espontnea de DA em fatias de neoestriado de ratos. A partir de um estudo em
sinaptosomas de crtex cerebral de ratos foi demonstrado que o halotano, mas no o
isoflurano, inibiu a captao de [3H]-DA (EL-Maghrabi e cols., 1993). No entanto, Shahani
e cols. (2002) observaram que a captao de DA foi inibida pelo halotano e isoflurano em
clulas LLC-PK1 transfectadas com transportador de dopamina (DAT) humano.
101.2 Transmisso dopaminrgica
As catecolaminas (DA, noradrenalina, adrenalina) so compostos formados por
um ncleo catecol (um anel de benzeno com duas hidroxilas) associado a uma cadeia de
etilamina ou a alguns de seus derivados. As catecolaminas atuam como mensageiros
qumicos no SNC (Vallone e cols., 2000). A DA a principal catecolamina no SNC e est
envolvida em uma variedade de funes, tais como atividade motora, humor, emoo,
afetividade e comunicao neuroendcrina. No sistema nervoso perifrico, a DA um
modulador das funes cardaca e renal, do tnus vascular e da motilidade gastrointestinal
(Jackson & Westlind-Danielsson, 1994).
Estudos sobre a transmisso dopaminrgica surgiram na dcada de 50, quando
a DA foi reconhecida como um neurotransmissor independente (Carlsson e cols.,1958). A
partir da tcnica de microscopia de fluorescncia, Carlsson e Waldeck (1958) observaram
populaes de neurnios contendo DA. Posteriormente, Dahlstrom e Fuxe (1964)
descreveram mais detalhes sobre o sistema dopaminrgico no sistema nervoso de ratos.
11..22..11 LLooccaalliizzaaoo ddooss nneeuurrnniiooss ddooppaammiinnrrggiiccooss
No SNC de ratos existe um nmero importante de clulas dopaminrgicas,
cerca de 15.000 a 20.000 para cada uma das metades do mesencflo (Hokfelt e cols.,
1976). O sistema dopaminrgico tem sido amplamente estudado com o auxlio das tcnicas
de microscopia de fluorescncia e imunocitoqumica. Diferentemente de outros
neurotransmissores, como a noradrenalina, que encontrada de forma difusa no SNC, a
DA se distribui de maneira circunscrita. As projees dopaminrgicas do SNC esto
presentes no corpo estriado, crtex frontal, substncia negra, sistema lmbico, corpo
11amigdalide e hipotlamo (Hokfelt e cols., 1976; Fallon e cols., 1978; Fallon & Moore,
1978). As principais projees dopaminrgicas do SNC so representadas no QUADRO 1.
QUADRO 1 Vias dopaminrgicas do SNC
Origem Projees e funes Vias dopaminrgicas
Substncia negra e formao
reticular.
Corpo estriado. Controle da
atividade motora somtica.
Via nigro-estrial.
rea tegmental ventral.
Crtex frontal, corpo estriado
ventral, sistema lmbico e corpo
amigdalide. Regulao do
comportamento emocional.
Via mesolmbica.
Ncleo arqueado do
hipotlamo hipfise.
Eminncia mdia do hipotlamo.
Controle hormonal
Via tubero-infundibular.
11..22..22 SSnntteessee ee mmeettaabboolliissmmoo ddaa DDAA
A sntese de DA tem lugar nas terminaes nervosas dopaminrgicas, onde so
encontradas altas concentraes de enzimas como a tirosina hidroxilase (TH) e a
descarboxilase de aminocidos aromticos, a L-DOPA descarboxilase (Freund e cols.,
121984). Os trabalhos de Nagatsu e cols., (1964) e Leviit e cols., (1965) demostraram que a
hidroxilao do aminocido L-tirosina o ponto de regulao da sntese de catecolaminas
no SNC e, consequentemente, a enzima TH a enzima limitante da sntese de DA,
noradrenalina e adrenalina. A TH uma protena de 498 aminocidos (56 KDa) presente
predominantemente no citosol das terminaes catecolaminrgicas. A enzima uma
oxidase que utiliza L-tirosina e oxignio como substratos e tetrahidrobioterina (BH4) como
co-fator para adicionar um grupo hidroxila ao aminocido e assim formar a L-DOPA. Na
presena da descarboxilase de aminocidos aromticos a L-DOPA convertida em DA.
Esse neurotransmissor metabolizado por dois tipos de enzimas: a monoaminoxidase
(MAO) e a catecol-O-metiltransferase (COMT). No crebro existem dois tipos de MAO,
designadas do tipo A e B. Os principais produtos de metabolizao da DA so o cido
diidroxifenilactico (DOPAC) e o cido homovanlico (HVA) (Thorpe e cols., 1997).
1.2.3 Liberao de dopamina
1.2.3.1 Liberao dependente de clcio
Nesse processo, a DA contida nas vesculas liberada quando ocorre a fuso
da membrana vesicular com a membrana do terminal pr-sinptico (Katz & Miledi, 1967).
Primeiramente, o neurotransmissor transportado para o interior das vesculas sinpticas
com o auxlio de uma protena com 12 domnios transmembrana, o transportador vesicular
das monoaminas (VMAT2 ), que utiliza um gradiente eletroqumico gerado por uma bomba
(ATPase) de prtons (Henry e cols., 1998a; Henry e cols., 1998b; Schuldiner, 1994). Esse
transportador tambm responsvel pelo transporte vesicular da noradrenalina, serotonina
e histamina. O VMAT2 inibido pela reserpina e tetrazenazina e sensvel variao de pH
(Howell e cols., 1994). O VMAT2 tem um papel importante na liberao de DA
13dependente do on clcio (Ca2+) (Kanner & Schuldiner, 1987). Nas clulas cromafins da
adrenal existe um outro transportador vesicular das monoaminas: o VMAT1 (Erickson e
cols., 1992).
A maior parte das vesculas sinpticas (90%) que contm o transmissor no esto
livres no citoplasma. Elas encontram-se unidas ao citoesqueleto da terminao pr-
sinptica mediante a interao de protenas fosforiladas por quinases presentes na
membrana da vescula (sinapsina I e II) com protenas do citoesqueleto. Quando um
potencial de ao alcana o terminal nervoso, a mudana de potencial de membrana ativa
os canais de Ca2+ sensveis voltagem (CCSV). Devido ao gradiente eletroqumico, gera-
se um influxo de ons Ca2+, que em conjunto com a calmodulina ativam quinases que
fosforilam a sinapsina I e II. A adio de um grupo fosfato s sinapsinas enfraquece a
unio das vesculas sinpticas ao citoesqueleto, facilitando, assim, o seu transporte zona
ativa (revisto por Sudhof, 2004).
Uma vez transportadas zona ativa, as vesculas ancoram-se e sofrem maturao
(priming) tornando-se prontas para sofrerem exocitose. Como mencionado
anteriormente, um potencial de ao despolariza o terminal alterando o potencial de
aproximadamente -70 mV a +20mV, permitindo, assim, a abertura de CCSV. Essa abertura
dos canais altera a concentrao de ons Ca2+ no interior das clulas. O influxo de Ca2+
atravs desses canais dispara a exocitose com conseqente liberao do neurotransmissor
(Katz & Miledi, 1967; revisto por Neher, 1998).
Existem evidncias de que o processo de exocitose pode ser desencadeado pelo
clcio proveniente dos estoques intracelulares (Tse e cols., 1997; Berridge, 1998; Raiteri,
2000). Dados obtidos pelo nosso grupo de pesquisa demonstraram que os anestsicos
sevoflurano, halotano e isoflurano aumentam a liberao exocittica de [3H]-acetilcolina
em fatias de crtex cerebral de ratos, principalmente a partir de clcio proveniente de
14estoques intracelulares (Gomez e cols., 1999; Gomez e cols., 2000; Silva e cols., 2005).
Fernandes e cols. (2004) observaram que a ttiittyyuussttooxxiinnaa,, uummaa ttooxxiinnaa ddee eessccoorrppiioo Tityus
serrulatus,, iinndduuzz liberao exocittica de [3H]-DA dependente do clcio intracelular.
1.2.3.2 Liberao independente de Ca2+
J est bem estabelecido o processo de liberao de DA atravs da exocitose de
vesculas, envolvendo o clcio proveniente do meio extra ou intracelular. No entanto, foi
proposto um outro mecanismo de liberao, que pode co-existir com o clssico modelo
exocittico, denominado transporte reverso (TR) atravs do transportador de DA (DAT)
(Leviel, 2001).
O DAT uma glicoprotena de membrana plasmtica que pertence a uma
superfamlia de transportadores de membrana dependentes de Na+/Cl- (Amara & Kuhar,
1993a; Amara & Kuhar, 1993b). Os membros dessa superfamlia possuem mltiplas
caractersticas estruturais em comum, incluindo 12 domnios transmembrana, mltiplos
stios de glicosilao e stios de fosforilao (Amara e Kuhar, 1993; Giros e cols., 1996). A
estequiometria do transportador indica que a DA co-transportada para o interior do
terminal (recaptao) ou para o meio externo (TR) com dois ons Na+ e um on Cl-
(Krueger, 1990; Nelson, 1998).
H quatro dcadas, Julius Axelrod introduziu o conceito de recaptao na tentativa
de explicar como a noradrenalina era transportada de volta para terminal nervoso (Hertting
& Axelrod, 1961). Assim, ele props que o processo de recaptao era um mecanismo
importante para a inativao de neurotransmissores. Mais tarde, similaridades e algumas
diferenas entre os mecanismos de captao para DA, noradrenalina e serotonina foram
demonstradas. Com os avanos nas tcnicas de biologia molecular, os genes que codificam
15protenas responsveis pela recaptao das monoaminas foram identificados nos anos 90
(Inazu e cols., 1999). Vale a pena ressaltar que, a partir dessa dcada, estudos
evidenciaram que a DA pode ser recaptada pelo transportador de noradrenalina (NET) em
diversas regies cerebrais, principalmente no crtex pr-frontal (Morn e cols., 2002;
revisto por Torres e cols., 2003).
As tcnicas de imunocitoqumica e hibridizao in situ possibilitaram a localizao
dos transportadores de monoaminas. Pode-se encontrar o DAT expresso nos corpos
celulares da substncia negra, rea tegmental ventral do crebro e crtex cerebral,
(principalmente frontal e temporal), o transportador de serotonina (SERT) expresso nos
ncleos da rafe central e medial e o NET expresso no crtex pr-frontal e parietal e nos
ncleos da base (Hoffman e cols., 1999; Torres e cols., 2003). Outras metodologias
relevantes so o uso de sistemas de expresso heterloga e a mutagnese, que contribuem
para a identificao dos domnios estruturais e funcionais dos transportadores. Atualmente
surgem os modelos animais que possuem alteraes genticas no transporte de
monoaminas e que tm ajudado a esclarecer o papel dessas protenas na funo cerebral
(Torres e cols., 2003).
O DAT , portanto, um carreador de membrana cuja principal funo terminar a
ao do neurotransmissor, atravs da recaptao, alm de ser responsvel tambm pela
liberao da DA citoslica para a fenda sinptica, denominado TR, mecanismo ainda
bastante desconhecido (Leviel, 2001).
O transporte reverso de DA observado na presena de anfetamina, sendo que
vrios estudos demonstraram que a liberao de DA induzida pela anfetamina no inibida
pela reserpina (um inibidor do transportador vesicular de DA) (revisto por Leviel, 2001).
Alm disso, estudos sugerem que a DA endgena, localizada principalmente em
compartimento vesicular parece ser menos sensvel anfetamina do que a DA livre no
citosol. Assim, o conceito de TR foi utilizado, inicialmente, a partir de estudos sobre a
16liberao de DA na presena de algumas drogas como a anfetamina e a tiramina. Somente
mais tarde, o TR foi ento considerado um possvel modo fisiolgico de liberao
responsvel por parte da DA presente na fenda sinptica. A funo do TR na atividade
neuronal basal ainda no est bem esclarecida, mas o mecanismo de ao e o processo
regulatrio desse modelo atpico de liberao tm sido intensamente estudados (Chen &
Reith, 2000; Leviel, 2001; Torres e cols, 2003).
O DAT sensvel a drogas como GBR 12909, que inibe esse transportador
competitivamente e com grande seletividade (Anderesen, 1989) e nomifensina, inibidor
de alta afinidade do DAT (Herdon & Nahorshi, 1987; Raiteri,1979). Sua funo pode ser
modulada por segundos mensageiros como o diacilglicerol (via ativao da PKC) e o cido
araquidnico (Chen & Reith, 2000). O DAT pode ser regulado diretamente atravs de
mltiplos fatores endgenos envolvendo alteraes no gradiente de sdio e na temperatura.
Em baixas temperaturas (12 a 17 C) ocorre inibio do DAT, afetando suas funes nos neurnios dopaminrgicos, principalmente o TR (revisto por Gerevich e cols., 2001).
Recentemente, Khoshbouei e cols. (2003) relataram que o TR mediado pelo DAT
pode ser iniciado por um aumento da concentrao do sdio intracelular ([Na+]i ). A [Na+]i
desempenha um papel importante na regulao da liberao de neurotransmissores a partir
do terminal axnico ( via despolarizao ou inverso do trocador Na+ / Ca2+ ). A elevao
da [Na+]i tambm pode causar liberao de neurotransmissor independente de clcio, onde
o aumento da [Na+]i pode reverter o processo de recaptao de transmissores, ocasionando
o efluxo de neurotransmissores livres no citoplasma, denominado TR, como j citado
anteriormente (Adam-Vizi, 1992). Assim, o funcionamento do DAT est diretamente
relacionado com o gradiente de Na+ extra e/ou intracelular, visto que o DAT uma
glicoprotena de membrana plasmtica dependente de Na+/Cl- .
171.2.4 Receptores Dopaminrgicos
Com base nas caractersticas moleculares, foram descritos 5 subtipos de receptores
para DA , os quais so agrupados em 2 famlias farmacolgicas denominados D1 e D2. A
famlia D1 composta pelos receptores D1 e D5. Esses receptores possuem uma regio
carboxila terminal que aproximadamente 7 vezes mais longa que a correspondente aos
receptores D2. O subtipo D1 o receptor dopaminrgico mais abundante no SNC (Missale
e cols., 1998). Nveis altos desses receptores so encontrados no tubrculo olfatrio,
estriato, substncia negra e crtex cerebral (frontal e cngulo) (Missale e cols., 1998). J o
subtipo D5 se distribui pelo hipocampo, tlamo e hipotlamo e nas regies frontal e
temporal do crtex cerebral (Jaber e cols., 1996). A ativao da famlia D1 estimula a
enzima adenil ciclase levando formao do AMPc (Zhou e cols., 1990). Tambm tem
sido reportado que a ativao dos receptores D1 do crtex frontal induz a produo de
outros segundos mensageiros, como o diacilglicerol e o IP3, atravs da estimulao de
fosfolipase C (Friedman, 1990)
A famlia D2 formada por 3 subtipos: D2, D3 e D4. Essa famlia possui como
caracterstica uma regio (i3), composta por 101 a 166 aminocidos, dependendo do
subtipo e da espcie. Os subtipos da famlia D2 so considerados autoreceptores das
terminaes dopaminrgicas cuja ativao reduz a liberao de DA (Dwoskin e cols.,
1986). O efeito se deve principalmente inibio da sntese de AMPc e modulao das
correntes inicas, em particular as ativadas por voltagem. A reduo da formao de
AMPc diminui a atividade da PKA que fosforila as sinapsinas I e II. A inibio dos canais
de Ca2+ sensveis voltagem reduzem a entrada do on Ca2+, diminuindo a probabilidade
de fuso das vesculas (Jaber e cols., 1996).
181.2.5 Relevncia clnica
J est bem estabelecido que a dopamina (DA) um neurotransmissor
catecolaminrgico que est presente no crebro (crtex frontal, temporal e parietal, ncleo
arqueado do hipotlamo hipfise) e principalmente na substncia negra do mesencfalo.
O sistema dopaminrgico tem sido foco de grande interesse, principalmente devido a
associao de alguns transtornos do SNC com alteraes nesse sistema. Alteraes da via
dopaminrgica nigrostriatal so responsveis pelo desenvolvimento do Mal de Parkinson,
ao passo que disfunes dos neurnios dopaminrgicos da via mesocorticolmbica esto
relacionadas com o aparecimento de alguns estados psicticos, como a esquizofrenia.
(Weinberger e cols., 1988; Goldstein & Deuthch, 1992; Lang & Lozano, 1998). Diferentes
estudos indicaram que sinais positivos da esquizofrenia, como euforia, alucinaes
auditivas e delrio, se devem, pelo menos em parte, a uma hiperatividade da transmisso
dopaminrgica. De fato, algumas drogas psicoestimulantes, como a anfetamina aumentam
a transmisso dopaminrgica, mimetizando alteraes do comportamento presentes em
pacientes esquizofrnicos (Goldstein e cols., 1997).
Apesar da existncia de alguns estudos relacionados com a transmisso
dopaminrgica e anestsicos inalatrios, temos pouco ou quase nenhum conhecimento
sobre o papel funcional da DA no estado de anestesia (Becker e cols., 2003). No entanto,
sabe-se que durante a induo da anestesia observam-se estgios de euforia, alm de
hiperlocomoo durante a recuperao anestsica. A DA um neurotransmissor que
exerce importantes funes no SNC tais como atividade motora, conscincia e processos
cognitivos, logo, a modulao da transmisso dopaminrgica pode ser um alvo de ao dos
anestsicos inalatrios.
Embora existam trabalhos a respeito da ao dos anestsicos volteis na
transmisso dopaminrgica, no est claro se essas drogas alteram a liberao desse
neurotransmissor (Toner e cols., 2001; Adachi e cols., 2003). Assim, ao estudar o efeito do
19halotano e do sevoflurano na liberao de DA no SNC estaremos contribuindo para um
maior entendimento sobre o mecanismo de ao de dois anestsicos muito utilizados na
clnica, alm de tornar o procedimento da anestesia cada vez mais seguro, principalmente
para pacientes que possuem distrbios no sistema dopaminrgico.
20
2. Objetivos
21Objetivo Geral
- Estudar a transmisso dopaminrgica em fatias crtex cerebral de ratos na presena
dos anestsicos inalatrios sevoflurano e halotano.
Objetivos especficos
- Avaliar se diferentes concentraes do sevoflurano e halotano interferem na liberao de
dopamina em fatias de crtex cerebral de ratos.
- Investigar se o efeito do sevoflurano e halotano na liberao de dopamina em fatias de
crtex cerebral de ratos dependente do tempo de incubao.
- Investigar a participao do on clcio extra e intracelular na liberao de dopamina
induzida pelo sevoflurano e halotano em fatias de crtex cerebral de ratos.
- Investigar a participao dos canais de sdio sensveis TTX na liberao de dopamina
induzida pelo sevoflurano e halotano em fatias de crtex cerebral de ratos.
- Investigar o papel do transportador de dopamina na liberao de dopamina induzida pelo
sevoflurano e halotano em fatias de crtex cerebral de ratos.
- Investigar o papel do transportador de noradrenalina na liberao de dopamina induzida
pelo sevoflurano e halotano em fatias de crtex cerebral de ratos.
22- Investigar a participao da bomba de Na+/K+ ATPase na liberao de dopamina
induzida pelo sevoflurano e halotano em fatias de crtex cerebral de ratos.
- Investigar o efeito do sevoflurano e halotano na captao da dopamina em fatias de
crtex cerebral de ratos
23
3. Material e Mtodos
243.1 Drogas e reagentes
Reagentes e toxinas obtidos da Sigma Chemical Co.,St Louis, MO, USA:
- EGTA, C14H24N2O10.
- Dopamina no radioativa, C8H11NO3 . HBr.
- Pargilina, C11H13N HCl.
- Nomifensina, C16H18N2- + C4H4O4.
- GBR12909, C28H32F2N2O . 2HCL
- Ouabana, C29H44O12.
- Reserpina, C33H40N2O9.
- BAPTA-AM, C34H40N2O18.
- POPOP, C24H16N2O2.
- PPO, C15H11NO.
- cloreto de cdmio.
- cloreto de colina
- Nisoxetina
- Malachite Green Base (Verde de Malaquita)
- Coomassie Brilliant Blue G
O Sevoflurano foi gentilmente fornecido por Cristlia Produtos Qumicos Farmacuticos
LTD.
O Halotano foi gentilmente cedido por Halocarbon, River Edge, New Jersey, USA.
Reagentes obtidos da Reagen-Quimiobras Indstrias Qumicas do Brasil:
- cido tricloroactico, CCl3COOH.
- Cloreto de potssio, KCl.
- Molibdato de amnio
- Alcool polivinlico
25Reagentes obtidos da Merk S.A Indstrias Qumicas:
- Cloreto de sdio, NaCl.
- Sulfato de magnsio, MgSO4.(7H2O).
- Glicose, C6H12O6.
- Tolueno, C6H5CH3.
- Cloreto de clcio dihidratado, CalCl2.2H2O.
- cido clordrico, HCl.
- lcool etlico, CH3CH2OH.
- Fosfato dicido de potssio, KH2PO4
- Hidrxido de sdio, NaOH.
- HEPES, C8H18N2O4S.
- Tritom, C34H62O11.
Os reagentes obtidos do Grupo Qumica Indstria Ltda, Brasil.
- Naftaleno, C10H8.
- Dioxana, C4H8O2.
Substncia obtida da Amersham Pharmacia Bioetech UK Limited, England:
- [2,5,6-3H]dopamina, atividade especfica 49.0 (lote-TRK284).
3.2 Solues
Meio de incubao 1
NaCl 136 mM
KCl 2,7 mM
CaCl2 , 2H2O 1,35 mM
MgSO4 (7H2O). 1,2 mM
26 Glicose 5,5 mM
KH2PO4 1,2 mM
Pargilina 10 M
HEPES 12,5 mM
pH 7.4 ajustado com Na0H 0,1 N
Obs: Pargilina: droga inibidora da degradao da DA.
Soluo de [3H]-DA, contendo aproximadamente 0,20 Ci de [3H]-DA em 2000 mL do
meio de incubao
Soluo de dopamina no radioativa 1,0 M
Lquido de cintilao (soluo de Bray modificado)
- lcool etlico 30% v/v
- Dioxana 30% v/v
- Tolueno 30% v/v
- Naftaleno 7% p/v
- POPOP 0,02% p/v
- PPO 0,5% p/v
- Triton 10% v/v
Soluo de cido tricloroactico a 10%
27Meio de incubao 2
NaCl 115 mM
KCl 3 mM
CaCl2 , 2H2O 2 mM
MgSO4 (7H2O). 1,2 mM
Glicose 10 mM
NaHCO3 25 mM
pH 7.4 ajustado com NaOH
Solues estoque para o Mtodo Chan
Verde de Malaquita - 0,08 % p/v
Alcool polivinlico - 2,32% p/v
Molibdato de amnio 5,7% p/v em HCl 6 N
Soluo para o Mtodo Chan
- H20 % 33 v/v
- Molibdato de amnio 16 % v/v
- Alcool polivinlico 16 % v/v
- Verde Malaquita 33 % v/v
3.3 Animais
Foram utilizados ratos adultos da raa Wistar (180-200 gramas), de ambos os
sexos, fornecidos e criados no CEBIO, Centro de Bioterismo do Instituto de Cincias
Biolgicas da UFMG.
283.4 Determinao da liberao de DA em fatias de crtex crebral de ratos
33..44..11 OObbtteennoo ddaass ffaattiiaass ddee ccrrtteexx cceerreebbrraall ddee rraattooss
Ratos adultos Wistar foram decapitados e o encfalo removido. Os dois hemisfrios
do crebro eram separados e o crtex dissecado sobre uma placa Petri em cima de um
papel de filtro umedecido com soluo (meio de incubao 1) em gelo. Em seguida, o
crtex foi fatiado em fatias de 0,5 mm em um fatiador de tecido.
O tecido foi pesado em balana de toro na quantidade de 40 mg e colocado em
frascos de incubao que se encontravam no gelo. Esses frascos continham 2,0 mL da
soluo, contendo aproximadamente 0,20 Ci de [3H]-DA.
33..44..22 MMaarrccaaoo ddaass ffaattiiaass ccoomm [[33HH]]--DDAA
Em seguida, as fatias foram colocadas em banho com agitao (120 rpm), pr-
incubadas a 37C durante cinco minutos e posteriormente incubadas por 30 minutos com
[3H]-DA (atividade especfica 49,0 Ci/mmol). Aps a marcao, as fatias foram
transferidas para tubos de centrfuga que j se encontravam no gelo e, logo aps,
centrifugadas a 6000 rpm, 3300 g por cinco minutos, a 4C.
33..44..33 LLaavvaaggeemm ddaass ffaattiiaass ccoomm DDAA nnoo rraaddiiooaattiivvaa
Os tubos foram retirados da centrfuga, o sobrenadante desprezado e o
precipitado contendo os pellets com as fatias foram lavados com 2,0 mL de soluo
contendo DA no radioativa (1,0 M). Esse procedimento foi repetido trs vezes, para
29retirar a [3H]-DA inespecificamente ligada ao tecido.
33..44..44 IInnccuubbaaoo ddaass ffaattiiaass
Aps a ltima centrifugao, o sobrenadante foi desprezado e as fatias foram
colocadas em 1,5 mL de meio de incubao e transferidas novamente para frascos de vidro
que foram incubados em banho com agitao (120 rpm) temperatura de 37C e pr-
incubadas durante 5 minutos .
33..44..55 AAddmmiinniissttrraaoo ee mmeennssuurraaoo ddaa ccoonncceennttrraaoo ddoo sseevvoofflluurraannoo ee hhaalloottaannoo
Solues estoques saturadas com sevoflurano ou halotano foram preparadas a cada
experimento e obtidas da seguinte maneira: 10 ml do meio de incubao foram
equilibradas com os anestsicos estudados na forma lquida (100, 200, 400, 600, 800, ou
1600l) a 37C em frascos de vidro, hermeticamente fechados por 30 minutos. Em
seguida, utilizando-se uma seringa de vidro, 500l da soluo estoque saturada com
sevoflurano ou halotano foram adicionadas aos frascos de vidro contendo 1,5 mL de meio
de incubao a 37C aps 5 minutos de pr-incubao. Aps a administrao do anestsico
especfico, os frascos foram, ento hermeticamente fechados, agitados e incubados por at
30 minutos. A saturao da soluo estoque e a concentrao aquosa do sevoflurano e
halotano no meio de incubao aps 30 minutos foram confirmadas aps a extrao com n-
heptano utilizando-se o princpio da cromatografia gasosa (Ruteldge e cols, 1963). Com
esse objetivo, utilizamos um cromatgrafo a gs Hewlett Packard Series II-Modelo 5890
equipado com uma coluna capilar (HP1:SE-30;35 metros de comprimento; dimetro
interno 20 mm; espessura de filme de 0,33 m; temperatura mxima: 325C), onde um
microlitro da soluo estoque ou do meio de incubao era introduzido diretamente atravs
30de um septo (elastmero). As condies de separao incluam uma anlise cromatogrfica
temperatura constante da coluna (30C) e uma mistura de hidrognio (fluxo:35, 350 e 30
ml /min, respectivamente) como gs carreador.
33..44..66 CCoonnttaaggeemm ddaa rraaddiiooaattiivviiddaaddee ddoo ssoobbrreennaaddaannttee
Ao terminar o tempo de incubao, os frascos eram retirados do banho e o material
transferido em seguida para um tubo de centrfuga. Aps a centrifugao (3300g por 7
minutos, a 4C), o sobrenadante era colocado em tubo de ensaio e 100L desta soluo era
transferido para um microtubo (eppendorf) contendo 1000L de soluo de Bray. A
radioatividade era contada no espectrofotmetro de cintilao lquida durante 10 minutos.
Em estudos prvios, foi realizado uma cromatografia da frao do sobrenadante que
mostrou que aproximadamente 90% da radioatividade presente [3H]-DA (Fernandes e
cols., 2004). O termo liberao de DA usado para indicar a liberao de [3H]-DA no
captada pelo sistema de captao aps a sua liberao.
3.4.7 Anlise estatstica dos resultados
Os resultados foram obtidos, analisados e expressos de duas formas: a primeira pela
contagem da radioatividade do sobrenadante em que se utilizou a liberao de [3H]-DA em
dpm/mg de tecido. Representa a mdia das amostras, feitas em duplicata, repetidas no
mnimo trs vezes (em dias diferentes), o erro padro da mdia (EPM) subtrado o valor da [3H]-DA liberada nos frascos mantidos em gelo.
Na segunda forma, expressamos a radioatividade do sobrenadante pelo delta ( ) de liberao de [3H]-DA. Representa a liberao de [3H]-DA em dpm/mg de tecido (conforme
31citado anteriormente) na presena de drogas (anestsicos ou outros agentes) subtrada da
liberao de [3H]-DA em dpm/mg de tecido obtida nas condies controle definidas em
cada experimento.
Para analisar o contedo de [3H]-DA captada pelo tecido, fizemos extraes com
TCA, que causou a liberao de [3H]-DA das fatias do crtex cerebral. Expressamos os
resultados em dpm/mg de tecido, que representa a mdia das amostras, feitas em duplicata,
repetidas no mnimo cinco vezes (em dias diferentes) o erro padro da mdia (EPM).
Os resultados foram analisados por anlise de varincia ANOVA ou pelo teste
t-student, quando indicado. O valor de P < 0,05 foi considerado estatisticamente
significativo.
O programa de computador utilizado na elaborao dos grficos, anlise
estatstica e clculo para o EC50 foi o Sigma-plot (Scientific Graphing Software), verso
8.0.
3.5 Mensurao de fosfato em fatias de crtex cerebral de ratos
Esta metodologia foi desenvolvida por Chan e cols. (1986), adaptada por
Bruno e cols. (2002) e associada com a tcnica de fatia em crtex cerebral de ratos
utilizada no Laboratrio de Neurofarmacologia do Departamento de Farmacologia do
Instituto de Cincias Biolgicas da Universidade Federal de Minas Gerais.
3233..55..11 OObbtteennoo ddaass ffaattiiaass ddee ccrrtteexx cceerreebbrraall ddee rraattooss ee aaddmmiinniissttrraaoo ddaass ddrrooggaass
Aps obteno das fatias (tem 3.4.1) em meio de incubao 2, as mesmas
foram colocadas em banho com agitao (120 rpm), pr-incubadas a 37C durante 20
minutos na presena ou ausncia de ouabana e subseqentemente, administrado os
anestsicos sevoflurano ou halotano (conforme tem 3.4.5). Aps o perodo de 10 minutos
de incubao era acrescentado cido tricloroactico a 10% para lisar as fatias e interromper
as reaes. Em seguida as fatias foram transferidas para tubos de centrfuga que j se
encontravam em gelo e, logo aps, centrifugadas a 6000 rpm, 3300 g por cinco minutos, a
4C.
3.5.3 Mensurao de fosfato no meio de incubao
O fosfato presente no sobrenadante (meio de incubao 2) aps a centrifugao foi
mensurado a partir do mtodo Chan e cols. (1986). A liberao de fosfato foi expressado
em nmol de fosfato por minuto por miligrama de protena.
Para a dosagem de protena das fatias de crtex cerebral de ratos foi utilizado o
mtodo Bradford (1976).
3.5.4 Anlise estatstica dos resultados
Representa a mdia das amostras, feitas em duplicata, repetidas no mnimo quatro
vezes (em dias diferentes), o erro padro da mdia (EPM). A liberao de fosfato foi expressa em nmol de fosfato por minuto por miligrama
de protena.
Os resultados foram analisados por anlise de varincia ANOVA ou pelo teste
33t-student, quando indicado. O valor de P < 0,05 foi considerado estatisticamente
significativo.
34
4. Resultados
35
4.1 Liberao de [3H]-DA em fatias de crtex cerebral de ratos na presena do
sevoflurano e halotano
Nosso objetivo inicial foi investigar a ao do sevoflurano e do halotano na
liberao de [3H]-DA em fatias de crtex cerebral de ratos. Assim, para testar se o
sevoflurano ou halotano seriam capazes de alterar a liberao deste neurotransmissor, as
fatias de crtex cerebral de rato foram incubadas em concentraes crescentes desses dois
anestsicos.
As fatias de crtex cerebral de ratos foram pr-incubadas por 5 minutos em meio de
incubao a 37C e, subseqentemente, estimuladas com concentraes crescentes de sevoflurano (0,058, 0,11, 0,23, 0,46 e 0,93 mM) durante 20 minutos. Os resultados
apresentados na figura 1 mostram que o sevoflurano foi capaz de induzir um aumento na
liberao de [3H]-DA de uma maneira dependente da concentrao do anestsico. Nota-se
que o sevoflurano aumentou significativamente a liberao de [3H]-DA (p< 0,05) em todas
as concentraes utilizadas. O EC50 (calculado da concentrao efetiva capaz de liberar
50% da liberao mxima) foi de 0,29 mM. A liberao de [3H]-DA induzida pelo
sevoflurano nas concentraes de 0,46 e 0,93 mM se diferem estatisticamente (p< 0.05),
porm pode-se observar que a curva tende a se estabilizar aps a concentrao 0,46mM
(1617 38 dpm/mg de tecido). Logo, a concentrao que passamos a utilizar em nossos experimentos foi de 0,46mM que levou a um aumento de 3,24 vezes em relao ao
controle (498.6 37dpm/mg de tecido).
Experimento semelhante ao descrito anteriormente foi realizado com o anestsico
halotano. As fatias de crtex cerebral de rato foram incubadas com o anestsico em
concentraes crescentes (0,012, 0,024, 0,048, 0,072 e 0,096mM) durante 20 minutos. Os
36resultados apresentados na Figura 2 mostram que o halotano tambm foi capaz de induzir
um aumento na liberao de [3H]-DA de uma maneira dependente da concentrao do
anestsico, de forma que todas as concentraes do halotano utilizadas aumentaram
significativamente a liberao basal de [3H]-DA (p< 0,05). A liberao de [3H]-DA
induzida pelo halotano nas concentraes de 0,024 e 0,048mM se diferem estatisticamente
(p< 0.05). Assim, pode-se observar que a liberao foi crescente at a concentrao de
0,048mM. Logo, a concentrao que passamos a utilizar em nossos experimentos foi de
0,048mM de halotano que liberou 2744,6 86 dpm/mg de tecido de [3H]-DA e provocou um aumento de 7,43 vezes em relao ao controle (369,6 25 dpm/mg de tecido). O EC50 calculado para o halotano foi de 0,025mM.
37
Concentrao (mM)
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 Li
bera
o
de [3
H] -
DA
(dpm
/mg
de te
cido
)
0
500
1000
1500
2000
2500
sevoflurano controle
Figura 1: Dose-resposta do sevoflurano na liberao de [3H]-DA em fatias de
crtex cerebral de ratos.
Fatias de crtex cerebral de ratos (40 mg) marcadas com [3H]- DA foram pr-
incubadas por 5 minutos em meio de incubao a 37C e, subseqentemente, estimuladas com sevoflurano nas concentraes de 0,058, 0,11, 0,23, 0,46, 0,93
mM , durante 20 minutos. Os resultados expressam a mdia EPM de pelo menos
trs experimentos independentes realizados em duplicatas.
38
Concentrao (mM)
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12Lib
era
o d
e [3
H] -
DA
(dpm
/mg
de te
cido
)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
halotanocontrole
Figura 2: Dose-resposta do halotano na liberao de [3H]-DA em fatias de
crtex cerebral de ratos.
Fatias de crtex cerebral de ratos (40 mg) marcadas com [3H]- DA foram pr-
incubadas por 5 minutos em meio de incubao a 37C e, subseqentemente, estimuladas com halotano nas concentraes de 0,012, 0,024, 0,048, 0,072 e
0,096mM durante 20 minutos. Os resultados expressam a mdia EPM de pelo
menos trs experimentos independentes realizados em duplicatas.
39
4.2 Efeito do tempo de incubao na liberao de [3H]-DA induzida pelo sevoflurano
e halotano em fatias de crtex cerebral de ratos
Para determinar se a liberao de [3H]-DA induzida pelo sevoflurano e halotano era
dependente do tempo de incubao, as fatias foram estimuladas com sevoflurano ou
halotano por diferentes tempos. As fatias de crtex cerebral de ratos foram pr-incubadas
por 5 minutos em meio de incubao e, subseqentemente, estimuladas com sevoflurano
(0,46mM) durante 5, 10, 20, 30 e 45 minutos a 37C. A Figura 3 mostra que a liberao de [3H]-DA induzida pelo sevoflurano foi dependente do tempo de incubao.
O mesmo procedimento experimental foi realizado utilizando-se o halotano. As
fatias foram pr-incubadas por 5 minutos a 37C e, posteriormente, estimuladas com halotano (0,048mM) por 2,5, 5, 10, 20, e 30 minutos de incubao a 37C. A Figura 4 mostra que a liberao de [3H]-DA induzida pelo halotano tambm foi dependente do
tempo de incubao.
Pode-se observar que a curva de liberao foi crescente at o tempo de 30 minutos
de incubao com sevoflurano (Fig. 3) e 20 minutos de incubao com o halotano (Fig. 4).
Verifica-se ainda, que a liberao de [3H]-DA induzida pelo sevoflurano nos tempos de 30
e 45 minutos e pelo halotano nos tempos 20 e 30 minutos de incubao no se diferem
estatisticamente (p> 0,05), ou seja, a resposta do sevoflurano e halotano tende a se
estabilizar aps 30 e 20 minutos de incubao, respectivamente.
Assim, o tempo que escolhemos para estudar o mecanismo envolvido na liberao
de [3H]-DA induzida pelo sevoflurano foi de 20 minutos (173046,5 dpm/mg de tecido) e pelo halotano foi de 10 minutos de incubao (2680125 dpm/mg de tecido), onde o sevoflurano induziu um aumento na liberao de [3H]-DA de 3,47 e o halotano de 7,29
vezes quando comparado ao controle.
40
Tempo (min)0 10 20 30 40 5L
iber
ao
de
[
0
3 H] -
DA
(dpm
/mg
de te
cido
)
0
500
1000
1500
2000
2500
sevofluranocontrole
Figura 3: Curva de tempo de incubao do sevoflurano na liberao de [3H]-DA em
fatias de crtex cerebral de ratos
Fatias de crtex cerebral de ratos (40mg) marcadas com [3H]-DA foram pr-
incubadas por 5 minutos em meio de incubao a 37C e, subseqentemente, estimuladas ou no com sevoflurano (0,46 mM) durante 5, 10, 20, 30 e 45 minutos. Os resultados
expressam a mdia EPM de pelo menos trs experimentos independentes realizados em
duplicatas.
41
0 10 20 30Lib
era
o d
e [3
H] -
DA
(dpm
/mg
de te
cido
)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
HalotanoControle
Tempo (min)
Figura 4: Curva de tempo de incubao do halotano na liberao de [3H]-DA em
fatias de crtex cerebral de ratos
Fatias de crtex cerebral de ratos (40mg) marcadas com [3H]- DA foram pr-
incubadas por 5 minutos em meio de incubao a 37C e, subseqentemente, estimuladas ou no com halotano (0,048 mM) durante 2,5, 5, 10, 20, e 10 minutos. Os resultados
expressam a mdia EPM de pelo menos trs experimentos independentes realizados em
duplicatas.
424.3 O papel do on clcio na liberao de [3H]-DA induzida por sevoflurano e
halotano em fatias de crtex cerebral de ratos
O influxo de clcio atravs de CCSV dispara a exocitose com conseqente
liberao do neurotransmissor (Katz & Miledi, 1967; revito por Neher, 1998). Desse
modo, para testar a participao do clcio extracelular na liberao de [3H]-DA induzida
pelo sevoflurano (0,46 mM) e halotano (0,048 mM), as fatias de crtex cerebral de ratos
foram incubadas em meio contendo Cd+2, um bloqueador inespecfico dos CCSV (Fox e
cols, 1987) ou EGTA, um quelante de clcio extracelular.
Nesses experimentos, as fatias de crtex cerebral foram pr-incubadas em meio de
incubao por 15 minutos na presena ou ausncia de Cd+2 (100 M) ou EGTA (2,0 mM),
em experimentos independentes e, subseqentemente, estimuladas com sevoflurano
(0,46mM) durante 20 minutos ou halotano (0,048mM) durante 10 minutos. As Figuras 5 e
6 mostram que a liberao de [3H]-DA induzida pelos anestsicos sevoflurano e halotano
no foi alterada pela presena do Cd+2 e EGTA (p>0,05) .
Existem evidncias de que a exocitose pode ser desencadeada pelo clcio
proveniente dos estoques intracelulares (Tse e cols., 1997; Berridge, 1998). Assim, para
avaliarmos a participao do clcio intracelular na liberao de [3H]-DA induzida pelos
anestsicos, utilizou-se o BAPTA-AM (50M), um quelante de clcio intracelular (Adler e
cols, 1991). Nesses experimentos as fatias foram pr-incubadasde crtex cerebral em meio
de incubao por 30 minutos na presena ou ausncia de BAPTA-AM (50 M) e,
subseqentemente, estimulamos com sevoflurano (0,46 mM) durante 20 minutos ou
halotano (0,048 mM) durante 10 minutos. Observou-se (Fig. 5 e 6) que essa droga tambm
no interferiu na resposta dos anestsicos (p>0,05). Por outro lado, a presena do EGTA,
Cd+2 e BAPTA-AM inibiu significativamente a liberao de [3H]-DA induzida por altas
concentraes de potssio (50 mM) (Fig. 7).
43
Li
bera
o
de [3
H] -
DA
(dpm
/mg
de te
cido
)
0
500
1000
1500
2000
2500Sem SevofluranoCom Sevoflurano
controle EGTA Cd2+ BAPTA-AM
* **
*
Figura 5: Efeito do EGTA, Cd+2 e BAPTA na liberao de [3H]-DA induzida por
sevoflurano em fatias de crtex cerebral de ratos
Fatias de crtex cerebral de ratos (40 mg) marcadas com [3H]- DA foram pr-
incubadas por 15 minutos na presena ou ausncia de EGTA (2,0mM) ou Cd+2 (100M)
ou por 30 minutos na presena ou ausncia de BAPTA-AM (50M) e, subseqentemente,
estimuladas com sevoflurano (0,46mM) durante 20 minutos. Os resultados expressam a
mdia EPM de pelo menos trs experimentos individuais realizados em duplicatas.
* estatisticamente diferente do controle.
Os experimentos com EGTA e BAPTA-AM foram realizados na ausncia de clcio no
meio de incubao.
44
Libe
ra
o de
3[H
]-DA
(dpm
/mg
de te
cido
)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
Sem Halotano Com Halotano
Controle EGTA Cd2+ BAPTA-AM
**
**
Figura 6: Efeito do EGTA, Cd+2 e BAPTA na liberao de [3H]-DA induzida por
halotano em fatias de crtex cerebral de ratos
Fatias de crtex cerebral de ratos (40 mg) marcadas com [3H]- DA foram pr-
incubadas por 15 minutos na presena ou ausncia de EGTA (2,0mM) ou Cd+2 (100M)
ou por 30 minutos na presena ou ausncia de BAPTA-AM (50M) e, subseqentemente,
estimuladas com halotano (0,048mM) durante 10 minutos. Os resultados expressam a
mdia EPM de pelo menos trs experimentos individuais realizados em duplicatas.
* estatisticamente diferente do controle.
Os experimentos com EGTA e BAPTA-AM foram realizados na ausncia de clcio no
meio de incubao.
45
Li
bera
o
de [3
H] -
DA
(dpm
/mg
de te
cido
)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000sem KClcom KCl
controle EGTA Cd+2 BAPTA-AM
* * *
Figura 7: Efeito do EGTA, Cd+2 e BAPTA na liberao de [3H]-DA induzida por KCl
em fatias de crtex cerebral de ratos
Fatias de crtex cerebral de ratos (40 mg) marcadas com [3H]-DA foram pr-
incubadas por 15 minutos na presena ou ausncia de EGTA (2,0mM) ou Cd+2 (100M)
ou por 30 minutos na presena ou ausncia de BAPTA-AM (50M) e, subseqentemente,
estimuladas KCl (50 mM) durante 15 minutos. Os resultados expressam a mdia EPM de
pelo menos trs experimentos individuais realizados em duplicatas.
* estatisticamente diferente do controle, p
464.4 Participao dos canais de sdio sensveis TTX na liberao de [3H]-DA
induzida pelo sevoflurano e halotano em fatias de crtex cerebral de ratos.
O influxo de Na+ atravs da membrana um elemento fundamental no processo de
despolarizao e consequente liberao de neurotransmissores. Assim, a liberao de DA
induzida pelo anestsicos poderia estar relacionada com alteraes na entrada desse on
atravs de canais sensveis voltagem. Para investigar esta hiptese, utilizou-se a
tetrodotoxina (TTX), potente inibidor de canais de sdio sensveis voltagem que bloqueia
a gerao e a propagao do potencial de ao em tecidos excitveis (Moore & Narahashi,
1967).
As fatias de crtex cerebral foram pr-incubadas em meio de incubao por 15
minutos na presena ou ausncia de TTX (1 M) e, subseqentemente, estimuladas com
sevoflurano (0,46 mM) durante 20 minutos ou halotano (0,048 mM) durante 10 minutos.
As Figuras 8 e 9 mostram que a liberao de [3H]-DA induzida pelos anestsicos
sevoflurano e halotano no foi afetada pela presena TTX (p>0,05), sugerindo que a
respostas dos anestsicos independente da despolarizao de membrana.
.
47
Libe
ra
o de
[3H
] - D
A (d
pm/m
g de
teci
do)
0
500
1000
1500
2000
2500
controle TTX sevoflurano sevoflurano +TTX
* *
Figura 8: Efeito da TTX na liberao de [3H]-DA induzida por sevoflurano em fatias
de crtex cerebral de ratos
Fatias de crtex cerebral de ratos (40 mg) marcadas com [3H]-DA foram pr-
incubadas por 15 minutos na presena ou ausncia de TTX (1 M) e, subseqentemente,
estimuladas com sevoflurano (0,46 mM) durante 20 minutos. Os resultados expressam a
mdia EPM de pelo menos trs experimentos individuais realizados em duplicatas.
* estatisticamente diferente do controle, p
48
Li
bera
o
de [3
H] -
DA
(dpm
/mg
de te
cido
)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
controle TTX Halotano Halotano +TTX
* *
Figura 9: Efeito da TTX na liberao de [3H]-DA induzida por halotano em fatias de
crtex cerebral de ratos
Fatias de crtex cerebral de ratos (40 mg) marcadas com [3H]-DA foram pr-
incubadas por 15 minutos na presena ou ausncia de TTX (1 M) e, subseqentemente,
estimuladas com halotano (0,048mM) durante 20 minutos. Os resultados expressam a
mdia EPM de pelo menos trs experimentos individuais realizados em duplicatas.
* estatisticamente diferente do controle, p
49J est bem estabelecida a liberao de dopamina atravs de um processo
exocittico, envolvendo alteraes no influxo de Ca2+ e Na+ atravs de canais sensveis
voltagem ou clcio proveniente do meio intracelular. Uma vez que observamos que a
liberao de [3H]-DA induzida pelo sevoflurano e halotano independente do on clcio e
da despolarizao de membrana, investigou-se atravs da reserpina (inibidor do
transportador vesicular das monoaminas) se esta DA liberada independente do processo
exocittico.
Nesses experimentos, as fatias de crtex cerebral foram pr-incubadas por 15
minutos em meio de incubao na presena ou ausncia da reserpina (0,03 M),
posteriormente marcadas com [3H]-DA e, subseqentemente, incubadas novamente por 15
minutos em meio de incubao na presena ou ausncia da reserpina (0,03 M) e
estimuladas com sevoflurano (0,46 mM) durante 20 minutos ou halotano (0,048 mM)
durante 10 minutos. As figura 10 e 11 mostram que a reserpina no afetou a liberao de
[3H]-DA induzida pelos anestsicos (p>0,05). A reserpina inibiu significativamente a
liberao de [3H]-DA induzida por altas concentraes de potssio (50 mM) (dados no
mostrados).
Esses dados sugerem que o mecanismo de exocitose no est envolvido na ao
desses anestsicos, ou seja, a liberao de DA induzida pelo sevoflurano e halotano em
fatias de crtex cerebral de ratos , possivelmente, de origem no vesicular.
50
Lib
era
o d
e [3
H]-D
A (d
pm/m
g de
teci
do)
0
500
1000
1500
2000
Sevoflurano Sevoflurano +reserpina
Figura 10: Efeito da reserpina na liberao de [3H]-DA induzida por sevoflurano em
fatias de crtex cerebral de ratos
Fatias de crtex cerebral de ratos (40 mg) foram pr-incubadas por 15 minutos em
meio de incubao na presena ou ausncia da reserpina (0,03 M), posteriormente
marcadas com [3H]-DA e, subseqentemente, incubadas novamente por 15 minutos em
meio de incubao na presena ou ausncia da reserpina (0,03M) e estimuladas com
sevoflurano (0,46 mM) durante 20 minutos.Os resultados foram obtidos pelo da liberao de [3H]dopamina que corresponde seguinte relao:
sevoflurano - controle
(sevoflurano + reserpina)- reserpina.
Os resultados expressam a mdia EPM de pelo menos trs experimentos
individuais realizados em duplicatas
51
Lib
era
o d
e [3
H]-D
A (d
pm/m
g de
teci
do)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
Halotano Halotano +reserpina
Figura 11: Efeito da reserpina na liberao de [3H]-DA induzida por halotano em
fatias de crtex cerebral de ratos
Fatias de crtex cerebral de ratos (40 mg) foram pr-incubadas por 15 minutos em
meio de incubao na presena ou ausncia da reserpina (0,03M), posteriormente
marcadas com [3H]-DA e, subseqentemente, incubadas novamente por 15 minutos em
meio de incubao na presena ou ausncia da reserpina (0,03M) e estimuladas com
halotano (0,048mM) durante 10 minutos. Os resultados foram obtidos pelo da liberao de [3H]DA que corresponde seguinte relao:
halotano - controle
(halotano + reserpina) - reserpina.
Os resultados expressam a mdia EPM de pelo menos trs experimentos
individuais realizados em duplicatas
524.6 Liberao de [3H]-DA induzida por sevoflurano e halotano em fatias de crtex
cerebral de ratos em baixa temperatura (12 C)
O principal papel do DAT terminar a ao da DA, atravs da sua recaptao.
Assim, uma inibio do DAT causa aumento da concentrao da DA na fenda sinptica,
prolongando sua ao (Engberg e cols., 1997). Alm disso, o DAT tambm responsvel
por um aumento da concentrao de DA extracelular atravs de uma liberao
extravesicular desse neurotransmissor, denominada TR (como j citado anteriormente).
Logo, estudamos a participao do DAT na liberao de DA induzida por sevoflurano e
halotano.
Estudos j mostraram que em baixas temperaturas (12 a 17 C) ocorre uma inibio do DAT, afetando suas funes nos neurnios dopaminrgicos (Gerevich e cols., 2001).
Assim, avaliamos se a liberao de [3H]-DA induzida por sevoflurano e halotano em fatias
de crtex cerebral de ratos alterada em baixa temperatura.
Nestes experimentos, as fatias de crtex cerebral foram pr-incubadas por 5
minutos em meio de incubao a 37C ou 12 C, e subseqentemente, estimuladas com sevoflurano (0,46mM) durante 20 minutos ou halotano (0,048 mM) durante 10 minutos.
A Figura 12 mostra que a liberao de [3H]-DA induzida por sevoflurano em fatias
de crtex cerebral de ratos em meio de incubao a 12